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PERFORMANCE DE GÊNERO: HETEROTOPIAS INVENTIVAS NA

EDUCAÇÃO

Caroline do Socorro Freitas Maciel-PPGEDUC1;


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA):
carolinesocorroped13@gmail.com

José Valdinei Albuquerque Miranda-PPGEDUC2;


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA):
jneimiranda@gmail.com

Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir a questão de gênero e sexualidade na educação por
meio de arte-performance e sua potência inventiva de construir espaços de heterotopias na educação.
Busca-se pensar a performance de gênero articulada aos conceitos de corpo, performatividade e
linguagem artística que produzem atos de transgressão, resistência e criação de espaços heterotópicos
na educação. No contexto escolar cotidianamente são desenvolvidas ações para regularização das
posturas e dos posicionamentos dos sujeitos, concepções deterministas e instituídas que condicionam e
demarcam o lugar para o gênero na escola, contrariamente a essas demarcações rígidas e fixas busca-
se, nessa pesquisa, pensar o campo educacional a partir do conceito foucaultiano de heterotopias,
como ação política de contra posicionamento, de resistência, de criação de espaços de liberdade, frente
ao instituído e sacralizado. Em sua perspectiva teórico-conceitual o trabalho dialoga com BUTLER
(2017), FOUCAULT (2013), LOURO (2003), PASSETI (2008), LEMEBEL (1986), autores que
inspiraram a composição e realização da pesquisa na perspectiva da diferença. A perspectiva aberta
por esses autores, conectada aos conceitos de performance e performatividade de gênero, instigam a
problematizar as questões de gênero e sexualidade na educação, bem como mobilizar processos de
transgressão, resistência e a criação de espaços heterotópicos na educação.
Palavras-chave: Educação, performance, performatividade, gênero, heterotopias.

1
Mestranda do programa de Pós-graduação Educação Cultura e linguagem PPGEDUC/UFPA.

2
Docente do programa de Pós-graduação Educação Cultura e linguagem PPGEDUC/UFPA.

1
INTRODUÇÃO liberdade. Em relação com o contexto
A escola tem sido ao longo de educacional esse corpo inventado coloca
séculos concebida como um lugar do questões para escola, um corpo estranho
instituído, da disciplina, da ordem, da Louro (2016) que ao expressar pela arte-
norma, por ser esse lugar da disciplina performance leva a tencionar os limites de
acaba produzindo delimitações e um mundo demarcados por fronteira,
determinações de lugares por onde as questiona os poderes disciplinadores e as
subjetividades e as questões de gêneros regras regulatórias que atuam sobre o
podem transitar, nesse sentido deve-se corpo e a sexualidade nos espaços
problematizar as concepções deterministas educacionais.
e instituídas que condicionam e demarcam A performance de gênero borra a
o lugar para o gênero na escola. Em sua fronteira entre a vida e arte, questionado o
perspectiva teórico-conceitual o trabalho lugar instituído e naturalizado do gênero,
dialoga com Judith Butler (2017), Guacira segundo Judith Butler (2017, p. 191) “É o
Louro (2016) Michel Foucault, (2013), estranho, o incoerente, o que está “fora” da
Edson Passeti (2008), Pedro Lemebel lei, que nos dá uma maneira de
(1998), autores que inspiraram a compreender o mundo inquestionado da
composição e realização da pesquisa na categorização sexual como um mundo
perspectiva da diferença. A perspectiva constituído, e que certamente poderia ser
aberta por esses autores, conectada aos construído diferentemente”. Destacamos a
conceitos de performance e performatividade do gênero, enquanto uma
performatividade de gênero, instigam a construção social e não algo natural, nesse
problematizar as questões de gênero e sentido propomos a dessacralização do
sexualidade na educação, bem como gênero no contexto educacional.
mobilizar processos de transgressão,
No contexto escolar cotidianamente
resistência e a criação de espaços
são desenvolvidas ações para regularização
heterotópicos na educação.
das posturas e dos posicionamentos dos
Buscamos discutir espaços de sujeitos, contrariamente a essas
liberdade criados por subjetividades demarcações rígidas e fixas busca-se
subversivas, que escapam das regras de pensar o campo educacional a partir do
enquadramento, um corpo que se monta e conceito de heterotopias, como ação
desmonta, um corpo inventado que política de contra posicionamento, de
potencializa a criação de espaços de resistência, de criação de espaços de
2
liberdade, frente ao instituído. Inspirando- nem para seus prazeres originais, mas para
se em Foucault no seu texto “O corpo um futuro aberto de possibilidades
utópico e as heterotopias”, destaca-se que o culturais” (BUTLLER, 2017, p. 164)
conceito de heterotopia abre a
A performance de gênero se
possibilidade de pensar novos
inscreve como uma arte que provoca
agenciamentos coletivos que
desajustes e contesta as demarcações de
problematizam os lugares instituídos e
gênero, interligando arte-vida e recriando
sacralizados convencionalmente dando
os espaços, para além da
visibilidade a grupos minoritários,
heteronormatividade compulsória que
especialmente a perspectiva queer de
silenciam e excluem os sujeitos. Butler,
comunidades LGBTs.
destaca o gênero enquanto uma construção
social que internalizamos como algo
natural ao longo do tempo por meio do
PERFORMANCE E
discurso.
PERFORMATIVIDADE DE GÊNERO
A linguagem é
Permanentemente no contexto investida do poder de
educacional ocorrem tentativas de limpeza, criar “o socialmente
real” por meio de
reforma e correção do corpo segundo a atos de locução dos
sujeitos falantes. [...]
heteronormatividade, que impõem regras A Linguagem é um
de disciplinamento e padrões de conjunto de atos,
repetidos ao longo do
comportamento sobre os corpos. tempo, que produzem
efeitos na realidade
Contrapondo às formas de regulação, que acabam sendo
pensamos a partir do entendimento de percebidos como
“fatos”. Considerada
Corpo Estranho trazido por Louro (2016), coletivamente, a
o conceito de corpo não como algo fixo, prática repedida de
nomear a diferença
natural e determinado, e sim sempre em sexual criou essa
aparência de divisão
movimento, em construção, um corpo em natural. A
constante processo de montagem e “nomeação” do sexo
é um ato de
desmontagem, um corpo que se inventa ao dominação e coerção,
um ato performativo
seu modo e desnaturaliza as questões do institucionalizado
gênero. Para Butller, “o corpo que cria e legisla a
realidade social pela
culturalmente construído será então exigência de uma
construção
libertado, não para seu passado “natural”, discursiva/perceptiva

3
dos corpos. regulações impostas pela norma, e com
(BUTLER, 2017, p.
200). isso possibilitam a criação de espaços de

A linguagem ao nomear sujeitos e liberdade. As performances de gênero ao

grupos de determinado modo não problematizar e desviar da norma criam

simplesmente representa alteridade, mas novos espaços para experimentar as

constrói modos de vida e de identidades relações de gênero para além dos regimes

que passam a condicionar e regular seu heteronormativos, aproximando do que

comportamento, seu corpo, seu modo de Passetti (2008) denomina de “heterotopias

vida. Pela linguagem o poder disciplinador inventivas na educação”. Pensar a escola

da “heteronormatividade compulsória” como novo espaço de reinvenção do corpo

atua sobre o corpo estranho na educação e de subjetividade por meio das

impondo-lhe a necessita de ser performances corporais de gênero capazes

normalizado, docilizado, reformado, na de produzir conforme Passetti (2008)

escola entram em cena os mecanismos de “heterotopias anárquicas”, pensamento

poder para colocar esse corpo dentro do libertário e subjetividades subversivas.

padrão moral aceitável de convivência. A performance, enquanto prática

No espaço escolar habitam artística e cultural, denuncia e interfere na

múltiplas subjetividades com estilos de realidade, dando visibilidade as

vida cada um com sua singularidade, nesse comunidades minoritárias e

espaço a invenção de processos de marginalizadas. Ao propor discutir a

normalização e disciplinamento investem performance de gênero, buscamos usar a

na captura e padronização das arte da performance como canal de

subjetividades e dos corpos. Discutir a transgressão e resistência no campo

performance de gênero na educação educacional, uma “arte de fronteira no seu

possibilita pensar o corpo e a subjetividade contínuo movimento de ruptura com o que

num horizonte de construção e pode ser denominado “arte-estabelecida, a

desconstrução, invenção e reinvenção, a performance acaba penetrando por

partir das experimentações da arte caminhos e situações não valorizadas como

performance, destacamos a dimensão arte” (COHEN, 2013, p. 37-38). Arte de

política e estética dos corpos que transitam fronteira que questiona as tramas dos

e inventam novas relações de gênero e poderes instituídos, a naturalização do

formas de convivências com o outro, gênero, a padronização dos corpos e traz

rompendo fronteiras e desafiando as para a cena a expressão das minorias e sua


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rebeldia frente aos poderes majoritários, corpo que se monta com ornamentos e
com enfoque dessa pesquisa, nas artefatos, mas o corpo desmontado,
comunidades LGBTs. A performance de desnudado, enquanto potência de
gênero, na educação, é ferramenta de agenciamento coletivo.
agenciamento e resistência, uma ação
Na educação, constantemente, a
política e estética de enfrentamento ao
diferença é pensada na perspectiva da
instituído e sacralizado no espaço social e
limpeza, reforma e correção, a
escolar.
performance de gênero nos permite pensar
Para PEREIRA (2013, p. 32) “a as questões de gênero e corpo como
performance interroga, resiste e intervém; potência estética e política da diferença,
designa uma forma libertadora de ação; um corpo que afirma modos de vidas que
dissolve as fronteiras entre a arte e a vida; não foram capturados pela norma. A
rememora e reflete o vivido; relacionando- performance de Lemebel e Casas afirma
se, portanto, com o múltiplo, com o essas vidas e nos impulsiona a questionar
diverso e com o diferente”. A performance os lugares instituídos que condicionam e
como arte de fronteira questiona, resiste e regulam os corpos e a sexualidade. Assim,
intervém, o corpo político ganha “o trabalho do artista de performance é
visibilidade, potencializa força inventiva basicamente um trabalho humanista,
que afirma a vida, nas palavras de Butler visando libertar o homem de suas amarras
“vidas que importam” e que merecem condicionantes, e a arte, dos lugares
respeito. comuns impostos pelo sistema” (COHEN,
2013, P. 45).
A performance de gênero de Pedro
Lemebel, escritor e performer chileno, O performer questiona, através do
transita no entrelugar, um lugar de corpo, a naturalização do gênero entre
fronteira que desconstrói o lugar da masculino e feminino, desnaturalizando e
representação do gênero, rompendo a desconstruindo o corpo, enquanto um dado
fronteira entre o masculino e feminino natural. Um corpo que se desmontam e se
produzindo enunciações coletivas de um remontam ao seu modo, cria múltiplas
povo que se expressa por meio de sua possibilidades, escapa da demarcação
performance de gênero, seu corpo em heteronormativa e recria um corpo como
performance se torna um corpo político e espaço de heterotopia. A performance atua
coletivo. A performance expressa a como um “discurso radical, do combate, da
potencialidade do corpo, não apenas um militância” (COHEN, 2013, p. 88).
5
Na performance de gênero o Como observa
Renato Cohen (2002,
corpo rompe com a dureza e a rigidez do p. 27), a arte da
corpo masculino, destacando o corpo, performance é uma
“arte de fronteira”.
como algo temporário, montagem e Essa denominação se
aplica tanto aos
desmontagem, indeterminação, indefinido, elementos que as
fronteiriço. Um corpo que inventa o seu constituem quanto
aos sentidos que ela
modo de ser e que experimenta viver na comporta. Do ponto
de vista constitutivo,
fronteira, não quer se tornar algo fixo e isso aplica a
nem almeja uma identidade, mas quer flexibilização de
formas expressivas,
inventar o seu corpo na diferença. Um ou seja, o hibridismo
de linguagens
corpo e uma sexualidade que não se
artísticas. Do ponto
encaixam nos padrões estabelecidos, pois, de vista de sua
significação, tal
estão sempre em trânsito, em montagem, definição remete ao
em construção, em invenção, um corpo que seu caráter de crítica
e denúncia social.
escapa da ordem binária, feminino ou (PEREIRA, 2013, p.
28).
masculino, homem ou mulher, e se inventa
Por meio da arte performance nos
ao seu modo, sem querer ser um ou outro,
remetemos as suas características de crítica
e sim múltiplos, vários. Um corpo se
e denúncia social, as questões de gênero
monta, se desmonta e se remonta
não são discutidas na maioria das escolas,
permanentemente.
são silenciadas por meio do discurso
A produção da liberdade de jogar e religioso ainda muito propagado. Pedro
brincar com o corpo e com o gênero, que Lemebel rompe com suas performances a
se torna uma geografia de fronteira, o fronteira polarizada das questões de gênero
corpo como essa superfície de fronteira e da sexualidade, que nos leva a pensar em
que se inventa ao seu modo. Discutimos o que sentido a performance de gênero
corpo como movimento, fora da fixidez, da dessacraliza a educação? Seu corpo
seriedade e da rigidez, na sua fluidez, na potencializa a performance de gênero, a
leveza dessa montagem e desmontagem fronteira do corpo, para além das
que brinca, transita e habita as fronteiras. É polaridades do gênero, tensiona e
desse lugar de fronteira que um corpo dessacraliza as determinações naturalistas
inventado, produzido ao seu modo, coloca do corpo em feminino ou masculino,
questões para os espaços, e ao questionar dissolve a fronteira do “ou” e abre a
os espaços inventa heterotopias. possibilidade de pensar o corpo a partir do
6
“e” pensar o gênero e corpo como rizoma Um corpo sem demarcações fixas,
segundo Deleuze e Guatarri: mesmo que cotidianamente o corpo seja
vigiado para seguir formas e padrões, nos
Um rizoma não
começa nem conclui, propomos pensar esse corpo na lógica
ele se encontra
sempre no meio, rizomática do “e” com a possibilita de
entre as coisas, inter- experimentar uma constante movimentação
ser, intermezzo. A
árvore é filiação, mas em busca de liberdade. Um corpo-rizoma
o rizoma é aliança,
unicamente aliança. que está sempre no meio, entra e sai,
A árvore impõe o movimentos transversais entre uma e outra
verbo "ser", mas o
rizoma tem como linha polar que lhe permite traçar linha de
tecido a conjunção
"e... e... e..." [...]
fugas que escapam às normas, às regras e
Viajar e se mover, recriam outros espaços de liberdade.
partir do meio, pelo
meio, entrar e sair, Um permanente jogo de novas
não começar nem
terminar. Mover-se composições que permitem reinventar e
entre as coisas,
instaurar uma lógica produz um corpo na diferença, uma
do E, reverter a performance de gênero que produz novos
ontologia, destituir o
fundamento, anular agenciamentos minoritários e coletivos.
fim e começo. É que
o meio não é uma Um corpo-rizoma em constante
média; ao contrário, composição “e...e...e...” um corpo que na
é o lugar onde as
coisas adquirem sua maquinaria produz novos
velocidade. Entre as
agenciamentos coletivos, anuncia um
coisas não designa
uma correlação mundo possível e afirma outros modos de
localizável que vai de
uma para outra e vida para além das bifurcações e
reciprocamente, mas
polaridades do gênero.
uma direção
perpendicular, um
movimento
transversal que as
carrega uma e outra,
riacho sem início
nem fim, que rói suas
duas margens e
adquire velocidade
no meio.
(DELEUZE,
GUATTARI, 1995,
p. 36)

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Figura 1: La última cena – video casa Disponível em:
particular <www.yeguasdelapocalipsis.cl/1989-la-ultima-
cena-video-casa-particular>

A máscara, a
tatuagem, a pintura
instalam o corpo em
outro espaço, fazem-
no entrar em um
lugar que não tem
lugar diretamente no
mundo, fazem deste
corpo um fragmento
de espaço imaginário
Fotografia: Captura de pantalla casa particular. que se comunicará
Disponível em: < com o universo do
www.yeguasdelapocalipsis.cl/1989-la-ultima- outro. De todo modo,
cena-video-casa-particular> a máscara, a
tatuagem, a pintura
são operações pelas
A performance La última cena –
quais o corpo é
video casa particular, ocorreu no final dos arrancado de seu
espaço próprio e
anos de 1989 quando Gloria Camiruaga projetado em um
realizava a filmagem de um documentário espaço outro”.
(FOUCAULT, 2013,
sobre o prostíbulo travesti “casa p. 12).
particular”. Junto com os travestis do O que para Foucault (2013) poderia
bordel Lemebel e Casas encenaram a ser lido como um processo de instalar o
última ceia cristã, a inspiração veio de uma corpo em um outro espaço por meio da
tapeçaria pendurada em um dos quartos do performance, com Deleuze e Guatarri
lugar com a imagem da "A Última Ceia" (1995) podemos aproximar do processo de
de leonador da Vinci. desterritorialização, não apenas do corpo,
mas da própria imagem como observamos
Figura 2: La última cena – video
casa particular na performance “a última ceia”, onde um
acontecimento da religião cristã é
desterritorializado pela performance de
gênero inscrita na obra e reterritorializado
no solo das questões de gênero a partir de
uma nova imagem, que conjuga a
dimensão religiosa ao caráter político da
diferença enunciada pela performance de
Fotografia: Captura de pantalla casa particular.
gênero.
8
Lemebel, por meio da performance denunciar os estereótipos que associam o
de gênero, reteritorializa a imagem da vírus HIV às comunidades LGBTs como
Santa Ceia inscrevendo nela a presença grupos de riscos a serem segragados
viva de um corpo marcado pela sua socialmente, além do que a performance,
diferença. Com este procedimento também chama a atenção para a violência
performático questiona e intervém na direcionada a estas comunidades e o
realidade, utiliza a performance para crescimento da AIDS na década de 80 e
desterritorializar e reterritorializar o corpo início de 90, que afeta à população travesti
para além dos lugares instituídos que no Chile, sem maiores atendimentos por
demarcam a fronteira de gênero. Nessa parte do estado. Na performance:
nova imagem produzida pela performance
de Lemebel as vidas marginalizadas são O artista lida com a
transgressão,
reterritorializadas em um novo cenário desobstruindo os
político da diferença. impedimentos e as
interdições que a
Figura 3: Chile return aids realidade coloca (a
obra de arte vai se
caracterizar por ser
uma outra criação).
A performance é
basicamente uma arte
de intervenção,
modificadora, que
visa causar uma
transformação no
receptor” (COHEN,
2013, p. 45-46).

Para além da mera contemplação


dos lugares, o performer transita pela
cidade, pela escola e estabelece processos
Disponível
em:<www.google.com.br/search?q=chile+reru de intervenção nestes luagres. A
rn+aids+Lemebel&oq=chile&aqs=chrome.0.69 performance de gênero, enquanto processo
i59j69i57j69i59l2j69i65j69i60.3724j0j7&client
=ms-android-samsung&sourceid=chrome- de intervenção, lança questões
mobile&ie=UTF- provocativas, problematizando lugares
8#imgdii=3_MU1eod2fD5yM:&imgrc=d3JoK5x
Yuhc4FM:> demarcados e sacralizados, fazendo vibrar
processos libertários das vidas
A performance “Chile Return Aids”
marginalizadas, produzindo efeitos
foi realizada durante a parada gay de 1994
performáticos que interferem na realidade
em Nova York, por meio dela, busca-se
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da cidade e transformam os espaços da político que monta e se desmonta nesse
educação. jogo performático, e que joga com o olhar
do outro, um movimento de desconstrução,
Uma performance de gênero
que borrando as polaridades padronizadas
insinua uma linha de fuga dos limites
de gêneros afirma um desejo de um corpo
regulatórios e disciplinadores,
político, uma micropolítica de resistência,
transgredindo e intervindo na realidade
a dimensão política do corpo enquanto
educacional, enquanto arte de fronteira que
canal que possibilita fluir outras
retrata vidas em fronteiras, vidas
possibilidades de existir.
marginalizadas, que são excluídas por não
seguir o padrão heteronormativo. Para As utopias são os
posicionamentos sem
Butler, “o molde e a forma dos corpos, seu lugar real. São
posicionamentos que
princípio unificador, suas partes mantêm com o
combinadas são sempre figurados por uma espaço real da
sociedade uma
linguagem impregnada de interesses relação geral de
analogia direta ou
políticos” (BUTLER, 2017, p. 217). Ao inversa. É a própria
discutir por meio da performance essas sociedade
aperfeiçoada ou é o
questões que, geralmente, são silenciadas, inverso da sociedade
mas, de qualquer
abrimos outros espaços heterotópicos e de
forma, essas utopias
liberdade no campo educacional para são espaços que
fundamentalmente
expressão política e estética da diferença. são essencialmente
irreais. Há,
igualmente, e isso
provavelmente em
CONSIDERAÇÕES FINAIS qualquer cultura, em
qualquer civilização,
Por meio da Performance, nos lugares reais, lugares
efetivos, lugares que
dispomos a tencionar os espaços no âmbito são delineados na
educacional, o corpo que se insinua como própria instituição da
sociedade, e que são
possibilidade outros de viver a sua espécies de contra
posicionamentos,
sexualidade borrando as próprias fronteiras
espécies de utopias
do gênero. Um corpo que se monta e se efetivamente
realizadas nas quais
desmonta, uma montagem e desmontagem os posicionamentos
do corpo rompendo com a própria ideia de reais, todos os outros
posicionamentos
essência de um corpo, e colocando-o no reais que se podem
encontrar no interior
seu plano político da invenção, um corpo da cultura estão ao
10
mesmo tempo A articulação do conceito de
representados,
contestados e Heterotopia nos permite pensar a
invertidos, espécies educação, como espaço de tensionamento e
de lugares que estão
fora de todos os invenção, a performance de gênero como
lugares, embora eles
sejam efetivamente arte potencializadora de espaços
Localizáveis. Esses heterotópicos, ao criar seu corpo ao seu
lugares, por serem
absolutamente modo, ao tensionar os espaços
diferentes de todos os
condicionados, o performer também
posicionamentos que
eles refletem e dos inventa outros espaços para além dos já
quais eles falam, eu
os chamarei em existentes e normalizados da sociedade. A
oposição às utopias,
presença da diferença produz processos
de heterotopias.
(Foucault, 2013, p. libertários que borram as fronteiras
30)
demarcadas e vão reinventando-se na
Pensamos, assim, a
multiplicidade e singularidade produzindo
problematização e a invenção de novos
subjetividades também livres.
espaços por aqueles que não se conformam
com os espaços determinados, com as
sexualidades e questões de gênero
REFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
normalizadas pela sociedade,
subjetividades inconformadas que AUGUSTO, Acácio. PASSETTI, Edson.
Anarquismos & Educação. Belo
subvertem a ordem, os padrões do corpo e
Horizonte: Autêntica, 2008.
da sexualidade naturalizada e inventam
novas possibilidades. Buscamos trazer COHEN, Renato. Performance como
Linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2013.
esses espaços de tensionamento e de
invenção, mundos questionados pela BUTLER, Judith. Problemas de gênero:
feminismo e subversão da identidade /
performance, que afirma o lugar da
Judith Butler; tradução, Renato Aguiar. —
diferença. A afirmação da sexualidade e do Rio de janeiro: Civilização Brasileira,
corpo, no campo da diferença produz 2003.
espaços heterotópicos, ao montar e DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix.
desmontar o corpo ao seu modo, Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia,
mostramos a resistência e a afirmação de vol. 1; Tradução de Aurélio Guerra Neto e
Célia Pinto Costa. Rio de janeiro: Ed. 34,
outros modos de vida que tensionam e
1995 (Coleção TRANS)
recriam os espaços para além dos já
sacralizados e instituídos.
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FOUCAULT, Michel. O corpo utópico, as
heterotopias. Michel Foucault; posfácio de
Daniel Defert; tradução, Salma Tannus
Muchail. São Paulo: n1 Edições, 2013.

LEMEBEL, Pedro. Performance e texto.


Trad. Alejandra Rojas Covalski. Balada
Literária 2013. Disponível em:
www.baladaliteraria.com.br

LEMEBEL, Pedro. De perlas y cicatrices.


Santiago de Chile: Editorial LOM, 1998.

LOURO, Guacira Lopes. Um corpo


estranho – ensaios sobre a sexualidade e a
teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica,
2016.

PEREIRA, Marcelo de Andrade.


Performance e Educação:
(des)territorializações pedagógicas.
Marcelo de Andrade Pereira (organizador).
Santa Maria: Ed. da UFSM, 2013.

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