Você está na página 1de 21

e-ISSN: 2177-8183

DOCUMENTO/MONUMENTO: REFLEXÕES TECIDAS A PARTIR DAS


IDEIAS DE MICHEL FOUCAULT E JACQUES LE GOFF PARA A
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL (EP)

DOCUMENT/MONUMENT: REFLECTIONS WOVEN FROM THE IDEAS OF


MICHEL FOUCAULT AND JACQUES LE GOFF FOR PROFESSIONAL
EDUCATION (EP)

DOCUMENTO/MONUMENTO: REFLEXIONES DÉBILES DE LAS IDEAS DE


MICHEL FOUCAULT Y JACQUES LE GOFF PARA LA EDUCACIÓN
PROFESIONAL (EP)

Antonio Max Ferreira da Costa


a.maxcosta@gmail.com
Mestre em Educação pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Doutorando em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

José Mateus do Nascimento


zenmateus@gmail.com
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Professor no instituto Federal do Rio Grande do Norte

RESUMO
Esse escrito tem como finalidade tecer reflexões sobre as categorias
documento/monumento a partir das ideias de Michel Foucault e de Jacques Le
Goff. Para problematizar o diálogo, se junta filosofia e história tentando
possibilitar uma compreensão da arqueologia ou quem sabe uma arqueologia
do saber e do texto documento/monumento, capítulo que compõe a “História e
Memória”. Os conceitos tecidos nesse artigo serão pensados a partir da
historiografia foucaultiana e legoffiana, investigando as definições, os aspectos
e os procedimentos para que desse modo, se potencialize e articule a pesquisa
nos campos da história da educação e da história da Educação Profissional
(EP). Metodologicamente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica para a
compreensão das categorias mencionadas, sendo também realizada a Análise
Temática por meio da distinção das ideias centrais das secundárias;
problematizações e proposições, conforme recomendação de Severino (2007).
Com este trabalho pode-se concluir que as categorias documento/monumento
teorizadas por Michel Foucault e Jacques Le Goff possibilitam uma nova forma
de fazer história, assim como antes a arqueologia tendia à história, podendo-se
dizer, jogando um pouco com as palavras, que a história, tecida no campo da
475
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

nova história cultural e da história cultural, tende para a arqueologia, assim


como para a descrição intrínseca do monumento.

Palavras-chave: Documento/monumento; História da Educação; História da


Educação Profissional.

ABSTRACT
This writing aims to reflect on the document / monument categories based on
the ideas of Michel Foucault and Jacques Le Goff. To problematize the
dialogue, philosophy and history come together, trying to enable an
understanding of archeology or perhaps an archeology of knowledge and the
document/monument text, a chapter that composes the work "History and
Memory". The concepts woven in this article will be thought from the
Foucauldian and Legoffian historiography, investigating the definitions, aspects
and procedures so that, in this way, potential and articulate research in the
fields of the history of education and the history of Professional Education (EP).
Methodologically, bibliographic research was carried out in order to understand
the categories mentioned. Thematic Analysis was also carried out with the
steps of distinguishing the central ideas from the secondary ones; conducting
problematizations and propositions, as recommended by Severino (2007). With
this work it can be concluded that the document / monument categories
theorized by Michel Foucault and Jacques Le Goff make possible a new way of
making history, just as archeology tended to history before, being able to say,
playing a little with the words, that history, woven in the field of new cultural
history and cultural history, tends towards archeology, as well as the intrinsic
description of the monument.

Key words: Document/monument; History of Education; History of Vocational


Education.

RESUMEN
Este escrito tiene como objetivo reflexionar sobre las categorías de
documento/monumento basado en las ideas de Michel Foucault y Jacques Le
Goff. Para problematizar el diálogo, la filosofía y la historia se unen, tratando de
posibilitar una comprensión de la arqueología o quizás una arqueología del
conocimiento y el texto documento/monumento, capítulo que compone “Historia
y memoria”. Los conceptos tejidos en este artículo serán pensados desde la
historiografía foucaultiana y legoffiana, investigando las definiciones, aspectos
476
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

y procedimientos para que, de esta manera, potencialicen y articulen la


investigación en los campos de la historia de la educación y la historia de la
educación profesional (PE). Metodológicamente, se realizó una investigación
bibliográfica para comprender las categorías mencionadas, y también se realizó
un análisis temático distinguiendo las ideas centrales de las secundarias;
problematizaciones y proposiciones, como recomienda Severino (2007). Con
este trabajo se puede concluir que las categorías documento/monumento
teorizadas por Michel Foucault y Jacques Le Goff posibilitan una nueva forma
de hacer historia, tal como antes la arqueología tendía a la historia, pudiendo
decir, jugando un poco con las palabras, que la historia, tejida en el campo de
la nueva historia cultural y la historia cultural, tiende a la arqueología, así como
a la descripción intrínseca del monumento.

Palabras clave: Documento/monumento; Historia de la educación; Historia de


la educación profesional.

INTRODUÇÃO
“Quanto ao motivo que me impulsionou foi muito simples. Para alguns,
espero, esse motivo poderá ser suficiente por ele mesmo. É a curiosidade –
em todo caso, a única espécie de curiosidade que vale a pena ser praticada
com um pouco de obstinação não é aquela que procura assimilar o que
convém conhecer, mas a que permite separar-se de si mesmo. De que
valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos
conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto possível, o descaminho
daquele que conhece? Existem momentos na vida onde a questão de saber
se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber
diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar e
refletir” (MICHEL FOUCAULT, 2000).

O presente artigo trata-se de reflexões sobre as categorias


documento/monumento tecidas a partir das ideias de Michel Foucault e
Jacques Le Goff. Para a construção desse escrito, fez-se uma pesquisa
bibliográfica, buscando nos autores, compreender quem era Foucault e Le
Goff, a sua arqueologia do saber e o seu método para analisar as fontes
históricas, tais como os documentos e os discursos implicados neles.
A gênese sobre os conhecimentos historiográficos tecidos na interface
entre filosofia e história (história da educação) propostos neste artigo se deu a
partir da disciplina “Seminário Temático III – Filosofia da Educação Profissional”

477
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional (PPGEP)


do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte (IFRN), durante o semestre 2019.1 pelos professores doutores Avelino A.
de Lima Neto (PPGEP-IFRN e PPGED-UFRN) e Jacques Gleyse da École
Doctorale 58/Université de Montpellier – França.
Durante esse seminário temático, ocorrido no cerne do doutorado em
educação profissional, na linha de História, Historiografia e Memória da
Educação Profissional, foi possível manter contato com a celebre obra “A
arqueologia do saber” de Michel Foucault, realizando metodologicamente a
análise temática ancorada em Severino (2007, p.56-59), ciente que era
necessário buscar extrair os elementos básicos do texto, tais como: Autor (vida,
obra e ideias); Texto (quando, para que, para quem foi escrito); Vocabulário;
Fatos, Autores, Teoria (s), Doutrina (s).
Para uma melhor organização do trabalho, estruturou-se o artigo em
cinco itens, sendo o primeiro intitulado Michel Foucault: um pouco de sua vida
e obra, na qual se apresenta uma biobibliográfica do teórico; No segundo
tópico discorre-se também sobre a vida e a obra de Jacques Le Goff; Já no
terceiro item, constrói-se uma breve análise das categorias históricas do
documento/monumento, no quarto quesito do desenvolvimento deste texto,
tenta-se aproximar as concepções de Foucault à Le Goff; No último ponto faz-
se um breve diálogo entre Filosofia, História e Educação Profissional (EP);
Depois desses tópicos, segue as considerações finais e as referências para
aqueles que quiserem aprofundar a temática foucaultiana e legoffiana termo
que se toma emprestado de Lima (2016), utilizado em seu artigo intitulado
“Jacques Le Goff e a história política da Idade Média” publicado na revista
Brathair de estudos celtas e germânicos.
Com esse estudo pode-se compreender que Michel Foucault trouxe
inúmeras contribuições para se pensar o campo da história, bem como para a
Nova História Cultural e da Nova História. Foucault não propôs fazer história
478
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

tradicional, mas uma arqueologia do saber, cujo método não é tratar a história
como linear, com começo, meio e fim, portanto, compreende-se em Foucault
que não há necessidade dessa sequência, pois cabe ao historiador ir cavando
a superfície do solo para que dessa forma encontre os objetos, entendendo
que existe uma presente noção de descontinuidade. Assim como Michel
Foucault, Jacques Le Goff permitiu-nos pensar que a história é capaz de
transformar os documentos em monumentos.

MICHEL FOUCAULT: UM POUCO DE SUA VIDA E OBRA

Fonte:Disponível:https://br.pinterest.com/pin/420453315185686540/?d=t&mt=si
gnup. Acesso em: 29 de abr. 2020.

Antes de pensar as categorias históricas do documento/monumento em


Michel Foucault e em Jacques Le Goff, centralidade desse escrito, elege-se a
princípio saber quem é o teórico que faz dialogar filosofia e história, propondo-
se construir uma arqueologia do saber.
Paul-Michel Foucault nasceu em Poitiers, na França, em 15 de outubro
de 1926. Ele herdou o mesmo nome do avô e do pai, que foram grandes
cirurgiões. Foucault tenta ingressar na Escola Normal Superior com a
expectativa de seguir a carreira de seus antepassados. Sua mãe Anne

479
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

Malapart, que também era filha de um importante cirurgião da cidade, teve um


bom convívio com Foucault até a morte.
Anne Malapart desempenhou um papel decisivo na educação do filho.
Seguindo uma máxima do Dr. Malapart, seu pai, para ela o importante era o
filho aprender a governar a si mesmo. Anne Malapart foi a primeira a apoiar a
decisão do filho de não se dedicar à medicina e, ao contratar um professor
particular de filosofia, Louis Girard, pode ter influenciado em sua futura escolha.
Com se visualiza, Michel Foucault é filho de uma família burguesa, de
uma cidade provinciana e conservadora da França. Para não se separar de sua
irmã mais velha, Francine, ingressou no Liceu Henri IV, antes mesmo de
completar 4 anos de idade.
Em 1946, segundo Albuquerque Júnior (2010), no texto “Esboço
biográfico: Michel Foucault”, publicado pela Universidade Federal de Lavras-
MG, Foucault ingressa na escola normal superior da França, onde passa a
frequentar os diálogos com Pierre Bourdieu, Jean-Paul Sarte, Paul Veyne,
dentre outros pensadores. Na Escola Normal, Foucault é aluno de Maurice
Merleau-Ponty.
Na época em que entra na Escola Normal Foucault se revela um
adolescente frágil e instável emocionalmente, detestando a vida comum. Ele
era um rapaz arisco, enigmático e fechado em si mesmo. Por volta dos 19 anos
de idade, Foucault começa a viver a solidão de quem é diferente, de quem não
segue as normas, de quem sente desejos que não são como os da maioria. A
ironia e o sarcasmo é uma das principais armas existências de Foucault,
passando a ser visto como insuportável a todos aqueles que o provoca e
agride, ou seja, visto como maluco.
No ano de 1948, Foucault tenta suicídio e seu pai leva para o hospital
Saint-Anne, fato marcante em sua vida, pois ele tem contato com a instituição
psiquiátrica, é tanto que ele retorna depois como estudante de psiquiatria e
depois como docente dessa disciplina, escrevendo inclusive texto tratando
480
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

dessa problemática, abordando os temas: doença mental e psicologia (1954) e


história da loucura (1961), tratando da separação entre a loucura e a
racionalidade.
Já em 1949, o jovem pensador Foucault, sob a orientação de Jean
Hyppolite, defende sua tese sobre Hegel, concluindo seus estudos superiores
em filosofia, e diplomando em psicologia. Em 1950, logo depois da guerra,
Foucault se filia ao partido comunista da França, e sofre com a sua opção
sexual, pois a França nessa época reprimia a questão homoerótica.
Foucault torna-se professor da cadeira de psicologia na Escola Normal
Superior da França em 1951. De 1952 a 1970 este teórico dedica-se a
produção acadêmica pesquisando sobre psicanálise, filosofia e psicologia,
inclusive recebe o título de psicologia experimental. Passados alguns anos,
especificamente em 1971 este intelectual assume a cadeira da disciplina
história dos sistemas de pensamento, que antes era ocupada pelo seu
orientador, sua aula inaugural foi a ordem do discurso, conceito trabalhado em
suas obras.
Foucault não para de produzir conhecimento, publicando em 1975 a
celebre obra Vigiar e Punir. Em seguida, publica os três volumes da História da
Sexualidade, mostrando ao leitor como a sociedade ocidental faz do sexo um
mero instrumento de poder, não pelo viés da repressão, mas da expressão. No
escrito A Vontade de Saber de 1976, Foucault apresenta uma análise da
arqueologia do sujeito do desejo, na modernidade ocidental.
Na década de 1980, Foucault publica mais duas obras: O Uso dos
Prazeres, refletindo sobre a sexualidade na Grécia antiga e Os Cuidados de Si,
analisando a sexualidade na Roma antiga. Em 1984, Foucault é acometido
pelos sintomas da AIDS, vindo a falecer. Já realizada a descrição de quem foi
Foucault apresenta-se alguns dados biobibliográficos do historiador Le Goff.

DADOS BIOBIBLIOGRÁFICOS DE JACQUES LE GOFF


481
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

Fonte: Disponível:https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/morre-historiador-
frances-jacques-le-goff-aos-90-anos8dnch64ldpdik7k88w3nqht1q/. Acesso em:
29 de abr. 2020.

Do mesmo modo como se fez no tópico passado para conhecer quem


era Foucault é hora de conhecer quem foi Jacques Le Goff e sua obra. Esse
celebre teórico da história nasceu em Toulon na França, em 01 de janeiro de
1924. Seus pais eram professores. Ele viveu na cidade até o final da Segunda
Guerra Mundial, fez seus estudos iniciais, na ocasião em que foi aluno de Henri
Michel, na época membro da resistência e um tempo depois, um analista
especializado em história da 2ª guerra mundial. Le Goff, posteriormente,
estudou em Marselha. Depois, foi convocado para o serviço de trabalho
obrigatório pelo Governo de Vichy, unindo-se à resistência.
Sabe-se que com o fim da 2ª guerra mundial Le Goff estabelece-se em
Paris e lá cursou a École Normale, na qual iniciou sua carreira de historiador e
obteve a licenciatura. Entre os anos de 1945 e 1958, com o foco no período
medieval, complementou a sua formação acadêmica dedicando-se as
pesquisas em Praga, Oxford e Roma, como relata Silva (2016).
Jacques Le Goff começou suas atividades docentes na Universidade de
Lille, no ano de 1958, no ano seguinte, foi logo nomeado por Fernand Braudel
482
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

para o seu primeiro cargo na VI Seção da École Pratique des Hautes Études,
dai então, a trajetória desse historiador não se desvinculou mais dessa
instituição. Dez anos depois, precisamente em 1969, portanto, após sua
nomeação à VI Seção, o próprio Braudel designou-lhe, juntamente com
Emmanuel Le Roy Ladurie e Marc Ferro, para a direção da revista Annales,
Histoire, Sciences Sociales.
A revista Annales, Histoire, Sciences Sociales foi fundada em 1929, por
Lucien Febvre e Marc Bloch, sendo este um documento associado à origem da
Escola dos Annales, e representa, sem dúvida, um marco importante para a
renovação dos estudos históricos contemporâneos como afirma Silva (2016)
em seu artigo “Jacques Le Goff: uma breve biografia, obras publicadas no
Brasil e influência no Programa de Estudos Medievais da UFRJ”.
No ano de 1972, Le Goff foi eleito presidente da VI Seção com o apoio
de Braudel que, impedido pela idade de permanecer no cargo, afastando-se
oficialmente. Ele foi o terceiro presidente da VI Seção da École Pratique des
Hautes Études (1972-1977), lugar anteriormente ocupado por Lucien Febvre,
criador da referida seção; e Braudel, este ultimo foi um dos principais atores no
processo que garantiu maior autonomia à Escola em relação ao Ministério da
Educação Nacional, que passou a ser designada, em 1975, como École des
Hautes Études en Sciences Sociales. Neste período, destacamos que Le Goff
se manteve vinculado à École como integrante do comitê de direção da revista.
Le Goff era muito envolvido com a École e com os Annales, mas isso
não se caracterizava apenas pelo seu percurso administrativo, pois o mesmo
esteve ao lado de autores como André Burguière, Emmanuel Le Roy Ladurie,
Georges Duby, Jacques Revel, Michel Vovelle e Philippe Ariès, entre outros,
sendo identificado, como o integrante da terceira geração dos Annales.
Os historiadores que investigavam a Idade Medieval, ao longo de sua
trajetória, interagiram com diversas influências. Destacam-se, em primeiro
lugar, o grupo ligado aos Annales: Marc Bloch, Le Febvre, Le Roy Ladurie,
483
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

Braudel e Duby. As ideias desses teóricos foram fundantes para a construção


das pesquisas sobre a Idade Média tecida por Le Goff. Além destes,
pensadores e teóricos das mais diversas áreas do conhecimento contribuíram
de formas diferentes, para as reflexões elaboradas pelo historiador, tais como
Walter Scott, que despertou o seu interesse pelo medievo; Michelet, que o
auxiliou a refletir a cerca das relações entre a Europa Medieval e a
Modernidade; Polany e Kula, valiosos em seus estudos sobre os mercadores;
Geremek, que o estimulou a analisar os marginais, e Bakhtin, autor chave em
suas formulações sobre o riso.
Para Silva (2016) o historiador

Le Goff atuou em diversos comitês e conselhos: Comité National; Conseil


Supérieur de la Recherche et de la technologie; Conseil Supérieur des
Universités; Conseil Scientifique de l’Institut de recherche et d’histoire des
textes; Conseil de la Fondation France-Pologne, Conseil de la Fondation
Pour la Science; Conseil del Centre International de Synthèse; Conseil de
l’Academia Europea e Conseil de l’Académie Polonaise des Sciences.
Também atuou como membro correspondente da Medieval Academy of
America du Jury de l’Institut Universitaire de France; foi presidente do
Conseil Scientifique de l’Ecole Nationale du Patrimoine; Codirector da
Revue Annales, Histoire, Sciences Sociales e da revista italiana de
divulgação acadêmica denominada Storia e Dossier. Seu compromisso com
a divulgação científica também pode ser verificado na sua atuação, de 1968
até a véspera de sua morte, no programa radiofônico Les Lundis de
l’Histoire, produzido pela France Culture, e na participação em diversos
projetos audiovisuais. (SILVA, 2016, p.37).

Como se pode visualizar Le Goff foi muito reconhecido e exerceu


inúmeros cargos científicos e na área da História ainda recebeu o título de
Doutor Honoris Causa das universidades de Cracóvia, Louvaine, Jerusalém,
Budapeste, Varsóvia, Bucareste, Cluj e Praga. Neste mesmo sentido,
acumulou uma grande quantidade de prêmios, dentre os quais se destacam:
Grande Prêmio Nacional de História (França); Prêmio Tevere (Roma); Grande
Prêmio da Fondation de France; Médaille d’Or CNRS (França), e Prêmio Dr. A.
H. Heineken de História, atribuído pela Academia Real das Artes e Ciências
dos Países Baixos.

484
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

O celebre historiador francês Le Goff publicou escritos até o final de sua


vida. Seus últimos trabalhos, portanto, datam até 2014. Tendo falecido no dia
1º de abril de 2014, em Paris, aos 90 anos de idade. Ele deixou como legado
as principais obras conforme segue: Marchands et Banquiers du Moyen Âge
(1956); Les intellectueles au Moyen Age (1957); Les grandes civilisations
(1964); Les mentalités: une histoire ambiguë (1974) texto escrito em parceria
com Pierre Nora; Pour un autre Moyen Âge. Temps, travail et culture en
Occident (1977); História e Memória (1977-1982); La Nouvelle Histoire (1978);
L’apogée de la France urbaine médievale (1980); Prefácio da obra Les rois
thaumaturges de Marc Bloch (1983); La bourse et la vie, Économie et Religion
au Moyen Âge e Os Limbos (1986); o limbus puerorum e limbus patriarcharu;
Saint Louis e L’Europe expliqueé aux jeunes (1996); Pour l’amour des Villes
(1997); A Cultural History of humour (1997); Une vie pour l’histoire. Entretiens
avec Marc Heurgon (1998); Dictionnarie raisoné de l’Occident medieval (1999).
A partir dos anos 2000, as obras escritas por Le Goff são: L'intolerance
(2000); Saint François d´Assise (1999); A la recherche du Moyen Age, Une
histoire du corps au Moyen Age, La plus belle histoire de l´amour e Le Dieu du
Moyen Âge (2003); Heróis e Maravilhas da Idade Média (2005); O valor da paz
no Ocidente medieval, Un long Moyen Âge e Le Moyen Âge expliqué aux
enfants (2006); L´Europe est-elle née au Moyen Age? (2007); A Idade Média e
o Dinheiro (2010); Homens e Mulheres na Idade Média (2012); A la recherche
du temps sacré e Legenda Áurea (2014).
Percebe-se que Le Goff produziu um grande acervo de obras,
constituindo-se significativo legado para a epistemologia teórico-metodológica
do campo da pesquisa em história e para historiografia.
O passo seguinte: pensar as categorias Documento/monumento, seção
três desse texto.

AS CATEGORIAS HISTÓRICAS DO DOCUMENTO/MONUMENTO


485
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

A princípio, o objetivo desse tópico consiste em problematizar o conceito


de documento/monumento nas ideias de Foucault a partir da obra “A
arqueologia do saber”. Ressaltando que as reflexões apresentadas aqui não se
traduzem em receitas ou manuais de como fazer história. Esse pensador não
se propôs apresentar um manual do ofício do historiador. O que ele promove,
na realidade, são atividades praticadas pelos filósofos que acabara tomando
uma dimensão que influenciaria inúmeros escritos realizados por historiadores
franceses, brasileiros e de outros lugares. Desse modo, deixa-se claro que
Foucault não desejou o exercício de historiador, mas realizar uma prática
filosófica, baseada na reflexão sobre a escrita historiográfica, tendo foco os
discursos.
No escrito “A arqueologia do saber”, Michael Foucault apresenta-nos o
conceito de monumento relacionado a uma postura arqueológica no que diz
respeito aos discursos. Para Foucault (2008) o pesquisador é uma espécie de
arqueólogo do saber, só que no campo dos discursos. Desse modo,
compreende-se que a investigação arqueológica se dá na busca profunda do
subsolo, do não dito, do ignorado, do sagrado, das unidades profundas a fim de
desconstruir os efeitos da superfície. Assim
[...] numa inversão direta de denominações, os discursos, os documentos,
serão tomados enquanto monumentos. Porém, dizer isto não é o bastante.
Ser encarado como monumento significa dizer que o discurso (o
documento) será passível de ser desmontado em busca de unidades
coerentes menores que possam, estas sim, nos facultar possibilidades
finitas de construções mentais referentes ao período sobre o qual nos
debruçamos. (LOPES, 2004, p.141-142).

Parece-nos, que as ideias de Michel Foucault sobre o método da


arqueologia tornam o discurso desmontável, não necessitando respeitar uma
unidade de séries externas para ser entendida. No entanto, carrega em si
fundamentos com os quais desenvolva uma nova série.
Argumenta-se ainda, que a arqueologia tecida por Michel Foucault tem

486
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

por base o procedimento historiográfico, ou seja, uma forma de fazer/jeito de


lidar com os discursos. Nesse movimento, concebe-se a ideia de ser humano
como não sendo algo pronto, nem dado, mas construído, construção essa
estruturada por meio dos discursos.
Outro conceito importante encontrado na teoria de Michel Foucault é
quando ele fala da história, traduzindo-a como escrita, tempo e discurso. A
história posta aqui não é aquela linear, com começo, meio e fim, porém
salienta-se que não se faz necessário essa sequência. Visto que em Michel
Foucault cabe ao pesquisador da história ir cavando a superfície para encontrar
os objetos, compreendendo que há uma presente noção de descontinuidade.
Quanto à noção de descontinuidade afirma-se:
A história será ‘efetiva’ na medida em que ela reintroduzir o descontínuo em
nosso próprio ser. Ela dividirá nossos sentimentos; multiplicará nosso corpo
e o oporá a si mesmo. Ela não deixara nada abaixo de si que teria a
tranquilidade asseguradora da vida ou da natureza; ela não se deixará levar
por nenhuma obstinação muda em direção a um fim milenar. Ela
aprofundará aquilo sobre o que se gosta de fazê-la repousar e se obstinará
contra sua pretensa continuidade. (FOUCAULT, 2010, p.27-28).

Esse conceito de descontinuidade cindido na história faz refletir sobre a


prerrogativa de que acontecerá uma inversão para essa ciência, pois antes se
dedicava a grandes problemáticas, tais como: a tradição e o rastro.
As duas categorias, traição e rastro são substituídos por Michel Foucault
pelo recorte e o limite, daí em diante a noção de descontinuidade que foi
renegada pelos historiadores nos seus escritos historiográficos, torna-se, como
adverte Foucault (1995), um dos elementos essenciais ou fundamentais da
análise histórica.
Ainda sobre a funcionalidade da história Foucault (2010) diz:
A história ensina (...) a rir das solenidades das origens. A alta origem é o
exagero metafisico que reaparece na concepção de que no começo de
todas as coisas se encontra o que há de mais precioso e de mais essencial:
gosta-se de acreditar que as coisas em seu inicio se encontravam em
estado de perfeição, que elas seriam brilhantes das mãos do criador, ou na
luz sem sombra da primeira manhã. (FOUCAULT, 2010, p.18).

487
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

Os conceitos de gênese ou de origem são percebidos nas ideias de


Foucault como sendo algo excessivamente histórico, e porque não dizer,
discreto, modesto, irrisório, satírico, próprio a desfazer todas as vaidades
infundidas.
Diante do exposto, pode-se concluir que Michel Foucault trás muitas
contribuições ao campo da Nova História Cultural, sendo ele um representante
de uma quarta geração herdeira dos Annales que seria a Nova História Cultural
comandada pelos historiadores Roger Chartier e Jacques Revel como afirma
Matos (2010). Esse teórico francês trouxe a noção de desestruturação dos
documentos, advertindo que não bastaria apenas a interferência de fatores
subjetivos na seleção documental, e muito menos a crítica estabelecida pelos
teóricos da corrente positivista, dessa forma entende-se que é preciso
desconstruí-lo para apreender suas condições de produção como afirma
Dolinski (2011).
A história, na perspectiva foucaultiana, apresenta-se como possibilidade
e se constrói da trama das discursividades sociais, carregadas de sentidos
pelos lugares de produção e circulação.

DE FOUCAULT À LE GOFF

A princípio, o objetivo desse tópico consiste em problematizar o conceito


de documento/monumento nas ideias de Foucault a partir da obra “A No artigo
escrito por Dolinski (2011) este cita o historiador francês Marc Bloch um dos
grandes impulsionadores da Nova História, para esse teórico existem duas
grandes teses, sendo a primeira a relação entre passado e presente, e a
segunda as questões ligadas ao método comparativo de análise.
Para Bloch (2001) uma das primeiras coisas que o pesquisador deve
fazer para interpretar os documentos é formular as hipóteses e os problemas.
Nesse caso, faz-se necessário usar o método regressivo, que consiste em
488
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

observar e investigar rigorosamente o presente, ou seja, analisar o presente


para compreender o passado.
Nesse movimento do método regressivo, a comparação é feita com a
observação de um fenômeno histórico ocorrido em um dado período,
confrontado com outro fato de época diferente, apontando semelhanças e
diferenças entre os tempos investigados.
Segundo Bloch (2001) o pesquisador da História não deve ficar
dependendo somente dos relatos ou discursos dos estranhos, ele pode lançar
mão das induções de um arqueólogo. Para se ter ideia, Michel Foucault propõe
converter o documento em monumento e Le Goff (2003) aconselha aproximar
os métodos históricos aos da arqueologia, de modo que
Assim como dantes a arqueologia tendia para a história, poder-se-ia dizer,
jogando um pouco com as palavras, que a história, nos nossos dias, tende
para a arqueologia, para a descrição intrínseca do monumento. (LE GOFF,
2003, p. 546).

Essa inferência de aproximar os métodos históricos aos da arqueologia


do saber teorizada por Michel Foucault, faz-nos refletir se seria possível um
diálogo entre filosofia, história e o campo da educação profissional?

POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE A FILOSOFIA, A HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL (EP)

Antes de afirmar se é possível um diálogo entre a filosofia, a história e a


educação profissional, pensa-se ser necessário refletir sobre o campo da
educação profissional (EP). A educação profissional traduz-se como sendo
uma área ou “[...] campo de disputa e negociação entre diferentes segmentos
que compõem uma sociedade, desvelando a dimensão histórico-política das
reformas de ensino, das concepções, projetos e práticas formativas”
(MANFREDI, 2002, p. 61).
Nota-se com as ideias de Manfredi (2002) que a educação profissional
489
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

(EP) é um campo de conhecimento tanto epistêmico como uma prática, diz-se


isso, pois conforme Medeiros Neta (2016) antes da configuração do campo de
pesquisa, a educação profissional (EP) é uma modalidade de ensino
demarcada no Brasil pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, integradas
aos variados níveis escolares e dimensões do trabalho, da ciência e da
tecnologia.
É visível que a educação profissional possui uma ligação histórica entre
educação e trabalho, nesse sentido afirma-se:
A produção do conhecimento em educação profissional e tecnológica
implica a compreensão histórica de como as políticas conduzem a esses
resultados. Implica também o conhecimento de como são representadas ao
nível dos discursos e das leis produzidos pelos sujeitos envolvidos nos
acontecimentos e que têm acesso ao poder de decisão. (CIAVATTA, 2016,
p.44).

O argumento de Ciavatta (2016) evidencia que na educação profissional


existe uma relação histórica e dialética, sendo assim, entende-se que não há
como ler e interpretar um documento sem cruzar as fontes, e mais que isso,
deve-se tentar extrair o que contém as suas entrelinhas.
Tal afirmação faz-nos lembrar dos documentos encontrados nos
arquivos da Escola Estadual Professor Anísio Teixeira, objeto de estudo da
pesquisa de dissertação de Costa (2017) desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Educação Profissional (PPGEP) do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), e reiniciada
em 2019 com a produção da tese, cujo recorte nos arquivos delimita-se no
tempo histórico de 1982 até 2002.
Ao retornar aos arquivos da Escola Anísio Teixeira em 2019, foi possível
perceber que os documentos da escola ainda continuam desorganizados, sem
uma sequência cronológica, sem conservação e as etiquetas de identificação
não corresponde as fontes descritas. Mesmo com toda essa precarização do
arquivo escolar, compreende-se com a arqueologia de Foucault (1995) que
cabe ao historiador e cavando as superfícies mais profundas e lá encontrar os
490
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

documentos, cientes da descontinuidade do fazer histórico, o que não impede


que o pesquisador da história faça uma imersão na dialética, transformando o
documento em monumento, reafirmando a interface entre filosofia e história.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar as categorias documento/monumento nas ideias tecidas por


Michel Foucault é de certo modo algo complexo, devido à densidade dos
conceitos desenvolvidos por esse grande teórico francês, e que propôs uma
arqueologia do saber e não um método historiográfico tradicional.
Nota-se que esse método proposto e elaborado por Michel Foucault para
a tessitura em uma arqueologia do saber possui uma disposição para o
questionamento do ofício historiográfico, não dos procedimentos da
interpretação hermenêutica, mas de uma nova maneira de interpretar os
documentos, ou melhor, a sua investigação interna e externa, buscando e
interligando os inúmeros processos que potencializam a sua construção, nesse
sentido, o documento passa a ser concebido no centro de uma análise
discursiva.
Jacques Le Goff, por sua vez, propõe transformar o documento em
monumento, testemunho de um tempo que declara e denuncia. Então, propõe
que o problema da história pode se resumir a questionar os
documentos/monumentos em função de uma historiografia.
Conforme estabelece Jacques Le Goff (2003) entende-se que a História
é que transforma os documentos em monumentos. Assim, reafirma-se que
documento é aquele que o historiador seleciona para escrever a história, e o
monumento é aquele que a sociedade ratifica e que conserva um determinado
registro de memória.
Parece-nos que com Michel Foucault e Jacques Le Goff as categorias
documento/monumento possibilita uma nova forma de fazer história, assim
491
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

como antes a arqueologia tendia para a história, podendo-se dizer, jogando um


pouco com as palavras, que a história, tecida no campo da nova história
cultural e história cultural, tende para a arqueologia, assim como para a
descrição intrínseca do monumento.
Este texto foi oportuno para se realizar exercícios de reflexão sobre
documento/monumento no contexto da Educação Profissional, especialmente,
no contexto da Escola Estadual Professor Anísio Teixeira. Instituição escolar
situada na cidade de Natal-RN, que formava estudantes nos cursos técnicos
profissionalizantes em Administração e Contabilidade, durante os anos de 1973
até 2002 (COSTA, 2017). De certo modo, apresenta-se como possibilidade de
articulação dos dois campos do saber tecidos por Michel Foucault e Jacques
Le Goff, ou seja, tentando promover um possível diálogo entre filosofia e
história no cerne da Educação Profissional (EP).
Os documentos encontrados nos arquivos da Escola Estadual Professor
Anísio Teixeira não estão sobrepostos em uma linearidade/organização com
início, meio e fim, em síntese não há uma cronologia. Pelo contrário, os
documentos estão todos misturados e sem as devidas catalogações, enfim, a
uma total precarização dos arquivos da instituição pesquisada.
Esse fato da não linearidade da organizado dos documentos do arquivo
da Escola Estadual Professore Anísio Teixeira não é um problema, pois Michel
Foucault (1995) adverte-nos que cabe ao historiador ir cavando a superfície
para encontrar os objetos, entendendo que existe uma presente noção de
descontinuidade no fazer historiográfico.
A descontinuidade dos documentos encontrados nos arquivos da
instituição escolar citada nos permite fazer o movimento de imersão dialético
em que a História não se encontra em estado de perfeição; de que o
documento se apresenta na condição de materialização da memória; e que
testemunho da história se constrói por determinada sociedade situada num
tempo e espaço.
492
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Esboço biográfico: Michel


Foucault. Disponível em:<http://www.ded.ufla.br/generoesexualidade-
ei/imagens/foucault.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2019.

BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

CIAVATTA, Maria. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE A


CONFIGURAÇÃO DO CAMPO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
TECNOLÓGICA. HOLOS, [S.l.], v. 6, p. 33-49, out. 2016. ISSN 1807-1600.
Disponível em:
<http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/5013>. Acesso em:
27 mar. 2020.

COSTA, Antonio Max Ferreira da. Ensino técnico profissionalizante no


Centro de Ensino de 2º Grau Professor Anísio Teixeira: uma análise
histórica das práticas pedagógicas (1974-1985). 2017. 119f. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em
Educação Profissional, Natal, 2017.

DOLINSKI, João Pedro. A arqueologia foucaultiana e suas contribuições para a


historiografia. Interseções. v.13, n.2, dez. 2011, p.370-395.

LE GOFF, Jaques. Documento/monumento. In:____. História e memória.


Tradução de Irene Ferreira, Bernardo Leitão e Suzana F. Borges. 5. ed.
Campinas-SP: Unicamp, 2003.

LIMA, Douglas Mota Xavier de. Jacques Le Goff e a história política da Idade
Média. BRATHAIR, v.16, n.2, 2016. Disponível em:
http://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/1264. Acesso em 28
de Out. 2019.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 1995.

FOUCAULT, Michel. Nietzsche a Genealogia e a história. In: ______________.


Microfísica do poder. Tradução por Roberto Machado. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 2010.
493
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

FOUCAULT, Michel. Epígrafe. Revista Vernáculo, [S.l.], n. 1, abr. 2000. ISSN


2317-4021. Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/vernaculo/article/view/17425/11428>. Acesso em: 29
abr. 2020.

LOPES, R. T. D. Monumento e genealogia: notas sobre Michel Foucault.


Revista Nucleus, v.2, n.1, abr./out. 2004. Disponível em:
<http://www.nucleus.feituverava.com.br/index.php/nucleus/article/viewFile/412/
468>. Acesso em: 23 de jun. 2019.

MANFREDI, S. M. Educação profissional no Brasil. São Paulo, SP: Cortez,


2002.

MATOS, Júlia Silveira. Tendências e debates: da escola dos annales à


história nova. 2010. Disponível em:<
http://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/1762/tendencias%20e%20debates.p
df?sequence=1>. Acesso em: 02 de nov. 2019.

MEDEIROS NETA, Olivia Morais. A CONFIGURAÇÃO DO CAMPO DA


EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL. HOLOS, [S.l.], v. 6, p. 50-55, out.
2016. ISSN 1807-1600. Disponível em:
<http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/4947>. Acesso em:
27 mar. 2020.

MENDES, B. Relações de força e relações de sentido: Michel Foucault e Paul


Ricoeur revolucionam a historiografia. Revista de Teoria da História, ano 2,
n.5, jun. 2011. Disponível em:
<http://www.historia.ufg.br/up/114/o/Artigo_7._MENDES.pdf>. Acesso em: 23
de jun. 2019.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed.


São Paulo: Cortez, 2007.

SILVA, Andréia Cristina Lopes Frazão da. Jacques Le Goff: uma breve
biografia, obras publicadas no Brasil e influência no Programa de Estudos
Medievais da UFRJ. BRATHAIR, v.16, n.1, 2016. Disponível
em:<http://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/1173>. Acesso
em 28 de Out. 2019.

SILVA, Juan Carlo da Cruz; NETA, Olivia Morais de Medeiros. História do


ensino industrial no Brasil: uma análise historiográfica da obra de Celso
Suckow da Fonseca. Rev. Bras. Hist. Educ., Maringá, v. 19, e091, 2019.
494
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183
e-ISSN: 2177-8183

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2238-


00942019000100225&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 27 de mar. 2020.

495
REVASF, Petrolina- Pernambuco - Brasil, vol. 11, n.25, p. 475-495,
Agosto, 2021
ISSN: 2177-8183

Você também pode gostar