Sylvia Plath

em tradução de

Clarissa
Comin

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Johnny Panic and the bible of dreams – Zé A prosa de Plath carrega consigo a precisão que nesse mesmo texto ganha ares de troça,

susto e a bíblia dos sonhos –, como foi traduzi- imagética cara à (sua) poesia e um poder tem uma versão extended mais contunden-

do em Portugal –, trabalho póstumo de Sylvia de condensação que põe dificuldades para te e ficcionalizada em outro conto do mesmo

Plath, teve sua primeira edição em 1977, orga- os leitores e tradutores – como ela mesma livro – “Iniciação”. Em “Contexto”, é feita uma

nizada por Ted Hughes. Na primeira versão pontuou em “Uma comparação”: “[s]e um lúcida análise do lugar do poeta em meio aos

o volume contava com apenas treze contos, poema é concentrado, um punho fechado, conflitos políticos mundiais – nesse caso, as

incluindo o que dá título à coletânea. Com o o romance é então relaxado e expansivo, ameaças nucleares, aflição iminente após

passar dos anos e a crescente repercussão do uma mão aberta: ele tem estradas, desvios, Hiroshima. Em “Uma comparação”, a poeta

trabalho de Plath, uma segunda edição foi destinações”. entra definitivamente em ação ao pontuar

posteriormente publicada – desta vez, com Os três textos que escolhi traduzir, os abismos e pontes entre poetas e roman-

quatro sessões: i) introdução alentada de “Contexto” (1962), “Uma comparação” (1962) cistas. Este texto foi escrito para um progra-

Hughes, ii) “The more successful short sto- e “América! América!” (1963), foram enco- ma educativo da BBC – O mundo dos livros – e

ries and prose pieces”, iii) “Others stories” e mendas jornalísticas – uns de seus melho- espanta pelo alto nível de qualidade, ines-

iv) “Excerpts from notebooks”. Johnny Panic, res trabalhos na área. Mesmo tratando de perado para uma encomenda entregue à

ao contrário do que se percebe nessas cole- temas supostamente cotidianos – como a televisão.

tâneas póstumas, é bastante variado no que influência dos desastres nucleares no ofício Comentar os percalços das traduções se-

diz respeito aos tipos de registros – diários, poético – ou de suas memórias escolares du- ria um capítulo à parte. Assumo as dificul-

escritos para a impressa, contos já publica- rante o pós-guerra americano, a autora o faz dades em diversos trechos: seja pela distân-

dos e outros inéditos –, mas com qualidade e de modo a criar arapucas para seus leitores cia temporal – muitas das referências fazem

interesse literários inquestionáveis e irreto- e arrastá-los para uma instância densa de parte do universo infanto-juvenil dos ame-

cáveis . Há desde contos outrora publicados imagens e sensações aparentemente extraí- ricanos que cresceram nos anos 1940 e 1950,

em periódicos e revistas, passando por arti- das com facilidade de seu mundo real. personagens de histórias em quadrinho ou

gos escritos sob encomenda, até notas pesso- O gênero confessional, no qual é geral- de produtos consumidos apenas por lá –, ou

ais (e extremamente confessionais) dos diá- mente inserida, faz-se notar sobretudo em pela complexidade linguística, fruto de uma

rios pessoais de Plath. “América! América!”, onde as lembranças da mistura elaborada de elementos e efeitos da

Conhecida sobretudo por seus poemas, infância entre grupos multiétnicos – Sylvia poesia na prosa, trazendo perclços mesmo

a escritora praticou bastante a prosa – após Plath mesma, filha de um imigrante alemão para um nativo em inglês. Com esse mea cul-

The bell jar ela havia começado um novo li- com uma americana descendente de austrí- pa desengonçado vos entrego em português

vro, chamado Double exposure, todavia, na acos – é narrada sob um ponto de vista que brasileiro – não tive condiçõe$ de consultar

sequência de seu suicídio, os manuscritos oscila entre o singelo infantil e o retroativo a tradução portuguesa, editada pela Relógio

não foram mais encontrados, restando ape- olhar adulto. A dolorosa experiência da ten- d’água –, esses ensaios jornalísticos-literá-

nas esparsas informações em seus diários. tativa de integrar uma sororidade juvenil, rios, essas proesias cotidianas.
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A Comparison
How I envy the novelist!
I imagine him – better say her, for it is women I
look to for a parallel – I imagine her, then, pruning
a rosebush with a large pair of shears, adjusting
her spectacles, shuffling about among the teacups,
humming, arranging ashtrays or babies, absorb-
ing a slant of light, a fresh edge to the weather and
piercing, with a kind of modest, beautiful X-ray
vision, the psychic interiors of her neighbors – her
neighbors on trains, in the dentist’s waiting room,
in the corner teashop. To her, this fortunate one,
what is there that isn’t relevant! Old shoes can be
used, doorknobs, airletters, flannel nightgowns, ca-
thedrals, nail varnish, jet planes, rose arbors and
budgerigars; little mannerisms – the sucking at
a tooth, the tugging at a hemline – any weird or
warty or fine or despicable thing. Not to mention
emotions, motivations – those rumbling, thunder-
ous shapes. Her business is Time, the way it shoots
foward, shunts back, blooms, decays and double
exposes itself. Her business is people in Time. And
she, it seems to me, has all the time in the world.
She can take a century if she likes, a generation, a
whole summer.
I can take about a minute.
I’m not talking about epic poems. We all know
how long they can take. I’m talking about the small-
ish, unofficial garden-variety poem. How shall
I describe it? - a door opens, a door shuts. In be-
tween you have had a glimpse: a garden, a person,
Uma comparação
Como invejo o romancista!
Imagino ele – melhor dizendo ela, pois são as mulheres que
busco para fazer esse paralelo – então, imagino ela podando
uma roseira com um enorme par de tesouras, ajustando o bi-
nóculo, embaralhando-se entre as xícaras de chá, cantarolando,
organizando cinzeiros ou bebês, absorvendo um fio de luz, uma
percepção afiada para o clima e perfurando, com uma modesta
visão em raio-X, a interioridade física de seus vizinhos – seus vi-
zinhos nos trens, na sala de espera do dentista, na fila da loja de
chá. Para ela, essa afortunada, não há nada que não seja relevan-
te! Sapatos velhos podem ser usados, maçanetas, aerogramas,
camisolas de flanela, catedrais, esmaltes, aviões a jato, roseiras
e periquitos; pequenos maneirismos – a sucção de um dente, o
puxão de uma bainha – qualquer coisa esquisita ou verrugosa
ou fina ou desprezível. Isso para não mencionar emoções, mo-
tivações – dessas que ressoam de forma estrondosa. O negócio
dela é o Tempo, o jeito como ele dispara para frente, desvia para
trás, floresce, decai e se expõe duplamente. O negócio dela são as
pessoas no Tempo. E ela, me parece, tem todo o tempo do mun-
do. Ela pode demorar um século, se quiser, uma geração, o verão
inteiro.
Eu posso demorar cerca de um minuto.
Não estou falando de poemas épicos. Todos nós sabemos
quanto tempo eles podem demorar. Estou falando sobre o ín-
fimo, extra-oficial poema do lugar-comum. Como devo des-
crevê-lo? - uma porta se abre, uma porta se fecha. Nesse meio
tempo você teve um vislumbre: um jardim, uma pessoa, uma
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a rainstorm, a dragonfly, a heart, a city. I think
of those round glass Victorian paperweights
wich I remember, yet can never find – a far cry
from the plastic mass-productions wich stud
the toy counters in Woolworths. This sort of
paperweight is a clear globe, self-complete,
very pure, with a forest or village or family
group within it. You turn it upside down, then
back. It snows. Everything is changed in a min-
ute. It will never be the same in there – not the
fir trees, nor the gables, nor the faces.
So a poem takes place.
And there is really só little room! So little
time! The poet becomes an expert packer of
suitcases:
The apparition of these faces in the crowd;
Petals on a wet black bough.
There it is: the beginning and the end in
one breath. How would the novelist manage
that? In a paragraph? In a page? Mixing it, per-
haps, like paint, with a little water, thinning it,
spreading it out.
Now I am being smug, I am finding
advantages.
If a poem is concentrated, a close fist, then
a novel is a relaxed and expansive, an open
hand: it has roads, detours, destinations; a
heart line, a head line; morals and money come
into it. Where the fist excludes and stuns, the
open hand can touch and encompass a great
deal in its travels.
I have neve put a toothbrush in a poem.
tempestade, uma libélula, um coração, uma cidade. Penso nes-
ses pesos de papel vitorianos, feitos de vidro, dos quais me lem-
bro, mas nunca consegui encontrar – um choro distante da pro-
dução em massa do plástico que adorna os ábacos de brinquedo
na Woolworths. Esse tipo de peso de papel é um globo transpa-
rente, auto-suficiente, muito puro, com uma floresta ou vilare-
jo ou família dentro dele. Você vira ele de cabeça para baixo e
depois de volta. Neva. Em um minuto tudo está mudado. Nunca
mais as coisas ali dentro serão as mesmas – nem os pinheiros,
nem os frontões, nem os rostos.
Então um poema acontece.
E há tão pouco espaço! Tão pouco tempo! O poeta se torna
perito em fazer malas:
O espectro destes rostos entre as gentes;
pétalas num negro ramalhete.
Aí está: o começo e o fim em uma respiração. Como o roman-
cista poderia gerenciar isso? Em um parágrafo? Em uma pá-
gina? Misturando, talvez, como em pintura, com um pouco de
água, diluindo-o, espalhando-o.
Agora estou sendo presunçosa, estou vendo vantagens.
Se um poema é concentrado, um punho fechado, então o ro-
mance é relaxado e expansivo, uma mão aberta: ele tem estra-
das, desvios, destinações; uma linha do coração, uma linha da
cabeça; moralismos e dinheiro entram nele. Onde o punho ex-
clui e atordoa, a mão aberta consegue tocar e envolver muitas
coisas em sua jornada.
Nunca pus uma escova de dente em um poema.
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 I do not like to think of all the things, familiar,
useful and worthy things, I have never put into a
poem. I did, once, put a yew tree in. And that yew
tree began, with astounding egotism, to manage
and order the whole affair. It was not a yew tree by
a church on a road past a house in a town where a
certain woman lived... and so on, as it might have
been, in a novel. Oh no. It stood squarely in the mid-
dle of my poem, manipulating its dark shades, the
voices in the churchyard, the clouds, the birds, the
tender melancholy with wich I contemplated it –
everything! I couldn’t subdue it. And, in the end, my
poem was a poem about a yew tree. That yew tree
was just too poroud to be a passing black mark in
a novel.
Perhaps I shall anger some poets by implying
that the poem is proud. The poem, too, can include
everything, they will tell me. And with far more
precision and power tha those baggy, disheveled
and undiscriminate creatures we call novels. Well,
I concede these poets their steamshovels and old
trousers. I really don’t think poems should be all
that chaste. I would, I think, even concede a tooth-
brush, if the poem was a real one. But these appa-
ritions, these poetical toothsbrushes, are rare. And
when they do arrive, they are inclined, like my ob-
streperous yew tree, to think themselves singled
out and rather special.
Not so in novels.
Não gosto de pensar em todas essas coisas, familiares, úteis
e distintas coisas, nunca as usei em um poema. Eu usei, uma
vez, um teixo, e esse teixo começou, com espantoso egoísmo, a
gerenciar e ordenar a coisa toda. Não era um teixo ao lado de
uma igreja passando por uma casa numa cidade onde uma cer-
ta mulher vive... e assim por diante, como poderia ter sido em
um romance. Ah não. Isso estava bem no meio do meu poema,
manipulando suas sombras escuras, vozes no átrio, nuvens,
pássaros, a suave melancolia com a qual o contemplava – tudo!
Não poderia subjugá-lo. E, por fim, meu poema era um poema
sobre um teixo. Aquele teixo era orgulhoso demais para ser ape-
nas uma marca negra passando por um romance.
Talvez eu irrite alguns poetas sugerindo que o poema é or-
gulhoso. O poema também pode abarcar tudo, dirão eles. E com
muito mais precisão e poder do que aquelas criaturas largas, des-
grenhadas e indistintas que chamamos de romances. Bem, con-
cedo a esses poetas suas escavadeiras e calças velhas. Realmente
não acho que os poemas possam ser assim tão castos. Creio que
eu poderia até conceder uma escova de dente, caso o poema fos-
se real, mas essas aparições, essas escovas de dente poéticas, são
raras. E quando elas chegam estão inclinadas, como meu obsti-
nado teixo, a se julgarem únicas e muito especiais.
Não é assim no romance.
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 There the toothbrush returns to its rack with
beautiful promptitude and is forgot. Time flows,
eddies, meanders, and people have leisure to grow
and alter before our eyes. The rich junk of life bobs
all about us: bureaus, thimbles, cats, the whole
much loved, well-thumbed catalogue of the mis-
cellaneous wich the novelist wishes us to share. I
do not mean that there is no pattern, no discern-
ment, no rigorous ordering here.
I am only suggesting that perhaps the pattern
does not insist so much.
The door of the novel, like the door of the poem,
also shuts.
But not so fast, nor with such maniac, unan-
swerable finality.
Aqui a escova de dente volta à sua prateleira, com formidável
prontidão, e é esquecida. O tempo corre, redemoinhos, mean-
dros, e as pessoas têm o prazer de crescer e mudar diante dos
nossos olhos. O rico lixo da vida faz pouco caso de nós: escritó-
rios, dedais, gatos, um grande amor, catálogo surrado da misce-
lânea que o romancista deseja compartilhar conosco. Não estou
querendo dizer que não haja um padrão, discernimento, uma
ordem rigorosa.
Estou apenas sugerindo que talvez o padrão não insista
muito.
A porta do romance, como a porta do poema, também se
fecha.
Mas não tão rápido, nem com essa finalidade tão maníaca e
irrespondível.
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America! America!
I went to public schools – genuinely public.
Everybody went: the spry, the shy, the podge, the
gangler, the future eletronic scientist, the future
cop who would one night kick a diabetic to death
under the mistaken impression he was a drunk and
needed cooling off; the poor, smelling of sour wools
and the urinous baby at home and polyglot stew;
the richer, with ratty fur collars, opal birthstone
rings and daddy with cars (‘Wot does your daddy
do?’ ‘He don’t woik, he’s a bus droiver’. Laughter).
There it was – Education – laid on free of charge for
the lot of us, a lovely slab of depressed American
public. We weren’t depressed, of course. We left
that to our parents, who eked out onde child or
two, and slumped dumbly after work and fru-
gal suppers over their radios to listen to news of
the ‘home country’ and a black-moustached man
named Hitler.
Above all, we did feel ourselves American in the
rowdy seaside town where I picked up, like lint, my
first ten years of schooling – a great, loud cats’ bag
of Irish Catholics, German Jews, Swedes, Negroes,
Italians and that rare, pure Mayflower dropping,
somebody English. On to this steerage of infant cit-
izens the doctrines of Liberty and Equality were to
be, through the free, communal schools, impressed.
Although we could almost call ourselves Bostonian
(the city airport with its beautiful hover of planes
and silver blimps growled and gleamed across the
bay), New York’s skyscrapers were the icons on our
‘home room’ walls, New York and the great green
queen lifting a bedlamp that spelt out Freedom.
América! América!
Frequentei escolas públicas – genuinamente públicas. Todo
mundo frequentava: o inteligente, o tímido, o rechonchudo, o
altão, o futuro cientista, o futuro policial que, numa noite, po-
deria chutar um diabético até a morte com a desculpa de tê-
-lo confundido com um bêbado que precisava levar uma dura;
os pobres, fedendo a malha azeda, urina de bebê e geléia geral;
os ricos, com irritantes golas de pele, anéis com a pedrinha do
signo e papais motorizados (“Qué qui seu papai faz?” “Ele num
tabáia, ele é motolista de ônibus.” Risos). Lá estava – a Educação
– oferecida gratuitamente para muitos de nós, uma bela fatia
do público americano deprimido. Nós não éramos depressivos,
claro. Deixamos isso para nossos pais, que sustentavam um ou
dois filhos, afundando estupidamente no sofá após o trabalho,
jantares frugais ao lado do rádio para ouvir as notícias da ‘terra
natal’ e um homem de bigode preto chamado Hitler.
Apesar de tudo, nos sentíamos americanos na ruidosa cidade
litorânea onde juntei, como fiapos, meus primeiros dez anos de
escola – um imenso balaio de gato com católicos irlandeses, judeus
alemães, suecos, negros, italianos e aqueles raros ingleses, largados
pelo Mayflower. As doutrinas da Liberdade e da Igualdade deve-
riam ser impressas nesta terceira classe de cidadãos-mirins atra-
vés das escolas públicas comunitárias. Embora pudéssemos quase
nos considerar bostonianos (o aeroporto da cidade com seu belo
planar de aviões, zepelins prateados e cintilantes atravessando a
baía), os arranha-céus de Nova Iorque eram ícones nas paredes de
nossas ‘salas de estar’. Nova Iorque e a incrível rainha verde segu-
rando uma luminária que soletrava Liberdade.
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 Every morning, hands on hearts, we pledged
allegiance to the Stars and Stripes, a sort of aeri-
al altarcloth over teacher’s desk. And sang songs
full of powder-smoke and patriotics to impossible,
wobbly, soprano tunes. One high, fine song ‘For
purple mountain majesties above the fruited plain’
always made the scampi size poet in me weep.
In those days I couldn’t have told a fruited plain
from a mountain majesty and confused God with
George Washington (whose lamblike granny-face
shone down at us also from the schoolroom wall
between neat blinders of white curls), yet warbled,
nevertheless, with my small, snotty compatriots
‘America, America! God shed His grace on thee,
and crown thy good with brotherhood from sea to
shining sea.’
The sea we knew something about. Terminus
of almost every street, it buckled and swashed and
tossed, out of its grey formlessness, china plates,
wooden monkeys, elegant shells and dead men’s
shoes. Wet salt winds raked our playgrounds end-
lessly – those Gothic composites of gravel, mac-
adam, granite and bald, flailed earth wickedly de-
signed to bark and scour the tender knee. There we
traded playing cards (for the patterns on the back)
and sordids stories, jumped clothes rope, shot mar-
bles, and eneacted the radio and comic book dra-
mas of our day (‘Who knows what evil lurks in the
hearts of men? The Shadow knows – nyah, nyah,
nyah!’ or ‘Up in the sky, look! It’s a bird, it’s a plane,
it’s Superman!’) If we were destined for any special
end – grooved, doomed, limited, fated, we didn’t feel
it. We beamed and sloshed from our desks to the
dodge-ball dell, open and hopeful as the sea itself.
Toda manhã, mãos no peito, prometíamos lealdade às Estrelas
e Listras, uma espécie de toalha de altar sobre a mesa da professo-
ra. E cantávamos, vacilantes, músicas cheias de pólvora e patrio-
tismos, impossíveis para tons soprano. Uma música importante e
incrível, “Para as majestades das montanhas púrpuras na planície
frondosa”, sempre fez o poeta em mim, do tamanho de um cama-
rãozinho, chorar. Naqueles tempos eu não poderia ter falado de
uma planície frondosa, de uma majestade na montanha, e con-
fundido Deus com George Washington (cuja dócil carinha de vovó
brilhava para nós na parede da sala de aula, entre limpos antolhos
e cachos brancos), e ainda assim berrava com meus pequenos e
irritados compatriotas: “América, América! A glória Deus te dá, te
dá também o trono, que vai de mar em mar.”
Sabíamos algo sobre o mar. No fim de quase todas as ruas ele
dobrava, balançava e lançava para fora de seu cinza disforme pra-
tos de porcelana, macacos de madeira, conchas elegantes e sapatos
de homens mortos. Ventos úmidos e salgados remexiam sem ces-
sar nosso parquinho – aqueles compósitos góticos de cascalho, ma-
cadâmia, granito liso, uma terra áspera e maldosamente projetada
para arranhar e esfolar joelhos macios. Ali trocávamos cartas de
baralho (pelos desenhos no verso) e histórias sórdidas, cordões de
roupas, bolinhas de gude, encenando os dramas dos quadrinhos
e rádio dos nossos dias (“Quem conhece o mal que se esconde no
coração dos homens? O Sombra sabe – muahahahaha!” ou “Lá em
cima, veja! É um pássaro? É um avião? Não. É o Super-Homem!”).
Se estávamos destinados a um fim especial – arranhado, arruina-
do, limitado, predestinado, não o sentíamos. Irradiávamos alegria
e escorríamos das nossas carteiras até o campinho da queimada,
abertos e esperançosos como o próprio mar.
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 After all, we could be anybody. If we worked.
If we studied hard enough. Our accents, our
money, our parents didn’t matter. Did not law-
yers rise from the loins of coalheavers, doctors
from the bins of dustmen? Education was the
answer, and heaven knows how it came to us.
Invisibly, I think, in the early days – a mystical
infra-red glow off the thumbed multiplication
tables, ghastly poems extolling October’s bright
blue weather, and a world of history that more
or less began and ended with the Boston Tea
Party – Pilgrims and Indians being, like the eo-
hippus, prehistoric.
Later, the college obsession would seize us,
a subtle, terrifying virus. Everybody had to go
to some college or other. A business college, a
junior college, a state college, a secretarial col-
lege, an Ivy League college, a pig farmers’ col-
lege. The book first, the the work. By the time we
(future cop and eletronic brain alike) exploded
into our prosperous, post-war high school, full-
time guidance counsellors jogged our elbows at
ever-diminishing intervals to discuss motives,
hopes, school subjects, jobds – and colleges.
Excellent teachers showered on to us like mete-
ors: Biology teachers holding up human brains,
English teachers inspiring us with a personal
ideological fierceness about Tolstoy and Plato,
Art teachers leading us through the slums of
Boston, then back to the easel to hurl public
school gouache with social awareness and fury.
Eccentricities, the perils on being too special,
were reasoned and cooed from us like sucked
thumbs.
Afinal de contas, poderíamos ser quem quiséssemos. Se nos
esforçássemos, se estudássemos bastante. Nossos pais, nosso
dinheiro ou nossos sotaques não faziam diferença. Advogados
surgiam dos lombos das carroças dos carvoeiros, médicos das
latas dos garis? Educação era a resposta e Deus sabe como isso
veio a nós. Invisível, creio, nos primeiros dias – um brilho infra-
-vermelho místico das tabuadas, poemas horríveis exaltando a
atmosfera azul e brilhante de Outubro, e uma história mundial
que começava e terminava mais ou menos com a Festa do Chá
de Boston – peregrinos e índios, assim como o eohippus, eram
pré-históricos.
Depois, a obsessão da faculdade, um vírus sutil e aterrorizan-
te, nos agarraria. Todo mundo tinha de ir para uma faculdade ou
outra. Uma faculdade de business, um curso técnico, uma facul-
dade estadual, uma faculdade de secretariado, uma da Ivy League
ou uma faculdade de veterinária & agronomia. Primeiro os li-
vros, depois o trabalho. Naqueles tempos nós (os futuros policiais
e os cérebros eletrônicos) explodíamos em nosso próspero ensino
médio do pós-guerra. Os conselheiros de orientação nos empur-
ravam, em intervalos cada vez menores, para discutir sobre mo-
tivações, esperanças, assuntos escolares, trabalhos – e faculdades.
Professores excelentes caíram sobre nós como meteoros: profes-
sores de biologia segurando cérebros humanos, professores de
inglês nos inspirando com uma fúria ideológica pessoal sobre
Tolstói e Platão, professores de arte nos guiando pelos bairros po-
bres de Boston e depois de volta aos cavaletes para arremessar o
guache da escola pública com fúria e consciência social. As ex-
centricidades e os perigos de ser especial demais eram tirados de
nós, negociados como com alguém que ainda chupa o dedo.
46
 The girl’s guidance counsellor diagnosed my
problem straight off. I was just too dangerously
brainy. My high, pure string of straight. A’s might,
without proper extra-curricular tempering, snap
me into the void. More and more, the colleges want-
ed All Round Students. I had, by the time, studied
Machiavelli in Current Events class. I grabbed my
cue.
Now this guidance counsellor owned, unknown
to me, a white-haired identical twin I kept meeting
in supermarkets and at the dentist’s. To this twin, I
confided my widening circle of activities – chewing
orange sections at the quarters of girl’s basketball
games ( I had made the team), painting mammoth
L’il Abners and Daisy Maes for class dances, past-
ing up dummies of the school newspaper at mid-
night while my already dissipated co-editor read
out the jokes at the bottom of the columns of The
New Yorker. The blank, oddly muffled expression
of my guidance counsellor’s twin in the street did
not deter me, nor did the apparent amnesia of her
whitely efficient double in the school office. I be-
came a rabid teenage pragmatist.
‘Usage is Truth, Truth, Usage’, I might have
muttered, levelling my bobby-socks to match
those of my school mates. There was no uniform,
but there was a uniform – the pageboy hairdo,
squeaky clean, the skirt and sweater, the ‘loafers’,
those scuffed copies of Indian moccasins. We even,
in our democratic edifice, nursed two ancient relics
of snobbism – two sororities: Subdeb and Sugar ‘n’
Spice. At the start of each school year, invitation
cards went out from old members to new girls –
the pretty, the popular, the in some way rivalrous.
O conselho de orientação feminina diagnosticou em cheio
meu problema: eu era de uma inteligência perigosa demais. A
linha intacta de minhas notas A, sem a adequação extra-curri-
cular certa, poderia me lançar num vazio. Cada vez mais as uni-
versidades queriam estudantes versáteis. Àquela altura eu ha-
via estudado Maquiavel nas aulas de História Contemporânea.
Tomei isso como sugestão.
Então, essa conselheira de orientação tinha uma irmã gê-
mea de cabelos brancos, que até então eu não conhecia, e que
eu sempre encontrava nos supermercados e no dentista. Para a
gêmea, eu confidenciava meu vasto círculo de atividades – mas-
tigar gomos de laranja nas quadras onde as meninas jogavam
basquete (eu formei o time), desenhar Li’l Abners e Daisy Maes
gigantescos para as festas da turma, rejeitar as provas impres-
sas do jornal da escola à meia-noite, enquanto meu já extinto
co-editor lia em voz alta as piadas no fim das páginas da New
Yorker. A expressão vazia e estranhamente abafada da gêmea de
minha conselheira de orientação não me deteve, nem a aparen-
te amnésia de seu eficiente e grisalho duplo no gabinete escolar.
Tornei-me uma adolescente pragmática e raivosa.
“O Uso é Verdade, a Verdade, Uso,” devo ter murmurado, ajus-
tando minhas meias três quartos para ficar igual às minhas co-
legas de escola. Não havia uniforme, mas tinha um uniforme – o
cabelo de cuia, limpíssimo, a saia e o suéter, os ‘mocassins’, aque-
las cópias gastas dos mocassins indígenas. Até alimentamos, em
nosso democrático edifício, duas antigas relíquias do esnobis-
mo – duas sororidades: Subjugadas e Açúcar e Pimenta. No iní-
cio de cada ano escolar, convites eram enviados pelos antigos
membros às novas garotas – bonitas, populares, possíveis rivais.
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A week of initiation preceded our smug ad-
mittance to the cherished Norm. Teachers
preached against Initiation Week, boys scoffed,
but couldn’t stop it.
I was assigned, like each initiate, a Big
Sister who systematically began to destroy my
ego. For a whole week I could wear no make-
up, could not wash, could not comb my hair,
change clothes or speak to boys. By dawn I had
walked to my Big Sister’s house and was mak-
ing her bed and breakfast. Then, lugging her
intolerably heavy books, as well as my own, I
followed her, at a dog’s distance, to school. On
the way she might order me to climb a tree and
hang from a branch till I dropped, ask a pass-
er by a rude question or stalk about the shops
begging for rotten grapes and mouldy rice. If I
smiled – showed, that is, any sense of irony at
my slavishness, I had to kneel on the public
pavement and wipe the smile off my face. The
minute the bell rang to end school, Big Sister
took over. By nightfall I ached and stank; my
homework buzzed in a dulled and muzzy brain.
I was being tailored to an Okay Image.
Somehow it didn’t take – this initiation into
the nihil of belonging. Maybe I was just too
weird to begin with. What did these picked
buds of American womanhood do at their
sorority meetings? They ate cake; ate cake
and catted about the Saturday night date.
The privilege of being anybody was turning its
other face – to the pressure of being everybody;
ergo, no one.
Uma semana de iniciação precedia a nossa presunçosa ad-
missão à querida Norma. Os professores protestavam contra a
Semana de Iniciação, os garotos zombavam, mas ninguém po-
dia impedi-la.
Como em toda iniciação, fui designada a uma Irmã Mais
Velha, o que começou a destruir sistematicamente meu ego.
Durante uma semana eu não podia: usar maquiagem, tomar ba-
nho, pentear os cabelos, trocar de roupas ou falar com os garotos.
Ao amanhecer eu ia até a casa da minha Irmã Mais Velha e fazia
sua cama e seu café da manhã. Em seguida, carregando seus li-
vros pesados, insuportáveis assim como os meus, eu a seguia à
distância, como um cão, até a escola. No caminho ela poderia me
obrigar a subir em uma árvore e me pendurar em um galho até
cair, a fazer perguntas grosseiras aos transeuntes ou a perseguir
os comerciantes, implorando-lhes uvas podres e arroz mofado.
Caso eu sorrisse –, caso demonstrasse alguma ironia em minha
escravidão, tinha de ajoelhar-me na calçada e apagar o sorriso do
rosto. No minuto em que o sino anunciava o fim das aulas, a Irmã
Mais Velha assumia. Ao anoitecer eu me doía e fedia; minha lição
de casa zumbia em um cérebro embotado e aturdido. Eu estava
sendo moldada a uma imagem satisfatória.
De alguma forma não tomei essa iniciação como o nada do
pertencimento. Talvez eu fosse apenas esquisita demais para
entrar nisso. O que a nata da feminilidade americana fazia em
suas reuniões da sororidade? Comiam bolo; comiam bolo e fo-
focavam sobre o encontro de sábado à noite. O privilégio de ser
alguém tomava sua outra face: a pressão de ser todo mundo;
ergo, ninguém.
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 Lately I peered through the plate-glass side of Nos últimos tempos, olhei pelo vidro de uma escola primária

an American primary school: child-size desks and americana: mesas de criança e cadeiras limpas, madeira poli-
chairs in clean, light wood, toy stoves and minus- da, fogões de brinquedo e bebedouros minúsculos. Sol por toda
cule drinking fountains. Sunlight everywhere. All
parte. Em um quarto de século todo o anarquismo, desconforto
the anarchism, discomfort and grit I só tenderly re-
e cascalho, dos quais me lembrava tão ternamente, foram afas-
membered had been, in a quarter century, gentled
tados. Uma turma passou a manhã dentro de um ônibus apren-
away. One class had spent the morning on a bus
dendo como pagar a passagem e perguntar qual a parada certa.
learning how to pay fares and ask for the proper
Ler (meu grupo aprendeu aos quatro anos, nos rótulos das cai-
stop. Reading (my lot did it by age four off soapbox
xas de sabão) tornou-se uma arte tão traumática e tempestuosa
tops) had become such a traumatic and stormy art
que a gente devia se sentir sortudo de resistir a ela até os dez
one felt lucky to weather it by ten. But the children

were smiling in their little ring. Did I glimpse, in the

anos. Mas as crianças sorriam em seu pequeno círculo. Teria

First Aid cabinet, a sparkle of bottles – soothers eu vislumbrado, na sala de primeiros socorros, um brilho vindo

and smootheners for the embryo rebel, the artist, dos frascos – anestésicos e paliativos para o rebelde embrioná-

the odd? rio, o artista, o estranho?

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Context
The issues of our time wich preoccupy me at
the moment are the incalculable effects of fallout
and a documentary article on the terrifying, mad,
omnipotent marriage of big business and the mili-
tary in America – ‘Juggernaut, The Warfare State’,
by Fred J. Cook in a recent Nation. Does this influ-
ence the kind of poetry I write? Yes, but in a side-
long fashion. I am not gifted with the tongue of
Jeremiah, though I may be sleepless enough before
my vision of the apocalypse. My poems do not turn
out to be about Hiroshima, but about a child form-
ing itself finger by finger in the dark. They are not
about the terrors of mass extinction, but about the
bleakness of the moon over a yew tree in a neigh-
boring graveyard. Not about the testaments of tor-
tured Algerians, but about the night thoughts of a
tired surgeon.
In a sens, these poems are deflections. I do not
think they are an escape. For me, the real issues of
our time are the issues of every time – the hurt and
wonder of loving; making in all its forms – children,
loaves of bread, paintings, buildings; and the con-
servation of life of all people in all places, the jeop-
ardizing of wich no abstract doubletalk of ‘peace’
or ‘implacable foes’ can excuse.
I do not think a ‘headline poem’ would interest
more people any more profoundly than the head-
lines. And unless the up-to-the-minute poem grows
out of something closer to the bone than a general,
shifting philanthropy and is, indeed, that unicorn
thing – a real poem, it is in danger of being scewed
up as rapidly as the news sheet itself.
Contexto
Nesse momento as questões do nosso tempo que me preo-
cupam são os incalculáveis efeitos genéticos da radioatividade
e um artigo sobre o terrível, louco e onipotente casamento dos
grandes negócios com os militares americanos – ‘Rolo compres-
sor, o estado de guerra’, de Fred J. Cook no último número da
Nation. Isso influencia o tipo de poesia que escrevo? Sim, mas
lateralmente. Não sou dotada da língua de Jeremias, no entanto
posso estar sem sono o suficiente antes da minha visão do apo-
calipse. Meus poemas não falam sobre Hiroshima, mas sobre
uma criança formando-se dedo a dedo na escuridão. Eles não
são sobre os terrores da extinção em massa, mas sobre a frieza
da lua sobre um teixo no átrio vizinho. Não são sobre os teste-
munhos de algerianos torturados, mas sobre os pensamentos
noturnos de um cirurgião cansado.
De certo modo, esses poemas são desvios. Não acho que se-
jam uma fuga. Para mim, as verdadeiras questões do nosso tem-
po são as questões de todos os tempos – a dor e a delícia de amar
–, manifestando-se em todas as suas formas –, crianças, cascas
de pão, pinturas, edifícios; e a preservação da vida de todas as
pessoas em todos os lugares, o risco que nenhum discurso am-
bíguo sobre ‘paz’ ou ‘inimigos impecáveis’ pode desculpar.
Não creio que uma ‘poesia de manchete’ fosse interessar
mais e mais profundamente às pessoas do que as próprias man-
chetes. E a não ser que este poema imediato surja de algo mais
próximo dos ossos do que essa filantropia geral, oscilante, e seja
alguma coisa como um unicórnio – um verdadeiro poema, cor-
re o risco de envelhecer tão rápido quanto os boletins de notícia.
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 The poets I delight in are possessed by
their poems as by the rhythms of their own
breathing. Their finest poems seem born
all-of-a-piece, not put together by hand;
certain poems in Robert Lowell’s Life
Studies, for instance; Theodore Roethke’s
greenhouse poems; some of Elizabeth
Bishop and a very great deal of Stevie
Smith (‘Art is wild as a cat and quiet sepa-
rate from civilization’).
Surely the great use of poetry is its
pleasure – not its influence as religious or
political propaganda. Certain poems and
lines of poetry seem as solid and miracu-
lous to me as church altars or the corona-
tion of queens must seem to people who
revere quite different images. I am not
worried that poems reach relatively few
people. As it is, they go surprisingly far –
among strangers, around the world, even.
Farther than the words of a lifetime.
Os poetas com os quais me deleito são possuídos por seus po-
emas assim como pelo ritmo de suas próprias respirações. Seus
melhores poemas parecem nascer inteiros, sem serem remen-
dados pela mão; por exemplo, alguns poemas de Robert Lowell
em Estudos da vida; os poemas de estufa de Theodore Roethke;
alguns de Elizabeth Bishop e um ótimo trabalho de Stevie
Smith (“A arte é selvagem como um gato e bastante separada da
civilização”).
Certamente o grande uso da poesia é seu próprio prazer – não
sua influência como propaganda política ou religiosa. Alguns
poemas e linhas de poesia me parecem tão sólidos e miraculo-
sos quanto o altar de uma igreja ou a coroação de rainhas deve
parecer para as pessoas que reverenciam diferentes ícones. Não
estou preocupada com o fato de que os poemas alcançam pou-
ca gente. Assim como são, vão surpreendentemente longe – ao
redor do mundo, mesmo entre estranhos. Mais longe do que as
palavras de uma professora na sala de aula ou as prescrições de
um médico; se tiverem sorte, mais longe que uma vida inteira.
Clarissa Loyola Comin é doutoranda em Estudos Literários na UFPR e pro-
fessora substituta de Literatura Brasileira & afins na UTFPR. Tem tradu-
ções e textos publicados em revistas como Qorpus, Canguru e Germina. Em
2018 será publicada sua primeira ficção em prosa, vasto trovarr.
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