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Saí do escritório do meu pai pisando duro, furioso, na verdade, não devia
mencioná-lo como um pai, afinal ele não sabe o que é isso, já soube um dia, mas
não mais, não depois que minha irmã Dalila e minha mãe morreram.
Lorenzo se tornou amargurado, a princípio, e depois se tornou cruel a ponto
de machucar pessoas inocentes.
Há três anos eu descobri que ele estava raptando garotas inocentes para
levar para a fazenda que antes servia para nós passarmos os feriados. Hoje servia
para o antro de pedofilia. Meu pai comprou muitos para não vazar nada para os
federais, aliás, ele tinha muitos no bolso.
Inclusive a lei que se mantinha no escuro para casar com meninas de dez
anos, isso era errado, um crime, na verdade, ninguém fazia nada para impedir,
mas vou lutar com unhas e dentes para eliminar todos, até Lorenzo.
Tantas vezes eu fui até o quarto do meu pai e o vi dormindo, a sede que tive
de matá-lo ali era tanta… seria tão fácil, porque há muito tempo Lorenzo
Salvatore deixou de ser meu pai, para mim o verme imundo está, morto, só não
posso dizer enterrado, porque o velho asqueroso está vivo e gozando de boa
saúde.
Entretanto, não posso matá-lo agora, como gostaria, isso me traria vários
problemas, se fosse só eu a pagar o preço, eu faria, correria o risco, mas isso
afetaria a todos à minha volta. A minha família, não falo só a de sangue, mas a
minha origem, as pessoas que são contra o que meu pai faz, elas dependiam de
mim para derrubar todo o esquema e trazer a todos a paz que foi tirada desde que
meu avô, que já morreu, se tornou capo.
Eu sei por que meu pai fez isso, pegar crianças inocentes de suas famílias e
levar para aquele inferno, porque é isso que a fazenda se tornou. E depois dá-las
aos homens para abusarem delas e matarem-nas. Era tudo uma vingança que
Lorenzo achava em sua mente distorcida que estava fazendo, uma vingança
contra minha irmã, que morreu em Moscou há doze anos. Dalila, ela tinha só dez
anos quando a estupraram e mataram, não deixando nada além de suas
roupinhas.
Meu peito aperta ao pensar nisso, a dor se apossa dele, o que me impede de
respirar, porque naquele dia era para eu estar com Dalila e mamãe, mas Lorenzo
precisava me treinar, me espancando, para ser homem de verdade, palavras dele,
não minhas. Se eu estivesse com a minha pequena não teria deixado ninguém
tocá-la…
Odeio Lorenzo, porque tudo isso é culpa dele, por não me deixar ir ou
mandar pessoas a mais para protegê-las. Agora fica aí, querendo vingança contra
inocentes, sendo que nenhuma dessas meninas tem nada a ver com isso.
Nesses últimos anos, quando soube desse antro, o que meu pai fez com
nossa fazenda, transformando-a em um matadouro de garotas, tentei salvar
quantas pude. Eu sabia que não podia fazer muito, não quando eu não estava no
poder.
Conheci Evy, uma ruiva exuberante que salvei de um dos homens do meu
pai, Salvir, que a estava pegando a força. Por isso o mandei para o inferno.
Depois do dia que a salvei, ficamos amigos, e pela primeira vez na minha
vida me apaixonei por alguém, mas ela não nutria o mesmo sentimento por mim.
Eu não sabia se era porque fiz o que fiz a ela ou porque sou filho do meu
pai, o homem que a levou de sua família e trouxe para esse buraco dos infernos.
Há dois anos ela me pediu para bater nela, porque não podia lidar com a
perda da sua família. A única forma que ela achou de amenizar sua dor era
encontrando outra. Eu tentei fazê-la mudar de ideia, mas não consegui. Se eu não
fizesse isso, ela se meteria em encrenca e seria presa na maldita cruz acorrentada
por três dias com fome e sede, e também seria açoitada dia após dia. Eu escolhi
cintadas em vez das chicotadas que os homens do meu pai usavam para castigar
alguém.
Céus! Só de pensar nessa porra de mundo eu ficava irado, porque éramos
para ser uma família e proteger uns aos outros. Meu pai e tio Enzo afundaram
nossa família, e eu seria o único a derrubá-los e tomar o controle da situação.
Desmancharia esse antro que eles fundaram.
Lorenzo prende as garotas em uma maldita cruz como se fosse para
castigar… ou sei lá o que se passa naquela mente doentia e demoníaca. Como
uma pessoa pode transformar-se de boa a ruim? Ele se tornou um demônio.
Eu também sou um demônio por ter compactuado com tirar o sofrimento da
Evy, cada cintada que eu dava nela era como se estivesse dando em mim. Penso
que não fiz o suficiente, talvez devesse prendê-la, não lhe dando chance de se
ferir por si própria como eu sei que faria, caso eu não ajudasse.
Eu estava tão absorto em meus pensamentos, que quase não ouvi um grito
de uma mulher, tinha acabado de chegar à boate após uma reunião com Lorenzo,
me repreendendo por não ser cruel o suficiente.
— Puta como eu? Acha que por vir a uma festa e estar indo embora agora,
sou uma vadia que precisa ser fodida por um idiota como você? Um aviso: vai à
merda, seu babaca! — gritou a mulher.
Ela era louca? Gritar e enfrentar um estranho na saída de uma boate?
Eu estava cego assim que vi o cara a prendendo na parede. Eu me lancei
para ele, prendendo minhas adagas em sua garganta.
Meu telefone tocou assim que cheguei à fazenda, um dia esse lugar foi
chamado de paraíso, hoje está mais para a porta do inferno.
— Matteo, onde você está? — perguntou Luca com tom meio ansioso. —
Preciso falar com você.
— O que você quer? Aconteceu alguma coisa? Agora estou na fazenda —
falei com um suspiro.
— Sim, estou indo para aí agora, assim conversaremos e fico com você,
para não fazer besteira com seu pai.
— Pode me adiantar? — ignorei sua preocupação, ele me conhecia muito
bem para saber que ficar um segundo na presença do meu pai é como ficar perto
de um vulcão, eu logo queria explodir e mandá-lo pelos ares.
— Lorenzo comprou mais meninas, e algumas delas são menores de idade,
roubadas de suas casas ou vendidas pelos miseráveis de seus pais. — Tinha
ácido em sua voz e desprezo pelo que Lorenzo fez.
— Onde elas estão? — sondei, bolando um plano de impedir que ele tenha
essas meninas também.
Eu não ligo se as mulheres querem se prostituir, elas fazem o que quiserem
da sua vida, com o que não concordo e me deixa com asco é gente como meu pai
e meu tio obrigarem mulheres e crianças a fazerem algo que elas não querem.
Como tem pais que vendem um filho para tal ato? Deus! Eu pensando ser um
monstro, tem gente pior que eu na Terra.
— Vai chegar ao porto amanhã dez da noite, na hora da reunião que vai ter
na fazenda.
— Entra em contato com o federal Dylan Whis e o informa para ele dar um
jeito de os federais certos saberem disso, os que meu pai não comprou, para
fazerem uma emboscada. Ele vai estar distraído amanhã, isso é bom para nós.
— Muitos dos nossos vão ser presos — informou ele.
— Aqueles desgraçados merecem isso, e nenhum deles vai ousar nos citar
quando forem presos, todos têm medo do que meu pai é capaz de fazer. — Isso
era verdade. Por conta disso atrasou que eu encontrasse aliados.
— Vou cuidar disso e vou para aí ficar com você — disse e desligou.
Amanhã seria o grande dia, o dia que eu ia tirar Evelyn desse lugar, com ela
fora, posso conseguir os aliados de que preciso para derrubar esse antro sem me
envolver diretamente. Eu estou fazendo parceria lá fora para com algumas
pessoas no intuito de destruir essa escória maldita, alguém mais poderoso que
meu pai.
Eu tinha eliminado a maioria dos homens de Lorenzo e colocado os meus
de confiança na fazenda, principalmente onde ficavam as crianças. Não queria
que alguém as tocasse. Por isso luto por sua liberdade.
A ala sete é aonde Lorenzo leva as meninas que completam dezenove anos
para serem estupradas e mortas logo em seguida. Por que isso? Porque ele é um
doente sádico, igual ao meu tio Enzo. Dois monstros.
Essa é uma seita doentia e que meu pai quer passar para mim, mas isso não
vai acontecer, porque vou acabar com todos eles. Esse é o meu objetivo. Quando
as meninas completam dezenove anos, elas são levadas para a ala sete, onde é
feito todo um ritual macabro. Quando descobri sobre isso, minha vontade foi de
botar fogo em todos eles, porque só atirar era fácil, eles mereciam morrer
sofrendo, de preferência, com muita dor.
Eu sei que não sou santo, longe disso, porque corre sangue em minhas mãos
que jamais posso contar, mas jamais pensei ou fiz o que esses caras fazem. E o
pior: meu pai é o chefe deles. Porra!
Lorenzo fez isso como uma espécie de vingança para amenizar a raiva por
algo que há muito tempo fizeram com minha irmã em Moscou. Estávamos de
férias na ocasião, eu, ele, mamãe e ela. Dalila era tão linda. Pele branca, cabelos
negros longos, olhos tão escuros como duas pedras negras e tímida. Aonde
íamos, ela mal falava com as pessoas.
Eu não concordava com o que Lorenzo faz, mas odiava mais algumas
regras que não podia quebrar. Na máfia tem suas regras, uma delas é que não
podemos matar um dos nossos, se isso acontecer, seremos mortos. Não importa o
que ele tenha feito. Eu não podia matar Lorenzo e Enzo, a não ser que eles
matassem um membro da família da máfia. Por isso estou de mãos atadas. Por
enquanto. Os servos podem ser mortos, mas isso se desobedecerem o capo, e
agora não sou um.
Lorenzo acusa os Dragons de serem os mandantes do crime bárbaro contra
Dalila, mas tenho uma vaga lembrança de que aquela família não era assim,
mesmo antes de o casal Dragon morrer e deixar o legado para seus filhos… Isso
era verdade, eu suspeito que não tenham sido eles que mataram minha irmã. Mas
não tenho como provar sem nos afundar mais nessa merda. Entretanto, estou
apurando tudo sem que ninguém saiba.
Meu pai matou os pais de Dark, o chefe da máfia russa, mas os filhos dos
Dragon pensam que o assassino é na verdade Andrey Jacov, outro chefe da máfia
russa. Quando essa bola de neve estourar seremos todos derrubados, só meu pai
que não vê isso. Ele não parecia ligar para nada e nem para os inocentes do meu
mundo que pagariam pelo erro estupido dele.
Sei que os Dragons não fizeram isso com minha irmã, pois, se fossem eles,
eu já teria ido atrás e buscado vingança contra todos, e não contra inocentes,
igual Lorenzo está fazendo com essas meninas. Ele começou a fazer essas
barbaridades com tantas crianças. Eu não acredito em seita, e sim em estupro. É
isso o que eles fazem aqui, ele e seus amigos. Os policiais podiam ajudar a
salvá-las, mas Lorenzo comprou quase todos eles. Mas om certeza tem alguns
honestos nesse mundo, se não conseguir parceria lá fora, vou achar os policiais
certos e derrubo tudo aqui, nem que leve o nome da minha família para a lama,
melhor isso do que viver vendo atrocidades nesse lugar.
Eu já tinha planos para amanhã à noite, na festa que teria aqui, aposto que
Lorenzo está doido para ter as garotas e matá-las, eu soubesse que ele não ficava
com ninguém, mas isso não mudaria o fato de ele essas crianças a caras que são
piores que animais.
Eu sei que todo ano, no aniversário de Evelyn, ela faz aquelas coisas, mas
dessa vez não vou estar perto dela, pois preciso tirá-la desse lugar antes.
Uma parte de mim estava feliz por não fazer mais, por não infligir dor a ela,
mesmo que ela tenha me pedido. Sinto-me um doente desgraçado por ter feito
isso com ela. Eu só fiz uma vez, no seu aniversário passado, e esse ano seria o
segundo, mas estava pensando em ficar com ela a noite toda e impedi-la de
machucar a si mesma, porque não acho que seria capaz de fazer o que fiz com
ela de novo. Porra, eu morreria.
Entretanto, estava me atormentando, porque para onde ela vai assim que eu
tirá-la daqui, não vou poder impedir que faça algo para si mesma. Só espero que
Kill mude isso na vida dela e que seja o suficiente para fazê-la querer viver.
Alguns dias descobri que Evelyn tem um irmão, procurei por sua família,
mas só seu irmão está vivo. Os pais dela foram mortos quando ela era pequena.
Foi uma surpresa saber que seu irmão é o cara de coração frio, o Kill, ele é
o sargento de armas e integrante do MC da Fênix, um clube de motoqueiros. O
seu líder é Shadow. E espero que assim que Evelyn for para lá eu consiga fazer
aliança com eles, assim derrubamos o que meu pai construiu aqui. Conhecendo e
sabendo do que Kill é capaz, é justamente disso que ele vai atrás.
Eu avisei para a Evelyn sobre a festa que Lorenzo vai fazer na casa da
fazenda, vai ter alguns convidados, então vou dar um jeito de trazê-la para a
festa e tira-la de lá sem que ninguém desconfie que fui eu que ajudei. Luca vai
me ajudar com isso.
Eu sei que meu pai trancava as meninas nos seus quartos quando tinha
festas como essas. Vai ser uma reunião de agradecimento por um cara que
ajudou Lorenzo a ter o negócio grande que ele queria, o que Raul não sabe é que
amanhã seria seu fim, sua morte estava marcada. Lorenzo deve estar animado
pelo presente que o senador deu a ele, meninas novas para prostituição, mas vou
tirar essa animação dele e dos depravados dos seus aliados.
Enzo era um deles, o velho era doente, psicopata filho da puta. Soube que
algumas mulheres com quem ele fica desaparecem, não sei se ele as mata ou não
na hora que fazem sexo.
Sinto-me impotente por não conseguir ajudar todos que estão à minha volta,
mas tentarei, nem que eu morra no processo. O que não posso é ficar parado,
fingindo que não vejo nada. Eles são como animais, pois se uma garota inocente
é jogada no meio deles, logo estará despedaçada. Lorenzo é igual, mas só faz
isso em sua seita demoníaca, que logo espero encerrar. Eu só não fiz nada antes
para terminar com isso, porque descobri a existência desse lugar há apenas três
anos, então, depois disso fui me preparar para conseguir aliados para lutar contra
ele, mas a maioria tem medo dele e do seu poder.
Samuel é meu braço direito, o cara em quem confio cegamente, ele me
ajuda aqui nesse lugar, não deixando os homens do meu pai tocarem nessas
garotas e crianças. E também a Dona Zaira, ela era nossa segunda mãe, minha,
de Luca e foi um dia de Dalila também.
— Eu sei. Mas eu saindo, como posso ajudar essas meninas e aquelas
crianças? Não posso deixá-las aqui para o lunático do seu pai… — disse Evelyn
me trazendo ao presente de minha mente escura, com pensamentos turbulentos e
sombrios.
Ela era uma ruiva exuberante, valente, forte e decidida, que não leva
desaforo para casa.
— Em todos esses anos, eu venho mandando pessoas de confiança para cá,
principalmente na área das crianças. Ninguém as toca lá. Contudo, estou mais
preocupado com você e mais dez dessa ala que fazem aniversário este mês. É
quando ele as leva e faz o que faz com as garotas… — Meu tom saiu mortal no
final ao imaginar meu pai fazendo essas atrocidades.
— Vamos dar um jeito de desmanchar isso e fazer seu pai queimar no
inferno — disse ela.
O que eu mais gostava em Evelyn é que ela sempre era segura de si, não
tinha medo de falar o que sentia ou pensava. Ela era uma garota forte. Só assim
para lidar com esse lugar maldito.
O corredor onde estávamos era parecido ao de um hospital. Entretanto,
mesmo que as garotas não ficassem algemadas, ainda eram prisioneiras desse
lugar. Afazenda era cercada por cerca elétrica e seguranças 24horas.
Aqui são conhecidos por ala. Elas eram separadas por idade. Meninas dos
sete aos dez ficavam numa casa à direita da nossa, com o nome de ala cinco. E
onde Evelyn ficava, junto às meninas dos 11 aos 19, era a ala seis, uma imensa
casa branca.
— Como posso me controlar com isso? Como aquele ser desgraçado e
desumano acha que minha irmã se sentiria se estivesse vendo algo assim? Eu
queria chegar perto dele e matá-lo eu mesmo, mas na nossa família, temos leis.
Se eu o matar perderei o direito ao trono já que sou o único filho. Eu preciso do
poder que a máfia Salvatore possui para tomar conta de tudo aqui e tentar
arrumar a bagunça que Lorenzo fez. Sem contar com o fato de que meu tio está
de olho no título, e Enzo é um tremendo psicopata, pior que Lorenzo —
comentei com raiva.
Dalila jamais se interessaria por algo macabro assim, ela o abominaria. A
minha princesinha linda era doce e meiga, mas teve um fim trágico, até hoje
estou tentando descobrir o que houve com ela de fato. Eu expirei, ignorando a
dor que assola minha alma ao imaginar que nunca mais vou ver minha pequena.
— O senhor Lorenzo acabou de chegar e procura por você, menino — disse
Zaira, chegando até nós.
Zaira era uma mulher de meia idade, fui com ela ao seu aniversário
passado, de cinquenta e sete anos, ela usava óculos de grau, mesmo assim era
linda, eu a considerava uma mãe desde criança.
Muitas noites após vir da cela onde meu pai me treinava — aquilo não era
um treino, mas espancamento — ela cuidava de mim e das minhas feridas.
Eu não queria deixar Evelyn sozinha nesse lugar, mas sabia que não podia
ficar ou levá-la comigo. Mas se meu pai estava aqui, então tinha que fingir estar
do lado dele e concordando com toda essa porcaria. Por enquanto.
Samuel e Zaira garantiram-me que tomariam conta dela e das outras
meninas que faz aniversário esse mês.
Eu fui embora, mas antes ouvi Zaira dizer algo que fez meu coração bater
forte. Eles tinham fé em mim, mais do que eu seria capaz de ter algum dia.
— Esse garoto é tão diferente do senhor Lorenzo, eu acredito que ele vai
limpar o nome da família que seu pai sujou após a morte da menina Dalila e da
senhora Giulia. — Ouvi dor na sua voz, assim como havia em meu peito sempre
que pensava em minha maninha e também em minha mãe.
Ela estava com Dalila na época em que a perdeu de vista em um parque,
depois encontraram só suas roupinhas com sangue, até hoje não achamos o
corpo, mas pelas fontes do meu pai, o que acredito serem falsas, ela tinha sido
morta pelos Dragon, mas isso foi coisa demais para minha mãe, foi então que ela
se suicidou, no quarto da minha irmã.
Giulia sempre enfrentou tudo, afinal, essa vida não é fácil, ainda mais para
mulheres. No meu mundo as mulheres se casavam aos dez anos, uma
abominação, algo que eu odiava e irei mudar quando for o novo capo no lugar do
meu pai. Pretendo derrubar algumas leis, mas outras não são possíveis, porque
elas foram feitas há mais de séculos pela nossa família, de geração a geração, são
inquebráveis. Como por exemplo não me casar com alguém que não seja da
máfia e outras leis como não matar alguém da família.
Eu nunca achei mamãe fosse se matar. Uma porque ela nos amava, a mim e
a Dalila, nós dois éramos tudo na vida dela. Por mais que a culpa a destruísse, eu
não sabia nem entendia por que ela se matou, me deixando sozinho com um pai
que perdeu a sua mente se tornando um monstro assassino. Bom, assassinos nós
somos, mas fazer o que ele fez e faz? É outra coisa, isso não tem perdão de
nenhuma forma.
Cheguei em casa e olhei para o monstro que adoraria matar da pior maneira
possível. Pode parecer um tanto insensível, já que ele é meu pai, mas não me
importo, ele deixou de ser isso há muito tempo, a partir do dia que eu soube do
que ele era capaz de fazer com meninas inocentes.
Eu o odiava com todas as minhas forças, a cada segundo perto dele, eu
tentava me controlar ao máximo para não enfiar minhas adagas em sua garganta
e rasgá-lo ao meio. Mas precisava me controlar.
Por isso meu primo Luca estava aqui, ele sabia que eu odiava ficar perto do
meu pai. Eu o chamo assim para não cometer o erro de chamá-lo pelo nome na
sua frente ou na frente de outra pessoa. Isso seria o fim, um desrespeito total à
família. Mas eu não o considerava um pai, mas, sim, um desgraçado que eu
amaria matar.
Luca sabia que eu não gostava de ficar sozinho com Lorenzo, ainda mais
aqui, onde ele faz o que faz. Minha ira subiu ao auge.
Luca e eu nos parecíamos bastante, não só fisicamente, por dentro também.
Ele era mortal, olhos castanho-chocolates enquanto os meus são pretos como
ônix. Seus cabelos eram negros, assim como os meus.
Lorenzo tinha cabelos alvos, em seus sessenta anos, não parecia um velho
acabado, embora nesses doze anos tenha envelhecido mais e se tornou mais
mortal e desumano.
— Onde estava, meu filho? — Ele estava sentado no sofá da sala bebendo
uísque. A sala aqui era grande e branca, estilo italiano.
Eu expirei e Luca me lançou um olhar como se pedisse “se controla, cara”.
Eu fiz isso.
— Eu estava com Zaira lá fora — comentei, o que era verdade, só deixei a
parte da Evelyn estar junto de fora.
Tinha câmeras dentro e fora dos prédios, mas a pessoa que toma conta das
filmagens é gente minha, então ele deleta onde fico com Evelyn, assim ninguém
sabe de nada, e também fica de olho se algum pessoal do meu pai quiser fazer
mal a uma criança ou a uma das meninas, Samuel vai e se livra deles.
Na máfia consideramos família aqueles que são como nós, nascidos nessa
vida, como tios, primos e irmãos. Esses são proibidos de matar, e são os que eu
queria eliminar, como Enzo e Lorenzo. E já os que trabalham para nós, considero
família, mas eles não têm um laço forte como os de sangue. Eles também são da
máfia, mas muitos não nasceram nela, entraram depois. Entretanto, muitos se
corromperam desde o meu avô e meu pai, mas ouvi dizer que meu bisavô era
como eu, assim disse Zaira. Já vovô era tão cruel quanto Enzo, meu pai ficou
assim depois do que houve com Dalila e minha mãe.
Entretanto, isso não justificava nada, pensei.
Eu estava na festa, era mais para uma reunião, já que não tinha nenhuma
mulher aqui, não as mulheres dos associados do meu pai. Só as ajudantes e
Evelyn.
Ela estava com um vestido em tom prata e com sapatilhas, seus cabelos
ruivos estavam presos no alto da cabeça com alguns fios soltos. Eu a vi mexer
em suas adagas, que estavam presa em uma cinta-liga na coxa, debaixo do
vestido.
Eu a fiz prometer que não as usaria aqui de modo algum.
— Eu vou fazer isso por você, Matt, não por seu pai, porque minha vontade
vai ser de matá-lo…
Suas palavras estavam se infiltrando em meu cérebro, temi que ela fizesse
algo e eu não teria como protegê-la, ainda mais com meu pai e tio Enzo aqui.
— Promete que não vai atacar o Lorenzo? Se fizer isso, todos os nossos
planos serão em vão, porque a pena disso será a morte, e eu não poderei fazer
nada.
— Juro me comportar como uma santa. — Sorriu. Sabia que ela não se
meteria em encrenca, não aqui. Então a deixei na cozinha e fui para a sala.
Todos estavam falando da mercadoria, ou seja, das mulheres que o bastardo
do Raul conseguiu para meu pai, muitas prostitutas. Palavras deles, não minhas.
Isso me fazia odiá-los ainda mais, mas sou paciente para fazer a queda deles ser
mais prazerosa.
Luca e eu ficamos até tarde ontem trabalhando nisso, em fazer Lorenzo
perder essas meninas. Não sou contra mulheres serem prostitutas, mas elas
querendo isso, não eu as obrigando a fazer algo que não querem. Por isso dei as
pistas a um cara que conheço no FBI, eles estavam indo atacar onde elas estão
hoje à noite, enquanto rola essa festa aqui.
— Está preparado? Vai ser assim que eu a levar para o quarto dela — falei
ao Luca.
Ele estava do meu lado de pé e olhava a Evelyn andando e entregando as
bebidas aos convidados.
— Sim, tudo está preparado, mas espero que essa menina se controle,
porque reparou que ela anda escondendo as facas na mesinha no canto? — Seu
tom era um tanto impressionado, e também como se a achasse estúpida.
— Ela prometeu se comportar. — Assim eu esperava mesmo, ou estaríamos
ferrados. Evelyn estava com suas adagas, não sei por que precisava de facas, será
que ela pensa que podia lidar com todos aqui?
— Você sabe que, mesmo depois dessa noite, vocês dois jamais podem ficar
juntos, não é? Então não dê esperança a essa menina — disse Luca baixinho.
Eu suspirei com uma pontada em meu peito, porque ele tinha razão quanto
a isso. Eu não podia namorar e me casar com quem não pertencia à máfia.
Odiava essa lei por não ter meu livre arbítrio.
— Eu sei, mas Evelyn não pensa em mim dessa forma — eu disse a ele.
— Essa menina te vê como um irmão — ele enfatizou. — E não acredito
que ela seja ou vá se tornar sua…
— É melhor parar por aí, porque jamais faria algo assim com ela, e quando
ela estiver lá fora vai poder ter e fazer o que quiser — suspirei com tristeza. — O
irmão dela cuidará disso.
— Kill não vai deixar ninguém chegar perto dela, o cara a procura há anos
— disse ele baixo. — Por isso tenho certeza de que, se você se aproximar da
irmã dele, ele o matará.
Eu sabia que isso era verdade, mas eu não ligaria se ela me amasse, tem
uma coisa que admiro nos MCs, eles são leais aos seus, menos o crápula do
Barry, que está aqui nessa reunião. Eu podia ver seus malditos olhos de gavião
sobre Evelyn por onde ela passava, o que exigia todo meu autocontrole para não
fazer nenhuma besteira.
Tudo estava indo bem, Evelyn estava se controlando, até que vi o maldito
do Raul a puxar para seu colo.
— Essa com certeza tem o rabo apertado — disse em italiano. — Vamos
ver quão bem ela chupa um pau.
Tudo dentro de mim travou, a fúria parecia sair dos poros como um
magnetismo, cerrei os punhos para não o rasgar com minhas adagas e fazê-lo
comer seu maldito pau mole e gordo.
Todos da sala riram, parecendo animados com a ideia de Raul Wainer.
— Essa porra vai feder bem agora — rosnou Luca com os punhos cerrados.
— Matteo, se controla.
Raul virou a cabeça para o meu pai como se estivesse pedindo permissão
para tê-la.
Porra! Isso não podia estar acontecendo, faltava pouco para irmos embora e
tirá-la daqui. Mas agora isso? Não posso simplesmente ver isso e ficar calado,
ninguém vai tocá-la.
— Me dá essa de presente por fecharmos o negócio — disse Raul em inglês
enquanto apertava a bunda dela.
Lorenzo riu, fazendo-me querer arrancar seu sorriso do rosto com minhas
adagas.
— Eu dou. Você merece por me conseguir mais mercadorias para trabalhar
na boate — respondeu Lorenzo. — Afinal, eu tenho muitas em meu estoque.
Filho da puta! Ele não sabe, mas nesse momento o FBI está entrando no
local das garotas.
Estoque? Ele achava que as meninas eram seu estoque? Aonde foi parar a
humanidade desse homem? Aquele que um dia se preocupava conosco, com sua
família.
— Matteo… — Luca segurou meu braço.
— Me faz um boquete, sua puta. Se ajoelha e me chupa agora — ordenou
Raul.
— Sabe quando serei sua, verme imundo? Nunca! Agora apodreça no
inferno — grunhiu ela enfiando a estrela ninja na garganta de Raul, abrindo um
corte que fez o sangue sair longe assim que ela retirou a estrela.
— Puta merda! — disse Luca de olhos arregalados.
Evelyn saiu do colo do maldito desgraçado, caindo mole no sofá. Mas antes
que ela, ou eu, reagisse, as armas foram apontadas para ela, prontas para atirar.
— Você vai morrer, sua vadia desgraçada — rosnou Shan Ruy, o japonês
dono das indústrias Shan, lojas eletrônicas.
Evelyn já estava indo pegar as facas que ela havia escondido ali, se ela
fizesse isso, aí sim íamos morrer aqui, porque eu preferia ser morto a deixá-la
nas mãos desses homens.
— Rapazes, atirem nessa vagabunda, pois ela feriu o Raul e merece morrer
agora mesmo — rosnou Mike, a fuzilando com seus olhos mortais. — Atirem
agora!
— Esperem, pessoal! — eu pedi indo para a frente dela e também me
tornando um alvo.
Eles me olharam com ódio e descrença por eu entrar na frente de uma
pessoa que matou um dos homens deles.
Raul parecia estar morto, ou logo estaria, porque pela quantidade de sangue
derramado, parecia que ela cortou a artéria ou algo assim. Que apodreça no
inferno, que é seu lugar.
Todos ali apontando as armas para mim também, pelo menos os guardas
dos convidados, já os do meu pai e meus apontaram para os guardas de Raul,
Shan e Mika.
— Vai ficar contra nós e a favor de uma mulher? Uma vadia barata? O quê?
Ela chupa tão bem assim um pau, para que você vá contra nossa família? —
rosnou meu tio Enzo, sombrio e mortalmente frio.
Ele era gordo, moreno, rosto mortal, se demônios existem, esse cara era um
deles.
Eu sabia que tinha que ser rápido ou seríamos mortos por todos esses caras
aqui. Embora não temesse a morte, ela vindo agora seria uma lástima, ainda mais
porque morto não salva ninguém. Eu precisava estar vivo e libertar essas
mulheres para que tivessem um futuro pela frente.
Eu estava furioso com todos esses vermes que queriam vingança, sendo que
já pensavam em matar Raul essa noite. Eles iam dar fim nele hoje, então por que
a maldita preocupação? Só por que não foram eles que fizeram o serviço?
— Não é nada disso, tio — forcei-me a soar isso calmo e tranquilo, mas
minha vontade foi de jogar minha adagada em sua garganta. Eu o ignorei e fitei
meu pai. Sua expressão era de traição. — Capo, não queria que eu provasse
minha lealdade a você, já que disse que não faço muitas coisas? Essa garota
desobedeceu hoje mais vezes do que o tolerável, por isso estava aqui, servindo a
todos. Mas ela fez de novo, e agora pior. — Eu apontei para Raul.
— Então, deixe-me levá-la para a ala sete, e depois revezamos com ela. Eu
começo, depois vocês. — Dizer essas palavras era como se eu estivesse andando
sobre navalhas. Mas foquei em todos na sala, que, por sua vez, estavam se
desfazendo de suas expressões traídas e furiosas. Agora os doentes se mostravam
animados com a ideia de usarem a Evelyn e depois a matarem.
Eu esperava que Evelyn soubesse que eu estava fazendo isso para não
acabarmos mortos, e não que faria essa tal abominação que disse que faria com
ela.
— Ótima ideia, meu filho. — Sorriu Lorenzo e levantou uma taça na mão,
como se eu tivesse falado que acabei de matar um assassino. Ele sempre fizera
isso em meus treinamentos de criança. Há sangue em minhas mãos que dá um
maldito rio. Ter mais não faria diferença, ainda mais de homens como esses aqui.
— Eu vou levá-la para a ala sete — eu disse pegando o braço dela e
puxando sem delicadeza, não podia ser delicado agora, ou colocaria tudo a
perder.
— Oh, isso não está acontecendo — disse Talis. Ele trabalha para Raul. —
O que nos garante que você vai cumprir o que está falando?
— Está chamando meu filho de mentiroso? — rosnou Lorenzo.
Eu fiquei bem surpreso que ele viesse a tomar meu partido, mas as armas
foram levantadas novamente, me fazendo gelar por dentro para ter que proteger
Evy caso eu precisasse, isso seria minha morte e a dela, ficar a favor de uma
pessoa normal, a um de nós.
— Mande alguns de seus homens comigo para conferir o serviço, depois
que fecharem sobre… — eu comentei em inglês e depois em italiano, sobre o
que eles queriam fazer, acabar com Raul e Vinnie, o prefeito de Chicago, que
ainda não chegou, mas deve estar chegando.
Todos sorriram e abaixaram as armas.
— Ela deve ser bem apertada — disse Barry com um sorriso. Ele será um
dos primeiros que eu irei matar assim que derrubar esse antro, ou talvez eu o
deixe para Kill, afinal esse verme é o presidente dos MCs Fênix, os outros MCs
e o vice-presidente, Shadow, não sabem o que Barry anda aprontando pelas
costas deles e com quem se aliara para ter seu objetivo.
Eu saí da sala puxando Evy para perto de mim, eu estava furioso com o que
os guardas estavam dizendo. Eles vieram para conferir se eu ia mesmo estuprar a
Evy. Merda, só de pensar nessa palavra me dá vontade de colocar fogo em todos
que estão naquela sala, eu só não fiz porque se matasse um do nossos ou fosse
contra as ordens do capo, eu não ocuparia o lugar do meu pai, aliás, seria morto,
mesmo sendo filho do capo. Eu precisava ser capo para proteger os meus, a
minha origem, que Lorenzo estava afundando.
Seguimos a trilha cheia de mato em ambos lados. A rua estreita ia para a
casa do terror, onde muitas vidas haviam sido tiradas, e outras poderiam ser, mas
eu ia fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para que isso não voltasse a
acontecer.
— Vamos ver se ela vai continuar apertada depois que eu comer sua bunda
e sua boceta — disse um cara de Shan olhando para ela. — Delícia.
— Você come a boceta, enquanto eu como atrás…
Aquilo me ferveu por dentro, a minha raiva chegou ao auge e fiquei cego,
parei subitamente, colocando-a atrás de mim para protegê-la, caso eles
atirassem, e lancei as minhas adagas nas gargantas dos homens que ainda
estavam falando sobre ela. Os vermes caíram sem vida, espero que apodreçam
no inferno.
Expirei para me controlar, ignorando a vontade de retalhar todos eles, mas
me concentrei em Evelyn do meu lado.
— Você está bem? Está tremendo. — Eu a puxei para os meus braços. —
Lamento pelo que ouviu desses caras.
— Eu estava com medo de que tivéssemos que fazer… — Sua voz falhou.
Eu me afastei dela e arregalei os olhos. Ela pensou que eu ia fazer tudo o
que eu disse?
— Acha que eu tocaria em você assim? Eu só disse aquilo para sairmos de
lá…
— Claro que não pensei isso, eu só achei que precisaríamos fazer isso na
frente deles — ela me interrompeu.
— Evelyn, eu jamais tocaria em você se não quisesse isso, nem que tivesse
uma arma apontada para minha cabeça, nunca! E também jamais deixaria isso
acontecer com você, não enquanto eu respirar mundo. Aquilo que eu disse foi
para ganhar tempo para fugirmos daqui. — Eu a puxei para onde ficavam os
carros. — Agora eu quero que me escute. Pegue isso aqui e dê ao cara chamado
Kill, aonde você vai…
— Mas ele mata pessoas…
Ela não estava errada quanto isso, mas garanto que Kill não machucava
inocentes, assim como eu. Isso não nos faria ser inocentes.
— Pode ser, mas ele irá ajudar. Entrega a ele só quando tiver certeza de que
ele vai ajudar você e a mim a salvar essas garotas. Esse grupo de MC tem muita
influência, e não está na folha de pagamento de Lorenzo, aliás, eu soube que eles
abominam esse tipo de gente, pelo menos a maioria deles. — Entreguei uma
carta onde falava sobre a aliança que precisava fazer com eles, só assim minha
família ficaria segura. Nosso encontro estava marcado para amanhã à tarde.
Ela a guardou em seu sutiã.
— Lugar legal para guardar a carta. — Sorri travesso enquanto a arrastava
para o estacionamento, onde estava o carro de Luca.
— Vamos em qual carro? — sondou ela com excitação na voz.
— Não posso sair daqui, porque eles desconfiariam que eu estou com você,
por isso você vai ficar escondida no porta-malas desse carro, até alguém abri-lo.
— Quem?
— Alguém de confiança que estava na reunião e está do meu lado. — Não
podia dizer quem era, isso era para sua proteção e de Luca.
Eu a abracei e beijei sua testa.
— Toma cuidado lá fora, OK? Eu sei que eles não a machucarão de nenhum
modo. Embora o presidente seja um rato, os outros são legais e não gostam desse
tipo de coisa. — Espero acabar com Barry antes de ele me causar problemas.
— Como tem certeza disso? — sondou ela parecendo com medo.
— Apenas tenho. Assim que eu resolver tudo aqui e eliminar tudo isso,
levarei você para minha casa.
— Sua casa? Tipo morar junto? Eu… — ela se interrompeu, mas pude ler
sua expressão. Ela não estava pronta para eu dizer o que sentia, aliás, ela nem
imaginava isso, porque ela não sente o mesmo que eu.
Eu ri, embora forçado.
— Não falo de casar, já que isso eu não posso fazer nem mesmo depois de
ser o novo capo no lugar de Lorenzo. — Meu tom era triste no final. — E
também, porque você não me ama desse jeito, não é? Posso sentir.
— Eu…
— Não precisa dizer nada, Evy, eu sei que gosta de mim como um irmão, é
por isso que vou levá-la para morar comigo depois que acabarmos com esses
malditos. — Eu esperava mesmo isso, embora fosse ter problemas com meu pai
e tio em relação a isso.
Ela entrou no porta-malas do carro de Luca, e eu a fechei lá dentro e fui
para onde estavam os corpos dos homens que matei. Agora vinha a segunda
parte do plano.
Luca estava olhando para os corpos no chão, espero que estejam no inferno
agora, pena não poder matar todos eles.
— Ela está no carro? — sondou Luca assim que me aproximei dele.
— Sim, chegou a hora — falei a ele pegando a arma de um dos caras e
entregando a ele.
Ele suspirou.
— Eu não acredito que você vai realmente se deixar ser ferido por causa de
uma mulher. Merda, Matteo, que amor é esse?
— Não é só por Evelyn, mas por todas as garotas aqui presas, preciso da
aliança com os MCs, eles vão voltar aqui e resgatar essas meninas sem que
precisemos mover uma palha, assim seu pai não tem motivos para querer tomar
o lugar do meu pai e o meu por direito. — Suspirei. — Não posso deixar Enzo
ser o capo, o homem é mais sádico que Lorenzo.
Eu preferia morrer ou matar alguém a ver mais uma menina desse lugar
machucada ou morta. Céus, não quero nem imaginar o que eu faria, mesmo não
podendo, por eu não ser capo.
— Nisso concordamos — disse ele e suspirou. — Tudo bem, vamos lá.
Eu respirei fundo e fiquei olhando para meu primo levantando a arma para
mim e puxando o gatilho. Senti a queimação da bala atingir meu ombro e o
sangue escorrer pelo terno.
— Merda, agora faz o resto. — Trinquei os dentes sentindo a dor.
— Matteo… — ele começou a reclamar, não querendo fazer o que
precisava ser feito.
— Agora, Luca — rosnei, porque não podia estar consciente assim que
todos chegasse até mim.
Eu podia ouvir vozes ao longe assim que Luca puxou o gatilho da arma
fazendo um estrondo.
— Eu vou fazer isso e levá-la daqui, ok? Espero que não seja forte demais
— falou com um suspiro frustrado. — Te vejo no hospital, meu primo.
Então ele me lançou um soco forte no rosto e logo depois tudo ficou escuro.
Depois que acordei com o ferimento no ombro, meu pai estava preocupado
comigo. Foi a primeira vez que eu notei emoção nele, em vez de só escuridão e
desgosto com a vida.
— Matteo, meu filho, você está bem? — sondou assim que eu abri os olhos.
Eu suspirei.
— Sim, agora preciso resolver uma coisa — comentei saindo da cama e
tirando os fios do meu braço.
Meu pai riu.
— Você nunca gostou de ficar em hospitais, desde criança — me disse.
Eu notei que meu ombro estava com uma faixa, mas não sentia dor, ainda
bem, não gostaria de ficar um segundo mais aqui, precisava saber se tudo tinha
dado certo. Onde está Luca?
— O que aconteceu? — perguntei vestindo uma camisa. Precisava agir
normalmente para ele não desconfiar do que eu fiz, pela sua preocupação, ele
realmente acreditou que eu fui atingido por aqueles merdas.
— Você não se lembra? Alguém levou a puta da garota embora ou ela
fugiu.
Eu escondi minha expressão, mas minha vontade foi de acertá-lo com
minhas adagas. Eu me controlei por ele chamar Evelyn por nome. A menina
nunca foi tocada e ele a chama assim só porque matou um homem que já ia
morrer?
— Lembro que estava levando a garota, mas os vermes que foram junto me
atacaram, eu acabei com eles, mas fui nocauteado, na hora não liguei para a
garota — eu disse guardando minhas adagas na bota.
— Eu sei, nós vamos pegá-la de volta e depois vou matá-la, ninguém pode
saber daquele lugar — ele falou enquanto me seguia para fora do quarto. — Não
vai esperar a alta?
Eu expirei baixinho me controlando.
— Garanto que o senhor já cuidou disso, por isso estamos nesse hospital,
onde não se vê uma alma viva no corredor, não é? — O lugar parecia deserto.
Ele assentiu.
— Mas precisamos ter certeza de que esteja bem para sair por aí, a bala
atravessou o ombro, mas não pegou nenhum lugar que o prejudique.
Luca tem uma boa pontaria, é bom em tiro, ele acerta o alvo até se for à
noite. Por isso eu o escolhi, meu primo sabia onde atirar e não deixar nenhuma
sequela.
— Estou bem, pai, não posso ficar aqui, tenho muito trabalho a fazer. — Eu
não sabia o que fazer com a preocupação dele, afinal, desde que mamãe morreu
ele era um tremendo estranho, raras vezes falava comigo, só quando necessário,
agora que levo um tiro ele fica assim?
— Tudo bem, se você diz, estou indo para resolver uma situação que me
deixou grilado.
Eu o fitei e vi que ele estava furioso.
— O que aconteceu? — Embora já soubesse o que o estava deixando
furioso.
— As mercadorias que Raul conseguiu para mim, o FBI as apreendeu
ontem à noite. — Seu tom era sombrio. — Pena ele está morto ou acabaria com
aquele desgraçado de novo.
Eu fiquei quieto, mas estava feliz que os federais fizeram a apreensão, que
levaram aquelas meninas para suas casas. Muitas são iludidas de que estão sendo
modelos e coisa do tipo, são levadas para fora do país e usadas como prostitutas.
Eu não concordo com isso, e quem faz algo assim, dou um jeito de ele pagar.
Agora, como meu pai é o capo, não posso fazer muito, mas irei assim que eu me
tornar um.
Eu vi Samuel entrar no hospital, estava conversando no celular e parou
quando me viu. Lorenzo já tinha ido com Romulo, o seu segurança, para checar
o que tinha dado errado, mas Luca fez tudo certinho, sem deixar que nós dois
fôssemos envolvidos com a apreensão das garotas.
— O senhor Matteo acabou de sair do hospital — disse ele. — Sim, senhor
— falou e estendeu o celular para mim. — O senhor Luca quer falar com você.
Eu o peguei e atendi. Eu estava mesmo louco para falar com ele para saber
como tudo aconteceu, precisava ouvir dele, e não do meu pai.
— Luca, ela está bem? Deixou-a onde combinamos? Ela entrou no clube…
— Sim, ela entrou e todos sabem que Evelyn é na verdade irmã dele, só não
sei como isso aconteceu, talvez Kill a reconheceu de alguma forma — ele disse e
depois suspirou. — Como você está? Não era para ficar no hospital até amanhã?
— Sim, mas você me conhece, preciso ir ao encontro com Kill e Shadow,
está marcado para daqui a pouco, e esses malditos remédios quase não me
deixaram ir — rosnei enquanto entrava no carro.
— Você precisa que eu vá junto? Porque meu pai está aqui na boate. — Ele
suspirou. — Se eu sair ele pode desconfiar de alguma coisa, aquele homem não
perde nada.
— Não vou precisar de você, vou levar os homens de confiança só por
precaução.
— Então, assim que falar com eles, me dá um toque, ok? — pediu ele.
— Aviso sim, mas não se preocupe, vai dar tudo certo — garanti desligando
o celular e o entreguei ao Samuel, que estava dirigindo. — Vamos para o lugar
marcado.
Eu tinha deixado um bilhete com Evelyn, para ela dar ao Kill, eu só espero
que ela tenha feito isso. E que esteja bem. Precisava falar com eles sobre o
resgate das meninas e também sobre o miserável de seu presidente.
— Senhor, ontem à noite o Barry foi morto na porta do clube — disse
Samuel ecoando meus pensamentos.
Eu arregalei os olhos.
— Jura? Já foi tarde, assim não preciso me livrar daquele verme imundo —
suspirei. — Mas quem o matou? Não foi um dos nossos, não é? Porque isso iria
atrapalhar meus planos. Planejava, sim, matar o miserável, mas estava apenas
pensando em sumir com ele, não em matá-lo na frente dos outros.
— Não fomos nós, mas parece que foi gente de Ramires. Se for, eles vão ter
um grande problema, mas isso pode vir a calhar, podemos usar a nosso favor,
porque eles vão precisar de nossa aliança também, para o caso de o chefe do
cartel resolver atacá-los — Samuel informou.
Franzi o cenho por um segundo, depois concordei com ele, isso pode ser
bom para nós.
— Concordo, Samuel, vamos resolver sobre as meninas e depois vamos ver
isso. — As garotas são minha prioridade, mais do que inimigos e até eu mesmo.
— Tudo bem — assentiu.
— Me diz como está a Lis? — perguntei.
A primeira e última vez que cheguei à ala sete tinha uma garota lá com
homens abusando dela, deixando-a praticamente morta, se não fosse a minha
intervenção. Eu disse a todos que ela estava morta e a levei para ser enterrada.
Meu pai parecia ter ganhado na loteria, desgraçado. Mas fiz isso porque, quando
tirei um cara de cima da garota, ela estava quase sem pulso nenhum. Dei a
desculpa a meu pai de que ia terminar o serviço e matá-la depois. Todos os
miseráveis saíram, me deixando sozinho, porque eu exigi assim. Então forjei sua
morte e Samuel cuida dela até que ela se recupere, seu nome é Liliane, mas seu
apelido é Lis. Mais de vinte homens abusaram dela, é uma dádiva ela ter
sobrevivido, e só o fez porque eu cheguei lá e a levei ao hospital. Poderia ter
chegado antes e tentar impedir de alguma forma, mas descobri sobre o que
faziam lá um pouquinho tarde.
Samuel deu um suspiro triste.
— Bem, na medida do possível, ela não pode ver nenhum homem na sua
frente que começa a gritar, o único que a garota não surta por ficar perto dela sou
eu. — Ele passou a mão direita nos cabelos.
— Acha isso ruim? É bom que ela esteja se aproximando de você…
— Isso não é bom, porque ela me tem como seu salvador, quando na
verdade foi o senhor que a salvou daqueles monstros. — Ele me olhou pelo
retrovisor.
— Pode ser, mas você cuidou dela e a manteve protegida até hoje, e garanto
que vai continuar assim até que ela resolva ir embora e continuar sua vida com
sua família.
— Ela foi vendida, chefe. — Seu tom era frio e cheio de fúria.
Eu pisquei.
— Espere… o quê? Como sabe sobre isso? — Minha voz saiu alta no carro,
então me controlei.
— Sim, ouvi ela implorando ao pai para que não a vendesse, que ia se
tornar uma criança melhor… — Ele respirou fundo para se controlar. — Lis
estava sonhando quando disse isso, então supus que seus pais a vendaram
quando ela era criança.
— Merda! Luca não achou nenhum registro dela nos documentos que meu
pai guarda das meninas que sequestra. Lunático, não? — Sacudi a cabeça
controlando a fúria, triste. — Eu poderia ir atrás deles e encontrá-los, mas não
posso sair daqui com tantos problemas que preciso resolver.
— Chefe, eu vou encontrá-los e acabar com os dois — disse Samuel com
ferocidade. — Já coloquei um amigo meu no caso, ele vai encontrá-lo e me dizer
onde mora, eu poderia ir, mas o senhor precisa de mim agora.
— Lamento, Samuel, não podemos deixar as meninas da fazenda sozinhas,
mas assim que as libertarmos você está livre até que encontre esses desgraçados
que as venderam, se precisar de mim é só chamar — informei. Entretanto, sabia
que ele podia lidar com tudo. Samuel é o executor da máfia, ele fazia serviços
que o capo ordenava, não importa o que ou quem precisasse eliminar, e depois
limpava a sujeira que devia ser encoberta.
— Obrigado, senhor.
Chegamos ao lugar marcado. Eu só trouxe alguns homens de confiança.
As motos pararam em frente aos nossos carros, todos os meus homens
saíram armados. Eu também saí e fiquei escorado no carro, já que a dor no meu
ombro estava piorando.
Shadow, um homem alto e letal, veio à frente de seus homens e parou na
minha frente. Mas Kill veio na minha direção furioso. Samuel e os outros
puxaram as armas e assim fizeram os MCs. Shadow o segurou.
— Você bateu nela com cinto, seu cretino, e escondeu ela de mim, sendo
que sabia há bastante tempo que eu sou irmão dela! — esbravejou ele.
Eu saí de perto do carro e o encarei de frente, não temo a briga, é claro que
não ia fazer isso, mesmo se não estivesse ferido. Também não deixaria ninguém
me encarar e ficar por isso mesmo.
— Fica frio, Kill, nós não viemos aqui para isso, e também ele está ferido,
já que levou um tiro, não é? — Ele me fuzilou com o olhar.
Eu me controlei, porque a porra do meu ombro machucado estava doendo
muito, com certeza estava passando o efeito dos analgésicos. Segurei-o e não
demonstrei emoção. Afinal, já estava acostumado à dor.
Quando fazemos dez anos, no momento que nos tornamos homens, palavras
do meu pai, o homem precisa ser valente e esconder a dor na frente de todos. Ele
nos ensina a matar e lutar até que não aguentemos mais.
Eu suspirei, não sabia que Evelyn tinha dito a ele o que eu fiz com ela, uma
coisa que irá me assombrar para sempre.
— Abaixem as armas agora — eu disse aos meus homens e depois foquei
em Kill, que estava furioso. — Eu não sabia há muito tempo, só há alguns meses
quando ela falou seu nome e então puxei a sua ficha para investigá-lo, mas
precisava de tempo e aliados para tirá-la de lá sem demonstrar que havia traído
minha família.
— Não me importo com isso — rosnou Kill saindo de perto de Shadow,
mas sem nunca deixar de me encarar.
— Eu me importo, porque se eu não der um jeito no meu pai, ele vai atrás
dela. Agora mesmo eles estão todos a caçando para executá-la, já que ela atingiu
um companheiro na garganta e fugiu logo depois — eu disse.
— Pelo que sabemos, ele foi morto com a garganta cortada e tiros na cabeça
— disse Shadow. — Ela disse que não atirou, então quem foi?
Eu suspirei.
— Guerras territoriais. O senador não queria ceder Chicago para meu pai,
então, na verdade, ele já seria morto na reunião de ontem, mas as coisas se
complicaram quando o desgraçado tocou nela. A minha vontade foi de matá-lo,
mas ela foi mais rápida. — Não era para estar orgulhoso disso, mas eu estava. —
Ela tem um gênio forte. Ainda bem que ela o acertou, porque eu já ia mandá-lo
para o inferno por dizer aquelas coisas a ela. Maldição! Ela nem sabe o que é um
maldito boquete, devo dizer que, se fosse em outro momento, eu o teria feito
comer seu maldito pau por dizer isso a ela. — Trinquei os dentes.
Evelyn não sabia muita coisa do mundo lá fora, ensinei algumas coisas a ela
lá dentro, mas outras são novas, não tinha como explicar muitas coisas, então
dava livros para ela ler, mas livros não explicavam tudo, ver é muito melhor do
que apenas ler.
— Você está apaixonado por ela? — grunhiu Kill.
Eu ri, ignorando a fisgada no ombro.
— Quem não estaria? Quando a conheci e a vi naquela maldita cruz toda
machucada, devo dizer que fui aonde meu pai dormia, minhas mãos apertaram as
adagas para matá-lo, mas não podia, porque, se eu o matasse, o meu tio tomaria
meu lugar por direito, e o velho é mais sádico que meu pai. — Nesse dia estava
tão furioso que minha vontade era acabar com todos, por isso cedi em ajudar
com a dor dela, se não fizesse ela iria caçar confusão, voltar para lá e ser
açoitada de novo.
— E sobre essas garotas presas? Ela disse que tem umas duzentas lá dentro
aprisionadas pelo seu pai, e que ele as entrega a homens para serem abusadas e
mortas —sondou Shadow enraivecido.
— Sim, eu não sabia sobre isso até três anos atrás. Fui convocado por ele
para participar daquilo, eu sei que não sou santo, estou longe de ser. Tenho
sangue em minhas mãos das vidas que já tirei, mas daí a fazer aquela
barbaridade? Quando cheguei lá, eu encontrei três garotas mortas e os homens
fazendo a festa. — Eu expirei. — Não sabe o quanto tive que me controlar para
não matar a todos, até Lorenzo, porque a culpa daquilo tudo é dele e do doente
do meu tio.
Enzo e Lorenzo eram os piores, mas tinham muitos homens de fora
também, não só da máfia. Eu iria acabar com todos eles, estava chegando perto
para eu ganhar e eliminar todos. Os de fora seriam os primeiros que eliminaria,
depois os de dentro.
— Então é pedofilia e estupro? — perguntou Daemon com os dentes
trincados. Um dos MCs.
Eu sabia sobre cada um deles, mas Daemon era um problema que não tinha
passado, era como se tudo sobre ele tivesse sido apagado. Ele é bom em sumir
com rastros e também é um rastreador excelente. O cara era moreno, coberto por
tintas nos braços e pescoço, exposto pela gola de sua camiseta. Tinha piercings
na orelha direita, nariz e língua.
— O miserável do meu pai acha que está fazendo justiça, porque minha
irmã foi morta e estuprada. Não acharam o corpo, mas havia sangue em seu
vestido encontrado na Rússia. Ele acusa a máfia Dragon. — Falar em Dalila
sempre me fazia ficar triste e com raiva por não saber o que houve realmente
com ela.
Eu a procurei tanto, acredito que vasculhei a maldita Rússia inteira à sua
procura, e nada.
— Dark? — indagou Shadow. — Não é o feitio de sua família, afinal, ele
abomina esse tipo de coisa.
Dark é um rapaz de vinte e três anos, mas já possuía um imenso poder em
suas mãos, após a morte dos seus pais, os quais Lorenzo matou.
— Seu pai matou os Dragon, não é? Mas eu não entendo, Nikolai acha que
foram os Bravatas que assassinaram seus pais — falou Shadow.
— Na época, os Dragon estavam em guerra com os Bravatas, então, quando
Lorenzo matou os pais dele, ele deduziu terem sido seus inimigos, e meu pai saiu
ileso. Não entraríamos em guerra com eles, porque temos poder, mas eles têm
mais do que nós — falei a verdade. — Por isso eu tenho que limpar toda essa
sujeira, porque quando os Dragon decidirem vingança contra o que meu pai fez,
precisarei arrumar um jeito de controlar isso, porque tem muitos inocentes nessa
história.
— Porra! Se eles souberem o que Lorenzo fez, vocês estão fritos — falou
Kill parecendo gostar disso. Bastardo de coração frio. — Ainda bem que minha
irmã está longe disso tudo, longe de vocês.
Eu não ia discuti com ele, afinal, entendia sua raiva em relação a mim, eu
também me odeio pelo que fiz a Evelyn. Toda surra que eu levar ainda é pouco.
— Não importa agora, o que importa é que preciso salvar aquelas garotas e
crianças sem envolver o FBI e essas merdas. E, também, sem que meu pai
descubra que estou as ajudando, ou estarei morto. — Não ligo muito para mim,
mas pessoas boas dependiam de mim. — Meu pai manteve o FBI no bolso por
muitos anos para que fechassem os olhos em relação àquele antro de tortura e
assassinato.
— Achei que algo assim acontecia. — Tinha veneno na voz de Daemon. O
cara era forte. — Afinal, sequestro de crianças, por causa do alerta Amber,
chama muita atenção da polícia, além da pedofilia que rola solta na sua máfia
com esses casamentos entre marmanjos e meninas.
— Sempre fui contra isso, embora haja muitos membros da máfia Salvatore
que não tocaram nas meninas com quem se casaram até que elas completassem a
maior idade. Quando me tornar capo, esses vão ficar comigo, os outros vou
eliminar. Espero sobreviver até lá. — soube recentemente que alguns do meu
pessoal era contra o que Lorenzo fazia, isso me estimulava a ser forte e vencer
todos os meus obstáculos para proteger minha família.
— Não me fará nenhuma falta — sibilou Kill.
Eu ri, mas para provocá-lo, embora seja verdade.
— Bom, mas Evelyn sentirá caso algo aconteça comigo, não é? —
perguntei quase afirmando. Ela se importava comigo, embora não fosse da forma
que eu queria.
— Pode ser, mas ela não ficaria sabendo, já que quando tudo isso acabar,
você não vai mais vê-la. — Kill cerrou os punhos.
— Dificilmente, já que, depois disso, ela vai morar comigo. — Sorri
animado com isso. Pelo menos era esse o plano, mas vai depender dela, se ela
ainda quer ficar comigo.
Kill se lançou para mim, mas Samuel e os outros o impediram de chegar até
onde eu estava.
— Porra! Isso não vai acontecer, acha que não sei sobre vocês, os
Salvatore? Você não pode se casar com alguém de fora da sua origem mafiosa, e
se você mencionar que vai fazê-la sua amante, eu juro que mato você agora
mesmo! — esbravejou Kill. Sua barba e cabelos eram grandes, ele me lembrava
um hippie.
Eu não a levaria para fazer dela minha amante ou coisa do tipo, afinal
Evelyn não nasceu para isso, ela nasceu para ser livre, e não presa a mim. Eu não
podia fazer isso. Eu dei sinal para meus homens se afastarem de Kill. Não
precisava que me defendessem, podia fazer isso sozinho.
Fechei a cara para ele.
— Eu jamais faria isso, e também Evy não me ama dessa forma, e sim
como um irmão, mas, no final, ela vai decidir o que quer fazer da vida, e faremos
com que nenhum perigo recaia sobre ela nem sobre ninguém. — Ignorei uma
pontada de dor em meu ombro. — Agora vamos ao que interessa, resgatar
aquelas meninas e as crianças. Vou enfrentar todos para isso acontecer ou morrer
tentando.
— Eu acho que você está pensando errado, nesse caso — disse Shadow.
Eu estreitei meus olhos para ele.
— Sobre o quê?
— Veja bem, você não pode matar seu pai ou ser acusado de traição, já que
perde seu legado. Se o FBI entrar no caso vão confiscar o que vocês têm, então
você precisa de nós para entrar nesse lugar que não sabemos onde fica, e
armados até os dentes para resgatar todas as crianças e moças que estão sendo
mantidas como prisioneiras. Então faremos o seguinte: você limpa o lugar
apagando quaisquer menções ao nome da sua família, o resto deixa conosco.
Mas um aviso: quando entrarmos lá, derrubaremos todos.
— Não podem, pois tem pessoas da minha confiança lá dentro que
protegem as meninas… — falei temendo que todos eles saíssem feridos. Eu não
ligava se meu pai morresse, mas tinha que esperar a oportunidade certa para que
isso aconteça.
— Então você deve tirá-los de lá. Não podemos entrar e matar somente os
homens do seu pai, deixando os da sua confiança vivos, ele vai desconfiar que
você estava por trás de tudo, não é? — continuou Shadow.
Eu praguejei, porque ele tinha razão quanto a isso, se fizesse isso meu tio ia
desconfiar. Meu pai não sei, mas Enzo anda de olho em mim como um falcão.
— Sim, mas se eu os tirar de lá, ele também vai desconfiar. Meu tio já diz
que não tenho pulso firme para controlar o legado só porque não sou a favor do
que eles fazem — anunciei com raiva. — Quando tudo isso acabar, eu vou
mudar muitas coisas, já que serei o capo, mas não posso mudar tudo.
— Eu tenho uma ideia, mas vai ser um pouco complicado — falou Nasx.
Ele era loiro com cabelos grandes, mas presos em um rabo de cavalo.
— Manda, porque não há nada pior do que o que vai acontecer, caso não
peguemos as meninas de lá, principalmente dez delas, que estão para fazer
aniversário. — Custe o que custar, vou fechar aquele antro, mandar todos para o
inferno e devolver as meninas para suas famílias.
— O que um aniversário tem a ver com isso? Evelyn falou algo, mas não
entendi muito bem. — Daemon estreitou os olhos caramelos, da cor dos de
Evelyn.
— Para meu pai, isso é o ritual de um culto que ele criou. Ele oferece as
meninas à minha irmã, que morreu, e depois as entrega aos homens para fazerem
o que quiserem delas. Todos têm que apodrecer no inferno — sibilei no final.
— Incluindo seu pai? — falou Shadow.
— Sim, e não sentirei nada por sua morte, isso é um alívio, tendo em conta
o que ele fez. Ele só não pode ser morto agora, tenho planos antes disso, mas sua
morte vai chegar. Só espero que, quando isso acontecer, ele esteja lúcido, assim
sentirá o que tenho preparado para ele. Vocês não podem matá-lo, porque,
quando eu me tornar capo, mesmo sem querer, terei que caçar e matar o
assassino do meu pai, e o cara deverá ser muito bom em encobrir todos os
rastros. Essa é uma lei da minha família, e não poderei quebrá-la — informei a
todos e depois olhei para o Nasx. — Que plano tem?
— Vamos resolver o problema das meninas e deixar a situação de Lorenzo
para você, Matteo.
— Certo. Continue.
— Como não podemos entrar e matar só o pessoal do cretino do Lorenzo e
deixar os seus vivos, e já que eles não podem sair de lá, então vamos ter que
atingi-los…
— Porra, isso não! Eles são boas pessoas e acreditam em mim no meio
desse inferno todo. Vocês não podem matá-los. — Trinquei os dentes, porque
não podia machucar nenhum dos meus.
— Ninguém falou em matá-los, e sim atingir em algum lugar e não ser
fatal. É a única chance que temos — Nasx informou.
Eu não podia deixar meu pessoal ser ferido, mas e se não fossem, eu não
conseguiria tirar as meninas de lá sem causar desconfiança no meu tio, ele era o
pior deles.
— Como poderemos diferenciar os do seu pai dos seus? — sondou Hush.
Um loiro parecido com surfista, embora Nasx também se pareça com um. A
diferença deles é que Hush tem olhos negros, enquanto os de Nasx são azuis.
— Eu vou conversar com eles primeiro, para saber o que acham — eu
disse. Não faria nada assim sem comunicar a eles.
— Estamos nessa com você até o fim, chefe — respondeu Samuel.
— Obrigado, Samuel — agradeci e depois olhei para os MCs. — Depois
que conversar com todos, eu dou a resposta. Temos no máximo quinze dias para
resgatar todas elas.
— Fechado. Vamos bolar um plano para pegar esses desgraçados e acabar
com todos eles — disse Shadow com veemência.
Eu fiquei ali, vendo-os irem embora, as motos aceleradas que chegavam a
levantar poeira. Uma parte de mim ficou aliviada por ter conseguido mais um
aliado, com a ajuda deles vou conseguir libertar as meninas e derrubar tudo que
meu pai construiu na fazenda.
— Merda! — rosnei indo me mover, e a ferida pulsou forte. — Isso não
devia acontecer.
— O senhor está bem? — sondou Samuel com tom preocupado.
— Estou sim, não estou falando de mim, mas dessa merda de que vocês
precisam ser feridos com aqueles crápulas.
Eu ser ferido para protegê-los era uma coisa, mas ferir meu pessoal? Era
outra coisa. Não podia fazer isso. Droga, o que vou fazer agora?
— Senhor Matteo, podemos fazer isso, todos vão concordar comigo. Nós
queremos isso resolvido — disse Samuel. — Não dá para viver assim e ver
aquelas jovens sofrendo, e acontecer com elas o que houve com Lis, até pior.
Não importa se eu tiver que ser torturado para isso, eu o farei.
— Sim, somos leais a você — concordou Frank. — Vamos falar com os
outros…
Cortei.
— Eu faço isso…
Samuel me interrompeu.
— Não acho que seja uma boa ideia você ir lá agora, isso pode gerar
desconfiança de seu tio, quando as meninas forem levadas — interveio. —
Vamos cuidar de tudo, o senhor não indo lá, o Enzo não poderá culpá-lo quando
tudo afundar.
— Concordo, Enzo anda desconfiado e procurando saber algum erro sobre
você para tirá-lo de ser candidato a capo — disse Frank. — Eu soube pelo
Romulo que seu pai queria passar o cargo a você.
Eu arregalei os olhos.
— Jura? Eu o vi na saída do hospital, mas ele não disse nada — sussurrei.
Meu pai ficou assim tão preocupado comigo levando um tiro?
— Enzo o tirou da ideia dizendo que você não concordaria com o que ele
faz com as meninas — falou Samuel e depois me olhou de lado. — Então é
melhor ficar longe de lá por enquanto, chefe.
— Mas… não posso deixar as meninas sozinhas lá naquele lugar, alguém…
— Cuidaremos delas, até os MCs as resgatarem — disse Samuel. — Mas e
quanto ao Pablo?
Pablo era um dos garotos que tomava conta da ala onde ficava a Evelyn, os
dois eram amigos antes de eu aparecer. Eu falo garoto porque ele tinha dezenove
anos na época, hoje está com vinte um. Lorenzo mandou matá-lo após ele
conseguir um purgante e dar a Evelyn, que deu a todos os homens de Lorenzo,
levando a maioria para o hospital. Foi onde ela foi castigada, e ele, mandado
para a morte, mas eu intervim e disse ao meu pai para deixá-lo preso na solitária,
isso seria o castigo por desobedecer a uma ordem do capo de se manter longe.
É claro que não o deixei todos esse tempo na solitária, sem nada, como era
a ideia do meu pai. Acredito que ele nem pensa mais nisso, nem sabe que Pablo
existe, se fosse por ele, o garoto estaria morto.
— Vamos forjar sua morte para Lorenzo ver e fazer Pablo sumir até
Lorenzo e meu tio estarem sob controle e eu ser o capo, aí o trago de volta.
— Podemos fazer que os mesmos que vão resgatar as meninas façam isso,
podemos dizer ao Shadow para forjar o assassinato de Pablo, não teremos outra
oportunidade — comentou Samuel.
— Certo, então vamos resolver logo isso — concordei com a esperança
viva de que logo as meninas estariam fora daquele maldito lugar, e com suas
famílias.
Eu conheci uma garota que salvei quando entrava na boate. O filho da puta
não aceitou não como resposta. Odeio homens assim, não é porque sou um
mafioso que tenho que ser um cretino sem coração. Eu soube que seu nome era
Frederic Reis e que ele fazia isso direto, já tocou em algumas mulheres fora das
boates. Foi erro dele vir fazer isso em meu território.
A garota usava peruca morena e roupas que faziam suas curvas serem mais
do perfeitas que já eram. Eu sei sobre a peruca porque ela caiu na hora que a
garota correu, mas notei que seus cabelos eram loiros, não cheguei a ver o rosto
direito, já que era noite, mas ela tinha o cheiro de morangos.
Enquanto eu lidava com o cara, ela foi embora.
— Espera! — gritei, mas a loira não me ouviu ou simplesmente não parou
para me agradecer por livrá-la do verme imundo que queria machucá-la. Matar
alguém é fácil, o difícil é viver com isso em nossa mente. Isso me afetava até
certo ponto, quando eu tinha uns doze ou treze anos, mas hoje não tenho culpa,
não por eliminar um bandido e delinquente. Isso é quem eu sou.
Eu ia mandar procurar saber quem era essa garota que me fascinou, mas
que não ficou para se identificar, isso estava me deixando inquieto. Eu precisava
saber onde ela morava e o que fazia na boate de Shadow quando fui falar com
ele sobre o resgate das meninas. Eu fui em sua direção, mas ela correu de mim
de novo. Isso me deixou intrigado, por que ela estava correndo? Por que não
deixou que eu me aproximasse e perguntasse seu nome? Agora eu a tinha visto
de frente e, porra! A mulher é uma tremenda deusa. Eu já vi mulheres lindas,
inclusive já possuí muitas, mas não igual àquela.
Ela era uma loira fabulosa e com curvas incríveis nas quais eu amaria
passar minhas mãos. Olhos azuis brilhantes. Eu a reconheci pela pulseira de
brilhantes que ela tinha na mão direita com um pingente de estrela. E também
pelo cheiro de morangos que senti ao passar perto dela. Mas quando ela me
olhou em cheio, me reconhecendo, correu no meio da multidão.
Eu ia procurá-la, mas Luca me puxou dali, porque tínhamos reunião com
uns negociantes do porto que eu quero comprar. Mas depois eu iria procurá-la,
seja lá onde ela estiver, posso pegar a câmera desse lugar e localizar essa mulher
que me deixou interessado e fascinado.
Eu estava cheio de problemas, por isso adiei isso, já que tinha acabado de
saber o que os MCs fizeram. Tanto os MC daqui de Chicago como de Nova
York. Fico imensamente satisfeito porque as meninas foram levadas em
contêineres e deixadas em uma cidade vizinha daqui. Shadow chamou policiais
de confiança para passar o recado, como uma denúncia anônima.
Meu pai surtou quando soube que as garotas foram levadas e que toda a
fazenda estava sob chamas, porque não restou nada além de pó e ruínas.
Agora estou aqui, de frente para todos na reunião que me elegeu como
capo, porque meu pai está em coma no hospital. Como pode uma pessoa entrar
em coma porque essas garotas foram libertadas? Quando minha mãe e Dalila
morreram ele não ficou assim. Aliás, ele se tornou um monstro, ou talvez sempre
tenha sido.
— Meus parabéns pelo título de capo — disse meu tio, apertando minha
mão.
Arqueei as sobrancelhas.
— Sério? Porque eu podia jurar que você queria esse cargo — desdenhei
ficando de frente para ele.
Ele piscou e se controlou, mas vi veneno e aço em seus olhos negros como
um vácuo desprovido de emoção.
— Nunca quis o cargo de chefe — mentiu o descarado. — Só estou feliz
que esteja no poder.
Um cacete que está, pensei amargo. Podia sentir seu corpo tenso e furioso,
era quase palpável sua fúria. Se ele me odiava tanto devia ao menos fingir direito
ao me felicitar.
— Obrigado, tio — fingi acreditar fazendo uma força para não grunhir. Eu
vou dar um jeito de ele descumprir uma ordem minha, só assim posso acabar
com ele.
— Então, em seu primeiro ato como capo, você vai ordenar que consigamos
as meninas de volta?
Eu olhei para o homem à minha frente, que se dizia meu tio, querendo tirar
sua vida naquele momento mais do que já quis antes.
— Parabéns, novo capo. — Luca veio até mim, batendo no meu ombro de
leve. No final ele deu um aperto, como se fosse para eu me controlar, mas eu
estava controlado. E logo ia tirar esse sorriso diabólico do rosto do meu tio.
Eu assenti, depois me concentrei em todos na sala, os dez negociantes, aos
quais chamamos de anciões. Eles que tomam conta de cada ponto da máfia
Salvatore nos países como Itália, França, México e alguns outros. Mas quem
manda em todos eles é o capo, ou seja, eu, que peguei o título hoje. Sei que vai
ser difícil mudar algumas coisas, mas não impossível.
Há grupos e famílias mafiosas em praticamente todos os países, mas
considero as máfias italiana, russa, mexicana, japonesa, jamaicana e albanesa
como as mais poderosas. No meu país, especialmente na Sicília, de onde a minha
família é originária, há máfias muito importantes, como a nossa, a Cosa Nostra,
a Colombo, a Banchi, a Esposito. Nossa família já está há mais de um século
estabelecida aqui, nos Estados Unidos.
Algumas dessa máfias, como Banchi e a Esposito, sei que estão do meu
lado, e ficarão, caso aconteça alguma luta contra os Dragons no futuro. As outras
são organizações controladas por uma família que usa métodos inescrupulosos
para fazer prevalecer seus interesses ou para controlar uma atividade, como o
mercado negro, tráfico de drogas e etc. Crime organizado.
Nós também fazemos muitas coisas ilegais, mas tráfico humano não é uma
delas, pelos menos não mais no meu poder. E vou cortar a crista de todos que
pensam que farei isso.
— Eu, como o novo capo, vou mudar algumas coisas que precisam ser
mudadas e não vou tolerar ninguém que me desobedeça de alguma forma. —
Embora queira que alguns façam isso, só assim eliminarei cada um deles.
— Que lei vai ser mudada? — perguntou Hadid, o chefe do ponto da Itália.
Agora chegou a hora de ver quem está do meu lado e quem são os bastardos
que são contra mim.
— Em primeiro lugar, o casamento com meninas de dez anos. Isso não vai
mais existir, só com 18 anos, e os que forem casados com garotas menores de
idade terão que devolvê-las aos seus pais e poderão pegá-las quando elas tiverem
a idade certa. — Não queria esse final, queria que elas escolhessem quem
quisessem, mas essa lei não podia mudar.
Alguns arfaram e outros sibilaram entre si.
— Você não pode fazer isso, seu desgraçado! — disse Liam, um dos
homens do chefe do México. — Somos casados com essas putas e temos o
direito de foder nossas cadelas…
Eu o fuzilei com o olhar e meu sangue ferveu em minhas veias tão forte que
achei que iria explodir ali mesmo. Nessa hora a besta queria ser solta e
estraçalhar esse cara. Peguei minha adaga e lancei para ele, cujo cabo encostou
entre seus dois olhos. Esse maldito merecia que eu demorasse nele, fazendo-o
sofrer igual acredito que ele faz com sua esposa.
Eu respirei fundo, controlando minha fúria.
— Mais alguém tem objeção à minha mudança de lei e ousa me insultar?
Pode falar agora e ir para o inferno igual a esse cara. — Apontei para o morto
fuzilando todos com o olhar. — Não vou tolerar que me desafiem. — Todos na
sala ficaram calados, tanto que seria possível até mesmo ouvir um grão de areia
caindo no chão. — Nem que me desrespeitem ao irem contra minha ordem —
respondi num tom frio. — Quem quiser ir para o mesmo caminho é só dizer. Não
sou meu pai, não vou compactuar com as coisas que ele fez, quem me conhece
sabe que eu era contra, mas cumpria suas ordens por ele ser um capo. Agora,
mudanças estão vindo, porque não vou tolerar que me desobedeçam. A escolha
de sair é agora, embora, com tudo o que sabem, suas vidas nunca serão as
mesmas. Alguém dos nossos estará o vigiando, e se o mundo lá fora souber dos
nossos negócios e onde estão, suas cabeças estarão a prêmio, é melhor que
estejam mortos antes de eu colocar minhas mãos em vocês.
Eu olhava cada rosto na sala de reunião, todos mudos, me observando.
— E quanto às meninas que estavam em cativeiro, ninguém vai tocá-las ou
chegar próximo a elas. Os homens que compactuaram com aquela escória,
machucando e tocando em uma mulher, estarão sendo vigiados, e se ousarem
fazer algo como aquilo de novo, sua sentença será a morte, e vai acontecer do
mesmo jeito que as meninas que foram mortas. Olho por olho, dente por dente.
— Meu tom era frio. Eu queria matar todos que participaram da reunião da
pedofilia naquela fazenda, mas não podia, não agora, afinal, tudo aquilo foi sob a
aprovação do meu pai. Mas se eles infligirem alguma ordem que dei a eles
agora, aí as coisas mudam.
Sobraram poucos guardas na queda da Babilônia, porque eu considerava
assim após muitas vidas sendo tiradas naquele lugar. Não sou nenhum Deus para
limpar o mundo de todo pecado e imundície que há nele, porque no fundo eu
seria levado para baixo também, afinal sou um assassino, o morto na sala
comprova isso, e outras vidas que tirei. Não importa se eles eram homens ruins
ou não, morte é morte, e vida é vida.
— Vocês ouviram o chefe, agora vão cumprir suas ordens — disse Luca a
todos ali e depois a mim. — Estarei do seu lado, capo, qualquer coisa me livro
deles.
Luca é um executor muito bom, assim como Samuel, meu primo era quem
descobria o que precisava ser tirado antes mesmo de se tornar um problema. Eu
confiava minha vida a ele de olhos fechados. Não podia dizer o mesmo do meu
tio.
— Tudo bem, agora preciso ficar a sós com Luca, o restante pode sair —
ordenei indo me sentar na cadeira onde meu pai costumava se sentar.
Enzo saiu da sala junto com os outros que estavam mudos. Bom, vou
mostrar quem manda aqui agora.
— Ryler, cuide disso — falei apontando para o cara morto no chão. —
Depois passe a todos o que falei na reunião e leve as meninas menores de idade
para a casa dos pais delas. Se algum marido inferir, mate-o.
Samuel, Frank e alguns outros estão feridos ainda por terem sido atingidos
na queda da fazenda. Nada grave, o que me deixou aliviado. Depois vou visitá-
los.
— Sim, senhor — respondeu e levou o cadáver dali, embora a mancha de
sangue ainda tenha ficado.
Ryler era um homem fiel e leal, ele era o que limpava a sujeira como essa
que fiz na sala de reunião. Todos diziam que ele não tinha alma, mas quer saber?
Nenhum mafioso tem uma, se não estávamos andando sob a lei e não cometendo
nenhuma coisa ilícita.
— Teve notícias da Evelyn? — perguntou Luca. — O que vai fazer agora
que ela não corre mais perigo?
— Não falei com ela depois da boate. E não vou fazer nada por enquanto,
vou deixar ela aproveitar sua liberdade. afinal isso foi tirado dela a anos. — Há
dois dias fui à boate de Shadow e a vi lá conversando com ele. Ela fugiu do
clube dele nesse dia, não sei bem o que houve, mas parece que Evelyn ficou com
alguém. Na hora eu quis matar quem a tocou. Mas vou deixar esse papel para o
Kill.
Eu a queria comigo, mas não podia tê-la para mim, não da forma que eu
desejava. Sabia que precisava renunciar a ela. Embora isso não seja fácil, doía
pensar nela com outra pessoa tendo uma vida que lhe foi privada esses anos
todos.
“Irina, espero que amanheça melhor, te deixei dois comprimidos que vão
ajudar com a ressaca. Espero que esteja bem, desculpe não cumprir com a
promessa.”
Promessa? O que ele me prometeu que não pôde cumprir? Não consigo me
lembrar de nada que houve ontem, só que… é isso! Nós estávamos na boate de
Shadow, de repente Matteo ficou com ciúmes de Evelyn porque beijava Shadow.
Depois disso fui beber, mas não lembro o que houve depois.
Li mais uma vez o bilhete dele, então ele veio aqui por um tempo ou nós
ficamos juntos? Notei que estava com calcinha e sutiã. Merda, como pude
esquecer? Mas talvez seja bom, afinal Matteo não cumpriu seja qual for a
promessa que ele me fez.
Vesti uma blusa e fui abrir a porta para quem quer que fosse, não olhei no
olho mágico, estava com a cabeça doendo e só queria ficar sem barulho nesse
momento. Sara estava na porta com Evelyn.
— Liguei, mas não atendeu — disse Evelyn.
— Eu vim checar as coisas, porque ontem começou a fazer pole dance e
tirar as roupas no meio da boate.
Eu ofeguei de pavor.
— Oh, Deus, eu fiquei nua na frente dos outros? Onde vocês estavam que
deixaram isso acontecer? — acusei no final virando e entrando na sala. Por isso
não gosto de beber, sou fraca para isso. Merda! Mas ontem foi difícil não fazer
isso vendo Matteo demonstrar sentimentos por Evelyn.
— Não se preocupe, o Matteo tirou você do palco e trouxe pra cá.
Cortei Sara.
— Vocês deixaram ele me trazer? E se ele não fosse um cara decente? —
Não lembrava o que tinha acontecido, mas sabia que ele não me tocou, não
comigo estando bêbada. Matteo jamais faria isso. Mas estava grilada por não me
lembrar do que houve, porque sempre que bebo faço coisas que nunca faria na
vida estando sóbria.
— Matteo jamais a tocaria — falou Evelyn com veemência. — Confio nele,
por isso não intervim.
— Eu também, podia ver a preocupação dele com você. — Sara me olhou
de lado. — Não sabia que você era tão amiga dele assim, ou tem algo mais?
Eu sacudi a cabeça, indo alimentar April, mas para minha surpresa ela
estava com ração. Será que foi Matteo? Pergunta idiota, só podia ser ele. Isso me
fez gostar dele ainda mais, mesmo não querendo.
April é da raça Maltês, ele é uma raça que ama devotar toda a sua afeição
ao seu dono. Além disso, é vívida e enérgica, portanto adora brincar. Ela
costuma amar tanto o seu dono que pode até sofrer de ansiedade pela separação,
se deixada sozinha por muito tempo. Por isso jamais a deixo sozinha. Por ser
toda coberta por uma pelagem branquinha e sedosa, April precisa de escovações
diárias.
Nem sempre foi assim, eu a encontrei na rua quando vinha do serviço, ela
estava toda machucada, com sinais de correntes nas patas e pescoço, fora que
não tinha nenhum pelo, parecia que foi todo rapado, fazendo a lâmina machucar
sua pele. Eu a peguei para mim não me importando de procurar quem era o
dono, afinal, se ele gostasse mesmo de cachorros, não a teria maltratado e
deixado minha fofinha naquele estado. Já estou há quase dois anos com ela e a
amo demais.
— Jamile? — chamou Sara me trazendo ao presente.
— Não o conheço bem, só queria ter vindo para casa com uma de vocês,
não com ele — comentei.
Eu não queria revelar que amava Matteo, não agora, mesmo elas sendo
minhas amigas, preferia esperar, afinal, ele ama a Evelyn, então era melhor
deixar isso quieto.
— Não entendo — admitiu Sara.
— Quando bebo cometo muita gafe, faço muita coisa errada, já pensou
fazer isso na frente daquele homem? Tremo só de imaginar. — Era verdade, isso
que estava me incomodando por não me recordar de nada.
— Você não se lembra de nada? — sondou Evelyn.
— Nada.
Elas ficaram a tarde inteira comigo, escapei de falar de Matteo durante toda
a conversa. Não estava com ânimo e fingi não ligar para ele. Também não
gostava de mentir para nenhuma das duas, eu vou contar, só não agora, precisava
de tempo para apagar da memória Matteo com ciúmes da minha amiga.
Uma semana e meia depois sem ter notícias de Matteo, eu queria que ele
aparecesse, ainda mais depois de notar que as fotos do Ian Somerhalder estavam
todas rasgadas e no lixinho do banheiro. Parecia que Matteo as amassou tão
furioso como se quisesse fazer aquilo com o ator.
Talvez no fundo ele goste de mim também, pensei. Mas conforme a semana
ia passando, acabei por ver que a minha vontade de ele se importar comigo foi só
uma ilusão, já que não veio me ver.
Cheguei ao restaurante onde trabalho por volta das cinco. Eu não precisava
trabalhar, mas era parte do meu disfarce. Jerry trabalhava comigo no restaurante
de seus pais, ou melhor, de sua mãe, o pai dele morreu alguns anos atrás.
A dona Benita era uma senhora de uns 45 anos, mais ou menos. Ela que
toma conta do lugar.
Assim que entrei notei algo estranho ali, estava vazio, exceto pela dona
Benita e dois homens vestidos de preto, mal-encarados. Eles estavam perto do
balcão. Ela parecia congelada de medo. E Jerry estava com os punhos cerrados,
como se fosse atacá-los naquele momento, embora também parecesse congelado.
Eu fiquei confusa e curiosa para saber quem eram aqueles caras, por que
eles estão aqui? O que querem com meus amigos para deixar os dois meio que
aterrorizados? Seja o que for, parecia importante e não parecia coisa boa.
— Não vamos vender nosso restaurante, aqui está toda minha vida — disse
Benita como se fosse chorar, mas estava se segurando. — Não há ameaças que
me façam fazer isso.
Eu fechei a cara e fui até eles. Jerry ficou mais rígido assim que me viu.
Antes de entrar, chamei a polícia. Talvez fosse um assalto ou algo assim. Seria
estupidez minha me aproximar, mas não podia ficar de fora sem fazer nada,
assim como o policial me pediu.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei num tom irritado.
Os dois homens se viraram para mim. O de cabelos negros franziu a testa e
o ruivo me olhou malicioso.
— Não é da sua conta — respondeu o moreno, ácido.
— Está enganado, eles não vão vender a propriedade para uma gangue de
araque como vocês dois — retruquei ficando ao lado de Jerry e da senhora
Benita. — Sugiro que deem meia-volta e vazem daqui.
Eu falei num tom firme, mas devo dizer que por dentro estava com medo
deles, tudo dentro de mim gritava para correr. Era para eu ser mais corajosa,
afinal, nasci no meio de homens como esses e talvez até piores.
O ruivo riu amargo.
— Você sabe com quem está falando? Tem alguma noção? — rosnou.
— Conheço homens como vocês, acham que podem tudo só porque
pertencem a alguma gangue e, como querem alguns territórios, então usam a
força, fazendo as pessoas vender suas propriedades. Agora a pergunta é: por que
vocês querem esse bairro? Quem é seu chefe? — Maneei a cabeça para o lado.
— Esse lado de Chicago é dividido entre dois territórios, MC Fênix fica com
um, os Salvatore com outro, mas aí está: vocês não parecem ser de nenhum lado.
Então quem é seu chefe? Por que Shadow ou o Capo jamais se sujeitariam a tal
baixaria, como forçar uma família a vender seu imóvel para seu benefício. Eles
não desceriam tão baixo.
Eu esperava mesmo que não, porque se sim, os dois seriam uns malditos,
mas acho que não, não parecia ser a praia deles, de nenhum dos dois. Nem de
Matteo nem de Shadow.
Os dois homens franziram a testa.
— Quem diabos é você? — O ruivo deu um passo até mim, mas o outro
cara segurou seu braço, parando-o no lugar.
Eu precisava enrolar aqui até a polícia chegar e levar os dois, se nenhum
deles ficasse presos depois, que pelo menos passasse algum tempo na cadeia.
— Eu que pergunto isso — respondi. — Vai responder ou vou ter que
chutar? Veja bem, as gangues são conhecidas por suas marcas, algumas
tatuagens. As suas, pelo que percebo… — Apontei para os braços dos dois. —
Esses escorpiões que estão aí desenhados em seus braços. Então devem
significar que vocês são homens de Sírios… já ouvi falar dele. Rico, poderoso,
capaz de comprar todos usando todos os tipos de artimanhas como chantagear, e
até coisas piores, para aquele idiota ter o que quer. Mas manda um recado para
ele, que essa família não vai vender, e se o desgraçado insistir, esses nomes que
citei logo acima vão resolver isso, não acho que nenhum deles vá aceitar as
coisas muito bem. — Eu estava blefando, mas eles não precisavam saber disso.
Embora eu achasse que se pedisse ajuda dos dois, tanto Shadow como Matteo
me ajudariam.
— Isso é uma ameaça? E você está dizendo que o capo e Shadow vão se
importar com essa família? Acha que sou idiota? — sibilou o de cabelos negros
com barbicha de bode.
— Depende, se forem embora agora e desistirem do que pretende aqui, vou
saber que são inteligentes, mas se ficarem, nem tanto assim. — Eu poderia tirar
o chapéu para mim, pensei, estava me saindo bem. Aprendi com meus irmãos.
Os dois olharam de um para o outro e riram com zombaria.
— Menina… — começou Benita.
Eu a ignorei e não tirei minha atenção do cara, sei que estava correndo risco
de o meu verdadeiro nome ser descoberto, mas logo iria embora. Que diferença
fazia?, pensei amarga. Pelo menos aconteceria da maneira certa, eu conseguiria
salvar essa família de perder seu restaurante.
— Garota, você devia dar o fora daqui, e não se meter nisso, o que acontece
aqui não é da sua conta — avisou o ruivo. — Por que não acredito em nada que
saia da sua boca.
Eu sorri.
— Eu tentei avisar, mas vocês não parecem ouvir o meu alerta… — Bem
na hora a viatura da polícia parou na frente do restaurante e dois policiais
entraram.
Os dois bandidos ficaram rígidos e depois olharam para os policiais.
— Recebemos uma ligação dizendo que havia uma ameaça aqui — disse
um dos policiais. Ele avaliou a todos e pousou os olhos em Benita. — Tudo bem,
senhora?
Antes que ela falasse algo, eu disse a verdade, esperava que isso não
trouxesse problemas para meus irmãos e torcia para que ninguém descobrisse
meu nome verdadeiro.
— Sim, esses dois homens aqui estavam ameaçando a dona Benita para
vender o restaurante, sendo que ela não quer. — Apontei para ela.
— Desde quando eles estão ameaçando a senhora? — perguntou o policial
a Benita e acenou para que os outros policias pegassem os bandidos.
Cheguei perto dela e segurei sua mão.
— Pode contar a verdade — incentivei. — Eles não vão machucá-la, eu
juro.
Ela assentiu, não sei por que, mas ela confiou em mim. Eu esperava mesmo
protegê-la, sabia que não podia sozinha, mas por ela eu buscaria ajuda seja lá
onde for.
— Aconteceu em umas três vezes que eles vieram aqui — respondeu ela.
— Mamãe, por que não me contou? — perguntou Jerry com raiva.
— Não queria preocupá-lo, meu querido — respondeu ela num tom triste.
Os policiais levaram os bandidos, nenhum deles disse nada, mas o olhar do
barbicha direcionado a mim foi maligno. Eu conhecia um olhar de vingança, e
ali tinha um mortal e cheio de fúria.
Puta merda, aonde fui me meter?
Eu não demonstrei meu medo, sabia esconder minha expressão muito bem.
Os policiais pegaram nossos depoimentos e respirei fundo. Porque não
queria que ninguém soubesse quem eu era, mas se não tinha outra escolha? Por
que não? O que não posso é deixar uma coisa errada acontecer. Mesmo que para
isso eu busque ajuda onde não quero para resolver esse problema.
— Jamile? Posso falar com você? — Jerry me puxou para longe dos
policias, ao fundo do restaurante. — Que merda aconteceu aqui?
Eu franzi a testa.
— O quê?
— Você enfrentou dois homens que com certeza estavam armados e que
poderiam ter revidado. — A raiva era evidente na sua voz.
Suspirei.
— Eles não iam, não à luz do dia, já ouvi falar de Sírios, ele age à espreita,
ameaça pessoas e, quando não consegue o que quer, ele…
— Mata, porra! — esbravejou ele na minha cara, me pegando desprevenida.
Jerry é um cara legal, nunca soube dele perdendo o controle por nada, mas
por que ele ficou assim? Será que estava temendo por sua mãe? Talvez ele pense
que coloquei a senhora Benita em perigo, ou a nós três.
— Se você está assim porque temeu pela vida de sua mãe e pela sua hoje,
não se preocupe, eu sabia o que estava fazendo. Se teve esse medo é porque não
me conhece, jamais faria algo se soubesse que arriscaria a sua vida e de Benita.
— Meu tom saiu ácido no final. — Você não sabe muita coisa sobre mim, mas
eu sabia o que estava fazendo aqui.
Ele deu um suspiro frustrado, mas antes que comentasse algo a senhora
Benita veio até nós.
— Você não devia ter enfrentado aqueles homens de modo algum, menina
— repreendeu-me Benita, após os policiais irem embora.
Ela sempre me chamou assim, desde que vim trabalhar com ela nessa
lanchonete.
— Gente, eu sei que vocês estão com medo. Mas peço que confiem em
mim, tudo bem? — pedi, segurando as mãos dela. — Eu vou dar um jeito de
resolver as coisas, e nenhum de vocês vai correr algum risco.
— Como pretende fazer isso? — retrucou Jerry com tom nada feliz. — Vai
pedir ajuda aos MCs ou à máfia? Acha que eles nos ajudariam?
Eu fechei a cara.
— Deixa comigo, ok? Agora vamos trabalhar, porque já está chegando
cliente e não vamos fechar por causa de alguns idiotas estúpidos…
— Não são idiotas, maldição! São gente da pesada, Jamile — retrucou
Jerry.
— Está chegando gente, vamos conversar depois — eu me esquivei.
Jerry não queria deixar isso passar, mas depois de um segundo resmungou e
foi atender às mesas de uns adolescentes que tinham entrado.
Eu suspirei e fui trabalhar bolando um plano, não deixar a dona Benita e
Jerry perderem seu restaurante. Isso não ia acontecer, ou não me chamo Irina
Dragon.
Eu não acredito que ele teve a cara de pau de trazê-la aqui onde trabalho,
como se fosse para esfregar na minha cara que não tenho nenhuma chance.
Maldito Matteo!
Eu amo Evelyn, ela é minha amiga, assim como Sara, mas eu sinto ciúmes
de vê-la com ele, mesmo sabendo que Matteo nunca teria qualquer chance,
afinal, ela ama o namorado.
Merda!
Eu queria ir lá e socar a cara dele, mas isso aqui não é minha casa, e sim um
ambiente de trabalho. Mas depois de pensar um segundo, por que cobraria ou
iria acusá-lo de trazê-la aqui, sendo que não temos nada um com outro? Foi só
uma foda de uma noite. Jamais me humilharia ou rebaixaria por causa de um
homem que não sente nada por mim.
Lembrar aquela noite me faz pensar em como fui uma estúpida. Claro que
eu sabia que não íamos sair de lá direto para o altar, pensei amarga. Embora
também não tenha pensado que acabaria do jeito que acabou.
Porra!
Coloquei a mão direita no meu peito, para ver se assim aliviava as pontadas
de dor. Pontadas que me deixavam sem ar, como se eu tivesse um problema
cardíaco, mas não tenho, é só um coração partido, estraçalhado, que mesmo com
tudo ainda continua a bater por Matteo.
Eu expirei várias vezes, porque não podia deixar isso me consumir mais do
que já estava me consumindo, embora isso não fizesse ficar melhor.
Torci por Jerry vir e atender aquela mesa onde estavam os dois, mas ele não
estava à vista, e eu não podia atender um cliente de forma mal-educada, mesmo
que fosse o chefe da máfia, o cara que me despedaçou. Acredito que ele nem
sabe disso, não sabe o que sinto por ele.
Ele e Evelyn estavam conversando, e algo que ela disse o fez colocar as
mãos em seu queixo com as pontas dos seus dedos e levar os olhos dela para os
dele.
Se não conhecesse Evelyn e soubesse que ela ama Dominic, poderia pensar
que a cena era íntima demais para ser presenciada de fora.
Se concentra Irina, conjurei como um maldito mantra, assim não
despedaçaria mais o meu coração.
— Eu amo você — ouvi-o dizer a ela com tom amoroso com o qual nunca o
ouvi falar antes.
Foi como se um trem tivesse topado em mim com uma velocidade
surpreendente, me deixando sem o ar nos meus pulmões, e tudo dentro de mim
gritando em protesto devido à dor que essas palavras causaram.
Vamos, Irina reaja, não fica aí parada, falei para mim mesma.
Eu fiz meus pés irem até a mesa deles e busquei todo o meu controle para
não chorar e demonstrar fraqueza na frente dele. O que sinto por ele deve ser
mantido em segredo, ninguém pode saber que o amo, assim como ele faz com
Evelyn, embora ela já deva saber, só um cego para não enxergar isso.
— Que cena linda! — falei com um sorriso assim que cheguei perto deles.
— Não deixe Shadow ver essa cena, ou ele fritaria suas bolas, capo.
Assim que ele ouviu minha voz sua mão saiu do rosto dela como se sua
pele tivesse soltado uma descarga elétrica, talvez eu apenas estivesse vendo
coisas.
Seus olhos estreitaram para mim. Matteo sempre foi difícil de ler, assim
como agora. Não tinha como saber o que estava pensando e também não me
importei, talvez não quisesse saber.
— Irina…
Eu cortei.
— Jamile — corrigi com escárnio e depois sorri para Evelyn, que estava
revirando os olhos, alheia a tudo que houve aqui. — É bom vê-la, querida.
— Dom sabe que minha alma, meu corpo e meu coração são dele. — Ela
sorriu para Matteo, que não pareceu notar, porque sua atenção estava em mim.
— Não se lembra de nada do que aconteceu ontem à noite? — Tinha algo
no seu tom que me pareceu frustração.
Franzi o cenho.
— Espero que vá me dizer o que houve como um cavalheiro.
Antes que ele respondesse meu telefone tocou, e o peguei em meu top. Eu
estava com um top preto e uma saia jeans curta, deixando minha pele à mostra.
Eu sei que tenho um corpo curvilíneo e não é fácil mantê-lo, ainda mais com as
comidas americanas, mas corro todos os dias pela manhã e queimo calorias.
— Lugar interessante para guardar um celular — falou Matteo, mas ignorei,
não querendo falar com ele agora, ou desmontaria minha expressão neutra, que
era difícil de vestir e manter. Talvez corresse o risco de mandá-lo ir se foder.
Mas uma coisa não passou despercebida, ele não comentou sobre me dizer
o que houve.
— Espero que seja importante, Jules! — falei baixo em russo, assim que
atendi o telefone, os dois ali sabiam quem eu era, então não liguei em falar
assim. Apesar de não saber se eles entendiam russo. Evelyn eu acredito que não,
já Matteo, não faço ideia.
— Baby, tenho notícias daquele cara que me pediu, estou indo agora para
a praça no centro e nos encontramos lá — disse em russo também.
— Certo, estou indo — respondi e desliguei, guardando meu celular em
meu top de novo.
— Aconteceu alguma coisa? — sondou Evelyn. — Você falou nessa língua
que não entendo nada.
Eu olhei para ela e sorri, mas vi pelo canto do olho que Matteo entendeu,
então ele deve saber russo, o que não me surpreende, afinal, é um mafioso que
tem gente trabalhando para ele em vários lugares e países.
— Está sim, só um amigo meu — respondi e chamei Jerry para atender a
mesa.
Ele veio até onde eu estava, com o cenho franzido para mim, e depois sorriu
para Evelyn.
— Oi, Evelyn.
— Olá, Jerry. — Ela sorriu de volta.
— Jerry, atende os dois, preciso dar uma saída — pedi a ele. — Diz à dona
Benita que não volto mais hoje, tenho um compromisso à noite.
Seus olhos ficaram preocupados.
— Jamile…
Eu fui até ele e o abracei, mas para sussurrar em seu ouvido e para ninguém
ouvir.
— Não diz nada o que aconteceu a ninguém, ok? Conheço alguém que vai
nos ajudar. — Afastei-me.
— Jamile… — Seu tom estava preocupado, e ele não tentou esconder isso.
— Algum problema? — sondou Matteo, avaliando nós dois. — Iri…
Eu o fuzilei com o olhar.
— Nada que seja da sua maldita conta — rosnei e me afastei dali antes que
respondesse ou alguém fizesse mais perguntas que não podia responder.
Eu tentei me controlar enquanto ia para o carro, não querendo pensar em
Matteo. Até pensei em buscar sua ajuda, mas depois do que eu ouvi, não quero
saber dele nem envolvê-lo em nada. Aliás, não quero ficar perto dele agora, ou
iria desmoronar ou matar alguém sem querer.
Depois que aqueles caras saíram, entrei em contato com um amigo meu que
mora aqui em Chicago, mas ele é da Rússia. Um cara excelente em computador.
Embora meu irmão, Alexei, ganhe dele, mas não posso buscar sua ajuda agora,
ou ele e Nikolai vão me levar embora antes do prazo. Eu não quero isso.
Julian, cujo apelido é Jules, ele vai me ajudar a buscar provas de que aquele
cretino do Sírios é um assassino e canalha, que anda ameaçando pessoas
inocentes para venderem suas propriedades, incluindo Dona Benita.
Eu vi Matteo saindo da lanchonete bem furioso pelos seus punhos
destacados e sua expressão rígida. Mas não liguei e pisei fundo no acelerador,
querendo sair logo daqui.
Cheguei aonde Jules estava estacionado no parque vazio devido à hora, já
que era quase sete e meia. Ele era alto, com barba por fazer, e com os olhos
claros. Merda, o cara era lindo, só que nunca senti nada por ele, talvez uma vez,
mas Julian é um bad boy e jamais me tocaria, pois valorizava suas bolas,
palavras dele. Acredito que tenha medo de Alexei e de que meu irmão venha a
acabar com ele.
Jules estava escorado em sua Porsche, parecido a um modelo masculino.
— Quando vai parar de me olhar e ficar babando? — Sorriu de lado. Seu
sorriso era de molhar calcinha, a minha já molhou várias vezes.
— Talvez até você mudar de ideia e ficarmos juntos? — brinquei,
abraçando-o. — É bom te ver.
Jules riu e se afastou.
— Menina, se eu tocar em você serei um homem morto — respondeu. —
Aquele seu amiguinho só não foi ainda porque nenhum dos Dragon tem
conhecimento dele.
Eu revirei os olhos.
— Jerry é meu amigo, assim como você — respondi, embora não tenha
ficado com Jules. Decidi mudar de assunto, porque nenhum outro homem me
importa, só o que acabou de se declarar a outra mulher. — O que descobriu? Ele
suspirou.
— Vamos para o meu carro, não é seguro ficar aqui, ainda mais se tiver
alguém te seguindo — comentou ele, entrando no seu carro preto e reluzente.
Eu me sentei ao seu lado e peguei a pasta que ele me deu, onde com certeza
estavam escritas as falcatruas daqueles bandidos. Abri e me deparei com um cara
careca e que parecia ter seus cinquenta anos. Reconheci como sendo o Sírios. Eu
o vi uma vez na boate dos meus irmãos.
Outro cara, ao lado direito do careca, era parecido a um japonês ou coisa do
tipo. Ou coreano, quem sabe? Não sei, mas minha intuição me dizia que os dois
eram iguais.
— Esse japonês é Hung Shi, um cara da pesada que mora aqui nos Estados
Unidos e que é dono de várias imobiliárias em todo lugar — disse Jules. — Pelo
que soube, ele consegue o que quer, inclusive tem vários locais dele no Pier, os
quais conseguiu não de um jeito bom, acredito que por ameaça.
— Tem essas provas aqui ou em algum lugar que possamos usar para
prendê-lo? — Se não tivesse prova, não tinha como denunciar esses vermes.
Ele suspirou.
— Isso que é estranho, as pessoas que venderam suas propriedades não
prestaram nenhuma queixa ou coisa do tipo… — ele murmurou. — Acho que
não arriscariam perder suas vidas.
— Devem ter sido ameaçadas ou coisa assim. — Criada na máfia, eu sabia
que eles podiam fazer isso, embora nunca tenha sabido dos meus irmãos fazendo
algo assim com inocentes. É claro que nenhum deles era santo, nesse mundo, os
únicos inocentes são os bebês e as crianças, até que eles se tornem assassinos.
— Também acredito nisso. Mas o duro é provar, pelo que sei, ele tem
pessoal na polícia e em vários lugares, por isso nunca foi preso ainda. — Ele
suspirou, passando as fotos nas minhas mãos. — Estou vendo com um amigo
meu se conseguimos entrar mais fundo onde conseguiremos localizar mais
provas contra esse cara, mas, Irina, isso pode ficar feio, não acha melhor chamar
seus irmãos? Eles podem resolver isso.
Jules sabia sobre mim e minha família, nos conhecemos há alguns anos, na
Rússia, então ele se mudou para cá, depois de algum tempo nos encontramos de
novo, enquanto eu saía da faculdade. Somos próximos desde então. Embora
saiba que meus irmãos pagaram a ele para manter todos longe de mim, para que
ninguém descobrisse sobre mim ou de onde venho.
Respirei fundo passando a mão nos meus cabelos, que estavam presos em
um rabo de cavalo.
— Não posso envolver meus irmãos nisso, se Nikolai ou Alexei souberem
sobre o que está acontecendo, eles me levarão embora, e isso não posso deixar
acontecer agora. — Olhei para ele. — Vamos fazer isso sem dar sinal ou sermos
descobertos, tudo bem?
Ele assentiu.
— Tudo bem, não é como se eu fosse sair por aí descobrindo sobre esse
cara, meu serviço é mais em computador, câmeras e tudo o mais — murmurou
indo ligar o carro que estava a alguns metros do meu. Ele olhou para o
retrovisor. — Não entre em pânico, mas tem um carro indo para o seu.
Eu arregalei os olhos, me virando, tinha um carro escuro lá perto, e dele
saíram três homens, que foram até meu carro. Eles usavam casacos e estavam
armados.
— Maldição! Se eu ligar o carro eles vão ouvir, e se não ligar os bastardos
vão nos pegar — rosnou Jules com um suspiro exasperado.
Merda, não posso deixar meu amigo correr perigo por minha causa, então
era melhor arriscar ir embora e torcer para eles não nos perseguirem.
— Pisa no acelerador rápido e segue para The Square agora — falei com
urgência.
— A boate dos mafiosos italianos? — guinchou, acelerando o carro
enquanto eu colocava o cinto de segurança. — Por que não vai para a do seu
irmão?
— Não quero que Alexei saiba, se eu pisar na boate dele ele saberá em
segundos e me levará embora. Então posso tentar pedir ajudar de Luca ou
Matteo. — Não queria pedir sua ajuda, mas se fosse para manter meus amigos
protegidos de tudo, eu faria esse sacrifício.
Assim que ele pisou no acelerador para sairmos de trás de uma árvore, do
outro lado do parque, os caras olharam para nós e correram para o carro deles.
— Merda, pega o beco e damos a volta, não estamos longe do território de
Matteo — falei com urgência. — Não acredito que sejam estúpidos para nos
seguirem até lá.
Eu estava com medo de eles nos pegarem aqui e acabarem com nós dois, eu
me preocupo comigo, mas me preocupo mais com Jules, afinal, ele está metido
nisso por minha causa. Eu pedi sua ajuda para colocar Sírios e os outros na
cadeia.
Tentei manter a calma e não tremer por dentro enquanto somos perseguidos
por esses trogloditas.
Eu não considerava muito bem o sequestro de Enzo, afinal, ele disse que
tinha assuntos importantes a tratar comigo sobre meus irmãos, por isso fui, e não
fui machucada, presa ou coisa assim. Então não considero sequestro.
Senti o carro indo para frente, após eles se chocarem contra nós dois.
— Puta merda! — sibilei segurando no banco. — Nós vamos morrer.
Julian grunhiu, concordando comigo, mas acelerou mais o carro e ouvi
buzinas enquanto ele desviava dos carros nas ruas para ultrapassar todos eles,
tomando cuidado para não acontecer nenhum acidente com a gente ou com
algum inocente. Isso seria uma catástrofe.
Eu já fui perseguida antes, quando era criança, alguns caras inimigos do
papai nos emboscaram e teve tiroteio para todos os lados. Na época fiquei com
medo e chorei, mas mamãe disse que tudo ia acabar bem. Eu acreditei nela, mas
logo fui tirada do carro deles e fui levada por Kriger. Ele é como um segundo pai
para mim. Então a alguns quilômetros o carro dos meus pais capotou e explodiu,
por causa dos homens que estava atirando neles.
— Irina, meu amor, vai com Kriger e não grite ou faça barulho — pediu
mamãe com os olhos molhados.
Eu não queria deixá-la, nem papai, mas ela não me deu escolha, só me
entregou ao Kriger.
Era para eu estar com eles naquele carro, e não em outro lugar, mas mamãe
parecia que estava sentindo que seria seu fim, porque depois eles morreram e
nunca mais os vi.
— Irina! — gritou Jules me trazendo ao presente. — Você está bem?
Eu expirei, me concentrando no agora, expulsando todos os pensamentos
que me atormentavam.
— Desculpe! Ser perseguida me traz amargas lembranças que deveriam
estar presas… — comecei a falar, mas me interrompi quando minha cabeça
bateu no vidro do lado do carro, ao fazer uma curva correndo. — Merda!
— Você está bem, Irina? — sondou preocupado comigo, mas não diminuiu
a velocidade. — Esses homens estão pegando pesado com a gente. Ainda acho
que seria melhor ir para a boate russa, e não para o território dos mafiosos
italianos.
— Só chegue nessa boate logo — pedi me encolhendo com uma pontada
dolorida na cabeça. — Não vou para a dos russos, já falei.
Merda!
Julian andou mais alguns quarteirões e paramos em frente à boate,
esperamos no carro para ver se eles iam atirar aqui no território de Matteo. Eles
seriam estúpidos a esse ponto? Queria que fossem, assim os caras de Luca
acabariam com eles.
Minha mente ainda estava nebulosa, em outro lugar, doze anos atrás, onde
foi tirado um grande pedaço do meu coração. Foquei no agora, ou iria surtar.
Mas por fim chegamos à boate, agora era só esperar os perseguidores irem
embora. Resolverem nos deixar em paz. Só podiam ser os homens de Sírios.
Porque seria muita coincidência eu enfrentar dois homens dele, mandando-os
para a cadeia, e logo depois ser perseguida.
— Será que eram homens do Sírios ou Hung? — Ele arregalou os olhos. —
Ou será que eram inimigos dos seus irmãos? Merda, isso não pode acontecer,
sou pago o suficiente para deixá-la no escuro, encoberta de todos os trabalhos
sujos dos seus irmãos.
— Muito reconfortante saber que você é pago para me proteger —
retruquei. Embora não esteja com raiva, sabia que ele me amava e eu também o
amava.
Ele sorriu e beijou minha testa.
— Você sabe que estou brincando, amo você, menina, por isso te ajudei.
Mas se seus irmãos souberem, vão me matar. — Suspirou e olhou para onde o
carro sumiu, depois para dois homens de Luca, chegando até nós.
— Saia daqui agora, aqui não é lugar para estacionar. — Bateu o cara na
janela. Não ouvi sua voz, só li seus lábios mexendo, minha cabeça ainda doía e
meus ouvidos pareciam tampados, mas ignorei a dor.
— Irina…
— Está tudo bem, Jules — falei. — Deixa que eu falo com eles, vai ficar
tudo bem.
— Eu sei que ficou com Matteo após ser enganada e trazida para cá pelo
filho da puta do Enzo, eu te dei cobertura porque me pediu, mas se seus irmãos
souberem, Dark vai me matar — sussurrou. — Você me deve uma maldita vida.
— Dizem que gatos têm sete vidas — brinquei.
— Engraçadinha. — Revirou os olhos.
Jules era da minha idade, meu irmão o pegou para ficar me cobrindo como
um escudo virtual, graças ao qual ninguém é capaz de me localizar. Ele pode ser
muito bom em localizar pessoas, mas não me acharão. Alexei também teve sua
parte nisso, mas como ele fica mais na Rússia, não podia me manter segura por
muito tempo, por isso contratou Julian. O cara era um nerd bem talentoso.
— Não vai acontecer nada, eu prometo para você, ok? — jurei. Nem
Matteo nem Luca iria nos fazer mal, e acredito que vão nos ajudar a nos livrar
desse problema.
Ele assentiu e saímos do carro. Olhei para a boate, lembrando a última vez
que estive aqui.
Estava escuro, mas ainda era cedo para as pessoas chegarem à boate. Não
reparei muito no lugar, porque estava com dor de cabeça e precisava mantê-la no
lugar.
Eu só esperava não ver aquele sádico do Enzo. Porque aquele homem me
dava calafrio na espinha e em todas as partes do meu corpo. Tremo só de pensar
no seu olhar naquela noite. Frio e desdenhoso.
— Preciso falar com Luca — falei meio ofegante, como se eu tivesse
corrido muito. Estamos aqui fora e a qualquer momento alguém pode começar a
soltar fogo em nossa direção.
O cara me olhou com cara de poucos amigos, pelo jeito ele não parecia
saber quem eu era, ou se sabe, não poderia ligar menos para isso, pelo menos foi
isso que vi em sua expressão.
— Você acha que tem o direito de chegar aqui e pedir isso? O chefe tem
mais o que fazer do que vir receber alguma puta — rosnou.
Eu estava prestes a dizer-lhe para ir para puta que o pariu quando ouvi uma
voz que conhecia muito bem.
— Irina?
Assim que ouvi sua voz grossa e profunda, meu coração deu um solavanco
como se fosse sair do meu peito, mas expirei e ignorei Matteo e essa sensação
que eu não queria. Fuzilei com o olhar o bastardo à minha frente com o olhar.
— Olha aqui, seu babaca, estou por um tris de chutar sua bunda — falei,
embora não fosse capaz disso, porque ele com certeza estava armado. Mas eu
estava sem paciência com toda essa merda. Matteo, ser perseguida e tudo isso.
— Eu tive uma droga de dia, meus amigos foram ameaçados por um velho
idiota, corrupto e salafrário — sibilei com meus punhos cerrados, louca para
socá-lo na cara. — Eu fui perseguida até aqui e esses caras poderiam atirar em
nós aqui fora, e você ainda me chama de puta? Vá se foder, imbecil.
Eu estava gritando, mas o cara não estava prestando atenção em mim, sua
atenção estava em alguém atrás de mim. Eu poderia senti-lo mesmo se não
tivesse ouvido sua voz um minuto atrás. Era como se eu estivesse perto de uma
fornalha bem acesa, mas incapaz de queimar, ela só me aquecia, de forma que eu
adorava e odiava ao mesmo tempo.
Eu não queria sentir nada por Matteo, não quando não era correspondida
por ele. Não tinha passado muito tempo desde que o deixei com Evelyn, mas
quando saí, eu o vi saindo também com muita raiva, só não sabia o que tinha
acontecido. Também não me importei, o que eu ouvi dele foi capaz de esmagar
meu peito, agora com a lembrança dos meus pais piorou tudo.
A expressão de Matteo era sombria, direcionada ao homem, e ele falou em
italiano, acho que para nós não entendermos, embora eu também soubesse essa
língua.
— O que está acontecendo aqui? Por que a chamou desse nome? — sibilou
Matteo com os punhos cerrados e dentes trincados. Ele parecia estar controlando
a raiva.
Eu não entendi por que ele se importava se alguém me xingasse assim,
talvez fosse porque Matteo era bom, isso na medida do possível, porque na
máfia não tem ninguém bom, mas graças aos céus ele não era um monstro como
foi seu pai.
— Eu pensei que ela fosse mais uma das garotas com quem o Luca ficou,
sempre vem algumas aqui querendo o contato dele — respondeu o cara.
— Depois acerto as coisas com você — declarou ao seu homem e depois
me fitou. E falou o meu idioma, ou melhor, o inglês.
— O que significa você ser perseguida? E quem está atrás de você? Agora
responde. — Seu tom não era um pedido, e sim uma ordem no final.
Eu suspirei.
— Eu não sou um de seus homens para você falar comigo como quiser —
falei em russo, porque sabia que ele entendia. — Não quero sua ajuda, eu vim
falar com Luca, não com você — soltei com raiva por ele usar esse tom.
Seus olhos escureceram, mais do que já eram. Eles eram como ônix de tão
preciosos.
— Luca não vai responder ou fazer nada se eu não deixar, eu sou o chefe
nessa porra, não ele — esbravejou. — Agora me diz em que droga você se
meteu para estar em apuros.
Eu suspirei. Mas não queria discutir com ele no meio da rua, se ele não vai
deixar Luca me ajudar, então vou procurar Shadow, se ele também não quiser, aí
vou atrás de meus irmãos, só não posso deixar Benita perder seu lugar.
— Então não vou querer sua ajuda, eu dou meu jeito, não preciso de nada
de você. Vamos embora, Jules. — Peguei o braço de Julian, que estava calado do
meu lado, mas o senti tenso, avaliando cada um ali.
Quem Matteo pensa que é para mandar em mim? Eu mando na minha vida,
pensei. Bom, meus irmãos fazem isso, mas eles não estão aqui agora. Estou livre
por esses anos aqui na América, eu sei que vou embora em pouco tempo, mas
até lá ninguém manda em mim. Se eu quisesse isso voltaria para a Rússia, iria
atrás dos meus irmãos, sabia que eles me ajudariam, embora nunca mais eu fosse
ver o solo americano de novo, só com eles.
Matteo pegou meu braço e me puxou para ele. Bati em sua parede de
músculos, me fazendo arfar e dar uma pontada em meu crânio machucado, mas
não liguei, porque, de repente, meu corpo estava como um fio desencapado, cada
célula dele parecia ter ganhado vida, até as mortas ressuscitaram, de forma que
me fez tremer. Corpo idiota, por que ele me trai assim?
Matteo chegou mais perto, seus lábios encostaram em meu ouvido, me
fazendo estremecer tanto pelo toque como pelo seu hálito quente banhando
minha pele. Evitei a todo custo gemer com o contato.
Merda!
— Deixa eu te dizer uma coisa, Irina, não brinque comigo, você não vai
gostar das consequências — avisou com a voz sedutora, embora furiosa. — Por
mais que esteja com raiva de mim, sua segurança vem em primeiro lugar.
Eu empurrei seus ombros para que me soltasse, mas ele não fez nenhum
movimento com seu corpo para se afastar de mim. Não queria ficar assim tão
próxima dele, não quando meu corpo o desejava como um drogado querendo sua
droga preferida. Ele era a minha. Provei uma vez e fiquei viciada.
— Me larga. — Tentei me afastar, mas ele não permitiu.
— Vamos conversar. — Não parecia um pedido.
— Solta ela agora — sibilou Jules.
Eu vi armas serem levantadas de todos os lados pelos homens de Matteo, e
elas estavam apontadas para Jules, que por sua vez tinha uma arma na direção de
Matteo.
Meu coração gelou, temendo que os dois viessem a se machucar, porque se
Jules atirasse em Matteo, ele seria morto pelos homens dele, que estão armados.
Nenhum deles sairia com vida dessa bagunça e a culpada seria eu.
— Você está armado? — arfei quando Matteo me colocou atrás dele como
se estivesse indo me cobrir com seu corpo. Mas ignorei e fitei Julian.
— Claro que sim, você anda pesquisando homens perigosos, que podiam
segui-la, ou talvez alguns caras que podiam nos encurralar. — Ele deu de
ombros. — O que acabou acontecendo.
Eu já o tinha visto ser nerd, porque é isso o que ele é, mas não o vi com
essa expressão dura e mortal que vejo em seu rosto agora. Sabia que trabalhava
para meus irmãos, então devia saber que ele se cuidava e tudo mais quando a
situação ficava perigosa como agora, embora não corrêssemos de fato perigo.
Eu estava com o coração na mão, pensando na catástrofe que podia
acontecer caso alguém puxasse a arma e começassem a atirar uns nos outros.
— Jules, abaixe a arma, vamos entrar e conversar com ele — pedi indo na
direção dele, mas Matteo me segurou perto de si, sem nunca tirar os olhos do
meu amigo. Merda! Isso não vai ser bom, pensei amarga.
— Eu mandei você soltá-la — silvou para Matteo e depois para mim. — Eu
falei para não virmos para cá, e sim para a boate dos seus irmãos.
Jules deu um passo para nós, o que levou todos os homens ali a prepararem
suas armas, já prontos para atirarem. Não ia demorar muito para isso acontecer.
— Não somos inimigos e estamos do lado de fora da boate com armas para
todo o lado. Merda! Quem estava nos seguindo pode voltar e acabar com todos
aqui — não queria entrar em pânico com tudo que está acontecendo aqui, mas
estava difícil. Peguei o braço de Matteo e supliquei a ele. — Por favor. — Ele
suspirou.
— Vamos abaixar as armas e entrar agora — falou ele. — E você? —
Olhou para Jules. — Dê sua arma ao Samuel, quando for embora te entregamos.
Jules riu, mas era uma risada nervosa, tensa e mortalmente fria.
— Eu não vou ficar desarmado em uma casa cheia de mafiosos capazes de
nos matar. — Sua voz era firme. — Irina, vamos embora procurar Hunter, ele
pode nos ajudar.
Droga, preciso ter meu controle aqui. Hunter é um cara legal que trabalha
para meus irmãos, ele era um ex-agente do FBI, mas não sei o que levou a se
distanciar da lei.
— Matteo, me solta e me deixe ir até ele — pedi, querendo impedir a luta
deles.
— Não. — Seu tom não deixava espaço para discussão. — Ou ele abaixa a
arma, ou eu a tiro da mão dele.
— Vamos ter um problema aqui, porque não vou abaixar enquanto não se
afastar dela. — Suas mãos eram firmes em sua arma calibre 38.
Nesse momento estava furiosa por Matteo usar esse tom de capo e dar
ordens para dizer que acabaria com meu amigo, mas se eu não me metesse, logo
veria os dois lutando, e Matteo com certeza venceria, e eu não quero que meu
amigo saia ferido.
— Mas que porra? Jules é meu amigo e se algum de seus homens o
machucar, eu vou acabar com você. — expirei com raiva. — Ele não vai me
machucar, ao contrário, está tentando me proteger de vocês…
— De você, capo, especificamente, com sua mão no braço dela. — Julian
mirou Matteo. — Não dou a mínima para quem seja, não vou ficar longe dela e
também não vou ficar desarmado.
Matteo estreitou os olhos para mim e depois para o meu amigo. Deu um
suspiro exasperado e furioso. Seja o que for que ele viu na expressão de Jules,
isso o fez abaixar a guarda. Embora não o suficiente para me deixar livre.
— Você tem sorte por eu não matar você agora por me enfrentar, saiba que
só não faço isso por Irina — falou, mas não soltou meu braço e me levou para
dentro da boate. — Vamos entrar. Preciso saber o que está acontecendo.
Eu queria tirar sua mão de mim e gritar, frustrada, com ele ameaçando meu
amigo, mas isso deixaria Jules mais sombrio do que o vi agora há pouco. Não
queria trazer mais problemas, se ele notar que não quero estar perto de Matteo,
meu amigo lutaria por isso e acabaria sendo ferido.
— Vamos resolver isso para irmos embora, Jules. Pode abaixar a arma,
ninguém aqui vai atirar em ninguém — pedi em russo e depois disse, quando ele
hesitou: — Por favor, só quero terminar isso e ir embora.
Ele suspirou, mas guardou sua arma atrás dele. O que me deu um grande
alívio.
— Ele ainda está segurando seu braço, se esse capo tentar algo, vou atirar
nele, não estou brincando — disse também em russo. — Não posso deixar que
eles machuquem você. Não é só porque seus irmãos me matariam, mas porque
adoro você.
Eu ri, ignorando quem estava assistindo à nossa conversa em nosso idioma.
— Matteo não vai me machucar. Ele me salvou do velho do tio dele, o qual
espero que não esteja aqui — falei com um suspiro. — Não estou a fim de vê-lo,
ou eu mesmo posso acabar atirando na cara dele.
Ele riu e veio segurar minha mão assim que Matteo soltou meu braço para
subirmos a escada. O salão estava vazio, exceto pelos homens de Matteo e Luca.
Embora eu não tenha visto Luca em lugar nenhum, isso também não diz nada,
ele pode estar aqui em algum lugar, mas não liguei.
— Não pode fazer isso, sabe disso, seus irmãos ficariam furiosos com isso,
afinal, cada máfia tem suas regras. E pelo que soube o capo tem que vingar a
morte de sua família querendo ou não, então, se você matasse o tio dele, ele
teria…
— Que me matar — terminei a frase por ele com a voz engasgada. — Puta
merda!
— Isso resume tudo. — Ele apertou minha mão num gesto silencioso —
Assim que sairmos daqui, pode ficar na minha casa, prometo me comportar.
— E se eu não quiser que se comporte? — brinquei, sorrindo de lado para
ele.
— Quem sabe? — Sorriu e ampliou mais o sorriso assim que Matteo se
virou de uma vez, quase fazendo com que nós dois topássemos com ele, e o
fuzilou com o olhar sombrio.
— Isso não está acontecendo — grunhiu mortal, abrindo uma porta grande
de madeira, mas passamos por ela e nos levaram para outra sala que tinha só
uma mesa e três cadeiras.
— O que faço da minha vida é problema meu, não seu. Você… — Já ia
dizer para que ele fosse se danar, mas ver aquela sala parecida com aquelas de
interrogatórios que vi na TV me deixou furiosa.
— Irina… — começou Jules, mas eu estava com os punhos cerrados e dei
um passo na direção de Matteo. Julian me puxou de volta.
Matteo estava à minha frente, ainda calado, mas seu rosto era como pedra.
— Só pode ser brincadeira, não é? — tentei me controlar para não socar sua
cara. — O quê? Nos trouxe para nos interrogar nessa sala? Talvez pegar suas
facas e arrancar nossas unhas como um bando de mafiosos desgraçados?!
Ele suspirou e expirou algumas vezes como se fosse para se controlar.
— Você devia ficar quieta e sentar lá naquela cadeira agora. — Seu tom era
mortal. Era o seu tom de capo, assim como Nikolai usa quando dá ordens aos
seus homens. — Assim evitamos que fiquemos aqui a noite toda.
Eu ignorei a forma que ele falou comigo, como se eu fosse algum de seus
homens, e não a garota que um dia ele fodeu, mas talvez seja por isso que
Matteo pense que sou uma qualquer. Com certeza ele pensa assim, Matteo
mesmo disse isso quando ficamos juntos.
O que mais me dói é que com certeza ele jamais tratou Evelyn como estava
me tratando. Eu não devia ligar para isso ou ter ciúmes dela, afinal, ela tem um
namorado que é um movimento de homem, mas no fundo eu tinha ciúmes dela
com Matteo, mesmo ele não me pertencendo.
Eu me sentei no banco toda dura como uma tábua, poderia retalhá-lo e
mandá-lo ir pastar, mas estava sem energia demais. Esgotada, na verdade, ainda
mais depois das paredes da memória que foram derrubadas. Mas deixei essa dor
e lembranças para lidar depois.
Agora eu só queria terminar logo isso, me afundar em minha cama e chorar
por um longo tempo. Meu peito doía, quase me deixando sem ar, mas ignorei a
dor nesse momento, ou desmoronaria na frente dele. Isso jamais aconteceria.
Jules se sentou do meu lado, mas notei sua sobrancelha erguida, com
certeza estranhando por eu ceder tão facilmente, sem revidar, a ordem de Matteo,
mas nesse momento só quero que isso acabe logo. Isso sem contar a minha
cabeça, que parecia estar explodindo, acho que devido à pancada que recebi no
carro.
— Vai logo com essa merda, porque tenho mais coisa para fazer do que ver
sua cara. — Meu tom saiu seco e frio, embora eu também estivesse fria como
uma maldita geleira, se não pior, mas não liguei para sua expressão sombria e
seus olhos estreitos devido ao meu tom.
Quando que um dia eu pensei que iria me apaixonar assim, dessa forma?
Claro que sabia que ia me casar, mas pensava que meu casamento seria sem
amor, assim ficaria mais fácil suportar quando meu futuro marido me traísse,
porque isso com certeza iria acontecer, mas como me caso com um homem se
amo outro? Como vou ser feliz algum dia com isso?
A vida é realmente é uma merda! Por que isso aconteceu comigo? Podia ter
me apaixonado por Julian, já que ele trabalhava para a máfia do meu irmão,
embora o cara fosse um tremendo de um mulherengo.
Matteo ignorou meu tom e fez sua pergunta.
— O que eu quero saber é: por que tem homens atrás de você? É alguém
atrás de seus irmãos? Se for, precisa avisá-los para que mandem alguém para
protegê-la ou levá-la para a Rússia. — Tinha algo no seu tom que não consegui
identificar.
Eu achava que ele se importava e não queria que eu fosse embora, mas
também pode ser só uma ilusão minha. Igual tive quando ele jogou fora o pôster
do Ian e dos outros caras que eu tinha na parede do meu quarto. Fiquei
esperando por ele durante semanas e nada de ele aparecer. Às vezes a gente
deseja tanto as coisas, mas no final não acontecem, no final não é real, não
passam de ilusão, fruto da nossa imaginação. Porém, por um breve segundo eu o
vi se encolher assim que falou de eu ir embora, porque Matteo não liga para
mim, não romanticamente. Só Evelyn importa assim para ele.
— Cadê Luca? — sondei. Se ele estivesse aqui, eu não precisaria falar com
Matteo.
— Isso não é com ele, mas, sim, comigo, então me diz logo no que se
meteu — falou.
Eu devia retrucar, mas não queria prolongar as coisas, precisava ficar um
pouco sozinha, de preferência, longe dele, pelo menos até minha dor passar.
— Conhece Sírios, o dono de várias imobiliárias aqui em Chicago?
Ele assentiu e sua expressão se tornou mortal, isso se ainda fosse possível.
— Por que diabos Sírios está tentando matar você? — Seu tom saiu alto.
Afiado como uma faca e frio como uma geleira do Polo Norte.
Eu suspirei e contei tudo a ele sobre os dois homens na lanchonete, eles
indo presos, embora eu duvidasse de que fossem de fato ficar presos, ainda mais
se Sírios estivesse envolvido.
— Por isso aquele garoto estava preocupado com você? — Não era uma
pergunta.
— Sim, o namoradinho dela — respondeu Jules, empurrando meu braço
com seu ombro.
— Ele não é meu namorado, somos amigos — retruquei. — O nome dele é
Jerry.
— Você teve um lance com ele, por isso ele ficou todo apaixonado.
Eu olhei mortificada para ele.
— Isso não é verdade. Certo, ele pode gostar de mim, mas não tem nada a
ver com nós termos ficado juntos — falei.
— Querida, você tem esse efeito nos homens, você os domina sem ao
menos ficar com eles. — Ele piscou com um sorriso provocativo. — Por que
acha que não fiquei com você ainda? Porque no dia em que a tocasse eu seria um
homem domado.
Eu ri alto, não ligando se não era hora para isso. Merda! Estávamos
tratando de um assunto sério e ele aqui, falando de garotos que se interessaram
por mim.
— Podemos resolver isso hoje, se você tiver mudado de ideia, garanto que
não se apaixonará por mim… — Fui cortada após um punho bater na mesa, nos
fazendo pular, pelo menos eu.
Eu estreitei meus olhos para um Matteo furioso à minha frente.
— Você não está ficando com ele — rosnou com dentes trincados.
Eu poderia retrucar e mandá-lo ir se danar, mas não daria esse gostinho a
ele.
— Vamos ao que interessa, pois tenho um encontro ao sair daqui. — É claro
que eu não ia ficar com Jules, só disse isso para Matteo ver que não tem controle
sobre mim. Porra! Ele se declarou mais cedo para minha melhor amiga.
Eu achei que ele fosse discutir, mas Matteo ficou calado, porque com
certeza não se importa, só ficou bravo por termos fugido do assunto que está me
obrigando a me sentar aqui do seu lado. Em um momento ele se importa comigo
e no outro ele é frio como uma geleira.
— Eu sabia que tinha algo ali na hora que abraçou aquele garoto.
— Jerry — retruquei.
Ele me ignorou.
— Mesmo sabendo dos perigos, você saiu e foi se encontrar com esse…
— Julian — terminou o meu amigo. — Ela me ligou para conseguir
informação sobre Sírios, e consegui tudo, está no meu carro. E também sobre
Hung Shu. Embora não o suficiente para eles ficarem um bom tempo na cadeia.
— Por que você quer algo contra eles? Claro que sei o que fazem, mas por
que você se meteu nisso? — Ele olhou para mim de lado. — É só pelo lugar da
mãe daquele garoto? Por isso resolveu caçar uma briga?
Eu dei de ombros, não querendo falar tudo sobre mim, ainda mais com ele.
Não queria estar aqui, podia estar em qualquer lugar, menos perto dele.
— Não posso deixar que dona Benita perca seu patrimônio, tudo porque um
canalha quer fazer hotéis ou seja lá o que for, não vou permitir isso. — Meu tom
era decisivo, não mudaria minha opinião.
Matteo riu com uma mistura de pesar e pavor, mas tinha outras emoções ali,
como raiva, e parecia direcionada a Sírios. Ainda bem.
— Não vai permitir? Você não sabe que tipo de homem Sírios é. — Não era
uma pergunta, e sim uma declaração feita com tom ácido.
Suspirei.
— Oh, eu sei, um homem capaz de me matar, mas não ligo, só não vou
deixá-lo ganhar de forma alguma — falei sem deixar seu tom me fazer ter medo.
— Ele pode te machucar, sabe disso, não é? Igual aconteceu hoje indo atrás
de você. — Seu tom era sombrio, só não sabia dizer se era por minha teimosia
ou por esse cara estar atrás de mim.
— Eu não ligo, mas não vou deixar dona Benita perder o que tem porque
um cara quer assim. — Fui firme na minha decisão e não mudaria.
— Você não pode lutar contra isso — respondeu ele. — Eu vou te ajudar.
— Não quero sua ajuda — declarei com veemência. Isso era verdade.
Ele arqueou as sobrancelhas negras e perfeitas diante da minha tenacidade.
— Não? Então por que veio direto para minha boate? — sondou.
— Eu vim à procura de Luca, não de você — retruquei. — Prefiro buscar
ajuda de Shadow ou dos meus irmãos.
— Por que não quer minha ajuda especificamente? — perguntou, mas
continuou antes que eu respondesse: — Porque, se não quiser minha ajuda, Luca
não irá ajudar, tampouco Shadow.
— Ainda restam seus irmãos, Irina, vamos pedir a ajuda deles — falou
Jules.
— Vai mesmo trazê-los da Rússia só para solucionar esse problema, sendo
que posso resolver também? — interveio Matteo, me olhando de esguelha.
Matteo tinha razão, eu não podia trazer meus irmãos aqui e envolver os dois
nisso, embora eu soubesse que tanto Nikolai quanto Alexei podiam resolver
todos meus problemas, com esse cara, pelo menos.
Nikolai e Alexei estavam com problemas na Rússia, acho que com outro
chefe da máfia, não sei bem, eles não me deixavam saber dessa parte.
Preciso ajudar dona Benita a não perder seu sustento. Também proteger
meus amigos, não os quero no meio desse fogo cruzado, porque talvez esses
caras resolvam trazê-los para isso. Não posso deixar que aconteça.
Eu faria esse sacrifício por eles, por meus amigos e pela dona Benita.
— Tudo bem, vou aceitar sua ajuda — soltei essas palavras como se tivesse
sal na minha língua. Quase as trouxe de volta, mas fui firme em minha decisão.
Ele sorriu maroto, esse sorriso lindo dele me deixou toda molhada, tive que
me segurar para não me remexer no banco.
Meu instinto dizia que eu não devia fazer acordo com o diabo, mas no
fundo ele tem algo doce, embora outras vezes fosse frio e sombrio, uma mistura
nada boa, devo mencionar. Espero não me machucar mais no final. Tarde demais
para isso, pensei amarga.
— Eu acho… — comecei, quase dizendo que me arrependi, mas ele me
interrompeu.
— Tudo bem, Samuel, leve o garoto embora para sua casa, eu tomo conta
de Irina — falou com um homem vestido de terno preto, o que combinou com
ele. Sua expressão era sombria. Corpo forte e olhos escuros, eles me lembram o
vácuo que absorve tudo e não devolve nada.
Samuel assentiu.
— Sim, senhor.
— Eu não vou deixar Irina com você. — Jules se pôs de pé num salto.
— É claro que você vai com ele. — Seu tom não deixava espaço para
discussão. — Não vou ficar aqui discutindo com você. Preciso falar com Irina.
— Eu não confio em você com ela. — Jules chegou mais próximo de mim.
Matteo riu.
— Eu já a protegi antes, acho que posso fazer de novo. — Seu tom tinha
uma promessa ali.
Eu queria dizer que não ia ficar com ele, mas estava cansada demais e sem
energia para lutar e argumentar, só queria que hoje acabasse e eu me afundasse
na minha cama. Amanhã estaria renovada e as portas das lembranças estariam
fechadas de novo. Assim eu esperava.
— Está tudo bem, Julian, pode ir com ele, depois te ligo ou eu vou à sua
casa… — comecei, mas Matteo me cortou.
— Isso não vai acontecer — rosnou a meia voz. — Você não vai para a casa
dele.
Eu ignorei Matteo e cheguei mais perto de Jules. Ele me puxou para seus
braços, beijando minha testa. Ele sempre fazia isso, mas agora sua boca estava
indo para os meus lábios, como se fosse me beijar. Não sei por que razão ele ia
fazer isso, teve tanto tempo e nunca chegou em mim.
— Porra! Você quer morrer? — sibilou Matteo, puxando meu braço, e me
levou para longe de Jules. — Agora acho melhor você ir, antes que eu perca
minha mente.
Jules fechou a cara, mas o ignorou, e sua atenção estava em mim.
— Você me liga quando chegar à sua casa? Se precisar de mim, estarei lá na
mesma hora.
— Ela não vai precisar de nada. Agora vai embora, antes que eu faça algo
estúpido — grunhiu Matteo.
Meu coração tremeu com isso, porque se ele fizesse algo, iria morrer, não
posso deixar isso acontecer, então convenci Jules a ir, dizendo que depois ligaria
quando chegasse em casa.
— Então, o que mais você quer saber? — perguntei assim que estávamos
sozinhos.
Ele suspirou.
— Por que está com raiva de mim? — sondou ele, realmente curioso, e
pareceu triste.
— Não vim aqui para isso — eu me esquivei. — Se terminou, me leve para
casa ou eu chamo um táxi, meu carro ficou no parque, quando saímos às pressas
de lá.
— Droga, Irina! Só quero saber por que me odeia tanto, foi por aquelas
palavras que eu disse quando transamos? Não era aquilo o que eu queria dizer,
não foi só um foda entre a gente, e você sabe disso. — Pela primeira vez seu tom
não estava sombrio, mas triste.
Odiá-lo? Matteo estava louco? Eu estou apaixonada por ele, perdidamente,
mas ele não precisa saber disso. Não foi só o que ele disse que me deixou
grilada, embora fosse isso também, mas o que ele declarou a Evy, e também na
boate quando sentiu ciúmes dela com Shadow. Isso não devia fazer diferença,
porque ele não sente o mesmo que eu. E ninguém decide a quem amar, por isso
eu precisava ficar longe, até a dor e as feridas sumirem.
— Não odeio você, Matteo — declarei.
— Era eu que devia estar, já que bebeu demais e acabou esquecendo o que
houve naquela noite no seu apartamento.
— O que houve? E que promessa foi aquela que você quebrou? — avaliei
tentando lê-lo, mas foi impossível.
Ele não respondeu após vários segundos pensando. Em quê? Não faço
ideia, o cara é realmente complicado.
— Eu acho melhor ir para casa. — Eu fui passar por ele, mas Matteo
segurou meu braço, meu corpo ficou colado no dele, tão perto que podia sentir
sua quentura sobre a minha pele. Isso me lembrou dos sonhos que tive com ele
nessas últimas semanas.
— Eu sei que às vezes sou grosso, e até frio, mas é melhor assim. — Seu
tom de voz tinha uma pontada de tristeza que apertou meu peito.
— Eu não entendo você — sussurrei. — Sei que foi um erro aquela noite,
só vamos esquecer.
— Isso é impossível, jamais vou esquecer a melhor noite da minha vida —
declarou. — Me abri com você aquela noite no seu apartamento, expressei como
me sinto em relação a nós, mas você se esqueceu.
Não entendia por que, então, ele reagiu como se não tivesse gostado do que
tivemos todo esse tempo, e vai se abrir quando eu estava bêbeda? Eu sei que ele
amava Evelyn, mas talvez ele gostasse um pouco de mim, essa era a esperança
que eu tinha. Era uma droga não me lembrar do que houve naquela noite quando
bebi demais.
— Foi mesmo a melhor noite da sua vida? — sondei, me sentindo frágil. —
Você me disse isso quando estava chapada? Devia ter esperado eu ficar sóbria.
Acho que porque tudo aconteceu ao mesmo tempo, ele declarando o que
sentia por Evy e depois eu sendo perseguida, me fazendo lembrar o que eu
queria esquecer.
— Sim para as duas primeiras perguntas, e eu sei que deveria esperar você
estar sóbria, mas não consegui ver você sofrendo, precisava dizer a verdade —
disse ele tocando a ponta do meu nariz e depois me puxou para fora da sala, para
sairmos da boate, que já estava lotada, com as pessoas festejando. Bebendo e
dançando. — Vamos, Irina, eu vou levar você para casa, amanhã conversamos.
— Posso ficar aqui na festa? Você pode ir fazer o que ia fazer, posso esperar
até me levar para casa. — Não estava mesmo querendo ir embora, só queria
beber um pouco e tentar esquecer tudo sobre o que revivi sendo perseguida, mas
agora sabendo que Matteo gostou do que tivemos me senti aliviada e queria ficar
ao lado dele.
Sua resposta foi automática.
— Não.
Suspirei com raiva.
— Pode então me deixar no Jules… — Ele me cortou e me imprensou na
parede.
— Irina, não me provoque, já aturei hoje mais do que pensei ser possível,
minha paciência está no limite. Se for para a casa daquele garoto posso acabar
matando-o. — Seu hálito maravilhoso banhou meu rosto.
Eu estava a ponto de responder que ele era um homem confuso, pois na
mesma hora que se importava comigo, já estava distante. Acho que tinha dupla
personalidade.
— Preciso falar com você agora, capo — disse Luca perto de nós dois.
Eu não vi Luca se aproximando, ou ele era silencioso ou meus sentidos
estavam em Matteo e em seu corpo perto do meu, me deixando quente e
necessitada, embora a música também estivesse rolando alta no salão da boate.
Matteo se afastou, mas antes sussurrou em meu ouvido com um tom cálido
que quase me fez derreter e minha calcinha encharcar e descer pelas minhas
pernas.
— Não saia daqui, pois ainda não acabei com você, estou louco para
degustar essa boceta, que aposto que está toda molhada para mim. Posso sentir a
forma como sua respiração está fraca e ofegante — falou com tom sexy. — Está
incomodada com minhas palavras? Espere que vou cuidar de você.
Eu não sei por que ficava abobada com suas palavras. Era para eu ter forças
e me afastar, mas não conseguia, ainda mais com ele próximo de mim assim.
Lembro-me do meu sonho com Matteo, de todas as noites que acordo com um
baita tesão.
Eu só assenti, muda, não conseguindo achar minha voz, assim que ele saiu e
foi com o Luca para uma sala ali perto. Sei que era para eu ficar aqui e esperar,
mas precisava de ar fresco ou algo gelado, optei por gelado, afinal, não arriscaria
ir para fora da boate, não quando poderiam estar lá fora me esperando.
Eu fui para o bar, embora não estivesse muito produzida para uma festa,
mas saia jeans e top também eram uma boa roupa para uma balada.
— Preciso de uma bebida — pedi assim que me sentei no banco do bar.
O rapaz veio me atender com um sorriso bonito. Ele era moreno e com
bigode pequeno.
— Tem documento? — perguntou. — Porque parece que você é menor de
idade.
Eu sorri doce.
— Fiz dezenove alguns meses atrás — falei a ele. — Então posso beber.
— Só liberamos bebida para maiores de vinte um — comentou ele.
Eu fiz uma careta.
— Quem fez essa regra absurda? — rosnei com um suspiro exasperado.
— Não sei. — Sorriu ele. — Talvez o presidente? Inclusive, aqui só se pode
entrar quem tem mais de vinte um anos, então como passou pela segurança?
Merda! Eu devia ter mentido minha idade, mas quando entrei aqui não tinha
esse tanto de pessoas.
— Eu vim com… — Eu me virei bem a tempo de ver Matteo vindo em
minha direção, mas uma mulher alta e morena estava ao lado dele. Ela segurava
seu braço.
Aquilo foi como um soco no estômago, então ele pediu que eu esperasse
aqui só para ele ir ficar com outra mulher? Filho da puta, eu que não ia ficar aqui
vendo essa cena, já bastava vê-lo com Evelyn. Pelo menos eu sei que nunca vai
haver nada entre eles, porque ela ama Shadow.
Assim que nossos olhos se encontraram, eu me virei e saí correndo em
direção à saída, não ia ficar aqui vendo-o com outra pessoa. Pegaria um táxi e
iria embora daqui, não olharia mais para sua cara e também não pensaria mais
nele.
Eu o ouvi me gritando, mas não quis parar, só queria desaparecer dali. Se
ele não sabia o que eu sentia, naquele momento soube que eu o amava.
Eu estava prestes a entrar em um táxi, que parou para mim, quando Matteo
pegou meu braço e me puxou para seus braços. Eu o empurrei.
— Irina…
— Me solta, estou indo embora. — Minha voz estava falha, devido às
lágrimas que desciam por minha bochecha. — Por favor, Matteo, me deixa ir…
Ele não respondeu e me puxou para seu carro, dispensando o taxista.
Eu estava tão esgotada, que não falei nada. Se tentasse, minha voz ia falhar
com certeza, igual agora há pouco. Assim que entrei no carro, fechei meus olhos,
não querendo pensar no meu dia hoje, que foi uma merda. Parecia que a cada
hora piorava mais.
Ser perseguida, fazendo-me recordar dos meus pais, depois sentir que teria
Matteo e logo a seguir vê-lo com outra mulher, isso me esgotou, tanto física
quanto mentalmente. Eu só queria esquecer que hoje existiu.
— Irina…
— Não quero ouvir nada, Matteo, só quero esquecer que esse maldito dia
existiu, — falei com a cabeça apoiada no banco. — Encontrar aqueles homens…
ser perseguida, me trazendo lembranças que não quero.
— Eu só quero que saiba que Mália é minha prima, não outra coisa —
respondeu. Depois suspirou. — Se abre comigo, Irina. Eu sei que gosta de mim,
você me disse quando estava bêbada. Desde quando me ama?
Eu me xinguei por dentro por ter comentado isso com ele. Um lembrete,
nunca mais vou beber na vida, pensei amarga. Não queria falar do que eu sentia
por ele, não queria ouvir sua resposta de que não sentia o mesmo, essas coisas.
Não tinha energia para isso hoje. Mas meu coração aliviou ao saber que ele não
estava com outra mulher.
Eu não sei por que, mas resolvi falar sobre os meus pais, assim não
respondia sua pergunta e também tirava isso que estava preso em meu peito me
sufocando como uma doença.
— Quando eu era pequena estava no parque, brincando com um garoto, não
lembro o nome dele, mas ele era uma criança normal. Quando falo normal, quero
dizer que ele não era da máfia.
Ele não disse nada, mas o ouvi dar um suspiro.
— Eu estava brincando no escorregador que tinha no parque, quando vi
dois caras, não muito longe, nos vigiando. Eu devia ter dito aos meus pais que eu
os vi, mas por alguma razão eu fiquei quieta. Talvez, se eu tivesse dito alguma
coisa, eles não tivessem sido assassinados a caminho de casa, naquele mesmo
dia. — Eu ri amarga, fechando os olhos de novo, porque os tinha aberto para
olhar Matteo antes, quando ele falou sobre sua prima. — Quanta ironia!
— Irina…
— Eu devia tê-los alertado, Matteo, porque depois, naquela noite,
estávamos indo para casa quando fomos emboscados no meio do caminho. Eu
estava com eles no carro e os seguranças, não sei quantos. Talvez dez carros ou
mais, não sei bem, foi tudo tão rápido que mal deu para assimilar.
“Irina, vai ficar com Kriger”, disse mamãe com um suspiro triste.
— O carro havia parado no meio da estrada, os seguranças estavam nos
cercando com seus carros, era noite, mas eu ouvia os tiros por todos os lados.
Papai insistiu que mamãe fosse junto, mas ela não quis deixá-lo. Dá para
imaginar um amor assim? Ficar e aturar tudo junto, correndo o risco de os dois
morrerem… — Não era uma pergunta.
Meus pais se amavam, isso era raro no meu mundo, quando acontecia
tínhamos que dar graças a Deus.
— Lembro-me de Kriger me puxar para fora do carro e tampar minha boca
para eu não gritar. Ficamos escondidos no mato enquanto os carros partiam com
mamãe e papai, depois só soube do acidente, que foi fatal para os dois.
Eu senti o carro parando, mas não sabia onde estava, também não me
importei.
— É minha…
Mãos abrasadoras traçaram meu rosto, me fazendo abrir os olhos, e
encontrei suas duas pedras de ônix me encarando.
— Não é sua culpa, ouviu? — Seu hálito quente e maravilho banhou meu
rosto. Ele se aproximou de mim, os lábios em meu rosto, sem nunca tirar os
olhos dos meus. Então ele beijou as lágrimas que desciam em um gesto doce e
sussurrou algumas palavras em italiano, reconheci como linda, doce e outras
palavras que realmente me deixaram um pouco melhor.
Eu não pensei em nada, só queria esse homem agora, queria senti-lo de
novo. Subi em seu colo, colocando os joelhos de cada lado. Beijei-o de forma
intensa e faminta.
Passei os braços em volta de seu pescoço, me aconchegando mais nele.
Nessa hora não queria nada entre nós.
Seus lábios eram famintos, de forma que me deixaram sem fôlego, quente,
desejosa, louca para tê-lo dentro de mim. Depois que o vi hoje com Evelyn,
descobri que não posso ficar perto dele, não assim, como estou agora, mas posso
fazer uma despedida, afinal meu corpo está louco para ter esse homem. Se ele ao
menos dissesse que sentia algo por mim, lutaria para ter seu coração também.
Sei que ele disse algo quando eu estava chapada, mas não me lembro, se eu
lembrasse ficaria mais fácil não desistir dele e lutar para que me amasse ou que
Matteo me dissesse de novo, mas agora estando sóbria. Mas ele não fez, só disse
que gostou de transarmos, isso não é suficiente para eu ficar e lutar por ele.
Ele abaixou meu top, deixando meus seios à mostra, mas logo o abocanhou,
circulando com a língua o bico do meu peito, me fazendo gemer. Eu tentei tirar
sua camisa, mas sua mão segurou a minha, então me afastei, ou tentei.
— Tira — respondeu rouco.
Eu sei que devia estar preocupada com ficarmos aqui na rua, mas nessa
hora não poderia ligava menos, ainda bem que os vidros eram escuros. Embora
se a polícia batesse aqui, eu fosse capaz de atirar neles eu mesma.
Tirei seu terno e camisa e me deliciei com seu peito duro e malhado, queria
que estivesse claro para eu poder ver e apreciar ainda mais.
Ele deu puxão em minha calcinha, rasgando-a e levantando um pouco
minha saia. Não demorou muito e ele estava me preenchendo como nunca. Suas
mãos se movimentavam em todos os lugares, sua boca capturou a minha e me
derreti rebolando em cima dele.
— Isso, Irina, rebola no meu pau — rosnou puxando meu cabelo um pouco,
me fazendo gemer alto não ligando para quem ouvisse.
Nesse momento só queria sentir o prazer de ser tocada por esse homem,
sentir seu cheiro, toque, calor e tudo nele eu amava, tanto que que doía.
— Matteo, eu estou…
— Goza para mim, querida — ordenou e sua voz foi direto para o meu
centro.
Eu explodi, clamando seu nome, não queria esquecer esse momento, mas
precisava seguir em frente, não podia ficar sonhando com ele como fiz desde o
dia que eu o conheci. Maldição! Até sonhava transando com o cara.
— Você está bem? — sondou ele após alguns segundos. Respirávamos
irregularmente.
Eu estava com a cabeça em seu pescoço, respirando seu cheiro, que eu
amava. Tudo nele eu amava. Seu cheiro rico e masculino, sua risada sexy e
quente, sua voz rouca e ao mesmo tempo sombria. Mas precisava dizer adeus
agora ou depois seria pior, ainda mais ter sexo causal com o cara que eu amava.
Eu saí de cima dele e me ajeitei no banco, abaixando minha saia e ajeitando
minha roupa.
— Estou sim — menti, forcei a minha voz a sair normal.
— Porra! Nós não usamos preservativo — amaldiçoou. — Isso nunca
aconteceu antes.
Merda! Era só o que faltava, eu não podia nem transar, ainda mais ficar
gravida de um mafioso.
— Não se preocupe, eu tomo remédio, então não corro perigo de engravidar
— comentei com a voz mais calma possível. Assim espero. — Meus irmãos
surtariam caso isso acontecesse, afinal, eles selaram meu destino.
— Destino? — Ele vestiu sua roupa, mas o senti aliviado depois que eu
disse não ter perigo de eu engravidar.
— Quando acabar meus estudos eles vão arrumar um casamento para mim,
então não acho que meu futuro noivo vai me aceitar grávida de outro homem. —
Suspirei olhando ao redor, parecia uma rua deserta, cheia de árvores. — Pode me
levar para casa?
Eu tinha esperança de ele contestar ou argumentar, mas ele não fez. Aliás,
Matteo não fala muito, entretanto queria que se abrisse comigo dizendo o que
realmente sente por mim, porque sinto que ele gosta de mim, só não sei o
quanto. Não posso ficar com um cara dividido no muro, por isso vou deixá-lo
antes que eu quebre de vez.
Assim que ele disse as próximas palavras, parte de mim se partiu.
— Sim, vamos embora. — Seu tom não tinha emoção alguma.
Eu me afundei no banco evitando chorar, não ia fazer isso aqui, esperaria
para fazer sozinha em meu quarto.
Eu estava furioso com quem seguiu Irina até a boate, fiquei com mais raiva
quando soube de quem eram os homens. Sírios, o maldito bastardo.
Eu paguei uma imobiliária para conseguir terrenos para mim, claro que
sabia do que Sírios fazia e da sua falta de escrúpulos, mas deixei claro que não
queria que usasse seus truques sujos para conseguir os contratos do bairro no
porto.
O maldito mandou seguir Irina e seu amigo e quase a tiraram da estrada,
matando-a. Ele já era, porque ninguém toca em Irina e continua respirando.
Eu fui com ela até sua casa e a deixei lá após termos transado no carro, fui
um canalha por ter ficado com ela após ouvir a história que aconteceu com seus
pais, deveria ter contado a verdade a ela sobre o segredo que levo e que
atormenta minha alma, mas pela primeira vez tive medo de algo, medo de ver o
ódio nos olhos dela. Preferia a morte a isso.
Eu queria ir com ela para seu apartamento, mas não podia deixar Sírios
impune pelo que ia fazer com ela, assim como seus homens.
Ela estava sozinha, sofrendo, pensando que eu não a queria mais, não
assim, na sua cabeça só estava transando com ela, não era preciso ser leitor de
mentes para saber disso. Senti e vi a dor nos olhos dela assim que a deixei. Ela
não se lembra do que disse a ela sobre eu não amar mais a Evelyn. Eu também
sou culpado de não revelar de novo, agora com ela sóbria, assim que terminar
aqui vou até Irina e falo o que disse naquela noite.
Tudo com ela é real, eu a queria, desejava e adorava, também amava, tudo
com ela é intenso e às vezes é como se eu fosse arrebatado.
Porra, isso não aconteceu comigo antes. Ela veio para me colocar de joelho,
e nem sabe disso, e vou colocar todos abaixo que toquem ou pensem em fazer
mal a ela.
Mas eu tinha desistido de lutar contra o que sentia por Irina há algum
tempo, era como nadar, nadar e morrer na praia.
Assim que resolvesse esse pepino do maldito Sírios, eu ia ficar com Irina e
dizer o que sentia por ela, que na verdade a queria de todas as formas possíveis,
não só agora, mas sempre, dormir e acordar ao seu lado.
Peguei meu telefone e liguei para meu primo.
— Olá, capo — cumprimentou ele num tom parecendo raivoso.
— Tem alguém com você? — Não era bem uma pergunta, porque ele só me
chama assim quando tem alguém por perto, e se não chamasse, na opinião das
pessoas, era um desrespeito.
— Posso dizer que sim — respondeu com aço na voz. — Meu pai e eu
estamos conversando sobre os negócios que temos com os MCs.
Eu liguei o carro e saí do único lugar que eu queria ficar, pode não ser agora
que ficarei aqui, mas vou em breve estar ao lado de Irina, depois de resolver
meus malditos problemas.
— Eu já falei que os MCs são nossos aliados e não quero mais falar sobre
esse assunto — meu tom era duro. — Não quero saber de problemas com eles.
— Acredito que papai ouviu isso agora, já que não pareceu ouvir muito
bem antes, não é? — Luca falou. — Coloquei no viva-voz, caso queira dizer
algo a mais.
— Eu entendi perfeitamente, tão claro como água, minha obrigação é
cumprir suas ordens, afinal, você é o capo. — Eu senti veneno em sua voz ao me
chamar assim.
Trinquei os dentes.
— Sim, eu sou e não vou permitir que me desobedeça de forma alguma.
Gosto de pensar que famílias ficam juntas. Acredito que isso não se perdeu na
nossa, a lealdade, não é? — Isso foi um alerta a ele, embora não tivesse lealdade
da parte dele e de alguns do meu mundo, mas em muitos tinha, com certeza.
— Sim, nós estamos juntos, capo, como família — disse, mas podia jurar
que foi forçado, como se tivesse falando através dos dentes cerrados.
Eu parei em um sinal e vi um casal de namorados atravessando o local. Sei
que não era hora para isso, para pensar em relacionamento, ainda mais com meu
tio querendo me derrubar, mas queria andar assim com Irina, segurar sua mão
enquanto andamos pela rua, em um passeio.
Foco, Matteo, agora se concentra, ou nunca fará nada disso, pensei.
— Ótimo — falei, voltando ao agora e deixando minha cabeça e meu
coração para resolver depois.
— Mais alguma coisa? — perguntou Luca. — Preciso encontrar alguns
fornecedores.
— Sim, agora preciso que cancele todos os negócios que temos com Sírios
Reis — ordenei passando a mão direita nos cabelos para aliviar minha raiva.
— O que você disse? — a voz do meu tio se elevou do outro lado da linha.
Eu suspirei.
— Você sabia que ele usava de ameaças para conseguir os contratos no
porto? — Eu sabia que sim, mas precisava ter certeza disso ouvindo da sua
maldita boca.
Ele suspirou.
— Capo, muitos não aceitaram vender seu patrimônio — tentou
argumentar, como se isso fosse motivo suficiente para fazer o que acabou
fazendo.
— Então acharam correto ameaçar as suas famílias e perseguir para
conseguir? — Eu estava com raiva, porque por um breve segundo não queria
estar ao telefone falando com Enzo, assim acabaria com ele, embora não pudesse
fazer isso, então é melhor que esteja longe agora, pensei amargo.
— Às vezes, para alcançarmos nosso objetivo, temos que perder algo —
disse Enzo como se isso explicasse tudo. — Temos que fazer sacrifícios.
Céus, o quanto eu queria acabar com esse homem chegava a doer meus
nervos. Pena que não posso fazer isso agora. Mas juro que vou fazer de tudo
para acabar com Enzo em breve. Eu só preciso ser paciente.
Eu sei que o velho desgraçado se aliou a Trider, à máfia russa, fez isso no
intuito de me derrubar e tomar meu lugar, assim poderia jogar seu veneno igual
meu pai fez por doze anos.
Não vejo a hora de colocar minhas mãos nele e fazê-lo gritar muito, igual
soube de algumas pessoas que Enzo eliminou, não falo só de gente ruim, mas,
sim, de mulheres também.
Eu sei o que já fiz e faço de ruim, como matar e não viver na lei
corretamente, mas estou certo de que se existir um Deus no céu e for me
condenar pelo que fiz, aceito isso, não vou me fingir de santo, porque não sou
assim. Se for para o inferno irei, mas Enzo e toda corja de pedófilos desgraçados
vão comigo.
— Não no meu poder, Enzo — falei com tom de aviso e ordem. — Eu não
tomaria um trabalho de uma pessoa ou a ameaçaria para conseguir algo. Se elas
quisessem vender por livre e espontânea vontade, tudo bem, senão
procuraríamos outro local, não foi esse o combinado? Ninguém me informou
que Sírios estava usando seu maldito método de conseguir o que quer. Embora
não devesse me surpreender, afinal ele é um maldito filho da puta.
— Ele usou de ameaça? — perguntou Luca com tom duro e mortal. — Não
é à toa que o maldito FBI está atrás dele.
— Preciso que você localize dois caras de Sírios, acho que foram presos
hoje. Se ainda estiverem presos, dê um jeito de serem soltos e também quero ter
um encontro com Sírios.
Ele suspirou.
— Sim, eu farei isso, não se preocupe — respondeu Luca. — Para onde os
levo?
Meu primo nunca perguntava os motivos quando eu mandava fazer algo,
Luca só cumpria a ordem, ao contrário do Enzo, que se pudesse me matava ele
mesmo.
— Leve-os para o galpão na Hills, e também quero Hung Shi lá…
— Soube que está no Japão há mais de três semanas, só volta semana que
vem — comentou Luca.
Eu franzi a testa, se ele está viajando então não forma homens dele que
seguiram Irina e o amigo dela, minhas suspeitas só confirmaram que foi mesmo
o bastardo do Sírios, e assim que eu colocar minhas mãos sobre ele, o verme vai
se arrepender.
Assim que desliguei segui para o hospital onde meu pai está internado, não
era por opção ou bondade, porque isso não tenho nem quero. Por mim ele ficava
apodrecendo lá até chegar a hora de sua ida para o inferno.
Eu precisava ficar de olho nas coisas e torcer para ele não acordar agora,
não antes de eu encontrar Dalila e ela decidir o destino dele.
Entrei no quarto e o vi ali, estirado na cama, com aparelhos apitando,
vegetativo, foi o que os médicos disseram do seu estado.
Estando aqui ao seu lado seria muito fácil matá-lo e alegar uma parada
respiratória. Mas eu precisava do miserável vivo, infelizmente. Assim que eu
achar Dalila acabo com Lorenzo, faço isso sem trazer suspeitas para mim ou
alguém da minha família.
Acredito que Dalila logo voltará para mim, estou à sua procura e a
encontrarei não importa onde esteja, aqui ou na maldita lua. Mas outra coisa que
estava me deixando inquieto sem ser meu tio era seu segredo e motivos por
tentar achar Dalila sem nos dizer nada.
Tem algo preocupante, o que todos vão achar quando descobrirem que ela
está viva em algum lugar desse mundo, seja como for, ela não voltou para casa
todos esses anos. Alguns vão até acusá-la de traição ou algo assim, preciso
eliminar todos os problemas que queiram cercar a minha irmã.
Quando ela chegar e souber do que nosso pai fez, aí ela decide se vai se
despedir dele ou não, mas no final ele será eliminado.
— Dalila está viva, sabia? — eu disse ao Lorenzo. Não sei se do jeito que
ele estava ouvia alguma coisa, mas precisava que Lorenzo soubesse — Mamãe
mentiu sobre Dalila ter morrido, então o que você fez com essas garotas, os
raptos, a vingança, nunca tiveram motivo, no final. Não que isso fosse motivo,
só uma mente doentia para pensar isso. Eu poderia dizer que sua vida depende
dela, mas isso não é verdade, porque assim que ela o vir eu mandarei você para o
inferno com passagem só de ida — sussurrei. — Talvez ela queira se despedir,
mas duvido muito, sabia? O que você fez com aquelas garotas foi
monstruosidade demais. As coisas poderiam ser diferentes agora, mas você ficou
cego em uma vingança que nunca existiu, e por culpa dela, hoje, eu não posso
ficar perto da mulher que eu realmente amo, a única que enche a minha
escuridão com luz. A única pessoa que não posso ter, por sua culpa, por ter
matado os pais dela. — Minha raiva era muita, mas me controlei. — Ela vai me
odiar por causa do que fez, culpou um casal inocente e o matou. Eu juro,
Lorenzo, que você não vai respirar nesse mundo, e, se o fizer, vou dar um jeito
de sofrer cada lágrima que Irina vai derramar assim que souber o que você fez
com os pais dela.
Cerrei meus punhos assim que entrei no galpão onde Sírios e os outros
estavam, o velho de meia-idade com barriga de cerveja.
Agora ele vai aprender que ninguém se mete com a minha garota.
Sírios me olhava furioso por estar aqui. Oh, ele não viu fúria ainda.
— Você não pode terminar a nossa parceria — começou, mas eu o cortei
com meu punho em sua boca, fazendo-o cair longe no chão.
— Seu miserável de merda, eu faço o que eu quiser, não sigo as ordens de
ninguém, muito menos de um verme como você — sibilei com os dentes
trincados. — Eu não sou obrigado a fazer negociação com ninguém.
Eu sorri de modo sinistro. Ele não tem ideia do que sou capaz de fazer. Da
besta que está em mim querendo ser solta, e estou louco para deixar isso
acontecer. Minha cabeça não estava em um bom lugar, ainda mais depois de ver
meu pai e deixar minha garota em seu apartamento sozinha, sem poder estar com
ela agora. Então esse merda acha que pode me desafiar?
— Como ousa mandar seus homens ameaçarem, extorquirem e
machucarem pessoas para fechar um maldito contrato? Sabe o que você pode ter
feito? O FBI pode estar agora na minha cola por sua estupidez. — Sentei em
uma cadeira na frente dele, caído no chão, e peguei minhas lâminas nas minhas
botas.
Seus olhos estavam cheios de medo.
— Eu estava fazendo meu trabalho, de que maneira ia conseguir fechar os
contratos sem fazer isso? — tentou dizer, mas o silenciei com o olhar.
— Tem vários jeitos, sempre tem um meio termo para conseguir qualquer
coisa. — Estalei os dedos para Samuel e Frank, que estavam segurando por trás
os caras de Sírios.
— De frente para o capo — sibilou Samuel fazendo os vermes se
ajoelharem na minha frente e ao lado de Sírios.
— Eu queria conseguir aquela área do jeito certo, oferecendo dinheiro a
eles, não ameaçando suas famílias para que assinassem o contrato. — Apontei a
ponta da adaga na sua direção que se encolheu. — Meu pai tinha uma lei
diferente da minha, não sou ele e jamais serei. Agora vou provar isso a você.
— Não precisa nos matar, não chegamos a machucar ninguém, só os
ameaçamos — Sírios começou a suplicar.
Eu maneei a cabeça para o lado.
— Você cometeu um erro hoje que não vou tolerar nem deixar impune.
Tentou tocar em alguém que não deveria.
Por culpa deles Irina estava assombrada com as lembranças da morte dos
pais dela. Não devia ser fácil para ela recordar aquele momento, a culpa que ouvi
e vi não era pouca, tudo por esses desgraçados a terem perseguido.
Eu sei que algumas lembranças devemos deixar trancadas em nossa
memória para o nosso bem e sanidade, mas o que houve hoje destravou o que ela
guardava, fazendo Irina chorar e quase implorar para que eu ficasse com ela.
Maldição! Como se isso fosse possível, a mulher já estava em cada célula do
meu corpo. Se eu pudesse tirar sua dor com as mãos, eu faria. E fiz, pelo menos
naquela hora.
— Está falando da cadela que nos fez ficar presos por horas? — rosnou
Flin, o cara de Sírios. — Maldita seja com sua puta sorte! Não consegui pegá-la
na perseguição nem no seu apartamento essa noite.
Luca foi para deixá-los livre da cadeia, mas os dois já estavam soltos, Sírios
conhecia pessoas na delegacia também, isso deve ter ajudado a soltura deles.
— Você está assim só por causa de uma… — começou Sírios, mas se calou
devido à minha fúria.
Isso foi a gota d’água. Eu me levantei às pressas, chutei Sírios na barriga e
fui para Flin com minha adaga em sua garganta.
— Você entrou no apartamento dela, porra?! — rosnei. Olhei para o Samuel
e acenei para ele ir até a casa de Irina checar como ela está. O bom foi que esse
crápula aqui disse que não a encontrou, então Irina deve estar bem.
Minhas mãos tremiam de tanta raiva, acho que isso era eufemismo, eu
estava era furioso.
— Você vai morrer por ousar tocar nela ou sonhar em fazer mal a ela.
Ninguém faz isso e continua vivo. Esse foi o seu erro, querer machucá-la —
rosnei com frieza, aliás, eu me sentia frio.
— Ela… — Eu o cortei enfiando a lâmina em sua garganta e puxando-a.
Deixei o verme no chão acabando de morrer, não ligando para isso, e olhei
para o outro cara do lado de Sírios. Os dois estavam de olhos arregalados.
— Eu não estava com ele na perseguição do carro, só na lanchonete, ela
falou que pediria sua ajuda e dos MCs, falei para Flin não se meter nisso —
disse Boris. — Mas ele não ouviu e a acusou por ter ficado algumas horas na
cadeia.
Eu o avaliava para ver sua sinceridade, conhecia um mentiroso de longe,
sou bom em detectar mentiras, ele estava dizendo a verdade.
Sírios estava branco como papel ao ver seu homem caído e morto em uma
poça de sangue.
— Eu não mandei perseguir ninguém, já estava com muitos problemas com
eles dois presos. — Sírios apontou o queixo na direção de Boris e Flin morto. —
Devia ter deixado eles presos mesmo. Vai nos matar também?
— Não vou matar você, Sírios, mas vai ter que devolver todos os contratos
que fez sob ameaças e também o dinheiro. Eu vou dar um jeito de construir o
que quero em outro lugar. — Limpei minha faca na roupa de Flin e a guardei no
bolso. — Se você se meter em meu caminho de novo não haverá misericórdia.
Aliás, desconheço essa palavra.
— Obrigado por poupar minha vida — falou ele com a voz grossa.
— Não poupei porque sou bom e misericordioso, apenas não sou estúpido
de fazer isso tão perto do FBI prender você e confiscar seus bens. Não quero eles
na nossa direção — falei. — E quando for preso, é melhor manter sua boca
fechada sobre qualquer coisa que nos envolva, ou será comida de tubarão.
Nesse momento, o restante das provas contra Sírios estava sendo entregue à
polícia em anonimato, então o verme imundo vai passar um bom tempo preso.
— Não vou dizer nada a ninguém — jurou Sírios e também Boris.
Eu saí do galpão indo ver como Irina estava, mas Luca me parou lá fora.
— Meu pai saiu da cidade de novo, com certeza procurando Dalila,
precisamos ser rápidos, eu sei que está preocupada com Irina, pude ver que se
importa com ela, mas precisamos disso — disse Luca.
— Sim, Irina é, por isso não posso ficar assim preocupado com ela. —
Suspirei passando a mão no telefone e liguei para Samuel, que atendeu no
primeiro toque. — Como ela está?
— Está bem, agora está dormindo no apartamento de sua amiga, conferi e
está seguro, vou ficar aqui essa noite, não se preocupe, chefe.
Isso aliviou meu coração, mesmo estando louco para encontrar Irina e ao
mesmo tempo querendo ficar o mais longe possível, porque minha proximidade
a machuca de forma que eu não queria, ainda mais quando a verdade vier à tona.
— Não precisa, estou chegando. — Não podia ir embora e não ir ver como
ela está agora.
— Se está seguro sobre ela, precisa contar a verdade, Matteo — falou Luca
assim que desliguei o celular. — Vai ser duro, mas se ela o ama vai perdoar,
afinal você não tem culpa pelo que tio Lorenzo fez.
Eu sabia disso, mas mesmo assim ainda apertava meu peito a dor que ela irá
sentir assim que eu revelar a verdade.
— Eu vou contar a verdade.
Assim que Matteo me deixou em frente ao meu apartamento, ele foi embora
sem nem ao menos olhar ou falar comigo outra vez depois que fodemos no
banco do seu carro. Eu que sou idiota por correr para ele, incapaz de resistir. Mas
precisava ser forte para cumprir a promessa de que hoje seria a última vez que
ficamos juntos.
Eu estava chegando ao meu apartamento no quarto andar, aqui não tinha
muitos inquilinos, Alexei cuidou dessa parte, meu irmão disse que não queria
ninguém perto de mim.
Somente Sara, a minha amiga, ficava nesse andar, mas como era fim de
semana, ela foi visitar seus pais. Ela me chamou, mas não quis ir, afinal,
precisava ajudar dona Benita no restaurante.
Assim que atravessei o corredor fui para abrir a porta, mas ela estava
aberta. Tremi parando, meu corpo gelou de medo, olhei para todos os lados no
corredor e não vi ninguém. Será que tinha alguém no meu apartamento? Os
mesmos que me perseguiram até Matteo?
Eu não ia ficar para saber, mas não podia sair correndo e fugir daqui.
Alguém entrou no meu apartamento, merda! Mas quem era? Eles estão lá
só esperando por mim?
— Oh, meu Deus, April… — Sara ia deixá-la hoje no meu apartamento
antes de viajar. E se eles tivessem feito algo com ela? Talvez Sara até estivesse
aqui…
Não, isso não podia acontecer.
Nesse momento estava preocupada com April e Sara, temendo que elas
estivessem aqui dentro na hora que as pessoas o invadiram. Esses caras não
podem tê-la encontrado lá dentro.
Eu não gostava de me apegar a nada, não desde que meus pais se foram,
mas tentei mudar isso quando me mudei para a América, quando conheci Sara,
Jerry, Matt e David. Bom, e há pouco tempo Evelyn. Com eles ao meu lado
comecei a querer mais do que um dia tive vontade. Conhecer um cara e me
apaixonar perdidamente por ele. Ser amada igual papai amou a mamãe.
Eu expirei, não pensando nisso agora, porque isso não vai acontecer, o
homem por quem me apaixonei jamais vai me querer de forma alguma.
Entrei na sala escura, tateei perto da porta à procura do interruptor e acendi
a luz, corri os olhos pela sala, mas aqui não tinha ninguém, talvez estivesse no
quarto.
— April — chamei, não querendo entrar muito na casa, e dar uma chance
para o bastardo que entrou aqui me pegar e acabar comigo.
Ela saiu correndo de baixo do sofá e veio na minha direção, e dei graças a
tudo por ela estar bem.
Não foi preciso entrar, mas precisava saber se Sara estava aqui, então
peguei o telefone no meu top e liguei para ela, já estava tarde, mas tenho que ter
certeza de que ela esteja bem.
— Jamile? O que foi? Aconteceu alguma coisa para ligar essa hora? — sua
voz soou preocupada, acho que devido à hora.
Meu peito se aliviou assim que ouvi sua voz, mas não queria preocupá-la
com nada, então dei a desculpa que eu queria agradecer por ela ter ficado com
April.
— Obrigada mesmo por cuidar dela.
— Não foi nada, queria que estivesse aqui para nos divertir — disse.
— Eu sei, da próxima vez eu vou, prometo, mas podemos fazer assim,
depois que chegar vamos marcar um dia só de garotas e nos divertir adoidado, o
que acha?
Ela riu.
— Topo, assim que eu chegar marcamos — respondeu.
Eu me despedi dela, agora aliviada. Olhei ao redor, mas não vi ninguém,
embora não quisesse passar a noite aqui. Como Sara não estava, fui ficar na sua
casa, ela me deu uma cópia, amanhã chamo Jules e ele checa meu apartamento,
não quero envolver a polícia, isso traria Alexei até aqui em segundos.
Eu sou estúpida, deveria só querer me afastar, assim não teria com o que me
preocupar amando Matteo. Talvez um oceano de distância ajudasse, mas não
tinha só Matteo aqui, meus amigos estavam em Chicago e eu não podia deixá-
los. Eu teria que superar minha paixão por ele de outro jeito.
Eu ia ligar para Evelyn, mas não queria que ela se envolvesse nessa
bagunça, tampouco Jerry e os outros meus amigos. Vou mantê-los longe o
quanto puder, não posso deixar os caras que estiveram no meu apartamento
entrarem em contato com eles ou ter meus amigos na mira deles.
Eu me sentei no sofá e fiquei com April no meu colo, não querendo deixá-
la.
— Eu só queria que essa noite acabasse — sussurrei para ela. — Essa dor
também fosse embora.
Eu a levei ao hospital e tiramos Raio-X, mas graças aos céus não deu nada,
só uma lesão mesmo, nada grave.
— Eu falei que estava boa, não tinha necessidade de ir ao hospital — disse
assim que entrei de volta no apartamento.
— Preferia checar com um profissional para ter certeza. — Sorri amarelo
indo para o quarto. — Vou tomar um banho.
— Vai ficar aqui? — Seu tom era vulnerável.
Eu olhei para ela, que parecia frágil.
— Só se não me quiser aqui, aí vou embora. — Embora não quisesse isso,
mas o faria, se ela não me quisesse aqui.
— Eu não sei, é só que a gente sempre fode, e no dia seguinte você some
sem dar notícias — sussurrou ela com a voz fraca. — Eu não entendo, em uma
hora você se preocupa, cuidou de mim quando fiquei bêbada e agora ao ir no
hospital comigo, mas depois parece uma geleira sombria.
Eu fui até ela e a puxei para meus braços, beijando sua testa.
— Lamento que tenha sofrido por minha causa. Vou fazer o possível para
que não aconteça de novo — jurei — E quanto ao sexo, se não quiser, não
precisamos fazer, não até que esteja pronta.
— Vai só dormir aqui comigo sem ter nada mais? — sondou ela.
— Sim, prometo me comportar. — Trisquei em seu nariz e fui para o
banheiro tomar um banho gelado, porque precisaria essa noite, para dormir ao
lado dela e não fazer nada, mas farei isso.
Deitei ao lado dela na cama assim que tomei banho.
— Matteo…
Puxei-a para mim aconchegando–a nos círculos dos meus braços.
— Só dorme, Irina, está tarde, e você bateu a cabeça hoje, o médico
aconselhou descanso, lembra?
— Tudo bem, mas…
— Estarei aqui amanhã e se precisar sair avisarei você, prometo.
— Vamos nos divertir! — gritou Evelyn me levando para dançar na festa
que estava tendo no MC.
Eu soube que eles ficavam ao vivo ali, na frente de todos, mas até agora
estava calmo. Também… e se ficarem? Vou adorar ver sexo ao vivo, além dos
meus sonhos eróticos que tenho toda noite com Matteo.
Depois da noite que ele me levou ao hospital e ficou comigo, no outro dia
Matteo me disse que surgiu algo que precisava resolver e que voltaria para mim.
Nisso já tinha se passado uma semana sem notícias dele, e também não fui
procurar saber sobre ele e o que anda fazendo.
Sou fraca em relação a ele, minhas forças viram uma maldita gelatina só de
estar perto dele. Mesmo assim Matteo precisa de uma lição, se ele pensa que vai
brincar comigo está muito enganado.
Eu esqueci ele e foquei no agora. Estava cheio de homens lindos aqui, nesse
clube, mas, como sempre, eu não quis nenhum deles.
A sala do clube parecia um salão grande, onde tinham cadeiras, sofás
arrastados para o canto e duas mesas de sinuca.
— É isso aí! — gritei bebendo cerveja e dançando com minha amiga.
Ela usava uma saia e top, combinaram com seu corpo foda e sexy, não me
surpreende o Shadow não tirar os olhos dela nenhum segundo.
— Tem algo acontecendo? — sondou ela me avaliando.
— Não, por quê?
— Não sei, você está diferente esses dias, não sei dizer o que é, mas está —
comentou.
Eu parei de dançar e fiquei na frente dela, que me encarava com uma
expressão séria.
— Não tem nada de errado — menti.
Não queria trazer problemas para ela, ou preocupá-la, sabia que assim que
contasse todos aqui saberiam… ou talvez não. Depois do meu apartamento ser
invadido, não contei a ninguém, só a Jules, que reforçou a segurança do lugar.
Mas não precisava, já que Matteo garantiu que cuidou disso. E nesse caso eu
confiava nele.
Eu fui para o meu apartamento no dia seguinte com April e confiando em
Matteo. Ninguém veio atrás de mim de novo ou foi atrás da dona Benita. Não
tive tempo de perguntar sobre isso já que Matteo tinha sumido do mapa, pensei
amarga.
Não seria uma pessoa boa se eu mentisse para minha amiga, então resolvi
contar a verdade.
— Tudo bem, mas não aqui, podemos ir aonde não tem homem? — pedi.
Ela estreitou os olhos.
— Você nunca ligou por falar qualquer coisa na frente de um homem.
Eu ri, porque nisso ela tinha razão, mas esses MCs não podiam saber de
nada, não do que houve comigo e meu lance com Matteo.
— Tem razão, mas vamos para lá. — Apontei puxando sua mão para irmos
a uma mesa no canto, nela tinha algumas mulheres dos motoqueiros.
Uma loiraça com um sorriso lindo, Mary, mulher de Hush. Isabelle também
estava aqui. Michael estava com outros amigos dele, mas seus olhos não
deixavam a mulher hora nenhuma.
Eu me sentia mal por ficar no meio desses casais apaixonados, mas estava
feliz por eles. Não posso ser uma estraga-prazeres só porque não tenho sorte no
amor. Não sei bem onde meu lance estava com Matteo, mas sei que não podia
ficar do jeito que está, se significo mais para ele do que demonstra, então ele
precisará tomar uma decisão.
— Nossa! Você está linda, Jamile, se não fossem seus irmãos eu ficaria com
você — disse Tripper.
Ele era um dos motoqueiros, mas da minha idade, mais ou menos, alto,
forte e lindo. Com bracelete preto com pingente de metal, parecidos com dentes
na mão direita, e brinco também nela.
— Desencana, Tripper, já basta o Nasx apaixonado pela namorada do Dark,
não preciso de você também arrastando asa para irmã dele — rosnou Shadow.
— Espere… o quê? — indaguei de olhos arregalados. — Nikolai está
namorando?
Eu não me lembro do meu irmão namorar na vida dele, só ficar sem
compromisso, os dois, tanto ele como Alexei são mulherengos, será que Nikolai
foi domado? Assim que sair daqui vou ligar para saber o que está acontecendo,
se isso é verdade.
Antes que alguém respondesse Matteo entrou no salão do clube e foi até
Shadow. Eu o ignorei, Evelyn tinha dito, logo quando cheguei, que ele tinha uma
reunião com Shadow e os outros MCs, acho que por isso eu estava nervosa. Mas
depois fiquei com raiva, porque ela sabia que ele viria, mas eu não sabia onde
Matteo estava. Devo dizer que doeu meu peito.
Preciso contar o que houve comigo para as meninas, mas não queria ficar
perto de Matteo. Se ele ia me ignorar, então eu faria o mesmo.
— Sim, eu conheci, seu nome é Samira, uma morena exuberante, também
conheci Nikolai — disse Evelyn. — Ele chegou aqui todo fodão querendo
acabar com Nasx, pensando que os dois estavam juntos.
— Não estavam? — sondei.
— Não, ela parece gostar de Nikolai, e ele dela. — Ela riu. — Mais uma do
meu clube que domou um fodão.
Eu ri.
— Puta merda! — Eu estava tão embasbacada com essa notícia que não vi a
hora que Tripper estava na minha frente, sorrindo para mim todo sexy.
Meu, esse garoto é de cair o queixo. Roupas frouxas e com correntes, podia
ver anéis nos dedos anelar e polegar. Piercing na língua.
— Se seu irmão deixar, ficamos juntos e garanto que eu seria um santo. —
Piscou.
Dessa vez eu gargalhei, trazendo a atenção dos outros, mas não liguei.
— Não aconselho pedir meus irmãos, eles são muitos protetores — afirmei
e depois brinquei: — Mas se quiser podemos apenas foder, o que acha?
Dessa vez ele riu e vinha na minha direção, mas Shadow o chamou e
parecia ter urgência em seu tom.
— Tripper.
Eu olhei para cima e vi a expressão mortal de Matteo. Certo, já o vi
sombrio antes, mas igual estou vendo agora? Nunca, parecia um assassino
pronto para matar alguém. Eu podia jurar que suas mãos estavam se mexendo
como se ele estivesse doido para pegar suas adagas e atirá-las em Tripper.
Porque esse olhar assassino era direcionado a ele.
Eu estava brincando sobre ficar com Tripper, sempre faço isso e não
mudaria meu jeito de ser só porque esse cara reage assim. Em um momento, se
importa comigo, e no outro me ignora como se eu fosse um zero à esquerda. Isso
já estava me cansando.
Tripper franziu a testa e assentiu, alheio ao que estava acontecendo aqui,
mas notei que Shadow viu isso e não fui a única. Evelyn e Sara franziram a testa.
Eu fitei Matteo, implorando com o olhar para ele não fazer besteira, não
machucar ninguém, ainda mais um colega meu só porque estávamos brincando.
— O que foi, chefe? — perguntou Tripper indo até ele.
Eu gelei e pedi mentalmente que Matteo não fizesse nenhuma cagada.
Shadow pediu para ele pegar algo no quarto e depois lançou um olhar
curioso para mim e para o Matteo. Então eles entraram em uma sala com porta
de madeira.
— O que está acontecendo, Jamile? — perguntou Sara. Ela e meus outros
amigos não sabiam que eu me chamava Irina, os únicos que sabem é Evelyn e os
MCs.
— O que foi isso? — Evelyn estava de boca aberta olhando onde todos os
motoqueiros entraram com Matteo e Samuel, que estava com ele.
— Bom… — comecei.
— Do que vocês estão falando? — perguntou Isabelle.
— Tem algo acontecendo com Matteo e Jamile, vocês não viram o clima
pesado? — falou Evelyn.
— Sim, parecia que Tripper logo seria morto pelo capo. — Mary me olhou.
— Vocês estão juntos?
Isabelle ofegou.
— O quê? Se você estava com o capo por que falou que transaria com
Tripper? — Sua voz soou com raiva no final e preocupada. — Ele é como um
irmão para mim, não quero que seja ferido ou algo assim.
Eu suspirei. Porque sabia que não podia mais esconder a verdade delas, e,
também, que sentido tinha? Somos amigas. Algumas aqui conheci hoje e outras
naquele dia na boate de Shadow, quando fiquei chapada.
— Não tem nada rolando entre mim e Matteo, então eu não estava sendo
uma cadela com Tripper, embora também não fosse ficar com ele. Só estava
brincando. — Tomei uma bebida mais forte.
— Tem sim, o cara reagiu igual ao Nikolai quando Samira veio aqui com
Nasx. Ele estava com ciúmes, assim como Matteo — disse Evelyn sorrindo. —
Não acredito que ele me…
— Esqueceu você? — Eu ri, embora fosse forçado. — Não acredito nisso,
ele pode me querer, sim, mas ama você, Evelyn, então não tem nada rolando
entre nós.
Ela franziu a testa.
— Você gosta dele, não é? Por isso anda estranha esses dias? — perguntou
Sara. — Por que não me contou?
— O que eu ia dizer? Que estou apaixonada por um homem que ama minha
amiga?
— Mas eu não o amo — disse Evelyn. — Só Dom me importa assim, eu até
já falei com Matteo.
Eu assenti.
— Eu sei, a vida é realmente injusta — murmurei com um suspiro. Sabia
que Matteo tem sentimentos por mim, só não sei se é só sexo ou algo mais. —
Não quero falar sobre ele.
— Vocês transaram? — perguntou Sara de olhos arregalados. — Não
acredito que ficou com Matteo Salvatore.
Evelyn estava prestes a dizer algo quando meu telefone tocou. Salva por
meu celular.
— Meu irmão, eu vou atender — falei e me afastei delas. — Depois
conversamos mais.
— Mas, Irina… — reclamou Sara.
— Amanhã conversamos sobre isso.
Fui para fora do clube antes que elas reclamassem de minha hesitação,
afinal nem sei direito o que está acontecendo entre nós dois. Assim que souber
falo com elas.
— Ora, quem é vivo sempre liga! — falei ao Alexei e me escorei no meu
carro, olhando o céu cheio de estrelas.
— Não é sempre aparece? — riu ele.
Suspirei, porque acho que é assim mesmo.
— Bom, você não aparece muito, então estou surpresa por estar ligando,
aconteceu alguma coisa? — Minha voz soou urgente no final. Já tinha alguns
meses que não via nenhum dos meus irmãos.
— Não, liguei para dizer que sinto saudades e que em alguns dias vou aí ver
você — disse com um sorriso na voz.
— O quê? — Minha voz saiu mais alta que o normal.
Ele ficou em silêncio alguns minutos, depois disse:
— O que está acontecendo, Irina? Até parece que não me quer aí. — Seu
tom estava confuso.
— É claro que eu quero, seu bobo, só achei estranho… — apressei-me em
explicar, assim ele não desconfiaria de que estou com problemas. Porque
considero um problema grave amar um capo idiota.
— Estranho seu irmão visitar a irmã caçula que quase não vê? — No final
sua voz soou magoada.
Ele tinha toda razão, eu estava estranha porque amo um capo, também por
me meter com Sírios. Espero que Matteo tenha acabado com ele e seus malditos
homens.
— Me diz uma coisa, Nikolai está namorando? Tipo, ele está realmente
apaixonado? — decidi mudar de assunto para um rumo menos complicado do
que minha vida.
Ele deu um suspiro frustrado.
— Meu irmão foi nocauteado, agora não faz mais nada, só pensa nela e faz
tudo por ela. — Sua voz tinha um tom cômico de raiva e parecia um grunhido.
— Tentei convencê-lo a deixar essa mulher, mas ele parece cego.
Eu ri ao imaginar meu irmão domado por uma mulher, uma que é muito
importante para ele.
— Agora só falta você ser domado por uma mulher — comentei. — Não
vejo a hora de isso acontecer.
— Vira essa boca para lá, Irina — rosnou enquanto eu ria. — Não sei o que
ele viu nela, ela é sem graça, não tem estilo e, porra! Com ela vai vir…
— O quê? — sondei assim que ele se interrompeu. Entrei no carro, era
melhor ir embora do que enfrentar interrogatório das meninas agora, ver Matteo
de novo e correr o risco de cair em tentação.
Alexei suspirou.
— Nada.
Eu sabia que ele estava escondendo alguma coisa, só não sabia o que era,
mas tinha certeza de que era relacionado à máfia.
— Preciso ir, mas antes me diz uma coisa: como soube que Nikolai estava
apaixonado por aquela…
— Cuidado, irmão, não devemos cuspir para cima que cai na cara. —
Liguei o carro. — Eu ouvi de uma menina que namora o Shadow, na faculdade.
— Você conhece os MCs? — sondou surpreso e preocupado.
— A Evelyn, namorada dele — falei a verdade. — Agora tenho que ir, não
posso dirigir estando falando ao telefone. Vou esperar você, Nikolai vai vir
também?
— Não, ele tem algumas coisas para fazer. — Seu tom era azedo no começo
e depois doce, ao falar comigo. — Te amo, menina.
— Eu também. — Desliguei e mandei mensagem para as meninas, dizendo
que ia embora e que depois contaria tudo a elas sobre mim e Matteo.
Estava começando a chover, por isso dirigi com mais rapidez, não queria
ficar presa em um temporal, sozinha no meio da noite, e também essa estrada era
a única para o centro de Chicago. Então significa que Matteo vai passar por ela,
e não quero vê-lo agora ou o fritaria.
Faltava pouco para sair da estrada e entrar na cidade quando a Mercedes de
Matteo apareceu na minha visão.
— Merda! — rosnei, tentando ignorar o carro, talvez assim ele passasse
sem parar. Não seria a primeira vez que Matteo me ignorava, então fiz o mesmo.
Uma parte de mim queria que ele parasse e me explicasse a sua reação ao
Tripper naquela hora. Por que em um momento se importa e no outro é frio?
Mas uma parte queria que ele me deixasse em paz já, que não tenho forças para
me afastar dele de nenhuma forma.
Eu continuei olhando para frente assim que seu carro me ultrapassou e
seguiu em frente, mas antes que eu ficasse aliviada por isso ou com pesar — um
misto de sentimentos nada bom — a Mercedes parou e Matteo saiu do carro. Eu
estava pensando em ultrapassar o carro, mas a Mercedes pegava a rua inteira.
— Filho da puta! — rugi. Eu ignorei os chuviscos e saí do carro, fuzilando
Matteo com o olhar. — Que porra está fazendo? Tira seu maldito carro da frente
que preciso passar, seu imbecil.
O carro foi embora, acredito que Samuel estava dirigindo, mas Matteo ficou
na minha frente, na estrada.
— Você tem uma boca muito esperta, poderia usar muito bem ela —
comentou com os olhos estreitos.
— O quê? Chupando seu pau? — grunhi. — Já fiz isso, lembra?
— Sim, eu lembro muito bem dessa sua boquinha linda. — Chegou até
mim, tocando meu rosto. — Malditos lábios que estão me assombrando.
Eu poderia fugir dele, entrar no carro e ir embora, deixando-o sozinho aqui,
já que Samuel foi embora com o carro dele. Acredito que isso diz que Matteo vai
comigo.
— Bom… se eles estão te assombrando, talvez devesse ir embora e me
deixar em paz — retruquei.
Ele riu.
— Você não tem ideia, não é? — grasnou. — Você continua a me desafiar e
apertar os meus botões.
— Eu não fiz nada — murmurei. — Você que continua a brincar, com esse
jogo de gato e rato, aparece quando quer e depois desaparece.
— Você vai me levar à morte, Irina — disse puxando meu cabelo para trás
de leve, fazendo minha coluna arquear. — Não sabe o quanto me controlei para
não acabar com aquele garoto!
— Tripper? Estávamos brincando e, mesmo se não estivéssemos, por que
isso incomodaria você? — rosnei. — Precisa decidir o que quer, Matteo, assim
não dá para ficar.
— Você… — Seus olhos eram órbitas negras. Ele me empurrou para que eu
me sentasse no capô do meu carro. — Você me deixa louco.
Ele também fazia isso comigo, era isso que temia, que eu não conseguisse
ficar longe dele como agora, sabia que a partir do momento que me tocasse não
conseguiria mais resistir a esse homem.
— O sentimento é reciproco — cuspi.
— Irina… avisei que tinha negócios para resolver — informou indo tocar
meu rosto, mas me esquivei.
— Oh, sim, aonde foi nessa semana? No fim do mundo, onde não tinha um
maldito celular que podia ao menos pegar e ligar? — grunhi empurrando seu
peito para sair de perto de mim.
— Não posso falar sobre meus negócios…
— Quem disse que quero saber, porra?! — gritei na cara dele, — Custava
dizer que estava bem? Que o que nós temos é verdadeiro e que logo voltaria.
Ele me avaliou um segundo com a expressão difícil de ler.
— Está com raiva porque não liguei e conversei com você sobre estarmos
juntos? Achei que tivesse dito isso quando saí aquele dia cedo, com meu pau
dentro de você. — Seu tom era duro agora.
— Você disse “Você é minha”, não sou um maldito objeto que está ao seu
dispor sempre que você quer, pra depois você sumir do mapa não dando um sinal
de onde está. E nosso relacionamento onde fica?
— Relacionamento? Nós estamos em um?
Eu me enfureci e voei nele, querendo quebrar sua cara.
— Seu desgraçado! Como ousa ainda perguntar isso? Me solta, seu imbecil.
— Puxei minhas mãos assim que ele as prendeu ao lado do meu corpo. — Não
quero ver você nunca mais.
— Jesus, Irina, se controla, não quis dizer desse jeito. — Escondeu o rosto
no meu pescoço. — Não sou bom em relacionamentos, não achei que precisaria
ligar, mas sabia que estava bem…
— Mas eu não… — Eu não sabia o que fazer com Matteo, nesse momento
parecia impotente, ou sei lá, frágil. — Queria ter ouvido sua voz, nem que fosse
um “oi”, Matteo, não preciso saber de todos os seus passos, não sou esse tipo de
mulher, mas gostaria só de ouvir…
— Minha voz — terminou ele expirando. — Estou passando por uma barra
difícil, às vezes não penso direito, mas também queria ver e ouvir sua voz. —
Afastou-se e tocou meu rosto. — Irina, quando digo que é minha, não estou
falando como um objeto, mas, sim, que você é a única coisa boa que tenho.
— Pode me dizer que barra difícil é essa? Casais conversam, Matteo,
passeiam, jantam juntos, namoram… Não estou falando só de sexo, por mais que
isso seja bom, tem coisas mais valiosas para fortalecer um relacionamento.
— Sexo bom? Então acho que preciso melhorar mais, não é? — Sorriu torto
para mim.
Eu expirei.
— Matteo… — recriminei para levar a sério o que estava falando.
— Eu sei, Irina, só preciso de você agora aqui, porque não sabe como está
dentro de mim, visualizando você e Tripper, o que eu quero fazer com ele… —
Havia demônios nos olhos dele, igual nunca tinha visto antes, claro que já vi
algumas vezes, mas parecia pior hoje. — Depois vamos jantar e conto algumas
coisas que posso, agora eu só quero…
— Não diz nada, só vamos aproveitar — sussurrei beijando seu pescoço e
traçando-o com minha língua. Puxei seus cabelos também, trazendo sua boca
para a minha.
Ele rosnou, esquadrinhou meu corpo com as mãos e rasgou minha calcinha,
mas não entrou em mim. Senti seus dois dedos ali entre minhas pernas enquanto
mordia meu lóbulo, me fazendo gemer e clamar por ele. Seus dedos eram ágeis,
me faziam ansiar e suplicar ao mesmo tempo.
Era momentos assim que eu queria para sempre, mas com ele, com seu
toque, seus beijos, suas carícias, seu prazer.
— Goza em meus dedos, minha linda — sussurrou rouco e circulou meu
clitóris, me fazendo ir para a borda. — Adoro ouvir esses sons que saem de sua
boca.
— Matteo… eu quero você dentro de mim — pedi, porque estava louca
sem ele essa semana, agora queria aproveitar.
— Quer meu pau? — Ele abriu minhas pernas. — Ou minha boca?
— Tudo de você — consegui dizer.
Ele me deitou no capô, abriu mais minhas pernas e logo estava me
degustando, lambendo cada canto de minha boceta. Sua língua circulava meu
clitóris, me levando ao êxtase transbordante. Eu olhava para o céu escuro e para
os chuviscos caindo em meu rosto, enquanto gritava por ele. Sentia-me quente
pelo seu toque e gelada com água da chuva.
— Isso, goza, minha linda, quero sentir seu gozo em minha língua. — Ele
deu um puxão em meu clitóris, me fazendo gritar mais na escuridão.
Minhas mãos apertavam mais sua cabeça, querendo mais dele, querendo-o
dentro de mim. E não foi preciso pedir duas vezes, ele logo estava me
preenchendo, enquanto devorava minha boca, me devorava, aliás, me consumia,
não só meu corpo, mas minha alma também.
— Irina… — A cada estocada forte e prazerosa ele chamava pelo meu
nome.
— Estou aqui e vou estar para sempre — jurei alisando seu rosto e
encontrando seus olhos no escuro, claridade vindo só pelas luzes do carro, que
estavam ligada.
Ele não respondeu, não parecendo acreditar em mim, ali senti que tinha
uma coisa que não sabia, parecia que logo não estaria ao seu lado como estava
prometendo.
— Estou falando sério, Matteo, enquanto me quiser estarei ao seu lado
sempre. — Beijei seus lábios. — Só peço que me deixe entrar, não me exclua da
sua vida.
— Não irei, prometo. — Apertou-me mais contra seu corpo, como se
quisesse me colocar dentro dele.
Eu confiei nele, Matteo pode ser complicado, às vezes frio, mas ele não
mentia, e também vi a verdade na voz dele. Nesse momento só me deixei levar
pelos sons dos nossos gemidos e estocadas dele com nossos corpos
sincronizados.
— Não acredito que me trouxe para jantar. — Sorri assim que entramos no
restaurante italiano.
O lugar era grande e aconchegante, cadeiras de madeiras com mesas
forradas em toalha de linho branco. Ele queria me levar a um restaurante russo,
porque amo a comida russa, mas não queria correr o risco de dar de cara com
algum homem do meu irmão, soube que ele tem vários negócios por toda
Chicago, então preferi comida italiana, cuja culinária também é saborosa.
— Não disse que íamos jantar hoje? E também já estive aqui antes — falou
fazendo sumir meu sorriso, pensando nas mulheres que ele levou para jantar.
— Claro que já. — Deixei o asco na minha voz soar evidente.
— Não estou falando de mulheres, Irina, só tive jantares de negócios com
homens, não trato disso com nenhuma mulher — disse.
Ele só as fodia, pensei amarga, mas não posso acusar seu passado, com
quem ficou, afinal, também já tive um.
— Esse lugar é bem legal, nunca tinha vindo aqui — mudei de assunto.
Depois de nós termos ficado na estrada, passamos no meu apartamento
antes de ir ao restaurante e troquei de roupa, já que estava molhada devido à
chuva. Matteo vestiu um terno que eu tinha de Alexei. Ficou lindo em seu corpo,
aliás, ele era maravilhoso de qualquer jeito.
— É sim, amo aqui, é como se eu estivesse em casa. — Ele olhou ao redor
e depois para mim.
— Quantos anos tinha quando se mudaram para cá? — sondei curiosa para
saber mais sobre ele.
— Não sei bem, mas lembro de adorar o clima, a fazenda, o campo, o ar
livre… Eu era pequeno, mas lembro bem. Dalila também adorava quando íamos
para lá, era para nós termos ido para a Sicília, e não para a Rússia, quando Dalila
sumiu. — Suspirou.
— Sumiu? Ela não foi…
— Morta? Eu pensava que sim, mas não, descobri há pouco tempo que
minha irmã está viva. — Seu tom estava feliz e triste ao mesmo tempo.
Eu arfei de olhos arregalados.
— Viva? Isso que está afligindo sua alma…
— Minha alma é sombria, Irina, ninguém vai querer saber o que há nela. —
Seu tom era obscuro. — Acho que por isso Dalila não retornou.
— Não entendo, o que isso tem a ver com sua irmã? Não era para ficar feliz
ao saber que ela está viva?
— Era para eu estar com ela no dia que desapareceu, mamãe disse que
minha irmã tinha morrido, por isso não procurei saber onde estava. Como não
houve, corpo poderia ter desconfiado, mas ela disse que tinha encontrado suas
roupas perto do rio, na Rússia.
— Você não teve nenhuma culpa, e sua irmã também não acha isso, garanto
a você. — Peguei sua mão e alisei seus dedos. — Sabe onde ela está?
Evelyn me contou alguma coisa sobre a irmã dele, mas não muito, só que
tinha morrido, só não disse onde.
— Talvez, estou feliz que ela esteja viva, a queria comigo, mas nesse
momento não é possível — murmurou.
— Por quê? Qual é o problema, Matteo?
— Enzo é o problema — cuspiu o nome do tio dele.
— Seu tio? Você não manda nele? É só despachar o velho.
Ele riu sacudindo a cabeça, depois ficou sério.
— Poderia, mas na hora certa, o que posso te dizer é que Dalila tem uma
vida lá fora, longe desse mundo. Se eu me aproximar dela agora e trazê-la para
minha vida, ela teria grandes chances de ser acusada de traição — ele suspirou.
— Não quero isso, é uma coisa que não posso mudar, nem sendo o capo.
— Por que não deixa ela decidir o que quer? Voltar para ficar ao seu lado
ou continuar com a vida dela longe da máfia? Mas se sua irmã amar você de
verdade, ela vai voltar, e, desculpe dizer isso, só se Dalila for uma cadela.
— Dalila não é isso, mesmo com esses anos não creio que seja, só deve
estar com medo de voltar, afinal minha irmã não deve saber das mudanças que
houve aqui recentemente, imagino que ela pensa que, se voltar, logo estará
casada. Ela sempre odiou isso, me pedia sempre para não a deixar se casar antes
de fazer dezoito anos. — Ele bebeu um gole maior de seu vinho italiano.
— Não pode mudar essa lei?
— Não, só o que consegui foi adiar para as meninas serem maiores de idade
— informou.
— Lamento dizer isso por Lorenzo ser o seu pai, mas ele merecia estar
morto e no inferno — grunhi com raiva.
Ele sorriu torto.
— Concordo, mas não quero fazer isso até que Dalila o veja, isso se ela
quiser, claro, o que duvido muito.
Bebi um gole do vinho também.
— Se fosse meu pai a fazer essa barbaridade, nunca mais olharia para a cara
dele. — Coloquei o copo na mesa. — Sei que ele não era santo, longe disso,
porque nesse nosso mundo não existem homens assim, mas o que ele fez? É
imperdoável.
— Como soube disso? — Arqueou as sobrancelhas.
— Evelyn me contou — disse e depois sorri. — Viu? É assim que é uma
conversa normal com gente normal.
Ele assentiu sorrindo e me abraçou. Eu estava ao seu lado.
— Achei que eu fosse normal. — Não vi acusação ali.
— Claro que você é. — Beijei sua bochecha. — Mas para um
relacionamento dar certo? Precisa conversar, isso ameniza o fardo que carrega
nos ombros, o seu, por ser chefe, deve ser grande.
— Sim, é. Obrigado por você tornar ele mais leve. — Beijou meus lábios e
nesse momento esqueci onde estava e o que ia fazer, agora, aqui, só existia
Matteo e seus lábios nos meus.
Uma semana com Matteo era como um sonho, estávamos namorando sério,
ele me levava para jantar e para almoçar sempre que podia, já que tinha
negócios. Eu dormia na casa dele, e ele, no meu apartamento.
Conheci Zaira, uma senhora meiga e maravilhosa, ela era como mãe para
Matteo, ele a chama de madre. Almocei com eles dois e amei a senhora
simpática. Seus olhos ficavam estranhos, às vezes, olhando de mim para seu
bambino, como ela o chama. Hoje ia me encontrar com ela e Matteo.
Estava de saída quando meu telefone tocou, era Jules.
— Olá, quem é vivo sempre aparece — atendi.
— Quem sumiu foi você, não eu — informou. — Anda namorando demais
esquecendo dos amigos.
— Isso não é verdade, te vi há dois dias, mas se estiver sentindo tanto
minha falta, podemos nos encontrar semana que vem.
— Irina, tem algo que preciso te contar, mas não sei como…
Um gelo desceu por minha espinha.
— Meus irmãos estão bem? — Minha voz sumiu na sala, fazendo April
latir.
— Não aconteceu nada com ninguém, só que estou no clube de BDSM, e
não vai acreditar quem estou vendo aqui. — Sua voz soou com raiva.
— Quem?
— Matteo. E, Irina? Ele não está sozinho.
Acredito que tudo em mim se desfez nesse momento, porque Matteo não
podia fazer isso comigo, não após prometer que estaria sempre ao meu lado,
como ousa brincar com meus sentimentos?
Caí de joelhos no chão com os olhos molhados, porque tudo dentro de mim
doía tanto que me impediu de respirar alguns segundos. Não, ele não pode ter
feito isso comigo.
— Fez, eu estou me segurando para não quebrar sua cara — respondeu a
uma pergunta que não sabia se tinha feito em voz alta. — O que pensa em fazer?
Eu tinha duas opções, ficar chorando aqui por ser traída por um cara que eu
amo? Ou ir até lá, confrontá-lo, olhar em seus olhos e saber por que o filho da
puta me traiu com uma vadia qualquer?
— Me passa o endereço, e não faz nada, estou indo para aí. — Desliguei e
fui me arrumar, agora, com roupas ao estilo de um clube, vou mostrar o que ele
perdeu.
Eu estava com uma saia de couro colada no corpo e curta, e um espartilho
prendendo meus seios, fazendo-os ficar mais sexy. Soltei meus cabelos e me
maquiei conforme o ambiente. Uma vez fui a um clube assim só por curiosidade
e vi como funciona. Se Matteo gosta de sexo assim, ele poderia ter dito, que
faríamos igual.
Não vou mais deixá-lo ter acesso a mim. Não vou mais cair em tentação
com ele. Não posso. Isso não me faz bem, afinal, eu o amo, enquanto ele deve
sentir só prazer. Acho que nem isso sente mais, afinal se sentisse não teria ido
procurar outra mulher.
Entrei no clube de BDSM, onde as mulheres eram submissas aos seus
homens. É isso que ele quer? Uma submissa?
Tinha homens com chicotes em suas mãos e suas parceiras de joelhos na
sua frente. Outras presas e suspensas no teto, expostas para os caras. Algumas
usavam espartilho, assim como eu. Eu calçava sandálias de sete centímetros, mas
algumas ali usavam mais altas que as minhas.
Assim que entrei fui tomada pela onda de prazer que alguns estavam
jogando. Não sei, nunca joguei assim, mas gostaria de fazer um dia, claro que
com uma pessoa, uma que decidiu procurar outra pessoa para fazer isso.
As pessoas deviam esquecer assim que se apaixonassem pela pessoa errada,
porque Matteo era tão errado para mim. Fiquei semanas com ele e sempre ouvi
que adorava me foder, passear e outras coisas, mas nunca disse que me amava,
igual o ouvi dizer a Evelyn. Nunca falamos sobre isso, embora ele tenha dito que
não a ama mais, mas duvido muito. Ou talvez não ame mesmo, mas isso não
quer dizer que me ama.
Enquanto ele não esquecer Evelyn, Matteo não vai ser feliz e eu também
não vou, se não lutar para tirá-lo da minha vida, de dentro de mim, mas agora
precisava ver com meus próprios olhos e assim deixar de ser idiota e acabar
correndo para ele como sempre fazia.
Jules estava alguns metros à minha frente com cara séria, aliás, estava
furioso, como se quisesse matar alguém. Segui seu olhar, então vi Matteo no
canto com dois homens na frente dele e, ao seu lado, uma mulher morena bem
linda, ela parecia uma sanguessuga tocando em seu peito, só estava faltando
subir em seu colo e montá-lo, fazendo-o de cavalo.
Isso doeu mais meu peito, porque ele não estava ligando para ela, mas
também não fez nenhum movimento de pará-la ou tirar as patas dela de cima
dele. Nesse momento, decidi que o arrancaria de uma vez por todas da minha
vida.
Eu já sabia que Matteo gostava de foda quente, as nossas foram alucinantes,
mas não tinha conhecimento que ele gostava de frequentar lugares como esse
aqui. Fazer uma mulher submissa a ele. Mas, pensando bem, é isso que me tornei
para ele, não é? Basta Matteo chegar perto de mim e me tocar para eu cair de
joelhos à sua frente fazendo tudo que me mandar.
Acredito que se ele me mandasse fazer o que essas mulheres fazem aqui, eu
teria feito, mas Matteo nunca tocou no assunto e, em vez de me procurar, veio
aqui à procura de outras que fazem isso. Isso significa que ele desistiu de mim
ou talvez nunca se interessou. Aquilo foi só sexo para ele, ao contrário de mim,
que dei o meu coração inteiro.
Foco, Irina, não desmorone aqui na frente dele, você é mais mulher do que
isso, repeti como um mantra.
Eu expirei, agora era hora do troco, pensei em ir até lá buscar satisfação e
perguntar seus motivos para me trair assim, mas não sou mulher disso, não sou
de ficar em casa chorando, sem comer e implorando a um homem para ficar
comigo, sou mais de dar o troco com a mesma moeda.
Voltei a andar, ignorando Matteo e a garota carrapato. Fiz meus pés
seguirem para onde Jules estava me esperando.
Julian é um amigo que vale ouro, um cara com quem eu adoraria me casar,
caso não fosse apaixonada por um mafioso italiano e Jules não fosse um
mulherengo de carteirinha.
Antes de levar meus olhos para longe de Matteo, eu vi sua mandíbula
apertar e sua fúria estampar seu rosto ainda mais quando seguiu meu olhar na
direção de Jules.
Ele vem com outra mulher a um lugar desses e ainda fica com raiva por eu
estar com Jules? Não liguei para o que ele pensa, aliás, que se exploda. Maldito
seja.
Sorri para Jules assim que cheguei perto dele, ele me puxou para seus
braços. Depois se afastou e assoviou por entre os dentes, me avaliando de cima a
baixo.
— Mulher, você está um maldito avião. — piscou. — Não que antes não
fosse, porque você é linda.
— Só não queria ficar diferente delas. — Apontei o queixo discretamente
na direção das mulheres ao redor. — Chegou a hora.
— Você está magnífica — comentou e foi sussurrar em meu ouvido. — O
que pensa em fazer agora? Seja o que for, ajudarei você.
Posso sofrer por ver Matteo com outra, mas vou superar, eu juro. Eu me
afastei e sorri, embora não chegasse aos olhos. Era só fachada, assim como era
antes de eu vir para a América e também antes de eu conhecer Matteo.
Suspirei.
— Tem um quarto nesse lugar em que possamos ficar sozinhos? Hora de
Matteo ter seu troco.
— Sim. — Ele me avaliou um segundo e me levou a um quarto. Abriu a
porta para eu entrar e evitei ofegar com o que vi.
Havia uma cama redonda no meio do quarto, uma cruz de Santo Andre
perto da parede, correntes no teto, onde acredito que é para deixar as mulheres
presas, e outras coisas, mas antes de olhar mais o lugar me deparei com um vidro
que dava para um salão e lá tinha várias pessoas fodendo e brincando de BDSM
com cintos e outras coisas.
— Oh, meu Deus! — sussurrei.
— Acho melhor não chamar ele em um lugar desses. — Piscou para mim.
— Eles podem nos ver aqui? — sondei vendo o vidro que pegava a parede
inteira.
— Não, foi feito para a sala VIP assistir ao show que tem toda noite de
sexta, ao vivo.
— Você costuma fazer isso com as mulheres? O que esses homens estão
fazendo? — falei assistindo a um homem dar chicotadas em uma mulher com
chicote de montaria. Ela gritava, embora não saísse som aqui. Mas vi que era de
prazer.
— Sim, eu faço isso às vezes, é maravilhoso ver uma mulher submissa
assim na sua frente, onde podemos dar prazer a ela e a nós também — comentou
ele. — Mas não fiquei assim na frente dos outros.
— É interessante ver uma cena dessas — comentei. — Ainda mais sem ser
pela TV.
— Sim. — Ele foi até mais perto do vidro fumê. — Não podemos ficar aqui
muito tempo, só um pouco, depois vamos embora o mais rápido possível. — Ele
se virou para mim com expressão um pouco preocupada.
— Por quê? Pelo Matteo? Garanto que ele não se importa com isso —
murmurei num tom seco. — Ele parece estar muito bem.
Ele franziu a testa e sacudiu a cabeça com descrença em sua expressão.
— Você é cega? O cara faltou me matar ali, se seus olhos fossem uma bala.
Ou melhor, adagas. Não sei como ainda não entrou nesse quarto — ele disse. —
Mas estou falando de Alexei.
— Alexei? — indaguei. Não acredito que Matteo se importe comigo,
acredito que ele me tenha como um objeto que acredita ser dele e de mais
ninguém, enquanto isso fica com todas.
— Sim, ele tem uma reunião aqui hoje, mas não chega antes de irmos
embora.
Eu sabia que Alexei estava vindo, ele mesmo me informou, mas não disse
nada que chegaria hoje, acho que quer fazer uma surpresa, pensei.
— Se ele souber que estou te ajudando e que trouxe você aqui, estarei
morto antes de o sol raiar. Mas o que pretende fazer? Você estava com aquele
olhar de vingança agora há pouco.
Eu arregalei os olhos, vendo um homem ficando com duas mulheres. Uma
estava ajoelhada na frente do homem alto enquanto a mulher morena fazia um
boquete, e a outra, a loira, estava deitada em um sofá com o cara com os dedos
dentro dela.
Merda, isso é quente.
— Sim, é quente — respondeu ele a um pensamento que não percebi que
fiz em voz alta. — Um ménage interessante.
— Você já fez algo assim? Quero dizer, ménage? — sondei curiosa. Era
melhor conversar do que pensar na dor que estou sentindo agora.
Era quente, sim, mas eu não sentia vontade de fazer sexo com outra pessoa,
o único que eu queria estava lá fora com outra mulher, fazendo sei lá o quê. Ou
melhor, eu sei, ele está com certeza fodendo.
Por que não posso ficar com Jules? Não serei uma puta por fazer isso,
afinal, depois de hoje sou solteira e desimpedida, eu quero esquecer Matteo,
posso muito bem fazer isso ficando com Jules, se eu for vadia por isso? Que
assim seja, nunca fui santa mesmo, estava longe disso.
Jules é um deus grego de homem, sexy, divertido e um bom amigo.
Acredito que ele era capaz de fazer qualquer mulher esquecer o próprio nome.
— Sim, já fiz e faço direto. — Ele sorriu provocando. — Quer
experimentar?
— Eu quero — falei com tom mais firme que consegui, ou ele não ia me
tocar.
Seu sorriso lindo sumiu.
— Irina…
— Eu só preciso disso, Jules, hoje, por favor — pedi quase suplicante.
Precisava conseguir me libertar do que eu sentia por Matteo, se esse é o único
caminho, por que não?
— Isso é por causa dele? Porque ele está com outra mulher? — Ele trincou
os dentes apontando o queixo na direção da porta de madeira.
Eu me encolhi não querendo pensar em Matteo com outra pessoa e o que
ele deve estar fazendo agora.
— Por favor, só vamos ficar juntos — sussurrei. — Dizem que às vezes
podemos esquecer alguém quando estamos transando com outra pessoa.
Eu não sei quem contou isso, mas ouvi dizer que sim, não sei se é verdade,
mas não custa nada provar, pensei com esperança.
Ele suspirou.
— Pode não ser assim, Irina, como você quer. Não quero que nossa
amizade acabe porque transamos. — Ele ficou de frente para mim. — Isso é uma
vingança?
Pensei sobre isso, mas não é vingança, estava pensando em só ficar nesse
quarto com Julian e Matteo pensar que estamos fodendo, mas agora precisava de
Jules, não tinha força para tirar Matteo de dentro de mim.
— Não vai ficar estranho, eu prometo, você é lindo, sexy, gostoso, acho que
vou conseguir — tentei soar brincalhona e ao mesmo tempo séria. — E o que
vamos ter não será vingança, prometo.
Ele me avaliou um segundo e depois maneou a cabeça para o teto por um
segundo e me fitou, assentindo.
— Eu preciso dar uma saída, mas já volto, enquanto isso, tira a saia e o
espartilho e fica só de lingerie, depois vai ali. — Ele apontou para perto da cruz.
— Sente-se em seus calcanhares e coloque as mãos nos joelhos.
Eu arregalei os olhos para o lugar indicado, para ele e para a porta fechada.
— Mas e se alguém entrar aqui e me vir nessa posição? — perguntei. Eu
não era tímida, claro, mas daí a ficar nua na frente de outras pessoas? Não
consigo, vou ficar na frente de Jules só porque iremos transar, aí é outra coisa.
Ele riu e alisou meus cabelos.
— Não vai, esse lugar é fechado com senha, só quem aluga aqui que a
possui, então ficará segura, só eu posso entrar aqui, mas antes preciso resolver
uma coisa — disse. — Faz o que mandei e seja submissa hoje. Feche os olhos e
não abra até eu chegar e pedir a você para fazer isso.
Eu assenti, sabia que podia confiar em Jules cegamente. Não queria ficar
com ele para esquecer Matteo, mas era minha única esperança. Tirar o amor que
eu sentia por Matteo.
Eu tirei a saia e o espartilho e fui ficar onde ele me mandou ficar. Ser uma
submissa hoje não estava nos meus planos quando entrei nesse lugar, mas tudo
bem.
Assim que fechei meus olhos ouvi a porta se abrindo, depois fechando e
pisadas na minha direção, não entrei em pânico ou abri os olhos, confiava em
Jules que ninguém além dele entraria aqui.
Jules não falou nada enquanto se aproximava, talvez isso fosse coisa de
Dom e submissa.
Eu não tirei as botas, Jules não pediu isso, então as deixei comigo.
Eu respirava irregular enquanto esperava por suas ações, tentei não ficar
nervosa por ficar vestida assim na frente do meu amigo. Apertei minhas mãos
nas minhas coxas, mas não abri os olhos.
Não sei por que, mas sua aproximação me lembrou Matteo, o que sinto
quando ele está perto de mim. Eu me xinguei por dentro por pensar nele agora.
Ouvi-o se abaixar à minha frente e senti seu hálito quente de menta e
charuto banhar meu rosto.
Minha respiração ficou presa não garganta, porque esse cheiro másculo,
esse hálito… eu o conhecia entre milhões. Não podia ser ele, só pode ser
coincidência ou obra da minha consciência.
Eu abri os olhos e me deparei com órbitas negras me fuzilando com rosto
duro com pedra.
— Matteo…
Sua mão foi para o meu cabelo e deu um puxão para trás, me fazendo
ofegar, mas não de dor, e sim de prazer. Merda! Cadê a raiva que estava sentindo
alguns segundos atrás?
— Irina? Você queria ser fodida por ele? — rosnou mortal. — Você é
minha, nunca ouse deixar alguém tocar no que é meu. — Aproximou o rosto do
meu. — Agora vou te mostrar o que faço com quem me provoca.
Eu senti um arrepio na espinha, não de medo, porque sabia que ele não me
machucaria jamais. Matteo estava falando de outra forma de castigo, como um
Dom.
— Matteo…
— Você entende o que eu disse, Irina? — Ele me deu mais um puxão de
cabelo me fazendo gemer. — Responde quando eu falo com você.
— Sim. — Minha voz era falha devido ao meu corpo pegando fogo.
— Você quer ser fodida? — Seu tom estava rouco. Embora eu pudesse ver
que ainda tinha raiva em sua voz.
— Sim — respondi me remexendo nos calcanhares, incomodada com seu
toque.
— Por mim? Porque não tem a mais remota possibilidade de ele tocar em
você. — Sua boca foi para o meu ouvido me fazendo estremecer. — Antes corto
a garganta dele.
Eu afastei o rosto dele com o corpo tremendo, tanto pelo seu toque como
por suas palavras mortais e sombrias.
— Você não é…
— Capaz? — terminou a frase com tom duro como rocha. — Se você
soubesse da besta que está dentro de mim agora, correria paras as montanhas
sem olhar para trás.
Sua mão tremia em meu cabelo, e a outra em meu braço. Tinha algo nos
olhos dele que não consegui entender, parecia que tinha uma fera lá dentro.
Lembrou-me um animal perigoso.
Toquei seu rosto, alisando-o com delicadeza para acalmá-lo, suas
bochechas, lábios e olhos escuros como ônix.
— Você é incapaz de me machucar. — Pelo menos fisicamente, pensei.
Porque emocionalmente ele é capaz de me esmagar.
Eu aproximei de vagar meu rosto do dele sem nunca desviar os olhos dos
dele e beijei sua face em ambos os lados, tentando acalmar a fera que estava ali
dentro.
Ele pegou meus ombros, a princípio achei que fosse me afastar, mas ele me
puxou para seu colo e escondeu o rosto no meu pescoço.
— Eu estive tão perto. — Sua voz estava grossa e rouca ao mesmo tempo.
Um gelo desceu por minha espinha, fui me afastar, mas ele não deixou.
— De quê? — Tinha medo da resposta, mas precisava saber o que ele
esteve perto de fazer.
— De matar seu amigo — ele expirou. — Ainda mais agora, ao ver você
nessa posição.
— Você não…
— Não toquei nele, mas minhas lâminas estavam em sua garganta…
— Matteo.
— Ele me disse o que pretendia fazer para me esquecer. — Ele beijou meu
ombro me fazendo arrepiar. — Você não pode me esquecer. O que viu agora lá
fora não é o que pensa…
— Não? Você estava com outra mulher, Matteo, enquanto estamos
namorando, se você gosta de sexo assim, poderíamos ter feito, você não
precisava vir aqui…
— Acha que ficaria com outra pessoa? — Tinha um gosto amargo ao
proferir as palavras.
— Por que não? — Afastei o meu rosto do dele. — Você não sente o
mesmo por mim, Matteo. — Porque você ama outra, pensei, mas não disse isso
em voz alta, já era insuportável pensar, imagina falar?
— Eu sinto, é esse o problema. — Fechou os olhos por um segundo e
depois me fitou. — Tem algo que se eu te contar você irá me odiar para sempre.
— O que é? — Temia a resposta.
— Queria poder contar, mas juro por tudo no mundo que não toquei em
ninguém além de você, jamais a trairia, Irina, nunca. — A verdade estava escrita
em seu rosto. — Só estava ao lado daquela mulher porque o cara que estava na
minha frente a jogou para mim, como precisava de algumas informações, não a
tirei, mas não a toquei.
— Acredito em você. — Não ouvi mentiras em sua voz e nem as vi em sua
expressão.
Eu podia insistir para que me contasse agora, nesse momento, o que ele
queria descobrir desse homem, mas deixei para depois, agora quero sentir
Matteo dentro de mim. Estava aliviada com o que ele disse, que sentia o mesmo
que eu. Podia acreditar que ele gostava de mim, sentia isso em sua reação,
embora algumas vezes ele mudasse para frio, acho que é seu jeito, e uma parte
de mim ama esse homem dessa forma.
Amanhã ou mais tarde conversamos sobre que assunto é esse que me faria
odiá-lo, nem se ele ficasse com várias mulheres do mundo isso seria possível,
não consigo pensar em nenhum motivo suficiente agora. É claro que se me
traísse de verdade não o odiaria, só não voltaria para ele.
Eu coloquei meus braços em seu pescoço e o beijei com uma fome capaz de
devastar o planeta. Suas mãos alisaram meu corpo me fazendo estremecer com
prazer e fome. Era como se eu não me alimentasse em anos, como se há décadas
não sentisse seus beijos, seu gosto, seu toque e cheiro.
Eu gemi ao sentir seus dedos dentro de mim, me fazendo rebolar em sua
mão como uma louca, mas não liguei, só queria que ele matasse esse desejo
ardente que estava me consumindo por dentro.
Ele me pegou nos braços e me depositou na cama sem nunca tirar sua boca
da minha, meus lábios estavam doloridos pela força do beijo, mas não liguei.
Estávamos desesperados um pelo outro, a princípio, depois de um segundo o
beijo se tornou lento, embora eletrizante e feroz. Era como se ele tivesse todo
tempo do mundo.
— Matteo… — Queria gritar para ele andar logo e entrar em mim.
Ele não disse nada, só tirou meu sutiã e abocanhou meu seio, apertando o
bico do meu peito com a língua, me fazendo gemer e gritar, não ligando para
quem ouvisse.
Matteo sugou um e depois o outro enquanto sua mão direita ia para entre
minhas pernas, enfiando dois dedos em mim igual fez agora há pouco, mas agora
ele circulou meu clitóris, me fazendo gritar pelo seu nome.
— Isso, princesa, goza para mim — rosnou dando uma última estocada de
dedos, me trazendo para a borda do orgasmo, então explodi.
Minhas mãos foram para sua camisa, eu estava louca, não querendo nada
entre nós dois. Quero sentir sua pele na minha.
— Pode tirar, sou todo seu, minha Irina. — Seu olhar era quente no meu ao
dizer isso.
A escuridão tinha saído, restando só chamas abrasadoras que estavam me
deixando mais necessitada e com fome, embora houvesse algo mais que não
identifiquei, mas parecia que ele me amava e me queria, e não outra pessoa.
Eu assenti, tirando sua camisa, o terno que ele estava vestindo quando
chegou foi tirado, acho que na hora que ele entrou aqui. Assim que a camisa
estava fora dele e antes que eu pudesse apreciar seu peito lindo e malhado, eu vi
sua pele coberta de tinta, mas não eram tatuagens normais, e sim letras do
primeiro nome de alguém. Não me cansava de admirá-las.
Eu fiquei curiosa para perguntar sobre essas letras aqui tatuadas logo
quando o vi sem camisa antes, louca para saber sobre quem eram. Como eram
muitas, não poderia ser de pessoas que matou, já tinha ouvido que tem mafiosos
que fazem isso, colocam os nomes na pele. Então Matteo me disse, como se
lesse minha mente, que eram as iniciais das meninas que o pai dele sequestrou e
manteve presas em cativeiro.
Abaixei meus lábios nas letras e as beijei com carinho sem desviar de seus
olhos.
Ele prendeu o fôlego quando fiz isso, vi emoção ali. Seus olhos se fecharam
por um segundo, como se ele estivesse rezando, orando ou algo assim, depois me
fitou parecido a uma adoração.
— Irina… — Sua voz estava grossa, tomada de emoção.
Adorei ver o clamor em sua voz, empurrei-o para cama de costas, o montei
e passei minhas unhas vermelhas em sua barriga, o fazendo tremer.
— Você está provocando, Irina — grasnou.
Arqueei as sobrancelhas.
— Estou? Mas nem comecei ainda… — Tirei seu cinto, calça e cueca,
deixando-o nu em toda sua glória, que eu adorava, duro e brilhante com pré-
sêmen.
— Quer ir para esse lado? Porque eu sempre ganho. — Fitou em meus
olhos.
— Sim, você sempre ganha — concordei, como o meu coração, meu corpo
e minha alma, que ele já possuía. E quanto ao dele? Eu estava perto? Ele disse
que sim. Mas era amor?
Eu suspirei me controlando, não querendo estragar o momento que
estávamos tendo.
— Irina? O que foi? — perguntou me rodopiando e pairando em cima de
mim e tocou meu rosto. — Não suporto que fique triste. — Ele beijou meu rosto.
— Não estou, só pensando no que me disse, que gosta de mim, parece
surreal — comentei. Não era um “eu te amo”, mas por enquanto serviria.
— Só você que eu quero, Irina, você fez algo comigo e não quero mais
ninguém além de você.
Ele beijou minhas pálpebras com carinho enquanto entrava em mim, achei
que ele ia me foder com força, igual sempre fez, mas dessa vez ele estava se
movimentando devagar, bem lento e amoroso. Seus beijos eram apaixonados.
Então, com emoção em meu peito, percebi que ele estava fazendo amor
comigo pela primeira vez. Hoje não pedi mais nada na vida, só esse momento,
esse homem em meus braços. Entrei aqui pensando tê-lo perdido, mas agora vou
sair sabendo o quanto gosta de mim.
Eu te amo, Matteo, pensei.
Eu recebi uma ligação de Luca dizendo que achou onde minha irmã está:
país, estado e a cidade. Cheguei a Nova Jersey, Dalila vive aqui há três anos. A
mulher que a adotou na Rússia se chamava Lucia, ela morreu no mesmo tempo
que Dalila foi embora da Rússia para a cidade onde mora hoje.
Eu tinha muitas perguntas a ela, como ela adotou Dalila? Como conheceu
minha mãe? Mas eram perguntas sem respostas, já que as duas não viviam mais.
Lucy é filha de Lucia e vive na Rússia, mas soube que as duas se dão muito
bem, essa garota e Dalila que por sua vez tem outro nome, minha Dalila agora é
conhecida por Samira.
Dalila tem uma vida sociável aqui em Trenton, trabalha em uma boate
como garçonete, estuda na faculdade de artes, uma coisa que ela ama de paixão,
pelo jeito isso não se perdeu. Todos aqui pareciam conhecê-la só como Samira.
Agora estou em uma galeria onde estão algumas de suas obras, umas bem
intensas, devo dizer. Soube que foi um amigo dela que conversou com o dono
para deixá-las expostas aqui.
Dalila sabia sobre nós, eu podia ver isso através das artes que ela pintou. No
fundo pensei que ela tivesse perdido a memória ou algo assim, afinal ela nunca
voltou para as nossas vidas. Minha vida, melhor dizendo.
Quando nós dois éramos crianças não nos separávamos, é claro que fiz de
tudo para esconder uma grande parte do nosso mundo sombrio dela, escondi o
que pude, mas quanto ao casamento com menores eu não podia fazer nada, por
um lado, fiquei feliz por ela ter ido embora, assim não se submeteu àquela
barbaridade.
Dalila, desde criança, queria fugir para longe, não ser submetida a algo que
ela não queria, aliás, nem eu nem mamãe queríamos que nossa menininha tímida
fizesse isso. Nós sempre odiamos isso tudo.
As imagens mostravam os rostos de crianças cabisbaixas como se tivesse
um fardo em suas costas, rostos sombrios e atormentados como se estivessem
tomados de dor.
Tinha outra imagem de uma mulher de costas segurando a mão de uma
garotinha de cabelos negros em um parque. Eu a reconheci e também à mulher
ao seu lado.
— O que você fez? — perguntei a ninguém em particular.
Ela forjou a morte de Dalila, Giulia chegou até nós e nos disse que a
mataram, pior, estupraram… merda! Tudo isso poderia ter sido evitado, mas
talvez não. Quem sabe?
— Lindas obras, não é? — disse um cara chegando ao meu lado e vendo os
quadros também.
Eu assenti sem tirar os olhos das artes. Tinha um cuja imagem consistia em
várias mãos que pareciam estar presas em um poço ou algo assim, elas pareciam
querer sair.
— Sim, são belíssimas e um pouco diferentes — comentei, não querendo
ficar estranho só encarando a arte. — Assim como eu gosto de uma obra.
— Ela tem talento, aposto que se as pessoas certas vissem isso ela poderia
ir longe, estou vendo se consigo algo — disse o senhor com um suspiro
sonhador.
— Quem é ela? — fingi não saber, afinal, não quero que ninguém saiba
quem eu sou, não antes de falar com ela. — É daqui da cidade?
Ele assentiu e tocou em um quadro onde uma garotinha estava sentada em
uma pedra, olhando para o oceano imenso e azul, a saudade e dor ali eram
visíveis em seus olhos.
— Sim, Samira. Ela é uma artistista habilidosa e seu amigo que a ajudou a
me convencer a deixar suas obras aqui. Romulo é um cara gente fina. Na hora
que ele me falou pensei em não deixar, mas quando vi as obras, notei o grande
talento que essa garota tem.
Sim, eles com certeza são magníficos, pensei. Muito tristes também, porque
neles está sua alma. Sua dor e perdas, pelo menos foi isso que detectei nessas
obras que ela fez.
Alguns eram momentos que ela viveu, outros são novos, com ela longe de
mim, da nossa família. Mas tem um ali que me chamou atenção.
Parei na frente de um quadro, esse me deixou curioso e bem confuso. Tinha
um homem de terno, estava de lado e não mostrava o rosto, mas o reconheci pela
tatuagem em sua mão. Ou melhor, em minha mão.
Ela desenhou um mafioso? Mas quem era esse outro cara na minha frente
como se estivesse me confrontando. Minha tatuagem de aranha viúva negra na
mão mostrava que eu era um dos homens. Fiz essa tatuagem aos dez anos, gosto
delas porque aranhas viúvas negras são venenosas e mortais. Tem várias mais
mortais, mas gosto da viúva negra.
O outro? Examinei-o mais atentamente e vi algo que me fez arfar ou quase.
Ele tinha um anel em seu dedo escrito chefe em russo. Conheci muito bem o anel
de chefe de Dark. Não tem como ela ter conhecido Dark, não é? Preciso
averiguar isso também. Talvez fosse coincidência.
— Interessante essa arte, não é? — o cara disse. — Vejo como poder essa
imagem. Acho que são pessoas que ela conhece. Estou indo procurá-la para uma
oferta grande, mas ela está um tanto ocupada agora. Mas acredito que assim que
eu contar que pretendo investir nela, ela vai ficar feliz com isso.
Dalila tinha uma vida agora e parecia que o seu passado só traria uma
lembrança ruim para ela, como vejo nessas imagens. Preciso deixá-la seguir com
sua vida.
Queria-a tanto do meu lado, mas hoje cedo descobri que meu tio está mais
empenhado em descobrir onde minha irmã está. Preciso saber seus motivos para
tê-la ao nosso lado, amor não é, o cara é um tremendo sádico filho da puta que
não ama nem mesmo o seu filho.
Dalila está segura aqui nesse lugar, tem amigos que se preocupam com ela,
igual Romulo, que conseguiu que suas obras fossem expostas aqui para as
pessoas verem. Então por que irei tirar isso dela? Ainda mais trazê-la para o meu
mundo, se não sei o que Enzo quer?
Preciso ter certeza do que meu tio quer, e se ele quiser fazer mal à minha
irmã, vou dar um jeito de destruí-lo, só não sei ainda como, mas vou descobrir.
— Eu vou ficar com todas as obras dela que estão aqui — falei ao cara.
Ele arregalou os olhos e depois sorriu.
— Ela vai ficar muito feliz, quem devo dizer que comprou as obras dela?
— Matteo Salvatore, quero que entregue esse bilhete a ela para mim. —
Entreguei o bilhete.
Depois que saí da galeria, fiquei pensando no bilhete que deixei para ela.
Lily, você não sabe o quanto sofri pensando que estivesse morta, mas
graças a Deus descobri que está viva. Olhando para essas telas, eu vejo o que
pensa do nosso mundo e do que passou nele. Prometo que vou mantê-la segura,
não deixarei que ninguém saiba que está viva, assim não precisará voltar ao
nosso mundo.
Sinto sua falta e espero que um dia eu possa reencontrá-la pessoalmente
para dizer tudo o que não pude dizer durante todos esses anos, após Giulia dizer
que você estava morta. Ela disse que havia sido os Dragon que a mataram e por
isso papai os matou, mas no final você está viva e bem.
Te amo para sempre, minha irmã.
MS
Eu a queria comigo agora, mas vou ter paciência e torcer para um dia estar
ao lado dela e abraçá-la de novo. Por isso deixei o bilhete e também falei dos
Dragon, caso ela esteja vendo ou tenha conhecido o Dark. Assim ela saberá que
não deve se aproximar dele ou de alguém da família dele.
Eu sou egoísta por pensar isso, já que quero a irmã dele, mas eles poderiam
usá-la como uma vingança quando descobrirem o que Lorenzo fez com os pais
deles.
Eu não posso pensar que eles sabem o que Lorenzo fez e estejam se
aproximando dela de alguma forma, porque isso não faz sentindo, não é? Se os
Dragon soubessem que os Salvatore são culpados pela morte de seus pais, eles já
estariam atrás de nós, querendo vingança. Esperava mesmo que fosse isso, e não
outra coisa.
Antes de pegar o voo e vir embora, não resisti de ir vê-la. Eu a vi entrar na
galeria, Dalila se tornou uma mulher linda, aliás, sempre foi, mas agora está
deslumbrante. Pele branca e cabelos escuros parecidos com os meus e com os de
mamãe.
Eu queria ir até ela e abraçá-la, mas resisti. Agora vou atar as pontas soltas
e espero mesmo que minhas suspeitas sejam infundadas, que não exista nada
entre ela e os Dragon. Não posso arriscar que me peguem perto dela.
Todos pensavam que eu estava na Itália, resolvendo negócios, mas na
verdade vim à procura de minha irmã e no final a encontrei, só não estava
levando-a comigo. Agora só vou me concentrar em resolver tudo isso,
começando pelo Enzo.
Eu liguei para Luca assim que estava indo para o aeroporto de volta a
Chicago.
— Então, como foi? — sondou assim que atendeu. — Espero que a
pestinha esteja bem, está trazendo ela ou resolveu descobrir primeiro o que meu
pai quer?
— Não posso levar ela comigo até descobrirmos o que está acontecendo —
comentei.
— Ao menos se aproximou dela? Abraçou e disse que estou louco para ver
aquela sapequinha? — Ele riu.
— Ainda não, só vou me aproximar dela depois que puder trazê-la para
casa, mas deixei um bilhete dizendo que eu estive à procura dela, você não viu
as imagens que ela pintou, mas o que me deixou um pouco chocado e
preocupado é que eram sobre a máfia. — Suspirei.
— Espere, o quê?
— Tinha uma imagem de Dark comigo, como se estivéssemos nos
confrontando ou algo assim. As imagens não mostram os rostos, só o reconheci
pelo anel de chefe.
— Você acha que Dark sabe o que Lorenzo fez e foi até Dalila como uma
vingança?
— Não sei, mas vou descobrir isso, vou precisar dos serviços de Daemon.
— Peguei minha bagagem e me sentei, esperando meu voo. — Veja o que ele
descobre sobre isso. Também preciso de alguém fora da máfia, mas que seja de
confiança para ficar de olho em Dalila por um tempo, até ter certeza de que ela
está segura.
— Sim, vou fazer isso, posso checar com Shadow se ele conhece alguém de
confiança para fazer o serviço — disse. — Mas você está bem? Estava animado
por ver a Dalila, ou Samira, como é o seu nome agora.
— Para mim ela sempre será Dalila — comentei a verdade com convicção.
— Logo a verei, só preciso resolver esse problema, ou problemas, pensando no
plural. Antes era só com meu tio que tinha que me preocupar, agora estou mais
ansioso e nervoso que Dark esteja de algum modo perto de Dalila.
— Talvez ela tenha só desenhado por desenhar, já que viveu uma boa parte
de sua vida na Rússia, e nós estejamos nos preocupando à toa, não é? Com meu
pai acho que é mais sério. — Suspirou — Descobri o cara que o informou sobre
Dalila estar viva ao meu pai, ele se encontra hoje à noite no clube de BDSM
Hansis. Talvez ele saiba o que meu pai quer de Dalila.
Talvez Luca esteja certo e eu estou preocupado demais com Dalila e vendo
algo que não existe. Dark vive na Rússia, jamais iria a algum lugar em Trenton,
embora eu tenha sabido que ele tem uma boate lá, Prisma.
— Te encontro lá — falei e desliguei, torcendo para desenrolar logo isso e
eu pudesse ter Irina e Dalila ao mesmo tempo. As duas mulheres da minha vida.
Dois dias após eu saber o que Matteo fez e ficar chorando por ele ter
mentido para mim, e também pensando que amo o filho do assassino dos meus
pais, pode parecer loucura, mas de alguma forma me sinto culpada por amar
Matteo. Talvez meus pais não fossem aprovar.
Por isso fui para a Rússia, bom, também para ficar um tempo longe de
Matteo. Podia ver seus homens me seguindo, seu primo, para ser exata. Não
queria correr o risco de ir procurá-lo, precisava de tempo, ainda mais esses dias.
Amanhã faz um mês e meio que não vejo Matteo e treze anos da morte dos
meus pais, por isso estou aqui, não posso ficar sem ir visitar seus túmulos.
Esses dias foram turbulentos, era como se eu fosse um maldito robô, me
movimentava, conversava e andava, mas estava fora do meu corpo, como um
zumbi.
Meus irmãos estavam mais nervosos com uma guerra chegando, mas o que
me deixou aliviada foi que não era contra os Salvatore. Eu não contei a ninguém
sobre o que Matteo me contou.
Eu posso estar longe de Matteo agora, mas não quero que nada aconteça a
ele ou a alguém da sua família por algo que o miserável do pai dele fez. Matteo
não é e nunca foi como o pai dele, afinal, ele derrubou a sujeira e a quadrilha do
velho asqueroso.
Foquei no agora, vendo meu irmão destruir a sua namorada, mas o que não
sabia era que ela é filha de Lorenzo, ou seja, irmã de Matteo.
Nikolai me pediu para fingir que estava na cama com ele. Achei que a
garota tinha feito algo errado ou algo que traísse meu irmão, mas no final foi só
um plano, porque um cara chamado Vladimir estava de olho em nossa casa,
tinha se infiltrado aqui, espiando tudo. Não sei por que ele a machucou, mas
custou muito ao Nikolai dizer aquelas palavras duras que destruíram a garota.
Samira é o seu nome.
Meu irmão a ama, pude ver assim que Samira foi correndo embora da
minha casa, a dor em seus olhos era visível, ainda mais quando soube que ela
estava grávida dele.
Eu fiquei olhando Nikolai e Alexei irem atrás de Samira, que tinha pegado
o carro de Alexei e fugido. Não há nada que deixe meu irmão mais furioso que
mexer em seus carros.
Eu estava tremendo por dentro, não sabendo o que sentir agora, fui culpada
de ajudar a ferir a irmã de Matteo, não queria isso. Posso estar longe dele, mas
não o odeio nem quero fazer mal a ele ou à sua família. Se soubesse quem era
ela não teria ajudado Nikolai a armar aquela atuação, no final, não valeu para
nada, a menina acabou machucada, e o Vladmir sabia o que estava acontecendo
aqui e que era atuação, tinha câmeras para todo os lados.
— Senhorita Irina, podemos ir? — sondou o motorista.
Eu estava indo ao cemitério ver meus pais, sempre que fico aqui vou quase
direto. É uma forma que acho de ficar perto deles.
Há dias que Nikolai está sumido, procurando Samira, esperava que
conseguisse encontrá-la. Depois teria que me desculpar pelo que fiz a ela.
— Alguma notícia de Nikolai e Alexei? — perguntei a Liam, um dos
homens do meu irmão.
Ele era alto, forte e olhos claros.
— Estão chegando hoje, senhorita, já devem estar pousando aqui com o
capo.
Meu coração deu um solavanco tão alto que podia ouvir a quilômetros.
— Matteo está com meus irmãos? — Minha voz subiu duas oitavas.
— Sim — respondeu me avaliando. — Algum problema, senhorita?
Todos os homens dos meus irmãos me chamavam assim, já pedi que
mudassem seu jeito, mas eles disseram que era por respeito ao chefe deles.
— Eles vão lutar pelo que o pai dele fez ao nossos pais? — Minha voz
estava tremendo por me preocupar que meus irmãos lutassem com o homem que
eu amo.
— Parece que eles fizeram uma aliança…
— Aliança? — arquejei, então pensei. Samira é a Dalila, irmã de Matteo, e
Nikolai ama essa mulher, eu podia ver pela forma que a olhava e o tanto que o
atormentou fazê-la sofrer.
No final das contas, eles agora estavam se aliando por ela? Devo minha
gratidão a ela por toda minha vida, afinal, não queria que o cara que eu amo e
meus irmãos lutassem, isso me destruiria, acredito que a Samira também.
— Sim, pelo bem e felicidade da namorada dele, a irmã do capo — disse
ele com um suspiro.
Assenti e fiquei em silêncio todo o caminho até o cemitério onde meus pais
foram enterrados. As lápides deles foram feitas de mármore preto. Tem uma
estátua do meu pai e de mamãe. Alexei se parecia com ele, já eu, com minha
mãe.
Ajoelhei em frente às lápides deles e coloquei as flores, rosas eram as
preferidas da mamãe. Ela tinha uma estufa que até hoje Nikolai zela como se
isso fosse deixar nossos pais vivos, e também a avó dele.
Nikolai é filho de Sebastian Ruiz, um chefe do cartel mexicano que o
abandonou em um hospital quando meu irmão era bebê. Jacov matou a mãe de
Nikolai e então Sebastian só queria vingança, não ligou para mais nada.
Meus pais adotaram Nikolai e o amou como um filho, não importando se
não tinha o mesmo DNA, e com certeza eles dois estariam felizes com o que
meu irmão se tornou.
— Mamãe, papai, o que faço? Estou tão apaixonada por Matteo, que não
suporto mais ficar um dia sem estar ao lado dele — sussurrei. — Ele é um
homem honrado e com palavra, disse que me daria o meu tempo e deu, não me
obrigou a escolher ele.
Alisei o anel que ele me deu antes de me revelar toda a verdade, por alguma
razão não consegui devolver o anel, porque precisava só de tempo, e tive esse
tempo aqui com meus irmãos, na minha casa.
— Lamento, não posso ficar mais longe dele de forma alguma. Fiquei esses
dias, mas foi difícil, como se cada parte de mim tivesse sido despedaçada e
esvaziada ao mesmo tempo. Como posso viver assim? Eu sei que o monstro do
pai dele matou vocês, mas ele não tem culpa, nem Matteo nem a irmã dele. —
Suspirei. — Queria tanto que estivessem aqui.
Limpei as lágrimas.
— Eu amo vocês demais… — fui interrompida com uma mão puxando
meu braço.
— Vamos…
Ouvimos tiros sendo direcionado a nós, a mim e a Liam e mais alguns
homens do meu irmão ao nosso redor.
— O que está acontecendo?
— Não devíamos ter vindo aqui, merda! — rosnou com dentes cerrados.
Foi um sacrifício convencer meus irmãos a me deixarem sair de casa. Só
deixaram porque hoje é um dia que considero importante para mim, o dia quem
venho todo ano visitar meus pais. Eles também vêm, mas precisavam ir atrás da
Samira, ou Dalila, seja qual for o nome pelo qual a irmã do Matteo queira ser
reconhecida.
Antes que eu argumentasse e dissesse alguma coisa, tudo ficou escuro ao
sentir uma pancada na cabeça.
Abri os olhos e olhei ao redor, querendo saber onde eu estava. Senti minha
cabeça dolorida. O lugar parecia ser um galpão ou algo assim.
— Liam — chamei, tentando me mexer, mas senti minhas mãos amarradas.
Não o vi em lugar nenhum. Meu coração estava acelerado e apertado,
temendo tanto pela minha vida quanto pela dele, que estava comigo.
Se eu tivesse ouvido meus irmãos, agora não estaria aqui, sendo raptada por
alguém desconhecido e assassino. Fui enganada uma vez por Enzo, não
considerava aquilo um sequestro, mas agora, sim, fui nocauteada e trazida para
esse lugar, aposto que era para conseguir alguma coisa dos meus irmãos.
Eu só espero que Samira esteja bem, que eles não tenham chegado até ela,
afinal, ela carrega um bebezinho na barriga.
— Vamos ver o quanto ele vai aguentar, talvez ainda esteja vivo — disse
uma voz na minha frente.
Eu o fitei e vi um homem forte, vestido com terno e barba grande. Tinha
outro do seu lado, esse era loiro e com cabelos curtos.
— O chefe deu você para degustarmos. — Seu olhar para o meu corpo me
fez arrepiar de medo.
— Dark vai escolher a sua mulher, por isso ele nos deu você e foi para
ela…
— Samira? Vocês estão com ela? — perguntei grogue e com raiva ao
mesmo tempo.
— A putinha do Dark? Oh, ela está agora com o chefe, e Dark e Alexei
estão indo para lá agora.
— O chefe o fez escolher entre você e a mulher dele, a que ele não quisesse
era para aproveitarmos o quanto quiséssemos — comentou o barbudo.
O loiro riu.
— Vamos adorar te possuir. Porque parece que até o seu irmão Alexei foi
com ele, desistindo de você.
Eu evitei estremecer com eles dizendo coisas assim. Nenhum deles falou
em Matteo, só nos meus irmãos indo atrás de Samira. Sabia que eles jamais me
deixariam se algo fosse acontecer comigo, Nikolai e Alexei estavam com
Matteo, garanto que é ele que está vindo até mim.
Esperava mesmo que eu estivesse certa, não podia morrer aqui sem ver
Matteo mais uma vez, o homem da minha vida, o cara com quem eu quero
passar o resto da minha vida.
— Meus irmãos vão vir — falei, tentando não pensar em Matteo agora.
O barbudo riu após ver uma mensagem, depois me lançou um sorriso como
se quisesse comer um canário, ou seja, eu.
— Como disse, o filho da puta fez uma escolha, advinha quem ele
escolheu?
— Não foi você — cantarolou o loiro, sorrindo.
Eu não ia implorar por minha vida, não a um bando de idiotas assassinos. O
que eu vou fazer caso Matteo não chegue a tempo? Não posso ser tocada por
esses monstros, prefiro a morte a isso.
— Ele vai vir — sussurrei mais para mim mesma em particular, não posso
perder a fé que tenho em Matteo.
— Você não ouviu, putinha? Dark escolheu a outra cadela, não você! — O
barbudo veio em minha direção.
Meu coração gelou e fechei os olhos, não querendo ver o que estava prestes
a acontecer. Oh, céus, nunca senti medo igual estou sentindo agora.
— Matteo — sussurrei de olhos fechados, não querendo ver o que ia
acontecer.
Eu poderia mandar todos irem se foder e irem para o inferno, mas estava
tremendo demais, como medo de algo ruim acontecer comigo.
Ouvi um baque como de algo caindo no chão, mas não abri os olhos, não
querendo ver quem ou que é. Mãos tocaram as minhas e comecei a gritar.
— Não me toque!
— Irina, sou eu — disse uma voz que eu conhecia entre milhões, mesmo de
olhos fechados, então eu os abri, me deparando com sua expressão mortal. —
Você está bem?
Eu suspirei aliviada vê-lo aqui, e os homens mortos com adagas em suas
cabeças. Então os tiros começaram por todos os lados.
Matteo desatou as cordas e me abraçou forte, como se quisesse me manter
no círculo de seus braços para sempre.
— Matteo, eu estava com tanto…
— Eu sei, querida, estou aqui agora — garantiu me puxando dali. — Vamos
embora.
Eu vi Nasx, o cara é mais fodão do que já vi, e sua expressão mortal
também. Hunter estava lá junto com vários homens lutando e atirando.
Matteo me puxou para o fundo do galpão e me levou na direção do carro.
— Liam…
— Ele vai ficar bem — garantiu me puxando para o banco de trás do carro.
Eu me aconcheguei ao seu lado e respirei seu cheiro que eu tanto amava.
— Matteo…
— Oi, querida. — Seu tom estava diferente, um pouco rouco, como se
quisesse controlar sua raiva.
— Eu estava com medo de que fosse morrer e não dizer a você que eu o
amo. — Olhei nos olhos dele. — Que não ligo para o que seu pai fez, você não é
ele e jamais será. Amo você porque é corajoso, forte, fiel à sua palavra. Me deu
tempo mesmo sofrendo em relação a isso. Você queria me procurar, mas como
prometeu a mim, ficou afastado.
Ele franziu o cenho.
— Falou com Luca?
Eu conversava com Luca direto, precisava saber como Matteo estava indo,
seu primo disse que ele estava sofrendo, mas como me prometeu o meu espaço,
ficou longe, mas custou muito a ele.
— Sim, desculpe, eu só…
— Eu sei, querida. — Ele beijou meus cabelos.
— Você me perdoa? — sussurrei. — Ainda me quer?
Ele me afastou e eu me encolhi.
— Perdoar você? Querida, você não fez nada, precisava daquele tempo, o
que eu disse não foi fácil. — Ele beijou minhas pálpebras. — E quanto ao que
sinto? Mudou…
— Oh! — murmurei, mordendo os lábios para não chorar.
— Está cada vez maior, tanto que às vezes não sei como somar. — Ele me
deu um beijo casto. — Alguém sabe quantas estrelas tem no céu e quantos grãos
de areia há no mar? Impossível, pois é o mesmo que eu sinto, é tão forte que não
sei viver sem você, minha pequena pacificadora.
Eu subi em seu colo, ignorando que tínhamos uma plateia, Samuel. Depois
ouvi um som como de um vidro subindo, a divisória do que ficava entre o
motorista e o banco do passageiro foi colocada, então estávamos só nós dois. Eu
o beijei, faminta.
— Irina… você…
— Eu quero você, Matteo, mais do que tudo, não quero pensar em nada que
houve hoje, só em estar aqui — sussurrei quase desesperada por seu toque. —
Por favor.
Ele gemeu e suas mãos foram para o meu vestido, levantando-o, rasgando
minha calcinha. Logo eu estava montada nele e seu pau me preenchendo
centímetro por centímetro, até me preencher por completo.
Seus beijos eram fortes e urgentes enquanto eu rebolava em seu pau. Tentei
fazer o mínimo de barulho possível, mas estava difícil, eu queria gritar, tamanho
era o prazer que estava sentindo.
— Eu amo você, Matteo — sussurrei nos lábios dele, o fitando
intensamente.
— Como eu amo você. — Puxou meus cabelos, me fazendo gemer. — Não
vou deixá-la partir de novo, a partir desse momento, você é minha mulher.
— Eu não quero partir. — Alisei seu rosto com as pontas dos dedos. —
Você é tudo que eu quero na minha vida, casar, ter filhos e ser sua mulher para
sempre.
Há muito tempo eu esperava por isso, por ouvir essa declaração com todas
as letras saindo de sua boca. Sonhava todas as noites em ouvir o som disso,
demorou um pouco, mas consegui ter o amor desse homem.
— Sempre. — Ele selou nosso juramento com um beijo enquanto
gozávamos e nos amávamos ao mesmo tempo.
Uma semana depois
Matteo queria falar com meus irmãos sobre nós dois, mas Nikolai levou
dois tiros e quase morreu. Então pedi que esperasse até ele ficar melhor. Matteo,
como sempre, concordou, o que me fez amá-lo mais do que nunca.
Eu estava feliz por meu irmão estar bem, ele levou tiros para salvar Samira.
Heroico da parte dele. Eu sabia que ele faria qualquer sacrifício por aqueles que
ama. O medo passou assim que soube que ele estava bem e vivo.
Eu estava na sala enquanto Matteo e Alexei conversavam com uns homens
que chegaram à nossa casa. Não os conhecia.
Nikolai estava no hospital ainda, mas bem, graças aos Céus. Se estivesse
aqui seria pior controlar três caras, já bastava ter que controlar Alexei e Matteo.
— O que vocês querem? — perguntou Alexei com tom mortal e frio.
Eu estava espiando, não querendo deixá-los sozinhos, embora não pudesse
lutar com esses caras mal-encarados e sombrios.
— Pietro Petrova mandou vir aqui para propor aliança entre nossas famílias
— disse um cara alto, moreno e que usava óculos.
Alexei fechou a cara.
— Não faremos aliança com aquele miserável de forma alguma, pode voltar
e dizer isso a ele — disse Alexei com os punhos cerrados.
Eu não estava contente com o rumo dessa conversa, qualquer coisa
chamaria Kriger, ele resolveria tudo, mas acho que nem precisava, já tinha
bastante homens aqui, tanto dos meus irmãos quanto de Matteo.
— Pensa bem, podemos nos aliar, o chefe tem uma filha, ela pode ser sua
esposa ou do Dark, e sua irmã pode se casar com Pietro — disse ao Alexei.
Eu gelei por dentro. Não, meus irmãos não podiam me obrigar a me casar
com alguém que eu não quero, não é? Eu sei que precisaria casar algum dia, mas
não posso, não se não for com Matteo, só ele me importa assim.
— Ela não vai se casar com aquele desgraçado — rosnou Matteo com
dentes trincados.
O barbudo olhou para Matteo de lado.
— Não acho que eu esteja falando com você, capo. Afinal, o que faz aqui?
Achei que estivesse sequestrando crianças para estuprar. — Sorriu. — Não sou
contra, adoro broto virgem, o chefe vai gostar da garota Dragon, com certeza
ela…
Eu estava a ponto de responder mesmo indo contra meu irmão na frente dos
seus homens e desses caras sem escrúpulos. Principalmente esse verme aqui, que
desrespeitou um capo.
Matteo se lançou para o cara, o derrubando no chão, e começou a socá-lo
com toda fúria. Armas foram apontadas, dos sete homens do cara e também dos
homens do meu irmão.
Meu sangue gelou, eu sabia que a fúria de Matteo era porque o homem me
xingou, e não por falar aquilo das meninas sequestradas. Talvez fossem as duas
coisas, quem sabe?
Eu corri para fora e fui na direção do Matteo, chamando pelo seu nome.
Não consegui chegar perto dele, porque Alexei me pegou e puxou para ele.
— Matteo — falei em italiano —, acalme-se, por favor.
Eu adoraria ver o verme morto também, esse bastardo estava no território
dos meus irmãos, e qualquer coisa esse Pietro poderia acusar de algo e vir para
cima. Não quero isso, afinal, foi uma guerra que levou Nikolai para o hospital,
não quero que mais ninguém se machuque.
— Matteo — chamei de novo, lutando contra o aperto de Alexei que estava
calado, vendo tudo e sem fazer nada.
Ao som da minha voz, ele parou e ficou ali, de joelhos, onde socava o cara,
mas parou quando pedi que parasse. Matteo expirou e se afastou do cara, seus
punhos estavam sujos de sangue da cara do homem que parecia desacordado ou
morto.
Ele olhou para mim, a sombra escura estava em suas feições, o tornando
mortal.
— Amo você — sussurrei, mexendo os lábios sem sair som algum para
Alexei não ver nada, embora ele com certeza desconfiasse, disso não tenho
dúvida.
Matteo virou as costas e saiu rumo ao seu carro. Eu ia dar um passo até ele,
mas Alexei segurou meu braço.
— Me deixe falar com ele, Alexei.
— O que está acontecendo? Você viu? Aquilo em seus olhos são demônios.
Acha que vou te deixar perto dele?
Eu ri amarga.
— Quando você mata pessoas não fica assim? — retruquei. — Por favor,
preciso falar com ele antes de ele ir embora, não posso deixá-lo partir assim.
— Irina…
— Alexei, por favor — supliquei.
Ele amaldiçoou e me soltou, só corri na direção de Matteo e fiquei na sua
frente antes de ele entrar no carro.
— Matteo, espera…
— Irina… — A dor era evidente na sua voz e olhos negros como ônix.
— Não! — rosnei. — Fiquei quase dois meses longe de você, não vou
permitir que se afaste de mim.
— Eu sou um monstro — afirmou sombrio.
— Pode ter partes sombrias em você, mas não é um monstro, sabe por quê?
— Não esperei o responder. — Porque nenhum monstro fez o que você fez para
aquelas meninas que salvou, nenhum monstro arriscaria a vida por uma mulher,
nenhum monstro é capaz de amar assim como você me ama.
Matteo enfiou a mão em meu cabelo e me puxou para ele, colando sua testa
na minha, sem tirar seus olhos dos meus.
— Lamento pelo que presenciou agora há pouco — sussurrou.
— Não me importo com isso, aliás, estou triste que não tenha matado o
filho da puta. — Forcei um sorriso para tranquilizá-lo. — Amo você, tanto seu
lado sombrio quanto o carinhoso, faz parte de quem é. Espero que um dia
consiga tirar pelo menos um terço dessa escuridão.
— Também amo você, minha princesa. — Sorriu, afastou e piscou para
alguém atrás de mim. — Alexei.
— Tem dois segundos para dizer que porra aconteceu aqui e por que vocês
dois estão juntos. — Sua voz era sombria, assim como a forma com que fuzilava
Matteo com o olhar.
— Matteo já está de saída — falei empurrando Matteo para o carro e
ficando de frente para meu irmão. — E você e eu vamos conversar depois, assim
que Nikolai sair do hospital.
— Temos que falar agora — retrucou.
Eu olhei para onde os homens de Pietro estavam indo embora com o cara
todo arrebentado e sangrando.
— Alexei, eu sei que tem muitas perguntas e vou responder a todas, só que
agora não é o momento — informei.
Samira estava no carro no qual Matteo ia entrar antes. Matteo só veio se
despedir de mim antes de aqueles homens aparecerem e estragarem tudo.
— Alexei tem razão, Irina, preciso falar com ele, depois falo com Dark —
disse Matteo.
Eu não queria, mas os dois se afastaram de mim e ficaram na varanda.
Olhei para Samira meio tristonha, acredito que por causa do Nikolai.
Eu me sentei no carro ao seu lado.
— Nikolai vai ficar bem, não se preocupe — falei com firmeza, assim ela
não desmoronaria, nem eu.
— Eu sei, ele é um homem forte, poderoso e, sobretudo, magnífico. Confio
que ele vai ficar bem. — Ela se parecia demais com Matteo, pele branca, cabelos
escuros e olhos também escuros tornando-a mais bela.
— Eu sinto muito — ela sussurrou.
Eu pisquei e a fitei de lado, não entendo por que ela sentia muito sendo que
fui eu que fingi estar na cama com Nikolai.
— O quê?
— Estou falando sobre o que Lorenzo fez… é por causa dele que os seus
pais não estão vivos, e por minha culpa também, de certa forma.
— Tudo bem — sussurrei encolhida. — Eu sei que não foi sua culpa ou de
Matteo. Jamais o acusei, nem perto disso.
— Então por que ficou esse tempo longe dele? Ele me contou tudo, que está
apaixonado por você. Ele achava que você o odiava para ajudar Nikolai na
mentira.
— Não foi por isso, meu irmão pediu e faço o que ele manda, não por ser
chefe, mas porque o amo. Não sabia quem você era até que ele disse no quarto
aquelas palavras a você. Espero que o perdoe, porque ele não vive sem você.
Nikolai a ama e jamais a enganaria com ninguém.
— Eu sei que ele jamais me enganaria com alguém, é só que tenho medo…
não dá para evitar — comentou.
— Meu irmão beija o chão que você pisa. Nunca achei que alguém fosse
capaz de penetrar a armadura que ele tinha dentro de si, mas você entrou e
derrubou — sussurrei impressionada. — Não precisa temer nada, ele jamais
arriscaria a própria vida se não fosse por alguém que ele ama, isso só aconteceu
porque Nikolai a adora. Ele não ligou para quem você era, o amor falou mais
alto.
Ela suspirou e olhou para Matteo e Alexei conversando com seus homens
ao redor.
— Eu não queria ter nascido na máfia, fugi deles até quando pude. Quando
fiquei sabendo que Nikolai era da máfia, tudo em mim dizia para me afastar, mas
não consegui, o meu amor e desejo por ele falaram mais alto. Por ele eu
enfrentaria tudo, a máfia, a dor, o medo. Até mesmo as abominações que tanto
odiava na vida — sussurrou ela encolhida.
— Eu soube do que aquele monstro fez — comentei. — As crianças. Jesus,
até Evelyn foi raptada por corja toda. Não critico você por ter ficado longe deles,
eu também ficaria.
— Eu queria falar com ela, sei lá, saber o que pensa, se sente raiva de mim
por ter sido tirada de sua infância com sua família… — Sua voz falhou.
— Por que não faz isso, então? — sondei curiosa, embora suspeitasse.
— Tenho medo de que ela não me perdoe. Vocês duas têm sérias razões
para me odiarem por toda a minha vida. Suspirei.
— Não odeio você e acredito que Evelyn também não. — Sorri tristemente.
— Devo mencionar que, assim que soube quem você era, eu fiquei balançada,
mas após perceber o quanto você ama meu irmão, superei. Você não tem culpa.
Ela sorriu.
— Obrigada — disse e piscou, vendo o anel que eu rodava no dedo. —
Quem deu esse anel a você? Matteo?
Eu assenti olhando para Matteo, que não tirava os olhos de nós duas, tinha
um brilho intenso neles. E por incrível que pareça, os dois estavam também se
entendendo, pelo menos não estão lutando.
— Sim. Antes de me dizer o que o pai de vocês dois fez com os meus —
sussurrei.
— Lorenzo pode ter meu sangue, mas hoje ele não é mais meu pai. Eu
abomino pessoas como ele, e se aquele monstro matou minha mãe, então seus
dias estão contados na Terra. — Seu tom era amargo. — Mas o que houve
depois? Por que meu irmão não daria esse anel a ninguém que não significasse
nada para ele. Ele pertenceu à minha avó, mamãe tinha ciúmes dele e fez Matteo
prometer que o daria à sua esposa só se estivesse apaixonado.
— Espere… sua mãe? Eles a mataram? — indaguei sufocada e com raiva.
— Vladmir que comentou, mas talvez estivesse só dizendo isso para me ver
sofrendo. Agora só quero me concentrar em Nikolai ficar bem, queria estar ao
lado dele, mas o verme do meu tio foi me buscar no hospital e me tirou de lá.
— Vai dar tudo certo — sussurrei a verdade. — Eu no começo fiquei
confusa e com remorso por me apaixonar pelo filho do homem que matou os
meus pais. Mas nenhum de vocês dois tem culpa daquele sádico ter feito o que
fez.
Matteo chegou até nós e me abraçou forte. Antes de ir embora, senti que ele
queria fazer mais que apenas abraçar, mas meu irmão estava à espreita ali, como
um falcão e com cara de poucos amigos.
Perguntei o que eles conversaram, mas ele falou que era papo de homem,
deixei quieto não por opção, mas porque o tio dele ligou, apressando para poder
pegar o voo para a América.
Os dias foram ruins sem Matteo, mas eu não podia ir agora, tinha que tomar
conta do meu irmão Nikolai.
Matteo estava com raiva do seu tio, mas não perguntei por que e não acho
que ele diria algo.
A recuperação de Nikolai foi bem difícil, o homem não parava quieto nem
um segundo, parecia uma criança de quem eu tinha que tomar conta, e eu o
obrigava a tomar os remédios na hora certa, mesmo sem ele querer.
Após uma semana na Rússia, depois de Matteo e Samira irem embora,
agora que conseguimos vir para a América, isso porque o velho do tio de Matteo
estava querendo arrumar casamento para Samira, isso deixou Nikolai
desnorteado, para não dizer furioso. Bota fúria nisso.
— Vai dar tudo certo, meu irmão — falei a ele assim que pousamos em
Chicago.
Alexei, Nikolai e eu fomos para uma casa gigante que Nick comprou e que
fica perto da casa do Matteo. Acredito que ele fez isso para deixar Samira
próximo à sua família quando eles se casarem e vierem passar tempo aqui.
— Estou louco aqui sem saber o que está acontecendo lá agora. — Tinha
impotência em seu tom, algo que raramente eu vejo.
— Tem homens lá com ela, nada vai acontecer — falei a ele com firmeza e
convicção.
Ele não respondeu, mas eu esperava mesmo que nada viesse a acontecer
nessa festa, nem com Samira. Ela me pediu que a chamasse assim, embora o seu
irmão a tenha ignorado e a chamasse de Dalila.
Mais tarde naquela noite, chegamos à festa. Nikolai estava sentindo dor
pelos ferimentos que teve, já era para estar melhor, mas o cabeça dura não para
quieto um segundo. Ainda mais depois de saber o que se passava aqui com os
Salvatore.
Eu devo dizer que não estava preparada para a coisa bombástica que estava
acontecendo e que foi revelada na festa.
Tudo esplêndido, a sala imensa com estilo italiano estava decorada agora
para uma festa a rigor, pessoas elegantes com vestidos de festa estavam por toda
a parte, sorrindo falsamente. Já cansei de dar sorriso assim nas festas que meus
irmãos davam.
Quando foi revelado o que Enzo fez, a morte de Giulia, os vídeos que a
mulher fazia para seus filhos comprovavam isso. Toda vez ela fazia um, e foi no
último que o maldito chegou e a matou, fazendo parecer que ela se suicidou. O
pior foi que também matou a mãe de Luca.
— Nunca imaginei que seria capaz de chegar a esse ponto — rosnou Luca
com fúria na voz. — Você matou minha mãe também. Por quê? Só para se casar
com Dalila e ter um maldito cargo?
Parecia que Enzo estava forjando casar Samira com um cervo dele, mas o
bastardo que iria se casar com ela e ter o poder de capo, isso após matar Matteo e
tomar posse do trono.
— Ela era uma inútil e estava me atrapalhando na conquista do trono, o
qual eu merecia por direito.
— Trono? Seu desgraçado de merda! — Luca se lançou contra Enzo e o
socou no rosto, fazendo o velho cair para trás feito uma abóbora madura.
— A reunião acabou! Samuel? Prenda todos os capangas desse homem —
Matteo rosnou, olhando para o tio como se ele fosse um inseto que logo mataria.
— Vamos, Irina. — Alexei pegou meu braço.
Matteo virou para Samira, que estava furiosa ao lado de Nikolai.
— Pode ficar com Nikolai essa noite? Só confio você a ele ou aos MCs.
Assim as pessoas saíram da casa indo embora, como Samira e Nikolai.
Podia ver que ele estava andando meio torto devido à dor, mas não demonstrou,
no meio dos outros.
— Irina…
— Não posso deixar ele sozinho aqui, Alexei. Eu preciso ficar — falei ao
meu irmão.
Matteo e Luca, assim como alguns de seus homens, saíram levando Enzo
para um corredor do lado de fora da casa, acredito que lá é o porão. Nem quero
imaginar o que vai acontecer lá, embora não ligue.
— Não vou deixar você — rosnou ele. — Não confio em ninguém dessa
casa.
— Não tem ninguém aqui, vou ficar bem, você não tinha um compromisso
depois da festa? — falei soltando um suspiro. — Sou maior de idade e vacinada.
Ele fez uma careta.
— Irina, não me provoque,
— Por Deus, Alexei, só me dar um segundo para ficar sozinha, olha como
ele saiu daqui, quando voltar vai estar mil vezes pior do que quando bateu
naquele cara lá em casa. Preciso fazer isso, Alexei. — Peguei suas mãos. — Por
favor, me deixe fazer isso por ele, eu o amo.
— Eu vou ficar até que ele venha. Sei que não falamos sobre isso, mas não
quero que você tran…
— Pelo amor de Deus, não vai falar sobre sexo agora, não é? Além disso,
vou me casar com ele. — Meu tom era decisivo, sabia que logo isso aconteceria.
— Quando se casarem vocês…
Eu virei as costas para ele e fui para a cozinha, me deparando com Zaira
sentada à mesa da cozinha.
— Oh… oi — falei baixinho e me sentei ao seu lado, tudo para fugir da
conversa sobre sexo com meu irmão. Agora não é o momento.
— Oi, menina. — Sorriu de modo triste. — Está esperando o menino
Matteo?
— Sim, ele não vai sair bem de lá de dentro — sussurrei olhando na direção
de onde eles foram.
— Ainda bem que ele tem você, já o menino Luca não vai ter ninguém para
ele. — Seu tom era triste. — Amo esses meninos como meus filhos, não gostaria
que sofressem.
Ela contou algumas coisas que aconteceram quando os meninos eram
crianças, Matteo, Luca e Dalila, como ela a chama. As aventuras, embora
poucas, no meio dessa família criada por regras duras.
Antes que eu falasse ou perguntasse mais alguma coisa, ouvi Alexei
conversando com Matteo.
— Onde está Irina? — Sua voz estava grossa.
Corri para a sala e o vi parado ali, com a roupa suja de sangue e as mãos
machucadas, como se tivesse socado muito…
Merda! A sombra em seus olhos era evidente, quase palpável.
Alexei não queria ir embora, mas a dona Zaira disse que não sairia daqui e
que tudo ia ficar bem.
Eu não liguei para isso, só peguei a mão de Matteo e o levei para o seu
quarto. Fui direto para o banheiro.
— Irina… — começou ele.
— Shhh, eu vou cuidar de você — falei tirando suas roupas sujas de
sangue. Não perguntei o que houve e não quero saber o que aconteceu com
aquele traste do Enzo.
— Ele a matou, a minha mãe…
— Não pense nisso agora, querido. — Eu o levei para debaixo do chuveiro.
— Só pense em minhas mãos tocando sua pele agora e que eu vou estar sempre
ao seu lado.
Peguei shampoo e coloquei em seus cabelos, lavando todo sinal de sangue
que tinha nele. Espero um dia limpar a escuridão que tem dentro dele. Já havia
antes, imagina agora, que ele fez seja lá o que com seu próprio tio, a família.
Ele fechou os olhos e expirou.
— Sinto, são macias como pluma, tão suaves quanto o vento — comentou.
— Isso, continue assim, só pense em mim agora que vou levar essa maldita
escuridão para longe. — Alisei seu rosto e o beijei de modo doce. — Não pense
em nada agora, só nesse momento e que eu amo você.
Seus olhos se abriram e tinha algo diferente, quase ternos, com adoração.
— Também amo você. — Suas mãos foram para o meu vestido e ele puxou
as tiras, fazendo-o virar retalho no chão.
Coloquei minhas pernas à sua volta e os braços em seu pescoço e o beijei
enquanto ele me preenchia e me fodia com força. Senti minhas costas na parede
enquanto ele estocava cada vez mais forte dentro de mim.
— Isso, querido, me fode com força — pedi puxando seus cabelos. —
Adoro seu pau, estava com saudades dele.
Ele rosnou apertando mais minha bunda e acelerando os movimentos. Suas
mãos e aperto em mim eram fortes, como se ele quisesse entrar em mim, não no
sentido figurado.
Não demorou muito e ele gozou. Eu o segui, sentindo cada textura de sua
pele na minha, e nossos movimentos sincronizados com o outro.
— Achei que estivesse com saudades de mim. — Ele beijou meu pescoço,
me fazendo tremer ainda mais.
— Sim, estava louca para ver você, mas também estava louca para ter o seu
pênis. — Eu me remexi, dando ênfase ao que eu estava dizendo.
Ele riu. Esse som aliviou meu coração apertado, porque o fiz esquecer a
escuridão que o atormentava.
Olhei seus olhos e alisei suas pálpebras com toque suave.
— Amo você, com você aqui tudo fica suportável, natural e confortável.
Eu sorri.
— Bom saber que posso te alegrar com uma foda, vou lembrar disso depois
do nosso casamento. Posso ser bem caprichosa e intuitiva. — Puxei seu cabelo.
— Vamos aproveitar cada segundo, meu querido.
— Sim, nós vamos — concordou me beijando.
Cinco meses depois
Eu estava nervosa porque hoje era o grande dia, falo grande, porque é
praticamente um milagre um homem como meu futuro marido estar apaixonado
por mim.
Eu falo isso não por ser feia, porque isso eu não sou, mas porque o cara
grita poder e às vezes é um tanto frio com as pessoas. Notei que ele age diferente
com quem conhece, igual com a Evelyn e comigo, era só Matteo se acostumar e
gostar da pessoa.
Eu não sentia mais ciúmes da Evelyn, não porque ela está com Shadow,
mas, sim, porque Matteo me ama. Posso sentir na forma que me olha com
adoração e fervor. Da mesma forma que meu irmão olha para Samira.
O relacionamento deles está indo as mil maravilhas, os dois se casaram não
tem muito tempo, agora ela mora na Rússia, mudou seus estudos para lá. Até
soube que ela tem uma exposição de suas obras em uma galeria em Moscou.
Eu estava feliz pelos dois, eles merecem, após tanto sofrimento. O amor
supera tudo. Sempre ouvi isso e não achava possível, mas é verdade. O amor
superou o preconceito e a raiva que Nikolai sentia pelos Salvatore, ou seja,
Samira, já que ela é uma deles.
Eu também, de certa forma, mas a mudança veio de Matteo, ele me disse
que o meu amor tem capacidade de trazê-lo para a luz, de afastar qualquer
escuridão que queira se apossar dele, principalmente à noite, quando vinham os
pesadelos. Embora eu ainda o pegue acordado de vez em quando, então dou o
meu amor e carinho para fazê-lo esquecer o que fez com Evelyn e outras coisas
que o atormentam de vez em quando. Mas estou lá sempre que precisa de mim.
Conheci a irmã de Nikolai, Tabitta, mulher forte e guerreira. Soube que ela
enfrentou muitas coisas por causa do pai dela, que morreu com Andrey Jacov no
navio em Manhattan. Suspeito que foi Nikolai que acabou com os dois, embora
não tenha certeza disso e não vá perguntar. Seja como for, os dois mereciam
estar mortos.
Tabitta é uma loira linda, cara de Nikolai, ela é casada com Jason Falcon, já
vi lutas dele na TV antes de ele se aposentar, embora o cara só tenha vinte e sete
anos. Os dois têm dois filhos, uma menina de nove anos, que é a cara de Jason,
cabelos castanhos e olhos cor de chocolate, e um bebezinho. A menina se chama
Emily, e o garotinho, Miguel.
Estou agora aqui na sala da casa de Matteo. Estava em frente ao espelho,
me olhando com meu vestido branco com uma alça do lado direito, pérolas sobre
as conchas onde ficam os seios, modela minha cintura fina e é rodado até os pés.
Meus cabelos estavam presos em coque perfeito e alguns fios soltos ao lado
do meu rosto.
— Não acredito que vou me casar com ele — sussurrei para mim mesma.
Na salinha ali estavam Evelyn que vestia um vestido prata. Sara já vestia
um cinza, de uma manga só. Tabitta estava com um vestido de cetim vermelho.
Samira estava com um tomara que caia salmão. As quatro estavam maravilhosas.
— Meu irmão beija o chão que você pisa — informou Samira sorrindo,
alisando sua barriga enorme, faltavam poucas semanas para meu sobrinho
nascer.
— Eu sei, só estou nervosa, sabe quando você tem algo tão bom que custa
acreditar que seja real, mesmo vendo e tocando como faço com ele?
— Também me sinto assim às vezes em relação ao Nikolai, mas sei que ele
é meu de corpo e alma — declarou Samira, alisando sua aliança.
— Todas nos sentimos assim de vez em quando, mas nossos homens são
reais e nos amam muito — disse Tabitta.
Houve uma batida na porta. Tabitta foi olhar e veio sorrindo.
— Kriger está aqui para levar você ao altar — disse.
Nikolai e Alexei queriam fazer isso, me levar ao altar, mas como não posso
escolher entre os dois, então decidi ir com Kriger, de quem gostava como um
segundo pai, embora nesse tempo vivendo aqui em Chicago eu mal tenha
conseguido vê-lo. Entretanto, eu o amava demais.
Assenti e fui para o corredor, mas antes dei uma última olhada no espelho e
vi meus olhos azuis brilhantes e empolgados com o meu para sempre ao lado do
homem que amo.
Kriger vestia um terno preto e tinha barba grande. Ele sorriu assim que
cheguei perto dele.
— Você está tão linda! — sussurrou ele emocionado. Pegou meu braço e se
posicionou para me levar para fora da cozinha, porque o casamento seria lá fora.
— Obrigada.
Nesse dia eu queria meus pais aqui do meu lado, queria que papai me
levasse ao altar, mas isso é impossível, devido ao monstro do Lorenzo. Que
apodreça no inferno, que é o lugar de pessoas como ele.
Lorenzo morreu alguns meses atrás, não me fez falta nenhuma e garanto
que para ninguém.
— Seus pais iriam adorar estar aqui, se fossem vivos. Eles apreciariam o
noivo que você escolheu.
— Eu sei — sussurrei. — Matteo é alguém para amar, tive uma baita sorte.
Assim que cheguei a um corredor improvisado fui tomada pelo cheiro de
flores que vinha das guirlandas à minha volta. Estava com muitas pessoas me
encarando, tanto conhecidos dos meus irmãos como de Matteo, máfia russa e
italiana.
Jules, assim como dona Benita, também estava aqui no casamento, o Jerry
veio com uma garota loira, fiquei feliz por ele estar se alicerçando e por ter me
esquecido. Talvez nunca tenha me amado como mulher, só como amiga.
Eu não liguei para os rostos ao redor, só ligava para o homem que me
encarava com um olhar apaixonado e cheio de adoração como já vi antes, um
que nunca me cansaria de ver e amar.
Matteo estava vestido com um terno preto, cabelo ligeiramente penteado e
uma postura séria, mas eu o conhecia bem o bastante para saber a emoção por
trás daquela fachada. Máfia e suas regras de não demonstrar sentimentos na
frente dos outros. Um absurdo, por sinal, eles não são robôs. São pessoas com
sentimentos, pelo amor de Deus. Mas quem sou eu para mudar algo? Ainda mais
as regras da máfia de Matteo, embora agora eu vá ser uma Salvatore também.
Eu seguia cada passo tranquila, embora me sentisse um pouco nervosa, mas
isso não estragaria a minha felicidade de logo ter esse homem ao meu lado para
sempre.