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MULHERES DE CORPO E ALMA - O ARQUÉTIPO DA MULHER

SELVAGEM NA ATUALIDADE

Joyce da Silva Godas


Graduanda de Psicologia
Faculdades Integradas de Ciências Humanas Saúde e Educação de Guarulhos
joycesilva06@hotmail.com

Resumo: O presente estudo tem como objetivo analisar o arquétipo da mulher


selvagem contemporânea a fim de elucidar seu impacto no processo de individuação
feminina, visto que desde o recorrer da história até os dias atuais, nossa sociedade
foi construída tendo como principal base o machismo, tendo como consequência a
exclusão e repressão da mulher, que constantemente luta e busca seu espaço e
direitos como ser humano em meio a sociedade patriarcal. Dentro da literatura
utilizando como base a Psicologia Analítica sobre a funcionalidade do aspecto
anima e animus, buscou-se identificar dentro do arquétipo da mulher selvagem
entendendo o processo da individuação feminina, o processo evolutivo da luta e
aceitação feminina.

Palavras Chave: Psicologia Analítica, mulher selvagem, arquétipo.

Área de conhecimento: Humanas.

1. INTRODUÇÃO

Essa pesquisa se propõe a trazer aspectos do arquétipo da mulher selvagem


e o seu impacto no processo de individuação da mulher, conceito da psicologia
analítica para o encontro de si mesmo.
Considerando a priori o entrelaçamento entre arquétipo e o processo de
individuação, descrito por Carl Gustav Jung como um processo que todo ser
humano percorre buscando realizar-se como um indivíduo singular, o objetivo da
pesquisa é trazer para as margens a mulher selvagem em sua natureza, a essência
da alma feminina e sua psique instintiva mais profunda e propor um resgate do
passado longínquo desse arquétipo a fim de trazer à tona a sua contribuição para o
encontro do Self.
A mulher selvagem é tudo aquilo que a sociedade reprimiu das mulheres por
décadas. Seus aspectos intuitivo, astuto e criativo, acabaram sendo soterrados na

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vida das mulheres modernas que são acometidas com o acúmulo de funções na
família e na vida profissional. Reconhecer a mulher selvagem que habita dentro de si
e encará-la de frente é um passo primordial para o processo de individuação da
alma feminina.
Dessa forma, a relevância cientifica é procurar entender como funciona a
articulação da anima e do animus, dentro do arquétipo selvagem, no processo de
individuação da mulher, pensando no processo evolutivo que a mulher enfrentou da
Idade Média até tempos atuais.

2. OBJETIVOS

2.1. Geral: Compreender os impactos que o arquétipo da mulher selvagem


pode causar no processo de individuação.
2.2. Específicos:

 Compreender os conceitos de anima e animus para o desenvolvimento


do processo de individuação feminino;

 Realizar um resgate histórico-cultural do feminino da Idade Média até a


atualidade;

 Compreender quais são os espaços de inserção da mulher na


atualidade.

3. DESVELANDO O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO FEMININO


A noção de arquétipo e o seu correlato e conceito de individuação, fazem
parte das teorias mais conhecidas de C.G Jung. Dentro dessas teorias, temos uma
gama de outros conceitos dos quais formam uma concepção do desenvolvimento da
personalidade, entre os quais o inconsciente pessoal, o inconsciente coletivo, a
persona, a sombra, a anima, o animus etc. Segundo Jung (1978):
Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por
‘individualidade’ entenderemos nossa singularidade mais íntima, última e
incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si-
mesmo. Podemos, pois, traduzir ‘individuação’ como ‘tornar-se si mesmo’

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(Verselbstung) ou ‘o realizar-se do si mesmo’ (Selbstwerwirklichung).
(JUNG, p.487).

O processo de individuação proposto por Jung, implica na habilidade para


buscar o autoconhecimento revelado pela coniunctio maior. Entende-se por
coniunctio a união de opostos e o nascimento de algo novo. É permeado por fases e
algumas dificuldades, e por isso não é linear. Para o individuo encontrar-se com si-
mesmo, ele precisa passar por uma guerra entre o consciente e o inconsciente, esse
conflito gera uma elaboração e com isso um amadurecimento através dos
componentes que estruturam a personalidade. “Toda coniunctio que se dá origem ao
filho do tempo novo demanda um tempo de gestação, durante o qual as batalhas
componentes dos ritos de passagem acontecem!” (ZELIA, 2017, p. 42)
Segundo Maria Zelia (2017) o processo de individuação como meta de vida,
necessita de dedicação, fidelidade e lealdade consigo mesmo. Cada um de nós
passará por etapas e deverá transcender do lugar de dever para o ser.
Consolidando assim, a coniunctio de si consigo mesmo.

3.1 INCONSCIENTE PESSOAL E COLETIVO


Jung (1935) considera a consciência a camada mais superficial da psique que
percebe somente parte do que ocorre, aquilo que o ego ilumina com sua luz. Sua
percepção é limitada. O restante que não está focalizado pela consciência está
imerso no inconsciente, que é dividido em duas partes, Inconsciente Pessoal e
Coletivo.
De acordo com Jung (1935), a camada mais superficial é chamada de
inconsciente pessoal. Nela estão contidos todos aqueles elementos inconscientes
sem força suficiente para vir à consciência, recordações penosas e outros elementos
que não são aceitos pelo ego por serem incompatíveis com as atitudes conscientes
do individuo.
Além desses conteúdos pessoais inconscientes (do inconsciente pessoal),
existem outros que não provém de aquisições pessoais, mas da
possibilidade herdada do funcionamento psíquico, quer dizer, da estrutura
cerebral herdada. São as conexões míticas, os motivos e imagens que, a
todo momento, podem reaparecer sem tradição histórica nem prévia
migração. A esses conteúdos chamo o inconsciente coletivo.(Jung, 1991, p.
524)

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É a partir daí que nasce a descoberta do inconsciente coletivo, que Jung
considera a camada mais profunda. Nele está presente uma essência idêntica a
toda a humanidade, uma essência que transcende cultura, época, raças, cujas
bases não podem ser atribuídas a aquisições pessoais por serem estruturas
semelhantes a todos os indivíduos em qualquer lugar do mundo.
Para Jung, o inconsciente coletivo não é acessível à observação direta,
podendo somente ser compreendido através de manifestações: imagens psíquicas,
ideias universais, sonhos, fantasias. As bases, ou componentes, originais que
constituem o inconsciente coletivo são denominados arquétipos.

3.3 COMPLEXO

De acordo com Jung (1933), o inconsciente pessoal é habitado por


complexos. Eles são agrupamentos psíquicos inconscientes carregados de
afetividade que gravitam em torno do ego e são capazes de gerar perturbações na
vida cotidiana do indivíduo. “Enquanto o inconsciente pessoal consiste em sua maior
parte de complexos, os conteúdos do inconsciente coletivo é constituído
essencialmente de arquétipos.” (Jung [1933/1955] (2002),p. 53).
Os complexos são causados por um choque do indivíduo com o meio. São
memórias congeladas de eventos traumáticos reprimidos e cada nova experiência
emocional que se associa a um determinado complexo, registra uma nova camada
em torno de seu núcleo e o mobiliza. Quando isso ocorre sentimos incômodo maior
ou menor de acordo com a proximidade daquele complexo em relação ao ego.

3.4 ARQUÉTIPOS

Assim como os complexos são os componentes do inconsciente pessoal, os


arquétipos são os componentes da camada chamada inconsciente coletivo. Os
arquétipos são um meio de organizar ou canalizar o material psicológico. De acordo
com Jung, os arquétipos como elementos estruturais, dão origens a fantasias
individuais e a mitologias de um povo. O arquétipo, em si, é incompreensível. Sua
significante se dá via símbolo e somente este pode ser conhecido. Ele só pode se

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tornar consciente, em parte, quando sua energia é ativada, a partir de alguma
vivência que o mobiliza.
Segundo Jung (1933) os arquétipos são caracterizados como um acervo de
imagens psíquicas presentes dentro do inconsciente coletivo, que é denominado a
parte mais intima do inconsciente humano. Sendo assim, os arquétipos constituem a
nossa psique e herdamos por uma herança genética de nossos antepassados ou até
mesmo de grupos que estamos inseridos. Por estarem em um nível mais profundo
do inconsciente coletivo, não temos consciência de sua existência, mas sabemos
que são um conjunto de informações e que refletem sobre o comportamento
humano, ainda que inconscientemente. A origem dos arquétipos é transpassada por
milênios de anos, formado por crenças que percorrem gerações a gerações e deram
origem aos mitos, lendas e contos.

3.5 ARQUÉTIPOS FEMININOS


Um dos arquétipos femininos mais conhecidos é a figura da grande mãe. Ele
é encontrado com diversos nomes em diversas culturas: Isis, Gaia, Virgem Maria
etc. Essa figura feminina maternal personifica a mãe natureza. Essa ligação com o
planeta terra é feita pelo poder gerador em que ambas tem em comum. Pensando
metaforicamente, o útero da mulher é visto como uma miniatura da terra, um abrigo
para sementes que serão germinadas futuramente e darão a vida. O Arquétipo da
grande mãe traz instinto maternal, geradora das relações familiares. “A Grande Mãe
é uma imagem feminina universal que mostra a mulher como eterno ventre e eterna
provedora” (RANDAZZO, 1997 p.103). Porém, o feminino é misterioso e vai muito
além do materno. Mulheres são seres que carregam em si múltiplos arquétipos, não
se limitando ser apenas mãe ou apenas esposa.
Segundo Randazzo (1997) o arquétipo que mostra um lado extremo do
feminino, também tem o arquétipo da Guerreira ou Heroína, que traz consigo a
coragem, a luta, a persistência e a bravura. Existem inúmeras historias com grandes
exemplos de guerreiras, porém com poucas imagens arquetípicas.
O autor ainda diz que esse arquétipo é bastante utilizado no universo
masculino, e um dos avanços do feminismo foi fazer com que a mulher pudesse

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experimentar o papel de Guerreira e fazer com que o homem realizasse algumas
das marcas dos arquétipos femininos. Trazendo como representação de mulher
Guerreira, temos a Amazona, segundo a lenda, as mulheres abandonavam os seus
lares para guerrear, trazendo uma mistura ambivalente em seu comportamento para
quem as acompanhava, uma mistura de fúria e fascinação, pois eram mulheres
independentes.

3.6 ARQUÉTIPO DA MULHER SELVAGEM

Segundo Clarissa Estés (2014) a mulher moderna é um acumulado de


atividade. Ela sofre diversas pressões no sentido de ser tudo para todos. Podemos
relacionar a mulher selvagem com a fauna silvestre e se olharmos atentamente,
veremos que ambas estão em extinção. Durante o curso da história, as mulheres
foram saqueadas, com seus refúgios destruídos e forçadas a seguir um ritmo
artificial para agradar os outros, servir os outros.
De acordo com a mesma autora, os animais selvagens como os lobos, os
coiotes, os ursos têm semelhanças com as mulheres que são ditas rebeldes, ambos
têm reputações ruins, equivocadas, são vistos como seres cruéis, perigosos e
vorazes. Todos eles compartilham arquétipos instintivos que se relacionam entre si.
Posterior á segunda Guerra Mundial, as mulheres eram infantilizadas e tratadas
como propriedade. Nada era tolerado, inclusive a dança. A mulher que se enfeitava
demais despertava suspeita, uma roupa ou até uma expressão alegre faziam com
que elas corressem o risco de serem agredidas ou sofrerem violência sexual.
As mulheres que fugiam dos padrões eram denominadas com “colapsos
nervosos” (ESTÉS, 2014, p 18.) Já as que seguissem as regras, andassem com
longos vestidos e apertadas por cintas, eram tidas como certas. Os lobos saudáveis
e as mulheres saudáveis têm características psíquicas em comum: a percepção
aguçada, determinação feroz, extrema coragem e experiência em se adaptar a
circunstancias em constante mudança. Portanto, o termo selvagem nesse contexto
não é visto de modo pejorativo, mas sim em seu sentido original, de viver a vida de
forma natural. O termo Mulher Selvagem, fazem com que as mulheres possam se

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lembrar de quem realmente são e do que realmente representam. A compreensão
dessa natureza selvagem tem relação com uma psicologia em seu sentido mais
puro: um conhecimento da alma.
Em suma, pode-se dizer que no ponto de vista arquetípica, a mulher
selvagem é a alma feminina, é a origem do feminino. “É tudo o que for instintivo,
tanto do mundo visível quanto do oculto – ela é a base” (ESTÉS, 2014, p. 26.)
O arquétipo da mulher selvagem emana da camada da psique, traz para a
humanidade um abundante repertório de ideias, imagens e particularidades. Esse
arquétipo nas mulheres significa a mãe da vida e da morte em sua forma mais
antiga. “Para encontrar a Mulher Selvagem, é necessário que as mulheres se voltem
para suas vidas instintivas, sua sabedoria mais profunda. ” (ESTÉS, 2014, p. 36.)

3.7 SELF E EGO


Jung chama de Self o arquétipo central, é o arquétipo da ordem e da
totalidade da personalidade. O Self é com frequência figurante em sonhos ou
imagens de forma impessoal.
Para Jung (1935), o Self é um fator de orientação muito distinto ao ego e a
consciência. Ele não é apenas o centro, mas também abarca o consciente e o
inconsciente, ele se torna o centro dessa totalidade, assim como o ego é o centro da
consciência.
Para Jung, é o ego quem dá um sentido e uma direção para nossas vidas
consciente, ele tende a afrontar qualquer coisa que possa intimidar a consciência.
Somos levados a crer que o ego é o elemento central de toda a psique e passamos
a ignorar o inconsciente.
De acordo com Jung (1935), não há elementos inconscientes no ego,
somente conteúdos conscientes derivados da experiência pessoal.

4. ETAPAS DO PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

A individuação é a ampliação da consciência, tendo como objetivo, o


desenvolvimento da personalidade individual. De maneira mais simples, ela é a luta

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consciente que o individuo tem consigo mesmo para tornar-se o que ele realmente
é. Jung(1978) explica que “a meta desse processo enquanto ideia; o essencial
porém é o opus (a obra) que conduz à meta: ela dá sentido à vida enquanto esta
dura”. Sendo como meta desse processo, a realização do Self, ou do Si-mesmo. De
acordo com o autor, existem várias etapas da individuação, sendo a primeira a
retirada da máscara social, que para ele é denominada Persona. Passando por esta
etapa, o indivíduo começa a se deparar com o lado obscuro da psique: a sombra. A
sombra se conceitua por aquilo que não aceitamos em nós, que causa aversão e por
consequência disso acabamos reprimindo e projetando sobre os outros. Ela faz
parte da personalidade do individuo e apesar de ser carregada por aspectos
considerados negativos, ela também possui aspectos positivos que não foram
desenvolvidos por razões externas ao individuo.
O último elemento que estrutura a personalidade, é, no sexo masculino, o
conflito com a anima, e no sexo feminino, o conflito com o animus. Jung denomina
anima no homem e animus na mulher. A anima é quem representa no homem gens
femininos, formando uma feminilidade inconsciente. Ela também traz imagens e
experiência da mãe, que é transposta por esposa etc. Do mesmo modo, que o
animus é a representação no psiquismo feminino. O animus se manifesta como
“intelectualidade mal diferenciada e simplista” (SILVEIRA, 1983, pg.488). O animus
também traz imagens e experiências do pai, transferida por esposo etc. Após esse
conflito, quando há uma elaboração das personificações da anima e do animus, o
inconsciente se modifica e manifesta-se o Self, que é o núcleo mais interior da
psique.
É a partir deste momento que se conclui o processo de individuação. Esse
encontro com o Self, que faz parte do núcleo da personalidade humana, possibilita a
incorporação da totalidade dessa personalidade.

5. DESDOBRAMENTO DO PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO FEMININO

Segundo Silvana Parisi (2009), na primeira parte da vida, a questão


fundamental é de fazer escolhas entre várias opções eliminatórias. Com a chegada

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da meia idade, a questão é reformulada e ao invés de ser “isso ou aquilo”, se torna
“isso e aquilo”. Sendo assim, tudo aquilo que não foi vivenciado e experimentado
pela consciência, espera a sua vez de ser vivido.
De acordo com Von Franz (1969), o processo de individuação se dá através
de uma ferida na personalidade do individuo e do sofrimento que o vem
acompanhando, mesmo que de forma inconsciente. Ao pensar-se sobre a mulher
nesta etapa de vida, muita coisa entra em questão. Em nossa sociedade, a
juventude é supervalorizada, assim como questões estéticas e procedimentos do
mesmo caráter.
Segundo Silvana Parisi (2009), quando a mulher atinge os cinquenta anos de
idade, começa a sentir-se excluída, caso esteja solteira, tem a percepção de que já
não há mais chance em questões amorosas, isso acaba tornando-se uma grande
armadilha para sua autoestima.
Entretanto, isso pode ser um grande sinal para a individuação. Como dito
anteriormente, com a chegada da meia-idade, vem à tona tudo aquilo que não foi
vivenciado, e com isso surge à questão de que algo precisa ser feito a respeito.
Silvana Pasini (2009) diz “Mesmo que algumas escolhas não possam mais ser
mudadas nesta altura da vida, pode-se abrir espaço para experimentar aspectos até
então ignorados ou reprimidos que estavam na sombra” (pg.32). Passe-se então a
ter responsabilidade perante a sua própria jornada, abrindo mão de atitudes
negativas do ego influenciado pela perfeição imposta pela sociedade.
Sendo assim, segundo a autora, o animus assume sua forma positiva,
libertando-se a sua identificação. A mulher passa pelo desafio de ser fiel consigo
mesma, sem ter que abraçar as expectativas impostas do que é ser mulher.

6. RESGATE HISTÓRICO DA MULHER ATÉ A ATUALIDADE

De acordo com Tatyana Alcantara (2014), durante muitas décadas a


sociedade considerou a mulher inferior ao homem. Durante a idade média, a igreja
católica acreditava que a mulher era amaldiçoada, visto que segundo a bíblia, Eva
quem levou Adão a pecar. Sendo assim, elas passaram a ser perseguidas no tempo
da inquisição. Durante a idade média, a vida da mulher era resumida entre

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casamento e maternidade. Eram obrigadas a casar ao completarem quatorze anos e
a mulher que não concedia um filho homem para seu marido, era considerada
desqualificada. A mulher á décadas atrás, era vista como inferior e muitas vezes
como objeto sexual.

Segundo Silvana Pasini (2009), a emancipação da mulher ocorreu no século


XIX, porém só ganhou expressão na metade do século XX. A mulher hoje vive uma
situação atípica, entra no mercado de trabalho, desnuda-se do âmbito doméstico,
adquire direito em relação a seus corpos e decisões. Atualmente, embora tenha
conquistado diversos direitos, diretos esses que englobam o internacional e o
nacional, a mulher ainda sofre opressão da sociedade. O pensamento de ser
inferior perdura nos dias atuais e se manifesta através dos altíssimos números de
violência, seja sexual, física ou até psíquica que sofre a mulher. Além de sofrerem
com padrões estéticos e comportamentais.
Ainda segundo a autora, nos dias atuais, a configuração familiar sofreu
alterações, hoje a mulher fica mais ausente da casa, passa a dividir o papel de
provedor e de cuidados dos filhos com o marido, na falta deste, acaba sendo a única
provedora e sendo assim, assume múltiplas jornadas.
Ganharam o direito de casar-se mais tarde, de escolher ou não tornarem-se
mães. De acordo com Silvana (2009), estas mudanças acarretaram inúmeras
questões nas relações de gênero, papeis familiares e com isso, houve mudanças no
âmbito psicológico também. Muitas vezes, a mulher se vê refém do modelo anterior,
e acaba tentando equilibrar com o modelo atual, fazendo com que fique
enfraquecida afetivamente.
Para Whitmont (1991), a novo modelo do feminino propõe habilidade ativa,
iniciadora e também transformadora. Sendo assim, a mulher necessitará de
autoafirmação e sintonia com os seus próprios instintos. “O papel arquetípico da
nova feminilidade é ser a sacerdotisa da plenitude da vida tal qual ela é, com suas
armadilhas previsíveis e sua insondável profundidade, com a sua riqueza e sua
escassez, seus riscos e erros, alegrias e dores.” (Whitmont, 1991, p.217)
Sendo assim, de acordo com Silvana Pasini (2009), o grande desafio da
atualidade é fazer com que o feminino e o masculino fique no mesmo nível e fazer

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com que ambos possam ser acessados, tanto pelas as mulheres quanto pelos
homens.

7. MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho parte da concepção de que para se estudar um
fenômeno deve-se compreendê-lo e interpretá-lo a partir dos seus significados e do
contexto em que está inserido.
A pesquisa qualitativa propicia a utilização de métodos que auxiliem a uma
visão mais abrangente dos problemas, pois supõe o contato direto com o objeto de
análise e um enfoque diferenciado para a compreensão da realidade.
Segundo Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa é um conjunto de
atividades práticas e interpretativas que dão visibilidade ao mundo, seja ele,
representado por entrevistas, conversas, fotografias ou gravuras, uma vez que cabe
ao pesquisador apresentar o entendimento e/ou interpretação dos fenômenos a
partir dos significados que as pessoas atribuíram a ele.
Para os autores
A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma
variedade de materiais empíricos — estudo de caso; experiência
pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e
produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e
visuais — que descrevem momentos e significados rotineiros e
problemáticos na vida dos indivíduos. Portanto, os pesquisadores
dessa área utilizam uma ampla variedade de práticas interpretativas
interligadas, na esperança de sempre conseguirem compreender
melhor o assunto que está ao seu alcance. (DENZIN E LINCOLN,
2006, p.17)

Dessa forma, neste trabalho pretende-se analisar os contos Barba Azul e


Sapatinhos vermelhos, do livro Mulheres que correm com os Lobos, de Clarissa
Pinkola Estés, pois apresentam aspectos relevantes da temática em estudo.

Sinopse
A analista junguiana Clarissa Pinkola Estés acredita que na nossa sociedade
as mulheres vêm sendo tratadas de uma forma semelhante. Ao investigar o

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esmagamento da natureza instintiva feminina, Clarissa descobriu a chave da
sensação de impotência da mulher moderna.

8. ANÁLISE: MERGULHO NO ARQUÉTIPO DA MULHER SELVAGEM

Os contos foram selecionados, pois trazem elementos importantes para


refletir sobre como se dá o processo e nos mostra que não é de uma forma linear e
regrada que acontece, na verdade é uma grande jornada que se realiza no corpo-
alma do sujeito.
8.1. O Barba Azul: predador da psique feminina

O conto Barba azul foi escrito originalmente por Perrault e nos faz ir além da
ideia de felizes para sempre. A história possui como personagem um viúvo que é
temido pelas mulheres, o rapaz foi casado diversas vezes e continua sua busca por
uma nova esposa entre as filhas de uma nobre vizinha.
As mulheres o rejeitam por sua estranha barba azul. Suas pretendentes eram
três irmãs e afim de conquistar as moças, ele as leva para um passeio em sua casa
do campo. Tiveram uma tarde maravilhosa, juntamente com a mãe das moças. A
filha caçula passou a vê-lo de forma diferente, não mais como alguém assustador.
Decidiu então casar-se com ele, pouco tempo depois do casamento, o marido
precisou viajar e deixou sua esposa responsável pela casa. Deixou com ela, um
molho de chaves que eram responsáveis pelas portas de todos os aposentos da
residência, no entanto, a alertou que havia apenas uma chave que ela não poderia
tocar. Era uma chave minúscula, responsável por uma das portas e que ela jamais
poderia se aproximar.
Vou precisar viajar por algum tempo – Disse ele um dia á mulher. –
Convide sua família para vir aqui se quiser. Você pode cavalgar nos
bosques, mandar os cozinheiros prepararem um banquete, pode fazer
o que quiser, qualquer desejo que seu coração tenha. Para você ver,
tome minhas chaves. Pode abrir toda e qualquer porta das despensas,
dos cofres, qualquer porta do castelo; mas essa chavinha, a que tem
no alto uns arabescos, você não deve usar (ESTÉS, 2014, p.55)

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A esposa concordou com o marido assim que ele saiu de viagem, ela chamou
suas irmãs para lhe fazer companhia. Contou a elas as instruções do dono da casa,
o que aguçou a curiosidade das mesmas.
As irmãs resolveram propor um jogo pra ver que chave servia em que porta.
Era um castelo enorme, com três andares, com diversas portas. As moças saíram
abrindo uma por uma, até que chegaram ao porão e viram uma porta no final do
corredor, a única chave que sobrou foi a pequenina com alguns arabescos.
Decidiram então tentar abrir para ver o que havia atrás daquela porta. Ao
abrirem a porta, não conseguiram ver o que havia lá dentro, então decidiram
acender uma vela. Quando a vela foi acesa, as três irmãs gritaram ao verem que no
quarto havia uma enorme poça de sangue; ossos humanos e crânios empilhados
nos cantos da sala como pirâmides. Fecharam a porta com violência e saíram
correndo. A esposa olhou para a chave viu que ela estava manchada se sangue.
Tentou limpa-la insistentemente, mas o sangue prevaleceu.
O esposo retornou para a casa na manhã seguinte já procurando por sua
esposa. A mesma lhe entregou as chaves. Quando ele perguntou sobre a chave
menor, a moça mentiu dizendo que a perdeu.
Ele procurou pela chave insistentemente e a encontrou escondida dentro do
guarda-roupas. Furioso, ele seguiu em direção a porta e a mesma se abriu para ele.
Ali, jaziam os esqueletos de suas esposas anteriores. E anunciou que chegou a hora
de sua esposa se juntar com os ossos daquele quarto.
A esposa então pediu para que ele lhe concedesse 15 minutos para que ela
pudesse se preparar, Barba azul concordou e enquanto a moça seguiu para seu
quarto. Da janela, se comunicou com suas irmãs, para que elas pudessem avisa-la
quando seus irmãos estivessem chegando.
Os irmãos chegaram antes mesmo que Barba azul a matasse e então, eles o
mataram e deixaram o resto de seu corpo para os abutres.

8.2 ANÁLISE DO CONTO


É possível notar que alguns arquétipos estão presentes nesse conto, como
por exemplo: O arquétipo da esposa, o da irmã e o animus.

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O arquétipo da esposa aparece no momento em que o Barba-azul está em
busca da “esposa ideal” para ele. Tendo em vista o modelo de relacionamento
amoroso da idade média, a esposa ideal para barba azul seria uma reprodução
desse modelo.
Na idade média, as mulheres eram resumidas em cuidar da casa, realizar a
maternagem e servir seus maridos, deveriam obedecer às ordens que lhes eram
impostas sem questionar. Enquanto o marido era o provedor, a esposa estaria ali
para servi-lo.
No conto, a porta proibida contém os ossos de todas as esposas que
simbolizam esse arquétipo, porém, a partir do momento em que elas resolveram
confrontar o predador, sem ajuda dos outros elementos da psique, elas perdem a
força e ele as devora.
O mesmo não ocorre com a filha mais nova. No começo do conto, ela é
levada pelos encantos do terrível barba-azul, mas acaba recebendo auxilio das
irmãs da psique, elas sussurram em sua consciência sinalizando que há algo de
errado. Quando o predador permite que sua esposa passeie por todos os aposentos
de sua casa, exceto um, ele na realidade lhe dá uma falsa liberdade.
Influenciada pelas irmãs, a irmã mais nova abre a porta proibida e se depara
com os ossos. Nesse momento, ela tenta apagar tudo aquilo que viu, tentando secar
o sangue que jorra sem parar da chave, a partir desse momento, inicia-se o
confronto com a sombra, que faz parte do processo de individuação.
As irmãs da psique são fontes para o crescimento dessa mulher e juntamente
com os irmãos, que simbolizam o animus, conseguem vencer o predador da psique.
O animus aparece de forma positiva, desta forma, possibilita força e dá chance para
que a mulher possa ter objetivos e atitudes criativas em relação à vida.

8.3 OS SAPATINHOS VERMELHOS: O ROUBO DA CRIATIVIDADE


O conto foi escrito originalmente pelo poeta e autor dinamarquês Hans
Christian Andersen. A história consiste em uma menina pobre e órfã que não tinha
sapatos. Depois de muito sacrifício, ela consegue juntar alguns retalhos e finalmente

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costurar o seu primeiro par de sapatos vermelhos. Eles eram bem grosseiros, porém
foi feito com muito esforço.
A menina andava pelo bosque com o seu par de sapatos novos, até que
encontrou uma senhora de idade em uma carruagem dourada. A senhora avistou a
menina e decidiu adotá-la. Levou-a para casa e a tratou como se fosse sua própria
filha. Deram-lhe roupas novas e limpas e um par de sapatos pretos. Quando a
menina questionou sobre os seus antigos sapatos, a senhora lhe respondeu que
haviam sido jogados juntamente com suas roupas velhas em uma fogueira.
A garota ficou triste, pois aqueles sapatos representavam todo o seu esforço
e dedicação e lhes traziam uma felicidade imensa, felicidade esta que nenhuma
riqueza seria capaz de lhe proporcionar, agora ela seria obrigada a usar pares de
sapatos pretos e sem graça, ao invés de sair saltitante pela casa, teria que ficar
sentada e se comportar.
No dia de seu batismo, a senhora levou a menina até um sapateiro, para que
pudessem comprar sapatos para a ocasião. Ao chegar até a loja, a menina avistou
um lindo par de sapatos vermelhos na vitrine do sapateiro, mesmo sabendo que os
sapatos eram escandalosos para ir até a igreja, a menina quis comprar, afim de
sanar a falta que o outro par de sapatos havia deixado. A senhora não enxergava
direito, então acabou comprando os sapatos para a garota.
Quando chegaram até a igreja, todos voltaram os olhares para o par de
sapatos chamativos da garota e no fim, a senhora soube que o que estava
acontecendo. Ao chegar em casa, ordenou a garota para que não usasse mais
aquele par de sapatos, porém a menina não conseguia simplesmente se desfazer
dos sapatos, continuou frequentando a igreja com eles nos pés. E novamente, os
membros da igreja informaram a senhora sobre os sapatos. Ao chegar em casa, a
velha pegou o par de sapatos e colocou-os em cima da prateleira e novamente
ordenou para que a menina não usasse mais os sapatos.
Passaram-se alguns meses e a senhora adoeceu, a menina aproveitou a
ocasião e pegou os sapatos escondidos. Foi então que a garota foi tomada por uma
contagiante vontade de dançar. Saiu pela vila dançando sem parar, incansavelmente
e quando já não aguentava mais dançar, os pés já não obedeciam aos seus

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comandos, tentava ir para a esquerda e os pés lhe levaram para a direita. Tentava
retirar os sapatos e eles não saiam. A menina estava desesperada. Continuou
dançando até que pudesse encontrar ajuda.
Chegou até a igreja e um espirito guardião não permitiu que ela entrasse
Você irá dançar com esses sapatos vermelhos – proclamou o espirito - Até
que fique com uma alma penada, como um fantasma, até que sua pele
pareça suspensa aos ossos, até que não sobre nada de você a não ser
entranhas dançando. Você irá dançar de porta em porta por todas as
aldeias e baterá três vezes a cada porta. E, quando as pessoas espiarem
quem é, verão que é você e temerão que seu destino se abata sobre elas.
Dancem, sapatos vermelhos. Vocês devem dançar. (ESTÉS, 2014, p. 250)

A menina continuou percorrendo estrada a fora, até encontrar a casa de um


carrasco. Ela implorou por misericórdia e então, o mesmo cortou as fitas do sapato,
porém não foi o suficiente. Então a garota pediu para que ele lhe amputasse os pés
e foi o que ele fez, amputou os pés da menina. Os sapatos continuaram dançando
sozinhos com pés neles, a menina seguiu a vida como pobre a aleijada, tentando
descobrir um jeito de sobreviver no mundo trabalhando como criada.

8.4 ANÁLISE DO CONTO


No conto dos sapatinhos vermelhos pode-se ver a criatividade da
personagem sendo roubada, criatividade esta que tem origem a anima. Essa
criatividade do conto é representada pelo par de sapatos vermelhos que foram feitos
pela mesma.
Após ser adotada pela senhora, a menina tenta seguir os padrões que lhe
foram impostos. Os padrões são representados pelo par de sapatos pretos e as
roupas limpas e brancas. A partir daí a menina veste uma persona que não lhe
pertence.
É possível notar que a criatividade roubada lhe deixou um vazio interno, então
a personagem tenta preencher esse vazio com um novo par de sapatos vermelhos.
Esses sapatos também representam uma persona e faz com que ela cometa
atitudes contra a sua vontade, como dançar incansavelmente e andar sem rumo.
Pode-se fazer uma rápida analogia com os sapatos de saltos altos nos dias atuais.
Nos tempos atuais, as mulheres que tem profissões ou cargos reconhecidos,
utilizam os saltos altos como símbolo de poder e status. Em algumas empresas, eles

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são até exigidos. É uma persona que é imposta pela sociedade, além disso, os
saltos são vistos como símbolo de feminilidade. Porém, com o seu uso continuo,
pode acarretar sérios problemas para quem os utiliza. Esses sapatos são visto como
uma não possiblidade de investir na mulher selvagem.
Quando a personagem decide que não quer mais fazer uso dos sapatos,
começa o processo de desnudamento da persona, no caminho ela encontra o
espírito guardião, que representa o complexo. A partir daí a garota vai de encontro
com o self e a sua capacidade de escolha, mesmo sabendo que terá que amputar os
pés para isso.
Por fim, percebe-se que a participação ativa do ego é fundamental no
processo de individuação, pois a função dele é promover a motivação para a
caminhada, no entanto, quando o ego percorre o caminho no sentido contrário – em
direção a unilateralidade da persona, o processo tende a ser mais doloroso e muito
mais árduo.

8.5 LA LOBA – O RESGATE DA MULHER SELVAGEM


Existe uma velha senhora que vive em uma floresta. Vive com os cabelos
desgrenhados e reproduz inúmeros sons de animais. Seu único trabalho é recolher
ossos, sua caverna é repleta deles. São ossos diversos e representam inúmeros
animais que ali já foram mortos.
Ela anda floresta á dentro a procura de ossos de lobos, até que consegue
recolher um esqueleto inteiro. Ela então reúne esses ossos em sua caverna,
juntamente com uma fogueira e pensa em qual canção irá cantar.
Quando finalmente decide, La loba ergue seus braços sobre o esqueleto e
começa a cantar. É aí que os ossos começam a se forrar por carne e tomar forma. A
criatura começa a se cobrir de pelos. A velha canta um pouco mais e mais uma
porção da criatura vai ganhando vida.
La loba canta ainda mais e o lobo já em forma, começa a respirar. Ela canta
com tanta intensidade que faz o chão da caverna estremecer, enquanto isso, o lobo
abre os olhos e dá um salto para fora a floresta.

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Em um ponto da corrida, o lobo começa a transformar-se em uma mulher, que
corre livremente para o horizonte.
Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo deserto, por volta
do pôr do sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida
você tem sorte, porque La loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo
– algo da alma. (ESTÉS, 2014, p.42)

8.6 ANÁLISE DO CONTO


Para fechamento, La loba faz o papel de resgate, ela recolhe tudo aquilo que
pertence ao Self, que no conto são representados por ossos.
Assim que La loba recolhe esses ossos, ela os reúne juntamente com uma
fogueira, fazendo o seu ritual particular, dançando e cantando sobre os ossos. O
fogo é regenerador, transforma. A partir daí um lobo começa a criar forma, fazendo
um resgate interno da alma selvagem.
No decorrer do conto, o lobo toma forma de uma mulher, que ri e corre
livremente na direção do horizonte. Essa mulher acaba (re)nascer e tomar forma, ela
representa a mulher selvagem. Mulher esta que não é entendida como uma Cruela
De Vil de 101 Dálmatas, por exemplo. Que sai por aí devorando tudo que está em
sua frente, cheia de poder e ganancia. Mas sim, uma mulher inteiramente ligada à
sua natureza interna, desnudada de posições que lhe foram impostas socialmente.
Com a anima e o animus andando em conjunto, uma mulher com capacidade
de escolha. Uma mulher selvagem que corre em busca de sua auto-realização.
Nos dias atuais, essa mulher é vista como quem busca um reconhecimento,
diferentemente da idade média, a mulher atualmente é bem vista no mercado de
trabalho. Conquistou inúmeros cargos que são reconhecidos e que antes, só eram
ocupado por homens.
Assim como o mercado de trabalho, a mulher também ganhou espaço nas
universidades, cursos que antes em sua maioria tinham suas vagas preenchidas
pelo público masculino, ganha lugar também para o público feminino.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas pesquisas apresentadas pelo seguinte trabalho, podemos


observar como se dá o processo de individuação do feminino. Pode-se notar, em
vista do pequeno resgate feito da dinâmica da mulher da idade média até os dias
atuais, quantas coisas entraram em desenvolvimento. Algumas foram deixadas para
atrás, mas ainda há um árduo caminho a ser percorrido, para que o feminino e o
masculino passam estar em um mesmo nível e fazer com que sejam acessados por
todos os indivíduos. Sobretudo, se considerarmos que em nossa atualidade somos,
geralmente, marcados pelo tempo Chrónos, que se trata do tempo cronológico onde
as coisas acontecem, ao invés do tempo kairós que é o da vivência, da
oportunidade. Tendo isso em mente, é possível dizer que esse tempo em que somos
marcados, dificulta que o sujeito entre em contato com o processo de individuação,
pois trata-se de um tempo cronológico. Entretanto, se fizermos um rápido resgate,
poderemos perceber o quanto de espaço já foram conquistados pelas mulheres. Ao
começar por 1932, onde as mulheres ganharam o direito do voto político no Brasil.
Sabemos que nesta época, a mulher estava inserida em um espaço retido. Com
ajuda dos movimentos sociais e interesses comuns entre as mulheres, abriram-se
espaço para o mercado de trabalho, nos dias atuais, a mulher exerce cargos que
antes só poderiam ser executados por homens. Em 2011 o Brasil elege a primeira
presidente mulher, tendo isso como um gatilho, as mulheres passaram a ter mais
vozes no campo político.
Atualmente, cabe a mulher escolher ser mãe, diferentemente da média, onde
as mulheres eram resumidas apenas em maternagem e servir ao marido..
Podemos notar que a mulher selvagem não é tida como uma loba solitária,
mas sim como parte de uma matilha. O arquétipo surge em resultado de interesses
comuns que foram partilhados por inúmeras mulheres e que deram vida a esse
arquétipo, mesmo que o processo de individuação seja algo singular. Sabemos que
há uma longa jornada a se percorrer, apesar disso, a mulher selvagem não se
resume em apenas ossos, como visto no conto de La Loba. Hoje ela corre em
direção ao horizonte em buscas de novas conquistas.

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O processo de individuação não é linear e muitas vezes acaba sendo
doloroso. Conhecer-se a si-mesmo é um processo doloroso, porém fundamental
para o desenvolvimento do individuo.
O presente trabalho mostrou que o caminho pelos arquétipos mostra o
caminho para chegar até o complexo negativo.

10. REFERÊNCIAS

ALVARENGA, Z. M. Anima-Animus de todos os tempos. São Paulo: Escuta, 2017.


ALCANTARA, Tatyana. et.al. A discriminação contra a mulher: Análise histórica e
contemporânea. Anais da semana acadêmica. Fadisma entrementes. 11ª ed. Santa
Maria – RS. 2014. ISSN: 2446-726x
ESTÉS, Clarissa Pínkola. Mulheres que correm com os lobos: Mitos e histórias do
arquétipo da Mulher Selvagem. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Rocco, [1992] (2014).
JUNG, Carl Gustav. Fundamentos da psicologia analítica. 3ª. Ed. Petrópolis: Vozes,
[1935] (1991).
___________. O eu e o Inconsciente. 27ª ed. Petrópolis: Vozes, 1978.
___________. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 5ª. Ed. Petrópolis: Vozes,
[1933/1955] (2002).
PARISI, Silvana. Separação amorosa e individuação feminina: uma aborgadem em
grupo de mulheres no enfoque da Psicologia Analítica. Tese Doutorado.
Universidade de São Paulo: SP. 2009
RANDAZZO, Sal. A criação de mitos na publicidade: Como publicitários usam o
poder do mito e do simbolismo para criar marcas de sucesso. 1ª edição. Rio de
Janeiro: Racco, 1997;
SILVEIRA, N. Jung: Vida e Obra. 7ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra. 1981
VON FRANZ, M.L. O processo de individuação. In: JUNG,C.G. O homem e seus
simbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964.
WHITMONT, J. O retorno da deusa. São Paulo: Summus, 1991.

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