Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ciência
Ciência
20/02/2011 - 14:54
COMPARTILHAR
IMPRIMIR
Física
Witten: "Enquanto não se prova a existência das supercordas, a teoria é útil para
entender melhor aquilo que nenhum outro recurso físico ou matemático consegue
explicar" (Divulgação)
São os pequenos problemas que tiram o sono do físico e matemático americano Edward
Witten. "Fiquei um tempão ontem à noite tentando resolver uma equação que descreve
uma coisinha pequena", diz ao site de VEJA. "E no fim das contas não era tão simples
assim." De probleminha em probleminha, de equação em equação, Witten ousa a grande
aventura de unificar em uma só teoria os dois pilares da física moderna: a mecânica
quântica, que descreve o mundo subatômico; e a teoria da relatividade, que abarca as
grandes escalas do universo. O desafio é tal que este modelo dos sonhos passou a ser
conhecido simplesmente como Teoria de Tudo.
A aposta de Witten chama-se teoria das supercordas, para a qual contribuiu, nos anos
1990, com um trabalho seminal que unificou diferentes versões das supercordas em uma
só, a chamada teoria M. Atualmente, parte considerável da comunidade científica está
convencida que esta é de fato a melhor candidata a uma Teoria de Tudo.
Se é que um dia será alcançada, tantos são os "pequenos problemas", esta teoria
concretizaria a obsessão final de Albert Einstein. Depois de dar novas base à física
moderna, Einstein tentou, sem sucesso, chegar a algum modelo único e coerente que
descrevesse diferentes forças da natureza. Foi o que o afastou da linha de frente dos
laboratórios. E o que o levou a se queixar, nos anos 1940: "tornei-me um velho solitário,
mais conhecido porque não uso meias" - antes, é claro, de tornar-se ainda mais
conhecido na imagem icônica dos anos 1950, em que aparece descabelado e com a
língua de fora.
Como Einstein em seus últimos anos de vida, Witten sonha também com a unificação
das teorias. "As coisas grandes são feitas de coisas pequenas", diz. "Não podemos ter
uma teoria que fala de estrelas e outra completamente diferente que descreve os átomos,
porque estrelas são feitas de átomos."
Como Eistein, Witten também tem a reputação de ser brilhante em uma área de
especialização notoriamente estrelada. Um estudo sobre a relevância dos cientistas em
atividade, publicado na revista Nature, colocou Witten no topo do ranking da física. Seu
índice de relevância, baseado nas citações feitas pelos pares, é quase três vezes maior
que o necessário para ingressar na Academia Americana de Ciências.
Por tudo isso é comum descrevê-lo como um novo Einstein. Ou, mais precisamente, seu
sucessor. “Não deveríamos banalizar esse tipo de comparação”, disse Sam Treiman, da
Universidade de Princeton, ao jornal americano The New York Times. “Mas se estamos
falando do Witten...” Witten, naturalmente, refuta a comparação: "não sou páreo."
Opinião do especialista
Nathan Jacob Berkovits
Doutor em Física pela Universidade da Califórnia e
professor titular da Unesp
Uma razão para ninguém entender muito mais do que isso é própria dos modelos da
matemática e da física teórica. Pode-se imaginar a estupefação de quem primeiro ouviu
do geômetra Euclides, 2200 anos atrás, sua definição de ponto: "é aquilo que não tem
partes, que não tem magnitude". Ou que a luz, desde as descobertas da mecânica
quântica, ora se comporta como onda, ora como partícula. O Nobel Richard Feynman, o
mais influente físico teórico depois da II Guerra, dizia que a dificuldade de
compreensão se deve ao "desejo incontrolável, mas vão" de tentar enxergar um modelo
teórico em termos familiares.
"É o melhor que temos" - Com tantas ressalvas, é de se perguntar por que as
supercordas empolgam tanto uma parte da comunidade científica. Há três boas razões.
Witten não sabe dizer em quanto tempo ou mesmo se é que algum dia será provada a
existência das supercordas. Enquanto isso, porém, "a teoria está sendo útil para entender
melhor aquilo que nenhum outro recurso físico ou matemático consegue explica. É o
melhor modelo que temos para irmos além."
Witten não espera publicar algum dia a Teoria de Tudo. Nem ganhar o Nobel de física,
embora já colecione o seu equivalente da matemática, a medalha Fields. Imagina que
em algum momento do século XXI, quando estiver "velho demais para produzir
conhecimento novo neste campo", uma nova geração de cientistas poderá decidir se de
fato ele e seus colegas percorreram a trilha certa. Aliás, é o que recomenda aos espíritos
desbravadores: "não existem novos continentes para serem descobertos, mas são tantas
as coisas que não conhecemos na física e na matemática que talvez seja a aventura do
nosso tempo".
Com 59 anos, cabelos grisalhos, Witten joga tênis regularmente. Vai logo avisando:
"Não sou muito bom, mas gosto de jogar". Criado em um lar judeu, não se considera
religioso. "A ciência nos ajuda a descobrir verdades sobre o mundo em que vivemos",
diz. E a religião? "A religião não tem nada a ver com isso." Witten prefere continuar
polindo as pequenas manchas que existem na teoria das supercordas. "Antes de você
chegar", diz à reportagem, "eu estava tentando resolver uma outra equação, um outro
pequeno problema". Encerrada a entrevista, ele se tranca em uma salinha com sua mala
de viagem. Vai pensar na tal equação. A religião de Witten é a própria ciência.
Links Patrocinados
PeixeUrbano: Cadastre-se
PeixeUrbano.com.br/Cadastre-se
NEC Brasil - Soluções TI
www.nec.com.br
Faça Ensino da Matemática
Mestrado em Ensino da Matemática. Matrículas Abertas.
Inscreva-se!
Pos.CruzeirodoSul.edu.br
Comentários