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Módulo 3 – Atividade 2 (Formação fundamental em logoterapia)

Aluno: João Goldoni

E:mail: jgoldonipeixoto@gmail.com

Professor: Alberto Nery

A importância e o impacto da logoterapia na minha vida pessoal

Desde muito novo que experimento um sentimento muito forte de absurdidade e


angústia em relação à vida. Diferentemente das pessoas que viviam à minha volta, e que
sempre me pareceram integradas no fluxo da existência, minha sensação subjetiva era
de que a vida era algo estranho. Medo, angústia e ansiedade sempre foram a tônica da
minha alma. Dito de outra maneira, – e aqui a relação com a logoterapia é direta – sentia
uma verdadeira falta de sentido na minha vida. Devo boa parte disso, sem dúvidas, ao
modelo de educação que recebi desde a mais tenra infância. Meu pai, que é um
professor de economia altamente intelectualizado, desde o início da sua vida adulta é
um ateu convicto. Mais do que isso, sempre foi uma pessoa bastante preconceituosa em
relação à todo e qualquer tipo de manifestação religiosa, principalmente as da tradição
judaico-cristã.

Nesse sentido, em nossa casa, a religião sempre foi objeto de escárnio. A menor
manifestação da fé de uma pessoa se tornava objeto de zombaria. Minha mãe, que às
vezes até me parece uma pessoa inclinada à fé religiosa, prefere não dar sua opinião no
que toca à espiritualidade. Portanto, em casa, a voz ativa sempre foi do meu pai, e,
religião, era sinônimo de ignorância. A fé, segundo ele, não era nada mais que uma
covardia do espírito humano em não aceitar a dura realidade do acaso e a inexorável
mortalidade do homem. Meu pai, com isso, sem saber, contribuiu para o mergulho do
meu espírito num verdadeiro lodo niilista. Se por um lado eu assimilava e replicava suas
ideias, por outro, meu espírito agonizava e sentia que as portas para algo fundamental
estavam sendo fechadas à força. A conta não fechava, e eu não estava bem. No fundo,
sabia que a minha conivência com as ideias do meu pai se deviam à agressividade
retórica dele de um lado, e ao meu despreparo intelectual e pouca estrutura emocional
para lidar com suas investidas do outro. Sei que ele não fazia isso por mal, até porque,
tenho milhares de motivos para amá-lo e elogiá-lo. Meu pai é um homem bom. No
fundo, sei que pensava estar me fazendo um bem e ajudando a edificar meu intelecto.
Contudo, o que ele me causou com isso tudo foi um grande sentimento de falta de
sentido para a vida.

No entanto, minha sede de sentido sempre foi maior que minha falta dele. Por
isso, minha inquietação existencial me levou a abandonar minha graduação em
economia e a ingressar pouco tempo depois no curso de filosofia, depois que tive
contato em uma livraria na qual trabalhei com o pensamento do filósofo e escritor Olavo
de Carvalho. O seu livro “A filosofia e seu inverso” apresentava uma maneira
radicalmente oposta à do meu pai em conceber o universo da filosofia e da ciência, na
qual esse “inverso” expresso no título era precisamente a cosmovisão defendida pelo
meu pai. O telos fundamental da filosofia, dizia o livro, é o ordenamento superior do
espírito e o amor pela verdade, não sua negação através de artificialismos retóricos, que
é chamada desde os antigos como filodoxia. Até então, eu era incapaz de conceber a
existência de intelectuais de grande envergadura que fossem defensores de uma
perspectiva com um teor transcendente. Que ignorância a minha! A história da filosofia
está repleta deles! Eu havia sido alvo por diversos anos de um preconceito gigantesco,
que colocava a religiosidade como algo antagônico ao exercício da filosofia e da razão.
Dessa maneira, no decorrer dos meus estudos filosóficos conheci os sofisticados
sistemas metafísicos de pensamento de Platão, Aristóteles, Plotino, Santo Agostinho,
Santo Tomás de Aquino, Santo Anselmo e muitos outros, que me deram um bom estofo
intelectual para analisar de maneira adequada as incongruências presentes no
pensamento niilista que meu pai tanto insistia em me ensinar. Antes, suas ideias
entravam na minha mente sem barreiras como ervas daninhas, e seus frutos na minha
alma eram a angústia e a ansiedade. Agora, eu havia ganho maior capacidade de analisá-
las à partir de uma base intelectual mais sólida.

Nesse sentido, através do meu contínuo contato universitário com colegas


estudiosos da filosofia e da teologia, conheci o pensamento do Dr. Viktor Frankl, que
para mim foi de importância crucial. Era um período da minha vida no qual o meu
interesse por psicologia, psicanálise e comportamento humano estava crescendo
bastante. Inclusive, fiz incontáveis sessões de psicanálise com uma psicanalista
Freudiana, e depois, com um analista Lacaniano muito competente. Contudo, tanto em
meus estudos pessoais sobre psicanálise quanto nas sessões às quais fui submetido,
notei que faltavam determinados conceitos que eram fundamentais, e que só me foram
fornecidos através do pensamento de Frankl. A psicanálise, em seu enfoque excessivo
nas reflexões sobre o passado, não abordava por exemplo o conceito de
“autotranscendência como essência da existência”, me deixando cada vez mais
ensimesmado e hiperreflexivo, dificultando com isso meu autodesenvolvimento. Foi à
partir do entendimento de Frankl de que o indivíduo são, no sentido pleno da palavra, é
aquele capaz de esquecer-se de si mesmo e entregar-se a um sentido a realizar fora de si,
que tanto meu percurso terapêutico quanto intelectual adquiriram uma base bem mais
sólida. Toda a psicologia moderna que eu estudara até então possuía contornos muito
claros daquela filosofia tão defendida pelo meu pai, que privilegiava o sujeito em
detrimento do mundo real. A logoterapia claramente se estrutura na contramão dessa
tendência subjetivista tão característica da modernidade. Para além disso, levando em
conta a alma atormentada pelo niilismo do meu pai que sempre fui, o conceito de
“inconsciente espiritual” abordado de maneira primorosa no livro “A presença ignorada
de Deus” de Viktor Frankl, solidificou ainda mais o meu processo terapêutico. Minha
história é um exemplo vivo de que o indivíduo não só possui uma espiritualidade latente
em seu inconsciente que deseja vir à tona, como essa religiosidade pode perfeitamente
ser reprimida, causando com isso uma série de implicações neuróticas. Devo ao
conhecimento da logoterapia essa percepção, e sem dúvidas esse conhecimento mudou e
continua mudando a minha vida. Fora isso, aprendi através da análise existencial
Frankliana os conceitos de “valores de criação”, “valores vivenciais”, e não menos
importante que os dois, o conceito de “valores de atitude”. A vida está repleta de
possibilidades de sentido, seja na criação de uma obra, na contemplação estética de uma
paisagem ou na vivência do amor a um outro indivíduo singular. E mesmo quando esses
valores se encontram impedidos de serem realizados por circunstâncias trágicas da vida,
o homem ainda pode encontrar um sentido último diante de um destino inexorável. Ou
seja, diferentemente do que aprendi em minha educação secularista de que a vida é
absurda e não possui sentido algum, o pensamento de Viktor Frankl me ensinou que a
vida, até o seu último suspiro, carrega sim uma possibilidade única e intransferível de
realização de sentido. Esse sentido é único, concreto, e deve ser descoberto por cada um
de nós individualmente. O pensamento de Frankl mostrou para mim o oposto do
niilismo. Essa grande figura humana que foi Viktor Emil Frankl passou pela barbárie
que foi o nazismo e o extermínio em massa dos judeus, colocando em prática os valores
da logoterapia, reconhecendo também nesse contexto o quanto a existência de um
sentido autotranscendente é fundamental para que o indivíduo permaneça são e acredite
na vida. Nesse aspecto, o pensamento de Frankl é um exemplo perfeito daquilo que o
filósofo José Ortega Y Gasset denominava “ideia dos náufragos”. Se estivéssemos à
deriva no oceano, será que lembraríamos do socialismo? Certamente não. As questões
que viriam à tona em nosso espírito seriam questões como o sentido da vida, Deus e a
imortalidade, por exemplo. Nesse sentido, a logoterapia mostrou na vivência pessoal do
seu fundador que trata de questões de primeira importância para o ser humano, sendo
por isso uma escola psicoterapêutica de relevância fundamental para a humanidade,
assim como foi e continua sendo para minha história pessoal. Minha ansiedade ainda
não está curada e ainda tenho meus momentos de angústia, mas hoje minha vida tem
muito mais sentido do que tinha outrora. Devo isso à logoterapia.

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