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LEGISL AÇÃO

Congresso promove novos cortes nos recursos para a ciência


(https://revistapesquisa.fapesp.br/congresso-promove-novos-cortes-nos-
recursos-para-a-ciencia/)
A pedido do Ministério da Economia, parlamentares reduzem orçamento suplementar
da área para R$ 89,7 milhões, comprometendo o custeio de bolsas e projetos de
pesquisa

Fachada do Congresso Nacional, em Brasília, que abriga a Câmara dos Deputados (direita) e o Senado (esquerda)
Pedro França/Agência Senado
O
orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) sofreu um
novo corte na quarta-feira (7/10) após o Congresso Nacional aprovar o Projeto de
Lei nº 16 de 2021 (PLN 16/21), que reduz drasticamente o valor previsto ao órgão.
A pasta receberia R$ 690 milhões, mas agora poderá contar com apenas R$ 89,7 milhões. O
texto aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro.

O governo enviou o PLN 16/21 ao Congresso em fins de agosto com o propósito de abrir
crédito suplementar de R$ 690 milhões no orçamento do MCTI ainda este ano. Do montante
total, R$ 655,4 milhões seriam desbloqueados do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (FNDCT), principal instrumento de fomento à ciência, tecnologia e
inovação (CT&I) no Brasil. Os outros R$ 34,5 milhões iriam para a Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN) investir na produção de radiofármacos, utilizados no tratamento de
câncer. A fabricação desses insumos foi interrompida no dia 20 de setembro por falta de
recursos. Na ocasião, o Instituto Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) informou que
houve um grande corte no orçamento federal em 2021 e precisaria de R$ 89,7 milhões para
continuar a produção até o fim deste ano.

No entanto, às vésperas da votação do PLN 16/2021, o Ministério da Economia enviou um


ofício à Comissão Mista do Orçamento do Congresso Nacional (CMO) solicitando a divisão
dos valores que iriam integralmente para a CT&I com várias outras áreas. De tal forma que
os recursos para o MCTI caíram de R$ 655,4 milhões para apenas R$ 7,2 milhões –
aproximadamente 1,1% da proposta original. Por sua vez, o governo aumentou de R$ 34,5
milhões para R$ 82,5 milhões o montante total previsto para a produção de radiofármacos.

O Ministério do Desenvolvimento Regional foi o que mais se beneficiou com essa manobra.
Ao todo, receberá R$ 150 milhões para ações de proteção e gestão de riscos e desastres, R$
100 milhões para a integralização de cotas de moradia do Fundo de Arrendamento
Residencial, usado no financiamento de projetos habitacionais como o Programa de
Arrendamento Residencial, e mais R$ 2,2 milhões para obras de infraestrutura hídrica. O
Ministério da Educação ficará com R$ 107 milhões, que serão usados para o custeio de bolsas
de pós-graduação. Outros R$ 58 milhões irão para o Ministério da Agricultura, que aplicará
os recursos na modernização e no fortalecimento da defesa e da sanidade agropecuária. Já o
Ministério da Saúde receberá R$ 50 milhões para saneamento básico.
O acordo pela divisão dos recursos para a CT&I com outras pastas foi comemorado pelos
parlamentares, mas indignou a comunidade científica, que esperava poder contar com esses
valores ainda em 2021. “O governo praticamente zerou o FNDCT”, comenta Celso Pansera,
ex-deputado e ex-ministro do MCTI. Segundo ele, isso significa que o MCTI não poderá usar
os recursos do fundo para levar adiante suas atividades de rotina.

“Na prática, o governo está distribuindo os recursos do FNDCT para outras pastas, o que vai
contra os objetivos do fundo e é inconstitucional”, destaca o físico Luiz Davidovich,
presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “Mas é provável que a equipe
econômica use outros argumentos para justificar a manobra, afirmando que os valores foram
apenas contingenciados.” Ele lembra que a modificação do PLN 16/2021 subtrai recursos
importantes que seriam usados para o pagamento de bolsas e projetos já agendados pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O físico ressalta ainda que a chamada universal prevista para este ano, por meio da qual o
órgão investiria em projetos de todas as áreas do conhecimento e em instituições de todo o
país, poderá ser adiada ou mesmo cancelada. “O governo está sendo muito agressivo nessa
questão e não quer de jeito nenhum liberar os recursos do FNDCT, mesmo após a
promulgação da Lei Complementar nº 177, que proíbe novos contingenciamentos
(https://revistapesquisa.fapesp.br/futuro-incerto/) dos recursos do fundo”, diz.

Segundo Pansera, é pouco provável que a decisão seja revertida. Ainda assim, representantes
de oito entidades científicas, por meio da Iniciativa Ciência e Tecnologia no Parlamento
(Ictp.br), enviaram uma nota ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG),
pedindo que a medida fosse revista.

O governo federal já havia promovido em abril cortes significativos em vários órgãos que
financiam a pesquisa no país. Dos R$ 10,8 bilhões à época reservados para o MCTI, pouco
mais de R$ 5,1 bilhões foram bloqueados para serem usados na redução do déficit nas contas
públicas. Uma outra parte, de R$ 1,2 bilhão, foi carimbada como crédito suplementar, sujeito
à aprovação do Congresso para ser executada. Excluídos esses valores e despesas
obrigatórias, como salários, o orçamento do MCTI foi de apenas R$ 1,8 bilhão, o equivalente
a 16% do orçamento de 2013.

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