Você está na página 1de 7

AgRg no HABEAS CORPUS Nº 587700 - SP (2020/0136529-5)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


AGRAVANTE : EDSON XAVIER DA SILVA (PRESO)
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ANDREIA REZENDE TINANO - MG157372
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO.


PENA-BASE. PERÍODO DEPURADOR. MAUS ANTECEDENTES.
LEGALIDADE. FRAÇÃO DE AUMENTO. PROPORCIONALIDADE.
CONFISSÃO ESPONTÂNEA E MULTIRREINCIÊNCIA. COMPENSAÇÃO
PARCIAL. LEGALIDADE. REGIME FECHADO. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PARECER ACOLHIDO.
1. Nesta Corte prevalece o entendimento de que as condenações
alcançadas pelo período depurador de 5 anos, previsto no art. 64, I, do
Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não impedem a
configuração de maus antecedentes, permitindo o aumento da pena-base
acima do mínimo legal e a devida individualização das penas.
2. Não há desproporcionalidade no recrudescimento da pena-base em 1/3,
tendo em vista que o réu possui cinco condenações anteriores, alcançadas
pelo período depurador, sendo quatro delas relativas ao crime de furto.
3. A agravante da reincidência deve ser compensada com a atenuante da
confissão espontânea, porquanto ambas envolvem a personalidade do
agente, sendo, por consequência, igualmente preponderantes. Tal
entendimento sofre alteração quando reconhecida a situação de réu
multirreincidente, hipóteses nas quais, como regra, não será devida a
compensação integral entre a confissão e a reincidência (AgRg no AREsp n.
713.657/DF, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 23/4/2018). O
aumento de 1/2 não se afigura desproporcional, em virtude da reincidência
específica - três condenações pela prática do crime de furto.
4. Tratando-se de réu reincidente, condenado à pena de 5 anos e 4 meses,
a fixação do regime fechado atende ao comando do art. 33 do Código
Penal.
5. Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha
Palheiro e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 07 de dezembro de 2020.

Ministro Sebastião Reis Júnior


Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 587700 - SP (2020/0136529-5)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


AGRAVANTE : EDSON XAVIER DA SILVA (PRESO)
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ANDREIA REZENDE TINANO - MG157372
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO.


PENA-BASE. PERÍODO DEPURADOR. MAUS ANTECEDENTES.
LEGALIDADE. FRAÇÃO DE AUMENTO. PROPORCIONALIDADE.
CONFISSÃO ESPONTÂNEA E MULTIRREINCIÊNCIA. COMPENSAÇÃO
PARCIAL. LEGALIDADE. REGIME FECHADO. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PARECER ACOLHIDO.
1. Nesta Corte prevalece o entendimento de que as condenações
alcançadas pelo período depurador de 5 anos, previsto no art. 64, I, do
Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não impedem a
configuração de maus antecedentes, permitindo o aumento da pena-base
acima do mínimo legal e a devida individualização das penas.
2. Não há desproporcionalidade no recrudescimento da pena-base em 1/3,
tendo em vista que o réu possui cinco condenações anteriores, alcançadas
pelo período depurador, sendo quatro delas relativas ao crime de furto.
3. A agravante da reincidência deve ser compensada com a atenuante da
confissão espontânea, porquanto ambas envolvem a personalidade do
agente, sendo, por consequência, igualmente preponderantes. Tal
entendimento sofre alteração quando reconhecida a situação de réu
multirreincidente, hipóteses nas quais, como regra, não será devida a
compensação integral entre a confissão e a reincidência (AgRg no AREsp n.
713.657/DF, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 23/4/2018). O
aumento de 1/2 não se afigura desproporcional, em virtude da reincidência
específica - três condenações pela prática do crime de furto.
4. Tratando-se de réu reincidente, condenado à pena de 5 anos e 4 meses,
a fixação do regime fechado atende ao comando do art. 33 do Código
Penal.
5. Agravo regimental improvido.

RELATÓRIO
Trata-se de agravo regimental interposto por Edson Xavier da Silva contra
decisão monocrática que denegou a ordem impetrada em seu favor, pelos
fundamentos assim sintetizados (fl. 412):

HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. PENA-BASE. PERÍODO


DEPURADOR. MAUS ANTECEDENTES. LEGALIDADE. FRAÇÃO DE AUMENTO.
PROPORCIONALIDADE. CONFISSÃO ESPONTÂNEA E MULTIRREINCIÊNCIA.
COMPENSAÇÃO PARCIAL. LEGALIDADE. REGIME FECHADO. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PARECER ACOLHIDO.
Ordem denegada.

Reitera a defesa que os maus antecedentes devem ser afastados. Afirma


que, apesar de haver jurisprudência do STJ no sentido de considerar como maus
antecedentes decisões já atingidas pelo prazo depurador de 5 anos, a posição
consolidada do STF é no sentido oposto (Processos n. 119.200 (HC), Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 11/02/2014, e pela 2ª Turma, HC n. 126.315/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 15/9/2015) - fl. 428.

Argumenta que se trata de aplicar ao caso concreto o princípio da


razoabilidade para evitar que uma pena acarrete consequências eternas ao acusado,
impedindo sua ressocialização, em contradição com os próprios objetivos da pena
previstos na Convenção Americana de Direitos Humanos e na Lei de Execuções
Penais (fl. 429).

Subsidiariamente, sustenta que se for mantida a vetorial negativa, deve ser


alterado o quantum de recrudescimento, fixado em 1/3, porque exasperado.

Reafirma, também, que, na segunda fase do cálculo da pena, há ilegalidade


decorrente da ausência de compensação da agravante da reincidência com a
atenuante da confissão espontânea.

Acrescenta que, ainda que considerada correta a majoração pela


reincidência, o aumento operado mostrou-se desgarrado dos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade que devem nortear a sua atividade quando da
realização da dosimetria da pena, ainda mais quando considerado que houve confissão
do recorrente (fl. 431).

Por fim aduz que, após a readequação das penas nos termos acima
expostos, deve ser alterado o regime de cumprimento das penas.

Requer, assim, a reconsideração da decisão agravada ou, caso contrário, a


sua submissão ao órgão colegiado competente.

É o relatório.

VOTO

Consoante relatado, pretende o agravante que seja a pena-base fixada no


mínimo legal, afastando-se os maus antecedentes, bem como seja compensada
integralmente a agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea,
fixando-se regime inicial de cumprimento da pena diverso do fechado.

A despeito das alegações do agravante, a decisão impugnada deve ser


mantida por seus próprios fundamentos.

Reafirmo que, nesta Corte, prevalece o entendimento de que as


condenações alcançadas pelo período depurador de 5 anos, previsto no art. 64, I, do
Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não impedem a configuração de
maus antecedentes, permitindo o aumento da pena-base acima do mínimo legal e a
devida individualização das penas. Nesse sentido: REsp n. 1.716.964/RJ, Ministro
Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 28/6/2018; e AgRg no AREsp n. 1.263.525/MG,
Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 22/6/2018.

Nesse contexto, ante a multiplicidade de antecedentes criminais, não há


qualquer ilegalidade na fixação da pena-base em 1/3 acima do mínimo legal.

Com efeito, quanto ao critério numérico de aumento para cada circunstância


judicial negativa, insta consignar que "A análise das circunstâncias judiciais do art. 59
do Código Penal não atribui pesos absolutos para cada uma delas a ponto de ensejar
uma operação aritmética dentro das penas máximas e mínimas cominadas ao delito.
Assim, é possível que "o magistrado fixe a pena-base no máximo legal, ainda que
tenha valorado tão somente uma circunstância judicial, desde que haja fundamentação
idônea e bastante para tanto" (AgRg no HC n. 445.853/BA, Ministro Felix Fischer,
Quinta Turma, DJe10/9/2018).

Conforme pontuou o Ministério Público Federal, essa Corte Superior, ao


apreciar outros casos envolvendo réus que também possuíam cinco condenações
geradoras de maus antecedentes, considerou plenamente adequado e proporcional o
aumento da pena-base pela metade (fl. 404). Confiram-se: HC n. 383.728/SP, Ministro
Reynaldo Soares Da Fonseca, Quinta Turma, DJe 25/04/2017; HC n.
158.883/SP, Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe 15/2/2017.

Reitero, também, que não há ilegalidade a ser sanada na segunda fase de


fixação da reprimenda, porquanto, conforme a pacífica jurisprudência desta Corte, a
agravante da reincidência deve ser compensada com a atenuante da confissão
espontânea, porquanto ambas envolvem a personalidade do agente, sendo, por
consequência, igualmente preponderantes. Tal entendimento sofre alteração quando
reconhecida a situação de réu multirreincidente, hipóteses nas quais, como regra, não
será devida a compensação integral entre a confissão e a reincidência. 2. Tratando-se
de réu multirreincidente, cabível a compensação parcial da atenuante da confissão
espontânea com a agravante da reincidência (AgRg no AREsp n. 713.657/DF, Ministro
Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 23/4/2018 – grifo nosso).

A esse respeito, também pontuou o Parquet Federal que considerando-se


que o réu, mesmo após efetuada referida compensação, ainda possuía outras três
condenações pela prática do crime de furto, não se mostra desproporcional ou
exagerado, data venia, o aumento de 1/2 em virtude dessa multirreincidência
específica (fl. 406/407). No mesmo sentido: HC 490.005/SC, Rel. Ministro Felix Fischer,
Quinta Turma, DJe 1/3/2019.

Não alterada a pena (5 anos e 4 meses de reclusão) e considerando-se


a reincidência do réu, a fixação do regime fechado atende ao comando do art. 33 do
Código Penal

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.


Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2020/0136529-5 HC 587.700 / SP
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00018449120198260495 18449120198260495


EM MESA JULGADO: 07/12/2020

Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. DOMINGOS SAVIO DRESCH DA SILVEIRA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ANDREIA REZENDE TINANO - MG157372
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : EDSON XAVIER DA SILVA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Furto Qualificado

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : EDSON XAVIER DA SILVA (PRESO)
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ANDREIA REZENDE TINANO - MG157372
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro
e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.

C5425425150981:0038548@ 2020/0136529-5 - HC 587700 Petição : 2020/0053987-5 (AgRg)

Você também pode gostar