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EXMO.

JUIZ DE DIREITO DA VARA


1 DE FAZENDA PÚBLICA DA
COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO.

PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA

xxxxxx, brasileiro, portador da cédula de identidade


no. xxxxxx IFP/RJ e inscrito no CPF sob o n o. xxxxxx, domiciliado
na Avenida xxxx no. xxx, bairro daBarra da Tijuca, Rio de Janeiro,
RJ, CEP: xxxx vem por seu advogado adiante assinado
(instrumento de mandato em anexo) ajuizar a presente

AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO


COM PEDIDO DE LIMINAR C/C PEDIDO DE DANO MORAL

Contra DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO DO ESTADO DO RIO


DE JANEIRO, DETRAN, pessoa jurídica de direito público, com
sede na Avenida Presidente Vargas n o. 817, Centro, Rio de
Janeiro, RJ, CEP 20.071 – 004, pelas razões de fato e de direito
expostas a seguir:

1 - DAS PUBLICAÇÕES PROCESSUAIS


2

Inicialmente o Autor requer a V. Exa. que todas as


publicações processuais sejam feitas exclusivamente em nome do
Dr. xxxxx, regularmente inscrito na OAB/RJ sob o nº. xxxxx,
sob pena de nulidade.

Informa ainda o Patrono do Autor que, para os efeitos


do inciso I do artigo 39 do CPC, este possui escritório profissional
na Avenida xxxxxx n°.xxxx, Centro, Rio de Janeiro, CEP: xxxxxxx.

2 – DO PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente o Autor requer que lhe seja concedido o


benefício da Gratuidade de Justiça por não ter meios de arcar com
as custas judiciais e honorários de advogado sem prejuízo de seu
sustento e de sua família, nos termos da Lei 1.060/50 e suas
posteriores modificações. O Autor atualmente encontra-se parado,
sem poder dirigir, em função do auto de infração lavrado contra si,
e, conseqüentemente não tem como trabalhar.

3 – DOS FATOS

O Autor recebeu emsetembro de 2014 notificação da


instauração de Processo Administrativo de no E-xxxxx
objetivando a suspensão do exercício
3 do direito de dirigir pelo
período de 12 meses e para obrigatoriedade de frequência em
curso de Reciclagem para condutores infratores (CRCI), por ter o
Autor se recusado a se submeter a medição e avaliação de teor
alcoólico, conhecido vulgarmente como bafômetro. Aliás, abra-se
um parênteses para dizer que a infração não foi comprovada, o
que fere, no mínimo o princípio do contraditório e da ampla
defesa, uma vez que o ônus da prova, no caso é do Réu.

Dito isto, e não menos importante, ainda que as


infrações que geraram o dito processo administrativo tivessem
ocorrido, estas ocorreram, supostamente em 2012, restando,
consequentemente prescrito o prazo para suspensão do
direito de dirigir. O CTB estabelece, por analogia, o período de 1
(um) ano para a cumulação da pontuação, estando, portanto
precluso o prazo para a referida suspensão.

O aludido auto de infração de infração referia-se ao


fato do Autor ter se recusado a realizar o teste do bafômetro, para
verificação do teor alcoólico no sangue, em 2012, tal como se
infere pela leitura do referido auto de infração.

Ato contínuo, tão logo foi notificado da suposta


infração o Autor entrou apresentou Defesa Prévia junto ao
Detran, que foi indeferido mesmo sendo evidente ilegalidade e
inconstitucionalidadeda penalidade já que a mesma admitiu a
culpa do condutor pela não realização do teste, ou seja, a negativa
da realização do teste sendo portanto inadmissível a afirmação de
que estava dirigindo com teor alcoólico no sangue.
Ora excelência, o Autor foi penalizado com a suspensão
do direito de dirigir e  notificado para entregar sua carteira de
motorista, em 20/04/2015 tendo
4 se esgotado, portanto, a via
administrativa.

Sem alternativas então, e, principalmente precisando


dirigir por utilizar seu veículo para trabalho,o Autor apelou para
a interferência do Poder Judiciário para resolver o litígio

4 – DO DIREITO
4.1 – DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA NÃO PRODUÇÃO
DE PROVAS CONTRA SI MESMO

Em primeiro plano há que se destacar o suposto


infrator não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Tal
princípio é garantido constitucionalmente não podendo qualquer
pessoa ser punida por exercer tal direito. O Poder Judiciário tem
acolhido tal tese, como se infere, por exemplo no julgado a seguir:

APELAÇÃO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE.


PROVA TÉCNICA PRODUZIDA SEM A
ADVERTÊNCIA CONSTITUCIONAL DO
DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA
CONTRA SI MESMO. NEMO TENETUR SE
DETEGERE.

1. Do direito constitucional de permanecer


calado (artigo 5º, LXIII, do CF) decorre o
direito de o imputado não produzir prova
contra si mesmo, isto é, o nemo tenetur se
detegere, garantia constitucional que atinge
todas as5 pessoas sem qualquer
diferenciação.

2. Para que haja isonomia de tratamento –


evitando-se situações constrangedoras, tais
como as noticiadas na mídia, no sentido de
que pessoas mais instruídas se neguem a
fazer o bafômetro, valendo-se do direito
constitucional de não produzir prova contra
si e, conseqüentemente, as menos
informadas/instruídas sejam submetidas ao
teste – é imprescindível a cientificação do
motorista quanto ao seu direito de não se
submeter ao bafômetro.

3. Compulsando os autos, em nenhum


momento a autoridade policial advertiu o
condutor de que ele não era obrigado a se
submeter ao bafômetro. Nos sucessivos
documentos produzidos na fase pré-
processual (termo de ocorrência e
declarações na polícia), apenas constou ter
sido solicitada a realização do teste do
etilômetro, havendo a concordância do
condutor.

4. Com isso não se quer defender ou


proteger aqueles que dirigem sob efeito do
álcool, conduta amplamente reprovável,
mas sim evitar situações desiguais: valem-
se do direito de não produzir prova contra si
mesmo aqueles que estão informados e
submetem-se ao bafômetro os
desinformados, sofrendo todas as
conseqüências daí advindas. Busca-se, com
isso, o alcance do tratamento constitucional
e igualitário a todos.

APELO PROVIDO.
(TJ-RS - ACR:
6 70049338247 RS, Relator:
Nereu José Giacomolli, Data de Julgamento:
08/11/2012, Terceira Câmara Criminal,
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
13/12/2012)

Se o agente público entendesse que, de fato o Autor


estava embriagado este deveria ter conduzido o motorista a uma
delegacia policial e então ter realizado o exame pericial, o que não
ocorreu.

Importante ainda registrar que os fatos narrados


ocorreram ANTES da modificação da legislação dos testes
realizados para verificação do teor alcoólico no sangue,
devendo, pois ser considerado o princípio do in dúbio pro réu,
em relação à suposta presunção de alcoolismo, caso houvesse
a negação para a realização do referido teste.

4.2 – DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA


AMPLA DEFESA

A decisão da suspensão de dirigir também ofende ao


devido processo legal, uma vez que o Autor foi notificado de fatos
ocorridos em 2012 apenas em 16/3/2015(Doc. 1).

Ora Exa. o órgão de trânsito transferiu para o Autor o


ônus de comprovar suposta infração cometida em período de 3
(três) anos atrás, o que é impossível, tornando-se tal prova
diabólica, dado o difícil grau de produção da prova. Como poderia
o Autor comprovar a inexistência de fato não ocorrido? O ônus da
prova é do Réu, que baseou seu
7 juízo de culpabilidade pela
simples negativa da realização do exame.

A Constituição da República consagra em seu artigo 5º,


incisos LIV e LV o princípio do devido processo legal:

Constituição Federal

LIV – ninguém será privado da liberdade ou


de seus bens sem o devido processo legal;

LV – aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;

Trata-se, indubitavelmente, de garantia contra


eventuais abusos e arbitrariedades por parte da máquina estatal,
em favor de todo e qualquer cidadão. Note Excelência, que
tamanha é a relevância do devido processo legal que nosso
ordenamento o elegeu com ‘PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL’, o que denota toda sua carga axiológica, pois se tem,
atualmente, o entendimento uníssono de que princípio
constitucional possui normatividade e efetividade ‘supra legal’.
Nesse sentido, os princípios são verdades jurídicas universais, e,
assim sendo, são consideradas normas primárias, pois são o
fundamento da ordem jurídica, enquanto que as normas que dele
derivam possuem caráter secundário.

Já com relação à legislação infraconstitucional, são


claríssimos os mandamentos relativos ao processo administrativo
necessário para a aplicação 8 de penalidades em caso de
cometimento de infração de trânsito. O capítulo XVIII, artigos 280
– 290 da Lei 9.503/97 que instituiu o Código de Trânsito
Brasileiro – CTB e a Resolução 363/2010 do CONTRAN
estabelecem detalhadamente o procedimento a ser observado com
vistas à aplicação das penalidades previstas no CTB. Tudo isso,
evidentemente, em atenção ao supra invocado PRINCÍPIO DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL, em seus principais desdobramentos,
quais sejam, o contraditório e a ampla defesa.

As normas processuais são cogentes, de ordem


pública, que se aplicam independentemente da vontade do
destinatário. Em sendo assim, é regra processual própria, que se
aplica tanto aos processos administrativos quanto aos judiciais.
Ou seja, é ônus da parte que alega comprovar o alegado, conforme
o inciso I do artigo 333 do CPC. Tal regra vale tanto para o
procedimento administrativo quanto para o judicial. O Réu
apenas alegou que o Autor estaria dirigindo sob a influência de
álcool, sem ter comprovado.

4.3 – DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 261 DO CTB

Mesmo que o Autor tivesse cometido a infração


apontada, apenas para argumentar, jamais poderia ser-lhes
imposta a penalidade de suspensão de sua CNH, tendo em vista a
flagrante inconstitucionalidade dos dispositivos do CTB que
tratam desta penalidade. Isto porque,
9 não há como se negar a
inconstitucionalidade do artigo 261 do CTB por afronta ao
Princípio da Legalidade previsto no inciso II, do artigo 5º da
CF/88, porque por não ser norma em branco, jamais poderia ter
conferido ao CONTRAN o poder de estabelecer o prazo de
suspensão das CNHs. Segue a redação deste dispositivo do CTB:

Código de Trânsito Brasileiro

Artigo 261 - A penalidade de suspensão do


direito de dirigir será aplicada, nos casos
previstos neste Código, pelo prazo mínimo
de um mês até o máximo de um ano e, no
caso de reincidência, no período de doze
meses, pelo prazo mínimo de seis meses até
o máximo de dois anos, segundo critérios
estabelecidos pelo CONTRAN. (Grifei)

Tais critérios estão previstos na Resolução nº 54/98 do


CONTRAN, na qual foram dispostos os diversos prazos de
suspensão em vista das infrações praticadas pelos motoristas,
comprovando que o montante da penalidade de suspensão não é
aplicada na forma da lei, mas diante de determinações não
legislativas em desrespeito ao Princípio Constitucional da
Legalidade.
10
4.4 – DA NÃO OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE

Como já demonstrado, o Princípio da Proporcionalidade


tem relação com a necessária proporção entre os meios de que a
Administração Pública se utilizada para garantir um fim.

Sob este prisma, sem considerar os argumentos


expostos anteriormente, a suspensão da CNH para algumas
atividades somente será possível após a análise da situação
individual de cada motorista, porque os seus efeitos poderão
não guardar a devida razoabilidade e proporção com as
infrações cometidas, acarretando a inconstitucionalidade de
sua aplicação.

Caso persista a suspensão da CNH de alguns


motoristas, estar-se-á negado à eles o direito de exercerem
devidamente a sua atividade profissional, garantirem a sua
subsistência e de sua família, mormente quando o automóvel é
instrumento essencial de trabalho (p.ex. advogados, médicos,
vendedores etc.). Este é exatamente o caso do Autor, que é
motorista profissional. Se a suspensão do direito de dirigir
persistir, esta não poderá exercer seu mister, para sustentar
dignamente sua família.

Os motoristas têm o direito à aplicação do Princípio


Constitucional da Individualização das Penas previsto no inciso
XLVI, do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, pois somente
assim a pena de suspensão11 terá sido aplicada de forma
"individual", no sentido de se verificar a desproporção ou não
entre seus efeitos e as infrações praticadas.

Esta situação é semelhante a que acontece na área do


Direito Tributário, na qual se entende que a inexistência de
individualização da pena e a desproporção entre o seu efeito e
motivo acarretam a inconstitucionalidade da sanção tributária
(pena), como demonstra a lição do jurista Helenilson Cunha
Pontes:

"(...) Contudo, a aplicação desta sanção


pode afigurar-se inválida, por ofensa ao
princípio da proporcionalidade, se,
considerando as características peculiares
do indivíduo infrator, a efetiva imposição
daquela sanção acaba resultando, por
exemplo, no completo aniquilamento da sua
atividade econômica" (PONTES, Helenilson
Cunha. O PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE E O DIREITO
TRIBUTÁRIO. São Paulo: Dialética, 2000.
pág. 137).

Além do mais, não parece razoável que o suposto


infrator, que seria primário por nunca ter cometido tal tipo de
penalidade, em tese, seja condenado a ter suspenso seu direito
de dirigir na pena máxima, qual seja, a de um ano, o que fere o
princípio da razoabilidade e da proporcionalidade, tendo agido o
Réu sem qualquer critério lógico razoável.
12

4.5 – DA VIOLAÇÃO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

A decisão administrativa viola também o princípio do


Estado de Inocência, também conhecido como Presunção de
Inocência, ou Presunção da não culpabilidade.

Tal princípioé consagrado por diversos diplomas


internacionais e foi positivado no Direito Brasileiro com a
Constituição de 1988. A Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948 em seu artigo XI, 1, dispõe: “Toda pessoa
acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo
com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa”. A
Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos, conhecida
como Pacto de San José da Costa Rica, em seu artigo 8º, 2, diz:
“Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua
inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”, e a
Constituição Federal (CF) no inciso LVII do artigo 5º diz que
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória”.

Portanto vemos que a CF trouxe uma garantia ainda


maior ao direito da não culpabilidade, pois o garante até o trânsito
em julgado da sentença penal,13 e não apenas até quando se
comprove a culpa do acusado, como posto na Declaração
Universal e no Pacto de San José da Costa Rica.

Tal direito garante ao acusado todos os meios cabíveis


para a sua defesa (ampla defesa), garantindo ao acusado que não
será declarado culpado enquanto o processo penal não resultar
em sentença que declare sua culpabilidade, e até que essa
sentença transite em julgado, o que assegura ao acusado o direito
de recorrer. Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima, em sua
obra Manual de Processo Penal, volume 1 o princípio da
Presunção de Inocência:

"Consiste no direito de não ser declarado


culpado senão mediante sentença
transitada em julgado, ao término do devido
processo legal, em que o acusado tenha se
utilizado de todos os meios de prova
pertinentes para sua defesa (ampla defesa) e
para a destruição da credibilidade das
provas apresentadas pela acusação
(contraditório)".

(LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de


Processo Penal, volume 1. Impetus. Niterói:
2012. p. 11)

Devido a este princípio incumbe à parte acusadora o


dever de comprovar a culpabilidade do acusado, não deixando
ensejar nenhuma duvida quanto a ela, pois, em caso de não haver
certeza da culpa do acusado não deverá o juiz incriminá-lo. Este é
o chamado indubio pro reu. Assim o acusado deverá comprovar a
existência de todos os fatos que alegar, respeitando o devido
processo legal. Deve-se sempre utilizar o indubio pro reo quando
houver qualquer dúvida quanto14 a algum fato relevante para a
decisão do processo.

Ora nem de longe o Réu agiu desta forma, imputando


simplesmente conduta arbitrária e injusta ao Autor quanto a
suspensão de seu direito de dirigir.

4.6 - DO DANO MORAL

Primeiramente a Constituição Federal (CF) assegura


como Direito e Garantia Fundamental, em seu artigo 5 o e incisos V
e X o direito a reparação por Dano Moral, conforme se verifica a
seguir:

Constituição Federal

Art. 5° - omissis

V – é assegurado o direito de resposta,


proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;

X – são invioláveis a intimidade, a vida


privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua
violação;

O direito à honra e à dignidade são valiosos para a


sociedade, decorrentes da própria personalidade humana, como
ensina Ihering, “são emanações diretas do eu de cada qual,
verdadeiros imperativos categóricos da existência humana.”
Nesse mesmo diapasão
15 Antônio Jeová dos Santos em

seu Livro Dano Moral, 3. ed., São Paulo, Editora Método, 2001,
assim comenta:

“o direito deve colocar instrumentos de


quem sofreu violação para não permitir
nenhuma intromissão indevida ou injusta à
pessoa. A consciência de cidadania e
dignidade pessoal conduzem a uma mais
forte auto-estima e preservação de valores
que emergem do ser mesmo do homem.”

O conceito de dano moral evoluiu a partir do


entendimento de que o homem foi colocado no vértice do
ordenamento jurídico, transformando os seus direitos no fio
condutor de todos os ramos jurídicos. Por esta razão, ganhou
força o entendimento de que para que haja o dano moral, para que
este seja configurado, é necessário que ocorra efetiva violação do
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, regra esculpida no
inciso III do artigo 1º da Constituição Federal.

Em seu livro Programa de Responsabilidade Civil o


professor Sergio Cavalieri Filho explica como tem sido conceituado
modernamente o dano moral perante a doutrina e a
jurisprudência:

“Tenho para mim que todos os conceitos


tradicionais de dano moral terão que ser
revistos pela ótica da Constituição de 1988.
(...)

(...) Pois bem, logo no seu primeiro artigo,


inciso III, a Constituição Federal consagrou
a dignidade16 humana como um dos
fundamentos do nosso Estado Democrático
de Direito. Temos hoje o que se pode ser
chamado de direito subjetivo constitucional
à dignidade. Ao fazer assim, a Constituição
deu ao dano moral uma nova feição e maior
dimensão, porque a dignidade humana
nada mais é do que a base de todos os
valores morais, a essência de todos os
direitos personalíssimos.

Os direitos à honra, ao nome, à intimidade,


à privacidade, e à liberdade estão
englobados no direito à dignidade,
verdadeiro fundamento e essência de cada
preceito constitucional relativo aos direitos
da pessoa humana.

(...) podemos conceituar o dano moral por


dois aspectos distintos. Em sentido estrito,
dano moral é a violação do direito à
dignidade. (...)

(...) Nessa perspectiva, o dano moral não


está necessariamente vinculado a alguma
reação psíquica da vítima. Pode haver
ofensa à dignidade da pessoa humana sem
dor, vexame, sofrimento, assim como pode
haver dor, vexame e sofrimento sem
violação à dignidade. Dor, vexame,
sofrimento e humilhação podem ser
conseqüências, e não causas”.

(Sergio Cavalieri Filho, Programa de


Responsabilidade Civil, editora Malheiros,
ano 2005, 6ª edição, p.100/101).
A bem da verdade Exa.,
17 o valor da indenização, a título

de danos morais, deve ser fixado pelo arbitramento do juiz. O


relator Juiz Divaldo Martins da Costa discorreu sobre o tema:

“O Dano Moral causado a alguém


independe da prova tradicional do Dano
Material, a indenização deve ser paga ao
ofendido de acordo com o que for
mensurado e arbitrado pelo julgador
mediante observação do caso concreto”.

(TJAM, T. Recursal, Recurso 026/97


J.9/7/97).

Inexiste por parte do Autor o desejo de “enriquecer” às


custas do Réu, de ganhar um “bilhete de loteria milionária” ou de
“tirar férias” por conta de uma indenização. O que há de se buscar
é a justiça da decisão, e isso só terá sido alcançado através da
manutenção da decisão do Juízo monocrático, pois ficou
comprovado nos autos que o Autor sofreu um dano, e que este
precisa ser reparado, pois o caso em análise se harmoniza com a
legislação pátria e com jurisprudência ampla.

O Autor sofreu um dano por ter sido “acusado”


injustamente de ter dirigido alcoolizado, sem qualquer tipo de
prova ao contrário. Tais acontecimentos geraram angústia, raiva,
desespero, tendo sido o Autor atingido no seu íntimo,
principalmente pelo fato de que precisar dirigir por ser motorista
profissional. Ele continua angustiado, sobretudo porque não pode
dirigir, considerando que teve
18 sua carteira de motorista
injustamente apreendida.

Seguindo nesta trilha, é preciso também que se


verifique o lado pedagógico da indenização por Danos Morais.
Nesse diapasão, o eminente Ministro Waldemar Zveiter esclarece:

“Na fixação da indenização a título de


Danos Morais, deve o juiz ater-se ao caráter
pedagógico desta, a fim que não venha o
ofensor futuramente provocar novas
ofensas, levando em consideração o
princípio da razoabilidade, que recomenda
a proporcionalidade”

(STJ, 3a Turma, DJU 8/9/99).

Cumpre frisar que os parâmetros para a fixação do


quantum da indenização por Danos Morais estão aos poucos
sendo pacificados na moderna jurisprudência e na melhor
doutrina. O valor deverá ser fixado levando em consideração as
condições pessoais do Autor e da Instituição causadora do dano,
sopesadas pelo prudente arbítrio do Juiz, com a observância da
Teoria do Desestímulo, ou seja: o valor não deve enriquecer
ilicitamente o ofendido, mas há de ser suficientemente elevado
para desencorajar novas agressões à honra alheia.

Assim, o Autor requer que seu pedido seja julgado


procedente, para que o Réu seja condenado a pagar ao Autor, a
título de danos morais, a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais) corrigida e atualizada desde a prolação da r. sentença até a
data do efetivo pagamento.
19

4.7 - DA TUTELA ANTECIPADA

Considerando todo o exposto acima, conclui-se


fatalmente que sobram razões para anular o AIT cuja validade é
discutida na presente.

Assim, amparado pelos requisitos do artigo 273 do


CPC, o Autor almeja a concessão de antecipação da tutela
afirmando que estão presentes em suas alegações a fumaça do
bom direito e o perigo da demora da prestação judiciária.

Em relação à fumaça do bom direito, verifica-se que


não há qualquer prova que demonstre indícios da culpabilidade do
acusado. Em nenhum momento o Réu conseguiu comprovar que
os fatos articulados no auto infracional ocorreram.

Em relação ao perigo da demora, embora o Autor não


seja motorista profissional, mora na Barra da Tijuca e trabalha
diariamente no Jacaré e necessita do carro para ir ao trabalho e
fazer as mínimas coisas do cotidiano.

Portanto, não é razoável que o mesmo aguarde 2 ou 3


anos para o deslinde deste processo, sem poder dirigir, o que
afetaria sobremaneira o sustento de sua família.

Isso sem falar da inegável reversibilidade da


decisão já que caso houvesse qualquer entendimento
contrário, poderia ser revista, o que não acarretaria qualquer
prejuízo ao Réu com a anulação
20 da suspensão do ato de dirigir

provisoriamente, até posterior decisão do mérito.

5 – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, o Autor requer:

a) Que todas as publicações processuais sejam


feitas exclusivamente em nome do Dr. xxxx,
OAB/RJ xxxxxsob pena de nulidade, conforme
item 1.

b) Que seja concedido ao Autor o benefício da


Gratuidade de Justiça, pelo fato do mesmo estar
impedido de trabalhar, por ter tido sua CNH
apreendida, conforme item 2.

c) Que seja declarado judicialmente a


inconstitucionalidade do artigo 261 do CTB,
pelas razões aduzidas no item 4.3.

d) Que seja deferido o pedido de TUTELA


ANTECIPADA por estarem presentes os
requisitos do artigo 273 do CPC, conforme
fundamentação do item 4.7.

e) Que seja declarado judicialmente A NULIDADE


ABSOLUTA DO AUTO DE INFRAÇÃO, uma vez
que violou diversos dispositivos constitucionais,
conforme fundamentação dos itens 4.2, 4.3, 4.4
e 4.5, com a declaração de efeito ex tunc relativo
à anulação do
21 referido auto de infração,
referente à cassação da PERMISSÃO PARA
DIRIGIR do Autor;

f) Que a tutela antecipada seja confirmada ao


final do processo, na prolação da sentença, com
expedição de ofício ao Réu para emissão de nova
CNH para o Autor poder dirigir.

g) Que seja julgado procedente o pedido para


condenar o Réu, a pagará ao Autor, a título de
Danos Morais o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais), conforme fundamentação do item 4.6.

h) A citação do Réu para que, se desejar, apresente


sua defesa, sob pena de revelia.

i) A condenação do Réu nas custas judiciais e


honorários de advogado, a serem arbitrados por
V. Exa.

6 – DAS PROVAS

Provará o alegado por meio de prova documental.

7 – O VALOR DA CAUSA
Dá-se a causa o valor
22 de R$ xxxxxx para efeito de
alçada.

Termos em que, pede deferimento.

Rio de Janeiro, XXXXX.

ADVOGADO
OAB

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