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Daniel Conegero
Com tudo isso, Lucas está enfatizando que a jovem era usada por
demônios. Por muitos dias a jovem clamou que aqueles homens eram “servos do
Deus Altíssimo”, e que estavam proclamando o caminho da salvação.
Não devemos entender essa declaração como um reconhecimento genuíno
do evangelismo que estava ocorrendo ali. Lembre-se que ela estava sendo usada
por demônios, e tal declaração era uma artimanha de Satanás. Paulo entendeu
dessa forma, e, em nome do Senhor Jesus, expulsou o espírito que atormentava
aquela mulher (At 16:18).
Na época a religião judaica era permitida dentro do império, porém os judeus não
poderiam tentar converter os cidadãos romanos, e naquele momento ainda não
havia ficado clara para os romanos a distinção entre Cristianismo e Judaísmo.
O próprio uso do tronco nas pernas também era um tipo de tortura, pois o preso
perdia praticamente toda mobilidade, além de que em muitas vezes os buracos de
cada perna eram bem afastados, causando grande incomodo.
Um terremoto acontece
A Bíblia diz que de repente houve um violento terremoto, de maneira que os
alicerces da prisão foram sacudidos. Com isso, todas as portas foram abertas e
todas as correntes dos prisioneiros se soltaram.
É verdade que na Macedônia havia incidência de terremotos, porém claramente
esse terremoto específico foi providência de Deus, ou seja, Deus usa até mesmo de
meios naturais para prover milagres inexplicáveis. Aquele terremoto tinha um
papel decisivo nos propósitos de Deus.
Apesar de todos os prisioneiros estarem livres, nenhum deles escapou. É possível
que todos ficaram perplexos ao redor de Paulo e Silas admirando o poder do Deus
sobre o qual os missionários cantavam.
Quando o carcereiro acordou e viu que todas as portas da prisão estavam abertas,
ele planejou se matar. Na verdade ele sabia que se um único prisioneiro escapasse
sua própria vida seria dada em troca pela vida do fugitivo, sendo assim morto (At
12:19; 27:42). Entretanto, antes que ele se suicidasse, Paulo o avisa que ninguém
havia fugido (At 16:28).
O propósito da prisão de Paulo e Silas e do
terremoto no cárcere
Aqui precisamos fazer algumas considerações, pois é justamente nesse ponto onde
várias interpretações erradas são tomadas.
Algumas pessoas utilizam essa passagem para tentar ensinar que a oração da
madrugada é mais poderosa, tão poderosa que até mesmo um terremoto ocorreu
quando Paulo e Silas oraram à meia-noite.
No entanto esse ensino é completamente estranho, não só a esse texto, mas a toda
Escritura. O terremoto aqui não serviu para mostrar a eficácia da oração feita num
determinado horário da noite. Saiba mais sobre o que a Bíblia diz acerca da oração
da madrugada.
Outras pessoas também usam esse relato sobre Paulo e Silas na prisão para
pregar um tipo de “determinismo”, onde Deus faz qualquer coisa para resolver o
seu problema. Logo, é comum ver cristãos reivindicando um tipo de terremoto
figurado para que seus problemas sejam resolvidos.
Em primeiro lugar, não há qualquer evidência no texto de que Paulo e Silas
tenham orado para que fossem libertos da prisão, muito menos que tenham
solicitado o terremoto que ocorreu. O texto claramente parece indicar que os dois
missionários estavam simplesmente rendendo graças ao Senhor.
É claro que Deus tem um zelo especial pelos seus escolhidos. Através da profecia
do profeta Isaías, somos informados que ainda que uma mãe se esqueça do
próprio filho, Deus jamais se esquece do seu povo (Is 49:15,16). No entanto, isso
não significa ausência de problemas e dificuldades.
Devemos nos lembrar de que o próprio Paulo foi preso outras vezes, sendo que de
sua última prisão em Roma ele não conseguiu sair vivo. Também em nenhuma
dessas outras vezes o terremoto se repetiu.
O que houve ali foi a perfeita execução de um plano do Senhor. O terremoto foi
um instrumento usado por Deus para que seus propósitos soberanos fossem
cumpridos.
Obviamente a libertação de Paulo e Silas estava implícita no plano, mas não era o
ponto principal e exclusivo dele. Se Deus quisesse apenas libertá-los, ele poderia
tê-lo feito como fez com o apóstolo Pedro, enviando um anjo e o libertando
silenciosamente (At 12:7), aliás, isso já havia ocorrido outra vez (At 5:19).
O terremoto não apenas quebrou as correntes que prendiam Paulo e Silas e abalou
os alicerces do cárcere, foi muito mais além do que isto, o terremoto quebrou as
correntes da incredulidade e abalou os alicerces do coração do carcereiro e
também de toda sua família.
Aquele terremoto revelou o poder e a majestade do Senhor, bem como a
soberania de seus propósitos eternos. O grande objetivo do terremoto pode ser
notado nas palavras do carcereiro: “Senhores, o que devo fazer para ser salvo?” (At
16:30).
Os missionários lhe responderam: “Creia no Senhor Jesus” (At 16:31). A salvação
havia alcançado não só o carcereiro, mas toda sua casa (incluindo seus
servos). Paulo e Silas ensinaram àquela família a Palavra do Senhor, e
imediatamente todos foram batizados.
Naquele momento o carcereiro já não era mais o mesmo, ele havia nascido de
novo. Sua atitude já demonstra o caráter de alguém regenerado. Se poucas horas
antes ele havia lançado no cárcere dois homens debilitados, sem ao menos se
importar com as necessidades deles, agora ele estava cuidando das feridas dos
missionários (At 16:32). Somente o Espírito Santo pode promover uma
transformação tão radical.
O carcereiro também conduziu os missionários até sua casa, e ali os alimentou. Para
ele, Paulo e Silas não eram mais prisioneiros, mas agora eram irmãos em Cristo.
O texto bíblico nos informa sobre a grande alegria do carcereiro por não só ele,
mas toda sua família, agora crerem em Deus. A expressão grega desse texto revela
uma confiança permanente, ou seja, a fé daqueles irmãos não era nominal, mas
verdadeira.
Entretanto, Paulo se recusou a ir, e também expôs a injustiça que tinha sido
cometida com dois cidadãos romanos, e exigiu uma retratação pública. A
revelação de que Paulo e Silas tinham cidadania romana perturbou os
magistrados, que foram até a prisão e pediram desculpas aos missionários,
implorando também que eles deixassem a cidade.
Após saírem a prisão, Paulo e Silas foram para a casa de Lídia, onde se reuniram
com os irmãos e, depois de encorajá-los, partiram de Filipos.
Esse episódio também tem algumas similaridades com o naufrágio que Paulo
sofreu quando estava sendo transportado como prisioneiro para Roma. O
propósito do naufrágio não era para libertá-lo, mas para fazer com que o poder de
Deus fosse revelado na Ilha de Malta (At 28).
Quando Paulo escreveu sua Carta aos Filipenses, ele se referiu também aos bispos e
diáconos (Fp 1:1). Isso significa que a Igreja ali havia prosperado, o Evangelho
estava sendo pregado, e o reino de Deus avançando.
Todavia, tudo isto tinha começado com a conversão de uma mulher chamada Lídia,
com a expulsão de um espírito de adivinhação de uma jovem escrava, com uma
prisão violenta, com um terremoto milagroso, e com a conversão do carcereiro e
sua família.
Essa é a história da fundação da igreja de Filipos. Nessa história podemos ver como
nosso Deus é Soberano e seus planos infalíveis. Ele poupou a vida de Paulo e
Silas na ocasião do tumulto, tortura e prisão, porém não os poupou do
sofrimento. Apesar disso, os dois missionários entendiam que Deus estava no
controle de tudo, e ao invés de questionarem o Senhor, eles O adoraram.
Ao contrário do que algumas pessoas pensam, essa passagem não nos ensina a
reivindicar um terremoto divino para que nossos problemas sejam solucionados,
mas nos ensina a adorar ao Senhor em meios às adversidades.
O episódio da prisão de Paulo e Silas nos fornece uma grande lição sobre qual
deve ser o nosso comportamento diante do sofrimento. Como escreveu
o apóstolo Pedro, quando suportamos o sofrimento por estarmos fazendo a
vontade do Deus, Ele nos aprova (1Pe 2:20; 3:14; 4:13-16).
Paulo e Silas sabiam que os seguidores de Cristo são submetidos constantemente
ao sofrimento, e é por isso que são eles que encorajam os crentes na casa de Lídia
após terem saído da prisão, e não o oposto.
A lição aqui é muito clara: em Cristo somos mais que vencedores, mesmo em
meio ao sofrimento. O cristão verdadeiro diante da tristeza está sempre alegre,
mesmo na pobreza está enriquecendo a muitos, mesmo nada tendo possui
tudo. Ele capaz de enfrentar qualquer coisa, pois seus olhos estão fixos em
Jesus (2Co 6:4-10).