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Trata-se de, em princípio, distinguir que espaço e território são distintos.

O primeiro
caracteriza-se por ser realidade material preexistente ao conhecimento. O território é fruto
das produções humanos nele realizadas. Na discussão entre Raffestin e Ratzel, tem-se, por
um lado, a interação entre política e território a partir da entrada de aspectos sócio-
econômicos, locais, regionais e internacionais e, por outro, a centralização do Estado como
organizador territorial. Para Raffestin, não cabe ao Estado concentrar todo poder político
uma vez que tal poder existe em toda forma de organizacão.
Pensar a articulação do Estado com o território é fundamental para delimitar o que é de
competência do primeiro e o que é consequência das relações dos atores sociais no segundo.
Se caberia ao Estado estabelecer fronteiras a partir das demarcações, exercendo assim suas
funções legais de controle e fiscalização; um território pode — e quase invariavelmente —
sofrer influências no estabelecimento do limite. Um limite, cabe sublinhar, é um sistema
sêmico, operado pelas coletividades.
Destaca-se que todas as relações exercidas no território são relações de poder.
Neste sentido, a relação entre Estado e território é que o primeiro regula e delimita o
segundo. Embora naturalmente o território seja fruto das relações simbólicas produzidas
pelas atores nele inseridos. Território pode ser definido, a partir de duas vertentes, binômio
materialismo-idealismo: físico, concreto, com fronteiras, adicionando a relação do povo
com a terra; e binômio espaco-tempo: laços afetivos de uma sociedade com o espaço por ela
ocupado.
Deleuze e Guattari, em Mil Platôs, lançam luz a essa questão quando tomam os
processos de territorizalicao, linhas de fuga e desterritorialização como mecanismos dos
sujeitos frente aos processos de enraizamento e sedimentacao operados pela máquina de
guerra do Estado.
Por seu turno, os processos de territorialização são processos de construção de
identidades coletivas. A terra é nós. Tais processos visam compreender linhas de
pertencimento a partir das mobilizações e afirmações identitárias e acesso a recursos básicos
em movimentos sincrônicos e diacrônicos. As comunidades tradicionais exemplificam tais
pressupostos ao demarcar a passagem de uma unidade afetiva para politica de mobilização.
A luta pela terra torna-se, portanto, a luta pela própria identidade e a partir dos
instrumentos disponibilizados pelo próprio Estado. Dessa forma, a política ganha corpo e
voz — a da terra e do coletivo são indiscerníveis.

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