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ANÁLISE DO DO PROJETO DE LEI

5829/2019

Marco Legal da Geração Distribuída


Elaborado pelo Eng. Eletricista Joao Eliezer C. Dias
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INTRODUÇÃO
O Projeto de Lei 5829(1) que trata da criação de um Marco Regulatório da mini geração e micro geração
distribuída no Brasil requer urgência. Na falta de uma legislação específica, a Agência Nacional de Energia
Elétrica - ANEEL regulou tais atividades por meio da Resolução 482 de 17 de Abril de 2012, instituída quando
ainda praticamente inexistia esse tipo de atividade no Brasil, e depois alterada pela Resolução 687 de 24 de
Novembro de 2015.

Mesmo com o crescimento vertiginoso da mini geração e micro geração distribuída no Brasil, este tipo de
fonte de energia representa menos de 2% da matriz energética(2), mas criou tanto alarde pela possibilidade
de independência do consumidor(cunhou-se até o termo “prosumidor”), que houve a necessidade de uma
Lei que traga segurança jurídica, clareza e previsibilidade ao setor, ou seja, as regras sejam bem definidas
para que investidores e usuários não fiquem à mercê de decisões da ANEEL e do poderoso lobby das
distribuidoras.

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PRINCIPAIS PONTOS

Com base no texto original à Câmara dos Deputados em 19 de abril de 2019 aonde aguarda votação, listamos
os principais pontos do PL5829, alguns positivos e outros negativos, mas fundamentais para aqueles que já
têm sua energia solar fotovoltaica e/ou àqueles que querem investir ou instalar sua geração própria:

1) O primeiro ponto importante é a permanência na regra atual por vinte e cinco anos para aqueles
que já instalaram sua geração própria antes da aprovação da lei, ou seja, a valoração do crédito de
energia de um para um.

2) O segundo é que os interessados em instalar sua energia fotovoltaica e protocolarem a solicitação


de acesso junto à concessionária local, no prazo máximo de doze meses após a publicação da lei,
permanecerão na regra atual pelo prazo de vinte e cinco anos.

3) Em terceiro, quem protocolar a solicitação de acesso após doze meses da publicação da lei vão ter
que pagar o fio B. São eles: Geração junto à carga, empreendimentos com múltiplas unidades
consumidoras, geração compartilhada e autoconsumo remoto até 500kW.

4) Em quarto, um ponto extremamente positivo é a criação do conceito de geração hibrida ou


armazenamento de energia excedente, em que parte da energia não utilizada por ser armazenada e
injetada a posterior, permitindo por exemplo geração em horário de ponta, cujo custo atual é
extremamente elevado.

5) Em quinto, as distribuidoras são obrigadas a aceitar os pedidos de acesso, sem direito de recusa
como ocorre hoje, dando ao acessante um prazo regulamentar de mínimo 30 dias para regularização
de eventuais pendencias(prazos diferentes podem ser acordados entre as partes). Atualmente,
ocorre a reprova de solicitação unilateral, tendo o acessante de iniciar todo o processo do zero. Caso
no meio do caminho ocorra por exemplo alteração de algum formulário pela concessionária, haverá
nova recusa e novamente início do processo do zero, o que prolonga indefinidamente a emissão do
parecer de acesso.

6) Até 500 kW de potência instalada, a central geradora poderá agregar unidades de menor porte nos
limites de potência para micro geração distribuída em tensão secundária, faturado com tarifa do
grupo B, dentro da mesma matrícula de registro de imóvel na mesma área de concessão, ou mini
geração Distribuída quando ligada em tensão primária e optar por faturamento com aplicação da

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tarifa do grupo B, dentro da mesma matrícula de registro de imóvel na mesma área de concessão.
Atualmente, amparadas por resolução da Aneel, as concessionárias têm aceitado faturamento pelo
grupo apenas empreendimentos com limite de 75kW obrigando a contratação de demanda para
projetos superiores.

7) Para os empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras ou de geração compartilhada, em


existindo saldo de créditos acumulado na unidade consumidora onde encontra-se instalada a micro
geração ou mini geração distribuída, o consumidor gerador titular da unidade consumidora pode
solicitar, com antecedência de 30 (trinta) dias prévios ao fim da relação contratual, a distribuição do
saldo existente para outras unidades consumidoras de consumidores que façam parte dos referidos
empreendimentos. Na prática, os créditos excedentes poderão ser comercializados entre os
participantes do mesmo grupo(há interpretações de que estes créditos poderiam ser transferidos a
qualquer unidade consumidora dentro da área da concessionária, abrindo um mercado para sua
comercialização).

8) Um dos pontos mais positivos é o que trata Art. 24. A concessionária poderá contratar junto a micro
geradores e mini geradores distribuídos, através de fontes despacháveis ou não, serviços ancilares
para beneficiar suas redes ou microrredes de distribuição, mediante remuneração destes serviços
conforme regulação da ANEEL. Este artigo, conforme disposto nos parágrafos 1 a 3, libera as
concessionárias de energia para contratação via chamadas públicas, a compra de energia dos mini e
micro geradores, vendando a participação cruzada via subsidiárias neste processo. Um dos objetivos
deste artigo é diminuir a contratação de energia cara e “suja” de usinas termelétricas, por exemplo.
Nosso entendimento é que os créditos podem ser de fato comercializados entre o micro ou mini
gerador e a concessionária local, visto que os medidores são bidirecionais, portanto há quantificação
do kWh gerado. É possível que nestes casos ocorram cobrança de ICMS, PIS/Cofins e demais
encargos do sistema elétrica regulados por legislação especifica.

Nota: Fio B é a componente tarifária que remunera as distribuidoras de energia, representa em média 28%
da tarifa líquida.

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O pagamento do Fio B terá um período de transição de oito anos para a mudança de regime, ou seja, não
será de uma única vez. Ele será aplicado em 5 etapas, conforme a seguir:

1) Durante o 1º ano e o 2º ano após a data de início de cobrança, 20% pagos pela unidade consumidora
e 80% pela CDE (Conta de Desenvolvimento Energético).

2) Durante o 3º ano e o 4º ano após a data de início de cobrança, 40% pagos pela unidade consumidora
e 60% pela CDE.

3) Durante o 5º ano e o 6º ano após a data de início de cobrança, 60% pagos pela unidade consumidora
e 40% pela CDE.

4) Durante o 7º ano e o 8º ano após a data de início de cobrança, 80% pagos pela unidade consumidora
e 20% pela CDE.

5) Finalizando o 8º ano após a data de início de cobrança, as unidades consumidoras passarão a pagar
100% da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição – TUSD Fio B.

Nota: a cobrança do Fio B acima difere do publicado na integra do PL 5829, em 19 de Abril de 2021, em
função de emendas parlamentares apresentadas pelos deputados durante apreciação para votação. O texto
original previa 10 anos para início da cobrança.

Da mesma forma, quem protocolar a solicitação de acesso após doze meses da publicação da lei e que
estejam na categoria de usinas acima de 500 kW, quer enquadradas como autoconsumo remoto ou geração
compartilhada, e em que um único consumidor receba mais de 25% da energia produzida, pagará 100% do
Fio B e 40% do Fio A, que remunera a transmissora de energia(TUST) e pagará também a Tarifa de
Fiscalização do Setor Elétrico – TFSEE e encargos de do Programa de Projetos e Desenvolvimento - P&D.
Essas categorias serão mais impactadas, mas não inviabilizam o projeto. Por outro lado, consumidores que
poderiam “comprar” energia de empreendimentos com finalidade especifica de “vender” energia, poderão
migrar para telhado, criando novas oportunidades de negócios.

Há ainda no bojo da lei, uma grande vantagem para as usinas conectadas em média tensão, ou seja, superior
a 75 KVA. Atualmente essas usinas, mesmo não possuindo carga junto a elas, são obrigadas a pagar a
demanda contratada como se fossem consumidoras de energia. Na nova lei, caso não tenham carga junto a
elas, serão consideradas não mais como consumidoras e sim como geradoras de energia elétrica, e terão

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uma redução entre 50% a 70% no valor do pagamento da demanda contratada, mantendo, assim, a
viabilidade e a atratividade de usinas de mini geração. Este custo atualmente pode chegar a R$ 170.000,00
para um projeto de 5MW impactando diretamente na composição do custo do KWh gerado. Existe ainda a
opção do usuário por conexão em tensão diferente da ofertada pela concessionária, desde que arque com
os custos das obras necessárias à conexão.

Outro ponto importante, é que para evitar especulação e trabalho tanto dos projetistas como das
concessionárias, será exigida pelas mesmas uma caução de 2% sobre o valor do projeto quando se tratar de
usinas acima de 500kW. Havendo desistência da execução no prazo máximo de 90 dias, a caução será
devolvida. Perde a caução quem não informar à concessionária a desistência nesse prazo ou não desenvolver
o projeto.

Outro ponto importante, é que com a nova lei, após 12 meses de sua publicação, os novos acessantes de
energia solar fotovoltaica não precisarão pagar o custo da disponibilidade (taxa mínima) que tem sido muito
questionado atualmente, já que esses novos acessantes já estarão pagando o Fio B. Este custo de
disponibilidade provoca uma cobrança em duplicidade, pois além de pagar pelo acesso, o consumo mínimo
é descontado da geração no momento da compensação.

Um ponto negativo é que vai haver uma redução na potência máxima permitida para implantação das usinas
de mini geração distribuída, passando dos atuais 5MW para 3MW de potência. Alguns estados já vinham
cobrando ICMS sobre a geração para projetos acima de 1MW(caso por exemplo de Minas Gerais), o que
vinha fazendo com que empreendimentos de 5MW fossem divididos em 5 projetos de 1MW.

Como contraponto, mas muito positivo é o que prevê o Programa de Energia Renovável Social, destinado a
investimentos na instalação de sistemas fotovoltaicos na modalidade local ou remota compartilhada aos
consumidores da Subclasse Residencial de Baixa Renda, o que deve favorecer mais de setenta milhões de
consumidores que poderão acessar esse benefício da geração própria. Este programa permitiria a
multiplicação de empreendimentos de até 3MW, abrindo enorme mercado através de parcerias publico-
privada(PPP). Da mesma forma, no seu Art. 21 as instalações de iluminação pública poderão participar do
sistema de compensação de energia elétrica – SCEE atendendo ao disposto nesta lei e demais critérios e
requisitos regulamentares da ANEEL. Assim, prefeituras poderão realizar PPP para micro e mini geração,
reduzindo o valor final da tarifa de iluminação pública.

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CONCLUSÃO

No Brasil, como disse certa vez o ex-ministro Pedro Malan, até o passado é incerto. O PL 5829/2019 tem
mais pontos positivos do que negativos, mas o mais importante é termos uma lei que defina os rumos do
mercado de geração distribuída, independente da fonte de geração. Não ter lei nenhuma é péssimo pois fica
ao sabor do lobby da vez e da vontade do governante de plantão. É importante que nossos deputados
cumpram seu papel constitucional e para o qual foram eleitos, votando projetos importantes como o PL
5829/2019 e que futuramente se façam eventuais ajustes e correções caso necessário. Temos uma enorme
crise hídrica pela frente, que irá impactar nos custos de energia por até uma década (vide as intervenções
da ex-presidente Dilma Roussef, pela qual pagou-se muito caro posteriormente e por muito tempo), e a
geração distribuída terá papel importante neste período, fornecendo energia limpa, perene, renovável e de
fácil implantação.

Não custa lembrar que atendendo às normas técnicas e à legislação estadual e municipal, do ponto de
conexão de energia para dentro das instalações ou edificação, o consumidor pode gerar sua própria energia,
quer seja através de geradores à diesel, biogás, PCHs, sistema fotovoltaico OFF GRID ou até mesmo GRID
ZERO(sem injeção de excendente para a concessionária ou permissionária), geradores eólicos ou através de
reaproveitamento energético. Estes consumidores não são afetados por qualquer item do PL 5829/2019.

A Unergy Engenharia, através do Consorcio Solar Diamante da qual é participante, está apta e capacitada
para prestar assessoria técnica, comercial e financeira na tomada de decisões sobre energia solar, eólica, co-
geração e eficiência energética.

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FONTES
(1) PL 5829 Projeto cobra encargos de distribuição de micro e minigeração de energia elétrica - Notícias
- Portal da Câmara dos Deputados (camara.leg.br)

(2) ABSOLAR:

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