Você está na página 1de 9

Unidade 4 – Funções

Definição. Sejam A e B dois conjuntos. Uma função f de A em B, em sı́mbolos f : A → B, é


uma correspondência que a cada elemento x ∈ A associa um único elemento y ∈ B, denotado
por f (x) e chamado de imagem de x.
O conjunto A é chamado de domı́nio de f e será denotado por A = Dom(f ).
O conjunto B é chamado de contradomı́nio de f .
O conjunto {f (x) ∈ B | x ∈ A} é chamado de imagem de f e será denotado por Im(f ). Ou
seja, a imagem da função f é o conjunto Im(f ) de todas as imagens f (x) dos elementos do
domı́nio. A imagem Im(f ) de f é um subconjunto do contradomı́nio B.
Im(f ) = {f (x) ∈ B | x ∈ A} = {y ∈ B | (∃x ∈ A)(f (x) = y)} ⊆ B.

Se y = f (x) ∈ B é a imagem do elemento x ∈ A, dizemos que x é uma pré-imagem de y.

Exemplo 1.

: ra
 Na situação mostrada ao lado temos:

r  re

1 f :A→B
2 r XXX ri A = Dom(f ) = {1, 2, 3, 4} = domı́nio de f
XXX
3 r XXX z
X ro
:
 B = {a, e, i, o, u} = contradomı́nio de f
X
XX
4 r  z
X ru Im(f ) = {a, o, u} = imagem de f
f
A - B

Observação: 1. Podem sobrar elementos no conjunto B, ou seja, Im(f ) pode ser um subcon-
junto próprio (contido mas diferente) do contradomı́nio. Isso acontece no exemplo acima.
2. Não podem sobrar elementos em A. Se sobrar, não é função.
3. Não pode sair mais de uma flecha de um mesmo elemento de A, a cada elemento de Dom(f )
corresponde um e somente um elemento do contradomı́nio.
4. Mas pode chegar mais de uma flecha em um mesmo elemento de B.

Exemplos: 2. Lembre que o conjunto dos inteiros é o conjunto Z = {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .}.
Para a função f : Z → Z, f (x) = x2 , temos que a imagem de f é o conjunto Im(f ) =
{0, 1, 4, 9, 16, . . .}.
3. Seja f a função que associa os dois últimos bits a cada bitstring (sequência de 0s e 1s) de
comprimento ≥ 2. Temos
A = Dom(f ) = conjunto dos bitstrings de comprimento ≥ 2
B = Im(f ) = {(0, 0), (0, 1), (1, 0), (1, 1)}

Definição. Se f : A → B e S ⊆ A, definimos a imagem de S por f como sendo o conjunto


f (S) = {f (x) | x ∈ S} = {y ∈ B | (∃x ∈ S)(f (x) = y)}.
Note que f (S) é sempre um subconjunto de B e que f (A) = Im(f ).

No exemplo 1 acima, f ({1, 2, 4}) = {a, o}. No exemplo 2, f ({−2, 1, 2}) = {1, 4}.

Definição. Uma função f : A → B é injetora se (∀x ∈ A)(∀y ∈ A)(x 6= y −→ f (x) 6= f (y)).


Em termos de diagrama como no exemplo 1 acima, f é injetora quando elementos diferentes
possuem imagens diferentes, ou seja, não podem chegar duas flechas diferentes em um mesmo
elemento da imagem de f .
Vimos que qualquer proposição da forma p → q é equivalente a sua contrapositiva ¬q → ¬p.
Portanto a definição de função injetora pode ser reformulada assim

f é injetora se e somente se (∀x ∈ A)(∀y ∈ A) f (x) = f (y) −→ x = y .

Em geral essa segunda forma da definição é mais conveniente pois trabalhar com igualdade
costuma ser mais simples do que trabalhar com desigualdade.

A função f do exemplo 1 não é injetora pois 2 6= 4 e f (2) = f (4). Note que para mostrar que
uma função não é injetora basta apresentar um contra-exemplo (exemplo de que a implicação
da definição não é válida).
2x + 1
Considere a função g : R − {2} → R, g(x) = . A função g é injetora, pois
x−2
2x + 1 2y + 1
g(x) = g(y) =⇒ = =⇒ (2x + 1)(y − 2) = (2y + 1)(x − 2) =⇒
x−2 y−2
=⇒ 2xy − 4x + y − 2 = 2yx − 4y + x − 2 =⇒ −4x + y = −4y + x =⇒ 5y = 5x =⇒ x = y.
Ou seja, mostramos que g(x) = g(y) =⇒ x = y.

Definição. Se A ⊆ R e B ⊆ R, dizemos que f : A → B é :



a) crescente quando (∀x ∈ A)(∀y ∈ A) x ≤ y −→ f (x) ≤ f (y) .

b) estritamente crescente quando (∀x ∈ A)(∀y ∈ A) x < y −→ f (x) < f (y) .

c) decrescente quando (∀x ∈ A)(∀y ∈ A) x ≤ y −→ f (x) ≥ f (y) .

d) estritamente decrescente quando (∀x ∈ A)(∀y ∈ A) x < y −→ f (x) > f (y) .
e) monótona se f for crescente ou decrescente.
Exemplos: 1. f : R → R, f (x) = x2 não é monótona. Para justificar isso, basta ver que, por
exemplo, −2 ≤ −1 e f (−2) > f (−1) implica que f não é crescente. Do mesmo modo, 1 < 2 e
f (1) < f (2) implica que f não é decrescente.
2. f : [0, ∞) → R, f (x) = x2 é monótona estritamente crescente. Para justificar isso, suponha-
mos que 0 < x < y, multiplicando essa desigualdade primeiro por x e depois por y (não inverte
2 2 2 2
o sentido da desigualdade porque são positivos) obtemos
 x < xy e xy < y . Logo x < y , ou 
seja, f (x) < f (y). Acabamos de ver que ∀x ∈ [0, ∞) ∀y ∈ [0, ∞) x < y =⇒ f (x) < f (y) .
Logo f é crescente.
3. f : (−∞, 0] → R, f (x) = x2 é monótona estritamente decrescente.
4. As funções constantes são crescentes e decrescentes ao mesmo tempo e são as únicas com
essa propriedade.

2
Observação. Toda função estritamente crescente ou estritamente decrescente é injetora.

Definição. Uma função f : A → B é sobrejetora se Im(f ) = B, ou seja, se



(∀y ∈ B)(∃x ∈ A) f (x) = y .
Intuitivamente, uma função f : A → B é sobrejetora se não sobra nenhum elemento em B,
todo elemento de B é imagem de algum elemento do domı́nio.
Definição. Uma função f : A → B é bijetora se for injetora e sobrejetora.
Observação. Uma função f : A → B é bijetora quando

(∀y ∈ B)(∃!x ∈ A) f (x) = y .
De fato, dado y ∈ B, por f ser sobrejetora, deve existir um x ∈ A tal que f (x) = y. Mas sendo
f também injetora, esse x tem que ser único, caso contrário terı́amos dois elementos diferentes
com a mesma imagem.
Exemplos 1. f : [0, ∞) → [0, ∞), f (x) = x2 é bijetora: para qualquer y ∈ [0, ∞) existe um

único x = y ∈ [0, ∞) tal que f (x) = y.
2. f : N → N, f (n) = n + 1 é injetora mas não é sobrejetora. (lembrando, N = {1, 2, 3, . . .}.)
f é injetora: f (n) = f (m) =⇒ n + 1 = m + 1 =⇒ n = m.
f não é sobrejetora, pois (∀n ∈ N)(f (n) = n + 1 ≥ 2). Logo @n ∈ N tal que f (n) = 1.
3. f : Z → Z, f (n) = n + 1 é bijetora: (∀m ∈ Z)(∃!n = m − 1 ∈ Z)(f (n) = m).
4. Se A e B são conjuntos finitos, então existe f : A → B bijetora se e somente se |A| = |B|.
5. Se A é um conjunto, a função identidade em A é a função IA : A → A, IA (x) = x. A função
identidade em qualquer conjunto é bijetora.
Definição. Dada f : A → B uma função bijetora, a função inversa de f , denotada por f −1 , é
a função f −1 : B → A que a cada y ∈ B associa o único x ∈ A tal que f (x) = y.
Se f leva x em y, então f −1 leva y em x. Em sı́mbolos, se f : x 7−→ y, então f −1 : y 7−→ x.
Para falar em f −1 , f precisa ser bijetora. Se f não for sobrejetora, vai existir y ∈ B para
o qual não existe x ∈ A com f (x) = y. Não podemos então a esse y associar um elemento
x = f −1 (y). Se f não for injetora, então vão existir dois elementos x1 6= x2 em A para os quais
f (x1 ) = f (x2 ). Chamando de y0 esse valor comum, y0 = f (x1 ) = f (x2 ), A esse y estariam
associados dois elemntos x1 6= x2 e assim f −1 não seria função.
Exemplo 1. Seja f : [0, 2] → [0, 4], f (x) = x2 .

A função f é bijetora: (∀y ∈ [0, 2])(∃!x = y ∈ [0, 2])(f (x) = y).
Então existe a função inversa f −1 : [0, 4] → [0, 2]. Dado y ∈ [0, 4], f −1 (y) é o único x ∈ [0, 2]

tal que x2 = y, ou seja f −1 (y) = y. Em√lugar de y, poderı́amos usar qualquer letra, inclusive
x, e assim f −1 : [0, 4] → [0, 2], f −1 (x) = x.
2. Vimos que a função f : Z → Z, f (n) = n + 1, do exemplo 3 acima, é bijetora e que
(∀m ∈ Z)(∃!n = m − 1 ∈ Z)(f (n) = m). Assim f −1 : Z → Z, f −1 (m) é o único n ∈ Z tal que
f (n) = m, isto é, f −1 (m) = m − 1.

Composição de funções
3
Definição. Dadas duas funções f : A → B e g : B → C, a função composta de f com g é a
função g ◦ f (escreve-se na ordem inversa) definida por g ◦ f : A → C, (g ◦ f )(x) = g(f (x)).
Em outras palavras, a função composta g ◦ f é a função que para x ∈ A, primeiro leva em f (x)
e em seguida leva f (x) em g(f (x)).

'$
A '$
B '$Na
C
figura ao lado temos
ar f - br
g - cr
a ∈ A, b ∈ B, c ∈ C
&% &% &%
f (a) = b, g(b) = c e (g ◦f )(a) = c.
g◦f

Observação. Para podermos fazer a composta g ◦ f é preciso que o contradomı́nio de f seja


igual ao domı́nio de g.

Exemplo 1. Consideremos as funções f : R → R, f (x) = x + 1 e g : R → R, g(x) = x2 . Neste


caso fazem sentido as duas compostas g ◦ f e f ◦ g.
(g ◦ f )(x) = g(f (x)) = g(x + 1) = (x + 1)2 = x2 + 2x + 1
e
(f ◦ g)(x) = f (g(x)) = f (x2 ) = x2 + 1
de modo que g ◦ f 6= f ◦ g. A operação de composição de funções não tem a propriedade
comutativa.

Exemplo 2. Suponhamos que f : A → B seja uma função bijetora e seja f −1 : B → A a sua


inversa. Fazem sentido as duas compostas f −1 ◦ f e f ◦ f −1 . Seus domı́nios e contradomı́nios
satisfazem f −1 ◦ f : A → A e f ◦ f −1 : B → B.
Para x ∈ A, seja y = f (x). Então, pela definição de função inversa, f −1 (y) = x. Segue que
f (f (x)) = f −1 (y) = x e, portanto,
−1

(∀x ∈ A) (f −1 ◦ f )(x) = x ,
 

isto é,
f −1 ◦ f = IA
é a identidade em A.
Analogamente, dado y ∈ B, como f é bijetora, (∃!x ∈ A)(f (x) = y). Novamente pela
definição de função inversa, x = f −1 (y), e temos que y = f (x) = f (f −1 (y)) e, portanto,
h i
(∀y ∈ B) (f ◦ f −1 )(y) = y ,

isto é,
f ◦ f −1 = IB
é a identidade em B

Gráfico de uma função

Definição. Seja f : A → B uma função. O gráfico de f é o subconjunto G(f ) de A × B


definido por
G(f ) = {(x, f (x)) | x ∈ A} = {(x, y) ∈ A × B | f (x) = y}.

4
Exemplo. Sejam A = {−2, −1, 0, 1, 2}, B = N0 = N ∪ {0} e f : A → B, f (x) = x2 . Então

G(f ) = {(−2, 4), (−1, 1), (0, 0), (1, 1), (2, 4)}.

Observação. No caso em que A ⊆ R e B ⊆ R, temos G(f ) ⊆ R2 . Portanto G(f ) pode ser


identificado com um subconjunto do plano, frequentemente uma curva.

6
Nesse caso, f é injetora se e somente se qualquer reta
horizontal interseciona G(f ) no máximo em um ponto.

q q Na figura, se uma reta horizontal intersecionasse o


gráfico em dois ou mais pontos, existiriam x1 ∈ A e
x2 ∈ A com x1 6= x2 e tais que f (x1 ) = f (x2 ). Então f
q q - não seria injetora.
x1 x2

Exemplo. A função maior inteiro, também cha-


mada de função piso é a função f : R → R que a 6
cada x ∈ R associa f (x) = bxc = o maior inteiro 3 r
n tal que n ≤ x, ou seja, a parte inteira de x. Por
2 r b
exemplo,
  1 r b
5 -1
= 2, b2c = 2, b−1,5c = −2. b -
2 1 2 3
r b -1
O gráfico da função f (x) = bxc é mostrado ao
b
lado.

Exemplo. A função menor inteiro, também


conhecida como função teto, é a função
6
g := R → R
3 b r
que a cada x ∈ R associa b r
2
g(x) = dxe = menor inteiro n tal que n ≥ x. 1b r
-1b r -
Por exemplo 1 2 3
b r -1
d2,5e = 3, d−1,5e = −1. r

O gráfico da função g(x) = dxe é mostrado


ao lado.

Propriedades. Para x ∈ R e ∀n ∈ Z temos


1) bxc = n ⇐⇒ n ≤ x < n + 1. 4) dx + ne = dxe + n.
2) dxe = n ⇐⇒ n − 1 < x ≤ n. 5) b−xc = −dxe.
3) bx + nc = bxc + n. 6) d−xe = −bxc.

5
Demonstração: Para dar uma ideia de como se pode provar esse tipo de propriedade, vamos
demonstrar apenas umas poucas.
Prova de 3): Seja m = bxc. Então, pela propriedade 1), m ≤ x < m + 1. Somando n a cada
termo da desigualdade, obtemos m + n ≤ x + n < m + n + 1.
Segue, novamente de 1), que bx + nc = m + n. Logo bx + nc = bxc + n.
Prova de 5): Seja m = dxe. Então, por 2), m − 1 < x ≤ m. Multiplicando por −1, segue que
−m + 1 > x ≥ −m. Por 1), segue que b−xc = −m. Logo b−xc = −dxe. 

Exercı́cios resolvidos
1. Verifique se a função f : N → N, f (x) = 2n − 1 é injetora ou sobrejetora.
Solução: N = {1, 2, 3, . . .}. f é injetora. Justificativa:
Suponhamos que f (n) = f (m). Então 2n − 1 = 2m − 1. Somando 1, segue que 2n = 2m.
Então n = m.
Logo f (n) = f (m) =⇒ m = n e, portanto, f é injetora.
f não é sobrejetora. Para justificar isso basta mostrar que (∃n ∈ N)(∀m ∈ N)(f (m) 6= n).
Para justificar que existe n, temos que dar um exemplo de n com essa propriedade. Seja
n = 2.
Para ∀m ∈ N, temos f (m) = 2m − 1 6= 2, pois 2m − 1 = 2 =⇒ 2m = 3 =⇒ 2 | 3 (2 divide
3), o que é um absurdo, pois 3 é primo (um número é primo quando só é divisı́vel por 1
e por ele próprio).

2. Verifique se a função f : R2 → R, f (x, y) = x + 2y é injetora ou sobrejetora.


Solução: f não é injetora. Para mostrar isso precisamos mostrar que é falsa a proposição
∀(x, y) ∈ R, ∀(u, v) ∈ R2 [f (x, y) = f (u, v) −→ (x, y) = (u, v)]. Para isso precisamos dar
um exemplo de dois pares (x, y) ∈ R2 e (u, v) ∈ R2 tais que (x, y) 6= (u, v) e f (x, y) =
f (u, v). Exemplo: (0, 1) 6= (2, 0) e f (0, 1) = 2 = f (2, 0).
f é sobrejetora. Precisamos mostrar que (∀z ∈ R)(∃(x, y) ∈ R2 )( f (x, y) = z). Dado
z ∈ R, sejam x = z e y = 0. Então f (x, y) = f (z, 0) = z + 2 · 0 = z. Logo f é sobrejetora.

3. Seja f : Z × Z → Z, f (n, m) = 21n + 25m. Mostrar que f é sobrejetora.


Primeiro vamos mostrar que (∃(a, b) ∈ Z2 )(f (a, b) = 1), ou seja,

(∃(a, b) ∈ Z2 )(21a + 25b = 1).

Vamos utilizar o algoritmo de Euclides para mostrar que MDC(21, 25) = 1 e escrever 1
como combinação linear de 21 e 25.
25 = 1 · 21 + 4 =⇒ 4 = 25 − 21
21 = 5 · 4 + 1 =⇒ 1 = 21 − 5 · 4
Logo 1 = 21 − 5 · (25 − 21) = 6 · 21 + (−5) · 25.
Segue que f (6, −5) = 1.
Em seguida, notamos que, para um k ∈ Z qualquer, f satisfaz f (kn, km) = 21kn+25km =
k(21n + 25m) = k · f (n, m), ∀(n, m) ∈ Z × Z. Portanto, dado um k ∈ Z qualquer,

f (6k, −5k) = kf (6, −5) = k · 1 = k.

6
Logo, para qualquer k ∈ Z, existe (n, m) = (6k, −5k) ∈ Z2 tal que f (n, m) = k. Logo f
é sobrejetora.

4. Sejam A um conjunto finito e f : A → A uma função. Mostre que f é sobrejetora ←→


f é injetora. (Ou seja, se f tiver uma das propriedades injetora ou sobrejetora, então
também tem a outra propriedade.)
Solução: Este exercı́cio é resolvido a partir da seguinte observação básica: Se g : A → B
e A é finito, então |g(A)| ≤ |A|. Além disso, g é injetora se e somente se |g(A)| = |A|.
Suponhamos que f : A → A seja injetora. Segue que |f (A)| = |A|. Portanto f (A) =
Im(f ) é um subconjunto de A que tem o mesmo número de elementos de A. Segue que
Im(f ) = A, ou seja, f é sobrejetora.
Suponhamos que f seja sobrejetora. Então Im(f ) = A. Portanto |Im(f )| = |A|. Segue
que |Dom(f )| = |Im(f )|. Logo f é injetora.

Imagens inversas
Definição. Dada uma função f : A → B e um subconjunto S ⊆ B, definimos a imagem
inversa de S por f como sendo o conjunto

f −1 (S) = {x ∈ A | f (x) ∈ S}.

Cuidado: Não confunda com função inversa. Se f não for bijetora, nem existe a função inversa
f −1 , mas para qualquer S ⊆ B existe a imagem inversa f −1 (S).
Exemplo. Voltando ao primeiro exemplo desta seção,
f :A→B
: ra
 A = Dom(A) = {1, 2, 3, 4} = domı́nio de f

r  re

1 B = {a, e, i, o, u} = contradomı́nio de f
2 r XXX ri Im(f ) = {a, o, u} = imagem de f
XXX
3 r XXX X
z
:
 ro f não é injetora nem sobrejetora. Não existe f −1 , mas
X
XX
4r  z
X ru podemos falar em imagem inversa de um subconjunto
qualquer de B.
f
A - B Seja S = {e, i, o}. Então
f −1 (S) = {x ∈ A | f (x) ∈ S} = {2, 4}.

Teorema. Sejam f : A → B, T1 , T2 ⊆ A e S1 , S2 ⊆ B. Então


(i) f (T1 ∪ T2 ) = f (T1 ) ∪ f (T2 ).

(ii) f (T1 ∩ T2 ) ⊆ f (T1 ) ∩ f (T2 ). Se f for injetora, vale a igualdade.

(iii) f −1 (S1 ∪ S2 ) = f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ).

(iv) f −1 (S1 ∩ S2 ) = f −1 (S1 ) ∩ f −1 (S2 ).

7
Demonstração: Sejam T1 , T2 ⊆ A.
(i) Seja y ∈ f (T1 ∪ T2 ). Segue que (∃x ∈ T1 ∪ T2 )(y = f (x)). Como x ∈ T1 ∪ T2 , segue que
x ∈ T1 ou x ∈ T2 . Então temos dois casos a considerar.
Vamos considerar o caso em que x ∈ T1 . Neste caso, pela definição de imagem de um
conjunto, y = f (x) ∈ f (T1 ). Mas f (T1 ) ⊆ f (T1 ) ∪ f (T2 ). Então, neste caso, y ∈ f (T1 ) ∪ f (T2 ).
O caso em que x ∈ T2 é análogo. Neste caso também temos que y ∈ f (T1 ) ∪ f (T2 ).
Logo f (T1 ∪ T2 ) ⊆ f (T1 ) ∪ f (T2 ).
Seja, agora, y ∈ f (T1 ) ∪ f (T2 ). Então y ∈ f (T1 ) ou y ∈ f (T2 ). Novamente temos dois casos
a considerar.
No caso em que y ∈ f (T1 ), temos que (∃x ∈ T1 )(y = f (x)). Como T1 ⊆ T1 ∪ T2 , segue que
(∃x ∈ T1 ∪ T2 )(y = f (x)). Então y ∈ f (T1 ∪ T2 ).
O caso em que y ∈ f (T2 ) é análogo e, neste caso também, y ∈ f (T1 ∪ T2 ).
Logo f (T1 ) ∪ f (T2 ) ⊆ f (T1 ∪ T2 ).
Das duas inclusões segue que f (T1 ∪ T2 ) = f (T1 ) ∪ f (T2 ).
(ii) Seja y ∈ f (T1 ∩ T2 ). Então (∃x ∈ T1 ∩ T2 )(y = f (x)). Como x ∈ T1 ∩ T2 , segue que x ∈ T1
e x ∈ T2 . Como x ∈ T1 , então y = f (x) ∈ f (T1 ). Pela mesma razão, x ∈ T2 implica que
y ∈ f (T2 ). Segue que y ∈ f (T1 ) e y ∈ f (T2 ). Então y ∈ f (T1 ) ∩ f (T2 ).
Logo f (T1 ∩ T2 ) ⊆ f (T1 ) ∩ f (T2 ).
Suponhamos agora que f seja injetora e vamos mostrar que vale a inclusão inversa.
Seja y ∈ f (T1 ) ∩ f (T2 ). Então y ∈ f (T1 ) e y ∈ f (T2 ). Temos
y ∈ f (T1 ) =⇒ (∃x1 ∈ T1 )(y = f (x1 ))
Analogamente
y ∈ f (T2 ) =⇒ (∃x2 ∈ T2 )(y = f (x2 )).
Segue que f (x1 ) = f (x2 ). Como estamos supondo f injetora, segue que x1 = x2 . Chamamos
de x o valor comum x = x1 = x2 . Mas x1 ∈ T1 , logo x = x1 ∈ T1 . Da mesma forma, x2 ∈ T2
implica que x = x2 ∈ T2 . Logo x ∈ T1 ∩ T2 e, portanto, y ∈ f (T1 ∩ T2 ).
Portanto, se f for injetora, então f (T1 ) ∩ f (T2 ) ⊆ f (T1 ∩ T2 ) e, em consequência,
f (T1 ) ∩ f (T2 ) = f (T1 ∩ T2 ).
Sejam agora S1 , S2 ⊆ B.
(iii) Seja x ∈ f −1 (S1 ∪ S2 ). Então, pela definição de imagem inversa, f (x) ∈ S1 ∪ S2 . Segue
que f (x) ∈ S1 ou f (x) ∈ S2 . Temos dois casos a considerar.
Caso 1: Se f (x) ∈ S1 . Neste caso, pela definição de imagem inversa, x ∈ f −1 (S1 ). Mas
f −1 (S1 ) ⊆ f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ). Portanto, neste caso, x ∈ f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ).
Caso 2: Se f (x) ∈ S2 . Neste caso, pelo mesmo argumento do caso anterior, também
x ∈ f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ). Portanto, em qualquer um dos casos, x ∈ f −1 (S1 ∪ S2 ) −→ x ∈
f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ).
Logo f −1 (S1 ∪ S2 ) ⊆ f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ).

8
Vamos mostrar a inclusão contrária. Seja x ∈ f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ). Então x ∈ f −1 (S1 ) ou
x ∈ f −1 (S2 ). Temos dois casos a considerar. Caso 1: Se x ∈ f −1 (S1 ). Neste caso f (x) ∈ S1 .
Como S1 ⊆ S1 ∪ S2 , segue que f (x) ∈ S1 ∪ S2 . Então x ∈ f −1 (S1 ∪ S2 ).
Caso 2: Se x ∈ f −1 (S2 ). Neste caso, pelo mesmo argumento do caso anterior,
x ∈ f −1 (S1 ∪ S2 ).
Em qualquer um dos casos, temos que x ∈ f −1 (S1 ∪ S2 ).
Logo f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ) ⊆ f −1 (S1 ∪ S2 ).
Das duas inclusões segue que f −1 (S1 ∪ S2 ) = f −1 (S1 ) ∪ f −1 (S2 ).
(iv) Seja x ∈ f −1 (S1 ∩ S2 ). Então f (x) ∈ S1 ∩ S2 . Segue que f (x) ∈ S1 e f (x) ∈ S2 . Então
x ∈ f −1 (S1 ) e x ∈ f −1 (S2 ). Então x ∈ f −1 (S1 ) ∩ f −1 (S2 ).
Logo f −1 (S1 ∩ S2 ) ⊆ f −1 (S1 ) ∩ f −1 (S2 ).
Seja x ∈ f −1 (S1 ) ∩ f −1 (S2 ). Então x ∈ f −1 (S1 ) e x ∈ f −1 (S2 ). Segue que f (x) ∈ S1 e
f (x) ∈ S2 . Portanto f (x) ∈ S1 ∩ S2 . Então x ∈ f −1 (S1 ∩ S2 ).
Logo f −1 (S1 ) ∩ f −1 (S2 ) ⊆ f −1 (S1 ∩ S2 ).
Das duas inclusões, segue a igualdade f −1 (S1 ∩ S2 ) = f −1 (S1 ) ∩ f −1 (S2 ). 

Exemplo. Vamos mostrar com um exemplo que, se f não for injetora, pode não valer
igualdade na inclusão do item (ii).

: ra

f :A→B

 A = Dom(A) = {1, 2, 3, 4} = domı́nio de f
1 r re


2 r XXX ri B = {a, e, i, o, u} = contradomı́nio de f


XXX
3 r XXX zX ro
:
 f não é injetora.
X
XX
4 r  z ru
X Sejam T1 = {2, 3} e T2 = {3, 4}. Então

f f (T1 ) = f (T2 ) = {o, u}.


A - B Logo f (T1 ) ∩ f (T2 ) = {o, u}.
Mas T1 ∩ T2 = {3}. Logo f (T1 ∩ T2 ) = f ({3}) = {u}.
Portanto, neste exemplo temos f (T1 ∩ T2 ) ( f (T1 ) ∩ f (T2 ), onde o sı́mbolo ( significa “contido
e diferente”.

Você também pode gostar