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Apresentação do caso
2. Relevância do voto vencido para o Direito Penal
3. Relevância da decisão para o Direito Penal
4. Constrangimento ilegal
4.1. Exceção médica
5. Ponderação dos Princípios Constitucionais
5.1. Da liberdade de recusar tratamento médico
5.2. Sobreposição da vida sobre a liberdade religiosa
6. Conclusão
1. Apresentação do caso
A decisão tomada como base para esse trabalho teve por objeto o recurso de
habeas corpus Nº 7785 – São Paulo, julgado pelo STJ, impetrado em benefício de José
Augusto Faleiros Diniz, médico adepto da religião Testemunhas de Jeová, denunciado
como incurso nas penas do art. 121, caput, do Código Penal. O argumento levantado em
favor do trancamento da ação penal é no sentido de que o réu estaria sofrendo indevido
constrangimento por parte do poder público.
Apesar de ter votado com o relator, o Exmº Sr. Ministro Vicente Leal, por
acreditar que a complexidade do tema exigia maior análise dos autos e do assunto, pediu
vista de seu voto, não se limitando, nele, a considerações meramente técnicas, mas
reflexões condizentes com a dificuldade do tema e as ponderações a ele inerentes. Logo
ele pode ser considerado como voto vencido.
4. Constrangimento Ilegal
O crime de constrangimento ilegal (art. 146. do CP) é comum (o sujeito passivo
pode ser qualquer pessoa física) e insere-se no rol dos crimes contra a liberdade
individual (capitulo VI) e especificamente nos crimes contra a liberdade pessoal (sessão
I), porque o bem jurídico tutelado é justamente a liberdade individual – física ou
psíquica – de autodeterminação da vontade. Cuida-se da livre formação da vontade
(liberdade psíquica) e da liberdade de movimento (liberdade física). Nas palavras de
Luiz Regis Prado, o constrangimento ilegal “violenta a vontade alheia e submete o coato
ao querer do coator”.
Para que haja constrangimento ilegal o ato deve estar revisto de ilegitimidade,
absoluta ou relativa. Há ilegitimidade absoluta quando o sujeito ativo não tem nenhuma
faculdade de impor à vítima ação ou omissão. A ilegitimidade relativa se configura
quando embora facultado ao agente exigir determinada conduta, não tem o direito de
fazê-lo pelos meios executórios previstos no tipo penal.
Esses meios executórios são a violência, a grave ameaça ou qualquer meio que
reduza a capacidade de resistência do sujeito passivo. A violência empregada pode ser
imediata ou mediata. Será imediata quando se der diretamente no sujeito passivo, e
mediata quando for contra terceiro ou coisa a que a vítima esteja intimamente vinculada
(a cadeira de roda do paraplégico). O meio que reduz a capacidade de resistência do
sujeito passivo pode ser exemplificado com a ingestão de drogas sem o consentimento
da vítima.