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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

DISCIPLINA: LITERATURA PORTUGUESA


ANDREA BARBOSA DOS SANTOS

ATIVIDADE 01 – QUESTÕES PROPOSTAS

01 – Com base em seu conhecimento sobre as cantigas do trovadorismo medieval e sobre os


sonetos clássicos camonianos, leia atentamente os dois textos poéticos abaixo e, em seguida,
produza um texto comparando-os de modo que se compreenda: os sentidos dos textos e a relação
com o momento literário e com o contexto em que foram produzidos.

TEXTO 01 Ah, minha Dinamene assi deixaste


A dona que eu am’e tenho por senhor Quem não deixara nunca de querer-te!
Amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for, Ah, Ninfa minha, já não posso ver-te,
se non dade-me-a morte. Tão asinha esta vida desprezaste!

A que tenh’eu por lume destes olhos meus Como já para sempre te apartaste
e por que choram sempre amostrade-me-a Deus De quem tão longe estava de perder-te?
se non dade-me-a morte. Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?
Essa que Vós fizestes melhor parecer
de quantas sei, ai Deus, fazede-me-a ver, Nem falar-te somente a dura Morte
se non dade-me-a morte Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!
Ai Deus, que me-a fizestes mais ca mim amar,
mostrade-me-a u possa com ela falar, Ó mar! Ó céu! Ó minha escura sorte!
se non dade-me-a morte. Qual pena sentirei, que valha tanto,
(Bernal de Bonaval.) Que ainda tenho por pouco o viver triste?

(Luís Vaz de Camões)

TEXTO 02

O trovadorismo foi o primeiro movimento literário europeu (séculos XI a XIV) que se


caracterizou pela união da música e da poesia com a produção de cantigas líricas (com foco em
sentimentos e emoções) e satíricas (com críticas diretas ou indiretas). Em geral, eram músicas
cantadas em coro e, por isso, recebem o nome de "cantigas". No trovadorismo, grande parte dos
textos eram produzidos para serem cantados e acompanhados de instrumentos musicais (viola,
flauta e alaúde). Isso porque, na Idade Média, a maior parte pessoas não sabiam ler e escrever.
Sendo assim, as poesias cantadas (cantigas) eram memorizadas e recitadas para os nobres que
viviam na corte e também para pessoas comuns, por exemplo, nos mercados medievais. O
trovadorismo teve origem no continente europeu durante a Idade Média, um longo período da
história que esteve marcado por uma sociedade religiosa. Nele, a Igreja Católica dominava
inteiramente a Europa. Nesse contexto, o teocentrismo (Deus no centro do mundo) prevalecia,
cujo homem ocupava um lugar secundário e estava à mercê dos valores cristãos.

Dessa maneira, a igreja medieval era a instituição social mais importante e a maior
representante da fé cristã. Ela que ditava os valores, influenciando diretamente no comportamento
e no pensamento do homem. Assim, somente as pessoas da Igreja sabiam ler e tinham acesso à
educação. Analizando os textos pode-se perceber no texto 01 a presença de um forte lirismo. Esse
é representado pela "coisa d'amor" (o sofrimento amoroso); e "coita", que em galego-português,
significa "dor, aflição, desgosto". Para os trovadores, esse sentimento é pior que a morte, e o amor
é a única razão de viver, fazendo assim uma mescla do idealismo amoroso de origem platônica e a
busca pela realização e uma concretização deste. O amor é um dos temas centrais do
trovadorismo. É comum o tema da coita (coyta), palavra que designa a dor do amor, do trovador
apaixonado que sente no corpo a não realização amorosa. Nesse contexto, surge o "amor cortês",
baseado num amor impossível, onde os homens sofrem de amor, pois desejavam mulheres da
corte que geralmente eram casadas com nobres. Podemos perceber na primeira estrofe do poema:
“A dona que eu am’e tenho por senhor, Amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for, se non dade-
me-a morte.” Nesse contexto, surge o "amor cortês", baseado num amor impossível, onde os
homens sofrem de amor, pois desejavam mulheres da corte que geralmente eram casadas com
nobres.

Já nos sonetos classicos canonianos sua produção lírica gira em torno de uma temática
constante no cotidiano das pessoas, o que ainda é observado nos nossos dias. Camões vivia em
uma época em que a racionalidade era extremamente valorizada, em oposição à fé religiosa, que
marcara o período histórico anterior, ou seja, a Idade Média. Portanto, apontar o desconcerto (o
desequilíbrio) da realidade era uma forma de tirar dela o véu das ilusões. Assim, a constatação de
que tudo na vida é transitório eliminava a importância das coisas mundanas. A poesia tradicional,o
desconcerto do mundo,o neoplatonismo e o amor. A realidade desse mundo é incomensurável com
os ideais cavaleirescos ou letrados, com a ética religiosa medieval, com a razão classificatória
escolástica, com o estilo gótico literário. A sua expressão e ainda a sua relação dialética com o
espírito exigem um esforço inovador para romper o verbalismo que predomina na maior parte das
composições em redondilhas. No texto 02 percebe-se o tema da saudade da amada morta ganha
contornos mais subjetivos, próximos do romantismo, ou do barroco, pelo tom exaltado,
exclamativo,
sentimental, e pela atmosfera soturna que envolve os sentimentos do poeta.

02 – A farsa de Inês Pereira é uma das peças mais conhecidas do teatro de Gil Vicente.
Considerando a leitura integral da obra, produza um texto em que estejam presentes: o assunto da
obra, os aspectos comuns da obra vicentina, a presença do humanismo como transição do
teocentrismo medieval para o antropocentrismo renascentista e a relação com o contexto da época.

A Farsa de Inês Pereira, um dos mais conhecidos autos de Gil Vicente, teatrólogo do
Humanismo português, a obra é uma comédia de costumes, e que relata os comportamentos
amorais e degradantes da sociedade na época, e conta a história de Inês Pereira, uma jovem
solteira e bonita, que é obrigada a passar o dia em suas tarefas domésticas, o que a faz se queixar
da vida que tem e enxergar o casamento como uma oportunidade de fugir daquela vida.

Com a ironia característica das farsas medievais, o auto apresenta um desfecho


surpreendente, sugerindo as transformações que ocorriam à época. As personagens femininas do
texto são marcantes – não por acaso, uma delas dá título à peça - e apresentam diferenças entre si,
sendo expressivo o fato de cada uma refletir um aspecto da sociedade de então. Por meio dos
diferentes discursos enunciados por elas, o texto desvela a ideologia de cada uma, num
entrelaçamento de falas, provérbios e negações. Acreditando que a atitude da protagonista –
expressa, inclusive, a partir de seu discurso – simboliza os valores de um mundo em transição,
propiciando uma reflexão acerca das mentalidades medieval e pré-renascentista, nosso estudo
propõe uma análise do auto em questão à luz dessa transição, em seus aspectos histórico, social e
lingüístico, no olhar desse escritor situado entre dois mundos, sobretudo no que se refere ao papel
da mulher.

Originalmente concebido como o desenvolvimento dramático do provérbio “mais quero


asno que me carregue que cavalo que me derrube”, a Farsa de Inês Pereira constitui-se no primeiro
provérbio glosado em teatro. Trata-se de uma sátira com intenção moralizadora, apresentando
traços de uma comédia de caráter e de costumes com tipos bem definidos. Além de explorar a
dicotomia ser / parecer, o texto reflete sobre o momento histórico, na medida em que mostra a
decadência da nobreza – um cavaleiro sem posses – e a ascensão de uma povo pré-burguês, na
figura do parvo Pero Marques. Segundo classificação proposta por Fidelino de Figueiredo, o auto
estrutura-se a partir de sete quadros que se sucedem, organizados da seguinte forma: apresentação
da vida de Inês, ainda solteira, com a mãe; conselhos de Lianor Vaz sobre o casamento;
apresentação de Pero Marques; entrada do escudeiro; as desilusões do casamento; a viuvez de Inês
Pereira e a vida de casada com Pero Marques.

A Farsa de Inês Pereira apresenta a condição da mulher encerrada em casa, mas, num
vislumbre do novo tempo, mostra uma protagonista que se rebela, renitente, contra o destino que
lhe é oferecido. Inês representa a fala destoante, pois nega os lugares-comuns, inclusive por meio
de uma linguagem que defende a mudança. Seu posicionamento ideológico de recusa dos valores
vigentes verifica-se, lingüisticamente, por um discurso repleto de exclamações – marcando o seu
temperamento intempestivo.

A Obra é a mais complexa do autor, sendo escrita em forma de peça teatral e apresentada


pela primeira vez para o rei D. João III, no ano de 1523. É considerada uma comédia de costumes,
humanista, que retrata tipos psicologicamente bem definidos. A protagonista expressa os valores
da sociedade da época, em plena transição pré-renascentista, principalmente no que se refere ao
papel da mulher na sociedade. A obra é composta de três partes: Inês fantasiosa, Inês mal-
maridada e Inês quite e desforrada. Não possui um narrador definido, apenas algumas rubricas
para a orientação dos atores. O gênero é dramático e o discurso direto é predominante. O tempo
não é definido e o enredo é capaz de envolver o expectador, especialmente pelo uso dos recursos
linguísticos, dos elementos da cultura popular e da comicidade que caracterizava o teatro de Gil
Vicente.

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