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Vanessa Carvalho Nofuentes

Um desafio do tamanho da Nação:


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610412/CA

A campanha da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo


(1915-1922)

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial


para obtenção do grau de Mestre pelo Programa
de Pós-Graduação em História Social da Cultura,
do Departamento de História da PUC-Rio.

Orientador: Prof. Luís Reznik

Rio de Janeiro
Agosto de 2008
Vanessa Carvalho Nofuentes

Um desafio do tamanho da Nação:


A campanha da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo
(1915-1922)

Dissertação apresentada como requisito parcial para


obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610412/CA

Graduação em História Social da Cultura do


Departamento de História do Centro de Ciências
Sociais da PUC-Rio.
Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Luís Reznik


Orientador
Departamento de História
PUC-Rio

Profª Ângela Maria de Castro Gomes


Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil-CPDOC
FGV

Profª Margarida de Souza Neves


Departamento de História
PUC-Rio

Prof. Nizar Messari


Vice-Decano de Pós-Graduação do Centro de Ciências Sociais
PUC-Rio

Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2008.


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução
total ou parcial do trabalho sem autorização da
universidade, do autor e do orientador.

Vanessa Carvalho Nofuentes

Graduou-se em Licenciatura Plena em História


(Faculdade de Formação de Professores da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro – FFP/UERJ), em 2005.
Participou de diversos congressos na área de História e
atua como professora do ensino fundamental e médio e
como tutora de disciplinas do curso de licenciatura à
distância.
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Ficha Catalográfica

Nofuentes, Vanessa Carvalho

Um desafio do tamanho da nação: a campanha


da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo (1915-
1922) / Vanessa Carvalho Nofuentes ; orientador:
Luís Reznik. – 2008.
163 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em História)–Pontifícia


Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2008.
Inclui bibliografia

1. História – Teses. 2. História social da cultura.


3. Primeira República. 4. Liga. 5. Analfabetismo. 6.
Educação. I. Reznik, Luís. II. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Departamento de História. III. Título.

CDD: 900
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Para Esther, Fernanda, Antônio Augusto e


Rafael, meus grandes incentivadores.
Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Deus por permitir que eu chegasse a este


momento. A Ele devo tudo o que tenho e sou. À minha família, minha base, lugar
onde encontro segurança, meu sincero agradecimento pela educação que me
deram, pelos exemplos de vida e pelo incentivo constante na realização dos meus
sonhos. Aos meus amigos, em especial Rogério Moura e Tatiana Abreu, pela
amizade sincera, pelas conversas divertidas, pelo apoio e por sempre
evidenciarem em mim o que vêem de melhor.
Sou grata a todos os funcionários do Departamento de História da PUC-
Rio (em especial à Edna Maria Timbó e ao Cláudio Santiago), sempre tão gentis e
solícitos e aos professores que compõem o Programa de Pós-graduação em
História Social da Cultura pelas valiosas contribuições em minha formação. Em
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especial, ao professor – e amigo que se tornou – Luís Reznik pela enorme


paciência e carinho que sempre teve com esta orientanda insegura e muito
angustiada. Obrigada pelas leituras sempre atentas e críticas e pelo auxílio
fundamental nas reflexões acerca dos rumos a serem tomados. Foi sob sua
orientação, desde a graduação enquanto bolsista e como orientanda na monografia
de conclusão de curso que aprendi grande parte do que sou como historiadora e
como professora. Ao CNPq e à PUC-Rio agradeço o provimento de recursos
indispensáveis à pesquisa e sem os quais este trabalho não seria realizado.
Agradeço ainda as importantes considerações feitas pelas professoras
Angela de Castro Gomes e Clarice Nunes acerca deste trabalho no momento da
qualificação e que muito ajudaram no traçado dos caminhos que a pesquisa
deveria percorrer. Da mesma forma, agradeço, desde já, à Banca Examinadora,
composta pelas professoras Angela Maria de Castro Gomes e Margarida de Souza
Neves pelas contribuições sempre oportunas e pela paciência com que,
certamente, leram este trabalho.
Por fim, e não por isto menos importante, agradeço à Rafael Navarro
Costa, meu grande amor, com quem divido minha vida e meus sonhos. Agradeço
pelos dias e noites em que pacientemente me ouviu falar de minhas incertezas,
pelo apoio nos momentos difíceis e pelas inúmeras vezes em que me mostrou que
eu podia e devia prosseguir. Agradeço a Deus por ter colocado você em meu
caminho, você é, em todos os âmbitos, parte fundamental em minha vida.
Resumo

Nofuentes, Vanessa Carvalho; Reznik, Luís (orientador) Um desafio do


tamanho da Nação: A campanha da Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo (1915-1922). Rio de Janeiro, 2008, 163p. Dissertação de
Mestrado – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro.

Este trabalho se propôs a refletir sobre o contexto de fundação da Liga


Brasileira Contra o Analfabetismo, compreendendo, através das estratégias de
ação de sua primeira diretoria (1915-1922), os objetivos dos intelectuais
envolvidos naquele projeto, engajados no combate ao analfabetismo em todo o
Brasil. Buscamos também analisar seu lugar na História da Educação, uma vez
que são raras as referências à Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Tal lugar
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acabou por ser definido pela historiografia através das críticas elaboradas pelos
membros da Associação Brasileira de Educação, cujo discurso negaria
experiências anteriores. O presente trabalho destaca que preocupações com a
freqüência escolar, a falta de prédios adequados, material didático e com os
modos “civilizados e cívicos” em uma escola moderna, que moralizava e
civilizava, estavam presentes no movimento analisado. A campanha empreendida
pela Liga encontrou apoio nos diversos cantos do Brasil, sobretudo através da
atuação de Ligas estaduais e municipais. A análise destas ações evidencia que as
Ligas atuavam em uma dupla direção ao coordenar ações de combate ao
analfabetismo que incentivavam o engajamento e a mobilização da sociedade em
favor da instrução e, ao mesmo tempo, chamar o Estado a atuar, exigindo sua
intervenção em questões como a decretação da obrigatoriedade do Ensino
Primário. Percebe-se que, entre memórias e esquecimentos, as Ligas fundadas
durante a década de 1910 têm muito a nos revelar acerca da mobilização social
neste país, demonstrando que a Primeira República representa um momento
estratégico na História do Brasil.

Palavras-chave:
Primeira República; Liga; Analfabetismo; Educação.
Abstract

Nofuentes, Vanessa Carvalho; Reznik, Luís (advisor). A challenge the


size of the Nation: The campaign of the Brazilian League Against
Illiteracy (1915-1922). Rio de Janeiro, 2008, 163p. MSc. Dissertation –
Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro.

This work proposes a reflection upon the context of the Against illiteracy
Brazilian League’s foundation, observing, through the action strategies of its first
administration (1915-1922), the intellectual goals involved on that project,
engaged on the illiteracy combat all over the country. We also intent to analyze its
place at the Education History, once the references about the Against illiteracy
Brazilian League are rare. The mentioned place has been defined by the
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historiography through the criticisms elaborated by the Brazilian Education


Association members whose speech denies previous experiences. This work
detaches that preoccupations such as student’s frequency, the need of suitable
constructions, teaching material and the civilized and civic patterns of the modern
school, that moralized and civilized, could be found at the analyzed moment. The
Campaign developed by the League has found support at several regions, above
all through the actions of state and municipal Leagues. The analysis of these
actions evidences that the Leagues worked in to ways: organizing illiteracy
combat actions that stimulated the society engagement and mobilization pro
instruction and, at the same time, call the State to act, demanding its intervention
in questions like the basic education obligatoriness. We perceive that, between
memories and forgetfulness, the Leagues created at the first decades of the XX
century have much to reveal us about the social mobilization in this country,
showing that Brazilian First Republic represents a strategic moment in Brazilian
History.

Keywords
First Republic; League; Illiteracy; Education.
SUMÁRIO

1. Introdução 10

2. Uma pátria ainda por fazer 22


2.1. O ambiente cívico-nacionalista durante a Primeira
República 29

3. Combater o Analfabetismo é dever de honra de todo


brasileiro 39
3.1. Um dever de honra! 45
3.2. A atuação da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo 51
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3.2.1. Definindo estratégias de ação 51


3.2.2. Obtendo apoios na difusão do ensino primário 54
3.2.3. O Jeca Tatu deve ir à escola: a questão da
obrigatoriedade do ensino primário 71
3.2.4. Às vésperas do Centenário 80

4. Uma guerra que mobiliza a Nação. Todos contra o


analfabetismo! 87
4.1. Estados contra o analfabetismo: a análise de dois casos 105
4.1.1. A campanha da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo 105
4.1.2. A atuação da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo 111
4.1.2.1. O movimento nos municípios fluminenses 115
4.1.2.2. Ecos da campanha contra o analfabetismo no
executivo e no legislativo fluminense 120
4.1.2.3. Compartilhando valores cívico-nacionalistas 123
4.1.2.4. A importância das Caixas Escolares 126

5. À guisa de conclusão: o lugar da Liga Brasileira Contra o


Analfabetismo na história da educação 132
5.1. Entre lembranças e esquecimentos, esboçando novos
caminhos 138
6. Referências bibliográficas 143

7. Fontes 147

8. Anexos 148
8.1. Anexo I 148
8.2. Anexo II 150
8.3. Anexo III 153
8.4. Anexo IV 154
8.5. Anexo V 155
8.6. Anexo VI 158
8.7. Anexo VII 160
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8.8. Anexo VIII 162


8.9. Anexo IX 163
1

Introdução

Quebrem-se as duras cadeias


Do negro analfabetismo,
Tire-se o povo do abismo
Desta cegueira em que está [...]
Mostrai-lhe a luz que irrompe
Do horizonte do A-B-C
Com esta tudo se vê [...]
Sem esta luz da centelha
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Que explode do B-A-BÁ


Sempre escura a vista será
E o cidadão nada vê
Dai-lhe pois do livro a luz
Pr’a iluminar seu Destino.
Dai-lhe essa sorte do ensino
Num bilhete do A-B-C
Não se educar a criança?
Não a levar para a escola?
É se negar uma esmola
À infância que estende a mão
É fomentar-se a miséria
No seio da sociedade,
É não se ter caridade
É não se ter coração!
Para que Códigos, Bíblias, Jurisprudências, decretos,
Se os olhos analfabetos
São cegos não vêem luz? [...]
Para pois que o povo possa
Cumprir sempre o seu dever,
Fazei-o primeiro ler.
Botai-lhe o livro na mão [...]
O livro é que abre as portas
Desse cenário de luz
Por onde a ciência conduz
Toda a cruzada de heróis.*

*
Versos retirados de edição elaborada em 1941, intitulada “Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo”, localizada na Biblioteca Nacional, contendo informações diversas sobre esta
Liga. Não podemos precisar em que período o poema foi elaborado.
11

Há algum tempo tenho interesse pelo período denominado Primeira


República. Desde a época do colégio, o gosto pela História se associava ao gosto
pelo que é relegado a segundo plano nas grandes interpretações do Brasil. A idéia
que ficava recorrente, assim que saíamos do Ensino Médio era a de que a
República Velha é um período de verdadeiro caos, de desorganização; afinal, o
Império havia desmoronado e os poderes se tornariam cada vez mais
descentralizados. Aparentemente, o que fica no nosso imaginário é a identificação
dos anos que vão de 1889 a 1930 com uma desordem ou bagunça generalizada,
um tempo marcado pelo vazio de idéias, propostas e ações significativas para a
Nação brasileira.
Ao ingressar no curso de graduação em História na Faculdade de
Formação de Professores da UERJ, entraria logo em contato com a pesquisa
histórica ao fazer parte do Projeto de Pesquisa “História de São Gonçalo:
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Memória e Identidade”. Ao desenvolver pesquisas para este projeto, comecei a


tomar gosto maior pela Primeira República e mais, foi a partir daí que comecei a
perceber que este não é apenas um período entre a Proclamação da República e a
Revolução de 1930.
Foi durante uma pesquisa que realizava na Biblioteca Nacional no jornal O
Fluminense sobre um ilustre gonçalense, o médico Dr. Luiz Palmier, que esbarrei
com uma associação que ganhava destaque nas páginas daquele periódico, da qual
Luiz Palmier era membro e cuja denominação, assim como seus propósitos, era
desconhecida para mim. Foi assim que a Liga Contra o Analfabetismo – tema
central deste trabalho – passou a fazer parte da minha vida acadêmica.
Durante a graduação, optei por me dedicar aos estudos acerca da Liga
Fluminense Contra o Analfabetismo, uma seção da Liga Brasileira. Ao ingressar
no Mestrado, continuei a busca por saciar minha curiosidade e interesse pelo
contexto dos anos 10 e 20 e pelas ações da Liga. Percebendo que o movimento era
algo que pretendia se estender a todo o território brasileiro e que tomaria
efetivamente outros estados além do Rio de Janeiro, passaria, assim, a pesquisar a
Liga Brasileira Contra o Analfabetismo.
Fundada em 21 de abril de 1915 por homens de letras, médicos,
advogados, militares e contando com a colaboração de diversos setores da
sociedade, a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo tinha como propósito atuar
junto aos poderes públicos federais, estaduais e municipais, e, sobretudo, junto à
12

população, para que se pudesse comemorar o centenário da Independência


declarando o Brasil livre do analfabetismo. Qualquer pessoa, sem distinção de
raça, idade, classe social, partido político, religião, sexo ou nacionalidade poderia
pertencer à associação, desde que se comprometesse a atuar em prol de seus
objetivos, pelo pensamento, pela palavra e pelo ato. Visando alcançar seu
propósito, a Liga se reunia semanalmente para definir estratégias de ação, buscar
apoios e coordenar as Ligas Estaduais e seções fundadas nas respectivas
localidades.
Após algum tempo de pesquisa, ficava cada vez mais claro que a idéia da
Primeira República como lugar do vazio, da desorganização e, principalmente, da
ênfase no jogo político local puro e simples, não dava conta de alguns
movimentos que começavam a surgir, sobretudo na década de 1910. Movimentos
estes que se configuram como projetos político-intelectuais, organizados e postos
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em prática por uma intelectualidade que se colocava a pensar o Brasil e que


propunham soluções relacionadas a um processo civilizatório cuja utopia estava
na construção da nação brasileira.
Assim, o propósito deste trabalho é refletir sobre o contexto de fundação
da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, compreendendo, através das
estratégias de ação de sua primeira diretoria (1915-1922), os objetivos dos
intelectuais envolvidos com este projeto, engajados no combate ao analfabetismo
em todo o Brasil. Buscamos também analisar o lugar reservado a movimentos
como a Liga Contra o Analfabetismo na historiografia acerca da educação no
Brasil. O trabalho utiliza como fontes alguns periódicos da época e documentos
como o estatuto da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo que constam em uma
encadernação, cuja edição data de 1941, que reúne diversas informações sobre a
Liga como alguns discursos.
Em busca de referências sobre a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo e
visando melhor compreender o contexto de sua fundação e os objetivos de um
movimento que visava mobilizar o Brasil no combate ao analfabetismo, fazia-se
necessário recorrer aos trabalhos que se dedicam ao tema da educação na Primeira
República. Neste sentido, o trabalho pioneiro de Jorge Nagle sobre a sociedade e a
educação na Primeira República representaria uma referência importante a ser
complementada pela historiografia pertinente sobre a instrução no final do
Império e início da República. Façamos, então, uma análise acerca das diversas
13

interpretações sobre a educação neste contexto, visando compreender onde se


insere o movimento desenvolvido pela Liga Brasileira Contra o Analfabetismo.
Em suas reflexões sobre Educação e Sociedade na Primeira República 1,
Jorge Nagle buscou construir o que chamou de um retrato da sociedade brasileira
da Primeira República para, a partir daí, realizar um estudo da educação no
período. O retrato da sociedade é feito a partir da análise dos setores político,
econômico e social. O setor político tem como base da estrutura de poder o
coronelismo; a economia é marcada pela passagem do sistema agrário-comercial
para o urbano-industrial (o que consolidaria o modo de produção capitalista no
Brasil); por fim, o setor social sofreria os reflexos da imigração e do urbanismo
com a emergência de uma nova ordem social competitiva e com a formação e
desenvolvimento de uma sociedade de classes. O autor analisa ainda os
movimentos políticos-sociais e as correntes de idéias que emergem no período em
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questão, dentre estes o Socialismo; Anarquismo e Maximalismo; o Catolicismo; o


Tenentismo, os antecedentes do Integralismo; o Nacionalismo e o Modernismo.
Vale aqui ressaltar uma percepção dualista da realidade brasileira; daí a
utilização de termos como: sistema agrário-comercial X sistema urbano industrial;
escola nova X escola tradicional; inovação X tradição; políticos X técnicos;
urbanismo X ruralismo. Sobre a educação, Nagle dá ênfase aos fenômenos
denominados “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”, cujas
definições seriam tomadas como fundamentais pela historiografia da educação
para se pensar a questão educacional nos anos 10 e 20, assim como na
compreensão das motivações dos intelectuais envolvidos com tais questões.
O que Nagle define como “entusiasmo pela educação” nos remete à crença
de que, pela multiplicação de escolas e pela ampla valorização das questões
educacionais, seria possível integrar a população no caminho do progresso
nacional. A diferença principal entre este momento e o que se chamou de
“otimismo pedagógico” seria uma espécie de pureza pedagógica deste último.
Citando Nagle:

O entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico, que tão bem


caracterizam a década dos anos vinte, começam por ser, no decênio
anterior, uma atitude que se desenvolveu nas correntes de idéias e
1
Jorge Nagle. Educação e Sociedade na Primeira República. 2a.Edição. Rio de Janeiro: DP&A,
2001 (1ª edição 1974).
14

movimentos político-sociais e que consistia em atribuir importância cada


vez maior ao tema da instrução, nos seus diversos níveis e tipos. É essa
inclusão sistemática dos assuntos educacionais nos programas de
diferentes organizações que dará origem àquilo que, na década dos vinte,
está sendo denominado de entusiasmo pela educação e otimismo
pedagógico. A passagem de uma para outra dessas situações não foi
propriamente gerada no interior desta corrente ou daquele movimento. Ao
atribuírem importância ao processo de escolarização, prepararam o terreno
para que determinados intelectuais e “educadores” – principalmente os
“educadores profissionais” que aparecem nos anos vinte – transformassem
um programa mais amplo de ação social num restrito programa de
formação, no qual a escolarização era concebida como a mais eficaz
alavanca da História brasileira. De fato, enquanto o tema da escolarização
era proposto e analisado de acordo com um amplo programa desta ou
daquela corrente ou movimento, ela servia a propósitos extra-escolares ou
extra-pedagógicos; era uma peça entre outras, peça importante, sem
dúvida, mas importante justamente pelas suas ligações com problemas de
outra ordem, geralmente problemas de natureza política. 2
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Mesmo não enfatizando marcações cronológicas na distinção entre o


“entusiasmo” e o “otimismo”, Nagle destaca que se deve considerar suas
características distintas. Se no primeiro, a escolarização servia a propósitos “extra-
escolares ou extra-pedagógicos”, sendo analisada de acordo com um amplo
programa ligado, sobretudo, a problemas de “natureza política”, somente a partir
da década de 20 surge o “técnico” em educação, uma nova categoria profissional
que passa a tratar exclusivamente dos assuntos educacionais.
A passagem de um pólo a outro diferencia, na visão do autor, as ações
empreendidas nas décadas de 1910 e 20. O surgimento do chamado “técnico em
educação”, em contraposição às instituições que estariam relegando a segundo
plano as preocupações educacionais, se dá de forma concomitante à fundação da
Associação Brasileira de Educação em 1924, uma entidade de caráter nacional
que passaria a coordenar os debates educacionais no país, visando uma “reforma
moral e intelectual”. Tal distinção entre os movimentos pré e pós-fundação da
ABE marcaria profundamente as interpretações acerca dos movimentos
educacionais neste contexto.
Em seu trabalho, Jorge Nagle acaba por vincular o caráter político do
“entusiasmo pela educação” com questões específicas relacionadas a alguns dos
movimentos por ele analisados: a Liga de Defesa Nacional (vinculada à questão

2
Ibid, p.135-136.
15

do serviço militar) e, sobretudo, a Liga Nacionalista (e a preocupação em difundir


o ensino visando a formação de eleitores). Entretanto, o autor já apontava que a
década de 1920 receberia do decênio anterior uma herança forte: exterminar o
analfabetismo e/ou disseminar a instrução primária entre a massa da população
inculta e analfabeta. Referindo-se às ações da Liga de Defesa Nacional e da Liga
Nacionalista de São Paulo, Nagle afirma que:

Sem dúvida alguma, as pregações dessas instituições enriqueceram o


panorama das discussões sobre os problemas da escolarização,
principalmente por meio de conferências de propaganda que passaram a
ser publicadas em jornais e revistas dos mais diversos pontos do país. 3

As diversas ligas fundadas durante a década de 1910 estariam, portanto,


enquadradas no “entusiasmo pela educação” e seus programas educacionais
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seriam redefinidos no pós-1924 com a fundação da Associação Brasileira de


Educação. Para Nagle, na passagem de um momento para o outro, produziu-se
uma dissociação dos problemas pedagógicos dos de natureza social, política e
econômica.
Vanilda Paiva4, em sua leitura de Nagle, afirmaria que até 1925 o que
tínhamos era o entusiasmo pela educação, depois desta data, configura-se o
otimismo pedagógico. A autora une o entusiasmo pela educação à questão
política, sendo este laço desfeito pelo enfoque técnico do otimismo e dos
profissionais da educação. Vanilda Paiva destaca que com o fim da Primeira
Guerra, a bandeira de luta contra a desnacionalização perde muita força e as ligas
perdem seu ímpeto inicial, surgindo inclusive protestos contra a obsessão de
combater o analfabetismo. Ao tratar da passagem do entusiasmo para o otimismo,
enfatiza que os otimistas consideravam-se politicamente descomprometidos e que,
de certa forma, afastavam a ameaça potencial da educação como veículo de
mudanças sociais.
Algumas relativizações acerca da distinção fundamental defendida por
Nagle seriam evidenciadas em trabalhos como o de Marta Maria Chagas de
Carvalho. A partir da análise acerca da atuação e dos propósitos da Associação

3
Ibid, p.341.
4
Vanilda Pereira Paiva. Educação Popular e educação de adultos. 2a edição. São Paulo: Edições
Loyola, 1983 (1ª edição 1973).
16

Brasileira de Educação feita por Marta Carvalho5, percebemos que não podemos
fazer uma distinção tão definida entre os dois momentos apontados por Nagle. A
autora destaca que o grupo da ABE não era formado apenas por profissionais em
educação e os diferentes interesses de médicos, advogados, engenheiros que
participavam da associação davam maior abrangência às questões ali abordadas.
Em segundo lugar, destaca que o grupo da ABE guardou do entusiasmo pela
educação a prioridade pela instrução como solução transformadora do país e sobre
isto, destaca as idéias de Miguel Couto que ficam evidentes na famosa frase: “No
Brasil só há um problema nacional – a educação do povo”. Por fim, Marta
Carvalho aponta que o ocorrido não foi uma despolitização do campo
educacional, mas sim uma politização em novos termos.
Marta Carvalho faz uma importante apreciação acerca da participação dos
principais membros da ABE na fundação do Partido Democrático do Distrito
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Federal. A fundação da ABE teria, inclusive, resultado do insucesso na


organização de um partido político, em razão da precipitação de um dos
organizadores que chegou a entrar em contato com os revolucionários paulistas de
julho de 1924 – parcela significativa dos fundadores da Associação Brasileira de
Educação esteve envolvida nos movimentos militares. A autora afirma ainda que
cerca de metade dos diretores da ABE foi fundadora e organizadora do Partido
Democrático do Distrito Federal, compondo sua cúpula em 1927 e 1928. O que
temos, portanto, a partir do trabalho de Carvalho, é a afirmação de que questões
políticas estavam presentes na ABE, refutando a idéia de uma neutralidade desta
associação apontada desde o trabalho de Nagle. A ABE não era, assim, puramente
pedagógica sendo também marcadamente política.
Entretanto, não podemos desconsiderar que um dos mais importantes
pilares da fundação da ABE seria a crítica ao “fetichismo da alfabetização” e isto
evidencia o combate aos movimentos anteriores à sua fundação. De acordo com
os membros da ABE, era necessário, ao invés de “apressadamente ensinar a ler,
escrever e contar aos adultos iletrados” – coisa da má pedagogia – “cuidar
seriamente de educar-lhes os filhos fazendo-os freqüentar uma escola moderna

5
Marta Maria Chagas de Carvalho. Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral e trabalho no
projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931).Bragança Paulista, SP: EDUSF, 1998.
17

que instrui e moraliza, que alumia e civiliza”6. A redefinição da escola a ser


operada a partir da ABE compreendia elementos como o ensino técnico, métodos
pedagógicos modernos, seleção de aptidões e encaminhamento profissional. A
qualidade de sua proposta educacional, baseada em um ideal civilizatório da
sociedade, estaria apoiada na valorização de temas como a moral, a saúde e a
racionalização do trabalho escolar.
Não objetivamos aqui negar o papel marcante da Associação Brasileira de
Educação ao coordenar os debates educacionais e reunir idéias a serem
empreendidas em uma ação de caráter nacional a partir de 1924. Entretanto,
movimentos anteriores a ela já traziam em seu ideário temas caros ao que se viria
pensar posteriormente sobre educação e nacionalismo. É ainda Marta Carvalho
quem destaca a existência de uma similaridade entre os discursos cívicos dos anos
1910 e a campanha empreendida pela ABE. Estes discursos, enquanto práticas,
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representam um terreno ainda pouco explorado pelos historiadores. Pretendemos


com esta pesquisa iniciar a exploração de tal terreno.
Sem dúvida, foi a partir da fundação da ABE em 1924 que se deu uma
efetiva organização de intelectuais que objetivava influir na implantação de
políticas para a educação no Brasil. Mas este fato não deve excluir a idéia de que
os movimentos como a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo e outros que a
antecederam serviram como uma espécie de ante-sala para que propostas acerca
da educação fossem abordadas de forma mais sistemática e, certamente, o
movimento da Escola Nova representará uma síntese desta sistematização.
O tema da escolarização ganha destaque nas discussões intelectuais desde
o século XIX. Sobretudo na segunda metade daquele século, os processos de
escolarização passam a ser alvo de preocupações, uma vez que deveriam estar de
acordo com formas modernas. Para além dos rudimentos do saber ler, escrever e
contar, seriam incorporados outros conhecimentos como a aritmética e a língua
pátria.7
Os processos educativos aliavam-se, cada vez mais, aos fundamentos
científicos. O aluno passaria a ser colocado como elemento central nas relações de

6
Conferência de Azevedo Sodré na Associação Brasileira de Educação em 1926 sobre “O
problema da educação nacional”. Apud Marta Carvalho, op.cit. p.149.
7
Sobre o tema ver Luciano Mendes de Faria Filho. “Instrução elementar no século XIX” In:
Lopes, Eliana Marta Teixeira; Faria Filho, Luciano Mendes e Veiga, Cynthia Greive (orgs.). 500
anos de educação no Brasil. 3ª Edição. Belo horizonte: Autêntica, 2003.
18

aprendizagem em um ensino que deveria primar pela observação, passando do


concreto ao abstrato, com ênfase na racionalização de saberes e fazeres e
respeitando às normas higiênicas na disciplinização do corpo do aluno. Diversos
foram os métodos de ensino adotados neste contexto que trariam à tona reflexões
acerca da relação pedagógica de ensino-aprendizagem.8 A educação passa a ter
seu valor reconhecido, sobretudo ao se vincular às questões sociais e a uma nova
visão da infância; as crianças precisavam de cuidados e instrução em instituições
próprias. A escola tornar-se-ia uma instituição social.
Ao analisar o processo de constituição da instrução pública primária na
cidade do Rio de Janeiro entre 1870 e 1890, Alessandra Schueler chama atenção
para a constituição de uma forma escolar urbana moderna que se articula à
formação do Estado Imperial. O marco de uma regulamentação dirigida pelos
grupos políticos conservadores no sentido de controlar e criar escolas públicas
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seria o Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte de 1854. Em seu


trabalho, a autora enfatiza a presença de heterogêneas culturas escolares na cidade
do Rio de Janeiro, assim como as modificações referentes à profissão docente e de
seu significado social. Tais temas se encontravam amalgamados com inquietações
referentes a própria sociedade imperial, marcada por contradições, assim como
pela abolição e a necessidade de redefinição da cidadania.9
Desde o Império, o sistema de instrução pública era caracterizado pela
descentralização administrativa. Ao governo central, cabia a instrução primária e
secundária apenas na corte e o ensino superior em todo o país. A Constituição de
1824 declarava a gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos – mas
quem era cidadão? A enorme população escrava certamente ficava de fora, assim
como os homens livres e pobres. Em 1827, foi elaborada a 1ª Lei de Instrução
Pública segundo a qual escolas de primeiras letras deveriam ser mantidas no país.

8
Dentre os métodos de ensino podemos destacar o método individual, o mútuo e o intuitivo.
Destaque para o último que em fins do século XIX enfatizava não apenas o estudo das “primeiras
letras”, mas sim uma educação do corpo e do espírito. Ibid. Ver também Diana Gonçalves Vidal.
“Escola Nova e processo educativo” In: Eliane Marta T. Lopes, Luciano Mendes F. Filho e
Cynthia G. Veiga (orgs). 500 anos de educação no Brasil, op.cit.
9
Alessandra Schueler destaca em seu trabalho as ações do professor Manoel José Pereira Frazão
que propunha uma escola moralizadora e cívica, afirmando o papel essencial dos professores
públicos, preocupados com a cidadania e a reconstrução da Nação brasileira. A autora enfatiza
ainda a existência de diversos grupos, associações e conferências que demonstram a organização
coletiva dos professores públicos no período em questão. Ver Alessandra Frota M. Schueler.
Formas e Culturas escolares na cidade do Rio de Janeiro: representações, experiências e
profissionalização docente em escolas públicas primárias (1870-1890). Tese de Doutorado,
Niterói, UFF, 2002.
19

O Ato Adicional de 1834 determinaria que a formação do povo ficaria a cargo das
Assembléias Provinciais.10 A Constituição republicana de 1891 manteria o perfil
descentralizado do ensino, uma vez que o ensino primário e secundário era de
responsabilidade dos estados e municípios, sendo a União responsável pelo ensino
superior. A grande modificação republicana seria a laicidade do ensino nas
escolas públicas. Temas como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino
ganhariam destaque nos debates acerca da educação, ficando sob responsabilidade
dos estados e municípios na maioria das vezes.
As escolas primárias durante o período imperial funcionavam de forma
precária. Em geral, a escola funcionava na casa do professor, compreendendo
apenas uma sala de aula. Esta precariedade permanece durante a Primeira
República sendo raras algumas exceções. Neste sentido, a criação dos chamados
Grupos Escolares na última década do século XIX foi representativa de um
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processo de escolarização que demonstra inquietações acerca das condições


educacionais. 11
Com o advento da República, tais inquietações com as condições escolares
ganhariam destaque através de movimentos como a Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo, enfatizando idéias que objetivavam transformar o quadro que
vigorava até então. Além desta preocupação com as condições escolares que se
associaria à campanha pela criação de escolas e cursos noturnos visando
alfabetizar a população brasileira, uma das principais bandeiras a serem erguidas
pela Liga Brasileira Contra o Analfabetismo era a de luta pela decretação da
obrigatoriedade do ensino primário. A campanha empreendida pelas Ligas Contra
o Analfabetismo seria caracterizada por um duplo movimento: uma efetiva
mobilização nacional no combate ao analfabetismo – com criação de escolas,
obtenção de apoios das instituições religiosas, da imprensa e da população em
geral – e a busca por ações por parte do Estado – via poder executivo e legislativo

10
Sobre a legislação educacional desde o Império ver Angela de Castro Gomes. “A escola
republicana: entre luzes e sombras” In: GOMES, Angela de Castro, PANDOLFI, Dulce Chaves;
ALBERTI, Verena (orgs), coordenação; Américo Freire [et al.]. A República no Brasil. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira: CPDOC, 2002, pp. 385-437.
11
Um exemplo representativo de tais inquietações é a inauguração em 1894 da Escola Normal
Caetano Campos em São Paulo, considerada como escola modelar ao utilizar o método intuitivo,
tomado como base de um ensino moderno. Primava-se, sobretudo, pela visibilidade, preocupando-
se com os edifícios escolares que deveriam se contrapor às visões da escola no período imperial.
Sobre o tema ver Marta Carvalho. A Escola e a República. São Paulo: Brasiliense, 1989.
20

nos diversos níveis: nacional, estadual e municipal, chamando-o à


12
responsabilidade pela educação nacional.
Ao analisarmos o contexto de fundação da Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo, não podemos desconsiderar o caldo de cultura advindo das
inquietações acerca da educação formuladas no período anterior, a introdução de
novos métodos de ensino, a evidência da falta de prédios escolares adequados e a
valorização da escola como peça importante na difusão de valores. Entretanto,
novos ingredientes engrossariam este caldo e isto é fundamental. Estes novos
elementos estão intimamente relacionados com um momento peculiar. A
formação de Ligas em meio à Primeira Guerra Mundial é uma conjuntura ainda
pouco explorada. Faz-se necessário reconsiderar alguns temas e redefinir algumas
idéias. A tarefa não é simples ...
No primeiro capítulo, traçamos um panorama sobre o contexto dos anos
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10, contexto este marcado pelo compartilhamento por alguns de nossos


intelectuais de uma forma de designar determinadas associações. São inúmeras as
Ligas fundadas neste período, assim, analisaremos os propósitos principais de
alguns destes movimentos como a Liga de Defesa Nacional, a Liga Nacionalista e
a Liga Pró Saneamento do Brasil. Em tal análise, tomaremos como suporte
conceitual as noções sociabilidade, a idéia de nação e de intelectuais buscando
compreender este ambiente cívico-nacionalista.
É a partir deste panorama que passamos a uma análise específica da
campanha empreendida pela Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. O segundo
capítulo visa traçar a trajetória desta Liga entre os anos de 1915 e 1922,
objetivando compreender o que significava participar desta instituição, assim
como enfatizar as estratégias de ação e o efetivo engajamento e mobilização da
sociedade na campanha de combate ao analfabetismo obtido através do apoio de
instituições como a igreja, as lojas maçônicas e a imprensa. Além disto, a questão

12
São raros os trabalhos que mencionam diretamente o movimento realizado pela Liga Brasileira
Contra o Analfabetismo. Dentre estes, a obra de Ana Maria Araújo Freire, é uma das que faz
menção à Liga ao traçar um histórico desde o período colonial (1534) até os anos de 1930
buscando compreender o problema do Analfabetismo no Brasil. Entretanto, discordamos da autora
que vincula a campanha empreendida pela Liga Contra o Analfabetismo à uma ideologia da
inferioridade do analfabeto associada à cor negra e destacada como forma de preconceito elitista;
este é um argumento que não visualizamos em nossa pesquisa. Ver Ana Maria Araújo Freire.
Analfabetismo no Brasil: da ideologia da interdição do corpo à ideologia nacionalista, ou de
como deixar sem ler e escrever desde as Catarinas (Paraguaçu), Filipinas, Madalenas, Anãs,
Genebras, Apolônias e Grácias até os Severinos. São Paulo: Cortez: Brasília: INEP, 1989.
21

da obrigatoriedade do ensino primário, questão fundamental na campanha


empreendida, será alvo de nossa atenção neste capítulo.
O terceiro capítulo dedica-se ao estudo da expansão da Liga nos estados
brasileiros, corroborando a idéia de que as ações da Liga Brasileira tomaram
proporções nacionais, atingindo a quase totalidade do território brasileiro através
da fundação de ligas locais e estaduais. Para aprofundar a reflexão, optamos por
analisar as campanhas da Liga Contra o analfabetismo em Sergipe e no estado do
Rio de Janeiro.
Por fim, tecemos algumas considerações, buscando combater a idéia de
que a Primeira República é o lugar do vazio, valorizando movimentos que
engajavam a população nas grandes causas nacionais e compreendendo a Primeira
República como um momento estratégico na História do Brasil. Analisamos
brevemente a publicação de 1941, dedicada à Liga Brasileira Contra o
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Analfabetismo, procurando pensar acerca da memória que se constituiu sobre a


campanha contra o analfabetismo empreendida a partir de 1915. Retomamos,
assim, as discussões acerca do lugar reservado à Liga Contra o Analfabetismo na
História da educação no Brasil. Este lugar acabou por ser definido pelas críticas
elaboradas pelos membros da ABE, cujo discurso negava experiências anteriores;
entretanto, o que se observa é a elaboração – pela ABE – de novos significados
pedagógicos e políticos para tais experiências que foram incorporadas,
aprofundadas, porém, negadas.
2

Uma Pátria ainda por fazer


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A grande e triste surpresa de nossa geração foi sentir


que o Brasil retrogradou. Chegamos quase à
maturidade na certeza de que já tínhamos vencido
certas etapas. A educação, a cultura ou mesmo um
princípio de experiência, nos tinham revelado a
pátria como uma terra em que a civilização já
resolvera de vez certos problemas essenciais. E a
desilusão, a tragédia da nossa alma foi sentir quanto
de falso havia nessas suposições. O tempo nos
preparava uma volta implacável à realidade. E essa
realidade era muito outra, muito outra, do que aquela
a que o nosso pensamento nos preparara e que a
imaginação delineara. Encontramo-nos bruscamente,
ao abrir os olhos da razão, perante uma pátria ainda
por fazer... 1

1
Vicente Licínio Cardoso. À margem da História da República (Idéias, Crenças e Afirmações).
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981, Tomo II, 2v (Biblioteca do Pensamento Político
Republicano, 8), p. 109-110.
23

O trecho escrito por Vicente Licínio Cardoso é representativo acerca do


balanço pessimista da República instituída feito através de sua obra À margem da
História da República. A obra é uma coletânea de ensaios escritos entre a segunda
metade da década de 1910 e o início da década de 1920, cuja edição original é de
1924, organizada por Vicente Licínio Cardoso e contando, entre outros, com
ensaios de A. Carneiro Leão, Jonathas Serrano, Oliveira Vianna, Tristão de
Athayde, além do ensaio de autoria do organizador. Os estudos ali presentes
revelam um momento histórico caracterizado por perplexidades, dúvidas e
transformações. O país se encontrava em uma encruzilhada, com vários caminhos
abertos; daí a importância da coletânea organizada por Vicente Licínio Cardoso
que representava uma reflexão crítica que, ao fornecer elementos para a
compreensão da sociedade brasileira e dos dilemas do regime republicano, poderia
levar o país a trilhar melhores caminhos.
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Aos homens das gerações nascidas na República caberá, provavelmente,


uma nova obra de construção, difícil, mas fecunda. Tudo indica que
deverão ser fixados, no tempo e no espaço, o pensamento e a consciência
da nacionalidade brasileira. 2

Visando contribuir naquela difícil, porém fecunda, “obra de construção” À


Margem da História da República era definida em seu prefácio como um simples
inquérito que era, antes de tudo, uma imensa pergunta. O trecho com o qual
iniciamos este capítulo, deixa transparecer o descontentamento com nossa
realidade política e social, com a não resolução de “certos problemas essenciais”,
enfim, com uma pátria que precisava ainda ser construída.
Havia-se proclamado a República quase de forma concomitante com o fim
da escravidão, colocando em jogo diversos fenômenos sociais e econômicos. Ao
“abrir os olhos”, o que a “geração nascida com a República” tinha diante de si era
a necessidade urgente de se criar a Nação brasileira. Ainda de acordo com as
palavras de Vicente Cardoso:

O Brasil é o símbolo concreto de todas as nossas riquezas em potencial


para o futuro. Ele é, porém, também o símbolo vivo de todas as nossas
dificuldades, gravíssimas e tenebrosas, do presente. [...]

2
Ibid, Tomo I, Nota do Editor.
24

É tempo em suma de fitarmos a verdadeira realidade de nosso quadro


social [...]
Analisemos com probidade o presente; melhor compreenderemos então o
passado para que possamos com segurança projetar para o futuro. 3

O autor apontava em sua análise sobre o país que faltava-nos uma


“consciência brasileira”, o momento, porém, era especial; era momento de se
pensar o Brasil, cabendo àquela geração a responsabilidade de analisar o presente,
identificando nossas dificuldades, e projetar o futuro. Entretanto, para isto não
bastava “determinar uma causa [...] é preciso indicar muitas, para compreender a
verdadeira”. 4
Os ensaios de Carneiro Leão e Oliveira Vianna também são
representativos acerca dos diagnósticos feitos sobre a realidade brasileira.
Carneiro Leão destacava em seu ensaio que toda nação deve buscar em suas
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próprias forças as energias capazes de fazê-la progredir, sendo para isto necessário
estudar e conhecer tais energias. Para o autor, era a educação o nosso problema
básico, nossa maior necessidade – sobretudo a educação popular, apontada como
necessidade vital. As questões educacionais eram por ele entendidas não como
simplesmente pedagógicas, mas sim como questões nacionais, no sentido de
formação da nacionalidade e do país. O Brasil necessitava de cultura (cultura
física, mental, profissional, cívica, social e política). 5
Em “O Idealismo da Constituição”, Oliveira Vianna chama a atenção para
o fato de que havia um imenso desacordo entre o idealismo do movimento de
1889 e da Constituição de 24 de fevereiro com a realidade nacional. Havia se
instituído um regime democrático que derivaria, portanto, da vontade do povo
manifesta pela opinião pública. Porém, segundo Vianna, tínhamos “um povo em
que a “opinião pública”, na sua forma prática, na sua forma democrática, na sua
forma política, não existe”. Não existia um sentimento de interesse coletivo.
Assim, sem organizar uma opinião pública, a democracia republicana no Brasil
continuaria sendo apenas um sonho eterno. 6
A preocupação em se pensar a questão nacional emergiu em diferentes
momentos do processo de autoconsciência dos intelectuais brasileiros. Segundo
3
Vicente Licínio Cardoso. “À Margem da República”. Ibid, Tomo II, pág. 103
4
Ibid, p. 110.
5
A. Carneiro Leão. “Os deveres das novas gerações brasileiras” In: Cardoso, Vicente Licínio. À
margem da história da república, op. Cit.
6
Oliveira Vianna. “O Idealismo da Constituição” Ibid.
25

Lúcia Lippi Oliveira, um destes momentos ocorreu com a chamada “geração de


1870” cujo objetivo era iluminar o país através da ciência e da cultura, integrando-
nos assim à civilização ocidental. 7 Para intelectuais como Tobias Barreto, Sílvio
Romero, Graça Aranha, Capistrano de Abreu e Euclides da Cunha, havia uma
grande preocupação em buscar compreender o significado de ser brasileiro; tal
busca seria mediada pelo instrumental cientificista das teorias evolucionistas e do
darwinismo social. A nacionalidade, neste contexto, era vista como uma pedra
bruta a ser trabalhada pelo saber científico das elites intelectuais.8
Durante a Primeira República, a década de 1910 representaria um
momento de inflexão em que emergem novas reflexões acerca da realidade
brasileira vinculadas, sobretudo, a uma conjuntura peculiar. O impacto da
Primeira Guerra Mundial e a proximidade da comemoração do Centenário da
Independência em 1922 funcionam como acontecimentos chave neste contexto. A
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guerra de 1914 traz uma nova era: a de incerteza, onde os padrões intelectuais
brasileiros seriam revisados, reacendendo-se a necessidade de pensar o Brasil do
ponto de vista brasileiro. A comemoração do Centenário surge como momento
simbólico para se fazer um balanço da situação do Brasil nos 100 anos decorridos:
havíamos avançado rumo ao progresso ou regredimos?
Foi buscando responder a tais indagações que os intelectuais brasileiros se
colocaram a pensar o país, objetivando propor soluções para uma nação que
precisava adquirir identidade própria. Chegar-se-ia à conclusão de que a
República não havia cumprido seu papel no que concerne à formação de cidadãos
e de uma consciência nacional, havendo a necessidade de republicanizar o Brasil
no sentido de organização de uma sociedade não mais identificada como
democrática apenas no papel das constituições.

7
Lúcia Lippi Oliveira. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1990.
8
Mônica Pimenta Velloso vincula a preocupação com o significado de ser brasileiro com a busca
da intelectualidade pelo “ser moderno”, fazendo uma análise acerca do modernismo brasileiro
onde evidencia que a idéia de modernidade acaba por diversas vezes se imiscuindo com a
construção de uma identidade nacional. Somente através da busca pela “brasilidade” o Brasil teria
seu acesso aos tempos modernos assegurado. A proposta da autora é evidenciar que há muitos
“sinais de modernidade” em movimentos que antecedem à famosa Semana de Arte Moderna
realizada em São Paulo em 1922. O modernismo brasileiro deve, desta forma, ser entendido como
algo mais complexo e diversificado que a simples marcação cronológica pré e pós 1922. Sobre o
tema ver Monica Pimenta Velloso. “O modernismo e a questão nacional”. In: Ferreira, Jorge e
Delgado, Lucília Neves de Almeida (orgs). O Brasil Republicano – O tempo do liberalismo
excludente: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003. Vol.1, pp. 351-386.
26

Educação e saúde seriam apontadas como dois elementos que faziam parte
da receita de cura dos males brasileiros. Surgem, assim, diversos movimentos de
caráter nacionalista que propunham soluções cuja utopia estava na construção da
nação brasileira. As novas bandeiras nacionalistas propunham um programa de
lutas e a necessidade de organizar movimentos que atuariam na salvação do país
buscando uma nova identidade nacional.9 Inúmeras seriam as associações
fundadas neste contexto. Na análise da atuação de tais movimentos, algumas
referências conceituais se fazem necessárias, uma vez que noções importantes
como a idéia de Nação, intelectualidade e nacionalismo entram em jogo de forma
intensa, permeando a maioria dos movimentos organizados.
A partir da década de 1980, os estudos sobre a nação ganham grande
projeção. Nesta década, foram publicadas obras como as de Benedict Anderson e
Eric Hobsbawn10 que representam importantes referências sobre o tema. A nação
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é entendida como uma comunidade imaginada (abstrata), política, limitada e


soberana; cada nação é diferente das outras – apesar de todos possuírem uma
nação ou identidade nacional, uma vez que todos possuem uma noção de
pertencimento. A imaginação nacional é uma construção ativa na qual alguns
estão criando uma noção de pertencimento para determinado grupo, sendo estes os
responsáveis pela criação dos projetos nacionalistas.
No contexto dos anos 10, o nacionalismo foi, sem dúvidas, uma força que,
lançando luz sobre os grandes problemas nacionais, mobilizou nossos intelectuais.
O nacionalismo deve ser visto como tendo múltiplos sentidos, sendo por meio
dele que diferentes grupos entram em disputa para se apoderar da definição do
símbolo nação e de seus efeitos legitimadores. O nacionalismo é entendido,
portanto, como “a utilização do símbolo “nação” pelo discurso e a atividade
política, bem como o sentimento que leva as pessoas a reagirem ao uso desse
símbolo”11. Segundo Katherine Verdery, as razões para a classificação da nação

9
Lúcia Lippi, op. Cit.
10
Benedict Anderson. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ed. Ática, 1989 e Eric
Hobsbawn. Nações e Nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
11
Khaterine Verdery. “Para onde vão a “nação” e o “nacionalismo”?”. In: Balakrishnan, Gopal
(org). Um mapa da Questão Nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000, p. 240.
27

como símbolo devem-se ao fato de possuir um significado ambíguo, uma vez que
é uma noção utilizada de forma peculiar por diferentes grupos. 12
Em resposta ao descontentamento em relação à República e os
questionamentos acerca de nosso caráter nacional, destacamos no pensamento dos
intelectuais envolvidos com os movimentos nacionalistas que surgem nos anos 10
um conteúdo utópico. Ao formularem um projeto de transformação da sociedade,
tais intelectuais se colocavam como liderança moral da nação, representantes das
camadas politicamente afônicas.13 Posicionavam-se como possuidores de uma
missão social que deveria contemplar a formação de uma nação (civilizada).
A utopia de construir a nação estaria ligada ao desenvolvimento de um
processo civilizatório que teria seus caminhos definidos de acordo com os retratos
do Brasil que foram sendo elaborados. Os caminhos rumo à civilização
dependiam dos projetos político-intelectuais elaborados, podendo vincular-se à
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temas como a erradicação do analfabetismo, ao saneamento dos sertões ou às


diversas bandeiras levantadas pelos movimentos nacionalistas durante a Primeira
República. Sobre a noção de civilização, os estudos de Norbert Elias esclarecem
que esta surgiu na Europa no final da Idade Média e início da Idade Moderna,
sintetizando tudo o que a sociedade ocidental julgou como superior a sociedades
antigas ou a sociedades contemporâneas “mais primitivas”. A noção de civilização
“expressa a consciência que o Ocidente tem de si mesmo. Poderíamos até dizer: a
consciência nacional”14. A civilização é entendida como transformação do
comportamento humano e como algo que ao mesmo tempo em que minimiza as
diferenças nacionais entre os povos enfatiza algo que lhes é comum.
Cabia, assim, aos intelectuais, o papel fundamental de delinear um perfil
para a nação. Jean- François Sirinelli propõe duas acepções de intelectual: uma

12
Ibid. Seu sentido ambíguo estaria relacionado aos públicos distintos ao qual Nação se destina
(internos e internacionais), seu uso evoca sentimentos distintos formados em relação a ela através
de períodos identificados como sendo de “construção nacional”.
13
Em seu artigo “A gênese de uma Intelligentsia – os intelectuais e a política no Brasil, 1920 a
1940”, Luciano Martins define uma noção de Intelligentsia, apontando algumas de suas
características principais. Sua análise parte dos fenômenos russo e polonês (tomados como
“clássicos”) passando a identificar a gênese de uma intelligentsia no Brasil. Martins destaca que
esta se constitui no Brasil nos anos 20 estando marcada pela busca por uma ponte entre a
modernidade e a modernização; tal busca conduz nossos intelectuais ao Estado. Aqui, adotamos
alguns aspectos apontados por Martins acerca da noção de Intelligentsia, porém, nos contrapomos
a sua idéia de que a intelligentsia no Brasil fosse desprovida de um pensamento utópico. Revista
Brasileira de Ciências Sociais. Número 4, vol. 2, junho de 1987, pp. 65-87.
14
Norbert Elias. O processo civilizador. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1990, p. 23.
28

mais ampla que contempla os “criadores” e “mediadores” culturais e outra mais


estreita que se refere à noção de engajamento; ambas contribuem para o
reconhecimento do intelectual, o que por sua vez legitima sua intervenção na
sociedade15. No contexto específico dos anos 10, as noções de intelectuais e de
sociabilidades tomam proporções bastante peculiares, uma vez que observamos
uma efetiva proliferação de associações diversificadas que se utilizavam de uma
mesma nomenclatura: LIGA. 16
Estudos acerca da noção de sociabilidades tiveram um crescimento
considerável nas últimas duas décadas, embora tal conceito já fosse utilizado de
maneira genérica e simplificada referindo-se a qualquer pessoa ou grupos em
sociedade imersos em todo e qualquer tipo de laços sociais. Foi com o trabalho de
Agulhon que o conceito de sociabilidade passou a ser utilizado de forma
significativa como instrumento teórico e metodológico. A sociabilidade passou a
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ser entendida, assim, como categoria descritiva que designa uma “atitude geral
17
das populações ao viver relações públicas” , representando o suporte das
formas de organização e politização sociais.
Todo grupo de intelectuais organiza-se a partir de afinidades e de uma
“sensibilidade ideológica ou cultural” comum – isto forma o que se chama de
estrutura organizacional de sociabilidade – esta por sua vez alimenta
“microclimas” em meio aos quais as atividades e comportamentos intelectuais são
desenvolvidas (uma espécie de microcosmo particular).18 Considerando-se o meio
intelectual polimorfo e polifônico, Rebeca Gontijo destaca três aspectos
norteadores, segundo Trebitch: a relação com a política (uma vez que, não há
meio intelectual sem um espaço público de debates); a definição de valores
próprios (no meio intelectual, as relações estabelecidas com o outro é remetida a
valores compartilhados) e o papel das representações (a representação de uma
“comunidade ideal”, através da qual a história dos intelectuais se organiza, pode

15
Jean-François Sirinelle. “Os intelectuais”. In: René Rémond (org). Por uma História política.
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
16
São inúmeras as referências às Ligas que se dedicavam às causas mais variadas possíveis.
Através das pesquisas no periódico “A Noite” foi possível fazer um breve levantamento de
algumas dessas denominações entre os anos de 1915 e 1922. Ver ANEXO I.
17
Ver Rebeca Gontijo. “História, cultura, política e sociabilidade intelectual”. In: Soihet, Rachel;
Bicalho, Maria Fernanda Baptista e Gouvêa, Maria de Fátima Silva (org). Culturas Políticas:
ensaios de história cultural, história política e ensino de História. Rio de Janeiro: Mauad, 2005.
18
Esta dupla acepção de sociabilidade (rede organizacional e “microclima”) é elaborada por
Sirinelle, op. Cit.
29

adquirir formas diversas). Gontijo, tomando por base as idéias de Sirinelli, traz
uma interpretação pertinente acerca dos intelectuais ao pensá-los como “criadores
e mediadores culturais e como atores políticos, relativamente engajados na vida
da cidade e/ou nos locais de produção e divulgação de conhecimentos e
promoção de debates” 19.
A fundação de associações como a Liga de Defesa Nacional, a Liga
Nacionalista, a Liga Pró-Saneamaento do Brasil e a Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo tinha por objetivo dar um novo rumo ao país, solucionando os
grandes problemas da pátria. A análise do contexto de fundação destas
associações deixa transparecer o compartilhamento de idéias e ações, formando
redes de sociabilidades que têm como foco principal, conforme veremos no tópico
a seguir, o desafio de construir a Nação brasileira. Vale à pena, neste sentido,
retornar a Vicente Licínio Cardoso acerca do papel da “geração nascida com a
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República” e o contexto dos anos de 1910-20:

Em nenhum momento, talvez, da nossa história, foi tão necessário pensar o


Brasil, como atualmente. A nenhuma geração, mais que a nossa, terá
cabido a responsabilidade de sustentar o primado do espírito. O momento
pede atos e não palavras [...] 20

2.1. O ambiente cívico-nacionalista durante a Primeira República

Num período em que a Guerra chama a atenção para o problema da defesa


nacional e para a necessidade do fortalecimento do exército, um dos movimentos
a ganhar maior destaque foi a campanha empreendida por Olavo Bilac em favor
do serviço militar obrigatório que teria como culminância a fundação da Liga de
Defesa Nacional em 1916, preocupada com a formação de uma consciência
nacional que seria obtida através do serviço militar e da educação cívico-
patriótica.
Segundo José Murilo de Carvalho21, no Império e na passagem para a
República, evidenciou-se uma dualidade no serviço militar. Este fato estava
relacionado, sobretudo, à questão do recrutamento militar uma vez que o
19
Rebeca Gontijo, op. Cit., p.263
20
Vicente Licínio Cardoso, op. Cit., p. 109.
21
José Murilo de Carvalho. “As Forças Armadas na Primeira República: O Poder
Desestabilizador”. In: Boris Fausto (org.) História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo:
DIFEL, 1977, Tomo III, vol. 2, pp. 183-234.
30

recrutamento de oficiais destinava-se às classes altas e o recrutamento de praças


às classes baixas. Até 1916, o recrutamento de praças era feito apenas nos grupos
sociais de baixa renda. De acordo com decreto de 1835, de voluntário, o
recrutamento poderia ser forçado e, mesmo com a aprovação de uma lei que
estabelecia o alistamento universal e o sorteio militar em 1874, este só ocorria
entre os pobres, continuando a ser feito a laço. Em 1908, o então ministro da
Guerra de Afonso Pena consegue aprovar a lei do sorteio militar e tornar
obrigatória a instrução militar em colégios secundários. No entanto, assim como a
lei de 1874, esta não pegou.
Foi com o objetivo de alterar esta situação que se iniciou uma intensa
campanha liderada por jovens oficiais que haviam estagiado no exército alemão
entre 1906-12 e que ficariam conhecidos como jovens turcos. Em 1913, este
grupo cria a revista A Defesa Nacional, visando divulgar os conhecimentos
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adquiridos: sistema de treinamento, educação militar, defesa nacional e a luta por


novas medidas como o sorteio militar. Das idéias trazidas com a experiência no
exército alemão, a de maior impacto foi a política de defesa nacional – em
contraposição à noção anterior de proteção às fronteiras do sul e sudoeste – à
medida que apresentava uma noção moderna, incluindo a mobilização de recursos
humanos, técnicos e econômicos. Este grupo de jovens oficiais promoveu por
meio da Revista A Defesa Nacional uma campanha em favor da modernização do
exército, tendo como ponto de partida o serviço militar obrigatório, entendendo
que o sorteio universal era a solução para os problemas enfrentados pelo exército
em relação ao recrutamento que vinha sendo realizado e que acabava por
marginalizar a instituição.
Em 1915, o grupo já contaria com o apoio de Olavo Bilac em uma
campanha pela defesa do sorteio militar, acreditando que desta forma se colocaria
fim no divórcio entre o exército e o povo, uma vez que o exército nacional seria o
próprio povo e a essência da nacionalidade. É nesse ambiente que, idealizada por
Pedro Lessa e Miguel Calmon, a Liga de Defesa Nacional é criada em 07 de
setembro de 1916 em reunião solene realizada no salão nobre da Biblioteca
31

Nacional contando com o apoio de diversas camadas da sociedade (já neste ano
foi realizado o primeiro sorteio militar de acordo com a lei).22
O Presidente da Liga de Defesa Nacional seria sempre o Presidente da
República. Um Diretório Central composto por 50 personalidades deveria ser o
cérebro da Liga; dentre estes 50 membros eram escolhidos um presidente, onze
vice-presidentes, uma Comissão Executiva e um Conselho Fiscal. Dentre as
atribuições que cabiam ao Diretório Central estava a nomeação de Diretórios
Regionais. 23 O objetivo central da Liga de Defesa Nacional, de acordo com seus
estatutos, era “congregar os sentimentos patrióticos dos brasileiros de todas as
classes” difundindo “a educação cívica, o amor à justiça e o culto ao
patriotismo”.
O fim último da instituição, segundo Leila Capella, era a integridade
nacional e esta integridade seria obtida por meio de dois movimentos: de um lado,
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a busca de todas as adesões possíveis através de uma ampla campanha de


educação cívica complementada pala instrução militar, de outro, o combate a tudo
que não pudesse ser integrado à nação que se idealizava. Dentre estes indesejáveis

22
A Guarda Nacional seria extinta em 1918, pondo fim à dualidade do serviço militar. Uma
missão francesa, chegada em 1920, viria a complementar o trabalho dos “jovens turcos”,
produzindo efeitos na organização do exército e na educação militar. Ibid.
23
Composição da Primeira Diretoria da Liga de Defesa Nacional: Presidente da Liga – Dr.
Wenceslau Braz Pereira Gomes, Presidente da República. Vice-Presidentes – Conselheiro João
Alfredo Corrêa de Oliveira, Almirante Alexandrino de Alencar, Conselheiro Ruy Barbosa,
Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, General Caetano de Farias, Monsenhor Vicente
Lustosa de Lima, Dr. Gabriel Osório de Almeida, Dr. Pedro Lessa, Dr. João Pandiá Calogeras, Dr.
Miguel Couto e Dr. Miguel Calmon du Pin e Almeida. Comissão Executiva – Dr. Pedro Lessa,
presidente; Dr. Miguel Calmon, vice-presidente; Olavo Bilac, secretário geral; Felix Pacheco, 1°
secretário; Dr. Joaquim Luiz Osório, 2° secretario; Affonso Vizeu, Tesoureiro. Conselho Fiscal –
Dr. Homero Baptista, Dr. Alberto de Faria, Dr. Guilherme Guinle. Diretório Central – Conde de
Affonso Celso, Affonso Vizeu, Alberto de Faria, Almirante Alexandrino de Alencar, Dr. Alfredo
Ellis, Dr. Aloysio de Castro, Álvaro Zamith, Antonio Antunes de Figueiredo,
Dr. Antonio Carlos Ribeiro de Andrade, Antonio Muller dos Reis, Dr. Augusto Daniel de Araújo
Lima, Dr. Augusto Olympio Viveiros de Castro, Dr. Bernardo Monteiro, Candido
Gaffrée, Conselheiro Candido de Oliveira, Conde Carlos de Laet, Dr. Carlos Peixoto, Dr. Cícero
Peregrino da Silva, Dr. Clovis Bevilaqua, Felix Pacheco, Conselheiro Francisco de Paula
Rodrigues Alves, Dr. Gabriel Ozório de Almeida, Guilherme Guinle, Henrique Coelho Netto, Dr.
Homero Baptista, Almirante Innocencio de Lemos Bastos; Marechal Jeronymo de Moraes
Jardim; Conselheiro João Alfredo Correa de Oliveira, Dr. João Galeão Carvalhal, João G. Pereira
Lima, Dr. João Pandiá Calogeras, Dr. João Texeira Soares, Dr. Joaquim Luiz Osório, Joaquim
Souza Ribeiro, Jorge Street, Marechal Jose Bernardino Bormann,; General Jose Caetano de
Faria, Almirante Julio Cezar de Noronha; Dr. Luiz Soares dos Santos, Dr. Miguel Calmon, Dr.
Miguel Couto, Conselheiro Nuno de Andrade, Olavo Bilac, Oscar de Porciúncula, Dr. Oscar
Lopes, Dr. Oswaldo Gonçalves Cruz, Dr. Pedro Lessa, Dr. Raul Pederneiras, Conselheiro Ruy
Barbosa e Monsenhor Vicente Lustosa de Lima. Ver Leila Maria Correa Capella. As malhas de
aço do tecido social: a revista “A Defesa Nacional” e o serviço militar obrigatório. 1985. 267
páginas. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal Fluminense, Niterói:
1985.p. 235-236.
32

24
estariam os mestiços, os vagabundos e os analfabetos. Daí derivavam suas
propostas de ação que, conforme constam em seus estatutos, deveriam promover:
a propagação da educação popular e profissional; a difusão da educação cívica em
todas as escolas (civis, militares ou religiosas), nos lares, oficinas, corporações e
associações; defesa do trabalho nacional, da lavoura, da indústria, do comércio,
das ciências e das artes (interessando-se por todas as questões que importariam à
prosperidade, segurança e dignidade do país); o desenvolvimento do civismo; a
fundação e sustentação de associações de escoteiros, linhas de tiro e batalhões
patrióticos; apoio à execução de leis de preparo e organização militar; aconselhar
e facilitar a instrução militar; além do combate ao analfabetismo, ao alcoolismo e
à vagabundagem. 25
Neste contexto de intensa mobilização nacionalista, Olavo Bilac foi, sem
dúvida, um dos maiores entusiastas dos movimentos que emergiram durante a
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primeira década do século XX. Seu ideário viria a permear diversos destes
movimentos, estando o poeta envolvido na fundação, inclusive, da Liga Brasileira
Contra o Analfabetismo. Bilac representa apenas um dos muitos intelectuais ou
homens de letras que compartilhavam da preocupação fundamental que era
identificar os grandes problemas nacionais e buscar soluções para tais problemas.
Tais intelectuais estariam presentes em diversas Ligas, enquanto formuladores de
propostas e como atores efetivos de campanhas que visavam mobilizar a
sociedade, evidenciando uma rede de sociabilidades que era tecida por valores
compartilhados dentro de cada movimento e entre as diversas Ligas fundadas.
A defesa nacional que dava nome à Liga fundada em 07 de setembro de
1916 era definida por Olavo Bilac como sendo:

Tudo para a nação [...] É o lar e a pátria; a organização e a ordem da


família e da sociedade; todo o trabalho, a lavoura, a indústria e o
comércio; a moral doméstica e a moral política; todo o mecanismo das leis
e da administração; a economia, a justiça, a instrução; a escola, a oficina, o
quartel; a paz e a guerra; a história e a política; a poesia e a filosofia; a
ciência e a arte; o passado, o presente e o futuro da nacionalidade. 26

24
Ibid, p. 239.
25
Ibid, p. 237 e 238.
26
Ibid, p. 237.
33

Como podemos notar nada escapa ao conceito de defesa nacional


formulado por Bilac; a noção de defesa nacional, sob este ponto de vista,
representaria a própria nação, uma vez que envolvia praticamente todos os
aspectos sociais desde a economia, a educação, a filosofia, passando pela política,
a família, a história, a guerra, a paz etc. Nessa intensa luta do exército para tornar-
se uma organização nacional e capaz de executar a Defesa Nacional em seu
sentido mais amplo, José Murilo de Carvalho destaca a idéia de soldado-cidadão,
cujo objetivo principal era promover uma abertura da sociedade ao exército,
servindo como ideologia para intervenções militares. A idéia de soldado-cidadão
estaria diretamente relacionada com uma identificação Exército-Nação,
constituindo, desta maneira, uma força nacional que seria de suma importância
para solucionar os problemas nacionais.
O contexto do pós-guerra representava, portanto, um período de
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transformações sociais que permitiu o surgimento de aliados das forças armadas,


assim como fez emergir um engajamento social em torno de temas centrais como
defesa nacional, educação, saúde, voto e representação, civismo, dentre tantos
outros – expressão disto foi o surgimento de Ligas como a de Defesa Nacional e a
Liga Nacionalista do Brasil e as Ligas Nacionalistas estaduais.
Fundada em 1917, a Liga Nacionalista de São Paulo teve uma atuação
marcante, defendendo propósitos semelhantes aos da Liga de Defesa Nacional.
Dentre seus objetivos destacamos, entre outros, a luta pela defesa nacional, o
desenvolvimento da educação cívica, da educação primária e profissional, o
escotismo, as linhas de tiro e o preparo militar, além de um aspecto peculiar
relativo à questão do voto e da representação. Para os membros da Liga
Nacionalista a educação tinha ligações estreitas com a política, uma vez que o Art.
70, § 2o da Constituição Federal proibia ao analfabeto manifestar vontade política.
O que se pretendia, portanto, era corrigir as distorções do sistema político,
combatendo a “abstenção eleitoral bem como todas as fraudes que corrompem e
viciam o exercício do voto”27, uma vez que somente a partir de uma campanha em
prol da alfabetização permitir-se-ia que maior parte da população gozasse de
direitos políticos. Ao lado da difusão do ensino estava, conseqüentemente, o
estímulo ao alistamento eleitoral.

27
Jorge Nagle. Educação e Sociedade na Primeira República, op. Cit, p.70.
34

O combate ao analfabetismo se fazia fundamental para os membros da


Liga Nacionalista de São Paulo uma vez que, em razão da enorme porcentagem
dos que não sabiam ler e escrever, “a vontade nacional se substitui pela vontade
28
de uma minoria insignificante que fala, vota e determina” . A defesa do voto
obrigatório e secreto também seria uma das mais importantes bandeiras
defendidas pela Liga Nacionalista:

O exercício do voto é de fato o remédio único e eficaz para a debelação


dos males terríveis e antigos que afligem o País, e de que inércia popular
foi a causadora inconsciente [...]
O voto obrigatório e secreto, devidamente garantidos, farão a reabilitação
do regime liberal no Brasil, iniciando uma era de ressurgimento cívico,
promovendo a formação da consciência nacional e tornando uma verdade
o regime democrático, isto é, o governo do povo, pelo povo e para o
povo.29
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Em sua interpretação sobre a Liga Nacionalista, ao estabelecer uma


ligação entre a escolarização e problemas de natureza política, Jorge Nagle
destaca a convergência dos objetivos desta Liga e os ideais de representação
política de movimentos revolucionários como o de 05 de julho de 1924 que
contou com o envolvimento de alguns de seus membros. Para Nagle, o ideário da
Liga Nacionalista teria continuidade com a participação de seus principais
representantes na criação do Partido Democrático de São Paulo em 1926.
Neste contexto marcado pela diversidade de proposta e projetos para
regenerar a Nação, um terceiro movimento nacionalista seria organizado em torno
da revista Brazílea, fundada em 1917 por Álvaro Bomilcar e Arnaldo Damasceno,
contando ainda com a colaboração de Jackson de Figueiredo. A revista Brazílea
viria reforçar a importância da difusão da escola primária e do ensino cívico que
serviriam como base da nacionalidade. Além disto, destaca-se em seu programa a
manutenção da religião católica, marcando desde já um compromisso com o
catolicismo – esta escolarização, comprometida com as exigências do catolicismo,
com o passar do tempo representaria a defesa do ensino religioso nas escolas 30 –

28
Ibid.
29
Ibid, p.71.
30
No interior deste grupo, desenvolveu-se um movimento católico que teve como órgão a revista
A ordem e como organização o Centro Dom Vital fundado em 1922, tendo Jackson Figueiredo
como uma de suas principais lideranças. Este movimento católico teve como ponto de partida a
carta pastoral escrita por Dom Sebastião Leme em 1916, que apontava a ausência da instrução
35

a libertação do meio intelectual dos valores portugueses, a nacionalização do


comércio e da imprensa, a valorização do mestiço e a crítica à hegemonia paulista.
Perseguindo tais intuitos, este grupo de intelectuais viria a fundar em 1919, a
Propaganda Nativista, uma associação que deveria se ramificar por todos os
Estados defendendo o lema “O Brasil para os brasileiros”, organizando o estudo
das “coisas brasileiras” e visando mostrar a melhor orientação para conservar a
República e a ordem. 31
Em 1920, o grupo funda a Ação Social Nacionalista, tendo como novo
órgão publicitário o panfleto Gil Blas. Mantinha-se a preocupação com a
emancipação do Brasil, valorizando tudo o que é brasileiro, propagando o civismo
e congregando todos os brasileiros natos. O que nos chama atenção neste terceiro
movimento ora analisado é a presença de um compromisso com o catolicismo
(apesar de o grupo proclamar a ausência de fins religiosos em seu programa de
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atuação) e a defesa do autoritarismo em oposição à idéias do liberalismo político,


num esforço pela integração entre civismo e religião.
Conforme afirmamos anteriormente, ao lado da educação, a saúde também
seria um dos grandes problemas nacionais a serem contemplados pelos projetos
elaborados durante a década de 1910. Neste sentido, um movimento em favor das
questões sanitárias ganharia destaque, tendo como marco a criação da Liga Pró-
Saneamento do Brasil em 11 de fevereiro de 1918 e a estruturação da campanha
pelo saneamento rural. Através da saúde, seria possível curar e civilizar o Brasil,
expurgando fatores indesejáveis para a construção da Nação.

De acordo com Nara Britto, foi a partir de um pronunciamento de Miguel


Pereira – catedrático da Faculdade de Medicina – durante um jantar em
homenagem ao cientista Carlos Chagas em 1916, que teve início uma fase
patriótica do movimento higienista no Brasil ao se referir de forma metafórica às
condições de saúde do país, Pereira utilizou a emblemática frase: “o Brasil é um
imenso hospital”32. O referido discurso teria sensibilizado Belisário Pena para a
idéia de organizar uma campanha pública pelo saneamento rural, sendo

religiosa como uma das principais causas dos males que afligiam a nação. Ver S. Mainwaring. “A
igreja da neocristandade” In: Igreja Católica e política no Brasil (1916-1985). São Paulo:
Brasiliense, 1989.
31
Jorge Nagle, op. Cit, p. 73.
32
Nara Britto. Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 1995. 111p.
36

responsável também por sua filiação a várias entidades nacionalistas da época,


como a Liga de Defesa Nacional, a Liga contra o Analfabetismo e a Sociedade de
Eugenia de São Paulo 33.

O movimento higienista ganhou fôlego a partir de 1916 com publicação de


um relatório referente à expedição feita por Belisário Pena e Artur Neiva em 1912
ao interior do Brasil percorrendo as regiões nordeste e centro-oeste do país. Este
relatório causaria impacto profundo no meio intelectual e político ao evidenciar
quão catastrófico eram o quadro sanitário e as condições de vida no Brasil.
Estava-se diante de uma população abandonada e esquecida. Belisário Penna e
Arthur Neiva ressaltavam “o contraste entre o que observaram e a retórica
romântica sobre o caboclo e o sertanejo, descrevendo o povo como ignorante,
34
abandonado, isolado [...] tradicionalista e refratário do progresso”. Este
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quadro de isolamento seria o responsável pela ausência de qualquer sentimento de


identidade nacional. Vinculava-se, assim, a constituição da nacionalidade à
superação das doenças endêmicas.

O Jeca Tatu, imortalizado pelos contos de Monteiro Lobato, é um exemplo


ímpar da representação de um povo preguiçoso e doente que necessitava da
intervenção médica para se transformar. O primeiro conto em que Monteiro
Lobato nos apresenta o personagem Jeca Tatu, um indivíduo preguiçoso por
natureza, se chama "Urupês" e foi publicado em 23 de dezembro de 1914 no
jornal O Estado de São Paulo. Um segundo texto denominado "Jeca Tatu, a
ressurreição" seria editado em numa série de artigos publicados em 1918, também
em O Estado de São Paulo, tendo como epígrafe "O Jeca não é assim: está
assim"35. Neste segundo conto de Lobato evidencia uma verdadeira ressurreição
do caboclo através da intervenção médica. A chegada de um doutor à casinha de
sapê onde residia Jeca Tatu modifica toda a história. O caboclo não era um
preguiçoso por natureza; estava doente (sofria de anquilostomíase).
Diagnosticava-se a existência de um povo doente, mas afirmava-se a possibilidade
de recuperá-lo pelas ações da higiene e do saneamento, fundamentadas no
33
Ibid, p. 9 e 10.
34
Ver Gilberto Hochman. A Era do Saneamento: as bases da política de saúde pública no Brasil.
São Paulo: Editora HUCITEC - ANPOCS, 1998, p. 67
35
Ver "Urupês" em 23/12/1914, O Estado de São Paulo e "Jeca Tatu, a ressurreição", artigo que
compõe O Problema Vital, obra de 1918 em que Monteiro Lobato reuniu uma série de 14 artigos
veiculados pelo jornal O Estado de São Paulo.
37

conhecimento médico e que deveriam ser implementadas pelas autoridades


públicas.
A Liga Pró Saneamento do Brasil contaria com o apoio de muitos
intelectuais que se dedicariam a fazer palestras, propaganda e apresentação de
dados sobre o quadro sanitário brasileiro. O objetivo principal da Liga era a
criação de uma agência pública de âmbito federal que uniformizasse o serviço de
saúde em todo o território nacional. Tal propósito visava, sobretudo, superar os
limites impostos pela Constituição de 1891 que restringia a ação da União na área
da saúde pública ao Distrito Federal e aos portos. O movimento sanitarista
atestaria a incompetência dos estados para tratar da saúde e do saneamento,
apontando a necessidade de penetração do poder central em todo o território
nacional com a uniformização/centralização dos serviços sanitários. 36
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Em suas considerações sobre o movimento sanitarista, Gilberto Hochman


traz um importante argumento acerca do contexto que estamos analisando.
Hochman afirma que a políticas públicas no Brasil da Primeira República tiveram
papel fundamental no aumento da capacidade do Estado de intervir sobre o
território nacional. O movimento sanitarista buscou, por meio de uma intensa
campanha, convencer a sociedade de que os sertões eram uma ameaça, havendo a
necessidade urgente de se transferir as responsabilidades com a saúde e o
saneamento para o poder central. Foram criadas diversas instituições que
contemplassem tal objetivo. Como um dos desdobramentos da Liga Pró-
Saneamento do Brasil em 1919 seria criado pelo governo federal o Departamento
Nacional de Saúde Pública que centralizaria as ações da saúde pública em todo o
país. 37

O que Gilberto Hochman está evidenciando é a centralidade assumida


pelas políticas de saúde e saneamento no processo de construção do Estado
nacional durante a Primeira República. Hochman afirma que a dominação
oligárquica não foi um obstáculo à centralização e intervenção estatal, mas sim
algo compatível com este processo.

36
Ibid, p. 82
37
Ver também Gilberto Hochman. “Regulando os efeitos da interdependência: sobre as relações
entre saúde pública e construção do Estado (Brasil 1910-1930)”. Estudos Históricos. Rio de
Janeiro: Ed. FGV, 1993, v. 11, pp. 40-61.
38

Há que se considerar, portanto, a complexidade dos movimentos que


emergem no Brasil pré-1930. Movimentos que demonstram preocupação central
em pensar a Nação e o brasileiro e que se manifestavam através da elaboração de
projetos variados envolvendo educadores, higienistas, militares, católicos etc.
Todos impregnados por uma reflexão que passaria a permear as primeiras décadas
do século XX e que envolvia os rumos que a Nação deveria tomar.
Em meio a este contexto, em 1915 é fundada a Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo. Percebemos que, paulatinamente, a escola – imagem de novos
tempos, tempos de civilização – ia sendo colocada como peça central na formação
das gerações vindouras. Ao lado da saúde, a educação era o nosso problema
básico e a solução para este problema estava relacionada à construção da nação,
sendo apontada como estratégia civilizatória. A formação de um povo
civilizado/ordeiro estava vinculada ao destino da pátria. Para os intelectuais
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fundadores das diversas Ligas que analisamos, a instrução direcionava para


transformações na sociedade, estando de acordo com os processos modernos. Nos
capítulos que se seguem, nos dedicamos à análise dos propósitos e ações
desenvolvidas pela Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Observaremos que, a
exemplo das considerações feitas por Hochman em sua análise sobre o
movimento sanitarista, as Ligas fundadas durante os anos de 1910-20 ainda têm
muito a nos revelar acerca da história e da mobilização social neste país.
3
Combater o Analfabetismo é dever de honra de todo
brasileiro
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O Brasil, na expressão feliz de um de nossos mais


ilustres escritores, realiza a anomalia surpreendente
de ser um país novo povoado de ruínas. É que nos
faltam, por completo, qualidades de perseverança,
espírito de continuidade. Daí a desorganização em
que vivemos. Iniciamos, com ímpeto e uma grande
energia aparente, empreendimentos, que são, logo
depois, inexplicavelmente abandonados (...) Não
queremos desanimar os fundadores da Liga
Brasileira Contra o Analfabetismo. Queremos
exatamente incitá-los a dar, paralelamente ao do
analfabetismo o combate a esse desânimo e a essa
indiferença, dentro dos quais as mais belas
iniciativas se perdem.
Essa campanha é, sem dúvida, a mais urgente e
importante de quantas temos a empreender no
Brasil.1

1
Trecho retirado de “Liga Contra o Analfabetismo”. O Paiz, 08/09/1915, p.2. Não consta autoria.
40

Em abril de 1915, um grupo de intelectuais identifica o analfabetismo


como uma das nossas maiores calamidades, apontando ainda que nada ou muito
pouco havia sido feito até aquele momento para conter esse terrível mal2. Visando
fazer algo de prático e proveitoso no combate ao analfabetismo, tais homens de
letras fundariam uma associação que passariam a se reunir semanalmente. A
fundação da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo3 seria comunicada à
imprensa através da seguinte carta remetida por Raimundo Pinto Seidl:

Sr. Redator de A NOITE – Saudações muito cordiais – Pretendem


algumas pessoas, impulsionadas pelo seu amor ao Brasil, fundar nesta
capital uma associação, com ramificações em todo o país, afim de atuar
junto aos poderes públicos federais, estaduais e municipais, e junto à
população, para que se possa comemorar o centenário da Independência,
declarando livre do analfabetismo, “pelo menos”, as cidades e vilas
brasileiras [...] O êxito desta tentativa depende principalmente do apoio
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que lhe prestar a imprensa do país, pois sem esse apoio não será possível
obter-se o concurso do povo brasileiro, condição indispensável para a
realização da idéia.4

A carta comunicava ainda sobre uma reunião de instalação da Liga que


ocorreria no dia 21 de abril no Clube Militar. Logo após a reunião de instalação, o
Secretário Geral da LBCA, Major Raimundo Seidl, daria entrevista ao jornal “A
Noite”. O Jornal havia procurado o Major para conhecer e transmitir ao público a
forma como pretendia a Liga Contra o Analfabetismo dar início à “santa
cruzada”5. O Secretário Geral reafirmaria os fins da associação, dando alguns
esclarecimentos sobre as ações a serem empreendidas.

[A NOITE] Como procederá a Liga para a realização desse


“desideratum”?

[SEIDL] De dois modos: Primeiro convencendo o povo das grandes e


inestimáveis vantagens que resultarão da extinção do analfabetismo para
todo o país; segundo conseguindo dos poderes públicos leis que

2
“Uma cruzada Santa. O melhor meio de comemorarmos o Centenário da Independência”. A
Noite, 22/04/1915, p.1.
3
A partir daqui, quando nos referirmos à Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, utilizaremos a
sigla LBCA.
4
“A comemoração do Centenário da Independência. A fundação de uma associação com
ramificações em todo país”. A Noite, 19/04/1915, p.2.
5
.”Uma cruzada Santa. O melhor meio de comemorarmos o Centenário da Independência”. A
Noite, 22/04/1915, p.1.
41

recompensem as cidades e vilas que mais se libertarem desse mal. Quer


para um, quer para outro ponto, esperamos o valioso concurso da
imprensa.

[A NOITE] E quais são as medidas governamentais pedidas pela LCA?

[SEIDL] Primeiro que se declare que de 13 de maio de 1917 em diante


não serão admitidos a exercer funções públicas, civis ou militares de
espécie alguma, indivíduos analfabetos; sendo demitidos nesta data os que
não souberem ler e escrever. Segundo, que da referida data em diante, se
paga uma taxa adicional pelos estabelecimentos fabris e comerciais, de
qualquer natureza, onde existam empregados analfabetos; terceiro, que se
crie a partir dessa data um imposto para os analfabetos maiores de sete
anos. Para estimular a difusão do ensino, procuramos obter leis que
recompensem as sociedades propagadoras da instrução, os
estabelecimentos particulares que mantenham escolas gratuitas, as pessoas
que exerçam graciosamente o magistério primário e a cidades e vilas que,
por ocasião do Centenário, estejam libertas do analfabetismo.
Procuraremos também concorrer para que os detentos e sentenciados
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recebam instrução primária nas próprias prisões.

[A NOITE] E esperam sair vencedores nessa campanha?

[SEIDL] A vitória dependerá sobretudo do apoio que o povo e a imprensa


prestarem à grande causa. A atitude dos poderes públicos resultará
necessariamente da ação dessas duas forças.6

Logo no dia seguinte após a publicação desta entrevista, Raimundo Seidl


pediria ao jornal algumas correções da mesma para evitar possíveis equívocos.
Seidl queria deixar claro que as idéias colocadas na entrevista eram opiniões suas,
podendo ser acatadas ou não pela LBCA; e que para aderir a esta não era
necessário adotar tais idéias. Certamente, a entrevista publicada no dia 22 de abril
provocara algumas reações da opinião pública, uma vez que o Major Seidl, pede a
retificação de alguns pontos. No que concerne ao “imposto sobre analfabetos”,
mencionado na entrevista, Seidl afirma que a intenção era que se criasse uma taxa
de entrada para os analfabetos maiores de 7 anos que, a partir da data referida na
entrevista, quisessem se estabelecer no país. O desejo era que se impedisse ou
pelo menos muito se dificulte a “importação” de analfabetos.
Entretanto, a entrevista dada pelo Secretário Geral da LBCA já
evidenciava os traços principais da campanha que se iniciava naquele momento.
Tais traços referem-se, sobretudo, à necessidade de se convencer o povo da

6
Ibid.
42

urgência em se extinguir o analfabetismo no Brasil, visando o engajamento da


sociedade em favor da campanha e à busca pelo apoio dos poderes públicos na
aprovação de leis que auxiliassem na obtenção dos fins da Liga. Um terceiro
aspecto ressaltado por Seidl refere-se ao valioso auxílio da imprensa apontada
como veículo fundamental para que a campanha alcançasse êxitos junto ao povo e
aos poderes públicos.
Para o Secretário Geral da Liga, nem os governos monárquicos, nem os
governos oligárquicos haviam dado ao problema da instrução pública a devida
atenção. Nas suas palavras:

Digo governos oligárquicos porque ninguém, falando sinceramente,


poderá dizer que vivemos sob um regime republicano, o qual não se
estabelecerá no Brasil, enquanto a maioria do povo brasileiro estiver sob
as patas aviltantes do analfabetismo. 7
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As idéias contidas na colocação de Seidl muito se aproximam das idéias


presentes na década de 1920 e sintetizadas na obra organizada por Vicente Licínio
Cardoso, À margem da História da República, já analisada anteriormente. Na
visão apresentada, analfabetismo e república se contradizem. A república só seria
uma realidade no Brasil quando o povo fosse senhor de sua opinião, livre do
analfabetismo.

A finalidade da LBCA era combater o analfabetismo no Brasil e se


esforçar para que, ao comemorar o primeiro Centenário de sua independência
política, a nação brasileira pudesse proclamar livres do analfabetismo as suas
cidades e vilas. Defendendo o lema: “Combater o analfabetismo é dever de honra
de todos os brasileiros” a associação realizaria sua sessão inaugural no salão nobre
do Clube Militar8 no dia 07 de setembro de 1915, promovendo, a partir daí,
sessões semanais tendo como sede o Liceu de Artes e Ofícios.

As datas simbólicas escolhidas para a fundação e para a realização da


sessão inaugural da LBCA representam aspecto importante a ser destacado. Os

7
“Uma cruzada santa! A luta contra o analfabetismo”. A Noite, 23/04/1915, p.2.
8
“O Pão do espírito. Inaugurada hoje a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”, A Noite,
07/09/1915, p.3. A notícia da inauguração da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo seria
publicada ainda nos jornais O Paiz (“Liga Contra o Analfabetismo”. O Paiz, 08/09/1915, p.2) e
Gazeta de Notícias (“A inauguração da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. Gazeta de
Notícias, 08/09/1915, p.4.
43

dias 21 de abril (comemoração dos precursores da independência brasileira, com


relevo para a figura de Tiradentes), 7 de setembro (Independência do Brasil) e o
13 de maio (fraternidade dos brasileiros), estavam entre as festas nacionais que a
República “mandou guardar” 9, reforçando a idéia de que o republicanismo teve
sua origem no passado da pátria e construindo memórias coletivas que definiam
os heróis que não deveriam ser esquecidos. O 13 de maio, sobretudo, servirá como
data símbolo para diversas ações da Liga que a exemplo da libertação dos
escravos em 1888, buscava libertar os brasileiros do analfabetismo.

À sessão inaugural, que contou com a presença de alunos da Escola José


Bonifácio entoando o Hino Nacional e o da Independência, fizeram-se representar
o Presidente da República e o ministro do exterior. Dentre os membros de sua
diretoria, que seria aclamada naquela data, e entre os sócios fundadores,
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encontramos médicos, advogados, homens de letras e inúmeros militares.

A primeira diretoria da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo que atuou


entre os anos de 1915-1922 seria composta pelos seguintes nomes: Presidente: Dr.
Antonio Ennes de Souza; 1º Vice-Presidente: Vicente Neiva; 2º Vice–Presidente:
Professora educadora Maria do Nascimento Reis Santos; 3º Vice-Presidente: Dr.
Homero Batista; Secretário Geral: Major Raimundo Pinto Seidl; 1º Secretário:
Edgard Ribas Carneiro; 2º Secretário: Francisco Pinto Seidl; Tesoureiro: Dr. Julio
da Fontoura Guedes.10 Fichas de declaração de adesão seriam enviadas aos

9
Ver Lúcia Lippi de Oliveira, “As festas que a República manda guardar” In: Estudos Históricos,
Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1989, v. 2, pp. 172-189.
10
Ibid. Conselho Deliberativo: Irineu Marinho, Irene de Avellar Penteado, Leonidia Ferraz
Teixeira, Dr. Álvaro Baptista, Dr. Carlos Pinto Seidl, Marcelino Penteado, Tenente Antonio Freire
de Vasconcelos, Prof. José Antônio Gonçalves, Capitão de Corveta Raul Elysio Daltro, Prof. José
Ferreira da Rosa, Lindolfo de Azevedo, Dr. Oscar Thrompowsk Leitão de Almeida, Dr. José
Honório Menelick. Sócios Fundadores: Tenente da Marinha José Valentim Dunham Filho, Manoel
Pedro da Cunha, Edgard Bretas, Perseverando da Silva Oliveira, M. Jacy Monteiro, Francisco
Pinto, José Ribeiro Gomes, Dr. Aurélio Domingues, Dr. Nicanor Queiroz do Nascimento, Alfredo
Carlos de Mello, Augusto Santos, Luiz Eusébio de Mello Castello Branco, Dr. Carlos dos Santos
Imbassahy, Prof. Maria da Conceição Reis da Silva, Tenente da Marinha Octavio Sanctos, Carlos
da Rocha, Luiz Palmier, Dr. Affonso José dos Santos, Prof. Jardilina Carolina Rodrigues, Roberto
Pinto Seidl, Pedro Leite Bastos, Virgilio Ramos da Silva, Tenente da Marinha Agenor Sanctos,
Pedro Sérgio da Cunha, Laura de Oliveira Sanctos, Erik Jacobson, Capitão Manoel Alves da
Rocha Pinto, Álvaro Castilho, Dr. Francisco Lopes de Oliveira Araújo, Dr. Fábio Lopes dos
Santos Luz, Raul Pinto de Mendonça, Coronel Dr. José Maria Moreira Guimarães, Francisco Vaz,
H. Z. Tucker, Dr. Nuno Pinheiro de Andrade, Dr. Taciano Accioly Monteiro, Coronel José
Francisco Firmino, Dr. Francisco Bittencourt da Silva Filho, Coronel Tasso Fragoso, Luiz Gabriel
da Silva Mello, Corinto da Fonseca, Prof. Alberto Moreira Alves, Poeta Olavo Bilac, J. W.
Leopard, Dr. Asterio Jobin, Tenente da Polícia Militar Dr. Albino Monteiro, Dr. Leôncio Corrêa,
Esther Sanctos, Paulo Viriato da Fonseca Galvão, Maria Emília da Rocha Sanctos, Judith Sanctos,
Corina Berlinck da Silva, Prf. Leonor Bastos Brandão, Capitão de Mar e Guerra Dr. Henrique
44

associados cujas contribuições não poderiam ser menores que 500 réis, aceitando-
se ainda qualquer outra oferta de artigos escolares ou serviços didáticos. Solicitar-
se-ia também apoio da corporação legislativa na aprovação de projetos que
contemplassem os propósitos do movimento então fundado. Aos redatores dos
jornais, pedia-se um espaço (diária ou semanalmente) para a propaganda do lema
de combate ao analfabetismo.

De acordo com os Estatutos11 da Liga, o mandato da Diretoria e do


Conselho Consultivo seria de 7 anos, devendo a eleição ser realizada na
Assembléia Geral Ordinária de agosto do último mandato. A diretoria e o
Conselho Consultivo reunir-se-iam em sessões conjuntas, semanalmente, e em
hora e dia previamente combinados.
Competia ao Presidente da associação:
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A) Representar a Liga em juízo ou fora dele;


B) Instalar e presidir as Assembléias Gerais Extraordinárias e as Sessões da
Diretoria e Conselho Consultivo;
C) Nomear as comissões que tenham de atuar junto aos poderes públicos e junto
à População, podendo convidar para isso Sócios pertencentes ou não à
Diretoria e ao Conselho.
D) Nomear delegados da Liga para as localidades onde não existam associações
congêneres.
Ao Conselho Consultivo caberia colaborar com a Diretoria na propaganda
contra o analfabetismo, sugerindo planos, medidas, projetos e processos para
atingir o ideal da Liga. Ficava a cargo do Secretário Geral dirigir os trabalhos da
Secretaria da Liga e a correspondência epistolar com as autoridades públicas ou
com os particulares, assinando o que for determinado pelo Presidente; escolher
dentre os sócios da Liga os que tenham de exercer as funções de 1º e 2º
Secretários e substituir o Presidente na ausência dos Vice-Presidentes.

Ferreira Santos Reis, Odette Fernandes Fortuna, Nair Sanctos, Dr. Mario Sanctos, Tenente da
Marinha Flávio Sanctos, Edith Caldas, Dr. Ricardo Joaquim da Cunha Júnior, Tenente Nelson
Simas de Souza, Coronel Esperidião Rosas, General Joaquim Ignácio Baptista Cardoso, Tenente
da Marinha Cícero Bernardino dos Santos. Ver também, “Uma cruzada Abençoada. A Liga
Brasileira Contra o Analfabetismo realizou uma importante sessão”, A Noite, 30/08/1915, p.3, que
informa sobre a adesão de 150 pessoas da capital além de 18 pessoas que poderiam ensinar
gratuitamente nas escolas a serem fundadas.
11
Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, 1941. Localização: II-291,4,15 (Biblioteca Nacional
- Obras Gerais), pp.15-19.
45

Mas, quem eram estes médicos, estas senhoras, senhoritas, homens de


letras e militares que compunham a LBCA? O que significava fazer parte de uma
associação como esta?

3.1 Um dever de honra!

Não se trata de fibra humanitária, de fibra carinhosa de caridade que


veste o esfarrapado, que alimenta ao faminto, que consola o
desesperado, que sustenta o fraco com o simples intuito esmoler do
corpo material, por que estes predicados são acessórios de uma vida
curta e limitada.
Não se trata de um altruísmo produto íntimo, que pode ser de uma
vaidade comum, mas sim d’aquele que emana do desinteresse pessoal,
incompatível com as honras fofas e com bazófias; d’aquele que sintetiza
a virtude cívica na sua mais alta acepção, no seu maior elemento, qual
sentinela avançada do sistema republicano; qual alavanca eficiente dos
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maiores interesses da Pátria neste momento, como seja a formação


intelectual de um povo da qual possa ressaltar uma opinião nacional,
surgindo assim a verdadeira nacionalidade. 12

O trecho, retirado de um discurso proferido pela professora Maria


Nascimento Reis Santos em 07 de setembro de 1919, informa-nos sobre o que,
para a autora, representava fazer parte da LBCA. Não se tratava de caridade,
consolo ou vaidade, mas sim de desinteresse pessoal sintetizado por uma virtude
cívica cujo foco principal deveria ser a “formação intelectual de um povo” que
resultaria no surgimento da “verdadeira nacionalidade”. Os membros da Liga se
investiam de uma verdadeira missão cívica que deveria culminar com a formação
intelectual do povo. A ausência desta formação representava uma pedra no
caminho rumo ao progresso; além disto, o analfabetismo impedia que o país fosse,
de fato, uma República, uma vez que o povo não possuía opinião.
A campanha de combate ao analfabetismo via na educação a chave mágica
que abria as portas do progresso e da civilização, tendo como alvo principal a
formação de cidadãos. O descontentamento com a República fica evidente:

A República fez-se no meio da maior complexidade social, investindo


contra todos os preconceitos imagináveis; não ousou, porém, investir
contra o analfabetismo septuagenário e, assim proclamada, mas não
totalmente consolidada, se prepara, em regozijo de nossa evolução

12
Ibid. pp. 25-29.
46

progressista, para solenizar, pomposamente, o Primeiro Centenário da


emancipação política do Brasil [...] O Congresso Nacional legislou o
sorteio militar, visando a face material como base preliminar das nossas
instituições e deu de ombros à face intelectual, esquecendo que a treva do
espírito, solapando o brio cívico, anula a consciência do cidadão podendo
provocar a desordem e subversão [...] 13

O trecho de 1919 faz uma menção direta às ações que vinham sendo
empreendidas no âmbito da defesa nacional com a lei do sorteio militar de 1916,
bandeira defendida pela Liga de Defesa Nacional. Porém, em relação à instrução,
base da formação de cidadãos e que deveria ser o primeiro elemento da Defesa
Nacional, o que se verificava, de acordo com a professora Maria Santos era o
“dar de ombros” por parte do Congresso Nacional.
O foco central das colocações feitas neste discurso refere-se à idéia de que,
para a República se consolidar de fato no Brasil, a educação precisava ser
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entendida como condição essencial para a participação efetiva do povo,


implicando, assim, todas as virtudes (cívicas e políticas) como o bem servir à
pátria e o ideal de ordem e de obediência.
A Proximidade do Centenário da Independência era peça fundamental na
formulação de estratégias e na ênfase sobre o problema do analfabetismo no
Brasil:

Neste intuito, se preparam com grande antecedência os maiores


mostruários de ordem e progresso.
Reunir-se-ão congressos artísticos, industriais, agrícolas, comerciais,
literários e científicos.
A música, as flores, as luzes, os banquetes, as paradas militares de terra e
mar, as corridas, as regatas, em suma, todos os jogos esportivos e,
finalmente, os fogos de artifício (como se de artifício não vivesse um povo
analfabeto) ocuparão espaços embandeirados para embriagar a massa
popular na voragem das diversões [...]
O verdadeiro patriotismo nos ordena suprimir as deslumbrantes festas que
devem assombrar o mundo, para ostentar a nossa pretensa grandeza, o
nosso parco progresso, obtido em trinta anos de molde republicano
analfabeto e por um absurdo político, isto é, de uma conseqüência
incoerente, infiel e suspeito de uma diretriz exata, permanente, de uma
orientação larga e eqüitativa, de um molde de sistema, em suma, que
muito se aproxima de um conglomerado de oligarquias. 14

13
Ibid.
14
Ibid.
47

Para os envolvidos no combate ao analfabetismo, a comemoração de 1922,


só fazia sentido se todos os esforços e dedicação dos brasileiros, em nome de um
patriotismo genuíno, se consubstanciassem numa declaração de guerra ao
analfabetismo. A festa do Centenário só teria brilho se o presidente da república
pudesse anunciar a todos os presentes a seguinte nota diplomática:

Senhores Embaixadores dos países civilizados do globo terrestre: assegurai


aos vossos governos que a República dos Estados Unidos do Brasil, o maior
bloco territorial de uma Nação na América do sul, acaba de derrubar, de
uma vez, a mais forte barreira anti-progressista de sua nacionalidade: O
ANALFABETISMO! 15

Apenas desta forma, teríamos o que comemorar realmente; se


conseguíssemos preparar, dignificar e reabilitar nossa nação através da formação
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intelectual do nosso povo; desenvolvendo suas virtudes cívicas. Afinal, somente


através da instrução popular o ideal republicano seria alcançado.
Visando melhor compreender quem eram os engajados na campanha da
LBCA, achamos válido fazer uma breve biografia de alguns membros da sua
primeira diretoria.
O Presidente da LBCA, Dr. Antonio Ennes de Souza, nasceu em São Luiz
do Maranhão em 1848, doutorou-se em ciências físicas e naturais em Zürich,
sendo membro da Sociedade Química de Berlim. Ennes de Souza teria participado
da propaganda republicana, sendo ainda identificado como um abolicionista. Seu
nome estaria ligado a personalidades como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio.
Foi o primeiro presidente da Sociedade Nacional da Agricultura fundada no
primeiro semestre de 1897. Foi ainda diretor da Casa da Moeda, publicou várias
obras sobre mineralogia e geologia e foi organizador de uma biblioteca popular no
Maranhão por volta de 1871. Ennes de Souza, que era professor de Engenharia de
Minas na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, foi deputado à Constituinte
Federal de 1891.16
Já no Século XX, Ennes de Souza foi um dos fundadores da Sociedade
Brasileira de Ciências (fundada em 3 de maio de 1916, no salão nobre da Escola
Politécnica do Rio de Janeiro), onde assumiria o posto de Vice-Presidente em

15
Ibid.
16
Ver “Ennes de Souza” In: Grande Enciclopédia Delta Larrousse. Rio de Janeiro: Editora
Delta S.A, 1978, Vol. 14, p.6412.
48

substituição à Oswaldo Gonçalves Cruz, falecido em 1917. A Sociedade


Brasileira de Ciência era composta em sua maioria por médicos e engenheiros,
dentre estes destacamos nomes como Henrique Charles Morize (Presidente),
Joaquim Cândido Costa Senna (um dos vice-presidentes), João Alberto
Constantino Löffgreen (Secretário Geral), Everardo Adolpho Backheuser (1º
Secretário), Edgard Roquette-Pinto (2º Secretário), Alberto Betim Paes Leme
(Tesoureiro), André Gustavo Paulo de Frontin, Manoel Bonfim, entre outros. 17
Sobre o Primeiro Vice-Presidente, Dr. Vicente Neiva, sabemos que ele
nasceu em Recife a 31 de Janeiro de 1864, formara-se na Faculdade de Direito em
1886, iniciando sua vida pública através da magistratura. Exerceu diversos cargos
públicos, sendo membro da Assembléia Constituinte na Paraíba e Juiz de Órfãos e
Chefe de Polícia na capital do Espírito Santo. Na capital federal, foi nomeado
Delegado de Polícia em São Cristóvão e depois Delegado Auxiliar do Governo
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Prudente de Moraes (neste período, foi relator do atentado de 5 de Novembro de


1897 que resultou na morte do Marechal Bittencourt, então Ministro da Guerra).
Ainda no Governo Prudente de Moraes, Vicente Neiva seria nomeado Auditor
Geral de Marinha em 1898. Na presidência de Hermes da Fonseca, Neiva foi
nomeado Ministro, interino, e depois, por decreto de 15 de Abril de 1914,
Ministro Efetivo do Supremo Tribunal Militar, ficando no cargo durante quase 13
anos. Vicente Neiva foi um nome de destaque dentro da Maçonaria, foi membro
da Loja “Amizade Fraternal”, onde recebeu a “luz maçônica” em março 1897 e da
qual foi Venerável em 1903. Membro da Soberana Assembléia Geral, como
representante da Benemérita Loja Estrella Caldense, em 1925, Vicente Neiva foi
eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, após a renúncia do Grão Mestre
Mário Behring, ocorrida em 13 de julho de 1925. Neiva faleceu em 18 de
fevereiro de 1926. 18
A professora Maria do Nascimento Reis Santos nasceu na cidade de Nova
Laje, no estado da Bahia, fez seu primeiro curso na cidade de Jaguaribe, sendo
diplomada em 1881 pela Escola Normal de Salvador. Exerceu o magistério em
Desterro, atual Florianópolis e em 1884 veio para o Rio de Janeiro, obtendo em
concurso uma cadeira no Município Neutro. Começou a trabalhar em Guaratiba,

17
Disponível em <http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/P/verbetes/acadbrci.htm>
Acesso em 09 de junho 2008.
18
Disponível em <http://prumo.gob.org.br/Museu/hex22.aspx>. Acesso em 09 de junho 2008.
49

Realengo, Engenho Novo e S. Cristóvão para depois inaugurar a Escola Modelo


José Bonifácio. Nesta escola, deu expansão aos seus ideais ensinando centena de
crianças e a grande número de professoras (Metodologia e Pedagogia) desde
1902 até 1917 quando se jubilou. Maria Santos fundou diversas Caixas
Beneficentes Escolares e foi a idealizadora do lema da Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo: “Combater o Analfabetismo é dever de honra de todo brasileiro”.
Faleceu em 15 de março de 193019.
Acerca do 3º Vice-Presidente Dr. Homero Batista sabemos que nasceu em
São Borja (RS) em 1861, estudou direito em São Paulo, concluindo o curso na
Faculdade de Recife. Homero Batista havia participado da campanha
Republicana, sendo um dos representantes gaúchos à constituinte da República.
Foi presidente do Banco do Brasil (1912) e dirigiu o Ministério da Fazenda
(1919-1922) no governo Epitácio Pessoa.20 Além disto, Homero Baptista foi um
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dos fundadores da Liga de Defesa Nacional (fundada em 07 de setembro de


1916), sendo membro do conselho fiscal da mesma. 21
Conseguimos obter poucas informações sobre o Secretário Geral da
LBCA Major Raimundo Pinto Seidl, sabemos apenas que foi um dos fundadores
da Sociedade Teosófila em 1919 e que é autor do livro “O Duque de Caxias:
Esboço de Sua Gloriosa Vida”, publicado em 1903.
Dentre os membros do Conselho Deliberativo, destacamos nomes como o
do jornalista Irineu Marinho, nascido em Niterói em 1876 e que em 18 de julho de
1911 funda no Rio de Janeiro o vespertino “A Noite” e em 1925 o jornal “O
22 23
Globo” ; além do médico Dr. Carlos Pinto Seidl que em 1912 assumiu a
direção da Diretoria Geral da Saúde Pública e que pertenceu a diversas sociedades
científicas estrangeiras e nacionais como a Sociétè d´Hygiène, de Paris,
Associação Internacional contra a Tuberculose, a Academia Nacional de Medicina
e a Sociedade de Medicina Legal do Rio de Janeiro, sendo o primeiro presidente
organizador do Sindicato Médico Brasileiro, em 1928.

19
Ver “Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”, 1941, op.cit, p.65.
20
“Homero Batista” In: Grande Enciclopédia Delta Larousse, op. cit, Vol. 2, p. 801.
21
Disponível em <http://www.ligadadefesanacional.org.br/actaprimeira.htm>.Acesso em 09 de
junho 2008.
22
Disponível em r <http://pt.wikipedia.org/wiki/Irineu_Marinho>.Acesso em 09 de junho 2008.
23
“Carlos Pinto Seidl” In: Grande Enciclopédia Delta Larousse, op. Cit, Vol. 13, p. 6235.
50

Entre os sócios fundadores chama-nos a atenção a participação do poeta


Olavo Bilac, membro também da Liga de Defesa Nacional, e do Dr. Luiz Palmier,
um intelectual reverenciado pela memória coletiva de São Gonçalo por suas ações
relacionadas à saúde, ao civismo, à cultura, à educação e à política, sendo membro
atuante da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo. Além destes, destacamos a
participação de diversas senhoras, alguns membros pertencentes à mesma família
(como, por exemplo, as famílias Penteado e Seidl), médicos etc. Percebemos,
assim, que a LBCA congregava indivíduos dos mais diversos grupos sociais, com
destaque para a participação intensa de militares, sobretudo em razão da difusão
da idéia de soldado-cidadão e a noção ampla de defesa nacional, conforme
observamos no capítulo anterior, o que fazia com que muitos destes membros
freqüentassem os diversos tipos de associações fundadas neste contexto. Este
pertencimento marcaria uma reciprocidade entre tais instituições.
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De acordo com os Estatutos, competiria aos sócios da Liga:


A) Atuar em prol do objetivo da Liga, pelo pensamento, pela palavra e pela ação;
B) Cumprir fielmente as disposições dos Estatutos, esforçando-se com toda a
dedicação pela realização do patriótico objetivo visado pela Liga, lembrando-
se sempre de que para quem ama verdadeiramente o Brasil, é um dever de
honra, procurar por todos os meios e modos eliminar o analfabetismo do
território nacional;
C) A fim de atuar pelo exemplo, assumir o compromisso de influir pessoalmente
a favor da Instrução de um Analfabeto no mínimo;
D) Exercer, quando for designado pela Diretoria, a função de Delegado da Liga
regendo no exercício dessas funções pelas instruções que serão organizadas
pela Diretoria.
Os sócios que oferecessem seus serviços didáticos seriam aceitos para
lecionar nas escolas particulares, fundadas ou não pela Liga. Além disto, os
sócios poderiam e deveriam tomar iniciativa pessoal sobre qualquer medida útil à
realização do ideal da Liga. O número de sócios era ilimitado, desde que fossem
residentes no Brasil ou no estrangeiro quando brasileiros natos.
Como podemos perceber a sociedade como um todo, independente de
classe ou sexo, era convocada a atuar junto à LBCA, cumprindo a missão de
combater o analfabetismo não como um ato de caridade, apenas, mas como um
dever de honra dos que queriam e deveriam ajudar a construir nossa nação.
51

3.2 A Atuação da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo

3.2.1 Definindo estratégias de ação

Após a sessão de inauguração no dia 7 de setembro de 1915, a Diretoria e


o Conselho Deliberativo da Liga Contra o Analfabetismo organizaria algumas
comissões visando dar início aos trabalhos. 24 Tais comissões ficaram organizadas
da seguinte forma:

Comissões Organizadas pela Liga Brasileira Contra o Analfabetismo


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Comissão para trabalhar junto ao Dr. Álvaro Baptista


poder legislativo federal Vicente Neiva,
Tenente Coronel Moreira Guimarães
Dr. Bittencourt da Silva Filho
Capitão Tenente Raul Daltro

Comissão para atuar junto aos Professora Maria dos Reis Santos
poderes municipais Álvaro de Castilho
Marcellino Penteado
Corinto da Fonseca
Franco Vaz

Comissão para atuar pela criação de Irene de Avellar Penteado


escolas para analfabetos pelas Ennes de Souza
associações religiosas, de auxílios Taciano Accioly Monteiro
mútuos, industriais, esportivas ou de Asterio Jobim
qualquer outra natureza Francisco Lopes de Araújo
Major Raimundo Seidl
Capitão Manoel Alves da Rocha Pinto

Olavo Bilac
Corinto da Fonseca
Conselho Deliberativo Professor Alberto Moreira Alves
J. W. Shepard
Dr. Astério Jobim

24
“Uma campanha patriótica. Prosseguem vitoriosamente os trabalhos da Liga Contra o
Analfabetismo”. A Noite, 15/10/1915, p.4.
52

Professor Alberto Cardoso


Deputado Federal José Augusto de
Medeiros
Dr. Alípio Doria

Podemos perceber que a idéia era atuar de forma simultânea junto aos
poderes municipais, estaduais e federais e na busca pelo apoio da sociedade civil;
sendo estas as estratégias fundamentais de atuação da Liga.
O desenrolar destas estratégias encaminha-nos para uma série de ações que
visavam o combate ao analfabetismo, seja através da fundação de escolas ou pela
propaganda contra aquele que era considerado o nosso maior mal, que se daria
das mais variadas maneiras, acarretando também os mais diversos tipos de apoios
e doações. Além disto, a organização de conferências e de festivais em benefício
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das causas da instituição também serviam como estratégia de atuação, conforme


veremos a seguir.
Chama-nos a atenção, desde o ano de 1915, a ativa correspondência que a
LBCA vinha mantendo com as Ligas Contra o Analfabetismo fundadas nos
diversos estados brasileiros ou nas municipalidades, todas estas com ligação
orgânica com a Liga Brasileira. O elo principal de ligação entre a LBCA e as
demais instituições congêneres fundadas pelo Brasil ao longo do período que
estudamos foi, sem dúvida, a estratégia de nomeação de delegados adotada pela
Liga Brasileira. Foram muitos os delegados nomeados e enviados para as mais
diversas localidades do país25 com o intuito de fazer propaganda contra o
analfabetismo e acompanhar o andamento da campanha pelo território nacional.
Será através das notícias por estes trazidas que poderemos fazer uma análise do
movimento de combate ao analfabetismo nos estados brasileiros. Mas esta análise
será feita mais adiante. Aqui, vale apenas indicar que a estratégia de nomeação de
delegados foi de fundamental importância para as ações empreendidas pela Liga
em todo o país.
Em abril de 1915, algumas fichas solicitando adesões foram enviadas pela
diretoria da LBCA, assim como algumas declarações de adesão26. Aos membros
do legislativo, remeteu-se documento em busca de apoio. No documento consta o

25
Ver ANEXO II.
26
Ver ANEXO III.
53

seguinte texto: “Nas vésperas do centenário de sua independência política, o


Brasil conta ainda 80% de analfabetos, ISTO É UMA TRISTE VERGONHA QUE
NÃO PODE CONTINUAR”.27 Uma solicitação de apoio também foi enviada aos
redatores dos jornais, pedia-se a publicação do lema da Liga “Combater o
Analfabetismo é dever de honra de todo brasileiro”.
O apoio da imprensa foi sempre apontado pelos membros da Liga como
essencial; afinal, não havia melhor estratégia de atuação senão a publicação das
suas ações e do lema de combate ao analfabetismo defendido pela associação nos
grandes jornais que circulavam no país. Ao que tudo indica, o apoio da imprensa
foi considerável, para termos uma noção dos inúmeros periódicos da época que
apoiaram à Liga, segue uma tabela com alguns destes:

ESTADOS PERIÓDICOS
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São Paulo O Comércio de Jahú


O Pinhalense (de Espírito Santo do Pinhal)
Rio de Janeiro O Cosmopolita (do subúrbio da cidade do Rio)
(incluindo a capital) Escola Primária
Revista Carioca
A Voz da Serra
O Trabalho
Jornal de Barra do Piraí
Monitor
Bahia Liga Mental Pró Paz
Diário de Notícias
Jacaracy
Pernambuco Nova Cruzada
Espírito Santo Alpha
Não identificado O Imparcial, O Cidadão, Lumem, Theosofista, A
Idea e Lumea

Todos estes jornais foram alvo de agradecimentos por parte da Liga por
publicarem periodicamente seu lema de propaganda contra o analfabetismo.

27
Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, 1941. Localização: II-291,4,15 (Biblioteca Nacional
- Obras Gerais), pp. 3-6.
54

3.2.2 Obtendo apoios na difusão do ensino primário

Já no ano de 1915, a sociedade demonstraria seu apoio à campanha de


combate ao analfabetismo através dos inúmeros delegados da Liga que
trabalhariam em todo o Brasil e das escolas gratuitas fundadas por igrejas,
empresas e associações.
28
Em reunião do dia 15 de outubro de 1915, Nogueira Paranaguá
comunicou que a Igreja Batista, por exemplo, informava à Liga a resolução de
fundar uma escola ao lado de cada templo, medida que já estaria dando bons
resultados em outubro daquele primeiro ano de atuação. Muitas notícias de apoio
chegam aos membros da Liga nesta reunião. No primeiro regimento de artilharia
do Exército, instituiu-se um curso entre os grupos e baterias visando estimular os
esforços contra o analfabetismo. Raul Daltro declarou com satisfação que devido
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à dedicação dos oficiais e inferiores do Batalhão Naval, a porcentagem de


analfabetos que no início do ano era de 76% estava naquele momento em 16% e
era de se esperar chegar a 0% no fim de 1915. Recebida também as adesões do
Centro de Professores Primários Municipais e da Associação Cristã dos Moços. 29
Nesta mesma reunião, noticiada após a instalação efetiva da Liga,
Raimundo Seidl propõe que a comissão destinada a se dirigir às autoridades
municipais deveria procurar obter a criação de Jardins de Infância Populares que
pudessem ser freqüentados pelas crianças que não têm roupas nem calçados. O
curso deste jardim poderia começar pelo ensino da higiene, obrigando as crianças
a lavarem rostos, mãos e pés ao chegarem para a aula e passaria depois ao da
leitura, escrita e tabuada, cânticos patrióticos e morais, ginástica sueca e
“brinquedos” como o Football, peteca, Tênis, etc. Segundo Seidl, isto traria
benefícios enormes ao Rio de Janeiro que poderia usar pavilhões que já existem
em algumas praças para tal fim. 30

28
Joaquim Nogueira Paranaguá, natural de Corrente no Piauí, foi médico da Santa Casa de
Misericórdia de Teresina e Ministro de Estado Tesoureiro da Imprensa Nacional. Atuou ainda
como deputado provincial durante o Império, foi vice-governador do estado do Piauí (1889 a
1890), Deputado Federal (1891 a 1896) e Senador (1897 a 1906) durante a Primeira República.
Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senadores/senadores_biografia> Acesso em 10 de
junho 2008.
29
“Uma campanha patriótica. Prosseguem vitoriosamente os trabalhos da Liga Contra o
Analfabetismo”, op. Cit.
30
Ibid.
55

Em novembro de 1915, a LBCA se dirigiu ao comandante da Brigada


Policial que havia inaugurado cursos noturnos. A Liga faria solicitação para que
nos novos cursos fossem admitidos não apenas os filhos dos praças, mas também
civis adultos e menores que não dispusessem de meios para se instruir. Atendida
em seu pedido, publicaria o seguinte boletim de aviso:

Para os praças, seus filhos, irmãos e cunhados, a Brigada acaba de criar


nas suas escolas policiais cursos noturnos de instrução primária, que
começarão a funcionar a 25 do corrente mês, das 18 às 20 horas. A pedido
da LBCA, a matrícula nesses cursos será também permitida aos civis
analfabetos que não tenham relações de parentesco com os membros desta
corporação. A brigada fornecerá gratuitamente livros, lousas e outros
objetos escolares. Aos alunos civis, uma vez por semana, ministrar-se-á
instrução militar nas salas de aula. Os alunos maiores farão, ainda, aos
domingos, exercícios de tiro ao alvo na linha da Brigada. Será fundada em
breve uma Caixa Escolar destinada a prestar auxílios aos alunos civis mais
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necessitados, dentre os de menor idade. Não se exigirá que os alunos civis,


maiores ou menores, se apresentem calçados. Para os praças alunos haverá
uma aula prática de escrituração militar. Procurar extirpar o analfabetismo
do território pátrio é um dever de honra para todos os brasileiros. 31

Em 4 de dezembro de 1915, realizar-se-ia uma “soirée” no Clube Militar


em benefício da Liga. Organizavam o programa do evento Esther Santos e Irene
Penteado, que contaria também com conferência do Coronel Moreira Guimarães
sob o título “Pátria”. 32
O ano de 1915 seria encerrado com a obtenção da inteira solidariedade do
Club Civil Brasileiro à finalidade da Liga, a notícia de que o sócio Dr. Antônio
Ferrari havia fundado um curso gratuito no Hospital S. Sebastião para os
empregados analfabetos e o recebimento de carta enviada pelo general Joaquim
Inácio do Rio Grande do Sul manifestando a opinião de combater
simultaneamente o alcoolismo. O Ministro da Marinha permitiria que nas escolas
de aprendizes de marinheiros se mantivessem civis que residissem nas
proximidades da escola (à exemplo do que havia sido feito na Brigada Policial).
Uma escola de primeiras letras para praças da Fortaleza de Copacabana havia sido
criada e era mantida pelo Major Marcos Pradel de Azambaja. O sócio Raul Pinto
de Mendonça informara ainda que em breve a Estação Riachuelo teria uma escola

31
“A guerra contra o Analfabetismo. A Brigada Policial inaugura os cursos noturnos. Uma idéia
que dever ser imitada”. A Noite, 05/11/1915, p.4.
32
“Os trabalhos da Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 26/11/1915, p.4.
56

primária que funcionaria no “stand” da linha de tiro dessa localidade, sendo esta a
primeira que a liga iria inaugurar.33
À Câmara dos Deputados, o deputado José Bonifácio apresentaria o
seguinte requerimento de apoio à Liga:

Requeiro que seja nomeada uma comissão especial de nove membros para
o fim de propor ao Congresso, em projeto de lei, as medidas mais prontas
e eficazes para o combate ao analfabetismo, atendidas desta forma as
justas aspirações do povo brasileiro e o elevado movimento da LBCA. A
nomeação desses nove membros far-se-á dentre os deputados que
constituem a comissão de instrução pública, finanças, constituição e
justiça, no intuito de serem estudadas as medidas no seu aspecto
pedagógico, financeiro e constitucional. Sala das sessões, 13 de dezembro
de 1915 – José Bonifácio 34

Em março de 1916, a Liga receberia a adesão da maçonaria representada


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pela Loja Asylo da Prudência filiada ao Grande Oriente do Brasil. Antônio Corrêa
Pinto havia proposto que se fundasse escola gratuita para os filhos dos maçons,
mas também para qualquer outra criança que nela queira se matricular. Esta escola
começaria a funcionar por todo o mês de abril corrente na Rua do Ouvidor n.26,
um comitê foi organizado para tratar da instalação da referida escola sendo
composto pelos seguintes nomes: Attila Pinheiro (venerável da Loja); Antônio
Corrêa Pinto (autor da proposta e relator da comissão); Dr. Antônio Espínola de
Athayde, Accacio Arthur dos Santos Leite, capitão Zacarias Menezes Doria,
Miguel Pappaterra, Francisco Estevão Gonçalves e Antônio Rodrigues Cardoso35
Aulas noturnas gratuitas estariam funcionando regularmente também no
Centro Cívico Sete de Setembro tendo como professores o Padre Olympio de
Castro, o acadêmico Alberto Roxo, o Dr. Vasconcelos Galvão, Pedro Leite
Bastos, Rosalvo Costa e Dr. Honório Menelick. As disciplinas ministradas seriam:
Língua Nacional, Geografia, História, Aritmética, Desenho, Inglês, Francês, aulas
de Educação Física e Instrução Militar, entre outras. Comentava-se também, a

33
“Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 03/12/1915, p.4; “Combate ao Analfabetismo”. A
Noite. 13/12/1915, p.3 e “Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 17/12/1915, p.4. Ver também
“Liga Contra o Analfabetismo”. O Paiz, 03/12/1915, p.6.
34
Ibid.
35
“A guerra contar o Analfabetismo”. A Noite, 16/03/1916, p.5.
57

notícia da reinauguração de uma escola da União Beneficente dos Empregados de


Fábrica de Cartuchos de Realengo e a abertura de uma escola no Tiro 102. 36
Em maio de 1916, Raimundo Seidl faz uma análise dos principais fatos
neste primeiro ano de ações, salientando o concurso de toda a sociedade na
campanha (destaque para a atuação do Exército e Armada, Brigada policial, Corpo
de Bombeiros e o regimento de polícia do Estado do Rio de Janeiro); ainda nesta
reunião, Alfredo S. Osório comunicou a criação de escola para a população de
pescadores em Jurujuba para menores e adultos entre 6 e 60 anos. O Capitão Luiz
Lobo propôs que se dirigisse um apelo ao clero na pessoa do Cardeal Arcoverde,
no sentido de obter auxílio das paróquias ao desenvolvimento intelectual dos
37
paroquianos. Em reunião da Comissão de justiça da Câmara dos Deputados,
Pedro Moacyr destacou dentre os projetos confiados ao seu estudo, um projeto
que considera de utilidade pública as ligas contra o analfabetismo. 38
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Ainda em 1916, uma conferência foi realizada em prol da instrução


popular pelo Dr. Fausto Ferraz; aproveitando o ensejo, a Liga Contra o
Analfabetismo informava em agosto daquele ano que lançaria uma grande
campanha por meio de conferências “nas escolas públicas, academias, quartéis,
associações e em todos os lugares em que se achar reunida a massa popular”. 39
Em agosto de 1916, Ennes de Souza inaugurou o primeiro curso noturno
da LBCA, na sede da Sociedade União dos Estivadores; vale ressaltar que a união
cedia o salão e luz para o curso. 40
Uma solenidade festiva foi realizada no dia 7 de setembro, no salão nobre
do Clube Militar. O objetivo era que a solenidade se tornasse popular (a sessão era
pública e não se exigia traje a rigor). Na referida solenidade, o Presidente da Liga,
Ennes de Souza, fez a abertura, que foi seguida pela execução do Hino à Bandeira.
Na seqüência, Raimundo Seidl fez a leitura de um relatório e Maria Santos fez
discurso sobre o dever dos brasileiros em relação ao analfabetismo. Ao discurso
seguiu-se o Hino à Pátria. Moreira Guimarães discursou sobre a instrução e o

36
“Mais adesões para a Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 26/02/1916, p.2 e “Aulas
noturnas gratuitas”. A Noite, 31/03/1916, p.5.
37
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Comemoração do primeiro aniversário”. A Noite,
15/05/1916, p.4. Ver também “Associações – Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. O Paiz,
13/05/1916, p.6
38
“As Comissões da Câmara. As associações de aeronáutica e as Ligas Contra o Analfabetismo. A
responsabilidade dos funcionários”. A Noite, 10/07/1916, p.3.
39
“Comitê de Propaganda Contra o Analfabetismo”. A Noite, 12/08/1916, p.4.
40
“Vai fundar-se o primeiro curso da Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 20/08/1916, p.2.
58

patriotismo, sendo a solenidade encerrada por Ennes de Souza e a execução do


Hino da Independência. 41
O gesto filantrópico de Francisco Alves – conhecido livreiro da cidade do
Rio de Janeiro – foi alvo de congratulações em reunião da Liga. Francisco Alves
fez uma doação de 10.000 livros didáticos para o combate ao analfabetismo.42 Em
sessão publicada no dia 31 daquele mês, foi lido um ofício da Liga de Defesa
Nacional que se declarava aliada da LBCA na campanha contra o analfabetismo.43
As ações da LBCA foram tema de um artigo publicado na revista “A
Escola Primária”, dirigida por inspetores escolares do Distrito Federal e fundada
em outubro de 1916. Sob o título “O Centenário da Independência do Brasil e o
Analfabetismo” e tendo como autor o inspetor escolar Arthur Magioli, o artigo
tece opiniões acerca dos objetivos da Liga.
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Numa demonstração de alto patriotismo, um grupo de homens, desejosos


de dar a esta comemoração o cunho elevado de utilidade prática, imaginou
festejar a gloriosa data com a declaração de – extinto o analfabetismo no
Brasil [...] O problema da extinção do analfabetismo é por demais
complexo para que possa ser resolvido no curto espaço de tempo de seis
anos [...] Fetichistas da Constituição, os nossos legisladores temem dar à
União poderes de intervir nos Estados a fim de facilitar os meios de
combater o analfabetismo [...]
São, pois, dignos de louvores e de encorajamento os que, em um meio
como o nosso, dominado pelo indiferentismo, tomam sobre os ombros tão
patriótica quão hércula empresa! E Oxalá! Possam eles, fortalecidos pela
grandeza da missão a que se propuseram levá-la por diante e, a 7 de
setembro de 1922, si não afirmar positivamente a extinção do
analfabetismo, pelo menos provar uma grande diminuição da vergonhosa
porcentagem que tanto nos deprime. 44

O artigo destaca que o objetivo da Liga envolvia questões complexas


como a necessidade de centralização e da intervenção da União em âmbito
educacional, o autor reconhece ser louvável a iniciativa que haviam tomado os
intelectuais envolvidos no combate ao analfabetismo.
Encerrando o ano de 1916, a LBCA dava continuidade às ações de
combate ao analfabetismo. Em dezembro daquele ano, Ennes de Souza solicitaria

41
“A Liga Brasileira Contra o Analfabetismo realizará festiva solenidade no salão nobre do Clube
Militar das 16 às 18hs”. A Noite, 06/09/1916, p.4.
42
“Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 05/10/1916, p.4.
43
Ibid.
44
“O Centenário da Independência do Brasil e o Analfabetismo”. A Escola Primária. Rio de
Janeiro: Ed. Francisco Alves &C, N., 1916, p.45 e 46.
59

providências da diretoria da Instrução Pública após visitar a Ilha do Bom Jesus,


onde existiam 275 crianças pobres sem professores. Ainda em dezembro, a Liga
registra voto de apoio e solidariedade à campanha iniciada pelo clínico Miguel
Pereira em favor do saneamento dos sertões brasileiros. A LBCA demonstra,
assim, seu apoio ao projeto que os higienistas começavam a desenvolver naquele
momento no combate às moléstias endêmicas. Vale lembrar que o ano de 1916 foi
importante para este movimento uma vez que foi o ano da publicação do Relatório
da expedição feita por Artur Neiva e Belisário Pena ao interior do Brasil. 45
Ao longo do ano de 1917, a diretoria da Liga buscou intensificar as
estratégias de propaganda contra o analfabetismo. Em janeiro, o Major Raimundo
Seidl sugeriu que fossem colocadas placas de propaganda da Liga nos bondes da
Light que haveria acolhido bem a solicitação feita pela diretoria da associação
neste sentido. 46
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Durante aquele ano, a LBCA continuaria recebendo diversas


manifestações de apoio através da fundação de cursos gratuitos ou de algumas
doações. O Dr. Carlos Góes, lente do Ginásio Mineiro e representante daquele
estado no IV Congresso Brasileiro de Instrução, oferece à Liga a peça de sua
autoria “Ensinai a ler”, que teria sido apresentada no Teatro Municipal de Belo
Horizonte com êxito pela Cia. Leopoldo Fróes. A Liga logo providenciaria a
propaganda de divulgação da peça. O Dr. Joaquim Nogueira Paranaguá também
faz a doação de um exemplar de seu livro distribuído recentemente “O que precisa
saber uma menina de 12 anos”. 47
Em sessão publicada no dia 12 de janeiro de 1917, Jayme Monteiro
ofereceu 20% do resultado do festival que ocorreria no Clube Ginástico
Português, onde subiria à cena a peça “Ensinai a ler” mencionada acima e que
servia na propaganda contra o analfabetismo. 48
Novas doações seriam feitas em fevereiro de 1917. A Liga receberia a
oferta de uma caixinha do jogo “ABC” enviado pelo seu autor, Honório Esteves,
que era um dos propagadores da instrução em Minas Gerais. Ainda nesta sessão

45
“O Combate ao analfabetismo”. A Noite, 01/12/1916, p.4.
46
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 26/01/1917, p.4.
47
“A Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 07/01/1917, p.4. O livro publicado em
1916 era composto por trechos de uma conferência do médico no Instituto Central do Povo (RJ);
trazendo informações sobre a importância da instrução, da higiene e do conhecimento sobre a vida
sexual.
48
“Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 12/01/1917, p.4.
60

noticiada no dia 6 do mesmo mês, foi lida uma carta de Saturnino Barbosa
(pedagogo paulista) que havia realizado na Biblioteca Nacional uma conferência
sobre o tema “Crítica introspectiva”. Na carta, o pedagogo sugere a criação de um
laboratório de pedagogia experimental. O assunto seria estudado pela diretoria da
49
Liga. As preocupações com a pedagogia ficam evidentes neste contexto,
embora não tenhamos acesso às idéias que compõem a proposta deste “laboratório
de pedagogia experimental”, podemos conjecturar que propostas técnico-
pedagógicas já estavam dentre as preocupações dos que se dedicavam à causa da
instrução durante os anos 10.
Em reunião ocorrida em março de 1917, o presidente a Liga, Ennes de
Souza notificou que uma escola mantida pela Fábrica de Vidros Esberard em São
Cristóvão estava obtendo notáveis progressos triplicando a freqüência. O Dr.
Corrêa de Freitas apresentou pessoalmente saudações à Liga Contra o
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Analfabetismo, discorrendo sobre o atraso intelectual em que vivíamos


mergulhados. Corrêa de Freitas utilizou como exemplo em sua fala o fato de que a
República Argentina estaria progredindo assombrosamente em todos os ramos da
atividade humana. Aconselhou, assim, a Liga a apelar para todas as
municipalidades pedindo a obrigatoriedade da instrução primária. Concluiu
afirmando que “não somos um povo organizado, mas, unicamente, habitantes de
um território”. 50
Ainda em março, o Major Seidl informava sobre sua participação na
instalação da Escola Marcílio Dias inaugurada com sucesso para servir aos pobres
de Copacabana. Ali, ficaram matriculadas mais de 30 pessoas de 9 a 50 anos, em
sua maioria pescadores. A referida escola funcionava em galpão cedido pelo
51
inspetor da 5ª região. Maria Santos comunicou em reunião publicada no dia 25
daquele mês que estava organizando uma escola feminina em Copacabana e que
já estava escolhendo as professoras para ali atuarem; conforme informava a vice-
presidente, esta seria a terceira escola fundada pela LBCA. Nesta mesma data, o
Professor Bernardo de Freitas propôs a criação de um registro de professores, no
qual figurariam dados necessários para preencher vagas e novos lugares de
professores. A idéia de criar o registro dos professores foi aprovada e os

49
“O combate ao analfabetismo”. A Noite, 06/02/1917, p.5.
50
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 02/03/1917, p.4 e “Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo”. A Noite, 09/03/1917, p.4.
51
Ibid
61

professores inscritos deveriam declarar os títulos que possuíam, tempo e lugar


onde exerceram magistério, outras funções que tenham ocupado, vencimentos que
pretendiam obter e se concordavam em exercer o cargo em localidades diferentes.
52

Em maio de 1917, Ennes de Souza relataria em sessão da LBCA ter


comparecido, juntamente com uma comissão, à sessão solene de 1º de maio na
União dos Operários Estivadores onde foi reaberta a escola Bittencourt da Silva.
Os auxílios obtidos pela Liga através da sociedade civil continuavam, a exemplo
do Comendador Casimiro Costa, da Companhia Edificadora, que prometia a todos
não poupar esforços para obter material escolar. Da mesma forma, permaneceria o
movimento de fundação de escolas, ficando resolvida no dia 6 de maio a fundação
de mais uma escola para ambos os sexos. Esta escola funcionaria diurna e
noturnamente, ficando Maria Santos autorizada a procurar um edifício para a
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escola que seria em Ipanema.53


Em sessão publicada em 17 de junho de 1917, a vice-presidente da Liga
Maria Santos comunicava à diretoria a resolução de Leonor de Moura Bastos que
oferecia sua residência em São Cristóvão para o funcionamento de escola gratuita
sob direção da Liga Contra o Analfabetismo. Na mesma sessão, O Dr. Nogueira
Paranaguá daria destaque ao ato filantrópico dos livreiros Francisco Alves & C.
que ofereciam gratuitamente 800 livros didáticos para escolas recém-fundadas no
Piauí. A Liga recebeu uma carta de Carneiro Leão repleta de “argumentos sólidos
e irrespondíveis corroborando a opinião do Professor Ferreira Rosa sobre a
simplificação da grafia portuguesa”; cujo assunto estaria sendo objeto de estudos
da Liga.54
As escolas custeadas pela Liga estariam em pleno funcionamento em julho
de 1917. Um dos exemplos de bom funcionamento seria a escola Francisco Alves
que funcionava na Rua General Argollo n. 211, conforme informara a professora
Leonor Moura Brandão; ocorrendo o mesmo na escola da Rua Pinto Sayão. A
freqüência nas escolas mantidas pela Liga era enorme, segundo os jornais, estando

52
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 25/03/1917, p.4 e “Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo”. A Noite, 22/04/1917, p.4.
53
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Importantíssimas adesões”. A Noite, 06/05/1917, p.4.
54
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 17/06/1917, p.2.
62

inclusive suspensa a inscrição em algumas escolas como a Francisco Alves que


contava com a matrícula de 87 alunos. 55
A LBCA manteve diversas escolas visando a difusão do ensino primário.
A preocupação com a efetiva organização e bom funcionamento das mesmas fica
evidente ao declarar a investidura do Dr. Alípio Dorea para inspetor escolar de
todos os cursos da Liga para que se cumprisse o “perfeito método e fiscalização
dessas numerosas escolas.56
As doações dos sócios continuavam a ocorrer, sendo estas as mais
diversas. O sócio Carlos Carneiro Leão (comerciante na cidade do Rio) ofertava à
Liga, uma assinatura da revista mensal do Porto “Vida e Saúde”. O Professor
Kitzinger da Association Polytechnique e do Externato Franco-Brasileiro colocou
a disposição dos meninos necessitados três matrículas gratuitas naqueles
estabelecimentos de instrução.57
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De acordo com as informações veiculadas nos periódicos, no decorrer do


ano de 1917, choveram adesões à Liga e pedidos de instruções e estatutos para
orientar a instalação de Ligas em todo o Brasil.
Ao longo do ano de 1918, a diretoria da LBCA permaneceria com suas
sessões semanais. Mantinha-se a busca por auxílios das instituições religiosas, da
maçonaria e da imprensa no combate ao analfabetismo, assim como a necessidade
de franca cooperação de todos os governadores e assembléias estaduais.
Em sessão do dia 14 de fevereiro foi registrado o oferecimento de 300$
doados pelo Deputado mineiro Dr. Pedro Bernardo Guimarães (um dos defensores
dos ideais daquela instituição). Naquele ano, tiveram continuidade também as
fundações de escolas primárias. Em maio de 1918, foi lido ofício do Dr. Xavier
Pinheiro (secretário da Assistência Judiciária Militar do Brasil) sobre a fundação
de uma escola de instrução elementar para praças do Exército, Marinha, Brigada
Policial e Corpo de Bombeiros, inteiramente gratuita, mesmo no que concerne ao
material escolar.58
Visando ampliar sua campanha, a diretoria da Liga Contra o
Analfabetismo, por proposta de Raimundo Seidl, decide atuar junto ao Ministro

55
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 14/07/1917, p.5 e “Combate ao
Analfabetismo”. A Noite, 12/08/1917, p.5.
56
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 14/07/1917, p.5.
57
Ibid.
58
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 19/02/1918, p.2 e “O combate ao
analfabetismo. Intensifica-s a propaganda”. A Noite, 17/05/1918, p.5.
63

da Viação para que a repartição dos correios adote nos seus carimbos o lema
“Combater o Analfabetismo é um dever de honra de todo o Brasileiro”, a exemplo
do que já se praticava, para outros fins, em Buenos Aires e na agência de
Barbacena.59
Prosseguiam também as manifestações de apoio através de doações como
a do leiloeiro Luiz Vernet que mandou ofertar à Liga a quantia de 65$,
proveniente do leilão feito do mostruário paraense da Exposição de Frutas. Esta
quantia seria aplicada na aquisição de livros e outros artigos escolares.60 Em
sessão publicada no dia 31 de maio de 1918, Ennes de Souza comunicou a oferta
de bancos-carteiras feita pelo Dr. Trajano de Medeiros, além da fundação de uma
escola modelo nas suas oficinas. Júlio Guedes informou também terem sido
distribuídas em algumas escolas mantidas pela Liga cerca de 30 bancos-cadeiras
ofertadas pelo comendador Casemiro Costa.61
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Em junho de 1918, Leonor Brandão comunicaria à diretoria da Liga que a


escola noturna Francisco Alves (mantida pela Liga e sob sua direção) tinha 102
alunos matriculados, sendo a freqüência média de 80 alunos. Em razão disto,
ficava decidido organizar os alunos em duas turmas. Em publicação feita no dia
06 do mês citado acima, a diretoria da Liga resolvera oferecer à uma escola
fundada na 1ª Companhia Ferroviária, estacionada na Vila Militar, 40 cartilhas de
Arnaldo Barreto e 40 compêndios de aritmética de Couturier. Solicitaria, ainda,
alguns bancos-carteiras para a escola Francisco Alves, aproveitando o
oferecimento de mobiliário para as escolas feito pelo Dr. Trajano de Medeiros.62
A intensificação da propaganda da Liga vinha ganhando adesões como a
da Companhia Telefônica da cidade do Rio de Janeiro que mandava comunicar
que, a pedido da Liga, faria inserir nas páginas da lista dos assinantes não só o
lema da Liga, mas outras inscrições de propaganda em favor da instrução
primária. 63
O apoio obtido através da maçonaria brasileira rendia frutos, uma vez que
em sessão de reabertura dos trabalhos anuais do Grande Oriente, o então novo
Grão Mestre da Maçonaria brasileira, Nilo Peçanha, deu destaque à causa do

59
Ibid.
60
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 24/05/1918, p.4.
61
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 31/05/1918, p.4.
62
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 06/06/1918, p.3.
63
Ibid.
64

combate ao analfabetismo. A informação era de que nos últimos 10 meses,


haviam sido criadas 36 escolas nas várias lojas. Nas cerca de 60 escolas mantidas
pelas lojas maçônicas, cerca de 4.000 crianças e adultos recebiam instrução
gratuita.64
Encerrando o ano de 1918, em sessão conjunta da Diretoria e do Conselho
Fiscal, ficou resolvido considerar encerradas desde 31 de outubro as aulas das
escolas da Liga, que reabririam oportunamente. Notificou-se que foram oferecidos
14 bancos à escola que a Sociedade Brasil Moderno iria abrir e resolveu-se
remeter a todos os jornais e bibliotecas existentes no Brasil o boletim anual da
LBCA, ficando o secretário geral encarregado desta distribuição. Por fim, o
presidente da Liga comentou conferência realizada na Biblioteca Nacional no dia
11 de outubro por Milton da Cruz sobre o tema “A Educação Cívica”,
agradecendo a contribuição aos ideais da Liga. Na conferência, o autor havia
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destacado que, “até pouco tempo, a pátria e o civismo eram esquecidos entre nós,
não havia preparo e educação para este sentimento inato ao povo”. Segundo o
autor, com o advento da guerra, a nação que era descrente na juventude tornou-se
cheia de fé e esperança no futuro. Fazia-se necessário, assim, repensar a
necessidade da educação cívica, efetivando-se um programa delineado sobre o
tema. Milton Cruz comentou também acerca da elevação moral do cidadão que
compreende seus deveres cívicos. 65
Durante os anos de 1919 e 1920, os trabalhos da LBCA continuariam,
embora o número de notícias que se remetiam ao movimento de combate ao
analfabetismo tenha diminuído desde meados de 1918. Isto se deve, em parte, ao
destaque que os periódicos “A Noite” e “O Paiz” dariam às notícias que
envolviam os dois grandes temas daquele contexto: a primeira grande guerra
(1914-1918) e a gripe espanhola. Sobretudo em 1918, as notícias sobre a I
Guerra Mundial ocupavam as primeiras páginas dos jornais brasileiros.
Paulatinamente, as páginas dos periódicos dariam grande destaque à epidemia de
gripe espanhola que assolou a população, fazendo inúmeras vítimas fatais.
Durante o ano de 1918, as reuniões da LBCA foram interrompidas por um mês
em razão da epidemia.

64
“Os novos horizontes da maçonaria brasileira. Combate às religiões, não, mas ao analfabetismo.
A sessão magna de amanhã”. A Noite, 23/06/1918, p.3.
65
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 15/11/1918, p.5. Sobre a Conferência ver
também “A campanha contra o analfabetismo”. O Paiz, 15/11/1919, p.9.
65

Como de costume, no dia 7 de setembro do ano de 1919, a Liga se reuniu


em sessão magna, sob a presidência de Ennes de Souza, em comemoração à
Independência do Brasil e ao seu 4º aniversário. Nesta sessão houve distribuição
de prêmios conferidos pela instituição à praças de guarnição militar que,
alistando-se analfabetos, já sabiam ler e escrever corretamente. 84 prêmios foram
entregues por Maria Santos que proferiu discurso tendo como tema o centenário
66
da independência. Vários trechos deste importante discurso foram analisados
ao longo deste capítulo.
Em 1920, a Liga sofreria a perda de um dos seus mais importantes
membros: o presidente Ennes de Souza falece e muitas seriam as homenagens que
a Liga prestaria ao seu presidente. No dia 11 de março, a Liga realizou uma
sessão preparatória com a finalidade de elaborar um programa para a sessão
cívica que homenagearia publicamente o 30º dia do falecimento de Ennes de
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Souza pelos serviços por ele prestados ao Brasil na abolição dos escravos, na
propaganda republicana, na campanha em prol do ensino agrícola, na proteção à
infância e na luta contra o analfabetismo. Assumia a presidência da LBCA Maria
do Nascimento Reis Santos. Na reunião acima mencionada, ficou decidido o
seguinte: 1º) que a diretoria tomaria o encargo de tornar efetiva a homenagem,
dirigindo convites aos governadores dos estados e às associações patrióticas
existentes; 2º) a sessão se realizaria no dia 06 de maio, aniversário de nascimento
de Ennes de Souza; 3º) Que sob a direção de Leôncio Corrêa fosse naquele dia
publicada uma homenagem; 4º) que a diretoria da Liga solicitasse ao prefeito que
o nome de Ennes de Souza fosse dado a uma das escolas municipais.67
Vários telegramas e ofícios de condolências foram recebidos pela Liga. Para
citarmos alguns, temos os encaminhados pelo general Dr. Lauro Sodré, Joaquim
Ignácio Baptista Cardoso, pela Liga de Defesa Nacional, pela Associação
Propagadora das Belas Artes, a diretoria da escola da União Fabril de São
Cristóvão, Associação Cristã dos Moços, Instituto de Proteção à Infância (a
diretoria deste resolveu dar o nome de Ennes de Souza a um dos salões de seu
66
Alguns dos prêmios entregues foram os seguintes: “Conselheiro Manoel Francisco Correia”
oferecido por Leôncio Correia; “Duque de Caxias” e “Comendador Bittencourt da Silva” oferecido
por Albino Monteiro, além de outros três prêmios oferecidos pelo professor Vicente Avelar. “7 de
setembro”. O Paiz, 07/09/1919, p.3 e “Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite,
08/09/1919, p.5.
67
“Dr. Ennes de Souza. Uma sessão cívica”. A Noite, 09/03/1920, p.5; “Homenagem ao Dr. Ennes
de Souza. Resoluções da L.B. Contra o Analfabetismo”. A Noite, 12/03/1920, p.4 e “A memória
do Prof. Ennes de Souza”. A Noite, 06/05/1920, p.2.
66

novo edifício). Um funcionário da Casa da Moeda comunicou que o nome do


presidente da Liga seria dado à sala em que se encontrava a coleção mineralógica
organizada por ele e que ali seria colocado um retrato seu.
Ainda em 1920, a Liga realizou mais uma sessão magna em comemoração
ao seu aniversário, presidida pela professora Maria Reis Santos. Esta sessão foi
realizada no salão nobre do Clube Militar, que havia sido cedido gentilmente pela
diretoria, e não contou com convites especiais, sendo aberta ao público.68
Embora as mudanças na diretoria no ano de 1920 tenham dado um foco
diferenciado às ações da LBCA – que não poderia deixar de homenagear seu
presidente, cujos valores pessoais estavam estritamente amalgamados aos valores
defendidos pela Liga – o tema do analfabetismo continuava a ocupar as páginas
dos jornais. O que vamos observar a partir daqui é que as sugestões para
combater o analfabetismo passam a proliferar, assim como a mobilização da
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sociedade civil. Bons exemplos dessa mobilização são as duas notícias que
seguem, ambas publicadas no dia 5 de junho de 1921.
A primeira notícia refere-se à decisão da Federação dos Trabalhadores do
Rio de Janeiro de fundar uma escola. Para isto, aproveitaria a antiga sede da
construção civil que ficava à Rua Barão de S. Felix, n. 119. Uma comissão
procurou o ministro da justiça e publicou o seguinte manifesto:

Combatamos o Analfabetismo! É no louvável intuito de instruir as classes


obreiras que a Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro tomou a
nobre iniciativa da criação imediata de escolas, por compreender que um
povo só é grande quando instruído.
Diante desta verdade, a Federação entendeu aconselhar os trabalhadores a
freqüentar as referidas escolas, meio único de concorrer para a emancipação
da família produtora. Sabemos sobejamente que orçam, infelizmente, a 80%
o número de analfabetos no Brasil. Pois bem, as escolas operárias virão
atenuar este grande mal senão debelá-lo por completo. Trabalhadores, rumo
à escola! 69

O texto publicado em nome da Federação dos Trabalhadores do Rio de


Janeiro deixa claro o intuito e a necessidade de se instruir as “classes obreiras”.
Para isto, estavam se mobilizando para fundar escolas operárias. É importante

68
“O aniversário da Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 05/09/1920, p.6.
69
“Combatamos o Analfabetismo. A comissão da Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro
já se entendeu com o Sr. Alfredo Pinto”. A Noite, 05/06/1921, p.2
67

notar a idéia recorrente de que nosso povo só seria grande através da instrução. É
ela a chave para que o Brasil tomasse novos rumos.
A segunda notícia que gostaríamos de ressaltar, diferentemente da anterior,
faz um apelo. Os moradores do Sapê clamam por uma escola primária:

É toda a população de um bairro suburbano que se levanta e recorre ao


governador da cidade pedindo proteção para seus filhos [...] Trata-se da
criação de uma escola primária no lugar denominado Sapê, freguesia de
Irajá, zona servida pela auxiliar da Central do Brasil.
Para este fim, dentro de breves dias, será dirigido ao prefeito um abaixo
assinado das famílias pobres daquela localidade, pedindo justamente um
estabelecimento escolar para a educação de seus filhos.
Nesse apelo, que é assinado por quarenta chefes de família e pela exposição
feita, verifica-se perfeitamente a necessidade dessa benfeitoria.
Que fará a municipalidade? 70
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Os exemplos evidenciam dois aspectos que vinham se tornando


característicos do contexto em questão e que condizem com as estratégias da
LBCA que descrevemos até aqui: a sociedade, cada vez mais, se coloca atuante e
consciente de seu papel em relação à construção da Nação. Não são poucas as
demonstrações de que a população toma parte, como protagonista, na fundação de
escolas e cursos visando diminuir os índices de analfabetismo no país. Por outro
lado, mas de forma concomitante, não se descarta a necessidade de se remeter às
autoridades municipais, estaduais ou federais para exigir maior interferência
destas nas questões educacionais.
Com a proximidade do Centenário da Independência, aumentaria o
entusiasmo pelo combate ao analfabetismo. Os professores primários aderem ao
movimento e em sessão da Associação dos Professores Primários, a diretoria
resolve ir ao gabinete do diretor geral da instrução primária fazer a entrega de um
ofício em nome de todos os professores masculinos das escolas públicas,
protestando sua solidariedade com a campanha contra o analfabetismo. O diretor
geral da instrução primária, Nascimento Silva, enalteceu a conduta dos
professores, felicitando-os e oferecendo todo o apoio e solidariedade. 71

70
“Para combater o Analfabetismo. Os moradores do Sapê pedem a criação de uma escola
primária”. A Noite, 05/06/1921, p.2.
71
“As campanhas santas. Aumenta o entusiasmo pelo combate ao analfabetismo”. A Noite,
19/08/1921, p.6.
68

As idéias para dar fim ao analfabetismo continuavam a surgir, dentre elas,


destacamos uma denominada “Lei Áurea do Centenário da Independência”. Seu
autor era o professor João Camargo, diretor do ginásio Pio-americano, que tendo
estudado os processos e métodos empregados em países europeus para a
superação do analfabetismo elaborou a seguinte lei:

A Lei Áurea do Centenário da Independência

O governo dos Estados Unidos do Brasil decreta:

Artigo 1) Nenhum habitante do Brasil, natural ou estrangeiro, maior de


quinze anos, poderá conservar-se analfabeto a partir de 07/09/1922.

Artigo 2º) Os habitantes analfabetos do Brasil, maiores de quinze anos,


pagarão a partir do dia 07/09/1922 uma multa de 10$000 e mais 1$000 por
mês enquanto se conservarem analfabetos.
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Artigo 3º) Todo chefe de família ou de casa, homem ou mulher, assim como
todo chefe de empresa ou sociedade de propriedade urbana, pastoril ou
agrícola, de oficina, de fábrica, de navio, de estaleiro, de agremiação de
indivíduos de toda espécie, tanto na cidade como no campo, em mar como
na terra, pagará uma multa de 1$000 por mês correspondente a cada
indivíduo analfabeto maior de quinze anos, que estiver sob sua autoridade,
fiscalização ou dependência.

Artigo 4º) Ficarão isentos dessa multa os inválidos de toda espécie, assim
como os sexagenários.

Artigo 5º) Será multado em um conto de rés todo indivíduo que embaraçar
ou prejudicar a execução da presente lei, mesmo por palavra ou por escrito.

Artigo 6º) Todas as multas serão recolhidas ao tesouro do ensino primário


ambulante para a organização de escolas que serão criadas nos pontos mais
necessitados.

Artigo 7º) Essas escolas, na maioria ambulantes, funcionarão em todo o


território da República em período de 3 meses, durante os quais, por
processos rápidos e sintéticos, uniformizados pelo diretor do ensino
primário ambulante, serão ensinados os elementos necessários de leitura,
escrita e contas indispensáveis para a atual desanalfabetização do Brasil.

Artigo 8º) Desde logo, o governo federal criará algumas escolas que
funcionarão nos centros mais populosos do país.

Artigo 9º). Revogam-se as disposições em contrário. 72


72
“A Lei Áurea do Centenário da Independência. Depois de 7 de setembro de 1922, não haverá
mais analfabetos no Brasil. Um projeto do professor Camargo”. A Noite, 22/08/1921, p.6.
69

Podemos perceber que o projeto de Camargo nos remete ao período de


fundação da LBCA, quando Raimundo Seidl propôs que fosse criado um imposto
para todos aqueles que se mantivessem analfabetos. O interessante nesta “lei” é o
fato de João Camargo não ser membro do Congresso Nacional, mas ele estava
certo de que seu projeto seria prontamente transformado em lei. Novamente,
ficam evidentes os dois processos ainda pouco apontados: a ênfase na
simultaneidade de ações promovidas pela sociedade e a necessidade de ações do
governo.
A guerra contra o analfabetismo prosseguiria sem tréguas durante o ano de
1921. Os professores do 9º distrito da cidade do Rio de Janeiro promoveriam um
ato inusitado ao ministrarem aula num domingo. As aulas ocorreram do meio dia
à quatro horas da tarde com um regular número de alunos. Segundo informações
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do jornal, no domingo seguinte, outras escolas estariam abertas. 73


Prosseguiam também as estratégias de propaganda como a realizada no 2º
distrito da capital. Um avulso muito interessante, oferecendo todas as facilidades
para os que desejam aprender a ler, estava sendo distribuído:

Pela instrução popular: Há em vossa casa alguém que não saiba ler, escrever
e contar? Aproveite o momento, encaminhe para as escolas do 2º distrito
todos os analfabetos de vossas relações. Não tendes recursos para enviar
vossos filhos para a escola? Pedi auxílio e a Caixa Escolar dará o que for
indispensável.
Deixam vossos filhos de freqüentar a escola por falta absoluta de recursos
para tratamento de saúde? Fazei um pedido de auxílio à escola mais
próxima: a inspetoria escolar apelará para o médico escolar e para os
Departamentos de assistência Municipal e de Saúde pública.
São necessários em casa os serviços de vossos filhos durante o período
oficial de trabalhos nas escolas? Com o regime provisório de aulas
extraordinárias podeis escolher melhor hora no espaço que vai das 8hs da
manhã às 9hs da noite, e assim não tereis em casa analfabetos.
O trabalho fora do lar impede alguém de vossa casa de aprender a ler? Com
um pouco de boa vontade encontrarão todos, das 8 da manhã às 9 da noite
algum tempo para obter o benefício inestimável que é saber ler, escrever e
contar.
Ide, pois, a qualquer dos seguintes postos e encontrareis ensino gratuito:
Chácara da Floresta 5, Praça do Castelo (morro do Castelo), Rua Visconde
do Rio Branco 18, Rua do Lavradio 56, Rua Evaristo da Veiga 126, Rua da
Glória 26, Rua do Catete 117, Praça Duque de Caxias 20, Rua das
73
“As campanhas santas. Pela primeira vez, as escolas públicas funcionaram em domingo”. A
Noite, 22/08/1921, p.1
70

Laranjeiras 171 (Fábrica Aliança), Rua Senador Octaviano 133, Avenida de


ligação 100, Rua Marquês de Olinda, 15. 74

A propaganda feita através deste avulso é bastante interessante à medida


que busca convencer, através de diversas perguntas e respostas, os que necessitam
de instrução a procurarem a escola mais próxima, indicando soluções para
possíveis impedimentos que prejudicavam a freqüência escolar.
Ao que tudo indica, as reuniões da LBCA continuavam a ocorrer. A
comemoração do 7 de setembro de 1921, aconteceu na escola Ennes de Souza,
nesta data, a escola inaugurou um retrato de seu patrono, além de entoarem o
“Hino Ennes de Souza”. A escola era a 9ª escola mista do 13º distrito, estando
situada à Rua Joaquim Meyer. 75
Uma conferência foi realizada sob os auspícios da LBCA no salão do Liceu
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de Artes e Ofícios pelo Padre Antônio Martho do Colégio Salesiano de Niterói. A


conferência apresentava o método inventado pelo padre para o ensino racional e
intuitivo de primeiras letras, constituído de uma caixa móvel onde se
encontravam símbolos e cartões representando o alfabeto. Na conferência, o
Padre faria experiências práticas com adultos, mas o método poderia também ser
aplicado às crianças. A Liga convocava, por intermédio do periódico “A Noite”, a
todos que se interessavam pelo assunto, sobretudo professores e diretores de
estabelecimentos de ensino primário, a comparecerem ao evento. 76 É relevante a
preocupação da LBCA em divulgar métodos de alfabetização baseados em
conhecimentos científicos, demonstrando que estava interessada em questões que
iam além do puro e simples ler, escrever e contar.
Em outubro de 1921, uma campanha dos inspetores escolares impulsionara
algumas professoras a procurarem de casa em casa pelos analfabetos para os
convidarem a se matricular. Entretanto, o fato estaria provocando algumas
inconveniências; alguns achavam que não ficava bem para moças e professoras
casadas entrarem em certas “casas suspeitas, de aparência vulgar”, que
“desmoralizavam a cidade”. Para além das inconveniências, o que nos interessa é

74
“As campanhas santas. Onde se pode aprender a ler no 2º distrito”. A Noite, 19/09/1921, p.6.
75
“7 de setembro”. A Noite, 07/09/1921, p.2.
76
“Combatendo o Analfabetismo. Um novo método de ensino de primeiras letras”. A Noite,
03/10/1921, p.4.
71

mostrar que as campanhas contra o analfabetismo estavam a todo vapor um ano


antes do Centenário. 77
Durante todos os anos analisados nesta trajetória da LBCA, intensificaram-
se as ações em favor da obrigatoriedade do ensino primário, este tema,
considerado fundamental pelos membros da Liga, merece ser analisado em um
tópico em separado.

3.2.3 O Jeca Tatu deve ir à escola: a questão da obrigatoriedade do


Ensino Primário.

O leitor deve estar estranhando a referência ao Jeca Tatu, famoso


personagem de Monteiro Lobato, neste tópico. O motivo é simples. Conforme já
destacamos no capítulo anterior, este é um contexto de ampla mobilização da
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sociedade que passa a se organizar em instituições que teriam em comum, entre


tantas outras características, a denominação Liga. À medida que a campanha de
combate ao analfabetismo se desenvolvia, outras campanhas surgiam. Dentre
estas campanhas, destacamos a promovida em prol do saneamento do Brasil, que
teria como instituição correspondente a Liga Pró Saneamento do Brasil, fundada
em 1918. A campanha sanitarista evidenciava a necessidade latente de
intervenções da União, visando uma centralização e uniformização dos serviços
sanitários em todo o território nacional. Contemplando tais iniciativas, o governo
federal criaria diversas instituições como o Departamento Nacional de Saúde
Pública em 1919. Mas onde entra a questão da obrigatoriedade do ensino? E o
Jeca Tatu? Vejamos.
O tema da obrigatoriedade de ensino passou a ser uma questão importante
para a LBCA desde os primeiros anos de sua atuação, entretanto, conforme se
aproximava a data da comemoração do nosso centenário, a questão tomaria
proporções maiores exigindo estratégias de ação mais intensas. Estas estratégias
representavam, em sua maioria, envio de mensagens e elaboração de discursos
que solicitavam às autoridades competentes a decretação da obrigatoriedade do
ensino primário em todo o país. Tais mensagens e discursos não poderiam deixar
passar o fato de que a União estava intervindo efetivamente nas questões relativas

77
“A campanha contra o analfabetismo, como está sendo feita, tem inconveniências. Em certas
casas de aparência vulgar, as professoras não devem entrar”. A Noite, 10/10/1921, p.5.
72

à saúde; assim, exigia-se o mesmo tipo de ação no que se referia à educação, não
bastando cuidar apenas da saúde do nosso povo (o doente Jeca Tatu estava sendo
curado, mas ainda não tinha instrução...).
Em reunião de janeiro de 1917, a diretoria da Liga decide enviar uma
mensagem ao Presidente da República; a princípio, a mensagem seria enviada no
dia 13 de maio daquele ano. Novamente o 13 de maio é posto como data
simbólica para as ações da LBCA, o que se objetiva naquele momento era a
libertação do povo brasileiro do grande mal que assolava a Nação. Juntamente
com a mensagem, seriam distribuídas à imprensa e às associações do país 2 mil
folhas que deveriam receber 40 assinaturas cada. O texto aprovado para a
mensagem era o seguinte:

Sr. Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil – Os vossos


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concidadãos, abaixo assinados, cônscios de que o Analfabetismo é um dos


males mais prejudiciais à pátria brasileira e uma triste vergonha para o seu
grau de civilização, e convictos de que este mal só poderá ser extirpado
pelo estabelecimento da obrigatoriedade da Instrução Primária, vêm
confiantes no vosso patriotismo, solicitar os vossos valiosos esforços afim
de serem votadas nos Estados da união e no Distrito Federal as leis para
isso necessárias.
E rebatendo previamente a objeção decorrente da deficiência do número
de escolas, pedem os abaixo assinados permissão para lembrar que a
obrigatoriedade pode ser desde já instituída para os analfabetos que
residem dentro de um determinado raio (fixado pelas condições
topográficas locais) em torno das escolas urbanas, suburbanas ou rurais
existentes no território da República. 78

Em agosto de 1917, a informação veiculada pela imprensa era a de que a


mensagem acima, a ser entregue ao Presidente da República solicitando a
obrigatoriedade do ensino, contava com 140.000 assinaturas79 e que deveria ser
entregue em 07 de setembro. Infelizmente, não conseguimos obter a informação,
através dos jornais, se houve um retorno à mensagem enviada.
De acordo com a Constituição republicana de 24 de fevereiro de 1891, o
princípio da descentralização se fazia presente nas questões relativas ao ensino. A
educação não aparece como matéria de competência exclusiva da União e sim
como matéria do Poder Legislativo através das atribuições do Congresso
Nacional.
78
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 26/01/1917, p.4.
79
“Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 12/08/1917, p.5.
73

O artigo 35, ao elencar o que caberia ao Congresso Nacional, mas não


privativamente, destaca que é atribuição deste “animar no país o desenvolvimento
das letras, artes e ciências, bem como a imigração, a agricultura, a indústria e
comércio, sem privilégios que tolham a ação dos Governos locais”, além disto,
caberia ao Congresso criar instituições de ensino superior e secundário nos
80
estados e prover a instrução secundária no Distrito Federal. Os estados e
municípios passariam a ter responsabilidade pelo ensino elementar. Subentendia-
se que a educação básica, que competiria aos estados, não sofreria a intervenção
do governo federal uma vez que o artigo 5º das disposições preliminares destaca
que cada estado deveria prover “a expensas próprias, as necessidades de seu
governo e administração; a União, porém, prestará socorros ao Estado que, em
caso de calamidade pública, os solicitar”. O governo federal só poderia intervir
nos negócios particulares dos estados nos seguintes casos: para repelir invasão
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estrangeira, ou de um Estado em outro; para manter a forma republicana


federativa; para restabelecer a ordem e a tranqüilidade nos Estados, à requisição
dos respectivos Governos ou para assegurar a execução das leis e sentenças
federais. Portanto, o que se solicitava ao então Presidente da República era algo
complexo, uma vez que tais propostas de centralização e intervenção acerca da
educação envolviam o tema do federalismo oligárquico.
Em maio de 1918, o foco da ação em favor da obrigatoriedade do ensino
eram as Assembléias estaduais e municipais. Um novo apelo estava sendo
81
redigido no sentido de obter a intensificação do ensino popular gratuito. Em
janeiro de 1919, a Liga resolve enviar uma mensagem ao Prefeito Paulo de
Frontin solicitando a obrigatoriedade da instrução primária no Distrito Federal
para os analfabetos residentes em torno das escolas dentro de um raio fixado de
acordo com a capacidade do edifício escolar e das condições topográficas
locais.82
Ainda em 1919, os jornais publicam a situação alarmante que continuava a
assolar o Distrito Federal. Segundo boletins oficiais dos inspetores escolares,
publicados no expediente da prefeitura de 16 de agosto a 17 de setembro daquele

80
Constituição da República Federativa do Brasil (1891). Disponível em <
www.presidencia.gov.br> Acesso em 14 de maio 2008.
81
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 24/05/1918, p.4.
82
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 23/01/1919, p.4.
74

83
ano, a freqüência escolar diminuía, engrossando a onda de analfabetismo.
Tendo em vista a situação acima denunciada, algumas sugestões seriam feitas,
passando sempre pela necessidade da obrigatoriedade do ensino primário. Em
novembro de 1919, o intendente Antônio Nogueira Penido apresentou ao
Conselho Municipal do Rio de Janeiro um projeto de lei tornando obrigatório a
partir de 7 de setembro de 1922 a freqüência nas escolas primárias pelas crianças
de 7 a 12 anos completos. O projeto previa ainda a divisão do curso da Escola
Normal em duas partes: o curso geral e o curso especial para formação de
professores. 84
Em setembro de 1920, Miguel Couto daria suas sugestões. Em idéias
expostas no 91º Aniversário da Academia de Medicina, o analfabetismo seria
mais uma vez apontado como um dos nossos problemas gravíssimos. Uma
solução para este problema era a emissão de milhares de apólices cujos juros,
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garantidos por impostos especiais, deveriam ser distribuídos pelas câmaras dos
municípios que aplicariam mais de um quinto de suas rendas em benefício da
instrução. Segundo Miguel Couto, a questão da instrução era urgente e requeria
grande atenção do governo:

A criança é o futuro cidadão e este, para ser útil, precisa ser sadio e forte,
assim colocou-a sob sua proteção o governo ao organizar o Departamento de
Saúde Pública; porém, chegada a 2ª infância, o espírito da criança precisa,
para ser útil a si mesma e também à sociedade, de proteção ainda: é então o
momento da escola [...] E quem nos diz que o presidente da república; cujo
poder de decisão é tão forte que está efetuando o congraçamento dos
Estados, não conseguirá também a extinção do analfabetismo nas grandes
cidades da União pela obrigatoriedade do ensino elementar? 85

É clara a referência que o autor faz à intervenção do governo na saúde


pública, o mesmo, para Miguel Couto, deveria se fazer pela Educação, uma vez que
as duas obras (da saúde e da instrução) deveriam se complementar na formação do
nosso futuro cidadão.

83
Em 1918, no mês de julho a freqüência era de 50.528, em agosto de 51.177; já em 1919 a
freqüência no mês de julho era de 48.048 e em agosto 46.937. “Uma situação alarmante. Engrossa
a onda do Analfabetismo”. A Noite, 12/10/1919, p. 1.
84
“Obrigatoriedade da Instrução Primária e a Reforma do Ensino Normal”. A Noite, 06/11/1919,
p.3.
85
“As sugestões do patriotismo. Uma idéia luminosa do professor Miguel Couto. Combate ao
analfabetismo”. A Noite, 04/07/1920, p.1.
75

Os apelos feitos pela Liga Contra o Analfabetismo às autoridades


persistiam. O seguinte apelo foi enviado a todos os senadores, deputados e
intendentes em julho de 1921:

Confiados no vosso patriotismo, vem os abaixo assinados reiterar o pedido


do vosso valioso apoio em prol da extinção do analfabetismo em nossa
pátria.
Dependendo de aprovação da corporação legislativa de que fazeis parte,
existem vários projetos, cuja transformação em lei muito contribuirá para a
solução definitiva desse grande problema nacional.
Para a aprovação desses projetos, com as modificações e acréscimos ditados
por vossa experiência e pelo vosso saber, é que vimos solicitar o vosso
concurso.
Nas vésperas do Centenário da Independência política o Brasil conta ainda
80% de ANALFABETOS E ISTO É UMA VERGONHA QUE NÃO PODE
CONTINUAR.
Sois brasileiros, certamente amais o Brasil. Vinde pois em seu socorro.
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Ajudai a libertá-lo da grande mácula que entorpece o seu progresso.


Em nome desse grande e amado Brasil, pedimos o vosso apoio em favor do
nosso grande Ideal que é também do dele. 86

Em 1921, os ecos de protesto pela intervenção do governo nas questões


educacionais seriam em parte ouvidos. Reflexo disto foi a organização de uma
Conferência Interestadual de Ensino Primário. A questão da difusão e da
nacionalização do Ensino Primário no Brasil levou o Sr. Alfredo Pinto, então
Ministro da Justiça, a criar esta conferência. Os temas a serem debatidos eram:

1) Difusão do Ensino Primário. Fórmula para a União auxiliar a difusão desse


ensino. Obrigatoriedade relativa ao ensino primário, suas condições;
2) Escolas rurais e urbanas. Estágio nas escolas rurais e urbanas. Simplificação dos
respectivos programas;
3) Organização e uniformização do ensino normal no país. Formação, deveres e
garantias de um professorado primário nacional;
4) Criação do “Patrimônio do Ensino Primário Nacional” sob ação comum entre os
municípios, estados e a União. Fontes de recursos financeiros;
5) Nacionalização do Ensino Primário. Escolas primárias nos municípios de origem
estrangeira, sua fiscalização;
6) Criação de um Conselho de Educação Nacional, sua organização e fins. 87

86
“A campanha Contra o Analfabetismo. Um apelo aos legisladores”. A Noite, 09/07/1921, p.6.
76

A conferência era composta pelo Presidente da República, como presidente


de honra; pelo Ministro do Interior, como presidente efetivo; pelo consultor geral
da República; pelos representantes dos Estados e Distrito Federal; pelos
representantes da União que constituíam a comissão preparatória e pelos
representantes das instituições convidadas pelo Ministro da Justiça. 88
A cerimônia de inauguração da Conferência realizou-se no salão da
Biblioteca Nacional. Fez-se representar o Presidente da República pelo Capitão
Marcolino Fagundes e assumiu a presidência da conferência Ferreira Chaves,
Ministro da Justiça naquele período, que proferiu o discurso de abertura:

Srs. da Conferência: A conferência que tenho a honra de inaugurar é


convidada a examinar uma das questões mais sérias de quantas entendem
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com o progresso da Nação. Não dissimulemos as dificuldades que envolvem


a solução do ensino Primário no Brasil. [...]
Não é este, bem sabemos, um fator novo, mas ninguém lhe poderá contestar
o caráter mais acentuado que lhe deu a emulação entre os povos, chamados
todos eles depois da grande guerra a contribuírem para o provimento de
necessidades recíprocas, destinadas a restabelecer o equilíbrio de
cooperação material e moral interrompido pela eventualidade cruenta. A
política do governo com tamanha sabedoria e previdência orientada para
essa finalidade, proporcionando às classes laboriosas do interior elementos e
condições que lhe permitam maior rendimento de trabalho será, entretanto,
sensivelmente prejudicada, senão de todo improfícua, se não cuidarmos já e
já de reduzir ao mínimo o número de analfabetos entrave aos benefícios
desta iniciativa de construção e regeneração.
Quem quer que medite sobre as avultadas despesas da União destinadas ao
saneamento rural, aos melhoramentos das terras semi-áridas do nordeste, ao
fomento agrícola, extensivo às mais remotas regiões do país, não poderá em
boa fé recusar o governo federal o direito de intervir e colaborar na difusão
do ensino primário . da sua boa organização depende o proveito de tudo que
se está fazendo e do muito que se terá ainda de fazer; e nada estará feito
agora e nada se fará no futuro sem população com a precisa capacidade para
um trabalho em que não é bastante por si só a função mecânica do braço.

87
Ver “O Ensino Primário e a Conferência Interestadual. As teses que serão debatidas. O Sr.
Presidente da República presidirá a inauguração do dia 12”. A Noite, 10/10/1921, p.2.
88
Compareceram à Conferência representando a União: Carneiro Leão, Melo e Souza, Victor
Vianna, Rodrigo Octavio, Gustavo Guimarães, Sérgio de Carvalho, João Luderitz, Professor
Orestes Guimarães e Coronel Raimundo Pinto Seidl. Fizeram parte da Conferência como
delegados de instituições particulares Laudelino Freire (da Liga de Defesa Nacional), Sampaio
Dória (da Liga Nacionalista de São Paulo), Maria Nascimento Reis Santos (da Liga Brasileira
Contra o Analfabetismo), Américo de Moura (pela escola 7 de setembro de São Paulo), Ignácio do
Amaral (pela Escola Primária) e Professor João Camargo (pela Liga Pedagógica do Ensino
Secundário). Ver “Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”, op. Cit. p.50.
77

Sem instrução primária generalizada e tanto quando possível uniforme, a


política econômica do governo não atingirá o fim colimado [...] Não é de
outro modo que teremos de garantir o pleno funcionamento do regime
representativo na amplitude da multiplicidade de seus aspectos [...] Para ser
eleitor é preciso saber ler e escrever, condição que as leis eleitorais na sua
sucessão apuram cada vez mais por meio de prova que nem por serem
legítimas deixam de concorrer para reduzir o eleitorado, e desta sorte,
chegamos afinal a substituir a maioria efetiva de votantes em todo o país por
um regime de minorias restrito aos privilégios dos centros urbanos, onde é
muito superior o coeficiente da população letrada [...]
Certo, o ensino primário tem, em quase todos os estados, melhorado
sensivelmente nos seus métodos e preparo dos professores, com evidente
proveito para as respectivas populações. Acontece, porém, que na sua
generalidade esse benefício atingiu de preferência às cidades e vilas mais
habitadas [...] ficando uma grande parte dos desfavorecidos da fortuna sem
instrução elementar [...] Esse desequilíbrio de benefícios, entre os brasileiros
subordinados aos mesmos ônus e deveres estatuídos na Constituição e nas
leis, reclama dos poderes competentes medidas que proscrevem no intuito
de tornar efetivo o princípio de igualdade [...]
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Problema nacional, interessando nas suas fontes vitais a existência


consciente da coletividade, de sua solução depende a solução de todos os
outros problemas, até mesmo porque da condição de saber ler e escrever
resultará o espírito de iniciativa tão precário entre nós e sem o qual nenhum
povo logrou ainda emancipar-se da tutela do Estado, sempre morosa e nem
sempre feliz [...] Quem quer que tenha procurado conhecer a capacidade e as
aptidões da nossa gente, terá verificado qualidades nativas da inteligência e
assimilação que se não temem de confronto com as de qualquer outro povo
[...] No preparo que falta à massa popular no Brasil e não falta às populações
operárias dos países que nos fornecem maior número de trabalhadores, se
encontra a explicação aparente de uma superioridade que precisamos
reivindicar [...]
Em nome do Sr. Presidente da República, declaro inaugurada a Conferência
interestadual de Ensino Primário. 89

O discurso é longo, porém, representativo das questões postas como centrais


acerca da educação primária durante as duas décadas iniciais da Primeira
República. Dentre estas, a necessidade de se reconhecer que a educação era o
grande problema nacional; a importância da intervenção urgente da União para a
solução deste problema e a forma como o problema educacional liga-se à
preparação das massas – com ênfase na formação das massas operárias. Algumas
destas idéias muito se assemelham às propostas elaboradas pela ABE a partir de
1924, esta associação que passaria a associar a campanha educacional à uma
campanha cívica teria como diretrizes de uma educação que deveria ser integral a

89
“Cerimônia inaugural. A Conferência Interestadual do Ensino Primário. O Discurso do Sr.
Ministro da Justiça”. A Noite, 12/10/1921, p.3.
78

educação, a saúde, a moral e a organização racional do trabalho . Todos este temas


já estão presentes no debate educacional dos anos 1910, conforme demonstra o
discurso acima, assim como os novos métodos pedagógicos e a necessidade da
montagem de um sistema de educação nacional.
Diante do número insuficiente de escolas em relação ao crescimento
populacional, reconhecia-se que era fundamental a cooperação entre governo
federal e governos estaduais para dar ao ensino primário os elementos
indispensáveis ao seu desenvolvimento, que corresponderia ao desenvolvimento do
povo brasileiro, sobretudo da “massa popular”. Inserida em tais preocupações e
mobilizada neste sentido estava a campanha da LBCA.
A LBCA participou da Conferência, sendo representado por seu Secretário
Geral Raimundo Pinto Seidl. Encarregado de indicar os recursos financeiros
indispensáveis à intensificação da Instrução Popular, o Secretário Geral da Liga
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propôs a criação de um fundo escolar especial, destinado exclusivamente a este


objetivo e a criação de alguns impostos novos sob o nome de “Tesouro Brasileiro
de Instrução Popular”. A idéia não era nova, uma vez que em setembro de 1882 Rui
Barbosa propôs na Câmara dos Deputados a criação de um fundo escolar a
propósito de uma reforma da Instrução pública. 90
Segundo Seidl, na regulamentação deste fundo, haveria necessariamente um
dispositivo taxativo de que os recursos para o Fundo de Instrução Popular fossem
empregados exclusivamente na criação e manutenção de jardins de infância, escolas
elementares, primárias, profissionais e normais do Conselho Federal de Instrução
Pública, em auxílio das Caixas Beneficentes escolares, com o suprimento de roupas
e calçados às crianças reconhecidamente pobres que necessitam de tal socorro, na
manutenção de um professorado ambulante destinado a ministrar não só a instrução
preliminar em todos os meios de população esparsos em nosso vasto território,
como também a instrução profissional adequada às condições de cada região e
também na dotação de professores primários ao corpo das tropas federais e

90
De acordo com Ana Maria Freire, o parecer mencionado foi apresentado em 12 de setembro de
1882, porém jamais foi discutido pela Câmara. Rui Barbosa escreveu os pareceres na condição de
relator da Comissão de Instrução da Câmara, contando com a cooperação dos deputados Thomaz
de Bonfim Spindola e Ulysses Machado Pereira Vianna. O capítulo XVI foi dedicado ao “Fundo
Escolar” que tinha como idéia fundamental uma instrução para todos que deveria ser custeada por
todos. Este fundo ou taxa escolar adviria dos impostos pagos por toda a população (dotação
territorial; dotação tributária e dotação eventual). Ver Ana Maria Araújo Freire. Analfabetismo no
Brasil, op. Cit. pp. 112-153.
79

estaduais em que houver analfabetos por efeito de incorporações resultantes do


sorteio militar. 91
Os debates na conferência devem ter sido acalorados, uma vez que um
delegado do Rio Grande do Sul faz voto em separado sobre algumas resoluções,
afirmando que “lava suas mãos”. O Sr. Carlos Penafiel declarava que considerava
“uma verdadeira usurpação das prerrogativas conferidas aos Estados pela
Constituição Federal grande parte das conclusões sobre o Ensino Primário,
votadas, como alvitres a sugerir ao Congresso Nacional, por esta Conferência” 92.
O delegado do estado do Rio Grande do Sul destacava ainda que pela Constituição
o poder civil não tinha competência para declarar o ensino obrigatório, conforme
propôs as conclusões da Conferência, uma vez que semelhante medida atacava a
autoridade paterna e destituía a liberdade espiritual. Penafiel destacava ainda a
dificultosa disponibilidade de recursos orçamentários dos municípios, estados e da
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União, de modo que “talvez o combate ao mal que a presente conferência visa
vencer, seja agravado com a interferência e assistência de auxílios por parte do
governo federal”. Por fim, o delegado afirma lavar as mãos.93
Ao término dos trabalhos, a I Conferência Interestadual do Ensino Primário
chegaria às seguintes conclusões:

1) A União em sua missão patrioticamente Constitucional de animar no


país o desenvolvimento das letras, artes e ciências, tem competência
para colaborar com os Estados e o Distrito Federal, na difusão do Ensino
Primário e no combate ao Analfabetismo.
2) A fórmula preferível para que se efetive essa colaboração é a do acordo
entre a União, os Estados e o Distrito Federal mediante as seguintes
bases:
a) A União concederá aos Estados, aos municípios, a Iniciativa
Particular, subvenção e outros favores compatíveis com sua nação
constitucional e criará Escolas Federais onde verificar necessidade dessa
instituição.
b) Os Estados manterão providas todas as escolas atualmente
existentes, e as criadas até a data do acordo, e se comprometerão a
elevar gradualmente as suas despesas com a Instrução Primária, até pelo
menos 10% de sua receita, assim como, reservar para o Fundo Escolar
2% dos seus saldos orçamentais.

91
Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, op. Cit, 1941, p.44.
92
“Conferência sobre o Ensino Primário. O delegado do Rio Grande do Sul lava as mãos”. A
Noite, 16/11/1921, p.3.
93
Ibid.
80

c) As subvenções da União aplicar-se-ão exclusivamente às escolas


isoladas ou agrupadas que criarem posteriormente ao acordo e em
virtude dele.
d) A União terá função de coordenar os esforços no Combate ao
analfabetismo e de sistematizar a Educação Nacional, pelo que intervirá,
pelos órgãos competentes, na elaboração dos programas e aplicação dos
métodos de ensino das Escolas subvencionadas e criadas, tendentes a
formar a mentalidade do Povo Brasileiro.
e) A União exercerá a inspeção nas escolas subvencionadas sem excluir
as dos Estados e do Distrito Federal.
3) A Conferência Interestadual do Ensino Primário reconhece a
competência do Congresso Nacional para conjuntamente com os
Estados decretar a OBRIGATORIEDADE DO ENSINO PRIMÁRIO.
4) A atual situação do país não comporta a decretação desta medida com
caráter absoluto.
5) Tornar-se-á efetiva a obrigatoriedade sempre nas escolas em raio de 2
km, haja vagas a preencher.
6) Os particulares ou empresas que possuírem estabelecimentos fabris ou
industriais que empreguem menores em seus serviços e os particulares
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que os empreguem em serviços domésticos, ficarão na obrigação de lhes


administrar o ensino das primeiras letras.
7) Serão punidos pelo modo que a Lei determinar os que infligirem o
disposto na conclusão anterior.94

Vale lembrar que desde o Império, o sistema de instrução pública foi


caracterizado pela descentralização administrativa e que a Constituição
republicana de 1891 manteria este perfil descentralizado do ensino. Conforme
temos observado neste tópico, o tema da obrigatoriedade ganhou destaque nos
debates acerca do ensino, ficando, na maioria das vezes, sob responsabilidade dos
estados e municípios e rendendo discussões que passavam pelo princípio de
autonomia sobre as questões educacionais e pelas noções de liberdade individual.
Apesar dos intensos debates acerca do tema da obrigatoriedade do ensino primário
esta só seria incorporada pela Constituição de 1934.

3.2.4 Às vésperas do Centenário.

Às vésperas do Centenário da independência, o destaque para a educação e


os esforços no combate ao analfabetismo prosseguiam. Entretanto, faltando cerca
de oito meses para a grande data, as notícias veiculadas eram ainda sobre as
péssimas condições da instrução primária no Brasil. Ao convocar a Conferência

94
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”, op. Cit. p. 61-63
81

Interestadual de Ensino, o Ministro da Justiça encarregou Mello e Souza e Orestes


Guimarães da elaboração de uma estatística minuciosa sobre as condições do
ensino primário no Brasil. A estatística demonstra que em vários estados da
República mais de 90% das crianças em idade escolar cresciam privadas de
ensino.

Porcentagem de crianças analfabetas em idade escolar – 1922

Estados Porcentagem de crianças analfabetas em


idade escolar
Goiás 95%
Piauí 95%
Alagoas 94%
Maranhão 92%
Amazonas 91%
Pará Mais de 70%
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Ceará Mais de 70%


Rio Grande do Norte Mais de 70%
Sergipe Mais de 70%
Bahia Mais de 70%
Rio de Janeiro Mais de 70%
Distrito Federal Cerca de 41%
Santa Catarina Cerca de 41%
Rio Grande do Sul Cerca de 41%
São Paulo Cerca de 41%
Minas Gerais Cerca de 41%

Estatística extraída do relatório organizado por Orestes Guimarães e Mello e Souza por
designação da Conferência Interestadual do Ensino Primário. Fonte: A Noite, 07/01/1922.

As despesas com a Instrução Primária em cada estado também foram


quantificadas na referida estatística sobre a instrução popular:

Porcentagem das despesas estaduais com a Instrução Primária - 1922

Estados Porcentagem de despesas com a


Instrução Primária em ordem
decrescente
Santa Catarina 20%
Distrito Federal 17%
Ceará 17%
São Paulo 16%
Minas Gerais 15%
Rio Grande do Sul 12%
82

Mato Grosso 12%


Rio de Janeiro 11%
Paraná 11%
Paraíba 11%
Amazonas 10%
Pará 10%
Piauí 10%
Rio Grande do Norte 10%
Espírito Santo 10%
Sergipe 9%
Alagoas 8%
Maranhão 8%
Goiás 7%
Bahia 5%
Pernambuco 3%

Fonte: A Noite, 07/01/1922.


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O que podemos observar diante da estatística apresentada é a disparidade


das despesas com o Ensino Primário nos estados brasileiros, demonstrando,
sobretudo, a falta de uma orientação nacional acerca da instrução popular. Diante
dos dados alarmantes, novos apelos foram publicados nos jornais; chama-nos a
atenção a mensagem enviada pelo engenheiro civil Frederico A. Liberaldi. É
interessante notar o apelo que um leitor do jornal faz aos jovens brasileiros,
chamando-os a participar de forma ativa e solicitando seu auxílio durante as férias
para combater o analfabetismo nos mais diversos cantos do Brasil. É relevante, no
contexto em questão, identificarmos uma chamada aos estudantes para participar
da luta pela alfabetização, uma vez que as grandes mobilizações estudantis
marcariam décadas posteriores.

Aos estudantes do Brasil!


Aproximam-se as vossas férias, o descanso benéfico para refazer forças
intelectuais no doce contato da família, por esses Brasis além.
Venho pedir-vos o concurso de vossa pujante propaganda em benefício
dos analfabetos. O combate extra-muros das cidades, nas fazendas, nos
sítios, nos caminhos que percorrerdes, onde se concentra a maior
porcentagem de 85% dos avaliados analfabetos. Esse combate é o mais
glorioso para os brasileiros e o mais certo de vencer, sem ódios, sem
recriminação e tão vultuoso como foram a abolição da escravatura e a
proclamação da República que, para ser verdadeiramente República, falta-
lhe desditosamente a instrução que ensina e educa [...]
O combate é possível e a vitória é certa em poucos anos, se a mocidade, se
os estudantes, quiserem fazer intensa propaganda por todos os meios
83

imagináveis em que forem os maiores fatores o riso, a alegria e a bondade.


Minha voz nada vale; mas milhares de vozes, fazem eco pelas canhadas e
encostas por onde repercute [...] Comecemos por entre as povoações e
estabelecimentos rurais, riscando letras e números, mesmo sobre a areia do
chão, como Pitágoras fazia, multiplicando, com a sua taboada [...] Sois
vós, meus jovens colegas, os mais competentes propagandistas para esta
missão. Jesus Cristo foi professor ambulante do Cristianismo nas suas
predicas; imitemo-lo com o mesmo ardor e caridade e venceremos. 95

Algumas críticas foram endereçadas às escolas que não estavam


cumprindo seu papel e aos governantes que faziam pouco caso do ensino . Uma
denúncia é feita em relação à escola Bárbara Ottoni onde não estavam ocorrendo
aulas em razão da preparação para inauguração daquela escola. O autor da notícia
expõe o seguinte:
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Bem sabemos que é mais agradável aos prefeitos, diretores da instrução e


inspetores escolares a impressão decorativa dos dias de festança; muito
mais agradável do que o dever de verificar cuidadosamente se há ensino
real [...] Mas nós nos lembramos de que nas escolas há crianças que lá vão
para aprender e que é esse o fim principal das escolas, sem prejuízo de
festas justificadíssimas como a de anteontem na escola Bárbara Ottoni. O
que não se justifica é que as festas sirvam de pretexto para que se subtraia
um só minuto ao ensino. 96

A escola estava a mais de um mês sem aulas e as reclamações foram feitas


baseadas nas reivindicações de um aluno de 10 anos que pertencia àquela escola.
Em sessão da diretoria da LBCA publicada em abril de 1922, a
demonstração que temos é de que os trabalhos daquela associação continuavam,
com prestação de auxílios às escolas e apoio a outros movimentos. Nesta sessão, a
Liga recebeu a visita da professora Luiza Álvares da Silva que foi agradecer o fato
de haver a Liga mandado fazer a instalação elétrica no edifício em que funcionava
a 16ª escola mista do 1º Distrito escolar, a fim de poder ser aberto o curso noturno
gratuito em que a professora estava lecionando a 73 analfabetos, em sua maioria
operários e empregados domésticos. O Secretário Geral, Raimundo Seidl,
transmitiu à Liga agradecimentos recebidos do Capitão Corbiniano Cardoso do 2º
regimento de infantaria, por ter a LBCA oferecido à escola para analfabetos
existentes na companhia de seu comando grande parte do material escolar

95
“Vinde a mim os analfabetos. Um patriótico apelo aos estudantes em férias”. A Noite,
09/01/1922, p.6
96
“Oh! A luta Contra o analfabetismo! Escolas que dão o “exemplo””. A Noite, 03/04/1922, p.4.
84

necessário ao ensino.97 Constou no expediente da sessão de 25 de abril um ofício


da professora Eulina Nazareth, 1ª Secretária da Caixa Escolar “Álvaro Batista”,
agradecendo uma doação feita a essa Caixa Escolar.
As professoras e professores do município do Rio de Janeiro decidiram,
em julho de 1922, proporcionar aulas extraordinárias a todos os que quisessem
aprender a ler e escrever. Havia, inclusive, cursos que funcionavam aos domingos
e feriados. Além disto, os educadores fizeram uma solicitação ao Sr. Prefeito em
prol da extinção do analfabetismo:

Os cursos noturnos destinados a acabar com o analfabetismo funcionam


em bons prédios e têm professoras devotadas, mas não produzem os
resultados esperados simplesmente por causa do horário [...] Os
empregados do comércio como também os criados domésticos não podem
antes das oito horas da noite comparecer a estes cursos [...] Os referidos
cursos se tornariam mais úteis funcionando das 8 às 10 horas da noite. 98
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Em agosto de 1922, uma mensagem do Presidente do estado do Rio de


Janeiro, Raul Veiga, dá-nos um indicativo do que vinha sendo feito naquele
estado tendo em vista a comemoração do centenário. O Sr. Raul Veiga afirmou
em mensagem à Assembléia Estadual que:

[...] foi feita a criação da Diretoria Geral de Instrução Pública; construídos


grupos escolares, escolas isoladas de acordo também com o programa
comemorativo do centenário de nossa independência. As principais
cidades do estado (Niterói, Petrópolis, Macaé, Valença, S. João da Barra,
Cabo Frio, S. Francisco de Paula e Itaperuna) possuem edifícios
modelares, onde funcionam escolas modernas.
Em Campos e Niterói existem 2 escolas profissionais instaladas de acordo
com os requisitos mais modernos ditados pela higiene. Visando distribuir
a instrução ao povo, criou-se um eficiente aparelho central, harmonizado
por uma administração unificada na direção do ensino público [...]” 99

A Mensagem destacava ainda que a freqüência escolar primária havia


aumentado em relação a 1919 (29.211), passando a 36.880 em 1922. O número de
escolas primárias era de 476, havia 51 grupos escolares e mais 4 que seriam
instalados durante aquele ano.

97
“Tudo, tudo pela desanalfabetização”. A Noite, 25/04/1922, p.5.
98
“Em prol da extinção do analfabetismo no Brasil. Um apelo ao Sr. Prefeito que merece ser
atendido”. A Noite, 12/07/1922, p.4.
99
“A Mensagem do Sr. Presidente do Estado do Rio”. A Noite, 03/08/1922, p.6.
85

Estes empreendimentos não se resumiriam ao estado do Rio de Janeiro, o


movimento em favor do combate ao analfabetismo e de melhorias na instrução
primária tomou o Brasil; e não foram poucos os estados que fundaram suas Ligas
contra o analfabetismo. A análise das Ligas pelo Brasil é um tema extremamente
interessante, sendo explorado em nosso próximo capítulo.
Não poderíamos encerrar este capítulo sem observar como foi publicada a
comemoração do dia 7 de setembro de 1922 no periódico que nos serviu de base
para percorrer a trajetória da LBCA. No dia do centenário, “A Noite” publicou
uma edição especial que abordava alguns assuntos que foram analisados
historicamente pelo jornal; as manchetes eram as seguintes: “Um século de
medicina brasileira. Atingimos um grau de cultura que não foi sobrepujado por
nenhuma nação latino-americana”; “O principal e imediato fator da
independência. Uma comemoração essencialmente dos homens de imprensa. O
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jornalismo de 1822 e um pouco da sua história no século que passa hoje”; “A


música suaviza os costumes”; “O direito no 1º centenário da nossa emancipação
política. As etapas da evolução constitucional e o princípio da descentralização”;
“Um século de atividade militar (ligeiras notas)”; “Foi o começo nas paredes da
cidade... O lápis, de 1822 a 1922” e “O comércio nacional. Desde o tempo em que
o valor da nossa importação e exportação apenas regulava a ser de 22.600 contos
de rés”.
A medicina, a imprensa, o comércio, o exército, a música ... E a educação?
O tema da educação simplesmente não aparece na edição especial em
comemoração ao Centenário da Independência brasileira. Talvez para não tirar o
brilho da festa. Afinal, a mobilização pelo combate ao analfabetismo foi
considerável e intensa, conforme tentamos demonstrar ao longo de nosso texto.
Mas muito ainda tinha que ser feito para melhorar a educação no país uma vez que
não havia uma organização efetiva em âmbito nacional para tratar das questões
educacionais. Em todo o Brasil os investimentos neste setor eram díspares e
apesar das questões levantadas pela I Conferência Interestadual do Ensino
Primário, a obrigatoriedade não foi decretada e o país continuava com números
alarmantes de analfabetos.
Finalizamos esta trajetória da LBCA retornando à citação retirado de “O
Paiz” que inicia este capítulo: “O Brasil realiza a anomalia surpreendente de ser
um país novo povoado de ruínas. É que nos faltam, por completo, qualidades de
86

perseverança, espírito de continuidade. Daí a desorganização em que vivemos.


Iniciamos, com ímpeto e uma grande energia aparente, empreendimentos, que
são, logo depois, inexplicavelmente abandonados (...)” Embora a LBCA não
tenha conseguido atingir seu propósito maior – comemorar o Centenário da
Independência diante de um povo livre do analfabetismo – sua atuação foi
extremamente relevante ao engajar a sociedade brasileira na fundação de cursos
noturnos, escolas primárias ou através dos múltiplos auxílios que visavam o
combate ao analfabetismo; além disto, suas ações e idéias compartilhadas com
outras instituições e com a população brasileira trouxeram à tona questões
fundamentais que seriam retomadas posteriormente, como a necessária
centralização das ações educacionais e a intervenção do governo federal no que se
definia como o grande problema da nação.
A análise da atuação da LBCA não se encerra com este capítulo, nem
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mesmo com esta pesquisa, novas diretorias foram eleitas e novas cruzadas devem
ter sido realizadas visando acabar com o analfabetismo no Brasil. Voltaremos a
isto mais adiante.
4

Uma guerra que mobiliza a Nação. Todos contra o


analfabetismo!
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Sendo o Brasil uma Nação moderna, a força


viva que deve impulsioná-lo para o progresso a
que tem direito é a Instrução que molda o
caráter, impulsiona a indústria, o trabalho, e
vigora a unidade da Pátria, elevando-a a um
nível mais alto que o das demais, por isto que
os brasileiros não devem esquecer um só
momento do lema da Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo: Combater o analfabetismo é
dever de honra de todo brasileiro! 1

1
Trecho retirado de uma conferência da LBCA. Ver Liga Brasileira Contra o Analfabetismo,
op. Cit., pp.31 e 32.
88

A campanha de combate ao analfabetismo, empreendida pela LBCA,


encontrou apoio nos diversos cantos do Brasil. A chamada feita à população
brasileira visando declarar guerra àquele que era considerado nosso maior mal
atingiu muitos estados. Foram fundadas seções da Liga Contra o Analfabetismo
2
em 20 estados brasileiros. Neste capítulo, percorreremos as ações em favor da
instrução primária que se alastraram pelo território nacional, analisando como se
deu esta luta contra o analfabetismo entre os anos de 1915 e 1922. O objetivo é
acompanhar a expansão das ações da LBCA por todo o país. Para isto,
utilizaremos as informações obtidas através das diversas notícias que chegavam à
LBCA vindas dos estados e localidades acerca das instalações de Ligas e sobre a
nomeação e atuação dos delegados da Liga Brasileira.
Um dos primeiros estados a manifestar apoio à LBCA foi Minas Gerais
que já em 1915 envia à LBCA a notícia de que havia sido inaugurada no dia 12 de
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outubro a Liga Barbacenense Contra o Analfabetismo. A cerimônia de


inauguração contou com uma conferência de Maria Lacerda Moura 3.
O estado do Rio de Janeiro promoveria sua primeira ação em prol da luta
contra o analfabetismo através da cidade de Campos, onde em novembro realizou-
se, na Escola de Aprendizes Artífices, uma festa em homenagem ao dia da
bandeira, organizada pelo diretor Thiers Cardoso; ali se levantou a idéia de fundar
na localidade uma Liga Contra o Analfabetismo, filiada à Liga Brasileira. Nesta
festa, surge também a idéia de convidar Olavo Bilac para uma conferência na
4
cidade em dezembro daquele ano. Olavo Bilac e suas conferências cívico-
patrióticas tornar-se-ia, conforme já apontamos, uma das lideranças de
movimentos nacionalistas durante a Primeira República, incentivando o

2
Ver ANEXO IV.
3
Ver “Uma campanha patriótica. Prosseguem vitoriosamente os trabalhos da Liga Contra o
Analfabetismo”. A Noite, 15/10/1915, p.4. A escritora mineira Maria Lacerda Moura foi uma das
atuantes personagens da Liga em Barbacena, sendo uma de suas fundadoras. Maria Lacerda Moura
formou-se na Escola Normal de Barbacena em 1904, onde também lecionou. Envolveu-se com o
movimento operário anarquista, participando diretamente do movimento operário sindical. Foi
uma das pioneiras do feminismo no Brasil. Entre 1918 e 1919, morando em São Paulo, publicou
dois livros sobre a instrução das mulheres como instrumento transformador de suas vidas e
assumiu a presidência da Federação Internacional Feminina (criada por mulheres das cidades de
Santos e São Paulo). Ver Maria Lacerda Moura (1887-1945). Disponível em
<http://netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_2349.html>. Acesso em: 14 de abr. 2008 e
Maria Lacerda Moura: trajetória de uma rebelde. Disponível em
<http://www.historia.uff.br/nec/textos/gehatex02.pdf>. Acesso em: 14 de abr. 2008.
4
“A Festa da bandeira em Campos”. A Noite, 20/11/1915, p.4.
89

surgimento de instituições como as já mencionadas Liga de Defesa Nacional e


Ligas Nacionalistas, assim como a LBCA da qual era sócio fundador.
Outras cidades brasileiras também se manifestavam no combate ao
analfabetismo em novembro de 1915, é o caso das cidades de Barra Mansa (RJ) e
Bananal (SP), onde se trabalhava ativamente visando fundar Ligas locais a
exemplo de outros pontos do interior. À frente da propaganda estava Henrique
Zamith, funcionário estadual e diretor do jornal “A Gazetinha” de Barra Mansa, e
sua esposa, professora na mesma cidade. Em Bananal, o destaque era para a
atuação do poeta José Ramos Nogueira, diretor do jornal “A Rosa”, o industrial
Francisco Leite, além de outros proprietários, comerciantes, industriais e
jornalistas locais. 5
Em dezembro, o Rio Grande do Sul adere às causas da LBCA,
comunicando, através de carta enviada por Francisco Antônio Xavier, a criação de
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uma Liga em Passo Fundo (RS) e a criação de um curso gratuito com concorrida
freqüência. No estado do Paraná, o Centro Paranaense também declarava sua
adesão aos ideais da LBCA, esperando instalar em breve instituições congêneres
naquele estado. 6
Iniciam-se ainda as primeiras providências para a fundação de uma Liga
na cidade de Niterói, assim como outras em todo o estado do Rio de Janeiro
como, por exemplo, a Liga criada na cidade de Campos. A idéia da criação de
uma Liga Fluminense Contra o Analfabetismo foi destacada pelo Dr. Luiz
Palmier. O Major Maximiano Martins, nomeado delegado da LBCA na capital do
estado do Rio vinha desenvolvendo atividades em torno desta iniciativa.7 Nilo
Peçanha, Presidente do estado do Rio de Janeiro, havia conversado com o Major
Maximiano Martins sobre a organização de uma Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo e declarado seu apoio à fundação da Liga em Niterói, prometendo
ainda empreender campanha contra a ignorância, difundindo o ensino primário em
todo o estado. 8
Em 1915 iniciam-se as nomeações de delegados da LBCA. Conforme
apontamos no capítulo anterior, a ação destes delegados era essencial para a

5
“Os trabalhos da Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 26/11/1915, p.4.
6
“Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 03/12/1915, p.4 e “Prosseguem os trabalhos da Liga
Contra o Analfabetismo. Importantes adesões”. A Noite, 24/12/1915, p.2.
7
“Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 17/12/1915, p.4.
8
“Prosseguem os trabalhos da Liga Contra o Analfabetismo. Importantes adesões”. A Noite,
24/12/1915, p.2.
90

difusão dos objetivos da Liga, uma vez que eram os delegados que faziam o
intercâmbio de informações entre a Liga Brasileira e suas seções. Em outubro
daquele ano, o presidente da LBCA declara a nomeação do Dr. Domingos
Jaguaribe para delegado da Liga em São Paulo e de Maria Piedade Ennes Belchior
9
com a mesma função em São Luís do Maranhão. Em dezembro, uma carta foi
enviada pelo general Joaquim Inácio, do Rio Grande do Sul, manifestando seu
apoio à LBCA, ficando este designado para delegado naquele estado. Por proposta
do sócio da Liga Brasileira Luiz Lobo, Gentil Bittencourt, Mário Sá e Octávio
Sacramento foram designados delegados no estado do Amazonas, onde
pretendiam fundar instituições locais de propaganda contra o analfabetismo.
Ao longo do ano de 1916, aumentam as adesões aos intuitos da LBCA em
todo o país. Em fevereiro, Luiz Palmier, um dos principais propagadores das
idéias de combate ao analfabetismo no estado do Rio de Janeiro, comunicou à
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LBCA que já haviam muitos núcleos organizados por sua iniciativa no interior
daquele estado, haviam representantes nos municípios de Petrópolis, Sapucaia,
Paraíba do Sul, Niterói, Carmo, Duas Barras, Vassouras e Cabo Frio.
O Espírito Santo, através do Centro Espírita de Cachoeiras do Itapemirim,
solicita algumas informações à LBCA e o envio de seus estatutos para a fundação
de uma seção da Liga naquele estado em maio de 1916. O mesmo procedimento
foi feito em relação a José Danny, professor do Patronato Agrícola em Arraial dos
Souzas (SP), que desejava trabalhar pela causa da Liga na localidade.
Notícias vindas da cidade de Campos (RJ) destacavam reunião organizada
por Thiers Cardoso no edifício da Associação dos Empregados do Comércio, onde
se fizeram representar os jornais “Folha do Comércio”, “Monitor Campista”, “A
Noite”, “O Rio de Janeiro” e “Gazeta do Povo” a fim de tratar do combate ao
analfabetismo. O foco principal da reunião era a necessidade da decretação do
ensino primário obrigatório. Organizou-se, então, uma comissão de membros da
imprensa visando agir sob o lema “Educação Cívica”. 10 Nota-se que a questão da
obrigatoriedade do ensino era uma das principais bandeiras da LBCA, sendo
seguida pelas Ligas locais. Além disto, não se pode perder de vista a ênfase

9
Ver “Uma campanha patriótica. Prosseguem vitoriosamente os trabalhos da Liga Contra o
Analfabetismo”. A Noite, 15/10/1915, p.4.
10
“Contra o Analfabetismo – A imprensa campista quer o ensino obrigatório”. A Noite,
13/05/1916, p.3.
91

constante dada pelos envolvidos com as ações das Ligas Contra o Analfabetismo
ao civismo e/ou à virtude cívica que deveria ser aflorada no povo brasileiro.
As manifestações de apoio e as notícias de mobilização no estado do Rio
de Janeiro ganharam destaque nas reuniões da LBCA. De acordo com Henrique
Milhomes, a Liga Contra o Analfabetismo em São Gonçalo havia ultrapassado o
número de 200 associados, além de obter a fundação de escolas diurnas e
conseguir que os edifícios das escolas estaduais fossem cedidos para aulas
noturnas. Há informações de que no estado do Rio haviam sido criadas mais 36
escolas, louvando-se, neste sentido, o auxílio do Presidente do Estado à causa da
instrução e a influência decisiva do Dr. Luiz Palmier nas ações fluminenses. 11
Em julho de 1916, o deputado do Rio Grande do Norte, Dr. José Augusto
expôs seu trabalho sobre a difusão do ensino primário e sobre a criação de um
Conselho Nacional de Educação em sessão da LBCA. A Liga lançou em ata voto
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de agradecimento ao deputado do Rio Grande do Norte pelo projeto elaborado 12.


Naquele mesmo mês, no município de Campos, a campanha pelo ensino primário
obrigatório se intensificava com a apresentação, em sessão do Conselho
Municipal, de uma representação dos jornalistas campistas pedindo a
obrigatoriedade do ensino primário, demonstrando que os jornalistas da cidade
buscavam ativamente uma das principais metas no combate ao analfabetismo. 13
Os estados de Alagoas e Sergipe remetem informações à LBCA em
outubro de 1916, o primeiro, através de seu governador, envia ofício com
estatística escolar de todo o estado; o segundo informa fundação de sua Liga
estadual sob o patrocínio do governador Valadão. 14 Da Bahia, chegam notícias de
que o Colégio Pedro II e o Ginásio Ypiranga criaram cursos noturnos gratuitos
com grande freqüência. Naquele estado estaria se reunindo uma Liga Infantil
Contra o Analfabetismo, organizada por alunos da Escola da Companhia
Progresso Industrial que tinha sede em Plataforma. Uma ativa propaganda de
combate ao analfabetismo estava sendo realizada em Conquista, contando com a
contribuição de “O Conquistanense”. 15

11
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Comemoração do primeiro aniversário”. A Noite,
15/05/1916, p.4.
12
“Contra o Analfabetismo. A Liga Brasileira trabalha”. A Noite, 21/07/1916, p.4.
13
“Contra o Analfabetismo”. A Noite, 29/07/1916, p.1.
14
“Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 05/10/1916, p.4.
15
“O Combate ao Analfabetismo. A Liga continua a trabalhar”. A Noite, 31/10/1916, p.4. Ver
também “O Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 01/12/1916, p.4.
92

As adesões à Liga Contra o Analfabetismo continuavam a se concretizar


com a instalação de uma Liga no Paraná, notícia que chega à LBCA através de um
telegrama que solicitava a intervenção da Liga Brasileira para que aquela Liga
estadual se instalasse em prédio do governo federal. Segundo o referido
telegrama, compunham a diretoria da Liga no Paraná Felizardo Tocano
(Presidente), Hermínio César (Tesoureiro) e Olympio de Sotto Maior (Secretário).
A LBCA declara que providenciaria uma comissão para tratar do assunto com o
general Caetano de Faria. 16
No estado de Santa Catarina – onde a instrução primária já seria
obrigatória em outubro de 1916 – fundam-se mais dois grupos escolares nas
cidades de São Francisco do Sul e Tubarão, perfazendo um total de nove grupos
escolares. Segundo estas informações, mais de 30.000 crianças estariam
recebendo instrução em Santa Catarina, onde o governo estadual reservava 25%
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de sua renda para a instrução pública.


Em dezembro de 1916, em sessão da Liga Brasileira, ocorreu a leitura de
alguns dados oficiais sobre a instrução pública no Rio Grande do Sul. Segundo
tais dados, havia naquele estado 1 escola complementar, 30 colégios elementares,
6 grupos escolares, 670 escolas isoladas, 1.075 escolas rurais e 18 colégios e
instituições particulares. 17
Prosseguiram no ano de 1916 a nomeação de delegados. Em fevereiro, a
LBCA declarava que em Minas Gerais, trabalhavam no combate ao analfabetismo
na localidade de Mar de Espanha, Felicidade Silva e outras professoras do Grupo
18
Estevão Pinto. Em maio, foi indicado por Luiz Palmier para representar a Liga
em Vitória (PE), Ignácio de Brito, redator de “O Lidador”. 19 Para atuar em Recife
20
como delegado da LBCA é designado o professor Gaspar Regueira Costa. Em
Minas Gerais trabalhavam contra o analfabetismo o Dr. Jonas de Farias Castro
(em Santa Luzia de Carangola) e Alfredo de Magalhães Queiroz (em
Munhumirim).
As ações da LBCA no ano de 1917 foram intensas, sobretudo no que
concerne à atuação de seus delegados designados para percorrer o Brasil em

16
“O combate ao Analfabetismo. Funda-se uma liga em “Foz do Iguaçu””. A Noite, 14/10/1916,
p.4.
17
Ibid.
18
“Mais adesões para a Liga Contra o Analfabetismo”. A Noite, 26/02/1916, p.2.
19
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 11/05/1916, p.4.
20
“O Combate ao Analfabetismo. A Liga continua a trabalhar”. A Noite, 31/10/1916, p.4.
93

propaganda de combate ao analfabetismo, cujo número aumenta


consideravelmente, assim como as informações vindas dos diversos estados
referentes a ações que seguiam os propósitos da Liga Brasileira.
Em janeiro de 1917, o capitão do Exército Dr. Gama Villas Boas foi
investido da função de delegado especial da Liga no estado do Pará. O professor
Mozart Monteiro seguiu em viagem de propaganda para o estado do Ceará como
delegado da LBCA.21 Foram designados delegados em Garanhuns (PE) o
professor Jeronymo Queiroz e em Mundo Novo (BA) o professor Manoel
Monteiro. Para atuar em Porto Alegre (RS), foi indicado José Domingos de
Almeida e em Santa Luzia de Carangola (MG) o professor Augusto Amarante. O
Major Teto Villas Lobos foi indicado pelo deputado José Augusto como delegado
em Porto Alegre, tendo em vista os serviços que vinha prestando naquela região
22
contra o obscurantismo. Um ofício de congratulações foi enviado pela LBCA à
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Ribeirão Preto (SP), que havia notificado a fundação de uma Liga local, além da
decretação da obrigatoriedade da instrução primária na zona de sua jurisdição.
Ainda de São Paulo, chega a notícia da fundação de uma Sociedade que destinar-
se-ia a ministrar “instrução moral, espiritual e intelectual aos decaídos, mutilados
da vida e desfavorecidos da fortuna de todas as idades e de ambos os sexos”. 23
Atuando como delegado no Ceará, Mozart Monteiro informou à LBCA
que havia oficiado ao Governador daquele estado, J. Thomaz Sabóia, solicitando
auxílio no que pudesse conceder para o combate ao analfabetismo no Ceará.
Registrar-se-ia em ata de reunião da Liga Brasileira voto de louvor e
agradecimento ao referido governador do Ceará pela fundação de uma Liga
naquele estado. 24
Em fevereiro daquele ano, a LBCA recebe informações vindas de Itajubá
de que o deputado mineiro Pedro Bernardo Guimarães apresentou à Câmara de
Deputados em Belo Horizonte um projeto considerando de utilidade pública as
Ligas contra o analfabetismo de Lavras, de Vila Nepomuceno e de Barbacena. Tal
projeto havia sido apresentado em 18 de agosto de 1916. O referido deputado
mineiro foi, então, nomeado delegado especial da LBCA no estado de Minas

21
“A Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 07/01/1917, p.4.
22
“Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 12/01/1917, p.4.
23
Ibid.
24
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 26/01/1917, p.4.
94

Gerais, por mostrar-se solidário à Liga e agir de acordo com seu programa,
lançando bases de diversas associações de combate ao analfabetismo. 25
Retornando de viagem a Minas Gerais, o presidente da Liga Brasileira,
Ennes de Souza, declarou que desenvolveu naquela região do Brasil uma ativa
propaganda em favor da instrução, sendo auxiliado por Carlos Góes que, em
breve, afirmou lançar as bases para uma Liga em Belo Horizonte. Atuavam na
cidade de Ouro Preto o Dr. Costa Senna, Alberto Magalhães e Luiz Caetano
Ferraz, sendo todos investidos da função de delegados da Liga naquela
localidade.26
Ainda em fevereiro de 1917, chega à LBCA a notícia de que em Vila Nova
de Lima não havia mais analfabetos graças aos esforços do diretor da “S. João
d’El Rey Gold Mining Company Limited” que fundou uma escola na região. Por
intermédio dos delegados Manoel Dantas e Alípio Silva chegam informações
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vindas do Rio Grande do Norte e de Goiás sobre a campanha empreendida em


Natal e sobre a instalação, em breve, de um Centro Goiano de Resistência ao
Analfabetismo. 27
Henrique Araújo e Mozart Monteiro informam à LBCA o bom
acolhimento e a excelente repercussão da propaganda que vinha se realizando no
estado do Ceará. Declararam, inclusive, que os membros da Liga Brasileira não
deveriam estranhar “se o Ceará, a exemplo do que aconteceu na emancipação
28
dos escravos, desse o primeiro passo na extinção do analfabetismo” Ainda a
respeito do Ceará, o pedagogo Henrique de Alencastro Autran informou que a
maçonaria daquele estado estava trabalhando em favor da instrução primária,
custeando diversas escolas conforme o apelo do Grão-Mestre da maçonaria
brasileira Lauro Sodré.
Alípio Doria comunicou a fundação no estado da Bahia de uma escola para
vendedores de jornais, por iniciativa de Alcebíades Pessoa. O Clube de Barbeiros
e Cabeleireiros da região havia oferecido seus salões para o funcionamento das
escolas gratuitas. Vale ressaltar o empenho das mais variadas camadas da
sociedade na manutenção de escolas primárias, neste sentido, a LBCA registraria

25
“O Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 06/02/1917, p.5.
26
“Combate ao Analfabetismo. Em Villa Nova de Lima (Morro Velho) não há mais analfabetos”.
A Noite, 16/02/1917, p.4.
27
Ibid.
28
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 25/02/1917, p.4.
95

voto de louvor ao jornalista Altamiro Requião do “Diário de Notícias” por sua


contribuição à campanha contra o Analfabetismo. 29
Sobre as ações no estado do Rio de Janeiro, Luiz Palmier comunicaria a
fundação de escolas por iniciativa do Centro de Instrução e Proteção de
Petrópolis. Em sessão realizada em 25 de fevereiro, o 1º secretário da LBCA,
Albino Monteiro, leu várias cartas recebidas, provavelmente dando notícias das
ações locais no combate ao analfabetismo, destaque para cartas vindas de São
Paulo (enviada por Iarosz Kosbian) e do Maranhão (remetida por Antônio
Santana). Foi lido também um artigo de Telerico Gomes publicado em “O
Pinhalense”, periódico de Espírito Santo do Pinhal (SP) e outro artigo publicado
em “O Imparcial”, cuja autoria era de Plácido Barbosa. 30
Em março de 1917, compareceu à uma das reunião da LBCA o pedagogo
mineiro Carlos Góes, delegado do estado de Minas Gerais no IV Congresso
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Brasileiro de Instrução. Carlos Góes afirmou ser excelente os resultados obtidos


pelas Caixas Escolares que constituem uma fonte de atração para a “petizada”
ávidas de roupa, calçado, merenda etc. Destacou ainda que o professorado tem
feito muito para que os alunos compareçam à escola, indo até os lares para
orientar aos pais no cumprimento dos seus deveres. O governo de Minas estaria
destinando cerca de 20% de sua renda para o ensino popular gratuito. Góes
anunciou também que, em breve, seriam lançadas as bases para uma Liga de
resistência ao analfabetismo em todos os municípios mineiros. Concluiu seu
discurso aconselhando a LBCA a dar atenção especial “para o problema das
Caixas Escolares e da regulamentação do trabalho dos menores em todo o
Brasil”.31 As ações empreendidas no estado de Minas Gerais em conformidade
com os ideais da LBCA formam ressaltadas por Ennes de Souza e Júlio Guedes,
uma vez o estado possuía localidades onde já havia sido “expurgado” o
analfabetismo.
O Instituto Arqueológico de Recife comunicaria à Liga Brasileira, através
de telegrama, a fundação de várias escolas populares em Garanhuns, Glória, Água
Preta, Iguaraçú e Pau d’Alho, além de outras escolas que estavam projetadas e que

29
Ibid.
30
Ibid.
31
A fundação de Caixas Escolares, tema recorrente nas ações das Ligas, sobretudo no que se
refere à importância da freqüência escolar, será alvo de nossa atenção mais adiante. “Liga
Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 02/03/1917, p.4.
96

32
receberam nomes de mártires da Revolução de 1817. Também em março de
1917, Luiz Palmier informou em reunião da LBCA a fundação de uma Liga
Contra o Analfabetismo em Paraíba do Sul (RJ), sob a orientação e patrocínio de
Eurico Teixeira Leite, prefeito municipal. Declarou ainda que a Liga Fluminense
Contra o Analfabetismo estava atuando junto aos poderes estaduais para fundar 15
escolas em localidades diversas. 33
Prosseguiam as nomeações de delegados, enviados para atuar em todo o
território nacional. Remigio de Oliveira foi designado para trabalhar em nome da
Liga Brasileira em Brusque (SC), em razão da propaganda contra o analfabetismo
que vinha desenvolvendo em várias localidades catarinenses como São José,
34
Palhoça, Lages, São João e Nova Trento. Ernesto Cony Filho também foi
nomeado delegado na região mineira de Estação de Sítio, onde desenvolvia
propaganda em prol dos ideais da LBCA.
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Em Ouro Preto (MG), J. C. da Costa Sena decide aceitar sua nomeação


para delegado da Liga, o mesmo fez o Dr. Mario Pinto Serva que enviou notícias
35
do movimento intelectual no estado de São Paulo. Atuavam ainda como
delegados da Liga o Cônego Joaquim Souza Soares em São Gonçalo de Sapucaia
(MG), o coronel Joaquim Severino de Paiva em Itajubá (MG), José Pereira em
Santa Rita de Sapucaí (MG) e a professora Maria Lacerda de Moura, diretora da
Escola Conde de Prados em Barbacena (MG).
Notícias de todo o território brasileiro continuavam a chegar à LBCA,
demonstrando uma ativa correspondência com as Ligas estaduais, municipais e
seus delegados. Ainda em 1917, tomou-se conhecimento da instalação da Liga
Pernambucana Contra o Analfabetismo, por iniciativa do Instituto Arqueológico,
com a fundação de escolas em diversos municípios, contando com a assistência
dos poderes municipais. Em Natal, o deputado José Augusto notificou a
intensidade da campanha no Rio Grande do Norte. O movimento em favor da
instrução estava ativo no estado do Paraná (uma das melhores porcentagens de
ensino, segundo informações do jornal “A Noite”). Declarações de apoio também
eram recebidas e lidas nas reuniões da LBCA, é o caso da declaração de louvor ao

32
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 02/03/1917, p.4.
33
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 09/03/1917, p.4.
34
Ibid.
35
“Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 18/03/1917, p.4.
97

intuito da Liga enviada pelo Ministro da Marinha, que afirmava seu esforço para
libertar os marujos do analfabetismo. 36
O governador do Ceará, Sergio Saboya, encaminhou ofício à LBCA, onde
manifestava seu regozijo pela “fervorosa acolhida que mereceu de seus
37
coestaduanos na campanha ali iniciada”. Em 25 de março de 1917, Mozart
Monteiro propõe a inserção em ata de voto de louvor e agradecimento à Liga
Cearense. Monteiro entregou aos membros da LBCA vários exemplares do
“Diário do Estado” de Fortaleza, onde se verificaria a intensidade do movimento
naquela região. Do Rio Grande do Sul, o coronel Moreira Guimarães, comandante
da 2ª Brigada de Cavalaria em Alegrete, comunicou a fundação de uma Liga
naquela localidade, solicitando ainda estatutos à LBCA. O Dr. Luiz Palmier
comentou a fundação de uma escola paroquial em Areal (RJ), dirigida pelos
católicos locais. Comunicou ainda a fundação, pela Companhia Petropolitana, de
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uma escola que contaria com 197 alunos matriculados. 38


Os jornalistas da cidade de Campos (RJ) continuavam a se mobilizar,
realizando reunião onde decidem solicitar mais uma vez ao Conselho Municipal a
decretação da obrigatoriedade do ensino primário e requerer do governo a
instalação da Liga local e de uma escola primária no edifício do Liceu de Artes e
39
Ofícios que se encontrava fechado há anos. Segundo informações dadas por
Luiz Palmier à LBCA, no estado do Rio de Janeiro, foram fundados 6 grupos
escolares por iniciativa do governo. Além disto, a Irmandade de Nossa Senhora da
Piedade, uma instituição católica filantrópica fluminense, havia fundado 2 escolas
com boa freqüência (uma em Paraíba do Sul e outra em Entre Rios). Destacamos
desde já que analisaremos mais adiante, de forma mais detida, a atuação da Liga
Fluminense Contra o Analfabetismo.
A LBCA recebe informações em abril de 1917 sobre a decretação da
obrigatoriedade do ensino primário em fevereiro do referido ano pelo governo do
estado do Espírito Santo e que o mesmo havia ocorrido em Mogi-Mirim (SP) no
mês de março e na municipalidade de Atibaia (SP).40 Ainda sobre a
obrigatoriedade do ensino, foi lido em reunião da LBCA realizada em maio de

36
Ibid.
37
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 25/03/1917, p.4.
38
Ibid.
39
“A Campanha contra o Analfabetismo no estado do Rio”. A Noite, 31/03/1917, p.4.
40
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 22/04/1917, p.4.
98

1917 um ofício da Câmara Municipal de Boa Família (ES), prometendo franco


apoio às ações empreendidas, assim como a fundação de escolas e a instituição do
ensino obrigatório quando as escolas forem em número suficientes para comportar
a população em idade escolar. 41
Em junho de 1917, notícias chegam do estado do Pará, onde Firmo
Cardoso trabalhava pela instrução popular. De Goiás, chegam informações de que
a propaganda na região continuava intensa, com destaque para a atuação do Dr.
Alípio Silva, auxiliado pelo clínico Dr. Eleutério Novaes. No estado do Rio de
Janeiro uma escola noturna havia sido fundada pela prefeitura de Teresópolis,
cujo material escolar seria fornecido pelo intendente municipal coronel Teixeira.
Em Paraíba do Sul, fundar-se-ia um Instituto de Propaganda da Instrução Popular,
com o patrocínio do prefeito Eurico Teixeira Leite. 42
No mês seguinte, o delegado Antônio Domiciano Pereira informa a
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fundação de uma Liga em Jaguari (RS) e a iminência da fundação de uma Liga


também em Piracicaba (SP). No Rio Grande do Sul, o delegado Manoel Goulart
notificou a fundação de mais uma liga local. O movimento em favor da instrução
popular em Pernambuco ganhava destaque, a atuação da Liga daquele estado, que
tinha à frente Manoel Borba, Professor Regueira Costa e general Joaquim Ignácio
estaria rendendo bons frutos no combate ao analfabetismo. Da Companhia Predial
de Saneamento em Pernambuco, conseguiu-se um nobre gesto, a Companhia
decidiu oferecer a cada vila um prédio para funcionamento de escola gratuita. 43
A questão da obrigatoriedade do ensino continuava a agitar o estado do
Rio, em Paraibuna, a Câmara Municipal havia decretado uma lei acerca da
obrigatoriedade do ensino primário, a mesma lei instituía a Caixa Escolar em prol
das crianças pobres. No Distrito Federal um projeto do intendente Ernesto Garrez
versava sobre a obrigatoriedade do ensino primário para as crianças de ambos os
sexos de 7 a 14 anos, havendo, inclusive, a decretação de penalidades para pais e
tutores que não cumprissem a lei. A LBCA enviaria felicitações ao intendente
pelo projeto apresentado. 44

41
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Importantíssimas adesões”. A Noite, 06/05/1917, p.4.
42
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 17/06/1917, p.2.
43
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 08/07/1917, p.4 e 14/07/1917, p.5.
44
“O ensino obrigatório no Estado do Rio”. A Noite, 18/07/1917, p.1 e “A obrigatoriedade da
instrução no Distrito. Um projeto no Conselho”. A Noite, 17/08/1917, p.3.
99

Em agosto de 1917, seguem as notícias do movimento nos estados


brasileiros com a inauguração de novas escolas em Pernambuco, Goiás e Rio de
Janeiro. Ainda acerca do estado do Rio, no município de Angra dos Reis, o Centro
Cívico Raul Pompéia havia fundado um externato noturno com freqüência
gratuita. Em Minas Gerais, na cidade de Queluz, o representante da Caixa dos
Jornaleiros da Estrada de Ferro Central do Brasil estava organizando uma série de
conferências contra o analfabetismo no teatro Santa Cecília. 45
Encerrando o ano de 1917, as páginas do jornal “A Noite”, destaca a
atuação do deputado José Augusto, representando do Rio Grande do Norte na
Câmara dos Deputados, dando ênfase à difusão do ensino primário nos debates
travados na Câmara. Em dezembro, a Câmara Municipal de Recife havia
elaborado um projeto em favor do ensino primário obrigatório. Do Rio de Janeiro
chega a informação de que em Paquetá haviam apenas 295 analfabetos, sendo a
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população total de 2.058 habitantes. 46


A indicação de delegados não cessou. Os delegados da LBCA
continuavam a atuar em todo o território nacional, enviando constantemente
informações de seus trabalhos. Para atuar na propaganda dos ideais da Liga
Brasileira no Maranhão, foi designado como delegado especial o deputado
estadual maranhense Major Antônio de Castro Pereira Braga, neste mesmo estado
atuaria ainda Godofredo Vianna (jurisconsulto e juiz substituto do Maranhão),
Antônio Pereira Rego, encarregando de arregimentar forças para esta cruzada em
favor da instrução, contando ainda com o apoio de outros nomes como Carlos
Augusto de Araújo Costa (Presidente da Câmara Municipal), Clodomiro Cardoso
(Intendente Municipal), professores Antônio Batista de Godois, Antônio Lopes de
Cunha e José Ribeiro do Amaral (Presidente da Academia Maranhense), jornalista
Domingos Barbosa Alves, Joaquim Pinto Franco Sá (Promotor Público), Cônego
João dos Santos Chaves e professoras Maria da Glória Parga Nina, Odila dos
Santos Pinho e Rosa Côrtes. 47

45
“Combate ao Analfabetismo”. A Noite, 12/08/1917, p. 5 e “Contra o analfabetismo em Queluz”.
A Noite, 14/08/1917, p.5.
46
Ver “A difusão do ensino primário”. A Noite, 01/10/1917, p.2; “Um projeto sobre o ensino
primário na capital pernambucana”. A Noite, 23/12/1917, p.4 e “A pérola da Guanabara através da
estatística”. A Noite, 31/12/1917, p.1.
47
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 15/04/1917, p.4 e “Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo”. A Noite, 22/04/1917, p.4.
100

No Alto Acre, foi designado como delegado da LBCA Octávio Steiner do


Couto (jornalista, advogado, considerado um dos baluartes da campanha dirigida
por Plácido de Castro de quem foi capitão ajudante de ordens). Enviam cartas à
LBCA dando notícias sobre o andamento dos trabalhos os delegados em Brusque
(SC), Remigio de Oliveira, e em Paracatu (MG), Alyrio Carneiro. Foram ainda
nomeados delegados em Nova Trento, Tijucas, São João Batista e Palhoça (SC) o
coronel Hippolyto Boiteux, Dr. Eurico Ennes Torres, Professor Patrício Brasil e
João Boanerges Lopes. Para Carrancas e Caxambu foi nomeado o Dr. Roseny
Silva. 48
Ao longo do ano de 1918, a LBCA continuava a receber as notícias vindas
de todo o país no combate ao analfabetismo. Em fevereiro a LBCA recebe o apoio
dos jornais “Nova Cruzada” de Pernambuco, o “Alpha” do Espírito Santo e “O
Cidadão”, cujas colunas vinham relatando o desenvolvimento da campanha de
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combate ao analfabetismo nos respectivos estados. A Federação Espírita do


Paraná informou sobre a fundação de uma escola primária para os dois sexos em
Itayaópolis, instituída pelo Centro Jesus de Nazareth, além da criação de um curso
primário e complementar pela Federação de Curitiba. 49
Uma Liga Riograndense Contra o Analfabetismo foi fundada em maio de
1918 pela iniciativa do delegado da LBCA João B. de Magalhães. Entre os
fundadores da referida Liga estadual estavam Carlos Tuliro (Presidente),
Edmundo Leite Rosas (Vice-presidente), Paulo de Magalhães (Tesoureiro),
Eduardo Leite Rosas, Joaquim Martins Garcia, Alípio Cadaval e João Fernandes
Moreira.50 Neste mesmo mês, Benjamin de Mello, propagandista da instrução no
Paraná, envia carta à LBCA relatando seus ativos trabalhos em Vera Guarany.
No estado do Mato Grosso, Cypriano Campos havia fundado uma escola
gratuita na localidade de Poconé. Em favor desta localidade, a Liga de Defesa
Nacional enviou um ofício à LBCA solicitando que se remetessem livros
didáticos ao referido fundador da escola gratuita; solicitação que seria atendida
imediatamente pela LBCA. 51

48
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Importantíssimas adesões”. A Noite, 06/05/1917, p.4.
49
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 19/02/1918, p.2.
50
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Mais uma filial no Rio Grande do Sul”. A Noite,
10/05/1918, p.2
51
Ibid.
101

Ainda em maio de 1918, Luiz Palmier comentou em sessão da LBCA o


exemplo de Araruama (RJ), onde se mantinham 6 escolas públicas com orçamento
de 25 contos. Salientou ainda os esforços do coronel José Ribeiro que, na Força
Policial do estado do Rio de Janeiro, conseguiu expurgar o analfabetismo. Aos
esforços do coronel foi declarado em ata voto de louvor. 52
Ligas locais continuavam a ser instaladas, assim como escolas eram
fundadas nas mais diversas localidades. Em Jaguari (RS) havia sido criada a Liga
Jaguariense Contra o Analfabetismo que fundou as escolas Tiradentes e Sete de
setembro. De Pernambuco e Cachoeiras de Itapemirim (ES), chegam notícias da
fundação de escolas e ligas de propaganda. Em Ribeirão Preto (SP), o professor
Francisco Augusto Neves mantinha um externato para crianças pobres, resolvendo
a LBCA auxiliá-lo com 50 livros. 53
Em suas reuniões semanais, a LBCA mantinha a nomeação de delegados
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para atuar em diversos lugares do país. O literato Antônio Salles foi designado
para o estado do Ceará e a professora Alzira Casabona de Oliveira atuaria no
Maranhão, na localidade de Mirador. 54
Em junho de 1918, a Liga Maçônica Charitas de São João D’el Rei (MG)
comunicou à LBCA a fundação de uma escola noturna denominada João
Gonzaga, sendo inaugurada em 30 de maio. À LBCA foram remetidos os jornais
“A Idea” de Paty e “Lumea” de Jaguari, onde foi publicado o lema da Liga, além
de artigos sobre a extinção do analfabetismo. O delegado da LBCA em Cruz Alta
(RS), o major do exército Maximiano Martins, deu ciência à Liga de uma
estratégia utilizada para interessar os jovens de Santo Ângelo na campanha da
Liga Contra o Analfabetismo. A carta enviada pelo delegado destaca o seguinte:

Assistindo a uma festa escolar do sexo feminino em Santo Ângelo, fiz uma
oração sagrando a missão de professora e roguei às meninas, em nome da
Pátria, que cada uma prometesse, tomando Deus por testemunha,
encarregar-se de dar luz a um analfabeto de seu lar ou da vizinhança. Elas,
levantando-se, estenderam as mãozinhas e prometeram. Ultimamente, três
meses depois daquele dia feliz, encontrando-me com a professora, fui por
ela informado de que só uma das meninas não cumpriu a promessa. 55

52
“O combate ao Analfabetismo. Intensifica-se a propaganda”. A Noite, 17/05/1918, p.5.
53
Ibid.
54
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 31/05/1918, p.4.
55
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 06/06/1918, p.3.
102

Em novembro de 1918, em sessão conjunta da diretoria e do conselho


fiscal da LBCA, registrou-se a adesão do 1º tenente Caio Lustosa de Lemos,
nomeado delegado da Liga em Rio Branco. Além disto, em carta dirigida ao
presidente Matheus de Oliveira a Liga comunicava a fundação de uma Liga
Contra o Analfabetismo na capital da Paraíba. Comentando a notícia, o coronel
Raimundo Seidl informou sobre seu desgosto ao ler uma notícia de que o governo
daquele estado, à pretexto de economia, havia demitido 30 professores
primários.56
Iniciando as ações no ano de 1919, por proposta de Raimundo Seidl, ficou
resolvido em janeiro daquele ano que a LBCA ofereceria algumas cartilhas à
escola gratuita “Três de Outubro” fundada na cidade de Parnaíba no estado do
Piauí. Em março, a LBCA designou o sócio Júlio Azambuja (médico e jornalista
de Porto Alegre) para fazer uma excursão pelo Brasil em propaganda da instrução.
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57

Notícias continuavam a chegar acerca das ações empreendida nos estados.


Em Minas Gerais, na cidade de Barbacena, a Câmara Municipal sancionou uma
lei obrigando os operários diaristas analfabetos a aprenderem a ler e escrever sob
pena de suspensão ao findar o prazo de 8 meses. Às Ligas Contra o Analfabetismo
foi concedido auxílio de 10 mil réis – o número de Ligas por todo o município
perfazia um total de 20.58 Segundo o general Joaquim Ignácio em telegrama ao
Secretário Geral da LBCA, Raimundo Seidl, no estado do Ceará, no 19º batalhão
de caçadores aquartelados não existiam mais praças analfabetos. 59
Em sua excursão pelo Brasil, o delegado especial da LBCA, Dr. Júlio
Azambuja, passou por Barbacena em julho de 1919; dali seguiu para Belo
Horizonte onde tinha a intenção de fazer uma conferência. O delegado especial
voltaria a Barbacena ainda naquele mês para realizar outra conferência de
propaganda. 60
Em maio de 1920, a LBCA tomou conhecimento de que havia sido
inaugurada oficialmente em Barbacena (MG) a sede da Liga Barbacenense Contra
o Analfabetismo. À cerimônia compareceram pessoas de destaque como o

56
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 15/11/1918, p.5.
57
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. A Noite, 23/01/1919, p.4; “Guerra ao analfabetismo”.
A Noite, 13/03/1919, p.4;
58
“Combatendo o analfabetismo”. A Noite, 24/05/1919, p.1.
59
“A campanha contra o Analfabetismo no Exército”. A Noite, 23/06/1919, p.2.
60
“A campanha contra o analfabetismo”. A Noite, 22/07/1919, p.5.
103

presidente da Câmara que prestigiava a idéia. 61 A diretoria da Liga em Barbacena


em 1920 era composta por Augusto de Araújo Doria (Presidente), Maria Lacerda
de Moura (1ª Vice-presidente), Pedro Massena (2º Vice-presidente), Pedro
Mariani Serra (Secretário Geral), Moacyr Bittencourt (1º Secretário), Arthur
Romano (2º Secretário), Joaquim de Andrade Santos (Tesoureiro), Antônio
Lemos Henrique (Procurador), João Arthur Regis (Procurador), João B. de
62
Magalhães (Bibliotecário) e Ademar Faria (sub-bibliotecário). A Liga
Barbacenense resolveu criar na sua sede à Rua Quinze de novembro uma
biblioteca para intensificar o movimento de combate ao analfabetismo ali
iniciado, para isto, pôs em circulação um pedido à imprensa e ao público para que
enviassem livros, revistas, mapas etc.
Ainda em Minas Gerais, agora com informações trazidas de Ouro Preto,
criou-se um escola no bairro Cabeças, Alto da Cruz. Em Alfenas (também em
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Minas), afirmava-se só existirem analfabetos no povoado os estrangeiros e os


naturais de outros pontos do estado, conforme agente recenseador do distrito de
63
Fama. Em outubro de 1920, a Liga Barbacenense envia ao jornal “A Noite”
uma carta demonstrando o que estava sendo feito naquela região no combate ao
analfabetismo.

Enfrentando dificuldades de toda sorte e contando apenas com o concurso


do povo e um modesto auxílio da municipalidade venceu galhardamente o
seu primeiro lustro de existência mantendo já 6 escolas. O município de
Barbacena possui 16 distritos e à apenas 3 chega a ação benéfica da Liga.
Com o intuito de implantar mais escolas, a diretoria está distribuindo
circulares por toda Minas Gerais solicitando donativos em dinheiro,
títulos, livros, objetos de escritório, mapas do Brasil, dos estados e
municípios, mobília escolar [...] A recompensa dos doadores será a
consciência de haver cumprido um dever cívico e ter seu nome sempre
lembrado por aqueles que se aproveitaram dos benefícios recebidos
tornando-se verdadeiros cidadãos aptos a engrandecer o nosso país. 64

A carta enviada de Barbacena é representativa do que, provavelmente,


ocorria em muitas das localidades onde se fundaram Ligas de combate ao
analfabetismo. O discurso ali presente retrata de forma bastante clara as

61
“Contra o analfabetismo”. A Noite, 04/05/1920, p.4.
62
“Liga Barbacenense Contra o Analfabetismo”. A Noite, 21/05/1920, p.4
63
“Contra o analfabetismo”. A Noite, 12/07/1920, p.5 e “Os filhos de Alfenas não são analfabetos!
Magnífica revelação do recenseamento”. A Noite, 03/10/1920, p.3.
64
“Combatamos o analfabetismo! O que se tem feito em Barbacena”. A Noite, 22/10/1920, p.5.
104

dificuldades que se encontravam (contava-se apenas com doações para manter as


instituições), entretanto, para alcançar o objetivo de alfabetizar o maior número
possível de pessoas, fazia-se necessário criar escolas, uma vez que as existentes
não davam conta do número de analfabetos existentes. O artifício utilizado pela
Liga Barbacenense parece ser o mais comum entre as demais Ligas por todo o
Brasil: fazia-se um chamado, sobretudo à população, e aos poderes públicos em
determinadas ocasiões, através de uma verdadeira propaganda contra o
analfabetismo, para que se conseguisse donativos dos mais diversos gêneros que
pudessem auxiliar na luta contra o analfabetismo.
O que nos chama mais atenção na citação acima é a harmonia entre o lema
da LBCA e a referência feita ao povo de Minas acerca da recompensa para os
doadores: “A recompensa dos doadores será a consciência de haver cumprido um
dever cívico e ter seu nome sempre lembrado por aqueles que se aproveitaram
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dos benefícios recebidos tornando-se verdadeiros cidadãos aptos a engrandecer o


nosso país”. Afinal, combater o analfabetismo era dever de honra de todo
brasileiro que desejasse tornar o Brasil uma Nação moderna composta por
cidadãos conscientes.
O Centenário da Independência se aproximava e as informações de ações
em favor da instrução continuavam a ser veiculadas. Às vésperas do Centenário,
as menções diretas à LBCA diminuem, conforme observamos no capítulo
anterior. Entretanto, notamos que as informações relacionadas ao combate ao
analfabetismo não cessaram.
Na Bahia, o Clube Comercial de Juazeiro (fundado em 21 de maio de
1893) mantinha escolas noturnas gratuitas para os dois sexos, em salas separadas,
com freqüência média de 60 alunos e 30 alunas. A escola, que possuía uma
biblioteca com 8.000 volumes, destinava-se aos pobres de qualquer idade e os
livros e material escolar eram gratuitos. 65
Em julho de 1921, uma notícia enfatizava a maneira como deveríamos
festejar o Centenário. A afirmação referia-se ao exemplo dado por São Paulo onde
o Secretário do Interior emitiu circular a todas as comarcas municipais do estado,
reproduzindo uma moção da Comissão Executiva do Centenário da
Independência. Segundo este documento, decretava-se “que cada cidade do

65
“Os baluartes contra o analfabetismo no interior. O club Comercial de Juazeiro na Bahia”. A
Noite, 09/11/1920, p.5.
105

Brasil, tendo mais de 10.000 habitantes, inaugurasse uma escola no dia 7 de


setembro de 1922”. A moção elaborada pela Comissão Executiva do Centenário
da Independência era representativa da necessidade de intervenções no âmbito
educacional, contemplando as mobilizações em favor da instrução realizadas por
movimentos como a LBCA. As comemorações do Centenário surgem como
momento peculiar para se fazer um balanço das realizações dos 100 anos
percorridos; no caso da educação, evidenciava-se que havia muito ainda a
caminhar. Assim, a melhor maneira pra comemorar o aniversário de nossa
independência era promovendo a independência intelectual de nossa nação,
através da instrução.
A diversidade de notícias recebidas pela LBCA e veiculadas nos jornais
nos permite concluir que a mobilização pelo combate ao analfabetismo em
estados como Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Sul,
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São Paulo, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe e Rio de Janeiro foi
bastante relevante, nos dando indícios de que a guerra contra o analfabetismo
atingiu quase todo o Brasil. De modo a aprofundar nossa análise e objetivando
melhor compreender as ações empreendidas nos estados e localidades, no tópico
seguinte, analisaremos a campanha das Ligas Contra o Analfabetismo em Sergipe
e no estado do Rio de Janeiro. 66

4.1. Estados contra o Analfabetismo: a análise de dois casos.

4.1.1. A campanha da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo

A Liga Sergipense Contra o Analfabetismo foi fundada no dia 24 de


setembro de 1916, reunindo intelectuais e autoridades em cerimônia realizada no
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. O presidente do estado, Manuel
Prisciliano de Oliveira Valadão, recebeu o título de presidente honorário da
associação, sendo aclamada na mesma data a primeira diretoria da Liga composta
por Adolpho Avila Lima (Presidente), Alcebiades Corrêa Paes (Vice-presidente),
Itala Silva de Oliveira (primeira secretária), Florentino Menezes (segundo

66
A análise especificamente destes dois estados deve-se ao fato de que, após longa pesquisa e em
razão das dificuldades em relação às fontes, estes são os únicos estados que possuem trabalhos que
se dedicam ao estudo específico sobre Ligas estaduais.
106

67
secretário) José da Silva Ribeiro (tesoureiro) e Evangelino de Faro (orador).
Fundada após sugestão de Theodoro Sampaio, no 5º Congresso Brasileiro de
Geografia (realizado em Salvador em setembro 1916), a Liga Sergipense teve uma
longa duração garantida pela colaboração de instituições como o Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe e, posteriormente, da Loja Maçônica Cotingiba.
A Liga de Sergipe implantou uma rede de escolas de alfabetização, cujas
inaugurações se repetiram até 1950.
Destacamos aqui o trabalho pioneiro de Clotildes Farias de Sousa que faz
uma análise detalhada das ações da Liga em Sergipe. A autora procurou mostrar
em seu trabalho que a fundação da Liga Sergipense estava inserida em um
movimento nacional. Nesse sentido, relacionou a fundação da Liga Sergipense
Contra o Analfabetismo com o movimento nacionalista da época e à campanha
empreendida por Olavo Bilac e a Liga de Defesa Nacional. Esta campanha teve
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grande repercussão em Sergipe no sentido de entender o analfabetismo como um


grave problema nacional.
Desta forma, a mobilização para a fundação de uma Liga em Sergipe
remetia a uma conferência realizada por Olavo Bilac na região, uma vez que o
poeta fazia um chamamento cívico-patriótico evidenciando a necessidade de se
combater o “perigo interno do Brasil”. Tal alerta se relacionava com a ideologia
do cidadão-soldado e à concepção de defesa nacional vinculada à campanha em
favor do serviço militar obrigatório empreendida pela Liga de Defesa Nacional.
68
De acordo com a ideologia do cidadão-soldado , o exército deveria ser um
prolongamento da escola e o oficial era visto como um educador. Bilac afirmava
que:

O Brasil ainda não está feito, como pátria completa. E a culpa é nossa,
como foi dos nossos antepassados, porque a nossa cegueira ou o nosso
egoísmo, a nossa vaidade, a nossa pequenina política de rasteiras paixões
deixaram a massa do povo privada de fartura, de instrução, de higiene, de
‘humanidade’. Temos vivido e gozado no litoral do país, numa estéril
fruição de orgulho, de mando, de retórica e não nos dirigimos ao coração
da terra, à alma da gente simples, aos milhões de homens que vivem pelos
sertões abandonados à incúria, à pobreza, ao analfabetismo. [...]
67
Clotildes Farias de Sousa. Por uma pátria de luz, espírito e energia: a campanha da Liga
Sergipense contra o Analfabetismo (1916-1950). 2004. 141f. Dissertação (Mestrado em
Educação), Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, p. 27.
68
José Silvério Baía Horta. 1994. O hino, o sermão e a ordem do dia: a educação no Brasil
(1930-1945). Apud Clotildes Farias de Sousa, Idem.
107

reconhecemos que o Brasil ainda não está feito como pátria completa...
Como fazê-lo? Dar-lhe novas gerações de homens fortes e conscientes,
dando-lhes estas duas necessidades, primordiais, básicas de defesa: o
trabalho e a instrução. Sem o pão e o livro, sem a riqueza e o ensino, não
pode ter saúde, nem alegria, nem dignidade, nem alma, quem tem fome e
não pode pensar. 69

Conforme já destacamos, Olavo Bilac tornar-se-ia uma das lideranças dos


movimentos nacionalista durante a Primeira República. Logo após ser fundada a
Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, Adolpho Avila Lima enviou a notícia a
Ennes de Souza, presidente da LBCA, com a qual manteria constante
correspondência. Citando o segundo artigo do estatuto da Liga de Sergipe,
verificamos que seus propósitos seguiam as diretrizes da LBCA:

[...] o fim da associação é combater o analfabetismo no Estado, e se esforçar


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para que, ao comemorarmos o 1º centenário da independência política


nacional, possa o Estado de Sergipe proclamar livres do analfabetismo as suas
cidades e vilas. 70

A primeira medida tomada após a instalação da Liga em Sergipe foi a


criação da escola noturna feminina em 1916, fundada pelo diretor-gerente da
fábrica Sergipe Industrial Thales Ferraz. Nesta escola, instalada no Grêmio
Industrial, estudavam os filhos dos operários e em um dos salões funcionava uma
biblioteca. Seguindo as diretrizes da LBCA, a criação de escolas foi o principal
instrumento de ação da Liga Sergipense no combate ao analfabetismo. Segundo
Clotildes Souza, para os intelectuais da referida Liga, à escola cabia:

[...] a tarefa de educar e instruir, tratando do conjunto de ações que se


exercia sobre o indivíduo ainda imaturo, a fim de apressar e melhorar o
seu desenvolvimento físico e orgânico, tornando-o apto a viver no seu
ambiente físico e social. Complementar a educação da virtude e do caráter,
desenvolvendo o culto da justiça, necessário ao respeito dos semelhantes, à
solidariedade social, à organização das nações, à ordem de um país e à sua
segurança interna, esta era a função atribuída à escola. Formar o cidadão
brasileiro, dotado de conduta para agir [...]. 71

69
Carlota Josefina Malta Cardozo dos Reis Boto. 1990. Rascunhos de escola na encruzilhada
dos tempos. São Paulo. Tese (Doutorado em História e Filosofia da Educação). Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo. p. 215. Apud Clotildes Farias de Sousa, Idem. p.46
70
SERGIPE. 1917. “Estatutos da Liga Sergipense contra o Analfabetismo”. Aracaju: Imprensa
Oficial. p. 1. Apud Clotildes Farias de Sousa. Idem. p. 27.
71
Idem, p. 88.
108

Através da citação e da argumentação que estamos desenvolvendo ao


longo deste trabalho, evidencia-se que a grande missão dos que se envolveram no
combate ao analfabetismo residia na formação de cidadãos dotados de sentimento
cívico, responsabilidade e autonomia para formar suas opiniões. Era este cidadão
que deveria compor a Nação brasileira que se almejava construir. Neste sentido, a
função dos professores era de suma importância, assim como a pedagogia a ser
desenvolvida. Sobre estes aspectos, as opiniões dadas pelos membros da Liga de
Sergipe são fundamentais, uma vez que nos permitem vislumbrar como se
posicionava também a LBCA. Afinal, os discursos e ações das Ligas convergiam
para os mesmos objetivos.

Na escola, o papel do professor era despertar na alma da criança o


sentimento cívico. O professor devia ser o modelo da bondade e da
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perfeição, porque a criança o imitava. A ele cabia despertar o sentimento


de autonomia e responsabilidade, pois a autonomia era a base da educação
política e da vida individual. À pedagogia era atribuída a função de
aplainar e aperfeiçoar as inclinações naturais do mestre, fazendo despertar
as qualidades didáticas. A formação docente foi um dos pontos de
discussão, porque se entendia que o ensino efetivo dependia da instrução
do mestre e de sua competência. Não se admitiam embaraços do professor
no exercício de sua função, capazes de prejudicar o desenvolvimento físico
e intelectual do educando. As análises convergiam para a necessidade de
considerar a Pedagogia como um meio importante para o esclarecimento
dos professores e um instrumento indispensável para se educar. Uma
educação bem ministrada devia estar pautada nos princípios
metodológicos da chamada “Pedagogia Moderna” e nos estudos sobre a
natureza da criança. 72

Sousa enfatiza em sua análise a importância dada ao civismo e ao que


considera uma inovação pedagógica nos discursos dos promotores da
alfabetização em Sergipe. As idéias de uma pedagogia moderna conquistava
espaço nos debates educacionais ao lado das noções de democratização da escola
e da alfabetização como necessárias ao progresso do Brasil. Alguns professores
envolvidos com a Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, como, por exemplo, o
primeiro presidente da instituição professor Adolpho Ávila Lima, destacavam que
o segredo para o sucesso da educação brasileira estaria na organização e
fiscalização ativa do ensino, defendendo uma uniformização do ensino com o

72
Itala Silva de Oliveira. 1916. “Nos domínios da instrução IV”. Aracaju, ano VI, n. 1639, p. 2, 14
de novembro. Apud Clotildes Sousa, Idem, p. 91.
109

cumprimento de orientações pedagógicas nos estados e municípios de acordo com


métodos e processos que deveriam seguir um programa oficial do ensino primário.
Esta são questões bastante interessantes acerca do que já se pensava sobre os
avanços necessários para que melhorias na educação fossem obtidas.
De acordo com o trabalho de Souza, as escolas da Liga Sergipense Contra
o Analfabetismo buscavam proporcionar aos seus alunos uma educação integral,
aliando a instrução à uma base moral. Neste sentido, pode-se considerar a
alfabetização em um sentido amplo, uma vez que para além da leitura e do
cálculo, primava-se pelas noções cívicas. O mesmo poderá se perceber na análise
que faremos adiante acerca da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo.

Os símbolos nacionais eram matéria a ser trabalhada, do mesmo modo que


a gramática e a caligrafia. Os conteúdos ensinados perpassavam pela
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leitura elementar, caligrafia, aritmética, contabilidade, operações


fundamentais, noções de geografia e história pátria, de acordo o
Regimento Interno, conjuntamente com este ensino, fica estabelecido um
resumido curso cívico, destinado ao ensinamento das principais datas
nacionais e cânticos patrióticos e um de noções preliminares de geografia
do Brasil, sua divisão política. O ensino ministrado por meio de “lições”
consistia na tarefa de fazer exercícios de leitura, resolver questões
aritméticas no quadro negro e conhecer os fatos da História do Brasil com
suas datas principais. 73

Sendo a criação de escolas a ação principal das Ligas no combate ao


analfabetismo, é interessante tentar compreender o que seria ou como seria uma
escola mantida pelas Ligas. Certamente não se diferenciavam muito das escolas
existentes no final do Império e início da República. As escolas mantidas pela
Liga Sergipense Contra o Analfabetismo funcionavam instaladas nas residências
dos professores, nos prédios públicos cedidos para a realização de aulas, em casas
alugadas ou pertencentes à Liga. Funcionavam em espaços pequenos que na
maioria das vezes não comportavam a quantidade de alunos matriculados, mas
também podiam ocupar salões amplos disponibilizados por alguns membros da
Liga.

[...] as escolas isoladas da LSCA ocupavam espaços diversos,


transformados em salas de aula pelo uso que se fazia delas. Nunca
ocupavam mais que um salão, por isso as ruas próximas tornavam-se uma

73
Clotildes Sousa, Idem, p. 120.
110

extensão do ambiente escolar. Naqueles lugares, buscava-se construir a


almejada pátria de luz, povoada de gente culta, porque neles se aprendiam
as letras do alfabeto [...]
Um quadro negro de 2m x 1m, um banco com encosto, seis bancos-
cadeiras, dois outros bancos comuns e mais uma banca com cadeira para o
professor, na maioria dos casos, compunham todo o mobiliário escolar.
Parte daqueles móveis era emprestada, e a outra confeccionada em oficinas
da capital, como a do Coronel José Alcides Leite. Os assentos eram
insuficientes para os alunos, por isso havia os bancos coletivos com a
função de suprir a carência. Dependendo da escola, podia-se até dispor de
cavaletes, cabides e tablado [...] A ornamentação consistia em quadros
com personagens históricos expostos nas paredes. Ao lado de figuras
como Tiradentes, encontravam-se os retratos dos patronos e das pessoas
que contribuíam com a associação. Em casos raros, estampas também
enfeitavam o ambiente, disputando a visão com mapas do Brasil e de
Sergipe. 74

As chamadas escolas isoladas se caracterizavam pelo uso de um salão


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onde um professor dava aulas a alunos com diferentes níveis de desenvolvimento.


No contexto aqui analisado, em âmbito nacional, o que vamos perceber é que, de
maneira concomitante, tais escolas isoladas vão compor a realidade escolar da
Primeira República ao lado dos Grupos Escolares, símbolos da modernidade
pedagógica, implementados, sobretudo, a partir das reformas paulistas do início
do século XX. Os Grupos Escolares eram considerados escolas modelares, onde
se ministrava o ensino primário com um programa enriquecido e enciclopédico,
utilizando métodos e processos considerados os mais modernos da época. 75
A Liga Sergipana visava promover a difusão do ideário cívico-patriótico
através da criação de escolas gratuitas destinadas à população de baixa renda e
pela realização de atividades sócio-culturais visando sensibilizar a elite e a
sociedade em geral para a sua causa. Ao empreender um projeto de educação
voltado para a difusão deste ideário nacionalista, prescrevia uma educação
integral, sem perder de vista o objetivo de preparar o indivíduo para a família,
para a sociedade e para a pátria.
A Liga Sergipense tomou rumos particulares e, para Souza sua criação não
foi apenas uma conseqüência do movimento nacional, vindo a contribuir na
configuração de um campo intelectual em Sergipe. A atuação da Liga em Sergipe

74
Ibid, p.107-109.
75
Ver Rosa Fátima de Souza. 1998. Tempo de civilização: a implantação da escola primária
graduada no Estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo: Ed. da UNESP, p.16 Apud Clotildes
Farias, Idem.
111

estimulou a expansão da rede escolar no estado – em sua trajetória, a Liga


Sergipense inaugurou 38 escolas de alfabetização – e contribuiu com o avanço das
propostas pedagógicas. A autora afirma ainda que o campo intelectual
configurado a partir das ações daquela Liga estaria relacionado à defesa de uma
modernidade pedagógica conforme indicamos em alguns trechos citados acima.

4.1.2 A atuação da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo

A seção fluminense da LBCA foi fundada em 1916 na capital estadual,


com o mesmo objetivo de conseguir que no Centenário da Independência
numerosas cidades do estado do Rio de Janeiro estivessem livres do
analfabetismo. 76
Durante uma das sessões preparatórias para a fundação da Liga
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Fluminense, a diretoria provisória então formada tornar-se-ia definitiva, sendo


composta pelos seguintes nomes: Presidente Leopoldo Teixeira Leite; 1o, 2o e 3o
vice-presidentes Dr. Everard Backeuser, Ataliba Lepage e Luiz Palmier;
Secretário Geral Professor Antônio Vieira da Rocha; 1o e 2o Secretários Major
Ricardo Barbosa e J. Demoraes; Tesoureiro Dr. Ramon Alonso. Presidentes
Honorários: Nilo Peçanha, Manoel Otávio de Souza Carneiro, Desembargador
Carlos José Pereira Bastos, General Felipe Napoleão Aché e Coronel José Matoso
Maia Forte. Foi eleito ainda um Conselho Consultivo com mais de trinta nomes,
dentre estes figuras importantes no ambiente político e intelectual fluminense
como Alfredo Backer, Oliveira Botelho, Feliciano Sodré, Oliveira Viana e
Alberto Torres.77 Nesta mesma sessão se decidiu oficiar ao Presidente do Estado
Nilo Peçanha dando ciência da criação da Liga no estado do Rio. Muitas foram as

76
Sua fundação solene seria realizada em 21 de Abril (data do “suplício de Tiradentes”), sendo
depois transferida para 18 de maio. Entretanto, os jornais não publicam notícias referentes ao dia
da fundação. “Liga Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 20/03/1916, p.2. e “Liga Contra o
Analfabetismo”. O Fluminense, 04/04/1916, p.1.
77
Faziam parte do Conselho Consultivo: Alfredo Backer, Francisco Chaves de Oliveira Botelho,
Barão de Miracema, Visconde de Quissamã, Feliciano Sodré, Eduardo Cotrim, Leopoldo de
Bulhões, Octávio Kelly, Mario Vianna, Galdino Filho, Geraque Collet, Oliveira Viana, Dr.
Alberto Torres, Antônio Ribeiro Velho Avellar, Coronel Francisco X. Guimarães, Benedicto
Pereira Nunes, Buarque Nazareth, Henrique Borges Monteiro, Almirante Adelino Martins, Dr.
Aquino e Castro, Modesto de Guimarães, Alvaro Rocha, Manoel Reis, Julião de Castro, Manoel
Themistocles de Almeida, Júlio Veríssimo da Silva Santos, Samuel Costa, Leoni Ramos, Antônio
Januzzi, Manuel W. Lengruber, Conde Modesto Leal, Barão de Amparo, Carlos Palmer, Coronel
José Ribeiro Pereira e Mucio de Paixão. “Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O
Fluminense, 10/04/1916, p.1.
112

adesões obtidas entre abril e outubro, período que registra um grande número de
adeptos a cada reunião.
Ao que indicam as notícias nos jornais, a exemplo do que ocorria na
LBCA, as reuniões da Liga Fluminense eram realizadas semanalmente. No ano de
1916, ocorreram, sobretudo, nas instalações da Sociedade Beneficente Amparo
Operário. Entretanto, não podemos especificar o local destas reuniões nos anos
posteriores de atuação.
A proposta do movimento então fundado, chamava a atenção para a
necessidade de se nomear comissões escolares em cada distrito das
municipalidades, tendo em vista, através de cursos noturnos gratuitos, alfabetizar
todas as pessoas entre 14 e 50 anos. O juiz de paz seria o presidente das comissões
nos distritos e o superintendente de ensino seria o responsável nos municípios.
78
Diversas foram as comissões municipais organizadas e já neste momento
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inicial, um aspecto importante dizia respeito à criação das chamadas Caixas


Escolares que contariam com a doação de livros e dariam amparo aos alunos
carentes.
Luiz Palmier – um dos fundadores da Liga e uma das figuras expressivas
no combate ao analfabetismo naquele estado– publicaria em O Fluminense artigo
que sintetiza o intuito das Caixas Escolares ao afirmar que não bastava construir
escolas, o mais importante era a questão da freqüência. Palmier enfatiza que a
partir deste “magnífico movimento”, o povo estava conseguindo algo em relação
ao Ensino Primário que visava compensar “o que não tem feito os poderes da
República”. O movimento que se iniciara é classificado pelo intelectual como
“uma grande transformação por que vão passando os nossos costumes”79. As
palavras de Palmier chamam a atenção para o fato de estar o movimento ligado
mais à sociedade do que ao Estado, uma vez que esta estava tomando a frente na
resolução do maior problema do país. Entretanto, o papel do Estado no combate
ao analfabetismo não seria de forma alguma descartado.
O combate ao analfabetismo tomaria quase todo o estado do Rio de
Janeiro. Aderiram à causa as seguintes localidades: São Gonçalo80, Campos,

78
Ver ANEXO V.
79
“Caixas Escolares”. O Fluminense, 17/07/1916, p.1.
80
São Gonçalo foi o primeiro município a fundar uma Liga local, estando esta sob a incumbência
do Coronel Henrique Milhomens. Em notícias sobre sessões realizadas no edifício da Câmara
113

Paraíba do Sul (uma postura municipal tornava a instrução obrigatória no


município81), Cabo Frio, Friburgo, Cantagalo (este município também decretou a
obrigatoriedade do ensino), Vassouras, Pádua, Itaboraí, Rio Bonito, Petrópolis,
Areal, Valença, Barra Mansa, Madalena, Sumidouro, Paraty, Mangaratiba, São
Fidélis, São Pedro D’Aldeia, Rio Claro, São João da Barra, Angra dos Reis, Piraí,
Conceição, Carmo, Sapucaia, Magé, Japuíba, Itaocara, Itaperuna, Teresópolis e
Saquarema. Diversos municípios ganhariam destaque em razão da instalação de
Ligas locais, sobretudo São Gonçalo, Campos, Paraíba do Sul, Itaboraí,
Petrópolis, Teresópolis, Saquarema, Sapucaia, Pádua, Itaocara, Itaperuna,
Cantagalo, Barra Mansa e Vassouras.
A contribuição da imprensa nos municípios foi intensa, sobretudo durante
o ano de 1916, difundindo uma imagem positiva da campanha contra o
analfabetismo, conquistando simpatizantes e conclamando a participação da
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população em todo o estado. Temos notícia da colaboração dos jornais O


Fluminense, Jornal do Comércio, O Paiz, Arealense, O Comércio, Paraíba do Sul,
Tribuna de Petrópolis, O trabalho, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Sapucaia,
Agrário, Diário da Manhã, O Vassourense, Tribuna de Cantagalo, A Rua, A
Noite, A Época, A Luz, Niterói, A Comarca, A Notícia, Gazeta do Povo e
Cachoeirense.82
Uma primeira medida tomada pelos organizadores do movimento foi
enviar às Câmaras Municipais um questionário que informaria sobre o número de
escolas e de matrículas nas localidades, a freqüência, a localização e os programas
adotados pelas escolas83. Os professores superintendentes de ensino e as ligas
locais deveriam comunicar à Liga Fluminense quais escolas não possuíam
mobiliário e não estavam convenientemente instaladas de modo a possibilitar a

Municipal, menciona-se a participação de mais de 200 pessoas. “Liga São Gonçalense Contra o
Analfabetismo”. O Fluminense, 02/05/1916, p.1 e “S. Gonçalo”. O Fluminense, 09/05/1916, p.2.
81
A Constituição de 1891 atribuía aos Estados da federação a responsabilidade pelo ensino
primário no Brasil, mas segundo relatório apresentado em 1892 ao presidente do Estado do Rio de
Janeiro, José Thomaz Porciúncula, pelo Diretor Interino dos Negócios do Estado Bacharel Miguel
Joaquim Ribeiro de Carvalho, foi transferido às municipalidades o serviço de instrução pública
primária pela Constituição. Ao que indicam as reivindicações da Liga Contra o Analfabetismo, o
ensino ainda não era considerado obrigatório no Estado do Rio.
82
Não foi possível analisar cada um destes jornais locais, por razões diversas. Entretanto, esta
análise é um caminho importante a ser trilhado em trabalhos futuros. “Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo”. O Fluminense, 31/08/1916, p.1 e 06/09/1916; “Combate ao Analfabetismo”. O
Fluminense, p.1 e 23/10/1916, p.1 e 25/11/1916, p.2.
83
“Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 31/07/1916, p.1.
114

84
ciência da realidade escolar do estado . Infelizmente, não encontramos os
referidos questionários emitidos às municipalidades, entretanto, a partir de seus
itens, podemos conjecturar que havia grande preocupação em conhecer os
programas adotados nas escolas, assim como as condições de ensino.
Logo após sua fundação, a Liga buscou o apoio do clero fluminense por
intermédio do Bispo Dom Agostinho Benassi, que prometeu tal adesão após ter
recebido comissão composta pelo Padre Henrique Magalhães, Dr. Luiz Palmier e
Professor Vieira da Rocha enviada para tratar deste assunto85. O apoio se daria
através da fundação de escolas paroquiais e recomendações que seriam dadas aos
vigários sobre a necessidade de combater o analfabetismo. Pedido de auxílio seria
feito também às associações maçônicas para que criassem escolas. Aos juízes de
direito e curadores de órfãos se oficiaria para verificarem nos municípios quais
eram os analfabetos, afim de que providenciassem junto aos tutores a educação
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destes órfãos.
Vale ressaltar também que, desde o início desta campanha contra o
analfabetismo, a instrução nos quartéis ganha destaque. Através das informações
enviadas à Liga pelo Coronel José Ribeiro Pereira, comandante da Força Militar
do Estado, sabemos da criação de uma escola para os filhos de praças que possuía
32 alunos em setembro de 1916. Segundo relatório do Secretário Geral da Liga
Brasileira já mencionado anteriormente, de acordo com a ação nas corporações
militares, dentro de poucos meses seria diminuto ou nulo o número de
analfabetos. Empenho semelhante se observa na atuação do Diretor da
Penitenciária do Estado, Dr. Pereira Faustino, que também fundou uma escola.
É importante destacarmos novamente que na ausência de fontes como atas
de reuniões, relatórios ou estatutos da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo,
assim como da LBCA, os periódicos representam o único meio pelo qual
conseguimos realizar esta pesquisa. Deste modo, embora nossas referências sejam
um tanto fragmentadas, é somente a partir delas que podemos vislumbrar o que foi
este movimento no estado do Rio de Janeiro, da mesma maneira como tentamos
caracterizar o movimento por todo o Brasil.

84
“Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 09/10/1916, p.1.
85
“Liga Fluminense Contra o Analfabetismo. A Liga Campista. O apoio do clero e as comissões
municipais”. O Fluminense, 17/05/1916, p.2.
115

O que vamos perceber ao longo da análise das diversas notícias veiculadas


por “O Fluminense”, é a configuração de uma coluna intitulada “Liga Fluminense
Contra o Analfabetismo” ou apenas “Combate ao analfabetismo” que reunia
informações variadas sobre criação de escolas e necessidades locais, sempre
relacionando estas informações com a atuação da Liga em todo o estado. Neste
sentido, devemos ressaltar que esta coluna talvez nos permita apreender mais
sobre as intenções de quem a organizava (e este(s) organizador(es) certamente
fazia parte da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo)86, do que sobre o intuito
particular de cada escola criada. Entretanto, não podemos desconsiderar que estas
variadas notícias são de sumo valor ao nos permitir conjecturar acerca do que os
intelectuais fluminenses envolvidos com a Liga Contra o Analfabetismo queriam
priorizar ou evidenciar em sua campanha pela difusão da educação; aproveitando,
assim, cada informação veiculada para conclamar os fluminenses a aderirem à sua
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causa.
Assim sendo, começaremos a percorrer as principais ações da Liga
Fluminense Contra o Analfabetismo durante os anos de 1916, 1917 e 1918,
pretendendo possibilitar ao leitor um melhor acompanhamento da atuação da Liga
no estado do Rio de Janeiro.

4.1.2.1 O movimento nos municípios fluminenses

A Liga manteve ativa comunicação com os municípios do estado. São


inúmeras as referências a notícias vindas do interior que resultavam ora em
solicitações ao governo para a solução de problemas locais, ora em envio de
cumprimentos às localidades pelas ações em favor da luta contra o analfabetismo.
É a partir desta correspondência entre a Liga estadual e municípios, noticiada nos
periódicos, que vamos entender como e onde atuou o movimento analisado. O
fechamento de escolas, a necessidade de reparos nos prédios escolares, a falta de
professores ou pedidos para que se construíssem escolas locais eram algumas das
principais reclamações recebidas.

86
Entre o grupo de colaboradores de O Fluminense, podemos ressaltar a presença de Luiz Palmier
(que publicou cerca de 12 artigos neste jornal entre os anos de 1915-18), Jonathas Botelho e
Ramon Alonso, todos membros atuantes da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo.
116

Em maio de 1916, uma matéria do periódico “Arealense” destaca os


“ecos” que a Liga Contra o Analfabetismo encontrou em todas as partes do Brasil,
enfatizando sua ação no estado do Rio de Janeiro e a atuação do Presidente Nilo
Peçanha juntamente com o presidente da Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo, Leopoldo Teixeira Leite, no combate à ignorância. Por fim, a
matéria dá ênfase às dificuldades do ensino primário em Areal e o desejo de obter
auxílio do Estado e da Liga Fluminense para a criação de uma escola pública
naquela localidade.87
Para mencionarmos algumas reivindicações, destacamos a solicitação ao
governo do estado de uma professora para a escola feminina de Itaperuna,
reclamações sobre o fechamento da escola estadual de Paraokema em Pádua (esta
reclamação resultaria em um abaixo-assinado com cerca de 80 assinaturas
solicitando a intervenção da Liga no caso88) e uma carta dirigida ao presidente da
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Liga Contra o Analfabetismo, informando sobre a necessidade de reparos no


prédio escolar de Porto das Caixas. 89
Por outro lado, muitos foram os motivos para que se enviassem
congratulações aos municípios. Ao participar de uma das sessões da Liga
Brasileira, Luiz Palmier, que era membro da Liga brasileira assim como da
estadual, nos informa que até julho do ano de fundação da Liga Fluminense, 40
escolas haviam sido criadas no estado, em outubro deste mesmo ano, a
informação que temos é de que mais de 20 ligas haviam sido fundadas nas
localidades fluminenses e que estas teriam influenciado na criação de cerca de 300
escolas primárias. 90

87
“A campanha contra o analfabetismo”. O Fluminense, 24/05/1916, p.1. Ver também “Liga
Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Paiz, 14/05/1916, p.7.
88
O documento foi enviado ao presidente Nilo Peçanha. O governo atendeu ao pedido e a escola
foi restabelecida. “Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 09/01/1917, p.1 e
“Combate ao Analfabetismo”. O Fluminense, 18/04/1917, p.2.
89
“A instrução em Itaboraí”. O Fluminense, 15/11/1916, p.1.
90
“A Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 19/07/1916, p.1. “Combate ao
analfabetismo. Os trabalhos da Liga Fluminenses e o relatório da Liga Brasileira”. O Fluminense,
15/10/1916, p.2. Sobre a criação de escolas primárias, ao analisarmos a mensagem do presidente
do Estado do Rio de Janeiro Dr. Nilo Peçanha referente ao ano de 1916, não encontramos
referências diretas à Liga Fluminense Contra o Analfabetismo, entretanto, destaca-se, em relação
ao ensino primário, que “está palpitante a questão de generalizar a instrução, o mais poderoso
elemento de felicidade do povo tem merecido especiais cuidados do governo”. Os números a
respeito da instrução no estado nos informam sobre 303 escolas criadas e 226 instaladas. Ver
Mensagem do Presidente do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do
Comércio de Rodrigues &C, p. 22-23.
117

Uma escola operária noturna estava funcionando no Barreto, bairro


industrial de São Gonçalo. A Câmara de Piraí havia criado duas escolas mistas e a
prefeitura de Campos inaugurou a primeira escola ao ar livre do Estado – a escola
foi denominada Escola ao ar livre Wenceslau Brás. Em Itaocara estavam
funcionando 10 escolas municipais e em Niterói foram criados dois cursos
91
noturnos. Em Magé, a Companhia Mageense e a América Fabril mantinham
escolas. Em Petrópolis, a liga local reorganizou o Liceu de Artes e Ofícios e criou
escolas diurnas e noturnas para os operários, estando à frente da prefeitura o Dr.
Oswaldo Cruz. 92
O ano de 1917 seria marcado pelo estado anormal em que se encontra o
país em função da guerra mundial93, entretanto, continuaram em atividade os
trabalhos da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo. Naquele ano, a Liga
Brasileira mandara expedir uma circular a todas as Câmaras Municipais do país
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destacando a importância da decretação da obrigatoriedade do ensino primário e


instalação de Caixas Escolares.94
A correspondência com os diversos municípios mantinha-se constante, os
apelos locais por escolas continuavam a ser feitos. A criação de uma escola em
São João Marcos fazia-se necessária assim como para uma escola em uma região
de Itaboraí denominada Poço de Limão.95 Reclamações eram dirigidas ao jornal
Momento sobre a falta de escolas em Maricá, assim como se solicitava material
96
para uma escola em Porto das Flores. Deveria-se criar escolas em Cabo Frio,
Vassouras e Entre Rios, uma vez que esta última região, com 8 mil habitantes,
possuía somente duas escolas.97

91
“Escola Operária do Barreto”. O Fluminense, 27/09/1916, p.2; “Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo”. O Fluminense, 17/10/1916, p.1 e 15/11/1916, p.1; “Combate ao Analfabetismo”,
O Fluminense, 23/10/16, p.1.
92
“Liga Petropolitana”. O Fluminense, 15/10/1916, p.2.
93
Leopoldo Teixeira Leite, presidente desta Liga e também da Liga Fluminense de Defesa
Nacional, conforme destacaremos mais adiante, fez um apelo às classes produtoras do estado para
que os fluminenses prestem todo o apoio aos altos poderes do Estado e da União em vista do
estado de guerra. “Liga Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 26/11/1917, p.2.
94
“Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 24/03/1917, p.2. Havia também três
listas de assinaturas para a mensagem a ser redigida ao Presidente da República pedindo a extinção
do analfabetismo em nossa pátria “Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”. O Fluminense,
19/03/1917, p.2.
95
“Combate ao Analfabetismo”. O Fluminense, 20/02/1917, p.1
96
“Combate ao analfabetismo. Uma importante reunião da Liga Fluminense”. O Fluminense,
27/03/1917, p.1.
97
“Combate ao Analfabetismo”. O Fluminense, 18/04/1917, p.2 e “Liga Contra o
Analfabetismo”, O Fluminense, 02/07/1917, p.1
118

Providências do governo eram necessárias junto ao governo de Minas


Gerais para que crianças das zonas limítrofes pudessem freqüentar escolas
mineiras. A liga declarava que se deveria propor um acordo entre os dois
governos (fluminense e mineiro) para que empregassem a renda arrecadada na
referida região na construção de edifícios escolares para uso das populações dos
dois estados. 98
Algumas das solicitações certamente foram contempladas, uma vez que
prosseguiam as informações sobre a criação de escolas por todo o estado. O
governo criou um Grupo Escolar em Cabo Frio; escolas noturnas e diurnas
estavam funcionando na Cia Petropolitana; a Cia Manufatora Fluminense no
Barreto mantinha escolas noturnas e diurnas; o Coronel Randolpho Penna Jr.,
provedor da Irmandade de N. Senhora da Piedade, mantinha internato e externato
em Paraíba do Sul e uma escola em Entre Rios, a Câmara Municipal de Macaé
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mantinha oito escolas municipais e uma escola noturna municipal foi criada em
Teresópolis – o prefeito Coronel Sebastião Teixeira forneceu todo o material
escolar à municipalidade.99 A Liga destacaria a distribuição de material escolar e
criação de várias escolas solicitadas ao Dr. Nilo Peçanha.
São Gonçalo seria alvo de congratulações por parte da Liga em razão da
publicação do regulamento do ensino municipal e pela doação feita pelo professor
Miguel Maria Jardim, oferecendo 2.000 livros para as escolas municipais de São
Gonçalo. Além da importante inauguração do Grupo Escolar Nilo Peçanha com
presença do presidente do estado e do Dr. Luiz Palmier representado a Liga
Fluminense.100
O Coronel José Ribeiro da Força Militar do Estado informava que obteve
excelentes resultados com a criação das escolas noturnas e diurnas. Entretanto,
celeumas seriam levantadas à decretação do ensino obrigatório em Cantagalo, o
que levou a Liga Fluminense Contra o Analfabetismo a enviar ofício à Câmara

98
“Liga Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 02/07/1917, p.1 e “Liga Contra o
Analfabetismo”. O Fluminense, 24/02/1918, p.1.
99
“Combate ao Analfabetismo”. O Fluminense, 20/02/1917, p.1; “Combate ao Analfabetismo.
Uma importante reunião da Liga Fluminense”. O Fluminense, 27/03/1917, p.1; “Combate ao
Analfabetismo”. O Fluminense, 18/04/1917, p.2; “Combate ao Analfabetismo”. O Fluminense,
28/05/1917, p.1 e “Liga Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 02/07/1917, p.1.
100
“Combate ao Analfabetismo”. O Fluminense, 20/02/1917, p.1; “A inauguração de um grupo
escolar em S. Gonçalo”. O Fluminense, 22/04/1917, p.1e “Combate ao Analfabetismo”. O
Fluminense, 15/10/1917, p.1
119

Municipal deste município informando que o Dr. Ramon Alonso se propunha a


auxiliar no caso como advogado. 101
Durante o ano de 1918, as diversas notícias a respeito da criação de escolas
continuariam a ocorrer. Em Paraíba do Sul, o prefeito Eurico Teixeira Leite
conseguiria da Firma Siqueira Veiga a fundação e manutenção de uma escola na
região de Boa Vista. No município de Rezende, a diretoria da Companhia de
Hotéis sanatórios fundou uma escola para membros predispostos a contrair
tuberculose. Em Niterói os governos da União e do Estado criariam a Escola
Superior de Agricultura e Medicina Veterinária. Seria criada também uma escola
em Santo Aleixo (2o distrito de Magé).102
A diretoria da Liga Fluminense parabenizou o Dr. Leopoldo Teixeira Leite
por seus esforços para conseguir no Conselho Superior de Ensino a fiscalização
para a Faculdade de Direito Teixeira de Freitas, em Niterói, da qual era diretor.
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Aos prefeitos de Niterói e Friburgo – respectivamente Drs. Octávio Carneiro e


Sylvio Rangel – se consignaria em ata voto de louvor ao primeiro pela
inauguração da Biblioteca Municipal e ao segundo por se verificar uma quantia
mínima de analfabetos pelo último recenseamento em seu município.103
O apelo pela criação de escolas também não cessaria. A Liga solicitaria à
Câmara de Petrópolis, por intermédio do inspetor da instrução municipal Álvaro
Machado , uma escola para um lugar denominado Vila Maria no distrito de São
José do Rio Preto, assim como enviaria ofício à Câmara de Vassouras pedindo a
criação de escola municipal em São José da Rolinha. Ao governo do estado se
pediria a criação de uma escola em Sambaetiba (Japuíba), na Ilha da Conceição,
em Iguaba Grande e a reconstrução do edifício escolar existente em Duas Barras.
Lembrando um decreto do governo federal que subvencionava as escolas
criadas pelo estado nas “colônias emancipadas”, o governo deveria criar ainda
escolas em Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Mauá, Itaguaí e Cascatinha. Havia
necessidade também de desdobrar escolas mistas em duas escolas (feminina e
masculina). Reclamações vindas de Cabo Frio se referiam à necessidade de uma

101
“Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 02/05/1917, p.1.
102
“Liga Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 08/04/1918, p.1 e 27/04/1918, p.1.
103
“Liga Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 24/02/1918, p.1 e 08/04/1918, p.1.
120

escola para Salinas Perinas onde havia casa oferecida por Jalles Cabral, um
importante salineiro da região.104
A partir da análise destes três anos de atuação, podemos perceber que a
Liga Fluminense Contra o Analfabetismo se colocava enquanto meio através do
qual as localidades reivindicavam melhorias educacionais. Salta aos olhos a forma
como o entusiasmo em combater o analfabetismo havia tomado o estado do Rio.
De forma mais ampla, podemos destacar preocupações com a realidade escolar
que emergem através deste movimento, seja no que concerne às instalações – aos
edifícios escolares – ou mesmo no que diz respeito às condições do alunado.

4.1.2.2 Ecos da campanha contra o analfabetismo no executivo e no


legislativo fluminense.
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No que se refere à relação da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo


com o governo estadual, em 1916, um primeiro ofício da Liga endereçado ao
presidente do estado pedia a intervenção deste junto aos diretores de fábricas
visando a criação de escolas para os operários105. Este ofício também comunicava
ao Dr. Nilo Peçanha a escolha de seu nome para ser um dos presidentes
honorários da Liga. Requeria-se ainda autorização para que a Diretoria de
Instrução cedesse durante a noite alguns edifícios escolares para o funcionamento
de cursos noturnos nos municípios em que estes fossem criados pelas Ligas. 106
Nilo Peçanha foi informado através da Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo sobre a diferença entre as matrículas e a freqüência nas escolas
estaduais, o que segundo a Liga deixava transparecer a necessidade de
providências por parte do governo como a de tornar o ensino obrigatório no
107
estado do Rio de Janeiro. Ao Presidente do estado solicitava-se também
interferência junto aos usineiros de Campos e salineiros de Cabo Frio para que
criassem escolas para os operários. Por algumas vezes, foi lembrada ao Dr.

104
“Liga Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 08/04/1918, 27/04/1918, p.1 e 12/06/1918, p.2.
105
“Liga Fluminense comunica-se com o Sr. Presidente do Estado”. O Fluminense, 14/06/1916,
p.1. Este pedido foi atendido segundo a notícia “Combate ao analfabetismo. A liga fluminense
dirige-se novamente ao Dr. Nilo Peçanha”. O Fluminense, 07/09/1916, p.1.
106
“Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 17/07/1916, p.1.
107
“Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 10/08/1916, p.1.
121

Peçanha a necessidade de se realizar o IV Congresso Brasileiro de Instrução que


deveria ter ocorrido em 1914.108
Ainda no ano de sua fundação, a Liga solicitaria à Câmara de Niterói
manutenção de verba para subvenção da escola da Sociedade Beneficente Amparo
Operário e pediria verba para subvencionar também a escola da Federação
Espírita do Rio de Janeiro. Ambas ministravam gratuitamente instrução aos
analfabetos. 109
A Assembléia Fluminense esteve ligada aos propósitos da Liga, sobretudo
pelo fato de Leopoldo Teixeira Leite ocupar uma de suas cadeiras, sendo,
inclusive presidente da Assembléia Legislativa em 1918. No ano de 1916,
destacamos um projeto assinado pelo deputado fluminense Dr. Almeida
Fagundes, considerando de utilidade pública as Ligas Contra o Analfabetismo.
Além disto, destacamos a criação do Liceu de Humanidades de Niterói; a verba de
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custeio de escolas e o aumento da verba para arquivo estadual. Em novembro de


1916, a Assembléia votaria verba para mais 15 escolas estaduais.
Chama-nos a atenção ainda um projeto aprovado pela Câmara de Niterói
subvencionando as escolas noturnas e multando aos comerciantes que admitissem
empregados analfabetos. A diretoria da Liga Fluminense destacava também a
necessidade de se solicitar à Liga Brasileira e à Câmara de Deputados a inclusão
de um artigo proibindo a entrada de analfabetos em um projeto sobre entrada de
“indesejáveis”, conforme se afirmava ocorrer em outros países. 110
Em reunião noticiada em 28 de maio de 1917, Luiz Palmier informou à
diretoria da Liga acerca do projeto do deputado José Augusto que modificou o
plano geral do ensino com a criação do Conselho de Ensino. Visando apresentar
modificações julgadas necessárias e mesmo novas idéias a serem introduzidas
neste projeto, a Liga Fluminense nomearia uma comissão formada por Ramon
Alonso, Luiz Palmier, Jonathas Botelho e Professor Vieira da Rocha. 111

108
A realização deste havia sido decidida no último Congresso de Instrução que ocorreu em 1913
na Bahia.“Combate ao analfabetismo. A liga fluminense dirige-se novamente ao Dr. Nilo
Peçanha”. O Fluminense, 07/09/1916, p.1.
109
“Combate ao Analfabetismo. A Liga Fluminense”. O Fluminense, 25/11/1916, p.2. Em 1918,
segundo informações do secretário da Sociedade Beneficente Amparo Operário Coronel Xavier
Baptista Júnior, a escola por ela mantida possuía 63 alunos matriculas com freqüência de 40 em
média.
110
“Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 23/10/1916, p.1
111
“Combate ao Analfabetismo”. O Fluminense, 28/05/1917, p.1.
122

Em 1918, na Assembléia Legislativa, as idéias da Liga continuariam a


encontrar respaldo como, por exemplo, no projeto apresentado pelo Coronel José
Ferreira de Aguiar sobre quota contratual que o governo deveria retirar da
Companhia Integridade Fluminense (Concessionária das Loterias) ou de outra
verba para ao Instituto de Assistência à Infância de Niterói.
Ao analisarmos as mensagens dos presidentes do estado do Rio de Janeiro
entre 1915 e 1919, não encontramos referência à Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo, entretanto, estas mensagens chamam a atenção para um
movimento em favor da difusão do ensino primário que estava tomando o estado.
Em 1915, preocupado com a instrução no estado, o Dr. Nilo Peçanha
destacava que “um meio de conseguir esse fim (a difusão do ensino primário)
estava na subvenção às escolas já instaladas em zonas rurais e regidas por
mestres habilitados, conhecidos na localidade”.112 Em 1916, é ainda Nilo
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Peçanha quem afirma que “a difusão do ensino vai, pois, se tornando uma
realidade auspiciosa no Estado, como se vê da estatística de matrícula e
freqüência”113. Para o presidente do estado “alguns municípios, os mais
prósperos, muito poderiam auxiliar a ação do governo”. Neste sentido, ressalta
que a população de Miracema, em Santo Antônio de Pádua e a prefeitura de São
Gonçalo, vêm dar uma prova dos sentimentos que os animam em relação à
educação de seus filhos, resolvendo a construção de edifícios higiênicos para os
Grupos Escolares de Miracema e da vila de São Gonçalo. “Seria de desejar que
tão patriótica iniciativa fosse imitada pelas demais municipalidades, em uma
mesma louvável união de sentimento com o Estado, o que permitiria a realização
de um dos mais importantes pontos da reforma do ensino”.114 Fica evidente a
partir destas citações uma consonância entre a iniciativa privada e os desejos do
governo em prol da educação no estado do Rio.
O Dr. Agnello Geraque Collet em mensagem referente ao de 1917 aponta
que em Pádua e Itaocara, comerciantes e industriais, lavradores e proprietários,
haviam construído um grande “comité” que estaria efetivando a construção de
prédios escolares, acompanhando o belo movimento que se alastrava pelo norte

112
Mensagem do Presidente do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do
Comércio de Rodrigues & C, 1915.
113
Através das estatísticas sobre matrícula e freqüência, aponta-se um aumento de mais de 60% da
freqüência se comparada ao ano anterior. Mensagem do Presidente do Estado do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Comércio de Rodrigues & C, 1916. pp. 22-23
114
Idem.
123

fluminense; movimento do qual fazem parte nacionais e estrangeiros, bem como


políticos de todos os matizes.115 Em sua mensagem acerca do ano de 1918, o
presidente do estado Geraque Collet, chama novamente a atenção para um
assentado movimento de progresso na instrução primária do estado.116
Vale destacar que cada chefe do Poder Executivo, ao elaborar suas
mensagens nos anos analisados, faz questão de enfatizar que um grande
movimento em favor da difusão primária no estado estava em andamento e que,
na medida do possível, avanços estavam sendo obtidos. Entretanto, no que
concerne aos resultados obtidos em termos da redução do analfabetismo a
associação não obteve sucesso muito expressivo. Os índices continuariam
elevados: segundo dados de 1919 sobre o índice de analfabetismo no Estado do
Rio este atingia os 76,9%. 117
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4.1.2.3 Compartilhando valores cívico-nacionalistas.

Estando inserida em um contexto mais amplo que se refere a uma


perspectiva de se pensar a realidade brasileira e propor soluções para que se
construísse a nação, a Liga Fluminense mantinha contato com outros movimentos.
Antenada não apenas com aspectos referentes a transformações
educacionais, a Liga estabeleceria relação com o projeto que os higienistas
começavam a desenvolver naquele momento, enviando ofício aos chefes da
Missão Rockefeller e ao Instituto de mesmo nome, aplaudindo seu empenho no
combate às moléstias endêmicas no estado do Rio de Janeiro. 118 Aqui retomamos
o contexto de preocupação com o saneamento rural que marcou as décadas de
1910/20, explorado em capítulo anterior. Conforme destacamos, o projeto dos
higienistas para transformar o Brasil acreditava que somente através da saúde o
país se civilizaria. O ano de 1916 foi importante para esse movimento uma vez
que este foi o ano de publicação do Relatório da expedição realizada por Artur
Neiva e Belisário Pena ao interior do Brasil.

115
Mensagem do Presidente de Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do
Comércio de Rodrigues & C, 1917. pp. 9-10.
116
Mensagem do Presidente do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. Do Jornal do
Comércio de Rodrigues & C, 1918. pp. 9-12
117
“O recenseamento da população infantil do 2o distrito. O que disse o Dr. Teixeira Leite”. O
Fluminense, 17/05/1919, p.1.
118
“Combate ao Analfabetismo. A Liga Fluminense”. O Fluminense, 25/11/1916, p.2
124

Um elemento interessante a ser incorporado nesta reflexão acerca da


interlocução da Liga Contra o Analfabetismo com outros movimentos é a
fundação em 29 de janeiro de 1917 do Diretório Estadual da Liga da Defesa
Nacional, cujo presidente viria a ser o mesmo da Liga Fluminense de combate ao
119
analfabetismo (Leopoldo Teixeira Leite). Este fato nos leva a estabelecer uma
relação de proximidade entre estes dois projetos. Esta proximidade já havia sido
suscitada, anteriormente, no momento da fundação da Liga Brasileira Contra o
Analfabetismo, uma vez que esta faz um chamado especial aos militares no
combate ao analfabetismo. Os ideais difundidos pela campanha da Liga de Defesa
foram apontados ainda como impulsionadores na fundação da Liga em Sergipe,
conforme destacamos acima.
Apesar de não ser possível precisar quão amalgamadas estavam estas duas
associações no estado do Rio de Janeiro, podemos pontuar questões que ajudam a
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estabelecer algumas relações. Além do fato de o presidente da Liga Contra o


Analfabetismo ser também presidente do Diretório fluminense da Liga de Defesa
Nacional, vale destacar o envolvimento de membros como Luiz Palmier na
instalação da linha de tiro em São Gonçalo120 e na Federação Fluminense de
Escoteiros. A fundação de linhas de tiros e de associações de escoteiros, como já
apontamos, fazia parte dos objetivos da Liga de Defesa Nacional, estando
inclusive presente em seu estatuto.
Aqui, faz-se necessária uma reflexão acerca da atuação dos intelectuais
que estiveram à frente da campanha fluminense em combate ao analfabetismo e
esta reflexão talvez nos permita melhor compreender a configuração deste
universo de informações congregadas na coluna destinada à Liga Fluminense. O
que apreendemos é que ações da Liga estão entrelaçadas com as ações de dois
personagens fundamentais: Luiz Palmier121 e Leopoldo Teixeira Leite. O
primeiro, sobretudo, se fez presente nas instalações de Ligas locais, envolvendo-
se com instituições diversas, sendo, do nosso ponto de vista, o membro mais
atuante da Liga Fluminense. Nossa análise foi, assim, em diversos momentos,
119
“Liga de Defesa Nacional. O Diretório do estado do rio de Janeiro”. O Fluminense,
02/03/1917, p.1. Em seu programa, o Diretório Regional da Liga da Defesa Nacional incluía o
combate ao analfabetismo. “Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense,
02/05/1917, p.1.
120
“A instalação da Linha de Tiro em São Gonçalo”. O Fluminense, 18/11/1917, p.1 e “Tiro de
Guerra em São Gonçalo”. O Fluminense, 25/03/1918, p.1.
121
Sobre as diversas ações de Luiz Palmier durante a Primeira República ver Luís Reznik (org.). O
intelectual e a cidade: Luiz Palmier e a São Gonçalo Moderna. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003.
125

costurada por elementos que vêm à tona a partir das ações e informações obtidas
através deste membro que em seus artigos publicados nos periódicos da época
dava suas impressões sobre o movimento que tomava o estado do Rio.
Vale fazermos ainda algumas considerações acerca da educação a ser
difundida pela Liga Fluminense, assim como de algumas preocupações que
envolveram seus membros. Em outubro de 1916, a Liga organizou uma primeira
conferência, realizada no edifício da Associação Comercial, cujo tema foi
“Família, Escola e Pátria”. O tema da conferência nos leva novamente a refletir
acerca dos objetivos da Liga. Estes não estavam ligados apenas a aspectos
quantitativos do combate ao analfabetismo, havia uma grande preocupação em
qualificar o ensino, educando de forma integral. Uma segunda conferência teria
como tema “Saúde do corpo e saúde do espírito”, sendo realizada por J.
122
Demoraes. Neste sentido, vale a pena retomar os três pilares – Saúde, Moral e
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Trabalho – sob os quais se apoiava a qualidade da educação a ser ministrada nos


moldes da Associação Brasileira de Educação. Nosso intuito não é o de equiparar
a Liga Contra o Analfabetismo à ABE, mas apenas sublinhar que algumas
preocupações com esta educação considerada de qualidade já despontam na
década de 1910.
Em sessão ordinária noticiada no dia 12 de maio de 1918, a Liga
Fluminense Contra o Analfabetismo se reuniu para discutir um assunto
considerado pela diretoria como de máxima importância para o desenvolvimento
da instrução no estado: o aumento do ordenado dos professores. Por unanimidade
foi resolvido que a Liga deveria propor ao governo e à Assembléia Fluminense
que fosse aumentado o ordenado dos professores das zonas rurais. Nesta mesma
reunião, discutir-se-ia acerca da constituição do Conselho de Educação. Sobre este
assunto, chegou-se ao consenso de que a intervenção da União na instrução
primária deveria existir, mas de modo apenas indireto. Esta sessão ordinária,
organizada para tratar de questões específicas referente à educação no estado
como a situação salarial dos professores e sobre a organização de um Conselho de
Educação, deixa transparecer que a preocupação dos membros da Liga abarcava
temas que iam além do “ensinar a ler e escrever”.

122
“Liga Fluminense Contra o Analfabetismo”. O Fluminense, 09/10/1916, p.1 e 28/11/1916, p.1
126

4.1.2.4 A importância da fundação de Caixas Escolares

Conforme já observamos, as escolas primárias durante o período imperial


funcionavam de forma precária, na maioria das vezes, a escola funcionava na casa
do professor, compreendendo apenas uma sala de aula. Esta precariedade
permanece, sendo raras algumas exceções, durante a Primeira República. Neste
sentido, a Liga ora analisada demonstraria sua inquietação acerca destas condições
educacionais, enfatizando idéias como a fundação de Grupos e Caixas Escolas que
objetivavam transformar o quadro de precariedade.
Acerca das Caixas Escolares, é importante percebermos que estas
constituem elementos interessantes a serem analisados no contexto em questão. O
projeto de instalação de Caixas Escolares e de Caixas Econômicas Escolares
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remete-nos ao final do Império e ao início da República, entretanto, foi no


ambiente de mobilização nacionalista das décadas de 1910-20 que tais instituições
ganharam relevância e intensidade, entrando em consonância com o movimento
em favor da instrução primária e de erradicação do analfabetismo. A revista
mensal “A Escola Primária” publicada sob a direção dos inspetores escolares do
Distrito Federal, cujo primeiro número é de outubro de 1916, apresenta-nos um
artigo sob o título “Caixa Escolar”, onde define bem o que representavam tais
associações que eram:

[...] meio pública, meio privada, que a si mesma se administra, gozando de


personalidade civil, não tendo outros estatutos senão os que ela própria
organiza, a que todas as pessoas de bem e que se interessam pela infância
podem trazer o seu óbolo e, o que vale mais ainda, a sua afeição. 123

De acordo com o mesmo artigo de “A Escola Primária”, desde 1893 se


procurava implantar no Distrito Federal Caixas Escolares, mencionando,
inclusive, algumas destas instituições já enraizadas na cidade do Rio de Janeiro –
nos 2º, 3º, 6º, 9º, distritos e as que se seguiram no 1º distrito (Caixa Azevedo
Sodré), no 5º (Olavo Bilac), no 8º (Fabio Luz), no 14º (Augusto Vasconcelos), no
16º (Pinheiro Machado), no 17º (Rivadávia Corrêa) e no 19º (D. Pedro II), além

123
“Caixa Escolar” In: A Escola Primária, Ed. Francisco Alves & C. Ano 1, n.1, p.5. Outubro de
1916.
127

das que estavam sendo organizadas no 7º, 11º, 10º, 12º e 13º distrito. Entretanto,
vale ressaltar que o que queremos evidenciar é a maneira como o movimento de
criação de Caixas Escolares ganha proporções maiores a partir da década de 1910,
passando a alcançar todo o território brasileiro e não apenas a capital federal. Isto
é bastante significativo tendo em vista que a realidade da cidade do Rio (enquanto
capital do país) é bastante diferente de outras regiões do Brasil.
Para além dos aspectos presentes na análise da atuação da Liga
Fluminense Contra o Analfabetismo feita até aqui – solicitações por escolas para
diversos municípios e criação destas seja pelo governo municipal ou estadual ou
124
por outras vias – é em 1918 que a criação de Caixas e Grupos Escolares se
consolida, tomando praticamente todo o Estado do Rio de Janeiro e contando com
apoio governamental. Estes dois aspectos trazem à tona preocupações que seriam
enfocadas posteriormente pelos movimentos em prol da educação, estando a idéia
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da edificação de Grupos Escolares associada à um anseio por melhores condições


escolares.
Um dos primeiros Grupos Escolares fundados no período analisado foi o
Nilo Peçanha em São Gonçalo. A partir daí seguiria-se a criação de Grupos
Escolares em Piraí (nomeado Martins Teixeira, segundo consta no relatório do
presidente da Câmara Dr. Domingos Mariano) e em Rio Bonito (Grupo Escolar
Barão do Rio Branco). Havendo também Grupos Escolares em Teresópolis
(Grupo Escolar Euclides da Cunha), Cantagalo (Grupo Escolar Inocêncio de
Andrade) e Paraíba do Sul (Grupo Escolar Andrade Figueira).
Ao governo se pediria ainda a criação de um Grupo Escolar em Nova
Iguaçu, em Entre Rios (distrito de Paraíba do Sul com população superior à sede
do município) e em Neves, bairro gonçalense onde havia maior densidade
populacional e que já contava com casa apropriada para a instalação do Grupo.125
Percebe-se que as preocupações da Liga Fluminense com uma educação
integral e com a difusão de Caixas e Grupos Escolares não representavam algo
isolado, visto que tais temas foram focados por outros movimentos de combate ao
analfabetismo que se desenvolveram por todo o Brasil. Entretanto, o que

124
Segundo Relatório da Diretoria de Instrução Pública de 1900, “obedecendo à modernidade
pedagógica”, em cumprimento à lei no. 376 de 23/12/1897 o governo criou alguns Grupos
Escolares (“Menezes Vieira”, “Barão de Macahubas”, “Barão de Tautphoeus”, “Honorato de
Carvalho” e “Alonso Adjuto”). Entretanto, é no contexto da Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo que a criação de Grupos Escolares ganha destaque.
125
Ibid.
128

destacamos no caso específico da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo é que


a criação de Caixas Escolares acabou por representar a consolidação de um
projeto de combate ao analfabetismo para os fluminenses. Vejamos:

O dever do estado, de manter para a instrução popular escolas elementares,


profissionais e de ensino secundário pode ter sempre a eficaz cooperação
da iniciativa particular, reunindo-se os esforços para o combate ao
analfabetismo; e esse auxílio pode ser traduzido por esforço individual ou
coletivo, que leve para as escolas as crianças que não as freqüentam mas
que já precisam dos benefícios da instrução, sendo certo que um dos
fatores da diminuição da freqüência é a falta de recursos dos pais dos
alunos, que não dispõem dos meios de os proverem de vestuário e calçado.
Atentando a isso e a que é necessário velar pela saúde das crianças, que
serão futuros mantenedores da nacionalidade brasileira; e mais ainda, a
que a par do impulsionamento da freqüência escolar, cabia ao governo
procurar fomentar a economia entre os que recebem instrução nos
estabelecimentos do estado, de modo que desde a infância observem a
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prática da previdência, tivemos a honra de submeter à vossa assinatura o


projeto instituindo as Caixas Escolares e as Caixas Econômicas
Escolares.126

As Caixas Escolares representaram uma preocupação para a Liga


Fluminense Contra o Analfabetismo desde sua fundação, sendo elemento
essencial para que seu projeto se materializasse. Segundo o decreto n° 1616, de 05
de julho de 1918 (este decreto colocava em execução a Lei n° 1169 de 29 de
outubro de 1913), caberia às Caixas Escolares:
1) Procurar conhecer quais os menores do distrito que não freqüentavam a
escola e remover os motivos que os privavam de receber instrução;
2) Auxiliar pecuniariamente, ou pelos meios que sua administração julgar
mais convenientes, a manutenção dos alunos pobres;
3) Custear a instituição do “copo de leite” em benefício dos alunos pobres;
4) Distribuir vestuários e calçados aos alunos pobres;
5) Promover a colocação de alunos débeis e enfraquecidos nas colônias de
férias, desde que estas existam em virtude da lei;

126
Projeto referente à criação das Caixas Escolares e Caixas Econômicas Escolares apresentado ao
Presidente do Estado. Relatório apresentado ao Presidente do Estado pelo secretário Geral Dr. José
Mattoso Maia Forte em 1918, p.39-41. As Caixas Econômicas Escolares destinavam-se a receber
as economias dos alunos para lhes serem restituídas no fim do ano letivo, habilitando-os ao
exercício da previdência, sendo inteiramente separadas das Caixas Escolares. Sobre estas últimas,
ver também “Caixa Escolar no Estado do Rio”. O Fluminense, 07/07/1918, p.1.
129

6) Promover passeios instrutivos nos parques, jardins e museus, etc,


fornecendo a respectiva condição aos alunos;
7) Promover a criação e educação da Legião dos Bandeirantes (boy-scouts);
8) Fornecer prêmios para serem distribuídos aos alunos das escolas que mais
se distinguirem pelo seu bom comportamento e aplicação nos estudos;
9) Promover o culto da bandeira e a celebração das festas cívicas.

Os itens acima numerados representam uma síntese do projeto da Liga


Contra o Analfabetismo para o estado do Rio de Janeiro (e para a Nação), ao
enfatizarem a importância de manter os alunos nas escolas, garantindo sua
freqüência através de auxílio alimentar e de vestuário. Além disto, um destaque
especial foi dado à formação cívica destes futuros cidadãos, que deveriam cultuar
nossa bandeira e celebrar as festas cívicas, estando também envolvidos com
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atividades ligadas ao escotismo. É com a instalação das Caixas Escolares,


entendidas como um desdobramento das atividades da Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo, que se consolida a idéia de uma instrução intimamente ligada ao
discurso cívico-patriótico.
De acordo com o decreto de 05 de junho de 1918, sessões iniciais seriam
realizadas pelos professores de cada distrito visando a fundação das Caixas
Escolares no estado. Nas cidades e vilas, haveria uma Caixa Escolar para cada
distrito, uma Caixa única nos distritos rurais cujas escolas estivessem próximas.
Se as escolas não fossem próximas, as caixas deveriam funcionar separadamente.
Escolas Normais de Campos e Niterói teriam cada uma sua Caixa Escolar. As
ações do governo sobre as Caixas Escolares só se daria em casos muitos restritos,
estas gozariam da mais ampla autonomia para eleger sua administração e
empregar nos fins regulamentares os recursos obtidos.
Os municípios fluminenses seriam agora tomados pelas Caixas Escolares
127
que seriam instaladas em diversos municípios , fato que teria máximo valor
para os membros da Liga Fluminense Contra o Analfabetismo.
Não podemos deixar de mencionar que o Dr. Luiz Palmier seria presidente
da Caixa Escolar do 1o distrito de São Gonçalo, cuja posse da diretoria contaria
com a presença do Coronel Mattoso Maia Forte (Secretário Geral do Estado)

127
Ver ANEXOS VI e VII.
130

representando o governo estadual. Naquela ocasião, Maia Forte comunicaria que o


Dr. Nilo Peçanha (patrono da Caixa Escolar) colocaria à disposição da tesouraria
150$000, sendo proclamado o primeiro sócio benemérito daquela instituição.128O
presidente da Liga Fluminense, Leopoldo Teixeira Leite, também seria
responsável por uma Caixa Escolar: a do 2o distrito de Niterói. A Caixa Escolar
do 1o distrito de Niterói, ao que indicam os jornais, contava com muitos adeptos e
realizava diversas atividades para angariar fundos, tendo como presidente Levi
Carneiro.
Ao publicar em “O Fluminense” suas impressões sobre o “movimento
vibrante” de instituições das Caixas Escolares no estado do Rio, o Sr. Edmundo
March nos permite vislumbrar a aceitação que a idéia obteve. Constituindo o
“mais poderoso elemento de combate ao analfabetismo”, as Caixas Escolares
conseguiriam “o apoio de interessados e indiferentes, congregando em volta de si,
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na mais louvável promiscuidade, elementos de todas as classes sociais, de todos


os matizes políticos, de todas as crenças religiosas”. Segundo o autor, este era um
movimento estreitamente ligado à formação da nossa sociedade e pela defesa e
integridade do progresso de nossa pátria, uma vez que englobava a educação
intelectual, moral e cívica dos brasileiros.129
O Presidente do estado Dr. Raul de Moraes Veiga em mensagem elaborada
no ano de 1919 se refere às Caixas Escolares, destacando que “é de se esperar que
a persistência na propaganda que vai sendo feita sobre os benefícios de tão útil
instituição, e a boa compreensão do regulamento que lhe deu vida, facilitem a
instalação de novas Caixas Escolares e o desenvolvimento das que se acham
funcionando”.130A análise da atuação das Caixas Escolares no Estado Rio é um
caminho ainda a ser trilhado pelos historiadores que pretendem melhor
compreender ações educacionais na Primeira República, requerendo, assim, uma
outra pesquisa.
A partir do ano de 1919, o movimento em favor do combate ao
analfabetismo no estado do Rio de Janeiro perderia sua força. Não podemos
afirmar com exatidão o motivo para este enfraquecimento, uma vez que os jornais

128
“Caixa Escolar Nilo Peçanha. A posse da diretoria”. O Fluminense, 04/08/1918, p.2.
129
Edmundo March, “Caixas Escolares”. O Fluminense, 31/08/1918, p.1.
130
Mensagem do Presidente do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. Do Jornal do
Comércio de Rodrigues & C, 1919. pp. 23-35.
131

simplesmente deixam de publicar notícias acerca da Liga que nos serve de objeto
de análise. Entretanto, em lugar desta associação – ou mesmo como seu legado –
ficam as Caixas Escolares. Estas permaneceriam ativas nos municípios por um
longo período. Festivais e outros eventos em favor das Caixas passariam a ser
realizados já em 1918, levando adiante os propósitos da Liga Fluminense Contra o
Analfabetismo.
Assim, encerramos nossa análise acerca da fundação e atuação de Ligas de
combate ao analfabetismo nos estados brasileiros, instituições que pretendiam por
fim ao grande mal que assolava o Brasil e que promoveram um amplo movimento
em cada estado envolvido declarando guerra contra o analfabetismo, chamando a
atenção para a necessidade de melhor instruir os brasileiros.
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5

À guisa de conclusão: o lugar da Liga Brasileira Contra o


Analfabetismo na História da Educação.
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A história faz-se com documentos escritos, sem


dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se,
deve fazer-se, sem documentos escritos, quando não
existem. Com tudo o que a habilidade do historiador
lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na falta
das flores habituais. Logo, com palavras. Signos.
Paisagens e telhas. Com as formas do campo e das
ervas daninhas [...] Toda uma parte, e sem dúvida a
mais apaixonante do nosso trabalho de historiadores,
não consistirá num esforço constante para fazer falar
as coisas mudas, para fazê-las dizer o que elas por si
próprias não dizem sobre os homens, sobre as
sociedades que as produziram, e para constituir,
finalmente, entre elas, aquela vasta rede de
solidariedade e de entreajuda que supre a ausência
do documento escrito? 1

1
Febvre, 1949, p.428 Apud Jacques Le Goff, “Documento/Monumento” In: História e Memória.
Tradução Bernardo Leitão... [et al.]. 5ª edição, São Paulo: Editora da UNICAMP, 2003, p. 530.
133

Para iniciarmos uma possível conclusão deste trabalho, uma questão de


coloca como central. Diante da intensa mobilização nacional e do efetivo
engajamento da sociedade na campanha empreendida pela LBCA – conforme se
buscou demonstrar nesta pesquisa – por que razão este movimento foi
praticamente esquecido ou não incluído na História da educação brasileira? Por
que não há uma memória consolidada sobre a LBCA? Cabe fazermos, então, uma
reflexão acerca da memória que se constituiu sobre a campanha contra o
analfabetismo empreendida a partir de 1915.
Um aspecto a ser considerado refere-se ao fato de que a realização deste
trabalho teve como grande limitação a ausência de fontes produzidas pela LBCA.
Não encontramos nenhum tipo de documentação como relatórios, atas ou boletins
anuais referentes ao nosso objeto de estudo. Na ausência desta documentação
oficial, utilizamos como fontes, fundamentalmente, as notícias veiculadas sobre a
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LBCA nos periódicos da época, vislumbrando os propósitos daquele movimento e


acompanhando suas ações entre os anos de 1915 e 1922.
Não haveria, portanto, uma memória consolidada pela instituição LBCA?
Ou será que os movimentos educacionais que se seguiram se encarregaram de
apagar ou relegar a segundo plano qualquer tipo de memória referente às
campanhas que se dedicavam ao simples aprender a ler e escrever?
Estamos aqui estabelecendo uma relação entre memória e documento.
Segundo a definição de Le Goff, a memória, além de ser entendida como
fenômeno individual e psicológico, está ligada também à vida social, podendo
variar em função da presença ou da ausência da escrita, sendo, assim, objeto da
atenção do Estado que, “para conservar traços de qualquer acontecimento do
passado, produz diversos tipos de documento/monumento, faz escrever a história,
acumular objetos” 2. Desta forma, a compreensão de memória aqui indicada está
vinculada ao ambiente social e político e à seleção do que é considerado relevante
para ser deixado como registro à posteridade. Os arquivos históricos possuem
uma história, fazendo parte, portanto, de um processo seletivo. Sobre isto, Marc
Bloch nos chama a atenção:

2
Ver Jacques Le Goff, “Memória” In: História e Memória, op. Cit. p.419.
134

Não obstante o que por vezes parecem pensar os principiantes, os


documentos não aparecem, aqui ou ali, pelo efeito de um qualquer
imperscrutável designo dos deuses. A sua presença ou a sua ausência no
fundo dos arquivos, numa biblioteca, num terreno, dependem de causas
humanas que não escapam de forma alguma à análise, e os problemas
postos pela sua transmissão, longe de serem apenas exercícios de técnicos,
tocam, eles próprios, no mais íntimo da vida do passado, pois o que assim
se encontra posto em jogo é nada menos do que a passagem da recordação
através das gerações. 3

A historiografia sobre a questão educacional durante o final da Primeira


República destina lugar especial para a fundação da Associação Brasileira de
Educação em 1924. Os movimentos que a antecederam, preocupados com a
instrução no país e que priorizavam a difusão do ensino, teriam seus programas
educacionais redefinidos a partir da fundação da ABE, uma entidade de caráter
nacional que passaria a coordenar os debates educacionais no país, visando uma
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reforma moral e intelectual 4.


Fundada em 15 de outubro de 1924, no anfiteatro da antiga Escola
Politécnica, a ABE não se definia como um órgão de classe, contando com a
participação de engenheiros, médicos, advogados e educadores. A associação teve
como fundadores Heitor Lyra da Silva (líder do grupo formado por expressiva
maioria de engenheiros), Fernando Laboriau, Dulcídio Pereira, Amoroso Costa,
Isabel Lacombe, Alice Carvalho de Mendonça, Amaury de Medeiros (médico) e
José Augusto (advogado). Contou ainda com a participação de Paulo Carneiro,
Venâncio Filho, Edgar Sussekind de Mendonça, Everardo Backeuser, Álvaro
Alberto, Menezes de Oliveira e muitos outros engenheiros. A corrente médica
fazia-se representar por nomes como Fernando de Magalhães, Roquette Pinto,
Artur Moses, Gustavo Lessa, Carlos Sá e Miguel Couto. Este último pronunciaria
na ABE uma célebre conferência ressaltando que "no Brasil só existe um
problema: o da educação de seu povo". Professores de todos os graus e níveis não
poderiam deixar de aderir à instituição e entre estes destacamos os nomes de
Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Consuelo Pinheiro,
Paschoal Lemme, Juracy Silveira, Franklin Botelho de Magalhães e Basílio de
Magalhães.

3
Marc Bloch Apud Jacques Le Goff, “Documento/Monumento”, In: História e Memória, op.
Cit. p.534.
4
Sobre o tema ver trabalhos de Marta Carvalho, A Escola e a República, op. Cit. e Molde
Nacional e Fôrma cívica, op. Cit.
135

As propostas da Associação Brasileira de Educação retratavam o povo


brasileiro como um povo doente e degenerado, sendo necessária uma educação
para moralizar, sanear e unificar este povo e seus costumes. Assim, a ABE
buscou promover uma reforma da mentalidade das camadas mais elevadas da
sociedade, convencendo-as da necessária regeneração do povo brasileiro através
da educação. A ação transformadora a ser empreendida tinha como espaço
privilegiado a escola, porém, uma escola nova que permitisse a renovação de
hábitos e comportamentos.
Foi através do discurso produzido pela ABE que ganhou corpo nos debates
educacionais as idéias de cientifização da escola, valorizando uma educação de
caráter integral, a modernização das salas de aula e a introdução de disciplinas
modernas e científicas na formação de professores. A proposta de um método que
colocava o aluno como agente e sujeito do conhecimento ganhou força entre os
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americanos a partir das idéias de John Dewey (1859-1952). A plasticidade da


natureza biológica infantil, a valorização dos interesses da criança, o papel da
educação na mudança de hábitos, a correlação entre experiência e pensamento,
pensamento e educação e entre escola e democracia (a educação tinha função
democratizadora de igualar oportunidades), faziam parte de algumas das
formulações teóricas e metodológicas divulgadas como princípios de uma “Escola
Nova”.
Se a partir do ensino intuitivo de fins do século XIX identificava-se a
passagem do ouvir para o ver, com a experiência da escola ativa, o ensino passaria
a associar o ver ao fazer. Da mesma forma que o discurso higiênico utilizado na
disciplinarização do corpo do aluno seria substituído por uma psicopedagogia. O
aluno observador daria lugar ao experimentador que através dos laboratórios,
excursões e museus escolares deveriam solucionar problemas de natureza prática.
Foram referenciais também as propostas elaboradas por outros autores como
Claparède que chamava a atenção para a necessidade de especialização do
trabalho e classificação escolar, respeitando a diferenciação quantitativa das
crianças, uma vez que estas apresentam capacidades específicas. As idéias de
Claparède ficariam associadas à classificação escolar ou à uma “escola sob
medida”. 5

5
Ibid. Ver também Helena Bomeny. Os intelectuais da Educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2003, 2ª Edição.
136

A atuação da ABE se dava por meio de encontros, conferências ou


congressos nacionais que abordavam temas específicos. Em suas conferências
bianuais podemos destacar debates sobre a uniformização do ensino primário, o
ensino secundário e a criação de escolas normais superiores. A Associação
serviria como centro de discussão para as reformas que se realizariam no campo
educacional entre 1925 e 1935 tanto no âmbito estadual como no âmbito federal.6
De acordo com Marta Carvalho, a ABE refletia a ação autoritária de uma
elite que projetava conformar o povo a seus anseios através de uma educação
integral em contraposição à pura e simples instrução. A redefinição da escola a ser
operada a partir dos moldes definidos como ideais pela ABE primava pela
qualidade de uma proposta educacional que estaria apoiada na valorização de
temas como a moral, a saúde e a racionalização do trabalho escolar sob os moldes
da fábrica. 7 Entretanto, ainda de acordo com Carvalho, é importante perceber que
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havia uma separação entre a educação das elites e a educação do povo; à primeira
destinava-se o ensino secundário e superior e ao povo destinava-se a escola
primária que o formaria integralmente tornando-o saudável, disciplinado e
produtivo, evitando, assim, que a educação se tornasse uma arma perigosa,
desestabilizando a sociedade. De acordo com Heitor Lyra da Silva:

O levantamento do nível popular tem que repousar sobre tríplice base:


moral, higiênica e econômica, o que significa que sem a cultura das
qualidades do caráter, sem a melhoria das condições de saúde da massa da
população e sem uma racional organização do trabalho é utopia esperar
que a alfabetização rápida e quase instantânea, se possível, viesse a
transformar para o bem as atuais condições do nosso país. 8

6
Acerca das reformas de cunho organizacional destacamos a Reforma Rocha Vaz de 1925
(referente ao ensino secundário e superior), a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública
em 1930, o Estatuto das Universidades Brasileiras em 1931 e a Lei Orgânica do Ensino
Secundário do mesmo ano. Vale destacar que a década de 1920 seria marcada também por
diversas reformas regionais. Em 1920, Sampaio Dória realiza a primeira destas em São Paulo, em
1922-23 o paulista Lourenço Filho vai ao Ceará com intuito renovador. Em 1924, Anísio Teixeira
leva à Bahia seu aprendizado com John Dewey. Em 1925-28 reformas são empreendidas por José
Augusto Bezerra de Menezes no Rio Grande do Norte, em 1927-28 é a vez do Paraná com
Lisímaco Costa. Francisco Campos renovaria o ensino primário e normal do Estado de Minas
Gerais em 1927. Por fim, nos anos de 1927-30, Fernando de Azevedo inicia reformas educacionais
na capital da república. Porém, seria com Anísio Teixeira à frente da direção da Instrução Pública
na cidade do Rio de Janeiro que as reformas ganhariam destaque, sobretudo em razão das
polêmicas que provocaram. Sobre os reformadores ver Helena Bomeny, “Novos talentos, vícios
antigos: os renovadores e a política educacional”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 6, n.11,
1993. Ver também Clarice Nunes, Anísio Teixeira: A poesia da ação. São Paulo: EDUSF, 2000.
7
Marta Carvalho, Molde Nacional e Fôrma Cívica, op. Cit.
8
Idem, A Escola e a República, op. Cit. p.46.
137

Já destacamos em momento anterior que um dos mais importantes pilares


da fundação da ABE seria a crítica ao que se chamava “fetichismo da
alfabetização intensiva”. Este é um ponto crucial de crítica feita pela ABE aos
movimentos como a LBCA. Para os fundadores da Associação Brasileira de
Educação, era necessário, ao invés de “apressadamente ensinar a ler, escrever e
contar aos adultos iletrados” – coisa de uma má pedagogia – “cuidar seriamente
de educar-lhes os filhos fazendo-os freqüentar uma escola moderna que instrui e
moraliza, alumia e civiliza” 9. Estas idéias, amplamente difundidas pela ABE,
deixam evidente o combate aos movimentos que a antecederam e, sobretudo, um
distanciamento em relação às campanhas de alfabetização que vinham sendo
promovidas. Isto marcaria profundamente as interpretações posteriores acerca do
papel destes movimentos na história da educação no Brasil. Não por acaso, foram
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tais movimentos relegados a segundo plano, tal qual haviam feito os membros da
ABE.
Entretanto, de acordo com o que apresentamos ao longo da análise das
ações da LBCA e das ligas estaduais e locais, a preocupação com a freqüência
escolar, com a falta de prédios, material didático, saúde, modos civilizados e
cívicos e com uma escola moderna que “instrui e moraliza, alumia e civiliza” já
estava presente ali, ainda que de maneira germinal. Não se pode afirmar que o
movimento escolanovista produz um modelo escolar novo: o que ocorre é a
adoção de novos significados políticos e pedagógicos para algumas propostas que
já estavam sendo postas em evidência por movimentos anteriores.
A campanha empreendida pela LBCA a partir de 1915 nos permite
vislumbrar um lugar para esta instituição na História da Educação brasileira, um
lugar que é delineado por sua atuação política e educacional que mobiliza a
sociedade brasileira em favor do combate ao analfabetismo e chama o Estado a
intervir nas questões educacionais. Uma das características fundamentais desta
campanha foi o grande engajamento social que se obteve na difusão do ensino
primário em todo o país.

9
Ibid, p. 149.
138

5.1. Entre lembranças e esquecimentos, esboçando novos caminhos

Retomemos a noção de seletividade que acompanha toda memória. A


operação coletiva de interpretações do passado que se deseja salvaguardar, aqui
compreendida como memória, associa-se com tentativas de definir e reforçar
sentimentos de pertencimento, definindo mesmo o lugar de determinado grupo ou
10
instituição social, sua complementaridade ou oposição. O grupo da ABE se
definia a partir de uma oposição declarada aos movimentos de combate ao
analfabetismo que a antecederam, afinal, sua noção de uma “escola nova”
baseava-se nesta contraposição. Possivelmente, em razão disto, as ações das
Ligas Contra o Analfabetismo praticamente foram esquecidas.
Entretanto, além dos jornais, a presente pesquisa teve como elemento
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essencial a localização na Biblioteca Nacional de uma edição publicada em 1941


sob o título Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Tal encadernação faz uma
espécie de histórico da LBCA ao reunir informações sobre suas diretorias, os
sócios fundadores, modelos de fichas de adesões, os principais artigos do
Estatuto, discursos variados e conferências. Antes de passarmos à diante,
objetivando finalizar este trabalho, torna-se importante analisar brevemente este
documento.
O documento é composto por 116 páginas onde, conforme indicamos
acima, são reunidas várias informações sobre o movimento iniciado em 1915 pela
LBCA, fundada em 21 de abril daquele ano. A capa azul escuro não contém um
título, apenas ao abrir o livro é que encontramos a inscrição “Liga Brasileira
Contra o Analfabetismo” e as indicações do ano em que se iniciaram os trabalhos
daquela associação (7 de setembro de 1915) e a data chave que se refere ao
contexto de elaboração da encadernação (10 de novembro de 1937). Nesta mesma
página estão presentes o ano de publicação (1941) e o lema da Liga Contra o
Analfabetismo. 11 Nas páginas iniciais, constam informações interessantes acerca
do contexto de produção do documento, que retomaremos mais adiante.

10
Michael Pollak, “Memória, Esquecimento, Silêncio”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.
2, n.3, 1989, p.3-15.
11
Ver Anexo VIII.
139

A organização da encadernação se dá de maneira desconexa, após reunir


alguns modelos de fichas enviadas pela LBCA (ficha de adesão, fichas que
buscavam o apoio da “corporação legislativa” e da imprensa), seguem-se, a partir
da página 11, os nomes dos membros da primeira diretoria da LBCA, os
principais artigos de seu Estatuto e inúmeros discursos e textos diversificados – a
maioria sem indicação de autor e sem título – referentes ao tema da instrução. São
estes discursos que tão o tom da publicação, enfatizando, os propósitos da LBCA
e, inclusive, o contexto de produção daquele documento.
De maneira geral, os textos e discursos que compõem a encadernação
dedicada à LBCA destacam o papel fundamental da instrução das massas na
construção do progresso brasileiro, tomando como exemplo os Estados Unidos, a
Argentina, a Inglaterra e da Suíça que deram a devida atenção à instrução do
povo. A exemplo do que se observava em relação às grandes nações do mundo, a
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instrução era o alicerce seguro onde deve se firmar o prestígio de uma


nacionalidade. Os novos tempos, caracterizados pela liberdade de pensamento,
pela industrialização, pela universalização do comércio, pelo papel central da
ciência, demonstravam que o desenvolvimento das atividades humanas dependia
da cultura, ou seja, da instrução. A democracia efetiva resultaria, assim, da boa
educação destinada à população brasileira. O primeiro passo para obter o remédio
contra o monstro que entravava o progresso brasileiro era a decretação do Ensino
Primário obrigatório em todo o país. A luta pela obrigatoriedade do ensino,
destacada em diversos momentos nos capítulos anteriores, segue como ponto
central nos discursos presentes na encadernação de 1941. 12
13
Em meio aos textos variados presentes no documento ora analisado,
sobretudo a partir da página de número oitenta e dois, verificamos discursos que
seguem o mesmo matiz de combate ao analfabetismo através da difusão e da
obrigatoriedade do ensino primário no Brasil. Porém, estes discursos já se
inseriam em um outro contexto, sendo endereçados aos ouvintes da Rádio P.R.C-8
(Rádio Sociedade Guanabara) a partir do ano de 1938. Nestas conferências fica
evidente o relevo dado às ações empreendidas pela LBCA desde 1915, em favor
da instrução do povo, contra o “único inimigo do Brasil”. Daquela data em diante,

12
Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, op. Cit.
13
Todos os textos, discursos ou conferências se encerram com a citação do lema da LBCA
“Combater o analfabetismo é dever de honra de todo brasileiro”.
140

podia-se observar resultados obtidos em relação à educação através das sucessivas


decretações da obrigatoriedade da instrução primária nos estados e municípios.
Por que há um resgate do movimento contra o analfabetismo no contexto
dos anos de 1940? Um aspecto a ser considerado refere-se ao fato de que foi neste
contexto que a LBCA encerrou seus trabalhos. Um texto presente na publicação
de 1941 sob o título “Em Conclusão”, remete-se a este momento:

A Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, alcançado o objetivo a que se


propôs, dá por terminada a sua missão, externando o seu profundo
reconhecimento à colaboração eficiente e grandiosa da Imprensa Brasileira
e das Estações de Rádio, que, com a sua indiscutível força de propaganda
e difusão, de par com a boa vontade sempre demonstrada em todos os
tempos, animaram muito a campanha da causa brasileira hoje vitoriosa.
Finalizada a sua tarefa a LBCA não se extingue, não desaparece, vai
apenas descansar da grande jornada que empreendeu, alerta sempre ao
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primeiro toque de reunir para lutar, quando for chamada ou quando se


tornar preciso, em prol do progresso e da felicidade do nosso querido
Brasil, porque sendo a Instrução a base do progresso... Combater o
analfabetismo é dever de honra de todo brasileiro!
Rio, 31 de dezembro de 1939. 14

Por que razão a missão da LBCA estava sendo dada como terminada? A
resposta para este questionamento, ou pelo menos parte dela, pode ser dada
através da própria publicação dedicada à LBCA. À página já mencionada onde se
encontra a inscrição “Liga Brasileira Contra o Analfabetismo”, segue-se uma
página dedicada a Getúlio Vargas, onde consta uma foto do presidente da
República dos Estados Unidos do Brasil e um texto que “explicaria” o motivo
para o encerramento dos trabalhos da LBCA. Vargas é apontado como

O presidente que legou ao Brasil o maior tesouro. O criador e executor da


lei que extirpou do solo Pátrio o maior inimigo do seu progresso – O
Analfabetismo [...]
Instaurado em benefício do povo e para o engrandecimento nacional, o
regime de 10 de novembro exige desinteresses, abnegação e sacrifício.
Não constitui uma experiência, nem é uma situação transitória. Há de
perdurar para resolver, de forma definitiva, os problemas fundamentais do
progresso e da segurança do país. 15

14
Esta notícia havia sido publicada no “Jornal do Comércio” em 14 de março de 1940. Ver Liga
Brasileira Contra o Analfabetismo, op. Cit.
15
Ibid, p. 1 e 2. Ver ANEXO IX.
141

A conexão que se estabelece entre o texto acima e a nota de encerramento


dos trabalhos da LBCA é direta. A idéia que fica evidenciada é a de que graças ao
governo de Getúlio Vargas, os propósitos fundamentais da Liga Contra o
Analfabetismo haviam sido alcançados. Tais propósitos remetiam, certamente, à
decretação da obrigatoriedade do ensino primário, uma das bandeiras
fundamentais pela qual a LBCA lutava e que foi concretizada na Constituição de
1934 e reafirmada com o Estado Novo em 1937. Além disto, o contexto de
elaboração da publicação apresenta elementos peculiares a serem ressaltados que
demonstram uma maior intervenção da União nas questões educacionais. Durante
a década de 1940 o Ministério da Educação, representado, sobretudo, na figura do
ministro Gustavo Capanema, promoveria uma Campanha Nacional de Combate
ao Analfabetismo. O ano de 1941, especificamente, ficaria marcado pela
realização da Conferência Nacional de Educação, buscando uma integração entre
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União, Estados e Municípios.


A carta enviada pela LBCA ao presidente Delfim Moreira em 1919,
solicitando a obrigatoriedade da instrução primária em todo o Brasil, é
mencionada em inúmeros discursos destinados aos ouvintes da Rádio Sociedade
Guanabara em 1938. O que se objetivava ressaltar era que:

[...] os períodos de vários governos se passaram e, com eles, o tempo que


passou. Finalmente, em outubro de 1930, o Brasil era sacudido em todos
os seus quadrantes numa transformação de ideais políticos [...] De uma
das janelas do Palácio do Catete, no memorável 24 de outubro, ao lado de
um representante da LBCA, o atual presidente Getúlio Vargas afirmou
sob calorosos aplausos da multidão que se comprimia para ouvi-lo que a
instrução primária fazia parte saliente de seu programa de governo.
[...] Inegavelmente a LBCA e o Brasil inteiro reconhecem no presidente
Getúlio Vargas o mais patriota de todos os seus dirigentes e os brasileiros
jamais esquecerão de que foi no decorrer de seu período governamental
que a pátria brasileira recebeu o maior legado que lhe poderia deixar o
melhor de seus filhos. 16

Buscar compreender por que razão a memória que se conservou sobre a


LBCA ficaria vinculada às ações do governo Getúlio Vargas – uma vez que este
reúne e seleciona, em 1941, o que deveria ficar guardado para a posteridade sobre

16
Ibid, p.104.
142

aquele movimento – é tema para pesquisas vindouras, tema interessante, sem


dúvida, mas que não poderá ser devidamente explorado aqui.

Encerramos este trabalho deixando como contribuição à história da


educação e do Brasil a evidência de que entre os anos de 1915 e 1922 houve um
amplo movimento de combate ao analfabetismo no Brasil e que neste contexto já
podemos perceber a preocupação com uma escola que deveria estar em sintonia
com a sociedade moderna e que levaria em consideração as rápidas
transformações em curso no mundo. Além disto, é relevante perceber que as
ações empreendidas pela LBCA e pelas Ligas estaduais não visavam eximir a
responsabilidade do Estado com a educação; exigia-se mesmo a intervenção deste
na decretação do ensino primário obrigatório e na organização nacional para um
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ensino de qualidade. A LBCA intencionou coordenar ações sociais de combate ao


analfabetismo, incentivando a população a exigir soluções para os problemas
educacionais e chamando-a a apoiar, das mais diversas maneiras e através de
variadas instituições, a campanha pela difusão do ensino elementar. O contexto
dos anos 1910 e os movimentos que ali emergem são ainda pouco explorados;
novas abordagens devem ser consideradas, novos caminhos traçados e
percorridos buscando definir a Primeira República como um momento estratégico
na história deste país, momento caracterizado pelo engajamento, mobilização e
reflexão sobre os rumos a serem tomados, almejando a construção da Nação.
143

6
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7
Fontes

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6.2. Biblioteca Nacional (Periódicos)


Jornais:
A Noite (1915-1922)
O Paiz (1915-1922)
Gazeta de Notícias (1915)
O Fluminense (1915-1919)
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Revistas:
A Escola Primária (1915-1922)

6.3. Arquivo público do Estado do Rio de Janeiro


Mensagem do Presidente do Estado do Rio de Janeiro (1915-1919)

6.4. Biblioteca pública de Niterói (Sala Mattoso Maia)


Relatório apresentado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro pelo Presidente do Estado (1915-1919)
148

8
Anexos

8.1. ANEXO I

ALGUMAS ASSOCIAÇÕES QUE UTILIZAM O TERMO LIGA EM


SUAS DENOMINAÇÕES – 1915-1922

Liga Brasileira Contra o Analfabetismo

Liga de Defesa Nacional

Liga Nacionalista
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Liga Pró Saneamento do Brasil

Liga pelos Aliados

Liga Brasileira Contra a Tuberculose

Liga Federal de Empregados em Padarias

Liga do Comércio

Liga Monárquica

Liga Marítima

Liga dos Proprietários

Liga Pedagógica do Ensino Secundário

Liga dos Professores

Liga Internacional de Assistência aos Animais

Liga dos Inquilinos e Consumidores

Liga Anônima

Liga Brasileira Pró-Germania

Ligas Anti-Germânicas

Liga pela Moralidade ou Liga pela Moral


149

Liga dos Lavradores do Rio de Janeiro

Liga Patriótica Operária

Liga dos Operários Tamanqueiros

Liga Esperantista

Liga de Educação Cívica da Prefeitura

Liga das Nações

Liga da Aproximação Universitária

Liga Fraternista Internacional

Liga Republicana Carioca

Liga dos Estados


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Liga Patriótica da Argentina

Liga Política do Distrito Federal

Liga Católica Jesus, Maria e José

Liga dos Vinte e Um

Liga Patriótica dos Aviadores Argentinos

Liga Vermelha (contra a carestia da vida)

Liga Política pró-autonomia do Acre

Liga de Auxílios Mútuos dos Cegos no Brasil

Liga dos Municípios

Liga Promotora da Instrução no Lar

Liga do Coração

Liga Nacional Contra o Alcoolismo

Liga das Mães

Liga Eugênica Contra o Fumo

Fonte: Jornal A Noite (1915-1922)


150

8.2. ANEXO II

Delegados nomeados pela Liga Brasileira Contra o Analfabetismo


nos Estados

Estados Delegados

Alto Acre - Dr. Octávio Steiner do Couto


- 1º Tenente Caio Lustosa de Lemos
(atuação em Rio Branco)

Amazonas - Drs. Gentil Bittencourt


- Mário Sá
- Octávio Sacramento
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Bahia - Professor Manoel Monteiro


(destaque para a atuação em Mundo
Novo)

Ceará - Professor Dr. Mozart Monteiro


- Dr. Antonio Salles

Goiás - Alípio Silva

Maranhão - Senhorita Maria da Piedade Ennes


Belchior
- Major Antônio de Castro Pereira
Braga (delegado especial no Estado)
- Dr. Godofredo Vianna
- Professora D. Alzira Casabona de
Oliveira (atuação em Mirador)

Minas Gerais - Dr. Jonas de Farias Castro


(Presidente da Câmara de Santa Luzia
de Carangola)
- Sr. Alfredo de Magalhães Queiroz
(atuação em Munhumirim)
- Sr. Augusto Amarante (professor da
localidade de Santa Luzia de
Carangola)
151

- Deputado Dr. Pedro Bernardo


Guimarães
- Dr. Carlos Góes (delegado especial
no Estado)
- Dr. J. C. da Costa Senna, Alberto
Magalhães Gomes e Luiz Caetano
Ferraz (atuação em Ouro Preto)
- Sr. Ernesto Cony Filho (delegado
especial na região Estação de Sítio)
- Professora D. Maria Lacerda
(diretora da Escola Conde de Prados
em Barbacena)
- Alypio Carneiro (atuação em
Paracatu)
- Coronel Joaquim Severino de Paiva
(atuação em Itajubá)
- Cônego Joaquim Souza Soares
(atuando em S. Gonçalo de Sapucaia)
- José Pereira (atuação em Santa Rita
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de Sapucaia)

Pará - Capitão do Exército Dr. Gama Villas


Boas

Pernambuco – Ignácio de Brito (atuação em


Vitória)
– Professor Jeronymo Queiroz
(atuação em Garanhuns)

Rio de Janeiro - Major Maximiliano Martins (atuação


na capital)
- Luiz Palmier (atuação em todo o
estado)
- Dr. Antônio Braz de Moraes Barbosa
(Presidente da Câmara em Barra do
Piraí)
- Capitão Francisco José dos Santos
Júnior (atuação em São Pedro
d’Aldeia)

Rio Grande do Norte - Dr. Manoel Dantas

Rio Grande do Sul - Joaquim Inácio


- Sr. José Domingos de Almeida e
Major Teto Villas Lobos (ambos
152

atuando em Porto Alegre)


- João B. de Magalhães
- Major Maximiliano Martins (atuação
em Cruz Alta)

Santa Catarina - Dr. Remigio de Oliveira (atuando em


Brusque)
- Srs. Coronel Hippolyto Boiteux, Dr.
Eurico Ennes Tores, Professor Patrício
Brasil e João Boanerges Lopes
(atuação nas localidades de Nova
Trento, Tijucas, S. João Batista e
Palhoça)
- Dr. Roseny Silva (atuação em
Carrancas e Caxambu)

São Paulo - Dr. Domingos Jaguaribe


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- Mario Pinto Serva (na região da


Companhia de Ferro Paulista)
- Sr. Antônio Domiciano Pereira
(atuação em Piracicaba e Jaguary)

Em março de 1919, a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo designou o Dr.


Júlio Azambuja (médico e jornalista em Porto Alegre) para fazer uma excursão
pelo Brasil em propaganda da instrução.
153

8.3. ANEXO III

Algumas adesões noticiadas (1915-1922):

Francisco Alves, Major Liberato Bittencourt, professor Antônio Marques, Dr.


Augusto Barreto, Oscar Pereira de Brito, Carlindo Portela, Luiz Francisco
Fernandes de Oliveira, J. Pacheco Dantas, Senhorita Maria Chavel, Dr. Carlos
Mendonça, acadêmico Heitor Pereira Cardoso Thompson, Dr. Alberto Couto
Fernandes, Antônio Braga, Enéas Lutz, José Alberto da Silva, Ildefonso José
Domingues, Senhorita Romaneira Calmon, Dr. Carlos Góes, Dr. Octávio Álvares
de Azevedo Macedo, Comandante Pedro Manon Sarrat, 1º tenente Isauro
Regueira, Sr. Alcindo Terra, Odílio Pinto, Ernesto Cony Filho, José Carlos de
Almeida, Eduardo de Faria Braga, Eugenio Proença Gomes, Henrique de A.
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Autran, Octavio Trinas, José Luiz Rodrigues da Costa, Carlos Lage Savão,
Vicente Avellar Filho, 1º tenente Manoel Barros Lins, Henrique Guimarães,
Osório da Silveira, A. O. Marques, Dr. Oswaldo Avellar, senhoritasTarcília e
Gelina da Silva Sayão, Dr. Antônio de Castro Pereira Rego, Dr. Octavio Steinor
do Couto, Eduardo da Cruz Rangel, Almirante Beaumont, Dr. José Paes Barreto,
Candido Carneiro, Adalberto de Andrade, Romeu Pinto de Lemos, Dr. Gaspar
Santelmo Gomes dos Santos, Nadia Santelmo Gomes, senhorita Nair Gomes
Santos, Exma. viúva de José do Patrocínio, tenente da marinha de guerra José A.
de Paiva Meira, Benvindo A. Taques Horta, Carlos A. de Macedo Soares
Guimarães, Diógenes Marchon, João Guilher, Dr. Raul Pinto, Dr. Orlando
Mattos, professora Lucinda Bittencourt, 1º tenente Caio Lustosa de Lemos,
Manoel Pereira Borges (diretor da Mundial), Gabriel Ferreira da Cruz, Francisco
A. Machado, Roldão Américo, Franco Vieira,
154

8.4. ANEXO IV

Estados Brasileiros envolvidos no combate ao analfabetismo


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155

8.5. ANEXO V

Comissões Municipais (Liga Fluminense Contra o Analfabetismo)

Cabo Frio: Carlos Palmer, Luiz Bonifácio Ludemberg, Drs. Bráulio Conrado,
Floriano Sampaio e Macedo Soares e Coronel Adolpho Berauger.

Friburgo: Drs. Galdino do Valle Filho, Adolpho Macário Figueiredo de Mello,


Alberto Braune e Silvio Rangel.

Cantagalo: Dr. Rômulo Barreto, Júlio Veríssimo da Silva Santos, Hugo Cunha,
Mário Barreto, Coronel Francisco Lessa, Coronel César Feijane e Professor
Alexandre Brasil.

Vassouras: Drs. Henrique Borges, Arthur Paula Souza, Horácio Gomes de


Carvalho, Velho de Avellar e Ataíde Parreiras.
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Pádua: Zeferino Barroso, Dr. Irineu Sodré, André Wernecke, Coronel Perlingeiro,
Franklin de Almeida e Capitão José Giudice.

Itaboraí: Coronel Antônio da Silva Leal, Luiz Pereira dos Santos, João Pery D.
Santos, Hermeto Júnior, Capitão de Fragata Soares da Cunha, Padre Egídio
Carvuoti e Dr. Colatino de Araújo Góes.

Rio Bonito: Coronel Cândido de Araújo, Capitão Alves Vianna, João Carmo, drs.
Antônio Supardo, José Nunes da Costa Tibau, Francisco José Teixeira de Almeida
e Dr. Eugênio Corediro.

Valença: Coronel Frederico de LaVega, H. Brunner, Comendador Jannuzzi e Dr.


Dário de Mendonça.

Barra Mansa: Henrique Zamith, Pedro Vaz, Drs. Henrique Leite Guimarães e
Pence de Leon.

Madalena: Fausto de Azevedo, Coronel Tude Portugal, Antônio Francisco


Valentim e Monsenhor Pascoal Santo Martinho.

Sumidouro: Dr. Augusto Vespesiano de Moura, Coronel Gabriel Andrade Villela,


Julião Fernandes de Carvalho, Major Joaquim Antão Vianna e Coronel José
Aquino Pinheiro.
156

Parati: Arthur Calheiros de Miranda, Capitão Jonathas de Castro, dr. Samuel


Costa e Padre Hélio.

Mangaratiba: Coronel José Caetano de Oliveira, Arthur Angrense Pires, Dr.


Sydenham Lima Ribeiro, Coronel Moreira da Silva e Professor Joaquim Pires.

São Fidélis: Dr. Platão Henrique Garcia, Raul Veiga, Victorino José de Souza
Villela, Coronel João Sanches, Dr. Geraque Collet, Flanklin Baptista da Silva.

São Pedro: Dr. Antônio Alves Teixeira e Souza, Francisco José dos Santos Júnior,
Agenor Evaristo dos Santos, Felippe Lopes Pinheiro, Carlos Oberlaender e
Antônio Homem Cardoso da Matta.

Rio Claro: Coronel Raul Alves de Souza e Silva, José Gonçalves de Souza
Portugal Júnior, Leopoldo Júlio de Sá, Padre Ezequiel e Eufrosino de Moraes
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Pereira.

São João da Barra: Dr. Eduardo Manhães, Coronel Armando Alves da Silva,
Capitão Nelson Pereira, Coronel Felicíssimo Francisco Alves e Professor José
Moreira de Souza.

Japuíba: Drs. Santos Moreira, Jonas Correia da Costa, Pacheco Leão e Coronel
José Pinto Pinheiro.

Angra dos Reis: Drs. Guido Saraiva Nogueira e Portela de Almeida Santos,
Coronel Honório Lima, Augusto Frederico e Coriolano de Souza.

Piraí: Joaquim Ferreira Ribeiro, Antônio Guimarães Tamborim, Manoel Ferreira


da Silva, Dr. Domingos Mariano, Henrique Nora e Dr. Bulhões Carvalho.

Sapucaia: Professor Octávio Dias, farmacêutico Máximo Araújo e Capitão Oscar


Fernandes (comissão incompleta).

Magé: Coronel Pedro Valério da Silva, Antônio de Barros Machado, Herbert


Taylor, Joaquim Thomé e Fructuoso de Souza Leite.

Correspondentes nos municípios:


Sapucaia, Carmo e Entre Rios: Andrade Costa.
Petrópolis, Duas Barras, Mar d’Espanha e Areal: Srs. Joaquim Pereira, Dr. Carlos
Maniaz [ilegível], farmacêutico Pereira Leite, Petrolino Guilherme Silva, Orlando
157

Fernandes, farmacêutico Antônio Passos, Professora Felicidade Silva e Guilherme


Bravo.

FONTE: Edições do jornal O Fluminense de 1916 a 1918.


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158

8.6. ANEXO VI
Localidades fluminenses onde ocorreu instalação de Caixas
Escolares:

Município Distrito/ Escolas


Angra dos Reis 5o distrito e Escola Baptista das Neves
Barra Mansa São Joaquim
Campos 2o distrito – Caixa Escolar Wenceslau Brás
15o distrito (Taguarussú)
14o distrito (Santa Bárbara)
Cantagalo Cidade e Grupo Escolar Inocêncio de Andrade
Cambucy São José de Ubá
Duas Barras Antiga Vila
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Itaperuna Cidade
Natividade
Itaocara Três Irmãos
1o distrito
Iguaçu Queimados
Itaboraí Porto das Caixas
Sede
Magé Cidade
Niterói 1o distrito – Caixa Escolar Benjamim Constant
2o distrito – Caixa Escolar Eusébio de Queiroz
3o distrito
4o distrito
5o distrito
6o distrito
Escola Normal.
Paraíba do Sul Grupo Escolar Andrade de Figueira
Petrópolis Grupo Escolar Pedro II
Rio Claro Sem referência sobre a denominação
Rio Bonito Catimbão Grande
Santa Tereza Sem referência sobre a denominação
Sant’Ana de Japuíba Caixa Escolar Miguel Maria Jardim (1o distrito)
159

Vila
3o distrito
Cachoeiras
São Gonçalo Grupo Escolar Nilo Peçanha (1o distrito)
São João da Barra 2o distrito
São Pedro D’Aldeia Sem referência sobre a denominação
Teresópolis Grupo Escolar Euclides da Cunha
Valença Ipiabas e Desengano
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160

8.7. ANEXO VII

Criação de Ligas Contra o Analfabetismo e Caixas Escolares no


Estado do Rio de Janeiro (1916-1919)

MUNICÍPIOS COMISSÕES LIGAS LOCAIS CAIXAS


MUNICIPAIS ESCOLARES
Angra dos Reis X X
Araruama X
Barra Mansa X X X
Barra do Piraí
Barra de São João
Bom Jardim
Cabo Frio X
Cambucy X
Campos X X
Cantagalo X X X
Capivari
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Carmo X
Duas Barras X
Iguaçu X
Itaboraí X X X
Itaguaí X
Itaocara X X
Itaperuna X X
Macaé (no distrito de X
Conceição)
Mangaratiba X
Maricá
Magé X X
Niterói X
Nova Friburgo X
Paraíba do Sul X X
Parati X
Petrópolis X X
Piraí X
Resende
Rio Bonito X X
Rio Claro X X
Sant’Ana de Japuíba X X
Santo Antônio de X X
Pádua
São Fidélis X
São Francisco de
Paula
São Gonçalo X X
São João Marcos
São Pedro D’Aldeia X X
161

São Sebastião do
Alto
São João da Barra X X
Santa Maria X
Madalena
Santa Teresa X
Sapucaia X X
Saquarema X
Sumidouro X
Teresópolis X X
Valença X X
Vassouras X X
Entre Rios (distrito X
de Paraíba do Sul)
Areal X

FONTE: Edições do jornal O Fluminense, de 1916 a 1919.


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8.8. ANEXO VIII


162
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8.9. ANEXO IX
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