Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e da Religião
Prof. Pedro Fernandes Leite da Luz
Prof.ª Luciane da Luz
Prof. Gesiel Anacleto
2015
Copyright © UNIASSELVI 2015
Elaboração:
Prof. Pedro Fernandes Leite da Luz
Prof.ª Luciane da Luz
Prof. Gesiel Anacleto
301.81
L979a Luz, Pedro Fernandes Leite da
Antropologia geral e da religião/ Pedro Fernandes Leite
da Luz; Luciane da Luz; Gesiel Anacleto. Indaial : UNIASSELVI, 2015.
208 p. : il.
ISBN 978-85-7830-927-5
Esperamos que este Caderno de Estudos lhe permita, não só vir a compreender
como a Antropologia se apropria da religião enquanto objeto de pesquisa, mas que
lhe possibilite também ter um olhar antropológico sobre este fenômeno.
III
UNI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO ................................................. 1
VII
3 PRINCIPAIS ANTROPÓLOGOS EVOLUCIONISTAS E SUAS TEORIAS
SOCIAIS ................................................................................................................................................ 74
3.1 LEWIS HENRY MORGAN ........................................................................................................ 74
3.2 EDWARD BURNET TYLOR ...................................................................................................... 77
4 A ESCOLA DIFUSIONISTA ......................................................................................................... 79
4.1 O DIFUSIONISMO INGLÊS: A ESCOLA HIPERDIFUSIONISTA ........................... 80
4.2 DIFUSIONISMO ALEMÃO-AUSTRÍACO .......................................................................... 81
4.3 DIFUSIONISMO NORTE-AMERICANO: FRANZ BOAS E O HISTORICISMO
OU PARTICULARISMO HISTÓRICO .................................................................................. 83
4.3.1 As duas principais comunidades estudadas por Franz Boas . ........................................... 85
5 A ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE ou CONFIGURACIONISMO
CULTURAL .............................................................................................................................................. 87
5.1 PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA ESCOLA DE CULTURA E
PERSONALIDADE . ..................................................................................................................... 88
5.1.1 Edward Sapir (1884-1939) . ...................................................................................................... 89
5.1.2 Ruth Benedict (1887-1948) ....................................................................................................... 89
5.1.3 Margaret Mead (1901-1978) . ................................................................................................... 91
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................................. 92
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................................... 94
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................... 95
VIII
3 CASAMENTO ....................................................................................................................................... 120
3.1 Exogamia . ......................................................................................................................................... 120
3.2 Endogamia ........................................................................................................................................ 121
4 MODALIDADES DE CASAMENTOS ............................................................................................. 121
4.1 PREÇO POR PROGÊNIE OU RIQUEZA DA NOIVA ............................................................... 122
4.2 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DO PRETENDENTE À FAMÍLIA . .............................. 123
4.3 TROCA DE PRESENTES .......................................................................................................... 123
4.4 CAPTURA ...................................................................................................................................... 124
4.5 MATRIMÔNIO POR AFINIDADE, SUBSTITUIÇÃO OU CONTINUAÇÃO:
O LEVIRATO E O SORORATO ..................................................................................................... 124
4.6 FUGA COM O AMADO . ............................................................................................................... 125
4.7 ADOÇÃO .......................................................................................................................................... 125
5 SISTEMA DE PARENTESCO ............................................................................................................ 126
5.1 CONCEITUANDO SISTEMA DE PARENTESCO ......................................................... 126
5.2 ELEMENTOS QUE COMPÕEM O PARENTESCO ........................................................ 127
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 128
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 135
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 136
IX
4 SINCRETISMO ..................................................................................................................................... 185
5 TABU ....................................................................................................................................................... 186
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 188
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 190
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 191
X
UNIDADE 1
O QUE É ANTROPOLOGIA,
OBJETO E MÉTODO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
O QUE É ANTROPOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), bem-vindo(a) ao estudo da disciplina
Antropologia Geral e da Religião. Nesta primeira unidade nós veremos o que é
Antropologia, seu objeto e método.
3
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
NOTA
4
TÓPICO 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA
5
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
Gomes (2013) chama a atenção para o fato de que, embora a origem do nome
seja grega, não foram os gregos que inventaram a Antropologia, ainda que eles não
se furtassem a especular sobre a condição humana. Isto devido ao etnocentrismo
deste povo, que se julgava superior às demais nações de seu tempo.
NOTA
6
TÓPICO 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA
7
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
8
TÓPICO 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA
E a Antropologia faz isso à sua própria maneira, com seus métodos e teorias
produzidas e utilizadas neste campo da ciência, que lhe dão uma exclusividade
legitimadora diante do conhecimento humano. Procuraremos esclarecer neste
caderno, ao máximo a você aluno(a) da UNIASSELVI, com o intuito de ajudá-lo(a) a
refletir criticamente a respeito da experiência humana, notadamente a experiência
religiosa.
9
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
3 A ANTROPOLOGIA NA PRÁTICA
Mas seria só isso? A Antropologia limitar-se-ia a ser mais uma teoria (com
sua especificidade, bem verdade) em meio a outras que procuram dar conta do que
somos nós?
10
TÓPICO 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA
11
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
12
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste Tópico nós vimos o escopo da Antropologia, no que consiste e do
que se ocupa, caracterizando-a enquanto um discurso racional e sistemático acerca
de nós mesmos, na nossa especificidade enquanto seres vivos.
13
AUTOATIVIDADE
1 O que é Antropologia?
2 O que foi preciso superar, e quando isto se deu, para que a Antropologia
tivesse gênese?
14
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), neste segundo tópico de nosso Caderno de
Estudos veremos as diferentes etapas do fazer antropológico, a saber, a etnografia
e a etnologia, e os dois principais campos da Antropologia, ou seja, aqueles que
investigam os domínios cultural e social de nossa espécie.
Dizemos isso por que outros autores (ver GOMES, 2013, p. 63) consideram
a etnografia e a etnologia como ramos da ciência da cultura, enquanto que alguns
antropólogos têm a etnografia e a etnologia como métodos procedimentais da
disciplina Antropologia.
2 ETNOGRAFIA
Afinal, o que seria Etnografia? Vejamos a origem etimológica da palavra
para tentar entendê-la. Etnografia vem do grego έθνος, ethno - nação, povo
e γράφειν, graphein – escrever. Literalmente “etnografia” tem o sentido de “escrever
sobre os povos” (HOEBEL; FROST, 2006, p. 8).
15
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
Aqui cabe destacar que as primeiras etnografias não foram feitas por
antropólogos, de fato, muito antes da constituição da Antropologia enquanto
Ciência já tínhamos descrições de outros povos feitas por pensadores de diferentes
culturas.
16
TÓPICO 2 | ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA SOCIAL
17
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
18
TÓPICO 2 | ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA SOCIAL
3 ETNOLOGIA
Prezado(a) acadêmico(a), agora você já deve estar ciente de que a etnografia,
isto é, a descrição científica de um determinado povo, grupo social ou cultura, é
a primeira etapa do fazer antropológico. Mas qual seria a etapa seguinte? Esta,
querido(a) estudante, seria a Etnologia. Mas o que ela vem a ser?
19
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
Dentro do ponto de vista que adotamos aqui podemos dizer que a etnologia
é a etapa seguinte da edificação do saber antropológico, após o levantamento
de dados e informações feitas na fase da etnografia. Seria, assim, a etnologia a
reflexão, ou estudo baseado nos fatos documentados no registro de uma cultura,
tendo em vista a apreciação analítica e sua comparação com dados semelhantes de
outras culturas.
Espina Barrio (2005, p. 21) chama a atenção para o fato de a etnologia ir além
das descrições das diferentes culturas, feitas pela etnografia, com o intuito de, pela
comparação entre as diversas etnografias, “analisar as constantes variáveis que se
dão entre as sociedades humanas, e estabelecer generalizações e reconstruções da
história cultural”.
20
TÓPICO 2 | ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA SOCIAL
21
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
22
TÓPICO 2 | ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA SOCIAL
4 ANTROPOLOGIA CULTURAL
A princípio, dentro da tradição norte-americana, a Antropologia divide-se
em quatro grandes áreas de investigação, a saber:
c) A Linguística, que se ocupa das línguas humanas, no que diz respeito à sua
estrutura interna, suas conexões, história, dinâmica de mudança e, notadamente,
o significado que estas conferem à cultura e à expressão do ser humano em uma
dada sociedade, dentro da perspectiva que é a língua o meio privilegiado pelo
qual nossa espécie apreende o mundo e lhe dá sentido.
24
TÓPICO 2 | ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA SOCIAL
Espina Barrio (2005, p. 19) define Antropologia Cultural como “... o estudo e
descrição dos comportamentos aprendidos que caracterizam os diferentes grupos
humanos”. Este autor prossegue informando que o ofício do antropólogo cultural
consiste em investigar os feitos e obras materiais e sociais criados por nossa espécie
ao longo de sua história e que nos possibilitou nos relacionarmos entre nós nas
diversas sociedades e a se apropriar e transformar o meio ambiente de maneira a
garantir nossa sobrevivência.
TUROS
ESTUDOS FU
25
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
26
TÓPICO 2 | ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA SOCIAL
5 ANTROPOLOGIA SOCIAL
Para Espina Barrio (2005) a Antropologia Social se ocuparia de problemas
relativos à estrutura social, a saber: aqueles referentes às relações que os membros
de uma determinada sociedade estabelecem entre si, e com os de fora, e as diferentes
instituições sociais humanas, como a família, o parentesco, os diferentes grupos
sociais de caráter político e semelhantes, que determinam a forma e o conteúdo
destas relações.
27
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
28
TÓPICO 2 | ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA SOCIAL
29
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos o que é etnografia, caracterizando-a enquanto registro
total e pormenorizado de um determinado povo, procurando descrever todos os
aspectos da vida social e da sua cultura.
31
AUTOATIVIDADE
32
UNIDADE 1
TÓPICO 3
CULTURA, ETNOCENTRISMO E
RELATIVISMO CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), já falamos anteriormente em cultura aqui neste
Caderno de Estudos, você certamente já ouviu esta palavra e deve ter uma ideia
do que seria isto. Mas será que o conceito antropológico de cultura corresponde ao
que o senso comum diz a respeito dela?
Todos nós já ouvimos falar de alguém que este seria “culto”, ou que
determinada pessoa não teria nenhuma cultura, ou ainda que a população de um
determinado bairro não tem acesso à cultura.
Será que o uso desta palavra nestes casos tem alguma correspondência
com a aplicação que o antropólogo faz dela?
33
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
Bom, será disto que trataremos aqui neste tópico, procurando esclarecer a
você, nosso(a) atento(a) e curioso(a) acadêmico(a), no que consiste a Cultura, de
acordo com o emprego científico deste léxico sob o ponto de vista da Antropologia.
2 CULTURA
Se nós antropólogos tivéssemos que nomear aquele que seria nosso
“conceito básico e central”, conforme afirmou Leslie A. White (In: KAHN, 1975, p.
129 apud MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 42), este seria, sem dúvida alguma, o
conceito de cultura.
Isto é algo que não se coaduna com a visão antropológica, que não emprega
o termo com este sentido e nem faz juízo de valor em relação às diferentes
culturas. Para a Antropologia todo o povo possui cultura, nenhuma cultura é
qualitativamente superior à outra, nem pode alguém ser destituído de cultura. De
fato, é a cultura que nos faz humanos, sendo ela uma característica distintiva de
nossa espécie.
34
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
35
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
36
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
37
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
38
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
Uma definição mais recente seria aquela proposta por Clifford Geertz, onde
“cultura deve ser vista como um conjunto de mecanismos de controle – planos,
receitas, regras, instituições – para governar o comportamento”.
39
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
40
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
Assim o ser humano voa sem ter asas, cruza os oceanos sem ter escamas
nem barbatanas, nada embaixo d´água sem ter guelras, mora no ártico sem ter
pelagem espessa e realiza uma série de atividades para as quais sua natureza
biológica não o preparou, mas cuja possibilidade se abriu a partir da cultura.
Vamos dar um exemplo para tentar clarificar este ponto para você
acadêmico(a) da UNIASSELVI.
Todos os seres vivos têm que se alimentar, esta é uma necessidade básica
inescapável, procurar alimento é instintivo em todas as espécies. Mas e entre
nós? Embora seja um imperativo da natureza ingerir alimentos, aquilo que
nós consideramos como um alimento próprio, as maneiras pelas quais nós os
ingerimos, quando, na companhia de quem, de que forma e outras tantas variáveis,
são aprendidas em sociedade pelo processo de endoculturação, isto é, através da
introjeção no indivíduo da cultura da qual ele faz parte.
é uma ofensa grave. Nas grandes cidades é costume almoçar ao meio dia, já nos
seringais do Acre o almoço é uma refeição tomada por volta das 10 h da manhã.
Nenhum destes comportamentos é instintivo, mas antes determinado pela cultura
dos diferentes povos que os apresentam.
Esperamos que sua compreensão de cultura por agora seja suficiente para
nós aprofundarmos alguns assuntos relacionados com este tema.
42
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
Desta forma embora faça parte de nossa cultura tocar violão, jogar
futebol ou fazer cálculos matemáticos, nem todos temos estas habilidades ou as
desenvolvemos plenamente. Entretanto, todos nós adquirimos ao longo da vida
certos conhecimentos básicos de nossa cultura que nos permite socializar com seus
diferentes membros.
43
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
vemos que um indivíduo jamais poderá adquirir todos os elementos que fazem
parte de sua cultura, participando diferentemente destes conforme sua faixa etária,
gênero, profissão etc. (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
45
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
Por fim todos nós apresentamos condutas e comportamentos que são frutos
de nossa vivência própria de nossa cultura e que são condicionados por nossa
trajetória individual, consistindo nas diferentes peculiaridades do indivíduo, em
nossas características pessoais, não sendo compartilhadas por outras pessoas de
nosso grupo.
46
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
Por fim, um dos aspectos essenciais da cultura está nos comportamentos que
ela determina, entendidos aqui enquanto maneiras de agir, ou conjunto de reações
e atitudes comuns aos indivíduos em função de sua pertença a uma determinada
cultura, sendo, portanto, não instintivos, mas antes resultado da invenção social
e transmitidos e aprendidos através da linguagem e do aprendizado (MARCONI;
PRESOTTO, 2001).
47
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
48
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
A cultura classifica-se ainda como real e ideal, onde a cultura real seria
aquela efetivamente vivenciada por seus membros no cotidiano. A cultura real
seria a expressão na prática de uma determinada cultura, como ela se efetiva no
mundo, através das ações de seus membros, é a cultura no plano concreto.
Embora o altruísmo seja valorizado por nossa cultura, muitas vezes nos
comportamos de maneira egoísta. Na foto uma mulher indiana compartilha o pão
com um morador de rua.
49
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
3 ETNOCENTRISMO
Hoebel e Frost (2006, p. 446) definem etnocentrismo como: “Visão das
coisas segundo a qual os valores e o modo de ser do próprio grupo são o centro de
tudo, e todas as outras são avaliadas e julgadas com referência a ela”.
Etnocentrismo.
50
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
4 RELATIVISMO CULTURAL
Para Hoebel e Frost (2006) embora as culturas possam ter certas
características gerais em comum, elas sempre variarão em determinados pontos de
seus postulados básicos. De fato, as culturas diferem umas das outras em muitos
aspectos, e algumas vezes muito significativamente.
Sob este aspecto todas as culturas são iguais e devem ser igualmente
respeitadas e admiradas. Não que a cultura seja sempre coerente, funcional e
harmônica, mas sempre serve como normatizadora e mediadora dos conflitos que
por acaso apresente.
Desta forma suas crenças, costumes e práticas devem ser vistas sempre em
relação à cultura da qual fazem parte, como partes integradas de um sistema que
fornece o mapa para a ação e reflexão dos indivíduos ali endoculturados.
Para Laraia (2004) toda cultura tem uma lógica própria e cada hábito
cultural apresenta coerência em relação ao sistema do qual faz parte. Devemos,
portanto, compreender cada cultura a partir de sua lógica interna.
52
TÓPICO 3 | CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
53
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
54
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico nós estudamos o conceito de cultura, vendo como ele é
central na Antropologia e como tem se modificado ao longo da história. Vimos
também como a cultura é um mecanismo adaptativo próprio de nossa espécie,
como determina nossas crenças, discursos, práticas, hábitos e comportamentos,
nos orientando em nossa vida social e em nossa relação com o meio ambiente.
55
AUTOATIVIDADE
56
UNIDADE 1
TÓPICO 4
O TRABALHO DE CAMPO E A
OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), já vimos anteriormente como a Antropologia
se inscreve entre as Ciências Sociais, destacando-se em razão de sua abordagem
própria do fenômeno humano.
57
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
2 TRABALHO DE CAMPO
Para Gomes (2013) a pesquisa, ou trabalho, de campo consiste no
deslocamento até onde se encontra o objeto da pesquisa, para lá aplicarem-se as
diferentes técnicas e métodos de pesquisa próprias da Antropologia.
59
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
3 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Para Marconi e Presotto (2001) seria através da observação participante que
o antropólogo teria a chance de viver entre o grupo estudado, podendo assim tomar
parte de suas conversas, ritos e atividades e observar o conjunto de manifestações
de caráter ideológico e material deste povo, bem como as maneiras pelas quais os
indivíduos da sociedade pesquisada reagem aos estímulos psicológicos e ainda os
mecanismos adaptativos e o sistema de valores de sua cultura.
60
TÓPICO 4 | O TRABALHO DE CAMPO E A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
61
UNIDADE 1 | O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO
Outro aspecto a ser levado em conta é que geralmente chega-se no grupo sem
um conhecimento prévio deste e de suas relações internas, então parte da observação
participante é gasta somente em mapear-se o território social do grupo pesquisado.
LEITURA COMPLEMENTAR
O QUE É ANTROPOLOGIA?
Esta opinião é falsa. Mais do que isso, espero demonstrar que uma
compreensão clara dos princípios de antropologia ilumina os processos sociais do
nosso próprio tempo e podem mostrar-nos, se estivermos prontos para ouvir seus
ensinamentos, o que fazer e o que evitar.
alguma justificativa para que o antropólogo afirme que ele pode acrescentar algo
ao nosso conhecimento?
Pode-se dizer que antropologia não é uma única ciência, pois o antropólogo
pressupõe um conhecimento da anatomia, da fisiologia e da psicologia do
indivíduo, e aplica esse conhecimento aos grupos. Cada uma dessas ciências pode
ser e está sendo estudada a partir de um ponto de vista antropológico.
Embora este ponto de vista da ciência pura seja igualmente aplicado aos
fenômenos sociais, é facilmente reconhecido que estes se referem a nós mesmos,
pois quase todos os problemas antropológicos tocam na maioria de nossas
intimidades.
66
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico nós aprendemos que o trabalho de campo é um importante
aspecto do ofício do antropólogo, verdadeiro rito de iniciação da profissão, e
consiste em recolher dados empíricos acerca da cultura estudada in loco, isto é, em
seu local de ocorrência.
67
AUTOATIVIDADE
68
UNIDADE 2
AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E
OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.
69
70
UNIDADE 2
TÓPICO 1
ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS:
EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO,
E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
1 INTRODUÇÃO
Como pudemos verificar na Unidade 1 deste caderno de estudos, a
Antropologia é uma ciência social que estuda o comportamento humano e seu
desenvolvimento, tanto do ponto de vista cultural quanto social e biológico. Ela é
uma ciência relativamente nova, que se institucionalizou somente no século XIX,
mas que possui raízes que datam das primeiras grandes navegações.
NOTA
71
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
2 A ESCOLA EVOLUCIONISTA
Você já ouviu falar sobre a Teoria da Evolução das Espécies do naturalista
Charles Darwin? Esta foi uma das teorias que mais influenciou o campo das
Ciências Sociais, no século XIX. Vejamos a seguir:
72
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
UNI
73
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
UNI
74
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
Selvageria
75
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
Barbárie
Civilização
76
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
77
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
78
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
4 A ESCOLA DIFUSIONISTA
O Difusionismo teve início no início do século XIX e refere-se a um conjunto
de teorias que criticou a teoria evolucionista e opôs-se ao entendimento de que as
culturas se desenvolvem de forma linear para todas as sociedades. Os antropólogos
difusionistas acreditavam que a cultura se constrói de forma multidimensional e
provém de outras culturas.
79
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
80
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
81
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
82
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
83
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
UNI
84
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
85
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
86
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
DICAS
87
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
88
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
89
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
Para Benedict, o todo não é apenas a soma das partes. Cada cultura possui
propósitos próprios ou molas mestras emocionais e intelectuais que entranham
o comportamento e as instituições de uma sociedade. Uma região, por exemplo,
deve ser observada como uma configuração cultural de instituições, costumes,
tradições, meios de transporte etc., dentro de certa área geográfica, com caráter
próprio.
90
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
91
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
LEITURA COMPLEMENTAR
92
TÓPICO 1 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
93
RESUMO DO TÓPICO 1
l Quatro das principais escolas de pensamento que fundamentam a Antropologia.
São elas: a escola Evolucionista, Difusionista, o Particularismo Histórico e a
Escola da Cultura e Personalidade.
l A escola Evolucionista teve início no final do século XIX e se refere a uma corrente
de pensamento que compreende a reprodução das sociedades humanas como
resultado de um processo evolutivo. Seus principais expoentes foram: Lewis
Henry Morgan e Edward Burnet Tylor.
94
AUTOATIVIDADE
( ) V – F – V – F.
( ) V – V – F – V.
( ) F – V – V – F.
( ) V – F – F – F.
95
96
UNIDADE 2 TÓPICO 2
ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS:
FUNCIONALISMO, ESTRUTURAL-
FUNCIONALISMO, ESTRUTURALISMO,
NEOEVOLUCIONISMO E PÓS-MODERNISMO
1 INTRODUÇÃO
Neste segundo tópico daremos continuidade à apresentação das
diferentes escolas antropológicas que ajudaram a construir o campo de estudos
da disciplina de Antropologia. Devemos lembrar que o desenvolvimento das
ciências, de maneira geral, sofreu alterações ao longo da história e os estudos
antropológicos também refletem estas mudanças, conforme poderemos verificar
ao longo deste tópico.
97
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
98
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
100
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
101
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
Por fim, com Malinowski, a Antropologia se torna uma ciência que adquire
um caráter de respeito aos diferentes. As perspectivas etnocêntricas tão presentes na
teoria antropológica evolucionista chegam ao fim com a introdução do pensamento
de Malinowski, que considera toda a cultura como um sistema perfeitamente
organizado em si mesmo. Para ele, as diferentes sociedades possuíam o mesmo
status, descartando a ideia de sociedades atrasadas ou primitivas, mas enfatizando
as diferenças como elementos importantes para a constituição da organização
social de cada grupo.
102
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
DICAS
103
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
104
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
deve, pois, ser definida como uma série de relações entre entidades.
(A estrutura de uma célula é, no mesmo sentido, uma série de relações
entre elétrons e prótons). Na medida em que vive, o organismo mantém
certa identidade de suas partes constituintes. Perde algumas moléculas,
ganha outras, mas a disposição estrutural das unidades continua a
mesma [...]. O conceito de “função” tal como é aqui definido implica,
pois, a noção de uma estrutura constituída de uma série de relações
entre entidades unidades, sendo mantida a continuidade da estrutura
por um processo vital constituído das atividades integrantes [...].
105
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
106
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
107
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
No Brasil, ele ficou de 1935 até 1939 e nesse período estudou algumas
comunidades indígenas do interior do país. Os registros apreendidos a partir dos
encontros resultaram no seu livro “Tristes Trópicos”.
108
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
109
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
110
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
111
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
4 A ESCOLA NEOEVOLUCIONISTA
Após a Segunda Guerra Mundial e a descolonização de muitos países do
Terceiro Mundo, a antropologia tomou um novo rumo, procurando interessar-se
pelas próprias culturas e não somente pelas sociedades tribais, distantes e pouco
conhecidas. Nesse bojo, assim como outras escolas, o neoevolucionismo vai em
busca de rever as interpretações clássicas do evolucionismo.
112
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
113
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
5 ANTROPOLOGIA PÓS-MODERNA
De maneira geral, o pensamento pós-moderno é um movimento que ocorre em
todas as ciências, especialmente nas ciências sociais. Na antropologia, este movimento
manifesta-se por meio de uma postura crítica em relação aos discursos etnográficos
clássicos. Ou seja, coloca-se em xeque os discursos antropológicos produzidos sobre
os “outros”. Mas, para compreender melhor o debate da antropologia pós-moderna,
é necessário compreender o conceito de pós-modernidade. Vejamos a seguir o que
diz Eriksen (2012, p. 169) sobre o conceito de Pós-modernidade:
114
TÓPICO 2 | ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE
No mesmo ano foi editado o volume Writing Culture, dos autores Clifford
e Marcus, um livro com 12 capítulos, desenvolvidos por autores de diferentes
posições da escola pós-moderna, mas que de forma unânime desconstruiu o
conceito de cultura como um todo integrado, visão predominante na antropologia
até então. Dois anos após, Clifford publicou The Predicament of Culture, que pode
ser resumido como ”um longo argumento contra o essencialismo”.
115
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
116
RESUMO DO TÓPICO 2
l A Escola Funcionalista teve como principal representante o antropólogo
Bronislaw Malinowski. Esta escola compreende a sociedade como um organismo,
como um todo complexo e interdependente, que desempenha suas funções e
mantém vivo o organismo (sociedade).
l A Escola Estruturalista é uma das mais importantes do nosso tempo. Ela tem
como principal representante o antropólogo Claude Lévi-Strauss. Esse autor
ampliou o campo de discussão na antropologia, construindo ao mesmo tempo
um conjunto de teorias sobre a cultura e também um método de análise utilizado
até os dias atuais.
117
AUTOATIVIDADE
118
UNIDADE 2
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A antropologia é um campo de pesquisa que se ocupa da organização e do
desenvolvimento das sociedades humanas. Por este motivo, ao longo do tempo
tem discutido várias dimensões da vida humana, como as instituições sociais, os
modelos políticos e de governo, a economia, a religião, enfim, a cultura de uma
forma geral. Mas para compreender essas dimensões, as escolas antropológicas,
por meio de seus estudos, ao longo do tempo foram construindo conceitos que
utilizam instrumentos analíticos para interpretar as sociedades pesquisadas.
2 UNIÃO
Todas as sociedades humanas, em menor ou maior grau, sofrem cerceamento
de seus impulsos sexuais. Por meio da cultura se estabelecem limitações na conduta
das relações sexuais, no sentido de direcioná-la para um caminho preestabelecido,
que demarca como, quando e com quem o sexo é permitido. Por esse motivo, o
fato de ser humano, ou seja, viver em sociedade e pertencer a uma cultura, é estar
sujeito a algum tipo de inibição sexual.
119
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
A união dos seres humanos pode ocorrer apenas no plano biológico, como
ocorre com os animais, sem implicar em casamento. Mas, na maioria das vezes, a
união (relação sexual) acaba implicando um certo grau de permanência do par. O
que não quer dizer que pode ser confundido com o casamento, pois pode haver
casamento sem união.
3 CASAMENTO
O casamento é uma instituição social que serve para organizar a relação
de um par, em uma determinada sociedade. Vejamos o que dizem Hoebel e Frost
(2006, p. 176):
3.1 Exogamia
Termo exogamia refere-se à regra social que determina que os casamentos
ocorram fora da família, ou seja, com pessoas de outros grupos familiares. Existem
dois tipos distintos de exogamia, a simples e a restrita. Vejamos como podem ser
definidas:
120
TÓPICO 3 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
3.2 Endogamia
Ocorre de maneira contrária à exogamia. A endogamia refere-se a uma regra
social que determina que os casamentos ocorram dentro da própria organização
familiar, ou grupo social, considerado de pertencimento.
UNI
4 MODALIDADES DE CASAMENTOS
Neste subtópico vamos focar nas modalidades de casamento, levantadas
pelos antropólogos com base nas diferentes sociedades pesquisadas. Ainda que
atualmente, nas sociedades ocidentais, muitos casamentos ocorram de forma que
os pares escolhem por si próprios seus cônjuges, isso não funciona desta maneira
em muitas sociedades, nas quais os casamentos são arranjados ou dependem de
prévio exame e consentimento das famílias.
Por este motivo, para entender como funciona essa instituição social,
especialmente os casamentos primitivos, é necessário entender o seu conceito.
Vejamos o que dizem Hoebel e Frost (2006, p. 193) sobre os princípios básicos de
um casamento:
121
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
Por este motivo, quando nos referimos ao casamento, estamos nos referindo
não só aos interesses do casal, mas também aos interesses sociais relativos ao evento.
A sociedade em geral e os parentes, em particular, têm uma participação bastante
direta no matrimônio. Por este motivo, veremos a seguir algumas modalidades
formalizadas do processo de casamento.
Das sete modalidades para se “conseguir” uma mulher, apenas duas delas
não possuem participação direta da família. São elas: o casamento por captura e o
casamento por fuga, as demais envolvem participação direta da família. De acordo
com Hoebel e Frost (2006), as sete modalidades são: preço por progênie, ou riqueza
da noiva; pelo serviço do pretendente; por troca de presentes; por captura; por
afinidade, substituição ou continuação; por fuga; por adoção.
Vejamos o que dizem Hoebel e Frost (2006, p. 194) sobre os nativos Vezos
Sakalavas, de Madagascar, onde o preço da progênie é regulado na dimensão
das leis.
Em caso de divórcio não é socialmente permissível nem a devolução do
gado pago, nem a substituição por outra mulher. A mulher divorciada
pode casar-se novamente, mas só com a permissão de seu antigo marido.
Esta permissão era concedida sob juramento, por parte da mulher e seu
futuro marido, que os primeiros filhos deles (até o limite de três) seriam
transferidos por escritura ao primeiro marido, que foi quem pagou o
preço da progênie à sua família. A mulher cria e toma conta das crianças
122
TÓPICO 3 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
123
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
O objetivo das trocas para os Cheyennes não era o valor das coisas, mas sim
a possibilidade de reafirmar e reforçar os laços de amizade e, principalmente, de
demonstrar o apreço pelo compromisso entre os noivos confirmado.
4.4 CAPTURA
A ideia de capturar uma noiva parece ser um pouco duvidosa e nos lembra
algumas histórias em quadrinhos ou desenhos animados sobre os casamentos dos
“homens das cavernas”, nos quais o homem captura a mulher com uma paulada
na cabeça e a arrasta para a sua casa. Na verdade, o casamento por captura foi
uma das primeiras maneiras de compreender o princípio da evolução social,
pelos antropólogos clássicos, mas hoje ganhou nova interpretação, o que não quer
dizer que não tenha existido. Além disso, não se pode dizer que foi uma técnica
dominante, em tempos mais remotos.
124
TÓPICO 3 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
b) Sororato: Da mesma forma que o levirato, o sororato serve para dar continuidade
aos laços familiares, mas neste caso, ao invés do irmão tomar o lugar do irmão
falecido, é a mulher que assume o posto da irmã falecida, ou seja, casa-se com
o cunhado.
4.7 ADOÇÃO
A adoção é uma estratégia de casamento utilizada por países como a
Indonésia e o Japão. O homem pode obter uma esposa, sendo adotado pela família
dela, especialmente quando o sogro não possui filhos homens. Neste caso, o genro
adotado passa a ser filho.
125
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
5 SISTEMA DE PARENTESCO
Apesar do sistema de parentesco ter adquirido maior destaque no final do
século XX, como um dos elementos centrais das análises antropológicas, ele tem
sua origem na história da antropologia. Os primeiros antropólogos já percebiam
que as relações biológicas tinham um papel importante na compreensão da
organização social, porque permitiam distinguir as relações entre uma pessoa e o
seu grupo de origem. Podemos tomar como exemplo a relação entre mãe e filho, pai
e mãe, irmão e irmão, entre outras. Essas relações biológicas são transferidas para
o plano cultural e adquirem significados diferentes para cada cultura, o que para
os antropólogos possibilita compreender a posição social de cada um em relação
ao coletivo, e também lhes permite compreender/demonstrar o que denominam o
“sistema de parentesco” de cada grupo social.
126
TÓPICO 3 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
1) Famílias por afinidade (Marital ou Legal) – Laço criado pelo casamento. Por
meio dele o homem contrai laços de afinidade com a esposa e seus familiares:
pai, irmãos, irmãs etc.
2) Consanguinidade (Biológico) – Relação entre pais e filhos.
Fictício ou Pseudoparentes (Adotivos) – Muitas sociedades aceitam uma terceira
categoria de relações, denominada fictícia, incluindo-se crianças adotadas,
escravos, compadrio e parentesco ritual (irmãos de sangue).
127
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
LEITURA COMPLEMENTAR
128
TÓPICO 3 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
129
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
130
TÓPICO 3 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
131
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
132
TÓPICO 3 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
133
UNIDADE 2 | AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS DA DISCIPLINA
134
RESUMO DO TÓPICO 3
l Vários são os temas estudados pela Antropologia, mas para o terceiro tópico
foram selecionados: união, casamento e parentesco.
l Existem sete tipos de modalidades de casamento. São eles: preço por progênie,
ou riqueza da noiva; pelo serviço do pretendente; por troca de presentes; por
captura; por afinidade, substituição ou continuação; por fuga e por adoção.
135
AUTOATIVIDADE
136
UNIDADE 3
A ANTROPOLOGIA E O
FENÔMENO RELIGIOSO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles
você encontrará atividades que o(a) ajudarão a ampliar os conhecimentos
adquiridos.
137
138
UNIDADE 3
TÓPICO 1
A ANTROPOLOGIA E O
FENÔMENO RELIGIOSO
1 INTRODUÇÃO
Nossa sociedade não pode ignorar o peso do fenômeno religioso na sua
formação social e humana, pois as mais diferentes e remotas culturas desenvolveram
uma maneira de lidar com aquilo que ultrapassa seus limites de compreensão e
também em relação a fatos comuns à vida na Terra, por exemplo, a morte.
2 ANTROPOLOGIA E RELIGIÃO
Até aqui você estudou o que é antropologia desde seu surgimento,
desenvolvimento e a elaboração das teorias antropológicas e importantes temas
que são estudados por esta ciência. Talvez você esteja se perguntando: qual é a
relação entre antropologia e religião? O que a antropologia busca esclarecer acerca
do fenômeno religioso? Primeiramente temos que entender que a antropologia
não tenta provar a existência ou não de um Deus ou deuses.
139
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
140
TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Este documentário traz uma visão abrangente sobre a origem das religiões do
Mediterrâneo, pois consiste numa abordagem precisa e bem fundamentada sobre
os elementos que compõem estas religiões desde sua origem, desenvolvimento
e a influência nas diversas áreas da vida em sociedade.
3 TEORIAS DA RELIGIÃO
Em decorrência dos estudos antropológicos foram surgindo diferentes
teorias para explicar o fenômeno religioso. A seguir iremos discorrer um pouco
sobre três dos principais campos teóricos da antropologia que têm por objetivo
explicar a origem e o desenvolvimento da religião nas diferentes culturas e povos.
141
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
142
TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
143
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Notemos que Durkheim não está dizendo [...] que os ritos são levados
a efeito para liberar estados emocionais exaltados. São os ritos que
produzem tais estados. Eles podem, portanto, neste aspecto, ser
comparados aos ritos expiatórios como os de luto, nos quais as pessoas
procuram afirmar a sua fé e cumprir um dever para com a sociedade
sem que estejam sob qualquer tensão emocional; esta, enfim, pode estar
completamente ausente da ocasião.
144
TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
De acordo com Mello (2013, p. 402), esta teoria “trata-se, acima de tudo,
de um estudo epistemológico, onde ele analisa a lógica do pensamento humano
através dos tempos e na sua consistência interna”. A base desta teoria consiste
no fato de ver a religião primitiva não como algo ilógico, mas a religião primitiva
possuía uma lógica dentro do contexto em que estava. Isso significa dizer que cada
sociedade possui sua interpretação do universo que esteja de acordo com suas
representações coletivas.
145
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
4 RELIGIÃO E COSMOVISÃO
Cada religião em si tem uma maneira de ver o mundo e compreender os
fenômenos à sua volta. Essa visão do cosmos é peculiar em cada sistema religioso,
pois carrega em si vários elementos que influenciam na maneira como concebe as
coisas. Não cabe à antropologia definir qual cosmovisão é a certa ou a errada, os
antropólogos buscam, por meio de seus estudos, compreender o surgimento dos
sistemas de crenças presentes nas religiões.
146
TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
A cosmovisão pode ser cultural ou religiosa. Neste caso, o que nos importa
é a cosmovisão religiosa, ou seja, a maneira como cada religião concebe o mundo
e a realidade. Nesse sentido, a antropologia da religião desempenha um papel
fundamental para compreender a maneira como os seres humanos concebem a
realidade a partir de sua condição cultural.
E
IMPORTANT
COSMOVISÃO
Cosmo – do grego cosmos, significa ordem, oposto ao Caos (kaos), desordem.
Cosmovisão (Visão geral de mundo). Da soma geral dos conhecimentos, os filósofos
organizaram, sistematicamente ou não, uma espécie de panorama geral de todo o
conhecimento, formando uma totalidade de visão, uma coordenação de opiniões
entrelaçadas entre si.
Com essa sistematização lhes é possível formular não só uma opinião geral de todo o
acontecer, mas também compreender e relacionar um fato individual com a visão geral
formulada do todo. (1)
Cosmovisão, além de significar uma visão ou concepção de mundo, expressa também uma
atitude frente ao mesmo. Portanto, não é uma mera abstração, já que a imagem que o
homem forma do mundo possui um fator de orientação e uma qualidade modeladora e
transformadora da própria conduta humana. Implícito em toda cosmovisão há um caminho
de ação e realização.
O Materialismo, o Espiritualismo e o Idealismo são cosmovisões. O que caracteriza essas
diversas cosmovisões? Primeiro, um anelo de saber integral; segundo, a apreensão da
totalidade; terceiro, a solução de problemas do sentido do mundo e da vida.
Além das cosmovisões fornecidas pela ciência e pela filosofia, podemos também enumerar
as determinadas pela psicologia, pela raça, pela classe social, pela cultura histórica, bem
como as fornecidas pela biologia, pela matemática, pela física.
147
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
FIGURA 62 - COSMOVISÃO
148
TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Outra função da cosmovisão é que ela “integra nossa cultura. Ela organiza
nossas ideias, nossos sentimentos e valores em um único planejamento real”.
(HIEBERT, 2005, p. 49). A cosmovisão tem a finalidade de organizar nossas
crenças, experiências e valores em um conjunto geral onde fé e valores culturais,
por exemplo, estão integrados de maneira a unificar nossa realidade.
149
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
LEITURA COMPLEMENTAR
CAROLINA NASCIMENTO
Filosofia
Doutrina niilista
Doutrina panteísta
Dogmatismo religioso
150
TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Budismo
Hinduísmo
Para o islamismo, Alá (Deus) criou o mundo e trará de volta à vida todos os
mortos no último dia. As pessoas serão julgadas e uma nova vida começará depois
da avaliação divina. Esta vida seria então uma preparação para outra existência, seja
no céu ou no inferno. Quando a pessoa morre, começa o primeiro dia da eternidade.
Ao morrer, a alma fica aguardando o dia da ressurreição (juízo final) para ser
julgado pelo criador. O inferno está reservado para as almas ‘desobedientes’, que
foram desviadas por Satanás. No Alcorão, livro sagrado, ele é descrito como um
151
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
lugar preto com fogo ardente, onde as pessoas são castigadas permanentemente.
Para o paraíso vão as almas que obedeceram e seguiram a mensagem de Alá e as
tradições dos profetas (entre eles, os cinco principais: Noé, Abraão, Moisés, Jesus
filho de Maria e Mohammed). No Alcorão, o paraíso é descrito como um lugar com
rios de leite, córregos de mel e outras belezas jamais vistas pelo homem.
Espiritismo
Igreja evangélica
Igreja Batista
Catolicismo
Judaísmo
Candomblé
153
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Já as pessoas vivas que sofrem as suas influências negativas precisam passar por
rituais de limpeza espiritual para reencontrar o equilíbrio.
Umbanda
154
RESUMO DO TÓPICO 1
155
AUTOATIVIDADE
a. ( ) V – F – V – F.
b. ( ) F – F – V – V.
c. ( ) V – F – F – V.
156
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
O ser humano busca por meio de uma religião estabelecer uma relação
com a divindade. Em meio às atividades comuns da vida humana, os indivíduos
buscam encontrar um tempo, um espaço e até mesmo uma pessoa que possa de
alguma maneira auxiliá-los neste processo de encontro com o transcendente.
Nesse processo há três elementos fundamentais: o sagrado e o profano, a figura do
mediador e as crenças que envolvem a atitude religiosa.
As crenças são fundamentais neste processo, pois são elas que fundamentam
as práticas religiosas, dão sentido aos rituais e auxiliam os indivíduos em suas
escolhas.
2 O SAGRADO E O PROFANO
No âmbito religioso nos deparamos com dois conceitos fundamentais
para a compreensão das relações existentes no interior das diferentes religiões:
o sagrado e o profano. Não por acaso que esta foi uma dicotomia amplamente
discutida por Durkheim.
157
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
158
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
Para o homem religioso o espaço não é homogêneo, isso significa dizer que
existem diferenças entre o espaço sagrado e o espaço profano. “Há, portanto, um
espaço sagrado, e por consequência “forte”, significativo, e há outros espaços não
sagrados, e por consequência sem estrutura nem consistência, em suma, amorfos”.
(ELIADE, 1992, p. 17). Um exemplo de espaço sagrado é o Muro das Lamentações,
em Jerusalém, considerado um lugar sagrado para o judaísmo, onde inúmeros
judeus e também cristãos se dirigem para realizar suas preces.
159
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
FIGURA 64 - A LUA
160
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
DICAS
SUGESTÃO DE LEITURA:
Esta obra é de suma importância para aqueles que desejam compreender a religião a partir
de um viés antropológico. O livro reúne ensaios e artigos sobre antropologia cultural e
sua relação com a visão simbólico-religiosa. A partir da leitura do livro somos desafiados a
repensar o religioso não como religiões superiores ou inferiores, pois o autor nos convida a
pensar a religião de maneira nova, vendo o homem e as culturas não a partir de um olhar de
superioridade, mas de alteridade, colocando-se no lugar do outro e compreendendo o que
cada religião tem a oferecer para a vida na Terra. É uma excelente obra para quem deseja
pensar com profundidade as manifestações religiosas, sabendo de sua importância para o
mundo de hoje, que, mesmo marcado por grande desenvolvimento tecnológico, tem na
religiosidade uma de suas mais fortes expressões.
161
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
3.1 XAMÃ
De acordo com Terrin (2004, p. 234), “A primeira forma de mediação
sacerdotal que se encontra na história, principalmente em nível etnológico, é a
figura do xamã, a que podemos acrescentar o mago, o adivinho e o vidente”. O
xamã é o líder espiritual no xamanismo, responsável por dar segurança ao seu
povo diante das fragilidades dos seres humanos perante as forças da natureza. Ele
é o responsável por fazer uma ponte entre o mundo físico e o mundo espiritual.
Para os xamãs receberem esta função é necessário que passem por uma
aprovação coletiva em que são avaliados vários aspectos de suas vidas. Segundo
Mello (2013, p. 417),
162
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
O poder sobrenatural que o xamã possuía poderia ser utilizado tanto para
o bem quanto para o mal. Diante de uma figura com tamanho poder de interferir
na vida e no destino de outras pessoas, era comum que houvesse grande temor.
Devido ao seu poder de interferir na natureza, de curar os doentes, o xamã gozava
de prestígio e respeito que o tornavam uma figura reverenciada entre os seus.
b) Cabe também aos pajés proteger os Tupirapé contra os espíritos. Entre esses
índios, o medo dos espíritos das flores (os Anhangá) ou dos mortos é muito
forte e pode causar desmaios e cenas de incontrolável pavor.
c) Uma obrigação muito importante do pajé dá-se por ocasião da gravidez. Embora
esses índios saibam que a gravidez está relacionada com a relação sexual, esta
não é a condição suficiente para que ela ocorra, “acreditam que a concepção só é
possível quando um pajé ‘traz uma criança para a mulher’”. Essa gente acredita
que várias espécies de aves e peixes, bem como o trovão, possuem ou dominam
os “espíritos das crianças”, cabendo ao pajé consegui-los.
d) A segurança é também tarefa dos pajés. É ele quem deve proteger as pessoas
contra os ataques dos animais ferozes. A ele cabe dominar as serpentes e os
jacarés.
FONTE: MELLO, Luiz G. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. 19. ed. Petrópolis: Vozes,
2013, p. 418-419.
163
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
3.2 REI-SACERDOTE
Outra figura tida como mediador entre os homens e a divindade é a do
rei-sacerdote, que é considerada mais importante do que a figura do xamã. A
partir de estudos realizados em torno desta figura histórico-religiosa, sabe-se da
importância e da excelência de sua mediação sacerdotal.
164
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
165
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Pelo fato de a religião ser algo abstrato, é muito comum que as pessoas
atribuam a divindade ou o poder de intermediação entre o sagrado e o profano a
uma determinada figura. Sabemos que na conjuntura cultural e política moderna é
muito difícil que um chefe de Estado se coloque como o intermediador entre deus e
os homens. Isso se deve, dentre outros fatores, à laicização dos estados modernos,
que tem caminhado no sentido de que a religião esteja cada vez mais afastada da
estrutura do Estado. Embora existam muitos Estados em que ainda a religião tem
forte influência na elaboração de leis e projetos, é possível que, à medida que a
democracia vai ganhando espaço, essa tendência diminua.
3.3 O PROFETA
Os profetas tiveram uma função muito importante no judaísmo e no
islamismo. O profeta é o responsável por anunciar a mensagem de Deus ao povo.
Na história judaica você vai encontrar profetas exercendo papel de liderança entre
o povo. Isso se deve ao fato deste ter conquistado, por meio de suas mensagens, a
confiança do povo no sentido de que este viesse a dar ouvidos a ele e ainda enxergá-
lo como uma liderança confiável em meio às crises. Outro fator interessante é que
nem sempre os profetas eram populares no sentido de serem reverenciados pelo
povo, pois quando os profetas se opunham a determinadas práticas, condenando-
as em suas mensagens, o povo os rejeitava.
166
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
indivíduo escolhido por Deus para falar em seu nome independente de seu grau
de instrução, parentesco, ou qualquer outra habilidade exigida para outras funções
religiosas. Vale ressaltar, porém, que os sacerdotes e reis também poderiam ser
profetas, ou seja, o profeta poderia ser originário de qualquer classe social.
167
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
3.4 O MONGE
A figura do monge está presente em diversas religiões do mundo. O estilo
de vida monástico é adotado pelas pessoas que desejam uma vida desapegada
das coisas ‘terrenas’. É a renúncia aos bens materiais em busca de uma vida
mais próxima de Deus, pois dedicam seu tempo em meditar e prestar serviço
exclusivamente a Deus e às pessoas. Cada religião tem uma maneira diferente de
iniciar os candidatos à vida monástica. No budismo, por exemplo, ao se tornar um
monge o indivíduo recebe um nome budista. Mas o que predomina em qualquer
religião, para que o indivíduo possa se tornar um monge, é que ele precisa ter um
profundo conhecimento dos preceitos de sua religião. Um monge tanto pode ser
eremita, aquele que vive afastado das pessoas, ou o monge pode escolher viver na
companhia de outros monges.
O que é um monge?
“É assim chamado porque conversa com Deus noite e dia e não imagina
senão as coisas de Deus, sem nada possuir na Terra”. “É chamado monge
porque em primeiro lugar é sozinho, é solitário, abstendo-se do casamento e
renunciando ao mundo, interior e exteriormente; em segundo lugar, porque se
dirige a Deus na oração incessante, para que Deus purifique o seu intelecto,
enquanto tal, se torne monge e solitário em presença de Deus verdadeiro, sem
admitir pensamentos do mal” (São Macário, o Egípcio).
168
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
169
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
4 AS CRENÇAS
A base que constitui uma religião são as crenças e os rituais. As crenças
constituem a parte teórica da religião, enquanto que os rituais constituem a parte
prática. Isso significa dizer que uma religião somente existe de fato se ela possui
crenças.
170
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
171
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
sangue do Senhor Jesus”. Com a reforma protestante surgiu outra teoria para
contrapor a crença católica: a teoria da consubstanciação. Lutero entendia que
não havia modificação nos elementos da Eucaristia, pois “Conforme o ponto de
vista luterano, os elementos permanecem exatamente o que são, mero pão e mero
vinho, sem qualquer modificação ou transferência de substância” (CHAMPLIN,
2002, v. 5, p. 44). Observe que para uma mesma crença pode haver diferentes
interpretações dentro de uma mesma religião. No entanto, a essência daquilo que
se acredita permanece quase inalterada, pois no caso do pão e do vinho a crença
fundamental é de que Cristo é o alimento espiritual do cristão.
172
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
LEITURA COMPLEMENTAR
173
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Aqui só posso propor uma relação dos data fundamentais, restritos a alguns
pontos essenciais. Momentos quase-originários do espelhar-se do sagrado e do seu
distinguir-se do profano manifestam-se assim: o assombro diante dos fenômenos
da natureza, a crença numa força estranha e poderosa, práticas simbólicas com
relação à obtenção de alguma coisa intensamente desejada, a adoração e o sacrifício
do animal totêmico, a diferença primordial entre o puro e impuro que remonta a
noções mais primitivas de “mancha”, “sangue”, “sujeira” (categoria por sua vez
ligada ao tabu), a experiência de viver o momento exemplar das origens numa
a-historicidade sagrada.
Entendo o medo não somente como um sentimento “que nos afasta de”,
que põe numa situação de desvantagem, mas também como um sentimento
quase positivo à R. Otto: como religiöse Scheu, como um pôr-se de joelhos diante
do mistério incognoscível que provoca “arrepios”. O medo tem relação com o
assombro e o assombro se transforma numa afirmação do “mistério” (mysterium-
tremendum).
Por fim, o desejo. E aqui sou levado a crer que esta categoria está
antropologicamente mais arraigada e que, na sua culminância, é a expressão
da própria “necessidade de salvação”, onde exatamente “salvação” denota a
necessidade de “recuperar a própria totalidade” segundo as etimologias de holon,
salvus, Heil, whole, swa-astha. O desejo, portanto, não é somente um desejo limitado,
174
TÓPICO 2 | O SAGRADO E O PROFANO: DICOTOMIA OPERACIONAL FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
FONTE: TERRIN, Aldo Natale. Antropologia e horizontes do sagrado: culturas e religiões. São
Paulo: Paulus, 2004, p. 227-230.
175
RESUMO DO TÓPICO 2
• Em termos simples, o sagrado é tudo aquilo que o ser humano diviniza. Isso
significa dizer, do ponto de vista antropológico, que é ser humano que torna
determinada coisa ou ritual sagrado, pois aquilo que é sagrado em uma religião
pode não ser em outra.
• O profano, por outro lado, está relacionado ao mundo atual e terreno do qual os
seres humanos fazem parte. Geralmente, o termo ‘profano’ está associado a algo
negativo, mas neste caso não, pois o profano é aquilo que está presente no dia a
dia das pessoas e não possui relação com alguma divindade ou divindades.
• A base que constitui uma religião são as crenças e os rituais. As crenças constituem
a parte teórica da religião, enquanto que os rituais constituem a parte prática.
Isso significa dizer que uma religião somente existe de fato se ela possui crenças.
176
AUTOATIVIDADE
( ) O sagrado está presente no dia a dia das pessoas, é aquilo que faz parte do
comum e corriqueiro.
( ) O espaço sagrado é aquele que todos respeitam, pois o homem comum
tem a obrigação de venerar o sagrado.
( ) O que torna algo sagrado é a relação que se estabelece entre o sujeito e o
objeto, nesse sentido o sagrado nasce dessa relação e, portanto, aquilo que
é sagrado em uma religião pode não ser para outra.
( ) É correto afirmar que o sagrado é o ponto de encontro das diferentes
pessoas que abraçam determinada religião.
a. ( ) V – F – V – F.
b. ( ) F – F – V – V.
c. ( ) V – F – F – V.
177
178
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
As religiões são compostas de muitos elementos que somados conferem
aspectos muito singulares em cada uma delas. Esses elementos também podem
estar presentes em outras áreas da vida humana, no entanto, na religião tais
elementos ganham outro sentido, e até místico. Um exemplo disso são os rituais,
que são práticas comuns na vida das pessoas, todavia, quando se trata da religião,
o ritual, geralmente, está associado ao sagrado ou ao transcendente.
2 RITUAL
O ritual está intrinsecamente associado à prática religiosa. Não que rituais
não estejam presentes em outros momentos da vida, pois até entre os animais há
rituais de acasalamento, mas a maior parte das religiões se assenta sobre a prática
dos rituais. O ritual religioso é uma maneira de marcar o momento em que o
indivíduo sai daquilo que é comum para um momento de devoção e relação com
o divino.
179
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
180
TÓPICO 3 | OUTRAS PARTICULARIDADES DA RELIGIÃO
181
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
NOTA
Este ritual serve como um rito de passagem e como um ritual de colheita das tribos da
ilha de Vanuatu, no Oceano Pacífico. Os garotos das tribos têm que subir em uma torre de
30 metros de altura com cipós amarrados nos tornozelos e se jogar, a uma velocidade de
cerca de 72 quilômetros por hora. Quando o “mergulho” é feito corretamente, o garoto deve
encostar os ombros e a cabeça no chão. Entretanto, os cipós não são elásticos e um cálculo
errado do comprimento da corda pode causar ferimentos sérios ou até mesmo a morte do
garoto no ritual, que é feito com meninos de cerca de sete ou oito anos.
3 MAGIA
A magia é uma prática associada ao mundo sobrenatural, em que algumas
pessoas dizem ser possuidoras de habilidades de manipular as forças ocultas do
universo. Essas habilidades de manipulação do sobrenatural servem para, de
alguma maneira, mudar a sorte e/ou o destino de alguma situação ou de indivíduos.
Essa manipulação das forças ocultas serve tanto para o bem quanto para o mal,
pois isso depende de quem pratica. Nesse sentido, as pessoas envolvidas com
essas práticas costumam fazer diferença entre magia branca e magia negra.
182
TÓPICO 3 | OUTRAS PARTICULARIDADES DA RELIGIÃO
183
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
184
TÓPICO 3 | OUTRAS PARTICULARIDADES DA RELIGIÃO
4 SINCRETISMO
O sincretismo religioso é um fenômeno importante na história das religiões.
A fusão das doutrinas, crenças e rituais religiosos é denominada de sincretismo,
pois a origem desta palavra é grega (sunkretizo) e significa ‘combinar’; nesse sentido,
o sincretismo é a combinação de elementos de diferentes religiões. O sincretismo
não é algo recente, pois desde o início das civilizações as diferentes religiões foram
incorporando às suas crenças elementos de outras religiões, no sentido de formar
sua própria identidade religiosa.
185
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
5 TABU
Por certo você já se deparou com situações que são consideradas tabus
para algumas pessoas religiosas. Mas o que isso significa? Por que determinada
coisa é considerada tabu em uma cultura e em outra cultura não? Tabu é um
termo muito recorrente no contexto do estudo das religiões. Segundo Champlin
(2002, v. 6, p. 310-311),
No entanto, temos que considerar outro aspecto importante dos tabus, que são
as regras No entanto, temos que considerar outro aspecto importante dos tabus, que
são as regras que possuem o sentido de preservar a integridade humana. Para Marconi
e Presotto (2001, p. 175), “Tabu é o elemento negativo da religião. Pode ser uma
proibição ou um alerta (cuidado!) em relação a certos atos, geralmente relacionados
a representações mágico-religiosas”. Nesse sentido, para fugir deste risco de alguns
perigos que estão por trás das escolhas humanas, são criados os tabus.
187
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
LEITURA COMPLEMENTAR
“A gente pôs Gentio porque quando ele chegou, que ele baixou,
aí ele deu o nome de Gentio, aí ficou o Gentio. E tem a linha do Gentio:
Gentio chegou na aldeia, o que foi que ele veio buscar. Ele veio trazer ciência pra
os índios trabalhar. O reina reina roa, o reina, reinará”.
Na Serra do Arapuá, apenas no Enjeitado tem Gentio. Este é também um
espaço onde se realizam curas, principalmente de doenças mentais. O processo de
cura é acompanhado pelo uso do defumador e remédios naturais que chamam de
“garrafada das montanhas” e também medicação alopática. A receita é definida pelo
“mestre”. Pode durar dias e até meses; contam que a cura mais demorada durou
um período de nove meses. O paciente fica hospedado nas casas da comunidade e
são pessoas de lugares variados da região do sertão do São Francisco.
188
TÓPICO 3 | OUTRAS PARTICULARIDADES DA RELIGIÃO
Esses rituais são atos religiosos nos quais os índios louvam e se comunicam
com os antepassados que estão sob a forma de “encantados” e “mestres”. A
comunicação se dá através da possessão mediúnica, evocando-os através do canto
(linha ou toante), da música sonorizada pelo maracá, da dança (circular), e da
ingestão da bebida que consideram sagrada, a jurema (Mimosa hostilis benth).
Por serem ritos sagrados, envolvem toda uma mística que, no caso do
Terreiro e do Gentio, compreende a escolha do local, a posição do cruzeiro, até o
preparo da jurema. Já os Reinados sempre existiram e a localização destes aos índios
é anunciada através de sonhos ou durante os “ocultos”. Todo esse movimento é
definido pelos mestres e encantos, os verdadeiros “chefes” do ritual.
O ritual do toré tem uma estrutura básica: abertura, louvação, distribuição
da jurema, chamamento das divindades, recebimento das “instruções” e o
fechamento. Tem dias determinados, que são a quarta-feira e o sábado, e é composto
por uma hierarquia que em escala decrescente de superioridade começa no campo
espiritual. A principal autoridade é um encanto ou um mestre que nomeia o
lugar-ritual, seguido da liderança religiosa que é o responsável pela manutenção,
mobilização e condução dos trabalhos. Depois vêm o caboclo mestre e a cabocla
mestra e mais dois contramestres, mantendo a divisão de gênero; este quarteto
é responsável pela “linha de frente” e durante a dança do toré vai ao centro
representar o sinal do cruzeiro e, por último, os demais membros da comunidade.
F O N T E: D i s p o n í v e l e m : < h t t p s : / / w w w. u f p e . b r / re m d i p e / i n d e x . p h p ? o p t i o n = c o m _
content&view=article&id=356&Itemid=315>. Acesso em: 11 out. 2015.
189
RESUMO DO TÓPICO 3
190
AUTOATIVIDADE
a. ( ) V – F – V – F.
b. ( ) F – F – V – V.
c. ( ) V – F – F – V.
191
192
UNIDADE 3
TÓPICO 4
MONOTEÍSMO, POLITEÍSMO,
PANTEÍSMO E PANENTEÍSMO
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Estamos chegando ao último tópico desta disciplina,
portanto, dedicação é a palavra-chave para o sucesso em seus estudos. Mãos à
obra!
Os debates em torno dessas crenças não são recentes, pois remontam desde
os primeiros povos que desenvolveram suas crenças religiosas. Cada povo, à sua
maneira, tenta explicar e defender sua cosmovisão. Qual está certa ou errada não
é o objetivo deste estudo, pois nossa finalidade é comparar as diversas formas de
doutrinas e crenças acerca da concepção da existência de Deus ou dos deuses.
2 MONOTEÍSMO
O monoteísmo parte do princípio de que há um único Deus, ou seja, um
único ser absoluto que governa sobre todo o universo. É importante ressaltar que
existe diferença entre o monoteísmo e o henoteísmo. Enquanto que o monoteísmo
parte da ideia da existência de um único Deus, o henoteísmo sugere que existem
vários deuses, mas o indivíduo ou o grupo escolhe adorar e obedecer a um
único deus. O primeiro reconhece apenas uma divindade como absoluta, sem
admitir que outra possa ocupar a mesma posição em relação a poder, adoração
e obediência. No caso do henoteísmo, “a ideia transmitida é a de que existe uma
divindade suprema, que tem contato com certo mundo ou com certo grupo de
seres, ao mesmo tempo em que podem existir outros deuses com outros campos
de atividade”. (CHAMPLIN, 2002, v. 3, p. 82).
193
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
3 POLITEÍSMO
O politeísmo consiste na crença em vários deuses que possuem funções
diferentes no universo. “Essa palavra vem do grego, poli, ‘muitos’, e theós, ‘deus’,
ou seja, a crença de que existem muitos deuses” (CHAMPLIN, 2004, v. 5, p. 321).
Essa crença está presente em diversas culturas, dentre elas podemos destacar a
egípcia, a grega e a romana. As divindades presentes nestas culturas possuem
pelo menos duas características em comum: são imortais e antropomórficas. A
imortalidade é um atributo em que aqueles que a possuíam não estavam sujeitos
à mesma condição humana, pois aos humanos a morte consiste em uma certeza
de algo que acontece cedo ou tarde. Os deuses não estavam sujeitos a esta aflição
de ter que conviver com o fato de que a qualquer momento deixariam de viver. O
antropomorfismo consiste no fato de que, apesar de os deuses em sua maioria serem
imortais, todavia eram possuidores de muitos aspectos que se assemelhavam aos
humanos. É comum ver na mitologia grega, por exemplo, deuses se apaixonarem
por humanos, sentirem inveja em relação a outro deus etc., sentimentos comuns
aos seres humanos.
194
TÓPICO 4 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
195
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
4 PANTEÍSMO
Existem algumas vertentes religiosas que se fundamentam no panteísmo.
A palavra panteísmo, de acordo com Champlin (2002, v. 5, p. 40, grifo do
autor), “vem do grego, pan, ‘tudo’, + theós, ‘deus’, dando a entender que ‘tudo
é Deus’. De acordo com o panteísmo, Deus é o cabeça da totalidade, e o mundo
é seu corpo”. Deus é composto por tudo e todos. Os panteístas não acreditam
na existência de um Deus pessoal, pois segundo os adeptos dessa crença, Deus
não é algo particular, Deus é o todo e o todo é Deus. Para os panteístas não
existe um Deus que intervém no universo, tampouco um Deus criador de tudo
aquilo que existe.
Deus é maior de tudo aquilo que existe, pois em Spinoza tudo está, vive
e se move em Deus. Esta é a base da concepção panteísta. A natureza e Deus não
são distintos, pois na verdade são dois nomes atribuídos à mesma realidade. Tudo
aquilo que existe no universo emana de Deus-Natureza, isso significa que todas as
coisas ou entidades presentes no universo são modos da substância que compõe o
universo, ou seja, Deus.
196
TÓPICO 4 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
5 PANENTEÍSMO
Outra corrente de pensamento sobre a existência de Deus, não menos
importante que as demais, é o panenteísmo. “A raiz grega do vocábulo é pan,
‘tudo’, e theós, ‘deus’, significando, assim, ‘tudo está em Deus’ ou ‘Deus está em
tudo’. Tal palavra pode significar que tudo faz parte de Deus, ou que Deus está em
todas as coisas, embora ele não seja todas as coisas”. (CHAMPLIN, 2002, v. 5, p.
38). Tal conceito se difere do panteísmo de uma maneira bastante simples: Deus
está em todas as coisas, mas Deus não ‘é’ todas as coisas.
197
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Tudo não é Deus. As coisas são o que são: coisas. No entanto, Deus está
nas coisas e as coisas estão em Deus, por causa de seu ato criador. A criatura
sempre depende de Deus e sem Ele voltaria ao nada de onde foi tirada. Deus e
mundo são diferentes. Mas não estão separados ou fechados. Estão abertos um ao
outro. Se são diferentes, é para possibilitar o encontro e a mútua comunhão. Por
causa dela superam-se as categorias de procedência grega que se contrapunham:
transcendência e imanência. Imanência é este mundo aqui. Transcendência é
o mundo que está para além deste. O Cristianismo, por causa da encarnação
de Deus, criou uma categoria nova: a transparência. Ela é a presença da
transcendência (Deus) dentro da imanência (mundo). Quando isso ocorre, Deus
e mundo se fazem mutuamente transparentes. Como dizia Jesus: “quem vê a
mim, vê o Pai”. Teilhard de Chardin viveu uma comovente espiritualidade da
transparência. Dizia: “O grande mistério do Cristianismo não é a aparição, mas
a transparência de Deus no universo. Não somente o raio que aflora, mas o raio
que penetra. Não a Epi-fania mas a Dia-fania” (Le milieu divin, 162).
198
TÓPICO 4 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
LEITURA COMPLEMENTAR
Chadia Kobeissi
Judaísmo
“Pois do pó vieste, e ao pó retornarás” (Bereshit 3:19)
“Baruch atá Adonai Eloheinu melech ha’olam, dayan ha-emet”
(Bendito sejas Tu, Senhor, nosso Deus, Rei do Universo, o Verdadeiro Juiz)
O morto também deve ser enterrado, o mais rápido possível. Mas antes
disso, o corpo deve ser purificado e limpo, em um processo chamado de “taharat”.
Interessante observar a semelhança com o islamismo, onde também é usada a
palavra “tahara”, que se refere à purificação.
199
UNIDADE 3 | A ANTROPOLOGIA E O FENÔMENO RELIGIOSO
Cristianismo
“E o pó volta à terra, como era, e o espírito volta a Deus, que o deu”. Eclesiastes 12:7
Deus declarou a Adão: “No suor do seu rosto, comerás o teu pão, até que tornes à
terra; porque dela foste tomado, porque és pó, e em pó te tornarás”. Gênesis 3:19.
Os mortos eram envoltos em panos, com um véu no rosto, como Lázaro (Jo
11.14), e os sepultamentos ocorriam no próprio dia do óbito. Pessoas choravam a
perda, assim como no falecimento da filha de Jairo (Mc 5.38).
A dor se expressava por gestos, como colocar as mãos sobre a cabeça (2Sm
13.19; Jr 2.37), rasgar as vestes (Gn 37.34; Jó 1.20), vestir-se de panos de saco (2Rs
6.20), colocar terra sobre a cabeça (Js 7.6; Jó 2.12), rolar a cabeça (ou o corpo) no pó
(Jó 16.15; Mq 1.10), deitar e sentar sobre cinzas (Is 58.5; Jr 6.26), e raspar a barba e o
cabelo, ou fazer incisões no próprio corpo (Jó 1.20; Is 22.12; Jr 16.6; 41.5). Música fazia
parte de alguns sepultamentos, como aparece no caso da filha do centurião (Mt 9.23).
200
TÓPICO 4 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
Após o corpo ter sido limpo e bem vestido, uma leve maquiagem é aplicada,
deixando o morto com uma feição melhor, e na sequência, ele é colocado em um caixão
aberto, onde ocorre o velório, que pode durar horas, e dependendo do caso, até dias.
A cremação era praticada nos tempos bíblicos, mas não era geralmente
praticada pelos israelitas, ou pelos crentes no Novo Testamento. Nas culturas nas
quais a Bíblia se focaliza, enterro em uma tumba, caverna, ou na terra, era a forma
mais comum de se dispor do corpo humano (Gênesis 23:19; 35:4; 2 Crônicas 16:14;
Mateus 27:60-66).
Islamismo
“Inna Lillahi wa inna ilaihi raji’um”
(Somos de Deus e a Ele retornaremos - 2:57)
E nos propõe comparações, e esquece a sua própria criação, dizendo:
Quem poderá reviver os ossos, quando já estiverem decompostos? Dize:
Revivê-los-á quem os criou da primeira vez, porque é conhecedor de todas as
criações.
(36:78/79) Alcorão Sagrado
Logo que a pessoa dê o último suspiro, seus olhos devem ser fechados.
As pessoas presentes devem fazer a dua’a (súplica) pelo falecido, pedindo a Deus
que Ele tenha misericórdia dele, e dos presentes, e que lhe facilite o que deverá
enfrentar. As pessoas que tenham presenciado o momento da morte devem manter
absoluto sigilo, sobre qualquer coisa que tenham visto, ou ouvido, e que envolva a
privacidade e a dignidade do falecido. Qualquer comentário, ou crítica sobre ele,
deve ser evitado.
Antes de ser enterrado, o morto (Mayyt) deve passar por alguns estágios
de limpeza e purificação. Um mayyt masculino deve ser lavado por homens (ou
por sua esposa), um mayyt feminino deve ser lavado por mulheres (ou por seu
marido). Se o mayyt for uma criança (que não tenha alcançado a puberdade), o
ghusl (banho do morto) pode ser realizado tanto por homens quanto por mulheres.
202
TÓPICO 4 | GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO E PARENTESCO
O mayyt deve ser colocado sobre uma mesa, sem movimentos bruscos, tudo
deve ser feito com cuidado. Não é permitido cortar, raspar pelos ou cabelos, cortar
unhas, ou alterar qualquer coisa na aparência do mayyt, por meio de maquiagem
ou coisas do tipo.
Conclusão:
Em todas as religiões monoteístas, que pregam a unicidade de Deus, há
diversos rituais para a realização de um funeral, cada qual com sua lição especial.
O importante é que todas elas acreditam que a morte não é o fim, e que junto ao
Criador do Universo existe a eternidade.
203
RESUMO DO TÓPICO 4
• No panenteísmo, Deus está em toda parte e em todas as coisas, mas Deus não é
tudo e tudo não é Deus.
204
AUTOATIVIDADE
( ) O panteísmo é uma corrente religiosa que não possui vínculo com outra
ciência, por exemplo, a filosofia.
( ) Spinoza é um dos nomes importantes dentro da concepção panteísta.
( ) O politeísmo é uma concepção que abre espaço para uma diversidade
muito grande de crenças e é possível que o crente adorasse ao deus com o
qual se identificava.
a. ( ) V – F – V.
b. ( ) F – V – F.
c. ( ) F – V – V.
205
206
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Claudionor C. Dicionário teológico. Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 1998.
207
LARAIA, R.B. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2004.
208