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AS PRISÕES ESPIRITUAIS DO SER

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 2012

INTRODUÇÃO

Sei que o meu prezado leitor tomou um susto ao ler o título da pasta que contêm
esta palestra: “INFERNOS”. “Será que o título é este mesmo ou o Pastor Olívio a
nominou erradamente?”, você deve ter se perguntado. Bem, o título está correto;
o ensino sobre o tema, como nos foi e tem sido apresentado no correr dos
tempos, é que não está. Você sempre acreditou que o inferno era um só, seus
amigos e irmãos também acreditaram, o mesmo acontecendo com os seus guias
espirituais e mestres. Eu mesmo, durante anos, sabia que alguma coisa não se
encaixava bem em tal ensino, mas não sabia exatamente o que era! As
dificuldades em harmonizar os diferentes textos bíblicos que pareciam se
contradizer, aliada a grande insatisfação de minha alma pelas respostas
apresentadas pela moderna teologia sobre o assunto, me levaram a pesquisar
ainda mais as Escrituras e então eu descobri! Ó, glória a Deus, eu descobri!
Descobri, que as Escrituras falam, sim, não apenas de um, mas de vários tipos de
inferno, cada um com suas características, propósitos e durações! Isto se
transformou na maior descoberta de minha vida, pois, através dela, outras
revelações vieram que libertaram ainda mais a minha alma! Não que eu houvesse
sido liberto e salvo apenas ao conhecer essas doutrinas, pois doutrina alguma,
por mais sublime que seja, pode libertar homem algum de seus pecados. Apenas
Cristo, com seu sacrifício vicário, substitutivo, pode fazer isso e eu já era um
“servo liberto de Cristo” há muito tempo e liderava também muitas ovelhas. O que
estou dizendo é que essas revelações trouxeram uma grande libertação à minha
alma, por terem trazido lógica e consistência à muitas de minhas indagações.

OS TEXTOS DA REVELAÇÃO

Tudo começou quando, um dia, ao ler o Sermão da Montanha, pregado pelo


Cristo e registrado no Evangelho de Mateus 5:21-26, eu percebi que tal
passagem trazia uma gama imensa de revelações que eu não estava
acostumado a ouvir ou a ler nos compêndios teológicos e que me soavam como
muito esquisitas e bastante irreais. Eu precisava de confirmações bíblicas para
atestar a veracidade e consistência de tais ensinos. Então eu pus-me a pesquisar
com afinco as Escrituras. O resultado dessa pesquisa foi tão extraordinário que
eu publiquei um livro contando tais descobertas! Espero que o leitor possua
recursos para adquiri-lo e alguma coragem para lê-lo e as minhas palestras. Leia
comigo o texto do Evangelho que me trouxe tanta libertação: “Ouvistes que foi
dito aos antigos: não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu,
porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão,
será réu de juízo, e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do Sinédrio;
e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno. Portanto, se
trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma
coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro
com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o
teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o
adversário te entregue ao juiz, e o juiz e entregue ao oficial, e te encerrem na
prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não
pagares o último ceitil”.

Você percebeu como essa passagem é estranha? Notou, por acaso, que um
indivíduo pode ser lançado dentro do fogo do inferno e dele sair, após ter pago o
seu último ceitil? Que este inferno apregoado por Jesus é um inferno de fogo sim,
mas que o indivíduo sai dele vivinho, sem ter sido carbonizado, após ter quitado
sua dívida moral? Que esse inferno tem como propósito o pagamento de dívidas
morais cometidas contra pessoas e não contra Deus? Que o Indivíduo do qual
Jesus está falando é um fiel que oferece sacrifício a Deus, como uma maneira de
agradar-Lhe, adorar-Lhe, e não um ímpio transgressor da Lei? Como se não
bastasse todas essas coisas, perguntas surgem, tão estonteantes, que nem
sequer sabemos o que pensar, como, por exemplo: Se o indivíduo pode entrar e
sair do inferno, como dizer que esse inferno é eterno? Se ele pode entrar e sair
dele, quantas vezes poderá fazê-lo? Como é que se sai de dentro de um inferno?
O tempo de aprisionamento de alguém no inferno pelo simples xingamento de
outrem será o mesmo que o de um assassino, de um governante corrupto ou de
um pedófilo? Como o meu leitor pode ver, as implicações teológicas destes
versículos são inúmeras e bastante complexas!

Mas havia ainda um outro texto bíblico excelente para me ajudar na compreensão
dos infernos e este era o de Lucas 16:19-31, já bem explorado na Palestra III, do
tema Reencarnação, no qual o Senhor Jesus conta a história de um homem
pobre chamado Lázaro e de um outro, de nome desconhecido, muito rico. O
homem rico, após morrer, fora lançado em um inferno de fogo, mas também não
se consumira e até conversava com o santo Abraão e pedia a este para enviar
algum dos mortos até a casa de seus parentes na terra para adverti-los sobre
aquele lugar! A palavra traduzida do original grego como inferno em nossas
Bíblias nessa passagem era totalmente diferente da traduzida no texto do
Evangelho de Mateus 5:21-26! Tínhamos então agora duas palavras de
conotações diferentes em sua língua original traduzidas como se fossem a
mesma coisa para a nossa língua portuguesa. Duas outras palavras, também
traduzidas como inferno, de conotações diferentes das duas primeiras, vieram se
juntar a estas, complicando ainda mais a pouca compreensão que eu tinha
daquele lugar! Um quinto termo da língua grega, não denominado inferno, mas
traduzindo integralmente a idéia deste, ainda aparece nas Escrituras. Assim é
que temos cinco tipos diferentes de inferno na Bíblia, mas que a nós foram
passados por nossos guias espirituais e mestres como se fosse um só, causando
muito sofrimento, dor e desespero desnecessários.

Nesta palestra estudaremos quatro desses lugares / condições espirituais e na


seguinte, o lugar-prisão mais esquisito de todos!

OS DIFERENTES INFERNOS DA BÍBLIA

A palavra “inferno” é de origem latina (infernum) e significa “profundezas”, “mundo


inferior”, “mundo subterrâneo”. Ela não existe nos originais da Bíblia, a exemplo
das palavras “trindade”, “reencarnação”, “extraterrestres”, “milênio”, etc. É um
lugar / condição idealizado por várias religiões como sendo um sítio espiritual de
sofrimento e de condenação para aqueles indivíduos que viveram e morreram em
total desobediência a Deus. De uma maneira geral, inferno significa o desajuste
total do ser, uma desarmonia existencial, um descontrole profundo da vida. Assim
é que quando uma pessoa está vivenciando uma situação como a descrita acima,
se sente absurdamente infeliz, estressada, deprimida e afirma estar vivendo “num
verdadeiro inferno”, ainda que fisicamente nele não esteja. Começaremos a
analisar a mais antiga concepção bíblica do que era o inferno e o material de
referência para isto serão as Escrituras Hebraicas ou Antigo Testamento, como é
mais conhecida no meio cristão. Optamos por elencar em pequenos resumos as
principais características de cada um desses locais, ao invés de analisá-los em
texto corrido, contínuo, a fim de facilitar a compreensão do leitor. Infelizmente não
poderemos transcrever literalmente as passagens bíblicas que tratam dos
diversos locais / condições de punição do espírito, mas apenas citá-las, tendo em
vista o grande número das mesmas.

Sheol – o inferno do Antigo Testamento

A palavra “Sheol” é remotíssima e segundo alguns estudiosos é de proveniência sumeriana. Ela


significava, em sua concepção mais remota, “ser oco”. Como alguma coisa com limites definidos em
toda a sua volta, sem saída, e que devesse ser preenchida.

Era para este lugar que deveria migrar todas as almas dos homens que morreram antes do sacrifício
de Cristo, independentemente de serem eles injustos ou não. O Sheol abrigava as almas de todo o
gênero humano – Jó 3:17-19 / Gênesis 37:35 / Salmo 86:13 / Isaías 14:9-11.

O Sheol era tido como um lugar escuro, tenebroso, de penumbra e que ficava debaixo da terra – Jó
10:18-22 / Amós 9:2 / Isaías 7:11 / Provérbios 15:24 / Salmo 139:7,8.

Aos poucos, com o aumento da revelação profética, o Sheol foi sendo caracterizado como um lugar
de punição para os ímpios – Salmo 9:17 / Provérbios 23:14 / Isaías 24:21,22.

Uma divisão de locais começou a aparecer dentro do Sheol para separar as almas dos justos das
almas dos ímpios – Salmo 55:15 / Ezequiel 32:23 / Isaías 24:21,22.

Ainda assim o Sheol era diferente da atual configuração que se pretende dar ao inferno como sendo
um lugar de fogo, trevas, verdugos, ranger de dentes e tudo o mais – Jó 14:13 / 1ª Samuel 28:1-25.

A esperança dos justos em sair do Sheol estava atrelada a ressurreição dos mortos a acontecer no
Último Dia – Jó 19:25-27 / Salmo 16:10 / Oséias 13:14.

Hades – o inferno depois do sacrifício de Cristo

Até o sacrifício de Cristo, o Hades possuía a mesma configuração do Sheol do Antigo Testamento.
Ele era o mesmo inferno do Antigo Testamento sendo que Sheol era o termo utilizado para inferno em
língua hebraica e Hades, em língua grega – Salmo 16:10 / Atos 2:27,31.

Após o sacrifício de Cristo, a divisão interna que separava as almas dos justos das almas dos ímpios
não existe mais, pois Cristo transferiu todas as almas justas que estavam no “Seio de Abraão” e que
foram “compradas por Ele por bom preço” para o “Paraíso”, a morada de Deus – Efésios 4:8-10 / 2ª
Coríntios 12:1-4 / Lucas 23:43.

A partir do sacrifício de Cristo, todos os santos que morrem vão diretamente à presença de Deus –
Atos 7:55,56 / Filipenses 1:21-23 / Apocalipse 14:13 e todos os que morrem em pecado, em
desobediência ao Senhor, vão para o Lugar de Tormento ou Hades, visto que ele agora é o único
lugar / condição espiritual destinado a prisão de humanos, contendo este diversas “prisões
conscienciais” – Mateus 16:18 / Apocalipse 1:17,18 / 2 ª Timóteo 3:1-5.

O Hades / Sheol atualmente é a sala de espera do julgamento de todos os que morrem em pecado –
Lucas 16:19-31. Todos os que foram ressuscitados, antes e depois de Cristo, saíram desse lugar!
O Hades / Sheol é um inferno provisório, temporário, pois será lançado no Lago de Fogo, no final dos
tempos, o que quer dizer que ele não é eterno – Apocalipse 6:8 / 20:13,14.

Tártaro ou Abismo – o inferno dos demônios

Este inferno ficava na parte mais inferior do Sheol / Hades e permanece ainda lá – 2ª Pedro 2:4,9 /
Judas 6.

Era um lugar temido pelos próprios demônios – Lucas 8:30,31.

Nele se encontravam os piores elementos de todo o universo, espíritos maus, prisioneiros da antiga
rebelião de Lúcifer – 2ª Pedro 2:4,9 / Judas 6.

O Abismo, outro nome dado ao Tártaro, é uma prisão que cresce para baixo, que se aprofunda, por
isso é também chamado de Poço do Abismo – Apocalipse 9:1,2 / 9:11 / 20:1-3.

Satanás vai ser amarrado e lançado neste lugar no final dos tempos para ficar ali preso por mil anos –
Apocalipse 20:1-3.

O Abismo também não é eterno, pois será lançado no Lago de Fogo quando o Hades lá for lançado –
Apocalipse 6:8 / 20:13,14.

Jesus é Senhor sobre o Abismo, sobre Lúcifer e sobre todos os demônios, e não o capeta, que não é
líder de nada, como se poderia pensar – Lucas 8:26-32

Lago de fogo – o inferno de todos os infernos

Esta expressão acontece somente no livro de Apocalipse e foi utilizada apenas pelo apóstolo João. É
o inferno final, último, definitivo. O único inferno do qual se diz ser eterno nas Escrituras (Mateus
25:41 / Apocalipse 20:19). Todos os demais infernos serão lançados nele.

Satanás, depois de atuar por mil anos na terra, vai ser lançado neste Lago de Fogo – Apocalipse
20:7-10 / 19:20.

O Lago de Fogo representa a segunda morte para os seres vivos – Apocalipse 21:8.

O Lago de Fogo não foi preparado para os homens e sim para o Diabo e seus anjos – Mateus 25:41.

O Lago de Fogo mistura todos os tipos de transgressores do universo em um único lugar, o que faz
deste um lugar medonho! – Apocalipse 20:10,14,15 / 21:8.

Aí estão os quatro lugares / condições espirituais que fundamentavam e ainda


fundamentam a crença judaico-cristã na existência do inferno. Pode parecer uma
coisa terrível demais para nós pensarmos que o Augusto Deus do Universo, o
Senhor de Toda a Criação, O Deus Todo-Poderoso seja capaz de lançar uma de
suas próprias criaturas em tal lugar – e de fato o é -, mas quando vemos um
pedófilo abusar de uma criança mentalmente doente e/ou totalmente inocente; um
ditador dizimando milhares de seus compatriotas; um aborteiro matando com
crueza mães e infantes; um político vendendo sua alma e nação por uns míseros
trocados, e tantos outros exemplos ruins de seres que até duvidamos serem
humanos, que façam parte de nós, achamos que Deus realmente tem razão em
fazer o que faz!

TENTANDO ENTENDER O QUE SEJA O INFERNO

Mas o tempo vai passando e começamos a achar que Deus bem que poderia
aplicar algum tipo de castigo ao transgressor que não precisasse ser
necessariamente eterno, infinito, pois a criatura que ele castiga é finita no tempo,
tem vida biológica curtíssima e não merece um castigo eternal; que nenhum ser
humano tem a noção da gravidade e extensão de seus delitos, por já ter nascido
em uma raça pecadora, degradada, sem nenhuma visão espiritual; que outras
oportunidades, senão todas, deveriam ser concedidas ao transgressor para a sua
recuperação moral e progresso espiritual, pois nós, humanos, que somos tão
falhos em nossos julgamentos, não mandamos nossos filhos para a cadeia só por
terem cometido um único erro contra nós; que os diversos ambientes em que as
pessoas nascem e vivem criam diferenças éticas, sociais, morais, culturais e
religiosas que facilitam a alguns e dificultam a outros o cometimento de pecados e
aceitação do Evangelho; que todo ser humano, por ser uma criatura livre,
autônoma, soberana, é capaz de mudar, no momento em que deseje, as suas
escolhas, e assim, aquele que hoje escolheu desobedecer, pode amanhã decidir-
se pela obediência, e por aí vai. Nossos argumentos humanos se amontoam e se
empilham na tentativa de compreender a justiça, a perfeição, a longanimidade e o
amor de Deus com a realidade de um lugar / condição chamado inferno.

Todos concordamos que qualquer transgressor que seja, merece receber uma
punição por seus atos errados, mas nem todos concordamos que essa punição
tenha de ser eterna, para sempre, infinda. Este pensamento incomodou tanto o
espírito dos teólogos, que outras correntes de pensamento surgiram no cenário
evangélico tentando dar uma explicação mais racional, mais lógica para o fim das
coisas e para a existência do Lago de Fogo. Os “tradicionalistas” continuaram
afirmando que o inferno não teria fim nunca, que duraria para sempre, seria
eterno. Na visão desses estudiosos aqueles que forem lançados no inferno
viverão para sempre em torturas eternais. Os “reducionistas” surgiram dizendo
que tempo haverá em que o mal será totalmente extinto, aniquilado, destruído.
Todos os que abrigarem o mal em seus corações serão aniquilados, extintos,
deixarão de existir e esse “não existir mais como pessoa”, como entidade, como
indivíduo é que seria o verdadeiro inferno bíblico. Os “restauracionistas”
apareceram dizendo que tempo haverá em que tudo voltará ao estado de pureza
original e o inferno e todo o mal existente no universo desaparecerá. Todos os
que forem lançados no Lago de Fogo, em algum momento, em alguma era, em
alguma eternidade, se voltarão para Deus e se submeterão, inclusive o Diabo.
Paz então haverá para todos!

CONCLUSÃO

Quando iniciei minhas pesquisas sobre o tema, descobri a existência de um tipo


de inferno que era, e ainda é confundido com o Lago de Fogo por muitos
estudiosos e que lançava um pouco mais de luz sobre o que acontece com o
transgressor que parte desta vida com ofensas e pecados no coração. Ele é um
inferno estranho, diferente de todos os demais que examinei, porquanto cheio de
vida, de movimento! O sofrimento se encontra presente nele, é verdade, mas
fundamentado em justiça, em reparação. Ao transgressor é permitido fazer novas
escolhas, se arrepender de seus maus atos e sair deste local / condição,
totalmente liberado! Ele é tão estranho e desconhecido que nunca ouvimos nada
sobre ele de nossos púlpitos e tribunas, mas ainda assim se constitui na única
esperança que temos de escapar do Lago de Fogo, o inferno definitivo! Na
próxima palestra eu estarei falando sobre ele e espero que o prezado leitor a
divulgue para todos os seus conhecidos e que a comente também com seus
líderes espirituais. Tenho certeza que o espírito ávido, faminto, pesquisador de
meu leitor não deixará passar esta oportunidade de ouvir um Pastor evangélico
falando sobre esses temas tão complexos, mas totalmente fundamentados nas
Escrituras!

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus
comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

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