Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
06482018 1891
ARTIGO ARTICLE
e política do Complexo Econômico-Industrial da Saúde
Abstract The concept and approach of the Resumo O conceito e a abordagem do Complexo
Health Economic-Industrial Complex (HEIC) Econômico-Industrial da Saúde estiveram presen-
were present in the advancement of the Unified tes no avanço do SUS nas últimas décadas, con-
Health System (SUS) in the last decades, contrib- tribuindo para incorporar uma agenda relacio-
uting to the incorporation of an agenda related to nada ao padrão nacional de desenvolvimento. O
the national pattern of development. The paper artigo reconstitui essa abordagem para captar sua
reconstructs this approach to capture its dynam- dinâmica e demarcar a visão desenvolvida nesse
ics and demarcate the vision developed in this paradigma. Evidencia as matrizes de pensamen-
paradigm. It reveals the thinking matrices of the to do campo da economia política que fornecem
field of political economy that provide the ana- o substrato analítico para o seu desenvolvimento,
lytical substrate for its development, allowing us permitindo fazer frente ao uso reducionista do
to confront the reductionist use of the concept. It conceito. Destaca, desse modo, os fundamentos
highlights, therefore, the logical foundations that analíticos que nortearam as políticas públicas de-
guided the public policies resulting from this ap- correntes dessa abordagem, com ênfase na aborda-
proach, with emphasis on the systemic approach gem sistêmica e na utilização do poder de compra
and the use of state purchasing power, through do Estado, mediante as Parcerias para o Desen-
the Productive Development Partnerships (PDP), volvimento Produtivo (PDP), marcando o esforço
marking the effort to articulate the social and eco- para articular a dimensão social e a econômica
nomic realms of development. At present, this an- do desenvolvimento. No presente, essa perspectiva
alytical perspective is even more crucial, showing analítica é ainda mais crucial, evidenciando que
that well-being not only fits into GDP but can also o bem-estar não apenas cabe no PIB, mas pode
1
Grupo de Pesquisa be a lever for a pattern of development committed se constituir em uma alavanca de um padrão de
sobre Desenvolvimento, to the National Health Universal System (SUS), desenvolvimento comprometido com o SUS, a so-
Complexo Econômico- society and economic and technological sovereign- ciedade e a soberania econômica e tecnológica em
Industrial e Inovação em
Saúde, Escola Nacional de ty in health. saúde.
Saúde Pública, Fiocruz. Av. Key words Health economic-industrial complex Palavras-chave Complexo econômico-industrial
Brasil 3800, Manguinhos. (HEIC), Development, Innovation, Health polit- da saúde (CEIS), Desenvolvimento, Inovação,
21040-361 Rio de Janeiro
RJ Brasil. ical economy, National science, technology and Economia política da saúde, Política nacional de
carlos.gadelha@fiocruz.br innovation policy ciência, tecnologia e inovação
2
Ex-Ministro da Saúde do
Brasil. Rio de Janeiro RJ
Brasil.
1892
Gadelha CAG, Temporão JG
outro, uma visão insulada da área da saúde e do décadas de sistematização da balança comercial
campo da proteção social e bem-estar. Ressaltou- do CEIS da saúde demonstrando a dependência
se a articulação endógena entre as dimensões so- desta no contexto das assimetrias globais. Em
ciais e as econômicas do desenvolvimento. A de- um período de 20 anos, em plena construção do
cisão econômica e dos investimentos embute um SUS, o déficit apresenta um aumento exponen-
modelo de sociedade, ao mesmo tempo em que cial – evidenciando a fragilidade tecnológica glo-
um modelo de sociedade, inclusivo e equânime, bal - saindo do patamar de US$ 3,0 bilhões para
exige uma determinada estrutura produtiva e de US$ 12 bilhões (em seguida arrefece um pouco
CT&I. influenciado pela depressão da economia brasi-
leira).
Assimetria, soberania nacional Do ponto de vista analítico, o déficit demons-
e a sustentabilidade do SUS trava que, justamente num período de expansão
do SUS e de ampliação do acesso, o bloqueio es-
A desigualdade nos padrões nacionais de trutural ao desenvolvimento se apresentava como
desenvolvimento e a tendência à polarização, vulnerabilidade em saúde. O risco da reprimari-
marca essencial da abordagem estruturalista, zação econômica, da dependência e da perda de
foram incorporadas no contexto da geopolítica liberdade para a concepção e implementação de
global. As assimetrias de poder, que conformam políticas universais mostrava sua face perversa.
e reproduzem um sistema centro-periferia, estão
assentadas na direção e na difusão desigual do Visão sistêmica
progresso técnico. A dinâmica da inovação é as-
simétrica e gera polaridades entre classes sociais, O CEIS, analiticamente, constitui um espaço
regiões e países, caracterizando um processo de institucional delimitado, político, econômico e
modernização com marginalização, que também social, no qual se realiza a produção e a inovação
se manifesta, com força, em sua dimensão inter- em saúde, captando sua dinâmica interdepen-
nacional19,22. dente. Além da interação econômica e tecnoló-
A saúde reproduz a lógica do sistema cen- gica há também uma institucionalidade comum
tro-periferia, como se evidencia pela análise das (órgãos de regulação sanitária, de incorporação
relações comerciais. O Gráfico 1 marca duas tecnológica, de ética em pesquisa, entre outros),
$20
$15
$10
10
$5
$0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 20032004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 20112012 2013 2014 2015 2016
-$5
-$10
-$15
Gráfico 1. Evolução do Déficit da Balança Comercial da Saúde (Valores em US$ bilhões, atualizados pelo IPC/
EUA).
Fonte: Elaborado pelos autores em colaboração com Cesário BB, a partir da base de informações da Coordenação das Ações de
Prospecção da Presidência/Grupo de Estudos sobre Desenvolvimento, Complexo Econômico-Industrial e Inovação em Saúde da
Fiocruz, a partir de dados de BRASIL. Alice Web [Internet]. [acesso em janeiro/2017]. Disponível em: http://aliceweb.mdic.gov.br/
1895
E
S
T Setores industriais
A
D Indústrias de Base Química Indústrias de Base Mecânica,
O e Biotecnológica Eletrônica e de Materiais
-
P
R . Fármacos e medicamentos . Equipamentos mecânicos
O . Vacinas . Equipamentos eletroeletrônicos
M . Hemoderivados . Próteses e órteses
O . Reagentes para diagnóstico . Materiais de consumo
Ç
Ã
O
-
R
E
G
Setores prestadores de serviços
U
L
A Hospitais Ambulatórios Serviços de Diagnóstico
Ç e Tratamento
Ã
O
Fonte: Gadelha1.
1896
Gadelha CAG, Temporão JG
não identidade entre o interesse individual e o vimento Produtivo em 12/05/2008, que situou o
coletivo, base de sua defesa do Estado, inclusive CEIS nas prioridades da nova política industrial
na orientação dos investimentos. A seguinte pas- brasileira. Antecedeu, e foi decisivo para esse
sagem de seu artigo de 1926 (anterior à crise de processo, a inserção do Complexo como um eixo
1929) ressalta a tensão entre o interesse individu- estratégico do Planejamento do MS para o pe-
al e o coletivo e a própria inexistência de agentes ríodo 2008/2011, no âmbito do Programa Mais
racionais, que sequer são capazes de defender Saúde27 A incorporação dessa visão nas políticas
seus próprios interesses quanto mais os interes- governamentais transformava em ação concreta
ses públicos fruto da atuação da “mão invisível” a perspectiva do Complexo, por meio da qual
do mercado. Nas palavras do autor: passaram a convergir uma série de instrumentos
O mundo não é governado do alto de forma e ações de política pública.
que o interesse particular e o social sempre coin- No mesmo ato de lançamento da Política
cidam. Não é administrado aqui embaixo para de Desenvolvimento Produtivo, foi instituído o
que na prática eles coincidam. Não constitui uma Grupo Executivo para o Complexo Industrial da
dedução correta dos princípios de Economia que o Saúde (GECIS)28, como instância política de co-
autointeresse esclarecido sempre atua a favor do in- ordenação, constituindo um marco histórico de
teresse público. Nem é verdade que o autointeresse intervenção sistêmica. Coordenado pelo MS, o
seja geralmente esclarecido; mais frequentemente, GECIS reunia a representação formal de quator-
os indivíduos que agem separadamente na promo- ze órgãos ou entidades da Administração Pública,
ção de seus próprios objetivos são excessivamente envolvendo o núcleo decisório da política nacio-
ignorantes ou fracos até para atingi-los (Keynes, o nal de desenvolvimento (Casa Civil, Ministério
Fim do Laissez Faire18). da Fazenda e do Planejamento, de Relações Ex-
É com base nessa matriz que o papel do Es- teriores, MDIC e de Ciência, Tecnologia e Inova-
tado na orientação dos investimentos mostra-se ção), agências nacionais de fomento e regulação e
central para a abordagem do CEIS, como tam- instituições de CT&I. A direção nacional do SUS
bém indicado na Figura 1. Ao mesmo tempo se passava, ineditamente, a coordenar uma política
introduz na agenda a necessidade de se pensar prioritária de desenvolvimento industrial, tecno-
formas de intervenção que associem a dinâmi- lógico e de inovação, colocando-se como instân-
ca econômica e da inovação à dinâmica social, cia de articulação da área econômica, industrial e
como parte de um programa de pesquisa com- tecnológica para atender aos imperativos do SUS.
prometido com a ação política. Em segundo lugar, o marco teórico do CEIS
destaca, entre todos os instrumentos de indu-
ção e de regulação, o uso do poder de compra do
A concepção do CEIS em ação Estado como fator estruturante para superar as
condições de dependência e de atraso na produ-
A perspectiva política do CEIS vincula-se a ma- ção e na inovação em saúde. De um lado, o po-
triz keynesiana, ao mesmo tempo em que incor- der de compra e as políticas estatais orientadas
pora o processo de transformação de longo prazo por missão constituem a principal força por trás
e estrutural da base produtiva, econômica e so- de processos mais substantivos e arriscados de
cial, que marcam as matrizes marxista, schum- transformação produtiva29. De outro lado, o pa-
peteriana e estruturalista. Emergiram deste para- pel estratégico desse instrumento de intervenção
digma duas perspectivas estratégicas para a ação pública se relaciona ao próprio vínculo defendi-
do Estado que, a partir de 2008, passaram a pau- do entre as dimensões econômicas e as sociais do
tar as políticas para o CEIS. desenvolvimento. O elo crítico dessa relação, e
Em primeiro lugar, a natureza da abordagem que subordina a política industrial e de inovação
CEIS requer um padrão sistêmico de intervenção às necessidades do sistema de saúde, está justa-
do Estado. Diversas interfaces de política pública mente no atendimento às demandas do SUS que
se mostram críticas para um padrão de interven- envolvem a transformação produtiva no sentido
ção que incida sobre os investimentos, a transfor- de seu adensamento tecnológico.
mação produtiva e a inovação e que seja orienta- O instrumento concebido em 2008, cuja ope-
do para as necessidades do SUS. Destaca-se, em racionalização se inicia no período 2009/2010,
particular, a articulação da política de saúde com foi o das Parcerias para o Desenvolvimento Produ-
a política industrial e de CT&I. tivo (PDP) como uma ação específica coordena-
Nesse aspecto, o marco da experiência brasi- da pelo MS (não devendo ser confundido com a
leira foi o lançamento da Política de Desenvol- política de desenvolvimento produtivo mencio-
1897
de regulação (INPI, INMETRO e ANVISA), e de políticas nacionais mais abrangentes como a in-
CT&I (MCTI e Fiocruz), além do vínculo com dustrial (MDIC), de Relações Exteriores (MRE),
da área econômica e de decisões que envolviam a
coordenação no âmbito da Casa Civil. No âmbito
dessas, pode-se destacar a mudança da legisla-
Quadro 1. Parcerias para o Desenvolvimento ção de compras ocorrida em 2012, fortalecendo
Produtivo*. Posição em 31/12/2017. o marco legal das PDP (alteração do artigo 24
PDP em execução da Lei 8666 com inclusão do inciso XXXII e do
Medicamentos 67 parágrafo 2º, consolidando, respectivamente, o
Equipamentos e materiais e produtos para 12 mecanismo de transferência de tecnologia e a
diagnósticos atuação das Instituições Públicas).
Vacinas 5 O Quadro 1 apresenta um retrato da situa-
Total Geral 84 ção atual, evidenciando a força da política para
PDP de pesquisa e desenvolvimento** o CEIS, fruto dessa construção histórica. No pre-
Medicamentos 4 sente, 114 parcerias estão aprovadas e vigentes,
Equipamentos e materiais e produtos para 1 sendo que 84 em execução, 25 em fase de forma-
diagnósticos lização dos termos de compromisso e 5 de pes-
Vacinas 0 quisa e desenvolvimento tecnológico. Dentre as
Total Geral 5 parcerias que estão sendo implementadas com
Novas PDP Aprovadas (em fase de formalização) processos em andamento de transferência de tec-
Medicamentos 25 nologias, 67 produtos estão sendo desenvolvidos,
Equipamentos e materiais e produtos para 0 sendo 50 medicamentos com seus respectivos
diagnósticos princípios ativos, 12 equipamentos e materiais e
Vacinas 0 5 vacinas do PNI. Por fim, o Quadro mostra que
Total Geral 25 as parcerias mobilizam um conjunto expressivo
Consolidado das PDP Aprovadas e em Execução de 60 produtores, envolvendo 42 privados e 18
Medicamentos 96 públicos, que implementam as parcerias para os
Equipamentos e materiais e produtos para 13 produtos estratégicos do MS.
diagnósticos O Gráfico 2 mostra que, em termos de entre-
Vacinas 5 ga de produtos, houve uma evolução no período
Total Geral 114 2011/2014, elevando-se 134% em um período de
Produtos em Transferência e Desenvolvimento de 4 anos, representando 35% das compras centra-
Tecnologia nas PDP** lizadas de medicamentos do MS. Os projetos de
Medicamentos 50 PDP, por sua vez, segundo levantamento de cam-
Equipamentos e materiais objetos de PDP 12 po efetuado no período 2012/2013, envolveram
Vacinas 5 a previsão de investimentos de R$ 13 bilhões,
Total Geral 67 somando-se os recursos orçamentários com os
Produtores com Projetos de Parceria Tecnológica créditos fornecidos pelas agências públicas de
nas PDP fomento, com geração de efeito imediato na ati-
Instituições públicas 18 vidade econômica.
Empresas privadas 42 Além desse impacto econômico, é importan-
Total Geral 60 te enfatizar que o objetivo de obtenção de maior
* Parcerias ativas no momento do levantamento e parcerias segurança sanitária e produtiva para o abasteci-
aprovadas em fase de formalização. Parcerias extintas não mento do SUS é intrínseco ao instrumento de
são consideradas. ** O número de PDP e de produtos não PDP, uma vez que reduz as situações estruturais
coincide, pois um mesmo produto pode ser objeto de mais de
uma PDP. Não foram considerados os produtos das novas PDP de oligopólio pela entrada de novos produtores
aprovadas que ainda não se iniciaram. com a participação de instituições públicas. Em
Fonte: Elaborado pelos autores em colaboração com uma perspectiva de longo prazo, as PDP também
Nascimento MAC. Coordenação das Ações de Prospecção
geram maior estabilidade nos preços de aquisi-
da Presidência/Grupo de Estudos sobre Desenvolvimento,
Complexo Econômico-Industrial e Inovação em Saúde da ção frente às oscilações do mercado mundial.
Fiocruz, a partir das informações da Secretaria de Ciência, Em todos marcos normativos desse instrumento,
Tecnologia e Insumos Estratégicos/Ministério da Saúde -
implícitos ou explícitos, há uma previsão de que
SCTIE/MS, 2017. Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo
(PDP) - Ministério da Saúde - Portal da Saúde [Internet]. o preço dos produtos objetos de PDP, quando
Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/ciencia-e- entregues ao MS, apresentem uma redução pro-
tecnologia-e-complexo-industrial/complexo-industrial/
gressiva frente ao preço de aquisição do ano que
parceria-para-o-desenvolvimento-produtivo-pdp.
1899
8 8,68 8,64
7,13
6
6,35
2 3,06
1,79 2,2
1,31
0
2011 2012 2013 2014
Fonte: Elaborado pelos autores em colaboração com Nascimento MAC. Coordenação das Ações de Prospecção da Presidência/
Grupo de Estudos sobre Desenvolvimento, Complexo Econômico-Industrial e Inovação em Saúde da Fiocruz, a partir doas
informações da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos/Ministério da Saúde - SCTIE/MS, 2017. Grupo Executivo
do Complexo Industrial da Saúde (GECIS) - Ministério da Saúde - Portal da Saúde [Internet]. Disponível em: http://portalms.
saude.gov.br/ciencia-e-tecnologia-e-complexo-industrial/complexo-industrial/grupo-executivo-do-complexo-industrial-da-
saude-gecis
a antecede. Estimativa realizada pela SCTIE/MS coloca uma restrição objetiva: os produtos, cuja
indica que, no período de 2011 a maio de 2017, aquisição seja descentralizada ou cujo horizonte
quando as PDP ganharam escala, a economia tecnológico não seja contemplado pelas capaci-
acumulada do MS foi de R$ 4,68 bilhões, quan- tações das instituições públicas, não podem ser
do se compara os preços do ano anterior às PDP objeto de PDP. Em decorrência, os produtos para
com os praticados após o início de sua imple- atenção básica, muitos equipamentos e materiais,
mentação33. entre outros de execução descentralizada, não
Note-se que os preços dos produtos das PDP, podem ser incluídos no instrumento das PDP,
que inicialmente representam o piso das aquisi- carecendo de outras iniciativas, como é o caso
ções, em função do mecanismo descrito, passam dos medicamentos negligenciados (os tradicio-
imediatamente a representar o teto de referência nais e os “novos negligenciados”, como os para
após sua efetivação. As empresas, cuja posição de tratamento oncológico infantil).
mercado foi afetada, para acesso ao mercado pú- Em síntese, a atuação do Estado para o CEIS
blico, passam a efetuar um ataque de preço para caracterizou uma significativa inovação institu-
deslegitimar e destruir a PDP. Esse mecanismo cional de intervenção sistêmica e de articulação
complexo significa que visões estáticas de com- entre as políticas econômicas e sociais, envol-
paração de preços, que não considerem esse efei- vendo particularmente a política industrial e de
to dinâmico de longo prazo, acabam se tornando inovação e a política de saúde, sob o comando
meios, mesmo que não intencionais, para legiti- desta última. Essa iniciativa ocorreu sobretudo
mar e reforçar a situação anterior de domínio dos pelo estabelecimento de PDP, representando um
oligopólios característicos da saúde. primeiro caminho possível, no contexto da ins-
Observe-se que todos os produtos das PDP titucionalidade do sistema produtivo brasileiro.
fazem parte da demanda do SUS, cujas aquisi- Os dados apresentados permitem afirmar que a
ções são efetuadas (ou são passíveis de serem evolução foi expressiva, mas novos desafios es-
efetuadas) pelo MS. São predominantemente de truturantes ainda se colocam dada a dimensão da
alto custo e maior complexidade tecnológica, ou tarefa de mudar e subordinar o sistema produti-
fazem parte de programas cuja implementação vo da saúde aos requerimentos do SUS.
ocorre no âmbito do Governo Federal. Esse fato
1900
Gadelha CAG, Temporão JG
CAG Gadelha e JG Temporão participaram da 1. Gadelha CAG. O Complexo da Saúde. In: Coutinho
LG, Mariano L, Tavares Filho N, Kupfer D, Sabbatini
concepção e elaboração do artigo.
R. Estudo da competitividade das cadeias integradas no
Brasil. Campinas: IE-NEIT-Unicamp/MDIC/MCT-
Finep; 2002. [Nota Técnica Final]. 160 p.
Agradecimentos 2. Gadelha CAG. O complexo industrial da saúde e a ne-
cessidade de um enfoque dinâmico na economia da
saúde. Cien Saude Colet 2003; 8(2):521-535.
Agradecemos a Marco Aurélio de Carvalho Nas-
3. Temporão JG. O complexo industrial da saúde: público
cimento, a Bernardo Bahia Cesário e a Domini- e privado na produção e consumo de vacinas no Brasil
chi Miranda de Sá, pesquisadores da Coordena- [Internet]. Instituto de Medicina Social, Universidade
ção das Ações de Prospecção e do Grupo de Pes- Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); 2002. [acessado
quisa sobre Desenvolvimento, Complexo Econô- 2018 Jan 12]. Disponível em: http://pesquisa.bvs.br/
brasil/resource/pt/lil-314970
mico-Industrial e Inovação em Saúde (CP/GIS)
4. Temporão JG. A indústria de vacinas e as estratégias de
pelo apoio no levantamento e sistematização de comercialização. Saúde em Debate 2003; 27(64):101-
informações e pelos subsídios para a análise de- 109.
senvolvida. 5. Gadelha CAG, Braga PSC. Health and innovation: eco-
Este trabalho contou com suporte financeiro nomic dynamics and Welfare State in Brazil. Cad Saude
Publica 2016 [acessado 2018 Jan 4];32(Supl. 2). Dis-
do CNPq, bolsa de produtividade de pesquisa de
ponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=s-
Carlos Augusto Grabois Gadelha. ci_arttext&pid=S0102-311X2016001402002&lng=en&
tlng=en
6. Rezende KS. As parcerias para o desenvolvimento produ-
tivo e estímulo à inovação em instituições farmacêuticas
públicas e privadas [Internet] [dissertação]. Rio de Ja-
neiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz; 2013. [acessado 2018 Jan 12].
Disponível em: https://bvssp.icict.fiocruz.br/lildbi/do-
csonline/get.php?id=3508
7. Silva GO. Parcerias para o desenvolvimento produtivo
e aprodução pública de medicamentos: uma proposta
de monitoramento estratégico [Internet] [disserta-
ção]. [Brasília]: Escola Fiocruz de Governo, Fundação
Oswaldo Cruz; 2017. [acessado 2018 Jan 12]. Disponí-
vel em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/
consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalho-
Conclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=5016773
8. Silva GO, Rezende KS. Parcerias para o Desenvolvi-
mento Produtivo: a constituição de redes sociotécnicas
no Complexo Econômico-Industrial da Saúde. Vigilân-
cia Sanitária Em Debate Soc Ciênc Tecnol 2017; 5(1):11-
22.
9. Vargas MA, Almeida ACS, Guimarães ALC. Parcerias
para o desenvolvimento produtivo (PDPs/MS): Con-
texto Atual, Impactos no Sistema de Saúde e Perspecti-
vas para a Política Industrial e Tecnológica na Área da
Saúde [Internet]. Texto para Discussão n. 20 (74p). Rio
de Janeiro: Saúde Amanhã/Fundação Oswaldo Cruz
(74 p.); 2016. [acessado 2018 Jan 12]. Disponível em:
https://saudeamanha.fiocruz.br/wp-content/uplo-
ads/2017/03/saude-amanha-TD-20.pdf
10. Lakatos I. The Methodology of Scientific Research Pro-
grammes: Volume 1: Philosophical Papers. Cambridge:
Cambridge University Press; 1980.
11. Hochman G, Lima NT. Médicos intérpretes do Brasil.
São Paulo: Hucitec; 2015.
12. Gadelha CAG, Maldonado J, Vargas M, Barbosa PR,
Siveira CL. A dinâmica do sistema produtivo da saúde:
inovação e complexo econômico-industrial. Rio de Janei-
ro: Editora Fiocruz; 2012.
1902
Gadelha CAG, Temporão JG
13. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 31. Brasil. Presidência da República. Decreto 6.180, de 4
Conta-satélite de saúde. Brasil: 2005-2007 / IBGE, Co- de maio de 2007. Concede licenciamento compulsório,
ordenação de Contas Nacionais. [Internet]. [acessado por interesse público, de patentes referentes ao Efavi-
2018 Jan 12]. Disponível em: https://biblioteca.ibge. renz, para fins de uso público não-comercial. Diário
gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=deta- Oficial da União 2007; 7 maio.
lhes&id=243010 32. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Ciência,
14. Gadelha CAG. Desenvolvimento, complexo industrial Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE). Parcerias
da saúde e política industrial. Rev Saude Publica 2006; para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) [Internet].
40(n. esp.):11-23. 2018. [acessado 2018 Jan 14]. Disponível em: http://
15. Marx K. O capital: crítica da economia política. São Pau- portalms.saude.gov.br/ciencia-e-tecnologia-e-comple-
lo: Nova Cultural; 1996. xo-industrial/complexo-industrial/parceria-para-o-
16. Marx K, Engels F. O Manifesto comunista. In: Aarão desenvolvimento-produtivo-pdp
Reis Filho D, organizador. O manifesto comunista 150 33. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Ciência,
anos depois. São Paulo, Rio de Janeiro: Fundação Perseu Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE). Economia
Abramo, Contraponto; 1998. p. 7-41. com aquisições das PDP [Internet]. 2017. [acessado
17. Schumpeter JA. Capitalismo, socialismo e democracia. 2018 Jan 14]. Disponível em: http://portalarquivos2.
Vol. 2. Rio de Janeiro: Zahar; 1983. saude.gov.br/images/pdf/2017/maio/11/Economia-e-
18. Keynes JM. O fim do “laizzez-faire (1926). In: Szm- Faturamento-PDP-09-05-2017.pdf
recsányi T, organizador. Jonh Maynard Keynes. São 34. Cassiolato JE, Soares MCC, organizadores. Health In-
Paulo: Editora Ática; 1978. p. 106-126. novation Systems, Equity and Development. Rio de Ja-
19. Furtado C. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio neiro: E-papers; 2015.
de Janeiro: Fundo de Cultura; 1961. 35. Siveira CL, Bahia L, Gadelha CAG. Saúde, desenvolvi-
20. Furtado C. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janei- mento e inovação. Vol. 1 e 2. Rio de Janeiro: CEPESC
ro: Fundo de Cultura; 1964. - IMS/UERJ; 2015.
21. Cordeiro H. A indústria da saúde no Brasil. Rio de Ja- 36. Caderno de Saúde Pública. Editora convidada: Laís
neiro: Graal; 1980. Silveira Costa. [periódico na internet]. 2016.[acessa-
22. Prebisch R. O desenvolvimento econômico da América do 2018 Jan 14]; 32(Supl. 2). Disponível em: http://
Latina e seus principais problemas. Rev Bras Econ 1949; www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pi-
3(3):47-111. d=0102-311X20160014&lng=pt&nrm=iso
23. Freeman C. The ‘National System of Innovation’ in his- 37. Gadelha CAG, Gadelha P, Noronha JC, Pereira TR. Bra-
torical perspective. Camb J Econ 1995; 19(1):5-24. sil Saúde Amanhã: complexo econômico-industrial da
24. Albuquerque E, Cassiolato E. As especificidades do siste- saúde [Internet]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2017.
ma de inovação do setor saúde: uma resenha da literatura [acessado 2018 Jan 14]. Disponível em: https://portal.
como uma introdução a uma discussão do caso brasileiro. fiocruz.br/pt-br/content/brasil-saude-amanha-com-
São Paulo: FeSBE; 2000. plexo-economico-industrial-da-saude
25. Gadelha CAG, Quental C, Castro Fialho B. Saúde e 38. Gadelha C. Política industrial, desenvolvimento e os
inovação: uma abordagem sistêmica das indústrias da grandes desafios nacionais. Lastres HMM, Cassiolato
saúde. Cad Saude Publica 2003; 19(1):47-59. JE, Laplane G, Sarti F, organizadores. O Futuro Desen-
26. Viana ALD, Elias PEM. Saúde e desenvolvimento. Cien volvimento. Campinas: Ed Unicamp; 2016. p. 215-351.
Saude Colet 2007; 12(3):1765-1778.
27. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Mais Saúde: direito de
todos. 2008-2011 [Internet]. Edição especial de lança-
mento. Brasília: Ministério da Saúde.; 2007. 90 p. [aces-
sado 2018 Jan 14]. Disponível em: http://www.saude.
gov.br/bvs
28. Brasil. Decreto de 12 de maio de 2008. Cria, no âmbito
do Ministério da Saúde, o Grupo Executivo do Com-
plexo Industrial da Saúde - GECIS, e dá outras provi-
dências. Diário Oficial da União 2008; 13 maio.
29. Mazzucato M. The entrepreneurial state: debunking
public vs, private sector myths. London, New York, De-
lhi: Anthem Press; 2013.
30. Temporão JG. O Programa Nacional de Imunizações Artigo apresentado em 05/01/2018
(PNI); origens e desenvolvimento. História Ciênc Saúde Aprovado em 30/01/2018
58 Manguinhos 2003; 10(1):601-617. Versão final apresentada em 12/03/2018
CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons