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ISSN 2238-118X

CADERNOS CEPEC
V. 6 N.5 Maio de 2017
REGIÃO AMAZÔNICA: BIODIVERSIDADE E POSSIBILIDADES DE
TRANSFORMAÇÃO INDUSTRIAL.
Dr. Marcelo Bentes Diniz.
Dra. Márcia Jucá Teixeira Diniz.
Me. André Luiz Ferreira e Silva.
Me. Mônica Liseth Cardoso de Barrios.
Erick Bispo Ferreira Lima

Centro de Pesquisas Econômicas da Amazônia


CADERNOS CEPEC
Publicação do Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal do Pará
Periodicidade Mensal – Volume 6 – N° 05– Maio (Especial V Seminário Amazônias) 2017
Reitor: Emmanuel Zagury Tourinho
Vice Reitor: Gilmar Pereira da Silva
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós Graduação: Rômulo Simões Angélica
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas
Diretor: Carlos Alberto Batista Maciel
Vice Diretor: Manoel Raimundo Santana Farias
Coordenador do Mestrado e Doutorado em Economia: Ricardo Bruno Nascimento dos Santos

Editores
José Raimundo Barreto Trindade - Principal
Sérgio Luis Rivero

Conselho Editorial

Armando Lírio de Souza Francisco de Assis Costa Gilberto de Souza Marques


Marcelo Bentes Diniz José Raimundo Trindade Sérgio Luis Rivero
Ricardo Bruno dos Santos Danilo de Araújo Gisalda Filgueiras
Fernandes Márcia Jucá Diniz

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________________________________________________________________________
Cadernos CEPEC
Missão e Política Editorial

Os Cadernos CEPEC constituem periódico mensal vinculado ao Programa de Pós-graduação em


Economia do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da Universidade Federal do Pará
(UFPA). Sua missão precípua constitui no estabelecimento de um canal de debate e divulgação de
pesquisas originais na grande área das Ciências Sociais Aplicadas, apoiada tanto nos Grupos de
Pesquisa estabelecidos no PPGE, quanto em pesquisadores vinculados a organismos nacionais e
internacionais. A missão dos Cadernos CEPEC se articula com a solidificação e desenvolvimento do
Programa de Pós-graduação em Economia (PPGE), estabelecido no ICSA.

A linha editorial dos Cadernos CEPEC recepciona textos de diferentes matizes teóricas das ciências
econômicas e sociais, que busquem tratar, preferencialmente, das inter-relações entre as sociedades e
economias amazônicas com a brasileira e mundial, seja se utilizando de instrumentais históricos,
sociológicos, estatísticos ou econométricos. A linha editorial privilegia artigos que tratem de
Desenvolvimento social, econômico e ambiental, preferencialmente focados no mosaico que constitui
as diferentes “Amazônias”, aceitando, porém, contribuições que, sob enfoque inovador, problematize e
seja propositivo acerca do desenvolvimento brasileiro e, ou mesmo, mundial e suas implicações.

Nosso enfoque central, portanto, refere-se ao tratamento multidisciplinar dos temas referentes ao
Desenvolvimento das sociedades Amazônicas, considerando que não há uma restrição dessa temática
geral, na medida em que diversos temas conexos se integram. Vale observar que a Amazônia Legal
Brasileira ocupa aproximadamente 5,2 milhões de Km2, o que corresponde a aproximadamente 60%
do território brasileiro. Por outro lado, somente a Amazônia brasileira detém, segundo o último censo,
uma população de aproximadamente 23 milhões de brasileiros e constitui frente importante da
expansão da acumulação capitalista não somente no Brasil, como em outros seis países da América do
Sul (Colômbia, Peru, Bolívia, Guiana, Suriname, Venezuela), o que a torna uma questão central para o
debate da integração sul-americana.

Instruções para submissão de trabalhos

Os artigos em conformidade a linha editorial terão que ser submetidos aos editorialistas, em Word,
com no máximo 25 laudas de extensão (incluindo notas de referência, bibliografia e anexos). Margens
superior e inferior de 3,5 e direita e esquerda de 2,5. A citação de autores deverá seguir o padrão
seguinte: (Autor, data, página), caso haja mais de um artigo do mesmo autor no mesmo ano deve-se
usar letras minúsculas ao lado da data para fazer a diferenciação, exemplo: (Rivero, 2011, p. 65 ou
Rivero, 2011a, p. 65). Os autores devem fornecer currículo resumido. O artigo deverá vir
obrigatoriamente acompanhado de Resumo de até no máximo 25 linhas e o respectivo Abstract,
palavras-chaves e Classificação JEL (Journal of Economic Literature).

Este número especial deve-se ao V Seminário Amazônias realizado no período de 20 a 22 de setembro


de 2016, organizado pelo Programa de Pós-graduação em Economia (PPGE) e Observatório Paraense
do Mercado de Trabalho (OPAMET), os artigos publicados foram selecionados para participação no
referido seminário.

Comentários e Submissão de artigos devem ser encaminhados ao


Centro de Pesquisas Econômicas da Amazônia, através do e-mail:
jrtrindade@uol.com.br
Página na Internet: https://goo.gl/UuiC84
Portal de Periódicos CAPES: https://goo.gl/tTKEB4

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REGIÃO AMAZÔNICA: BIODIVERSIDADE E POSSIBILIDADES DE
TRANSFORMAÇÃO INDUSTRIAL

Dr. Marcelo Bentes Diniz1


Dra. Márcia Jucá Teixeira Diniz2
Me. André Luiz Ferreira e Silva3
Me. Mônica Liseth Cardoso de Barrios 4
Erick Bispo Ferreira Lima5
RESUMO
Diversos estudos apontam a região amazônica como uma das regiões de maior biodiversidade biológica do
mundo. A quantidade de espécies animais e vegetais cria pelo menos em termos potenciais a possibilidade de
exploração econômica para diferentes usos em cadeias produtivas relacionadas a diversos setores produtivos,
como os setores de base florestal: madeireiro e não-madeireiro, do qual pode-se incluir, também, a atividade
extrativa vegetal; alimentos e bebidas; aproveitamento de biomassa; higiene pessoal e cosméticos; fármacos e
medicamentos, incluindo, fitoterápicos; entre muitos outros. Todavia, relacionado à sua gênese extrativista, e o
baixo desenvolvimento científico-tecnológico da região (característico do seu Sistema Regional de Inovação
imaturo), poucas são as cadeias produtivas que efetivamente vem incorporando componentes ou produtos da
biodiversidade da Amazônia em uma escala mais significativa de transformação industrial. Este artigo discute
inicialmente a necessidade de uma classificação das atividades econômicas no Brasil, que permita melhor
identificar os setores produtivos industriais “portadores” do aproveitamento da biodiversidade da região. Em
seguida, em análise exploratória, investiga quais esses setores produtivos, e as limitações e gargalos econômicos
para que se alcance outros cadeias produtivas na região. Os resultados apontam que a indústria de alimentos e
bebidas são os setores produtivos que tem obtido maior sucesso no aproveitamento da biodiversidade, embora,
outros setores produtivos apresentem um potencial de crescimento promissor.
Palavras-chave: Amazônia; Biodiversidade; Indústria de Alimentos e Bebidas.

ABSTRACT
Several studies have pointed out the Amazon region as one of the most biodiversity regions of the world. The
quantity of animal and plant species creates at least in potential terms the possibility of economic exploitation for
different uses in productive chains related to several productive sectors, such as the forest-based sectors: timber
and non-timber, which may include, also, the vegetal extractive activity; food and beverage; use of biomass;
personal hygiene and cosmetics; pharmaceuticals and medicines, including phytotherapics medicines; among
many others. However, related to its extractive genesis and low scientific-technological development
(characteristic of its immature Regional Innovation System), there are few productive chains that effectively
incorporate components or products of Amazonian biodiversity into a more significant scale of industrial
transformation. This article initially discusses the need for a classification of economic activities in Brazil, which
allows better identification of industrial productive sectors "carriers" of the region's biodiversity utilization.
Then, in an exploratory analysis, it investigates which these productive sectors, and the limitations and economic
bottlenecks to reach other production chains in the region. The results indicate that the food and beverage
industry is the productive sector that has been most successful in exploiting biodiversity, although other
productive sectors have a promising growth potential.
Keywords: Amazonia; biodiversity; Industry of beverage and food.

1
Prof. Associado da Faculdade de Ciências Econômicas e Programa de Pós-Graduação em Economia da
Universidade Federal do Pará. E-mail: mbdiniz2007@hotmail.com
2
Profa. Associada da Faculdade de Ciências Econômicas e Programa de Pós-Graduação em Economia da
Universidade Federal do Pará. E-mail: marciadz2012@hotmail.com
3
Prof. Assistente da Faculdade de Administração. Doutorando Programa de Pós-Graduação em Economia da
Universidade Federal do Pará. E-mail: andre_econ@outlook.com
4
Doutorando Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Pará. E-mail:
mnc.cardozo@gmail.com
5
Acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Pará. E-mail:
erickbispoferreiralima@gmail.com

4
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6

2. UMA CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA DOS SETORES DA BIODIVERSIDADE .. 8

3. A GÊNESE EXTRATIVISTA DOS PRODUTOS ALIMENTARES DA AMAZÔNIA


.................................................................................................................................................. 13
3.1. Biodiversidade, Domesticação e Diversidade de Produtos ...................................... 14
3.2 Breve Caracterização da Economia Amazônica ........................................................ 17

4 EVOLUÇÃO DOS SETORES “BIODIVERSOS” DA AMAZÔNIA ............................ 27


4.1 – Evolução da Indústria de Bens e Serviços Ambientais .......................................... 27
4.2 – Evolução da Produção Extrativa Não-Madeireira ................................................. 29
4.3 – Evolução da Indústria da Biodiversidade (Classificação Ampla) ......................... 31

5. LIMITAÇÕES ESTRUTURAIS: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO .......... 38


5.1 O Aporte Governamental ............................................................................................ 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 48

5
INTRODUÇÃO
Existe mais de uma interpretação acerca das atividades econômicas ou setores
produtivos, relacionados aos diferentes tipos de serviços ecossistêmicos poderiam
potencialmente oferecer. Esta dificuldade em parte estaria relacionada à sua caracterização,
digamos ecológica, relacionada à sua aderência econômica via mercado.
De fato, partindo da definição de Groot et al,. (2002), os serviços do ecossistema
podem ser considerados como um subconjunto das estruturas de funcionamento dos
ecossistemas e dos processos ecológicos que exercem um largo número de funções e serviços
ambientais. Assim, as funções dos serviços ecossistêmicos exercidas pelos serviços de suporte
e regulação, por exemplo, não ganham um status econômico imediato, seja devido as suas
características de bem público6, seja porque a extensão de seus benefícios é tão grande
(inclusive intergeracional) que torna difícil sua avaliação, especialmente, quanto ao valor de
opção e valor de existência7.
Neste contexto, a literatura econômica, tem dado maior atenção à avaliação econômica
dos serviços ecossistêmicos, quanto as suas “propriedades” enquanto serviços de
fornecimento (provisão) de recursos, a partir do qual, pode-se “extrair” o seu valor de uso
direto e indireto, seja direcionado diretamente ao consumo ou assumindo a forma de matéria-
prima ou insumo básico.
Segundo a estrutura conceitual desenvolvida pelo Millenium Ecosystem Assesment
(2005), o componente de “provisão” dos serviços do ecossistema, que integra toda forma de
alimento, água potável, madeira, fibra, biomassa, entre outros, constitui um elo de ligação
com o bem-estar, em maior intensidade com o fornecimento de elementos materiais básicos
para o desenvolvimento da vida: meios de subsistência adequados, abrigo, aceso a bens e
nutrientes alimentares suficientes; mas também, a segurança, quanto ao acesso seguro a
recursos, segurança pessoal, e segurança quanto a desastres naturais; em uma intensidade
média quanto a garantia a saúde, especialmente, relacionado ao acesso a água e ar limpo; e
por fim em uma intensidade baixa a garantia de boas relações sociais, enquanto instrumento
de coesão social, respeito mútuo e habilidade para ajudar os outros.
Nesta direção, os serviços de fornecimento relacionados, por exemplo, ao setor
florestal, são muito importantes na provisão de recursos florestais madeireiros e não-

6
Como não-rival e não-excludente (Kolstad, 2000; Kahn, 2005).
7
Valor de Opção – é a possibilidade de um individuo optar pela não utilização direta ou indireta do recurso
natural no presente, ao encontro de poder obter um maior benefício potencial futuro do mesmo com sua
preservação. Valor de Existência – valor que as pessoas atribuem a um recurso natural, sem obter de seu
consumo nenhum benefício direto ou indireto da sua utilização. Independe, portanto, de qualquer bem estar que
possa gerar ao homem (Kahn, 2005)

6
madeireiros e como fonte de provisão de alimentos para grande parte de países no mundo,
especialmente, países mais pobres da América Latina e Caribe, África e Ásia.
Segundo a Food and Agriculture Organization of United Nations – FAO (2014), a
contribuição do setor florestal no o valor adicionado atingiu em média em 2011 a 1,1% do
PIB da Ásia e Oceania e 0.9% na África e América Latina e Caribe, podendo ser ainda
superior, quando se considera as atividades produtivas informais. Além do que nessas regiões,
existe uma maior dependência de produtos alimentares oriundos da floresta, com um maior
consumo per capita de alimentos de origem florestal.
É o caso, por exemplo, da provisão de “serviços de fornecimento”, gerados por
ecossistemas florestais, do qual a Amazônia é uma das maiores expressões no planeta. Isto
porque, o que distingue o espaço territorial da região ocupada pelo bioma amazônico é sua
diversidade biológica8, bem como sua grande densidade de biomassa estimada em torno de
300 toneladas por hectare (Veríssimo e Pereira, 2014).
Integram aqui os produtos da sociobiodiversidade, que passaram a ter a partir de 2008
uma atenção especial do Governo Federal, com o Plano Nacional de Promoção das Cadeias
Produtivas da Sociobiodiversidade – PNPSB (CGEE, 2011).
Esta caracterização de “uso” dos serviços ambientais, atrelada, particularmente, ao
chamado setor florestal, mais se aproxima da realidade amazônica, do que propriamente a
ideia da classificação adotada pela OCDE (2009), de uma indústria de “Bens e Serviços
Ambientais” ligada ao setor de transformação industrial e com a característica de “correção
e/ou mitigação de danos ambientais”, em parte causados por afluentes da própria atividade
industrial.
Na realidade, como será discutido ao longo deste artigo, a classificação adotada pela
OCDE (2009), embora em expansão, estas atividades econômicas ainda são pouco
desenvolvidas no Brasil e possui uma localização mais direcionada a própria espacialização
da base industrial do país, particularmente, situada nas regiões Sudeste e Sul do país. A
experiência da indústria dos setores da biodiversidade amazônica tem sido explorada em
maior escala e com efeitos socioeconômicos mais relevantes, em atividades econômicas mais
direta e indiretamente relacionadas à transformação de produtos de alimentação e bebidas,

8
Segundo a Convenção Diversidade Biológica (ONU, 1992), a biodiversidade ou diversidade
biológica diz respeito à variabilidade entre os organismos vivos de todas as fontes, o que inclui:
“...inter alia, terrestrial, marine and other aquatic ecosystems and ecological complexes of which they
are part: this includes diversity within species, between species and of ecosystems. (ONU, 1992, p.5).

7
exatamente, porque .tem menos exigências tecnológicas, formação de mão-obra,
infraestrutura de logística e distribuição do produto final para além das fronteiras dos estados
produtores, entre outros.
O objetivo deste artigo é discutir o desenvolvimento das atividades econômicas
relacionadas ao aproveitamento da biodiversidade na Amazônia, no qual assume particular
importância, os setores de alimentos e bebidas, enquanto elementos representativos da base
produtiva da região e seus condicionantes socioeconômicos, inclusive, relativo ao Sistema
Regional de Inovação, cujas limitações institucionais, reproduzem características de sua
gênese extrativista e, ao mesmo tempo, não possibilitam a incorporação das atividades
potencialmente exploradoras da biodiversidade intensivas em conhecimento e tecnologia e
que exigem maiores investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Ao alcance do objetivo central do artigo, o mesmo encontra-se dividido em mais cinco
seções. A seção dois discute a ausência de uma classificação econômica dos setores da
biodiversidade, que seja mais aderente à realidade da região amazônica. A seção três aborda a
gênese extrativista dos produtos alimentares (setores de alimentos e bebidas) da região. A
quarta seção discute as caraterísticas gerais da economia da região, destacando a importância
dos setores de alimentos e bebidas. A seção cinco introduz as características do Sistema
Regional de Inovação como condicionantes e, portanto, limitantes a exploração de outros
setores produtivos potencialmente intensivos de biodiversidade na região. A última seção faz
as considerações finais do artigo.

2. UMA CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA DOS SETORES DA BIODIVERSIDADE

Goeschl; Swanson (2007) sustentam que a biodiversidade pode ser compreendida


como um input em termos de informações contidas no material genético, que assume a forma
de insumo ou recurso, exatamente porque pode ser usada para realizar pesquisa e
desenvolvimento (P & D) com a finalidade de encontrar novas fontes de produtos para
cadeias produtivas como fármacos e medicamentos, agricultura, entre outros.
Existem diversas classificações e ou tipologias ao encontro de categorizar a atividade
produtiva, sob a perspectiva ambiental. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico – OCDE, criou a nomenclatura de indústria de bens e serviços ambientais, cuja
definição está expressa a seguir: “The environmental goods and service industry consists of
activities wich produce goods and services to mesure, prevent, limit, minimize or correct
environmental damage to water, air and soil, as well as problems related to waste, noise and

8
eco-systems. This includes cleaner technologies, products and services that reduce
environmental risk and minimize pollution and resource use”.
Três seriam os grandes grupos que agregam nesta classificação: o grupo de gestão da
poluição; o grupo de tecnologias e produtos removedores de poluição e o grupo de gestão de
recursos.
A perspectiva da classificação acima se relaciona ao desenvolvimento de setores
produtivos voltados à produção de tecnologia de controle de diferentes formas de poluição;
tratamento e minimização da emissão de efluentes; coleta, transporte e disposição final de
resíduos de caráter doméstico e industrial; recuperação, reparação limpeza de recursos e áreas
degradadas; permitam a utilização de energias renováveis Além disso, reúne, também, os
setores relacionados à recuperação e reciclagem, eco-turismo, atividade florestal sustentável,
abastecimento de água dentre outros.
A classificação da OCDE de bens e serviços ambientais é aderente com o System of
Environmental-Economic Accounting desenvolvido pelas Nações Unidas a partir de 1993,
cujos marcos de referência são: os documentos: Handbook of National Accounting: Integrated
Environment and Economic Accounting (1993); Handbook of National Accounting:
Integrated Environment and Economic Accounting (2003) e System of environmental-
economic accounting 2012: central framework (2012), e no qual define-se neste último
documento dois tipos de atividades ambientais: atividades de proteção ambiental e atividades
de gestão de recursos.
As primeiras relacionadas as prevenção, redução e eliminação da poluição de
diferentes formas de emissão e outras formas de degradação do meio ambiente. Mas, inclui,
também atividades relacionadas à proteção da biodiversidade e das paisagens, inclusive de
suas funções ecológicas; monitoramento da qualidade do meio ambiente natural (ar, água,
solo e água subterrânea); pesquisa e desenvolvimento sobre proteção ambiental; e atividades
de administração pública, treinamento e ensino orientadas para a proteção ambiental. E, por
sua vez, as segundas, voltam-se a preservação e manutenção do estoque de recursos naturais
e, consequentemente, salvaguardá-lo contra a depleção (ONU et al. 2012).
Existe uma correspondência internacional relacionada especificamente às atividades
de despesas e proteção ambiental – CEPA 2000 (Classification of Environmental Protection
Activities and Expenditure), que á adotada no âmbito da União Europeia – European Standart
Statistical e, também uma classificação estatística europeia de resíduos/lixo (European Waste
Classification for Statistics – EWC) utilizada na Comunidade Europeia, que compõem as

9
atividades econômicas que realizam o manuseio de resíduos (lixo), incluindo operações de
tratamento, disposição e reciclagem.
Importa dizer, que a EWC faz uma categorização longa dos resíduos (839 tipos), em
acordo com a fonte, relacionada com o setor econômico ou processo de origem do mesmo.
A classificação adotada pela OCDE (1999), entretanto, apresenta pouca similaridade
ou aderência com a classificação adotada pela Classificação Nacional das Atividades
Econômicas – CNAE, utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
para o Brasil, desde sua versão original até as suas verões mais atuais. Até por que, como
chama atenção ABDI (2012) não existe uma definição acordada internacionalmente e,
tampouco, critérios que estabeleçam as categorias industriais de produtores de bens e serviços
ambientais, inclusive, no âmbito da Organização Mundial do Comércio – OMC.
Outra classificação adotada, também, pelo IBGE, a partir do conceito de “categorias
de uso” (IBGE, 2013) e aplicada na Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física – PIM-PF,
não faz referência a produtos da biodiversidade.
Uma aproximação da classificação adotada pela OCDE (1999) e a classificação da
CNAE, aparece na Atividade de Transformação Industrial, denominada pela CNAE de Seção
C: “Fabricação de máquinas e equipamentos para saneamento básico e ambiental, peças e
acessórios”, ou na Seção E, que trata especificamente de: “Água, esgoto, atividades de gestão
de resíduos e descontaminação”.
Não existe na classificação da CNAE uma subdivisão (seção C) da fabricação de
máquinas e equipamentos ambientais, por grupos específicos de tecnologias, equipamentos e
finalidade de controle da poluição, como no caso da classificação da OCDE. Isto dificulta a
sua identificação mais específica para tentar relacionar com a esta classificação da OCDE.
Observe-se que o Sindicato Nacional da Indústria de Equipamentos para Saneamento
Básico e Ambiental - SIMDESAM, que congregava em 2013, 104 empresas no seguimento,
lista os produtores do setor em três classes: controle de poluição atmosférica; tratamento de
água e efluentes e tratamento de resíduos sólidos. A localização deste segmento industrial está
centrada fundamentalmente no estado de São Paulo, com umas poucas localizadas no Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Pernambuco. O atendimento dos estados
da região amazônica é realizado a partir de representantes comerciais ou a partir de empresas
subsidiárias destas cuja sede fica nestes grandes centros industriais.

10
De outra parte, a classificação da CNAE na Seção A, Produção Florestal, no segmento
Florestas Nativas, que inclui a exploração de recursos/produtos florestais não-madeireiros9,
existem seis subclasses de produtos, que podem ser apontados como decorrentes da
biodiversidade, embora, não diretamente classificados com este nome: extração de madeira;
carvão vegetal; castanha-do-pará; coleta de látex; coleta de palmito; coleta de produtos não-
madeireiros não especificados anteriormente em florestas nativas.
Uma outra classificação usualmente utilizada internacionalmente, diz respeito aos
chamados produtos bio-baseados, que segundo o Comitê Europeu para
Padronização/Normalização – CEN (2014), divide-se entre os bio-baseados em biomasssa
(podendo ser física, química ou biológica), totalmente ou como uma porcentagem da massa
total do produto e os bio-baseados em carbono.
Em termos acadêmicos, o termo assume outras conotações a depender da sua origem,
ou da técnica ou tecnologia utilizada para obtenção de seus componentes, por exemplo,
autores como: ten Kate and Laird (1999); Beattie e Earlich, 2004; Beattie, 2005) definem a
indústria originária da biodiversidade como àquela que fundamentalmente faz uso da
bioprospecção. Embora, como chama atenção Beattie (2005) pode haver situações em que o
próprio organismo é ele mesmo o produto ou este serve como modelo ou inspiração para uma
cópia modificada.
Uma visão mais ampla encampa a visão da chamada “Economia dos Ecossistemas e da
Biodiversidade – TEEB”, sediado no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente. E, ainda no âmbito das Nações Unidas, a própria definição de Economia Verde e o
que seriam os produtos verdes presentes em vários documentos, entre outros no relatório:
“Global Green New Deal (GGND)” (2008). Esta “iniciativa” depois é reforçada no
documento, também da UNEP (2011), “Toward a Green Economy: pathways to sustainable
development and poverty eradication”.
Outras definições são ainda utilizadas no país, para balizar políticas públicas que
decorrem da necessidade de criar marcos legais e de promoção econômico-social de
iniciativas econômicas que utilizem de forma sustentável os recursos da biodiversidade. São
exemplos nessa direção: a Política Nacional de Biodiversidade (Decreto nº 4.339 de
22.08.2002); a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
9
Segundo Calderon (2013) existe também controvérsia em relação à própria definição de Produto Florestal Não
Madeireiro – pfnm. Um grupo de autores considera pfnms como tudo aquilo que é extraído da floresta exclusive
a madeira. Outro grupo de autores integra a esta primeira definição a madeira usada como lenha, forragem para a
criação animal, gramíneas, carvão vegetal, fauna, inclusive, mel de abelha, mas também serviços ecossistêmicos
relacionados ao sequestro de carbono e manutenção de recursos hídricos. Por fim, cita-se, também, a definição
de Myers (1988) que é aderente a primeira definição citada acima, mas agrega também os recursos genéticos.

11
Tradicionais (Decreto nº 6.040 de 07.02.2007) e o Plano Nacional de Promoção das Cadeias
de Produtos da Sociobiodiversidade, lançado em 27 de abril de 2009, que define os produtos
da sociobiodiversidade como: “Bens e Serviços (produtos finais e matérias-primas ou
benefícios) gerados a partir de recursos da biodiversidade, voltados a formação de cadeias
produtivas de interesse de povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares [...]
(MDA; MMA; MDS, 2009 p. 9).
A despeito da classificação adotada, a exploração dos recursos naturais da
biodiversidade pensada em diferentes níveis de intensidade tecnológica e, portanto, quanto à
possibilidade de uso de uma base científico-tecnológica pode levar a classificação das cadeias
produtivas conforme figura 1 a seguir:

Pecuária Higiene Pessoal


Base Científico-Tecnológica (biotecnologia)
Setor de Alimentos
Cosméticos

Agricultura
Fármacos/Medicamentos/
Setor de Bebidas
Fitoterápicos

Silvicultura Recuperação/Tratamento
Setor Florestal
de Resíduos

Móveis Artesanato
Biomassa

Figura 1: Diferentes Cadeias Produtivas da Biodiversidade por Grupos de


Intensidade Tecnológica

A Figura 1 acima disposta, de certo modo, é ilustrativa do argumento principal do


artigo, no qual a exploração dos recursos da biodiversidade da Amazônia tem se limitado
àqueles originários das atividades: pecuária, agricultura e setor florestal, mais intensivas em
trabalho, de baixo desenvolvimento científico e tecnológico, com repercussão restrita em
termos de produtividade, agregação de valor e acessos a mercados fora dos estados
produtores, em geral, com maiores restrições fito-sanitárias e outros tipos de barreiras à
entrada aos respectivos mercados.

12
As possibilidades de exploração dos recursos da biodiversidade, em todas as suas
potencialidades passa, necessariamente, por uma mudança do padrão tecnológico da estrutura
produtiva da região, na direção de incorporação de Ciência e Tecnologia nas Cadeias
Produtivas de potencial uso desses recursos.
A seção a seguir, mostra que uma das características principais no desenvolvimento de
certas cadeias produtivas, que conseguem ter um certo nível de transformação industrial na
Amazônia está relacionado a gênese extrativista destes produtos, em particular produtos que
vão compor segmentos da indústria de alimentos e bebidas.

3. A GÊNESE EXTRATIVISTA DOS PRODUTOS ALIMENTARES DA AMAZÔNIA

Drummond e Souza (2016) assinalam a existência de um processo crescente do


extrativismo na região amazônica, decorrente dentre outros, da criação e implantação das
Reservas Extrativistas – RESEXs; a criação pelo INCRA dos “Projetos de Assentamentos
Extrativistas” – PAEs, depois assumindo a nomenclatura de “Projetos de Assentamentos
Agroextrativistas” e mais tarde dando origem aos “Projetos de Desenvolvimento Sustentável
(PDSs)” e Projetos de Assentamento Florestal (PAFs); a criação das Reservas de
Desenvolvimento Sustentável (RDSs) no contexto da Lei que cria o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação – SNUCs e a criação do Projeto Resex no âmbito do Programa
Piloto de do G7 para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil.
Os autores adotam a classificação da atividade extrativista em duas modalidades: o
extrativismo de baixa tecnologia e o extrativismo de alta tecnologia. A diferença entre estas
duas formas estaria no grau (intensidade) e na abrangência do impacto causado pela atividade
extrativista sobre a floresta e quanto ao produto de seu uso. A primeira se caracterizaria por
uma forma de subsistência ou uso local da produção, mesmo que para a troca direta –
escambo e, com consequências pouco profundas ou em menor escala sobre a floresta e uso da
terra. A segunda seria mais invasiva, pelo menos para permitir uma escala comercial e teria
como principal dinâmica sua produção para exportação e, portanto, assumiriam o caráter ou
status de commodities. São exemplos nessa direção, a castanha-do-pará e a borracha cuja toda
a produção é vendida praticamente in natura, mas também, um número crescente de produtos

13
que são utilizados como matérias-primas a um número crescente de setores industriais como:
óleos e essências vegetais; guaraná, palmito, entre outros10.

3.1. Biodiversidade, Domesticação e Diversidade de Produtos

Na Amazônia, as experiências de extrativismos deram origem a inúmeros exemplos de


domesticação de espécies vegetais (Homma, 2012a; 2012b), utilizadas diretamente como
alimentos in natura ou como algum nível de elaboração, como no caso do açaí, cacau, bacuri,
cupuaçu, pupunha, tucumã, buruti, castanha-do-pará, guaraná, mandioca, pimenta longa,
jambu, palmito, pimenta-do-reino; usos medicinais como: jaborandi, andiroba, copaíba;
salsaparrilha-do-pará; usos industriais como: borracha (látex), jambu, babaçu, juta, patchuli,
entre muitos outros.
Na realidade, a transição de um produto tipicamente extrativo, a partir da coleta ou
extração in natura para a domesticação, enquanto, cultivo, ou manejo regular orientado para
incremento da produção ou produtividade, acontece pela seleção imposta pelo próprio
mercado. A insuficiência de oferta torna a domesticação uma alternativa viável
economicamente quando a demanda impõe a necessidade desse incremento. Todavia, esses
modelos, não são necessariamente substitutos, mas podem ser complementares ao longo da
cadeia do produto.
Homma (2006) assinala que a escassez é o fator que estimula o manejo ou a
domesticação e da mesma forma estimulam a concorrência para criação de substitutos desses
bens extrativos por substâncias sintéticas.
Algumas características das cadeias da biodiversidade, diretamente relacionadas à sua
gênese extrativista são: a) dependência dos ciclos da natureza, com resultados derivados em
termos de dificuldades de padronização da produção, assim como na falta de regularidade na
sua oferta; b) dificuldade de internalizar economias de escopo e de escala, bem como,
elevados custos de transação associados à assimetria de informação, deficiências na
formalização de contratos e dificuldades de transporte e armazenamento; c) baixa agregação
de valor e incorporação de avanços tecnológicos e de inovação, com repercussão sobre a

10
Aqui serão desconsiderados os produtos florestais madeireiros, por se tratar de uma cadeia produtiva mais
específica, embora as espécies madeireiras nativas da região possam ser exemplificadas também como exemplos
de sua biodiversidade.

14
produtividade11 (Enriquez, 2009), acabam sendo transportados, pelo menos em parte, para o
modelo de domesticação implementado, em cada caso.
As características da oferta e a tecnologia média de produção parecem impor o modelo
predominante na exploração dos produtos em cada caso, ou pelo menos em algumas etapas do
processo produtivo. É o caso da exploração de certos produtos da indústria de alimentos e
bebidas como da indústria de palmito, polpa e suco de frutas, guaraná (xarope, pó, bastão)
castanha-do-pará, condimentos (páprica, pimenta-do-reino) e óleos vegetais e essenciais
como: andiroba, copaíba, murumuru, buriti, babaçu, pau-rosa; e; ervas/plantas medicinais
como: o uxi amarelo, unha de gato, catuaba, patuá, chicória, ainda tem forte relação com o
extrativismo à montante em suas cadeias produtivas, embora à medida que o grau de
elaboração se eleva, o que implica maiores investimentos tecnológicos, por exemplo, a
domesticação e o manejo, vão substituindo o extrativismo.
Importa dizer, que as características médias de cultivo, de algumas culturas agrícolas,
embora, possam padronizar e regularizar a oferta e, permitir maior escala no seu
beneficiamento, não conseguem incorporar inovações, de modo que os ganhos de
produtividade são limitados e a agregação de valor até o seu aproveitamento industrial ou
semi-industrial pouco difere do setor extrativista. Assim, mesmo aqueles produtos que entram
no ciclo da atividade industrial apresentam como característica básica uma baixa densidade
tecnológica e grau de transformação industrial, com reduzida agregação de valor
(Vasconcellos; Frickman, 2007). É o caso, por exemplo, do processo semindustrial ou
industrial, realizado por diversas associações e cooperativas, de origem da agricultura
familiar.
A consequência é que a renda não cresce a jusante das cadeias produtivas, aos
pequenos agricultores ou de comunidades extrativistas que exercem o manejo comunitário, na
mesma proporção que cresce a renda a montante.
Também é importante destacar, que existem diversas formas de iniciativas econômicas
de exploração dos recursos da biodiversidade em curso na região amazônica, no qual se pode
classificar em pelo menos cinco grupos: a) as iniciativas de origem comunitária, em que os
produtos originários da floresta derivam da exploração por grupos comunitários, localizados
em áreas protegidas, como, por exemplo, reservas extrativistas; b) iniciativas de parcerias
institucionais, em geral, envolvendo pesquisa e desenvolvimento de produtos, tendo abrigo

11
Por esses motivos, especialmente, que Enriquez (2009) defende que as cadeias produtivas da biodiversidade
não podem ser tratadas da mesma forma, com procedimentos e ferramentas adotas para o tratamento das cadeias
produtivas tradicionais.

15
em universidades e centros de pesquisa. Aqui aparecem, por exemplo, as empresas incubadas,
principalmente dos segmentos de fitoterápicos; dermaceuticos e alimentos; c) iniciativas de
caráter associativista, como cooperativas, formadas para a exploração econômico-comercial
de produtos florestais não madeireiros; d) iniciativas de caráter empresarial, em geral, com
financiamento público; e) inciativas empresariais, de subsidiárias nacionais e transnacionais
em setores como: fitocosméticos, fitoterápicos, nutracêuticos e dermocosméticos, entre
outros.
Entre 2009 e 2010 foram identificadas 325 iniciativas de manejo florestal comunitário
e familiar na Amazônia relacionada à exploração de sete produtos: açaí, andiroba, babaçu,
buruti, castanha-do-brasil, copaíba e látex, com uma localização espacial predominantemente
localizada nos estados do Pará (39%) e Amazonas (27%) (Pinto; Amaral; Amaral, 2011).
As três primeiras iniciativas têm um caráter endógeno e limitada capacidade de
formação de mercado, atuando, portanto, em princípio em mercados locais, mas com forte
movimento de expansão nos últimos anos. Este é o caso, dos produtos da “farmacopeia
regional” estruturada em quatro tipos de mercado (CGGE, 2009): fitomedicamentos;
nutracêuticos; dermocosméticos e fármacos, todos eles organizados a partir do conhecimento
tradicional e voltados inicialmente para o mercado local, mas que vem aos poucos se
integrando as cadeias de mercado nacionais e/ou globais.
As estruturas de mercado dos segmentos de nutracêuticos e dermocosméticos opera
com forte demanda de matéria-prima vegetal e compostos ativos, mas tem escala de produção
mais reduzida, o que torna mais fácil de ser explorado por empresas locais (CGEE, 2009).
Além disso, está menos preso a restrições tecnológicas e da regulamentação imposta pela
ANVISA. São particularmente explorados óleos vegetais extraídos de espécies como:
copaíba, andiroba. Mas também, castanha buruti e guaraná. Todavia, existem poucas usinas
de extração de óleo bruto e indústrias de refinamento de óleos vegetais e a maior parte do
beneficiamento se concentra nas capitais: Belém e Manaus.
Mesmo em setores ou segmentos destes, que são mais intensivos em tecnologia, não
são realizadas todas as etapas do processo produtivo, pelo menos em grande parte das
empresas, ficando estas a carga de suas matrizes situadas fora da região amazônica.
Pode-se dizer que existem pelo menos duas consequências diretas sobre a estrutura
produtiva da forma embrionária como se conforma o Sistema Regional de Inovação da região
amazônica.
A primeira delas é a baixa condição estrutural de gerar inovações, que se interliga a
mais reduzida ainda capacidade de apropriação pelo sistema produtivo das inovações geradas,
16
o que transparece nas poucas patentes requeridas a partir dos agentes localizados na própria
região. E ao mesmo tempo, os inúmeros pedidos de patentes de produtos da biodiversidade da
Amazônia, requeridos por empresas de fora da região. A título de exemplo, Homma (2008)
lista aproximadamente 140 pedidos de patentes de plantas da Amazônia feitos no exterior nos
últimos 30 anos.
Esta seria uma situação em que a vantagem comparativa de inovações de produtos,
relacionada à biodiversidade diferenciada, acaba sendo incorporada ao mercado como uma
vantagem competitiva das empresas fora da região e do país, que patenteiam estes produtos,
como relacionados às suas marcas. Assim, proliferam-se, inclusive, como estratégia de
marketing, várias empresas estrangeiras (nacionais e internacionais) produtos “from
Amazonian” e não “made in Amazonian”.

3.2 Breve Caracterização da Economia Amazônica

Há uma relação muito próxima entre a sociobiodiversidade da região, relacionada aos


seus vários povos autócnes, definidos como populações tradicionais, a saber: índios,
comunidades quilombolas, ribeirinhos e o uso de recursos da vida silvestre e da pesca
(Peixoto; Luz; Brito, 2016), para alimentação e outras aplicações relacionadas às suas
próprias estratégias de sobrevivência. De certo que pode se afirmar, que o bioma amazônico
abriga uma maior proporção da população que é diretamente dependente desta
biodiversidade (Magnusson et al. 2016)
Existem registros de inúmeras indústrias antes da virada do século XX, que passaram a
produzir em escala comercial, com um certo nível de transformação industrial, produtos
originários de espécies nativas, endêmicas da região amazônica.
No estado do Pará, por exemplo, aparecem registros de empresas nos ramos industriais
de alimentos e bebidas; sabões e produtos de limpeza; farmacêutico e cosméticos, cujos:
biscoitos e bolachas; xaropes, licores, refrigerantes de guaraná, aperitivos, sucos; conservas e
geleias; extratos de pimenta; sabões, sabonetes, “água sabonosa”, talcos e artigos de
perfumaria; elixires, preparados laboratoriais, energéticos, tônicos, balsamos, xaropes, e
diferentes fórmulas de produtos farmacêuticos e medicamentos, com composições de
elementos da flora amazônica (Souza; Fonseca, 2015).

17
A evolução dos setores produtivos no século XX, acima mencionados, entretanto, não
conseguiu manter ou mesmo transformar a estrutura produtiva da região, ao encontro da
diversificação e verticalização. Prevalece uma composição setorial do PIB muito dependente
Na realidade, a indústria na região foi impulsionada de forma direta e indireta, pelas
atividades relacionadas ao avanço de sua fronteira de ocupação, como, por exemplo, o setor
florestal madeireiro (Veríssimo; Pereira, 2014), a mineração e a agroindústria. Além desse,
até a metade dos anos de 1970, segundo Kohlheppe (1981), uma embrionária e concentrada
implantação de plantas industriais ocorreu nos estados do Pará, Amazonas e Maranhão,
restringindo-se mais diretamente aos municípios das capitais e aos setores industriais que
representavam a demanda em expansão, como indústria de alimentos, de produção de cimento
e de bens de consumo duráveis e material elétrico, estes últimos mais concentrados na capital
amazonense devido os benefícios da Zona Fraca de Manaus, o que contribuiu, segundo este
autor, para o abandono da indústria de beneficiamento e transformação de “matérias-primas
da região”, a exemplo da borracha e juta.
De outra parte os incentivos econômicos do estado e o alcance da política pública
foram muito limitados até o início dos anos 2000. Assim, nos Planos Plurianuais voltados
para a Amazônia não se mencionava o aproveitamento da biodiversidade como uma
alternativa econômica para a região. Isto só veio a ocorrer no PPA 2002/2003 que previu um
programa específico: o PROBEM que intentava utilizar recursos da biodiversidade a partir de
sua aplicação pela biotecnologia e, investimentos na bioindústria (Andrade; Manzatto, 2014).
Importa dizer, em uma contextualização histórica ao desenvolvimento regional
amazônico, que existe um conjunto de fatores que podem explicar a falta de dinamismo das
economias dos estados que compõem a Amazônia Legal na conformação de uma base
industrial (Cano, 1985): a) a falta de um mercado interno (local), em escala suficientemente
grande; b) a pouca ou inexistente integração a um mercado nacional, para além das fronteiras
da região, devido à ausência ou carência de infraestrutura de transporte e comunicação; c) as
caraterísticas de exploração das atividades econômicas extrativistas, como por exemplo, a
borracha, que não permitiu internalizar/acumular a renda que pudesse ser direcionada a outros
setores produtivos da economia e nem montar um mercado de trabalho assalariado, que viesse
a se constituir em demanda pelos bens produzidos localmente.
A Economia amazônica possui uma estrutura produtiva, ao mesmo tempo, que muito
dependente do setor primário: atividade extrativa e agropecuária, fortemente concentrada no
setor serviços, em particular, dos serviços derivados da administração pública.

18
As Tabelas 1, 2 e 3 a seguir, apresentam participação da Agropecuária, Indústria e do
setor Serviços no Valor Adicionado por estado da Amazônia Legal no período de 2002 a
2012.
Observa-se na Tabela 1, que os estados de maior participação da Agropecuária na
formação do Valor Adicionado Bruto (a preços básicos) são: Mato Gross, Tocantins,
Rondônia e Acre, embora no intervalo da série, 2002 a 2012, a exceção do estado do Mato
Grosso, as posições relativas desses estados se alteram.
Outro movimento interessante no período foi à queda relativa da participação da
agricultura no valor adicionado nos estados de Roraima, Pará, Amapá e Tocantins e em menor
intensidade nos estados do Maranhão e Mato Grosso, que de certo modo acompanham o
comportamento do país, que teve uma redução dessa participação de cerca de 20% entre 2002
e 2012.

19
Tabela 1: Participação da Agropecuária no Valor Adicionado por Estado da Federação da Amazônia Legal – 2002-2012.

P articipação no valo r adicio nado bruto a preço s básico s (%)


A tividades eco nô micas
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Agropecuária
Brasil 6.6 7.4 6.9 5.7 5.5 5.6 5.9 5.6 5.3 5.5 5.3

Rondônia 19.7 23.0 22.0 20.5 19.5 20.3 23.0 23.6 21.5 20.2 20.5

Acre 17.0 19.7 18.4 20.0 16.8 17.2 18.6 17.2 18.9 17.7 18.3

Amazonas 7.2 6.0 4.7 5.2 5.0 4.8 5.4 5.1 6.2 6.9 7.4

Roraima 9.9 10.8 11.0 7.7 7.7 6.7 6.4 5.6 4.7 4.5 4.7

Pará 12.5 11.8 9.0 9.0 9.2 8.6 7.1 7.4 6.6 6.1 7.2

Amapá 4.2 3.0 3.2 3.2 3.8 4.3 3.8 3.2 3.2 3.3 3.2

Tocantins 20.6 27.8 23.7 22.0 18.5 17.8 20.8 20.6 18.1 17.1 16.3

Maranhão 16.2 17.7 18.2 17.8 16.6 18.6 22.2 16.6 17.2 17.5 15.0

Mato Grosso 29.7 31.8 35.3 32.2 25.3 28.1 29.4 28.6 22.1 24.1 28.6
Fonte: Brasil, MPOG, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Contas Nacionais Nº 42, Contas Regionais do Brasil 2012.
Rio de Janeiro: IBGE, 2012..
Disponível em: https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2012/default_xls_2002_2012.shtm. Acesso 12.01.2017

20
Tabela 2: Participação da Indústria no Valor Adicionado por Estado da Federação da
Amazônia Legal – 2002-2012.
P articipação no valo r adicio nado bruto a preço s básico s (%)
A tividades eco nô micas
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Brasil
Indústria 2 7 .1 2 7 .8 3 0 .1 2 9 .3 2 8 .8 2 7 .8 2 7 .9 2 6 .8 2 8 .1 2 7 .5 2 6 .0

Indústria extrativa 1.6 1.7 1.9 2.5 2.9 2.3 3.2 1.8 3.0 4.1 4.3
Indústria de
transfo rmação 16.9 18.0 19.2 18.1 17.4 17.0 16.6 16.6 16.2 14.6 13.0

Co nstrução civil 5.3 4.7 5.1 4.9 4.7 4.9 4.9 5.3 5.7 5.8 5.7

Rondônia
Indústria 13 .9 12 .2 12 .7 13 .9 14 .2 14 .6 12 .4 12 .3 14 .6 19 .0 18 .3
Indústria extrativa 0.4 0.3 0.4 0.2 0.5 0.3 0.2 0.3 0.4 0.7 0.4
Indústria de
transfo rmação 7.5 7.1 6.2 9.6 6.3 6.7 6.2 6.4 8.8 6.4 5.7

Co nstrução civil 5.0 3.5 4.3 2.8 4.2 4.5 4.0 4.2 4.6 11.6 11.1

Acre
Indústria 10 .6 9 .3 14 .5 11.5 12 .9 14 .7 12 .4 12 .7 14 .3 13 .4 11.9

Indústria extrativa 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.1 0.1 0.1 0.0 0.0 0.0
Indústria de
transfo rmação 2.3 2.3 2.7 3.3 3.0 4.8 3.4 2.7 4.2 3.1 2.8
Co nstrução civil 6.9 5.6 10.1 5.6 8.0 7.9 7.5 8.2 8.6 8.6 7.3

Amazonas
Indústria 4 4 .2 4 5 .0 4 6 .7 4 4 .3 4 5 .7 4 2 .5 4 1.4 4 1.5 4 3 .9 4 1.7 3 6 .7
Indústria extrativa 1.9 2.0 2.1 2.6 2.8 2.2 2.7 1.3 1.5 3.1 3.8
Indústria de
transfo rmação 36.6 37.7 37.2 35.7 36.8 32.8 30.7 32.0 33.9 30.5 24.7
Co nstrução civil 5.1 4.7 5.9 5.0 5.0 5.5 5.7 6.0 6.2 5.7 5.5

Roraima
Indústria 11.9 14 .8 10 .3 11.0 10 .9 11.5 12 .7 12 .7 13 .0 11.4 11.2

Indústria extrativa 0.0 0.0 0.1 0.1 0.0 0.3 0.2 0.2 0.3 0.5 0.1
Indústria de
transfo rmação 3.5 2.7 3.7 3.0 2.1 1.8 2.9 2.4 1.8 1.6 1.4

Co nstrução civil 7.2 10.9 4.9 6.4 7.2 7.7 8.2 8.5 9.5 7.9 8.3

Pará
Indústria 3 0 .0 3 1.1 3 3 .4 3 3 .2 3 3 .3 3 1.0 3 6 .3 2 9 .2 4 1.4 4 2 .5 3 7 .6

Indústria extrativa 6.6 6.9 8.1 8.3 7.5 6.4 14.0 9.9 23.5 27.1 22.1
Indústria de
transfo rmação 11.5 11.9 13.4 12.3 13.8 12.4 10.8 8.0 7.0 5.3 5.3

Co nstrução civil 6.6 7.2 6.5 7.4 6.6 6.7 6.8 7.6 7.1 6.2 6.8

Amapá
Indústria 12 .8 13 .3 10 .5 11.4 9 .4 9 .9 9 .4 9 .2 10 .0 8 .1 10 .8

Indústria extrativa 1.1 1.8 0.5 0.7 0.5 1.6 1.1 0.4 1.6 1.4 0.6
Indústria de
transfo rmação 3.5 3.5 4.2 4.0 2.6 2.6 2.8 3.1 2.3 1.9 2.7

Co nstrução civil 6.9 6.3 4.5 5.5 5.4 4.8 4.0 4.4 4.9 3.8 6.3

Tocantins
Indústria 2 3 .3 2 0 .5 2 5 .4 2 7 .5 2 4 .0 2 4 .1 2 3 .6 2 2 .8 2 5 .4 2 1.5 19 .2
Indústria extrativa 0.2 0.2 0.5 0.3 0.3 0.3 0.4 0.4 0.4 0.7 0.5
Indústria de
transfo rmação 2.6 2.2 2.7 3.3 3.8 3.3 3.2 2.5 3.6 3.8 3.4

Co nstrução civil 15.2 12.5 16.3 18.1 14.3 13.6 13.3 14.0 14.7 9.0 7.6

Maranhão
Indústria 16 .7 18 .7 17 .4 17 .2 19 .6 17 .9 16 .9 15 .4 15 .7 17 .5 16 .6
Indústria extrativa 0.3 1.3 2.0 1.9 1.8 1.3 2.7 2.1 2.4 2.5 1.6
Indústria de
transfo rmação 7.3 9.3 7.5 7.1 9.5 8.1 5.9 3.8 3.3 4.4 5.0

Co nstrução civil 7.3 6.3 5.8 6.1 6.0 6.4 6.4 7.3 7.8 8.7 8.1

Mato Grosso
Indústria 17 .2 16 .1 19 .9 18 .7 18 .1 16 .4 15 .9 16 .9 2 0 .6 18 .6 15 .8
Indústria extrativa 0.2 0.2 0.3 0.2 0.2 0.1 0.1 0.1 0.2 0.4 0.4
Indústria de
transfo rmação 9.7 9.0 11.1 10.3 9.2 8.2 8.0 8.9 11.7 10.0 8.3
Co nstrução civil 5.0 3.9 5.5 4.9 5.4 4.7 4.7 4.6 5.6 5.0 4.6

Fonte: Brasil, MPOG, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Contas Nacionais Nº 42, Contas
Regionais do Brasil 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em:
https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2012/default_xls_2002_2012.shtm. Acesso
12.01.2017

A participação no valor adicionado da indústria é menos representativa que a


agropecuária para os estados do Mato Grosso, Rondônia e Acre, enquanto que para os estados
do Amazonas, Pará, Roraima, Amapá, Tocantins e Maranhão, o setor industrial contribui mais

21
para a formação do valor adicionado do que a agropecuária. Entretanto, verifica-se que a
representatividade do setor industrial de cada estado na composição do seu valor adicionado é
menor do que ocorrido para o país no período, a exceção dos estados do Amazonas e Pará.
No primeiro caso, isto é explicado pela presença do Polo Industrial de Manaus - PIM,
que constitui uma base consolidada da indústria de transformação que fora instituída naquele
estado desde 1967 (Decreto-Lei nº 288), com um dos pilares do modelo Zona Franca de
Manaus – ZFM (Diniz et al. 2014).
Assim, gozando de benefícios fiscais tanto federias, como os impostos sobre produtos
industrializados (IPI) e de Importações (II), como estaduais, referente ao Imposto sobre
Circulação de Mercadorias (ICMS), o PIM, concentra pelo menos quinze subsetores da
indústria de transformação com destaque para os Polos: Eletro-eletrônico (celulares,
computadores; eletrodomésticos e eletro-portáteis; Polo Duas Rodas (bicicletas e
motocicletas);
No caso do estado do Pará, assume particular importância a atividade extrativa de
origem mineral, cuja participação na composição do valor adicionado passa de 6,6% em 2002
para 27,1% em 2011 (ainda que tenha caído um pouco em 2012), o que representa um
crescimento de mais de 300% entre essas duas datas.
Ainda, é interessante destacar, que no período em análise, três estados aumentaram a
participação da indústria na composição de seu valor adicionado: RO, AC e PA, quatro
tiveram esta participação regredida: AM, TO, AP e MT e dois mantiveram esta participação
mais ou menos estável: RR e MA, isto é, uma queda de menos um ponto percentual, seguindo
a tendência nacional. Muito embora, a retração da indústria de transformação tenha sido maior
no período, tanto em termos nacionais, como para a grade maioria dos estados da região, com
maior impacto negativo sobre os estados do Amazonas e Pará.
O setor serviço, em especial, as atividades relacionadas à participação do setor
público, é àquela de maior expressão na formação do valor adicionado dos estados da
Amazônia Legal, seguindo o comportamento da média dos estados brasileiros.
A participação do setor serviços no valor adicionado, entretanto, é menor que o
verificado para o país, para os estado do Amazonas, Pará, Mato Grosso e Rondônia.
Entretanto, mesmo para esses estados, à exceção do estado do Mato Grosso, a participação do
setor público é mais significativa para formação do valor adicionado do estado do que em
termos nacionais. Em verdade, esta dependência do setor público cresce nos estados de menor
expressão econômica, como os estados de Rondônia, Acre, Roraima e Amapá, cuja

22
participação dos serviços públicos na composição do valor adicionado é mais do que o dobro
da média nacional.

Tabela 3: Participação dos Serviços no Valor Adicionado por Estado da Federação da


Amazônia Legal – 2002-2012.
P articipação no valo r adicio nado bruto a preço s básico s (%)
A tividades eco nô micas
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Brasil
Serviços 6 6 .3 6 4 .8 6 3 .0 6 5 .0 6 5 .8 6 6 .6 6 6 .2 6 7 .5 6 6 .6 6 7 .0 6 8 .7

Co mércio 10.2 10.6 11.0 11.2 11.5 12.1 12.5 12.5 12.5 12.6 12.7

A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 15.5 15.1 14.7 15.0 15.3 15.5 15.8 16.3 16.2 16.3 16.6

Rondônia
Serviços 6 6 .4 6 4 .7 6 5 .3 6 5 .6 6 6 .3 6 5 .0 6 4 .6 6 4 .1 6 3 .9 6 0 .8 6 1.2

Co mércio 8.1 14.3 15.3 15.4 10.9 12.0 14.2 13.8 14.5 13.5 12.1
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 31.8 27.3 27.1 27.5 31.1 28.8 27.9 28.0 28.3 27.3 28.5

Acre
Serviços 7 2 .4 7 1.0 6 7 .1 6 8 .5 7 0 .2 6 8 .2 6 9 .0 7 0 .1 6 6 .8 6 8 .9 6 9 .8

Co mércio 9.6 10.3 10.0 10.5 9.6 10.2 12.8 11.8 10.8 10.5 10.9
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 36.0 35.6 33.2 33.4 35.8 34.3 33.4 33.5 33.4 35.3 36.2

Amazonas
Serviços 4 8 .6 4 8 .9 4 8 .6 5 0 .5 4 9 .3 5 2 .7 5 3 .2 5 3 .4 4 9 .9 5 1.4 5 5 .9

Co mércio 8.6 9.7 8.9 9.6 8.6 11.3 10.8 10.8 9.8 10.6 10.9
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 17.2 16.8 15.8 16.7 17.0 16.8 17.8 17.8 17.5 17.7 18.8

Roraima
Serviços 7 8 .2 7 4 .4 7 8 .7 8 1.3 8 1.5 8 1.8 8 0 .8 8 1.6 8 2 .2 8 4 .1 8 4 .1

Co mércio 10.4 9.4 12.4 10.0 10.8 10.3 9.9 11.2 12.0 13.3 10.9
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 46.0 43.2 46.6 48.4 48.0 48.4 47.3 47.8 49.7 49.4 50.7

Pará
Serviços 5 7 .5 5 7 .1 5 7 .5 5 7 .9 5 7 .5 6 0 .5 5 6 .6 6 3 .5 5 2 .0 5 1.5 5 5 .2
Co mércio 8.7 9.7 11.6 10.4 11.0 12.0 11.4 13.0 10.1 9.5 10.4
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 18.8 18.8 17.3 17.9 17.2 18.4 17.7 20.6 17.6 17.1 18.8

Amapá
Serviços 8 3 .0 8 3 .7 8 6 .3 8 5 .4 8 6 .8 8 5 .8 8 6 .8 8 7 .5 8 6 .8 8 8 .6 8 5 .9
Co mércio 11.7 12.0 12.8 12.4 15.0 14.1 15.3 13.7 12.1 12.4 11.8
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 41.6 43.2 45.1 45.9 45.5 44.8 46.2 46.1 48.1 48.7 47.3

Tocantins
Serviços 5 6 .1 5 1.7 5 0 .9 5 0 .6 5 7 .4 5 8 .1 5 5 .6 5 6 .6 5 6 .5 6 1.4 6 4 .4

Co mércio 8.5 9.0 11.0 9.6 10.4 12.1 12.6 12.0 12.2 11.9 13.0
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 22.3 20.5 20.3 21.4 24.6 24.5 23.8 24.4 25.4 29.2 29.4

Maranhão
Serviços 6 7 .1 6 3 .6 6 4 .5 6 5 .0 6 3 .8 6 3 .5 6 0 .9 6 8 .1 6 7 .1 6 4 .9 6 8 .4

Co mércio 12.2 12.8 13.1 15.4 13.4 13.6 14.0 16.1 15.5 15.1 19.0
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 21.2 20.6 19.5 19.1 19.9 20.7 19.6 23.0 23.7 22.1 21.4

Mato Grosso
Serviços 5 3 .1 5 2 .1 4 4 .8 4 9 .2 5 6 .6 5 5 .5 5 4 .7 5 4 .5 5 7 .3 5 7 .3 5 5 .7

Co mércio 9.9 14.3 13.0 13.3 12.6 13.5 16.7 16.0 14.8 16.6 17.2
A dministração , saúde e
educação públicas e
seguridade so cial 14.4 12.6 10.5 12.2 15.2 14.3 13.5 13.8 15.6 14.5 14.0

Fonte: Brasil, MPOG, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Contas Nacionais Nº 42, Contas
Regionais do Brasil 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em:
https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2012/default_xls_2002_2012.shtm. Acesso
12.01.2017

23
Em termos de representatividade nacional na composição do valor adicionado do país,
o setor agropecuário é o que atinge maior expressão, puxado, particularmente, pela
representatividade no setor no estado do Mato Grosso, conforme pode ser visualizado nas
Figuras 1 e 2.
O recorte temporal dos dois momentos, 2002 e 2011, demonstra um crescimento da
participação relativa da Amazônia nos três macrosetores: agropecuária, indústria e serviços. O
primeiro, com um crescimento dessa participação relativa em cerca de 20%, o segundo em
mais de 30% e o terceiro de mais de 100%. Observe-se, também, que praticamente todos os
estados e em todos esses macrosetores ocorreu um incremento dessa participação relativa no
período em análise.
Ressalte-se, que particularmente em relação ao incremento da participação dos estados
da Amazônia no setor industrial, estes dados corroboram a tendência observada por Diniz
(1995) em décadas anteriores, que verificou uma elevação contínua dessa contribuição entre
as décadas de 1970 e 1990.

35,00

30,00

6,40

25,00

6,80
20,00

% Serviços
% Indústria
15,00
% Agropecu ária

10,00
18,10
1,20
0,90
1,60
5,00
1,00 2,00 1,10
0,70 6,60
2,30
3,40 0,50
0,30 0,30
0,30 2,70
0,20
0,10 1,60 0,30 1,60 0,20
0,10 1,20
0,00 0,50 0,10
0,20 0,30

Figura 1: Participação Relativa dos Estados da Amazônia Legal no Valor Adicionado


Nacional Setorial em 2002.
Fonte: IBGE, 2014. Elaboração dos autores.

24
45,00

40,00
12,90
35,00

30,00
9,00
25,00 % Serviços
% Indústria
20,00 % Agropecuária

15,00

1,60 21,70
10,00 1,20
1,80
1,20 1,30
5,00 3,50 0,80 8,00
2,30 0,60
0,50 5,50
2,50 2,60 0,40
0,40 4,20
0,20
0,10
0,70 1,90 0,30
0,10 0,10
0,20 1,50
0,00
AC AM AP PA RO RR TO MA MT Amazônia

Figura 2: Participação Relativa dos Estados da Amazônia Legal no Valor Adicionado


Nacional Setorial em 2011.
Fonte: IBGE, 2014. Elaboração dos autores.

Também importa verificar a estrutura da indústria na região. A Tabela 4 apresenta a


distribuição dos setores produtivos da indústria extrativa mineral e indústria de transformação
por estado da Amazônia Legal, segundo sua participação no valor adicionado industrial bruto,
onde se observa que aproximadamente um terço do valor da produção industrial para o ano de
2013 correspondeu aos setores de alimentos e bebidas.

25
Tabela 4: Distribuição das Principais Atividades Produtivas entre os Estados da Amazônia Legal, Segundo a Participação na Formação do Valor
Bruto da Produção Industrial (2013)
Valor bruto da produção industrial (1000 R$) - 2013
Porcentagem
Total
Rondônia Acre Amazonas Roraima Amapá Mato Grosso Pará (%)

Extrativista Mineral 375,782.00 (x) 1,851,122 7,073 811,517 758,677 23,554,730 27,358,901 18.53%

Produtos Alimentares 4,540,043.00 411,653 810,275 50,273 80,307 23,254,940 5,351,658 34,499,149 23.37%

Bebidas 193,166.00 91,736 7,739,264 10,238 220,802 1,365,945 664,541 10,285,692 6.97%

Fumo (x) (x) (x) (x) (x) (x) 2,208 2,208 0.00%

Textil 4,413.00 (x) 19,573 - (x) 431,702 54,934 510,622 0.35%

Vestuários, calçãdos e atefatos de tecido 32,755.00 2,864 90,307 895 2,379 45,151 40,139 214,490 0.15%

Couros e Peles, artefatos para viagem 89,735.00 (x) (x) (x) - 389,776 215,533 695,044 0.47%

Madeira 375,681.00 58,581 84,198 22,760 89,908 1,071,817 1,908,506 3,611,451 2.45%

Papel e Papelão 5,189.00 - 494,271 - - 17,813 548,491 1,065,764 0.72%

Editorial e gráfica 23,659.00 3,591 1,113,659 2,675 7,020 131,724 69,502 1,351,830 0.92%

Química 62,267.00 5,852 1,183,186 (x) (x) 4,190,630 650,934 6,092,869 4.13%

Produtos farmacêuticos veterinários 3,555.00 (x) 38,825 (x) - (x) 2,219 44,599 0.03%

Borracha / Produtos de Matérias Plásticas 30,738.00 12,528 2,544,928 (x) (x) 506,858 180,502 3,275,554 2.22%

Transformação de não metálicos 421,713.00 47,842 656,073 9,464 42,441 808,243 1,630,731 3,616,507 2.45%

Metalurgia 241,962.00 (x) 1,705,052 - - 67,905 5,518,031 7,532,950 5.10%

Mecânica 241,603.00 (x) 4,961,038 (x) 9,532 635,720 795,446 6,643,339 4.50%

Material Elétrico de comunicações 2,599.00 (x) 27,504,045 (x) (x) 70,068 9,343 27,586,055 18.69%

Material de Transporte 69,120.00 965 12,485,866 (x) 1,576 45,729 90,782 12,694,038 8.60%

Mobiliário 25,667.00 3,714 85,317 - 1,075 188,896 250,453 555,122 0.38%


Total 147,636,184.00
Fonte: Rodriguez (2015).

26
4 EVOLUÇÃO DOS SETORES “BIODIVERSOS” DA AMAZÔNIA

4.1 – Evolução da Indústria de Bens e Serviços Ambientais

Segundo a ABDI (2012) o Brasil ainda é um importador líquido de bens e serviços


ambientais, sendo provido, principalmente pela França, EUA, Alemanha, Canadá e outros
países, que compreende quatro grandes setores: remediação do solo, poluição do ar; água e
esgoto e resíduos sólidos.
Tomando inicialmente como referência a classificação da OCDE (exclusive o setor
florestal), a Tabela 6 apresenta o número de empresas produtoras de bens e serviços
ambientais nos anos de 2006 e 2014 na Amazônia, considerando sua aderência a Classificação
Nacional das Atividades Produtivas – CNEA 2.0 (seção E).
Percebe-se que ocorreu um aumento expressivo de atividades econômicas relacionadas
a este tipo de indústria que passou de 379 em 2006 para 822 empresas em 2014,
representando, portanto, um incremento de mais de 115% entre os dois anos. Com aumentos
mais expressivos em números absolutos para os estados do Mato Grosso, Maranhão e Pará
(Tabela 5).
No contexto da classificação acima, os setores com crescimento mais expressivos são:
comércio de reciclados, especificamente, comércio atacadista de resíduos e sucatas; como
também, os serviços de coleta de resíduos não-perigosos; captação, tratamento e distribuição
de água e a construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e construções
correlatas. Atividades, cujo crescimento, acompanhou a média da elevação nacional.
Observe-se, que estas atividades concentram-se predominantemente nos municípios
das capitais e suas regiões metropolitanas. Além disso, enquanto a “oferta” dos serviços de
água e saneamento é realizada, principalmente, por empresas públicas da administração direta
estadual, os serviços relacionados à coleta e tratamento de resíduos são realizados de forma
mais distribuída em entidades públicas e da iniciativa privada. As principais empresas
estaduais de prestação de serviços de água e saneamento são (SNIS, 2015): Companhia de
Água e Esgoto do Amapá – CAESA; Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento
– DEPASA no Acre; Manaus Ambiental e Companhia de Saneamento do Amazonas –
COSAMA no Amazonas; Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia – CAERD em
Rondônia; Companhia de Águas e Esgotos de Roraima – CAER em Roraima; Companhia de
Saneamento do Pará e Serviço Autônomo de Água e Esgoto – SAAE no Pará; CAB
Ambiental e Serviço Autônomo de Água e Esgoto – SAAE no Mato Grosso.

27
De outra parte, em acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB
2008, a região Norte apresentava o maior percentual de prestadoras dos serviços de manejo
dos resíduos sólidos vinculadas à administração direta do poder público, seguido por
empresas privadas atuando sob o regime de concessão pública ou terceirização. Ademais, os
serviços de manejo dos resíduos sólidos compreendem a coleta, a limpeza pública bem como
a destinação final desses resíduos, e exerciam um forte impacto no orçamento das
administrações municipais, podendo atingir 20,0% dos gastos da municipalidade.

Tabela 5: Número de Empresas da Amazônia Produtoras de Bens e Serviços Ambientais


RO AC AM RR PA AP TO MA MT
2006 2014 2006 2014 2006 2014 2006 2014 2006 2014 2006 2014 2006 2014 2006 2014 2006 2014
Captação, Tratamento e Distribuição de água 4 9 7 11 23 26 1 1 67 76 2 1 5 7 32 43 35 52
Construção de Redes de Abastecimento de água, Coleta de
esgoto, e Construções Correlatas 2 12 0 0 2 8 0 1 4 15 0 3 6 18 2 13 10 23
Gestão de Redes de Esgoto 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0
Coleta de Resíduos Não-Perigosos 7 16 2 3 12 19 1 5 15 36 4 9 4 20 6 28 22 59
Coleta de Resíduos Perigosos 0 7 0 0 0 3 0 0 2 4 0 3 0 0 1 8 0 5
Tratamento e Disposição de Resíduos Não-Perigosos 1 2 0 0 0 1 0 0 0 2 0 0 0 1 0 1 0 0
Tratamento e Disposição de Resíduos Perigosos 0 1 0 1 0 5 0 0 0 3 0 0 0 5 0 4 0 3
Descontaminação e Outros Serviços de Gestão de Resíduos 1 1 0 1 0 4 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 1 3
Comércio Atacadista de Resíduos e Sucatas 15 28 5 5 8 17 3 4 19 52 1 5 2 13 8 29 33 84
Total 30 76 14 21 45 83 6 12 109 189 7 21 18 64 49 127 101 229
Fonte: Rais/MTE. Elaboração dos Autores.

Considerando o peso das despesas com saneamento e meio ambiente no total das
despesas orçamentárias municipais, aspecto importante da demanda por bens e serviços
ambientais, observa-se na Tabela 6, que muitos estados da região amazônica possuem um
volume de gastos acima da média nacional a despeito de sua menor capacidade financeira
relativa em relação aos municípios situados nas regiões mais desenvolvidas do país: Sudeste e
Sul. Ademais, em face dos maiores déficits observados nestas regiões nos setores de coleta,
tratamento e disposição de resíduos sólidos, domésticos e industriais; tratamento de águas
residuais; tratamento de água e esgoto; remediação do solo e recuperação de águas
contaminadas e controle da poluição atmosférica, estes setores teriam uma demanda
insatisfeita grade nos estados da região.

28
Tabela 6: Percentual Orçamentário das Despesas Municipais com Saneamento e Meio
Ambiente
% Despesa com Meio Ambiente em % Despesa com Saneamento em
Relação ao Total das Despesas Totais Relação ao Total das Despesas Totais
Estados 2006 2008 2010 2006 2008 2010
Rondônia 0,39 0,26 0,31 0,36 0,44 1,05
Acre 0,72 1,08 1,62 3,30 3,88 3,21
Amazonas 0,58 0,57 0,43 1,29 0,90 0,82
Roraima 0,34 0,16 0,14 4,88 2,57 7,77
Pará 0,59 0,58 0,51 2,43 2,51 2,11
Amapá 0,82 1,54 3,53 1,32 0,79 0,02
Tocantins 1,11 0,54 1,94 0,84 1,05 1,38
Maranhão 0,28 0,31 0,13 3,56 1,79 3,36
Mato Grosso 0,17 0,34 0,29 3,83 3,37 3,35
Brasil 0,74 0,80 0,84 2,84 2,81 3,04
Fonte: ABDI, 2012.

Todavia, considerando a falta de aderência da classificação acima a realidade


Amazônia, como já discutido em seção anterior, nas seções a seguir serão verificadas a
evolução dos setores produtivos importantes para a biodiversidade sob diversas classificações
e perspectivas.

4.2 – Evolução da Produção Extrativa Não-Madeireira

Dos 25 produtos extrativistas registrados pelo IBGE no Censo Agropecuário de 2006


(IPEA, 2013), as estatísticas oficiais do IBGE, na publicação denominada de Produção da
Extração Vegetal e Silvicultura – PEVS, fazem referência regular a produção extrativa de 32
produtos denominados de Produtos Florestais Não Madeireiro, mas com apenas cinco
produtos que podem ser identificados diretamente a biodiversidade da Amazônia: açaí (fruto);
castanha-do-brasil (castanha-do-pará); borracha, piaçava e óleo de copaíba, palmito e fibra de
buriti.
Em uma análise para os estados do Amazonas, Pará e Rondônia, entre os anos de 2005
e 2008, Costa et al. (2010), observaram um comportamento diferente na evolução da produção
de açaí, castanha-do-brasil (castanha-do-pará), palmito, borracha e óleo de copaíba. Assim,
enquanto a produção de açaí cresceu no período analisado para todos os estados e a castanha-
do-pará caiu, entretanto, para os demais produtos o comportamento oscilou, com alguns
estados observando crescimento e outros, decrescimento.
A dinâmica própria da evolução dos diferentes produtos florestais não-madeireiros da
região, embora, com certas características comuns, quanto a baixa elasticidade-preço da oferta

29
e da demanda (Calderon, 2013), que se traduz em uma produção extrativa relativamente
constante, parece se reproduzir na evolução mais recente da produção extrativa na região.
De fato, o gráfico 1, apresenta a evolução recente (2010-2015) dos produtos extrativos
não-madeireiros, subdividindo-os, ainda, em dois grupos: alimentícios e oleaginosas, cuja
estagnação pode estar refletindo a fase de declínio do ciclo de vida do produto extrativo como
definido em Homma (1993).

400.000,00

350.000,00

300.000,00

250.000,00

200.000,00

150.000,00

100.000,00

50.000,00

0,00
2010 2011 2012 2013 2014 2015

Alimentícios Oleaginosos Total produção extrativista não madereira

Gráfico 1: Evolução da Produção Extrativos Não-Madeireiros na Amazônia – 2010-2015.


Fonte: SIDRA/IBGE, 2017.

Vale observar, que Costa (2010), em uma análise para o estado do Pará, observou um
conjunto de produtos não madeireiros bem mais amplo, que ficavam “invisíveis às estatísticas
oficiais”, mas expressivos em termos do valor bruto da produção e renda bruta gerada. Nesta
direção, embora a “economia do açaí” esteja em expansão, com uma cadeia produtiva cada
vez mais integrada e crescente verticalização, que vai desde a comercialização do açaí batido,
produção de polpa, bebidas energéticas preparadas, complementos alimentares
(nutracêuticos), sobremesas, entre outros, não existe registro da exportação do açaí no sistema
Aliceweb, e mesmo de informações mais consistentes de sua cadeia produtiva (FBB, IICA,
2010).

30
4.3 – Evolução da Indústria da Biodiversidade (Classificação Ampla)

Nesta seção adota-se uma estratificação a partir da classificação adotada pela CNAE
2.0, com a participação de 13 (treze) setores da indústria de transformação a três dígitos: Da
Indústria de Fabricação de Produtos Alimentícios, reunindo: i) preservação do pescado e
fabricação dos produtos do pescado; ii) fabricação de conservas de frutas, legumes e outros
vegetais; iii) fabricação de óleos e gorduras vegetais; iv) laticínios; v) moagem, fabricação de
produtos amiláceos e de alimentos para animais; vi) fabricação de outros produtos
alimentícios. Da indústria de Fabricação de Bebidas, subdividida entre: vii) fabricação de
bebidas alcóolicas e viii) fabricação de bebidas não-alcóolicas; ix) a indústria de fabricação de
produtos de madeira. Além dos setores de: x) fabricação de biocombustível; xi) fabricação de
sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene
pessoal; xii) fabricação de produtos farmacêuticos; xiii) fabricação de produtos de borracha.
A classificação acima foi denominada de classificação ampla, porque utiliza os setores
produtivos classificados pela CNAE (Classe), que utilizam uma base de insumos naturais que
são originários na região e, portanto, mesmo que indiretamente derivam de sua
biodiversidade. Em uma designação genérica pode-se chamar esses segmentos industriais
como portadores de biodiversidade.
As Tabelas 7 e 8 apresentam o número absoluto de empresas e de empregos na
indústria de alimento e de bebidas nos anos de 2007 e 2014.
Pela Tabela 7, observa-se que as atividades de transformação de maior participação em
termos do número de estabelecimentos, quanto em número de empregos, é a indústria de
alimentos que utilizam a biodiversidade da região são: fabricação de outros produtos
alimentícios, que inclui a produção de a fabricação de biscoitos e bolachas, produtos
derivados de cacau e chocolate e a fabricação de especiarias, molhos, temperos e
condimentos, todos setores de atividade que transformam recursos vegetais da região como
castanha-do-pará, tucupí, jambu, tucumã, uarini, goma de tapioca, chicória (coentrão),
alfavaca, palmito, páprica, pimenta de cheiro, frutos entre outros.
Vale observar, que em um panorama geral, entre os anos de 2007 e 2014 ocorreu um
crescimento em termos absolutos do número estabelecimentos e empregos da indústria de
alimentos na Amazônia, sendo os estados do Pará e do Mato Grosso, os estados líderes nesse
processo. Destacam-se no estado do Pará, os segmentos de preservação e conservação do
pescado, o segmento de fabricação de conservação de frutos, legumes e outros vegetais e
fabricação de óleos e gorduras vegetais e animais.

31
Quanto à indústria de fabricação de bebidas (Tabela 8), observa-se um crescimento da
indústria de fabricação de bebidas não-alcóolicas, em detrimentos do decrescimento da
indústria de fabricação de bebidas alcóolicas. Este primeiro, com muitos produtos oriundos da
domesticação de espécies da região como o guaraná, ou elaborados a partir de ingredientes
regionais, com é o caso da indústria de sucos, que utiliza furtas como açaí, bacuri, taperebá,
cupuaçu, bacuri, graviola, entre outros.
O aproveitamento de frutos e oleaginosas na indústria de alimentos e bebidas deriva de
diversos níveis de processamento industrial e tecnologia de produção. Observa-se como caracterização
geral, um grupo grande e pulverizado de empresas de pequeno porte, baixo desenvolvimento
tecnológico e qualidade de insumos, intensivas em mão-de-obra, produtividade reduzida e voltada para
o mercado local. No entanto, a região comporta grandes empresas dos dois setores produtivos, que
utilizam tecnologia de ponta, como por exemplo, polpas de frutas desidratadas (em pó); extratos secos
de plantas, entre outros, direcionada, entre outros a segmentos de mercados como: suplementos
alimentares, nutrição humana, nutrição animal, princípios ativos, vitaminas, atendendo tanto o
mercado local, mas também, em nível nacional e, mesmo direcionada a exportação.
. Outra indústria de grande representatividade da biodiversidade da região é a indústria
madeireira (Tabela 9), que beneficia muitas espécies vegetais endêmicas da região.

32
Tabela 7: Indústria de Fabricação de Produtos Alimentícios (Biodiversidade)
Preserv. e Conserv. de Prod. Pescado Fab. de Conserv. de Frutas, Leg. Outr. Veg. Laticínios Moagem, Fab.de Prod. Amil. e Alim. para
Fab.Animais
Outros Prod. Alim. Fabricação de Óleos e Gorduras Vegetais e Animais
UF 2007 2014 2007 2014 2007 2014 2007 2014 2007 2014 2007 2014
Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab
RO 31 2 208 8 133 35 115 43 2.206 156 3.028 171 563 210 1.331 129 694 174 1.103 247 48 5 90 4
AC - 1 - 1 6 12 145 26 192 35 161 38 95 20 313 31 287 63 332 96 14 1 23 3
AM 261 28 249 21 138 31 319 49 343 63 498 65 237 36 489 36 2.295 278 3.399 351 67 7 0 4
RR 5 1 - - 15 7 10 6 62 20 106 20 186 25 172 15 99 52 148 59 0 0 0 1
PA 1.625 51 1.240 51 1.310 208 2.379 302 1.412 171 2.430 232 1.820 158 1.448 155 3.598 444 5.469 690 4521 40 2284 35
AP 11 6 83 14 72 30 66 29 16 8 208 9 4 6 - 3 275 56 423 112 0 2 0 0
TO - - 35 5 19 10 8 13 549 114 659 87 521 192 991 122 502 127 688 172 265 6 152 11
MA 6 5 4 6 17 29 115 41 345 84 593 118 389 189 1.072 163 832 260 1.985 439 184 34 182 37
MT 84 6 31 12 110 57 222 68 1.596 358 2.391 318 2.193 578 3.612 533 1.234 375 2.296 534 1716 44 2521 59
Amaz. 2.023 100 1.850 118 1.820 419 3.379 577 6.721 1.009 10.074 1.058 6.008 1.414 9.428 1.187 9.816 1.829 15.843 2.700 6.815 139 5.252 154
Fonte: Rais/MTE.
Tabela 8: Indústria de Fabricação de Bebidas (Biodiversidade)
Fabricação de Bebidas Alcóolicas Fabricação de Bebidas Não Alcóolicas
2007 2014 2007 2014
UF Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab
RO 806 315 526 221 1.087 29 1.213 37
AC 113 45 46 22 397 12 570 16
AM 1.080 84 952 46 2.208 30 2.542 43
RR 341 35 508 41 207 5 104 5
PA 1.857 317 1.857 273 2.165 67 2.121 73
AP 108 25 89 22 438 5 340 5
TO 825 221 1.196 296 268 30 179 33
MA 1.623 302 2.167 287 1.384 41 2.619 45
MT 3.404 562 3.115 558 5.720 221 5.947 228
Amaz 10.157 1.906 10.456 1.766 13.874 440 15.635 485
Fonte: Rais/MTE.

33
Tabela 9: Indústria de Fabricação de Outros Produtos da Biodiversidade
Fabricação de Produtos de Madeira Fabricação de Biocombustível Fabricação de Produtos de Borracha
2007 2014 2007 2014 2007 2014
UF Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab
RO 10.478 1.288 7.809 1.083 198 11 165 10 281 36 280 35
AC 1.009 189 705 183 105 2 73 4 84 8 81 10
AM 2.069 458 1.548 385 - 3 11 2 133 19 849 15
RR 401 139 587 91 1 1 98 3 14 4 16 2
PA 33.643 2.325 20.688 1.970 594 8 649 10 396 44 571 64
AP 489 90 319 82 - 2 - - 23 5 30 8
TO 479 312 746 353 95 14 1.163 13 119 17 133 25
MA 2.197 721 1.434 533 1.396 8 2.898 9 290 33 328 31
MT 20.610 3.946 15.775 3.523 4.140 57 5.108 65 980 98 1.049 117
Amaz 71.375 9.468 49.611 8.203 6.529 106 10.165 116 2.320 264 3.337 307
Fonte: Rais/MTE.

34
Pode-se agrupar o setor: de fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza,
cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal, juntamente com o segmento de
fabricação de produtos farmacêuticos (Tabela 10), como àqueles de maior intensidade
tecnológica e que demandam, portanto, maiores investimentos em P, D & I na região.
Como pode ser observado na Tabela 11, estes setores ainda são pouco desenvolvidos
na região, tanto em número de estabelecimentos como número de empregos, embora com uma
evolução significativa no período de 2007 a 2017.
Um gargalo substancial na região diz respeito à indústria de insumos químicos para
cosméticos, que pode ser estratificada em quatro segmentos (ABDI, 2015): ingredientes ativos
(polipeptídeos, biomiméticos, ativos clareadores, outros); ingredientes funcionais novos e
patenteados (filtros solares, extratos vegetais, outros); semi-commodities (lanolina, ésteres,
glicóicos, ésteres emolientes, outros) e commodities como álcoois graxos. E cuja localização
da produção industrial está associada diretamente ao mercado consumidor e de fatores como
custo do investimento, disponibilidade de infraestrutura, qualificação de recursos humanos,
aparato institucional adequado ao estímulo da pesquisa e garantia de propriedade intelectual,
entre outros (ABDI, 2015). Grande parte desses requisitos, inda, muito tímidos ou
insuficientes na região amazônica
Por outro lado, por suas caraterísticas e abrangência a indústria de cosméticos
comporta muitas segmentações. Assim, por exemplo, pode-se pensar prioritariamente em
produtos relacionados ao embelezamento (estética), do qual derivam os produtos relacionados
à aparência, cuidados com o corpo e a saúde, mas também, relacionados ao retardamento do
envelhecimento. Aqui aparecem toda uma linha de produtos anti-idade, anti-sinais, anti-rugas,
de rejuvenescimento. Pode-se pensar em uma segmentação por área do corpo a ser
utilizada/aplicada, tais como, produtos para pele, higiene corporal, produtos para o cabelo,
protetores solares, produtos para depilação, produtos para os olhos, boca (lábios), cílios,
sobrancelhas, pé, mão, unhas, entre outros. E, ainda, uma segmentação para fins mais
específicos, como por exemplo, produtos de maquiagem, produtos de perfumaria, produtos de
higiene oral. Por fim, pode-se pensar em uma segmentação por tipo de produto como: cremes,
batons, pastas, óleos, antioxidantes, colágenos, ácidos retinóicos, glicólicos, peeling, botox,
gel, entre outros.
De outra parte a cadeia produtiva pode ser pensada por pelo menos oito agentes,
atuando de forma isolada ou integrada em uma mesma empresa. São eles, segundo Miguel
(2007, 2012): produtores de matérias-primas, que fornecem os insumos vegetais na forma
bruta ou com algum nível de beneficiamento. Aqui aparecem os insumos naturais como:

35
óleos, extratos, corantes naturais, resinas, fibras, manteigas de origem vegetal e animal, como
também, àqueles de origem da indústria química, mas em nível básico; produtores
secundários: que incluem os fornecedores de máquinas, equipamentos, utensílios, embalagens
e rótulos, mas também insumos químicos processados (princípios ativos ou químicos);
Centros e Institutos e Empresas de Pesquisa, responsáveis em grande parte pela pesquisa e
desenvolvimento (P&D) de matérias-primas e/ou insumos industrializados; Indústrias de
Produtos Finais e Empresas Terceirizadas, que engloba os fabricantes de produtos acabados,
com marcas e redes de subsidiárias próprias; Distribuidores, incorporando os canais de
distribuição interna e/ou exportação de insumos e produtos acabados; Licenciadores e
Reguladores, formada pelos órgãos responsáveis pela regulamentação técnica e normativa,
aprovação de registro, fiscalização e controle das atividades; Certificadores, composto por
empresas de origem pública ou privada, responsáveis pela certificação do produto, desde a
origem, processo de comercialização em consonância com as exigências legais e de qualidade;
Varejistas, inclui a rede do comércio varejista dos produtos acabados; Consumidor Final.
O caso do setor de biocosméticos e dermacêuticos, relacionado ao setor de produtos de
higiene pessoal, perfumaria e cosméticos é bem representativo. Pode-se, por exemplo, citar os
casos das empresas: Granado e Chamma da Amazônia, a primeira com mais de 80 anos e a
segunda com mais de 50 anos atuando no mercado local. Recentemente a Natura criou uma
base produtora de insumos naturais na Região Metropolitana de Belém.
Em uma análise para o estado do Amazonas Sousa et al. (2014) identificam cinco
grandes grupos de segmentos que exploram a biodiversidade neste estado: Alimentos e
bebidas, com uma representatividade de 42%; artesanato regional, com participação de
22,2%; madeiras, móveis e artefatos, compreendendo 22,6%; fitocosméticos e fitoterápicos
com uma participação percentual de 8% e polo cerâmico, representando 6%.

36
Tabela 10: Indústria de Biodiversidade – Intensiva em Tecnologia
Fab. Sab., det., prod. Limp., cosm., prod. perf. e hig. Pessoal Fabricação de Produtos Farmacêuticos
2007 2014 2007 2014
UF Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab Empregos Estab
RO 54 36 149 34 6 4 6 5
AC 22 13 48 13 4 2 0 2
AM 123 39 510 33 88 10 425 5
RR 19 4 19 2 0 2 0 0
PA 707 54 1.351 72 80 23 24 8
AP 59 6 35 4 1 1 16 1
TO 12 28 12 17 11 8 2 2
MA 752 68 1.090 50 16 13 2 4
MT 329 84 297 81 4 24 9 8
Amaz 2.077 332 3.511 306 210 87 484 35
Fonte: Rais/MTE.

Uma outra dimensão da importância dos setores industriais da biodiversidade na


região amazônica pode ser obtida a partir da participação relativa destes no total de
estabelecimentos e de empregos nacionais em cada segmentos. A figura 3 e 4 apresentam,
respectivamente, esta participação relativa, por setor industrial, respectivamente, considerando
o número de estabelecimentos e o número de empregos para os anos de 2007 e 2014.

35,00

30,00

25,00 13,13%
20,00 6,26% 4,99%
9,68%
15,00 15,95% 16,96%
13,24% 12,00%
10,00
11,94%
5,00 15,48% 8,35% 5,56% 5,05% 10,95%
14,12% 7,57
5,09% 3,12%
0,00 6,81% 10,05% 11,63% 14,38% 7,57%
5,46% 6,24%
6,24

2007 2014

Figura 3: Participação Nacional no Número de Estabelecimentos dos Setores Industriais


Biodiversos da Amazônia 2007 e 2014.

37
Nos anos de 2007 e 2014, os segmentos industriais Biodiversos da Amazônia mais
representativos em termos nacionais eram: preservação do pescado e fabricação dos produtos
do pescado; Fabricação de Bebidas Não-Alcóolicas e Fabricação de Produtos de Madeira.

40,00
35,00
30,00
25,00
6,88% 15,70% 8,42%
20,00
15,00 11,05%
10,00 4,21% 7,86% 6,89% 4,15% 16,50%
5,00 15,43% 19,61% 7,18% 3,87%
5,90%
0,00 7,23% 3,52% 8,17% 18,60%
8,38%
2,97% 3,12%
0,27% 3,34% 3,34
2,51% 2,51 2014
2007

Figura 4: Participação Nacional no Emprego dos Setores Industriais Biodiversos da


Amazônia 2007 e 2014.

5. LIMITAÇÕES ESTRUTURAIS: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Judice (2014) menciona pelo menos seis características necessárias à organização


bioindustrial entre agentes públicos e privados indispensáveis ao desenvolvimento do setor:
pesquisa científica universitária; desenvolvimento de micro e pequenas empresas startups, em
geral, gestadas a partir da pesquisa universitária ou dos departamentos de P & D de empresas
(spin-offs); a presença de grandes empresas dos ramos químicos e farmacêuticos atuantes no
mercado de produtos das “ciências da vida”; existência de investidores de capital de risco;
formação de aglomeração industrial em clusters industriais no setor; estados e governos
interventores ao encontro de ações de promoção, suporte, proteção, indução desses clusters
bioindustriais.

38
Na base desses elementos é necessário um conjunto de pesquisas que apontem na
direção de investimentos e desenvolvimento tecnológico em bioprospecção, conforme figura a
seguir:

Figura 1: Modelo Conceitual Simplificado de Algumas Atividades de Pesquisa Ligadas


Diretamente com a Biodiversidade.
Fonte: Magnunsson et al. (2016).

São muitas as exigências (restrições) técnicas e legais com relação às possibilidades de


uso das matérias primas naturais da biodiversidade, desde o seu transporte, que a Autorização
para Transporte de Produtos Florestais (ATPF), que é de responsabilidade do IBAMA, o
desenvolvimento e comercialização de produtos (Lei de Propriedade Intelectual nº 9.279), a
realização de cultivares (Lei de Proteção de Cultivas nº 9.456), mas que também ficam
sujeitas a Lei nº 10.742, que dispõe sobre a vigilância sanitária, quando se tratar do
desenvolvimento de medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos,
saneantes entre outros, a Resolução RDC nº 48 da ANVISA, quando se trata do registro de
medicamentos fitoterápicos. Além da Medida Provisória nº 2.186-16, conhecida como Lei da
Biodiversidade.
Duas outras exigências são importantes, segundo Lasmar (2005), a necessidade de
aprovação e adoção de planos de manejo, quando da exploração comercial de plantas
medicinais, e a autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), ligado

39
ao Ministério do Meio Ambiente, para que uma empresa privada faça a coleta da
biodiversidade brasileira com fins comerciais.
Para Lasmar (2005) as possibilidades de exploração dos recursos da biodiversidade
dependem diretamente da interação das empresas, institutos de pesquisa & desenvolvimento;
governo e organizações não governamentais. Assim, relaciona-se ao grau de desenvolvimento
do Sistema de Inovação que permite utilizar esses recursos em níveis de intensidade
tecnológica e agregação de valor. Nas palavras de Carlsson et al. (2002), um Sistema de
Inovação pode ser visto e analisado em diferentes dimensões. Essas dimensões podem se dá a
nível nacional, regional, setorial ou mesmo tecnológico.

Fonte: Lasmar (2005)

O Sistema Regional de Inovação – SRI pode, então, configurar-se como atividades de


pesquisa e desenvolvimento proporcionadas pelas universidades e centros de pesquisa em
conjunto com as empresas, como iniciativas internas e a partir dos relacionamentos com as
unidades de pesquisa e de produção de conhecimento. O governo, por sua vez, pode atuar de
forma externa via mecanismos e fontes de financiamento direto à empresa, ou nas
universidades e centros de pesquisa. Mas, por outro lado, o governo pode criar estruturas,
como laboratórios, empresas públicas voltadas à realização de pesquisa e desenvolvimento, ou
mesmo exercer parcerias com setor privado para criar empresas e ou produtos.
A cooperação entre o governo, universidades e institutos de pesquisa e empresas
formam a base de um modelo inicialmente sistematizado nos trabalhos de Etzkowitz e
Leydesdorff (1998) denominado de Triple Helix e constituindo-se como a base da inovação.
Em verdade, segundo Ranga; Etzkowitz (2013) uma relação “tripla” entre universidade,
indústria e governo numa Sociedade do Conhecimento.

40
Mais especificamente, o modelo da Triple Helix funciona a partir do relacionamento
recíproco entre universidade, a indústria e o governo, no qual cada um tenta melhorar o
desempenho do outro, na direção de promover a inovação. A Triple Helix envolve a
colaboração entre as esferas institucionais mais envolvidas com a inovação, cada qual em seu
papel tradicional, entretanto, ganha uma dinâmica de espiral, quando existe uma
transformação interna nestas instituições havendo uma sobreposição de funções, mas sem
perder sua identidade principal, em que a produção de novos conhecimentos e novas
tecnologias se torna o elemento fundamental na dinâmica da inovação e, no desempenho da
economia (Etzkowitz, 2009). Um exemplo dessa inversão de papéis, em relação à
universidade, é que esta sem perder o seu papel de formar, preservar e transmitir o
conhecimento passa a treinar organizações em incubadoras e aceleradoras de empresas, bem
como indivíduos em sala de aula, ou mesmo quando ela exerce a função de transferência de
tecnologia.
Por este relacionamento poder resultar na inversão de papéis, o sistema permanece em
constante transição entre os mecanismos de coordenação bilateral e trilateral, que podem se
integrar e se diferenciar, ao encontro de potencializar as sinergias entre eles (Leydesdorff,
2012).
Concorrem de forma positiva no fortalecimento da rede de relacionamento e nesta
dinâmica de inovação trilateral, as experiências das incubadoras de empresas e parques
tecnológicos, abrigadas em Universidades e Institutos de Pesquisa, que juntos propiciam um
ambiente de desenvolvimento econômico e tecnológico (Lasmar et al., 2014), que integra
tanto uma estrutura física, como de convergência de competências organizacionais, de
pesquisa e produção de conhecimento, necessários ao suporte da criação da inovação e do
empreendedorismo inovador.
Nesta direção, verifica-se que a criação de cursos de ensino superior, em nível de
graduação e pós-graduação (Stricto Sensu) é relativamente nova na região, onde quase a
totalidade deles originários na primeira década do ano 2000. A Rede Bionorte, criada em 2008
pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação e Comunicações em parceria com as
Secretarias de Ciência e Tecnologia dos estados da Amazônia Legal, foi um marco importante
na direção da formação de mestres e doutores com foco na biodiversidade e biotecnologia.

41
Quadro 1: Cursos de Ensino Superior – Graduação e Pós-Graduação Stricto Sensu nas Áreas
de Biodiversidade e Biotecnologia, nos Estados da Amazônia Legal
Institução Curso Nível Sede Data
Universidade Federal do
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Mestrado/Doutorado ICB/UFPA/Belém 2013/2014
Pará - UFPA
Graduação em Biotecnologia Graduação ICB/UFPA/Belém 2012
Graduação em Engenharia de Bioprocessos Graduação ICB/UFPA/Belém 2016
Programa de Biodiversidade e Conservação Mestrado Campus Altamira 2014
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia Doutorado Belém 2017
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais* Mestrado/Doutorado Belém 2005/2011
Universidade Federal Rural
Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas** Mestrado Belém 2011
da Amazônia - UFRA
Museu Paraense
Emílio Goeldi Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Evolução Mestrado/Doutorado Belém 2016
Técnico Manaus
Bacharelado Coari 2009
Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica Mestrado/Doutorado Manaus 2005
Universidade Federal do Programa Multi-institucional em Biotecnologia Mestrado/Doutorado Manaus 2002
Amazonas - UFAM Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na
Mestrado/Doutorado Manaus 2011
Amazônia
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia Doutorado BIONORTE
Ciências e Tecnologia para Recursos Amazônicos Mestrado ICET - Itacoaticara 2013

Fundação Universidade Biodiversidade e Biotecnologia Doutorado BIONORTE


Federal de Rondônia - UNIR
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais Mestrado Porto Velho 2012
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical Mestrado/Doutorado 2006
Universidade Federal do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais Mestrado 2006
Amapá - UNIFAP Graduação em Ciências Ambientais Bacharelado Macapá 2008
Biodiversidade e Biotecnologia Doutorado BIONORTE
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Amazônia Mestrado Boa Vista 2012
Universidade Federal de
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia Doutorado BIONORTE
Roraima - UFRR
Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais Mestrado/Doutorado Boa Vista 2004/2017
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia Doutorado BIONORTE
Universidade Federal do Programa de Pós-Graduaçãoe em Ecologia e Manejo dos Recursos Naturais Mestrado Rio Branco 2002
Acre - UFAC Programa de Pós-Graduação em Ciência, Inovação e Teconologia para a
Mestrado Rio Branco
Amazônia #
Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia Graduação Gurupi 2009
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais Doutorado Gurupi 2013
UFT
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Mestrado Gurupi 2013
Programa de Pós-Graduação em Biologia, Ecologia e Conservação Mestrado Porto Nacional 2010
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Biodiversidade Doutorado Rede Pró-Centro Oeste## 2013
UFMT
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade Mestrado/Doutorado 1993/2011
Fonte: INEP e Endereço eletrônico dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu das respectivas
Universidades. Elaboração dos Autores.
Nota: * Parceria da Universidade Federal do Pará com o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Embrapa -
Amazônia Oriental;
** Parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi;
*** Compõem a rede, a Universidade Federal do Acre - UFAC; Universidade Estadual do Amapá;
Universidade Estadual do Amazonas – UEA; Universidade Federal do Maranhão - UFMA; Universidade
Estadual do Mato Grosso - UNEMAT; Museu Paraense Emílio Goeldi; Fiocruz Noroeste (Ro); Universidade
Federal de Roraima - UFRR; Universidade Federal do Tocantins – UFT;
# Intergra o Programa a parceria institucional da EMBRAPA Ocidental e FIOCRUZ de Rondônia;
## A Rede Pró-Centro Oeste envolve 10 instituições de ensino daquela região: UnB; UCB; UCDB;
UFMT; UFMS; UNEMAT; UFGD; PUC Goiás e UFG. O curso assume assim formato de rede, com cada edição
disponibilizando um número de vagas as instituições que a compõem.

42
De outra parte, o histórico da participação das Fundações de Apoio Científico e
Tecnológico na região Amazônica é recente, com a grande maioria delas sendo criada a partir
da primeira década do ano 2000, a exceção da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Mato Grosso – FAPEMAT, instalada em 1997. Esta data mostra uma atraso significativo com
relação à criação de FAPs nos estados mais desenvolvidos do país, que entre as décadas de
1960 e 1980 deram origem as suas Fundações de Amparo a Pesquisa: São Paulo – FAPESP,
1960; Rio Grande do Sul – FAPERGS, 1964; Rio de Janeiro – FAPERJ, 1980; Minas Gerais –
FAPEMIG, 1985.
Também, a evolução das Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos e
Fundações de Apoio a Pesquisa na região amazônica é muito recente, com algumas
experiências muito pontuais na década de 1990, mas que ganha corpo só na segunda metade
da primeira década do século XXI. São exemplos:
i) Criação da Rede Amazônica de Instituições em Prol do Empreendedorismo e da
Inovação – RAMI, 2001;
ii) Incubadora do Instituto Federal do Amazonas – IFAM (á época de sua criação
CEFET-AM), 2002;
iii) Incubadora da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica –
FUCAPI, 2002;
iv) Incubadora de Negócios Martha Falcão, 2010;
v) Incubadora de Negócio do Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA,
vi) Cide – Centro Integrado de Desenvolvimento Empresarial Ltda;
vii) CD Tech – Centro de Desenvolvimento Empresarial e Tecnológico (UFAM),
viii) Indef – Incubadora de Design Fucapi,

O número de doutores na região ainda é insuficiente na região, embora venha


crescendo de forma significativa, especialmente, na primeira década do ano 2000. Como pode
ser verificado na Tabela 11, o número de doutores para cada 100 mil habitantes na região,
como média dos estados da Amazônia (Legal), representava cerca de 59% da média nacional
em 2010. Esta mesma relação no ano 2000, alcançava o percentual de 27%, o que significa
uma elevação de cerca de 100% desta participação.

43
Tabela 11: Número de Doutores por 100 mil habitantes por Estado da Amazônia Legal
UF 2000 2002 2004 2006 2008 2010
RO 5,42 8,47 12,16 15,76 18,91 24,91
AC 5,77 7,15 10,48 17,83 20,73 27,22
AM 9,55 14,59 21,01 26,74 31,96 37,50
AP 0,62 1,35 2,17 6,85 10,60 12,67
PA 5,43 8,30 10,74 13,31 15,05 21,50
RO 2,44 2,25 5,39 7,27 8,30 15,99
RR - 21,10 21,17 26,91 40,21 43,74
TO 2,57 4,59 12,30 15,45 22,723 30,54
MA 2,67 3,43 4,28 5,46 7,02 10,35
MT 3,09 7,75 14,79 20,68 28,20 39,89
Amazônia 4,42 7,20 10,62 13,91 17,34 23,53
RJ 31,36 34,97 49,83 56,58 62,52 76,20
SP 27,27 31,75 43,12 49,49 54,58 60,54
Total 16,15 19,48 26,49 31,03 35,22 42,29
Fonte: CNPq/AEI

5.1 O Aporte Governamental

Os investimentos diretos em pesquisa, ciência e tecnologia na região tem evoluído de


forma positiva, entretanto, sua participação relativa ainda é diminuta, apenas 5,62% do total
realizado, tendo chegado em 2007 a 8,7%.

10,00

8,00
Participação %

1998
6,00
8,00 2001
1,59 8,72
4,00 0,17 2,70 1,77
2,65
5,62
0,12 2,54 0,13 8,41 2004
0,36 2,39 3,562,64
0,03 0,18 0,16 0,30
2,00 0,222,20 0,21 0,30 0,36 0,97
0,77 0,09 0,37 1,25 5,81 2007
0,11 0,12 2,28 0,18 0,49
1,46 0,28 0,56 0,74
0,11 0,10 0,21 0,72
0,00 1,63 0,09 0,16 0,50 2010
0,00 0,05 0,97
0,30 0,15 4,27
0,50
0,00 0,10 0,33 2013
0,42
0,24

Figura 4: Participação Relativa dos Investimentos em Ciência e Tecnologia


Fonte: CNPq/AEI
Notas: inclui recursos dos fundos setoriais, bolsas de curta duração e recursos repassados as FAPs, relativos
a bolsas de Iniciação Científica Junior.

44
Entretanto, cotejando os investimentos diretos do governo federal brasileiro em ações
e programas diretamente relacionados à biodiversidade, Andrade; Manzatto (2014) estimam
que a soma, das rubricas elencadas, representava no orçamento de 2013 cerca de 0,026%
desses gastos diretos totais e, isto sem diferenciar os recurso por bioma, de sorte que à
Amazônia se destinou um valor percentual ainda menor do que este.
Segundo Lasmar (2005) são iniciativas ao encontro do aproveitamento da
biodiversidade no Brasil:
a) A criação da Associação Brasileira para o Uso Sustentável da Amazônia –
BIOAMAZÔNIA, em 1997;
b) O Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da
Biodiversidade da Amazônia – PROBEM, derivado na necessidade do país aderir a
“Iniciative Biotrade” instituída na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento – UNCTAD, que tinha como objetivos (Lasmar, 2005, p.7): (a)
pesquisar e desenvolver recursos da biodiversidade, passando pelas fases de coleta de
amostras até preparo de extratos; e (b) determinar as propriedades desses recursos;
c) O Programa de Biotecnologia e Recursos Genéticos – GENOMA do Ministério de
Ciência e Tecnologia – MCT;
d) O programa Biodiversidade em Recursos Genéticos (BIOVIDA) do Ministério do
Meio Ambiente – MMA;
e) A criação do Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA;
f) Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (BIONORTE) - 2008;
g) Rede Brasileira de Biotecnologia, no âmbito da Sociedade Brasileira de Biotecnologia
– SSBIOTEC

O marco regulatório tem evoluído na direção de aperfeiçoar o acesso e o uso dos


recursos da biodiversidade, inclusive, em relação ao patrimônio genético. Podem ser citadas
nesta direção: a Medida Provisória (MP) 2186-16, de 23 de agosto de 2001 (editada
originalmente como Medida Provisória 2.052, de 29 de junho de 2000) que definiu: os
procedimentos para obtenção das “autorizações”, de competência da União, de acesso ao
patrimônio genético (PG) e ao conhecimento tradicional associado (CTA), para fins de
pesquisa científica, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico, inclusive, de remessa para
o exterior. Ademais, esta medida provisória permitiu a criação do Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético – CGEN, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, como órgão

45
responsável por essa autorização, entre outras atribuições, efetivado a partir de 2002
(Azevedo, 2005). A “Nova Lei da Biodiversidade”, Lei No 13.123, de 20 de maio de 2015,
regulamentada, pelo Decreto No 8.772, de 11 de maio de 2016.
Importa dizer, que se verifica um crescimento positivo do número de autorizações
concedidas, bem como, da repartição dos benefícios anuídos pelo CGEN desde 2003 até 2015,
como pode ser observado no gráfico a seguir:

500
400
300
200
100
0
2003 2004
2005 2006
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
2015

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Autorizações Concedidas pelo CGen 16 62 210 133 16 36 135 102 219 177 352 360 489
Contratos de Repartição de Benefícios
0 0 3 5 12 2 1 1 4 34 35 38 159
Anuidos pelo CGen

Fonte: Brina (2016).

Um dos principais obstáculos apontados pelo marco regulatório, da antiga Lei da


Biodiversidade (2001), estava relacionado à dificuldade operacional do modelo bilateral
(usuário-provedor) que esta adotava em vez que a identificação das partes envolvidas era uma
tarefa nada trivial (ABDI, 2015).
Por fim, pode-se afirmar que uma das consequências do frágil e embrionário Sistema
de Inovação Regional da Amazônia (Suzigan et al, 2011), e mais especificamente, quanto ao
objeto desse estudo, o Sistema Regional, mas também, Setorial de Inovação, em relação às
potencialidades de exploração de recursos da biodiversidade, se manifesta, no número de
empresas de biotecnologia e biociências instaladas na região. A Tabela 12 mostra a
distribuição geográfica dessas empresas por grande região do país, com participação relativa
da região Norte, ainda, relativamente pequena ao total nacional, não representando nem 10%
do seu total em 2009.

46
Tabela 12: Distribuição do Número de Empresas de Biotecnologia e Biociências por Região
Brasileira
2001 2007 2009
biotecnologia biociências biotecnologia biociências biotecnologia biociências
Norte e Nordeste 9 - 4 11 9 20
Centro-Oeste 16 - 4 8 6 13
Sudeste 246 - 57 143 80 182
Sul 27 - 6 19 15 38
S/informação 6 - - - - -
Total 304 - 71 181 110 253
Fonte: Biominas 2001, 2007, 2009 apud Bianchi (2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A classificação do setor produtor de bens e serviços ambientais, adotada pela OCDE é
pouco aderente aos setores produtivos industriais que exploram os recursos da biodiversidade
na região Amazônica, que guarda muita relação com a origem extrativista de muitos produtos
nativos da região. Assim, não se tem uma referência internacional para a classificação mais
específica dos setores produtivos industriais que sejam por assim dizer, portadores da
biodiversidade da região, de sorte que parte dos resultados econômicos gerados pelo
aproveitamento desses recursos não aparecem nas estatísticas oficiais, ou pelo menos são
encobertos, devido à falta de aderência da classificação adotada na CNAE (IBGE).
Os resultados apresentados a partir da investigação dos dados oficiais da relação Anual
de Informações Sociais – RAIS (estabelecimentos e emprego) do Ministério do Trabalho e
Emprego – MTE, apontaram que a indústria de alimentos e bebidas, particularmente, nos
seguimentos de alimentos: fabricação de outros produtos alimentícios, que inclui a produção
de a fabricação de biscoitos e bolachas, produtos derivados de cacau e chocolate e a
fabricação de especiarias, molhos, temperos e condimentos, com maior participação em
termos do número de estabelecimentos, quanto em número de empregos, que utilizam a
biodiversidade da região.
No setor de bebidas destaca-se, especialmente, o segmento de bebidas não-alcóolicas
como a atividade industrial que vem ganhando maior expressão na região, com o
desenvolvimento da produção de sucos, que utilizam a rica variedade de frutos da região.
Entretanto, embora a indústria de alimentos e bebidas, seja bastante representativa na
geração do valor adicionado na região, esta reflete sua característica, enquanto setor
produtivos de menor grau de intensidade tecnológica, em consonância com o ainda incipiente

47
Sistema de Inovação Regional. Assim, o alargamento das possibilidades de aproveitamento da
biodiversidade biológica da região, em outras cadeias produtivas que incorporem a
transformação industrial, passa, necessariamente, pelo desenvolvimento do Sistema Regional
de Inovação, com a criação de uma base de crescimento científico-tecnológico contínuo,
assentada na pesquisa, ciência e inovação. Essa é, certamente, a ponte para que a Amazônia
saia da condição de “potencial de exploração de recursos de sua biodiversidade” e a
transforme em elementos reais alavancadores do desenvolvimento da região.

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Recebido para avaliação em 20/02/2016.


Aceito para publicação em 20/04/2017.

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