O material brevemente analisado neste trabalho é Português para
estrangeiros I - Curso Básico - Material para os alunos. Trata-se de uma apostila
elaborada na faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora sob a coordenação da professora Denise Weiss. Tal material se encontra disponível no blog da coordenadora, cujo nome é oportuguesdobrasil. Na apresentação de referido blog, encontramos o seguinte comentário:
Este blog é um repositório de textos para uso de alunos e bolsistas dos
projetos orientados pela professora Denise Weiss na Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele contém materiais didáticos produzidos no âmbito da UFJF, destinados ao uso de alunos estrangeiros de Português nessa instituição. Esse material tem sido usado nas aulas de PLE da UFJF e está disponível para quem quiser fazer uso dele.
Tendo em vista que não há um texto de apresentação na apostila em
questão, o que impossibilita o reconhecimento da autoria do material, esse comentário nos permite inferir que Português para estrangeiros I é fruto, muito provavelmente, de uma relação de orientação entre a coordenadora e os bolsistas. Ao observarmos o blog, encontramos versões mais antigas, adaptações e atualizações do material, ou seja, está em constante reelaboração. Optamos pela versão de 2015 por ser não só a primeira versão a que tivemos acesso, mas por propor-se a tratar dos pronomes oblíquos átonos em nível básico de ensino. Em um primeiro momento, concentramos nosso olhar sobre o sumário a fim de identificar em que momento, a nível de progressão da apresentação dos conteúdos, os pronomes oblíquos átonos são introduzidos. A apostila está dividida em espécies de pequenas lições que tratam sobre temas predominantemente gramaticais como “pronomes pessoais + verbo ser”, “pronomes possessivos”, “verbo estar”, “verbo ser” etc. Há quarenta e um tópicos no sumário. Os oblíquos se encontram mais ao final da apostila, sendo o foco da trigésima lição: Uso dos pronomes ligados ao verbo. Nessa seção, faz-se uma apresentação do que é colocação pronominal, dos pronomes oblíquos e das três posições que podem assumir em relação ao verbo: próclise, ênclise e mesóclise. Em seguida, vemos as regras de colocação pronominal com base na gramática normativa, de acordo especificamente com o contexto linguístico. Por exemplo, em relação à próclise, explica-se em que posição os pronomes devem ser inseridos em relação ao verbo e, logo, são apresentadas palavras atratoras dos pronomes oblíquos como palavras com sentido negativo, advérbios, pronomes relativos etc. Esse padrão se repete para a ênclise e para a mesóclise: indicam qual é a posição do pronome e qual é o contexto linguístico em que costuma ocorrer. É curioso que se tenha intitulado a seção de Uso dos pronomes ligados ao verbo. Geralmente, a palavra uso se associa a ideia de contexto extralinguístico, gênero textual, função comunicativa. O que se vê, no entanto, é uma descrição ou uma indicação puramente gramatical de onde e como devemos inserir os pronomes na sentença. Quanto aos exercícios, vemos uma sintonia com a forma com que o conteúdo foi apresentado: se compõem de uma sequência de frases soltas em que há um elemento que pode ser substituído por pronomes oblíquos átonos. Os alunos devem reescrever as frases, substituindo as palavras destacadas pelos pronomes correspondentes. Levando em conta as diferentes abordagens de ensino desenvolvidas ao longo da história, percebemos algumas semelhanças com a abordagem da gramática e da tradução (AGT). Ainda que não se faça tradução, a estrutura da lição se assemelha com o que se propunha à época da AGT. Toma-se inicialmente conhecimento das regras e, em seguida, são apresentados exemplos. Por fim, há uma sequência de exercícios para que as regras sejam postas em prática. Há uma preocupação evidente: objetiva-se apresentar o conteúdo de acordo com a norma padrão da língua. Como vimos no texto de apresentação do blog, tal material se destina ao uso de alunos estrangeiros de Português da UFJF. Muito possivelmente alunos intercambistas que fazem parte do corpo discente da universidade, carecendo, dessa forma, de um conhecimento específico para a produção de textos acadêmicos. O material talvez não seja apropriado para aulas de nível básico nas quais se prioriza o uso oral da língua. Pabst e Othero (2014, p.227) recorrem a Bagno e sinalizam que “a ocorrência de ele/ela/eles/elas no lugar de o/a/os/as é muito maior”, ou seja, há uma tendência a substituirmos os pronomes oblíquos por pronomes pessoais do caso reto ainda que em função de complemento verbal, e, além disso, sinalizam que “as ocorrências de objeto nulo são maiores ainda”. Há, de fato, uma dissonância entre o que se usa no dia a dia e o que indica a gramática normativa. Pensamos, portanto, que este modelo de material é bastante produtivo como material de apoio, uma vez que permite aos alunos não só conhecerem as regras gramaticais exigidas em textos mais formais, mas também exercitá-las.
Referências:
LEFFA, Vilson J. Metodologia do ensino de línguas. In BOHN, H. I.; VANDRESEN,
P. Tópicos em lingüística aplicada: O ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1988. p. 211-236.Disponível em: <https://leffa.pro.br/textos/trabalhos/Metodologia_ensino_linguas.pdf> Acesso em 05 abr. 2021.
PABST, Luiza Ujvari; OTHERO, Gabriel de Ávila. ENSINO DE PORTUGUÊS COMO
LÍNGUA ADICIONAL EM FOCO: REVISITANDO O USO DOS PRONOMES OBLÍQUOS EM GRAMÁTICAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO - Revista Entrelinhas - vol. 8, n. 2. Disponível em <http://revistas.unisinos.br/index.php/entrelinhas/article/view/8579> Acesso em 10 mar. 2021.