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Cora Reilly

#4 Bound by Temptation
Série Born in Blood Mafia Chronicles

Bound by Temptation Copyright © 2015 Cora


Reilly
SINOPSE

Liliana Scuderi se apaixonou por Romero desde o


momento em que ela o viu pela primeira vez. Depois de suas
irmãs se casaram por razões táticas, ela espera ser autorizada a
escolher um marido, mas quando seu pai lhe promete a um
homem com mais do que o dobro de sua idade, essa esperança
é esmagada. Não importa quanto ela peça, não é possível fazê-
lo mudar de ideia.
Romero sempre ignorou o flerte de Lily. A idade dela e
seu estado a fizeram fora dos limites, mas mesmo alguém tão
obediente como ele só tem um certo tanto de controle. Desejá-
la quando ela deveria se casar com outro homem poderia
significar guerra entre Nova York e o Chicago Outfit e
Romero sempre colocou a Cosa Nostra em primeiro lugar.
Lily suspeita que suas irmãs e Romero arriscariam tudo
por ela, mas sua felicidade vale muito a pena? E o amor vale a
pena uma guerra entre Cosa Nostra e a Outfit?
A SÉRIE
Série Born in Blood Mafia Chronicles
Cora Reilly
Prólogo
LILIANA
Eu sabia que era errado. Se alguém descobrisse, se o
meu pai descobrisse, ele nunca me deixaria ir a Chicago
novamente. Ele nem sequer me deixaria sair de casa mais. Era
muito inadequado e impróprio para uma dama. As pessoas
ainda estavam falando mal de Gianna depois de todo esse
tempo. Eles não hesitariam à chance de encontrar uma nova
vítima, e o que poderia ser melhor do que outra irmã Scuderi
sendo pega no ato?
E no fundo, eu sabia que eu era exatamente como
Gianna quando se tratava de resistir à tentação. Eu
simplesmente não podia. A porta de Romero não estava
trancada. Eu escorreguei em seu quarto na ponta dos pés,
segurando a minha respiração. Ele não estava lá, mas eu podia
ouvir a água correndo no banheiro. Me arrastei nessa direção.
A porta estava entreaberta. Eu olhei pela fresta.
Nos últimos dias eu aprendi que Romero era uma
criatura de hábitos, então eu o encontrei no chuveiro, como
esperado. Mas do meu ponto de vista eu não podia ver muito.
Abri a porta e entrei.
Minha respiração ficou presa na visão dele. Ele estava de
costas viradas para mim e era uma imagem gloriosa. Os
músculos de seus ombros e costas estavam flexionados
enquanto ele lavava o cabelo castanho. Naturalmente, meus
olhos mergulharam mais abaixo pelas costas, e ele estava
perfeitamente em forma. Eu nunca tinha visto um homem
desse jeito, mas eu não podia imaginar alguém que pudesse se
comparar a Romero.
Ele começou a se virar. Eu deveria sair. Mas eu olhava
admirada para o seu corpo. Ele estava excitado? Ele ficou
tenso quando me viu. Seus olhos capturaram o meu olhar antes
que eles deslizassem sobre a minha camisola e pernas nuas. E
então eu encontrei a resposta para a minha pergunta. Ele
realmente não estava excitado antes. Oh, inferno.
Minhas bochechas se aqueceram enquanto eu o via
crescer mais duro. Fiz tudo o que pude para não cruzar a
distância entre nós e tocar nele. Romero desligou o chuveiro
com movimentos vagarosos e enrolou uma toalha na cintura.
Então ele saiu. O cheiro do seu shampoo flutuou até meu
nariz. Lentamente, ele avançou para mim. — Você sabe, — ele
disse em uma voz estranha. — Se alguém nos encontrasse
assim, poderia ter uma ideia errada. Uma ideia que poderia
custar a minha vida, e a sua reputação.
Eu ainda não podia me mover. Era como se eu fosse feita
de pedra, mas meu interior parecia queimar como lava
incandescente. Eu não conseguia desviar o olhar. Eu não
queria.
Meus olhos pousaram na borda da toalha, sobre a linha
fina de cabelos escuros que desapareciam sob ela, o delicioso
V de seus quadris. Com vontade própria, minha mão se
moveu, alcançando o peito de Romero, precisando sentir a sua
pele sob os meus dedos.
Romero pegou meu pulso antes que eu pudesse tocá-lo,
seu aperto quase doloroso. Meu olhar se levantou, meio
envergonhado e meio surpreso. O que eu vi no rosto de
Romero me fez estremecer.
Ele se inclinou para frente, chegando cada vez mais
perto. Meus olhos se fecharam, mas o beijo que eu queria
nunca veio. Em vez disso, ouvi o ranger da porta. Levantei o
olhar para Romero. Ele apenas abriu a porta do banheiro. Foi
por isso que ele se aproximou, não para me beijar.
Constrangimento tomou conta de mim. Como eu poderia ter
pensado que ele estava interessado em mim?
— Você precisa ir embora, — ele murmurou enquanto se
endireitava. Seus dedos ainda estavam enrolados em volta do
meu pulso.
— Então me deixe ir.
Ele fez isso de imediato, e deu um passo para trás. Eu
fiquei onde estava. Eu queria tocá-lo, eu queria que ele me
tocasse, também. Ele amaldiçoou e, em seguida, ele estava em
cima de mim, uma mão segurando a parte de trás da minha
cabeça, outra no meu quadril. Eu quase podia saborear os seus
lábios que estavam tão perto. Seu toque me fazia se sentir mais
viva do que qualquer outra coisa.
— Saia, — ele murmurou. — Saia antes que eu quebre o
meu juramento — ele disse isso meio como apelo, meio como
ordem.
Capítulo Um
LILIANA
Eu ainda me arrepiava quando pensava em minha
primeira tentativa embaraçosa de flertar com Romero. Minha
mãe e minha irmã Aria sempre me avisaram para não provocar
os homens, e eu nunca tinha sido tão ousada com alguém
como eu fui com Romero naquele dia. Ele parecia tão
confiante, como se não houvesse nenhuma maneira dele me
machucar, não importava a provocação. Eu era jovem e
estúpida, apenas quatorze anos e já convencida de que sabia
tudo que havia para saber sobre os homens, amor e tudo mais.
Foi apenas alguns dias antes do casamento de Aria com
Luca, e ele enviou Romero para proteger a minha irmã. Era
um grande negócio ser escolhido guarda-costas de uma futura
esposa; era algo que somente quem fosse merecedor de
confiança absoluta conseguiria, mas não era isso que me fazia
confiar em Romero.
Ele estava absolutamente lindo em sua camisa branca,
calça preta e colete que escondia o coldre da sua arma. E por
alguma razão, seus olhos castanhos pareciam mais amáveis do
que eu estava acostumada a ver nos homens em nosso mundo.
Eu não conseguia desviar o meu olhar dele. Eu não tinha
certeza do que estava pensando, ou o que esperava alcançar,
mas no momento em que Romero se sentou, eu me sentei em
seu colo. Ele ficou tenso debaixo de mim, mas algo em seus
olhos fez com que eu me apaixonasse por ele naquele dia.
Muitas vezes no passado, quando eu flertava com soldados do
meu pai, eu vi em seus olhos que, se não fosse por causa do
homem de quem eu era filha, eles não hesitariam em ficar
comigo. Mas com Romero, eu sabia que nunca iria ter que me
preocupar dele tomar mais do que eu estava disposta a dar.
Pelo menos foi assim que eu me senti naquele dia. Ele parecia
um cara legal, como os caras que eu já tinha admirado de
longe, porque você não os encontra na máfia. Como um
cavaleiro numa armadura brilhante, alguém com quem garotas
estúpidas sonham – garotas como eu.
Apenas alguns meses depois, eu descobri que Romero
não era quem eu pensava, quem eu queria que ele fosse e fiz
de tudo para ser. Esse dia ainda me assombra depois de todo
esse tempo. Poderia ter sido o momento em que a minha
paixão por Romero desapareceu para sempre.
Meus pais tinham levado Gianna, Fabiano e eu para
Nova York devido ao funeral de Salvatore Vitiello, mesmo que
eu não conhecesse o pai de Luca e Matteo. Eu estava tão
animada para ver Aria novamente. Mas essa viagem se
transformou em um pesadelo, meu primeiro gosto real do que
significava ser parte do nosso mundo.
Depois que os russos atacaram a mansão Vitiello, eu
estava sozinha com o meu irmão Fabi em um quarto para onde
Romero tinha nos levado, enquanto Luca vinha em nosso
socorro. Alguém tinha dado ao meu irmão um tranquilizante,
porque ele tinha surtado completamente depois de ver o nosso
guarda-costas levar um tiro na cabeça. Eu estava
estranhamente calma, quase em transe, enquanto amontoei ao
lado dele na cama, olhando para o nada e ouvindo ruídos. Toda
vez que alguém passava pela gente eu ficava tensa, preparada
para outro ataque. Mas então Gianna mandou uma mensagem,
me perguntando onde eu estava. Eu nunca me virei tão rápido
na minha vida. Levei menos de dois segundos para saltar fora
da cama, atravessar o quarto e abrir a porta. Gianna estava no
corredor, seu cabelo vermelho todo bagunçado. No momento
em que eu pulei em seus braços, me senti melhor e mais
segura. Desde que Aria havia se mudado, Gianna tinha
assumido o papel de mãe substituta, enquanto a nossa própria
mãe estava ocupada demais cuidando de suas
responsabilidades sociais e a serviço de todos os caprichos do
meu pai.
Quando Gianna decidiu dar uma olhada no andar
debaixo, o pânico tomou conta de mim. Eu não queria ficar
sozinha agora, e Fabi realmente só acordaria em algumas
horas, por isso, apesar do medo do que iríamos encontrar no
primeiro andar, segui a minha irmã. A maioria dos móveis na
sala estavam arruinados por causa da nossa briga com os
russos, e havia sangue por todos os lados. Eu nunca tive muito
nojo de sangue, ou qualquer coisa do tipo. Fabi sempre vinha
para me mostrar as suas feridas, especialmente quando havia
pus porque ele não as limpava direito. E mesmo agora,
enquanto andávamos em meio a todos aquele vermelho nos
tapetes e sofás brancos, não foi o sangue que fez meu
estômago revirar. Foi a memória do que aconteceu. Eu não
podia mais sentir o cheiro de sangue, porque o piso tinha sido
limpo com algum tipo de desinfetante. Fiquei feliz quando
Gianna nos levou para outra parte da casa, mas então ouvi o
primeiro grito vindo do porão. Eu teria me virado e fingido
que não escutei nada. Mas Gianna pensava diferente.
Ela abriu a porta de aço que levava a um quarto abaixo
do chão. A escada estava escura, mas havia uma luz vindo de
alguma parte das profundezas do porão. Eu tremi. — Você não
quer ir até lá, certo? — eu sussurrei. Eu deveria saber a
resposta. Essa era Gianna, afinal.
— Sim, mas você vai ficar na escada, — disse Gianna
antes de começar a descer. Eu hesitei apenas um segundo antes
que eu fosse atrás dela. Ninguém nunca tinha dito que eu era
boa em seguir ordens.
Gianna me olhou. — Fique lá. Me prometa.
Eu queria discutir. Eu não era mais uma criança. Mas
então alguém gritou abaixo de nós, e os cabelos na parte de
trás do meu pescoço se levantaram. — Ok. Eu prometo, — eu
disse rapidamente. Gianna virou e desceu os degraus restantes.
Ela congelou quando alcançou o último degrau, antes que ela
finalmente entrasse no porão. Eu só podia ver parte de suas
costas, mas pelo jeito que seus músculos ficaram tensos eu
sabia que algo estava errado. Houve um grito abafado e
Gianna se encolheu. Apesar do medo pulsando em minhas
têmporas, eu rastejei pelas escadas. Eu precisava saber o que
minha irmã estava vendo. Ela não era alguém que se assustava
facilmente.
Eu sabia que ia me arrepender, mas não podia resistir. Eu
estava cansada de ser deixada de fora de tudo, ser sempre
muito jovem, ser lembrada todos os dias de que eu precisava
me proteger de mim mesma e de tudo ao meu redor.
No momento em que meus pés tocaram o piso do porão,
meus olhos pousaram no centro da sala. No início, eu não
consegui compreender o que estava acontecendo. Era como se
o meu cérebro estivesse me dando uma chance de ser esperta e
sair daqui, mas em vez de fugir daquela cena, eu fiquei e olhei.
Minha mente entrou em parafuso, imerso em cada detalhe,
cada detalhe horrível à minha frente. Detalhes que eu ainda me
lembraria vividamente anos mais tarde.
Havia dois dos russos que tinham nos atacado,
amarrados a cadeiras, e então havia sangue. Matteo e outro
homem estavam batendo, cortando e os ferindo. Minha visão
turvou, e o terror se levantou em minha garganta. E então o
meu olhar caiu sobre Romero, seus olhos castanhos bondosos
não estavam do jeito que eu me lembrava deles. Suas mãos
também estavam cobertas de sangue. O bom rapaz e cavaleiro
de armadura brilhante que eu fantasiava, aquele homem não
era ele. Um grito foi arrancado do meu corpo, mas eu só podia
afirmar isso pela pressão no meu peito e na garganta. Eu não
ouvia nada além do rugido em meus ouvidos. Todos olharam
para mim, como se eu fosse louca. Eu não tenho certeza do
que aconteceu depois. Só me lembrava de fragmentos. Mãos
me agarrando, braços me segurando firme. Palavras suaves
que não tinham efeito nenhum. Me lembrava de um peite
quente contra as minhas costas e do cheiro de sangue. Houve
uma breve queimação quando Matteo me injetou algo antes
que o meu mundo ficasse em uma calma estranha. O terror
ainda estava lá, mas foi acobertado. Minha visão estava
embaçada, mas eu poderia dizer que Romero estava ajoelhado
ao meu lado. Ele me pegou e se levantou comigo em seus
braços. A calma forçada venceu e eu relaxei contra o seu peito.
Bem na frente dos meus olhos uma mancha vermelha aparecia
em sua camisa branca. O sangue dos homens que haviam sido
torturados. Lentamente, o terror tentou passar através da
medicação, mas foi inútil e eu desisti da luta. Meus olhos se
fecharam enquanto eu aceitei o meu destino.

*****

ROMERO
1
Como Made Men , era nossa tarefa manter seguros
quem jurávamos proteger: os fracos, as crianças e as mulheres.
Eu, em particular, tinha dedicado minha vida a este objetivo.
Muitas tarefas em meu trabalho envolviam machucar os
outros, ser brutal e frio, mas manter as pessoas seguras sempre
me fez sentir como se não houvesse nada mais para mim do
que o mal. Não que isso importasse; se Luca me pedisse, eu
faria tudo de ruim que se podia imaginar. Era fácil esquecer
que, apesar de nossa ética e moral e códigos, nós, homens
iniciados, éramos o que a maioria das pessoas entendia como
mal. Eu me lembrei da nossa verdadeira natureza, da minha
verdadeira natureza, quando ouvi o grito de Liliana. Os gritos
dos russos não tinham me afetado. Eu já tinha ouvido gritos
piores antes. Mas aquele grito agudo, não terminado de uma
menina que eu fui designado para proteger, foi como uma
porra de uma facada no estômago.
A expressão em seus olhos foi o pior; eles me mostraram
exatamente o que eu era. Talvez um bom homem tivesse
jurado ser melhor, mas eu era bom em meu trabalho. A
maioria dos dias eu até gostava dele. Mesmo o rosto
aterrorizado de Liliana não me fez querer ser outra coisa que
não um mafioso. Naquela época eu não tinha percebido que
este vislumbre de brutalidade não era a pior maneira que eu
iria estragar a sua vida.

*****

LILIANA
Eu acordei com algo quente e macio debaixo do meu
corpo. Minha mente estava lenta, mas as lembranças eram
claras, me foquei ao redor quando finalmente ousei abrir os
olhos. Um movimento no canto atraiu a minha atenção.
Romero se encostou na parede à minha frente. Eu rapidamente
fiz uma verificação no quarto em que estava. Era um quarto de
hóspedes, e eu estava sozinha com Romero, a porta estava
fechada. Sem os efeitos persistentes do que Matteo injetou em
mim mais cedo, eu teria começado a gritar outra vez. Em vez
disso, assisti em silêncio quando Romero andou em minha
direção. Eu não estava certa porque tinha pensado nele como
inofensivo, agora cada movimento dele gritava perigo. Quando
ele quase chegou à cama, eu me encolhi, me pressionando
contra o travesseiro. Romero parou, seu olhar escuro
amoleceu, mas a sua bondade não podia mais me enganar, não
depois do que eu tinha visto. — Está tudo bem. Você está
segura.
Eu nunca me senti não segura em minha vida – até
agora. Eu queria a minha ignorância de volta. Eu não disse
nada.
Romero pegou um copo de água da mesa de cabeceira e
o estendeu para mim. Meus olhos procuraram a pele de suas
mãos para ver o sangue, mas ele deve ter limpado
completamente. Não havia o menor sinal de vermelho, nem
mesmo entre os dedos ou sob suas unhas. Ele provavelmente
tinha muita prática em limpar o sangue. A bile subiu à minha
garganta com o pensamento.
— Você precisa beber, criança.
Meus olhos voaram para o seu rosto. — Eu não sou uma
criança.
O fantasma de um sorriso cruzou o rosto de Romero. —
Claro que não, Liliana.
Procurei em seus olhos a zombaria, tentando obter uma
dica da escuridão que tinha estado lá no porão, mas ele se
parecia com o cara bom que eu queria que ele fosse. Me sentei
e peguei o copo dele. Minha mão tremia, mas eu consegui não
derramar água sobre mim. Depois de dois goles eu entreguei o
copo de volta a Romero.
— Você pode ir ver suas irmãs em breve, mas primeiro
Luca quer ter uma palavra sobre o que você viu hoje, — ele
disse calmamente.
O medo me espetou como uma lâmina fria. Eu deslizei
para fora da cama quando alguém bateu, Luca entrou em
seguida. Ele fechou a porta. Meus olhos dispararam dele para
Romero. Eu não queria desmoronar como eu tinha feito antes,
mas eu podia sentir outro ataque de pânico empurrando através
das drogas na minha corrente sanguínea. Eu nunca tinha
estado sozinha com eles, e após os acontecimentos de hoje, era
demais.
— Ninguém vai te machucar, — disse Luca em sua voz
profunda. Eu tentei acreditar nele. Aria parecia amá-lo, então
ele não podia ser ruim, e ele não estava no porão torturando os
russos. Arrisquei outro olhar para Romero, cujos olhos
pousaram em mim.
Abaixei meu rosto. — Eu sei, — eu finalmente disse, o
que provavelmente soou como uma grande mentira. Eu
respirei fundo e nivelei o meu olhar no queixo de Luca. —
Você queria falar comigo?
Luca assentiu. Ele não chegou mais perto, nem Romero.
Talvez o meu medo fosse claro como o dia para eles. — Você
não pode dizer a Aria sobre o que viu hoje. Ela vai ficar
chateada.
— Eu não vou dizer a ela, — eu prometi rapidamente.
Eu nunca tive a intenção de falar com ela. Eu não queria
recordar os acontecimentos, muito menos contar a alguém
sobre eles. Se eu pudesse, eu limparia a minha memória
instantaneamente.
Luca e Romero trocaram um olhar, então Luca abriu a
porta. — Você é muito mais razoável do que sua irmã Gianna.
Você me faz lembrar de Aria.
De alguma forma, suas palavras me fizeram sentir como
uma covarde. Não porque Aria era uma. Ela era tão corajosa
quanto Gianna, cada uma da sua maneira. Mas eu me senti
uma covarde porque concordei em manter silêncio por razões
egoístas, porque eu queria esquecer e não porque eu proteger
Aria da verdade. Eu tinha certeza que ela teria lidado com isso
melhor do que eu.
— Você pode levar ela até Gianna, mas se certifique de
que ela não fique caminhado pela casa outra vez, — disse ele
para Romero.
— E Aria? — eu soltei.
Luca ficou tenso. — Ela está dormindo. Você pode vê-la
mais tarde — com isso, ele saiu.
Eu passei meus braços em volta da minha cintura. — Os
meus pais sabem o que aconteceu?
— Sim. Seu pai vem buscar vocês assim que terminar
seus negócios, e então vocês voltarão para Chicago.
Provavelmente na parte da manhã — Romero esperou, mas eu
não me mexi. Por alguma razão o meu corpo se irritou com a
ideia de ir para mais perto dele, o que era ridículo,
considerando que não muito tempo atrás eu tinha fantasiado
sobre beijá-lo.
Ele abriu a porta e deu um passo atrás. — Tenho certeza
que sua irmã Gianna está ansiosa para ver você.
Respirando fundo, eu me forcei a caminhar em sua
direção. Seu corpo estava relaxado e seu rosto amável, e
apesar do terror e medo ainda fervendo no fundo do meu
corpo, meu estômago vibrou levemente quando eu passei por
ele. Talvez fosse choque. Eu não poderia continuar a ter uma
queda por ele depois de hoje.
Capítulo Dois
LILIANA

Sempre que eu pensava que eu tinha superado o que


aconteceu em setembro passado, alguma coisa me lembrava
daquele dia e meu estômago dava um nó apertado novamente.
Como hoje, quando Gianna e eu fomos até Matteo, Aria e
Luca. Meu pai tinha finalmente cedido e permitiu que eu e
minha irmã fôssemos visitar Nova York para celebrar o meu
aniversário de quinze anos.
— Você está bem? — perguntou Gianna baixinho, me
assustando em meu nervosismo. Só de estar de volta em Nova
York e ver Matteo e Luca novamente era o suficiente para
encher o meu nariz com o cheiro doce de sangue fresco.
— Sim, — eu disse rapidamente. Eu não era mais uma
garotinha que precisava de suas irmãs mais velhas para
protegê-la. — Estou bem.
Aria correu em nossa direção quando quase os tínhamos
alcançado, e jogou seus braços ao redor de nós duas. — Eu
senti tanta falta de vocês.
Estar junto com minhas irmãs era incrível, e eu não pude
deixar de sorrir. Eu mesma teria andado direto para aquele
porão, se isso significava que eu poderia ver elas novamente.
Aria me abraçou uma vez mais. — Você está tão alta
quanto eu agora. Ainda me lembro quando você não queria ir a
lugar nenhum sem segurar a minha mão.
Eu olhei rapidamente em volta, mas felizmente não
havia ninguém por perto para ouvir o que ela disse. — Não
diga isso quando Romero estiver por perto. Onde está ele, de
qualquer maneira? — percebi um momento depois e tarde
demais como soei idiota, e corei.
Aria riu. — Ele provavelmente está em seu apartamento.
Dei de ombros, mas não havia mais como disfarçar. Não
era porque eu tinha esquecido o sangue nas mãos de Romero,
mas por alguma razão eu não estava com tanto medo dele
como eu estava de Matteo, ou mesmo de Luca. E eu só percebi
o quanto quando fomos em direção a eles. Meu coração
acelerou e eu podia sentir um ataque de pânico subindo. Eu
não tinha tido um em semanas, então lutei desesperadamente.
— A aniversariante, — Matteo disse com um sorriso.
Como poderia aquele cara charmoso ser a mesma pessoa que
eu tinha visto coberta de sangue no porão?
— Ainda não, — eu disse. Eu podia sentir o meu pânico
sumindo. Na vida real Matteo não era tão assustador quanto
nas minhas lembranças. — A menos que você tenha um
presente antecipado para mim.
— Eu gosto da maneira como você pensa, — disse
Matteo com uma piscadela. Ele pegou a minha mala, e então
estendeu seu braço. Olhei para Gianna. — Você não vai levar a
bagagem de Gianna? — eu não queria que Gianna pensasse
que eu estava flertando com seu noivo, embora ela não
parecesse gostar muito dele a maior parte do tempo.
— Luca pode cuidar dela, — disse Matteo.
Gianna olhou para ele antes de me dar um sorriso. — Vá
em frente.
Eu aceitei o braço de Matteo. Eu não tinha certeza do
por que Gianna o desprezava tanto. E isso tinha começado
antes do porão, então não era isso. Mas não era da minha
conta, e Gianna não iria falar sobre seus sentimentos comigo
de qualquer maneira. Isso era com Aria. Na cabeça delas, eu
sempre fui muito jovem para entender. Mas eu sabia mais do
que elas pensavam.

*****
Cinquenta minutos depois, chegamos ao prédio de Luca
e Aria. Eu chequei o meu reflexo nos espelhos do elevador, me
certificando de que a minha maquiagem estava no lugar e eu
não tinha nada entre os dentes. Fazia meses desde que eu tinha
visto Romero pela última vez e queria causar uma boa
impressão. Mas quando entramos no apartamento, ele ainda
não estava lá. Meus olhos dispararam ao redor e,
eventualmente, Aria se inclinou para mim, sussurrando. —
Romero não está por perto porque Matteo e Luca estão aqui
para nos proteger.
— Eu não estava procurando por ele, — eu disse
rapidamente, mas ela não acreditou. Eu olhei para longe antes
que ela pudesse ver o meu rubor.
— Claro, — Aria disse com um sorriso. — Ele vai vir
mais tarde, quando Matteo e Luca saírem para os negócios.
Uma excitação borbulhou dentro de mim, mas era
misturada com enjoo e nervosismo também. Eu tinha
pesadelos ocasionais sobre aquela noite no porão, não sobre
Romero em particular, mas eu me perguntava se um encontro
ao vivo traria à tona mais dessas coisas ruins. Mas essa não era
a principal razão pela qual eu estava nervosa. Até agora
Romero tinha sempre me ignorado, bem, não eu, mas a minha
paquera. Ele me tratava como uma criança. Talvez ele
finalmente mostrasse mais interesse, ou algum interesse.
Afinal, eu estava fazendo quinze anos e não era como se eu
não tivesse pegado muitos dos soldados do meu pai de olho
em mim. Talvez eu não fosse o tipo de Romero, não importava
a minha idade. Eu nem sequer sabia se ele estava namorando
ou era prometido a alguém.
Durante o jantar, eu podia dizer que Aria e Gianna
estavam trocando olhares furtivos. Eu não sabia o que isso
significava. Elas estavam falando de mim?
O elevador apitou e iniciou a sua descida para quem o
tivesse chamado.
— É Romero, — disse Aria. Luca me deu um olhar
estranho, mas eu não reagi, apenas balancei a cabeça como se
eu não me importasse, mas fiquei feliz com o aviso de Aria.
— Eu preciso ir ao banheiro, — eu disse, tentando
parecer casual. Gianna revirou os olhos. Peguei minha bolsa
do chão e corri para o banheiro das visitas. Quando fechei a
porta, ouvi as portas do elevador sendo abertas. Um momento
depois, a voz de Romero tocou meus ouvidos. Era profunda,
mas não áspera. Eu amava o som dela.
Eu enfrentei o espelho e rapidamente retoquei a minha
maquiagem e arrumei o meu cabelo loiro curto. Não era tão
brilhante e bonito como o de Aria e não era atraente como o
cabelo ruivo de Gianna, mas poderia ser pior. Os outros iriam
perceber que eu tinha ido ao banheiro me fazer mais
apresentável, pelo menos minhas irmãs com certeza notariam,
mas eu não me importava. Eu queria ficar bonita para Romero.
Tentando parecer tranquila, saí do banheiro. Romero tomou
assento na mesa e estava servindo um prato com o que sobrou
da nossa sobremesa: Tiramisu e Panna Cotta. Ele estava
sentado na cadeira ao meu lado. Olhei para Aria me
perguntando se ela tinha algo a ver com isso. Ela
simplesmente sorriu para mim, mas Gianna nem se incomodou
em esconder a sua diversão. Eu realmente esperava que ela
não fosse me envergonhar na frente de todos. Eu caminhei até
a minha cadeira, esperando que eu parecesse crescida e
descontraída, mas além de um sorriso rápido, Romero não me
deu qualquer atenção. Decepção se abateu pesadamente no
meu estômago. Me sentei ao lado dele e tomei um gole da
minha água, mais para ter algo para fazer do por estar
realmente com sede.
Se eu pensei que o desinteresse óbvio de Romero por
mim tinha sido a completa extensão da minha vergonha, eu
estava redondamente enganada. Uma vez que Matteo e Luca
tinham saído para algum tipo de reunião de negócios, ficou
óbvio que Gianna e Aria estavam procurando uma chance de
ficarem sozinhas. Elas poderiam ter apenas me pedido para
sair, mas aparentemente elas também precisavam se livrar de
Romero. Aria se inclinou para sussurrar no meu ouvido. —
Você pode distrair Romero por um tempo? É importante — eu
não tive a chance de recusar ou fazer qualquer pergunta.
2
— Romero, por que você não joga Scrabble com Lily?
Ela parece estar incrivelmente entediada, e eu e Aria
precisamos conversar um momento, — disse Gianna
incisivamente.
Meu rosto queimou com vergonha. Gianna geralmente
sabia como me constranger assim. Ela fazia soar como se
Romero precisasse cuidar das crianças enquanto ela e Aria
discutiam coisas importantes.
Romero saiu da cozinha, onde ele estava verificando seu
celular, e parou ao meu lado na mesa da sala de jantar. Eu mal
conseguia olhar para ele. O que ele pensava de mim agora?
Olhei para cima através dos meus cílios. Ele não parecia
irritado, mas isso não significava que ele realmente queria
passar sua noite me entretendo. Ele era um guarda-costas, e
não uma babá. — Minha irmã parece que prefere passar o
tempo dela com você, — disse Gianna. Em seguida, seus olhos
castanhos desceram em mim. — Você tem certeza que quer
jogar Scrabble comigo? — ele perguntou, e eu não pude deixar
de sorrir. Poucas pessoas já pararam para me perguntar o que
eu queria, e até mesmo as minhas irmãs, ocasionalmente,
esqueciam que eu era uma pessoa com as minhas próprias
opiniões e desejos.
Aria e Gianna me deram um olhar significativo. Eu
precisava convencer Romero de que eu queria ficar com ele ou
eu estragaria as coisas para elas. — Sim, eu realmente quero
jogar Scrabble com você. Eu adoro esse jogo, por favor? — eu
disse com um sorriso brilhante. Eu nem sequer me lembrava
quando tinha jogado pela última vez. Nossa família nunca
jogava jogos de tabuleiro.
Romero olhou para minhas irmãs. Havia um indício de
suspeita em seu rosto. — Vocês poderiam se juntar a nós, —
disse ele.
— Eu prefiro jogar sozinha com você, — eu disse em
um tom de flerte. Gianna piscou para mim quando Romero
não estava olhando. — Minhas irmãs odeiam Scrabble, assim
como todo mundo que eu conheço. Você é minha única
esperança.
Um sorriso puxou os lábios de Romero e ele concordou.
— Tudo bem, mas seja paciente. Faz um tempo desde que eu
joguei pela última vez.
Jogar Scrabble com Romero foi realmente muito
divertido. Era a primeira vez que passávamos um tempo de
verdade só nós dois, sozinhos. Eu levantei o olhar da palavra
que eu tinha acabado de formar, debatendo se eu deveria fazer
a pergunta que estava queimando um buraco no meu
estômago. Romero estava ocupado tentando descobrir sua
próxima palavra. Suas sobrancelhas escuras estavam
arqueadas juntas de uma maneira adorável. Eu queria me
inclinar e beijar ele. — Você tem namorada? — eu soltei
quando não consegui mais segurar. E então eu queria morrer
ali mesmo. Aparentemente, eu não precisava das minhas irmãs
para me envergonhar. Eu estava indo muito bem por conta
própria.
Romero olhou para cima. Havia surpresa e diversão em
seu rosto. Eu podia sentir um rubor viajando até o meu
pescoço. Muito bem, Lily. Eu tinha soado como uma idiota. —
É essa a sua maneira de me distrair do jogo para que você
possa ganhar?
Eu ri, feliz que ele não estivesse com raiva de mim por
fazer uma pergunta tão pessoal. Ele voltou sua atenção para as
letras na sua frente, e minha diversão desapareceu quando
percebi que ele não tinha respondido à minha pergunta. Isso
significava que ele tinha uma namorada? Eu não poderia
perguntar novamente sem soar desesperada.
Eu afundei ainda mais na minha cadeira, irritada. Meus
olhos dispararam em direção ao terraço da cobertura, onde
minhas irmãs estavam.
Aria e Gianna provavelmente pensavam que eu não
sabia que elas estavam tramando algo. Elas pensavam que eu
estava alheia a tudo acontecendo ao meu redor. Só porque eu
estava flertando com Romero não significava, no entanto, que
eu não percebia os olhares secretos que elas compartilhavam.
Eu não perguntava, porque eu sabia que elas não iam me dizer
de qualquer jeito, e eu me sentiria ainda mais como o estepe de
um carro. Elas não faziam isso para serem cruéis, mas
machucava mesmo assim. Aria parecia chateada com algo que
Gianna tinha dito. Eu tive que resistir à tentação de ir até elas e
tentar a minha sorte.
— É a sua vez, — a voz de Romero me fez pular.
Corei e rapidamente fiz uma varredura das palavras no
tabuleiro, mas a minha concentração tinha acabado.
— Você quer parar? — Romero perguntou depois de
alguns minutos. Parecia que era algo que ele queria. Ele
provavelmente estava entediado como o inferno.
Empurrando a minha decepção para baixo, eu assenti. —
Sim. Eu vou ler um pouco no meu quarto, — me levantei
esperando que meu rosto não mostrasse as minhas emoções,
mas eu não precisava me preocupar. Romero me deu um
sorriso distraído e pegou seu telefone para verificar as
mensagens. Recuei lentamente. Ele não olhou para mim outra
vez. Eu precisava descobrir uma maneira de chamar a sua
atenção, uma que não envolvesse jogos estúpidos.

*****

Aria tinha decorado o apartamento inteiro com balões


para o meu aniversário, como se eu fosse uma criança no
jardim de infância. Eu pensei que estaria autorizada a ir a um
dos clubes de Luca, mas ele e até mesmo Aria se recusaram a
me levar. A quantidade de comida na mesa fazia parecer como
se uma grande festa tivesse sido planejada, mas era só nós e as
duas irmãs mais novas de Romero. Aria pediu a ele para trazê-
las. Eu me senti como uma garota solitária e sem amigos, que
precisava da sua irmã mais velha para encontrar amigos para
ela. Talvez eu devesse ter ficado em Chicago, então pelo
menos eu poderia ter passado o dia com os meus próprios
amigos.
Quando Romero chegou com suas irmãs, eu coloquei o
meu mais brilhante sorriso. — Feliz aniversário, Liliana, —
disse ele, me entregando um envelope. Era um vale-presente
de uma livraria. — Aria disse que você gosta de ler.
— Sim, obrigada, — eu disse, mas de alguma forma eu
esperava um presente diferente de Romero. Algo pessoal, algo
que mostrasse que eu era especial.
— Estas são minhas irmãs, — ele apontou para a garota
mais alta com cachos castanhos espessos. — Este é Tamara,
ela tem quinze anos como você, — eu sorri e assim fez
Tamara, mas ela parecia tão envergonhada quanto eu. — E
esta é Keira, ela tem doze. Tenho certeza que vocês vão se
entender muito bem — era óbvio que eu deveria passar tempo
com elas, porque eu ainda era muito jovem para sair com Aria,
Luca e os outros. Isso me incomodou, mesmo que Tamara e
Keira parecessem bastante legais, mas eu não tinha vindo para
Nova York para uma festa de criança. Com outro sorriso,
Romero se dirigiu até Luca e Matteo, e eu levei suas irmãs até
Aria e Gianna, na direção do buffet.
Eu tentei o meu melhor para desfrutar da noite e ser boa
para as irmãs de Romero, mas eu queria algo especial para o
meu aniversário, algo que eu tinha sonhado há muito tempo.
Quando eu notei Romero saindo para o terraço para atender
uma ligação, escapei para fora também. Os outros felizmente
estariam ocupados demais para não me notarem por alguns
minutos. Romero falava ao telefone e não me viu em um
primeiro momento. O segui em silêncio e vi quando ele se
encostou no corrimão. As mangas arregaçadas até os
cotovelos, revelando os antebraços musculosos.
Quando seus olhos pousaram em mim, suas sobrancelhas
se uniram em uma carranca e ele se endireitou. Cheguei mais
perto e me posicionei ao lado dele. Ele desligou e colocou o
telefone no bolso. — Você não deveria estar lá dentro com
seus convidados? — perguntou ele com um sorriso, mas eu
poderia dizer que não era tão honesto como de costume.
Cheguei um pouco mais perto e sorri para ele. — Eu
precisava de um pouco de ar fresco.
Os olhos de Romero estavam em alerta enquanto me
observavam. — Nós devemos voltar.
— Há algo que eu quero de aniversário, — eu disse
calmamente. — Algo que só você pode me dar, — eu tinha
repetido as palavras na minha cabeça várias vezes, mas em voz
alta elas não eram nem a metade de tão sedutoras como eu
tinha imaginado.
— Lily, — Romero começou, seu corpo cheio de tensão.
Eu não queria ouvir o que ele ia dizer. Eu rapidamente
fiquei na ponta dos pés e tentei beijá-lo. Ele agarrou meus
ombros antes de meus lábios alcançarem os seus e me segurou
longe dele como se eu tivesse uma doença infecciosa.
— O que você está fazendo? — ele me soltou e deu
alguns passos para trás. — Você é uma criança, e eu sou um
soldado da Família. Eu não sou um brinquedo com o qual você
pode jogar quando está entediada.
Eu não esperava esse tipo de reação dele. Surpresa e
choque, sim, mas raiva? Não. — Eu só queria te beijar. Eu não
quero jogar. Eu gosto de você.
Romero balançou a cabeça, e em seguida fez um gesto
para a porta de vidro. — Volte para dentro. Suas irmãs vão
começar a procurar por você.
Ele soou como um irmão mais velho, e essa era a última
coisa que eu queria que ele fosse. Eu me virei antes de sair
correndo. Meu coração murchou em meu peito. Por alguma
razão, eu nunca tinha considerado uma rejeição de Romero. Eu
fantasiava sobre o nosso primeiro beijo com tanta frequência
que a opção de ele não acontecer nunca tinha passado pela
minha cabeça. Pelo resto da noite, eu lutei para manter uma
cara feliz, especialmente quando eu via Romero. Eu estava
realmente contente de voltar para Chicago. Eu não ia ficar e
não ia ver Romero por um longo tempo, tempo suficiente para
superar ele e encontrar alguém que me ajudasse a esquecer.

*****

ROMERO
Eu sabia que Liliana tinha uma queda por mim. Aria
tinha mencionado isso antes, mas eu nunca esperei que a
menina fosse agir e mostrar seus sentimentos. Ela era uma
criança bonita. Uma criança.
Eu não tinha o menor interesse nela e logo ela entenderia
isso. Ela parecia estar sentindo a porra de uma dor quando eu a
empurrei para longe, mas eu não tinha escolha. Mesmo que ela
não fosse uma criança, eu não poderia deixar que ela me
beijasse.
Quando voltei para a sala de estar, Luca andou até mim.
— O que foi aquilo? Por que Liliana foi até você?
Claro que ele tinha notado. Luca nunca perdia nada.
— Ela tentou me beijar.
As sobrancelhas de Luca subiram. — Eu suponho que
você a afastou.
— Você realmente tem que perguntar? Ela tem a idade
da minha irmã.
— Sua idade não é o principal problema. Pelo menos
não aos olhos do pai dela.
— Eu sei, — eu era um soldado, e meninas como Liliana
deveriam ficar em seus próprios círculos sociais.
Luca suspirou. — Essa menina vai dar tanto problema
quanto Gianna, se não mais.
Eu tinha a sensação de que ele poderia estar certo.
Capítulo Três
LILIANA
— Essa menina me deixa nervoso! Desde o dia em que
ela nasceu não foi nada além de problemas! — as palavras do
meu pai ecoaram pela casa. Fabiano olhou para mim como se
eu soubesse as respostas para suas perguntas. Minha própria
mente era um enorme ponto de interrogação. Eu não tinha
certeza do que tinha acontecido, mas conseguir pegar a
essência. Gianna tinha desaparecido enquanto estava em Nova
York com Aria. Agora todo mundo estava procurando por ela.
Não admirava que Aria não tivesse me pedido para visitar ela
também. Não que eu estivesse muito interessada em voltar à
Nova York depois do meu último encontro constrangedor com
Romero, quatro semanas atrás. Mas ainda doeu que Aria e
Gianna tivessem feito planos pelas minhas costas, pelas costas
de todo mundo.
Desci as escadas, fazendo sinal para Fabi ficar onde
estava, e então avancei em direção ao escritório do pai. Minha
mãe estava lá, chorando. O pai estava ao telefone, e apesar da
sua raiva, aparentava estar contido, então eu assumi que era o
seu chefe, Cavallaro. Cavallaro era a única pessoa que o pai
verdadeiramente respeitava. Minha mãe me viu na porta e
rapidamente balançou a cabeça, mas eu dei mais um passo
para frente e entrei no escritório.
Eu sabia que era melhor ficar longe do pai quando ele
estava com o humor assim, mesmo que ele geralmente
atacasse Gianna, e não a mim, mas a minha irmã tinha ido
embora agora.
Meu pai desligou, então estreitou os olhos para mim. —
Será que eu permiti que você entrasse?
Sua voz me atingiu como um chicote, mas eu mantive
minha posição. — O que aconteceu com Gianna?
Minha mãe me mandou um olhar de advertência.
— Sua irmã fugiu. Ela provavelmente conseguiu
engravidar de um idiota e arruinou a sua reputação e a da
nossa família.
— Talvez ela volte, — eu sugeri. Mas de alguma forma
eu sabia que ela não iria. Isso não era um impulso, coisa de
momento. Ela tinha planejado isso, provavelmente por meses.
Isso explicava todos os segredos com Aria durante a nossa
última visita a Nova York. Por que elas não tinham me dito?
Será que elas não confiavam em mim? Será que elas pensavam
que eu ia contar ao nosso pai na primeira chance que tivesse?
E então outro pensamento se enterrou no meu cérebro. Se
Gianna tinha ido embora, e se ela não tinha se casado com
Matteo, quem se casaria com ele? O medo tomou conta de
mim. Será que meu pai me faria casar com Matteo? Eu
esperava poder casar por amor, agora que minhas irmãs já
haviam casado por razões táticas. Talvez fosse uma coisa
egoísta de pensar em uma situação como esta, mas eu não
podia fazer diferente. Uma imagem de Romero surgiu na
minha cabeça. Eu sabia que era bobagem pensar que ele viria
para o casamento. Ainda que Gianna voltasse e ainda que ela
se casasse com Matteo, seria quase impossível convencer o pai
a me dar a um mero soldado, especialmente um de Nova York.
E então havia o problema de que ele não me queria e eu
prometi superá-lo.
Eu sabia tudo isso, mas não significava que eu não podia
esperar e sonhar, às vezes isso parecia tudo que eu podia fazer.
— Com quantos homens será que Gianna já esteve? Ela
não vai valer nada, mesmo que ela retorne, — meu pai cuspiu.
Eu estremeci, horrorizada com suas palavras duras. Não valer
nada? Certamente éramos mais para ele do que mercadoria
para vender. Mais do que um pequeno pedaço de carne entre
as pernas?
Meu pai agarrou os meus ombros, os olhos queimando
em mim. Eu recuei, mas ele não me soltou. — Não pense que
eu não vejo o que você está fazendo com os meus soldados.
Você é muito parecida com Gianna. Eu não vou ter outra filha
me fazendo de idiota.
— Eu não vou, — eu sussurrei. O pai nunca tinha falado
comigo naquele tom antes. Sua expressão e palavras me
fizeram sentir barata e indigna, como se eu precisasse limpar
os meus pensamentos impuros.
— Está certo. Eu não me importo se eu tiver que trancar
você em seu quarto até o dia do casamento para proteger a sua
reputação e honra.
Isso não era sobre a minha reputação ou honra. Eu não
me importava com isso. Isso era tudo sobre o meu pai. Era
sempre sobre os homens na família, o que eles queriam e
esperavam.
— Rocco, Lily é uma boa menina. Ela não vai fazer
nada, — minha mãe disse cuidadosamente. Isso não era o que
ela geralmente me dizia. Ela sempre me avisava que eu estava
flertando muito, consciente demais do efeito que meu corpo
tinha sobre os homens. Mas eu estava feliz com seu apoio,
porque muitas vezes ela permanecia em silêncio quando meu
pai tinha atacado Gianna da mesma forma.
O pai me soltou e se virou para ela. — Era o seu trabalho
criar meninas decentes. Para o seu bem, espero que você esteja
certa e que Liliana não siga os passos de Gianna — a ameaça
em sua voz me fez estremecer. Como ele podia ser tão horrível
com sua própria esposa?
Mamãe empalideceu. Eu recuei e ninguém tentou me
parar. Eu rapidamente corri para cima. Fabi esperava por mim,
os olhos arregalados e curiosos. — O que aconteceu? — ele
perguntou com medo.
Eu balancei a cabeça em resposta, sem humor para
recapitular tudo para ele, e saí em direção ao meu quarto.
Eu nunca tinha estado no centro da ira do pai assim. Mas
agora que Gianna tinha ido, ele iria manter um olho extra em
mim, se certificando de que eu era a mulher perfeita que ele
queria que suas filhas fossem. Eu sempre me senti livre, nunca
entendi por que Gianna se sentia tão presa por nossa vida, mas
então comecei a entender. As coisas iriam mudar a partir de
agora.

*****

Nos meses desde a fuga de Gianna, as coisas em casa


ficaram tensas, na melhor das hipóteses. Meu pai explodia por
causa das menores coisas. Ele me bateu apenas duas vezes,
mas Fabi não teve tanta sorte. Mas pior do que a violência, era
a sua constante suspeita, o jeito que ele me olhava, como se eu
fosse outro escândalo prestes a acontecer. Minha gaiola
dourada tinha se tornado um pouco menor, apesar disso
parecer quase impossível antes. Eu esperava que as coisas
fossem mudar agora que Matteo tinha achado Gianna e estava
trazendo ela de volta para Chicago. Talvez isso apaziguasse o
pai, embora ele parecesse longe de ser aplacado quando eu o
vira pela última vez. Eu não tinha certeza do que exatamente
tinha acontecido, mas pelo que eu entendi Gianna tinha sido
apanhada com outro homem, e esse era o pior cenário possível
em nosso mundo. Meu pai provavelmente iria me colocar
algemas para me impedir de fazer o mesmo.
— Quando eles vão estar aqui? — perguntou Fabiano
pela centésima vez. Sua voz tinha um tom choroso e eu tive
que me impedir de gemer para ele em frustração.
Fabiano e eu estávamos esperando no patamar do
primeiro andar fazia vinte minutos, e minha paciência estava
se esgotando.
— Eu não sei, — eu sussurrei. — Fique quieto. Se a mãe
descobrir que não estamos em nossos quartos, nós vamos estar
em apuros.
— Mas…
Vozes soaram abaixo. Eu reconheci uma delas como de
Luca. Ele conseguiria encher uma casa com ela; não era
nenhuma surpresa, considerando quão grande ele era.
— Eles estão aqui! — Fabiano correu para longe e eu fui
logo atrás dele, descendo as escadas.
Avistei Gianna imediatamente. Seu cabelo era castanho
agora e ela parecia totalmente exausta, mas ainda era a irmã
que eu lembrava. Nosso pai muitas vezes fez parecer como se
ela fosse uma outra pessoa; uma pessoa sem valor, horrível.
O pai enviou um olhar a mim e Fabi quando nos
percebeu, mas eu não me importei. Corri em direção a Gianna
e passei meus braços em torno dela. Eu tinha sentindo tanto a
sua falta. Quando eu ouvi pela primeira vez que ela tinha sido
pega por Matteo, me preocupei que ele a matasse, então ver
ela ilesa foi um grande alívio.
— Eu não disse a você para mantê-los lá em cima? — o
pai assobiou.
— Sinto muito. Eles foram muito rápidos, — disse a
mãe. Olhei por cima do meu ombro para ver o seu rosto
apologético descendo as escadas. Desde a fuga de Gianna,
meu pai esteve constantemente no limite, e muitas vezes
atacava ela também. Seus gritos tinham me acordado mais de
uma vez durante a noite. Eu não tinha certeza de quando ele se
tornou tão violento. Eu não me lembro dele sendo assim
quando eu era mais jovem, ou talvez eu só fosse menos
consciente das coisas.
— Lily, Fabi, voltem para seus quartos, — o pai
ordenou. Eu soltei Gianna e estava prestes a protestar, mas
Fabi foi mais rápido do que eu.
— Mas pai, nós não vimos Gianna há tempos, —
resmungou Fabi.
Meu pai avançou sobre nós e eu tencionei. Ele raramente
me batia, mas ele parecia furioso. Ele agarrou Fabi e eu, e nos
arrastou para longe de Gianna. Então ele nos empurrou em
direção à escada. — Lá para cima, agora.
Eu tropecei com a força de seu impulso, mas quando
recuperei o equilíbrio, parei e não me mexi. Eu não podia
acreditar que ele não ia nos deixar falar com Gianna depois de
tanto tempo.
— Está tudo bem, — disse Gianna, mas seu rosto
contava uma história diferente. Ela parecia magoada e triste e,
geralmente, Gianna não era alguém que mostrasse esse tipo de
emoção. — Podemos conversar mais tarde.
Meus olhos foram atraídos para algo atrás dela: Romero.
Ele estava de pé, forte e alto, enquanto os olhos estavam
firmemente focados no meu pai. Eu não o tinha visto em sete
meses, e ao longo do tempo eu pensei que tinha superado a
minha paixão, mas vê-lo agora fez meu estômago vibrar com
borboletas novamente.
A explosão do pai chamou minha atenção de volta para
ele. — Não, vocês não podem. Eu não vou deixar você chegar
perto deles. Você não é mais minha filha, e eu não quero a sua
podridão passando para Liliana, — ele trovejou. Parecia que
ele queria nada mais do que matar Gianna. Isso me assustou.
Ele não devia nos amar, seus filhos, não importasse o quê? Se
eu fizesse algo que ele desaprovasse, ele iria me odiar
também?
— Isso é besteira, — disse Matteo.
— Matteo, — disse Luca. — Isso não é da nossa conta
— meus olhos dispararam entre os dois, e então novamente na
direção de Romero, cuja mão estava debaixo do casaco. Uma
parte minha torceu, querendo ver ele em ação. Ele
provavelmente era incrível lutando, e uma parte ainda pior
sabia que minha mãe, Fabi e eu estaríamos melhor se o pai
fosse embora.
Mamãe colocou os dedos ao redor do meu pulso e tomou
a mão de Fabi. — Venham agora, — disse ela insistentemente,
nos puxando em direção à escada e para o andar de cima.
— Está certo. Esta é a minha família, Gianna ainda está
sujeita às minhas regras e vocês estão na minha casa, — disse
o pai.
— Eu pensei que eu não fosse mais sua filha, então por
que eu tenho que ouvir uma palavra do que você diz?
Minha cabeça se virou, atordoada com o veneno na voz
de Gianna.
— Cuidado, — o pai assobiou. — Você ainda faz parte
da Outfit — parecia que ele teria batido em Gianna se não
fosse por Matteo, que a segurou pela cintura. Mamãe tentou
me puxar para cima, mas Romero olhou para mim aquele
momento e seus olhos encontraram os meus. Sua rejeição no
meu aniversário ainda estava fresca em minha mente, e mesmo
assim eu sabia que ainda queria beijá-lo. Por que às vezes eu
queria algo impossível? Algo que só levava a mais dor?
Capítulo Quatro
LILIANA
Às vezes, parecia que eu tinha que provar a mim mesma
ao meu pai a cada dia. Ele esperava que eu fizesse o que
Gianna tinha feito, mas eu não sabia como isso era sequer
possível; ele nunca me deixava fora da vista. A menos que eu
resolvesse ter algo com meus guarda-costas antigos, não havia
nenhuma maneira que eu pudesse manchar minha honra. Mas
o pai ainda não tinha perdoado Gianna, e foi por isso que eu a
vi em quase dois anos. Ela foi proibida de vir a Chicago, e eu
não tinha permissão para visitar Nova York. Se não fosse pela
malandragem de Aria, eu não teria sequer sido capaz de falar
com Gianna ao telefone.
Às vezes até mesmo eu sentia raiva de Gianna, porque
sua fuga transformou a minha vida em um inferno. Talvez o
pai fosse menos rigoroso se Gianna tivesse jogado pelas
regras. E então havia momentos em que eu admirava a sua
ousadia. Não houve uma noive em que eu não sonhei com
liberdade. Eu não queria fugir, na verdade, mas eu gostaria de
poder ter mais liberdade em minha vida. Liberdade de
encontrar, de me apaixonar e de estar com essa pessoa.
Eu nem sequer me lembrava de como era a sensação de
estar apaixonada. Assim como Gianna, eu também não tinha
visto Romero nesses dois anos. O que eu sentia por ele
naquela época não tinha sido amor, nem perto disso. Foi
admiração e fascínio, eu sabia disso agora. Mas não tinha
havido mais ninguém. Claro, era difícil encontrar alguém para
se apaixonar se você ia para uma escola onde só havia garotas
e não tinha autorização de ir a qualquer lugar sozinha.
O som de vidro quebrando lá embaixo me arrancou dos
meus pensamentos. Eu pulei fora da minha cama e abri a
minha porta. —Mãe? — eu disse. Ela esteve fora toda a
manhã. Não houve resposta, mas eu podia ouvir alguém se
movendo na cozinha.
Me arrastei fora do meu quarto e desci as escadas. —
Mãe? — eu tentei de novo quando eu tinha quase chegado à
porta da cozinha. Ainda sem resposta. Empurrei a porta aberta
e entrei. Havia uma garrafa de vinho quebrada no chão, vinho
tinto derramado em volta dela. A mãe estava ajoelhada ao lado
dela, a saia cor creme levemente absorvendo o líquido, mas ela
não parecia notar. Ela estava olhando para um caco na palma
da mão como se a fosse a resposta a todas às suas perguntas.
Eu nunca a tinha visto assim. Andei na sua direção. — Mãe?
— eu quase nunca a chamava assim, mas parecia a escolha
certa para o momento.
Ela olhou para cima, seus olhos azuis marejados e sem
foco. —Oh, você está em casa?
“Onde mais eu estaria?” eu queria perguntar, mas em
vez disso, toquei o seu ombro e disse, — Qual é o problema?
Você está bem?
Ela olhou para o pedaço quebrado de vidro em sua mão
novamente, e então deixou cair no chão. Eu a ajudei a se
levantar. Ela não estava firme em suas pernas e eu podia sentir
o cheiro de álcool em seu hálito. Ainda era cedo para começar
a beber, e ela não era realmente de beber muito.
— Eu estava no médico.
Eu congelei. — Você está doente? O que está errado?
— Câncer de pulmão, — disse ela com um pequeno
encolher de ombros. — Estágio três.
— Mas você nunca fumou! Como isso é possível?
— Pode acontecer, — disse ela. — Eu vou ter que
começar a quimioterapia em breve.
Eu passei meus braços em torno dela, me sentindo
impotente e pequena sob o peso de sua notícia. — O pai sabe?
— Eu não consegui encontrá-lo. Ele não atende ao
telefone.
Claro que não. Por que ele deveria atender a um
telefonema de sua esposa? Ele estava, provavelmente, com
uma de suas amantes. —Nós precisamos contar para Aria e
para Gianna. Elas precisam saber.
Mamãe agarrou meu braço. — Não, — ela disse com
firmeza. — Isso vai arruinar o Natal. Eu não quero que eles
saibam ainda. Não há nenhuma razão para preocupá-las. Eu
não falei com Gianna em muito tempo, de qualquer maneira, e
Aria tem o suficiente em suas costas como a esposa de um
Capo.
— Mas mãe, elas deveriam saber.
— Me prometa que você não vai contar, — ela exigiu.
Eu balancei a cabeça lentamente. O que mais eu poderia
fazer?

*****

Duas horas mais tarde, ouvi o pai chegar em casa e mais


trinta minutos depois, escutei os passos leves da minha mãe no
corredor do andar de cima, e a porta do quarto principal foi
fechada. Eu estava sozinha. O pai ainda estava lá embaixo? Eu
deixei meu quarto e fui para o seu escritório no primeiro andar.
Após um momento de hesitação, eu bati. Eu precisava falar
com ele.
Nossa festa de Natal era em duas semanas e agora que
minha mãe estava doente, Gianna devia ser convidada. Ela e
mamãe deveriam ter a oportunidade de passar algum tempo
juntas e se reaproximar.
— Entre, — disse meu pai.
Abri a porta e coloquei a cabeça para dentro, meio que
esperando vê-lo arrasado e chorando, mas ele estava
debruçado sobre alguns papéis, trabalhando. Eu entrei,
confusa. — Mamãe falou com você? — talvez ela não tivesse
contado a ele sobre o câncer.
Ele olhou para cima. — Sim. Ela vai dar início ao
tratamento com o melhor médico de Chicago na próxima
semana.
— Oh, certo. — fiz uma pausa, esperando algo mais
dele, mas ele me observava sem uma pitada de emoção em seu
rosto. — Eu estava pensando que a mãe precisa do apoio de
sua família, agora mais do que nunca. De toda a sua família.
O pai ergueu as sobrancelhas. — E?
— Eu acho que nós deveríamos convidar Gianna para a
nossa festa de Natal. Ela e a mãe não se veem há muito tempo.
Tenho certeza que mamãe ficaria muito feliz em ver Gianna
novamente.
O rosto do pai escureceu. — Eu não vou ter aquela
prostituta na minha casa. Matteo a perdoou, até mesmo se
casou com ela apesar das suas transgressões, mas eu não sou
tão bondoso.
Não, definitivamente bondoso não era uma palavra que
eu usaria para o meu pai. — Mas a mãe precisa de todo apoio
que ela possa ter.
— Não, e essa é a minha palavra final, — ele rosnou. —
E sua mãe não quer que as pessoas saibam sobre a sua doença.
Elas só iam começar a me perguntar se eu convidei Gianna.
Nós vamos agir como se nada estivesse errado. Você não vai
contar nem para suas irmãs, ou qualquer outra pessoa,
entendeu?
Eu balancei a cabeça. Mas como eu poderia esconder
esse tipo de segredo de todo mundo?

*****

A casa estava lindamente decorada para a nossa festa de


Natal. Tudo estava perfeito. O cheiro de carne assada e purê de
batatas trufadas enchia a sala, mas eu não conseguia apreciá-
lo. Mamãe passou ontem e a maior parte desta manhã
vomitando por causa do seu tratamento. Com várias camadas
de maquiagem você não poderia dizer como ela estava pálida,
mas eu sabia. Apenas papai e eu sabíamos. Mesmo Fabi não
tinha a menor ideia.
Aria e Luca chegaram poucos minutos antes dos outros
convidados. Eles estavam hospedados em um hotel, então não
seria muito difícil esconder deles o estado de saúde da mamãe.
Aria abriu um grande sorriso quando me viu e me abraçou. —
Deus, Lily. Você está tão bonita.
Eu lhe dei um grande sorriso. Eu estava tão animada
quando encontrei esse vestido prateado algumas semanas
atrás, porque ele me fazia sentir adulta e acentuava todas as
minhas curvas nos lugares certos, mas hoje o meu entusiasmo
sobre algo como uma peça de roupa parecia ridículo.
Aria se afastou e estudou o meu rosto. — Está tudo
bem?
Eu balancei a cabeça rapidamente e voltei minha atenção
para Luca, que estava esperando pacientemente atrás da minha
irmã por sua vez. Ele me deu um abraço. Eu ainda me sentia
estranha por ele me cumprimentar dessa forma. — O pai ainda
está em seu escritório e a mãe está na cozinha, — eu expliquei.
Pelo menos eu esperava que a mãe não estivesse no banheiro,
vomitando novamente.
Luca passou por mim e meu olhar pousou em Romero,
que estava escondido atrás da estrutura maciça de Luca. Meus
olhos se arregalaram com a visão dele. Eu não esperava que
ele viesse. No ano passado Luca tinha vindo sozinho com
Aria. Afinal de contas, ele era mais do que capaz de protegê-
la.
— Olá, — eu disse casualmente, soando de forma mais
composta do que eu sentia. Eu ainda não tinha superado
totalmente a minha paixão por Romero, mas percebi com
alívio que eu não também não era mais aquela bagunça que
estremecia ao seu redor. Os últimos meses e semanas tinham
me mudado.

*****
ROMERO
Luca tinha negócios para tratar com Scuderi e Dante
Cavallaro; essa foi a única razão pela qual eu vim para
Chicago com eles. E agora quando eu estava na porta da
mansão Scuderi, olhando para Liliana, me perguntei se eu não
deveria ter arranjado uma desculpa. A última vez que eu vi
Lily ela ainda era uma menina, e mesmo que ela ainda não
fosse uma mulher, tinha crescido muito. Ela estava
deslumbrante pra caralho. Era difícil não olhar para ela. E era
fácil esquecer que ainda havia alguns meses até que ela se
tornasse maior de idade, fácil de esquecer que ela estava fora
do meu alcance.
Ela inclinou a cabeça em saudação e deu um passo atrás.
Onde estava a menina que corava e flertava? Tive que admitir
que fiquei triste que ela não estava me dando o seu sorriso
sedutor, embora isso sempre tivesse me incomodado no
passado.
Segui Luca e Aria para dentro de casa. Eu podia ouvir os
passos de Lily próximos atrás de mim, podia sentir o seu
perfume floral e até mesmo ver o seu corpo esguio com o
canto do meu olho. Precisei de muito controle para não virar a
cabeça por cima do meu ombro e dar outra boa olhada dela.
Passei as próximas duas horas observando ela
discretamente enquanto fingia estar ocupado cuidando de Aria,
não que eu tivesse muito que fazer de qualquer maneira. Mas
quanto mais eu observava Lily, mais eu percebia que algo
estava errado. Sempre que ela pensava que ninguém estava
prestando atenção, ela parecia desinflar e seu sorriso
desaparecia, seus ombros caiam. Ela era uma boa atriz quando
estava dando toda sua atenção, mas seus poucos momentos de
desatenção eram o suficiente para mim. Ao longo dos anos,
servindo como guarda-costas, eu tinha aprendido a estar ciente
até mesmo dos pequenos sinais.
Quando ela deixou a sala e não voltou, a preocupação
me superou. Mas ela não era minha responsabilidade. Aria era.
Olhei para a mulher de Luca. Ela estava em uma profunda
conversa com sua mãe e Valentina Cavallaro. Me desculpei.
Ela estaria segura aqui. Luca estava na sala da frente, no que
parecia ser uma discussão com Dante e Scuderi.
Uma vez que eu me encontrei no saguão, hesitei. Eu não
tinha certeza de onde Liliana tinha ido e eu não podia procurar
na casa inteira por ela. Se alguém me encontrasse, poderia
pensar que eu estava espionando para Luca. Um som no
corredor à minha direita chamou a minha atenção, e depois de
ter certeza que eu estava sozinho, segui por ali até que avistei
Liliana. Ela estava encostada na parede, a cabeça jogada para
trás, os olhos fechados. Eu podia dizer que ela estava tentando
se manter focada e, ainda assim, era um espetáculo a ser visto.
Fodidamente linda. Um dia um homem teria muita sorte de
estar casado com ela.
A ideia de vê-la casada mexeu comigo, mas eu não
podia ter essa reação estranha. Andei em direção a ela, me
certificando de fazer os meus passos audíveis para que ela
soubesse que não estava mais sozinha. Ela ficou tensa, abriu
bem os olhos, e quando me viu, relaxou e fechou os olhos
outra vez. Eu não tinha certeza do que fazer a partir da sua
reação à minha presença. Parei a alguns passos dela. Meu
olhar viajou pelas suas pernas longas e magras, e então eu
rapidamente voltei para o seu rosto. — Liliana, está tudo bem?
Você saiu faz um tempo.
— Por que você insiste em me chamar de Liliana quando
todo mundo sempre me chama de Lily? — ela abriu os olhos
de novo e deu um sorriso amargo. Ela tinha os olhos azuis
mais incríveis do caralho. — Foi a minha irmã que pediu para
você me vigiar? — ela perguntou em tom acusador.
Como se eu precisasse de alguém para me dizer para
fazer isso. Tinha sido quase impossível tirar os meus olhos de
Liliana esta noite. — Não, ela não pediu, — eu disse
simplesmente.
Seus olhos azuis pareciam confusos, então ela virou o
rosto para o lado, me deixando olhar seu perfil. Seu queixo
tremeu, mas ela engoliu em seco e sua expressão endureceu.
— Você não precisa ir cuidar de Aria?
— Luca está lá, — eu disse. Cheguei um pouco mais
perto, muito perto. O perfume de Lily flutuou até meu nariz,
me deu vontade de enterrar o rosto em seu cabelo. Deus, eu
estava perdendo a minha cabeça fodida. — Eu posso dizer que
algo está errado. Por que você não me conta?
Lily cerrou os olhos. — Por quê? Eu não sou sua
responsabilidade. E da última vez que nos vimos você não
parecia gostar muito de mim.
Ela ainda estava com raiva de mim por impedi-la de me
beijar em seu aniversário a mais de dois anos atrás? — Talvez
eu possa te ajudar, — eu disse.
Ela suspirou, seus ombros caindo um pouco mais. Com
essa expressão de cansaço ela parecia um pouco mais velha,
como uma mulher adulta já, e eu tive que me lembrar mais
uma vez da minha promessa e do meu juramento. Seus olhos
se encheram de lágrimas quando ela olhou para mim, mas elas
não caíram.
— Ei, — eu disse suavemente. Eu queria tocá-la, tirar
seu cabelo do rosto. Porra. Eu queria muito mais do que isso,
mas fiquei onde estava. Eu não podia sair por aí tocando a
filha do Consigliere da Outfit. Eu nem deveria estar a sós com
ela.
— Você não pode dizer a ninguém, — disse ela.
Eu hesitei. Luca era o meu Capo. Havia certas coisas que
eu não poderia esconder dele. — Você sabe que eu não posso
prometer isso antes de saber o que você vai me dizer — e
então eu me perguntei se talvez ela estivesse grávida, se talvez
alguém tivesse quebrado seu coração, e a ideia me deixou
furioso. Eu não deveria querer ela, eu não podia querer ela, e
ainda assim…
— Eu sei, mas não é sobre a Outfit ou a Família. É… —
ela baixou os olhos e engoliu. — Deus, eu não deveria contar a
ninguém. E eu odeio isso. Eu odeio que estamos mantendo as
aparências quando tudo está desmoronando.
Eu esperei pacientemente, dando o tempo que ela,
obviamente, precisava.
Seus ombros começaram a tremer, mas ela ainda não
chorou. Eu não tinha certeza de como ela conseguiu isso. —
Minha mãe tem câncer.
Isso não era o que eu esperava. Embora, agora que eu
pensava sobre isso, sua mãe parecia pálida, apesar da espessa
camada de maquiagem em seu rosto.
Toquei o ombro nu de Lily e tentei ignorar como era
bom sentir sua pele lisa. — Eu sinto muito. Por que você não
fala com Aria sobre isso? Eu pensei que você e sua irmã
conversavam sobre tudo.
— Gianna e Aria conversam sobre tudo. Eu sou a irmã
mais nova, a quinta roda — ela parecia amarga. — Desculpe,
— ela soltou um longo suspiro, obviamente tentando obter
controle sobre suas emoções. — Meu pai me proibiu de dizer a
alguém, até mesmo a Aria, e aqui eu estou lhe contando.
— Eu não vou contar a ninguém, — eu prometi antes
que pudesse realmente pensar sobre isso. O que eu estava
fazendo prometendo esse tipo de coisa a Lily? Luca e a
Família eram a minha prioridade. Eu tinha que considerar as
consequências, se a esposa do Consigliere estava doente. Isso
enfraqueceria a Outfit? Luca poderia pensar assim. E não
apenas isso, eu deveria proteger Aria. Não era o meu trabalho
lhe dizer que a sua mãe estava doente? Esses eram os
problemas que surgiam quando você começava a pensar com o
pau. As coisas sempre ficavam confusas.
Lily inclinou a cabeça para o lado com uma expressão
curiosa. —Você não vai?
Me debrucei contra a parede ao lado dela, perguntando
como eu podia sair disso. — Mas você não acha que deve
dizer à sua irmã? É a mãe dela. Ela merece saber a verdade.
— Eu sei, você acha que eu não sei? — ela sussurrou
desesperadamente. — Eu quero dizer a ela. Eu me sinto tão
culpada por manter isso em segredo. Por que você acha que eu
estou me escondendo no corredor?
— Então diga a ela.
— Meu pai ficaria furioso se descobrisse. Ele esteve no
limite por um longo tempo. Às vezes eu acho que é preciso
apenas o menor incidente e ele vai colocar uma bala na minha
cabeça.
Ela parecia com medo de seu próprio pai. E o
desgraçado era assustador. Eu peguei a mão dela. — Ele fez
alguma coisa para você? Tenho certeza de que Luca poderia
descobrir uma maneira de te manter segura — o que diabos eu
estava falando? Scuderi iria convencer Dante a começar uma
guerra se Luca levasse a sua filha mais nova para longe dele.
Você nunca deveria se envolver em problemas familiares de
outras pessoas. Essa era uma das regras mais importantes em
nosso mundo.
— Papai não permitiria isso, — disse ela com
naturalidade. Ela realmente não era a mais a garota que eu
conheci da primeira vez. Esse mundo tirou sua inocência
muito cedo. — E ele não fez nada, mas ele ficaria furioso se eu
fosse contra suas ordens diretas.
— Você sabe que sua irmã, nunca contaria a ninguém.
— Mas então ela teria que suportar esse segredo e não
seria sequer capaz de falar com a mãe sobre isso. Por que tudo
é tão confuso? Por que eu não posso ter uma família normal?
— Nós não podemos escolher a nossa família.
— E no meu caso, nem mesmo o meu futuro marido, —
disse ela. Então ela balançou a cabeça. — Eu não sei por que
eu disse isso. Não é com isso que eu deveria estar preocupada
agora, — ela olhou para a minha mão, que ainda estava
segurando a dela. Eu soltei. Se Scuderi ou um de seus homens
nos visse, o homem teria um novo motivo para infernizar
nossas vidas.
— Você sabe o que? Eu vou contar a ela, — disse Lily
de repente. Ela se endireitou e me deu um sorriso agradecido.
— Você está certo. Aria merece saber a verdade — agora que
ela não estava mais encostada na parede, estávamos ainda
mais perto um do outro. Eu deveria ter dado um passo para
trás para manter a distância, mas em vez disso os meus olhos
foram atraídos para os seus lábios.
Lily me surpreendeu indo embora. — Obrigada por sua
ajuda — eu a vi virar a esquina, e então ela se foi.

*****

LILIANA
Meu coração batia rápido no peito, não só porque eu
tinha estado sozinha com Romero e mal tinha conseguido sair
sem beijá-lo, mas porque eu estava determinada a ir contra as
ordens do pai. Talvez Romero tivesse dito a verdade e ele não
fosse contar nada para minha irmã e Luca sobre a minha mãe,
mas por que ele realmente deveria guardar esse segredo para
mim? Nós não éramos um casal, não éramos nem sequer
amigos. Nós não éramos nada um do outro. O pensamento fez
meu estômago ficar pesado.
Era melhor se eu contasse tudo para Aria agora. Ela iria
descobrir eventualmente, e eu queria que fosse através de
mim. A encontrei na sala de estar, um prato com prosciutto em
sua mão. Ela estava falando com Valentina. Eu andei em
direção a elas e Valentina me notou pela primeira vez. Houve
um lampejo de piedade em seus olhos verdes antes que ela
sorrisse para mim. Será que ela sabia?
Claro que sim. Papai provavelmente tinha dito a seu
chefe, Dante, imediatamente, e Dante havia contado à sua
esposa. Será que o pai tinha dito para outras pessoas também?
Pessoas que ele achava mais merecedoras da verdade do que
sua própria família? — Oi Val, — eu disse. — Posso roubar
Aria de você por um momento? Eu tenho que falar com ela.
Aria me deu um olhar interrogativo, mas Valentina
apenas acenou a cabeça. Liguei meu braço ao da minha irmã e
casualmente saí da sala com ela. Eu não queria que meus pais
ficassem desconfiados. Eu peguei o olhar de Romero no outro
extremo do cômodo. Ele estava ao lado de Luca e Dante, mas
estava olhando para mim. Ele me deu um pequeno aceno
encorajador e de alguma forma esse pequeno gesto me fez
sentir melhor. Nos últimos dois anos eu me convenci de que a
coisa com Romero era nada além de uma paixão boba, mas
agora eu não tinha mais tanta certeza.
— Lily, o que está acontecendo? Você tem agido de um
jeito muito estranho durante toda a noite, — Aria sussurrou
enquanto nós íamos em direção ao hall de entrada.
— Eu vou dizer a você em um momento. Eu quero que a
gente fique sozinhas.
O rosto de Aria nublou com preocupação. — Aconteceu
alguma coisa? Você precisa de ajuda?
A levei para o meu quarto no andar de cima. Quando a
porta se fechou atrás de nós, eu soltei Aria e me afundei na
minha cama. Aria se sentou ao meu lado.
— É a mãe, — eu disse em um sussurro. — Ela tem
câncer de pulmão — talvez eu devesse ter dito a ela de uma
forma menos direta, mas isso não teria feito a notícia menos
horrível.
Aria olhou para mim com os olhos arregalados, então ela
caiu contra a parede, liberando uma respiração dura. — Oh,
Deus. Eu vi que ela parecia exausta, mas achei que fosse por
causa de alguma briga com o pai.
— Eles estão brigando sempre, e isso está deixando tudo
pior.
Aria colocou o braço em volta de mim e por um
momento nós nos abraçamos em silêncio. — Por que você não
me disse?
— O pai não quer que ninguém saiba. Na verdade, ele
me proibiu de te dizer.
Aria se afastou. — Ele proibiu você?
— Ele quer manter as aparências. Acho que ele está
envergonhado pela doença dela — eu hesitei. — É por isso
que eu não lhe disse imediatamente. Eu não sabia o que fazer,
mas eu conversei com Romero e ele me convenceu a lhe dizer.
Aria procurou meu rosto. — Romero, hm?
Eu dei de ombros. — Você vai contar a Gianna quando
estiver de volta a Nova York?
— É claro, — disse Aria. — Eu odeio que ela não possa
estar aqui — ela suspirou. — Eu quero falar com a mãe sobre
isso. Ela precisa do nosso apoio, mas como podemos fazer isso
se ela acha que não sabemos?
Eu não sabia como fazer isso. — Eu odeio como o pai
está agindo. Ele é tão frio em relação a ela. Você, Aria, tanta
sorte de ter um marido que se preocupa com você.
— Eu sei. Um dia você vai ter isso também.
Eu realmente esperava que ela estivesse certa. Uma vida
com alguém como o meu pai seria um inferno que eu não
poderia sobreviver.

*****

Todos os dias, mamãe desaparecia um pouco mais. Às


vezes, parecia que tudo o que eu tinha a fazer era desviar o
olhar por um momento e sua pele já havia se tornado um tom
mais assustador de cinza, e ela tinha perdido ainda mais peso.
Mesmo o seu cabelo bonito foi embora completamente. Era
impossível continuar a manter sua doença em segredo. Todo
mundo sabia. Quando outras pessoas estavam perto, meu pai
interpretava o papel do marido amoroso e preocupado, mas em
casa, quando estávamos sozinhos, ele mal podia suportar a sua
presença, como se ele temesse que ela fosse contagiosa.
Assim, ficou sendo minha responsabilidade apoiá-la, embora
eu ainda tivesse que terminar o último ano da escola. Aria,
Gianna e eu falávamos pelo telefone quase todos os dias. Sem
elas eu não teria sobrevivido. E à noite, quando eu estava no
escuro e não conseguia dormir de preocupação ou de medo,
me lembrava da maneira que Romero me olhou naquela festa
de Natal, como se ele me visse pela primeira vez, realmente
me visse como uma mulher e não apenas uma criança
estúpida. O olhar em seus olhos castanhos me fazia me sentir
mais quente, mesmo que fosse apenas uma lembrança.
Uma batida suave me fez sentar. — Sim? — eu
perguntei em voz baixa. Por favor, que mamãe não esteja
vomitando de novo. Eu queria uma noite sem o cheiro ácido no
meu nariz. Eu me senti por esse pensamento. Como eu podia
pensar algo assim?
A porta se abriu e Fabi enfiou a cabeça antes de entrar
totalmente. Seu cabelo escuro estava desgrenhado e ele estava
de pijama. Eu não fechei as cortinas, então podia dizer que ele
tinha chorado, mas não mencionei isso. Fabi tinha feito doze
anos a alguns meses, e se tornou bastante orgulhoso para
admitir seus sentimentos para alguém, principalmente eu.
— Você está com sono?
— Eu pareço como se estivesse com sono? — eu
perguntei provocativamente.
Ele balançou a cabeça, e então colocou as mãos nos
bolsos da calça do pijama. Ele estava velho demais para entrar
em uma cama comigo caso estivesse com medo de alguma
coisa. O pai teria rasgado a cabeça de Fabi fora se ele o tivesse
encontrado com lágrimas nos olhos em meu quarto. Fraqueza
não era algo que o pai tolerava em seu filho, ou em qualquer
pessoa, na verdade.
— Você quer assistir a um filme? — eu me arrastei para
o lado na cama. — Eu não consigo dormir de qualquer
maneira.
— Você só tem filmes de menina, — disse ele como se
eu estivesse pedindo um favor enorme, mas ele se dirigiu à
minha estante de DVDs e pegou algo. Depois se sentou ao
meu lado, com as costas contra a minha cabeceira. O filme
começou e nós assistimos em silêncio por um longo tempo.
— Você acha que a mãe vai morrer? — Fabi perguntou
de repente, o olhar fixo na tela.
— Não, — eu disse com toda a convicção que não
sentia.

*****

Meu aniversário de dezoito anos era hoje, mas não


haveria festa. Mamãe estava muito doente. Não havia espaço
em nossa casa para celebrações ou felicidade. Pai quase não
estava mais em casa, sempre fora a negócios, e, recentemente,
Fabi começou a acompanhá-lo. E assim eu fui deixada sozinha
com a mãe. Claro que havia uma enfermeira e nossa
empregada, mas elas não eram da família. Mamãe não as
queria por perto, e assim eu era a única sentada ao seu lado na
cama depois da escola, lendo para ela, tentando fingir que seu
quarto não tinha cheiro de morte e desesperança. Aria e
Gianna tinham ligado de manhã para me desejar feliz
aniversário. Eu sabia que elas queriam me visitar, mas o pai
proibiu. Nem mesmo em meu aniversário ele poderia ser bom.
Eu guardei o livro que tinha lido para mamãe. Ela estava
dormindo. O ruído de seu esforço para respirar, um clique e
um chocalho, enchia a sala. Eu estava de pé, com a
necessidade de andar um pouco. Minhas pernas e costas
estavam rígidas de ficar sentada durante todo o dia.
Andei em direção à janela e olhei para fora. A vida
estava acontecendo em toda parte em torno de mim. Meu
telefone tocou em meu bolso, me assustando para fora dos
meus pensamentos. Eu o peguei e vi um número desconhecido
na minha tela. Pressionei o aparelho contra minha orelha. —
Alô? — eu sussurrei quando saí para o corredor para não
perturbar a minha mãe, apesar de que ruídos mal acordavam
ela agora.
— Olá, Liliana.
Eu congelei. — Romero? — eu não podia acreditar que
ele tinha ligado, e, em seguida, uma ideia horrível, e a única
explicação para a sua chamada, me atingiu. — Deus,
aconteceu alguma coisa com as minhas irmãs?
— Não. Me desculpe, eu não queria assustá-la. Eu só
queria desejar um feliz aniversário — sua voz era suave,
quente e profunda, e isso me acalmou como mel fazia com
uma dor de garganta.
— Oh, — eu disse. Eu me apoiei contra a parede
enquanto meu pulso desacelerou novamente. — Obrigada. Foi
a minha irmã que te disse que era meu aniversário? — sorri
levemente. Eu podia imaginar Aria fazendo isso, esperando
me animar. Ela não tinha falado comigo sobre isso, mas eu
tinha quase certeza de que ela sabia que eu ainda gostava de
Romero depois de todo esse tempo.
— Ela não precisou. Eu sei quando é o seu aniversário.
Eu não disse nada, não sabia o que dizer. Ele se lembrou
do meu aniversário?
— Você tem planos para hoje?
— Não. Vou ficar em casa e cuidar da minha mãe, — eu
disse, cansada. Eu não conseguia me lembrar da última vez
que tinha dormido durante toda a noite. Se mamãe não me
acordasse porque ela estava vomitando ou com dor, então eu
ficava acordada olhando fixamente para o nada.
Romero ficou em silêncio na outra extremidade, e então
sua voz veio mais suave e ele disse, — As coisas vão
melhorar. Eu sei que as coisas parecem sem esperança agora,
mas elas não serão sempre assim.
— Você já viu um monte de morte em sua vida. Como
você pode suportar isso?
— É diferente se alguém que você se importa está
morrendo, ou se isso é apenas parte dos negócios. — ele tinha
que ser cuidadoso com o que dizia ao telefone, então eu me
arrependi de ter tocado no assunto, mas ouvir a sua voz me
fazia sentir bem. — Meu pai morreu quando eu tinha catorze
anos. Nós não éramos tão próximos quanto eu queria, mas sua
morte foi a única que realmente me abalou até hoje.
— Minha mãe e eu não éramos tão próximas como
muitos dos meus amigos são das suas mães, e eu me arrependo
disso agora que ela está morrendo.
— Ainda há tempo. Talvez mais do que você pensa.
Eu queria que ele estivesse certo, mas no fundo eu sabia
que era apenas uma questão de semanas antes que mamãe
perdesse a batalha. — Obrigada, Romero, — eu disse
suavemente. Eu queria ver o rosto dele, queria sentir seu
cheiro reconfortante.
— Faça hoje alguma coisa que te faça feliz, mesmo que
seja algo pequeno.
— Isto me fez feliz, — eu admiti.
— Isso é bom, — disse ele. Silêncio seguiu.
— Eu preciso ir agora — de repente meu avanço me
envergonhou. Quando eu ia parar de me pôr nessa situação?
Eu não era alguém que sabia esconder suas emoções e eu
odiava isso.
— Adeus, — disse Romero.
Eu terminei a chamada sem dizer mais nada, então olhei
para o meu telefone por um longo tempo. Eu estava dando
importância demais para a ligação de Romero? Talvez ele
quisesse ser educado e ligou para a irmã da esposa de seu
chefe em seu aniversário de dezoito anos para ganhar alguns
pontos. Mas Romero não parecia ser desse tipo. Então por que
ele ligou? E se isso tivesse a ver com a maneira que ele olhou
para mim em nossa festa de Natal? Ele estava começando a
gostar de mim tanto quanto eu gostava dele?
*****

Duas semanas depois do meu aniversário, a saúde da


mãe se deteriorou ainda mais. Sua pele era pálida e fria, os
olhos vidrados dos analgésicos. Eu a segurava sem fazer força,
com medo de lhe machucar. Ela parecia tão frágil. No fundo
eu sabia que não ela não tinha mais tempo. Eu queria acreditar
que um milagre ia acontecer, mas eu não era mais uma
garotinha. Às vezes eu desejava que eu ainda fosse aquela
garota ingênua que eu costumava ser.
— Aria? — disse minha mãe com a voz fina.
Eu saltei da minha cadeira e me inclinei mais perto. —
Não, sou eu, Liliana.
Os olhos da mãe focaram em mim e ela de um sorriso
leve. Parecia terrivelmente triste em seu rosto desgastado. Ela
foi tão bonita e orgulhosa uma vez, e agora ela era apenas uma
casca daquela mulher.
— Minha doce Lily, — disse ela.
Eu pressionei meus lábios juntos. Mãe nunca tinha sido
o tipo excessivamente carinhosa. Ela nos abraçou e leu
histórias para dormir e, geralmente, tentou ser a melhor mãe
que ela podia, mas quase nunca nos chamava pelos apelidos.
— Sim, eu estou aqui — pelo menos até que o pai tentasse me
mandar embora de novo. Se fosse por ele, mamãe estaria
trancada longe de todos que amava, sendo unicamente cuidada
por enfermeiras que tinham sido contratadas até que ela
finalmente falecesse. Tentei dizer a mim mesma que era
porque ele queria protegê-la, para permitir que uma mulher
orgulhosa fosse lembrada como ela costumava ser, e não só
pela sua doença, mas eu tinha a sensação de que não era esse o
seu principal motivo. Às vezes eu me perguntava se ele tinha
vergonha dela.
— Onde estão as suas irmãs? E Fabi? — ela olhou por
cima da minha cabeça, como se esperasse vê-los lá.
Eu abaixei o meu olhar para o seu queixo, não sendo
capaz de olhar em seus olhos. — Fabi está ocupado com a
escola — isso era uma mentira descarada. Papai fez com que
Fabi estivesse ocupado com só Deus sabia o que, por isso que
ele não passava muito tempo com a nossa mãe. Ele parecia
preocupado que a sua doença fosse passar para Fabi se ele
chegasse muito perto. — Aria e Gianna estarão aqui em breve.
Elas mal podem esperar para ver você novamente.
— O seu pai as chamou? — perguntou minha mãe.
Eu não queria mentir para ela novamente. Mas como eu
poderia dizer que o pai não queria que elas viessem visitar a
nossa mãe morrendo, que elas nem sequer saberiam que ela
estava perto da morte se eu não tivesse ligado? Enchi um copo
com água e o levei até seus lábios. — Você precisa beber.
Mamãe tomou um pequeno gole, mas depois virou a
cabeça. — Eu não estou com sede.
Meu coração se partiu enquanto colocava o copo sobre
sua mesa de cabeceira. Procurei por algo para lhe dizer, mas a
coisa que eu realmente queria contar era sobre minha paixão
por Romero, e isso era algo que eu não podia confiar a ela. —
Você precisa de alguma coisa? Eu posso buscar sopa.
Ela deu um pequeno aceno de cabeça. Ela estava me
observando com uma expressão estranha e eu estava
começando a me sentir desconfortável. Eu não tinha certeza do
porquê. Havia um brilho de desamparo e saudade em seu olhar
que atingiu um lugar escuro dentro de mim. — Deus, eu nem
me lembro mais como é ser uma jovem despreocupada.
Despreocupada? Eu não tinha me sentido despreocupada
por um tempo muito longo.
— Havia tanta coisa que eu queria fazer, tantos sonhos
que eu tinha. Tudo parecia possível — sua voz ficou mais
forte, como se a memória chamasse a energia de algum lugar
profundo dentro de seu corpo.
— Você tem uma casa bonita e muitos amigos e filhos
que gostam de você, — eu disse, mas mesmo enquanto falava
as palavras, sabia que era a coisa errada a dizer, e eu odiava
esse sentimento de sempre fazer a coisa errada, de não ser
capaz de falar nada que realmente ajudasse.
— Eu tenho, — disse ela com um sorriso triste.
Lentamente, ele desapareceu. — Amigos que não vêm me
visitar.
Eu não podia negar isso, e eu não tinha certeza se era por
isso que o pai ficou afastado ou se ele realmente nunca se
importou com a minha mãe em primeiro lugar. Eu abri minha
boca para dizer algo, outra mentira pela qual eu me sentiria
culpada mais tarde, mas a mãe continuou falando. — Uma
casa que foi paga com dinheiro de sangue.
Minha mãe nunca tinha admitido que o pai estivesse
fazendo coisas horríveis para enriquecer nossa família, e eu
nunca tive a impressão que ela se importasse muito. Dinheiro e
luxo eram as únicas coisas que meu pai tinha dado livremente
a ela e a nós. Segurei minha respiração, meio curiosa e meio
aterrorizada com o que ela iria dizer a seguir. Será que ela se
arrependia de ter tido filhos? E se fôssemos uma decepção
para ela?
Ela acariciou minha mão. — E vocês, crianças… eu
deveria ter protegido vocês melhor. Eu sempre fui muito fraca
pelos meus filhos.
— Você fez tudo que podia. Papai nunca teria escutado
você, de qualquer maneira.
— Não, ele não teria, — ela sussurrou. — Mas eu podia
ter tentado mais. Há tantas coisas que eu lamento.
Eu não podia negar. Eu tinha muitas vezes desejado que
ela tivesse se levantado por nós, especialmente por Gianna,
quando o pai havia perdido totalmente a cabeça. Mas não
havia razão de fazer com que ela se sentisse mal por algo que
não poderia mais ser alterado.
— Você só tem esta vida, Lily. Viva o melhor dela. Eu
gostaria de ter feito isso e agora é tarde demais. Eu não quero
que você acabe como eu, olhando para trás para uma vida
cheia de oportunidades e sonhos perdidos. Não deixe a vida
passar por você. Você é mais corajosa do que eu, corajosa o
suficiente para lutar por sua felicidade.
Engoli em seco, atordoada com o seu discurso
apaixonado. — O que você quer dizer?
— Antes que eu me casasse com seu pai, eu estava
apaixonada por um jovem que trabalhava no restaurante do
meu pai. Ele era doce e encantador. Ele não fazia parte do
nosso mundo.
Olhei para a porta, preocupada que o pai que nos
ouvisse. Como se isso pudesse acontecer. Como se ele
realmente fosse colocar os pés perto desse quarto. — Você o
amava?
— Talvez. Mas amor é algo que se desenvolve com o
tempo e nós nunca tivemos a chance. Eu poderia tê-lo amado
muito, tenho certeza disso. Nós nos beijamos atrás das lixeiras
uma vez. Estava frio e cheirava a lixo, mas foi o momento
mais romântico da minha vida — um sorriso doce estava em
seu rosto, uma expressão que eu nunca tinha visto em minha
mãe antes.
Pena apertou o meu coração. Papai tinha nunca tinha
feito nada romântico para ela? — E sobre o pai?
— O seu pai… — ela parou. Ela tomou algumas
respirações trêmulas. Mesmo com a ajuda do tanque de
oxigênio, ela estava lutando para respirar. — Ele não tinha
tempo para romance. Ele nunca teve.
Mas ele tinha tempo para estar com prostitutas pelas
costas de minha mãe. Até eu sabia sobre elas, e eu geralmente
era a última pessoa a ficar sabendo sobre coisas desse tipo. Eu
nunca o ouvi dizer uma palavra gentil para minha mãe. Eu
sempre assumi que ele só demonstrava afeto atrás de portas
fechadas, mas agora eu percebi que ele provavelmente nunca
fez isso. A única coisa em que ele era bom era em comprar
joias caras.
— Não me entenda mal, eu respeito seu o pai.
— Mas você não o ama, — eu terminei. Eu sempre tive
certeza que a mãe amava o pai, mesmo que ele não
correspondesse o sentimento, mas descobrir que não havia
nada entre eles, de alguma forma, me fez sentir como se
tivesse levado um soco no estômago. Aria e Gianna tinham se
dado bem com seus casamentos arranjados, mas agora eu
percebia que muitas não tiveram a mesma sorte, e não amavam
ou mesmo toleravam seus maridos. A maioria das mulheres
em nosso mundo estava presa em um casamento sem amor e
cheio de mentiras, e às vezes até mesmo com um homem
violento.
Ela suspirou, os olhos fechados, sua pele se tornando
ainda mais pálida do que antes. — Eu sempre disse a mim
mesma que ainda havia tempo para fazer as coisas que eu
amava, para ser feliz, e agora? Agora é tarde.
Será que essas palavras sempre iriam me dar um soco
cada vez que ela as expressasse? — Não, — eu disse com voz
trêmula. — Não é. Não desista.
Ela olhou para mim com um sorriso triste. — Não vai
durar muito mais tempo. Para mim não há nada, apenas o
lamento. Mas você tem toda a sua vida pela frente, Liliana.
Prometa que vai vivê-la ao máximo. Tentar ser feliz.
Engoli em seco. Toda a minha vida a minha mãe me
disse para aceitar o meu destino, para ser uma boa menina, ser
obediente. — Eu quero me casar por amor.
— Você deveria, — ela sussurrou.
— O pai não vai permitir isso. Ele vai encontrar alguém
para mim, não vai?
— Aria e Gianna casaram por conveniência. Você não
tem que se casar por razões táticas. Você deve ser livre para se
apaixonar e se casar com esse garoto especial.
Uma imagem de Romero surgiu em minha cabeça, e
uma revoada de borboletas encheu o meu estômago.
— Me lembro desse olhar, — mamãe disse suavemente.
— Há alguém, hm?
Eu corei. — É bobagem. Ele não está nem mesmo
interessado em mim.
— Como não? Você é linda e inteligente e vem de uma
boa família. Ele seria louco se não se apaixonasse por você.
Eu nunca tinha falado com mamãe sobre isso, e me
sentia incrivelmente triste que fosse o câncer a nos aproximar.
Eu queria que ela tivesse sido esse tipo de mãe antes, e então
eu me senti culpada por pensar assim. — Ele não é alguém que
o pai aprovaria, — eu disse finalmente. E isso era um
eufemismo enorme. — Ele é apenas um soldado.
— Oh, — minha mãe sussurrou. Ela tinha dificuldade
em manter os olhos abertos. — Não deixe que ninguém a
impeça de alcançar a felicidade — as últimas palavras foram
quase inaudíveis enquanto mamãe lentamente adormecia. Tirei
a mão debaixo dela e me levantei. Sua respiração era difícil,
áspera e plana. Eu quase podia imaginar ela parando a
qualquer momento. Saí do quarto, mas não fechei a porta. Eu
queria ter certeza de que iria ouvir se ela me pedisse ajuda.
Eu fui em direção à escada, onde quase esbarrei em meu
pai. — A mãe vai ficar feliz em ver você, — eu disse. — Mas
ela está dormindo, então você vai ter que esperar um pouco.
Ele afrouxou a gravata. — Eu não estava indo ver sua
mãe. Eu tenho mais algumas reuniões agendadas.
— Ah, certo — era por isso que ele cheirava a uma loja
de perfume e suas roupas estavam amassadas. Ele tinha
passado a manhã com uma de suas prostitutas e estava,
provavelmente, a caminho de encontrar a próxima. — Mas ela
adoraria ver você mais tarde.
Meu pai estreitou os olhos. — Você ligou para sua irmã?
Luca me ligou essa manhã para me dizer que ele e Aria
estavam a caminho de Chicago para visitar a sua mãe.
— Eles têm o direito de dizer adeus.
— Você realmente acha que eles querem ver sua mãe
como ela está? Sua mãe uma vez foi uma mulher orgulhosa, se
ela ainda estivesse em seu juízo perfeito, não iria querer que
ninguém a visse neste estado lamentável.
A raiva borbulhou em mim. — Você está envergonhado
por ela, isso é tudo!
Ele levantou um dedo em advertência. — Cuidado. Não
tome esse tom comigo. Eu sei que você está sob muita pressão,
mas minha paciência está se esgotando.
Eu pressionei meus lábios juntos. — Você disse a Aria e
Luca para vir, ou você os proibiu de visitar? — eu não
mencionei que Gianna estaria vindo também. Ele iria descobrir
em breve e, então Luca estaria lá para acalmá-lo.
— Eles vão estar aqui na parte da tarde. Isso vai dar a
Luca e Dante a oportunidade de discutir os seus negócios.
Era com isso que ele se preocupava? Os negócios? Sua
esposa estava morrendo e ele não dava a mínima. Eu balancei
a cabeça e saí sem dizer mais nada. Meia hora mais tarde, vi
meu pai sair de casa novamente. Houve um momento em que
eu ansiava por vê-lo. Ele usava seus ternos pretos e eu pensava
que ele era a pessoa mais importante do mundo. Mas isso não
durou muito. A primeira vez que ele levantou a mão conta a
minha mãe, eu soube que ele não era o homem que eu pensei
que ele fosse.

*****

Aria, Gianna, e Luca chegaram duas horas mais tarde.


Matteo tinha ficado em Nova York. Não só porque Luca
precisava de alguém em quem confiava lá, mas porque o
encontro de Gianna com o pai seria explosivo de qualquer
maneira. Se Matteo estivesse lá, bem, alguém morreria.
Aria e Gianna me abraçaram com força quando me
viram. — Como você está? — perguntou Aria.
Eu dei de ombros. — Eu não sei. É difícil ver a mãe tão
fraca.
— E o pai agindo como um idiota não está ajudando, —
Gianna murmurou.
Luca me deu um pequeno aceno de cabeça. — Eu vou
esperar na cozinha. Eu ainda tenho alguns telefonemas para
fazer.
Eu tinha a sensação de que ele só queria nos dar tempo a
sós com nossa mãe e eu estava grata por isso. Eu quase
perguntei a ele sobre Romero, mas então parei.
Levei minhas irmãs lá em cima. Quando entrei no quarto
da mãe, choque brilhou em seus rostos. Mesmo eu, que estive
cuidando dela todos os dias, ficava chocada todas as manhãs
quando via como ela parecia quebrada, e o cheiro era horrível
também. Os enfermeiros limpavam o chão e a mobília com
desinfetantes duas vezes por dia, mas o fedor de urina e
decadência ainda cobria tudo. Ele parecia se apegar à minha
roupa e minha pele, e meu nariz entupia quando eu não
conseguia dormir à noite.
Mamãe estava acordada, mas levou um momento antes
do reconhecimento brilhar em seus olhos. Então ela sorriu, e
por um momento, apesar dos tubos que desapareciam em seu
nariz, ela não parecia como se a morte já a tivesse marcado.
Aria imediatamente caminhou em direção à cama e a abraçou
com cuidado. Gianna estava tensa ao meu lado. Ela e minha
mãe não se viam há algum tempo, e elas não tinham
exatamente um bom relacionamento antes disso. Quando Aria
deu um passo atrás, o olhar da mãe caiu em Gianna e ela
começou a chorar. — Oh Gianna, — ela sussurrou. Gianna
correu para nossa mãe e a abraçou. Quase quebrou o meu
coração que essa reunião tivesse um motivo tão horrível. Eu
desejava que isso tivesse acontecido muito antes. Puxei mais
duas cadeiras para a cama e as coloquei no lado da qual eu
tinha passado horas incontáveis. Todas nos sentamos e mamãe
parecia em paz pela primeira vez. Eu deixei Aria e Gianna
falarem e escutarem. Gianna se inclinou para mim enquanto
Aria contava para nossa mãe sobre uma exposição de arte em
Nova York. — Onde está Fabi? Ele não deveria estar em casa?
— O pai sempre manda alguém buscar ele na escola, e
eu só o vejo na hora do jantar.
— Ele já está introduzindo Fabi? Ele é muito jovem para
essa besteira.
— Eu não sei. É difícil falar com Fabi sobre isso. Ele
não me diz tudo como costumava fazer. Ele mudou muito
desde que a mãe ficou doente. Às vezes eu não o reconheço.
— A máfia muda todos eles. É uma merda, — Gianna
murmurou.
— Olhe para Matteo e Luca e Romero, eles não são de
todo ruim.
Gianna suspirou. — Eles não são bons também. Longe
disso. Com Fabi, eu sei como ele costumava ser antes da
podridão atravessar o seu caminho, mas com Luca e Matteo eu
sempre os conheci como homens iniciados, por isso é diferente
— Gianna estreitou os olhos enquanto me estudava. — Você
ainda está apaixonada por Romero? Você não deveria mudar
para um novo alvo agora?
Corei, mas não respondi. Felizmente, Aria envolveu
Gianna na conversa e eu pude relaxar novamente.

*****

Gianna, Aria e eu adormecemos em nossas cadeiras.


Duas horas mais tarde, fomos acordados pela voz aguda do
pai. — O que ela está fazendo aqui?
Me sentei, levando alguns segundos para me orientar. O
pai estava na porta e seus olhos brilhando em Gianna. Ele
ainda não a tinha perdoado pelo que ela fez. Ele
provavelmente levaria a sua raiva para o túmulo.
— Eu não estou aqui para ver você, acredite em mim, —
Gianna murmurou.
Aria se levantou da cadeira e foi até nosso pai para lhe
dar um abraço. Normalmente seu humor se iluminava quando
ela estava por perto, mas hoje ele nem sequer a notou.
— Eu não quero você na minha casa, — disse ele a
Gianna.
Avistei Fabi atrás dele, obviamente sem saber como
reagir. Eu sabia que ele gostava de Gianna e sempre esteve
muito ansioso para falar com ela ao telefone, mas a influência
do pai ele sobre tinha crescido nos últimos meses, e ficou claro
que meu irmão não tinha certeza de qual lado escolher.
Eu fiquei de pé e arrisquei um olhar discreto para minha
mãe. Ela ainda estava adormecida por causa dos remédios. Eu
não queria que ela testemunhasse isso. — Por favor, vamos
discutir lá fora, — eu sussurrei.
Nosso pai virou e saiu para o corredor sem um único
olhar para a mãe. O resto de nós o seguiu. Gianna não deu a
Fabi a chance de pensar sobre isso, ela o abraçou
imediatamente e, depois de um momento, ele a abraçou de
volta. Papai olhou com raiva para o meu irmão. Eu não podia
acreditar que ele não era capaz de deixar o seu orgulho
estúpido de lado uma única vez. Mamãe precisava de nós em
seus últimos dias, mas ele não dava a mínima. Ele nem
esperou que eu fechasse a porta antes de falar de novo.
— Eu proibi você de entrar nessa casa, — ele rosnou.
Eu fechei a porta e me encostei nela. Minhas pernas
tremiam.
— É também a casa da minha mãe e ela me pediu para
vê-la, — disse Gianna. Era verdade. Eu tinha perdido a conta
das vezes que a mãe tinha perguntado sobre Gianna.
— Eu paguei por esta casa, e minha palavra é a lei.
— Você não tem qualquer respeito pelos desejos da sua
esposa que está à beira da morte? — Gianna assobiou.
Eu tinha certeza que o pai teria atacado Gianna, mesmo
que ela fosse esposa de Matteo, mas Luca chegou ao andar de
cima naquele momento. Isso não impediu o pai de dizer coisas
muito desagradáveis e Gianna de disparar de volta contra ele.
Eu não aguentava mais. Passei por eles. Suas brigas e
xingamentos me seguiram pelo corredor e até mesmo lá
embaixo eu ainda podia ouvir os seus gritos. Invadi a cozinha,
bati a porta e me encostei a ela, antes de enterrar meu rosto nas
mãos. As lágrimas que eu tinha lutado por tanto tempo,
pressionaram contra os meus olhos. Eu não podia segurá-las.
Um barulho me fez olhar para cima. Romero estava no
balcão da cozinha e me observava sobre a sua xícara de café.
Eu me encolhi em constrangimento e rapidamente tentei
limpar o meu rosto. — Sinto muito, — eu disse. — Eu não
sabia que alguém estava aqui — eu nem sabia que Romero
estava aqui, na verdade, mas eu não deveria ter ficado
surpresa. Desde que Matteo tinha ficado em Nova York, Luca
precisava de alguém que pudesse manter um olho sobre as
minhas irmãs quando ele estivesse ocupado.
— Esta é a sua casa, — ele disse simplesmente. Seus
olhos eram amáveis e compreensivos. Eu tive que desviar o
olhar ou eu realmente começaria a berrar, soluçar e tudo mais,
e isso era a última coisa que eu queria.
— Costumava ser, — eu sussurrei. Eu sabia que
precisava manter minha boca fechada, mas as palavras
continuavam saindo. —Mas agora parece que eu estou presa.
Não há nada de bom. Em qualquer lugar que eu olho há apenas
escuridão, apenas doença e ódio e medo — eu fiquei em
silêncio, chocada com o meu desabafo.
Romero pousou o café. — Quando foi à última vez que
você saiu de casa?
Eu nem sabia. Dei de ombros.
— Vamos dar um passeio. Podemos conseguir um café.
Está muito quente lá fora.
Euforia avançou no meio da nuvem escura que tinha se
instalado em minhas emoções nas últimas semanas. — Você
tem certeza que está tudo bem?
— Eu vou verificar com Luca, mas eu não vejo por que
deveria ser um problema. Só um segundo.
Eu me afastei para que ele pudesse passar. Seu delicioso
cheiro entrou em meu nariz enquanto ele passava por mim e eu
queria pressionar em sua camisa para encontrar consolo em
seu perfume. Meus olhos o seguiram, traçando os seus ombros
largos e quadris estreitos. As palavras de minha mãe
atravessaram minha mente outra vez. Talvez a felicidade não
estivesse tão longe quanto eu pensava.

*****

ROMERO
Eu não deveria sequer considerar estar a sós com Lily,
nem agora, nem nunca. Não quando eu não conseguia parar de
notar como ela tinha crescido. Ela não era mais a menina que
eu conheci. Ela era uma mulher em idade de casar agora, mas
estava fora do meu alcance. Pelo menos para os padrões do
seu pai. Eu era um dos melhores lutadores de Nova York,
apenas Luca e Matteo eram tão bons com uma faca ou uma
arma, e eu não era exatamente pobre, mas definitivamente não
era da realeza da máfia e não podia pagar por uma cobertura
como a de Luca. Eu não tinha certeza por que diabos eu estava
pensando sobre esse tipo de coisas agora. Eu não ia pedir a
mão de Lily, nem agora, nem nunca, e, neste momento havia
coisas mais importantes para cuidar.
Subindo as escadas, segui o som da discussão. Era
Gianna e seu pai novamente, e Luca parecia estar tentando
impedir um de arrancar fora a cabeça do outro. O único
problema era que ele parecia estar perto de perder a sua
própria paciência de merda. Andei em direção a eles e Luca
me deu um ilhar exasperado. Scuderi era um pé no saco, e
Luca não era a pessoa mais paciente desse planeta. Uma
combinação ruim. Ele veio em minha direção. — Eu vou
perder a porra da minha cabeça se Gianna e esse velho não
pararem de brigar.
— Lily está levando isso da pior maneira. Ela teve de
testemunhar a deterioração de sua mãe durante meses. Eu
quero levar ela lá fora, para dar uma caminhada e tomar um
café, colocar sua mente um pouco longe disso.
Luca estudou o meu rosto com uma expressão que eu
não gostei nem um pouco. — Claro, mas eu realmente não
preciso de mais nenhum problema. As coisas entre Nova York
e Chicago já estão abaladas.
— Eu não vou fazer nada que prejudique a nossa relação
com Chicago.
Luca acenou com a cabeça, mas ele não parecia
convencido. Ele olhou de volta para Scuderi e suas duas filhas.
— É melhor eu voltar para lá. Esteja de volta antes do jantar,
então Scuderi não vai saber que Liliana saiu de casa. O
bastado quase não presta atenção em nada, muito menos
naquela garota.
Girei em meus calcanhares e saí, deixando Luca em sua
tarefa de merda de separar Scuderi e Gianna. Lily estava
sentada à mesa da cozinha quando entrei, mas se levantou
rapidamente, com uma expressão de esperança em seu rosto
bonito. Bonito? Que porra é essa, Romero? Eu não podia
começar a pensar assim enquanto eu estivesse perto dela. A
linha seria cruzada facilmente, e Luca estava certo. Nós não
precisávamos de mais merda no nosso prato.
— E então? Podemos ir? — Lily perguntou com aquele
mesmo sorriso esperançoso no rosto.
Parei a uma certa distância dela. — Sim, mas precisamos
voltar antes do jantar.
Isso nos deixava um pouco mais de duas horas.
Uma pitada de decepção cintilou em seus olhos, mas foi
embora rapidamente. — Então vamos.
Nós saímos da casa e Lily parou na calçada e inclinou a
cabeça para cima com uma expressão feliz. Os raios solares
atingiram o seu rosto em um brilho suave. — Isto é tão bom,
— disse ela baixinho.
Eu sei de muitas coisas que se sentiriam ainda melhores.
Como seria o seu rosto no auge da paixão? Era algo que
eu provavelmente nunca iria descobrir. Eu não disse nada, só
assisti enquanto ela bebia do sol.
Ela piscou para mim com um sorriso envergonhado. —
Desculpa. Estou perdendo tempo. Nós deveríamos tomar um
café e não ficar na calçada durante todo o dia.
— Isto é para você. Se você preferir ficar aqui e
aproveitar o sol, podemos fazer isso também. Eu não me
importo, — me importar era pouco. Observar Lily era algo que
eu poderia fazer o dia todo.
Ela balançou a cabeça. Seus cabelos loiros caíam em
ondas suaves sobre os seus ombros e eu tive que me impedir
de estender a mão e deixar alguns fios deslizarem entre os
meus dedos. Por alguma razão que nem eu sabia, estendi meu
braço para ela. Lily enganchou seu braço no meu sem
hesitação, um sorriso torcendo seus lábios quando ela olhou
para mim. Caramba. Eu a levei rua abaixo. — Você conhece
um bom café? Eu estive em Chicago muitas vezes nos últimos
anos, mas não estou familiarizado com os bons lugares para ir.
— A uma caminhada de apenas dez minutos existe uma
pequena cafeteria com um café fantástico, e cupcakes
deliciosos. Nós poderíamos ir lá. Eu normalmente
encomendaria tudo, mas poderíamos nos sentar lá se você
quiser? — havia muitas coisas que eu queria, a maioria deles
envolvia Lily nua em minha cama.
— Isso parece bom. Mostre o caminho.
— Sabe o que eu gosto em você? Você é tão fácil e
relaxante. Você parece o vizinho legal da casa ao lado.
Agradável e gentil.
— Lily, eu sou um Made Men. Não faça de mim o herói
que eu não sou. Eu não sou o tipo agradável.
— Para mim você é, — disse ela levemente. Seus olhos
azuis estavam muito confiantes. Ela não sabia as coisas que eu
estava pensando sobre ela, a maioria delas não eram boas. Eu
queria fazer muitas coisas sujas, ela nem sequer compreendia a
metade delas, e era por isso que eu precisava manter a minha
distância. Talvez ela parecesse crescida, mas ainda era muito
jovem, muito inocente.
Eu apenas sorri. — Estou tentando.
— Você está indo bem, — ela disse provocando. A
tristeza e desesperança tinham desaparecido de seu rosto por
um momento, e esse era todo o incentivo que eu precisava.

*****

LILIANA
Romero sorriu. — Obrigado, — eu poderia ter beijado
ele naquele momento. Ele estava tão bonito e sexy.
— De nada, — eu disse. Fizemos um passeio pela rua
em direção ao pequeno café que parecia pertencer a uma
daquelas ruazinhas com paralelepípedos em Paris, e não a
Chicago. Era estranho caminhar com um homem que não tinha
o dobro da minha idade, como os guarda-costas do meu pai.
Só quando paramos no balcão Romero liberou o meu braço,
mas até então nós tínhamos caminhado juntos, como amantes.
Como seria se isso fosse verdade? Se ele não estivesse apenas
tentando me distrair da minha mãe doente, se fôssemos
realmente um casal?
— Tudo bem? — perguntou Romero em voz baixa.
Eu estava o encarando sem perceber. Rapidamente voltei
minha atenção para a menina atrás do balcão que estava à
espera do nosso pedido. — Um cappuccino e um cupcake red
3
velvet , — eu disse distraidamente. Era o meu pedido padrão e
minha mente estava muito esgotada para verificar o quadro-
negro para as especialidades do dia.
— O mesmo para mim, — disse Romero e pegou a
carteira para pagar para nós dois.
— Você não tem que pagar para mim, — eu sussurrei
quando fomos em direção a uma mesa perto da janela.
Romero levantou uma sobrancelha escura. — Uma
mulher nunca paga quando está comigo.
— Ah é? — eu disse com curiosidade. Romero parecia
já lamentar o seu comentário, mas era tarde demais. Ele
despertou a minha curiosidade. — Quantas namoradas você já
teve?
Era uma pergunta muito pessoal.
Romero riu. — Isso não é algo que eu vou dizer a você.
— Isso significa que muitas, — eu disse com uma
risada. A garçonete trouxe o nosso pedido, dando tempo para
Romero se recompor. No momento em que ela estava fora do
alcance da voz, eu disse, — Eu sei como são as coisas para os
nossos homens. Vocês têm um monte de mulheres.
— Então você sabe tudo sobre nós? — perguntou
Romero. Ele se inclinou para trás em sua cadeira como se não
tivesse uma preocupação no mundo.
Eu tomei um gole do meu cappuccino. — As mulheres
conversam, e pelo que ouvi sobre a maioria dos homens
iniciados, eles não dizem não aos prostíbulos da Outfit. Para a
maioria deles é uma espécie de hobby ter tantas mulheres
quanto possível.
— Muitos homens fazem isso, mas não todos.
— Então você é a exceção? — eu perguntei com ar de
dúvida. Eu queria que fosse verdade, mas eu era realista.
Romero deu uma mordida em seu cupcake, obviamente
considerando o que me dizer. — Eu já tive dias selvagens
quando eu era mais jovem, dezoito ou dezenove anos, talvez.
— E agora? Você tem namorada? Noiva? — eu sempre
pus esse pensamento de lado, mas da maneira que Romero
tinha falado, parecia um ponto válido. Tomei um gole do meu
café, feliz com a sensação do copo em minhas mãos. Me deu
algo para me concentrar.
Romero balançou a cabeça com um olhar indecifrável no
rosto. —Não, eu tive namoradas nos últimos anos, mas é
difícil ter um relacionamento estável se o trabalho sempre vem
em primeiro lugar. Eu sou um soldado. A Família será sempre
a minha prioridade. A maioria das mulheres não consegue
lidar com isso.
— A maioria das mulheres não é questionada se elas
querem essa vida ou não. E que tal um casamento arranjado?
— Eu não gosto da ideia de alguém me dizendo com
quem eu deveria me casar.
— Então a sua família nunca tentou casar você com
alguém?
Romero sorriu. Eu poderia ter saltado sobre a mesa e me
arrastado para o seu colo. — É claro que eles tentaram. Somos
italianos, está em nosso DNA interferir na vida das nossas
crianças.
— Mas você nunca gostou de nenhuma das garotas que
eles sugeriram?
— Eu gostei de algumas, mas ou elas não estavam
interessadas em mim ou eu não conseguia me ver passando o
resto da minha vida com elas.
— E ninguém nunca tentou te forçar a casar?
— Como é que eles me forçariam?
Eu balancei a cabeça. Sim como? Ele era um Made Men,
não uma garota estúpida. — Você está certo. Você pode tomar
suas próprias decisões.
Romero largou seu copo. — Luca poderia pedir que eu
me casasse por razões políticas. Eu provavelmente não
recusaria.
— Mas ele não faria isso, — eu disse.
— Talvez você também possa vir a escolher por si
mesmo. Talvez você encontre o cara perfeito em breve e ele
seja digno aos olhos do seu pai.
O cara perfeito estava sentado na minha frente. Doeu ver
Romero sugerir que eu encontrasse alguém. Será que ele não
percebia que eu tinha sentimentos por ele? Eu não queria
encontrar um cara que o meu pai aprovaria. Eu queria o
homem na minha frente.
Depois disso nós falamos sobre coisas aleatórias, nada
de importante, e cedo demais tivemos que voltar para a minha
casa. Desta vez nós não cruzamos os braços. Tentei não ficar
desapontada, mas foi difícil. Quando entramos no hall de
entrada da casa, eu podia sentir o peso da tristeza persistente
retornando aos meus ombros.
Romero tocou levemente o meu braço. Meus olhos
traçaram a sua forte mandíbula com um pouco de barba
escura, os olhos marrons preocupados, as maçãs do rosto
proeminentes. E então eu fiz o que eu tinha prometido a mim
mesmo não fazer novamente, mas nesse exato momento, nesta
casa fria e sem esperança, ele era a luz e eu era a mariposa.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei. O toque foi um contato
breve, mas era isso que eu queria fazer há muito tempo.
Romero agarrou os meus braços e me empurrou. — Liliana,
não.
Eu me soltei de seu abraço e saí sem dizer mais nada.
Minha mãe disse que eu deveria assumir os riscos pela minha
felicidade, e eu estava fazendo exatamente isso.

*****

ROMERO
Eu invadi a cozinha. Eu precisava de outro café. Fechei a
porta atrás de mim a batendo com muita força. Eu queria
rasgar algo em minúsculos pedaços. Meus lábios ainda
formigavam daquele beijo ridículo. Você não poderia sequer
chamar assim. Foi rápido demais. Porque eu tinha agido como
o soldado obediente que eu deveria ser. Foda-se.
Fiz café e esvaziei a xícara em um gole só, e então
coloquei a louça para baixo, fazendo um barulho alto contra o
balcão.
A porta da cozinha se abriu e Luca se encostou contra o
batente com um olhar interrogativo no rosto. — Você percebe
que esta não é a sua casa, certo? Eu não acho que Scuderi
apreciaria você destruindo o seu balcão de mármore caro, —
os cantos de sua boca se contorceram em um quase sorriso.
Eu relaxei contra a ilha de cozinha. — Eu não acho que
Scuderi sabe onde fica sua cozinha. Onde está ele de qualquer
maneira? Essa casa está muito quieta. Eu pensei que ele e
Gianna nunca iriam parar de brigar.
A expressão de Luca escureceu. — Eles estariam
fazendo isso até agora, mas Scuderi teve que sair para uma
reunião, o que eu vou ter que fazer em breve, também. Dante e
eu vamos discutir os russos hoje à noite em algum restaurante
italiano que ele aprecia.
— Eu suponho que vou ficar aqui para manter um olho
nas mulheres, — eu disse com firmeza. A ideia de estar em
torno de Lily toda a noite me preocupava.
Luca veio até mim. — Eu tenho que me preocupar com
o que aconteceu entre você e Liliana no tempo em que vocês
saíram para tomar café? Eu ainda quero saber o que
aconteceu?
Eu o encarei. — Nada aconteceu, Luca. Você me
conhece, eu sou um bom soldado.
— Você também é um cara com um pau e Liliana é uma
linda garota que tem flertado com você por anos. Às vezes isso
pode levar a acidentes infelizes.
Eu soltei um longo suspiro.
— Porra, — Luca murmurou. — Eu estava brincando.
Não me diga que há realmente algo acontecendo.
— Liliana me beijou, mas dificilmente poderíamos
chamar assim. Nossos lábios mal se tocaram e eu a empurrei
para longe, então você não tem nada com que se preocupar.
— Ah, mas eu tenho que me preocupar, considerando o
olhar de pesar em seu rosto quando você disse que seus lábios
quase não se tocaram. Você a quer.
— Sim, eu a quero, — eu murmurei, começando a ficar
irritado com o seu interrogatório. Luca costumava ser o cara
que não podia manter o pau nas calças, e agora ele estava
agindo todo alto e poderoso. — Mas isso não vai acontecer
novamente. Eu posso me controlar. Eu nunca faria nada para
prejudicar a Família.
Luca bateu em meu ombro. — Eu sei disso. E se você
estiver correndo o risco de seguir seu pau em vez de seu
cérebro, basta lembrar que Liliana está passando por um
monte de problemas. Ela provavelmente só está procurando
uma distração. Ela está vulnerável e é jovem. Eu sei que você
não vai deixar que ela arruíne a sua vida.
Essa era uma viagem de culpa que eu já tinha visto outra
vez. Eu balancei a cabeça, porque as palavras na ponta da
minha língua eram muito duras para o meu Capo.
Aria entrou na cozinha naquele momento, mas ela parou
quando nos viu. — Estou interrompendo alguma coisa? — ela
olhou entre Luca e eu. — Eu achei que deveríamos começar a
preparar o jantar. Meu pai deu o dia de folga à empregada,
porque não queria ninguém em casa nesse momento. Isso
significa que temos que cozinhar.
— Vamos pedir pizza, — disse Luca. Ele caminhou em
direção a sua esposa e a puxou contra ele antes de beijar o topo
de sua cabeça. Nos meus primeiros anos de trabalho para
Luca, eu teria apostado tudo que tinha que ele não era capaz
desse tipo de afeto.
— Será que a conversa de vocês tem algo a ver com
Lily? — perguntou Aria casualmente enquanto passava por
vários folhetos com serviço de entrega de pizza.
Eu não disse nada, e Luca deu de ombros. — Por que
você pergunta? — ele disse.
Aria balançou a cabeça. — Eu não sou cega. Lily está
agindo de um jeito estranho desde que voltou do passeio com
Romero, — ela me encarou com um olhar de advertência. —
Eu não a quero a sós com você.
As sobrancelhas de Luca dispararam. Eu sabia que eu
tinha um olhar muito chocado também.
— Não me venha com esse olhar. Você sabe que eu
gosto de você Romero, mas Lily vem passando por muita
coisa recentemente, e quando se trata de você o cérebro dela
para de funcionar. Eu não quero ter que me preocupar com ela.
— Então agora você está protegendo a sua virtude? —
eu perguntei sarcasticamente.
— Ei, — Luca disse rispidamente. — Não fale nesse
tom com ela.
Aria balançou a cabeça. — Não, está tudo bem. Eu não
estou protegendo a sua virtude. Eu só não quero que ela se
machuque. Você tem irmãs mais novas, você não quer mantê-
las seguras?
— Quero, — eu disse. — E eu nunca faria nada que
machucaria Lily. Mas eu respeito o seu desejo. Eu não vou
estar a sós com ela a partir de agora — com um breve aceno
de cabeça na direção de Luca, eu saí da cozinha. As palavras
de Aria não me sentaram bem. Luca tinha confiado em mim
com ela, embora ele fosse um bastardo possessivo, mas Aria
não confiava em mim com sua irmã. Claro, a verdade era que
eu nunca tinha estado remotamente interessado em Aria. Eu
não era cego. Ela era bonita, e definitivamente sexy, mas eu
nunca tinha fantasiado sobre ela, e não apenas porque eu sabia
que Luca iria cortar o meu pau fora se eu fizesse um
movimento. Já Lily era uma questão diferente. Eu tinha
imaginado o seu corpo nu embaixo do meu mais de uma vez, e
quando eu estava perto dela, queria pressionar a garota contra
a parede e ter a porra da minha chance com ela. Isso era um
grande problema. Talvez fosse o melhor que as ordens de Aria
agora estivessem entre Lily e eu.
Capítulo Cinco
LILIANA
Alguém estava me sacudindo. Abri os olhos, mas a
princípio tudo estava escuro.
— Lily, se levante. Acho que mamãe vai morrer, — Aria
disse com a voz em pânico. Eu me sentei, minha cabeça
girando.
Aria já estava em seu caminho para fora do meu quarto,
provavelmente para acordar os outros. Uma de nós sempre
estava sentado na cama da mãe para se certificar de que ela
nunca estivesse sozinha. Hoje à noite tinha sido a vez de Aria.
Empurrei as cobertas para longe, deslizei para fora da cama e
corri para o quarto no fim do corredor. O cheiro de
antisséptico e desinfetante me cumprimentou antes mesmo de
eu entrar, mas agora meu nariz já tinha se acostumado com o
cheiro cortante. Gianna estava lá dentro, sentada na beirada da
cama. Os olhos da mãe estavam fechados e, por um momento,
eu tive certeza de que era tarde demais e ela já tinha morrido.
Então eu vi a ascensão e queda lenta do seu peito. Me
aproximei da cama, hesitante. Gianna mal olhou na minha
direção. Ela estava encarando o seu colo. Eu passei os meus
braços ao redor de seus ombros por trás e apertei as nossas
bochechas juntas.
— Eu odeio isso, — Gianna sussurrou.
— Onde está a enfermeira?
— Ela saiu para que pudéssemos dizer adeus em paz.
Ela deu outra dose de morfina para que ela pudesse ir sem dor.
Aria e Fabi entraram no quarto. Fabi estava usando sua
cara brava, e caramba, ele parecia tão crescido. Ele já era mais
alto do que Aria. Luca ficou no corredor, mas não entrou, ao
invés disso ele fechou a porta, nos dando privacidade.
A respiração da mãe estava baixa, quase imperceptível.
Seus olhos se mexiam de um lado para o outro sob suas
pálpebras, como se ela estivesse assistindo a um filme em sua
cabeça. Não levaria muito mais tempo. Fabi agarrou o pé da
cama, os nós dos seus dedos ficando brancos. Havia lágrimas
em seus olhos, mas seu rosto era como pedra. Eu conhecia
aquele olhar, aquela postura.
Eu me virei para longe dele. Aria caminhou até nós. —
Como ela está?
Eu não tinha certeza como responder a essa pergunta.
Gianna levantou o olhar. — Onde está o pai? Ele deveria
estar aqui! — ela falou em voz baixa, mas Aria e eu ainda
arriscamos um olhar preocupado em direção à mãe. Ela não
precisava estar chateada nos últimos momentos de sua vida.
Meu estômago se contraiu dolorosamente e por um segundo eu
tinha certeza de que eu teria que correr para o banheiro e
vomitar. A morte era parte da vida das pessoas, especialmente
quando você crescia em nosso mundo. Eu tinha ido a inúmeros
funerais nos últimos anos, mas quase todos eles tinham sido de
pessoas que eu mal conhecia.
— Eu não sei, — admitiu Aria. — Eu bati na porta dele
e até mesmo telefonei, mas não parecia que ele tinha dormido
na sua cama.
Gianna e eu trocamos um olhar. Ele estava realmente
com uma de suas prostitutas hoje à noite? Mamãe estava se
sentindo muito fraca ontem, por isso não era surpresa ela estar
tão mal essa noite. Ele deveria ter ficado em casa para estar
com ela.
— Você sabe onde ele está? Você está agindo como o
melhor amigo dele nos últimos dias, — Gianna murmurou
com uma carranca na direção de Fabi.
Ele endureceu. — Ele não me diz aonde vai. E eu não
sou o seu melhor amigo, mas como o seu único filho eu tenho
responsabilidades.
Gianna levantou, e eu não tive escolha a não ser deixá-la
ir. — Ah meu Deus, que besteira é essa. Eu não posso
acreditar nisso, — ela sussurrou.
— Gianna, — Aria disse em advertência. — Já basta.
Não aqui, não agora.
— Não importa que o pai não esteja aqui, — eu disse
com firmeza. — Nós estamos aqui para ela. Nós somos as
pessoas mais importantes na sua vida, não ele.
Essa foi à última vez que mencionamos o pai naquela
noite. Horas se passaram com o estado da mãe permanecendo
o mesmo, e, finalmente meus olhos se fecharam, mas então
sua respiração alterou e eu acordei imediatamente.
Me sentei na minha cadeira e peguei a mão dela. —
Mãe? — perguntei.
Aria estava segurando a outra mão. Gianna não se
moveu de seu lugar na poltrona do canto. Suas pernas estavam
pressionadas contra o peito, com o queixo apoiado nos joelhos.
Fabi tinha adormecido com seu rosto contra a madeira aos pés
da cama. Estendi a mão e o cutuquei. Ele se endireitou em sua
cadeira.
As pálpebras de minha mãe vibraram como se ela
estivesse tentando abri-las. Prendi a respiração, esperando que
ela olhasse para nós mais uma vez, talvez até mesmo dissesse
algo, mas então a sua respiração desacelerou ainda mais.
Eu não tinha certeza de quanto tempo demorou. Eu perdi
qualquer noção de tempo enquanto eu monitorava o peito da
mãe, a forma como ele mal se mexia, até que parou
completamente. Fabi correu para fora para chamar a
enfermeira, mas eu não precisava dela para me dizer o que eu
já sabia; nossa mãe tinha ido embora. A enfermeira passou ao
nosso redor, e então com um aceno de cabeça triste,
desapareceu fora do quarto outra vez.
Eu soltei a mão da mãe, me levantei da cadeira e dei um
passo para trás. Aria não se mexeu, ainda segurando a mão
dela. Um momento mamãe estava lá, e no outro ela tinha ido
embora. Assim era como uma vida terminava, e com ela, os
sonhos e as esperanças da pessoa. A vida era tão curta,
qualquer momento poderia ser o seu último. Minha mãe tinha
me dito para ser feliz, mas em nosso mundo, felicidade não era
algo que vinha facilmente.
Aria apoiou a cabeça na borda da cama, soluçando sem
fazer um som. Fabi, como, só estava parado ao lado. Parecia
que ele não podia compreender o que tinha acontecido. Gianna
caminhou até Aria, pela primeira vez em horas se
aproximando da cama, e colocou a mão no ombro de nossa
irmã. Ela nem sequer olhou para a mãe, e eu entendia. O
relacionamento de Gianna com a nossa mãe sempre foi difícil,
e só piorou quando ela aceitou a forma como o pai a tinha
tratado depois da sua fuga. Nos dias desde sua chegada aqui,
os sentimentos de Gianna tinha mudado muitas vezes de um
segundo para o outro.

Depois de um momento, Aria se levantou e deu um beijo


na testa da mãe. Para minha surpresa, Gianna fez o mesmo,
embora ela rapidamente tenha se afastado da cama de novo.
Eu só podia olhar. Eu sabia que deveria beijar a testa da mãe,
como um último adeus, mas eu não poderia tocar neste corpo
sem vida. Que não era mais ela. Era algo vazio e sem vida.
Eu cambaleei para fora do quarto. Minha garganta estava
fechada e meus olhos estavam queimando. Eu queria correr e
não parar, mas no corredor eu esbarrei em Romero. Se ele não
tivesse agarrado os meus ombros, eu teria tombado. Eu estava
ofegante. O pânico lentamente se apertou em torno do meu
corpo como um vício.
— Tire ela daqui, — ordenou Luca. Eu não tinha o
notado.
— E quanto à ordem de Aria?
— Eu não dou à mínima.
Romero passou um braço em volta da minha cintura e
me conduziu pelo corredor. Eu ainda estava tentando puxar ar
em meus pulmões, mas era inútil. Minhas pernas fraquejaram.
— Ei, — Romero disse em uma voz suave. — Se sente
— ele me guiou para o chão e me ajudou a colocar minha
cabeça entre as pernas enquanto ele desenhava círculos
calmantes nas minhas costas. A sensação de sua mão quente
me amparou.
— Apenas respire, — ele murmurou. — Está tudo bem.
Sua voz me puxou para fora do buraco negro que queria
me consumir e, eventualmente, a minha respiração voltou ao
normal. — Ela está morta, — eu sussurrei quando tinha
certeza de que conseguiria falar.
Romero parou o seu afago em minhas costas. — Eu
sinto muito.
Eu balancei a cabeça, lutando contra novas lágrimas. —
Meu pai não estava lá. Eu não sei onde ele está. Ele deveria ter
estado lá para ela em seus últimos momentos! — a raiva
parecia boa, melhor do que a tristeza.
— Sim, ele deveria. Talvez Dante tenha chamado ele.
Eu levantei o olhar para Romero. — Dante não teria
feito isso, e não no meio da noite, não quando ele sabia que a
nossa mãe estava tão doente. Não, o pai não queria estar aqui
quando minha mãe morresse. Ele mal a visitou desde que ela
ficou pior. Ele é um bastardo egoísta e está, provavelmente,
enroscando em uma de suas putas neste exato momento.
Romero sorriu sombriamente. — Às vezes eu esqueço
que você é uma adulta agora e conhece os lados feios do nosso
mundo.
— É melhor você não esquecer, — eu disse. — Eu sei
mais do que todos vocês pensam.
— Eu não duvido, — disse ele. Por um instante, só
olhamos um para o outro. Eu me sentia mais calma agora.
— Obrigada, — eu disse simplesmente. Romero tirou a
mão das minhas costas. Eu desejava que ele não tivesse tirado.
Seu toque me fazia sentir bem. Ele se endireitou e estendeu a
mão. Eu peguei e ele me puxou para os meus pés. A porta do
quarto da mãe abriu e Aria saiu, seus olhos ampliados entre
Romero e eu. Ele soltou a minha mão e me deu um sorriso
encorajador antes de ir até Aria oferecer seus sentimentos.
Aria acenou com cabeça, mas depois seus olhos correram para
mim novamente. Seu rosto estava molhado de lágrimas. Eu
andei em direção a ela e passei meus braços ao seu redor.
Romero tomou isso como sua deixa para sair, mas antes que
ele virasse a esquina, olhou por cima do ombro e nossos
olhares se encontraram. A sensação do vazio frio no meu peito
diminuiu e algo quente e mais esperançoso tomou o seu lugar.
Então ele desapareceu da minha vista. Eu quase fui atrás dele,
mas minhas irmãs precisavam de mim agora. Passos soaram
atrás de nós e, em seguida, Luca estava vindo em nossa
direção, abaixando o telefone de seu ouvido.
— Ele não atendeu ao telefone? Você tentou enviar uma
mensagem? — Aria perguntou enquanto se afastava de mim e
corria para o seu marido.
Luca fez uma careta. — Sim, eu enviei duas mensagens,
mas ele ainda não respondeu, e ele não atende aos meus
telefonemas. Eu duvido que ele esteja de volta logo.
Voltei para o quarto da mãe, embora o meu corpo se
irritasse com a mera ideia, mas Aria precisava de algum tempo
com o marido. Eu estava sobrando ali. Antes de fechar a porta,
vi Luca embalando o rosto da minha irmã e beijando as suas
pálpebras. Isso era amor e devoção. Ele não teria deixado o
seu lado se ela estivesse morrendo. Ele não era um bom
homem, mas ele era um bom marido. Rezei para que eu fosse
tão sortuda um dia. Eu não poderia viver a vida que a minha
mãe tinha, com um marido frio que não se importasse comigo.
Eu sabia que Romero não seria assim. Mas ele não era o que o
pai escolheria como meu marido.
Gianna estava de volta à sua poltrona, mas ela estava
falando ao telefone em voz baixa, provavelmente com Matteo.
Ela, também, tinha encontrado alguém.
Fabi tinha ido embora. Eu não queria interromper
Gianna, então fui em busca do meu irmão mais novo.
Encontrei-o em seu quarto, sentado à sua mesa e polindo uma
de suas muitas facas de combate. Ela já estava brilhante.
— Você quer conversar? — perguntei.
Ele nem sequer olhou para cima, apenas apertou os
lábios.
Eu esperei, então assenti. — Ok. Mas se você mudar de
ideia, eu estou no meu quarto.
Romero estava esperando do lado de fora. Ele balançou
a cabeça em direção ao meu irmão. — Você quer que eu fale
com ele? Talvez ele precise de alguém que não seja da família.
— Você quer dizer que não seja do sexo feminino, — eu
disse amargamente, mas então engoli minhas emoções. —
Você provavelmente está certo. Ele deve preferir falar com
você do que comigo.
Romero parecia querer dizer mais, mas então ele só
passou por mim e foi até o meu irmão. — Você precisa de
ajuda para polir sua coleção?
A cabeça de Fabi disparou. Admiração cintilou em seu
rosto pálido. Ele não disse nada, mas entregou um pano a
Romero. Ele se sentou na borda da mesa e desembainhou sua
própria faca do coldre. A lâmina longa, curvada, que parecia
absolutamente mortal. Os olhos de Fabi se iluminaram e ele se
levantou de sua cadeira para dar uma olhada. — Uau, — ele
respirou.
— Eu provavelmente devo polir a minha em primeiro
lugar. Suas facas estão em uma condição muito melhor.
— Isso é porque eles são apenas para serem mostradas,
— disse Fabi. —Mas no seu caso é uma arma real. Quantos
você já matou com ela?
Eu fechei a porta rapidamente. Eu tinha tido morte
suficiente para uma noite. Não queria saber quantas pessoas
Romero já tinha matado em sua vida. Olhei para baixo em
direção ao quarto onde o corpo da mãe esperava para ser
levado embora, então me virei e me dirigi para o meu quarto.
Aria tinha Luca, Gianna tinha Matteo, e por enquanto Fabi
ainda tinha Romero, mas eu lidaria com isso sozinha. Eu tinha
feito isso durante semanas e meses.
*****

ROMERO
Eu queria estar lá para Lily, queria consolá-la, mas eu
respeitava os desejos de Aria. Ela também passou por merdas
o suficiente e não precisava da dor adicional de se preocupar
com sua irmã.
Em vez disso eu mostrei a Fabiano como lidar com a
minha faca, como desembainhar uma longa lâmina tão rápido
quanto uma curta. Era fácil distraí-lo de sua tristeza. Mas
caramba, ele não era a pessoa que mais precisava de mim.
Precisava de mim? Maldição, se eu começasse a pensar
assim, eu me meteria em problemas enormes. Lily não era
minha responsabilidade, e ela definitivamente não precisava
de mim.
Fabi sacou a faca do coldre que eu lhe emprestei e sorriu
com o quão rápido ele tinha feito isso. Eu estive assim uma
vez, ansioso para aprender tudo o que havia sobre a luta, sobre
ganhar. Ansioso para provar que eu era bom. Meu pai era um
funcionário de baixo escalão, alguém que nunca chegou a falar
diretamente com o Capo. Eu queria ser melhor, provar o meu
valor para ele e para mim. Fabiano tinha enormes expectativas
que descansavam em seus ombros, ele tinha muitas maneiras
de falhar, mas muita pouca opção para se destacar.
— Eu preciso ir falar com Luca agora, — eu disse
finalmente. Fabi acenou com a cabeça, e se acomodou em sua
cadeira. Ele pegou um pano e limpou a mesma faca
novamente. Imaginei que ele passaria a noite assim, e talvez
até mesmo os próximos dias.
Saí e me dirigi para as escadas, mas parei em frente à
porta de Liliana, procurando ouvir algum som. Talvez eu
quisesse ouvir um choro para que pudesse invadir e consolá-la,
ser seu cavaleiro de armadura do caralho.
Eu segui em frente.
Capítulo Seis
LILIANA
Eu parecia mortalmente pálida de luto. Aria, Gianna e eu
usávamos os mesmos modestos vestidos e sapatilhas pretas,
nossos cabelos presos em um coque. Eu não usei maquiagem,
mesmo que as sombras sob os meus olhos fossem
assustadoras. O pai tinha organizado um funeral enorme;
caixão caro de carvalho, um mar de flores bonitas, o melhor
buffet para depois. Ele agiu como o viúvo devastado que todos
esperavam ver. Era um show maravilhoso. Ele deveria ter
estado lá para a mãe quando ela realmente precisou dele. Isso
era apenas para impressionar as pessoas e talvez para fazê-lo
se sentir melhor. Mesmo um homem como ele tinha que se
sentir culpado por abandonar a sua esposa moribunda.
Funerais eram um grande evento em nosso mundo. O pai
era um homem importante, e assim a morte da mãe foi um
evento social. Todos queriam participar, e todo mundo estava
chorando lágrimas de crocodilo enquanto prestava suas
condolências. Meus olhos estavam secos como areia. Eu podia
ver as pessoas olhando para mim, me esperando chorar pela
minha mãe, esperando que eu mostrasse a reação que todos
eles esperavam de mim. Mas eu não podia chorar. Eu não
queria chorar, não rodeada por tantas pessoas com lágrimas
falsas. Eles fingiam que tinham se importado com a minha
mãe, que a tinham conhecido, mas nenhuma dessas pessoas a
visitou quando ela estava em casa. Ela estava morta para eles
muito antes da sua morte. No momento em que ela não pôde
mais ser a dama da sociedade, eles a abandonaram como um
trapo sujo. Me deixavam enjoada, todos eles.
Papai colocou os braços ao redor de um ombro de Fabi e
de um ombro meu, enquanto nos levava até o caixão.
Estremeci sob o seu toque. Eu não acho que ele percebeu
minha repulsa por sua proximidade, porque ele realmente
apertou o meu ombro. Tive que demonstrar um autocontrole
incrível para ficar onde eu estava e não fugir para longe dele.
O padre começou a sua oração enquanto o caixão foi
sendo abaixado lentamente para o buraco. Olhei para cima
através dos meus cílios e me Romero do outro lado do túmulo
foi o que me chamou a atenção. Ao contrário de Luca e
Matteo, que tinha vindo para o funeral, Romero não tinha
permissão para ficar desse lado com a nossa família. Sua
expressão era solene enquanto encarávamos um ao outro, mas
depois ele baixou o olhar para o caixão. Ele tinha me evitado
nos últimos dias. Quando eu entrava em uma sala que ele
estivesse, ele estava, ele normalmente saía com uma desculpa
estúpida. Era óbvio que ele não conseguia estar na minha
presença, e não sabia o que dizer. Todo mundo estava pisando
em ovos ao redor de mim e meus irmãos agora. Eu queria que
ele me dissesse a verdade. Eu poderia lidar com isso. Papai
nos levou de volta para os outros presentes enlutados, longe da
sepultura da mãe e, finalmente me soltou. Eu soltei um suspiro
de alívio, feliz por estar fora dos holofotes e longe do meu pai.
As pessoas começaram a baixar a cabeça na direção do
caixão para dizerem o seu último adeus, eu me afastei.
Ninguém me parou. Ninguém sequer pareceu notar. Eles
estavam ocupados fazendo o seu show. Eu me virei e não olhei
para trás. Corri para longe do túmulo, jogando poeira no ar
quando os meus pés batiam no chão. Eu não tinha certeza de
onde eu estava indo. O cemitério era enorme, havia muitos
lugares para encontrar paz e silêncio. Cheguei a uma parte que
era ainda mais opulenta do que onde a mãe tinha sido
enterrada. Filas e mais filas de mausoléus antigos de família
me cercavam. A maioria delas estavam trancados, mas um dos
portões de ferro estava entreaberto. Eu olhei ao redor e, depois
de ter tido a certeza de que ninguém estava me observando, o
abri e entrei. Assim que respirei o cheiro de mofo invadiu o
meu nariz. Tudo era feito de mármore cinzento. Eu afundei e
lentamente me sentei com as costas contra a parede fria.
Em momentos como esse eu entendia o porquê de
Gianna ter fugido. Eu nunca tive o desejo de deixar essa vida
para trás para sempre, mas às vezes eu queria fugir, pelo
menos por um tempo.
Eu sabia que, eventualmente, alguém notaria que eu
estava faltando e viria me procurar, mas eu não me importava,
nem se o pai perdesse a sua cabeça comigo.
Demorou menos de uma hora antes que eu ouvisse
alguém chamar o meu nome à distância. Abri os lábios para
responder, mas nenhum som saiu. Eu descansei minha cabeça
contra o mármore, e olhei para fora através das grades do
portão de ferro. Então, muitas vezes na minha vida eu me
sentia como se estivesse cercada por grades invisíveis, e agora
eu buscava abrigo atrás delas. Um sorriso amargo torceu meus
lábios. Passos rangeram do lado de fora do mausoléu. Eu
segurei minha respiração quando alguém passou pelo portão.
A forma familiar apareceu na minha frente. Romero. Ele
não tinha me visto ainda, mas seus olhos estavam atentos e
observadores, vasculhando a área, procurando. Ele passou reto
pelo ponto onde eu estava escondida e estava prestes a se virar.
Eu poderia ter ficado escondida, sozinha com a minha raiva,
miséria e tristeza, mas de repente eu não queria isso. Por
alguma razão, eu queria que Romero me encontrasse. Ele não
derramava lágrimas falsas e não era da família; ele era seguro.
Eu limpei minha garganta silenciosamente, mas é claro que um
homem como Romero não perderia isso. Ele se virou e seus
olhos focaram na minha direção. Ele andou para frente, abriu e
o portão e entrou no lugar de cabeça baixa, porque ele era
muito alto para estar ali. Ele estendeu a mão para mim.
Procurei em seus olhos pela pena que eu odiava tanto, mas ele
parecia apenas preocupado, quase como se ele realmente se
importasse. Eu não tinha certeza do que fazer com a sua
preocupação quando não há muito tempo ele tinha feito o seu
melhor para ficar longe de mim.
Enfiei a mão na sua e seus dedos se fecharam em volta
dos meus antes que ele me puxasse para os meus pés. A
dinâmica do movimento me levou direto para os braços de
Romero. Eu deveria ter recuado. Ele deveria ter me empurrado
para trás. Nenhum dos dois fez isso.
Era tão bom estar perto de alguém, sentir o seu calor,
algo do qual minha vida parecia tão desprovida recentemente.
Ele lentamente se retirou do mausoléu, me levando com ele,
ainda me segurando perto.
— Nós estivemos procurando por você por quase uma
hora, — Romero disse em voz baixa, com preocupação, mas
tudo que eu podia focar era no quão perto os seus lábios
estavam e quão bem ele cheirava. — Seu pai vai ficar feliz em
saber que você está segura.
Meu pai. A raiva cresceu em mim pela forma como ele
agiu nos últimos meses. Eu estava tão cansada de estar com
raiva, de não saber para onde ir com toda essa amargura. Eu
fiquei na ponta dos pés, fechei os olhos e pressionei os lábios
contra os de Romero. Era a terceira vez que eu fazia isso.
Parecia que eu nunca aprendia, mas eu não estava mais sequer
com medo de ser rejeitada. Eu estava tão entorpecida por
dentro, não havia nenhuma maneira que qualquer coisa
pudesse me machucar de novo.
A mão de Romero veio até meus ombros como se ele
fosse me empurrar para longe, mas então ele apenas as
descansou lá, quentes e fortes. Ele não tentou aprofundar o
beijo, mas nossos lábios se moveram um contra o outro. Havia
apenas o toque leve e mesmo assim foi rápido demais. Algo
escorreu pelo meu rosto e chegou aos meus lábios. Nunca
imaginei meu primeiro beijo de verdade com gosto de
lágrimas. Saí da ponta dos pés e meus olhos se abriram. Eu
estava muito esgotada, triste, muito irritada para me
envergonhar pelas minhas ações.
Romero estudou meu rosto, as sobrancelhas escuras
apertadas juntas. — Lily, — ele começou, mas então eu
comecei a chorar, lágrimas de verdade rolavam pelo meu
rosto. Eu enterrei o meu rosto contra o peito de Romero. Ele
segurou a parte de trás da minha cabeça e me deixou chorar.
Na segurança dos seus braços, eu me atrevi a deixar a tristeza
transbordar, não temendo que isso fosse me engolir. Eu sabia
que Romero não iria deixar. Talvez fosse uma ideia ridícula,
mas eu acreditava que Romero fosse me manter a salvo de
tudo. Eu tentei esquecê-lo, tentei seguir em frente, encontrar
alguém novo para concentrar a minha paixão, mas não deu.
— Devemos voltar. Seu pai já deve estar doente de
preocupação por agora.
— Ele não está preocupado comigo. Ele só está
preocupado em como eu pareço mal para os outros, — eu
disse baixinho, me empurrando para trás. Limpei o meu rosto.
Romero afastou uma mecha de cabelo que ficou presa na
minha pele molhada. Nós ainda estávamos perto, mas agora
que eu tinha um maior controle sobre as minhas emoções,
recuei envergonhada pela maneira como tinha me jogado nele.
Mais uma vez. Eu estava feliz por não poder ler a sua mente.
Eu não queria saber o que ele pensava de mim agora.
O telefone de Romero tocou e depois de dar me dar um
sorriso de desculpas, ele atendeu. — Sim, eu estou com ela.
Nós estaremos aí em um momento.
Olhei na direção de um homem idoso que estava diante
de um túmulo. Seus lábios estavam se movendo e ele estava se
inclinando fortemente em uma bengala. Eu tinha a sensação de
que ele estava falando com sua falecida esposa, dizendo a ela
como seus dias tinham sido, o quanto ele queria se reunir com
ela novamente. Esse homem nunca seria meu pai. Ele parecia
já ter superado a morte da mãe.
Romero tocou meu ombro de leve e eu quase voei de
volta em seus braços, mas desta vez fui mais forte. — Você
está pronta para voltar?
Pronta? Não. Eu não queria ver o pai ou o seu luto falso.
Eu não queria ouvir mais uma palavra de piedade. — Sim.
Nenhum de nós mencionou o beijo enquanto
caminhávamos de volta para o túmulo da minha mãe. Romero
tinha me beijado, ou me deixado beijá-lo por pena, o que era a
dura verdade da situação. Luca e Aria eram as únicas pessoas
esperando por nós.
Aria correu em minha direção e me envolveu em um
abraço apertado. — Você está bem?
Eu me senti mal instantaneamente. Ela também tinha
perdido a nossa mãe. Ela também estava triste, e agora ela
tinha que se preocupar comigo. — Sim, eu só precisava de um
momento sozinha.
Aria assentiu em compreensão. — Papai e os outros
convidados foram para a casa, para a festa do funeral.
Devemos ir até lá também, ou o pai vai ficar ainda mais
nervoso.
Eu balancei a cabeça. Aria atirou a Romero um olhar
que eu tive dificuldade em decifrar. Então ela me levou para o
carro, seus braços firmemente envolvidos em torno dos meus
ombros. Luca e Romero seguiam atrás. Eu não olhei para o
túmulo da mãe de novo, sabia que teria sido demais para mim.
— O que foi esse olhar que você deu a Romero? — eu
perguntei calmamente quando estávamos sentadas no banco de
trás.
Aria fez uma cara de inocente, mas eu não comprei. Eu a
conhecia muito bem, mesmo que não fôssemos tão próximas
como costumávamos ser, devido à distância que agora nos
separava. Ela suspirou. — Eu disse a ele para ficar longe de
você.
—Você fez o quê? — eu assobiei. Luca olhou por cima
do ombro para nós, e eu abaixei minha voz ainda mais. Eu
esperava que ele não tivesse ouvido o que eu disse. Romero
parecia ocupado em encontrar uma boa estação de rádio.
— Por que você fez isso? — perguntei em um sussurro.
— Lily, eu não quero que você se machuque. Você acha
que Romero vai fazer você se sentir mais feliz e ajudar com a
tristeza, mas isso só vai piorar as coisas. Talvez você pense
que gosta dele, mas você não deve confundir solidão com
outra coisa.
Olhei para minha irmã, incrédula. — Eu não sou idiota.
Eu conheço meus próprios sentimentos.
Aria pegou minha mão. — Por favor, não fique brava,
Lily. Eu só quero te proteger.
Todo mundo sempre disse que queria me proteger. Eu
me perguntei do quê. Da vida?

*****

Dois dias depois, Aria, Gianna, Matteo, Romero e Luca


partiram para Nova York. Eu não tinha certeza de quando eu
iria vê-los novamente. Aria pediu ao pai para que eu pudesse
os visitar algumas semanas no verão, mas ele se recusou com
um olhar não tão velado na direção de Gianna. Eu coloquei
minha melhor cara corajosa, disse a eles que estaria ocupada
passando o tempo com meus amigos e cuidando de Fabi.
Romero não tinha sequer me dado um abraço de adeus, e ele e
eu nunca tivemos a chance de ter uma conversa particular.
Talvez fosse melhor que eu não tivesse conseguido perguntar a
ele sobre o beijo.
Aria ligou na mesma noite, tentando se certificar de que
eu estava realmente bem. Eu não estava, mas não contei isso a
ela.
Em vez disso eu aprendi a nadar com a maré, tentando
fingir que as coisas estavam indo bem. Mas meus amigos
estavam de férias ou ocupados com assuntos da família, e eu
passava os meus dias sozinha em casa apenas com a
empregada e meu antigo guarda-costas como companhia.
Papai e Fabi estavam fora quase o tempo todo, e quando eles
retornavam, compartilhavam novos segredos que não podiam
falar comigo, e até mesmo em sua presença eu me sentia
sozinha. A solidão que você sentia mesmo cercada de pessoas
era o pior tipo.
Muitas vezes eu passava horas sentada na cadeira ao
lado da cama onde a mãe morreu, pensando em suas últimas
palavras e querendo saber como eu deveria manter a minha
promessa. Meu pai não me permitiu ir para a faculdade, não
me permitiu visitar Nova York, não queria que eu festejasse
com os meus amigos. Tudo que eu podia fazer era esperar que
algo acontecesse, para que a vida acontecesse. Talvez se minha
mãe não tivesse morrido, papai teria passado o verão me
apresentando maridos em potencial, e eu teria um casamento
para planejar em um futuro próximo. Ainda assim, eu preferia
isso à forma como a minha vida se desenrolava agora, sem
nada para olhar para frente.

*****

ROMERO
Luca, Matteo e eu jogávamos cartas quando o celular de
Aria tocou. Ela estava sentada no sofá com Gianna, bebendo
vinho e rindo.
No momento que Aria começou a falar, eu sabia que
algo estava errado. Luca colocou as suas cartas para baixo
também.
— Por que você não ligou antes? Você devia mandar ela
para cá imediatamente!
Luca se levantou.
— Você pode falar para mim, também, — disse Aria,
então ela olhou para Luca. — Meu pai quer falar com você —
ela se levantou e estendeu o telefone para ele, e Luca o pegou
com um olhar preocupado para sua esposa.
Gianna atravessou a sala em direção à sua irmã. — O
que está acontecendo?
Eu tive um sentimento ruim.
— Lily desmaiou hoje. Aparentemente ela não comeu
muito desde o funeral.
Me levantei da cadeira. — Ela está bem?
Aria concordou. — Fisicamente, sim. Papai chamou um
médico e ele disse que ela precisa beber mais líquidos e se
alimentar melhor. Mas é mais do que isso. Pelo que o pai
disse, Lily esteve sozinha quase todo o tempo desde que fomos
embora. Ninguém cuidou dela. Não posso acreditar que eu
deixei ele me convencer a deixá-la lá. Eu deveria ter trazido
ela para Nova York comigo naquele momento.

— Por minha honra, nenhum dano acontecerá a Liliana


enquanto ela estiver aqui. Ela vai estar bem protegida. Eu vou
ter certeza disso, — disse Luca. Em seguida, ele ouviu o que
quer que Scuderi tivesse a dizer na outra extremidade. — Eu
estou ciente disso. Acredite em mim, Liliana estará tão segura
como ela está em Chicago, — ele ouviu novamente e, em
seguida, desligou.
Aria correu em direção a ele. — E? Ele vai permitir que
ela venha para cá?
Luca deu um sorriso duro. — Ele concordou em deixá-la
passar todo o verão aqui, talvez até mais além. Ele parecia
realmente preocupado com ela.
— Sério? Isso é ótimo! — disse Aria, radiante.
— Eu duvido que ele esteja fazendo isso porque está
preocupado, mas quem se importa, desde que ele permita que
ela fique com a gente, — disse Gianna.
— Quando ela vai chegar? — perguntei, tentando soar
casual, como se eu fosse apenas um soldado me certificando
de que pudesse cumprir os meus deveres de guarda-costas com
excelência.
A expressão de Luca deixou claro que ele não comprou
isso um segundo, mas Aria estava muito envolvida em sua
euforia para prestar atenção em mim. — Amanhã à tarde.
— Ela vai ficar no nosso apartamento, certo? —
perguntou Aria.
Luca assentiu. — Eu disse a seu pai que eu,
pessoalmente, me certificaria de que ela estivesse segura.
— Você quer dizer que ela não vai sair por aí se
divertindo ou, Deus me livre, sujar a sua pureza, — Gianna
murmurou.
— Sim, isso, — disse Luca com naturalidade. — E
desde que a guerra com a Outfit pode ser o resultado se eu não
cumprir com a minha promessa, vou fazer tudo ao meu
alcance para garantir que ela tenha apenas uma diversão muito
limitada, — mais uma vez seus olhos me encontraram e eu
tive que segurar uma maldição. Ele nem sabia sobre o beijo
que Lily e eu tínhamos compartilhado no cemitério. Eu me
perguntava quão pior seria se ele realmente soubesse.
— Poderíamos passar o verão nos Hamptons. É muito
quente e abafado na cidade, e nós não estamos usando a
mansão com frequência suficiente de qualquer maneira, —
Aria tocou o antebraço de Luca e fitou-o com um de seus
olhares que sempre o convencia. — Por favor, Luca? Eu não
quero Lily presa em nosso apartamento. Nos Hamptons
podemos ficar na piscina, e nadar no mar e fazer passeios no
nosso barco.
— Ok, ok, — disse Luca com um olhar resignado. —
Mas Matteo e eu não ficaremos o tempo todo com vocês.
Temos um monte de coisas para lidar no momento. Romero e
Sandro terão que mantê-las seguras enquanto estamos fora.
Aria arriscou um olhar em minha direção. Ela
provavelmente se perguntava se era uma boa ideia me ter em
torno de sua irmã, e para ser honesto, eu me perguntava a
mesma coisa.
Capítulo Sete
LILIANA
Eu ainda não tinha percebido o quanto tinha me
negligenciado nas últimas duas semanas desde o funeral da
mãe. Eu não tinha fome e raramente estava com sede, então eu
não tinha comido muito.
Claro, eu estava feliz que o meu desmaio tinha mudado a
mente do pai. Me mandar para Nova York foi o maior presente
que ele poderia ter me dado. Nas últimas duas semanas eu não
queria nada mais do que finalmente sair desta casa.
Quando cheguei em Nova York, Aria e Luca estavam
esperando por mim. Depois de um breve momento de
decepção por Romero não estar lá, me permiti ser feliz por
estar aqui. Aria me abraçou com força. Quando ela se afastou,
seus olhos vagaram sobre o meu corpo. — Como o pai não
notou nada antes? Deus, você perdeu muito peso, Lily.
— Apenas alguns quilos, e eu vou recuperar eles em
algum momento, — eu disse com um sorriso.
— É melhor que sim, — disse Luca, me dando um
abraço com um braço só. — Eu vou ter você alimentada à
força, se for necessário. Eu prometi a seu pai que ia cuidar
bem de você.
Revirei os olhos. — Eu não entendo por que o pai se
preocupa. Ele mal prestou atenção em mim, e agora ele de
repente está todo preocupado? Por que isso?
Um olhar de preocupação passou pelo rosto de Aria e eu
estava prestes a perguntar a ela a razão, quando Luca nos
chamou para a saída. — Vamos indo. Eu odeio este lugar.
— Então o que vamos fazer hoje? — eu perguntei
quando estávamos indo em direção ao carro. Depois de
semanas de não fazer nada, de não sentir nada, eu precisava
sair, precisava me sentir viva novamente.
— Nada, — disse Aria se desculpando.
Meu rosto caiu e Aria se apressou em acrescentar, —
Mas só porque estamos indo para os Hamptons no início da
manhã. Nós vamos passar o verão na praia.
— Sério? — perguntei.
Aria abriu um grande sorriso, e de repente a nuvem
escura sobre a minha cabeça se abriu.

*****

ROMERO
Eu era bom em manter uma cara séria, mesmo em
situações difíceis, mas quando eu vi Lily pela primeira vez
quando ela entrou no apartamento, eu não tinha certeza se
poderia esconder a minha fúria. Fúria direcionada ao pai dela
por deixar a própria filha se afogar em sua tristeza, enquanto
ele estava ocupado demais promovendo a sua posição na
Outfit com a indução de seu filho muito jovem.
Lily perdeu peso, o suficiente para que suas clavículas e
costas se destacassem. Ela parecia frágil, mas ainda assim tão
bonita. Eu queria protegê-la de tudo.
Seus olhos encontraram os meus, e o desejo neles quase
me obrigou a atravessar a sala e envolvê-la em meus braços,
mas eu fiquei onde estava, não só por causa do olhar que Aria
me enviou. Luca tinha feito uma promessa a Scuderi. Nós, a
Família, manteríamos Liliana segura, e isso incluía a sua
honra. Considerando que a maioria dos meus sonhos incluía
Lily em algum estado de nudez, eu definitivamente precisaria
manter a minha distância, e eu o faria.
Nas últimas semanas, eu tinha fodido várias garotas na
esperança de que elas tirassem Lily da minha cabeça, mas
vendo ela aqui agora, me fez perceber que tinha sido
completamente em vão. Claro, não tinha realmente ajudado
que eu imaginasse que fosse Lily cada vez que eu tinha estado
com uma mulher.
Eu estava completamente ferrado.
Luca veio até mim quando eu me inclinei contra o
balcão da cozinha e assisti a reunião das três irmãs. — Será
que isso vai ser um problema, você estar em uma mansão com
Liliana?
— Não, — eu disse com firmeza.
— Você tem certeza, porque aquele olhar em seu rosto
há pouco me contou uma história diferente.
— Tenho certeza. Liliana é uma menina bonita, como
você disse, mas eu já estive com meninas bonitas. Estive com
as meninas mais bonitas. Não vou arriscar a ira de Scuderi.
Era uma fodida mentira. Nenhuma das meninas com que
eu tinha estado podiam competir com a beleza de Lily, mas
felizmente Luca não conseguia ler mentes, mesmo que ele
tentasse fazer com que seus soldados estúpidos acreditassem
que ele tinha algum tipo de sexto sentido como esse, só para
mantê-los na linha.
— Não apenas a ira de Scuderi, — disse Luca. — Isso é
grave pra caralho. Estou falando sério, Romero.
Isso era um aviso?
Eu tive que morder de volta um comentário e assenti.
Luca era um bom Capo e eu nunca tive problemas em seguir
as suas regras, mas por algum motivo isso não me sentava bem
agora. Lily tentou pegar o meu olhar durante o jantar, mas tive
a certeza de manter a minha atenção em Matteo e Luca. Eu
não queria que Lily tivesse esperanças.
E o que era mais importante, eu precisava manter a
minha própria merda sob controle.

*****
LILIANA
Romero ainda estava me ignorando. Embora ignorando
não fosse bem a palavra certa. Ele me tratou com
desprendimento educado, sempre amigável, mas nunca
caloroso demais. Se eu não tivesse conhecimento do que Aria
havia dito a ele, teria sido mais difícil de lidar com isso, mas
eu tinha quase certeza que ele estava interessado em mim.
No primeiro dia na mansão, o sol estava brilhando e nós
decidimos jantar na praia. Eu decidi usar o meu vestido de
praia cor de rosa. Era decotado, sem costas e abraçava as
minhas curvas. Bem, pelo menos ele costumava fazer, agora
estava um pouco solto em certos lugares, mas ainda me vestia
muito bem. Quando minhas irmãs e eu fomos para a mesa que
os homens tinham feito, Romero olhou por cima da
churrasqueira que estava arrumando e o que enxerguei em seus
olhos quando me viu foi todo o incentivo que eu precisava.
Porque aquilo estava longe de ser o desprendimento educado
das últimas vinte e quatro horas.
Ele desviou o olhar de mim e voltou para sua tarefa de
fritar os bifes. Ele parecia incrível também, a forma como o
sol poente batia em seu cabelo marrom, a maneira como seus
antebraços flexionavam quando ele se mexia. Eu amava a
forma como ele tinha arregaçado as mangas brancas e tinha
aberto os dois botões superiores da camisa, revelando um
pedaço de peito bronzeado.
— Você está babando, — Gianna sussurrou em meu
ouvido.
Eu corei e levei meu olhar para longe de Romero, e
então olhei para minha irmã, que se sentou à mesa com um
sorriso furtivo em seu rosto.
Eu levei minha cadeira para o lado dela. — Você
também disse a Romero para ficar longe de mim?
Gianna pegou a garrafa de vinho branco do refrigerador
e encheu as nossas taças. — Eu? Não. Você me conhece. Eu
sou toda a favor de tudo que é impertinente e proibido. Se
você quer um pedaço de Romero, corra atrás. A vida é muito
curta.
Parei com a taça e vinho contra os meus lábios. As
palavras da mãe vieram à minha mente, muito parecidas com
essas. — Aria discorda, — eu disse, então traguei metade do
meu vinho.
— Aria tenta agir como uma mãe, mas é você quem tem
que decidir o que quer.
— Você está tentando me meter em encrenca? —
perguntei, sentindo meu estômago quente do vinho. Eu
terminei a minha taça com apenas mais um gole.
— Eu não acho que você precisa de mim para isso, para
ser honesta, — disse Gianna enquanto levantava as
sobrancelhas ruivas. — Mas me faça um favor e maneire no
vinho.
— Eu pensei que você queria que eu me divertisse.
— Sim, mas eu quero que você esteja sóbria o suficiente
para perceber o que você quer. E eu não acho que Romero irá
te levar a sério bêbada.
— Você está certa. Ele é muito cavalheiro para tirar
proveito de uma garota bêbada.
Gianna bufou. — Uau, agora eu sei por que Aria está
preocupada, — ela observou Romero por um tempo. Ele
estava rindo de alguma coisa que Matteo tinha dito. — Eu não
iria colocar muita confiança em seu cavalheirismo, se eu fosse
você. Fique no controle quando você estiver com ele. Ele
ainda é um Made Men. Não me faça ter que matá-lo, ok?
4
— Eu pensei que você não fosse uma mamãe galinha ?
— Eu não sou. Eu sou a mãe urso irritada que vai rasgar
o pau dele fora se ele te machucar.
Eu caí na gargalhada. Aria se juntou a nós na mesa
naquele momento e nos olhou com desconfiança. — Eu não
sei se eu gosto de vocês duas sozinhas. Cheira a problemas, se
vocês me perguntarem.
— Você não me quer sozinha com ninguém, pelo que
parece, — eu disse, apenas metade provocação.
Aria gemeu e pegou um copo de vinho para si mesma.
— Você ainda está com raiva de mim?
— Eu não estou com raiva de você, — eu só ia ignorar
as ordens de Aria, e fazer o meu melhor para convencer
Romero a ignorá-las também.
Aria olhou para Gianna, que fez uma cara inocente,
depois para mim. — Eu não gosto disso. Me prometam que as
duas não se meterão em problemas.
— Eu tive problemas suficientes, muito obrigada, —
disse Gianna com um sorriso.
Aria me encarou com o seu olhar de irmã mais velha.
— Vou me comportar, eu prometo, — eu disse
finalmente. Então me servi mais vinho, tentando chegar a um
plano para conseguir algum tempo a sós com Romero. Eu
sabia que Aria faria o seu melhor para ser a minha sombra
constante.

*****

Durante o dia, foi praticamente impossível sair do


campo de visão de Aria. Ela me observava, e particularmente a
Romero, como um falcão. Quando ela tinha se transformado
nessa desmancha-prazeres? As noites e madrugadas eram as
únicas opções que eu tinha. Desde que eu mal dormia de
qualquer maneira, não ia ser um problema. Por alguma razão a
escuridão me fazia sentir medo de cair no sono, então eu
passava as noites fantasiando sobre Romero e fazendo planos
sobre como seduzi-lo, enquanto eu aproveitava o tempo do
cochilo ocasional que minhas irmãs davam no sol da tarde.
Tinha levado alguns dias para reunir coragem para o
meu próximo passo. Eu sabia como usar minha máscara da
coragem, mas isso era algo que eu nunca feito antes. Eu não
tinha experiência com homens, exceto o flerte inofensivo que
tinha dado com os soldados do meu pai ao longo dos anos.
Eu não estava tão preocupada com a rejeição de Romero
como eu costumava estar. Eu tinha flagrado ele me observando
com muita frequência nos últimos dias, quando ele achava que
ninguém estava prestando atenção. Quando o sol nasceu, os
primeiros raios hesitantes tocaram o meu rosto e eu saí da
cama e me arrastei em direção a minha janela com vista para a
praia. Como todas as outras manhãs nos últimos dias, vi uma
figura solitária correndo ao longo da praia usando apenas
shorts, sem camisa. Esse era o destaque do meu dia. Eu não
tinha certeza de onde Romero tinha conseguido a disciplina
para se levantar antes do sol nascer todas as manhãs para se
exercitar, e eu realmente esperava que ele não fosse mostrar
esse autocontrole todo comigo. Eu o vi correr morro acima em
direção à mansão e me pressionei mais perto da parede para
que ele não me visse espionando. Depois que ele desapareceu
de vista, esperei mais cinco minutos antes de sair do meu
quarto. Era um silêncio mortal a essa hora, apenas seis da
manhã. Minhas irmãs ainda estavam dormindo; elas nunca se
levantavam tão cedo, e Matteo e Luca tinham partido para
Nova York ontem e não estariam de volta até esta noite, então
a única pessoa que poderia ter cruzado o meu caminho era o
outro guarda, Sandro. Quando passei pela porta de Sandro, me
certifiquei de ir mais devagar, mas não havia nenhum som
vindo do seu quarto. Aumentei o ritmo do meu passo até
chegar ao quarto de Romero.
Eu sabia que era errado. Se alguém descobrisse, se o
meu pai descobrisse, ele nunca me deixaria sair de Chicago
novamente. Ele nem sequer me deixaria sair de casa mais. Era
muito inadequado e impróprio para uma dama. As pessoas
ainda estavam falando mal de Gianna depois de todo esse
tempo. Eles saltariam de emoção com a chance de encontrar
uma nova vítima, e o que poderia ser melhor do que outra irmã
Scuderi sendo pega no ato?
E no fundo, eu sabia que eu era exatamente como
Gianna quando se tratava de resistir à tentação. Eu
simplesmente não podia. A porta de Romero não estava
trancada. Escorreguei para dentro do seu quarto na ponta dos
pés, prendendo a respiração. Ele não estava lá, mas eu podia
ouvir a água correndo no banheiro. Me arrastei nessa direção.
A porta estava entreaberta. Olhei pela fresta.
Nos últimos dias eu aprendi que Romero era uma
criatura de hábitos, então eu o encontrei sob o chuveiro, como
esperado. Mas do meu ponto de vista eu não conseguia ver
muito. Abri a porta e entrei.
Minha respiração ficou presa na visão dele. Ele estava de
costas viradas para mim e era uma imagem gloriosa. Os
músculos de seus ombros e costas estavam flexionados
enquanto ele lavava o cabelo castanho. Naturalmente, meus
olhos mergulharam mais abaixo pelas costas, e ele estava
perfeitamente em forma. Eu nunca tinha visto um homem
desse jeito, mas eu não podia imaginar alguém que pudesse se
comparar a Romero.
Ele começou a se virar. Eu deveria sair. Mas estava
olhando admirada para o seu corpo. Ele estava excitado? Ele
ficou tenso quando me viu. Seus olhos capturaram o meu olhar
antes que eles deslizassem sobre a minha camisola e pernas
nuas. E então eu encontrei uma resposta para a minha
pergunta. Ele realmente não tinha estado excitado antes. Ah,
droga.
Minhas bochechas se aqueceram enquanto eu o via
crescer mais duro. Fiz tudo que eu podia para não cruzar a
distância entre nós e tocá-lo.
Romero desligou o chuveiro com movimentos vagarosos
e enrolou uma toalha na cintura. Então ele saiu. O cheiro do
seu shampoo flutuou até meu nariz. Lentamente, ele avançou
para mim. — Você sabe, — ele disse em uma voz estranha. —
Se alguém nos encontrasse assim, poderia ter uma ideia errada.
Uma ideia que poderia custar a minha vida e a sua reputação.
Eu ainda não podia me mover. Eu estava feito pedra,
mas meu interior parecia queimar como lava incandescente.
Eu não conseguia desviar o olhar. Eu não queria.
Meus olhos pousaram na borda da toalha, sobre a linha
fina dos cabelos escuros que desapareciam sob ela, o delicioso
V de seus quadris. Por vontade própria, minha mão se moveu,
alcançando o peito de Romero, precisando sentir a sua pele
sob os dedos.
Romero pegou meu pulso antes que eu pudesse tocá-lo,
seu aperto quase doloroso. Levantei o olhar, meio
envergonhada e meio surpresa. O que eu vi no rosto de
Romero me fez estremecer.
Ele se inclinou para frente, chegando cada vez mais
perto. Meus olhos se fecharam, mas o beijo que eu queria
nunca veio. Em vez disso ouvi o ranger da porta. Olhei para
Romero. Ele só abriu a porta do banheiro. Foi por isso que ele
se aproximou, não para me beijar. Constrangimento me
atravessou. Como eu poderia ter pensado que ele estava
interessado em mim?
— Você precisa ir embora, — ele murmurou enquanto se
endireitava. Seus dedos ainda estavam enrolados em volta do
meu pulso.
— Então me deixe ir.
Ele fez isso de imediato, e deu um passo para trás. Eu
fiquei onde estava. Eu queria tocá-lo, e eu queria que ele me
tocasse, também. Ele falou um palavrão e então estava em
cima de mim, uma mão segurando minha nuca, a outra em
meu quadril. Eu quase podia saborear os seus lábios, que
estavam tão perto. Seu toque me fazia sentir mais viva do que
qualquer outra coisa já fez.
— Saia, — ele murmurou. — Saia antes que eu quebre o
meu juramento, — ele falou como um meio apelo, meio
ordem.
Eu queria que ele quebrasse o seu juramento, não queria
nada mais que isso, mas algo em seu olhar me fez recuar
alguns passos. Eu estava chateada, mas não era estúpida.
Deixando o meu olhar percorrer o comprimento dele uma
última vez, eu rapidamente corri para fora e atravessei o
quarto, parando apenas para verificar o corredor antes de sair.
Não havia ninguém em volta, então eu saí e corri em direção
ao meu quarto. Tinha quase chegado à minha porta quando
Gianna apareceu, ainda de pijama e uma xícara de chocolate
quente nas mãos. Ela parou, estreitando os olhos com
desconfiança. — O que você está fazendo se esgueirando pelo
corredor de camisola?
Por que ela tinha que se levantar cedo logo hoje?
— Nada, — eu disse um pouco rápido demais. Eu podia
sentir o calor aparecendo em meu rosto. O meu corpo nunca
pararia de me trair em situações como essa?
—Nada, — Gianna repetiu, cruzando os braços na frente
do peito e tomando um gole ocasional da sua xícara. — Certo.
O quarto de Romero não é nessa direção?
Eu dei de ombros. — Pode ser. Não é como se ele
tivesse me convidado.
— Não quer dizer que você não esteve lá.
— Já acabou com o interrogatório? Eu não sei por que
de repente você tenta soar como o pai. Não é como se você
sempre jogasse pelas regras.
— Calma, tigresa. Eu estava apenas curiosa. Por mim,
você pode visitar Romero e quem mais quiser, mas você sabe
como são as coisas. Se os empregados te pegarem, os boatos
vão se espalhar rapidamente. Você tem que ser inteligente
sobre isso, e andar correndo pela casa como se tivesse feito
algo errado não vai te ajudar. Se Aria tivesse te pegado assim,
você teria um monte de explicações para dar.
— Eu não fiz nada errado, — eu disse teimosamente.
Gianna sorriu amargamente. — Eu sei, mas isso não
significa que você não vai ser punida mesmo assim. Basta ter
cuidado, — ela me entregou sua xícara de chocolate quente.
— Eu acho que você precisa disso mais do que eu.
Eu pensei que estava sendo cuidadosa, mas, pelo visto,
minhas irmãs pareciam ver através de mim. Eu só podia
esperar que elas fossem manter o meu segredo de seus
maridos. Romero e eu não gostaríamos de entrar em enormes
problemas se as pessoas começassem a acreditar que algo
estava acontecendo entre nós, mesmo se não houvesse.
Ninguém se preocupava com a verdade. Eu gostaria que
houvesse algo real para eles falarem, desejava que Romero
tivesse me beijado como eu queria, desejava que ele não
tivesse parado o beijo.

*****

ROMERO
Eu quase corri atrás de Liliana e arrastei de volta para o
meu quarto. Caramba. Ela me queria. Estava escrito em todo
seu rosto. No primeiro momento que me virei e a vi ali de pé,
com seus enormes olhos azuis, pensei que estava imaginando
coisas. Afinal, eu pensava nela frequentemente durante o meu
banho. Ela estava na minha cabeça o tempo todo. Se Luca
soubesse como era difícil para mim me concentrar em proteger
Aria nesse momento, ele definitivamente teria me mandado de
volta para Nova York, longe de Lily. Se eu fosse um bom
soldado, ia lhe pedir para fazer isso, mas eu não queria ir a
qualquer lugar. Eu queria ficar perto de Lily.
Corri a mão pelo meu cabelo molhado enquanto olhava
para a porta do banheiro. Por que eu tinha a mandado embora?
Ela queria que eu a beijasse. Ela queria mais do que isso. Por
que eu tinha que ouvir a porra da minha consciência, então?
Mas não era nem mesmo a moral que me impediu de
beijar Lily. Isso ia contra meu juramento, meu dever, mas não
era o principal motivo. Mesmo que ela não fosse realmente
minha para proteger, eu ainda queria proteger Lily, até de si
mesma. Ela não parecia perceber as consequências de flertar
comigo assim. Em nosso mundo o valor de uma menina era
baseado em sua reputação, sua pureza, isso era a verdade, o
que os homens esperavam das moças do alto escalão. Mas
mesmo entre os soldados, poucas mulheres eram autorizadas a
namorar com alguém que elas quisessem. Nós ainda
seguíamos as mesmas regras de mais de cem anos atrás, e eu
duvidava que fosse mudar em breve. Se eu deixasse Lily perto,
se eu deixasse essa coisa entre nós se desdobrar, se eu a
tomasse da maneira que eu queria, então ela estaria arruinada
aos olhos da nossa sociedade.
Claro, havia muitas coisas que poderíamos fazer que não
iriam destruir a sua virgindade. Tantas coisas, porra.
Isso era uma coisa muito perigosa de considerar, porque
se eu realmente começasse a pensar em todas as maneiras que
eu poderia ter Lily sem a arruinar, provavelmente eu acabaria
agindo sobre essas ideias, e eu não tinha certeza se era forte o
suficiente para parar em um determinado ponto. Pelo menos,
não se Lily não me pedisse, e eu tinha a sensação de que ela
não o faria.
Durante o café, eu agi como se nada tivesse acontecido.
Aria estava prestando muita atenção. E Gianna parecia saber
mais do que devia, também.
Lily encontrou meu olhar quando suas irmãs não
estavam cuidando e o que vi ali fez o meu pau se contorcer.
Hoje eu tinha dado a ela uma abertura. Ela agora sabia que eu
a queria.
Eu passei minha vida cuidando dos outros, sempre
colocando minhas próprias necessidades em segundo plano.
Seria realmente tão ruim se eu tomasse o que eu queria, por
uma vez? Nunca na minha vida eu tinha querido tanto algo
como essa garota.
Por que eu deveria me negar isso?
Capítulo Oito
LILIANA
Olhei para o teto, ou melhor, onde eu sabia que ele
estava. A escuridão era impenetrável, eu não poderia mesmo
ver a minha própria mão. Às vezes parecia que a escuridão era
tudo que havia na minha vida. Um longo túnel sem fim.
Especialmente à noite, quando as palavras da mãe me
assombravam. Eu tinha prometido a ela que seria feliz, mas
não tinha certeza de como fazer. Uma profunda solidão me
enchia, eu tinha tomado conta de mim desde que mamãe tinha
morrido. Nós nunca tínhamos sido próximas como algumas
filhas eram de suas mães, mas ela estava lá, uma presença
constante. E agora parecia que eu estava sozinha. Claro que
havia Fabi, mas ele era jovem e logo estaria envolvido nos
negócios da máfia e do pai… Agora, estar aqui nos Hamptons
me fazia feliz, mas era uma coisa temporária.
Minhas irmãs, elas estavam sempre lá para mim, mas
elas tinham suas próprias vidas, elas tinham maridos, e um dia
elas teriam as suas próprias famílias. Elas ainda me amariam, e
ainda cuidariam de mim, mas eu queria a minha própria
felicidade, separada da delas. Eu queria o que elas tinham. E
eu sabia que a única pessoa com quem eu queria esse tipo de
felicidade era com Romero.
Ele estava me observando de forma diferente neste
verão. Nos últimos anos sua expressão havia deixado claro que
eu não passava de uma garota para ele, de alguém para
proteger. Mas, recentemente, alguma coisa tinha mudado. Eu
não era um especialista quando se tratava de homens, é claro,
mas seu olhar mostrava uma pitada de algo que muitas vezes
que eu via no rosto de Luca quando ele olhava para minha
irmã Aria.
Pelo menos, eu achava que sim. Empurrei meu cobertor
de cima de mim e me sentei. Não me incomodei em acender as
luzes por medo de atrair a atenção e, em vez disso, fui
tateando meu caminho até a porta. Alcancei a maçaneta e saí
para o corredor. Estava silencioso e escuro, mas pelo menos
aqui eu poderia executar meu plano. Não que eu precisasse ver
alguma coisa para encontrar o quarto de Romero. Eu sabia
exatamente onde era. Eu tinha perdido a conta das vezes que
me imaginei indo até lá. Mas até agora a razão tinha me
parado. Hoje à noite eu estava cansada de ouvir a razão, de
jogar pelo seguro. Eu não queria estar sozinha, não queria
passar a noite toda olhando para a escuridão, solitária e triste.
Me arrastei pelo corredor, cuidando para não fazer nenhum
som, mal ousando respirar. Quando cheguei à porta do quarto
dele, fiquei lá por um longo tempo. O interior estava
silencioso e tranquilo. Claro, já passava e muito da meia-noite
e ele sempre se levantava cedo para correr.
Meus dedos tremiam de nervoso quando eu agarrei a
maçaneta e a empurrei para baixo. A porta se abriu sem um
som. Eu entrei e a fechei novamente, então não me mexi por
um longo tempo, somente olhando para a cama e para o
contorno do corpo de Romero. Suas cortinas não estavam
fechadas, de modo que o luar fornecia alguma luz. Ele estava
de costas para mim e seu cobertor cobria somente até a
cintura. Meus olhos traçaram seus ombros e braços
musculosos. Eu me aproximei, um passo hesitante após o
outro. Isso era tão errado. Romero tinha me pegado em seu
quarto antes, e pior, ele me pegou o espionando no chuveiro,
mas isto parecia mais íntimo. Ele estava na cama, e se as
coisas fossem do meu jeito, eu iria em breve me juntar a ele. E
se ele me mandar embora? Ou pior, e se ele ficar irritado e
contar a Luca? E se eles me mandarem de volta para Chicago,
para aquela casa escura e sem esperança, junto ao meu pai que
não sentia nenhuma falta da minha mãe?
Eu congelei a alguns passos da cama. Minha respiração
acelerou como se eu tivesse me exercitado e minhas mãos
estavam pegajosas. Talvez eu estivesse perdendo a cabeça. Eu
estava tentando me dizer que estava fazendo isso porque a mãe
queria que eu fosse feliz, mas talvez eu só estivesse usando
isso como desculpa para minha insanidade. Eu queria Romero
muito antes que mamãe tivesse dito alguma coisa, e tinha até
mesmo tentado beijá-lo anos antes da sua morte.
Eu balancei a cabeça, ficando com raiva de mim mesma
por cismar com tudo. Houve um tempo em que eu teria feito o
que eu quisesse, se fosse a minha vontade. Dei mais um passo
em direção à cama, mas eu devo ter feito um som sem
perceber porque a respiração de Romero mudou e seu corpo
ficou tenso. Ah não. Não havia como voltar atrás agora.
Ele rolou de costas em um movimento rápido, então seus
olhos pousaram em mim. Ele relaxou, mas rapidamente ficou
tenso novamente. — Liliana?
Eu não respondi. Minha língua parecia presa no céu da
boca. O que eu estava pensando?
Romero balançou as pernas para fora da cama e se
sentou na borda por um momento, em silêncio, me
observando. Ele podia ver o meu rosto? Eu provavelmente
parecia um rato acuado por um gato, mas eu não estava com
medo. Nem um pouco. Se qualquer coisa, eu estava
envergonhada, e estranhamente animada. Eu era um rato
perturbado e doente, isso era certo. Ele se levantou, e, claro,
meus olhos fizeram uma varredura rápida pelo seu corpo. Ele
estava vestindo apenas uma cueca samba-canção. Ele parecia
bom demais para ser verdade. Como se tivesse saído
diretamente dos meus sonhos. Era embaraçoso pensar quantas
vezes eu sonhei com Romero e todas as coisas que eu queria
fazer com ele.
— Lily, o que você está fazendo aqui? Está tudo bem?
— havia preocupação em sua voz, mas também havia algo
mais. Algo que eu tinha ouvido quando ele me pegou
espionando no chuveiro. Era algo mais sombrio e quase
ansioso.
Meu estômago vibrou com borboletas e eu dei um passo
em sua direção. Eu queria voar em seus braços, queria beijá-lo,
e queria muito mais.
— Posso dormir com você? — as palavras saltaram para
fora, apenas assim, e uma vez que elas foram pronunciadas, eu
não podia acreditar que as tinha dito. Especialmente porque
elas poderiam facilmente ser levadas para o caminho errado.
Romero congelou. O silêncio se estendeu entre nós. Eu
tinha certeza que isso iria me esmagar a qualquer segundo. Dei
mais um passo em sua direção. Eu estava quase no alcance do
seu braço agora.
O som da respiração de Romero era incrivelmente baixo.
Eu podia ver seu peito arfando. Ele estava com raiva?
— Isso não é algo com que você deve brincar, — ele
disse calmamente. — Não é engraçado, — ele estava com
raiva. Talvez eu devesse ter tomado a dica, girado nos
calcanhares e saído do quarto, mas, como Gianna, eu nunca
tinha sido muito esperta em situações como essa.
— Eu não estava brincando, e eu não quis dizer isso
assim, — eu sussurrei. — Eu quero dormir na sua cama,
apenas dormir — por enquanto. Eu queria mais do que isso,
eventualmente.
— Liliana, — Romero murmurou. — Você perdeu a
cabeça? Você ao menos percebe o que está dizendo?
Minha fúria se levantou. Todo mundo sempre pensava
que eu era muito jovem, muito ingênua, muito feminina para
tomar decisões. — Eu sei exatamente o que estou dizendo.
— Eu duvido.
Eu avancei a distância entre nós até que nossos peitos
quase estavam pressionados um contra o outro. Romero não
recuou, mas ele se preparou. — Toda noite eu sinto que a
escuridão está me engolindo, como se minha vida estivesse
fora de controle, como se não houvesse nada de bom para
mim. Mas quando eu penso em você, esses sentimentos
desaparecem. Eu me sinto segura quando eu estou com você.
— Você não deveria. Eu não sou um bom homem, não
importa por qual padrão você olhe.
— Eu não me importo. Eu cresci neste mundo. Eu sei
como as coisas são, e eu estou bem com isso.
— Você nem conhece nem a metade. E se você
realmente sabe como são as coisas, então você deve perceber o
que poderia acontecer se alguém te encontrasse no meu quarto
à noite.
— Estou cansada de ouvir o que eu não posso fazer. Não
posso decidir por mim mesma? É a minha vida, então por que
eu não posso tomar as decisões?
Romero ficou em silêncio por um momento antes que
ele dissesse, — Claro, é a sua vida, mas o seu pai tem certas
expectativas sobre você. E não só isso, Luca deu a ele e a
Dante Cavallaro a sua palavra de que ele iria cuidar bem de
você e te manter segura. Isso inclui a sua reputação. Se alguém
contar a eles que você estava em meu quarto, isso poderia
significar guerra entre a Outfit e Nova York. Isso não é um
jogo. Isso é muito sério para você brincar.
— Eu não estou brincando. Eu estou tão sozinha,
Romero, — eu sussurrei. — E eu gosto de você. Eu realmente
gosto de você, — isso era um eufemismo. — Eu só quero estar
perto de você. Você me beijou de volta e eu sei como você tem
olhando para mim. Eu sei que você está interessado em mim.
Ele não disse nada.
Dúvida pareceu cruzar sua cabeça. E se eu tivesse
imaginado os olhares que ele tinha me dado? — Se você não
gosta de mim, então me diga. Está tudo bem, — não estaria, na
verdade. Eu seria esmagada, mas talvez fosse melhor. Eu
seguiria em frente com minha vida de alguma forma.
— Foda-se, — ele murmurou, se afastando de mim e me
deixando encarar as suas costas. — Se eu fosse um bom
homem, eu lhe diria exatamente isso. Eu tenho mentindo para
você para o seu próprio bem. Mas eu não sou bom, Lily.
Um alívio me inundou. Ele não tinha dito que não
gostava de mim. Eu tinha lido de maneira correta os seus
sinais. Deus, eu poderia ter gritado em alegria. Descansei
minhas palmas das mãos contra seus ombros nus. Sua pele era
suave, exceto por algumas pequenas cicatrizes, mas elas
apenas o fizeram mais desejável para mim. Ele estremeceu sob
o meu toque, mas não se afastou. — Então, você está
interessado em mim? Você gosta de mim?
Romero soltou uma risada dura. — Isso é loucura.
— Apenas me diga. Você me acha atraente?
Ele se virou. Eu não fui rápida o suficiente para puxar
minhas mãos porque agora elas descansavam contra o seu
peito. Isso era ainda melhor. Eu tive que me impedir de correr
minhas mãos de cima a baixo no seu tórax. Mesmo na
semiescuridão eu podia ver o fogo em seus olhos. Ele me
olhava da cabeça aos pés. Eu só estava vestindo os shorts do
pijama e um top, mas não estava envergonhada. Eu queria que
Romero me visse assim, queria ter uma reação dele.
— Lily, você é impressionante. É claro que eu acho você
atraente. Olhe para você, você é bonita pra caralho.
Meus lábios se separaram. Isso foi mais do que eu tinha
ousado esperar. Cheguei ainda mais perto e olhei para ele. —
Então por que você continua me empurrando para longe?
— Porque é a coisa certa a fazer, e porque eu conheço os
riscos.
— Eu não valho a pena o risco?
Romero olhou para mim com tal intensidade que eu não
pude deixar de tremer. Ele não respondeu. Ele agarrou os meus
quadris e me puxou contra ele antes que os seus lábios
descessem nos meus. Eu abri sem hesitação, ávida por aquele
beijo, ansiosa por sua proximidade. Sua língua mergulhou em
minha boca. Não havia sombra de hesitação ou dúvida em seu
beijo. Eu gemi. Isso era tão diferente do nosso primeiro beijo,
era tão mais intenso. Ele segurou a parte de trás da minha
cabeça, me guiando do jeito que ele queria. Eu mal podia me
segurar. Fiquei na ponta dos pés e me encostei a ele enquanto
segurei seus ombros para manter o equilíbrio. O beijo me
consumiu e me agitou como se um incêndio tivesse começado
dentro de mim, me fazendo muito quente.
Romero se afastou e eu tentei ir com ele, mas ele me
manteve à distância do braço. Sua respiração era dura e havia
um olhar selvagem em seus olhos. — Me dê um segundo, —
ele murmurou.
Ele fechou os olhos como se estivesse com dor. Tudo o
que eu conseguia pensar era em beijá-lo novamente, ter as suas
mãos em meu corpo. Eu não queria nada mais. Mas eu fiz o
que ele pediu e dei a ele alguns segundos para obter controle
sobre si mesmo. Finalmente, ele abriu os olhos outra vez. O
olhar selvagem tinha ido embora e foi substituído por algo
mais controlado. Seu domínio sobre meus ombros relaxou e os
polegares acariciaram levemente a minha pele. Eu não tinha
certeza de que ele notou que estava fazendo isso. O leve toque
levantou arrepios de prazer por toda a minha pele. Esperei que
ele dissesse alguma coisa, mas também temia o que ele diria.
Uma de suas mãos viajou até a minha bochecha. — Você deve
sair agora, — disse ele calmamente.
Eu congelei. — Você está me mandando embora?
Hesitação cintilou em seu rosto. — É o melhor, Lily,
acredite em mim.
Eu dei um passo para trás. Eu não ia implorar. Se ele não
queria que passasse a noite, então eu teria que aceitar isso. —
Ok. Boa noite, — eu me virei e corri para fora do quarto.
Quase não prestei atenção enquanto atravessava o corredor em
direção ao meu quarto. Eu tinha me exposto hoje, tinha
arriscado tudo para conseguir o que eu queria. Eu não faria
isso novamente. Eu tinha uma grande paixão por Romero, mas
eu também ainda tinha o meu orgulho. Se ele não queria correr
os riscos, então eu aceitaria isso.
Fechei a porta e rastejei de volta para minha cama.
Como antes, a escuridão se fechou em mim. Era muito
silencioso no meu quarto, muito solitário e vazio. Mesmo a
lembrança do beijo que Romero e eu tínhamos compartilhado
não conseguiu me animar. Não quando isso foi provavelmente
a última vez que eu beijaria Romero. Demorou muito tempo
para eu cair no sono e, em seguida, o rosto infeliz e pálido da
mãe assombrou os meus sonhos.

*****

Romero e eu mal nos olhamos na manhã seguinte. Eu


não procurei a sua proximidade como de costume. Tentei
evitar os seus olhos tanto quanto possível, mas algumas vezes
o peguei olhando para mim. Eu não sabia o que isso queria
dizer, mas estava feliz que não teríamos nenhum tempo
sozinhos. Claro que ele estava sempre por perto. Era difícil
evitar o seu guarda-costas, mas eu fiz o meu melhor para me
concentrar inteiramente em minhas irmãs, para aproveitar meu
tempo com elas.

*****

ROMERO
Era meia-noite quando fui para o meu quarto. Luca,
Matteo e eu tínhamos jogado cartas até uma hora atrás, uma
distração que eu fodidamente precisava, e depois, quando eles
se juntaram às suas mulheres na cama, eu fiquei sentado no
terraço, me perguntando por que eu não poderia fazer o
mesmo.
Um barulho me fez parar. Minha mão foi para minha
arma enquanto eu segui o som até a porta do quarto de Lily.
Parecia que ela estava em perigo, murmurando em seu sono e
chorando. Verifiquei o corredor, mas eu estava sozinho. Todo
mundo estava dormindo há muito tempo, ou pelo menos
estavam ocupados por trás das portas fechadas dos quartos.
Abri a porta e entrei. Levou tempo para os meus olhos se
acostumarem com a escuridão, que era pior do que no resto da
casa. As cortinas não deixavam qualquer luz entrar. Eu
mantive a porta entreaberta e me movi para dentro do quarto.
Eu sabia o que eu deveria fazer, e definitivamente não era estar
sozinho no quarto de Lily com ela à noite. Na minha lista de
coisas para evitar essa estava realmente no topo.
Ela estava em sofrimento óbvio, e eu tinha jurado
protegê-la, mas um pesadelo não iria machucá-la. Não havia
nenhuma razão para eu estar aqui. Eu poderia ter chamado
Aria ou Gianna, ou simplesmente ter deixado Lily com seu
pesadelo, mas eu era um filho da puta estúpido.
Quando ela apareceu no meu quarto, dois dias atrás,
precisei de todo meu fodido autocontrole para mandá-la
embora. Eu a queria na minha cama, e não apenas dormindo.
Quando ouvi pela primeira vez ela perguntar se poderia dormir
comigo, isso quase me valeu uma ereção. Eu sabia que ela não
queria dizer isso dessa maneira, mas eu nunca quis tanto
entender alguém mal como naquela noite.
Isso estava errado. Eu sempre coloquei o meu trabalho e
a Família em primeiro lugar. Todas as mulheres da minha vida
até agora tinham sido uma distração agradável, mas elas nunca
sequer chegaram perto de interferir nos meus deveres. Lily era
diferente. Eu não tinha certeza de como ela tinha feito isso,
mas eu não conseguia tirá-la da minha cabeça. Olhei entre a
porta aberta e cama de Lily, então caminhei em direção a ela.
Eu deixei a porta entreaberta, embora parte de mim quisesse
fecha-la e ter total privacidade, mas se eu queria qualquer
chance de manter minha promessa, precisava do risco de
alguém andar e olhar para o quarto.
Quando cheguei mais perto de Lily, a assisti por um
momento. Ela estava deitada de costas, seu cabelo loiro
espalhado em seu travesseiro, e as sobrancelhas desenhadas
juntas. Mesmo no meio de um pesadelo ela era bonita demais.
Caramba. No que eu tinha me metido? Toquei o seu ombro.
Ela estava usando apenas um top, meus dedos roçaram a pele
nua de seus ombros, e o toque enviou um arrepio maldito por
todo o caminho até o meu pau. Eu só toquei a porra do seu
ombro, não seu peito, sua bunda ou sua buceta. Quando tive
um maldito pau duro só por tocar no seu ombro, pelo amor de
Deus. Isso era patético em um nível totalmente novo. —
Liliana? — de alguma forma eu me sentia mais seguro usando
o seu nome normal em vez de seu apelido.
Seus olhos se moveram sob as pálpebras e ela se agitou
sob a minha mão, mas ainda não acordou. Eu toquei levemente
na lateral do pescoço dela, sentindo a vibração pulsando sob os
meus dedos. —Lily, — eu disse um pouco mais alto.
Ela saltou e seus olhos se abriram, olhando diretamente
para mim. — Romero? — ela sussurrou em uma voz mansa e
pesada de sono. Eu queria beijá-la.

*****

LILIANA
Alguém tocou a minha garganta, me arrancando do sono.
Eu abri os meus olhos, mas demorou alguns segundos antes
que o meu cérebro registrasse quem estava diante de mim:
Romero.
— Romero? — talvez eu ainda estivesse sonhando. Era
definitivamente uma melhoria em relação ao meu sonho
anterior, no qual minha mãe tinha falado para mim, com olhos
sem vida, sobre a felicidade.
— Está tudo bem, — disse Romero em sua voz
profunda.
Olhei em volta. — Você está no meu quarto, — eu soava
como uma idiota. Mas eu estava atordoada. Afinal, ele tinha
me jogado facilmente para fora do seu quarto dois dias atrás, e
agora ele estava no meu. Uma mudança que eu não esperava.
Não que eu me importasse.
Os lábios de Romero se contorceram como se ele
quisesse sorrir, mas depois ele ficou sério novamente. Às
vezes eu pensava que ele tentava esconder seus sorrisos
porque temia que, se ele permitisse esse tipo de emoção, todas
elas viriam à tona. — Você teve um pesadelo. Eu decidi te
acordar.
Eu balancei a cabeça. Ele estava de pé ao lado da minha
cama, meio inclinado sobre mim. Se eu estendesse a mão,
poderia agarrar o seu pescoço e o puxar para baixo. Meus
dedos coçaram para fazer exatamente isso, mas eu não tinha
esquecido a sua rejeição de dias atrás. Ele precisava dar o
próximo passo, e eu não tinha certeza se entrar no meu quarto
para me acordar de um pesadelo contava como um. Eu o
queria. Me sentei e os cobertores caíram até meus quadris. Eu
só usava uma camisola fina. Os olhos de Romero seguiram o
movimento, e permaneceram em meu peito.
— Obrigada por me acordar. Eu tive um pesadelo com a
minha mãe, — eu não sei por que disse isso. Meu pesadelo era
a última coisa que eu queria pensar, muito menos falar sobre
ele com Romero. Seus olhos voltaram para o meu rosto. Às
vezes eu pensava que poderia me afogar neles. Quando ele
estava por perto eu me sentia tão feliz e leve. De alguma forma
eu sabia que ele era o único, a pessoa com quem era para eu
estar. Eu soube isso praticamente desde o início. Se havia algo
como destino, então era isso.
Romero afastou uma mecha de cabelo da minha testa e
eu me inclinei para o toque. De alguma forma ele estava mais
perto agora. —Você sente falta dela.
Eu balancei a cabeça. Eu sentia, mas as suas últimas
palavras me assombravam mais do que a sua morte. Sua
tristeza sobre as coisas que ela tinha perdido, o desejo em seus
olhos – eu não acho que eu poderia esquecer isso. Romero e eu
trancamos nossos olhares e apenas encaramos um ao outro. Da
penumbra do corredor vinha uma luz, e eu pude ver o conflito
nos olhos de Romero. Eu queria me inclinar para frente, mas
me contive. Eu tinha que ser forte, tinha que ter algum auto
respeito.
Eu estava prestes a dizer algo, qualquer coisa, para parar
a crescente tensão, mas então Romero se inclinou e me beijou.
Eu não esperava que ele fizesse isso, mas suspirei contra seus
lábios devido à surpresa, que durou apenas um par de
segundos, e então passei meus braços em volta do pescoço e o
beijei de volta com tudo que eu tinha. Ele colocou um joelho
sobre a minha cama e segurou a minha cabeça. Seu beijo
expulsou o meu cansaço e a tristeza persistente do meu
pesadelo. Eu não tinha certeza de quanto tempo nós nos
beijamos, Romero ajoelhado sobre a cama e eu meio deitada,
mas eu estava mais viva a cada segundo. Eventualmente eu
puxei para trás, minha respiração ofegante. Havia uma batida
insistente entre as minhas pernas, mas eu sabia que seria
errado levar as coisas mais longe essa noite.
Romero acariciou minha bochecha e estava prestes a se
endireitar, mas eu peguei o braço dele. — Eu não quero ficar
sozinha esta noite.
Eu esperei pelo protesto, mas ele não veio. Meu coração
caiu quando ele caminhou em direção à porta. Será que ele ia
sair sem uma palavra? Em vez disso, ele fechou a porta
silenciosamente antes de voltar para a cama. A cada passo que
ele tomava em minha direção, meu coração parecia inchar com
emoção. Romero tirou sua arma do coldre e a colocou na mesa
de cabeceira, e então deslizou para fora de seus sapatos. Eu
voei para o lado da cama, para dar espaço para ele, a emoção
vibrando em meu peito. Ele não escorregou para debaixo das
cobertas comigo como eu esperava, ao invés disso, se estendeu
em cima delas. Olhei para ele por cima do meu ombro. Ele
parecia cansado, ainda mais cansado do que eu me sentia. Ele
sorriu. Parecia quase resignado, com uma ponta de
arrependimento. Ele passou sorrateiramente o braço em volta
da minha cintura e me abraçou ao seu corpo, minhas costas
pressionadas contra seu peito, com os cobertores entre nós. Eu
queria que essa barreira se fosse, mas decidi deixar que as
coisas fossem do seu jeito essa noite. Eu tinha ganhado uma
pequena batalha, a guerra poderia esperar. Apesar do material
agrupado entre nós eu com certeza podia sentir o quanto o
nosso beijo tinha afetado Romero. Sorrindo para mim mesma,
eu fechei os olhos. — Obrigada por ficar comigo.
Romero beijou a minha cabeça. — Durma um pouco. Eu
vou manter os pesadelos longe.
— Eu sei que você vai, — eu sussurrei.

*****

Quando meu alarme me acordou na manhã seguinte, eu


estava sozinha na cama. Me sentei e apertei o botão que fazia
as cortinas deslizarem abertas. Luz ofuscante me
cumprimentou e me acostumei com o brilho. Olhei ao redor do
meu quarto, buscando um sinal da festa do pijama com
Romero, mas não havia nada. Isso poderia muito bem ter sido
um sonho. Por um momento, meu coração quase parou
considerando isso. Eu pressionei o meu nariz no travesseiro e
peguei seu cheiro. Não foi um sonho. Saí da cama. Claro que
ele não ficou até de manhã. Romero era cauteloso, um de nós
tinha que ser. Se uma das minhas irmãs entrasse sem bater, o
que já tinha acontecido antes, então nós estaríamos com
grandes problemas. Ainda assim, senti uma pequena rejeição
por ele ter me deixado sozinha sem dizer uma palavra.
Tenha controle, Lily.
Tínhamos que ter cuidado, ou eu seria mandada para
casa e nós não conseguiríamos passar algum tempo juntos.
Isso era um bom começo.
Um começo para o quê? Eu não era tão ingênua para
acreditar que meu pai iria aceitar Romero como um potencial
candidato para noivo. Eu também não tinha certeza se Romero
me considerava como alguém que ele gostaria de se casar. Mas
eu estava me precipitando. Eu queria correr riscos, aproveitar a
vida e ser feliz. Essa noite com Romero foi um passo na
direção certa.
Tomei um banho rápido, mas tive cuidado extra com
minha maquiagem e cabelo. Então desci as escadas. Eu podia
ouvir minhas irmãs já rindo na cozinha e segui o som. Eles
estavam no balcão da cozinha, xícaras de café em suas mãos.
Ninguém mais estava lá, mas a grande mesa de madeira estava
posta para seis pessoas, de modo que os homens poderiam vir
se juntar a nós mais tarde. Tentando esconder a minha
decepção por Romero ainda não ter chegado, eu andei em
direção a eles. Aria me serviu uma xícara de café e a entregou
para mim com um olhar preocupado. — Você não dormiu de
novo ontem à noite?
Parei com a xícara contra os meus lábios, meu pulso
acelerando. E se tivessem visto Romero entrando no meu
quarto? Ou talvez até mesmo saindo, já pela manhã? — Por
quê? — perguntei hesitante.
Gianna bufou. — Porque você parece fodidamente
cansada. Há sombras escuras sob seus olhos.
Eu pensei que o corretivo ia consertar isso. Caramba. —
Estou bem. Eu sonhei com a mãe, mas não foi ruim.
Aria colocou um braço em volta dos meus ombros. —
Ainda sobre o que ela disse para você?
— Sim, — eu disse, evasiva. — Eu não posso tirar as
suas palavras da minha cabeça.
— Não leve tudo o que ela disse tão a sério. Ela estava
doente. Não é sua responsabilidade desfazer os erros dela. Ela
estava infeliz no final, mas era sua própria culpa, — disse
Gianna.
— Gianna, — Aria disse em advertência.
— Não foi como se a mãe estivesse me culpando de
alguma coisa. Ela só queria me ver feliz.
— E você será ser feliz. Nós vamos ter certeza disso, —
disse Aria, apertando o meu ombro levemente antes de recuar.
— Vamos começar a comer. Quem sabe quando os homens
vão aparecer. Eles tinham alguma coisa para discutir.
— Oh? — eu perguntei nervosamente enquanto nós
fomos até a mesa e nos sentamos. — Negócios? — se eu já
estava uma pilha de nervos quando Romero e eu ainda não
tínhamos feito nada, o quão pior seria quando algo estivesse
realmente acontecendo?
Aria me deu um olhar estranho. — Eu suponho. É tudo o
que eles falam.
— Você está agindo de forma estranha, — disse Gianna
enquanto ela pegava um pão da cesta. Ela examinou o meu
rosto. — Aconteceu alguma coisa?
— Não, — eu disse muito rapidamente. Peguei uma
tigela e servi cereais e leite. Felizmente, os homens chegaram
naquele momento. Eu congelei quando meus olhos caíram em
Romero. Seu olhar mal parou em mim enquanto ele, Luca e
Matteo se dirigiram para a mesa. Apesar de saber que
tínhamos de agir normalmente e evitar quaisquer suspeitas em
relação a nós, sua recusa flagrante em me olhar enviou uma
pontada de preocupação ao meu coração. Peguei a colher e
comecei a comer meu cereal. Eu podia sentir os olhos das
minhas irmãs em mim. Elas me conheciam muito bem, mas eu
não daria a elas uma chance para suspeitar de nada. Eu não
queria que elas tivessem que manter segredo de seus maridos,
especialmente esse tipo de segredo. Durante o resto do café da
manhã, eu fiz questão de manter meus olhos longe de Romero
e, em vez disso, conversei com minhas irmãs.
Depois do almoço, Aria, eu e Gianna decidimos ir para a
piscina novamente. Fui para o meu quarto colocar um biquíni,
um bonito, cor de rosa com bolinhas brancas. Quando saí,
quase esbarrei em um peito duro. Engoli em seco, não deveria
ter alguém em frente à minha porta. — Deus, você me
assustou, — eu disse com uma pequena risada.
Romero não disse nada. Seus olhos percorreram o meu
corpo. —Você está de tirar o fôlego.
Eu não consegui segurar o sarcasmo. — Você não
pareceu notar no café da manhã.
Romero encontrou meu olhar. — Eu notei, acredite em
mim. É impossível não notar, — ele disse calmamente.
Estávamos sozinhos no corredor e eu estava perto o suficiente
para que pudesse sentir o seu perfume. — Eu não queria
ignorar você, mas nós não temos escolha. Isso tem que ficar
em segredo.
— Isso? — perguntei. — O que exatamente é isso? —
Não tínhamos feito nada ainda. Nós tínhamos nos beijado três
vezes, mas foi só isso.
— Eu não sei. Talvez nada. Mas eu quero você Lily. Eu
não consigo tirar você da minha cabeça. Não importa o que eu
faço, você sempre está lá.
Eu exalei. Era como se uma enorme pedra fosse tirada
dos meus ombros. Então não era só comigo. — Eu quero você
também. Então, o que vamos fazer agora? — eu dei um passo
mais perto. Os olhos de Romero viajaram todo o comprimento
do meu corpo novamente e isso me fez vibrar. Como eu me
sentiria se ele tocasse cada ponto onde os seus olhos tinham
estado?
Romero se aproximou e eu inclinei a cabeça para trás
para olhar seu rosto. Ele não me tocou, mesmo que eu quisesse
que ele o fizesse. — O que eu quero fazer é levar você para
dentro do seu quarto e arrancar o seu biquíni, então provar
cada polegada da sua pele. Eu sei que você tem um gosto
absolutamente perfeito.
— Por que você não descobre? — eu sussurrei.
— Droga, — Romero murmurou. Ele segurou a minha
nuca e inclinou minha cabeça para o lado, então se abaixou e
deu um beijo com a boca aberta sobre a o lugar onde corria
minha pulsação no pescoço, antes de traçar a minha jugular
com a língua. Deixei escapar um gemido embaraçoso
enquanto o meu núcleo apertava com excitação. Joguei minha
cabeça ainda mais para o lado, lhe dando melhor acesso, mas
ele tinha se afastado da minha garganta e já estava beijando
meus lábios. Eu pressionei contra ele. Sua camisa estava fria
contra minha pele nua. Um barulho em algum lugar da casa
nos fez saltar. Não havia ninguém no corredor, mas era um
bom lembrete de que precisávamos ter cuidado. Após outro
olhar pelo corredor, Romero segurou meu rosto novamente. —
Você tem um gosto tão perfeito como eu imaginava.
Eu sorri. — Você ainda não provou tudo de mim, —
minhas bochechas inflamaram quando eu percebi o que tinha
dito e como Romero iria entender isso.
Os olhos de Romero escureceram com o que eu
suspeitava que fosse desejo. — Eu pretendo provar, confie em
mim.
Eu tremi. — Pretende?
— Deus, sim, — ele suspirou, em seguida, deu um passo
para trás. — Mas precisamos ter cuidado. Esse caminho em
que estamos é perigoso.
— Eu sei, mas eu não me importo. Eu quero isso.
Romero me beijou novamente. Ele balançou a cabeça.
— Eu não sei como você faz isso, mas não consigo tirar você
da merda da minha mente. E agora isso, — ele apontou para o
meu biquíni. — Você tem sorte que não pode ler a minha
mente, você ficaria chocada.
— Não tão chocada quanto você, se pudesse ler a minha,
— eu disse com o que eu esperava que fosse um sorriso
sedutor. Eu me virei e fui embora, me certificando de balançar
os quadris.

*****

ROMERO
Enquanto eu observava Lily sair empinada, eu quase
gemi. Seu minúsculo biquíni mal cobria as suas nádegas
perfeitas e suas longas pernas me deixaram selvagem. Eu
queria ler a sua mente, queria descobrir o que ela desejava e
dar a ela.
Seu comentário anterior sobre o seu gosto tinha enchido
a minha cabeça com imagens da minha boca sobre o seu sexo.
Eu não podia esperar para descobrir se ele era tão rosa e
perfeito como eu imaginava. Eu queria lamber até que ela
implorasse por misericórdia.
Minhas calças se tornaram desconfortáveis e eu tive que
me mexer para dar ao meu pau um pouco mais de espaço.
Como eu seria capaz de me conter, se eu não parava de pensar
sobre o gosto dela? Já tinha sido difícil o suficiente deitar em
sua cama sem essas imagens na minha cabeça, me torturando.
Eu sabia que Lily iria me visitar novamente à noite. Agora que
ela sabia o quanto eu a queria, ela iria aproveitar sua chance.
Mas eu também sabia que eu precisava estabelecer
determinados limites. Flertar e beijar ainda eram toleráveis,
embora eu tivesse quase certeza de que Luca e Aria, e
definitivamente Scuderi, discordariam. Levar a outro nível era
algo que eu não podia arriscar. Eu tinha feito uma promessa a
Luca e eu deveria pelo menos tentar mantê-la até certo ponto.
Capítulo Nove
LILIANA
Naquela noite eu rastejei até o quarto de Romero
novamente. As luzes estavam apagadas, mas ele estava
sentado com as costas contra a cabeceira da cama. Ele não
disse nada quando me aproximei e de repente eu estava
nervosa.
— Ei, — eu sussurrei, então bocejei porque tinha sido
um longo dia e, como sempre, o sono habitual me evitou. —
Posso entrar na sua cama?
Romero levantou os cobertores. Eu rapidamente caí sob
eles, mas não me aconcheguei contra ele, de repente muito
tímida. Romero olhou para mim, então ele estendeu a mão e
tirou alguns fios da minha testa. Eu me apoiei em meus
cotovelos para beijá-lo, mas ele balançou a cabeça. Eu
congelei.
— Eu não acho que deveríamos nos beijar enquanto
estamos juntos na cama.
— Você não quer mais me beijar? — eu era tão horrível?
— Não, eu ainda quero te beijar e eu vou te beijar, mas
não quando estamos na cama. Há certos limites que não
devemos atravessar, Lily.
— Ok, — eu disse lentamente. Talvez ele estivesse
certo. Beijar na cama era apenas um pequeno passo antes de
fazer muito mais e algumas coisas simplesmente não podiam
ser desfeitas. — Mas podemos nos deitar juntos?
Romero riu. — Eu provavelmente deveria dizer não, —
ele murmurou. — Mas eu estou ferrado de qualquer maneira.
Ele se deitou e abriu os braços. Eu avancei em direção a
ele e coloquei a minha cabeça na parte superior do seu braço.
Eu não estava certa porque me sentia tão confortável em sua
presença. Eu não era alguém que gostava de contato físico
com pessoas desconhecidas, mas com Romero eu sempre
queria proximidade.
Fechei meus olhos, mas não adormeci imediatamente. —
Alguma vez você já se arrependeu de trabalhar para Luca?
Como filho de um soldado, você teve a opção de não se tornar
parte da Família. Você poderia ter vivido uma vida normal.
— Não. Isso foi tudo que eu sempre quis, — disse
Romero. Seus dedos corriam para cima e para baixo no meu
antebraço de uma forma muito perturbadora, mas eu não tinha
certeza se ele sequer tinha notado o que estava fazendo. — Eu
conheci Luca e Matteo muito antes de ser introduzido. Eu
sempre tomei Luca como um exemplo porque ele era mais
velho e forte como um urso e Matteo e eu sempre nos
metíamos em problemas.
— Eu aposto que Matteo se metia nos problemas e você
que tinha que salvar a bunda dele.
Romero soltou uma risada. — Sim, isso é mais parecido
com a verdade. Quando Luca entrou oficialmente para a
Família e quando ouvi a história de como ele matou seu
primeiro homem aos onze, eu não queria nada mais do que ser
como ele.
— Você tinha apenas oito anos nessa época. Você não
deveria estar brincando com carrinhos de caixa de fósforos em
vez disso?
— Eu sempre soube que queria me tornar um membro
da Família. Eu queria ser o melhor lutador. Eu pratiquei muitas
vezes com Matteo e, no início, até mesmo com Luca. Eles me
davam uma surra, limpavam o chão comigo. Mas eu era um
bom aprendiz e quando fui convocado, alguns anos depois,
poucos podiam me enfrentar cara a cara em uma briga de facas
e eu só tenho melhorado com o tempo. Eu trabalhei duro para
isso.
Eu poderia dizer que ele estava orgulhoso do que tinha
alcançado. — O que a sua família queria? Eles tentaram
manter você longe disso?
— Meu pai não queria essa vida para mim. Como um
cobrador de dívidas, ele tinha que fazer muitas coisas
horríveis. Mas ele e minha mãe confiaram em mim para
decidir sozinho o meu caminho.
Como seria ter pessoas que confiam em você para fazer
suas próprias decisões?
— Essa vida, isso faz você feliz? — eu perguntei em voz
baixa. Às vezes eu gostaria que houvesse uma definição fácil
para o que me fazia feliz.
— Às vezes, mas ninguém é feliz o tempo todo, — ele
ficou em silêncio por um momento. — O que te faz feliz?
— Eu não sei. Estar aqui, mas eu sei que vai acabar.
O peito de Romero subiu e desceu sob a minha bochecha
até que eu tive certeza de que ele tinha adormecido. — A
felicidade não é constante. Isso não significa que você não
pode aproveitar enquanto ela existe.

*****

No fundo eu sabia que precisava parar com essa loucura.


Se alguém nos pegasse, ambas as nossas vidas estariam
arruinadas. Mas eu não podia. Sempre que eu estava perto de
Romero, a tristeza que tinha se apegado tão fortemente a mim
nas últimas semanas parecia suportável. Tudo parecia mais
leve e mais esperançoso.
Eu abri a porta. Como de costume, as luzes estavam
apagadas, mas as cortinas estavam abertas de modo que luz da
lua iluminou os contornos do mobiliário e me mostrou o
caminho em direção à cama. Fechei a porta sem fazer barulho
e caminhei na ponta dos pés através do quarto. Romero não
estava dormindo. Eu podia sentir os seus olhos me seguindo
enquanto eu deslizava sob as cobertas. Ele estava deitado de
costas, com os braços dobrados atrás da cabeça. Eu não
conseguia entender a sua expressão. Ele esperava que eu
colocasse a minha cabeça no seu peito para que ele pudesse
envolver o braço em volta de mim? Ele nunca fez o primeiro
movimento, mas essa noite eu não queria só cair no sono ao
lado dele. Eu não tinha certeza do que, mas eu definitivamente
queria mais. Eu estava feliz pela escuridão quando me levantei
de joelhos e montei os seus quadris.
Romero se esticou debaixo de mim e se sentou com as
palmas das mãos planas contra os meus ombros. — O que
você está fazendo? — ele murmurou, com uma voz que eu
nunca tinha ouvido antes.
— Eu não sei, — eu sussurrei antes de levemente
escovar meus lábios nos dele. Eu não tinha certeza que tipo de
reação eu esperava, definitivamente eu não era a única que me
sentia assim. Ele nos virou, minhas costas foram pressionadas
contra o colchão e ele estava pairando sobre mim. Ele não
estava me segurando, mas seu corpo me aprisionou, seus
joelhos entre as minhas pernas, os braços nos lados da minha
cabeça, a parte superior do corpo em cima de mim. Romero
em todos os lugares. Deus, eu me sentia bem. Talvez devesse
ter havido ansiedade e apreensão. Estávamos sozinhos em seu
quarto e se eu pedisse ajuda, entraria em mais problemas do
que quando eu o deixava fazer o que quisesse. Mas eu não
estava com medo de Romero. Talvez eu fosse estúpida por não
estar. Eu sabia o que ele era capaz. Ele era um assassino. E ele
era um homem adulto que tinha tido muitas mulheres antes de
mim que se entregaram, oferecendo seu corpo para ele. Todo
mundo sempre me disse que os meus jogos me deixariam em
apuros um dia. Talvez essa noite seria a prova direta.
Apesar disso, meu corpo reagiu à proximidade de
Romero. Meu centro apertou em antecipação, por causa de que
não estava totalmente certa e calor se reuniu em minha barriga.
Durante muito tempo, o único som no escuro era a nossa
respiração rápida. — Lily, — ele disse calmamente,
suplicante. — Eu me orgulho do meu autocontrole, mas eu sou
um homem e não um bom homem também. Até agora eu
tentei ser um cavalheiro. Eu sei que você está triste e solitária
e eu não quero tirar vantagem de você. Mas se você fizer o
próximo passo e oferecer mais, então você não pode esperar
que eu não aceite a sua oferta.
— Talvez eu queira que você aceite. — meu coração
batia forte em meu peito quando as palavras saíram da minha
boca.
Romero roçou os lábios sobre a minha cabeça, o toque
leve que me fez vibrar. — Você sabe o que você está
oferecendo, Lily?
Eu hesitei.
Romero deu um longo suspiro, beijou minha testa e
começou a recuar.
Segurei seus ombros, até mesmo através de sua camiseta
o seu calor parecia me queimar. — Às vezes quando estou
sozinha, eu tento imaginar como eu me sentiria se você me
tocasse.
— Porra, — ele respirou. E então ele me beijou
suavemente antes de se afastar novamente. Até mesmo minhas
mãos não poderiam detê-lo desta vez.
— Por que você está se afastando?
— Luzes.
— Luzes? — eu disse nervosamente.
— Eu preciso ver o seu rosto. — as luzes se acenderam e
eu pisquei contra a luz súbita. Ele se deitou ao meu lado, mas
manteve um braço em volta da minha cintura. — Quando você
imagina o meu toque, você acaricia a si mesma? — ele
perguntou em voz baixa.
Meus olhos se arregalaram uma fração e calor rastejou
em meu rosto. Romero segurou meu rosto e traçou minha
bochecha. — Me diga, — disse ele.
Eu abaixei o meu olhar para o queixo. — Sim, — eu
admiti em quase um sussurro. O que ele pensa de mim agora?
Romero pressionou seu nariz no meu cabelo. — Porra.
— Você já disse isso.
Ele não riu como eu esperava. Ele foi muito tranquilo.
Sua mão na minha cintura apertou quando ele levantou a
cabeça e me encarou com um olhar faminto. Ele trouxe a sua
boca sobre a minha e eu separei os meus lábios para ele. Sua
língua entrou e tudo ao meu redor parecia desaparecer quando
eu o provava. Não era o nosso primeiro beijo, mas parecia algo
totalmente diferente, comigo na cama com ele, sem nada para
nos parar. Seu beijo era mais feroz. Não houve hesitação ou
surpresa desta vez. Ele chupou o meu lábio inferior em sua
boca, então a minha língua. Ele sugou levemente e eu não
tinha certeza de como era possível sentir todo o movimento
entre as minhas pernas.
— Está tudo bem? — ele murmurou contra a minha
garganta e tudo que eu podia fazer era acenar com a cabeça.
Aria e Gianna sempre me chamaram de tagarela, mas com
Romero eu ficava sem palavras muitas vezes. Seus lábios
levemente traçaram a pele sobre a minha clavícula, em
seguida, sua língua deslizou para fora para me provar. Sua
boca se moveu ainda mais baixo para a borda da minha
camisola. Seus dedos traçaram o tecido e os seus lábios
seguiram o mesmo caminho. Eu arqueei minhas costas,
querendo que ele se movesse ainda mais baixo, que fizesse
mais.
— Você me disse que eu deveria saber qual o seu gosto
em todos os lugares. Eu estou muito tentado. — ele
murmurou. Ele olhou para cima. Seus olhos tinham um olhar
predatório em seu rosto. A única expressão que chegava perto
foi quando ele tinha estado no porão com os russos. Havia
algo escuro e desequilibrado em seus olhos castanhos, mas
desta vez eu não estava com medo. — O que você quer? —
perguntou ele asperamente.
Se eu soubesse. — Mais. — eu disse suavemente.
Romero baixou o olhar para o meu peito. Meus mamilos
tensos contra o material fino da minha camisola, duro e
dolorido por atenção. Romero traçou levemente o polegar
sobre um nó e eu engasguei.
— Como isso? — perguntou.
Eu balancei a cabeça furiosamente. — Mais.
Romero riu, e o som me fez doer ainda mais por seu
toque. Ele levou ambos os meus mamilos entre seus polegares
e indicadores, e levemente os torceu para frente e para trás
através da seda. Eu apertei os meus olhos com a sensação
entre minhas pernas. Eu apertei minhas coxas, desesperada por
algum tipo de alívio. Romero segurou o meu mamilo com os
lábios, o chupando suavemente em sua boca. Por alguma razão
o tecido parecia aumentar as sensações ainda mais. Eu estava
perto de explodir. Sua mão roçou o meu quadril antes de ser
mudar para a barra da minha camisola e suavemente traçar o
meu estômago. Arrepios cobriam a minha pele com seu toque.
Ele soltou o meu mamilo, mas o tecido molhado da minha
camisola estava preso a ele. Eu não podia acreditar que aquilo
estava finalmente acontecendo.
Romero se mudou para o meu outro mamilo e repetiu o
mesmo procedimento. Eu esfreguei minhas coxas juntas. A
tensão entre elas era quase insuportável. Os olhos de Romero
seguiram o movimento antes que ele voltasse para o meu
rosto. — Você quer que eu te toque lá?
Eu balancei a cabeça rapidamente. Romero sorriu. Ele
arrastou a mão pelo meu lado até que chegou à minha coxa.
Ele acariciou o lado externo levemente, seus olhos nunca
deixando o meu rosto, se certificando de que eu estava bem.
Seus golpes se aproximaram de minha coxa até que eu não
queria nada mais do que agarrar a sua mão e empurrá-lo em
minha calcinha. Como se ele pudesse sentir a minha
impaciência, Romero puxou levemente os meus shorts. Eu abri
as minhas pernas, sem sequer pensar nisso, um convite
silencioso. Eu estava sendo pra frente demais? Eu não me
importava.
Ele deslizou a mão na perna do meu short e então seus
dedos traçaram a pele sensível na borda da minha calcinha. Ele
se aproximou do meu rosto quando ele avançou o seu dedo
indicador sob o tecido e escovou as minhas dobras. Engoli em
seco e ele gemeu. Eu já estava tão molhada que o seu dedo
deslizou sobre mim facilmente. Seus lábios alegaram os meus
com menos restrições do que antes e eu não me importava. —
Está tudo bem? — ele murmurou entre beijos enquanto seu
dedo se mantinha levemente traçando as minhas dobras.
Faíscas pareciam soar através do meu núcleo. Era muito mais
intenso do que quando eu me tocava.
— Sim, — eu sussurrei.
Seu dedo se moveu entre as minhas dobras, espalhando a
minha umidade até a minha protuberância. Ele começou a
esfregar na frente e para trás, o toque leve incrível. Meus
quadris se ergueram da sensação intensa. Eu gemia em sua
boca, minhas pernas se abriram mais amplamente para lhe dar
melhor acesso. Ele beijou o meu pescoço, então ele chupou o
meu mamilo em sua boca novamente, absorvendo minha
camisola ainda mais. Seus dedos entre minhas pernas me
deixavam cada vez mais excitada.
— Você é tão boa, Lily. Tão macia, úmida e quente, —
ele murmurou.
Eu soluçava em resposta. Ouvir ele dizer essas palavras
me fizeram relaxar ainda mais sob o seu toque. Ele era gentil e
sem pressa. Corri as minhas mãos sobre as suas costas e
cabelo, querendo sentir tanto dele quanto possível, querendo
tê-lo mais perto de toda forma possível. Eu sempre o quis e
minhas irmãs tinham muitas vezes me dito que o sentimento
deixaria com o tempo, mas o meu desejo só tinha aumentado.
Eu não acho que isso iria parar, não que eu quisesse.
A outra mão de Romero se mudou para a bainha do meu
pijama e avançou para baixo, liberando o meu peito. Eu tive
que lutar contra a vontade de me cobrir. Por alguma razão, era
mais difícil me descobrir aos seus olhos do que ter ele me
tocando em meu lugar mais privado. Constrangimento voou
para fora quando Romero abaixou a cabeça e capturou o meu
mamilo entre os lábios. Ao mesmo tempo, o dedo no meu
clitóris começou a se mover mais rápido. Eu tremi e enterrei o
meu rosto na curva do pescoço de Romero. Sua língua lambeu
o meu mamilo levemente e me senti ainda melhor sem o tecido
como uma barreira. Os meus gemidos e suspiros ofegantes
embaraçosos não poderiam ser sufocados contra a sua pele. Eu
apertei os lábios, tentando segurar os sons, mas tudo com
Romero me fazia me sentir tão bem.
Romero soltou o meu mamilo. — Eu gostaria de poder
ouvir seus gemidos. Eu amo o som.
Eu levantei minha cabeça. — Sério?
Romero sorriu um sorriso que eu nunca tinha visto antes.
Estava mais escuro, mais perigoso e indescritivelmente sexy.
— Sério. Você não pode sentir o quanto eu amo isso?
Ele apertou um pouco mais contra mim e algo duro e
quente cavou em minha perna. Eu não podia acreditar que eu
tinha feito isso com ele. Romero beijou minha boca, em
seguida, o local debaixo do meu queixo, meu pescoço até que
ele trabalhou em seu caminho de volta para o meu mamilo. Ele
arrastou a língua em torno dele, em seguida, se mudou para o
meu outro seio. — Eu tenho vontade de fazer isso por tanto
tempo. Porra, eu não me importo o quão errado é, se vai contra
a minha promessa, eu não posso resistir a você.
Ouvi-lo dizer isso me fez sentir um triunfo final e
quando ele chupou o meu mamilo de volta em sua boca, eu
desmoronei. Eu sufoquei meus gritos no travesseiro, sabendo
que tínhamos de ter cuidado.
Romero beijou minha garganta e eu sorri para ele. —
Uau.
— Sim, uau. Assistir você foi fodidamente incrível.
Me ergui em meus cotovelos, meus olhos se movendo a
protuberância em sua cueca. Eu estava querendo vê-lo nu
novamente desde que eu o assistir no chuveiro. Eu descansei
minha palma contra sua ereção. Mesmo através de sua cueca
ele era incrivelmente quente.
— Eu não tenho certeza se é uma boa ideia, — disse
Romero em advertência, mas ele cresceu ainda mais sob o meu
toque.
— Eu quero fazer isso, — eu disse.
Romero não protestou. Ele levantou seus quadris e
puxou sua cueca para baixo. Sua ereção saltou livre.
Eu enrolei os meus dedos em torno da base, surpresa
com o quão grande era. Romero respirou fundo e caiu de
costas na cama, as mãos plana no colchão. Eu acariciava
levemente para cima e para baixo, passei os dedos sobre sua
ponta e de volta para suas bolas. Eu não conseguia parar de
explorá-lo, curiosa e excitada ao mesmo tempo.
Romero segurou o meu rosto e eu me virei para olhar
para ele, mas não parei as minhas explorações. — Puta que
pariu, Lily, você está me deixando louco.
— Como você quer que eu te toque? — eu perguntei em
voz baixa. Eu queria fazer ele se sentir tão bom como ele me
fez sentir. Eu tinha ouvido Gianna dizer algo sobre boquetes
para Aria uma vez, e que trazia qualquer homem de joelhos,
mas eu não tinha certeza se eu poderia fazer de uma forma
satisfatória. Talvez eu devesse ter perguntado a Gianna, ouvir
algumas instruções…
— Você está indo bem.
Eu não queria estar indo bem. Eu queria ser incrível.
Empurrando as minhas preocupações de lado, eu me inclinei
sobre ele e o levei em minha boca.
Romero empurrou debaixo de mim com surpresa e
agarrou a parte de trás da minha cabeça. — Você não tem que
fazer isso.
Não foi dito com convicção. Lambi de sua base até o
topo. Ele não tinha gosto de qualquer coisa, exceto na ponta,
onde algumas gotas haviam se reunido. Eu as lambi sem
pensar.
Romero amaldiçoou, passando a mão pelo meu cabelo.
— Estou fazendo isso direito? — eu perguntei depois de
um par de minutos.
— Porra, sim. Você nem sabe o quão difícil é não
empurrar em sua boca.
— Se é isso que você quer, você pode fazer.
— Não, hoje não. Tome seu tempo e faça o que quiser.
Vou desfrutar de tudo isso, confie em mim, — disse ele em
voz baixa. E assim eu fiz. Eu lambi ao redor de sua ponta e o
levei em minha boca, arrastei a minha língua ao longo de seu
comprimento uma e outra vez. Romero não faz um monte de
sons, mas sua mão no meu cabelo apertou e ele prendia a
respiração de vez em quando.
— Eu vou gozar. — ele alertou. Eu o chupei mais forte,
agarrando as suas coxas para encontrar uma posição melhor e,
em seguida, Romero gozou com um gemido baixo. Eu o
mantive em minha boca, esperando as estocadas dele, mas ele
não o fez. Ele não estava tão duro como ele tinha estado, mas
ele definitivamente não era suave.
— Eu quis dizer como um aviso. Você não tem que
engolir Lily, — disse Romero. Ele me puxou em sua direção e
me beijou. — Você está bem? Ou foi terrível para você?
— Terrível? Não, por quê? Eu queria fazer você se sentir
bem. Eu não me importo que você goze em minha boca.
Romero soltou uma risada sem fôlego. — Não diga essas
coisas para mim. Eu não vou ser capaz de me concentrar mais.
Eu sorri, então o meu olhar passou rapidamente para a
ereção de Romero novamente. — Por que é ele que não fica
mole?
Eu podia ver a confusão de Romero, em seguida, ele
torceu a boca num sorriso que beirava a orgulho. — Só porque
eu gozei não significa que eu não esteja ainda excitado. É
preciso mais do que um orgasmo para amolecer.
— Sério? — eu perguntei maliciosamente.
Romero balançou a cabeça. — Não essa noite. Está
tarde. Você não pode ficar tanto tempo.
Decepção baniu a minha emoção. — Eu sei.
Romero acariciou minha bochecha. — Nós temos que
ter cuidado. Acredite, eu adoraria passar a noite com você.
Eu balancei a cabeça e a coloquei em seu peito. Eu
queria dormir um par de horas antes que eu tivesse que me
esgueirar de volta para o meu quarto. Aproveite o momento, eu
disse a mim mesma antes de adormecer.
Capítulo Dez
ROMERO
Depois que Lily tinha me dado o boquete, eu passei o dia
seguinte pensando em nada além de retribuir o favor com a
minha língua. Ainda bem que a mansão não era um lugar
perigoso, porque o meu foco foi embora. Eu não acho que eu
teria feito um bom trabalho de proteção se alguém tivesse nos
atacado.
Meu pau estava tão duro que quase doía enquanto eu
esperava na minha cama naquela noite Lily vir. Quando
chegou perto da meia-noite e ela não tinha vindo ainda, eu
quase fui em busca dela. Eu não conseguia me lembrar da
última vez que eu tinha estado com tanto tesão.
Quando a minha porta finalmente se abriu e Lily entrou,
eu tive que me impedir de empurrá-la contra a parede e me
enterrar nela. Essa era a única coisa que eu não podia fazer.
Muitos limites já haviam sido atravessados, mas do que eu
deveria ter feito.
Lily pulou na cama e me beijou avidamente. Parecia que
eu não era o único que tinha esperado por isso. — Gianna e
Matteo estavam no corredor, então eu tive que esperar, —
disse ela, seus dedos já abaixo de minha camisa.
Eu adorava o seu toque, mas era a minha vez. A agarrei
e a virei de costas. Ela engasgou de surpresa. Liguei minhas
mãos em sua cintura e deslizei sua calcinha por suas pernas,
então eu parei. Isso ainda era novo para Lily. Eu não podia
tratá-la como uma mulher que eu tinha estado antes. — Está
tudo bem?
Ela levantou as pernas para me ajudar a puxar a calcinha
sobre os seus pés. Ela assentiu com a cabeça rapidamente. Só
havia necessidade em seus olhos. Eu sorri. Eu me posicionei
entre suas pernas e uma pitada de vergonha apareceu em seu
rosto bonito, mas eu não lhe dei tempo para pensar sobre isso.
Me abaixei para o seu estômago, empurrei as pernas mais
afastadas e dei uma longa lambida.
E caramba, ela tinha um sabor ainda melhor do que eu
imaginava.

*****

LILIANA
Eu tinha ouvido falar das meninas indo lá para baixo
com os meninos na escola, mas eu nunca tinha sido capaz de
imaginar como seria a sensação de ter a boca de alguém em
mim assim. Seria estranho? Molhado? Nojento? Desajeitado?
Isso não era nenhuma dessas coisas. Isso foi
fodidamente maravilhoso. Ou talvez era apenas porque
Romero sabia exatamente o que fazer, como mordiscar e
chupar e lamber até que meus dedos cavassem no colchão
porque eu não poderia aguentar mais o prazer. E parecia ficar
melhor cada vez que ele fazia isso. Semanas passavam e todas
as noites Romero me dava prazer com a boca. Ele parecia se
divertir tanto quanto eu gostava de fazer sexo oral com ele.
Hoje à noite, ele estava tomando o seu tempo e eu não
queria apressá-lo. Era bom demais. A barba de Romero me
arranhou levemente e isso intensificava as sensações ainda
mais. Ele levantou a cabeça e eu bufei em sinal de protesto.
Ele riu, mas não baixou a boca. — Me diga quando você
estiver gozando, está bem? Eu quero saber.
— Ok, — eu disse, então gemi quando Romero fechou
os lábios sobre o meu clitóris e continuou onde ele parou.
Eu podia me sentir cada vez mais perto. Minhas coxas
começaram a tremer. — Eu vou gozar, — engoli em seco,
muito presa no meu prazer para estar envergonhada com isso.
O dedo de Romero escovou minha abertura e, em
seguida, ele deslizou para dentro. Eu arqueei para fora do
colchão. Houve um lampejo de dor, mas por algum motivo me
fez gozar ainda mais forte.
Eventualmente eu jazia imóvel na cama, tentando
recuperar o fôlego.
Romero soltou uma respiração áspera. — Droga. Você é
tão apertada.
Eu não podia dizer nada em resposta, muito
sobrecarregada pela sensação dele em mim. Ele moveu o dedo
devagar, acariciando o interior de minhas paredes, triplicando
as sensações no meu corpo. Ele enrolou o dedo e os meus
quadris empurraram para fora do colchão enquanto eu
engasgava com surpresa e outro orgasmo balançou através de
mim. Ele arrancou o dedo dele e o colocou na boca. Eu só
podia olhar, estranhamente excitada pela visão.
Romero rastejou de volta para mim.
Uma pergunta queimou em minha mente. E se a breve
dor era Romero rompendo o meu hímen? Era ridículo que eu
ainda tivesse que me preocupar com algo assim.
Romero alisou minhas sobrancelhas. — Ei, eu te
machuquei?
— Não, eu… Eu só me perguntei se… — eu senti
vergonha de expressar as minhas preocupações.
Romero parecia confundido em sua própria mente. —
Você está com medo de não ser mais virgem porque eu
coloquei o meu dedo em você. — eu não conseguia decifrar a
emoção em sua voz. Ele estava com raiva? Irritado?
Ele segurou a parte de trás da minha cabeça. — Eu não
faria isso com você, Lily. Eu não quero tomar a virgindade
sem permissão, e mesmo assim… — ele balançou a cabeça. —
Eu não deveria sequer pensar em tomar a sua virgindade. Mas
você não precisa se preocupar. Meu dedo não é grande o
suficiente e eu não fui fundo o suficiente para fazer qualquer
dano. Você está segura.
— Eu não estava com medo, eu só… — sim, o quê? Eu
estava preocupada. Não havia como negar isso. Não era que eu
não queria Romero. Eu queria. Mas isso era um grande passo
que eu não poderia tomar de volta.
— Está tudo bem. Você deve estar com medo sobre isso.
Sua vida estaria arruinada se você perder a virgindade antes de
sua noite de núpcias, — disse ele em um tom estranho. Ele
passou os braços em volta de mim, então eu não podia olhar
para o seu rosto mais. — Eu quero que você seja o único,
sabe? — eu sussurrei na escuridão.
— Mas eu não posso fazer isso, — disse Romero, os
dedos apertando o meu braço.
— Por que não?
— Lily, — disse Romero quase com raiva. — Você sabe
por que não. Até agora temos tido sorte que nós não fomos
pego. Suas irmãs e Luca já estão suspeitando de algo. Nós
ainda podíamos negar tudo e ninguém seria capaz de provar o
contrário, mas se nós dormimos juntos, então haveria provas.
— Haveria provas? — eu bufei. — Nós não estamos
planejando cometer um crime.
— Em nosso mundo é. Nós não jogamos pelas regras do
mundo do lado de fora e você sabe disso.
— Nós só queremos estar juntos porque nós nos
amamos. Isso é tão ruim? — eu bati minha boca fechada
quando percebi o que eu tinha dito. Eu praticamente coloquei
as palavras ‘eu te amo’ nos lábios de Romero quando ele
nunca disse isso. Eu não tinha qualquer problema, eu sabia que
eu o amava. Será que ele me amava também?
Ele ficou imóvel e por um momento parou de respirar
completamente. — Porra, — Romero sussurrou asperamente.
Ele pressionou um beijo contra a minha testa. — Isso está
ficando fora de controle.
— Eu quis dizer isso, Romero. Eu te amo, — eu disse.
Ele estava tranquilo. — Você não deveria. Não temos
um futuro, Lily.
Meu coração doía de suas palavras. Eu não queria
acreditar nelas para ser verdade. — Você não sabe disso.
— Você está certa. — disse Romero eventualmente. Ele
beijou minha testa novamente e, em seguida, nenhum de nós
disse nada.

*****

Mãe tinha morrido com saudade em seus olhos e


arrependimento em seus lábios. Não era assim que eu queria
terminar. Eu não queria ter uma pilha de ‘e se’ e ‘como
poderia ter sido’, na minha cabeça durante as últimas horas de
minha existência. Eu não queria olhar para trás e não saber
como a vida poderia ter sido maravilhosa. Eu queria Romero.
Eu queria que Romero fosse o meu primeiro, queria
compartilhar tudo com ele. Nesse momento, eu não queria
nada mais, e eu sabia que mesmo que eu viesse a me
arrepender, o lamento nunca poderia ser tão torturante quanto
eu me sentiria se eu não o fizesse, onde eu estaria sempre me
perguntando como teria sido se tornar um só com a pessoa que
eu amava. Às vezes você tem que arriscar algo para viver e
Romero era um risco que eu estava disposta a assumir. Isso era
tudo que eu conseguia pensar enquanto eu apreciava os
últimos momentos de meu orgasmo.
Romero escalou o meu corpo e deu um beijo em meus
lábios. Ele estava prestes a se deitar ao meu lado, como
sempre fazia depois que ele tinha cuidado de mim, mas eu
segurei os seus ombros. — Eu não quero parar esta noite.
Ele ficou imóvel. Seus olhos escuros olhando cada
contorno do meu rosto como se ele estivesse esperando por
uma ponta de arrependimento em algum lugar, mas eu sabia
que ele não iria encontrar nada disso. Eu passei muitas noites
pensando e desejando, e hoje eu finalmente conseguiria o que
eu queria. Claro, eu precisava da cooperação de Romero, mas
eu tinha a sensação de que ele não iria me recusar. Ele era
obediente e responsável, mas ele também era um homem e ele
me queria. Eu podia ver isso em seus olhos e sua ereção
pressionada contra o meu quadril era um indicador muito bom
também. — Lily, — Romero murmurou, então limpou a
garganta. Eu tive que reprimir um sorriso. — Isso é algo que
não pode ser desfeito. Tudo o que fizemos até agora é fácil de
esconder, mas além deste ponto, há maneiras de provar nossas
transgressões…
Eu ri baixinho. — Transgressões? — eu levantei a minha
cabeça e o beijei. — Como isso pode ser errado? — claro, eu
sabia que o Pai e muitas outras pessoas em nosso mundo
poderiam ter escrito um romance sobre todos os caminhos,
mas eu não me importava. Não havia nenhuma parte em mim
que achava que o que estávamos fazendo era errado e isso era
tudo o que importava.
— Nós já discutimos isso. Eu não deveria fazer isso.
Pelo amor de Deus, eu fiz uma promessa a Luca para protegê-
la. Como eu vou arruinar a sua vida se eu tenho que te
proteger?
— Você não está arruinando minha vida. Eu quero isso,
isso não conta para nada?
— Claro que sim.
Eu me pressionei contra ele e agarrei o seu pau através
de suas boxers. — Eu te quero. Só você. Eu quero que você
seja meu primeiro. — eu queria que ele fosse meu único. —
Você não quer ser o meu primeiro?
Romero soltou uma risada e beijou o canto da minha
boca, então os seus olhos diante do meu rosto ardia
novamente. — Você sabe o quanto eu quero você. Eu mal
posso pensar em outra coisa.
Eu enrolei os meus dedos mais apertados em torno de
sua ereção. — Eu sei.
Ele soltou uma respiração dura, então soltou uma risada
silenciosa. — Você me tem em suas mãos de cada maneira
possível. Isso não é como deveria ser.
Eu sorri. Era bom saber que eu tinha esse tipo de poder
sobre alguém como Romero. Mas ele segurava poder sobre
mim e meu coração. Era uma coisa assustadora saber que
alguém tinha o poder de esmagar o seu coração com apenas
algumas palavras. O amor era assustador. — Eu quero que
você seja o único, Romero. Eu não quero mais ninguém. Por
favor.
Ele me beijou de novo, desta vez mais feroz e levemente
se empurrou em minha mão. Ele estava quente e duro e eu mal
podia esperar para senti-lo em mim. — Tem certeza? — ele
perguntou, mas não havia praticamente nenhuma veemência
por trás das suas palavras.
— Sim. Eu te quero.
Romero assentiu. Excitação e nervos estouraram no meu
corpo. Eu meio que esperava que ele fosse mais contra isso,
mas eu estava feliz que ele não tentou me convencer do
contrário. Hoje finalmente eu ia me tornar sua.

*****

ROMERO
Eu era suposto ser a voz da razão, o único a proteger
Lily a partir de si mesma e de mim, mas eu não era tão forte
como todo mundo pensou que eu era. Luca acreditou em mim,
confiava em todo o meu senso de dever e contenção. Ele não
me conhecia bem o suficiente. Confiança e necessidade
brilhavam nos belos olhos azuis de Lily. Ela me queria, e
dane-se, eu a queria mais do que qualquer coisa. Cada fodida
vez que eu a pegava com o meu dedo, eu imaginava como
seria ter o meu pau dentro dela, sentir as suas paredes quentes
em torno de mim. Eu não podia negar. Talvez se houvesse uma
centelha de dúvida em seu rosto, mas não havia nenhuma. Eu
provei a sua boca mais uma vez. Ela era doce, suave e
irresistível. Seus dedos ao redor do meu pau apertaram e ela
balançou os seus quadris levemente - um convite que eu
entendia muito bem e ansiava por aceitar. Eu me afastei de
seus lábios. — Ainda não.
— Mas, — ela começou. Enfiei a mão entre as suas
pernas e entrei nela com o meu dedo do meio. Ela soltou um
suspiro baixo e abriu um pouco mais para mim. Eu amei como
ela estava escorregadia. Sempre tão molhada para mim. Tinha
havido muitos momentos na minha vida quando eu tinha me
sentido poderoso, mas dar prazer a Lily vencia todos eles. Ela
não disse nada mais, só fechou os olhos e relaxou, confiando
em mim para fazê-la se sentir bem. Eu beijei o seu peito, então
mordisquei o mamilo enquanto eu deslizava lentamente o meu
dedo dentro e fora. Sua respiração se acelerou, mas eu mantive
um ritmo constante. Me mudei para baixo e me posicionei
entre as suas coxas. Me permiti apreciar a vista do meu dedo
enquanto ele entrava em sua buceta rosa perfeita. Tudo sobre
ela era linda. Eu me inclinei para frente, não capaz de resistir
por mais tempo. Fechei minha boca sobre o seu feixe de
nervos e brinquei com meus lábios e língua, enquanto o meu
dedo se mantinha empurrando nela, mais profundo e mais
forte agora. Eu podia sentir o hímen cada vez que eu
empurrava. Eu pressionei minha língua contra o clitóris e
deslizei outro dedo dentro dela. Eu nunca tentei isso antes e
suas paredes apertaram em torno de mim com força. Sua
respiração engatou com surpresa e ela se esticou debaixo de
mim. Eu a circulei levemente com a minha língua da forma
como ela adorava, em seguida, a levei entre meus lábios e
suguei. A tensão deixou o seu corpo e uma nova onda de
umidade apareceu, tornando mais fácil para os meus dedos
penetrá-la. Eu encontrei um ritmo lento enquanto ouvia os
gemidos e suspiros doces vindo de seus lábios. Eu poderia
escutar ela para sempre. Eu nunca me cansava de dar prazer a
ela. Havia apenas uma sensação melhor no mundo do que
fazer Lily explodir de prazer: o conhecimento de que eu era o
único a fazer isso com ela. Uma emoção mais escura me
encheu. Ela não era realmente minha, nunca poderia ser. Um
dia ela poderia ter que se casar com alguém que o seu pai
escolhesse para ela e, em seguida, um homem iria vê-la assim.
Uma fúria irracional passou por mim, mas eu empurrei o
sentimento de lado. Isso não era o momento para pensar sobre
esses tipos de coisas. Eu não queria perder o controle só
porque eu deixei os meus pensamentos dispersos em lugares
perigosos. Eu queria aproveitar cada segundo dessa porra,
especialmente porque eu não sabia quantas chances teríamos
juntos.
Eu me concentrei na doçura de Lily, até que ela
finalmente se desfez, abafando os seus gemidos em meu
travesseiro. Eu desejei que eu pudesse ouvi-la gritar sem
restrições, sem o medo de ser pego. Um dia. Um dia, eu
realmente iria fazê-la minha. Eu iria descobrir uma maneira.
Eu puxei os meus dedos para fora e me sentei,
saboreando a visão de seu peito arfando enquanto ela
aproveitava o rescaldo do seu orgasmo. Lentamente ela abriu
os olhos e sorriu. Caramba. Aquele sorriso me deixava cada
vez mais louco. Me debrucei sobre ela e a beijei, então eu
cheguei até a gaveta da minha mesa de cabeceira e peguei um
preservativo.
Lily me observava e a cintilação breve de um
nervosismo atravessou seu rosto.
Fiz uma pausa. — Você tem certeza que quer fazer isso?
— eu queria me matar por perguntar. Eu não queria nada mais
do que estar dentro dela, fazê-la minha, sentir as suas paredes
em torno do meu pau. Por que eu tinha que agir todo nobre
agora? A quem eu estava enganando?
Ela lambeu os lábios da maneira mais torturante possível
e sussurrou: — Sim, eu quero você.
Graças a Deus. Eu beijei os seus lábios novamente. Eu
deslizei para fora da cama e sai da minha cueca. Meu pau
esticou com a atenção. Eu rapidamente rolei o preservativo
sobre ele antes que eu subisse de volta. Esta não era a primeira
vez que Lily tinha me visto nu, mas hoje havia um lampejo de
ansiedade em seu rosto quando ela viu o meu pau. Me movi
entre suas pernas, deixando os meus dedos traçarem a pele
macia de suas coxas.
Havia confiança em seus olhos. Eu não merecia muita
confiança dela e ainda assim, eu fodidamente amava ver isso
em seu rosto. Apoiei o meu peso em meus cotovelos e
comecei a beijá-la suavemente. A ponta do meu pau repousou
suavemente contra o seu calor molhado. Eu queria me enterrar
nela e levou cada gota de autocontrole para ficar quieto e
esperar ela relaxar debaixo de mim. Liguei a minha mão sob
sua coxa e puxei as pernas um pouco mais distantes. Eu olhei
profundamente em seus olhos, então eu mexi meus quadris e
comecei a empurrar para dentro dela. Eu não tirei os olhos
dela enquanto eu avançava em seu calor apertado. Me sentia
tão fodidamente incrível. Apertada, quente e úmida, e eu só
queria empurrar para ela até o fim. Em vez disso eu me
concentrei nos olhos de Lily, sobre a forma como ela confiou
em mim para fazer isso bom para ela, para cuidar dela. Seu
rosto brilhou com desconforto quando eu não estava nem na
metade do caminho. Fiz uma pausa, mas os dedos em meus
ombros apertaram. — Não pare, — disse ela rapidamente.
— Eu não vou, — eu prometi. Parar era a última coisa
que eu queria fazer. Eu passei os meus lábios sobre a sua testa,
então eu empurrei ainda mais para ela até que cheguei em sua
barreira. Eu não lhe disse que ia doer. Ela ficou tensa. Eu
empurrei o resto do caminho nela. Suas paredes apertaram o
meu pau com força. Eu não me mexi.
O rosto de Lily estava contorcido de dor.
— Está tudo bem, — eu murmurei. — Essa foi a pior
parte. — pelo menos, eu esperava que fosse. Parecia tão
apertado em torno de mim, eu estava preocupado de que se eu
começasse a me mover, eu faria as coisas piores para ela, mas
eu não podia ficar lá assim para sempre. E eu realmente queria
me mexer, queria me perder nela. — Lily?
Ela me deu um sorriso trêmulo. — Estou bem. Não é tão
ruim quanto parece.
Isso não era realmente algo que um cara iria querer ouvir
da garota no qual ele estava. Eu queria fazê-la se sentir bem,
mas eu sabia que ia ser difícil durante a sua primeira vez.
Mesmo que eu não queria nada mais do que me mover, eu
decidi ficar como eu estava e beijá-la por um tempo. Meu pau
gritou em protesto.
— Você pode realmente se mover, — ela sussurrou. E
isso foi tudo o que precisou. Retirei quase todo o caminho
antes de lentamente deslizar de volta para ela.
Ela exalou e seus dedos cavaram em minhas costas. Eu
desacelerei ainda mais e tentei não ir tão profundo e logo o
corpo de Lily se soltou debaixo de mim. Eu fiz amor com ela
por um longo tempo e quando ela respondeu com o primeiro
gemido hesitante, eu queria foder com um grito de triunfo.
Mas eu não podia durar para sempre, e não na maneira como
as suas paredes apertavam em torno de mim e eu tinha a
sensação de que ela não estava perto de gozar. Da próxima,
talvez. E haveria uma próxima vez, eu sabia isso agora.
Quando era sobre Lily, eu não podia resistir à tentação.
Eu acelerei ainda mais até que eu senti o meu pau
apertar e liberar para ela. Eu segurei Lily firmemente enquanto
eu balançava os meus quadris desesperadamente, então eu
parei.
Ela fechou os olhos e apoiou a testa contra o meu peito.
— Você está bem? — murmurei.
Ela assentiu com a cabeça, mas não disse nada. Eu me
afastei um pouco e levantei o rosto, preocupado que ela
estivesse chorando. Mas ela simplesmente parecia exausta, e
feliz.
Um alívio tomou conta de mim. Eu puxei para fora dela
lentamente e retirei o preservativo. Antes que eu o colocasse
no lixo, avistei o sangue manchado sobre o preservativo.
Por alguma razão isso fez a imagem virar realidade.
Porra. O que eu fiz?
— Romero? — Lily sussurrou. Me deitei ao lado dela e
a puxei em meus braços. Ela não precisa saber os meus
pensamentos. Eu não queria que ela se preocupasse.
Não demorou muito para ela adormecer, mas eu fiquei
acordado por horas. Eventualmente eu saí da cama e caminhei
em direção à janela. Eu fiquei olhando em direção ao oceano
por um longo tempo. Arrependimento não era uma emoção
útil. Você não podia desfazer o passado. Voltei para a cama.
Lily estava enrolada debaixo do cobertor, apenas o seu
cabelo bonito e rosto pacífico espreitando para fora. Ela estava
dormindo profundamente. Eu precisava acordá-la em breve
para que ela pudesse voltar para o seu quarto. O céu já estava
começando a ficar iluminado. Logo o pessoal se levantaria e
seria muito arriscado se Lily ainda estivesse no meu quarto. Eu
deveria ter a mandando ir logo em seguida para a sua própria
segurança, mas eu não tinha coração para fazer isso e eu não
queria vê-la ir de qualquer modo logo depois do que tínhamos
feito.
— Porra, — eu murmurei. Tudo que Lily e eu tínhamos
feito tinha sido arriscado, mas não rastreável. Mas isso, isso
poderia destruir a reputação de Lily e até mesmo iniciar uma
guerra. Tirar a virgindade de Lily era uma coisa egoísta a se
fazer. Eu sabia. Eu aprendi a tomar decisões razoáveis ao
longo dos anos, a tomar decisões que eram boas para a
Família. Mas hoje eu tinha ignorado o meu dever e minha
promessa para Luca.
Lily suspirou em seu sono e se virou. Os cobertores se
mexeram com ela e o ponto cor-de-rosa nos lençóis se tornou
visível. Fechei os olhos. Porra. Isso era para acontecer em sua
noite de núpcias. Mas eu sabia que Rocco Scuderi nunca iria
me dar a mão de Lily em casamento. Eu era apenas um
maldito soldado. Respeitado e honrado, mas um soldado, no
entanto. Apesar da minha culpa por ter tomado a virgindade de
Lily, eu sabia que faria isso novamente. Eu queria fazer ela
minha por tanto tempo e esta era a única maneira. Pelo menos
agora uma parte dela pertencia a mim, pelo menos ela nunca
esqueceria a nossa noite juntos, mas eu também sabia que não
era o suficiente. Eu não queria que Lily tivesse apenas a
memória da nossa noite compartilhada pelo resto de seus dias,
eu queria lembrá-la do prazer que eu poderia dar a ela todas as
noites, eu queria saboreá-la, cheirá-la, senti-la a cada fodida
noite. Eu queria tê-la caindo no sono em meus braços e
acordando ao meu lado na parte da manhã. Eu queria fazê-la
minha para que todos soubessem, mas não havia nenhuma
maneira no inferno que eu poderia fazer isso sem trair Luca e a
Família. Luca me tratou como um irmão, mas se eu fizesse
isso, se eu fosse contra a Outfit, alegando Lily oficialmente,
ele teria que acabar comigo como um cão raivoso para o bem
da Família.
Com um suspiro, eu andei em direção à cama e me
inclinei sobre Lily. Eu escovei o seu cabelo longe de seu rosto.
— Lily, você precisa acordar, — eu sussurrei.
Suas pálpebras vibraram e ela se virou de costas. Os
cobertores fugiram, revelando os seus seios perfeitos. Seus
mamilos franzidos no ar fresco no quarto. Meu pau agitou em
resposta. Me debrucei sobre ela. Ela até mesmo ainda cheirava
como eu. Porra. Eu já estava ficando duro novamente. Ela
abriu os olhos e me deu um sorriso sonolento. Felicidade e
confiança brilharam em seu rosto. Será que ela não percebia
que eu tinha destruído a sua vida na noite passada?
Um leve rubor apareceu em suas bochechas. Eu beijei
sua testa. — Você precisa ir, — eu disse.
Ela congelou, os olhos cheios de insegurança. — Eu fiz
alguma coisa errada na noite passada?
Bom Deus. Eu queria me esfaquear com a porra da
minha faca. Eu era um idiota. Eu nunca deveria ter deixado ela
ver isso. Lily era uma boa garota e eu tinha arruinado ela. Eu
beijei o ponto abaixo da sua orelha, em seguida, sua bochecha.
— Não, você não fez nada errado, querida.
Ela relaxou. Ela levantou a mão para a parte de trás da
minha cabeça, parecendo esperançosa. — Podemos ficar
juntos um pouco?
Ela parecia fodidamente vulnerável. É claro que ela
queria proximidade depois de ontem à noite e eu queria isso
também, mas era como uma luz exterior. Do jeito que ela
estava olhando para mim eu não podia lhe dizer ‘não’. Eu
deslizei sob os cobertores e ela se apertou contra mim. Sua
pele nua roçou a minha e todos os meus sentidos ganharam
vida. Eu empurrei a minha luxúria para baixo. Esse não era o
momento. Eu acariciava seus cabelos. — Você está bem?
Ela assentiu com a cabeça no meu ombro. — Eu estou
um pouco dolorida. — ela parecia envergonhada.
Eu pressionei um beijo contra sua testa. E eu não tinha
certeza do porque eu disse isso, definitivamente não facilitaria
as coisas, mas escorregou, — Eu te amo.
Ela chupou uma respiração antes de sussurrar, — Eu
também te amo.
Eu estava cavando a minha sepultura e a dela também,
só porque eu não conseguia controlar o meu pau, meu coração
e minha boca.
Ela deixou escapar um pequeno suspiro feliz. Ela não
pareceu perceber em quantos problemas estávamos. Eu não
conseguia parar de me sentir culpado. Eu gostaria de poder
dizer que eu teria agido de forma diferente se eu tivesse a
chance, mas eu sabia que eu ia dormir com ela novamente. Eu
a queria, eu ainda a queria.
Capítulo Onze
LILIANA
Eu não podia acreditar que Romero e eu realmente
tínhamos dormido juntos. Eu não sentia remorso. Talvez isso
viesse em algum momento, mas eu não poderia imaginar isso.
Tinha sido doloroso e ainda assim foi o momento mais
feliz da minha vida até agora. E depois, quando Romero tinha
admitido que ele me amava, eu queria dizer a todos sobre isso.
Deixaria todos com raiva, deixaria todos me chamando dos
piores nomes, quem se importa? Eu estava feliz e isso era o
que importava. Mas eu sabia, Romero e eu precisávamos
manter isso em segredo. Talvez um dia nós descobríssemos
uma maneira de tornar isso oficial sem causar uma guerra, mas
agora eu só queria aproveitar o nosso tempo juntos. O verão
estava chegando ao fim, mas meu pai não parecia me querer
de volta. Talvez ele esquecesse que eu existia e eu poderia me
mudar para Nova York.
A primeira vez que eu tinha enfrentado Aria e Gianna
depois de perder minha virgindade, eu fiquei preocupada que
elas veriam algo diferente, mas é claro que elas não viram.
Ninguém suspeitou de nada.
Talvez fosse uma realização foi o motivo pela qual eu
tinha ficado mais ousada.
Era quase meio-dia e eu mal conseguia manter os olhos
abertos. Romero e eu tínhamos feito amor até as primeiras
horas da manhã e uma vez que eu fui para o meu quarto, eu só
tinha conseguido duas horas de sono antes que eu tivesse que
levantar para o café da manhã novamente.
— Por que você não descansa no sofá por um tempo?
Você parece cansada, — Aria disse quando eu bocejei
novamente. Teríamos que procurar algum evento em Hampton
para fazer algo nos próximos dias. Bronzear e nadar estavam
ficando cansativos.
Gianna balançou as sobrancelhas por trás das costas de
Aria. —Ela vai. Ela parece não conseguir dormir o suficiente
durante a noite.
Romero olhou por cima de onde ele estava com Luca e
Matteo, mas ele não parecia preocupado. Eu decidi ignorar o
comentário de Gianna. Levantei da mesa. — Você
provavelmente está certa, Aria. Vou me deitar um pouco.
Aria colocou o jornal de lado e olhou para o relógio
antes de olhar para Luca. — Se quisermos sair para o almoço,
devemos sair logo.
Luca assentiu.
Eu andei em direção ao sofá, me estiquei e fechei os
olhos. Eu quase imediatamente adormeci num sono leve,
interrompido apenas pelo som de Aria e Luca saindo, seguido
alguns minutos mais tarde por Gianna e da risada de Matteo
enquanto se dirigiam para a praia. No silêncio, senti minha
mente divagar novamente.
— Estamos a sós, — disse Romero.
Eu abri meus olhos para encontrá-lo em pé em cima de
mim com um sorriso. Lentamente os meus próprios lábios se
curvaram em um sorriso e minha sonolência começou a
desaparecer. Liguei a minha perna por trás de seu joelho em
uma tentativa de fazê-lo cair para frente e, de preferência
pousar em cima de mim, mas Romero era muito forte. Depois
de um olhar rápido em direção à porta do terraço, ele se
inclinou para baixo e me deu um beijo. Quando ele estava
prestes a recuar outra vez, eu passei meus braços ao redor de
seu pescoço e minhas pernas ao redor de sua cintura.
— Aria e Luca estão fora para o almoço e Gianna e
Matteo vão passar o dia no barco. Isso deixa a casa para nós.
Romero parecia em conflito, mas quando eu pressionei
meu núcleo contra sua virilha, eu sabia que eu o tinha. Ele já
estava duro. Com um grunhido, ele se abaixou em cima de
mim. Nossos lábios ansiosamente encontraram um ao outro.
Depois de alguns minutos de beijos aquecidos e mãos de por
todos os lados, Romero recuou. — É muito arriscado fazer
sexo aqui.
— Eu sei, mas há outras coisas que podemos fazer, — eu
disse, antes que eu puxasse a cabeça de Romero de volta para
outro beijo. Ele não protestou novamente, o que também pode
ter tido algo a ver com o fato de que eu estava esfregando sua
ereção através de suas calças.
Por alguma razão, fazer amor com Romero no meio da
sala de estar fazia as coisas parecerem mais reais entre nós,
como se pudéssemos ser um casal oficial e não apenas algo
que precisava acontecer no segredo das trevas.
Meus lábios estavam em carne viva pelo beijo de
Romero, mas eu adorei. Romero enfiou a mão debaixo da
minha camisa e escondeu os dedos debaixo da taça do meu
sutiã, encontrando o meu mamilo. Engoli em seco e me
arqueei no sofá. Romero me beijou ainda mais forte. Eu
balancei a minha perna sobre a sua parte inferior das costas, o
puxando ainda mais apertado contra mim. Eu não podia
esperar para senti-lo sem as roupas entre nós. Talvez eu
pudesse convencê-lo a arriscar uma rapidinha na sala de estar.
A porta bateu e passos soaram, mas não houve tempo
para reagir antes que Aria aparecesse na sala de estar. — Lily,
eu… -— ela estalou os lábios fechados e congelou, assim
como eu. Romero puxou a sua mão para fora da minha camisa
e se sentou rapidamente. Ele segurou os braços de uma
maneira que era para esconder a sua ereção, mas eu duvidava
que ele estivesse enganando Aria. Meus olhos procuraram a
área atrás das suas costas, mas Luca não estava lá. Essa foi à
única coisa boa sobre a nossa situação.
Ninguém disse nada por um longo tempo. Eu tentei
reposicionar meu sutiã e endireitar o meu cabelo, mas eu não
estava fazendo um bom trabalho porque minhas mãos
tremiam. — Isso não é o que parece, — eu disse, mas parei
quando eu percebi o quão estúpido soou.
Aria levantou as sobrancelhas como se pensasse
exatamente a mesma coisa. — É por isso que eu não queria
você sozinho com ela, Romero. Eu sabia que isso ia acontecer!
— Você faz parecer que eu não tinha nada a ver com
isso. Não foi apenas obra de Romero. — eu disse, mas Aria
quase não me deu atenção. Ela estava olhando para Romero.
— Por que você está de volta de qualquer maneira? Você não
deveria estar almoçando com seu marido?
— Você está me culpando por isso? — perguntou Aria,
incrédula. — Luca recebeu um telefonema que havia um
problema em um dos clubes. Algo com um dos subchefes
russos, então ele me deixou na garagem e foi direto para Nova
York. Você tem sorte que ele não veio.
— Se você contar para Luca… — Romero começou,
mas Aria interrompeu. — Eu não vou dizer a ele. — disse ela.
Romero me ajudou a levantar. — Ele é seu marido. Deve
dizer a verdade a ele.
O que ele estava fazendo? Ele estaria em apuros se Luca
descobrisse e o que aconteceria se Luca dissesse ao meu pai?
Eu dei a Romero um olhar confuso, mas ele não reagiu. Em
seguida, outro pensamento me atingiu. Talvez ele quisesse que
as pessoas descobrissem. Talvez ele esperasse que Luca
aprovasse e poderia descobrir uma maneira para que o meu pai
chegasse a um acordo sobre uma união entre Romero e eu. A
esperança se acendeu em mim.
— Lily, posso falar com você em particular, por favor?
— perguntou Aria.
Eu balancei a cabeça, mesmo que o meu estômago
virasse de ansiedade. Aria era a minha irmã. Eu a amava e
confiava nela, mas Romero estava certo. Ela também era a
esposa do Capo e eu não tinha certeza de onde a sua lealdade
estava. Eu a segui para a sala de jantar e, em seguida, para a
cozinha. Ela não disse nada até que nós duas estávamos nos
bancos do balcão.
— Há quanto tempo isso vem acontecendo? —
perguntou ela. Deus, ela ainda soava como a esposa de um
Capo, tão adulta e responsável.
— Um tempo. Desde que vim para Nova York, — eu
admiti. Não havia realmente porque em mentir mais. E eu
realmente queria falar com ela sobre isso. Romero e eu
estávamos mantendo isso em segredo por quase três meses.
Aria balançou a cabeça lentamente, com os olhos cheios
de preocupação. — Eu deveria saber. Eu pensei ter visto vocês
dois trocarem olhares secretos que só os amantes fazem, mas
eu não queria acreditar.
Eu não tinha certeza o que dizer, se ela ainda espera que
eu diga qualquer coisa. — Nós tentamos esconder.
— É claro que sim! — Aria sussurrou asperamente. —
Oh Lily. Isso é ruim, você sabe disso, certo? Se o pai descobre
tudo vai virar um inferno. Você vai estar em grandes
problemas e não só isso. Pai pode muito bem começar uma
guerra. Afinal, Luca prometeu mantê-la segura enquanto você
estava em Nova York e ter um caso com um de seus homens é
definitivamente uma violação dessa promessa.
— Caso? — eu disse ofendida. O que Romero e eu
tínhamos era muito mais do que isso. — Você faz parecer
como se fosse apenas sexo.
Os olhos de Aria se arregalaram. — Eu não quis dizer
isso, mas… Espere um segundo. Por favor, me diga que você
não dormiu com ele ainda. — sua expressão era tão articulada
e ansiosa, eu quase considerei mentir para ela.
Mordi o lábio. — Eu realmente amo ele, Aria.
— Então você dormiu com ele, — disse ela calmamente.
Ela fez parecer como se fosse o fim do mundo.
Eu balancei a cabeça. — E eu não me arrependo. — eu
estava tão feliz que eu tinha compartilhado esse momento com
Romero. Eu queria compartilhar muito mais com ele. Toda vez
que eu tinha dormido com ele nas últimas semanas, eu tinha
ficado mais próxima dele, embora eu não achasse que isso
fosse possível.
Aria se inclinou para trás e lançou um longo suspiro. —
Pai vai matá-lo se ele descobrir. Depois da coisa com Gianna,
ele vai perder completamente o controle.
— Minha mãe me disse para ser feliz pouco antes de
morrer. E Romero me faz feliz. Eu quero estar com ele.
— Lily, Pai não vai permitir isso. Não importa o que
qualquer um de nós diga, ele não vai deixar você se casar com
um mero soldado de Nova York. Ele não pode ganhar qualquer
coisa de tal união e não quando eu já estou casada com o Capo
e Gianna com o Consigliere.
— Eu sei, — eu disse em um sussurro. — Mas… Eu…
— eu parei. Eu sabia que Aria estava certa. Eu sabia disso
praticamente desde o início. Eu odiava que eu tivesse que
pedir desculpas por amar alguém, por querer estar com esse
alguém. Não deveria ser assim.
Aria pegou minha mão e ligou os nossos dedos. —
Algumas mulheres conseguem fingir a sua virgindade na noite
de núpcias. Talvez você possa fazer isso também. E como Pai
não arranjou um casamento para você, talvez possamos
descobrir algo até então.
— Aria, eu não quero me casar com ninguém. Eu só
quero Romero. Eu o amo.
Aria olhou nos meus olhos por um tempo muito longo.
Eu não tinha certeza o que ela estava esperando encontrar lá,
mas eu lhe dei tempo. — Você o ama, não é? — ela disse,
resignado. — E ele? Ele ama você?
— Ele disse isso depois que fizemos amor pela primeira
vez. — eu esperava que ele fosse dizer outra vez após a
primeira noite juntos. Talvez ele não fosse do tipo de dizer isso
em voz alta com muita frequência.
— Tem certeza de que ele é sério sobre você?
— Claro que sim, você ouviu o que eu disse a você? —
eu disse, mas até mesmo eu podia ouvir o lampejo de incerteza
na minha voz e eu não tinha certeza de onde isso estava vindo.
— Alguns homens dizem coisas que não significam nada
depois do sexo, porque eles se sentem culpados.
Meus olhos se arregalaram. — Ele não faria isso. E se
você está dizendo que ele só tentou entrar em minhas calças,
isso é ridículo. Você sabe quem é Romero, ele não faria isso
comigo.
— Não, você está certa. Romero não é o tipo e ele não
arriscaria tanto só pelo sexo. Ele deve se preocupar com você
se ele vai contra as ordens de Luca.
— Você não vai dizer a ele, certo?
— Eu disse a você, eu não vou. Ele tem o suficiente em
sua cabeça, eu não quero que ele se preocupe com isso
também. Nós vamos descobrir alguma coisa. Mas até então,
por favor, sejam mais cuidadosos. Eu não vou te dizer para
ficar longe de Romero porque eu suspeito que você vai acabar
indo pelas minhas costas, mas se alguém descobrir, as coisas
poderiam realmente ficar fora de mão.
— Eu sei, — eu disse. — Romero e eu vamos ter
cuidado.
Aria apertou os lábios. — E não há realmente nenhuma
maneira que você considere terminar com Romero?
— Não, — eu disse sem hesitar.
Ela sorriu tristemente e pulou do banco. — Eu quero
falar com Romero agora.
Eu empurrei para os meus pés e agarrei seu braço. —
Por quê? Você vai tentar convencê-lo a parar de ficar comigo?
— Você realmente acha que eu faria isso com você? —
perguntou Aria em um tom magoado.
Eu me senti mal instantaneamente, mas Aria havia
mudado ao longo dos anos. Talvez fosse porque ela tinha
tomado mais responsabilidades como esposa de Luca, mas às
vezes eu pensava que ela agia muito como uma mãe
intrometida quando ela vinha para mim. Eu não duvido que ela
sempre fazia o que ela achava que era o melhor para mim,
único problema era que eu não tinha certeza se ambas
concordavam sobre isso. — Não. Mas por que você quer falar
com Romero?
— Eu só quero conversar. — disse ela teimosamente. —
Por favor, fique aqui enquanto eu vou falar com Romero. Me
faça o favor.
— Aria, por favor, não faça disso um grande negócio.
— Oh Lily, este é um negócio muito maior do que você
pensa. — disse ela antes dela se afastar.

*****

ROMERO
Eu queria arrancar os cabelos em frustração. Devíamos
ter sido mais cuidadosos. Eu geralmente nunca baixo a guarda.
Eu sempre antecipava possíveis riscos. Hoje eu tinha falhado
em tantos níveis, era lamentável.
Aria avançou sobre mim. Ela parecia regiamente
chateada. E eu não poderia culpá-la. Ela parou bem na minha
frente, seus olhos azuis brilhando com raiva. — Como você
pôde fazer isso? O que você estava pensando? — ela
sussurrou. — Mas você provavelmente não estava pensando,
pelo menos não com a cabeça. — ela fez um gesto na direção
da minha virilha.
Minhas sobrancelhas se ergueram. Essa era tão diferente
de Aria. — Isso não é apenas sobre sexo.
— Lily disse a mesma coisa, mas o que é então? Você
conhece as regras, pelo amor de Deus. É irônico que eu tenho
que te lembrar.
— Eu sei as regras, — eu disse laconicamente, ficando
com raiva. Mas Aria era a última pessoa que eu deveria estar
com raiva. Ela estava certa.
— Lily disse que dormiu com ela. — Aria balançou a
cabeça. —Deus, Romero, se alguém descobrir, Lily estará
arruinada. Ou você pretende se casar com ela?
— Eu não posso. Você sabe disso. Seu pai nunca
permitiria isso, e se nós fomos contra a sua vontade, isso
significaria guerra.
— Eu sei. Então, por que você fez isso?
— Eu não forcei Lily se é isso o que você pensa, — eu
disse. Será que ela achava que eu tinha forçado a irmã dela de
alguma forma? — Lily queria isso também.
— Eu não duvido. Eu vejo como ela está olhando para
você. Ela ama você. É claro que ela quer dormir com você,
mas você deveria ter feito melhor!
— Eu sei. O que você quer que eu diga? Que eu sinto
muito?
— Você estaria mentindo, — Aria murmurou.
Indignação passou por mim, mas ela estava certa. Eu não
estava triste que eu tinha dormido com Lily, pelo menos não o
suficiente para que eu não fosse fazer isso novamente. — Você
vai me dizer para ficar longe dela agora?
— Você ficaria com ela pelas minhas costas. E Lily iria
me odiar se eu tentasse ficar entre você e ela. Você dormiu
com ela e não é como se importasse se vocês fizessem isso de
novo, desde que você tome cuidado para não ser pego e não
engravide a minha irmã.
— Você vai me dar um discurso? — eu disse, divertido.
— Estou falando sério. Se Lily fica grávida, então as
coisas vão ficar muito ruins.
— Nós somos cuidadosos.
— Mais cuidadosos do que quando eu peguei vocês no
sofá?
— Quero dizer. Lily não vai ficar grávida.
Aria cobriu o rosto com as mãos. — Deus, eu não posso
acreditar que estamos tendo essa discussão. Eu queria Lily em
Nova York para que ela se divertisse um pouco, mas não esse
tipo de diversão.
Eu não tinha certeza do que dizer. A culpa pesava sobre
meus ombros, mas, como Aria tinha dito, era tarde demais.
— Será que você ficaria longe dela se eu ameaçar contar
a Luca? — Aria perguntou quando ela baixou as mãos.
— Não, — eu disse sem hesitar.
— Bom, — disse ela, me jogando fora da pista. — Pelo
menos isso significa que você é sério sobre ela. Talvez
possamos encontrar uma solução para você e minha irmã. Me
deixe pensar sobre isso.
— Eu estive pensando sobre isso por um longo tempo,
mas talvez você tenha mais sorte do que eu. A menos que nós
queremos guerra, teríamos de convencer o seu pai a chegar a
um acordo sobre uma união entre Lily e eu.
— Gianna e eu nos casamos por razões políticas. Por
que Lily não deveria ser autorizada a se casar com alguém que
ela quer?
— Se eu fosse mais do que um soldado, então talvez o
seu pai fosse considerar isso.
Os olhos de Aria se iluminaram. — Você pode se tornar
um capitão com o seu próprio grupo de soldados. Você tem
trabalhado para Luca por tanto tempo e ele sempre diz que
você é o melhor soldado. A única razão pela qual ele não te
promoveu ainda é porque ele confia em você comigo e não
quer mais ninguém como meu guarda.
Olhei para ela. Normalmente a posição do capitão era
transmitida de pai para filho. Soldados raramente recebiam a
honra de se tornar capitão.
— Pai ainda não encontrou um marido para Lily. Isso é
um bom sinal. Gianna e eu estávamos muito envolvidas
quando estávamos na idade de Lily, talvez por isso ele esteja
aberto para sugestões e seria uma boa jogada para melhorar as
relações entre Nova York e Chicago novamente.
— Você daria um bom Capo também, — eu disse com
um sorriso.
— Eu sou casada com um bom Capo, isso é tudo.
— Você é, — eu disse. — Mas eu não quero me tornar o
capitão só porque você falou com Luca sobre isso. Eu não
tenho trabalhado tão duro para uma promoção por piedade.
— Eu não terei que convencê-lo e Luca nunca faz nada
por piedade. Você deveria saber disso.
Eu balancei a cabeça. Ela tinha um ponto. — Uma vez
que você disser a ele, não há como voltar atrás. Ele pode não
levar isso tão bem. Eu fui contra suas ordens diretas afinal de
contas. Isso ainda é um crime.
— Sim, você fez, — disse Aria. — Mas ele te ama como
um irmão. Ele vai te perdoar. Eu só vou ter que descobrir uma
maneira de contar a ele.
— Eu poderia falar com ele. Eu tenho que confessar as
minhas ações.
Aria balançou a cabeça. — Não, eu posso ser mais
convincente do que você e ele não pode ficar com raiva de
mim por muito tempo.
Eu ri. — Vocês mulheres Scuderi têm um jeito com os
homens.
Aria sorriu pela primeira vez desde que ela encontrou
Lily e eu no sofá. Encarei isso como um bom sinal, mesmo
que eu não fosse tão ingênuo de pensar que eu me tornaria
capitão e amanhã ou depois Scuderi me aceitaria de bom grado
como seu futuro genro. Isso seria uma batalha difícil.
Capítulo Doze
LILIANA
Eu estava nervosa na cozinha. Porque Aria levou tanto
tempo? Eu nem sequer queria saber o que ela estava dizendo
para Romero. E se ela o convenceu a terminar as coisas
comigo? Ela prometeu não fazer algo assim, mas eu não tinha
certeza. Se ela achava que tinha que me proteger do mal, ela
jogaria sujo se ela tivesse que fazer.
A porta se abriu e Romero entrou. Ele parecia quase
relaxado. Corri em direção a ele. — O que ela disse?
— Que devemos ter cuidado.
— Isso é tudo? Ela não vai dizer a Luca sobre isso?
— Não, não agora.
— O que isso significa?
Um lento sorriso curvou seus lábios. — Pode haver uma
maneira para nós estarmos juntos.
— Você quer dizer oficialmente? — perguntei
animadamente.
— Sim, mas primeiro Aria precisa descobrir uma
maneira de falar com Luca e depois vamos a partir daí.
Eu tentei segurar a minha alegria, mas era difícil. Eu não
queria nada mais do que um futuro real com Romero.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei, mas depois de apenas
alguns segundos Romero recuou com uma expressão de dor.
— Nós precisamos ser mais cuidadosos. Aria vai rasgar a
minha cabeça se ela pegar a gente se beijando assim de novo.
— Provavelmente não só a sua cabeça, — eu disse com
um sorriso perverso, o segurando através de suas calças.
Romero gemeu, agarrou o meu pulso e puxou minha
mão. — Lily, pare de me torturar.
— Eu pensei que você gostava quando eu te torturava.
Romero se inclinou, seus lábios escovando meu ouvido.
— Eu gosto, quando estamos sozinhos.
— Então, que tal irmos para o meu quarto?
— Não há nada que eu preferia fazer, mas não devemos
arriscar durante o dia, — disse Romero com pesar. — E eu
realmente preciso ligar para Luca e perguntar qual o problema
com o subchefe Russo.
Eu fiz beicinho de brincadeira. — Eu odeio quando você
está sendo razoável. A noite está muito longe. Eu quero você
agora.
— Porra, — Romero murmurou. Então ele me deu um
sorriso perigoso. — Continue. Eu vou vir atrás de você em
poucos minutos.
Corri em direção meu quarto, já sentindo o meu núcleo
apertar com antecipação.

*****

No dia seguinte, Luca voltou de Nova York. Ele estava


no limite, então a nossa confissão teria que esperar. Durante o
jantar naquela noite, Aria, Romero e eu agimos como se nada
tivesse acontecido. Eu realmente esperava que Aria fosse
descobrir uma maneira de falar com Luca logo, assim todos
nós poderíamos encontrar uma maneira de fazer um futuro
para mim e Romero possível.
Gianna arriscou um olhar entre Aria e eu como se
pudesse sentir o cheiro de que algo estava acontecendo.
Gianna tinha sido sempre atraída por problemas, então não era
realmente uma surpresa.
No meio do prato principal, o telefone de Luca começou
a tocar. — Agora? — ele rosnou quando ele deixou cair o
garfo. Hoje definitivamente não era um bom dia para lhe
contar sobre Romero e eu. Eu não o tinha visto em um humor
tão ruim assim. Ele se levantou, tirou o telefone do bolso da
calça e atendeu.
— Rocco, eu não esperava a sua ligação, — disse ele.
Todos nós nos voltamos para a conversa.
Luca olhou na minha direção. — Liliana está indo bem.
Meu pai só tinha ligado uma vez o verão inteiro para
perguntar como eu estava. Por alguma razão eu me preocupava
com as verdadeiras razões para ele me checar.
— Amanhã? Isso é um prazo curto. Aconteceu alguma
coisa?
Eu coloquei o meu garfo para baixo, meu estômago
apertou com ansiedade.
— Claro. Ela vai estar lá, — disse Luca com uma careta.
Ele desligou e voltou para a mesa, abaixando o seu grande
corpo na cadeira.
— O que está acontecendo? — perguntou Aria antes que
eu pudesse dizer uma palavra. Ela parecia tão preocupada
quanto eu me sentia. Será que ela acha que o Pai havia
descoberto algo sobre Romero e eu? Se fosse esse o caso, a
ligação não teria ido tão pacificamente, isso era certo. E quem
teria dito a eles? Ninguém nesta casa o faria.
— Seu pai quer Liliana de volta para casa amanhã, —
disse Luca pensativo.
— O quê? — eu disse, chocada. Romero parecia
bastante chocado para esconder a sua surpresa também. Eu
tive que me forçar a rasgar meu olhar para longe dele
rapidamente, antes que Luca ficasse desconfiado. — Porque
tão cedo?
Matteo riu. — Você já esteve aqui por três meses.
Gianna bateu o cotovelo no lado dele e ele esfregou o
local com um sorriso.
— Eu estava brincando, porra. Por que você tem que ser
tão violenta? — ele perguntou.
Eu não estava com disposição para brincadeiras. Eu senti
como se o tapete tivesse sido puxado de debaixo dos meus pés.
Eu sempre soube que eu teria que voltar, eventualmente, mas
agora que eu estava sendo confrontada com a ordem de meu
Pai, eu sentia o coração partido.
— Ele quer você no primeiro voo. Ele já reservou o
bilhete, — Luca continuou como se seu irmão e Gianna não
estivessem ainda brigando.
— Ele disse por quê? — perguntei.
— Ele disse algo sobre responsabilidades sociais.
Aparentemente, há algumas festas que ele quer que você vá,
mas ele não se aprofundou muito nas informações.
Meus olhos dispararam para Romero de novo, mas então
eu me concentrei em Luca. — Ele disse quanto tempo eu
tenho que ficar em Chicago?
Luca estreitou os olhos. — Não. Chicago é a sua casa,
então eu não tinha o direito de perguntar.
— Lily é maior de idade, ela poderia simplesmente se
recusar a voltar, — disse Gianna com naturalidade. Matteo
tinha o seu braço em volta do seu ombro. Como de costume, a
briga deles não durou muito tempo. Eles provavelmente iriam
para o seu quarto fazer as pazes.
— Então eu vou arrastá-la para o avião se for necessário.
Se o seu pai quer que ela volte para casa, ela vai. Não vou
arriscar um conflito sobre algo tão ridículo como isso.
Mordi o lábio. — Está tudo bem. Eu irei. Eu vou
sobreviver e estou animada em ver Fabi novamente. Eu sinto
falta dele. Eu vou dizer ao Pai para me deixar voltar para Nova
York, logo que possível.
Eu não falei pelo resto do jantar e estava feliz quando eu
finalmente pude me levantar. Era ridículo da minha parte estar
tão nervosa sobre ir para casa; porque apesar de tudo, Chicago
ainda era suposto ser a minha casa. Eu saí para o terraço e
passei os meus braços em volta de mim, sentindo um frio
inexplicável mesmo que ainda estivesse quente.
A porta se abriu atrás de mim novamente e Aria andou
ao meu lado, me dando um sorriso compreensivo. — Eu vou
ligar para o Pai e pedir a ele para te mandar de volta para mais
uma visita em breve. Não é como se ele precisasse de você em
Chicago. Você estará de volta antes que você perceba.
— Você provavelmente está feliz que eu terei ido porque
isso significa que eu não posso ver Romero por um tempo, —
eu respondi. Eu me senti mal instantaneamente por falar assim
com a minha irmã. Fechando meus olhos, eu disse: —
Desculpe.
Aria tocou meu ombro levemente. — Não se desculpe. E
eu realmente não quero que você vá, por favor, acredite em
mim.
Eu balancei a cabeça. — Eu me acostumei com a vida
aqui. Eu tenho sido feliz. Eu nem me lembro a última vez que
eu estive feliz em Chicago.
— Isso é apenas uma coisa temporária. Você estará de
volta aqui, em algum momento e enquanto estiver em Chicago
eu vou falar com Luca sobre Romero. Talvez quando você
estiver de volta nós iremos fazer um plano sobre como
convencer o Pai a aceitar Romero como seu marido.
A esperança se acendeu em mim. Olhei para minha irmã.
— Você está certa. Isso pode ser como férias curtas. Talvez em
breve eu vou ser capaz de chamar Nova York de minha casa
para sempre.
Nós não dissemos nada depois disso, ficamos paradas
um ao lado da outra observando o mar turbulento. O que eu
realmente queria fazer era falar com Romero, estar em seus
braços e me convencer de que essa coisa entre nós foi feita
para durar, mas era muito cedo para ir para a cama e não
podíamos arriscar nada com todos ainda acordados.
Quando a brisa pegou, Aria e eu voltamos para a sala.
Romero pegou os meus olhos de toda a sala. Eu mal podia
esperar para estar a sós com ele hoje à noite, sentir o seu corpo
deslizando contra o meu. Eu nunca precisei tanto dele.
*****

Mais cedo do que de costume, me arrastei para fora do


meu quarto e me dirigi para Romero. Eu queria gastar tanto
tempo com ele quanto possível. Ele não pareceu surpreso
quando eu escorreguei em seu quarto.
Ele estava sentado na beira da cama, braços apoiados
sobre os joelhos. Ele ficou de pé quando eu fechei a porta. Por
um tempo nós apenas nos encaramos até que a pressão em
meu peito ameaçava esmagar a minha caixa torácica. Por que
eu estava sendo tão emocional sobre isso? Romero atravessou
o quarto e me agarrou pelos quadris, em seguida, ele nos virou
e me levou em direção à cama até que as minhas panturrilhas
colidiram contra ela e ambos caiamos de costas no colchão.
Nossas mãos percorriam o corpo um do outro quase
freneticamente, nos despindo e acariciando. Quem sabia
quando teríamos a chance de sentir isso outra vez? Pode ser
semanas. Muito tempo. Precisávamos fazer o melhor de nossa
última noite juntos.
Hoje a noite eu queria estar no controle. Eu empurrei
Romero de costas e ele não resistiu. Eu montei em seus
quadris e me abaixei para sua ereção, o sentindo deslizar para
dentro de mim todo o caminho. Fechei os olhos por um
momento, liberando uma respiração baixa no sentimento
familiar de plenitude. Romero agarrou meus quadris e
começou a empurrar para cima, se dirigindo profundamente
em mim. Me inclinei em meus braços, assim o meu rosto
estava acima dele e meu cabelo nos cercara como uma cortina,
o nosso próprio santuário pessoal do mundo exterior. — Eu
vou sentir falta de você, — eu sussurrei enquanto eu balançava
para trás e para frente. — Eu vou sentir falta disso, de tudo.
— Você não vai ficar fora muito tempo, — ele rosnou.
Ele parecia absolutamente certo. O beijei, me movendo
ainda mais rápido até que ambos gozamos ao mesmo tempo,
mas ainda não estávamos saciados. Fizemos amor mais duas
vezes naquela noite como se pudéssemos erradicar as
sensações de nossa união em nossa mente dessa forma.
— Eu não quero ir embora, — eu murmurei quando eu
estava nos braços de Romero. — Eu quero cair no sono em
seus braços.
Romero pegou o despertador. — Então, não vá. Vamos
nos levantar cedo para que você possa voltar para o seu quarto
sem que ninguém perceba.
Eu sorri e descansei a minha bochecha contra seu peito.
Não demorou muito para eu dormir com o som das batidas do
coração de Romero que eram como música em meu ouvido.

*****

O alarme nos acordou antes do amanhecer e eu


rapidamente juntei as minhas roupas no quarto escuro. Antes
de eu sair, Romero me puxou contra o seu peito e me beijou
ferozmente, então eu escorreguei para fora e corri de volta
para o meu quarto. Eu dormi um par de horas de sono antes de
realmente me levantar e levar tudo no carro para o aeroporto.
A parte mais difícil de sair foi que eu não poderia
abraçar ou beijar Romero quando nos despedimos na sala de
espera do aeroporto. Com um último olhar, eu fui embora,
tentando ignorar a preocupação insistente de que eu não iria
voltar.

*****

Quando cheguei a Chicago, meu velho guarda-costas,


Mario, estava esperando por mim. Ele não era a pessoa mais
falante, então não falamos durante a ida para casa da minha
família.
Quando eu pisei na porta de entrada, o meu coração
batia forte em meu peito como um tambor. A última vez que
eu estive aqui, a casa estava cheia de tristeza e morte.
Mario abriu a porta para mim e eu entrei. Não era tão
ruim como costumava ser, mas eu definitivamente aqui não se
parecia com casa mais. Era a minha imaginação ou o cheiro de
desinfetante ainda permanecia nos cantos?
— Onde está o meu pai? — eu perguntei rapidamente,
antes que minha mente conjurasse mais loucura.
— Em seu escritório. Ele quer vê-la imediatamente.
Eu duvidava que a razão para isso era que ele tinha
sentido minha falta. Mario se dirigiu para levar a minha
bagagem para o meu quarto. Eu andei pelo corredor e bati na
porta do Pai, tentando ignorar a forma como o meu estômago
revirou com os nervos.
— Entre. — Pai disse.
Eu respirei fundo e avancei. Fabi estava perto da janela.
Ele cresceu nos três meses que eu tinha ido e algo sobre a
maneira como ele cresceu me disse que não era a única
mudança nele. Os últimos meses pareciam ter feito dele mais
homem. Teria sido melhor se Fabi tivesse sido autorizado a ir
para Chicago comigo para o verão, mas, naturalmente, isso
estava fora de questão.
Pai estava sentado atrás de sua mesa, como de costume.
Ele não se incomodou em levantar para me abraçar. Mas Fabi
andou até mim e eu passei os meus braços em torno dele antes
que ele pudesse decidir se ele estava bem com esse carinho.
Ele era mais alto do que eu. Eu me inclinei para dar uma
olhada em seu rosto.
Eu sabia que algo estava errado no momento em que vi a
expressão de Fabi. Recentemente Pai tinha o envolvido cada
vez mais no negócio da máfia, apesar de que Fabi não teria 13
anos ainda por várias semanas. Alguma tinha coisa
acontecido? Ele não poderia já ter sido forçado a matar
alguém, certo? A ideia de que meu irmão mais novo já pode
ser um assassino virou o meu estômago em um poço gelado.
— Sente-se. — o Pai disse com um aceno de cabeça em
direção à poltrona na frente de sua mesa. Fabi imediatamente
se livrou do meu abraço, mas o que me preocupava era mais a
questão de manter os olhos no meu queixo.
— É bom ver você de volta em Chicago. Confio que
Luca e Aria cuidaram muito bem de você? — perguntou o Pai.
Nenhuma menção de Gianna, o que não era uma grande
surpresa.
Eu me afundei na cadeira em frente a ele. — Sim, eles
fizeram. Foram amáveis.
Eu tentei pegar o olhar de Fabi; ele retornou ao seu lugar
junto à janela onde ele estava ocupado evitando os meus olhos,
suas mãos fechadas em punhos ao seu lado e seus lábios uma
fina linha branca em sua cara irritada. Meu estômago amarrou
em um nó.
Pai bateu os dedos contra a madeira lisa da mesa. Se eu
não o conhecesse melhor, eu diria que ele parecia quase
envergonhado. O medo tomou conta de mim. Mais uma vez eu
dei uma olhada em Fabiano, mas ele estava olhando para o
chão.
O silêncio se estendeu entre nós até que eu tive a certeza
de que eu iria sufocar. — Você disse para Luca que você me
queria aqui para algumas festas?
— Isso é parte da razão. Você precisa se tornar parte dos
nossos círculos sociais novamente. — Pai fez uma pausa,
então ele limpou a garganta. Ele parecia quase culpado. — A
vida tem de continuar. A morte faz parte da nossa existência,
mas temos de nos certificar de que a nossa linhagem familiar
permaneça forte.
Onde ele estava indo com isso?
— Eu vou me casar de novo.
Eu estava dividida entre alívio e choque. Pelo menos eu
não estava em apuros, mas eu não podia acreditar, muito
menos entender como ele poderia estar pensando em outro
casamento quando a Mãe tinha morrido por menos de seis
meses. — Mas… — eu parei. Nada que eu dissesse mudaria
alguma coisa. Só iria me deixar em apuros. — Quem é ela? Eu
a conheço?
Havia algumas viúvas na idade do Pai que eu conhecia,
mas eu não tinha certeza se alguma delas eram o tipo dele.
Mesmo o pensamento disso me fez se sentir culpada e eu não
estava nem mesmo considerando a substituição da minha mãe.
Talvez Pai fosse mais do que ele deixava transparecer. Eu
sempre pensava que ele e minha mãe não gostavam muito um
do outro, mas talvez eu estivesse errada. Talvez ele a tivesse
amado, de alguma forma torcida. Talvez ele não tivesse sido
capaz de demonstrar. Algumas pessoas eram assim.
Fabiano soltou um som baixo, puxando os meus olhos
para ele, mas ele ainda estava encarando seus pés. O que
provavelmente era o melhor, porque o Pai lhe deu um olhar
que enviou um arrepio nas minhas costas. Eu notei uma
contusão desaparecendo na têmpora esquerda de Fabi e eu não
pude deixar de me perguntar se havia mais escondido debaixo
de sua roupa e se o Pai era responsável por todos eles.
Os dedos do pai pegaram seu celular de novo. —
Ramona Brasci.
Eu quase caí para frente na minha cadeira. — O quê? —
eu soltei. Ele tinha que estar brincando. Ramona era apenas
um ano mais velha que eu. Ela poderia ter sido filha do meu
pai. Ela tinha ido para a escola comigo, pelo amor de Deus!
Olhei para Fabiano, novamente, precisando dele para me
dizer se isso era uma piada, mas a sua careta era toda a
resposta que eu precisava. Isso era nojento. Era algum tipo de
coisa da crise de meia-idade por parte do Pai? Eu não poderia
nem mesmo começar a entender como ele poderia escolher
alguém que poderia ser sua filha.
— Por sua vez, — Pai continuou uniformemente. —
Você vai se casar com o pai dela, Benito Brasci.
E foi aí que todo o meu mundo tinha sido destruído. Eu
podia vê-lo diante dos meus olhos. Todas as imagens de um
futuro com Romero, de felicidade e sorrisos, beijos doces e
noites intermináveis de fazer amor, se quebrando em pedaços
pequenos e eles foram substituídos por algo horrendo e escuro.
Algo que as pessoas sussurravam em voz baixa porque elas
estavam preocupadas dos horrores se tornarem realidade se
falassem muito alto. Nem no meu pesadelo mais escuro eu
imaginava que o Pai iria me casar com um velho como Benito
Brasci. Eu não me lembrava muito sobre ele, mas eu não tinha
o porquê. Tudo isso estava errado.
Tentei falar, mas eu estava muda. Gostaria de saber
quando as primeiras lágrimas cairiam. Agora, eu ainda me
sentia muito dormente.
— Você está condenando Lily a uma vida de miséria, —
Fabiano disse as palavras que eu só conseguia pensar. Ele
parecia tão… Velho. Ele se tornou um homem em algum
tempo quando eu não estava olhando. Eu queria dar a ele um
sorriso agradecido, mas meu rosto estava congelado, tudo em
mim estava. Isso realmente estava acontecendo?
Essa manhã eu ainda beijava Romero e agora eu deveria
me casar com Brasci.
— Eu estou tomando as decisões razoáveis. Você não
entende isso ainda, mas você vai.
— Não. Eu nunca faria algo assim.
— Você vai fazer pior, acredite em mim, meu filho. —
ele suspirou. — Todos nós temos que fazer sacrifícios. Essa é
a vida.
Que tipo de sacrifício era esse de se casar com uma
jovem mulher que poderia ser sua filha? Era eu quem estava
fazendo o sacrifício.
Eu não conseguia parar de me perguntar quando as
lágrimas viriam, mas não havia sequer a marca de
formigamento ainda. Não havia nada. Eu não era nada. Mais
uma vez eu tentei chamar uma imagem de Benito Brasci, mas
nada veio. Não importava. Ele não era Romero.
— Você vai encontrá-lo amanhã. Ele e Ramona estão
vindo para o jantar.
Talvez pudesse ter sido engraçado se não fosse tão
terrível.
— Ok, — eu disse simplesmente. Eu parecia recolhida.
Fabiano franziu a testa para mim, Pai parecia imensamente
satisfeito. Me levantei da cadeira e atravessei a sala em direção
à porta. — Estou indo para a cama. Eu tive um dia longo.
— Você não vai se juntar a nós para o jantar? — Pai
perguntou, mas ele não soava como se ele se importasse.
— Eu não estou com fome, — eu disse calmamente.
— Então durma bem. Amanhã é um dia emocionante
para nós dois.
Minha mão na maçaneta da porta se deteve por um
instante. Um lampejo de algo, talvez raiva, agarrou o meu
corpo, mas depois desapareceu e eu estava entorpecida
novamente.
Um pé na frente do outro. Um pé na frente do outro. O
mantra encheu a minha cabeça enquanto eu subia a escada.
Passos trovejaram atrás de mim e, em seguida, Fabiano estava
ao meu lado. Ele agarrou o meu braço. Ele estava tão alto
quanto eu agora. Ele estava tão crescido. Esses pensamentos se
repetiam em minha mente. Talvez o meu cérebro estivesse
ainda quebrado pelo choque, ou desligado porque a realidade
da situação era demais para suportar.
— O que diabos está errado com você, Lily? — ele
rosnou. Sua voz não era a de um homem ainda, mas não era a
de um menino.
— Errado? — perguntei.
— Sim, errado, — Fabiano murmurou. Ele me soltou e
eu esfreguei o meu braço. Ele era forte.
Havia algo de errado comigo? Talvez fosse esse o
problema. Eu tinha feito muitas coisas erradas no passado. Eu
tinha dormido com Romero, mesmo que não fôssemos
casados. Talvez fosse o castigo pelos meus pecados. O pastor
de nossa igreja provavelmente teria dito isso.
— Por que você não está enlouquecendo? Por que você
acabou de dizer ok? Você nem percebe com o que você
concordou?
Eu não estava ciente que eu tinha concordado com
qualquer coisa. Como eu poderia ter quando ninguém nunca
tinha me perguntado sobre a minha opinião? — Porque não há
nada que eu possa fazer.
— Merda. — disse Fabi, batendo o pé. Talvez não tão
crescido como eu pensasse.
Eu quase sorri, se meu rosto fosse capaz de fazer
qualquer movimento. — Quando você começou a xingar
tanto?
— Todos os homens fazem isso.
— Mas você não é um deles ainda.
— Mas logo serei.
Eu balancei a cabeça. Isso era o que eu temia. Pai
parecia interessado em estragar as nossas vidas.
— E isso não faz diferença agora. Você não pode
simplesmente aceitar esse casamento. Você tem que fazer
alguma coisa.
— O quê? O que posso fazer? — eu perguntei com uma
pitada de raiva. Essa breve explosão de emoção me assustou
porque eu preferia a dormência.
— Algo. — Fabiano disse em voz baixa, seus olhos
castanhos implorando. — Qualquer coisa. Apenas não aceite.
— Então me diga o que eu posso fazer. Você é um futuro
Made Men. Me fale.
Fabiano desviou o olhar, a culpa em seu rosto.
Toquei seu ombro. — Não há nada que qualquer um de
nós possa fazer.
— Você poderia fugir como Gianna, — Fabi explodiu.
— Ela foi pega.
— Mas você não faria isso.
— Eu não faria. — eu não era nada como Gianna. Eu
não iria durar um mês, provavelmente nem mesmo uma
semana. Eu não era uma rebelde. Eu nem sequer queria deixar
essa vida para trás. Não havia nenhuma maneira de sobreviver
sozinha por muito tempo.
Mas talvez eu não tivesse que ficar sozinha. Romero
poderia vir comigo. Ele sabia como escapar de perseguidores.
Juntos, poderíamos fazer isso.
— Você está pensando sobre isso, não é? — Fabi
perguntou com um sorriso de menino.
— Se lembre de onde a sua lealdade está. — eu
sussurrei. — Isso é traição. Se o Pai descobre, você vai ser
punido severamente.
— Eu não sou um Made Men ainda.
— Mas tão bom quanto, você mesmo disse. Eles irão te
julgar como se fossem um Made Men e isso significaria a
morte.
— Pai precisa de um herdeiro. — disse Fabi.
— Pai terá em breve uma jovem noiva que pode lhe dar
um monte de crianças. Talvez ele não vá precisar de você
depois de tudo.
Fabi fez um som de engasgo. — É como se ele fosse se
casar com você. É nojento.
Eu não podia negar. — Benito Brasci é mais velho do
que o Pai, não é?
— Eu não sei. Ele parece velho.
— Eu deveria ir para o meu quarto, — eu disse
distraidamente. Eu precisava falar com Romero. Fabi não me
parou enquanto eu caminhava pelos degraus restantes e me
dirigi para o meu quarto.
Quando a porta se fechou atrás de mim, eu temia por um
momento que eu realmente começasse a chorar, mas a rolha
que mantinha as minhas emoções sob controle segurou firme.
Eu me atrapalhei com o meu celular no fundo da minha
bolsa e disquei o número de Romero. Minhas mãos tremiam e
quando Romero não atendeu após os dois primeiros toques
como sempre fazia, eu podia sentir o pânico rachar através da
minha dormência. Ele não sabia que eu ia ligar, mas eu não
podia deixar de me preocupar que algo tinha acontecido com
ele. Ou que ele descobriu sobre o meu noivado com Basci e
não queria ter nada a ver comigo. E se Luca soubesse o tempo
todo? Era possível que o Pai havia dito no telefone e Luca não
tinha mencionado isso porque ele sabia que Aria e Gianna
fariam uma cena.
Fui enviada para o correio de voz e rapidamente
desliguei. Eu não tinha sequer colocado o telefone para longe
quando a tela brilhou com o nome de Romero. Respirando
fundo, eu atendi.
— Lily, você está bem? Eu estava em uma reunião e
tinha colocado o telefone no mudo.
Eu caí contra a parede ao som da voz de Romero. Ele me
acalmou, mas ao mesmo tempo me fez perceber que eu
poderia o perder se eu tivesse que casar com Basci. — Pai
escolheu um marido para mim, — eu disse finalmente. Parecia
que eu estava falando sobre o tempo, completamente distante.
Silêncio seguiu do outro lado. Eu não podia nem ouvir a
sua respiração. Eu não ousei dizer nada, embora eu estivesse
explodindo de medo e ansiedade.
— Quem é? — perguntou Romero, em voz baixa. Eu
desejei que eu pudesse ver seu rosto para obter uma dica sobre
suas emoções. Ele parecia tão sem emoção como eu.
— Benito Basci. Você provavelmente não o conhece,
mas…
Romero me interrompeu. — Eu o conheço. Eu o conheci
durante o ano passado em uma reunião.
— Oh, — eu disse, então esperei, mas novamente
Romero ficou em silêncio. Por que ele estava tão calmo? Será
que ele não se importava que eu fosse me casar com outro
homem? Talvez isso sempre tivesse sido uma distração para
ele. Talvez nunca tivesse sido destinado termos mais do que…
O quê? Um caso? Eu me sentia suja só de pensar nisso. — Ele
é muito mais velho do que eu.
— Eu sei.
Claro que Romero sabia, mas eu não tinha certeza do
que mais dizer.
— Eu pensei… — eu disse, hesitante. — Eu pensei que
nós poderíamos…
Eu não ousava pronunciar as palavras.
— Você pensou que nós poderíamos o quê?
Fechei os olhos. — Eu pensei que nós poderíamos fugir
juntos. — eu me arrepiei quando as palavras saíram de minha
boca. Eu poderia soar mais patética e ingênua?
— Isso significaria guerra entre os Outfit e Nova York.
Ele disse com naturalidade, como se ele não tivesse
absolutamente nada a ver com isso. Eu não tinha pensado
nisso, mas é claro que seria a primeira coisa que iria passar
pela cabeça de Romero. A Família sempre veio em primeiro
lugar.
Eu tinha sido estúpida. Mãe sempre me alertou que os
homens prometiam o mundo se eles quisessem algo de você.
Romero tinha sido gentil e amoroso e eu tinha dado a ele tudo.
Meu corpo, meu coração, cada pequena coisa que eu poderia
dar. Eu tinha dado a ele de bom grado e eu não queria sentir
arrependimento sobre nada, mas era difícil.
Mordi o lábio, de repente a ponto de chorar. Eu podia
sentir as comportas se abrindo. Não iria demorar agora. —
Você está certo, — eu resmunguei. — Eu… — eu engasguei e
rapidamente desliguei. Então eu escondi o telefone na minha
mala de viagem novamente e me enrolei na minha cama,
deixando os soluços arruinarem o meu corpo até que os meus
músculos doessem, até que minha garganta doesse, até que
tudo doía, mas nada tanto quanto o meu coração. Era isso? O
final de cada sonho que eu tive?
Capítulo Treze
ROMERO
Olhei para o meu telefone. O que o fodido Scuderi
pensava? Eu queria matá-lo tantas vezes no passado, agora eu
gostaria de ter feito isso.
Nino saiu da sala de reunião e colocou um cigarro na
boca. Aquele cara ralava meus malditos nervos. — Porque a
cara nervosa? Vá atrás de um longo boquete agradável de uma
das meninas. Isso sempre coloca um sorriso no meu rosto.
Eu fui em direção a ele, o agarrei pelo colarinho e o
atirei contra a parede. Sua cabeça esmagou contra ela e ele
deixou o cigarro cair. — Que porra é essa, seu imbecil! Me
solte! — ele gritou como um maldito idiota.
Eu dei um soco no estômago dele duas vezes e ele caiu
de joelhos. Deus, eu queria matar alguém. Eu nem sequer me
importava quem. Eu bati nele uma e outra vez.
— Ei! O que está acontecendo aqui? — Luca rosnou.
Ele agarrou meus braços e os puxou nas minhas costas. —
Romero, o que diabos você está fazendo? Se acalme, porra.
Eu relaxei em seu aperto e respirei fundo.
Matteo se ajoelhou o lado de Nino, que estava sangrando
de um ferimento na cabeça e de seu nariz. Eu não tinha sequer
percebido que eu bati na cara dele também. Aria se juntou a
nós depois de um momento. Desde que ela começou a
trabalhar nos livros dos clubes, ela estava aqui com bastante
frequência. Ela me deu um olhar questionador, então
preocupação torceu o seu rosto.
— Eu vou matar você, seu bastardo, — Nino rosnou.
Matteo o ajudou a se levantar. — Você não vai fazer
nada. Vá para dentro e traga alguém para dar pontos na sua
cabeça.
Nino cambaleou, mas não sem me enviar um olhar
mortal. Como se eu desse a mínima que ele tentasse me matar.
Eu limpei a porra do chão com a sua bunda.
— Aconteceu alguma coisa com Lily? — Aria
perguntou com medo, andando até a mim.
— Você pode me deixar ir agora. — eu disse a Luca. Ele
me soltou e deu um passo para trás, os olhos apertados voando
entre a sua esposa e eu.
— Por que Romero saberia se algo estivesse errado com
Lily? — perguntou ele com cuidado.
Aria não disse nada, só olhava para mim. Talvez eu
devesse ter me preocupado que Luca poderia achar errado,
mas eu não dou a mínima para o que quer que seja.
— Seu pai arranjou um casamento com Benito Brasci
para ela. — eu disse em voz baixa.
Aria engasgou. — O quê? Ele nunca disse que ele estava
à procura de um marido para ela! — ela olhou para Luca. —
Ou ele mencionou alguma coisa para você?
A expressão de Luca era pedra. — Não, ele não fez. Mas
agora eu estou mais preocupado com o fato de que Romero
sabe sobre isso antes de qualquer outra pessoa e que ele quase
matou um dos meus homens por causa disso.
Me debrucei contra a parede. Eu poderia muito bem
dizer a verdade. — Lily e eu ficamos juntos durante o verão.
Matteo deixou escapar um assobio baixo. Por alguma
razão, isso me irritou pra caralho. Eu olhei para ele e quase
perdi a cabeça de novo quando eu vi o seu sorriso. O que
diabos era tão engraçado?
Luca entrou no meu rosto. — Você me disse não tem
muito tempo que você não estava interessado nela? Que isso
não seria um problema do caralho quando ela estivesse por
perto? Me lembro dessa conversa muito bem e agora você está
me dizendo que você estava vendo Liliana atrás das minhas
costas durante todo o fodido verão?
Aria tocou no braço de Luca e se posicionou entre nós.
— Luca, por favor, não fique bravo com Romero. Ele e Lily
não queriam fazer nenhum mal. Eles se apaixonaram.
Simplesmente aconteceu.
— E você sabia o tempo todo? — Luca murmurou. —
Você sabia e não me contou? Será que não tivemos uma
discussão sobre lealdade e confiança quando você ajudou
Gianna a fugir?
Aria empalideceu. — Elas são as minhas irmãs.
— E eu sou a porra do seu marido.
— Luca, ela não tem… -— eu comecei.
Luca apontou os dedos contra o meu peito. — Fique fora
disso. Você tem sorte de eu não colocar uma bala em sua
cabeça neste exato momento por ir contra minhas ordens.
— Ei, Luca, se acalme. Talvez não seja tão ruim quanto
parece. — disse Matteo, tentando ser a voz da razão, o que era
uma piada.
— Oh, eu suspeito que seja exatamente tão ruim quanto
eu acho que é. — Luca murmurou. Seus olhos me encararam.
— Apenas me diga, estaremos em apuros na noite de núpcias
de Liliana?
Eu sabia o que ele estava perguntando.
— Lily não vai se casar com esse cara. Ele não tem mais
de cinquenta anos? É ridículo, — Aria intrometeu.
— Mais de cinquenta e muita merda nas costas. —
acrescentou Matteo.
Luca ignorou. Seus olhos perfuraram os meus. —
Haverá um fodido um problema na noite de núpcias?
— Eu dormi com Lily. — eu disse calmamente.
Matteo deixou escapar outro de seus assovios irritantes.
Luca amaldiçoou. Parecia que ele queria quebrar a
minha cabeça com uma marreta. — Por que você deixou o seu
pau nas calças dela? Você não podia ao menos colocar uma
distância em vez de foder com ela?
— Eu não me arrependo. — eu disse. — Agora menos
do que nunca.
Luca deu um passo atrás de mim como se ele não
confiasse em si mesmo de estar tão perto de mim. — Esta é
uma bagunça do caralho. Você percebe o que acontece se
Benito Brasci descobre que sua esposa não é virgem? Scuderi
vai descobrir o que aconteceu em Nova York e nós estaremos
ferrados.
— Eu não acho que haverá um problema. Fiquei ao lado
de Brasci no mictório uma vez. O pau do cara é pequeno. Ele
não pode esperar que haja sangue nos lençóis com aquela
pequena salsicha. Liliana provavelmente não vai nem perceber
que o pau dele entrou nela. — Matteo brincou.
Eu vi vermelho. Corri para ele e meu punho colidiu com
sua mandíbula. Mas Matteo não era Nino. Depois do meu
primeiro soco, ele bloqueou o meu segundo e puxou a faca. A
minha também foi para fora. Nós nos enfrentamos, facas
apontadas um para o outro.
— Chega! — Luca rugiu, andando entre nós e nos
empurrando para longe um do outro. — Eu vou colocar vocês
juntos com os cães raivosos se vocês não se controlarem neste
exato momento.
— Ele começou isso. — disse Matteo, sem tirar os olhos
de mim. Nós nunca tínhamos lutado um contra o outro e eu
não tinha certeza de que eu poderia vencê-lo em uma briga de
faca, mas eu não me importaria em descobrir.
— Você o provocou. — disse Aria. — O que você disse
foi horrível.
Matteo revirou os olhos. — Meu Deus, eu estava
tentando iluminar o humor.
— Você falhou, — disse Luca friamente. — Agora
guardem as suas facas. Os dois.
Eu embainhei a faca e Matteo fez o mesmo. Eu exalei.
— Eu não deveria ter batido em você, — eu disse finalmente.
Matteo assentiu. — Eu deveria manter minha boca
fechada de vez em quando.
Apertamos as mãos e eu me inclinei contra a parede
novamente. Minhas pernas estavam pesadas. Olhei para o meu
telefone. Eu precisava ligar para Lily, dizer a ela que eu não
iria desistir dela.
— Mas ela não está grávida, está? — Luca perguntou
depois de um momento.
Eu balancei minha cabeça. Nós sempre tínhamos sido
cuidadosos.
— Então talvez nós vamos sair disso ilesos. Brasci pode
não notar e existem maneiras de colocar manchas de sangue
falsas sobre os lençóis.
— Ela não vai casar com esse homem, — eu disse.
Luca ergueu as sobrancelhas. — Oh, não vai? Você está
pensando em parar Scuderi? Talvez sequestrar Lily e se casar
com ela?
Eu não disse nada. Eu queria dar um soco em Luca
também, mas isso teria definitivamente sido o prego no meu
caixão.
— Luca, por favor. Você não pode falar com o meu pai?
— Falar com ele e dizer o quê? — Luca rosnou. — Que
o meu melhor soldado fodeu a sua filha e a quer para si? Que
eu quebrei o meu juramento em proteger Liliana e agora ela
perdeu a porra de sua honra? Isso vai virar um fodido inferno.
— Não, mas você poderia dizer que Gianna e eu
queremos a nossa irmã em Nova York com a gente e se ele
talvez considerasse casá-la com alguém da Família. Você não
teria que dizer a ele imediatamente. Isso nos daria tempo para
pensar em alguma coisa.
— Eu não posso me envolver. Não é da minha conta. E
se seu pai já prometeu Liliana para Brasci, ele não vai mudar
de ideia. Isso iria ofender Brasci.
— Mas nós temos que fazer alguma coisa! — exclamou
Aria.
— Eu não vou entrar em guerra sobre isso! — Luca
assobiou.
Eu o compreendia. Ele tinha que considerar apenas a
Família. Mas eu não precisava.

*****

LILIANA
Eu fui despertada pelo toque de um telefone. Lentamente
a minha conversa com meu pai e, em seguida com Romero, se
repetiram em minha mente. Meus olhos dispararam em direção
a minha mala de viagem no closet, pensando e esperando que
fosse Romero novamente antes de me lembrar de que estava
no mudo. Decepção caiu em cima de mim mais uma vez. Me
sentei, desorientada e exausta de tanto chorar. O relógio na
mesa de cabeceira me havia dito que era apenas 22h00. Eu
andei em direção à minha mesa, onde o telefone fixo estava e
peguei. Era Aria. Ela já deve ter ouvido falar. Pai tinha ligado
para ela para lhe dizer a boa notícia?
Eu atendi. — Oi Aria, — eu disse asperamente. Não
havia como esconder que eu tinha chorado. Aria conhecia
aquela voz.
— Oh, Lily. Acabei de saber. Eu sinto muito. Eu não
posso acreditar nisso.
— Nós não vamos deixar o Pai ir adiante com isso. Nós
vamos descobrir alguma coisa. — Gianna gritou no fundo.
Elas estavam juntas, elas tinham maridos que as amavam e eu
estaria presa aqui com um homem velho que eu nunca seria
capaz de amar. Como as coisas poderiam dar tão terrivelmente
erradas?
— O Pai ligou pra você? — eu perguntei, minha voz
recuperada parcialmente da emoção.
— Não, ele não ligou. Descobrimos através de Romero.
— Ele disse a você?
— Sim, ele fez, — disse Aria lentamente. — Ele atacou
um dos outros soldados que disse algo a ele, então Luca teve
uma palavra com ele e descobrimos.
— Por que ele atacou o homem?
— O que você acha? Porque ele não quer que você se
case com Basci, — Aria disse suavemente. — Ele está
tentando falar com você pela a última hora, mas você não
atendeu. Ele quase foi à loucura por aqui. Ele quer falar com
você.
— Ele está aí com você?
— Sim. Vou entregar o telefone agora, ok?
Com minha voz trêmula eu concordei. — Ok.
— Lily. — Romero murmurou ao telefone. Sua voz era
agora terna. Eu soltei uma respiração dura e senti as lágrimas
correrem pelo meu rosto.
— Lily?
Engoli em seco. — Eu pensei que você não queria ter
nada a ver comigo agora que eu estou prometida a outra
pessoa.
— Não, eu nunca te deixaria. Eu sei que não reagi da
maneira que eu deveria. Eu… Eu estava com tanta raiva
quando você me disse que o seu fodido Pai quer te vender para
o velho bastardo. Eu queria voar até aí e matá-lo. Eu não
queria descontar a minha raiva em você, então eu tentei me
recompor.
— Ok, — eu sussurrei.
— Você ainda quer fugir?
Sim, mais do que qualquer outra coisa. — Isso
significaria guerra. Você mesmo disse.
— Eu não me importo. Eu correria o risco de guerra por
você.
— Luca esta aí para ouvir você dizer isso?
— Não, ele não está.
— Ele iria te matar se ele pudesse ouvir.
— Suas irmãs correriam o risco de guerra por você
também.
Eu não duvidava. Gianna, em particular, mas até mesmo
Aria, que era a mais razoável faria qualquer coisa para me
proteger e era isso que me assustava tanto. Fabiano logo
estaria no meio dos negócios da máfia. A guerra com os russos
havia piorado nos últimos anos e eu provavelmente não sabia
nem metade. Se Nova York e Chicago começassem a lutar
outra vez, isso poderia custar a vida de muitas pessoas com
que eu me preocupava.
— Eu tenho que encontrá-lo amanhã.
— Eu não quero que você sozinha com ele, Lily.
— Mas e se ele pedir e o Pai disser que ‘sim’?
— Você é uma menina italiana honrosa, jogue com essa
carta. Se eu tiver que me preocupar que você estando sozinha
com ele eu vou reservar o próximo voo e estar aí amanhã.
Porra. Eu quero fazer isso e matá-lo.
Sorri um pouco, desejando que ele pudesse. Eu não
queria nada mais do que tê-lo comigo, sentir os seus braços em
volta de mim. — Eu não sou uma garota honrosa mais. Talvez
se eu disser ao Pai eu possa sair deste casamento.
— Ele poderia te matar. Seu pai tem sido muito volátil
desde a coisa com Gianna.
— Talvez isso fosse melhor do que me casar com esse
cara.
— Não diga algo assim. Nós vamos descobrir alguma
coisa.
Eu balancei a cabeça, mesmo que ele não pudesse ver.
Eu queria acreditar nele. — Eu sei, — eu disse calmamente.
— Aria vai ligar para o seu pai amanhã de manhã para
ter uma ideia sobre a decisão dele.
— Eu não acho que ela vai ser capaz de falar com ele
sobre isso. Luca sabe tudo sobre nós?
— Sim, pelo menos tudo o que ele precisa saber para
avaliar a situação.
Minhas bochechas inflamaram, mas Romero estava
certo. Precisávamos dizer a verdade a Luca se nós queríamos
que ele fosse capaz de fazer algo. — Ele ficou muito zangado?
Romero ficou em silêncio por um momento. — Ele não
estava feliz. Eu soquei Matteo, que realmente não ajudou em
nada.
— Você bateu em Matteo? Por quê? Pensei que Aria
tinha dito que você atacou outro soldado.
— Eu fiz ambos, — Romero admitiu. — Eu realmente
me enfureci.
— Por favor, não fique em apuros por minha causa. Eu
não quero que você se machuque, me prometa. — houve outro
momento de silêncio, antes que ele dissesse. — Eu prometo.
Mas eu tinha a sensação de que era uma promessa que
ele não teria a certeza que poderia manter. Se ele já havia
atacado Matteo, o Consigliere da Famiglia, isso não era um
bom sinal.
— Me ligue depois de sua reunião com Brasci amanhã.
Eu vou ficar louco se eu não ouvir de você. E não deixe que
ele tente nada. Ele não tem absolutamente nenhum direito. Eu
vou matá-lo se ele colocar um dedo do pé fora da linha, se ele
olhar para você da maneira errada.
— Você não me prometeu ficar fora de problemas? — eu
brinquei sem entusiasmo.
— Eu vou tentar, mas eu vou estar no limite amanhã,
isso é certo.
Nós conversamos sobre algumas coisas sem
importância, antes de nos despedimos e desligarmos. Agarrei o
telefone contra o meu peito. Lentamente me deitei na cama.
Fiquei aliviada que Romero ainda me queria, mas eu também
estava com medo que ele fizesse algo que pudesse o levar a
morte. Luca gostava muito de Romero, mas ele também era o
Capo e precisava manter os seus homens na linha. Se Romero
fizesse algo que machucasse publicamente a Família, Luca
pode não ter uma escolha, senão puni-lo severamente. Eu não
deixaria isso acontecer.

*****

Eu mal dormi mais de duas horas. Eu sabia que a minha


primeira noite em Chicago não seria fácil, mas eu não
esperava que fosse tão horrível.
Havia sombras escuras sob meus olhos e eu não me
incomodei em cobri-las. Talvez Benito fosse decidir não se
casar comigo se eu parecesse um cadáver. Eu coloquei um
jeans e uma camisa antes que eu fizesse o meu caminho lá
embaixo. Fabi e o Pai já estavam sentados à mesa, tomando
café da manhã. Eu me perguntei se eles tinham feito o mesmo
quando eu tinha ido embora. — Desde quando você está
acordada tão cedo em um sábado? — perguntei a Fabi
enquanto eu tomava a cadeira em frente a ele.
— Só porque ele não tem escola não significa que ele
deve descansar. — Pai respondeu no lugar de Fabi. Fabi
esfaqueou a sua fruta com o garfo, parecendo que ele desejava
que fosse o Pai.
— Ele estará sendo iniciado em breve?
Pai pôs o seu café para baixo. — Você sabe muito bem
que isso não é da sua conta.
Eu enrolei minhas mãos em punhos debaixo da mesa.
Minha garganta apertou em minhas próximas palavras. —
Quando Benito Brasci e sua filha vão chegar?
— Por volta das seis. Eu já te disse que vamos jantar
com eles. — seus olhos se estreitaram. — Eu espero que você
não pretenda usar isso esta noite. Pegue um de seus vestidos
de cocktail e deixe seu cabelo solto. É como Benito prefere.
Pisquei algumas vezes, atordoada demais para responder.
Fabi deixou cair o garfo com um barulho.
— E você deve comer. Eu não quero que você desmaie
novamente. Hoje à noite é importante, — continuou o Pai.
Estendi a mão para um pão dinamarquês e recheei
algumas partes em minha boca, mas eu não tinha certeza se eu
poderia engolir.
— Pare de escolher a sua comida, Liliana, pelo amor de
Deus.
— Deixe ela em paz! — Fabi gritou.
Pai e eu congelamos.
— O que você acabou de dizer? — Pai perguntou em
voz perigosa.
Fabi olhou de volta, mas então ele baixou os olhos. —
Porque você não pode deixá-la em paz? Eu não gosto de como
você a trata.
— Eu não vou deixar você me criticar, Fabiano. É
melhor você aprender a manter a boca fechada ou você vai
estar em grandes problemas uma vez que você fizer parte da
Outfit. Entendido?
Fabi acenou com a cabeça, mas seus lábios eram uma
fina linha branca.
Forcei o resto do meu pão dinamarquês para baixo
mesmo que parecesse como nada. Pai pegou o jornal e
desapareceu por trás dele.
Fabi e eu não tentamos falar. E realmente, o que havia a
dizer?
Capítulo Catorze
LILIANA
Eu escolhi o vestido que eu tinha usado na festa de Natal
do ano passado. Ele era mais modesto do que meus outros
vestidos com uma gola alta e uma bainha que chegava aos
meus joelhos. Era mais adequado do que eu teria gostado para
a noite. Como o pai tinha dito, eu soltei o meu cabelo até os
ombros, embora a ideia de ser atraente para Benito me
aterrorizava. Eu decidi usar sapatilhas desde que Pai não tinha
dito sobre saltos altos.
— Liliana, o que está levando tanto tempo? Nossos
convidados vão chegar a qualquer momento. Desça aqui!
Eu respirei fundo e saí do meu quarto. Tudo estaria bem.
Se eu passasse por hoje, Romero iria descobrir uma maneira
de me tirar desse casamento. Tudo estaria bem. Eu repeti as
palavras uma e outra vez enquanto eu descia as escadas, mas a
minha garganta apertou de qualquer maneira. Fabi estava
vestido em um terno azul escuro e uma gravata adequada, mas
sua expressão era a de um adolescente de mau humor.
Pai também usava um terno de negócio, mas ele quase
sempre usava. Ele examinou minha roupa criticamente. —
Você deveria ter escolhido um vestido diferente, mas isso vai
ter que servir agora. Não temos tempo para você trocar de
novo.
Parei na escada. A raiva passou por mim novamente,
mais forte do que antes. A campainha tocou, me impedindo de
dizer algo que provavelmente teria rendido um tapa no rosto.
Pai deu a Fabi e a mim um olhar de advertência, antes dele ir
até a porta e a abrir.
Meus dedos no corrimão apertaram dolorosamente.
— Benito, é bom ver você. Entre, entre. O jantar está
pronto para nós. Deixei nossa cozinheira preparando um
assado maravilhoso. — disse o Pai de uma forma
excessivamente amigável que ele apenas usava com pessoas
de importância, definitivamente não com a sua família.
Eu tive que me impedir de correr as escadas e me
esconder em meu quarto. Eu não era mais uma criança. Eu
lidaria com essa situação com graça e então eu faria o meu
melhor para acabar com esse casamento. Tinha que haver uma
maneira.
Mas e se não houvesse?
Desci os últimos degraus e parei ao lado de Fabi.
Pai abriu mais a porta para deixar Brasci e sua filha
entrar. Eu prendi a respiração. E quando o meu futuro marido
entrou no hall de entrada, repulsa tomou conta de mim.
Ele era alto e magro, com cabelos grisalhos que estavam
penteados para trás da mesma maneira como o pai, mas onde o
pai tinha bastante cabelo, Benito era quase calvo. Sua pele
estava bronzeada de muitas horas na cama de bronzeamento e
parecia quase como um couro. Parecia velho. Seus olhos
escuros tocaram em mim e um sorriso torceu em seus lábios.
Os olhares de Benito pareciam como lesmas rastejando
sobre a minha pele, a forma como eles viajaram sobre cada
polegada do meu corpo, já me marcando como sua. Eu queria
limpá-lo como lodo. Meus olhos deslizaram sobre a menina ao
lado dele, um pouco mais velha do que eu e com um olhar de
resignação desesperada no rosto. Ela não estava melhor do que
eu. Ela se casaria com o meu pai. Nossos olhos se
encontraram. Havia acusação nos dela? Talvez ela pensasse
que eu era a razão para o acordo entre o meu pai e o dela. Eu
não poderia nem mesmo culpá-la. Tudo sobre este mundo
parecia tão injusto.
Pai fez sinal para eu vir para eles. Mesmo que todas as
fibras do meu ser eram contra, eu rastejei em direção a eles.
Fabi estava a alguns passos atrás de mim. Quando cheguei
lado do Pai, ele colocou a mão nas minhas costas e disse com
um sorriso orgulhoso, — Essa é a minha filha, Liliana.
Benito inclinou a cabeça, mas seus olhos nunca
deixaram os meus. Ele não estava fazendo nada obviamente
inadequado, mas por alguma razão seu olhar parecia que
estava invadindo o meu espaço pessoal. — É um prazer
conhecê-la, — disse ele, em seguida, ele se aproximou de mim
e beijou o meu rosto. Eu congelei, mas não o afastei. Pai
provavelmente teria me matado se eu tivesse feito isso.
— E Fabiano, — disse Benito, de frente para o meu
irmão, que parecia que tinha provado algo amargo.
Benito acenou com a filha para frente. — Essa é Maria.
Pai saudou com um beijo na bochecha também e eu
quase vomitei. Maria olhou na minha direção novamente. Ela
parecia tão… resignada. Mas quando ela enfrentou o meu pai
novamente, ela deu a ele um sorriso. Parecia falso para mim,
mas o Pai parecia satisfeito com a reação dela. Eu
praticamente podia ver seu peito cheio de orgulho.
Pai assentiu com a cabeça em direção à sala de jantar. —
Vamos jantar. Isso nos dará a oportunidade de conversar.
Pai estendeu a mão para Maria segurar e ela fez isso sem
hesitação. Eu sabia o que estava por vir. Mas em vez de tomar
a minha mão, Benito colocou a sua mão nas minhas costas. Eu
quase me encolhi para longe dele, mas eu me forcei a
permanecer imóvel. Eu não poderia dar um sorriso, no entanto.
Nós caminhamos para a sala de jantar e quando eu
finalmente afundei em minha cadeira eu quase chorei de alívio
ao me livrar do toque de Benito. Ele se sentou ao meu lado.
Pai e Benito logo foram imersos na conversa, o que deixou eu
e Maria sentadas em um silêncio constrangedor. Eu mal podia
perguntar qualquer coisa de importância com os nossos pais
sentados bem ao nosso lado. Eu escapei em minha mente, mas
em todas as vezes meus olhos se desviaram para o homem ao
meu lado que cheirava a fumaça de charuto.
Tudo o que eu conseguia pensar era que eu queria estar
de volta à Nova York com Romero.
— Por que vocês meninas não vão se sentar no sofá,
para que possamos discutir negócios? — perguntou o Pai, me
rasgando dos meus pensamentos.
Me levantei da cadeira e levei Maria para a sala de estar.
Nós nos sentamos ao lado uma da outra e um outro silêncio
constrangedor começou. Limpei a garganta. — É estranho, não
é, estarmos sentadas aqui enquanto os nossos pais estão
planejando nosso casamento?
Maria ficou me olhando com cautela. — Eles querem o
que é melhor para nós.
Eu quase bufei. Ela soou como um papagaio. Será que
seu pai tinha colocado essas palavras em sua boca? — Você
realmente acredita nisso? Você vai se casar com um homem
que poderia ser seu pai. Como isso é o melhor para você?
Mais uma vez o olhar dela disparou em direção aos
nossos pais. Ela era muito bem comportada, isso era certo. O
que me preocupava era como ela tinha chegado a esse cuidado.
Seu pai era severo? Violento talvez?
— Eu vou ser a esposa do Consigliere. Isso é uma coisa
boa.
Eu desisti. Ela obviamente não iria falar honestamente
comigo, ou que ela tinha sofrido uma lavagem cerebral tão
bem que ela realmente quis dizer o que disse. — Sim, isso é
certamente uma grande conquista. — eu não queria gritar com
ela, mas meus nervos estavam muito desgastados para ser
atenciosa. Mas ela não pegou o meu sarcasmo. Ela estava
muito ocupada olhando para nossos pais.
Pai se levantou de sua cadeira. — Por que você não tira
um momento para falar com Benito, Liliana? E eu vou falar
com Maria.
Essa era a última coisa que eu queria. Benito caminhou
em minha direção e pânico começou a se instalar. Aonde
iríamos? Eu não queria ficar sozinha com ele. As palavras de
Romero passaram pela minha mente. Eu era uma menina
italiana de boa reputação, pelo menos tanto quanto eles
sabiam. Pai e Maria se sentaram à mesa de jantar juntos e
Benito se sentou ao meu lado no sofá. Pelo menos eu não
estaria sozinha com ele.
Ele até deixou um espaço entre nós, mas ele ainda estava
perto demais para o meu gosto. Eu podia sentir o cheiro dos
charutos em suas roupas e respiração e seu joelho estava
apenas cerca de três polegadas do meu. Eu podia sentir minha
visão falhando. Deus, eu não estava começando um ataque de
pânico porque ele estava sentado ao meu lado, certo? O que
aconteceria quando a gente realmente se casasse? Ele faria
mais do que única sentar ao meu lado. Eu olhava para frente,
sem saber o que fazer ou dizer. Eu podia senti-lo me
observando.
— Você é uma garota muito atraente, — disse ele. Ele
pegou minha mão e a levou aos lábios. Eu não podia sequer
reagir, eu estava muito chocada. Quando os seus lábios
roçaram minha pele, eu queria afundar em mim mesma. Eu
tive muitos homens beijando a minha mão em festas, mas por
algum motivo, isso foi o pior.
— Obrigada. — eu botei pra fora.
— O seu pai lhe disse a data do nosso casamento?
Havia uma data? Eu descobri sobre isso ontem. Como já
poderia haver uma data? Eu balancei a cabeça em silêncio.
— Quatro semanas a partir de agora. 20 de outubro. Seu
pai não queria esperar e eu concordei. Ele vai se casar com
Maria uma semana antes do nosso casamento.
Olhei para ele, em seguida, em direção ao meu pai que
estava olhando de soslaio para Maria como se fosse um
pedaço de doce que queria devorar. Eu ia vomitar. A qualquer
momento, o meu jantar viria para cima novamente.
— Liliana, você está ouvindo? — havia um toque de
impaciência na voz de Benito e algo brilhou em seus olhos.
Eu tremi. — Sinto muito. Eu só estava surpresa. —
surpresa? Surpresa? Deus, surpresa nem sequer começava a
descrever os meus sentimentos. Se já havia uma data, como
poderia possivelmente Romero convencer o meu pai a
escolhê-lo como meu marido em vez disso? Ele não podia. Eu
não era ingênua. Pai nunca iria concordar com isso. Ele queria
Maria e para ele pegá-la, ele precisava me vender para Benito.
Benito sorriu, mas de alguma forma que o fazia parecer
ainda mais assustador. Talvez fosse minha imaginação. — É
um curto prazo, é claro, mas as pessoas não vão querer perder
nossos casamentos, então estou confiante de que vamos ter
uma grande festa.
Eu balancei a cabeça. Eu agarrei o meu braço, sentindo
meu pulso e surpresa ao encontrá-lo tudo bem. Eu me sentia
tão entorpecida, eu poderia muito bem estar morta.
Benito falou sobre os convidados que precisávamos
convidar e alimentos que precisávamos servir, mas eu não
conseguia me concentrar. Eu precisava falar com Romero.
Benito tocou o meu joelho e eu me empurrei para fora dos
meus pensamentos.
— Você está nervosa, — disse ele em tom de acusação.
Ele não tirou a mão do meu joelho.
— Estou feliz que vocês estejam se dando tão bem, —
disse meu pai enquanto ele veio até nós por trás, Maria a
poucos passos atrás dele como um bom cão. Eu nunca tinha
estado tão feliz de ver meu pai. Benito tirou a mão do meu
joelho e eu rapidamente me levantei. Eu precisava ir embora
antes que eu me perdesse.
Felizmente, Benito e sua filha saíram logo depois disso.
Pai parecia incrivelmente satisfeito quando ele fechou a
porta atrás deles. Quando ele se virou para mim, seu sorriso
caiu. — Não me venha com esse olhar. Benito é um homem
importante. Ele é um dos nossos capitães mais influentes com
um grande número de soldados leais. Tê-lo do nosso lado é
importante.
— Eu posso voar de volta para Nova York para que eu
possa ir às compras do vestido de noiva com Aria? — eu não
mencionei Gianna, embora eu me sentisse mal com isso, mas
eu não podia arriscar ter o Pai ficando com raiva de novo. E eu
definitivamente não queria lembrá-lo da fuga de Gianna.
Pai riu. — Você pode ir às compras aqui. Eu não vou
deixar você sair de Chicago novamente. Há muito que fazer e
eu não confio em você para não fazer algo estúpido se eu
deixar você fora da minha vista. Eu sei que você e Gianna não
são muito diferentes. Eu não vou deixar você estragar isso.
Você vai se casar com Benito.
Uma vez que eu estava de volta no meu quarto, eu
disquei o número de Romero com dedos trêmulos. Ele atendeu
após o primeiro toque. — Você está bem? — ele perguntou
imediatamente.
— O casamento é daqui a quatro semanas.
— Porra. — Romero rosnou. Eu podia ouvi-lo bater em
alguma coisa e depois o som de algo quebrando. Romero
sempre parecia tão no controle. — Seu pai perdeu a sua mente
fodida. Eu não vou permitir isso. Eu não dou a mínima se ele é
Consigliere.
— Por favor, se acalme. — parte de mim apreciava a sua
fúria, porque mostrava o quanto ele gostava de mim, mas a
outra parte estava apavorada com as consequências que
poderia enfrentar se ele agisse em suas emoções.
— Como você pode ter essa calma, Lily? Você percebe o
que isso significa?
— Claro, — eu sussurrei. — E quanto a Aria e Luca?
Eles podem fazer alguma coisa?
— Eu não sei. Aria está falando com o seu pai agora.
— Bom, — eu disse sem entusiasmo, mas eu sabia que
era inútil. Pai parecia determinado.
— Você vai ser autorizada a voltar para Nova York?
— Não, Pai não quer que eu saia de Chicago. Ele quer
manter um olho em mim até o casamento.
— Droga. Eu vou falar com Luca. Nós vamos encontrar
um jeito.
— Ok, — eu sussurrei.
— Eu não vou perder você, Lily. Eu não vou permitir
que ninguém a machuque. Eu juro.
— Eu sei.
— Eu vou ligar uma vez que eu fale com Luca.
— Ok. — eu soava como um disco quebrado. Eu
desliguei e me sentei de pernas cruzadas na minha cama. Eu
não tinha certeza de quanto tempo se passou até Romero ligar
novamente. Atendi no primeiro toque. Eu estava
estranhamente calma.
— E? — eu disse.
Romero soltou um suspiro duro e eu sabia que tudo tinha
acabado. Uma tristeza profunda me superou. — Seu pai vai
insistir neste casamento. Aria tentou dissuadi-lo, mas ele ficou
muito bravo e a acusou de tentar enfraquecer a Outfit. Ele a
avisou para não se envolver ou ele verá isso como um ataque à
Outfit e aconselharia a Dante acabar as relações com a gente.
— Então, não há nada para acabar com este casamento.
— Eu posso voar de volta para Chicago amanhã e te
pegar. Eu duvido que os homens de seu pai possam me parar.
— E depois?
— Então nós descobrimos alguma coisa.
— Podemos voltar para Nova York? Será que Luca nos
protegeria?
Romero ficou em silêncio por um longo tempo. — Luca
não correrá o risco de guerra sobre isso. Nós estaríamos por
conta própria.
— Isso quer dizer que Luca iria nos caçar também?
Romero suspirou. — Lily, nós poderíamos fazer isso. Eu
poderia nos manter seguros.
Eu não duvidava, mas que tipo de vida seria essa? Eu
nunca veria Aria e Gianna, nunca mais veria Fabi novamente,
nunca seria capaz de retornar a Nova York ou Chicago e nós
sempre teríamos que viver com medo.
— Posso falar com Aria?
— Claro. Qual é o problema, Lily? Eu pensei que você
queria que nós fugíssemos juntos.
— Eu quero. Mas você ama a Família e você e Luca são
como irmãos. Você perderia tudo se você fugisse.
— Você vale a pena isso.
Eu não tinha certeza de que era verdade. — Posso falar
com Aria agora?
— Certo. Falaremos mais tarde novamente, ok?
— Tudo bem, — eu disse.
A voz de Aria soou do outro lado. — Oh Lily, isso é
uma bagunça. Como você está?
— Eu sinto como se estivesse caindo e não há nada para
parar a minha queda, — eu admiti.
— Nós não vamos deixar você cair, Lily. Vou convencer
Luca a mudar de ideia. Você é minha irmã. Eu não vou deixar
você ser infeliz pelo resto de sua vida. Se Luca me ama, ele
vai te ajudar.
— Ele diz que não quer correr o risco de guerra. Ele
acha que Dante vai realmente começar uma guerra se eu não
me casar com Benito?
— Se você fugir para ficar com Romero, então, Pai vai
tomar isso como um ataque da Família e vai convencer Dante
a retaliar. Haverá guerra. Ambos, Luca e Dante tem que
mostrar força. Seus homens esperam isso deles. Apesar de
anos de cooperação, Nova York e Chicago ainda não gostam
um do outro.
— Se Romero decidir agir por conta própria e me levar
para longe de Chicago, o que Luca ira fazer?
— Eu não sei. Ele está realmente determinado a evitar a
guerra com Chicago. Para fazer isso ele teria que acusar
Romero de ser um traidor que agiu sem a permissão de seu
Capo, a fim de manter a Outfit, ele teria que caçar Romero e…
— ela parou.
— E matá-lo, — eu terminei para ela. — Ele conseguiria
fazer isso? Ele poderia realmente matar Romero?
— Eu não acho que ele iria faria isso, — disse Aria. —
Mas ele poderia entregá-lo para a Outfit.
— Isso também significaria a morte de Romero.
— Eu vou falar com Luca. Se ele me ama, ele não vai
fazer isso. Gianna vai falar com Matteo também. Vamos te
ajudar Lily, não importa o que for preciso. Eu não me importo
se isso significa guerra.
— Fabi em breve será parte da Outfit. Ele pode ter que
lutar contra Romero, Luca e Matteo. Muitos morrerão e os
russos poderiam usar a sua chance e matar mais dos nossos.
— Eu não me importo se os russos assumirem partes da
cidade. Isso tudo é sobre dinheiro. Quero que todos nós
sejamos felizes.
— Mas poderíamos ser felizes? E se Dante e a Outfit
tentar assassinar Luca? Isso já aconteceu antes, quando Nova
York e Chicago estavam em guerra.
Aria ficou em silêncio. Ela adorava Luca. — Isso não
vai chegar a esse ponto.
— Você não sabe disso. — ficamos em silêncio.
— Você quer conversar com Romero no telefone de
novo? — perguntou Aria depois de um tempo.
— Sim. — eu podia ouvir o seu movimento e, em
seguida, Romero estava de volta na outra extremidade.
— Então, você e Aria conversaram sobre tudo?
— Sim. Aria vai falar com Luca de novo.
— Ele não vai mudar de ideia. E ele está certo em
permanecer firme. Ele precisa pensar na Família. — disse ele.
— Eu não me importo sobre a Família, mas eu me
preocupo com você.
— Não se preocupe comigo. Eu de bom grado vou
morrer se isso significa salvar você de Benito Brasci.
Isso era exatamente o que eu temia. — Não diga isso.
Minha vida não vale mais do que a sua. Me casar com ele não
é uma sentença de morte.
— Você quer se casar com ele agora? — perguntou
Romero laconicamente. Ele estava tão nervoso. Eu gostaria de
poder tocá-lo e acalmá-lo.
— Claro que não, mas eu não quero que você arrisque a
sua vida.
— Não há nenhuma outra maneira, Lily. Mas não se
preocupe. Já fiz isso antes.
Eu sabia que ele tinha feito, mas isso era diferente.
Conversamos mais um par de minutos e eu prometi ligar para
ele no dia seguinte para os planos detalhados sobre a minha
fuga.
Quando eu desliguei, eu olhei para a parede branca em
frente a minha cama por um tempo muito longo como se ela
pudesse me dar às respostas que eu precisava.
As pessoas que eu mais amava iriam arriscar tudo para
me manter segura, para me salvar de um casamento sem amor,
mas a que custo?
Romero soou como se ele não se importasse com tudo
que ele poderia perder. Eu sabia que ele amava a Família, tinha
orgulho de ser uma parte dela. Ele amava essa vida, mas ele
teria que deixar isso para trás se ele me ajudasse a escapar
desse casamento. Luca não correria o risco de guerra. Seu
povo faria um motim. Ele não teria nenhuma escolha a não ser
desistir de Romero e entregá-lo para a Outfit. Aria poderia
destruir o seu casamento se ela tentasse chantagear Luca para
me ajudar. Ele a tinha perdoado uma vez por traí-lo, mas ele
iria perdoar novamente?
Eu podia arriscar a felicidade de todos pela minha
própria felicidade?
Alguém martelou contra a minha porta e, em seguida,
Pai entrou sem aviso. Eu fiquei alerta imediatamente. Sua
expressão era ensurdecedora. — O que disse a sua irmã? Por
que ela e Luca estão tentando se envolver em nossa família?
Você realmente acha que eles poderiam me fazer mudar de
ideia sobre o seu casamento?
— Eles querem ajudar porque eles estão preocupados
comigo.
— Eu não me importo! — ele gritou. — Você vai se
casar com Benito, fim de história.
— Eu não posso, — eu disse desesperadamente.
— Você pode e você vai.
— Eu não sou mais virgem. Se você não quer que as
pessoas descubram, você não pode me deixar casar com
Benito! — eu soltei.
Pai se aproximou de mim, agarrou os meus braços e me
empurrou contra a parede. A parte de trás da minha cabeça
bateu com o impacto.
— O que você disse? — ele rosnou.
Eu fiquei boquiaberta com o seu rosto ameaçador.
Ele me balançou duramente até minha visão ficar
embaçada. De repente Fabi correu para o quarto. Ele arrancou
o braço do Pai, tentando me libertar, mas o Pai atacou. Fabi
caiu no chão, seu rosto piscando com a dor.
— Volte para o seu quarto, rapaz. Ou eu juro que eu vou
fazer você se arrepender.
Meus braços doíam do aperto do Pai, mas eu dei a Fabi
um pequeno aceno de cabeça. Eu queria que ele saísse. Ele não
tinha necessidade de entrar em apuros por causa de mim. Fabi
lutou para ficar de pé e depois de um momento de hesitação,
ele saiu mancando do meu quarto. Quando ele estava fora de
vista, o pai se voltou para mim.
Eu tremia.
— Me diga a verdade.
Eu não podia falar. Lamentei ter mencionado isso. Pai
realmente olhava como se ele quisesse me matar.
Ele me deu um tapa forte no rosto, mas não me soltou.
— Quem foi? Quem foi que transformou você em uma
pequena prostituta? Alguém da Família, não foi?
As lágrimas ardiam em meus olhos, mas eu não chorei.
Eu não poderia dizer ao Pai a verdade. — Não. — eu disse
rapidamente. — Eu o conheci em um clube, é ninguém que
você conhece.
— Eu não acredito em nenhuma fodida palavra que você
diz, sua puta nojenta. E não importa. Você vai se casar com
Benito e você vai gritar como uma pequena virgem assustada
em sua noite de núpcias para que ele não duvide da sua
inocência. Eu juro, se você estragar isso para mim, eu vou
quebrar todos os ossos do seu corpo. — ele me soltou e deu
um passo para trás, os olhos de ódio. — E se você tentar sair
deste casamento e talvez até mesmo pedir a suas irmãs por
ajuda, acredite em mim, uma guerra entre a Outfit e a Família
vai começar. Eu, pessoalmente, vou caçar você e suas irmãs e
então eu vou descobrir quem você fodeu e arrancar a pele do
idiota vivo. Você entendeu?
Eu dei um aceno irregular. Pai parecia querer cuspir em
mim. Em vez disso, ele se virou e saiu.
Eu caí no chão. Tudo realmente estava acabado agora.
Eu não podia permitir que o Pai fizesse mal a todos que eu
amava só porque eu queria sair do meu casamento com Benito.
A imagem de olhos odiosos do pai pareciam queimar em meu
cérebro.
Se eu casasse com Benito, Outfit e a Família iriam
continuar a trabalhar juntos. Fabi ficaria mais seguro, todo
mundo estaria mais seguro. Eu seria capaz de ver minhas
irmãs e Fabi, pelo menos ocasionalmente e Romero poderia
continuar trabalhando para Luca. Ele iria passar por cima de
mim e encontrar alguém.
E eu? Talvez as coisas não fossem tão ruins. Eu nem
conhecia Benito. Talvez ele não fosse um cara horrível. E não
era como se eu não tivesse provado a felicidade. Estar com
Romero tinha sido incrível. Era algo que eu nunca ia me
arrepender. Era hora de fazer a coisa certa. Maria estava
aceitando o seu destino. Tantas garotas tinham aceitado antes
de mim. Eu também ia, mesmo que apenas para manter os
meus entes queridos seguros.
Uma vez que eu tinha feito a minha mente, senti um
alívio, em seguida, uma profunda tristeza. Eu deitei, mas o
sono não veio. Me lembrei do desejo nos olhos da minha mãe
antes de sua morte e me perguntei se o mesmo olhar estaria em
meus olhos um dia.

*****

ROMERO
Eu nunca pensei que eu consideraria ir contra a Família,
mas eu não podia assistir Lily se casar com esse homem. Ela
era minha e eu não me importava o que eu tivesse que fazer
para mantê-la comigo. Luca tinha me vigiado quase todo o dia
de ontem. Ele nunca olhou para mim com verdadeira suspeita
em seus olhos antes. Eu tive que admitir que doeu saber que
ele não confiava mais em mim, e pior que ele tinha todo o
direito de desconfiar. Eu fui contra as suas ordens diretas,
quebrei o meu juramento e traí as pessoas próximas, talvez até
mesmo mais próximas do que a minha própria família.
Quando vim para a cobertura de Luca e Aria naquela manhã,
eu vi no olhar de Luca que ele sabia que tinha me perdido.
Outro Capo poderia ter me eliminado, para evitar o pior. Aria
me deu um sorriso encorajador, mas não passou despercebido
para mim que Luca saiu sem beijá-la. Isso nunca aconteceu e
isso era um mau sinal do caralho.
Assim que pude, liguei para Lily. O telefone tocou quase
duas dezenas de vezes antes que eu desistisse. Aria me lançou
um olhar preocupado. — Talvez ela ainda esteja tomando café
da manhã com Fabi e o Pai.
Eu esperei um par de minutos antes de tentar novamente.
Se ela não respondesse desta vez, eu reservaria uma fodida
passagem para Chicago hoje e iria buscá-la. Para meu alívio,
Lily atendeu após o terceiro toque.
— Onde você estava? Tentei ligar para você antes. Você
está bem?
— Eu estou bem. — o distanciamento em seu tom de
voz me fez parar. Parecia que havia uma barreira entre nós que
não tinha nada a ver com a nossa separação física.
— Eu estive pensando sobre a melhor maneira de ir
sobre isso e eu acho que eu deveria voar de volta para você o
mais rápido possível. Luca está ficando mais e mais
desconfiado, então temos de agir rapidamente.
— Eu não acho que devemos fazer isso.
— Fazer o quê? — eu perguntei cuidadosamente.
— Fugir.
— Eu sei que você não quer deixar as suas irmãs, mas
talvez Luca vá nos ver mais tarde. Aria pode mudar de ideia.
— Não, — ela disse com firmeza. — Quer dizer, eu não
quero que você venha aqui e me leve embora. Eu vou ficar.
Eu não podia acreditar no que tinha ouvido. — O que
você está dizendo? Que você quer se casar com Benito? Eu
não acredito nisso nem por um segundo. Ele poderia ser seu
pai.
— Mas ele é um homem importante. Ele tem muitos
soldados que o seguem.
— Desde quando você se preocupa com algo assim?
— Eu sempre me preocupei com isso. Eu desfrutei do
nosso tempo juntos, Romero, mas temos de ser razoáveis. Isso
nunca poderia dar certo entre nós. Você é um soldado e eu
tenho um dever a cumprir, como a filha de um Consigliere.
Nós todos temos que fazer coisas que não queremos fazer.
— Que porra é essa que o seu pai fez? Isso não parece
você, Lily.
— Romero, por favor. Não torne isso mais difícil do que
é. Você tem suas responsabilidades com Luca. Eu não quero
que você quebre o seu juramento.
— Eu não me importo sobre o meu juramento.
— Mas você deveria! — ela disse com raiva. — Eu não
quero que você venha aqui. Está tudo acabado entre nós,
Romero. Eu vou fazer a coisa certa e me casar com Benito. E
você deve fazer a coisa certa e seguir as ordens de Luca.
De repente, eu estava com raiva. — Então, o que
aconteceu entre nós? Uma aventura no verão? Curiosidade em
como seria transar com um soldado comum?
Lily respirou fundo e eu me arrependi das minhas
palavras duras, mas eu era orgulhoso demais para levá-las de
volta ou pedir desculpas. — Nós não podemos nos falar de
novo, — disse ela calmamente. Ela estava chorando? —
Devemos esquecer o que aconteceu.
— Não se preocupe, eu vou, — eu disse, então eu
desliguei. Joguei o meu telefone longe. — Porra!
Aria correu em minha direção, alarmada. — O que está
errado? É Lily?
— Ela quer ir em frente e se casar com Brasci.
Aria congelou. — Ela disse isso?
Eu balancei a cabeça. Fui para a cozinha. Eu precisava
de uma xícara de café. Aria correu atrás de mim. — O que
mais ela disse?
— Não muito. Só que Benito é um bom partido e que
devemos fazer o nosso dever. Porra.
— Ela não quer dizer isso, Romero. Ela ama você. Ela
provavelmente só quer nos proteger.
Eu não tinha mais certeza. E mesmo que Aria estivesse
certa, talvez Lily tivesse um ponto. Eu tinha dedicado a minha
vida à Família. Eu não deveria abandonar o meu juramento só
por causa de uma mulher. Eu era um Made Men e minha
prioridade deve ser sempre o meu trabalho.
Capítulo Quinze
LILIANA
Aria me ligou trinta minutos após a minha chamada com
Romero, tentando me convencer do meu plano para me casar
com Benito. Mas ela já estava brigando com Luca por causa
de mim. Eu não permitiria que ela realmente colocasse o seu
casamento em risco pelas minhas próprias razões egoístas. Eu
me casaria com Benito e tentaria fazer o melhor disso.
As próximas semanas passaram em um borrão com a
compra do vestido de noiva com Valentina, arrumando flores,
escolhendo o menu, chamando os convidados importantes
pessoalmente. Eu só vi Benito em duas ocasiões e não havia
tempo para mais do que algumas palavras trocadas e um beijo
na bochecha. Isso e o fato de que eu estava ocupada demais
para estar preocupada, eu quase consegui esquecer que eu
estava realmente preparando o meu casamento com um
homem que eu mal podia suportar. Mas a realidade me
atravessou no dia do casamento do meu pai e Maria. Ele não
tinha falado comigo desde que eu disse a ele que não era
virgem, exceto nas poucas ocasiões em que tivemos que fingir
por Benito ou outras pessoas.
Enquanto Gianna e Matteo iam chegar mais tarde para
assistir somente ao meu casamento, Aria e Luca também
foram convidados para a festa do Pai, e isso significava que
Romero estava com eles. Eu esperava que ele decidisse ficar
em Nova York, não porque eu não queria vê-lo, mas porque eu
estava com medo de enfrentá-lo, de ser confrontada com o que
eu estava perdendo.
Felizmente, todos vieram diretamente para a igreja
porque o avião desembarcou tarde; isso significava que havia
uma chance de eu ser capaz de evitar um encontro com
Romero.
Me sentei na primeira fila, Benito ao meu lado. Ele não
me tocou de nenhuma forma, graças a Deus, porque isso teria
sido impróprio antes de nosso casamento, mas toda vez que
Aria ou Gianna olhavam na minha direção, eu me sentia como
se estivesse fazendo algo indecente, sentada ao lado de um
homem que eu não quero me casar.
Eu não tinha certeza de onde Romero estava sentado.
Desde que ele não era da família, provavelmente em algum
lugar na parte de trás da igreja. Após o casamento fui em
direção ao hotel onde a festa de casamento aconteceria. Eu
consegui passar o jantar sem ver Romero, mais no final da
noite quando eu estava dançando com Benito, eu o avistei no
outro extremo do salão. Ele estava me observando. De repente,
os outros dançarinos em torno de mim desvaneceram no
fundo. Vergonha tomou conta de mim. Eu queria empurrar
Benito para longe. Eu queria atravessar o salão e me
arremessar em Romero, queria lhe dizer que eu precisava dele.
Eu tive que desviar o olhar. Quando a música terminou, eu me
desculpei e rapidamente deixei a pista de dança. Corri em
direção à saída. Eu precisava ficar longe por um momento
antes que eu me perdesse.
Uma vez que a porta se fechou atrás de mim e eu me
encontrei no corredor do hotel, eu conseguia respirar mais
fácil. Eu não parei. Eu não queria ver os hóspedes que
retornavam do banheiro. Eu queria ficar sozinha.
Virei em duas esquinas antes de parar e me encostar na
parede, meu peito arfando. Em dois dias nós estaríamos
comemorando o meu casamento. Pânico me inundou. Apertei
os meus olhos fechados.
Passos suaves me fizeram virar e meu olhar caiu sobre
Romero. Ele estava a poucos pés de mim, me olhando com
uma expressão que parecia uma facada no coração. Apesar de
tudo o que eu tinha feito e apesar da minha melhor intenção de
silenciar os meus sentimentos por ele, eles pareciam mais altos
do que nunca. Romero parecia irresistível em seu terno escuro.
— O que você está fazendo aqui? — eu sussurrei.
— Eu odiei ver você com ele. É errado e você sabe
disso.
Eu sabia. Cada fibra do meu ser travou com a
proximidade de Benito, mas eu não poderia dizer isso a
Romero.
Ele deu um passo mais perto de mim, seus olhos escuros
queimaram nos meus.
— Nós não deveríamos estar aqui sozinhos, — eu disse
debilmente, mas eu não estava tentando sair. Eu não queria.
Ele deu um passo mais perto, cada movimento de modo
ágil e gracioso e ainda perigoso. Eu queria voar em seus
braços. Eu queria fazer mais do que isso. Eu fiquei onde
estava. Romero atravessou a distância restante entre nós e
apoiou um braço acima da minha cabeça, seu olhar faminto e
possessivo.
— Você quer que eu saia?
Diga ‘sim’. Se o Pai nos encontrasse aqui, ele mataria
Romero no local e distraído como Romero estava no
momento, meu pai poderia realmente ter sucesso.
Eu soltei um suspiro trêmulo. Romero se inclinou e me
beijou, e então eu estava perdida. Movi as minhas mãos pelo
seu cabelo e para suas costas. Ele me beijou mais forte. Suas
mãos encontraram minha bunda e então ele me levantou. Eu
envolvi minhas pernas em volta da sua cintura, de modo que a
saia do meu vestido cocktail subiu, mas eu não me importei. A
ereção de Romero estava quente contra a minha abertura,
apesar do tecido da minha calcinha e de suas calças entre nós.
Eu me triturei contra ele desesperadamente. Eu já estava tão
excitada. Eu tinha sentido falta disso. Eu senti falta dele.
Eu sabia que alguém poderia vir por este corredor e nos
encontrar, mas eu não podia parar. Romero me pressionou
contra a parede e me segurou com apenas um braço. Sua outra
mão segurou o meu peito através do meu vestido, me fazendo
gemer em sua boca e os meus mamilos endurecer. Romero
gemeu. Ele empurrou contra mim, esfregando a sua ereção
contra o meu calor vestido com a calcinha.
— Eu preciso de você, — eu engasguei contra sua boca.
Romero acariciou a palma da mão para baixo em meu lado,
então a colocou entre as minhas pernas e empurrou um dedo
sob o tecido da minha calcinha. Ele me encontrou molhada e
dolorida. Estremeci ao sentir seu toque.
— Porra. Você está tão molhada, Lily. — ele empurrou
um dedo em mim e eu arqueei para fora da parede com um
suspiro. Só ele tinha esse efeito em mim.
Ele tirou o dedo de novo e abriu o zíper. Meu núcleo
apertou com antecipação e necessidade. Eu ouvi o rip de um
pacote de preservativos e, em seguida, sua ponta pressionada
contra a minha abertura e ele começou a deslizar para dentro
de mim. Minhas paredes cederam até que ele se colocou
completamente em mim. Nós olhamos nos olhos um do outro.
Isso parecia tão certo. Por que tinha que parecer tão certo?
— Você me faz me sentir bem pra caralho, Lily. E porra,
Deus, você é tão apertada.
Nossos lábios se encontraram novamente. Tinha sido
tanto tempo. Romero empurrou em mim, me prendendo mais
para cima contra a parede. Eu gemi quando ele atingiu um
ponto dentro de mim. — Temos que ficar quietos, — ele
murmurou em voz baixa, depois a sua boca engoliu meu
próximo som. Eu passei meus braços ainda mais apertados em
volta do seu pescoço. Parecia que éramos um, inseparáveis.
Enfiei os saltos em sua bunda, o fazendo ir mais fundo
em mim. Tremor passou por mim e eu gozei, ofegante.
Romero continuou batendo em mim até que seu próprio
orgasmo o atingiu. Nós agarramos um ao outro, ainda unidos.
Eu beijei o lado de seu pescoço. Seu aroma familiar inundando
o meu nariz e eu fechei os olhos. Eu queria ficar assim para
sempre.
O som distante de riso me arrastou de volta ao reino da
realidade. Romero saiu de mim. Eu afrouxei o meu poder
sobre ele e deixei as minhas pernas deslizarem para baixo até
que os meus pés tocaram o chão. Eu não podia sequer olhar
para ele enquanto eu endireitava minha saia. Romero jogou o
preservativo em um lixo nas proximidades antes de se voltar
para mim. Nenhum de nós disse nada. Do canto do meu olho,
eu o vi chegar a minha bochecha. Eu recuei. Me preparando,
eu levantei o meu olhar. — Isso foi um erro, — eu sussurrei.
Choque atravessou o rosto de Romero, em seguida, se
tornou sem emoção. — Um erro.
— Eu vou me casar com Benito em breve. Nós não
podemos fazer isso de novo.
Romero deu um aceno conciso, então ele virou as costas
e foi embora. Eu tive que resistir à tentação de correr atrás
dele. Esperei mais alguns minutos antes de eu fosse em
direção ao banheiro. Eu precisava me limpar antes de voltar
para a festa ou as pessoas iriam perceber que algo tinha
acontecido. Para o meu alívio, não havia ninguém no banheiro
quando eu entrei. Eu chequei o meu reflexo. Meu cabelo
estava em todo o lugar e minha maquiagem precisava retocar.
O suor escorria pelas minhas costas. Mas pior do que isso era
o formigamento revelador em meus olhos. Eu não podia
chorar agora. Isso iria estragar tudo. Tomei algumas
respirações profundas através do meu nariz antes de começar a
refazer minha maquiagem. Quando saí do banheiro vinte
minutos mais tarde, eu parecia como se nada tivesse
acontecido, mas minhas entranhas estavam se torcendo. Eu
pensei que eu tinha feito às pazes com o meu casamento com
Benito, esperava que os meus sentimentos por Romero
tivessem diminuído, mas agora eu percebi que isso estava
longe de ser verdade.
No momento em que eu pisei na pista de dança, Luca
estava lá e me pediu para dançar. Eu sabia que ele queria mais
do que isso. Ele nos guiou em direção a uma parte da pista de
dança, onde não havia muitos bailarinos, antes dele começar a
falar em voz baixa. — Você ainda está de acordo com esse
casamento? Você e Romero sumiram por um tempo.
— Sim. Eu vou casar com Benito, não se preocupe, —
eu disse, cansada. Eu não podia nem culpar Luca por ser tão
insensível. Ele me convidou para sua casa e cuidou de mim, e
eu o paguei de volta fazendo um de seus soldados quebrar o
seu juramento.
— Você não tem que ficar casada com ele para sempre,
— disse Luca casualmente.
— Meu pai nunca iria concordar com um divórcio. —
Pai me mataria antes que isso acontecesse.
— Há outras maneiras de sair de um casamento do que o
divórcio. Às vezes as pessoas morrem.
— Ele não é tão velho.
Luca levantou uma sobrancelha. — Às vezes as pessoas
morrem de qualquer jeito.
Ele estava realmente sugerindo que eu deveria matar
Benito? —Porque ele não pode morrer antes do meu
casamento?
— Isso ia ser estranho. Aguarde alguns meses. O tempo
vai passar rapidamente, confie em mim.
Eu queria acreditar nele, mas meses partilhando a cama
com Benito, tê-lo dentro de mim como Romero tinha acabado
de estar, parecia o inferno.
— Romero não vai me querer mais, então.
Luca permaneceu em silêncio. Ele sabia que era verdade.
Por que Romero ainda iria me querer depois de eu ter passado
meses dormindo com outro cara? Eu já estava revoltada com a
ideia, quão pior seria para ele? — Há bons homens na Outfit
também. Você vai encontrar uma nova felicidade. Você está
fazendo a coisa certa ao se casar com Benito. Você está
evitando a guerra e você está protegendo Romero de si
mesmo. Isso é uma coisa corajosa a se fazer.
Eu balancei a cabeça, mas eu queria chorar. Luca e eu
voltamos para a nossa mesa. Aria tentou falar comigo de novo,
mas ela desistiu quando eu mal disse uma palavra. Eu
precisava sobreviver a esse dia de alguma forma e, em
seguida, ao meu casamento e nos meses depois, então talvez
eu teria outra chance de felicidade. Eu procurei no salão até
que os meus olhos pousaram em Romero. Ele claramente não
estava olhando para mim. Eu o amava, amava tanto que doía.
Eu sabia que não haveria felicidade para mim sem ele.

*****

Aria e Gianna me ajudaram com o meu vestido. Era


branco, claro, com um véu que se arrastava atrás de mim. Eu
usei o meu cabelo solto porque era o que Benito queria.
— Você está linda, — disse Aria atrás de mim.
Eu chequei o meu reflexo, mas eu só podia ver o olhar
de desespero nos meus olhos. Eu precisava do véu para me
esconder do mundo. Gianna e Aria não sabiam sobre a minha
última conversa com o Pai e foi melhor assim. Se elas
soubessem o quanto ele tinha me assustado, elas me levariam
embora, apesar do risco para suas próprias vidas.
— Está é uma porcaria, — Gianna murmurou. Ela tocou
meu ombro. — Lily, vá embora daqui. Vamos te ajudar. Qual é
a utilidade de ser casada com o Capo e o Consigliere da
Família, se não podemos forçá-los a iniciar uma guerra pela
nossa irmãzinha? Você vai ser infeliz.
— Luca disse que eu poderia me livrar de Benito em
poucos meses, quando não for parecer desconfiado mais.
Gianna bufou. — Ah, claro, e como será até então? Meu
Deus, Luca poderia ser mais idiota?
Aria não disse nada, o que era um sinal. Ela geralmente
sempre tentava defender Luca.
— Você e Luca ainda estão brigando por isso? —
perguntei.
Ela encolheu os ombros. — Eu não chamaria isso de
briga. Nós estamos, basicamente, ignorando um ao outro. Ele
está com raiva de mim por manter você e Romero um segredo
dele e eu estou brava com ele por fazer você se casar com
Brasci.
— Ele não está me fazendo, Aria. Pai está. Luca está
atuando como um Capo deveria. Eu não sou a
responsabilidade dele, mas a Família é.
— Bom Deus, Romero realmente gosta de você. Por
favor, me diga que você realmente não acredita no que você
disse, — disse Gianna.
— Eu não vou deixar vocês todos em riscos tudo por
minha causa.
Gianna tocou a testa, exasperada. — Nós queremos
correr o risco por você. Mas você tem que nos deixar ajudar.
Mesmo que eu dissesse ‘sim’ agora, o que eles poderiam
fazer? Ambos Luca e Matteo não nos ajudariam e não quando
eles estavam cercados por soldados da Outfit. Isso seria o
suicídio. E Romero? Ele iria fazer isso sem hesitação e se
matar. As palavras do Pai piscaram na minha mente
novamente. Não, eu tinha que passar por isso. Essa era a única
opção.
Alguém bateu na porta e um momento depois, Maria
colocou a cabeça para dentro. Ela era uma das minhas damas
de honra, mesmo que ainda não estivéssemos falando muito.
— Você precisa sair agora.
Ela desapareceu antes que eu tivesse tempo de dizer
alguma coisa.
— Eu não posso acreditar que o Pai está casado com ela,
— disse Gianna. — Eu não gosto dela, mas eu ainda sinto
pena. Pai é um bastardo.
Eu mal a ouvi. Minha visão estava ficando cinza. O
medo encheu a minha corrente sanguínea, me fez querer fugir.
Mas eu segurei minha cabeça erguida e baixei o véu sobre o
meu rosto. — Devemos ir agora.
— Lily… — Aria começou, mas eu não dei a ela o
tempo para terminar o que ela queria dizer. Corri para a porta e
a abri, surpresa ao encontrar Pai bem na frente dela. Eu não
esperava que ele fosse esperar por mim aqui. Eu sabia que ele
ia me levar ao altar, mas os pais normalmente esperavam na
antessala. Talvez ele tivesse preocupado que eu fugiria no
último minuto.
— Aí está você. Se apresse. — disse ele. Ele lançou um
olhar duro em Gianna quando ela e Aria passaram por mim,
mas não disse nada. Ele estendeu o braço para mim. Uma
imagem dele com Maria surgiu na minha cabeça e eu queria
vomitar. Eu coloquei a minha mão em seu antebraço e deixei
que ele me levasse para a parte principal da igreja, apesar de
todas as fibras do meu ser querendo ficar longe dele. Dentro
da igreja a música já estava tocando. Antes de entrar, Pai se
inclinou para mim. — É melhor você convencer Benito que
você é virgem ou ele vai bater em você até a morte e se ele não
fizer, eu vou. — ele não esperou pela minha resposta. Nós
fomos através das portas duplas e cada par de olhos se
voltaram para nós.
Meus pés pareciam chumbos enquanto eu caminhava em
direção ao altar. Benito esperava por mim no fim, um sorriso
orgulhoso em seu rosto, como se ele pudesse, finalmente,
apresentar a sua presa para todos. Apesar do risco, os meus
olhos procuraram a multidão até que se estabeleceram em
Romero. Ele se encostou na parede do lado direito, uma
expressão indecifrável no rosto. Eu tentei pegar o seu olhar,
mesmo que isso tivesse feito esta caminhada ainda mais
difícil, mas Romero nem sequer olhou em minha direção. Ele
estava completamente focado em Aria, fazendo o papel como
seu guarda-costas.
Voltei a minha atenção para frente, esperando que
ninguém houvesse percebido o desvio que o meu olhar tinha
tomado.
No local onde a minha mãe deveria estar, estava Maria,
ombros curvados, pele pálida, olhos tristes; talvez ela pensasse
que ninguém estava olhando, porque esta era a primeira vez
que ela não tinha colocado uma cara brava. Esta era uma
amostra de como eu seria em breve. Olhei para o pai. Ele, por
outro lado, parecia rejuvenescido, como se o casamento com
uma mulher de um pouco mais de vinte anos de idade o fez
retroceder uns anos. Será que ele não amou a minha mãe afinal
de contas? Ela deveria estar ao seu lado para o meu
casamento. Meus olhos procuraram Romero novamente. Eu
não conseguia parar. E Romero deveria ter sido o único
esperando por mim no altar. Chegamos ao final do corredor e
Pai me entregou a Benito. Os dedos do homem velho se
enroscaram em volta de mim, suados e muito firmes. Pai
levantou o meu véu e por um momento eu estava preocupada
que o meu desgosto e tristeza estivessem claros como o dia,
mas a partir do olhar no rosto de Benito, ele não parecia notar
ou se importar. Eu não ouvi o Padre quando ele começou seu
sermão. Levou tudo que eu tinha para me impedir de espiar
por cima do meu ombro, em busca de Romero mais uma vez.
Enquanto o Padre e os convidados esperavam pelo o
meu ‘sim’’, pensei em dizer ‘não’ por um breve momento.
Essa era a minha última chance, a última saída antes que eu
tivesse presa na estrada da infelicidade, ou pelo menos até que
eu descobrisse uma maneira de me livrar do meu marido. Eu
era capaz de algo assim? Eu não poderia nem mesmo esmagar
uma mosca quando ela me incomodava.
Apenas diga ‘não’. Eu me perguntava como as pessoas
reagiriam se eu se recusasse a me casar com Benito?
Benito ficaria furioso, assim como Pai. Mas minhas
irmãs e Romero, eles entenderiam, provavelmente lutariam
com todos os outros para me proteger. Benito limpou a
garganta ao meu lado e eu percebi quanto tempo eu tinha
estado sem dizer nada. Eu rapidamente disse o que todos
esperavam, mesmo quando as palavras pareciam como ácido.
— Sim.
— Você pode beijar a noiva.
Benito agarrou minha cintura. Eu endureci, mas eu não
afastei. Seus lábios ásperos pressionaram contra os meus. Eu
poderia sentir o gosto de charutos. Eu puxei a minha cabeça e
me virei para os nossos convidados com um sorriso forçado.
Benito me lançou um olhar de desaprovação, mas eu ignorei.
Se ele soubesse quanta forma tinha me tomado para não
empurrá-lo, ele não estaria com raiva de mim por acabar com
nosso beijo um pouco cedo demais.
Tomando minha mão, ele me guiou até o altar. Meus
olhos dispararam na direção de Romero, mas ele se foi. Eu
procurei na igreja inteira mas não o encontrei. Ele
provavelmente me odiava agora que ele tinha visto Benito me
beijar e não queria ter nada comigo. Quando eu iria vê-lo
novamente?

*****

ROMERO
Eu nunca deveria ter vindo para Chicago. Assistir Lily
caminhar pelo corredor em direção a Benito me fez sentir
como se alguém estivesse esmagando o meu coração sob uma
bota. Eu não queria nada mais do que enfiar minha faca no
olho de Benito muito lentamente, ver a luz deixá-lo, ouvir sua
última respiração ofegante. Eu queria esfolá-lo vivo, queria
dar a ele mais dor do que qualquer homem já tinha sofrido.
Forcei os meus olhos longe de Lily e foquei em Aria
como eu deveria fazer. Ela olhou para mim e me deu um
sorriso compreensivo. Eu não reagi. Eu desliguei as minhas
emoções como eu tinha aprendido a fazer nos primeiros anos
após a minha iniciação ao ver pessoas mortas ou torturadas
quando me incomodavam.
— Você pode beijar a noiva.
Meus olhos dispararam em direção à frente da igreja
onde Benito fodido Brasci tinha posto as mãos na cintura de
Lily e estava praticamente a arrastando para o seu corpo. Eu vi
vermelho. Eu queria matá-lo. Eu empurrei para longe da
parede, me virei e caminhei para fora da igreja. Eu não corri
como eu queria. Eu me movi lentamente, como se nada
estivesse errado. Porra, o que era uma fodida mentira. Tudo
estava errado. A mulher que era suposta ser minha tinha se
casado com um bastardo velho.
Fui direto para o nosso carro alugado. Eu ia esperar lá
até que fosse hora de dirigir para a mansão de Brasci para a
festa.

*****

Luca quase não deixou a porra do meu lado na festa de


casamento. Ele provavelmente estava preocupado que eu ia
perder a minha cabeça na frente de todos. Ele não estava
errado. Toda vez que eu olhava para Lily e Benito, algo
estalava no meu cérebro. Eu não conseguia parar de me
imaginar puxando a minha arma e colocando uma bala na
cabeça de Benito, e, em seguida, uma na cabeça de Scuderi. Se
eu tivesse sorte, eles não iriam me deixar fazer isso rápido o
suficiente.
Aria veio em minha direção depois do jantar. Eu não
tinha certeza se eu poderia conversar com ela, mas eu não ia
mandá-la embora. Ela só estava tentando ser gentil. — Você
não tem que ficar, você sabe? Luca está aqui para a minha
proteção. Isso deve ser difícil para você. Por que você não vai
em frente e encontra um hotel? Tenho certeza que você não
quer passar a noite sob o mesmo teto que Benito.
Hoje à noite. Até agora eu não consegui pensar sobre a
noite de núpcias. — Não. Estou bem. Posso lidar com isso.
Aria hesitou como se quisesse dizer mais, mas, em
seguida, ela voltou para Luca.
Quando a festa chegou ao fim, eu podia me sentir cada
vez mais agitado. E então o que eu estava temendo aconteceu.
Benito e Lily se levantaram de suas cadeiras em direção ao
quarto principal para sua primeira noite juntos. Uma multidão
os seguiu, aplaudindo e fazendo sugestões sobre o que deveria
acontecer hoje à noite. Meu pulso acelerou e os meus dedos
desejavam chegar abaixo de meu colete.
Eu parei atrás deles, embora eu soubesse que era a
última coisa que eu deveria fazer. Eu sempre me orgulhei do
meu controle, mas eu podia senti-lo escorrendo pelos meus
dedos.
Eu sabia que eu tinha dito a Lily que eu iria aceitar seu
casamento. Ela me disse que não me queria. Como um soldado
da Família de New York, era meu dever colocá-los em
primeiro lugar. Querer Lily poderia significar guerra. Não, isso
levaria a porra de uma guerra. Dante Cavallaro era um homem
frio, mas seus soldados estavam esperando por uma chance de
pular em nós novamente. Eu tinha visto isso em muitos dos
seus olhos hoje. As coisas entre nós tinham ido mal nos
últimos anos. A fase de lua de mel de nossa união tinha
diminuído rapidamente depois do casamento de Luca e Aria, e
agora esse era um casamento de conveniência, um casamento
que tanto a Família e a Outfit queriam sair. A menor infração
seria suficiente para explodir tudo.
Sem perceber, eu segui os outros hóspedes no lobby.
Avistei os cachos loiros escuros de Lily no topo da escada, ao
lado da cabeça calva de Benito e uma multidão de outros
homens ao redor deles. E então meus pés começaram a se
mover, minha mão indo para a minha arma, minhas têmporas
latejando com raiva. Eu tive que empurrar através da multidão
e ignorei os resmungos de protesto. Eu não podia deixar
aquele filho da puta Benito tê-la. Lily era minha e sempre seria
minha. Se isso significava uma fodida guerra, então que assim
seja. Eu gastaria até o fim dos meus dias caçando russos e
bastardos da Taiwan e Outfit se isso significava que eu poderia
ficar com ela.
Eu acelerei e, em seguida, Luca estava de repente na
minha frente. Eu parei, respirando com dificuldade. Eu tinha
em minha mente dado um soco nele, mas eu lutei contra a
vontade. Se eu fizesse uma cena cercado por tantas pessoas, eu
poderia estragar tudo. Luca me agarrou pelo ombro e me guiou
em um corredor vazio. Ele me empurrou contra a parede,
então ele me soltou.
— Maldição! — ele rosnou e agarrou o meu ombro
novamente. —Ela não é sua. Ela é uma mulher casada agora.
— Ela nunca quis nada disso, — eu disse asperamente e
afastei a mão de Luca. — Deveria ter sido eu ao lado dela no
altar.
— Mas não foi. É tarde demais, Romero. Aqui é
Chicago. Não vamos começar uma maldita guerra porque você
não pode se manter em suas calças.
Eu consegui focar em seu rosto. — Isso é muito mais e
você sabe disso.
— Eu não me importo, Romero. Você assistiu Liliana
andar pelo corredor e agora você tem que aceitar as
consequências. Ela fez o seu dever e assim você faz o seu. Vá
para o seu quarto e durma um pouco. Não faça nada estúpido.
Luca era Capo. Era seu trabalho querer o melhor para a
Família, mas naquele momento eu queria matá-lo. Eu nunca
quis matar o meu Capo. — Sim, chefe.
Luca agarrou meu braço. — É sério. Isso é uma ordem
direta. Eu não vou ter uma guerra por causa disso. Eu avisei
como isso iria terminar um longo tempo atrás, mas você não
ouviu.
— Eu não vou fazer nada, — eu disse. Mesmo que eu
não tivesse a certeza se era a verdade, ou se eu estava
mentindo. Eu não estava convencido ainda.
Capítulo Dezesseis
LILIANA
Quando as pessoas começaram a gritar para Benito e eu
nos retirarmos para o quarto, senti o sangue fugir do meu
rosto. Benito não perdeu tempo, entretanto. Ele pegou a minha
mão e me puxou para os meus pés, em seguida, antes que eu
percebesse, estávamos indo em direção ao nosso quarto.
Sua palma estava presa ao material fino do meu vestido
de noiva. Estava suado e pesado e muito quente. Lentamente,
ele viajou mais baixo até que ele descansou na minha bunda.
Eu suprimi um estremecimento. Eu queria empurrar a mão
dele, afastá-lo, mas ele era meu marido e logo ele me tocaria lá
sem a proteção do vestido. Ele iria me tocar em todos os
lugares, iria ver cada polegada de pele que era suposto ser
apenas de Romero.
O enjoou tomou conta de mim e eu quase vomitei. Uma
enorme força de vontade manteve o meu jantar de casamento
no meu estômago. Olhei por cima do meu ombro, mesmo que
eu tivesse me prometido que eu não iria fazer isso. Meus olhos
procuraram na multidão por Romero, mas ele não estava lá.
Parte de mim estava feliz que ele não teve que testemunhar
Benito me levando, mas a outra parte ficou desapontada. Essa
parte boba esperava que ele de alguma forma fosse parar com
isso. Claro que isso teria o matado. Eles teriam atirado nele no
local e, em seguida, a guerra teria estourado. Muitas pessoas
teriam morrido, talvez até Fabi, Aria e Gianna. Ainda bem que
ele manteve seu juramento, não interferindo e me deixado
fazer o que era esperado de mim.
Eu virei e percebi que já tínhamos chegado à frente do
nosso quarto para a noite. Benito abriu a porta e me empurrou
para a metade do quarto. Eu congelei, ouvindo o som da porta
se fechando e os passos de Benito. — Você é uma verdadeira
beleza, — disse ele, sua voz já grossa de desejo. — Eu queria
ficar sozinho com você a noite toda. Se isso não tivesse
parecido rude, eu teria levado você para o nosso quarto horas
atrás.
Bile entupiu a minha garganta. Eu não ousei um
movimento com medo de vomitar nos meus sapatos. Ele
agarrou meus braços e me virei para ele, em seguida, antes que
eu pudesse me recompor, a sua boca pressionou contra a
minha. Engoli em seco e ele usou a oportunidade para
empurrar a sua língua pelos os meus lábios. Ele tinha gosto de
charutos que ele tinha fumado com os outros homens e isso me
fez sentir ainda mais doente. Sua língua estava em toda parte.
Ele não me deu a chance de fazer qualquer coisa. Deus, isso
era horrível. Minhas mãos agarraram os seus ombros, dedos
cavando em seu terno e eu empurrei tão duro quanto eu podia,
mas seus braços em volta da minha cintura me puxaram ainda
mais apertado, não me dando nenhuma chance de escapar. Sua
respiração era rápida e animada. Ele estava tão ansioso.
Eu não queria isso. Eu fechei os olhos, lutando contra as
lágrimas e tentando desesperadamente imaginar que era
Romero me beijando, mas tudo sobre isso parecia errado. As
mãos desajeitadas sobre a minha cintura, o gosto dele, o jeito
que ele movia a sua língua como uma lesma morta.
Me afastando dele, eu soltei algumas respirações
desesperadas. Seu gosto permaneceu em minha língua. Eu
queria lavar a boca para me livrar dele.
Benito deu um passo em minha frente novamente e se
aproximou. — Não se preocupe, querida. Eu vou cuidar bem
de você. Eu vou fazer de você uma mulher. Você nunca vai
esquecer esta noite.
Eu sabia que eu nunca iria esquecer. Eu provavelmente
teria pesadelos com ele para o resto da minha vida. As últimas
palavras da minha mãe e o seu olhar se encheram em minha
mente. Como eu poderia ter o deixado vir até aqui?
— Não, eu não posso. — eu dei um passo para trás. Eu
precisava ir embora, sair deste quarto, precisava encontrar
Romero e dizer a ele que eu não poderia sobreviver a este
casamento, que eu queria só ele, que ele sempre foi o que eu
queria e iria fazer isso até o dia em que eu morresse. Eu estava
sendo egoísta, eu sabia. Mas eu não me importava mais em
causar uma guerra se a alternativa significava ter que passar a
minha vida sendo tocada por Benito. Talvez Luca pudesse
lidar com a situação. Ele era um bom Capo. Ele poderia
impedir a guerra. Certo?
A expressão de Benito apertou, de sorriso doce
açucarado sendo substituído por algo mais desconfiado e com
fome.
O medo era como um peso no estômago. Ele agarrou
meus braços com muita força, me fazendo estremecer. — Você
é minha mulher e você vai fazer o que é esperado de você.
— Não, por favor. Eu não estou preparada. Preciso de
mais tempo. — era hora de descobrir uma maneira de sair
dessa sem sermos todos mortos. Tinha que haver uma maneira
que ninguém se machucasse.
Benito riu. — Oh, não tente essa merda comigo,
docinho. Eu tenho me masturbado com a imagem de sua
bunda perfeita por semanas. Hoje à noite eu quero enterrar o
meu pau nela. Nada neste mundo vai me parar, nem mesmo os
seus olhos de cachorrinho.
Eu abri minha boca para outra tentativa de mendicância,
mas Benito me empurrou para trás. Gritei de surpresa.
Meu calcanhar pegou na bainha do meu vestido de noiva
e, em seguida, eu estava caindo. Eu me preparei para o
impacto, em vez disso, eu aterrissei em algo macio e saltitante:
a cama. Como eu poderia ter estado tão perto disso?
Tentei embaralhar imediatamente, mas não tive a
chance. Benito se inclinou sobre mim, seus joelhos entre as
minhas pernas, prendendo o meu vestido debaixo dele. Eu
estava presa. Lutei, mas minhas pernas estavam amarradas
pelo tecido. E eu entrei em pânico. Em pânico, como eu nunca
tinha tido antes, nem mesmo quando eu vi a cena de tortura no
porão.
Benito baixou o rosto para o meu e, em seguida, ele me
beijou novamente. Virei a cabeça para o lado fazendo com que
ele babasse por todo o meu rosto. Seus dedos agarraram o meu
queixo, me obrigando a encará-lo. Sua respiração de charuto
tomou conta de mim e seus lábios estavam muito perto. Seus
olhos se estreitaram. — Ouça, querida. Podemos fazer isso do
jeito fácil ou da maneira mais difícil. Para o seu bem, espero
que trabalhe comigo. Eu não dou a mínima de qualquer forma.
Eu gosto de uma vida difícil.
Ele quis dizer isso. Ele me forçaria se eu me continuasse
lutando, eu podia ver isso em seus olhos. Eu não podia esperar
qualquer bondade do meu marido essa noite. Lágrimas e
súplicas não mudariam a sua mente.
Eu quis relaxar embaixo dele. Ele sorriu de uma forma
condescendente e tocou o seu corpo, finalmente, deixando o
meu vestido livre. Ele se apertou contra mim, a boca molhada
na minha garganta. Ele lambeu seu caminho até a minha
clavícula. Eu tentei imaginar que era Romero e quando isso
não funcionou, tentei parar de pensar nele completamente.
Tentei ficar vazia e entorpecida, tentei lançar a minha mente
para outro lugar e tempo, longe do meu marido que teria sua
noite comigo, não importava o que eu queria. Benito empurrou
a minha saia para cima e enfiou a mão até as minhas pernas.
Ele resmungou com apreço e pressionou o seu corpo ainda
mais contra o meu. Eu podia sentir quanto isso o excitava.
Sempre que eu sentia a ereção de Romero, eu ficava excitada,
mas isto? Oh, Deus. Eu não poderia fazer isso. Mas ele era
meu marido e eu era sua esposa. Eu tinha escolhido esta forma
de proteger todos que queriam me ajudar. Esse era meu dever,
não só para ele, mas para a minha família, para a Outfit. Era o
destino de muitas mulheres. Elas tinham sobrevivido e assim
eu poderia.
Eu odiava os sons que o meu marido fazia, o cheiro que
não era de Romero, a maneira como seus dedos desajeitados
puxavam o meu vestido. Ele era meu marido. Sua mão viajou
até o meu joelho.
Meu marido.
Em seguida, até a minha coxa.
Meu marido. Meu marido. Meu marido.
Sua mão atingiu a borda da minha calcinha e eu não
aguentava mais. Eu coloquei as minhas palmas das mãos
contra seu peito e o empurrei de cima de mim. Eu não tinha
certeza de onde tirei a força. Benito tinha pelo menos quarenta
quilos a mais que eu, mas ele perdeu o equilíbrio e caiu para o
lado dele. Saltei da cama, mas o meu vestido estava me
atrasando. Eu cambaleei em direção à porta, os braços
estendidos. Meus dedos estavam a meras polegadas da
maçaneta quando Benito me alcançou. Seus dedos
machucando o meu antebraço com suas garras e ele me jogou
de volta para o centro do quarto. Eu não poderia me firmar
rápido o suficiente e caí para frente, meu quadril colidiu com a
mesa no canto. Eu gritei de dor. As lágrimas ardiam nos meus
olhos.
Benito pressionou por trás de mim enquanto eu estava
inclinada para frente e sua ereção cavou na minha bunda. —
Hoje à noite, boneca, você é minha.
E lá estava ela, bem na minha frente. Eu mal percebi as
mãos de Benito apertando meus seios através do tecido. Meus
olhos estavam fixos no reluzente abridor de cartas prata.
Benito apertou novamente, mais forte, provavelmente irritado
por causa da minha falta de reação. Segurei o abridor de
cartas. Ele parecia se encaixar na minha mão, frio e duro. Meu
marido rasgou a borda do meu espartilho. Apertei o meu
domínio sobre o abridor e piquei meu braço para trás tão duro
quanto eu podia. Benito tropeçou com um suspiro borbulhante,
me dando livre acesso. Eu me virei. O abridor de cartas preso
em seu lado direito. Encharcando a sua camisa branca de
sangue. Devo ter o acertado realmente, talvez até mesmo o
ferido seriamente. Eu nunca tinha feito algo parecido.
Meus lábios estavam entreabertos em estado de choque.
Eu realmente mergulhei uma faca no estômago do meu
marido. Seus olhos arregalados olharam. — Você, sua cadela,
eu… — ele suspirou e caiu de joelhos. Seus olhos de besouro
feio aumentaram ainda mais quando ele guinchou de dor.
Eu tropecei para longe dele. E se ele pedisse ajuda? E se
alguém visse o que eu tinha feito? Eu tinha esfaqueado o meu
próprio marido. Eles iriam me matar por isso e mesmo que não
o fizessem, Benito certamente iria me bater até a morte se ele
sobrevivesse ao ferimento.
Havia apenas uma coisa que eu poderia fazer, apenas
uma pessoa que poderia me ajudar e eu não tinha certeza se ele
ainda faria depois de tudo o que eu fiz. Depois do que eu disse
e que ele tinha testemunhado hoje. Talvez ele não estivesse em
Chicago mais. Talvez ele já tivesse tomado o próximo voo de
volta para Nova York para ficar o mais longe possível de mim.
Corri para a minha bolsa, abri e me atrapalhei com o
meu telefone. Com os dedos trêmulos, eu digitei o número que
eu sabia de cor. Benito ainda parecia atordoado, mas ele tinha
conseguido ficar nos cotovelos. Ele estava ofegante,
obviamente tentando encontrar sua voz para gritar por ajuda. E
se ele viesse em minha direção? Eu poderia terminar o que
tinha começado?
Uma nova onda de pânico me bateu duro.
Após o primeiro toque, a voz familiar de Romero tocou.
— Lily?
Eu nunca me senti mais aliviada em minha vida. Ele não
tinha ignorado a minha chamada. Talvez, apenas talvez, ele
não me odiasse.
— Por favor, me ajude, — eu sussurrei, a voz rouca de
lágrimas. Elas estavam escorrendo pelo meu rosto. E não era
porque eu tinha acabado de esfaquear alguém com um abridor
de carta, eu não sentia remorso por isso.
— Estou indo. Onde está você?
— Quarto.
— Não desligue, — ele ordenou. Eu não desligaria. Eu
podia ouvi-lo em movimento, podia ouvir a sua respiração
calma e isso me acalmou. Romero estaria aqui em breve e
então tudo estaria bem.
Depois de tudo o que tinha acontecido, ele ainda corria
para me ajudar.
Menos de dois minutos depois houve uma batida. Ele
deve ter estado perto ou teria levado muito mais tempo para
chegar ao quarto. Por um par de segundos, eu não tinha certeza
se eu poderia até mesmo me mover. Minhas pernas estavam
dormentes.
— Lily, você tem que abrir a porta. Está trancada. Se eu
quebrá-la, as pessoas vão vir para cá.
Isso foi tudo o que eu fiz. Eu cruzei o quarto em poucos
passos e abri a porta. Meu coração estava batendo na minha
garganta e só quando eu vi o rosto preocupado de Romero que
me atrevi a abaixar o telefone do ouvido e desligar. Eu me
sentia segura agora, embora eu soubesse que estava longe
disso. Nós estávamos em grave perigo se alguém nos
encontrasse assim. Ao ligar para Romero, eu o coloquei em
perigo. Como eu poderia fazer isso com alguém que eu
amava? Eu não tinha concordado com este casamento
exatamente para proteger Romero?
Os olhos de Romero vagaram por cima do meu
espartilho semiaberto, meu cabelo desgrenhado e saia rasgada
e seu rosto brilhou com fúria. Ele entrou no quarto, fechou a
porta e segurou meu rosto. — Você está bem? Ele machucou
você?
Eu balancei minha cabeça, que eu percebi em um
momento posterior que poderia ser tomado como uma resposta
a qualquer pergunta. — Eu o esfaqueei. Eu não podia suportar
seu toque. Eu não queria as mãos dele sobre mim. Eu… —
Romero me puxou contra ele, meu rosto pressionado contra o
seu peito forte. Eu escutei o som do seu coração batendo. Por
fora ele parecia calmo, mas seu coração o traiu. —Eu não
dormi com ele. Eu não poderia.
— Ele ainda está vivo, — ele murmurou depois de um
momento, antes que ele se afastasse. Privada de seu calor, eu
passei os meus braços em volta de mim. Romero avançou para
o meu marido, cujos olhos estavam entre Romero e eu como
se estivesse assistindo a uma partida de tênis. Sua respiração
era rasa, mas ele se arrastou mais perto da mesa e estava
chegando para o seu telefone. Romero estava sobre ele, então
calmamente empurrou o seu braço de volta para o chão.
Benito caiu para o lado com um suspiro de dor. Ele me
lembrou de um besouro que estava preso às costas, as pernas
impotentes acima de seu corpo. Eu não sentia nenhuma pena.
— Você, — Benito rosnou, em seguida, começou a
tossir. Sangue salpicando seus lábios. — Será que o seu Capo
sabe sobre isso? Chicago vai fazê-lo pagar dez vezes. Dante
não vai deixar você me fazer de tolo e a todos os outros.
— Vocês não são importantes o suficiente para Luca dar
a mínima sobre vocês, — Romero disse friamente. Ele tinha a
mesma expressão que eu tinha visto quando ele assistiu os
russos sendo torturados no porão.
Eu tremi.
Realização apareceu no rosto de Benito enquanto os seus
olhos giraram de Romero para mim. — Você e ela. — sua
boca puxou em uma careta desagradável, saliva agarrado aos
lábios. — Sua puta desgraçada, você deixou ele te foder.
Vocês…
Ele nunca teve a chance de terminar a frase. Romero se
aproximou de Benito, o empurrou pela gola e, em seguida, em
um movimento praticado, ele puxou a faca e mergulhou em
um ângulo ascendente entre as costelas do meu marido,
silenciando a respiração dele. Sem sequer pestanejar, Romero
soltou Benito, que caiu para o lado dele, sem vida.
Capítulo Dezessete
LILIANA
Romero tinha acabado de matar um membro da Outfit
por mim. Nossos olhos se encontraram e medo frio se
espalhou pelo meu peito como um nevoeiro. Romero limpou a
faca na perna da calça do meu marido antes de embainhá-la
em seu suporte.
Minha garganta se contraiu enquanto eu caminhava em
direção a ele. — Isso significa guerra.
— Podemos inventar uma história. Vou fingir que perdi
a cabeça. Que eu estive desejando você desde sempre, mas
você nunca esteve interessada em mim, e hoje eu surtei, invadi
o seu quarto e ataquei o seu marido, que tentou se defender
com o abridor de cartas, que eu então usei para esfaqueá-lo.
Nós podemos fazer parecer que eu tentei te estuprar, assim
ninguém suspeitaria que você está envolvida. Ninguém
duvidaria, do jeito que você está. — ele acariciou minha
bochecha. — O desgraçado morreu depressa demais pela
forma como ele tratou você.
Eu não podia acreditar que ele estava sugerindo algo
parecido. Já era ruim o suficiente que eu o tivesse arrastado
para tudo isso. Eu não iria fazer ele parecer um estuprador
repugnante para salvar minha própria pele. — Eu não vou
fingir que você tentou me estuprar. Você é o único homem
com quem eu quero estar.
Romero fechou a distância entre nós e me envolveu em
um abraço apertado. Seu cheiro, seu calor, o modo como meu
corpo se encaixou perfeitamente contra o seu; isso parecia
certo. Meus olhos encontraram os de Benito no chão. Eu tentei
ser sua esposa e falhei, mas eu não conseguia estar triste com
esse fato. Eu nunca quis isso, e ele sabia disso desde o início.
Ele teria me estuprado, e talvez isso não merecesse uma
sentença de morte, mas ele vivia em um mundo onde a morte
era quase sempre a punição para os nossos pecados. Seus
olhos ainda estavam abertos e parecia que eles estavam
olhando diretamente para mim. Quanto mais eu olhava para
ele, pior sua aparência parecia ficar. Eu tremia violentamente.
Romero me empurrou suavemente. — Não olhe para ele,
— ele caminhou em direção ao corpo e virou Benito, então seu
rosto ficou virado para o chão, de costas para mim. E isso fez
eu me sentir melhor. Ele ainda estava morto, mas pelo menos
não estava mais me olhando com aquela expressão de
reprovação.
Eu tropecei em direção à cama e me afundei. Minhas
pernas estavam instáveis demais para aguentar meu peso.
Romero ficou parado por um momento, antes de se juntar a
mim. Ele passou o polegar sobre a minha bochecha, pegando
algumas lágrimas perdidas. Eu não tinha notado que tinha
começado a chorar de novo. — Ele está morto agora. Ele não
pode te machucar nunca mais, — disse ele asperamente. —
Ninguém nunca vai te machucar novamente. Eu não vou
permitir.
— Se você confessar o assassinato de Benito você vai
ser morto, e então não vai estar por perto para me proteger de
coisa alguma, — talvez tenha sido um golpe baixo jogar com a
sua culpa, mas eu não podia deixar que Romero assumisse
tudo sozinho.
O olhar de Romero pousou em Benito e na poça de
sangue se espalhando lentamente ao seu redor, transformando
o carpete bege em um mar de vermelho. — Não podemos
encobrir isso. Mesmo que a gente tire o corpo da casa sem que
ninguém perceba, nunca poderíamos limpar o sangue do
tapete. As pessoas iriam desconfiar de alguma coisa. Alguém
vai ter que assumir a culpa por isso.
Eu enterrei o rosto em minhas mãos, o desespero
arranhando as minhas entranhas. — Eu deveria ter deixado ele
me ter. Eu deveria ter suportado, como tantas outras mulheres
antes de mim. Mas eu tinha que agir como uma puta egoísta.
— Não, — disse Romero acentuadamente, colocando
um dedo embaixo do meu queixo e inclinando o meu rosto. —
Estou feliz que você o esfaqueou. Fico feliz que ele esteja
morto. Fico feliz que ele não tenha conseguido o que ele não
merecia. Você é muito boa e bonita para este bastardo.
Eu me inclinei e beijei Romero. Eu teria aprofundado o
beijo, apesar de tudo, eu teria me perdido em Romero como
sempre fiz, mas ele era mais razoável do que eu e se afastou.
— Eu tenho que chamar Luca. Como seu soldado eu preciso
confessar pelo menos a ele, e então cabe a ele decidir o que
acontece depois.
— E se ele decide matar você para manter a paz com
Chicago? — eu perguntei em voz baixa. — Você viu como ele
estava com raiva quando descobriu sobre nós. Mesmo Aria
não conseguiria convencê-lo a arriscar uma guerra por mim.
Por um longo tempo Romero apenas olhou para mim,
então ele pegou o telefone e o levou ao ouvido. — Então eu
vou aceitar o seu julgamento.
— Não, — eu disse de repente. Eu empurrei o seu
telefone. — Me deixe chamar Aria. Ela pode fazer Luca
pensar. Ele a ouve.
Romero deu um sorriso triste. — Isto é algo que nem
sequer Aria pode fazer algo. Luca é o Capo, e se ele precisa
tomar decisões que protejam a Família, não vai deixar que
Aria o influencie. Você mesmo disse. Ele se recusaria a ouvi-
la.
— Por favor.
— Eu preciso fazer isso. Eu não posso me esconder atrás
de você ou Aria como um covarde, — ele levantou o telefone
novamente e desta vez eu não o impedi. Ele estava certo. Luca
provavelmente ficaria chateado se eu tentasse usar Aria para
manipulá-lo.
Prendi a respiração enquanto esperava por Luca.
— Luca, eu preciso que você venha ao quarto de Benito,
— eu ouvi a voz de Luca alterada na outra extremidade, mas
não consegui entender o que ele disse. Não parecia nada
agradável. — Sim, eu estou aqui. Você deve se apressar.
— Droga! — Luca rosnou alto o suficiente para eu
ouvir, então ele desligou. Romero baixou o telefone
lentamente e o colocou de volta no bolso.
Peguei a mão dele, precisando me convencer de que ele
estava realmente lá.
Romero olhou para o corpo de Benito, mas não tentou
me dizer que as coisas ficariam bem. Eu fiquei feliz por ele
não tentar mentir para mim. Descansei minha bochecha contra
o seu ombro.
Houve uma batida suave. Eu me endireitei e apertei a
mão de Romero. Eu não queria deixá-lo ir. Uma vez que Luca
visse o que tinha acontecido, eu nunca mais teria a chance de
tocar a mão de Romero novamente, não enquanto ela ainda
estivesse quente. Estremeci quando me lembrei do corpo sem
vida da mãe. Eu não iria permitir que isso acontecesse com
Romero.
Romero beijou a minha testa, e então ele soltou a minha
mão e se levantou. Me levantei também, meus olhos correndo
para Benito. Raiva por ele brotou em mim. Se ele nunca
tivesse entrado na minha vida, então eu poderia ter sido feliz.
Mas o pai provavelmente teria encontrado outro marido
horrível para mim. O medo apertou minha garganta enquanto
eu observava Romero empurrar para baixo a alça e abrir a
porta. E se Luca realmente decidisse matar Romero como
punição?
Romero não abriu toda a porta, então Aria teve que
deslizar para dentro. Ela chupou uma respiração dura com a
visão de meu falecido marido, então correu para mim e
agarrou os meus ombros, mas meus olhos estavam congelados
em Luca, que tinha entrado atrás dela. Seu olhar pousou em
Benito, no abridor de cartas ainda preso na sua lateral e no
buraco na camisa onde a faca de Romero tinha estado. Romero
fechou a porta sem fazer barulho, mas não se afastou. Eu
queria que ele trouxesse alguma distância entre ele e Luca. Era
uma ideia ridícula. Não iria protegê-lo.
— Meu Deus, Lily, — Aria disse estridentemente. Eu
não conseguia me lembrar da última vez que eu a vi tão
assustada. Eu conhecia aquele olhar.
— O que aconteceu? Você está bem? — Aria perguntou.
Ela passou as mãos sobre os meus braços, os olhos demorando
em minha saia rasgada.
Eu não respondi. Luca tinha começado a se mover em
direção ao corpo e se ajoelhou ao lado dele, esquadrinhando a
cena sem dizer uma única palavra. Seu rosto era de pedra. Era
isso. De repente, eu tinha certeza de que Romero e eu não
iriamos encontrar a misericórdia de Luca hoje. Talvez Aria
conseguisse convencer Luca de me proteger, mas Romero não
teria a mesma sorte. Eu sabia que eu não seria capaz de vê-lo
morrer.
Luca ergueu a cabeça muito lentamente e me encarou
com um olhar que fez o meu sangue gelar. — O que aconteceu
aqui?
Olhei para Romero. Ele queria que eu dissesse a
verdade? Ou eu deveria mentir? Tinha que haver uma história
que não deixaria Luca irritado o suficiente para querer nos
matar.
Luca se levantou. — Eu quero a porra da verdade!
— Luca, — Aria repreendeu. — Lily está, obviamente,
em estado de choque. Dê a ela um momento.
— Não temos uma porra de um momento. Temos um
membro da Outfit morto em um quarto com a gente. As coisas
vão ficar feias muito em breve.
Aria apertou meu ombro levemente. — Lily, você está
bem?
— Eu estou bem, — eu disse. — Ele não teve tempo de
me machucar.
Ela apertou os lábios, mas não discutiu.
— Chega, — disse Luca duramente. Ele se virou para
Romero. —Eu quero respostas. Lembre-se do seu juramento.
Romero parecia um homem resignado à sua sorte. Ele
me assustava. — Eu sempre lembro.
Luca apontou um dedo para o corpo morto. — Isso aqui
não se parece com você se lembrando dele. Ou você está
dizendo que Liliana fez isso sozinha?
— Liliana é inocente, — Romero disse com firmeza. Ele
nunca me chamava de Liliana. O que ele estava tentando
fazer? — Benito ainda estava vivo quando eu cheguei. Ela o
tinha esfaqueado com o abridor de cartas, porque ele a atacou.
Foi legítima defesa da sua parte.
— Legítima defesa? — Luca murmurou. Seus olhos
cinzentos se fixaram em mim. — O que ele fez?
— Ele tentou forçá-la, — disse Romero por mim.
— Eu não perguntei a você! — Luca rosnou. Aria me
soltou, caminhou em direção a ele e colocou uma mão em seu
braço. Ele a ignorou completamente enquanto dizia, — E se
ele tentou consumar o casamento, ninguém na porra dessa casa
vai ver isso como legítima defesa. Benito tinha todo maldito
direito sobre o seu corpo. Ele era o seu marido, pelo amor de
Deus!
Romero deu um passo à frente, mas se conteve.
— Você não pode estar falando sério, — disse Aria, os
olhos implorando.
— Você conhece as regras, Aria. Estou indicando os
fatos, — Luca disse em uma voz muito mais calma.
Aria sempre teve esse efeito sobre ele. — Eu não me
importo. Um marido não tem o direito de estuprar a sua
esposa. Todos nesta casa deveriam concordar com isso!
Eu estremeci. Os acontecimentos desta noite começaram
a se abater sobre mim. Eu só queria deitar nos braços de
Romero e esquecer tudo. Ele se aproximou de mim e envolveu
um braço em volta do meu ombro.
Luca estreitou os olhos. — Eu disse que isso iria acabar
em desastre. Então me deixe adivinhar, Liliana esfaqueou o
marido, ligou para você, que terminou o trabalho do caralho
para tê-la para si mesmo.
— Sim, — disse Romero. — E, para protegê-la. Se ele
tivesse sobrevivido, teria culpado Liliana e ela teria sido
punida severamente pela Outfit.
Luca soltou uma risada sombria. — E agora ela não vai?
Eles vão levá-la a julgamento, e não irão somente puni-la
severamente. Eles também vão nos acusar de ajudar, e então
haverá um maldito banho de sangue fodido. Dante é um
homem frio, mas ele precisa mostrar sua força. Ele proclamará
guerra em algum momento. Tudo porque você não pôde
controlar o seu pau e o seu coração.
— Como se você pudesse fazer isso. Você iria derrubar
qualquer um que tentasse levar Aria para longe de você, —
disse Romero.
— Mas Aria é minha esposa. Isso é uma enorme
diferença.
— Se dependesse de mim, Lily seria minha esposa há
meses.
Olhei para ele com surpresa. Ele nunca tinha
mencionado casamento. Meu coração se encheu de felicidade,
apenas para se transformar em pedra à vista da expressão de
Luca. — Alguém vai pagar por isso, — disse ele
sombriamente. Ele fez uma pausa. — Como Capo da Família
de Nova York eu preciso colocar a culpa em Liliana e esperar
que Dante compre isso e não comece uma guerra.
Isso significaria a minha morte certa. Talvez Dante não
desse as ordens ele mesmo, mas ele teria de me submeter ao
julgamento do meu pai, e eu não esperava qualquer
misericórdia dele. Ele odiava Gianna pelo o que ela tinha feito,
e nem era tão horrível como o meu crime.
— Você não pode fazer isso, — sussurrou Aria. Seus
dedos estavam ficando brancos de seu aperto no antebraço
dele.
Romero me soltou e andou alguns passos em direção ao
centro do quarto, onde ele ficou de joelhos e estendeu os
braços. — Eu vou levar toda a culpa por isso. Diga a ele que
eu perdi a cabeça e corri atrás de Liliana porque estou de olho
nela há meses. Eu matei Benito quando ele tentou defender
Lily e a ele próprio, mas antes que eu pudesse estuprá-la, você
notou que eu tinha sumido e veio atrás de mim. Então não
haverá guerra entre a Outfit e Nova York, e Lily vai ter a
chance de uma nova vida.
— Se essa é a história que queremos que eles acreditem,
há algo faltando, — disse Luca.
Romero assentiu. Ele encontrou o olhar de Luca. — Eu
vou colocar minha vida por isso. Atire em mim.
Eu cambaleei para frente. — Não! — Aria também
gritou a mesma palavra.
Luca e Romero nos ignoraram, trancados em um olhar
silencioso, se encarando. Eu dei um passo entre eles. Eu não
me importava se isso ia contra alguma regra secreta da máfia.
Caminhei em direção a Luca. Do canto do meu olho eu vi
Romero se levantar. Parecia que ele estava preocupado comigo
chegando perto de Luca, mas eu não estava preocupada. Se
Luca matasse Romero por minha causa, isso seria o meu fim.
Eu nunca seria capaz de viver comigo mesma.
— Por favor, — eu sussurrei, olhando para o rosto
impassível de Luca. — Por favor, não o mate. Eu faço
qualquer coisa, apenas, por favor, não o mate. Eu não posso
viver sem ele, — as lágrimas começaram a escorrer pelo meu
rosto.
Romero colocou as mãos nos meus ombros e me puxou
de volta contra ele. — Lily, não. Eu sou um soldado da
Família. Quebrei o meu juramento de sempre colocar a
Família em primeiro lugar, e eu tenho que aceitar a devida
punição.
— Eu não me importo com os seus juramentos. Eu não
quero perder você, — eu disse quando me virei em seu aperto.
Aria colocou as palmas das mãos contra o peito de Luca.
— Por favor, Luca, não puna Romero por proteger alguém que
ama. Ele e Lily pertencem um ao outro. Eu peço a você, — ela
disse a última palavra em um sussurro mal audível. Eu queria
lhe dar um abraço, mas estava com medo de me mover. Ela e
Luca estavam olhando um para o outro e eu não queria quebrar
a sua compreensão silenciosa, especialmente se isso salvasse a
vida de Romero. Olhei para Romero. Ele parecia tão calmo,
nada como alguém cuja vida poderia acabar a qualquer
momento.
Luca finalmente tirou os olhos da minha irmã e, com
gentileza, tirou as mãos de seu peito. — Eu não posso basear
as minhas decisões em sentimentos. Eu sou um Capo e tenho
que tomar decisões que beneficiem a minha Família.
Romero balançou a cabeça, então ele passou por mim e
parou em frente a Luca. Comecei a tremer, completamente
apavorada. Percebi os olhos arregalados de Aria em mim.
— Você é meu melhor soldado. A Família precisa de
você, e eu não confio em ninguém com Aria como eu confio
em você, — disse Luca. Ele colocou a mão no ombro de
Romero. — Essa guerra tem sido inevitável faz tempo. Eu não
vou acabar com sua vida para adiá-la por alguns meses
fodidos. Nós vamos estar juntos.
Eu quase afundei com o alívio. Aria correu para mim e
me abraçou com força. Meu momento de euforia durou pouco,
no entanto.
— Claro, nós talvez não saiamos dessa casa vivos, —
acrescentou Luca. — Estamos cercados pelo inimigo agora.
— Os convidados estão bêbados ou dormindo.
Poderíamos tentar nos esgueirar para fora. Até que eles
percebam que Benito está faltando amanhã de manhã, vamos
estar de volta a Nova York, — disse Romero. Um lampejo de
alívio apareceu em seu rosto. Eu queria estar em seus braços,
mas ele e Luca precisavam lidar com o nosso dilema, um
dilema que eu tinha começado. E se nós realmente não
saíssemos vivos daqui? A Outfit nos tinha em desvantagem.
Este era o seu território e estávamos a milhares de quilômetros
de distância de reforço.
— Eu vou ter que chamar Matteo e Gianna. Eles
precisam vir aqui, para que possamos descobrir a melhor
maneira de sair desta casa, — disse Luca, já levantando a
telefone ao ouvido.
Romero andou até mim e alisou o vinco entre as minhas
sobrancelhas. Eu pressionei contra ele. Aria se dirigiu para
Luca, nos dando espaço.
— Eu estava com tanto medo, — eu sussurrei.
Romero enterrou seu rosto no meu cabelo. — Eu sei.
— Você não estava? Era a sua vida em jogo.
— Minha vida tem estado em jogo desde que eu me
tornei um Made Men. Eu cresci acostumado a isso. A única
coisa que me assustou hoje foi quando eu tive que assistir você
andar em direção a sua noite de núpcias com aquele babaca do
Benito. Eu queria matá-lo ali mesmo. Eu queria matá-lo todos
os dias desde que eu descobri que você seria forçada a casar
com ele. Eu estou contente que finalmente fiz isso.
— Eu também, — eu disse, e então me levantei na ponta
dos pés e beijei seus lábios.
— Caramba. Matteo não está atendendo ao maldito
telefone.
— Você acha que aconteceu algo com eles? —
perguntou Aria.
Romero soltou uma risadinha, e trocou um olhar com
Luca.
— A única coisa que aconteceu é que ele provavelmente
está fodendo os miolos da sua irmã agora e ignorando a porra
do telefone, — disse Luca.
Eu enruguei meu nariz. É claro que eu sabia que minhas
irmãs faziam sexo, eu só não queria ser lembrada disso, ou
pior: imaginar. —Nós não podemos ir até o quarto deles?
Luca balançou a cabeça. — É mais longe da porta de
trás, — ele disse enquanto ligava novamente. — Caramba!
— Devemos levar Benito até o banheiro e cobrir a
mancha de sangue no tapete com alguma coisa. Dessa forma,
se alguém entrar aqui amanhã de manhã, pode nos dar um
pouco mais de tempo.
Luca empurrou o seu telefone no bolso, e então agarrou
Benito pelos pés enquanto Romero tomou os braços.
Estremeci quando os assistir transportar o cadáver para o
banheiro. Meu marido era como um saco de farinha sendo
levado pelo porão.
— Você deve tirar seu vestido de noiva e vestir algo
mais apropriado, — Aria sugeriu suavemente. Ela tocou no
meu braço de leve, levando meus olhos para longe do corpo
morto. Depois de um momento, eu assenti. Luca e Romero
saíram do banheiro e discutiram a melhor forma de fugirmos.
Peguei uma calça jeans e um pulôver da minha mala no
canto, mas antes de seguir em direção ao banheiro para me
trocar em paz, congelei na porta. Benito estava esparramado
na banheira. Eu não queria ficar sozinha com um homem
morto. A bile viajou até minha garganta.
— Ei, — Romero disse suavemente, chegando atrás de
mim. — Você quer que eu vá com você?
Eu balancei a cabeça e, finalmente, apenas entrei no
banheiro. Romero entrou depois de mim. Eu rapidamente saí
do meu vestido com a sua ajuda. — De alguma forma eu
sempre imaginei que seria diferente quando eu a ajudaria a sair
do seu vestido de noiva, — ele murmurou.
Eu ri baixinho. Deixei cair o vestido no chão sem
cerimônia. Para mim, era apenas um símbolo do pior dia da
minha vida. Eu não estava triste por me livrar dele. Talvez um
dia eu tivesse a chance de ter outro casamento, um que eu
gostasse, com um marido que eu amava. Vesti minhas outras
roupas.
Romero pegou o vestido, e por um momento louco eu
pensei que ele iria querer mantê-lo para o nosso próprio
casamento futuro. — O que você está fazendo?
— Eu quero cobrir a mancha de sangue no quarto com
ele. Ninguém vai ficar desconfiado se o seu vestido de noiva
estiver no chão depois de sua noite de núpcias, — ele saiu do
banheiro e colocou o vestido no chão.
Luca assentiu. — Boa. Agora vamos indo. Eu não quero
correr o risco de ficar aqui mais tempo do que o absolutamente
necessário, — ele estendeu a mão para Aria, que a tomou. Eu
suspeitava que a tensão entre eles fosse maior depois de hoje à
noite. A maneira como eles se entreolharam me deu esperança
de que Luca iria perdoá-la por guardar segredo. Depois de
puxar a arma, ele abriu a porta e espreitou para o corredor.
— Fique perto de mim, — Romero me disse, puxando
sua própria arma e segurando minha mão com a sua livre.
Luca deu um breve aceno de cabeça e em seguida abriu
mais a porta e saiu, Aria um passo atrás dele. Romero me
levou depois deles. Ninguém disse nada. O longo corredor
estava vazio, mas abaixo você pode ouvir os risos dispersos e
música da festa. O cheiro de fumaça subia. Imediatamente me
lembrei da respiração de Benito e o sabor de sua língua na
minha boca. Eu empurrei o pensamento da minha mente.
Eu precisava me concentrar. Eu realmente esperava que
nenhum dos convidados decidisse vir em nossa direção. Luca
ou Romero teriam que matá-los. E se fosse alguém que eu
conhecia? Eu nem sequer queria pensar sobre isso. Aria olhou
por cima do ombro para mim enquanto Luca a puxava. A
mesma preocupação que eu sentia estava refletida em seu
rosto.
Capítulo Dezoito
LILIANA
Romero e Luca mostraram determinação e vigilância
enquanto nos levavam através da casa. Eventualmente nós
chegamos na porta de Gianna e Matteo. Luca bateu levemente,
mas eu poderia dizer pelo olhar inquieto em seus olhos que ele
gostaria de ter posto a porta abaixo, e que ele teria feito isso se
não fosse pelo risco de ser ouvido. Mais uma vez ninguém deu
sinal de vida e eu estava começando a surtar quando
finalmente houve outra batida mais alta e a porta se abriu.
Matteo apareceu na abertura, o cabelo bagunçado e vestindo
apenas uma boxer; parecia que ele a tinha colocado às pressas
no caminho até a porta, e havia uma protuberância escondida
debaixo dela. Afastei meus olhos
— Você não percebeu a dica que eu não queria ser
interrompido quando eu não respondi a porra da sua ligação,
— Matteo murmurou, então seus olhos caíram em Romero e
em mim, e ele fez uma careta. — Eu tenho um pressentimento
ruim do caralho.
Luca empurrou o ombro de Matteo. — Pelo amor de
Deus, Matteo, atenda quando eu ligar. Você precisa se vestir.
Temos que sair agora.
— O que há de errado? — perguntou Gianna, vindo por
trás de Matteo em um roupão de cetim. Seus lábios estavam
vermelhos e inchados. Realmente não havia dúvida de que eles
estavam fazendo antes de chegarmos. Seu olhar voou de Aria
para mim. — Merda, algo de ruim aconteceu, certo? Será que
o imbecil machucou você? — ela passou por Matteo apesar
dos protestos dele e de Luca e me abraçou.
— Ele está morto, — eu sussurrei.
— Bom, — disse ela sem hesitação. Ela deu um tapinha
no ombro de Romero. — Você fez isso, não é?
Romero deu um sorriso tenso. — Sim, o que nos leva à
razão pela qual precisamos nos apressar.
— Romero está certo. Precisamos sair dessa casa antes
que alguém perceba que o noivo está morto, — disse Luca
impaciente.
— Eu teria apostado tudo que eu seria aquele a iniciar
uma guerra entre a Outfit e a Família. Meus cumprimentos a
você, Romero, por provar que estou errado, por uma vez, —
Matteo disse sorrindo.
— Eu teria apostado isso também, — disse Romero.
Luca suspirou. — Eu odeio interromper o papo furado,
mas precisamos sair.
Matteo acenou e fez sinal para Gianna entrar no quarto.
O resto de nós os seguiu e esperou enquanto Matteo e Gianna
se vestiram. Toda vez que ouvia vozes, eu pulava, meio que
esperando o pai ou Dante abrindo a porta e atirando em todos.
Romero tirou alguns fios de cabelo que haviam caído sobre os
meus olhos. O seu olhar me fez perceber que valeu a pena. Por
amor valia a pena arriscar tudo. Eu só queria não ter arrastado
os outros para o perigo comigo. Cinco minutos depois, nós
seis saímos do quarto e continuamos nossa viagem através da
casa. Os sons da festa tinham diminuído ainda mais, o que
significava que mais pessoas poderiam estar caminhando de
volta para os seus quartos e potencialmente cruzariam o nosso
caminho, mas até agora tivemos sorte.
Nós pegamos a segunda escada na parte de trás da casa
até o primeiro andar e nos dirigimos para a porta que dava
para a garagem subterrânea. A maioria das casas nesta área
tinha uma, porque o espaço exterior era limitado. Houve o som
de passos no corredor à esquerda da porta. Romero me puxou
para uma parada e apontou a arma para frente. Matteo e Luca
fizeram o mesmo. Minha pulsação batia em minhas têmporas.
Eles tinham silenciadores em suas armas, mas um disparo
sempre fazia algum barulho, e eu realmente não queria ter
mais sangue em minhas mãos.
Alguém virou a esquina em nosso corredor e eu agarrei o
braço de Romero para impedi-lo de atirar. Era Fabiano. Ele
sacudiu em uma parada brusca com sua própria arma apontada
para nós. Eu nem sabia que ele estava carregando uma arma,
especialmente no meu casamento. Ele era muito jovem para
isso. Seus olhos percorreram o nosso pequeno grupo, suas
sobrancelhas escuras se juntaram com desconfiança. Ele ainda
usava seu traje da festa. O que estava acontecendo aqui?
Aria colocou a mão no braço de Luca que levantava a
arma, mas ele não a abaixou, nem fez Matteo, apesar do
sussurro urgente de Gianna.
— Não lhe faça mal, — eu implorei. Romero não tirava
os olhos de meu irmão, mas ele apertou minha mão levemente
em resposta.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Fabiano
firme, de pé ainda mais alto do que o habitual e tentando
parecer como um homem. Com a arma e a sua expressão séria,
ele quase conseguiu parecer mais do que um adolescente.
— Abaixe essa arma, — Luca ordenou.
Fabiano riu, mas parecia nervoso. — De jeito nenhum.
Eu quero saber o que está acontecendo, — seus olhos se
moveram de Aria para Gianna, em seguida, para mim, e,
finalmente, para a mão de Romero, que estava segurando a
minha.
— Por que você está com uma arma? Você não deveria
estar na cama? — perguntou Aria, e ela estava prestes a dar
um passo em direção ao nosso irmão, mas Luca a puxou de
volta.
— Eu tenho deveres de guarda, — disse Fabiano com
um toque de orgulho.
— Mas você não está na Outfit ainda, — eu disse,
confusa. Eu teria notado se ele tivesse iniciado o processo,
certo? Fabi sempre me contou tudo. Tínhamos sido só nós
contra o resto depois que Gianna e Aria se mudaram para
Nova York.
— Eu comecei o processo de iniciação há algumas
semanas. Essa é a minha primeira tarefa, — disse Fabi. A mão
com que ele segurava a arma estava tremendo um pouco. Se
eu notei, Romero, Luca e Matteo definitivamente tinham
notado. Eu não tinha certeza se seu nervosismo era uma coisa
boa, porque os fazia perceber que ele ainda era uma criança,
ou uma coisa ruim, porque isso o fazia um alvo fácil aos olhos
dos três.
— O pai mandou você fazer isso, porque ele pensou que
seria uma primeira tarefa fácil, certo? Nada de ruim acontece
em casamentos, — eu tentei brincar.
Fabi nem sequer abriu um sorriso, assim como qualquer
uma das outras pessoas. Troquei um olhar com Aria e Gianna.
Tínhamos que fugir, isso estava claro, mas não podíamos
arriscar que Fabi se machucasse.
— Ele me deu o trabalho porque sabia que eu era
responsável e capaz, — disse Fabi, soando como o papagaio
pessoal do pai. Meu peito apertou. E se Fabi realmente não nos
deixasse ir? A maneira como ele apontava a arma para nós, ele
parecia absolutamente determinado. Será que ele tinha
mudado tanto?
— Você realmente não acha que pode matar nós três,
não é? — Matteo perguntou com um sorriso torcido.
Gianna lhe lançou um olhar furioso. — Cale a boca,
Matteo.
Fabi se mexeu em seus pés, mas seu rosto permaneceu
duro. Quando ele tinha aprendido a usar essa máscara neutra
assim? — Eu posso tentar, — disse Fabi.
— Fabiano, — Luca disse calmamente. — Elas são suas
irmãs. Você realmente quer arriscar machucá-las?
— Porque é que a Lily aqui? Por que ela não está com
seu marido? Eu quero saber o que está acontecendo. Por que
você está tentando levá-la com você? Ela é parte de Chicago,
não de Nova York.
— Eu não posso ficar aqui, Fabi. Você lembra que você
me disse que eu não deveria me casar com Benito? Que não
era certo?
— Isso foi há muito tempo, e você disse sim no altar
hoje. Onde está ele, afinal?
Olhei para Romero. Algo na minha expressão deve ter
nos denunciado.
— Você o matou, não foi? — Fabi acusou, com os olhos
semicerrados alternando entre Matteo, Romero e Luca. — Este
foi algum tipo de truque para enfraquecer a máfia de Chicago?
O pai sempre disse que vocês iam nos apunhalar pelas costas
um dia, — ele levantou a arma um pouco mais alto.
Aria tentou se mover em direção a ele outra vez, mas
Luca praticamente a empurrou atrás dele.
— Ele é meu irmão! — ela sussurrou.
— Ele é um soldado da Outfit.
— Fabi, — eu disse. — A Família não está tentando
enfraquecer a Outfit. Isto não é sobre poder. É tudo culpa
minha. Benito tentou me machucar e eu o esfaqueei. É por isso
que eu preciso ir. O pai me puniria, talvez até chegasse a me
matar.
Os olhos de Fabi se arregalaram, fazendo-o parecer mais
jovem pela primeira vez. — Você matou o seu marido?
A mão de Romero estava apertada em torno da minha,
mas a mão com a arma era firme. Ele não tinha se movido. Ele
ainda estava apontado diretamente para a cabeça de Fabi. Se
ele matasse o meu irmão… eu não conseguia nem mesmo
terminar o pensamento.
— Eu não sabia mais o que fazer, — eu disse. Eu decidi
não mencionar que Benito ainda estava muito vivo quando
Romero mergulhou a faca em seu coração. Isso teria
complicado as coisas ainda mais.
— E quanto a você e ele? — Fabi apontou para Romero.
— Eu não sou estúpido. Há algo acontecendo entre vocês.
Não havia como negar isso, e eu tinha a sensação de que
Fabi iria ficar com raiva se eu tentasse mentir para ele. Matteo
tinha se aproximando mais enquanto Fabi e eu estávamos
conversando. Eu não tinha certeza do que ele planejava fazer,
mas sabendo que era Matteo, não iria acabar bem.
— Nós estamos juntos por um tempo. Você sabe que eu
nunca quis casar com Benito, mas o pai não me deu escolha.
— Então você quer deixar Chicago e ir para Nova Iorque
como Gianna e Aria, — disse Fabi.
— Eu quero, — eu disse.
— Você poderia vir conosco, — sugeriu Aria.
Percebendo o seu erro, ela olhou para Luca, que teria que
aceitar Fabi na Família.
— Você pode se tornar parte da Família, — disse ele
imediatamente.
Fabi balançou a cabeça. — O pai precisa de mim. Eu sou
parte da Outfit. Eu fiz um juramento.
— Se você não está ainda totalmente introduzido, não é
tão vinculativo, — disse Matteo, o que não era bem uma
mentira, mas na prática ele seria tratado como um traidor se
fugisse, e a punição seria a mesma, de qualquer maneira.
Fabi olhou. — Eu não vou trair a Outfit.
— Então você vai ter que nos deixar passar, — disse
Luca simplesmente. — E nós não vamos criar problemas, ou
haverá sangue, e você vai morrer.
Eu fiquei rígida e estava prestes a dizer algo, mas
Romero deu um pequeno aceno de cabeça.
— Eu tenho um bom tiro, — disse Fabi, indignado.
— Eu acredito em você. Mas é melhor do que nós três?
Você realmente quer que sua irmã Lily seja punida? Se você
forçá-la a ficar, vai assinar sua sentença de morte.
O conflito apareceu no rosto de Fabi. — Se eu deixar
vocês irem e alguém descobrir, eles vão me matar também. Eu
poderia ter uma morte digna, se eu tentar impedir isso.
Luca assentiu. — Você poderia, e iria receber muitos
elogios, mas você estaria morto do mesmo jeito. Você quer
morrer hoje?
Fabi não disse nada, mas ele abaixou a arma alguns
centímetros.
— Ninguém tem que saber que você nos deixou sair.
Você poderia ter tentado nos impedir, mas estávamos em
maior número, — Romero disse de repente.
— Eles vão pensar que eu estava com medo e fugi, e que
por isso vocês escaparam.
Luca deu um pequeno aceno de cabeça a Romero. —
Não se você for ferido. Nós poderíamos atirar no seu braço.
Isso foi pensado como uma primeira tarefa fácil, ninguém
espera que você seja capaz de parar os melhores lutadores de
Nova York. Se você levar um tiro, eles não vão isso contra
você.
— Você quer atirar no meu irmão? — perguntou Aria,
incrédula.
— E se você o ferir pra valer? — acrescentei.
— Eu poderia acertar a espinha no seu queixo, se eu
quisesse, acho que posso acertar um local seguro no seu braço
sem problemas, — disse Matteo com seu sorriso de tubarão.
— E nós estamos assumindo um risco por não matá-lo, assim
uma ferida no braço é realmente nada.
— Então, o que você diz, Fabiano? — perguntou Luca
rapidamente antes que Matteo pudesse dizer algo mais.
Nenhum dos homens tinha baixado suas armas ainda.
Fabi balançou a cabeça lentamente e apontou a arma
para o chão. — OK. Mas vou ter de pedir ajuda. Eu não posso
esperar mais do que alguns minutos ou eles vão ficar
desconfiados.
— Poucos minutos devem ser suficientes para nos
afastarmos, — disse Luca. — Eles virão atrás de nós quando
descobrirem o que está acontecendo, mas cinco minutos nos
darão vantagem suficiente. Dante não é o tipo de pessoa que
gosta de lutar em campo aberto, então eu duvido que ele
mande homens para uma perseguição de carro selvagem. Ele
vai nos atacar mais tarde, assim que descobrir a melhor
maneira de nos machucar.
Meu estômago se apertou. Tudo por minha causa. Quão
egoísta era uma pessoa para deixar que os outros se
arriscassem tanto por ela?
Romero me deu um sorriso encorajador, mas pela
primeira vez ele não conseguiu me animar. — A guerra com a
Outfit era inevitável. As coisas têm piorado a cada dia.
Luca olhou para nós. — Isso é verdade. Se não fosse por
Aria e Gianna, Matteo e eu não teríamos mesmo vindo a
Chicago para o casamento.
Isso pode ter sido verdade, mas a morte de Benito foi
como jogar gasolina no fogo. As coisas ficariam muito feias
agora.
— Vamos fazer isso agora, — Matteo pediu. — Estamos
perdendo tempo.
— Eu acho que deveríamos fazer tudo lá na garagem.
Talvez nos dê um tempo adicional. As pessoas não vão ouvir o
seu grito tão facilmente, — Romero sugeriu.
Juntos fomos para a porta e descemos um lance de
escadas para a garagem subterrânea. Não era tão grande
quanto a que eu tinha visto em Nova York. Apesar de nossa
decisão de trabalhar juntos, nenhum dos homens havia
colocado suas armas de volta em seu coldre ainda. Quando
paramos perto de nossos dois carros alugados, eu escorreguei
para fora do alcance de Romero e caminhei até Fabi. Eu não
hesitei, Romero esticou e apontou a arma, mas eu confiava em
Fabi. Talvez ele estivesse em seu caminho para se tornar um
soldado da Outfit, mas ele também era meu irmão mais novo.
Isso não mudaria. Abracei-o e depois de um momento ele
passou os braços em volta de mim. No ano passado ele tinha
evitado demonstrações públicas de afeto, porque tinha tentado
agir de forma fria, mas foi bom tê-lo perto, especialmente
desde que eu não sabia quando iria ter outra chance de vê-lo.
— Eu sinto muito por você ficar em apuros, — eu
sussurrei. — Eu queria que as coisas fossem diferentes.
— Eu nunca gostei de Benito, — Fabi disse
simplesmente. — Meu pai não devia ter casado você com
aquele cara.
De repente, Gianna e Aria estavam lá também, e tiveram
a sua vez o abraçando.
— Nós temos que ir agora, — Luca nos lembrou.
Eu me afastei de Fabi e voltei para Romero. Ele fez sinal
para eu entrar no carro, enquanto Aria e Gianna entravam no
outro. Eu vi como eles tentaram descobrir a melhor maneira de
fingir um tiroteio. Eventualmente Fabi disparou dois tiros
abafados, e, em seguida, foi a vez de Romero e Matteo.
Quando a bala de Matteo cortou o braço de Fabi, eu estremeci.
Meu irmão deixou derrubou sua arma e caiu de joelhos, com o
rosto contorcido de dor. Nada sobre isso era falso. Romero
correu para o nosso carro e deslizou atrás do volante. Matteo
apertou o botão que fazia deslizar as portas da garagem. A
maioria dos convidados tinha estacionado na garagem, pelo
que eu temi que o som fosse chamar a atenção para a nossa
fuga antes mesmo de Fabi começar a gritar. Eu duvidava que
alguém tivesse ouvido os tiros silenciosos através do teto
espesso da garagem subterrânea. Romero dirigiu nosso carro
até a encosta e para baixo em direção à entrada de automóveis.
Matteo estava no comando do volante do outro carro e logo
atrás de nós. Aceleramos até a calçada, passado por um par de
convidados embriagados que se sentavam em um dos bancos
de mármore do jardim. Meu coração disparou no peito, mas
não havia tempo para me preocupar. Me segurei enquanto
dirigimos para fora das instalações em uma velocidade
vertiginosa. Olhei pelo espelho retrovisor, mas o único carro
atrás de nós era o que tinha minhas irmãs e seus maridos. —
Ninguém está nos seguindo, — eu disse.
— Dê um momento. A maioria deles está bêbado e vai
demorar um pouco para descobrirem o que está acontecendo,
mas alguém vai estar sóbrio o suficiente para nos perseguir, —
disse Romero.
Ele parecia calmo sobre isso. Não era algo novo para ele,
mesmo que fossem as circunstâncias que nos levaram a estar
aqui, mas Romero era um Made Men há bom tempo. Esta não
era a sua primeira perseguição e não seria a última.
Eu apertei os meus olhos fechados, tentando chegar a um
acordo com tudo o que aconteceu nas últimas vinte e quatro
horas. Eu caminhei pelo corredor em direção a um marido que
eu odiava, um marido que o homem que eu amava tinha
matado para mim. Romero ligou nossos dedos e meus olhos se
abriram. Apesar da nossa velocidade, ele estava dirigindo com
uma mão só. Ele tinha escondido a arma no compartimento
entre nossos assentos. Eu lhe dei um sorriso agradecido. —
Quando estivermos de volta à Nova York, o que vai acontecer?
— Você vai morar comigo, — ele fez uma pausa. — A
menos que você prefira ficar com uma de suas irmãs.
Eu balancei minha cabeça. — Eu não quero ficar longe
de você novamente.
Romero trouxe a minha mão aos lábios e a beijou
suavemente, mas então os seus olhos dispararam para o
espelho do lado e ele ficou tenso. Ele me soltou e agarrou a
arma.
Olhei por cima do meu ombro. Três carros estavam nos
perseguindo. Eu afundei ainda mais no meu lugar e cruzei as
mãos, fazendo uma rápida oração. Eu não era particularmente
religiosa, mas parecia que era a única coisa que eu podia fazer.
Até agora, nenhum único tiro havia sido disparado de ambos
os lados e isso me fez perguntar se havia uma armadilha em
algum lugar. — Por que eles não estão atirando?
— Essa é uma área residencial e Dante não gostaria de
chamar a atenção para a Outfit. Presumo que ele deu ordens
para esperar até que estejamos fora dos limites da cidade, o
que será a qualquer momento. Estamos atravessando uma área
industrial.
Ele estava certo. Uma vez que as casas de família foram
substituídas por instalações de armazenamento, os carros da
Outfit fecharam em nós e começaram a atirar. Desde que
Matteo estava logo atrás de nós com o outro carro alugado,
Romero não tinha um tiro limpo em nossos perseguidores, mas
eu podia ver Luca disparando pela janela do passageiro aberta.
Eu não podia ver Aria e Gianna; elas provavelmente estavam
agachadas no banco de trás para não serem atingidas por nada.
E se nós não conseguíssemos fugir? E se as nossas vidas
terminassem aqui?
Uma das balas atravessou o vidro de um dos nossos
perseguidores. O carro girou e parou. Mas os outros dois
veículos continuaram. Eu não poderia nem mesmo ver a placa
deles mais.
Eu não tinha certeza de quanto tempo eles correram atrás
de nós, mas eu sabia que em um ponto Matteo ou Romero
iriam cometer um erro e perder o controle do carro.
De repente, os dois carros diminuíram, fizeram uma
curva e voltaram por aonde vieram.
— Por que eles pararam de nos seguir?
— Ordens de Dante, eu assumo. Eu te disse, ele é um
homem muito cauteloso. Ele vai esperar por uma oportunidade
melhor para nos fazer pagar. Isso é muito arriscado para o seu
gosto, — disse Romero.
Eu exalei. Eu sabia que isso estava longe de terminar.
Pelo que eu conhecia de Dante, Romero estava certo, mas eu
estava simplesmente feliz que hoje à noite nós todos saímos
ilesos. Teríamos que cuidar do resto amanhã. Olhei para
Romero novamente. Eu não podia acreditar que eu finalmente
tinha a chance de estar com ele. Com exceção de duas pausas
para o banheiro, não paramos nossos carros até Nova York, e
mal conversamos também. Quando a linha do horizonte de
Nova York finalmente se levantou do lado de fora do carro,
alívio me inundou. Por alguma razão, a cidade já me fazia
sentir em casa e eu sabia que estaria mais segura aqui. Esta era
a cidade de Luca. Não seria fácil para Dante nos atacar aqui.
Capítulo Dezenove
ROMERO
Depois de mais de catorze horas na estrada, chegamos â
cobertura de Luca. Lily tinha adormecido um par de vezes
durante a nossa viagem, mas ela se assustava e acordava quase
que instantaneamente. Ela provavelmente estava tendo
pesadelos com Benito. Eu estava tão feliz que eu tinha matado
o maldito. Quando entrei no quarto principal e vi Benito com
um abridor de carta em seu corpo, eu queria gritar de alegria.
Mas eu sabia que as próximas semanas e meses, talvez anos,
seriam difíceis para a Família, e para cada um de nós. Dante
iria retaliar com tudo o que tinha.
Eu estacionei o carro na garagem subterrânea e saí. Lily
mal conseguia ficar em seus próprios pés de exaustão, mas ela
vestiu sua máscara corajosa. Eu não queria nada mais do que
levá-la para casa comigo, mas primeiro Luca, Matteo e eu
precisávamos ter uma conversa sem o risco de um ataque da
Outfit.
Quando entramos no apartamento, Aria e Gianna
levaram Lily em direção ao sofá. Um protesto estava na ponta
da minha língua. Eu ainda me sentia muito protetor com ela
depois de quase a perder, e queria ela ao meu lado em todos os
momentos, mas teria sido ridículo dizer alguma coisa. Ela
ainda estava no mesmo lugar que eu. Seu olhar de perda na
minha direção quando ela se sentou entre suas irmãs me disse
que Lily se sentia da mesma maneira.
— Temos que chamar todos para uma reunião. Eles
precisam saber que a trégua entre a Outfit já não está em vigor.
Eu não quero que ninguém caia em uma armadilha porque
achava que podia confiar em algum bastardo da Outfit, —
disse Luca. Eu poderia dizer que ele ainda estava chateado
comigo, e ele tinha todo o direito de estar. Ele não ter me
matado foi um sinal maior de sua amizade, um que eu jamais
esperava.
— Algumas pessoas podem não ficar felizes com você e
Liliana, — disse Matteo. — Eles provavelmente não farão
nada com esse ressentimento, mas eu teria cuidado se fosse
você.
— Não se preocupe. E se alguém colocar um dedo sobre
Lily, eu vou rasgar a garganta do bastardo.
— Eu acho que você já causou danos suficientes, —
disse Luca firmemente. — E ninguém vai tentar ferir Liliana.
Ela é agora parte da Família e está sob minha proteção.
Suponho que você vai se casar com ela?
Eu não tinha a proposto em casamento, mas queria que
ela fosse minha esposa — Se ela aceitar, eu vou me casar com
ela.
— Depois de todo o drama de hoje, é melhor que ela se
case com você, — Matteo murmurou. Ele se inclinou contra a
mesa de jantar e bocejou amplamente.
— Eu vou pedir a mão dela em breve.
Luca levantou a mão. — Essa não é nossa principal
preocupação no momento. Temos que redobrar as medidas de
segurança. Nós não só sequestramos a filha de Scuderi, como
matamos um capitão com uma legião de soldados fieis. Haverá
sangue como pagamento.
Eu dei outro olhar para Lily. A Outfit poderia tentar
matá-la. Conhecendo seu pai, ele mesmo, provavelmente, iria
fazer isso. Ele teria que passar por mim se quisesse machucá-
la.

*****

LILIANA
Depois de duas horas no apartamento de Luca,
estávamos finalmente na casa de Romero. Eu nunca tinha
estado lá e estava curiosa, apesar do meu cansaço. Eu poderia
dizer que Romero estava tenso, mas eu não tinha certeza do
por quê. Talvez ele lamentasse tudo o que tinha acontecido?
Ou talvez ele só estivesse preocupado com o que estava por
vir.
Romero destrancou a porta e abriu para mim. Passei por
ele e entrei em um longo corredor. Fotos de família em bonitas
molduras de prata decoravam as paredes. Prometi a mim
mesma dar uma olhada mais de perto quando os meus olhos
não estivessem pesados demais. Havia várias portas dos dois
lados do corredor. Romero me levou para a última à direita.
Um quarto de casal esperava atrás dela, mas nós não paramos
ali. Nós tínhamos estado na estrada por horas e eu estava
acordada há mais de um dia. Já passava do meio-dia, e eu
queria dormir.
Mas eu ainda podia sentir o cheiro de Benito em mim; o
seu sangue, seu suor, o seu odor corporal. Isso me deixava
enjoada. Romero abriu a porta para o banheiro adjacente. Eu
rapidamente deslizei para fora da minha roupa e entrei no
chuveiro. Romero me observava em silêncio, um olhar
indecifrável no rosto. Ele parecia exausto. Quando a água
quente escorreu pelo meu corpo, senti um pouco da tensão
deixar os meus membros.
— Você quer ficar sozinha? — Romero perguntou
depois de um momento. Ele parecia… incerto. Isso não era
algo que eu estava acostumada a ver nele. Talvez eu precisasse
levar em consideração que ele precisava de algum tempo para
trabalhar suas emoções.
Eu balancei minha cabeça. — Eu quero que você se
junte a mim.
Romero saiu de suas roupas. Eu não tentei esconder a
minha admiração enquanto eu o assisti. Eu amava o corpo de
Romero. Eu amava tudo sobre ele. Me mexi para o lado para
que ele pudesse entrar no chuveiro comigo. Escorreguei os
meus braços ao redor da sua cintura e apertei a minha
bochecha contra seu peito enquanto a água caía sobre nós. Eu
tinha sentido falta da sensação de sua pele contra a minha.
Apertei os meus olhos fechados. Tanta coisa havia acontecido
e muito ainda estava por vir.
— As coisas vão ficar realmente ruins para Luca e a
Família agora, não vão?
Romero acariciou minhas costas. — A união entre a
Família e a Outfit quebraria em algum momento. Eu prefiro
que isso tenha acontecido por causa de algo tão importante,
como você, do que por dinheiro ou política. Você vale uma
guerra.
— Eu não tenho certeza se Luca concorda. Ele
provavelmente já está arrependido de me trazer para Nova
York.
— Eu conheço Luca. Ele não se arrepende das suas
decisões. Uma vez que ele coloca algo em sua cabeça, mantém
até o fim. E isso não foi apenas por você. Foi também por Aria
e Gianna. Elas querem que você seja feliz.
Inclinei a cabeça para cima e sorri para ele. Seu corpo
estava me protegendo da água. Romero abaixou a cabeça e
beijou minha testa, então meus lábios. Nós não aprofundamos
o beijo, em vez disso, terminamos de tomar banho
rapidamente. Romero saiu primeiro e pegou uma toalha. Ele a
envolveu em torno de mim e gentilmente começou a secar o
meu corpo. Eu relaxei sob seus cuidados delicados. O pouco
de tensão que restava deslizou para fora de mim. Depois que
ele terminou comigo, eu tirei uma toalha da prateleira e sequei
Romero. Ele fechou os olhos quando eu massageava seus
ombros. — Como você se sente? — perguntei em voz baixa.
Eu sabia que os homens, os homens iniciados em particular,
não gostavam de falar sobre os seus sentimentos,
especialmente tristeza ou medo.
Ele olhou para mim. — Cansado.
— Não, quero dizer, você teve que matar Benito por
mim. Você está bem?
Romero soltou uma risada sem humor. Ele pegou minha
mão e me levou de volta para o quarto. Ele se afundou na
cama e me puxou entre as suas pernas, e então me fez sentar
em uma delas. — Ele não foi o primeiro e não será o último,
mas eu gostei da sua morte mais do que das outras, e eu não
me arrependo. Eu faria isso de novo e me divertiria muito.

*****

ROMERO
Era a verdade e agora que Lily e eu começaríamos a
viver juntos, ela precisava saber, precisava conhecer todas as
minhas partes escuras. Eu procurei em seus olhos por um sinal
de repulsa, mas não havia nenhuma. Ela beijou o meu rosto
antes de descansar a cabeça no meu ombro. Seus dedos
traçaram meu peito levemente. E a sensação de sua bunda
firme na minha coxa agitou o meu pau, mas agora não era o
momento de seguir esse impulso. Não muito tempo atrás Lily
teve que lutar contra seu novo marido, teve de esfaqueá-lo e
vê-lo morrer. Ela precisava de tempo para se recuperar. Me
levantei e levei Lily em meus braços, e então a coloquei sobre
a cama e deitei. Ela manteve as mãos em volta do meu
pescoço e não me deixou ir, mesmo quando eu tentei me
endireitar. — Lily, — eu disse calmamente. — Você precisa
descansar.
Ela balançou a cabeça e me puxou para baixo, em cima
dela. Eu me apoiei em meus cotovelos para eu não esmagar ela
sob o meu peso. Lily colocou as pernas em torno de meus
quadris e cavou seus pés na parte inferior das minhas costas,
me pressionando ainda mais para baixo.
Eu não resisti. Lentamente, me abaixei até que nossos
corpos estavam um contra o outro e meu pau pressionado
contra a sua buceta. Ela levantou a cabeça para reclamar
minha boca em um beijo. Olhei em seus olhos, eles estavam
suaves e cheios de desejo. Eu não tinha certeza de como eu
poderia ter acreditado que Lily não me queria. Seus olhos
mostravam seu amor por mim tão claro como o dia.
— Eu preciso de você, — ela murmurou, levantando
seus quadris algumas polegadas e fazendo meu pau deslizar
sobre os lábios inferiores. Deixei escapar um pequeno chiado
com a sensação. Ela estava molhada e quente. Ela sempre
estava convidativa e tentadora pra caralho. E ela não precisava
pedir duas vezes. Eu sempre a queria. Rapidamente coloquei
um preservativo, segurei a cabeça e entrei nela lentamente, e
quando o fiz, percebi o quanto eu precisava disso também. Ela
estava mais apertada do que o habitual, talvez por causa da
tensão e do cansaço, e me certifiquei de ser cuidadoso.
Eu fiz amor com ela lentamente. Isso não era sobre ter
pressa, sobre ser consumido pelo desejo e pela luxúria, era
algo para nos mostrar que estava tudo bem. Alguns dias atrás
eu pensava que iria perdê-la para sempre e agora ela era
minha.
Entre gemidos suaves ela me disse que me amava. Eu
beijei os seus lábios. Eu nunca tinha sido o tipo
excessivamente emocional, mas nunca me cansava de dizer
essas palavras. — Eu também te amo — era estranho para mim
admitir isso para alguém.
Enquanto estávamos nos braços um do outro, eu senti
uma profunda e abrangente paz que nunca tinha sentido antes.

*****

Acordei ao nascer do sol, mas Lily não estava lá. Me


endireitei rápido para chegar à minha arma na mesa de
cabeceira, como sempre esperando o pior. Mas Lily estava na
janela, olhando para fora. Eu não tinha janelas do chão ao teto,
como na cobertura de Luca, mas elas não eram exatamente
pequenas. Porém, Lily tinha crescido como a filha de um
Consigliere. Ela teve o melhor de tudo a vida toda.
Girei minhas pernas para fora da cama e caminhei em
direção a ela.
— Não são tão grandes como você está acostumada. A
casa da sua família e a cobertura de Aria são muito maiores do
que o meu apartamento. Você vai ser a esposa de um mero
soldado.
Lily saltou, então ela olhou por cima do ombro para
mim.
— Você realmente acha que eu me importo com essas
coisas? Quando eu morava em uma casa enorme e tinha mais
dinheiro do que eu poderia gastar, nunca fui feliz, mas quando
estou com você, eu sou.
— Ainda assim, esta será uma grande mudança para
você, — eu disse. Eu não era exatamente pobre, mas ela não
seria capaz de viver no mesmo nível que tinha vivido até
agora.
Lily se virou para mim totalmente e tocou o meu rosto.
— Eu só quero você, Romero. Eu não me importo com
dinheiro, — ela gesticulou, apontando todo o quarto. — E este
é um lugar lindo. A maioria das pessoas ficaria feliz em viver
aqui. Eu amo isso.
Era por isso que eu sabia que Lily era a única.
O sol finalmente espiou por sobre os arranha-céus ao
redor. —Olha, — eu disse, apontando na direção da cidade.
Lily se virou em meus braços, as costas pressionadas
contra o meu peito, enquanto nós assistimos o nascer do sol.
Eu queria aproveitar este momento de paz e tranquilidade,
porque eu sabia que não haveria muitos mais momentos como
esse hoje. A Família estava em guerra com a Outfit agora.
— Estou preocupada com Fabi. Eu gostaria que
houvesse uma maneira de descobrir se ele está bem. E se
Dante e o pai não acreditaram na sua história? Eu nunca
poderia me perdoar se algo acontecesse com ele por minha
causa.
— Eu vou descobrir uma maneira de conseguir
informações, mas eu tenho certeza que ele está bem. Ele é o
único filho do seu pai. Mesmo que o seu pai esteja descontente
com ele, Fabi não será punido, é muito difícil que isso
aconteça.
— Ele está casado com uma mulher jovem agora. Ele
poderia ter um novo herdeiro, — disse ela amargamente.
— Me deixe chamar Luca e ver se ele sabe alguma
coisa, — eu disse a ela, a soltando do abraço. Luca
provavelmente já estaria acordado, se ele tivesse ido para a
cama cedo.
Luca atendeu após o segundo toque. — Você matou
outro membro da Outfit? — ele disse primeiramente em tom
de brincadeira, mas eu podia ouvir a tensão em sua voz.
— Não. Você já ouviu alguma coisa? Dante tentou entrar
em contato com você?
— Ele não tentou. Ele só me enviou um e-mail através
de um de seus homens dizendo que a nossa cooperação está
encerrada.
— Ele nem mesmo entrou em contato com você
pessoalmente, ou, pelo menos, através de seu Consigliere? —
perguntei. Esse era um show flagrante de desrespeito e
mostrou o quão ruim a situação realmente era.
— Eu não acho que Scuderi está muito interessado em
falar comigo agora, — disse Luca ironicamente.
Lily veio até mim, um olhar ansioso no rosto.
— Acho que não, — eu disse. — Ouça Luca, Lily está
realmente preocupada com seu irmão. Você tem alguma
maneira de descobrir se ele está bem?
— Aria vem tentando entrar em contato com Valentina,
mas até agora ela não teve sorte. Ela vai tentar novamente
mais tarde. Você e Lily devem vir de qualquer maneira. Temos
muito a discutir e as mulheres podem passar algum tempo
juntas.
— Certo. Nós estaremos aí em breve, — eu desliguei.
— E? — Perguntou Lily, esperançosa.
— Luca não tem qualquer informação sobre o seu irmão
ainda, mas ele e Aria estão tentando entrar em contato com
Valentina.
— Você realmente acha que Val vai atender as ligações
de Aria? Ela é a esposa de Dante e agora que há guerra entre
Nova York e Chicago, ela arriscaria muito por entrar em
contato com Aria.
Romero tocou minha bochecha. — Nós vamos descobrir
sobre o seu irmão, Lily, eu prometo.

*****

LILIANA
Tomamos banho rapidamente antes de irmos para o
apartamento de Aria. Quando chegamos, Gianna e Matteo já
estavam lá, apesar de ser apenas sete da manhã. O cheiro de
café feito me cumprimentou e pasteis esperavam no balcão da
cozinha. Minhas irmãs estavam em pé, conversando, e eu
segui na direção delas enquanto Romero andou até Luca e
Matteo, que estavam sentados nos bancos na ilha de cozinha.
Aria colocou o braço em volta de mim. — Como você
está Lily?
— Bem. Eu não dormi muito, mas estou muito feliz de
estar aqui com vocês e Romero.
— É claro que você está, — disse Gianna. — Estou tão
feliz que Romero se livrou daquele bastardo doente do Benito.
Uma imagem do sangue cobrindo o corpo de Benito
surgiu na minha cabeça, mas eu a empurrei de lado. Eu não
queria pensar nele mais. Ele não fazia parte da minha vida.
Aria me entregou uma xícara de café. — Aqui, você
parece como se precisasse disso. E você deve comer alguma
coisa.
— Mamãe galinha modo ativado, — brincou Gianna,
mas, em seguida, ela também me encarou com um olhar
preocupado. — E? Como foi a sua primeira noite com
Romero?
— Gianna, — Aria advertiu. — Lily passou por muita
coisa.
— Está tudo bem. Eu amei passar a noite nos braços de
Romero, sem ter medo de ser pega. Pela primeira vez,
pudemos ver o pôr do sol juntos.
— Estou tão feliz que você esteja feliz, — disse Aria.
Eu balancei a cabeça. — Mas eu não posso deixar de me
preocupar com Fabi. Eu quero saber se ele está bem.
— Eu deixei duas mensagens de voz no telefone do Val.
Eu realmente espero que ela me ligue de volta.
— Mesmo que ela faça, — disse Matteo. — Nós não
sabemos seus motivos. Ela poderia estar fazendo isso a mando
de Dante e estar à procura de informações.
— Val não faria isso, — disse Aria, incerta.
— Ela é a esposa do chefe. A Outfit está onde suas
lealdades se encontram. Você faz parte da Família, o que faz
de você uma inimiga, — disse Luca.
Olhei para Romero. Tudo isso porque eu amava um
homem que eu não deveria amar, e porque eu queria estar com
ele. Eu era uma vadia egoísta? Romero encontrou meu olhar.
Eu gostaria de poder dizer que eu não faria isso novamente,
mas olhando para ele agora, eu sabia que eu ia esfaquear
Benito quantas vezes fosse preciso para me salvar de um
casamento horrível e ficar com o homem com o qual eu
deveria passar minha vida.
Eu era uma vadia egoísta.
— Ei, — Aria disse gentilmente. — Não fique tão triste.
Me voltei para ela. — Você e Val se davam tão bem. Eu
sei que vocês conversaram no telefone muitas vezes e agora
você não pode, por causa da bagunça que eu causei.
— Você é minha irmã Lily, e vê-la feliz e tê-la em Nova
York com a gente é mais importante do que a minha amizade
com Val. E talvez Luca possa negociar outra trégua com
Dante. Dante é um homem pragmático.
— Não enquanto o seu pai for o Consigliere. Seria como
um tapa na cara do seu pai se Dante não buscasse vingança, —
disse Romero.
— Eu odeio essa porcaria de vingança, — Gianna
murmurou. Matteo levantou de seu banco, se aproximou dela e
a puxou contra ele com um sorriso. — Eu sei que você odeia,
mas é como as coisas são.
Gianna revirou os olhos, mas deixou Matteo beijá-la. No
passado, isso teria enviado uma pontada de inveja através de
mim, mas agora eu caminhei até Romero e me inclinei contra
ele. Seu braço passou pelos meus ombros e ele beijou a minha
têmpora. — Nós já estivemos em guerra com a Outfit antes.
Nós vamos lidar com isso.
— Eu não quero que as pessoas morram por minha
causa.
— Romero está certo. Nós vamos passar por isso. E eu
não acho que Dante vai matar um dos nossos. A ameaça da
Rússia ainda é muito forte. Ele não pode arriscar vidas de seus
soldados em uma guerra com a gente.
— Nem nós podemos, — acrescentou Matteo.
Um telefone tocou, nos fazendo saltar. Aria pegou seu
telefone do balcão e olhou para a tela, então ela levantou a
cabeça com os olhos arregalados. — É Val.
Luca se levantou. — Não deixe que escape nada sobre
Fabi ter nos ajudado, e tenha cuidado.
Aria balançou a cabeça, e então ergueu o telefone até o
ouvido. — Olá? — ela fez uma pausa. — Estou tão feliz que
você ligou. Você pode falar? — Aria ouviu por alguns
segundos, sua expressão caindo. —Eu sei. Eu só queria
perguntar sobre Fabi. Ele levou um tiro quando tentou nos
parar e eu estou tão preocupada com ele. Ele é tão jovem. Ele
não deveria ter sido envolvido neste processo. Você pode me
dizer como ele está?
Aria soltou um suspiro. — Então ele está bem? Ele vai
ser capaz de usar o seu braço como antes?
Eu caí contra Romero, mas, as próximas palavras de
Aria ficaram tensas novamente. — Ele está com grandes
problemas porque não foi capaz de nos parar? — Aria
balançou a cabeça, e então nos deu um sinal de positivo. Ela
ficou em silêncio por um longo tempo depois, ouvindo Val.
— Ok, eu vou dizer a ele. Muito obrigada, Val. Eu não
vou esquecer de você. Espero que os nossos homens
descubram alguma forma de resolver isso em breve. Eu vou
sentir falta das nossas conversas. Adeus.
— Então? — perguntei no momento em que ela tinha
desligado.
— O pai e Dante parecem ter acreditado na história de
Fabi. Ninguém o culpa por nos deixar fugir. Ele não tinha
experiência suficiente para o trabalho. Foi só por causa da
insistência do pai que ele ganhou a tarefa, em primeiro lugar.
Luca parecia um cão farejando sangue em uma trilha. —
Ela disse alguma coisa? Sobre os planos de Dante e seu
humor?
— Ele está furioso, — Aria disse com um encolher de
ombros. —Mas ele pediu que Val te desse uma mensagem, —
ela disse para Luca, seus olhos voando para mim.
Romero chegou ainda mais perto do meu lado. Eu tive
um pressentimento de que sabia qual era a mensagem.
— Se nós enviarmos Lily de volta hoje, eles podem
considerar não retaliar.
Romero saltou para fora do banco. — Ela não vai voltar.
Luca estreitou os olhos, mas, em seguida, respirou
fundo. —Claro que não. Dante sabe que não vamos concordar
com essa oferta. É por isso que ele fez.
Romero esfregou meu braço levemente e trouxe sua
boca até a minha orelha. — Ninguém vai tirar você de mim.
Eu vou lutar um milhão de guerras se isso significa que posso
te manter comigo.

*****

Dois dias se passaram, mas eles poderiam muito bem ter


sido uma vida. Romero tinha estado ocupado e eu passei a
maior parte do tempo com minhas irmãs. Mas essa noite
Romero queria que nós jantássemos sozinhos no seu, não, no
nosso apartamento. Ele tinha pedido comida no seu restaurante
italiano favorito e colocou tudo em cima da mesa de jantar em
sua cozinha enorme.
Poucos minutos depois de começarmos a comer, Romero
pousou o garfo. — Luca me fez capitão.
— Sério? Isso é maravilhoso! — pude ver o quanto isso
significava para ele. Eu nunca tinha tido a sensação de que ele
estava infeliz como guarda-costas de Aria, mas é claro que era
um grande negócio ser promovido, especialmente porque a
máfia era um lugar onde as pessoas geralmente assumiam a
posição de seu pai. — Com qual negócio você vai ficar?
— Eu vou tomar conta de alguns clubes em Harlem. O
antigo capitão está com câncer e precisa se aposentar, mas ele
tem apenas filhas, então Luca decidiu me dar os seus negócios.
Eu vou fazer mais dinheiro para nós.
Eu sorri. — Você sabe que eu não me importo com isso.
Eu só estou feliz por você, porque você merece.
Romero fez uma careta. — Algumas pessoas não
pensam assim, depois que eu causei a guerra com a Outfit.
— Eu pensei que a maioria dos homens estavam
ansiosos para deixar de cooperar com Chicago?
— Somente aqueles que pensam que eu mereço ser o
capitão, — disse ele, divertido.
— Então, quem será o novo guarda de Aria?
— Isso é um meio que um problema. Sandro vai ser o
guarda de Aria e Gianna por enquanto. Mas isso não será o
suficiente, especialmente porque você está com elas muitas
vezes. Ele não pode proteger vocês três, mas vamos descobrir
alguma coisa.
Quando nós estávamos satisfeitos, Romero se levantou e
caminhou ao redor da mesa em minha direção. Eu o observei
confusa. Ele parecia nervoso?
Sem aviso, Romero caiu de joelhos bem na minha frente
e puxou uma caixa de cetim pequena do bolso da calça. Eu
congelei quando ele a estendeu para mim e abriu, revelando
um anel de diamante bonito. É claro que eu esperava que nos
casássemos em breve. Isso era esperado em nosso mundo, mas
eu não esperava que Romero já tivesse comprado um anel. Ele
não tinha perdido tempo nenhum, isso era certo!
— Eu sei que você já passou por muita coisa e sua
experiência no último casamento foi horrível, mas eu espero
que você me dê outra chance. Eu quero ser o marido que você
merece. Eu quero fazer você feliz e amar você, se você me
deixar. Quer se casar comigo?
Me atirei em seus braços, meus joelhos colidiram com o
chão duro, mas eu quase não senti. — Deus, sim, — eu o
beijei ferozmente.
Romero sorriu quando ele se afastou. Nós não
conseguíamos levantar do chão. Enquanto eu estivesse nos
braços de Romero, não me importava onde eu estava. — Eu
entendo se você quiser esperar um pouco antes de se casar
comigo. Você provavelmente não está no humor para planejar
um casamento.
Eu balancei a cabeça rapidamente. — Esse é um
casamento que eu quero planejar. Dessa vez eu vou gostar de
tudo. Eu posso levar Aria e Gianna parar comprar o vestido de
noiva comigo, estou realmente animada sobre isso.
Ele riu. — Mas eu quero que você conheça a minha
família em primeiro lugar. Assim podemos já contar a todos a
boa notícia.
— Ah, claro, — eu disse lentamente. Eu estava animada
para conhecer a família de Romero, mas eu também estava
preocupada que eles não gostassem de mim.

*****

No dia seguinte, Romero me levou para conhecer a sua


família. Sua mãe vivia com seu novo marido e as três irmãs de
Romero em um modesto apartamento não muito longe do
nosso. Eu não deveria ter me preocupado que eles não
gostassem de mim. Eles eram um tipo de pessoas humildes. Eu
já conhecia suas duas irmãs mais velhas, porque elas foram à
minha festa de aniversário alguns anos atrás, mas nós
tínhamos crescido e sua irmã mais velha, Tamara, já tinha até
começado a faculdade. Algo que eu nunca tinha considerado,
porque eu sabia que o pai não aprovaria.
Jantar na minha família sempre foi uma questão formal,
com meu pai se sentando no final da mesa e com todos em seu
melhor comportamento. Bem, exceto por Gianna talvez. Mas
com a família de Romero foi fácil e divertido. Nós
conversamos e rimos toda a noite, e quando Romero disse a
eles que íamos nos casar, eles me abraçaram e ficaram
realmente felizes. Ninguém olhou para mim de forma estranha
porque eu tinha casado com Benito menos de uma semana
atrás.
Eu soube então que eu seria feliz nesta nova vida, não
apenas por causa do amor de Romero, mas por causa das
minhas irmãs e minha nova família. Isso não me fez deixar de
sentir falta de Fabi, no entanto, mas eu tinha que confiar que
ele iria encontrar sua própria felicidade um dia, mesmo que eu
nunca o visse outra vez.
Epílogo
LILIANA
Eu esperei por esse momento por muito tempo, imaginei
tantas vezes que quase parecia um déjà-vu. Enquanto algumas
semanas atrás, no meu casamento com Benito, havia apenas
ansiedade, tristeza e medo, agora eu me sentia como se
pudesse voar. Felicidade e euforia enchiam meu corpo. Eu não
podia esperar para que a festa acabasse, e assim Romero iria
poder me despir e fazer amor comigo outra vez. A única coisa
que faltava para que o dia fosse perfeito era Fabi. Eu não o
tinha visto desde a minha noite de núpcias e não tinha certeza
se algum dia o veria novamente. Eu não sabia se ele estava
bem. Se ele tinha ficado em apuros por levar um tiro.
Romero me levantou em seus braços sob os aplausos
entusiasmados dos nossos convidados. Eu não pude deixar de
rir. Eu nunca me senti mais leve, como se a qualquer momento
eu fosse flutuar no céu. Arrisquei um olhar para cima,
querendo saber se minha mãe estava assistindo. Eu tinha feito
o que ela queria. Eu tinha arriscado a felicidade, e valeu a
pena. Romero beijou o meu rosto, puxando a minha atenção de
volta para ele. Nossos olhos se encontraram e meu coração se
encheu de amor. Ele começou a caminhar em direção ao nosso
quarto, e desta vez eu mal podia esperar para chegar, para estar
a sós com meu marido, para que ele e eu fossemos um só. Era
assim que deveria ser. Toda mulher deveria estar feliz no dia
do seu casamento, deveria se sentir segura nos braços de seu
marido, deveria ter o direito de se casar por amor e não porque
alguém que assim seria.
Eu pressionei meu rosto na curva do pescoço dele,
sorrindo para mim mesma. Pelo canto do olho, avistei minhas
irmãs e seus maridos. Aria sorriu para mim, e Gianna balançou
as sobrancelhas. Eu sufoquei uma risada. Romero roçou os
lábios em meu ouvido. — Eu mal posso esperar para te despir
e beijar cada polegada da sua pele macia.
Desejo correu através de mim. — Depressa, — eu
sussurrei.
Romero riu, mas ele realmente acelerou. Ele abriu a
porta do nosso quarto com o cotovelo, e então a chutou,
fechando-a antes de atravessar o quarto em direção à cama e
me colocando nela.
— Deus, você é tão bonita. Eu não posso acreditar que
você é finalmente a minha.
— Eu sempre fui sua.
Romero segurou meu rosto e me beijou ferozmente antes
que suas mãos começassem a trabalhar no meu vestido,
revelando lentamente cada centímetro do meu corpo. Ele
beijou todos os pontos, mas não os lugares que eu queria que
ele beijasse. Quando eu estava diante dele apenas de calcinha e
espartilho, seus olhos traçaram meu corpo com fome e
reverência. Eu amava esse olhar. Ele fazia eu me sentir a
garota mais bonita do mundo. Ele deixou os dedos deslizarem
sobre meus tornozelos, então subiram por minhas panturrilhas
e coxas até chegarem à calcinha. Levantei meus quadris.
Romero soltou uma risada baixa e beijou meu osso ilíaco,
depois lambeu o local. — Romero, por favor, — ele enfiou os
dedos sob minha calcinha e deslizou para baixo. Quando ele
voltou, separou as pernas e fechou a boca sobre a minha fenda.
Eu exalei. Com cursos lentos de sua língua Romero me dirigiu
mais alto, e quando ele deslizou um dedo em mim, o prazer
rolou por todas as partes. Meus dedos curvaram e minhas
costas se arquearam contra a cama, mas Romero continuou a
me dar prazer até que eu não aguentei mais e empurrei sua
cabeça para longe, rindo e ofegando.
— Seu primeiro orgasmo como minha esposa, — disse
Romero com um sorriso de autossatisfação, enquanto se
arrastava até pairar sobre mim.
— Eu espero que não seja o último, — eu provoquei.
— Você está dizendo que ainda não está satisfeita? —
ele deslizou um dedo em mim outra vez e se mexeu
lentamente.
Eu balancei minha cabeça.
Romero tirou o dedo e desamarrou meu espartilho, o que
expôs meus seios nus. Ele chupou um dos meus mamilos na
boca, enquanto mergulhava um dedo em mima novamente.
Foi tão bom, e eu podia sentir o orgasmo chegando mais
uma vez — Eu preciso de você dentro de mim, — eu implorei.
Romero não perdeu tempo. Ele saiu da cama e
rapidamente se despiu. Seu pênis já estava duro e brilhante.
Ele se moveu entre as minhas pernas. Eu fechei a minha mão
em torno de seu eixo, desfrutando de sua firmeza e calor.
Acariciei algumas vezes antes de o guiar em direção à minha
entrada. Quando a ponta roçou na minha abertura, eu relaxei
contra os travesseiros. Romero começou a entrar em mim
lentamente. Eu podia sentir cada polegada até que ele
finalmente me encheu por completo. Eu passei os meus dedos
ao redor do seu pescoço e o puxei para baixo para um beijo.
Eu amava beijar ele, a forma como sua barba arranhava
levemente o meu lábio, seu gosto, tudo. Eu nunca tinha o
suficiente.
Romero começou um ritmo lento, deslizando para fora,
apenas para voltar seu caminho para dentro outra vez — Se
acaricie, — ele ordenou em um murmúrio.
Eu não hesitei. Furtivamente coloquei o meu braço entre
nossos corpos e meus dedos encontraram meu clitóris.
Comecei a desenhar pequenos círculos. Ocasionalmente eu
encostava no pau de Romero e isso me levou ainda mais alto.
— Sim, baby, goze para mim, — Romero respondeu
asperamente. Ele beijou o meu pescoço e uma de suas mãos
agarrou minha perna e eu segurei o seu quadril. Eu me
acariciei ainda mais rápido e quando Romero empurrou dentro
de mim novamente, eu despedacei. Meu corpo arqueou para
fora da cama. Romero gemeu, seus empurrões chegando mais
e mais rápido e então eu o senti se liberar em mim.
Eu tremia com o meu orgasmo. Romero enterrou o seu
rosto contra o meu pescoço e eu corri minhas mãos pelo seu
cabelo e para baixo em suas costas. Depois de um momento,
ele rolou de cima de mim para ficar de costas, e me puxou
com ele, então eu estava sobre o seu peito. Corri meus dedos
sobre o cabelo em seu peito, e ouvi o seu batimento cardíaco
rápido.
— Eu não posso acreditar que você é finalmente minha.
Ninguém pode te levar para longe de mim agora, — Romero
deu um beijo no topo da minha cabeça. Eu sorri, satisfeita e
feliz. De repente, meus pensamentos estavam em Fabi,
imaginando o que ele estava fazendo agora. Sem ele e minhas
irmãs, eu não estaria deitada ao lado de Romero nesse
momento. Eles arriscaram muito pela minha felicidade, por
isso eu tinha Romero. Eu sempre seria grata por aquilo que
eles tinham feito por mim. Eu tentaria fazer os seus sacrifícios
valerem a pena, eu tentaria viver a vida ao máximo.
Eu me virei e Romero passou os braços em volta de mim
por trás. Já era tarde e eu estava exausta. Finalmente, Romero
adormeceu. Eu adorava ouvi-lo dormir ao meu lado. Isso
sempre veio para mim com facilidade.
A respiração de Romero se espalhou sobre o meu ombro
nu. Eu não conseguia dormir, embora estivesse saciada e
exausta. Saí debaixo do braço de Romero e também da cama.
Eu agarrei um roupão de banho e o coloquei antes que fizesse
o meu caminho até a porta e saísse para a varanda, que tinha
uma bela vista da casa e sobre o oceano. Amanhã teríamos que
voltar para Nova York, e então nossa vida como casal iria
realmente começar. Observei o céu noturno. As estrelas eram
sempre mais brilhantes fora da cidade, e ainda havia sempre
um par de estrelas que brilhava mais. Quando eu era criança,
costumava pensar que elas representavam as pessoas que já
tinham morrido, e que estavam nos assistindo como estrelas.
Eu tinha parado de acreditar nisso há muito tempo. Ainda
assim, algumas coisas não mudavam, e eu me perguntava se
em algum lugar, de alguma forma, minha mãe estava me
observando. Será que ela ficaria feliz por mim? Talvez até
mesmo se orgulhasse? Eu nunca iria descobrir, mas mantive
minha promessa a ela. Eu tinha arriscado tudo por amor e
felicidade. Olhei por cima do meu ombro para a forma
adormecida de Romero, e então com um último olhar para as
estrelas, voltei para a cama e me aconcheguei contra ele. Ele
colocou o seu braço em volta de mim. — Você saiu da cama
— ele murmurou.
— Eu precisava de ar fresco, — eu disse suavemente.
— Estou feliz que você está de volta.
— Eu amo você, — eu sussurrei.
Os braços de Romero apertaram ao meu redor e ele
beijou minha têmpora. — E eu amo você — talvez as coisas
nem sempre fossem fáceis no futuro, mas eu sabia que nunca
ia me arrepender de tomar essa decisão. O amor valia cada
risco.

Fim
Notas

[←1]
ERRATA: Nos livros anteriores usamos a tradução para se referir aos Made
Men (homem feito, homem iniciado). Porém percebemos que para melhor o
entendimento seria mais correto deixar o termo em inglês. Na Máfia
americana, um ‘made men’ é um membro totalmente iniciado da Máfia.

[←2]
Scrablle é um jogo onde as pessoas ganham letras (cada letra tem uma
pontuação, as vogais valem menos e as consoantes, mais) e devem formar
palavras. Quanto maior a palavra e mais consoantes usar, mais pontua.
Ganha quem fizer mais pontos.

[←3]
Red velvet, ou veludo vermelho, é o nome daquela massa de bolos e
cupcakes com a coloração bem avermelhada. Não necessariamente tem gosto
de morango ou alguma fruta vermelha, ela é chamada assim apenas pela sua
cor.

[←4]
Eles usam essa expressão em inglês para falar daquelas pessoas,
especialmente mulheres, superprotetoras.

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