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#4 Bound by Temptation
Série Born in Blood Mafia Chronicles
*****
ROMERO
1
Como Made Men , era nossa tarefa manter seguros
quem jurávamos proteger: os fracos, as crianças e as mulheres.
Eu, em particular, tinha dedicado minha vida a este objetivo.
Muitas tarefas em meu trabalho envolviam machucar os
outros, ser brutal e frio, mas manter as pessoas seguras sempre
me fez sentir como se não houvesse nada mais para mim do
que o mal. Não que isso importasse; se Luca me pedisse, eu
faria tudo de ruim que se podia imaginar. Era fácil esquecer
que, apesar de nossa ética e moral e códigos, nós, homens
iniciados, éramos o que a maioria das pessoas entendia como
mal. Eu me lembrei da nossa verdadeira natureza, da minha
verdadeira natureza, quando ouvi o grito de Liliana. Os gritos
dos russos não tinham me afetado. Eu já tinha ouvido gritos
piores antes. Mas aquele grito agudo, não terminado de uma
menina que eu fui designado para proteger, foi como uma
porra de uma facada no estômago.
A expressão em seus olhos foi o pior; eles me mostraram
exatamente o que eu era. Talvez um bom homem tivesse
jurado ser melhor, mas eu era bom em meu trabalho. A
maioria dos dias eu até gostava dele. Mesmo o rosto
aterrorizado de Liliana não me fez querer ser outra coisa que
não um mafioso. Naquela época eu não tinha percebido que
este vislumbre de brutalidade não era a pior maneira que eu
iria estragar a sua vida.
*****
LILIANA
Eu acordei com algo quente e macio debaixo do meu
corpo. Minha mente estava lenta, mas as lembranças eram
claras, me foquei ao redor quando finalmente ousei abrir os
olhos. Um movimento no canto atraiu a minha atenção.
Romero se encostou na parede à minha frente. Eu rapidamente
fiz uma verificação no quarto em que estava. Era um quarto de
hóspedes, e eu estava sozinha com Romero, a porta estava
fechada. Sem os efeitos persistentes do que Matteo injetou em
mim mais cedo, eu teria começado a gritar outra vez. Em vez
disso, assisti em silêncio quando Romero andou em minha
direção. Eu não estava certa porque tinha pensado nele como
inofensivo, agora cada movimento dele gritava perigo. Quando
ele quase chegou à cama, eu me encolhi, me pressionando
contra o travesseiro. Romero parou, seu olhar escuro
amoleceu, mas a sua bondade não podia mais me enganar, não
depois do que eu tinha visto. — Está tudo bem. Você está
segura.
Eu nunca me senti não segura em minha vida – até
agora. Eu queria a minha ignorância de volta. Eu não disse
nada.
Romero pegou um copo de água da mesa de cabeceira e
o estendeu para mim. Meus olhos procuraram a pele de suas
mãos para ver o sangue, mas ele deve ter limpado
completamente. Não havia o menor sinal de vermelho, nem
mesmo entre os dedos ou sob suas unhas. Ele provavelmente
tinha muita prática em limpar o sangue. A bile subiu à minha
garganta com o pensamento.
— Você precisa beber, criança.
Meus olhos voaram para o seu rosto. — Eu não sou uma
criança.
O fantasma de um sorriso cruzou o rosto de Romero. —
Claro que não, Liliana.
Procurei em seus olhos a zombaria, tentando obter uma
dica da escuridão que tinha estado lá no porão, mas ele se
parecia com o cara bom que eu queria que ele fosse. Me sentei
e peguei o copo dele. Minha mão tremia, mas eu consegui não
derramar água sobre mim. Depois de dois goles eu entreguei o
copo de volta a Romero.
— Você pode ir ver suas irmãs em breve, mas primeiro
Luca quer ter uma palavra sobre o que você viu hoje, — ele
disse calmamente.
O medo me espetou como uma lâmina fria. Eu deslizei
para fora da cama quando alguém bateu, Luca entrou em
seguida. Ele fechou a porta. Meus olhos dispararam dele para
Romero. Eu não queria desmoronar como eu tinha feito antes,
mas eu podia sentir outro ataque de pânico empurrando através
das drogas na minha corrente sanguínea. Eu nunca tinha
estado sozinha com eles, e após os acontecimentos de hoje, era
demais.
— Ninguém vai te machucar, — disse Luca em sua voz
profunda. Eu tentei acreditar nele. Aria parecia amá-lo, então
ele não podia ser ruim, e ele não estava no porão torturando os
russos. Arrisquei outro olhar para Romero, cujos olhos
pousaram em mim.
Abaixei meu rosto. — Eu sei, — eu finalmente disse, o
que provavelmente soou como uma grande mentira. Eu
respirei fundo e nivelei o meu olhar no queixo de Luca. —
Você queria falar comigo?
Luca assentiu. Ele não chegou mais perto, nem Romero.
Talvez o meu medo fosse claro como o dia para eles. — Você
não pode dizer a Aria sobre o que viu hoje. Ela vai ficar
chateada.
— Eu não vou dizer a ela, — eu prometi rapidamente.
Eu nunca tive a intenção de falar com ela. Eu não queria
recordar os acontecimentos, muito menos contar a alguém
sobre eles. Se eu pudesse, eu limparia a minha memória
instantaneamente.
Luca e Romero trocaram um olhar, então Luca abriu a
porta. — Você é muito mais razoável do que sua irmã Gianna.
Você me faz lembrar de Aria.
De alguma forma, suas palavras me fizeram sentir como
uma covarde. Não porque Aria era uma. Ela era tão corajosa
quanto Gianna, cada uma da sua maneira. Mas eu me senti
uma covarde porque concordei em manter silêncio por razões
egoístas, porque eu queria esquecer e não porque eu proteger
Aria da verdade. Eu tinha certeza que ela teria lidado com isso
melhor do que eu.
— Você pode levar ela até Gianna, mas se certifique de
que ela não fique caminhado pela casa outra vez, — disse ele
para Romero.
— E Aria? — eu soltei.
Luca ficou tenso. — Ela está dormindo. Você pode vê-la
mais tarde — com isso, ele saiu.
Eu passei meus braços em volta da minha cintura. — Os
meus pais sabem o que aconteceu?
— Sim. Seu pai vem buscar vocês assim que terminar
seus negócios, e então vocês voltarão para Chicago.
Provavelmente na parte da manhã — Romero esperou, mas eu
não me mexi. Por alguma razão o meu corpo se irritou com a
ideia de ir para mais perto dele, o que era ridículo,
considerando que não muito tempo atrás eu tinha fantasiado
sobre beijá-lo.
Ele abriu a porta e deu um passo atrás. — Tenho certeza
que sua irmã Gianna está ansiosa para ver você.
Respirando fundo, eu me forcei a caminhar em sua
direção. Seu corpo estava relaxado e seu rosto amável, e
apesar do terror e medo ainda fervendo no fundo do meu
corpo, meu estômago vibrou levemente quando eu passei por
ele. Talvez fosse choque. Eu não poderia continuar a ter uma
queda por ele depois de hoje.
Capítulo Dois
LILIANA
*****
Cinquenta minutos depois, chegamos ao prédio de Luca
e Aria. Eu chequei o meu reflexo nos espelhos do elevador, me
certificando de que a minha maquiagem estava no lugar e eu
não tinha nada entre os dentes. Fazia meses desde que eu tinha
visto Romero pela última vez e queria causar uma boa
impressão. Mas quando entramos no apartamento, ele ainda
não estava lá. Meus olhos dispararam ao redor e,
eventualmente, Aria se inclinou para mim, sussurrando. —
Romero não está por perto porque Matteo e Luca estão aqui
para nos proteger.
— Eu não estava procurando por ele, — eu disse
rapidamente, mas ela não acreditou. Eu olhei para longe antes
que ela pudesse ver o meu rubor.
— Claro, — Aria disse com um sorriso. — Ele vai vir
mais tarde, quando Matteo e Luca saírem para os negócios.
Uma excitação borbulhou dentro de mim, mas era
misturada com enjoo e nervosismo também. Eu tinha
pesadelos ocasionais sobre aquela noite no porão, não sobre
Romero em particular, mas eu me perguntava se um encontro
ao vivo traria à tona mais dessas coisas ruins. Mas essa não era
a principal razão pela qual eu estava nervosa. Até agora
Romero tinha sempre me ignorado, bem, não eu, mas a minha
paquera. Ele me tratava como uma criança. Talvez ele
finalmente mostrasse mais interesse, ou algum interesse.
Afinal, eu estava fazendo quinze anos e não era como se eu
não tivesse pegado muitos dos soldados do meu pai de olho
em mim. Talvez eu não fosse o tipo de Romero, não importava
a minha idade. Eu nem sequer sabia se ele estava namorando
ou era prometido a alguém.
Durante o jantar, eu podia dizer que Aria e Gianna
estavam trocando olhares furtivos. Eu não sabia o que isso
significava. Elas estavam falando de mim?
O elevador apitou e iniciou a sua descida para quem o
tivesse chamado.
— É Romero, — disse Aria. Luca me deu um olhar
estranho, mas eu não reagi, apenas balancei a cabeça como se
eu não me importasse, mas fiquei feliz com o aviso de Aria.
— Eu preciso ir ao banheiro, — eu disse, tentando
parecer casual. Gianna revirou os olhos. Peguei minha bolsa
do chão e corri para o banheiro das visitas. Quando fechei a
porta, ouvi as portas do elevador sendo abertas. Um momento
depois, a voz de Romero tocou meus ouvidos. Era profunda,
mas não áspera. Eu amava o som dela.
Eu enfrentei o espelho e rapidamente retoquei a minha
maquiagem e arrumei o meu cabelo loiro curto. Não era tão
brilhante e bonito como o de Aria e não era atraente como o
cabelo ruivo de Gianna, mas poderia ser pior. Os outros iriam
perceber que eu tinha ido ao banheiro me fazer mais
apresentável, pelo menos minhas irmãs com certeza notariam,
mas eu não me importava. Eu queria ficar bonita para Romero.
Tentando parecer tranquila, saí do banheiro. Romero tomou
assento na mesa e estava servindo um prato com o que sobrou
da nossa sobremesa: Tiramisu e Panna Cotta. Ele estava
sentado na cadeira ao meu lado. Olhei para Aria me
perguntando se ela tinha algo a ver com isso. Ela
simplesmente sorriu para mim, mas Gianna nem se incomodou
em esconder a sua diversão. Eu realmente esperava que ela
não fosse me envergonhar na frente de todos. Eu caminhei até
a minha cadeira, esperando que eu parecesse crescida e
descontraída, mas além de um sorriso rápido, Romero não me
deu qualquer atenção. Decepção se abateu pesadamente no
meu estômago. Me sentei ao lado dele e tomei um gole da
minha água, mais para ter algo para fazer do por estar
realmente com sede.
Se eu pensei que o desinteresse óbvio de Romero por
mim tinha sido a completa extensão da minha vergonha, eu
estava redondamente enganada. Uma vez que Matteo e Luca
tinham saído para algum tipo de reunião de negócios, ficou
óbvio que Gianna e Aria estavam procurando uma chance de
ficarem sozinhas. Elas poderiam ter apenas me pedido para
sair, mas aparentemente elas também precisavam se livrar de
Romero. Aria se inclinou para sussurrar no meu ouvido. —
Você pode distrair Romero por um tempo? É importante — eu
não tive a chance de recusar ou fazer qualquer pergunta.
2
— Romero, por que você não joga Scrabble com Lily?
Ela parece estar incrivelmente entediada, e eu e Aria
precisamos conversar um momento, — disse Gianna
incisivamente.
Meu rosto queimou com vergonha. Gianna geralmente
sabia como me constranger assim. Ela fazia soar como se
Romero precisasse cuidar das crianças enquanto ela e Aria
discutiam coisas importantes.
Romero saiu da cozinha, onde ele estava verificando seu
celular, e parou ao meu lado na mesa da sala de jantar. Eu mal
conseguia olhar para ele. O que ele pensava de mim agora?
Olhei para cima através dos meus cílios. Ele não parecia
irritado, mas isso não significava que ele realmente queria
passar sua noite me entretendo. Ele era um guarda-costas, e
não uma babá. — Minha irmã parece que prefere passar o
tempo dela com você, — disse Gianna. Em seguida, seus olhos
castanhos desceram em mim. — Você tem certeza que quer
jogar Scrabble comigo? — ele perguntou, e eu não pude deixar
de sorrir. Poucas pessoas já pararam para me perguntar o que
eu queria, e até mesmo as minhas irmãs, ocasionalmente,
esqueciam que eu era uma pessoa com as minhas próprias
opiniões e desejos.
Aria e Gianna me deram um olhar significativo. Eu
precisava convencer Romero de que eu queria ficar com ele ou
eu estragaria as coisas para elas. — Sim, eu realmente quero
jogar Scrabble com você. Eu adoro esse jogo, por favor? — eu
disse com um sorriso brilhante. Eu nem sequer me lembrava
quando tinha jogado pela última vez. Nossa família nunca
jogava jogos de tabuleiro.
Romero olhou para minhas irmãs. Havia um indício de
suspeita em seu rosto. — Vocês poderiam se juntar a nós, —
disse ele.
— Eu prefiro jogar sozinha com você, — eu disse em
um tom de flerte. Gianna piscou para mim quando Romero
não estava olhando. — Minhas irmãs odeiam Scrabble, assim
como todo mundo que eu conheço. Você é minha única
esperança.
Um sorriso puxou os lábios de Romero e ele concordou.
— Tudo bem, mas seja paciente. Faz um tempo desde que eu
joguei pela última vez.
Jogar Scrabble com Romero foi realmente muito
divertido. Era a primeira vez que passávamos um tempo de
verdade só nós dois, sozinhos. Eu levantei o olhar da palavra
que eu tinha acabado de formar, debatendo se eu deveria fazer
a pergunta que estava queimando um buraco no meu
estômago. Romero estava ocupado tentando descobrir sua
próxima palavra. Suas sobrancelhas escuras estavam
arqueadas juntas de uma maneira adorável. Eu queria me
inclinar e beijar ele. — Você tem namorada? — eu soltei
quando não consegui mais segurar. E então eu queria morrer
ali mesmo. Aparentemente, eu não precisava das minhas irmãs
para me envergonhar. Eu estava indo muito bem por conta
própria.
Romero olhou para cima. Havia surpresa e diversão em
seu rosto. Eu podia sentir um rubor viajando até o meu
pescoço. Muito bem, Lily. Eu tinha soado como uma idiota. —
É essa a sua maneira de me distrair do jogo para que você
possa ganhar?
Eu ri, feliz que ele não estivesse com raiva de mim por
fazer uma pergunta tão pessoal. Ele voltou sua atenção para as
letras na sua frente, e minha diversão desapareceu quando
percebi que ele não tinha respondido à minha pergunta. Isso
significava que ele tinha uma namorada? Eu não poderia
perguntar novamente sem soar desesperada.
Eu afundei ainda mais na minha cadeira, irritada. Meus
olhos dispararam em direção ao terraço da cobertura, onde
minhas irmãs estavam.
Aria e Gianna provavelmente pensavam que eu não
sabia que elas estavam tramando algo. Elas pensavam que eu
estava alheia a tudo acontecendo ao meu redor. Só porque eu
estava flertando com Romero não significava, no entanto, que
eu não percebia os olhares secretos que elas compartilhavam.
Eu não perguntava, porque eu sabia que elas não iam me dizer
de qualquer jeito, e eu me sentiria ainda mais como o estepe de
um carro. Elas não faziam isso para serem cruéis, mas
machucava mesmo assim. Aria parecia chateada com algo que
Gianna tinha dito. Eu tive que resistir à tentação de ir até elas e
tentar a minha sorte.
— É a sua vez, — a voz de Romero me fez pular.
Corei e rapidamente fiz uma varredura das palavras no
tabuleiro, mas a minha concentração tinha acabado.
— Você quer parar? — Romero perguntou depois de
alguns minutos. Parecia que era algo que ele queria. Ele
provavelmente estava entediado como o inferno.
Empurrando a minha decepção para baixo, eu assenti. —
Sim. Eu vou ler um pouco no meu quarto, — me levantei
esperando que meu rosto não mostrasse as minhas emoções,
mas eu não precisava me preocupar. Romero me deu um
sorriso distraído e pegou seu telefone para verificar as
mensagens. Recuei lentamente. Ele não olhou para mim outra
vez. Eu precisava descobrir uma maneira de chamar a sua
atenção, uma que não envolvesse jogos estúpidos.
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*****
ROMERO
Eu sabia que Liliana tinha uma queda por mim. Aria
tinha mencionado isso antes, mas eu nunca esperei que a
menina fosse agir e mostrar seus sentimentos. Ela era uma
criança bonita. Uma criança.
Eu não tinha o menor interesse nela e logo ela entenderia
isso. Ela parecia estar sentindo a porra de uma dor quando eu a
empurrei para longe, mas eu não tinha escolha. Mesmo que ela
não fosse uma criança, eu não poderia deixar que ela me
beijasse.
Quando voltei para a sala de estar, Luca andou até mim.
— O que foi aquilo? Por que Liliana foi até você?
Claro que ele tinha notado. Luca nunca perdia nada.
— Ela tentou me beijar.
As sobrancelhas de Luca subiram. — Eu suponho que
você a afastou.
— Você realmente tem que perguntar? Ela tem a idade
da minha irmã.
— Sua idade não é o principal problema. Pelo menos
não aos olhos do pai dela.
— Eu sei, — eu era um soldado, e meninas como Liliana
deveriam ficar em seus próprios círculos sociais.
Luca suspirou. — Essa menina vai dar tanto problema
quanto Gianna, se não mais.
Eu tinha a sensação de que ele poderia estar certo.
Capítulo Três
LILIANA
— Essa menina me deixa nervoso! Desde o dia em que
ela nasceu não foi nada além de problemas! — as palavras do
meu pai ecoaram pela casa. Fabiano olhou para mim como se
eu soubesse as respostas para suas perguntas. Minha própria
mente era um enorme ponto de interrogação. Eu não tinha
certeza do que tinha acontecido, mas conseguir pegar a
essência. Gianna tinha desaparecido enquanto estava em Nova
York com Aria. Agora todo mundo estava procurando por ela.
Não admirava que Aria não tivesse me pedido para visitar ela
também. Não que eu estivesse muito interessada em voltar à
Nova York depois do meu último encontro constrangedor com
Romero, quatro semanas atrás. Mas ainda doeu que Aria e
Gianna tivessem feito planos pelas minhas costas, pelas costas
de todo mundo.
Desci as escadas, fazendo sinal para Fabi ficar onde
estava, e então avancei em direção ao escritório do pai. Minha
mãe estava lá, chorando. O pai estava ao telefone, e apesar da
sua raiva, aparentava estar contido, então eu assumi que era o
seu chefe, Cavallaro. Cavallaro era a única pessoa que o pai
verdadeiramente respeitava. Minha mãe me viu na porta e
rapidamente balançou a cabeça, mas eu dei mais um passo
para frente e entrei no escritório.
Eu sabia que era melhor ficar longe do pai quando ele
estava com o humor assim, mesmo que ele geralmente
atacasse Gianna, e não a mim, mas a minha irmã tinha ido
embora agora.
Meu pai desligou, então estreitou os olhos para mim. —
Será que eu permiti que você entrasse?
Sua voz me atingiu como um chicote, mas eu mantive
minha posição. — O que aconteceu com Gianna?
Minha mãe me mandou um olhar de advertência.
— Sua irmã fugiu. Ela provavelmente conseguiu
engravidar de um idiota e arruinou a sua reputação e a da
nossa família.
— Talvez ela volte, — eu sugeri. Mas de alguma forma
eu sabia que ela não iria. Isso não era um impulso, coisa de
momento. Ela tinha planejado isso, provavelmente por meses.
Isso explicava todos os segredos com Aria durante a nossa
última visita a Nova York. Por que elas não tinham me dito?
Será que elas não confiavam em mim? Será que elas pensavam
que eu ia contar ao nosso pai na primeira chance que tivesse?
E então outro pensamento se enterrou no meu cérebro. Se
Gianna tinha ido embora, e se ela não tinha se casado com
Matteo, quem se casaria com ele? O medo tomou conta de
mim. Será que meu pai me faria casar com Matteo? Eu
esperava poder casar por amor, agora que minhas irmãs já
haviam casado por razões táticas. Talvez fosse uma coisa
egoísta de pensar em uma situação como esta, mas eu não
podia fazer diferente. Uma imagem de Romero surgiu na
minha cabeça. Eu sabia que era bobagem pensar que ele viria
para o casamento. Ainda que Gianna voltasse e ainda que ela
se casasse com Matteo, seria quase impossível convencer o pai
a me dar a um mero soldado, especialmente um de Nova York.
E então havia o problema de que ele não me queria e eu
prometi superá-lo.
Eu sabia tudo isso, mas não significava que eu não podia
esperar e sonhar, às vezes isso parecia tudo que eu podia fazer.
— Com quantos homens será que Gianna já esteve? Ela
não vai valer nada, mesmo que ela retorne, — meu pai cuspiu.
Eu estremeci, horrorizada com suas palavras duras. Não valer
nada? Certamente éramos mais para ele do que mercadoria
para vender. Mais do que um pequeno pedaço de carne entre
as pernas?
Meu pai agarrou os meus ombros, os olhos queimando
em mim. Eu recuei, mas ele não me soltou. — Não pense que
eu não vejo o que você está fazendo com os meus soldados.
Você é muito parecida com Gianna. Eu não vou ter outra filha
me fazendo de idiota.
— Eu não vou, — eu sussurrei. O pai nunca tinha falado
comigo naquele tom antes. Sua expressão e palavras me
fizeram sentir barata e indigna, como se eu precisasse limpar
os meus pensamentos impuros.
— Está certo. Eu não me importo se eu tiver que trancar
você em seu quarto até o dia do casamento para proteger a sua
reputação e honra.
Isso não era sobre a minha reputação ou honra. Eu não
me importava com isso. Isso era tudo sobre o meu pai. Era
sempre sobre os homens na família, o que eles queriam e
esperavam.
— Rocco, Lily é uma boa menina. Ela não vai fazer
nada, — minha mãe disse cuidadosamente. Isso não era o que
ela geralmente me dizia. Ela sempre me avisava que eu estava
flertando muito, consciente demais do efeito que meu corpo
tinha sobre os homens. Mas eu estava feliz com seu apoio,
porque muitas vezes ela permanecia em silêncio quando meu
pai tinha atacado Gianna da mesma forma.
O pai me soltou e se virou para ela. — Era o seu trabalho
criar meninas decentes. Para o seu bem, espero que você esteja
certa e que Liliana não siga os passos de Gianna — a ameaça
em sua voz me fez estremecer. Como ele podia ser tão horrível
com sua própria esposa?
Mamãe empalideceu. Eu recuei e ninguém tentou me
parar. Eu rapidamente corri para cima. Fabi esperava por mim,
os olhos arregalados e curiosos. — O que aconteceu? — ele
perguntou com medo.
Eu balancei a cabeça em resposta, sem humor para
recapitular tudo para ele, e saí em direção ao meu quarto.
Eu nunca tinha estado no centro da ira do pai assim. Mas
agora que Gianna tinha ido, ele iria manter um olho extra em
mim, se certificando de que eu era a mulher perfeita que ele
queria que suas filhas fossem. Eu sempre me senti livre, nunca
entendi por que Gianna se sentia tão presa por nossa vida, mas
então comecei a entender. As coisas iriam mudar a partir de
agora.
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ROMERO
Luca tinha negócios para tratar com Scuderi e Dante
Cavallaro; essa foi a única razão pela qual eu vim para
Chicago com eles. E agora quando eu estava na porta da
mansão Scuderi, olhando para Liliana, me perguntei se eu não
deveria ter arranjado uma desculpa. A última vez que eu vi
Lily ela ainda era uma menina, e mesmo que ela ainda não
fosse uma mulher, tinha crescido muito. Ela estava
deslumbrante pra caralho. Era difícil não olhar para ela. E era
fácil esquecer que ainda havia alguns meses até que ela se
tornasse maior de idade, fácil de esquecer que ela estava fora
do meu alcance.
Ela inclinou a cabeça em saudação e deu um passo atrás.
Onde estava a menina que corava e flertava? Tive que admitir
que fiquei triste que ela não estava me dando o seu sorriso
sedutor, embora isso sempre tivesse me incomodado no
passado.
Segui Luca e Aria para dentro de casa. Eu podia ouvir os
passos de Lily próximos atrás de mim, podia sentir o seu
perfume floral e até mesmo ver o seu corpo esguio com o
canto do meu olho. Precisei de muito controle para não virar a
cabeça por cima do meu ombro e dar outra boa olhada dela.
Passei as próximas duas horas observando ela
discretamente enquanto fingia estar ocupado cuidando de Aria,
não que eu tivesse muito que fazer de qualquer maneira. Mas
quanto mais eu observava Lily, mais eu percebia que algo
estava errado. Sempre que ela pensava que ninguém estava
prestando atenção, ela parecia desinflar e seu sorriso
desaparecia, seus ombros caiam. Ela era uma boa atriz quando
estava dando toda sua atenção, mas seus poucos momentos de
desatenção eram o suficiente para mim. Ao longo dos anos,
servindo como guarda-costas, eu tinha aprendido a estar ciente
até mesmo dos pequenos sinais.
Quando ela deixou a sala e não voltou, a preocupação
me superou. Mas ela não era minha responsabilidade. Aria era.
Olhei para a mulher de Luca. Ela estava em uma profunda
conversa com sua mãe e Valentina Cavallaro. Me desculpei.
Ela estaria segura aqui. Luca estava na sala da frente, no que
parecia ser uma discussão com Dante e Scuderi.
Uma vez que eu me encontrei no saguão, hesitei. Eu não
tinha certeza de onde Liliana tinha ido e eu não podia procurar
na casa inteira por ela. Se alguém me encontrasse, poderia
pensar que eu estava espionando para Luca. Um som no
corredor à minha direita chamou a minha atenção, e depois de
ter certeza que eu estava sozinho, segui por ali até que avistei
Liliana. Ela estava encostada na parede, a cabeça jogada para
trás, os olhos fechados. Eu podia dizer que ela estava tentando
se manter focada e, ainda assim, era um espetáculo a ser visto.
Fodidamente linda. Um dia um homem teria muita sorte de
estar casado com ela.
A ideia de vê-la casada mexeu comigo, mas eu não
podia ter essa reação estranha. Andei em direção a ela, me
certificando de fazer os meus passos audíveis para que ela
soubesse que não estava mais sozinha. Ela ficou tensa, abriu
bem os olhos, e quando me viu, relaxou e fechou os olhos
outra vez. Eu não tinha certeza do que fazer a partir da sua
reação à minha presença. Parei a alguns passos dela. Meu
olhar viajou pelas suas pernas longas e magras, e então eu
rapidamente voltei para o seu rosto. — Liliana, está tudo bem?
Você saiu faz um tempo.
— Por que você insiste em me chamar de Liliana quando
todo mundo sempre me chama de Lily? — ela abriu os olhos
de novo e deu um sorriso amargo. Ela tinha os olhos azuis
mais incríveis do caralho. — Foi a minha irmã que pediu para
você me vigiar? — ela perguntou em tom acusador.
Como se eu precisasse de alguém para me dizer para
fazer isso. Tinha sido quase impossível tirar os meus olhos de
Liliana esta noite. — Não, ela não pediu, — eu disse
simplesmente.
Seus olhos azuis pareciam confusos, então ela virou o
rosto para o lado, me deixando olhar seu perfil. Seu queixo
tremeu, mas ela engoliu em seco e sua expressão endureceu.
— Você não precisa ir cuidar de Aria?
— Luca está lá, — eu disse. Cheguei um pouco mais
perto, muito perto. O perfume de Lily flutuou até meu nariz,
me deu vontade de enterrar o rosto em seu cabelo. Deus, eu
estava perdendo a minha cabeça fodida. — Eu posso dizer que
algo está errado. Por que você não me conta?
Lily cerrou os olhos. — Por quê? Eu não sou sua
responsabilidade. E da última vez que nos vimos você não
parecia gostar muito de mim.
Ela ainda estava com raiva de mim por impedi-la de me
beijar em seu aniversário a mais de dois anos atrás? — Talvez
eu possa te ajudar, — eu disse.
Ela suspirou, seus ombros caindo um pouco mais. Com
essa expressão de cansaço ela parecia um pouco mais velha,
como uma mulher adulta já, e eu tive que me lembrar mais
uma vez da minha promessa e do meu juramento. Seus olhos
se encheram de lágrimas quando ela olhou para mim, mas elas
não caíram.
— Ei, — eu disse suavemente. Eu queria tocá-la, tirar
seu cabelo do rosto. Porra. Eu queria muito mais do que isso,
mas fiquei onde estava. Eu não podia sair por aí tocando a
filha do Consigliere da Outfit. Eu nem deveria estar a sós com
ela.
— Você não pode dizer a ninguém, — disse ela.
Eu hesitei. Luca era o meu Capo. Havia certas coisas que
eu não poderia esconder dele. — Você sabe que eu não posso
prometer isso antes de saber o que você vai me dizer — e
então eu me perguntei se talvez ela estivesse grávida, se talvez
alguém tivesse quebrado seu coração, e a ideia me deixou
furioso. Eu não deveria querer ela, eu não podia querer ela, e
ainda assim…
— Eu sei, mas não é sobre a Outfit ou a Família. É… —
ela baixou os olhos e engoliu. — Deus, eu não deveria contar a
ninguém. E eu odeio isso. Eu odeio que estamos mantendo as
aparências quando tudo está desmoronando.
Eu esperei pacientemente, dando o tempo que ela,
obviamente, precisava.
Seus ombros começaram a tremer, mas ela ainda não
chorou. Eu não tinha certeza de como ela conseguiu isso. —
Minha mãe tem câncer.
Isso não era o que eu esperava. Embora, agora que eu
pensava sobre isso, sua mãe parecia pálida, apesar da espessa
camada de maquiagem em seu rosto.
Toquei o ombro nu de Lily e tentei ignorar como era
bom sentir sua pele lisa. — Eu sinto muito. Por que você não
fala com Aria sobre isso? Eu pensei que você e sua irmã
conversavam sobre tudo.
— Gianna e Aria conversam sobre tudo. Eu sou a irmã
mais nova, a quinta roda — ela parecia amarga. — Desculpe,
— ela soltou um longo suspiro, obviamente tentando obter
controle sobre suas emoções. — Meu pai me proibiu de dizer a
alguém, até mesmo a Aria, e aqui eu estou lhe contando.
— Eu não vou contar a ninguém, — eu prometi antes
que pudesse realmente pensar sobre isso. O que eu estava
fazendo prometendo esse tipo de coisa a Lily? Luca e a
Família eram a minha prioridade. Eu tinha que considerar as
consequências, se a esposa do Consigliere estava doente. Isso
enfraqueceria a Outfit? Luca poderia pensar assim. E não
apenas isso, eu deveria proteger Aria. Não era o meu trabalho
lhe dizer que a sua mãe estava doente? Esses eram os
problemas que surgiam quando você começava a pensar com o
pau. As coisas sempre ficavam confusas.
Lily inclinou a cabeça para o lado com uma expressão
curiosa. —Você não vai?
Me debrucei contra a parede ao lado dela, perguntando
como eu podia sair disso. — Mas você não acha que deve
dizer à sua irmã? É a mãe dela. Ela merece saber a verdade.
— Eu sei, você acha que eu não sei? — ela sussurrou
desesperadamente. — Eu quero dizer a ela. Eu me sinto tão
culpada por manter isso em segredo. Por que você acha que eu
estou me escondendo no corredor?
— Então diga a ela.
— Meu pai ficaria furioso se descobrisse. Ele esteve no
limite por um longo tempo. Às vezes eu acho que é preciso
apenas o menor incidente e ele vai colocar uma bala na minha
cabeça.
Ela parecia com medo de seu próprio pai. E o
desgraçado era assustador. Eu peguei a mão dela. — Ele fez
alguma coisa para você? Tenho certeza de que Luca poderia
descobrir uma maneira de te manter segura — o que diabos eu
estava falando? Scuderi iria convencer Dante a começar uma
guerra se Luca levasse a sua filha mais nova para longe dele.
Você nunca deveria se envolver em problemas familiares de
outras pessoas. Essa era uma das regras mais importantes em
nosso mundo.
— Papai não permitiria isso, — disse ela com
naturalidade. Ela realmente não era a mais a garota que eu
conheci da primeira vez. Esse mundo tirou sua inocência
muito cedo. — E ele não fez nada, mas ele ficaria furioso se eu
fosse contra suas ordens diretas.
— Você sabe que sua irmã, nunca contaria a ninguém.
— Mas então ela teria que suportar esse segredo e não
seria sequer capaz de falar com a mãe sobre isso. Por que tudo
é tão confuso? Por que eu não posso ter uma família normal?
— Nós não podemos escolher a nossa família.
— E no meu caso, nem mesmo o meu futuro marido, —
disse ela. Então ela balançou a cabeça. — Eu não sei por que
eu disse isso. Não é com isso que eu deveria estar preocupada
agora, — ela olhou para a minha mão, que ainda estava
segurando a dela. Eu soltei. Se Scuderi ou um de seus homens
nos visse, o homem teria um novo motivo para infernizar
nossas vidas.
— Você sabe o que? Eu vou contar a ela, — disse Lily
de repente. Ela se endireitou e me deu um sorriso agradecido.
— Você está certo. Aria merece saber a verdade — agora que
ela não estava mais encostada na parede, estávamos ainda
mais perto um do outro. Eu deveria ter dado um passo para
trás para manter a distância, mas em vez disso os meus olhos
foram atraídos para os seus lábios.
Lily me surpreendeu indo embora. — Obrigada por sua
ajuda — eu a vi virar a esquina, e então ela se foi.
*****
LILIANA
Meu coração batia rápido no peito, não só porque eu
tinha estado sozinha com Romero e mal tinha conseguido sair
sem beijá-lo, mas porque eu estava determinada a ir contra as
ordens do pai. Talvez Romero tivesse dito a verdade e ele não
fosse contar nada para minha irmã e Luca sobre a minha mãe,
mas por que ele realmente deveria guardar esse segredo para
mim? Nós não éramos um casal, não éramos nem sequer
amigos. Nós não éramos nada um do outro. O pensamento fez
meu estômago ficar pesado.
Era melhor se eu contasse tudo para Aria agora. Ela iria
descobrir eventualmente, e eu queria que fosse através de
mim. A encontrei na sala de estar, um prato com prosciutto em
sua mão. Ela estava falando com Valentina. Eu andei em
direção a elas e Valentina me notou pela primeira vez. Houve
um lampejo de piedade em seus olhos verdes antes que ela
sorrisse para mim. Será que ela sabia?
Claro que sim. Papai provavelmente tinha dito a seu
chefe, Dante, imediatamente, e Dante havia contado à sua
esposa. Será que o pai tinha dito para outras pessoas também?
Pessoas que ele achava mais merecedoras da verdade do que
sua própria família? — Oi Val, — eu disse. — Posso roubar
Aria de você por um momento? Eu tenho que falar com ela.
Aria me deu um olhar interrogativo, mas Valentina
apenas acenou a cabeça. Liguei meu braço ao da minha irmã e
casualmente saí da sala com ela. Eu não queria que meus pais
ficassem desconfiados. Eu peguei o olhar de Romero no outro
extremo do cômodo. Ele estava ao lado de Luca e Dante, mas
estava olhando para mim. Ele me deu um pequeno aceno
encorajador e de alguma forma esse pequeno gesto me fez
sentir melhor. Nos últimos dois anos eu me convenci de que a
coisa com Romero era nada além de uma paixão boba, mas
agora eu não tinha mais tanta certeza.
— Lily, o que está acontecendo? Você tem agido de um
jeito muito estranho durante toda a noite, — Aria sussurrou
enquanto nós íamos em direção ao hall de entrada.
— Eu vou dizer a você em um momento. Eu quero que a
gente fique sozinhas.
O rosto de Aria nublou com preocupação. — Aconteceu
alguma coisa? Você precisa de ajuda?
A levei para o meu quarto no andar de cima. Quando a
porta se fechou atrás de nós, eu soltei Aria e me afundei na
minha cama. Aria se sentou ao meu lado.
— É a mãe, — eu disse em um sussurro. — Ela tem
câncer de pulmão — talvez eu devesse ter dito a ela de uma
forma menos direta, mas isso não teria feito a notícia menos
horrível.
Aria olhou para mim com os olhos arregalados, então ela
caiu contra a parede, liberando uma respiração dura. — Oh,
Deus. Eu vi que ela parecia exausta, mas achei que fosse por
causa de alguma briga com o pai.
— Eles estão brigando sempre, e isso está deixando tudo
pior.
Aria colocou o braço em volta de mim e por um
momento nós nos abraçamos em silêncio. — Por que você não
me disse?
— O pai não quer que ninguém saiba. Na verdade, ele
me proibiu de te dizer.
Aria se afastou. — Ele proibiu você?
— Ele quer manter as aparências. Acho que ele está
envergonhado pela doença dela — eu hesitei. — É por isso
que eu não lhe disse imediatamente. Eu não sabia o que fazer,
mas eu conversei com Romero e ele me convenceu a lhe dizer.
Aria procurou meu rosto. — Romero, hm?
Eu dei de ombros. — Você vai contar a Gianna quando
estiver de volta a Nova York?
— É claro, — disse Aria. — Eu odeio que ela não possa
estar aqui — ela suspirou. — Eu quero falar com a mãe sobre
isso. Ela precisa do nosso apoio, mas como podemos fazer isso
se ela acha que não sabemos?
Eu não sabia como fazer isso. — Eu odeio como o pai
está agindo. Ele é tão frio em relação a ela. Você, Aria, tanta
sorte de ter um marido que se preocupa com você.
— Eu sei. Um dia você vai ter isso também.
Eu realmente esperava que ela estivesse certa. Uma vida
com alguém como o meu pai seria um inferno que eu não
poderia sobreviver.
*****
*****
*****
*****
*****
ROMERO
Eu não deveria sequer considerar estar a sós com Lily,
nem agora, nem nunca. Não quando eu não conseguia parar de
notar como ela tinha crescido. Ela não era mais a menina que
eu conheci. Ela era uma mulher em idade de casar agora, mas
estava fora do meu alcance. Pelo menos para os padrões do
seu pai. Eu era um dos melhores lutadores de Nova York,
apenas Luca e Matteo eram tão bons com uma faca ou uma
arma, e eu não era exatamente pobre, mas definitivamente não
era da realeza da máfia e não podia pagar por uma cobertura
como a de Luca. Eu não tinha certeza por que diabos eu estava
pensando sobre esse tipo de coisas agora. Eu não ia pedir a
mão de Lily, nem agora, nem nunca, e, neste momento havia
coisas mais importantes para cuidar.
Subindo as escadas, segui o som da discussão. Era
Gianna e seu pai novamente, e Luca parecia estar tentando
impedir um de arrancar fora a cabeça do outro. O único
problema era que ele parecia estar perto de perder a sua
própria paciência de merda. Andei em direção a eles e Luca
me deu um ilhar exasperado. Scuderi era um pé no saco, e
Luca não era a pessoa mais paciente desse planeta. Uma
combinação ruim. Ele veio em minha direção. — Eu vou
perder a porra da minha cabeça se Gianna e esse velho não
pararem de brigar.
— Lily está levando isso da pior maneira. Ela teve de
testemunhar a deterioração de sua mãe durante meses. Eu
quero levar ela lá fora, para dar uma caminhada e tomar um
café, colocar sua mente um pouco longe disso.
Luca estudou o meu rosto com uma expressão que eu
não gostei nem um pouco. — Claro, mas eu realmente não
preciso de mais nenhum problema. As coisas entre Nova York
e Chicago já estão abaladas.
— Eu não vou fazer nada que prejudique a nossa relação
com Chicago.
Luca acenou com a cabeça, mas ele não parecia
convencido. Ele olhou de volta para Scuderi e suas duas filhas.
— É melhor eu voltar para lá. Esteja de volta antes do jantar,
então Scuderi não vai saber que Liliana saiu de casa. O
bastado quase não presta atenção em nada, muito menos
naquela garota.
Girei em meus calcanhares e saí, deixando Luca em sua
tarefa de merda de separar Scuderi e Gianna. Lily estava
sentada à mesa da cozinha quando entrei, mas se levantou
rapidamente, com uma expressão de esperança em seu rosto
bonito. Bonito? Que porra é essa, Romero? Eu não podia
começar a pensar assim enquanto eu estivesse perto dela. A
linha seria cruzada facilmente, e Luca estava certo. Nós não
precisávamos de mais merda no nosso prato.
— E então? Podemos ir? — Lily perguntou com aquele
mesmo sorriso esperançoso no rosto.
Parei a uma certa distância dela. — Sim, mas precisamos
voltar antes do jantar.
Isso nos deixava um pouco mais de duas horas.
Uma pitada de decepção cintilou em seus olhos, mas foi
embora rapidamente. — Então vamos.
Nós saímos da casa e Lily parou na calçada e inclinou a
cabeça para cima com uma expressão feliz. Os raios solares
atingiram o seu rosto em um brilho suave. — Isto é tão bom,
— disse ela baixinho.
Eu sei de muitas coisas que se sentiriam ainda melhores.
Como seria o seu rosto no auge da paixão? Era algo que
eu provavelmente nunca iria descobrir. Eu não disse nada, só
assisti enquanto ela bebia do sol.
Ela piscou para mim com um sorriso envergonhado. —
Desculpa. Estou perdendo tempo. Nós deveríamos tomar um
café e não ficar na calçada durante todo o dia.
— Isto é para você. Se você preferir ficar aqui e
aproveitar o sol, podemos fazer isso também. Eu não me
importo, — me importar era pouco. Observar Lily era algo que
eu poderia fazer o dia todo.
Ela balançou a cabeça. Seus cabelos loiros caíam em
ondas suaves sobre os seus ombros e eu tive que me impedir
de estender a mão e deixar alguns fios deslizarem entre os
meus dedos. Por alguma razão que nem eu sabia, estendi meu
braço para ela. Lily enganchou seu braço no meu sem
hesitação, um sorriso torcendo seus lábios quando ela olhou
para mim. Caramba. Eu a levei rua abaixo. — Você conhece
um bom café? Eu estive em Chicago muitas vezes nos últimos
anos, mas não estou familiarizado com os bons lugares para ir.
— A uma caminhada de apenas dez minutos existe uma
pequena cafeteria com um café fantástico, e cupcakes
deliciosos. Nós poderíamos ir lá. Eu normalmente
encomendaria tudo, mas poderíamos nos sentar lá se você
quiser? — havia muitas coisas que eu queria, a maioria deles
envolvia Lily nua em minha cama.
— Isso parece bom. Mostre o caminho.
— Sabe o que eu gosto em você? Você é tão fácil e
relaxante. Você parece o vizinho legal da casa ao lado.
Agradável e gentil.
— Lily, eu sou um Made Men. Não faça de mim o herói
que eu não sou. Eu não sou o tipo agradável.
— Para mim você é, — disse ela levemente. Seus olhos
azuis estavam muito confiantes. Ela não sabia as coisas que eu
estava pensando sobre ela, a maioria delas não eram boas. Eu
queria fazer muitas coisas sujas, ela nem sequer compreendia a
metade delas, e era por isso que eu precisava manter a minha
distância. Talvez ela parecesse crescida, mas ainda era muito
jovem, muito inocente.
Eu apenas sorri. — Estou tentando.
— Você está indo bem, — ela disse provocando. A
tristeza e desesperança tinham desaparecido de seu rosto por
um momento, e esse era todo o incentivo que eu precisava.
*****
LILIANA
Romero sorriu. — Obrigado, — eu poderia ter beijado
ele naquele momento. Ele estava tão bonito e sexy.
— De nada, — eu disse. Fizemos um passeio pela rua
em direção ao pequeno café que parecia pertencer a uma
daquelas ruazinhas com paralelepípedos em Paris, e não a
Chicago. Era estranho caminhar com um homem que não tinha
o dobro da minha idade, como os guarda-costas do meu pai.
Só quando paramos no balcão Romero liberou o meu braço,
mas até então nós tínhamos caminhado juntos, como amantes.
Como seria se isso fosse verdade? Se ele não estivesse apenas
tentando me distrair da minha mãe doente, se fôssemos
realmente um casal?
— Tudo bem? — perguntou Romero em voz baixa.
Eu estava o encarando sem perceber. Rapidamente voltei
minha atenção para a menina atrás do balcão que estava à
espera do nosso pedido. — Um cappuccino e um cupcake red
3
velvet , — eu disse distraidamente. Era o meu pedido padrão e
minha mente estava muito esgotada para verificar o quadro-
negro para as especialidades do dia.
— O mesmo para mim, — disse Romero e pegou a
carteira para pagar para nós dois.
— Você não tem que pagar para mim, — eu sussurrei
quando fomos em direção a uma mesa perto da janela.
Romero levantou uma sobrancelha escura. — Uma
mulher nunca paga quando está comigo.
— Ah é? — eu disse com curiosidade. Romero parecia
já lamentar o seu comentário, mas era tarde demais. Ele
despertou a minha curiosidade. — Quantas namoradas você já
teve?
Era uma pergunta muito pessoal.
Romero riu. — Isso não é algo que eu vou dizer a você.
— Isso significa que muitas, — eu disse com uma
risada. A garçonete trouxe o nosso pedido, dando tempo para
Romero se recompor. No momento em que ela estava fora do
alcance da voz, eu disse, — Eu sei como são as coisas para os
nossos homens. Vocês têm um monte de mulheres.
— Então você sabe tudo sobre nós? — perguntou
Romero. Ele se inclinou para trás em sua cadeira como se não
tivesse uma preocupação no mundo.
Eu tomei um gole do meu cappuccino. — As mulheres
conversam, e pelo que ouvi sobre a maioria dos homens
iniciados, eles não dizem não aos prostíbulos da Outfit. Para a
maioria deles é uma espécie de hobby ter tantas mulheres
quanto possível.
— Muitos homens fazem isso, mas não todos.
— Então você é a exceção? — eu perguntei com ar de
dúvida. Eu queria que fosse verdade, mas eu era realista.
Romero deu uma mordida em seu cupcake, obviamente
considerando o que me dizer. — Eu já tive dias selvagens
quando eu era mais jovem, dezoito ou dezenove anos, talvez.
— E agora? Você tem namorada? Noiva? — eu sempre
pus esse pensamento de lado, mas da maneira que Romero
tinha falado, parecia um ponto válido. Tomei um gole do meu
café, feliz com a sensação do copo em minhas mãos. Me deu
algo para me concentrar.
Romero balançou a cabeça com um olhar indecifrável no
rosto. —Não, eu tive namoradas nos últimos anos, mas é
difícil ter um relacionamento estável se o trabalho sempre vem
em primeiro lugar. Eu sou um soldado. A Família será sempre
a minha prioridade. A maioria das mulheres não consegue
lidar com isso.
— A maioria das mulheres não é questionada se elas
querem essa vida ou não. E que tal um casamento arranjado?
— Eu não gosto da ideia de alguém me dizendo com
quem eu deveria me casar.
— Então a sua família nunca tentou casar você com
alguém?
Romero sorriu. Eu poderia ter saltado sobre a mesa e me
arrastado para o seu colo. — É claro que eles tentaram. Somos
italianos, está em nosso DNA interferir na vida das nossas
crianças.
— Mas você nunca gostou de nenhuma das garotas que
eles sugeriram?
— Eu gostei de algumas, mas ou elas não estavam
interessadas em mim ou eu não conseguia me ver passando o
resto da minha vida com elas.
— E ninguém nunca tentou te forçar a casar?
— Como é que eles me forçariam?
Eu balancei a cabeça. Sim como? Ele era um Made Men,
não uma garota estúpida. — Você está certo. Você pode tomar
suas próprias decisões.
Romero largou seu copo. — Luca poderia pedir que eu
me casasse por razões políticas. Eu provavelmente não
recusaria.
— Mas ele não faria isso, — eu disse.
— Talvez você também possa vir a escolher por si
mesmo. Talvez você encontre o cara perfeito em breve e ele
seja digno aos olhos do seu pai.
O cara perfeito estava sentado na minha frente. Doeu ver
Romero sugerir que eu encontrasse alguém. Será que ele não
percebia que eu tinha sentimentos por ele? Eu não queria
encontrar um cara que o meu pai aprovaria. Eu queria o
homem na minha frente.
Depois disso nós falamos sobre coisas aleatórias, nada
de importante, e cedo demais tivemos que voltar para a minha
casa. Desta vez nós não cruzamos os braços. Tentei não ficar
desapontada, mas foi difícil. Quando entramos no hall de
entrada da casa, eu podia sentir o peso da tristeza persistente
retornando aos meus ombros.
Romero tocou levemente o meu braço. Meus olhos
traçaram a sua forte mandíbula com um pouco de barba
escura, os olhos marrons preocupados, as maçãs do rosto
proeminentes. E então eu fiz o que eu tinha prometido a mim
mesmo não fazer novamente, mas nesse exato momento, nesta
casa fria e sem esperança, ele era a luz e eu era a mariposa.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei. O toque foi um contato
breve, mas era isso que eu queria fazer há muito tempo.
Romero agarrou os meus braços e me empurrou. — Liliana,
não.
Eu me soltei de seu abraço e saí sem dizer mais nada.
Minha mãe disse que eu deveria assumir os riscos pela minha
felicidade, e eu estava fazendo exatamente isso.
*****
ROMERO
Eu invadi a cozinha. Eu precisava de outro café. Fechei a
porta atrás de mim a batendo com muita força. Eu queria
rasgar algo em minúsculos pedaços. Meus lábios ainda
formigavam daquele beijo ridículo. Você não poderia sequer
chamar assim. Foi rápido demais. Porque eu tinha agido como
o soldado obediente que eu deveria ser. Foda-se.
Fiz café e esvaziei a xícara em um gole só, e então
coloquei a louça para baixo, fazendo um barulho alto contra o
balcão.
A porta da cozinha se abriu e Luca se encostou contra o
batente com um olhar interrogativo no rosto. — Você percebe
que esta não é a sua casa, certo? Eu não acho que Scuderi
apreciaria você destruindo o seu balcão de mármore caro, —
os cantos de sua boca se contorceram em um quase sorriso.
Eu relaxei contra a ilha de cozinha. — Eu não acho que
Scuderi sabe onde fica sua cozinha. Onde está ele de qualquer
maneira? Essa casa está muito quieta. Eu pensei que ele e
Gianna nunca iriam parar de brigar.
A expressão de Luca escureceu. — Eles estariam
fazendo isso até agora, mas Scuderi teve que sair para uma
reunião, o que eu vou ter que fazer em breve, também. Dante e
eu vamos discutir os russos hoje à noite em algum restaurante
italiano que ele aprecia.
— Eu suponho que vou ficar aqui para manter um olho
nas mulheres, — eu disse com firmeza. A ideia de estar em
torno de Lily toda a noite me preocupava.
Luca veio até mim. — Eu tenho que me preocupar com
o que aconteceu entre você e Liliana no tempo em que vocês
saíram para tomar café? Eu ainda quero saber o que
aconteceu?
Eu o encarei. — Nada aconteceu, Luca. Você me
conhece, eu sou um bom soldado.
— Você também é um cara com um pau e Liliana é uma
linda garota que tem flertado com você por anos. Às vezes isso
pode levar a acidentes infelizes.
Eu soltei um longo suspiro.
— Porra, — Luca murmurou. — Eu estava brincando.
Não me diga que há realmente algo acontecendo.
— Liliana me beijou, mas dificilmente poderíamos
chamar assim. Nossos lábios mal se tocaram e eu a empurrei
para longe, então você não tem nada com que se preocupar.
— Ah, mas eu tenho que me preocupar, considerando o
olhar de pesar em seu rosto quando você disse que seus lábios
quase não se tocaram. Você a quer.
— Sim, eu a quero, — eu murmurei, começando a ficar
irritado com o seu interrogatório. Luca costumava ser o cara
que não podia manter o pau nas calças, e agora ele estava
agindo todo alto e poderoso. — Mas isso não vai acontecer
novamente. Eu posso me controlar. Eu nunca faria nada para
prejudicar a Família.
Luca bateu em meu ombro. — Eu sei disso. E se você
estiver correndo o risco de seguir seu pau em vez de seu
cérebro, basta lembrar que Liliana está passando por um
monte de problemas. Ela provavelmente só está procurando
uma distração. Ela está vulnerável e é jovem. Eu sei que você
não vai deixar que ela arruíne a sua vida.
Essa era uma viagem de culpa que eu já tinha visto outra
vez. Eu balancei a cabeça, porque as palavras na ponta da
minha língua eram muito duras para o meu Capo.
Aria entrou na cozinha naquele momento, mas ela parou
quando nos viu. — Estou interrompendo alguma coisa? — ela
olhou entre Luca e eu. — Eu achei que deveríamos começar a
preparar o jantar. Meu pai deu o dia de folga à empregada,
porque não queria ninguém em casa nesse momento. Isso
significa que temos que cozinhar.
— Vamos pedir pizza, — disse Luca. Ele caminhou em
direção a sua esposa e a puxou contra ele antes de beijar o topo
de sua cabeça. Nos meus primeiros anos de trabalho para
Luca, eu teria apostado tudo que tinha que ele não era capaz
desse tipo de afeto.
— Será que a conversa de vocês tem algo a ver com
Lily? — perguntou Aria casualmente enquanto passava por
vários folhetos com serviço de entrega de pizza.
Eu não disse nada, e Luca deu de ombros. — Por que
você pergunta? — ele disse.
Aria balançou a cabeça. — Eu não sou cega. Lily está
agindo de um jeito estranho desde que voltou do passeio com
Romero, — ela me encarou com um olhar de advertência. —
Eu não a quero a sós com você.
As sobrancelhas de Luca dispararam. Eu sabia que eu
tinha um olhar muito chocado também.
— Não me venha com esse olhar. Você sabe que eu
gosto de você Romero, mas Lily vem passando por muita
coisa recentemente, e quando se trata de você o cérebro dela
para de funcionar. Eu não quero ter que me preocupar com ela.
— Então agora você está protegendo a sua virtude? —
eu perguntei sarcasticamente.
— Ei, — Luca disse rispidamente. — Não fale nesse
tom com ela.
Aria balançou a cabeça. — Não, está tudo bem. Eu não
estou protegendo a sua virtude. Eu só não quero que ela se
machuque. Você tem irmãs mais novas, você não quer mantê-
las seguras?
— Quero, — eu disse. — E eu nunca faria nada que
machucaria Lily. Mas eu respeito o seu desejo. Eu não vou
estar a sós com ela a partir de agora — com um breve aceno
de cabeça na direção de Luca, eu saí da cozinha. As palavras
de Aria não me sentaram bem. Luca tinha confiado em mim
com ela, embora ele fosse um bastardo possessivo, mas Aria
não confiava em mim com sua irmã. Claro, a verdade era que
eu nunca tinha estado remotamente interessado em Aria. Eu
não era cego. Ela era bonita, e definitivamente sexy, mas eu
nunca tinha fantasiado sobre ela, e não apenas porque eu sabia
que Luca iria cortar o meu pau fora se eu fizesse um
movimento. Já Lily era uma questão diferente. Eu tinha
imaginado o seu corpo nu embaixo do meu mais de uma vez, e
quando eu estava perto dela, queria pressionar a garota contra
a parede e ter a porra da minha chance com ela. Isso era um
grande problema. Talvez fosse o melhor que as ordens de Aria
agora estivessem entre Lily e eu.
Capítulo Cinco
LILIANA
Alguém estava me sacudindo. Abri os olhos, mas a
princípio tudo estava escuro.
— Lily, se levante. Acho que mamãe vai morrer, — Aria
disse com a voz em pânico. Eu me sentei, minha cabeça
girando.
Aria já estava em seu caminho para fora do meu quarto,
provavelmente para acordar os outros. Uma de nós sempre
estava sentado na cama da mãe para se certificar de que ela
nunca estivesse sozinha. Hoje à noite tinha sido a vez de Aria.
Empurrei as cobertas para longe, deslizei para fora da cama e
corri para o quarto no fim do corredor. O cheiro de
antisséptico e desinfetante me cumprimentou antes mesmo de
eu entrar, mas agora meu nariz já tinha se acostumado com o
cheiro cortante. Gianna estava lá dentro, sentada na beirada da
cama. Os olhos da mãe estavam fechados e, por um momento,
eu tive certeza de que era tarde demais e ela já tinha morrido.
Então eu vi a ascensão e queda lenta do seu peito. Me
aproximei da cama, hesitante. Gianna mal olhou na minha
direção. Ela estava encarando o seu colo. Eu passei os meus
braços ao redor de seus ombros por trás e apertei as nossas
bochechas juntas.
— Eu odeio isso, — Gianna sussurrou.
— Onde está a enfermeira?
— Ela saiu para que pudéssemos dizer adeus em paz.
Ela deu outra dose de morfina para que ela pudesse ir sem dor.
Aria e Fabi entraram no quarto. Fabi estava usando sua
cara brava, e caramba, ele parecia tão crescido. Ele já era mais
alto do que Aria. Luca ficou no corredor, mas não entrou, ao
invés disso ele fechou a porta, nos dando privacidade.
A respiração da mãe estava baixa, quase imperceptível.
Seus olhos se mexiam de um lado para o outro sob suas
pálpebras, como se ela estivesse assistindo a um filme em sua
cabeça. Não levaria muito mais tempo. Fabi agarrou o pé da
cama, os nós dos seus dedos ficando brancos. Havia lágrimas
em seus olhos, mas seu rosto era como pedra. Eu conhecia
aquele olhar, aquela postura.
Eu me virei para longe dele. Aria caminhou até nós. —
Como ela está?
Eu não tinha certeza como responder a essa pergunta.
Gianna levantou o olhar. — Onde está o pai? Ele deveria
estar aqui! — ela falou em voz baixa, mas Aria e eu ainda
arriscamos um olhar preocupado em direção à mãe. Ela não
precisava estar chateada nos últimos momentos de sua vida.
Meu estômago se contraiu dolorosamente e por um segundo eu
tinha certeza de que eu teria que correr para o banheiro e
vomitar. A morte era parte da vida das pessoas, especialmente
quando você crescia em nosso mundo. Eu tinha ido a inúmeros
funerais nos últimos anos, mas quase todos eles tinham sido de
pessoas que eu mal conhecia.
— Eu não sei, — admitiu Aria. — Eu bati na porta dele
e até mesmo telefonei, mas não parecia que ele tinha dormido
na sua cama.
Gianna e eu trocamos um olhar. Ele estava realmente
com uma de suas prostitutas hoje à noite? Mamãe estava se
sentindo muito fraca ontem, por isso não era surpresa ela estar
tão mal essa noite. Ele deveria ter ficado em casa para estar
com ela.
— Você sabe onde ele está? Você está agindo como o
melhor amigo dele nos últimos dias, — Gianna murmurou
com uma carranca na direção de Fabi.
Ele endureceu. — Ele não me diz aonde vai. E eu não
sou o seu melhor amigo, mas como o seu único filho eu tenho
responsabilidades.
Gianna levantou, e eu não tive escolha a não ser deixá-la
ir. — Ah meu Deus, que besteira é essa. Eu não posso
acreditar nisso, — ela sussurrou.
— Gianna, — Aria disse em advertência. — Já basta.
Não aqui, não agora.
— Não importa que o pai não esteja aqui, — eu disse
com firmeza. — Nós estamos aqui para ela. Nós somos as
pessoas mais importantes na sua vida, não ele.
Essa foi à última vez que mencionamos o pai naquela
noite. Horas se passaram com o estado da mãe permanecendo
o mesmo, e, finalmente meus olhos se fecharam, mas então
sua respiração alterou e eu acordei imediatamente.
Me sentei na minha cadeira e peguei a mão dela. —
Mãe? — perguntei.
Aria estava segurando a outra mão. Gianna não se
moveu de seu lugar na poltrona do canto. Suas pernas estavam
pressionadas contra o peito, com o queixo apoiado nos joelhos.
Fabi tinha adormecido com seu rosto contra a madeira aos pés
da cama. Estendi a mão e o cutuquei. Ele se endireitou em sua
cadeira.
As pálpebras de minha mãe vibraram como se ela
estivesse tentando abri-las. Prendi a respiração, esperando que
ela olhasse para nós mais uma vez, talvez até mesmo dissesse
algo, mas então a sua respiração desacelerou ainda mais.
Eu não tinha certeza de quanto tempo demorou. Eu perdi
qualquer noção de tempo enquanto eu monitorava o peito da
mãe, a forma como ele mal se mexia, até que parou
completamente. Fabi correu para fora para chamar a
enfermeira, mas eu não precisava dela para me dizer o que eu
já sabia; nossa mãe tinha ido embora. A enfermeira passou ao
nosso redor, e então com um aceno de cabeça triste,
desapareceu fora do quarto outra vez.
Eu soltei a mão da mãe, me levantei da cadeira e dei um
passo para trás. Aria não se mexeu, ainda segurando a mão
dela. Um momento mamãe estava lá, e no outro ela tinha ido
embora. Assim era como uma vida terminava, e com ela, os
sonhos e as esperanças da pessoa. A vida era tão curta,
qualquer momento poderia ser o seu último. Minha mãe tinha
me dito para ser feliz, mas em nosso mundo, felicidade não era
algo que vinha facilmente.
Aria apoiou a cabeça na borda da cama, soluçando sem
fazer um som. Fabi, como, só estava parado ao lado. Parecia
que ele não podia compreender o que tinha acontecido. Gianna
caminhou até Aria, pela primeira vez em horas se
aproximando da cama, e colocou a mão no ombro de nossa
irmã. Ela nem sequer olhou para a mãe, e eu entendia. O
relacionamento de Gianna com a nossa mãe sempre foi difícil,
e só piorou quando ela aceitou a forma como o pai a tinha
tratado depois da sua fuga. Nos dias desde sua chegada aqui,
os sentimentos de Gianna tinha mudado muitas vezes de um
segundo para o outro.
ROMERO
Eu queria estar lá para Lily, queria consolá-la, mas eu
respeitava os desejos de Aria. Ela também passou por merdas
o suficiente e não precisava da dor adicional de se preocupar
com sua irmã.
Em vez disso eu mostrei a Fabiano como lidar com a
minha faca, como desembainhar uma longa lâmina tão rápido
quanto uma curta. Era fácil distraí-lo de sua tristeza. Mas
caramba, ele não era a pessoa que mais precisava de mim.
Precisava de mim? Maldição, se eu começasse a pensar
assim, eu me meteria em problemas enormes. Lily não era
minha responsabilidade, e ela definitivamente não precisava
de mim.
Fabi sacou a faca do coldre que eu lhe emprestei e sorriu
com o quão rápido ele tinha feito isso. Eu estive assim uma
vez, ansioso para aprender tudo o que havia sobre a luta, sobre
ganhar. Ansioso para provar que eu era bom. Meu pai era um
funcionário de baixo escalão, alguém que nunca chegou a falar
diretamente com o Capo. Eu queria ser melhor, provar o meu
valor para ele e para mim. Fabiano tinha enormes expectativas
que descansavam em seus ombros, ele tinha muitas maneiras
de falhar, mas muita pouca opção para se destacar.
— Eu preciso ir falar com Luca agora, — eu disse
finalmente. Fabi acenou com a cabeça, e se acomodou em sua
cadeira. Ele pegou um pano e limpou a mesma faca
novamente. Imaginei que ele passaria a noite assim, e talvez
até mesmo os próximos dias.
Saí e me dirigi para as escadas, mas parei em frente à
porta de Liliana, procurando ouvir algum som. Talvez eu
quisesse ouvir um choro para que pudesse invadir e consolá-la,
ser seu cavaleiro de armadura do caralho.
Eu segui em frente.
Capítulo Seis
LILIANA
Eu parecia mortalmente pálida de luto. Aria, Gianna e eu
usávamos os mesmos modestos vestidos e sapatilhas pretas,
nossos cabelos presos em um coque. Eu não usei maquiagem,
mesmo que as sombras sob os meus olhos fossem
assustadoras. O pai tinha organizado um funeral enorme;
caixão caro de carvalho, um mar de flores bonitas, o melhor
buffet para depois. Ele agiu como o viúvo devastado que todos
esperavam ver. Era um show maravilhoso. Ele deveria ter
estado lá para a mãe quando ela realmente precisou dele. Isso
era apenas para impressionar as pessoas e talvez para fazê-lo
se sentir melhor. Mesmo um homem como ele tinha que se
sentir culpado por abandonar a sua esposa moribunda.
Funerais eram um grande evento em nosso mundo. O pai
era um homem importante, e assim a morte da mãe foi um
evento social. Todos queriam participar, e todo mundo estava
chorando lágrimas de crocodilo enquanto prestava suas
condolências. Meus olhos estavam secos como areia. Eu podia
ver as pessoas olhando para mim, me esperando chorar pela
minha mãe, esperando que eu mostrasse a reação que todos
eles esperavam de mim. Mas eu não podia chorar. Eu não
queria chorar, não rodeada por tantas pessoas com lágrimas
falsas. Eles fingiam que tinham se importado com a minha
mãe, que a tinham conhecido, mas nenhuma dessas pessoas a
visitou quando ela estava em casa. Ela estava morta para eles
muito antes da sua morte. No momento em que ela não pôde
mais ser a dama da sociedade, eles a abandonaram como um
trapo sujo. Me deixavam enjoada, todos eles.
Papai colocou os braços ao redor de um ombro de Fabi e
de um ombro meu, enquanto nos levava até o caixão.
Estremeci sob o seu toque. Eu não acho que ele percebeu
minha repulsa por sua proximidade, porque ele realmente
apertou o meu ombro. Tive que demonstrar um autocontrole
incrível para ficar onde eu estava e não fugir para longe dele.
O padre começou a sua oração enquanto o caixão foi
sendo abaixado lentamente para o buraco. Olhei para cima
através dos meus cílios e me Romero do outro lado do túmulo
foi o que me chamou a atenção. Ao contrário de Luca e
Matteo, que tinha vindo para o funeral, Romero não tinha
permissão para ficar desse lado com a nossa família. Sua
expressão era solene enquanto encarávamos um ao outro, mas
depois ele baixou o olhar para o caixão. Ele tinha me evitado
nos últimos dias. Quando eu entrava em uma sala que ele
estivesse, ele estava, ele normalmente saía com uma desculpa
estúpida. Era óbvio que ele não conseguia estar na minha
presença, e não sabia o que dizer. Todo mundo estava pisando
em ovos ao redor de mim e meus irmãos agora. Eu queria que
ele me dissesse a verdade. Eu poderia lidar com isso. Papai
nos levou de volta para os outros presentes enlutados, longe da
sepultura da mãe e, finalmente me soltou. Eu soltei um suspiro
de alívio, feliz por estar fora dos holofotes e longe do meu pai.
As pessoas começaram a baixar a cabeça na direção do
caixão para dizerem o seu último adeus, eu me afastei.
Ninguém me parou. Ninguém sequer pareceu notar. Eles
estavam ocupados fazendo o seu show. Eu me virei e não olhei
para trás. Corri para longe do túmulo, jogando poeira no ar
quando os meus pés batiam no chão. Eu não tinha certeza de
onde eu estava indo. O cemitério era enorme, havia muitos
lugares para encontrar paz e silêncio. Cheguei a uma parte que
era ainda mais opulenta do que onde a mãe tinha sido
enterrada. Filas e mais filas de mausoléus antigos de família
me cercavam. A maioria delas estavam trancados, mas um dos
portões de ferro estava entreaberto. Eu olhei ao redor e, depois
de ter tido a certeza de que ninguém estava me observando, o
abri e entrei. Assim que respirei o cheiro de mofo invadiu o
meu nariz. Tudo era feito de mármore cinzento. Eu afundei e
lentamente me sentei com as costas contra a parede fria.
Em momentos como esse eu entendia o porquê de
Gianna ter fugido. Eu nunca tive o desejo de deixar essa vida
para trás para sempre, mas às vezes eu queria fugir, pelo
menos por um tempo.
Eu sabia que, eventualmente, alguém notaria que eu
estava faltando e viria me procurar, mas eu não me importava,
nem se o pai perdesse a sua cabeça comigo.
Demorou menos de uma hora antes que eu ouvisse
alguém chamar o meu nome à distância. Abri os lábios para
responder, mas nenhum som saiu. Eu descansei minha cabeça
contra o mármore, e olhei para fora através das grades do
portão de ferro. Então, muitas vezes na minha vida eu me
sentia como se estivesse cercada por grades invisíveis, e agora
eu buscava abrigo atrás delas. Um sorriso amargo torceu meus
lábios. Passos rangeram do lado de fora do mausoléu. Eu
segurei minha respiração quando alguém passou pelo portão.
A forma familiar apareceu na minha frente. Romero. Ele
não tinha me visto ainda, mas seus olhos estavam atentos e
observadores, vasculhando a área, procurando. Ele passou reto
pelo ponto onde eu estava escondida e estava prestes a se virar.
Eu poderia ter ficado escondida, sozinha com a minha raiva,
miséria e tristeza, mas de repente eu não queria isso. Por
alguma razão, eu queria que Romero me encontrasse. Ele não
derramava lágrimas falsas e não era da família; ele era seguro.
Eu limpei minha garganta silenciosamente, mas é claro que um
homem como Romero não perderia isso. Ele se virou e seus
olhos focaram na minha direção. Ele andou para frente, abriu e
o portão e entrou no lugar de cabeça baixa, porque ele era
muito alto para estar ali. Ele estendeu a mão para mim.
Procurei em seus olhos pela pena que eu odiava tanto, mas ele
parecia apenas preocupado, quase como se ele realmente se
importasse. Eu não tinha certeza do que fazer com a sua
preocupação quando não há muito tempo ele tinha feito o seu
melhor para ficar longe de mim.
Enfiei a mão na sua e seus dedos se fecharam em volta
dos meus antes que ele me puxasse para os meus pés. A
dinâmica do movimento me levou direto para os braços de
Romero. Eu deveria ter recuado. Ele deveria ter me empurrado
para trás. Nenhum dos dois fez isso.
Era tão bom estar perto de alguém, sentir o seu calor,
algo do qual minha vida parecia tão desprovida recentemente.
Ele lentamente se retirou do mausoléu, me levando com ele,
ainda me segurando perto.
— Nós estivemos procurando por você por quase uma
hora, — Romero disse em voz baixa, com preocupação, mas
tudo que eu podia focar era no quão perto os seus lábios
estavam e quão bem ele cheirava. — Seu pai vai ficar feliz em
saber que você está segura.
Meu pai. A raiva cresceu em mim pela forma como ele
agiu nos últimos meses. Eu estava tão cansada de estar com
raiva, de não saber para onde ir com toda essa amargura. Eu
fiquei na ponta dos pés, fechei os olhos e pressionei os lábios
contra os de Romero. Era a terceira vez que eu fazia isso.
Parecia que eu nunca aprendia, mas eu não estava mais sequer
com medo de ser rejeitada. Eu estava tão entorpecida por
dentro, não havia nenhuma maneira que qualquer coisa
pudesse me machucar de novo.
A mão de Romero veio até meus ombros como se ele
fosse me empurrar para longe, mas então ele apenas as
descansou lá, quentes e fortes. Ele não tentou aprofundar o
beijo, mas nossos lábios se moveram um contra o outro. Havia
apenas o toque leve e mesmo assim foi rápido demais. Algo
escorreu pelo meu rosto e chegou aos meus lábios. Nunca
imaginei meu primeiro beijo de verdade com gosto de
lágrimas. Saí da ponta dos pés e meus olhos se abriram. Eu
estava muito esgotada, triste, muito irritada para me
envergonhar pelas minhas ações.
Romero estudou meu rosto, as sobrancelhas escuras
apertadas juntas. — Lily, — ele começou, mas então eu
comecei a chorar, lágrimas de verdade rolavam pelo meu
rosto. Eu enterrei o meu rosto contra o peito de Romero. Ele
segurou a parte de trás da minha cabeça e me deixou chorar.
Na segurança dos seus braços, eu me atrevi a deixar a tristeza
transbordar, não temendo que isso fosse me engolir. Eu sabia
que Romero não iria deixar. Talvez fosse uma ideia ridícula,
mas eu acreditava que Romero fosse me manter a salvo de
tudo. Eu tentei esquecê-lo, tentei seguir em frente, encontrar
alguém novo para concentrar a minha paixão, mas não deu.
— Devemos voltar. Seu pai já deve estar doente de
preocupação por agora.
— Ele não está preocupado comigo. Ele só está
preocupado em como eu pareço mal para os outros, — eu
disse baixinho, me empurrando para trás. Limpei o meu rosto.
Romero afastou uma mecha de cabelo que ficou presa na
minha pele molhada. Nós ainda estávamos perto, mas agora
que eu tinha um maior controle sobre as minhas emoções,
recuei envergonhada pela maneira como tinha me jogado nele.
Mais uma vez. Eu estava feliz por não poder ler a sua mente.
Eu não queria saber o que ele pensava de mim agora.
O telefone de Romero tocou e depois de dar me dar um
sorriso de desculpas, ele atendeu. — Sim, eu estou com ela.
Nós estaremos aí em um momento.
Olhei na direção de um homem idoso que estava diante
de um túmulo. Seus lábios estavam se movendo e ele estava se
inclinando fortemente em uma bengala. Eu tinha a sensação de
que ele estava falando com sua falecida esposa, dizendo a ela
como seus dias tinham sido, o quanto ele queria se reunir com
ela novamente. Esse homem nunca seria meu pai. Ele parecia
já ter superado a morte da mãe.
Romero tocou meu ombro de leve e eu quase voei de
volta em seus braços, mas desta vez fui mais forte. — Você
está pronta para voltar?
Pronta? Não. Eu não queria ver o pai ou o seu luto falso.
Eu não queria ouvir mais uma palavra de piedade. — Sim.
Nenhum de nós mencionou o beijo enquanto
caminhávamos de volta para o túmulo da minha mãe. Romero
tinha me beijado, ou me deixado beijá-lo por pena, o que era a
dura verdade da situação. Luca e Aria eram as únicas pessoas
esperando por nós.
Aria correu em minha direção e me envolveu em um
abraço apertado. — Você está bem?
Eu me senti mal instantaneamente. Ela também tinha
perdido a nossa mãe. Ela também estava triste, e agora ela
tinha que se preocupar comigo. — Sim, eu só precisava de um
momento sozinha.
Aria assentiu em compreensão. — Papai e os outros
convidados foram para a casa, para a festa do funeral.
Devemos ir até lá também, ou o pai vai ficar ainda mais
nervoso.
Eu balancei a cabeça. Aria atirou a Romero um olhar
que eu tive dificuldade em decifrar. Então ela me levou para o
carro, seus braços firmemente envolvidos em torno dos meus
ombros. Luca e Romero seguiam atrás. Eu não olhei para o
túmulo da mãe de novo, sabia que teria sido demais para mim.
— O que foi esse olhar que você deu a Romero? — eu
perguntei calmamente quando estávamos sentadas no banco de
trás.
Aria fez uma cara de inocente, mas eu não comprei. Eu a
conhecia muito bem, mesmo que não fôssemos tão próximas
como costumávamos ser, devido à distância que agora nos
separava. Ela suspirou. — Eu disse a ele para ficar longe de
você.
—Você fez o quê? — eu assobiei. Luca olhou por cima
do ombro para nós, e eu abaixei minha voz ainda mais. Eu
esperava que ele não tivesse ouvido o que eu disse. Romero
parecia ocupado em encontrar uma boa estação de rádio.
— Por que você fez isso? — perguntei em um sussurro.
— Lily, eu não quero que você se machuque. Você acha
que Romero vai fazer você se sentir mais feliz e ajudar com a
tristeza, mas isso só vai piorar as coisas. Talvez você pense
que gosta dele, mas você não deve confundir solidão com
outra coisa.
Olhei para minha irmã, incrédula. — Eu não sou idiota.
Eu conheço meus próprios sentimentos.
Aria pegou minha mão. — Por favor, não fique brava,
Lily. Eu só quero te proteger.
Todo mundo sempre disse que queria me proteger. Eu
me perguntei do quê. Da vida?
*****
*****
ROMERO
Luca, Matteo e eu jogávamos cartas quando o celular de
Aria tocou. Ela estava sentada no sofá com Gianna, bebendo
vinho e rindo.
No momento que Aria começou a falar, eu sabia que
algo estava errado. Luca colocou as suas cartas para baixo
também.
— Por que você não ligou antes? Você devia mandar ela
para cá imediatamente!
Luca se levantou.
— Você pode falar para mim, também, — disse Aria,
então ela olhou para Luca. — Meu pai quer falar com você —
ela se levantou e estendeu o telefone para ele, e Luca o pegou
com um olhar preocupado para sua esposa.
Gianna atravessou a sala em direção à sua irmã. — O
que está acontecendo?
Eu tive um sentimento ruim.
— Lily desmaiou hoje. Aparentemente ela não comeu
muito desde o funeral.
Me levantei da cadeira. — Ela está bem?
Aria concordou. — Fisicamente, sim. Papai chamou um
médico e ele disse que ela precisa beber mais líquidos e se
alimentar melhor. Mas é mais do que isso. Pelo que o pai
disse, Lily esteve sozinha quase todo o tempo desde que fomos
embora. Ninguém cuidou dela. Não posso acreditar que eu
deixei ele me convencer a deixá-la lá. Eu deveria ter trazido
ela para Nova York comigo naquele momento.
*****
ROMERO
Eu era bom em manter uma cara séria, mesmo em
situações difíceis, mas quando eu vi Lily pela primeira vez
quando ela entrou no apartamento, eu não tinha certeza se
poderia esconder a minha fúria. Fúria direcionada ao pai dela
por deixar a própria filha se afogar em sua tristeza, enquanto
ele estava ocupado demais promovendo a sua posição na
Outfit com a indução de seu filho muito jovem.
Lily perdeu peso, o suficiente para que suas clavículas e
costas se destacassem. Ela parecia frágil, mas ainda assim tão
bonita. Eu queria protegê-la de tudo.
Seus olhos encontraram os meus, e o desejo neles quase
me obrigou a atravessar a sala e envolvê-la em meus braços,
mas eu fiquei onde estava, não só por causa do olhar que Aria
me enviou. Luca tinha feito uma promessa a Scuderi. Nós, a
Família, manteríamos Liliana segura, e isso incluía a sua
honra. Considerando que a maioria dos meus sonhos incluía
Lily em algum estado de nudez, eu definitivamente precisaria
manter a minha distância, e eu o faria.
Nas últimas semanas, eu tinha fodido várias garotas na
esperança de que elas tirassem Lily da minha cabeça, mas
vendo ela aqui agora, me fez perceber que tinha sido
completamente em vão. Claro, não tinha realmente ajudado
que eu imaginasse que fosse Lily cada vez que eu tinha estado
com uma mulher.
Eu estava completamente ferrado.
Luca veio até mim quando eu me inclinei contra o
balcão da cozinha e assisti a reunião das três irmãs. — Será
que isso vai ser um problema, você estar em uma mansão com
Liliana?
— Não, — eu disse com firmeza.
— Você tem certeza, porque aquele olhar em seu rosto
há pouco me contou uma história diferente.
— Tenho certeza. Liliana é uma menina bonita, como
você disse, mas eu já estive com meninas bonitas. Estive com
as meninas mais bonitas. Não vou arriscar a ira de Scuderi.
Era uma fodida mentira. Nenhuma das meninas com que
eu tinha estado podiam competir com a beleza de Lily, mas
felizmente Luca não conseguia ler mentes, mesmo que ele
tentasse fazer com que seus soldados estúpidos acreditassem
que ele tinha algum tipo de sexto sentido como esse, só para
mantê-los na linha.
— Não apenas a ira de Scuderi, — disse Luca. — Isso é
grave pra caralho. Estou falando sério, Romero.
Isso era um aviso?
Eu tive que morder de volta um comentário e assenti.
Luca era um bom Capo e eu nunca tive problemas em seguir
as suas regras, mas por algum motivo isso não me sentava bem
agora. Lily tentou pegar o meu olhar durante o jantar, mas tive
a certeza de manter a minha atenção em Matteo e Luca. Eu
não queria que Lily tivesse esperanças.
E o que era mais importante, eu precisava manter a
minha própria merda sob controle.
*****
LILIANA
Romero ainda estava me ignorando. Embora ignorando
não fosse bem a palavra certa. Ele me tratou com
desprendimento educado, sempre amigável, mas nunca
caloroso demais. Se eu não tivesse conhecimento do que Aria
havia dito a ele, teria sido mais difícil de lidar com isso, mas
eu tinha quase certeza que ele estava interessado em mim.
No primeiro dia na mansão, o sol estava brilhando e nós
decidimos jantar na praia. Eu decidi usar o meu vestido de
praia cor de rosa. Era decotado, sem costas e abraçava as
minhas curvas. Bem, pelo menos ele costumava fazer, agora
estava um pouco solto em certos lugares, mas ainda me vestia
muito bem. Quando minhas irmãs e eu fomos para a mesa que
os homens tinham feito, Romero olhou por cima da
churrasqueira que estava arrumando e o que enxerguei em seus
olhos quando me viu foi todo o incentivo que eu precisava.
Porque aquilo estava longe de ser o desprendimento educado
das últimas vinte e quatro horas.
Ele desviou o olhar de mim e voltou para sua tarefa de
fritar os bifes. Ele parecia incrível também, a forma como o
sol poente batia em seu cabelo marrom, a maneira como seus
antebraços flexionavam quando ele se mexia. Eu amava a
forma como ele tinha arregaçado as mangas brancas e tinha
aberto os dois botões superiores da camisa, revelando um
pedaço de peito bronzeado.
— Você está babando, — Gianna sussurrou em meu
ouvido.
Eu corei e levei meu olhar para longe de Romero, e
então olhei para minha irmã, que se sentou à mesa com um
sorriso furtivo em seu rosto.
Eu levei minha cadeira para o lado dela. — Você
também disse a Romero para ficar longe de mim?
Gianna pegou a garrafa de vinho branco do refrigerador
e encheu as nossas taças. — Eu? Não. Você me conhece. Eu
sou toda a favor de tudo que é impertinente e proibido. Se
você quer um pedaço de Romero, corra atrás. A vida é muito
curta.
Parei com a taça e vinho contra os meus lábios. As
palavras da mãe vieram à minha mente, muito parecidas com
essas. — Aria discorda, — eu disse, então traguei metade do
meu vinho.
— Aria tenta agir como uma mãe, mas é você quem tem
que decidir o que quer.
— Você está tentando me meter em encrenca? —
perguntei, sentindo meu estômago quente do vinho. Eu
terminei a minha taça com apenas mais um gole.
— Eu não acho que você precisa de mim para isso, para
ser honesta, — disse Gianna enquanto levantava as
sobrancelhas ruivas. — Mas me faça um favor e maneire no
vinho.
— Eu pensei que você queria que eu me divertisse.
— Sim, mas eu quero que você esteja sóbria o suficiente
para perceber o que você quer. E eu não acho que Romero irá
te levar a sério bêbada.
— Você está certa. Ele é muito cavalheiro para tirar
proveito de uma garota bêbada.
Gianna bufou. — Uau, agora eu sei por que Aria está
preocupada, — ela observou Romero por um tempo. Ele
estava rindo de alguma coisa que Matteo tinha dito. — Eu não
iria colocar muita confiança em seu cavalheirismo, se eu fosse
você. Fique no controle quando você estiver com ele. Ele
ainda é um Made Men. Não me faça ter que matá-lo, ok?
4
— Eu pensei que você não fosse uma mamãe galinha ?
— Eu não sou. Eu sou a mãe urso irritada que vai rasgar
o pau dele fora se ele te machucar.
Eu caí na gargalhada. Aria se juntou a nós na mesa
naquele momento e nos olhou com desconfiança. — Eu não
sei se eu gosto de vocês duas sozinhas. Cheira a problemas, se
vocês me perguntarem.
— Você não me quer sozinha com ninguém, pelo que
parece, — eu disse, apenas metade provocação.
Aria gemeu e pegou um copo de vinho para si mesma.
— Você ainda está com raiva de mim?
— Eu não estou com raiva de você, — eu só ia ignorar
as ordens de Aria, e fazer o meu melhor para convencer
Romero a ignorá-las também.
Aria olhou para Gianna, que fez uma cara inocente,
depois para mim. — Eu não gosto disso. Me prometam que as
duas não se meterão em problemas.
— Eu tive problemas suficientes, muito obrigada, —
disse Gianna com um sorriso.
Aria me encarou com o seu olhar de irmã mais velha.
— Vou me comportar, eu prometo, — eu disse
finalmente. Então me servi mais vinho, tentando chegar a um
plano para conseguir algum tempo a sós com Romero. Eu
sabia que Aria faria o seu melhor para ser a minha sombra
constante.
*****
*****
ROMERO
Eu quase corri atrás de Liliana e arrastei de volta para o
meu quarto. Caramba. Ela me queria. Estava escrito em todo
seu rosto. No primeiro momento que me virei e a vi ali de pé,
com seus enormes olhos azuis, pensei que estava imaginando
coisas. Afinal, eu pensava nela frequentemente durante o meu
banho. Ela estava na minha cabeça o tempo todo. Se Luca
soubesse como era difícil para mim me concentrar em proteger
Aria nesse momento, ele definitivamente teria me mandado de
volta para Nova York, longe de Lily. Se eu fosse um bom
soldado, ia lhe pedir para fazer isso, mas eu não queria ir a
qualquer lugar. Eu queria ficar perto de Lily.
Corri a mão pelo meu cabelo molhado enquanto olhava
para a porta do banheiro. Por que eu tinha a mandado embora?
Ela queria que eu a beijasse. Ela queria mais do que isso. Por
que eu tinha que ouvir a porra da minha consciência, então?
Mas não era nem mesmo a moral que me impediu de
beijar Lily. Isso ia contra meu juramento, meu dever, mas não
era o principal motivo. Mesmo que ela não fosse realmente
minha para proteger, eu ainda queria proteger Lily, até de si
mesma. Ela não parecia perceber as consequências de flertar
comigo assim. Em nosso mundo o valor de uma menina era
baseado em sua reputação, sua pureza, isso era a verdade, o
que os homens esperavam das moças do alto escalão. Mas
mesmo entre os soldados, poucas mulheres eram autorizadas a
namorar com alguém que elas quisessem. Nós ainda
seguíamos as mesmas regras de mais de cem anos atrás, e eu
duvidava que fosse mudar em breve. Se eu deixasse Lily perto,
se eu deixasse essa coisa entre nós se desdobrar, se eu a
tomasse da maneira que eu queria, então ela estaria arruinada
aos olhos da nossa sociedade.
Claro, havia muitas coisas que poderíamos fazer que não
iriam destruir a sua virgindade. Tantas coisas, porra.
Isso era uma coisa muito perigosa de considerar, porque
se eu realmente começasse a pensar em todas as maneiras que
eu poderia ter Lily sem a arruinar, provavelmente eu acabaria
agindo sobre essas ideias, e eu não tinha certeza se era forte o
suficiente para parar em um determinado ponto. Pelo menos,
não se Lily não me pedisse, e eu tinha a sensação de que ela
não o faria.
Durante o café, eu agi como se nada tivesse acontecido.
Aria estava prestando muita atenção. E Gianna parecia saber
mais do que devia, também.
Lily encontrou meu olhar quando suas irmãs não
estavam cuidando e o que vi ali fez o meu pau se contorcer.
Hoje eu tinha dado a ela uma abertura. Ela agora sabia que eu
a queria.
Eu passei minha vida cuidando dos outros, sempre
colocando minhas próprias necessidades em segundo plano.
Seria realmente tão ruim se eu tomasse o que eu queria, por
uma vez? Nunca na minha vida eu tinha querido tanto algo
como essa garota.
Por que eu deveria me negar isso?
Capítulo Oito
LILIANA
Olhei para o teto, ou melhor, onde eu sabia que ele
estava. A escuridão era impenetrável, eu não poderia mesmo
ver a minha própria mão. Às vezes parecia que a escuridão era
tudo que havia na minha vida. Um longo túnel sem fim.
Especialmente à noite, quando as palavras da mãe me
assombravam. Eu tinha prometido a ela que seria feliz, mas
não tinha certeza de como fazer. Uma profunda solidão me
enchia, eu tinha tomado conta de mim desde que mamãe tinha
morrido. Nós nunca tínhamos sido próximas como algumas
filhas eram de suas mães, mas ela estava lá, uma presença
constante. E agora parecia que eu estava sozinha. Claro que
havia Fabi, mas ele era jovem e logo estaria envolvido nos
negócios da máfia e do pai… Agora, estar aqui nos Hamptons
me fazia feliz, mas era uma coisa temporária.
Minhas irmãs, elas estavam sempre lá para mim, mas
elas tinham suas próprias vidas, elas tinham maridos, e um dia
elas teriam as suas próprias famílias. Elas ainda me amariam, e
ainda cuidariam de mim, mas eu queria a minha própria
felicidade, separada da delas. Eu queria o que elas tinham. E
eu sabia que a única pessoa com quem eu queria esse tipo de
felicidade era com Romero.
Ele estava me observando de forma diferente neste
verão. Nos últimos anos sua expressão havia deixado claro que
eu não passava de uma garota para ele, de alguém para
proteger. Mas, recentemente, alguma coisa tinha mudado. Eu
não era um especialista quando se tratava de homens, é claro,
mas seu olhar mostrava uma pitada de algo que muitas vezes
que eu via no rosto de Luca quando ele olhava para minha
irmã Aria.
Pelo menos, eu achava que sim. Empurrei meu cobertor
de cima de mim e me sentei. Não me incomodei em acender as
luzes por medo de atrair a atenção e, em vez disso, fui
tateando meu caminho até a porta. Alcancei a maçaneta e saí
para o corredor. Estava silencioso e escuro, mas pelo menos
aqui eu poderia executar meu plano. Não que eu precisasse ver
alguma coisa para encontrar o quarto de Romero. Eu sabia
exatamente onde era. Eu tinha perdido a conta das vezes que
me imaginei indo até lá. Mas até agora a razão tinha me
parado. Hoje à noite eu estava cansada de ouvir a razão, de
jogar pelo seguro. Eu não queria estar sozinha, não queria
passar a noite toda olhando para a escuridão, solitária e triste.
Me arrastei pelo corredor, cuidando para não fazer nenhum
som, mal ousando respirar. Quando cheguei à porta do quarto
dele, fiquei lá por um longo tempo. O interior estava
silencioso e tranquilo. Claro, já passava e muito da meia-noite
e ele sempre se levantava cedo para correr.
Meus dedos tremiam de nervoso quando eu agarrei a
maçaneta e a empurrei para baixo. A porta se abriu sem um
som. Eu entrei e a fechei novamente, então não me mexi por
um longo tempo, somente olhando para a cama e para o
contorno do corpo de Romero. Suas cortinas não estavam
fechadas, de modo que o luar fornecia alguma luz. Ele estava
de costas para mim e seu cobertor cobria somente até a
cintura. Meus olhos traçaram seus ombros e braços
musculosos. Eu me aproximei, um passo hesitante após o
outro. Isso era tão errado. Romero tinha me pegado em seu
quarto antes, e pior, ele me pegou o espionando no chuveiro,
mas isto parecia mais íntimo. Ele estava na cama, e se as
coisas fossem do meu jeito, eu iria em breve me juntar a ele. E
se ele me mandar embora? Ou pior, e se ele ficar irritado e
contar a Luca? E se eles me mandarem de volta para Chicago,
para aquela casa escura e sem esperança, junto ao meu pai que
não sentia nenhuma falta da minha mãe?
Eu congelei a alguns passos da cama. Minha respiração
acelerou como se eu tivesse me exercitado e minhas mãos
estavam pegajosas. Talvez eu estivesse perdendo a cabeça. Eu
estava tentando me dizer que estava fazendo isso porque a mãe
queria que eu fosse feliz, mas talvez eu só estivesse usando
isso como desculpa para minha insanidade. Eu queria Romero
muito antes que mamãe tivesse dito alguma coisa, e tinha até
mesmo tentado beijá-lo anos antes da sua morte.
Eu balancei a cabeça, ficando com raiva de mim mesma
por cismar com tudo. Houve um tempo em que eu teria feito o
que eu quisesse, se fosse a minha vontade. Dei mais um passo
em direção à cama, mas eu devo ter feito um som sem
perceber porque a respiração de Romero mudou e seu corpo
ficou tenso. Ah não. Não havia como voltar atrás agora.
Ele rolou de costas em um movimento rápido, então seus
olhos pousaram em mim. Ele relaxou, mas rapidamente ficou
tenso novamente. — Liliana?
Eu não respondi. Minha língua parecia presa no céu da
boca. O que eu estava pensando?
Romero balançou as pernas para fora da cama e se
sentou na borda por um momento, em silêncio, me
observando. Ele podia ver o meu rosto? Eu provavelmente
parecia um rato acuado por um gato, mas eu não estava com
medo. Nem um pouco. Se qualquer coisa, eu estava
envergonhada, e estranhamente animada. Eu era um rato
perturbado e doente, isso era certo. Ele se levantou, e, claro,
meus olhos fizeram uma varredura rápida pelo seu corpo. Ele
estava vestindo apenas uma cueca samba-canção. Ele parecia
bom demais para ser verdade. Como se tivesse saído
diretamente dos meus sonhos. Era embaraçoso pensar quantas
vezes eu sonhei com Romero e todas as coisas que eu queria
fazer com ele.
— Lily, o que você está fazendo aqui? Está tudo bem?
— havia preocupação em sua voz, mas também havia algo
mais. Algo que eu tinha ouvido quando ele me pegou
espionando no chuveiro. Era algo mais sombrio e quase
ansioso.
Meu estômago vibrou com borboletas e eu dei um passo
em sua direção. Eu queria voar em seus braços, queria beijá-lo,
e queria muito mais.
— Posso dormir com você? — as palavras saltaram para
fora, apenas assim, e uma vez que elas foram pronunciadas, eu
não podia acreditar que as tinha dito. Especialmente porque
elas poderiam facilmente ser levadas para o caminho errado.
Romero congelou. O silêncio se estendeu entre nós. Eu
tinha certeza que isso iria me esmagar a qualquer segundo. Dei
mais um passo em sua direção. Eu estava quase no alcance do
seu braço agora.
O som da respiração de Romero era incrivelmente baixo.
Eu podia ver seu peito arfando. Ele estava com raiva?
— Isso não é algo com que você deve brincar, — ele
disse calmamente. — Não é engraçado, — ele estava com
raiva. Talvez eu devesse ter tomado a dica, girado nos
calcanhares e saído do quarto, mas, como Gianna, eu nunca
tinha sido muito esperta em situações como essa.
— Eu não estava brincando, e eu não quis dizer isso
assim, — eu sussurrei. — Eu quero dormir na sua cama,
apenas dormir — por enquanto. Eu queria mais do que isso,
eventualmente.
— Liliana, — Romero murmurou. — Você perdeu a
cabeça? Você ao menos percebe o que está dizendo?
Minha fúria se levantou. Todo mundo sempre pensava
que eu era muito jovem, muito ingênua, muito feminina para
tomar decisões. — Eu sei exatamente o que estou dizendo.
— Eu duvido.
Eu avancei a distância entre nós até que nossos peitos
quase estavam pressionados um contra o outro. Romero não
recuou, mas ele se preparou. — Toda noite eu sinto que a
escuridão está me engolindo, como se minha vida estivesse
fora de controle, como se não houvesse nada de bom para
mim. Mas quando eu penso em você, esses sentimentos
desaparecem. Eu me sinto segura quando eu estou com você.
— Você não deveria. Eu não sou um bom homem, não
importa por qual padrão você olhe.
— Eu não me importo. Eu cresci neste mundo. Eu sei
como as coisas são, e eu estou bem com isso.
— Você nem conhece nem a metade. E se você
realmente sabe como são as coisas, então você deve perceber o
que poderia acontecer se alguém te encontrasse no meu quarto
à noite.
— Estou cansada de ouvir o que eu não posso fazer. Não
posso decidir por mim mesma? É a minha vida, então por que
eu não posso tomar as decisões?
Romero ficou em silêncio por um momento antes que
ele dissesse, — Claro, é a sua vida, mas o seu pai tem certas
expectativas sobre você. E não só isso, Luca deu a ele e a
Dante Cavallaro a sua palavra de que ele iria cuidar bem de
você e te manter segura. Isso inclui a sua reputação. Se alguém
contar a eles que você estava em meu quarto, isso poderia
significar guerra entre a Outfit e Nova York. Isso não é um
jogo. Isso é muito sério para você brincar.
— Eu não estou brincando. Eu estou tão sozinha,
Romero, — eu sussurrei. — E eu gosto de você. Eu realmente
gosto de você, — isso era um eufemismo. — Eu só quero estar
perto de você. Você me beijou de volta e eu sei como você tem
olhando para mim. Eu sei que você está interessado em mim.
Ele não disse nada.
Dúvida pareceu cruzar sua cabeça. E se eu tivesse
imaginado os olhares que ele tinha me dado? — Se você não
gosta de mim, então me diga. Está tudo bem, — não estaria, na
verdade. Eu seria esmagada, mas talvez fosse melhor. Eu
seguiria em frente com minha vida de alguma forma.
— Foda-se, — ele murmurou, se afastando de mim e me
deixando encarar as suas costas. — Se eu fosse um bom
homem, eu lhe diria exatamente isso. Eu tenho mentindo para
você para o seu próprio bem. Mas eu não sou bom, Lily.
Um alívio me inundou. Ele não tinha dito que não
gostava de mim. Eu tinha lido de maneira correta os seus
sinais. Deus, eu poderia ter gritado em alegria. Descansei
minhas palmas das mãos contra seus ombros nus. Sua pele era
suave, exceto por algumas pequenas cicatrizes, mas elas
apenas o fizeram mais desejável para mim. Ele estremeceu sob
o meu toque, mas não se afastou. — Então, você está
interessado em mim? Você gosta de mim?
Romero soltou uma risada dura. — Isso é loucura.
— Apenas me diga. Você me acha atraente?
Ele se virou. Eu não fui rápida o suficiente para puxar
minhas mãos porque agora elas descansavam contra o seu
peito. Isso era ainda melhor. Eu tive que me impedir de correr
minhas mãos de cima a baixo no seu tórax. Mesmo na
semiescuridão eu podia ver o fogo em seus olhos. Ele me
olhava da cabeça aos pés. Eu só estava vestindo os shorts do
pijama e um top, mas não estava envergonhada. Eu queria que
Romero me visse assim, queria ter uma reação dele.
— Lily, você é impressionante. É claro que eu acho você
atraente. Olhe para você, você é bonita pra caralho.
Meus lábios se separaram. Isso foi mais do que eu tinha
ousado esperar. Cheguei ainda mais perto e olhei para ele. —
Então por que você continua me empurrando para longe?
— Porque é a coisa certa a fazer, e porque eu conheço os
riscos.
— Eu não valho a pena o risco?
Romero olhou para mim com tal intensidade que eu não
pude deixar de tremer. Ele não respondeu. Ele agarrou os meus
quadris e me puxou contra ele antes que os seus lábios
descessem nos meus. Eu abri sem hesitação, ávida por aquele
beijo, ansiosa por sua proximidade. Sua língua mergulhou em
minha boca. Não havia sombra de hesitação ou dúvida em seu
beijo. Eu gemi. Isso era tão diferente do nosso primeiro beijo,
era tão mais intenso. Ele segurou a parte de trás da minha
cabeça, me guiando do jeito que ele queria. Eu mal podia me
segurar. Fiquei na ponta dos pés e me encostei a ele enquanto
segurei seus ombros para manter o equilíbrio. O beijo me
consumiu e me agitou como se um incêndio tivesse começado
dentro de mim, me fazendo muito quente.
Romero se afastou e eu tentei ir com ele, mas ele me
manteve à distância do braço. Sua respiração era dura e havia
um olhar selvagem em seus olhos. — Me dê um segundo, —
ele murmurou.
Ele fechou os olhos como se estivesse com dor. Tudo o
que eu conseguia pensar era em beijá-lo novamente, ter as suas
mãos em meu corpo. Eu não queria nada mais. Mas eu fiz o
que ele pediu e dei a ele alguns segundos para obter controle
sobre si mesmo. Finalmente, ele abriu os olhos outra vez. O
olhar selvagem tinha ido embora e foi substituído por algo
mais controlado. Seu domínio sobre meus ombros relaxou e os
polegares acariciaram levemente a minha pele. Eu não tinha
certeza de que ele notou que estava fazendo isso. O leve toque
levantou arrepios de prazer por toda a minha pele. Esperei que
ele dissesse alguma coisa, mas também temia o que ele diria.
Uma de suas mãos viajou até a minha bochecha. — Você deve
sair agora, — disse ele calmamente.
Eu congelei. — Você está me mandando embora?
Hesitação cintilou em seu rosto. — É o melhor, Lily,
acredite em mim.
Eu dei um passo para trás. Eu não ia implorar. Se ele não
queria que passasse a noite, então eu teria que aceitar isso. —
Ok. Boa noite, — eu me virei e corri para fora do quarto.
Quase não prestei atenção enquanto atravessava o corredor em
direção ao meu quarto. Eu tinha me exposto hoje, tinha
arriscado tudo para conseguir o que eu queria. Eu não faria
isso novamente. Eu tinha uma grande paixão por Romero, mas
eu também ainda tinha o meu orgulho. Se ele não queria correr
os riscos, então eu aceitaria isso.
Fechei a porta e rastejei de volta para minha cama.
Como antes, a escuridão se fechou em mim. Era muito
silencioso no meu quarto, muito solitário e vazio. Mesmo a
lembrança do beijo que Romero e eu tínhamos compartilhado
não conseguiu me animar. Não quando isso foi provavelmente
a última vez que eu beijaria Romero. Demorou muito tempo
para eu cair no sono e, em seguida, o rosto infeliz e pálido da
mãe assombrou os meus sonhos.
*****
*****
ROMERO
Era meia-noite quando fui para o meu quarto. Luca,
Matteo e eu tínhamos jogado cartas até uma hora atrás, uma
distração que eu fodidamente precisava, e depois, quando eles
se juntaram às suas mulheres na cama, eu fiquei sentado no
terraço, me perguntando por que eu não poderia fazer o
mesmo.
Um barulho me fez parar. Minha mão foi para minha
arma enquanto eu segui o som até a porta do quarto de Lily.
Parecia que ela estava em perigo, murmurando em seu sono e
chorando. Verifiquei o corredor, mas eu estava sozinho. Todo
mundo estava dormindo há muito tempo, ou pelo menos
estavam ocupados por trás das portas fechadas dos quartos.
Abri a porta e entrei. Levou tempo para os meus olhos se
acostumarem com a escuridão, que era pior do que no resto da
casa. As cortinas não deixavam qualquer luz entrar. Eu
mantive a porta entreaberta e me movi para dentro do quarto.
Eu sabia o que eu deveria fazer, e definitivamente não era estar
sozinho no quarto de Lily com ela à noite. Na minha lista de
coisas para evitar essa estava realmente no topo.
Ela estava em sofrimento óbvio, e eu tinha jurado
protegê-la, mas um pesadelo não iria machucá-la. Não havia
nenhuma razão para eu estar aqui. Eu poderia ter chamado
Aria ou Gianna, ou simplesmente ter deixado Lily com seu
pesadelo, mas eu era um filho da puta estúpido.
Quando ela apareceu no meu quarto, dois dias atrás,
precisei de todo meu fodido autocontrole para mandá-la
embora. Eu a queria na minha cama, e não apenas dormindo.
Quando ouvi pela primeira vez ela perguntar se poderia dormir
comigo, isso quase me valeu uma ereção. Eu sabia que ela não
queria dizer isso dessa maneira, mas eu nunca quis tanto
entender alguém mal como naquela noite.
Isso estava errado. Eu sempre coloquei o meu trabalho e
a Família em primeiro lugar. Todas as mulheres da minha vida
até agora tinham sido uma distração agradável, mas elas nunca
sequer chegaram perto de interferir nos meus deveres. Lily era
diferente. Eu não tinha certeza de como ela tinha feito isso,
mas eu não conseguia tirá-la da minha cabeça. Olhei entre a
porta aberta e cama de Lily, então caminhei em direção a ela.
Eu deixei a porta entreaberta, embora parte de mim quisesse
fecha-la e ter total privacidade, mas se eu queria qualquer
chance de manter minha promessa, precisava do risco de
alguém andar e olhar para o quarto.
Quando cheguei mais perto de Lily, a assisti por um
momento. Ela estava deitada de costas, seu cabelo loiro
espalhado em seu travesseiro, e as sobrancelhas desenhadas
juntas. Mesmo no meio de um pesadelo ela era bonita demais.
Caramba. No que eu tinha me metido? Toquei o seu ombro.
Ela estava usando apenas um top, meus dedos roçaram a pele
nua de seus ombros, e o toque enviou um arrepio maldito por
todo o caminho até o meu pau. Eu só toquei a porra do seu
ombro, não seu peito, sua bunda ou sua buceta. Quando tive
um maldito pau duro só por tocar no seu ombro, pelo amor de
Deus. Isso era patético em um nível totalmente novo. —
Liliana? — de alguma forma eu me sentia mais seguro usando
o seu nome normal em vez de seu apelido.
Seus olhos se moveram sob as pálpebras e ela se agitou
sob a minha mão, mas ainda não acordou. Eu toquei levemente
na lateral do pescoço dela, sentindo a vibração pulsando sob os
meus dedos. —Lily, — eu disse um pouco mais alto.
Ela saltou e seus olhos se abriram, olhando diretamente
para mim. — Romero? — ela sussurrou em uma voz mansa e
pesada de sono. Eu queria beijá-la.
*****
LILIANA
Alguém tocou a minha garganta, me arrancando do sono.
Eu abri os meus olhos, mas demorou alguns segundos antes
que o meu cérebro registrasse quem estava diante de mim:
Romero.
— Romero? — talvez eu ainda estivesse sonhando. Era
definitivamente uma melhoria em relação ao meu sonho
anterior, no qual minha mãe tinha falado para mim, com olhos
sem vida, sobre a felicidade.
— Está tudo bem, — disse Romero em sua voz
profunda.
Olhei em volta. — Você está no meu quarto, — eu soava
como uma idiota. Mas eu estava atordoada. Afinal, ele tinha
me jogado facilmente para fora do seu quarto dois dias atrás, e
agora ele estava no meu. Uma mudança que eu não esperava.
Não que eu me importasse.
Os lábios de Romero se contorceram como se ele
quisesse sorrir, mas depois ele ficou sério novamente. Às
vezes eu pensava que ele tentava esconder seus sorrisos
porque temia que, se ele permitisse esse tipo de emoção, todas
elas viriam à tona. — Você teve um pesadelo. Eu decidi te
acordar.
Eu balancei a cabeça. Ele estava de pé ao lado da minha
cama, meio inclinado sobre mim. Se eu estendesse a mão,
poderia agarrar o seu pescoço e o puxar para baixo. Meus
dedos coçaram para fazer exatamente isso, mas eu não tinha
esquecido a sua rejeição de dias atrás. Ele precisava dar o
próximo passo, e eu não tinha certeza se entrar no meu quarto
para me acordar de um pesadelo contava como um. Eu o
queria. Me sentei e os cobertores caíram até meus quadris. Eu
só usava uma camisola fina. Os olhos de Romero seguiram o
movimento, e permaneceram em meu peito.
— Obrigada por me acordar. Eu tive um pesadelo com a
minha mãe, — eu não sei por que disse isso. Meu pesadelo era
a última coisa que eu queria pensar, muito menos falar sobre
ele com Romero. Seus olhos voltaram para o meu rosto. Às
vezes eu pensava que poderia me afogar neles. Quando ele
estava por perto eu me sentia tão feliz e leve. De alguma forma
eu sabia que ele era o único, a pessoa com quem era para eu
estar. Eu soube isso praticamente desde o início. Se havia algo
como destino, então era isso.
Romero afastou uma mecha de cabelo da minha testa e
eu me inclinei para o toque. De alguma forma ele estava mais
perto agora. —Você sente falta dela.
Eu balancei a cabeça. Eu sentia, mas as suas últimas
palavras me assombravam mais do que a sua morte. Sua
tristeza sobre as coisas que ela tinha perdido, o desejo em seus
olhos – eu não acho que eu poderia esquecer isso. Romero e eu
trancamos nossos olhares e apenas encaramos um ao outro. Da
penumbra do corredor vinha uma luz, e eu pude ver o conflito
nos olhos de Romero. Eu queria me inclinar para frente, mas
me contive. Eu tinha que ser forte, tinha que ter algum auto
respeito.
Eu estava prestes a dizer algo, qualquer coisa, para parar
a crescente tensão, mas então Romero se inclinou e me beijou.
Eu não esperava que ele fizesse isso, mas suspirei contra seus
lábios devido à surpresa, que durou apenas um par de
segundos, e então passei meus braços em volta do pescoço e o
beijei de volta com tudo que eu tinha. Ele colocou um joelho
sobre a minha cama e segurou a minha cabeça. Seu beijo
expulsou o meu cansaço e a tristeza persistente do meu
pesadelo. Eu não tinha certeza de quanto tempo nós nos
beijamos, Romero ajoelhado sobre a cama e eu meio deitada,
mas eu estava mais viva a cada segundo. Eventualmente eu
puxei para trás, minha respiração ofegante. Havia uma batida
insistente entre as minhas pernas, mas eu sabia que seria
errado levar as coisas mais longe essa noite.
Romero acariciou minha bochecha e estava prestes a se
endireitar, mas eu peguei o braço dele. — Eu não quero ficar
sozinha esta noite.
Eu esperei pelo protesto, mas ele não veio. Meu coração
caiu quando ele caminhou em direção à porta. Será que ele ia
sair sem uma palavra? Em vez disso, ele fechou a porta
silenciosamente antes de voltar para a cama. A cada passo que
ele tomava em minha direção, meu coração parecia inchar com
emoção. Romero tirou sua arma do coldre e a colocou na mesa
de cabeceira, e então deslizou para fora de seus sapatos. Eu
voei para o lado da cama, para dar espaço para ele, a emoção
vibrando em meu peito. Ele não escorregou para debaixo das
cobertas comigo como eu esperava, ao invés disso, se estendeu
em cima delas. Olhei para ele por cima do meu ombro. Ele
parecia cansado, ainda mais cansado do que eu me sentia. Ele
sorriu. Parecia quase resignado, com uma ponta de
arrependimento. Ele passou sorrateiramente o braço em volta
da minha cintura e me abraçou ao seu corpo, minhas costas
pressionadas contra seu peito, com os cobertores entre nós. Eu
queria que essa barreira se fosse, mas decidi deixar que as
coisas fossem do seu jeito essa noite. Eu tinha ganhado uma
pequena batalha, a guerra poderia esperar. Apesar do material
agrupado entre nós eu com certeza podia sentir o quanto o
nosso beijo tinha afetado Romero. Sorrindo para mim mesma,
eu fechei os olhos. — Obrigada por ficar comigo.
Romero beijou a minha cabeça. — Durma um pouco. Eu
vou manter os pesadelos longe.
— Eu sei que você vai, — eu sussurrei.
*****
*****
ROMERO
Enquanto eu observava Lily sair empinada, eu quase
gemi. Seu minúsculo biquíni mal cobria as suas nádegas
perfeitas e suas longas pernas me deixaram selvagem. Eu
queria ler a sua mente, queria descobrir o que ela desejava e
dar a ela.
Seu comentário anterior sobre o seu gosto tinha enchido
a minha cabeça com imagens da minha boca sobre o seu sexo.
Eu não podia esperar para descobrir se ele era tão rosa e
perfeito como eu imaginava. Eu queria lamber até que ela
implorasse por misericórdia.
Minhas calças se tornaram desconfortáveis e eu tive que
me mexer para dar ao meu pau um pouco mais de espaço.
Como eu seria capaz de me conter, se eu não parava de pensar
sobre o gosto dela? Já tinha sido difícil o suficiente deitar em
sua cama sem essas imagens na minha cabeça, me torturando.
Eu sabia que Lily iria me visitar novamente à noite. Agora que
ela sabia o quanto eu a queria, ela iria aproveitar sua chance.
Mas eu também sabia que eu precisava estabelecer
determinados limites. Flertar e beijar ainda eram toleráveis,
embora eu tivesse quase certeza de que Luca e Aria, e
definitivamente Scuderi, discordariam. Levar a outro nível era
algo que eu não podia arriscar. Eu tinha feito uma promessa a
Luca e eu deveria pelo menos tentar mantê-la até certo ponto.
Capítulo Nove
LILIANA
Naquela noite eu rastejei até o quarto de Romero
novamente. As luzes estavam apagadas, mas ele estava
sentado com as costas contra a cabeceira da cama. Ele não
disse nada quando me aproximei e de repente eu estava
nervosa.
— Ei, — eu sussurrei, então bocejei porque tinha sido
um longo dia e, como sempre, o sono habitual me evitou. —
Posso entrar na sua cama?
Romero levantou os cobertores. Eu rapidamente caí sob
eles, mas não me aconcheguei contra ele, de repente muito
tímida. Romero olhou para mim, então ele estendeu a mão e
tirou alguns fios da minha testa. Eu me apoiei em meus
cotovelos para beijá-lo, mas ele balançou a cabeça. Eu
congelei.
— Eu não acho que deveríamos nos beijar enquanto
estamos juntos na cama.
— Você não quer mais me beijar? — eu era tão horrível?
— Não, eu ainda quero te beijar e eu vou te beijar, mas
não quando estamos na cama. Há certos limites que não
devemos atravessar, Lily.
— Ok, — eu disse lentamente. Talvez ele estivesse
certo. Beijar na cama era apenas um pequeno passo antes de
fazer muito mais e algumas coisas simplesmente não podiam
ser desfeitas. — Mas podemos nos deitar juntos?
Romero riu. — Eu provavelmente deveria dizer não, —
ele murmurou. — Mas eu estou ferrado de qualquer maneira.
Ele se deitou e abriu os braços. Eu avancei em direção a
ele e coloquei a minha cabeça na parte superior do seu braço.
Eu não estava certa porque me sentia tão confortável em sua
presença. Eu não era alguém que gostava de contato físico
com pessoas desconhecidas, mas com Romero eu sempre
queria proximidade.
Fechei meus olhos, mas não adormeci imediatamente. —
Alguma vez você já se arrependeu de trabalhar para Luca?
Como filho de um soldado, você teve a opção de não se tornar
parte da Família. Você poderia ter vivido uma vida normal.
— Não. Isso foi tudo que eu sempre quis, — disse
Romero. Seus dedos corriam para cima e para baixo no meu
antebraço de uma forma muito perturbadora, mas eu não tinha
certeza se ele sequer tinha notado o que estava fazendo. — Eu
conheci Luca e Matteo muito antes de ser introduzido. Eu
sempre tomei Luca como um exemplo porque ele era mais
velho e forte como um urso e Matteo e eu sempre nos
metíamos em problemas.
— Eu aposto que Matteo se metia nos problemas e você
que tinha que salvar a bunda dele.
Romero soltou uma risada. — Sim, isso é mais parecido
com a verdade. Quando Luca entrou oficialmente para a
Família e quando ouvi a história de como ele matou seu
primeiro homem aos onze, eu não queria nada mais do que ser
como ele.
— Você tinha apenas oito anos nessa época. Você não
deveria estar brincando com carrinhos de caixa de fósforos em
vez disso?
— Eu sempre soube que queria me tornar um membro
da Família. Eu queria ser o melhor lutador. Eu pratiquei muitas
vezes com Matteo e, no início, até mesmo com Luca. Eles me
davam uma surra, limpavam o chão comigo. Mas eu era um
bom aprendiz e quando fui convocado, alguns anos depois,
poucos podiam me enfrentar cara a cara em uma briga de facas
e eu só tenho melhorado com o tempo. Eu trabalhei duro para
isso.
Eu poderia dizer que ele estava orgulhoso do que tinha
alcançado. — O que a sua família queria? Eles tentaram
manter você longe disso?
— Meu pai não queria essa vida para mim. Como um
cobrador de dívidas, ele tinha que fazer muitas coisas
horríveis. Mas ele e minha mãe confiaram em mim para
decidir sozinho o meu caminho.
Como seria ter pessoas que confiam em você para fazer
suas próprias decisões?
— Essa vida, isso faz você feliz? — eu perguntei em voz
baixa. Às vezes eu gostaria que houvesse uma definição fácil
para o que me fazia feliz.
— Às vezes, mas ninguém é feliz o tempo todo, — ele
ficou em silêncio por um momento. — O que te faz feliz?
— Eu não sei. Estar aqui, mas eu sei que vai acabar.
O peito de Romero subiu e desceu sob a minha bochecha
até que eu tive certeza de que ele tinha adormecido. — A
felicidade não é constante. Isso não significa que você não
pode aproveitar enquanto ela existe.
*****
*****
LILIANA
Eu tinha ouvido falar das meninas indo lá para baixo
com os meninos na escola, mas eu nunca tinha sido capaz de
imaginar como seria a sensação de ter a boca de alguém em
mim assim. Seria estranho? Molhado? Nojento? Desajeitado?
Isso não era nenhuma dessas coisas. Isso foi
fodidamente maravilhoso. Ou talvez era apenas porque
Romero sabia exatamente o que fazer, como mordiscar e
chupar e lamber até que meus dedos cavassem no colchão
porque eu não poderia aguentar mais o prazer. E parecia ficar
melhor cada vez que ele fazia isso. Semanas passavam e todas
as noites Romero me dava prazer com a boca. Ele parecia se
divertir tanto quanto eu gostava de fazer sexo oral com ele.
Hoje à noite, ele estava tomando o seu tempo e eu não
queria apressá-lo. Era bom demais. A barba de Romero me
arranhou levemente e isso intensificava as sensações ainda
mais. Ele levantou a cabeça e eu bufei em sinal de protesto.
Ele riu, mas não baixou a boca. — Me diga quando você
estiver gozando, está bem? Eu quero saber.
— Ok, — eu disse, então gemi quando Romero fechou
os lábios sobre o meu clitóris e continuou onde ele parou.
Eu podia me sentir cada vez mais perto. Minhas coxas
começaram a tremer. — Eu vou gozar, — engoli em seco,
muito presa no meu prazer para estar envergonhada com isso.
O dedo de Romero escovou minha abertura e, em
seguida, ele deslizou para dentro. Eu arqueei para fora do
colchão. Houve um lampejo de dor, mas por algum motivo me
fez gozar ainda mais forte.
Eventualmente eu jazia imóvel na cama, tentando
recuperar o fôlego.
Romero soltou uma respiração áspera. — Droga. Você é
tão apertada.
Eu não podia dizer nada em resposta, muito
sobrecarregada pela sensação dele em mim. Ele moveu o dedo
devagar, acariciando o interior de minhas paredes, triplicando
as sensações no meu corpo. Ele enrolou o dedo e os meus
quadris empurraram para fora do colchão enquanto eu
engasgava com surpresa e outro orgasmo balançou através de
mim. Ele arrancou o dedo dele e o colocou na boca. Eu só
podia olhar, estranhamente excitada pela visão.
Romero rastejou de volta para mim.
Uma pergunta queimou em minha mente. E se a breve
dor era Romero rompendo o meu hímen? Era ridículo que eu
ainda tivesse que me preocupar com algo assim.
Romero alisou minhas sobrancelhas. — Ei, eu te
machuquei?
— Não, eu… Eu só me perguntei se… — eu senti
vergonha de expressar as minhas preocupações.
Romero parecia confundido em sua própria mente. —
Você está com medo de não ser mais virgem porque eu
coloquei o meu dedo em você. — eu não conseguia decifrar a
emoção em sua voz. Ele estava com raiva? Irritado?
Ele segurou a parte de trás da minha cabeça. — Eu não
faria isso com você, Lily. Eu não quero tomar a virgindade
sem permissão, e mesmo assim… — ele balançou a cabeça. —
Eu não deveria sequer pensar em tomar a sua virgindade. Mas
você não precisa se preocupar. Meu dedo não é grande o
suficiente e eu não fui fundo o suficiente para fazer qualquer
dano. Você está segura.
— Eu não estava com medo, eu só… — sim, o quê? Eu
estava preocupada. Não havia como negar isso. Não era que eu
não queria Romero. Eu queria. Mas isso era um grande passo
que eu não poderia tomar de volta.
— Está tudo bem. Você deve estar com medo sobre isso.
Sua vida estaria arruinada se você perder a virgindade antes de
sua noite de núpcias, — disse ele em um tom estranho. Ele
passou os braços em volta de mim, então eu não podia olhar
para o seu rosto mais. — Eu quero que você seja o único,
sabe? — eu sussurrei na escuridão.
— Mas eu não posso fazer isso, — disse Romero, os
dedos apertando o meu braço.
— Por que não?
— Lily, — disse Romero quase com raiva. — Você sabe
por que não. Até agora temos tido sorte que nós não fomos
pego. Suas irmãs e Luca já estão suspeitando de algo. Nós
ainda podíamos negar tudo e ninguém seria capaz de provar o
contrário, mas se nós dormimos juntos, então haveria provas.
— Haveria provas? — eu bufei. — Nós não estamos
planejando cometer um crime.
— Em nosso mundo é. Nós não jogamos pelas regras do
mundo do lado de fora e você sabe disso.
— Nós só queremos estar juntos porque nós nos
amamos. Isso é tão ruim? — eu bati minha boca fechada
quando percebi o que eu tinha dito. Eu praticamente coloquei
as palavras ‘eu te amo’ nos lábios de Romero quando ele
nunca disse isso. Eu não tinha qualquer problema, eu sabia que
eu o amava. Será que ele me amava também?
Ele ficou imóvel e por um momento parou de respirar
completamente. — Porra, — Romero sussurrou asperamente.
Ele pressionou um beijo contra a minha testa. — Isso está
ficando fora de controle.
— Eu quis dizer isso, Romero. Eu te amo, — eu disse.
Ele estava tranquilo. — Você não deveria. Não temos
um futuro, Lily.
Meu coração doía de suas palavras. Eu não queria
acreditar nelas para ser verdade. — Você não sabe disso.
— Você está certa. — disse Romero eventualmente. Ele
beijou minha testa novamente e, em seguida, nenhum de nós
disse nada.
*****
*****
ROMERO
Eu era suposto ser a voz da razão, o único a proteger
Lily a partir de si mesma e de mim, mas eu não era tão forte
como todo mundo pensou que eu era. Luca acreditou em mim,
confiava em todo o meu senso de dever e contenção. Ele não
me conhecia bem o suficiente. Confiança e necessidade
brilhavam nos belos olhos azuis de Lily. Ela me queria, e
dane-se, eu a queria mais do que qualquer coisa. Cada fodida
vez que eu a pegava com o meu dedo, eu imaginava como
seria ter o meu pau dentro dela, sentir as suas paredes quentes
em torno de mim. Eu não podia negar. Talvez se houvesse uma
centelha de dúvida em seu rosto, mas não havia nenhuma. Eu
provei a sua boca mais uma vez. Ela era doce, suave e
irresistível. Seus dedos ao redor do meu pau apertaram e ela
balançou os seus quadris levemente - um convite que eu
entendia muito bem e ansiava por aceitar. Eu me afastei de
seus lábios. — Ainda não.
— Mas, — ela começou. Enfiei a mão entre as suas
pernas e entrei nela com o meu dedo do meio. Ela soltou um
suspiro baixo e abriu um pouco mais para mim. Eu amei como
ela estava escorregadia. Sempre tão molhada para mim. Tinha
havido muitos momentos na minha vida quando eu tinha me
sentido poderoso, mas dar prazer a Lily vencia todos eles. Ela
não disse nada mais, só fechou os olhos e relaxou, confiando
em mim para fazê-la se sentir bem. Eu beijei o seu peito, então
mordisquei o mamilo enquanto eu deslizava lentamente o meu
dedo dentro e fora. Sua respiração se acelerou, mas eu mantive
um ritmo constante. Me mudei para baixo e me posicionei
entre as suas coxas. Me permiti apreciar a vista do meu dedo
enquanto ele entrava em sua buceta rosa perfeita. Tudo sobre
ela era linda. Eu me inclinei para frente, não capaz de resistir
por mais tempo. Fechei minha boca sobre o seu feixe de
nervos e brinquei com meus lábios e língua, enquanto o meu
dedo se mantinha empurrando nela, mais profundo e mais
forte agora. Eu podia sentir o hímen cada vez que eu
empurrava. Eu pressionei minha língua contra o clitóris e
deslizei outro dedo dentro dela. Eu nunca tentei isso antes e
suas paredes apertaram em torno de mim com força. Sua
respiração engatou com surpresa e ela se esticou debaixo de
mim. Eu a circulei levemente com a minha língua da forma
como ela adorava, em seguida, a levei entre meus lábios e
suguei. A tensão deixou o seu corpo e uma nova onda de
umidade apareceu, tornando mais fácil para os meus dedos
penetrá-la. Eu encontrei um ritmo lento enquanto ouvia os
gemidos e suspiros doces vindo de seus lábios. Eu poderia
escutar ela para sempre. Eu nunca me cansava de dar prazer a
ela. Havia apenas uma sensação melhor no mundo do que
fazer Lily explodir de prazer: o conhecimento de que eu era o
único a fazer isso com ela. Uma emoção mais escura me
encheu. Ela não era realmente minha, nunca poderia ser. Um
dia ela poderia ter que se casar com alguém que o seu pai
escolhesse para ela e, em seguida, um homem iria vê-la assim.
Uma fúria irracional passou por mim, mas eu empurrei o
sentimento de lado. Isso não era o momento para pensar sobre
esses tipos de coisas. Eu não queria perder o controle só
porque eu deixei os meus pensamentos dispersos em lugares
perigosos. Eu queria aproveitar cada segundo dessa porra,
especialmente porque eu não sabia quantas chances teríamos
juntos.
Eu me concentrei na doçura de Lily, até que ela
finalmente se desfez, abafando os seus gemidos em meu
travesseiro. Eu desejei que eu pudesse ouvi-la gritar sem
restrições, sem o medo de ser pego. Um dia. Um dia, eu
realmente iria fazê-la minha. Eu iria descobrir uma maneira.
Eu puxei os meus dedos para fora e me sentei,
saboreando a visão de seu peito arfando enquanto ela
aproveitava o rescaldo do seu orgasmo. Lentamente ela abriu
os olhos e sorriu. Caramba. Aquele sorriso me deixava cada
vez mais louco. Me debrucei sobre ela e a beijei, então eu
cheguei até a gaveta da minha mesa de cabeceira e peguei um
preservativo.
Lily me observava e a cintilação breve de um
nervosismo atravessou seu rosto.
Fiz uma pausa. — Você tem certeza que quer fazer isso?
— eu queria me matar por perguntar. Eu não queria nada mais
do que estar dentro dela, fazê-la minha, sentir as suas paredes
em torno do meu pau. Por que eu tinha que agir todo nobre
agora? A quem eu estava enganando?
Ela lambeu os lábios da maneira mais torturante possível
e sussurrou: — Sim, eu quero você.
Graças a Deus. Eu beijei os seus lábios novamente. Eu
deslizei para fora da cama e sai da minha cueca. Meu pau
esticou com a atenção. Eu rapidamente rolei o preservativo
sobre ele antes que eu subisse de volta. Esta não era a primeira
vez que Lily tinha me visto nu, mas hoje havia um lampejo de
ansiedade em seu rosto quando ela viu o meu pau. Me movi
entre suas pernas, deixando os meus dedos traçarem a pele
macia de suas coxas.
Havia confiança em seus olhos. Eu não merecia muita
confiança dela e ainda assim, eu fodidamente amava ver isso
em seu rosto. Apoiei o meu peso em meus cotovelos e
comecei a beijá-la suavemente. A ponta do meu pau repousou
suavemente contra o seu calor molhado. Eu queria me enterrar
nela e levou cada gota de autocontrole para ficar quieto e
esperar ela relaxar debaixo de mim. Liguei a minha mão sob
sua coxa e puxei as pernas um pouco mais distantes. Eu olhei
profundamente em seus olhos, então eu mexi meus quadris e
comecei a empurrar para dentro dela. Eu não tirei os olhos
dela enquanto eu avançava em seu calor apertado. Me sentia
tão fodidamente incrível. Apertada, quente e úmida, e eu só
queria empurrar para ela até o fim. Em vez disso eu me
concentrei nos olhos de Lily, sobre a forma como ela confiou
em mim para fazer isso bom para ela, para cuidar dela. Seu
rosto brilhou com desconforto quando eu não estava nem na
metade do caminho. Fiz uma pausa, mas os dedos em meus
ombros apertaram. — Não pare, — disse ela rapidamente.
— Eu não vou, — eu prometi. Parar era a última coisa
que eu queria fazer. Eu passei os meus lábios sobre a sua testa,
então eu empurrei ainda mais para ela até que cheguei em sua
barreira. Eu não lhe disse que ia doer. Ela ficou tensa. Eu
empurrei o resto do caminho nela. Suas paredes apertaram o
meu pau com força. Eu não me mexi.
O rosto de Lily estava contorcido de dor.
— Está tudo bem, — eu murmurei. — Essa foi a pior
parte. — pelo menos, eu esperava que fosse. Parecia tão
apertado em torno de mim, eu estava preocupado de que se eu
começasse a me mover, eu faria as coisas piores para ela, mas
eu não podia ficar lá assim para sempre. E eu realmente queria
me mexer, queria me perder nela. — Lily?
Ela me deu um sorriso trêmulo. — Estou bem. Não é tão
ruim quanto parece.
Isso não era realmente algo que um cara iria querer ouvir
da garota no qual ele estava. Eu queria fazê-la se sentir bem,
mas eu sabia que ia ser difícil durante a sua primeira vez.
Mesmo que eu não queria nada mais do que me mover, eu
decidi ficar como eu estava e beijá-la por um tempo. Meu pau
gritou em protesto.
— Você pode realmente se mover, — ela sussurrou. E
isso foi tudo o que precisou. Retirei quase todo o caminho
antes de lentamente deslizar de volta para ela.
Ela exalou e seus dedos cavaram em minhas costas. Eu
desacelerei ainda mais e tentei não ir tão profundo e logo o
corpo de Lily se soltou debaixo de mim. Eu fiz amor com ela
por um longo tempo e quando ela respondeu com o primeiro
gemido hesitante, eu queria foder com um grito de triunfo.
Mas eu não podia durar para sempre, e não na maneira como
as suas paredes apertavam em torno de mim e eu tinha a
sensação de que ela não estava perto de gozar. Da próxima,
talvez. E haveria uma próxima vez, eu sabia isso agora.
Quando era sobre Lily, eu não podia resistir à tentação.
Eu acelerei ainda mais até que eu senti o meu pau
apertar e liberar para ela. Eu segurei Lily firmemente enquanto
eu balançava os meus quadris desesperadamente, então eu
parei.
Ela fechou os olhos e apoiou a testa contra o meu peito.
— Você está bem? — murmurei.
Ela assentiu com a cabeça, mas não disse nada. Eu me
afastei um pouco e levantei o rosto, preocupado que ela
estivesse chorando. Mas ela simplesmente parecia exausta, e
feliz.
Um alívio tomou conta de mim. Eu puxei para fora dela
lentamente e retirei o preservativo. Antes que eu o colocasse
no lixo, avistei o sangue manchado sobre o preservativo.
Por alguma razão isso fez a imagem virar realidade.
Porra. O que eu fiz?
— Romero? — Lily sussurrou. Me deitei ao lado dela e
a puxei em meus braços. Ela não precisa saber os meus
pensamentos. Eu não queria que ela se preocupasse.
Não demorou muito para ela adormecer, mas eu fiquei
acordado por horas. Eventualmente eu saí da cama e caminhei
em direção à janela. Eu fiquei olhando em direção ao oceano
por um longo tempo. Arrependimento não era uma emoção
útil. Você não podia desfazer o passado. Voltei para a cama.
Lily estava enrolada debaixo do cobertor, apenas o seu
cabelo bonito e rosto pacífico espreitando para fora. Ela estava
dormindo profundamente. Eu precisava acordá-la em breve
para que ela pudesse voltar para o seu quarto. O céu já estava
começando a ficar iluminado. Logo o pessoal se levantaria e
seria muito arriscado se Lily ainda estivesse no meu quarto. Eu
deveria ter a mandando ir logo em seguida para a sua própria
segurança, mas eu não tinha coração para fazer isso e eu não
queria vê-la ir de qualquer modo logo depois do que tínhamos
feito.
— Porra, — eu murmurei. Tudo que Lily e eu tínhamos
feito tinha sido arriscado, mas não rastreável. Mas isso, isso
poderia destruir a reputação de Lily e até mesmo iniciar uma
guerra. Tirar a virgindade de Lily era uma coisa egoísta a se
fazer. Eu sabia. Eu aprendi a tomar decisões razoáveis ao
longo dos anos, a tomar decisões que eram boas para a
Família. Mas hoje eu tinha ignorado o meu dever e minha
promessa para Luca.
Lily suspirou em seu sono e se virou. Os cobertores se
mexeram com ela e o ponto cor-de-rosa nos lençóis se tornou
visível. Fechei os olhos. Porra. Isso era para acontecer em sua
noite de núpcias. Mas eu sabia que Rocco Scuderi nunca iria
me dar a mão de Lily em casamento. Eu era apenas um
maldito soldado. Respeitado e honrado, mas um soldado, no
entanto. Apesar da minha culpa por ter tomado a virgindade de
Lily, eu sabia que faria isso novamente. Eu queria fazer ela
minha por tanto tempo e esta era a única maneira. Pelo menos
agora uma parte dela pertencia a mim, pelo menos ela nunca
esqueceria a nossa noite juntos, mas eu também sabia que não
era o suficiente. Eu não queria que Lily tivesse apenas a
memória da nossa noite compartilhada pelo resto de seus dias,
eu queria lembrá-la do prazer que eu poderia dar a ela todas as
noites, eu queria saboreá-la, cheirá-la, senti-la a cada fodida
noite. Eu queria tê-la caindo no sono em meus braços e
acordando ao meu lado na parte da manhã. Eu queria fazê-la
minha para que todos soubessem, mas não havia nenhuma
maneira no inferno que eu poderia fazer isso sem trair Luca e a
Família. Luca me tratou como um irmão, mas se eu fizesse
isso, se eu fosse contra a Outfit, alegando Lily oficialmente,
ele teria que acabar comigo como um cão raivoso para o bem
da Família.
Com um suspiro, eu andei em direção à cama e me
inclinei sobre Lily. Eu escovei o seu cabelo longe de seu rosto.
— Lily, você precisa acordar, — eu sussurrei.
Suas pálpebras vibraram e ela se virou de costas. Os
cobertores fugiram, revelando os seus seios perfeitos. Seus
mamilos franzidos no ar fresco no quarto. Meu pau agitou em
resposta. Me debrucei sobre ela. Ela até mesmo ainda cheirava
como eu. Porra. Eu já estava ficando duro novamente. Ela
abriu os olhos e me deu um sorriso sonolento. Felicidade e
confiança brilharam em seu rosto. Será que ela não percebia
que eu tinha destruído a sua vida na noite passada?
Um leve rubor apareceu em suas bochechas. Eu beijei
sua testa. — Você precisa ir, — eu disse.
Ela congelou, os olhos cheios de insegurança. — Eu fiz
alguma coisa errada na noite passada?
Bom Deus. Eu queria me esfaquear com a porra da
minha faca. Eu era um idiota. Eu nunca deveria ter deixado ela
ver isso. Lily era uma boa garota e eu tinha arruinado ela. Eu
beijei o ponto abaixo da sua orelha, em seguida, sua bochecha.
— Não, você não fez nada errado, querida.
Ela relaxou. Ela levantou a mão para a parte de trás da
minha cabeça, parecendo esperançosa. — Podemos ficar
juntos um pouco?
Ela parecia fodidamente vulnerável. É claro que ela
queria proximidade depois de ontem à noite e eu queria isso
também, mas era como uma luz exterior. Do jeito que ela
estava olhando para mim eu não podia lhe dizer ‘não’. Eu
deslizei sob os cobertores e ela se apertou contra mim. Sua
pele nua roçou a minha e todos os meus sentidos ganharam
vida. Eu empurrei a minha luxúria para baixo. Esse não era o
momento. Eu acariciava seus cabelos. — Você está bem?
Ela assentiu com a cabeça no meu ombro. — Eu estou
um pouco dolorida. — ela parecia envergonhada.
Eu pressionei um beijo contra sua testa. E eu não tinha
certeza do porque eu disse isso, definitivamente não facilitaria
as coisas, mas escorregou, — Eu te amo.
Ela chupou uma respiração antes de sussurrar, — Eu
também te amo.
Eu estava cavando a minha sepultura e a dela também,
só porque eu não conseguia controlar o meu pau, meu coração
e minha boca.
Ela deixou escapar um pequeno suspiro feliz. Ela não
pareceu perceber em quantos problemas estávamos. Eu não
conseguia parar de me sentir culpado. Eu gostaria de poder
dizer que eu teria agido de forma diferente se eu tivesse a
chance, mas eu sabia que eu ia dormir com ela novamente. Eu
a queria, eu ainda a queria.
Capítulo Onze
LILIANA
Eu não podia acreditar que Romero e eu realmente
tínhamos dormido juntos. Eu não sentia remorso. Talvez isso
viesse em algum momento, mas eu não poderia imaginar isso.
Tinha sido doloroso e ainda assim foi o momento mais
feliz da minha vida até agora. E depois, quando Romero tinha
admitido que ele me amava, eu queria dizer a todos sobre isso.
Deixaria todos com raiva, deixaria todos me chamando dos
piores nomes, quem se importa? Eu estava feliz e isso era o
que importava. Mas eu sabia, Romero e eu precisávamos
manter isso em segredo. Talvez um dia nós descobríssemos
uma maneira de tornar isso oficial sem causar uma guerra, mas
agora eu só queria aproveitar o nosso tempo juntos. O verão
estava chegando ao fim, mas meu pai não parecia me querer
de volta. Talvez ele esquecesse que eu existia e eu poderia me
mudar para Nova York.
A primeira vez que eu tinha enfrentado Aria e Gianna
depois de perder minha virgindade, eu fiquei preocupada que
elas veriam algo diferente, mas é claro que elas não viram.
Ninguém suspeitou de nada.
Talvez fosse uma realização foi o motivo pela qual eu
tinha ficado mais ousada.
Era quase meio-dia e eu mal conseguia manter os olhos
abertos. Romero e eu tínhamos feito amor até as primeiras
horas da manhã e uma vez que eu fui para o meu quarto, eu só
tinha conseguido duas horas de sono antes que eu tivesse que
levantar para o café da manhã novamente.
— Por que você não descansa no sofá por um tempo?
Você parece cansada, — Aria disse quando eu bocejei
novamente. Teríamos que procurar algum evento em Hampton
para fazer algo nos próximos dias. Bronzear e nadar estavam
ficando cansativos.
Gianna balançou as sobrancelhas por trás das costas de
Aria. —Ela vai. Ela parece não conseguir dormir o suficiente
durante a noite.
Romero olhou por cima de onde ele estava com Luca e
Matteo, mas ele não parecia preocupado. Eu decidi ignorar o
comentário de Gianna. Levantei da mesa. — Você
provavelmente está certa, Aria. Vou me deitar um pouco.
Aria colocou o jornal de lado e olhou para o relógio
antes de olhar para Luca. — Se quisermos sair para o almoço,
devemos sair logo.
Luca assentiu.
Eu andei em direção ao sofá, me estiquei e fechei os
olhos. Eu quase imediatamente adormeci num sono leve,
interrompido apenas pelo som de Aria e Luca saindo, seguido
alguns minutos mais tarde por Gianna e da risada de Matteo
enquanto se dirigiam para a praia. No silêncio, senti minha
mente divagar novamente.
— Estamos a sós, — disse Romero.
Eu abri meus olhos para encontrá-lo em pé em cima de
mim com um sorriso. Lentamente os meus próprios lábios se
curvaram em um sorriso e minha sonolência começou a
desaparecer. Liguei a minha perna por trás de seu joelho em
uma tentativa de fazê-lo cair para frente e, de preferência
pousar em cima de mim, mas Romero era muito forte. Depois
de um olhar rápido em direção à porta do terraço, ele se
inclinou para baixo e me deu um beijo. Quando ele estava
prestes a recuar outra vez, eu passei meus braços ao redor de
seu pescoço e minhas pernas ao redor de sua cintura.
— Aria e Luca estão fora para o almoço e Gianna e
Matteo vão passar o dia no barco. Isso deixa a casa para nós.
Romero parecia em conflito, mas quando eu pressionei
meu núcleo contra sua virilha, eu sabia que eu o tinha. Ele já
estava duro. Com um grunhido, ele se abaixou em cima de
mim. Nossos lábios ansiosamente encontraram um ao outro.
Depois de alguns minutos de beijos aquecidos e mãos de por
todos os lados, Romero recuou. — É muito arriscado fazer
sexo aqui.
— Eu sei, mas há outras coisas que podemos fazer, — eu
disse, antes que eu puxasse a cabeça de Romero de volta para
outro beijo. Ele não protestou novamente, o que também pode
ter tido algo a ver com o fato de que eu estava esfregando sua
ereção através de suas calças.
Por alguma razão, fazer amor com Romero no meio da
sala de estar fazia as coisas parecerem mais reais entre nós,
como se pudéssemos ser um casal oficial e não apenas algo
que precisava acontecer no segredo das trevas.
Meus lábios estavam em carne viva pelo beijo de
Romero, mas eu adorei. Romero enfiou a mão debaixo da
minha camisa e escondeu os dedos debaixo da taça do meu
sutiã, encontrando o meu mamilo. Engoli em seco e me
arqueei no sofá. Romero me beijou ainda mais forte. Eu
balancei a minha perna sobre a sua parte inferior das costas, o
puxando ainda mais apertado contra mim. Eu não podia
esperar para senti-lo sem as roupas entre nós. Talvez eu
pudesse convencê-lo a arriscar uma rapidinha na sala de estar.
A porta bateu e passos soaram, mas não houve tempo
para reagir antes que Aria aparecesse na sala de estar. — Lily,
eu… -— ela estalou os lábios fechados e congelou, assim
como eu. Romero puxou a sua mão para fora da minha camisa
e se sentou rapidamente. Ele segurou os braços de uma
maneira que era para esconder a sua ereção, mas eu duvidava
que ele estivesse enganando Aria. Meus olhos procuraram a
área atrás das suas costas, mas Luca não estava lá. Essa foi à
única coisa boa sobre a nossa situação.
Ninguém disse nada por um longo tempo. Eu tentei
reposicionar meu sutiã e endireitar o meu cabelo, mas eu não
estava fazendo um bom trabalho porque minhas mãos
tremiam. — Isso não é o que parece, — eu disse, mas parei
quando eu percebi o quão estúpido soou.
Aria levantou as sobrancelhas como se pensasse
exatamente a mesma coisa. — É por isso que eu não queria
você sozinho com ela, Romero. Eu sabia que isso ia acontecer!
— Você faz parecer que eu não tinha nada a ver com
isso. Não foi apenas obra de Romero. — eu disse, mas Aria
quase não me deu atenção. Ela estava olhando para Romero.
— Por que você está de volta de qualquer maneira? Você não
deveria estar almoçando com seu marido?
— Você está me culpando por isso? — perguntou Aria,
incrédula. — Luca recebeu um telefonema que havia um
problema em um dos clubes. Algo com um dos subchefes
russos, então ele me deixou na garagem e foi direto para Nova
York. Você tem sorte que ele não veio.
— Se você contar para Luca… — Romero começou,
mas Aria interrompeu. — Eu não vou dizer a ele. — disse ela.
Romero me ajudou a levantar. — Ele é seu marido. Deve
dizer a verdade a ele.
O que ele estava fazendo? Ele estaria em apuros se Luca
descobrisse e o que aconteceria se Luca dissesse ao meu pai?
Eu dei a Romero um olhar confuso, mas ele não reagiu. Em
seguida, outro pensamento me atingiu. Talvez ele quisesse que
as pessoas descobrissem. Talvez ele esperasse que Luca
aprovasse e poderia descobrir uma maneira para que o meu pai
chegasse a um acordo sobre uma união entre Romero e eu. A
esperança se acendeu em mim.
— Lily, posso falar com você em particular, por favor?
— perguntou Aria.
Eu balancei a cabeça, mesmo que o meu estômago
virasse de ansiedade. Aria era a minha irmã. Eu a amava e
confiava nela, mas Romero estava certo. Ela também era a
esposa do Capo e eu não tinha certeza de onde a sua lealdade
estava. Eu a segui para a sala de jantar e, em seguida, para a
cozinha. Ela não disse nada até que nós duas estávamos nos
bancos do balcão.
— Há quanto tempo isso vem acontecendo? —
perguntou ela. Deus, ela ainda soava como a esposa de um
Capo, tão adulta e responsável.
— Um tempo. Desde que vim para Nova York, — eu
admiti. Não havia realmente porque em mentir mais. E eu
realmente queria falar com ela sobre isso. Romero e eu
estávamos mantendo isso em segredo por quase três meses.
Aria balançou a cabeça lentamente, com os olhos cheios
de preocupação. — Eu deveria saber. Eu pensei ter visto vocês
dois trocarem olhares secretos que só os amantes fazem, mas
eu não queria acreditar.
Eu não tinha certeza o que dizer, se ela ainda espera que
eu diga qualquer coisa. — Nós tentamos esconder.
— É claro que sim! — Aria sussurrou asperamente. —
Oh Lily. Isso é ruim, você sabe disso, certo? Se o pai descobre
tudo vai virar um inferno. Você vai estar em grandes
problemas e não só isso. Pai pode muito bem começar uma
guerra. Afinal, Luca prometeu mantê-la segura enquanto você
estava em Nova York e ter um caso com um de seus homens é
definitivamente uma violação dessa promessa.
— Caso? — eu disse ofendida. O que Romero e eu
tínhamos era muito mais do que isso. — Você faz parecer
como se fosse apenas sexo.
Os olhos de Aria se arregalaram. — Eu não quis dizer
isso, mas… Espere um segundo. Por favor, me diga que você
não dormiu com ele ainda. — sua expressão era tão articulada
e ansiosa, eu quase considerei mentir para ela.
Mordi o lábio. — Eu realmente amo ele, Aria.
— Então você dormiu com ele, — disse ela calmamente.
Ela fez parecer como se fosse o fim do mundo.
Eu balancei a cabeça. — E eu não me arrependo. — eu
estava tão feliz que eu tinha compartilhado esse momento com
Romero. Eu queria compartilhar muito mais com ele. Toda vez
que eu tinha dormido com ele nas últimas semanas, eu tinha
ficado mais próxima dele, embora eu não achasse que isso
fosse possível.
Aria se inclinou para trás e lançou um longo suspiro. —
Pai vai matá-lo se ele descobrir. Depois da coisa com Gianna,
ele vai perder completamente o controle.
— Minha mãe me disse para ser feliz pouco antes de
morrer. E Romero me faz feliz. Eu quero estar com ele.
— Lily, Pai não vai permitir isso. Não importa o que
qualquer um de nós diga, ele não vai deixar você se casar com
um mero soldado de Nova York. Ele não pode ganhar qualquer
coisa de tal união e não quando eu já estou casada com o Capo
e Gianna com o Consigliere.
— Eu sei, — eu disse em um sussurro. — Mas… Eu…
— eu parei. Eu sabia que Aria estava certa. Eu sabia disso
praticamente desde o início. Eu odiava que eu tivesse que
pedir desculpas por amar alguém, por querer estar com esse
alguém. Não deveria ser assim.
Aria pegou minha mão e ligou os nossos dedos. —
Algumas mulheres conseguem fingir a sua virgindade na noite
de núpcias. Talvez você possa fazer isso também. E como Pai
não arranjou um casamento para você, talvez possamos
descobrir algo até então.
— Aria, eu não quero me casar com ninguém. Eu só
quero Romero. Eu o amo.
Aria olhou nos meus olhos por um tempo muito longo.
Eu não tinha certeza o que ela estava esperando encontrar lá,
mas eu lhe dei tempo. — Você o ama, não é? — ela disse,
resignado. — E ele? Ele ama você?
— Ele disse isso depois que fizemos amor pela primeira
vez. — eu esperava que ele fosse dizer outra vez após a
primeira noite juntos. Talvez ele não fosse do tipo de dizer isso
em voz alta com muita frequência.
— Tem certeza de que ele é sério sobre você?
— Claro que sim, você ouviu o que eu disse a você? —
eu disse, mas até mesmo eu podia ouvir o lampejo de incerteza
na minha voz e eu não tinha certeza de onde isso estava vindo.
— Alguns homens dizem coisas que não significam nada
depois do sexo, porque eles se sentem culpados.
Meus olhos se arregalaram. — Ele não faria isso. E se
você está dizendo que ele só tentou entrar em minhas calças,
isso é ridículo. Você sabe quem é Romero, ele não faria isso
comigo.
— Não, você está certa. Romero não é o tipo e ele não
arriscaria tanto só pelo sexo. Ele deve se preocupar com você
se ele vai contra as ordens de Luca.
— Você não vai dizer a ele, certo?
— Eu disse a você, eu não vou. Ele tem o suficiente em
sua cabeça, eu não quero que ele se preocupe com isso
também. Nós vamos descobrir alguma coisa. Mas até então,
por favor, sejam mais cuidadosos. Eu não vou te dizer para
ficar longe de Romero porque eu suspeito que você vai acabar
indo pelas minhas costas, mas se alguém descobrir, as coisas
poderiam realmente ficar fora de mão.
— Eu sei, — eu disse. — Romero e eu vamos ter
cuidado.
Aria apertou os lábios. — E não há realmente nenhuma
maneira que você considere terminar com Romero?
— Não, — eu disse sem hesitar.
Ela sorriu tristemente e pulou do banco. — Eu quero
falar com Romero agora.
Eu empurrei para os meus pés e agarrei seu braço. —
Por quê? Você vai tentar convencê-lo a parar de ficar comigo?
— Você realmente acha que eu faria isso com você? —
perguntou Aria em um tom magoado.
Eu me senti mal instantaneamente, mas Aria havia
mudado ao longo dos anos. Talvez fosse porque ela tinha
tomado mais responsabilidades como esposa de Luca, mas às
vezes eu pensava que ela agia muito como uma mãe
intrometida quando ela vinha para mim. Eu não duvido que ela
sempre fazia o que ela achava que era o melhor para mim,
único problema era que eu não tinha certeza se ambas
concordavam sobre isso. — Não. Mas por que você quer falar
com Romero?
— Eu só quero conversar. — disse ela teimosamente. —
Por favor, fique aqui enquanto eu vou falar com Romero. Me
faça o favor.
— Aria, por favor, não faça disso um grande negócio.
— Oh Lily, este é um negócio muito maior do que você
pensa. — disse ela antes dela se afastar.
*****
ROMERO
Eu queria arrancar os cabelos em frustração. Devíamos
ter sido mais cuidadosos. Eu geralmente nunca baixo a guarda.
Eu sempre antecipava possíveis riscos. Hoje eu tinha falhado
em tantos níveis, era lamentável.
Aria avançou sobre mim. Ela parecia regiamente
chateada. E eu não poderia culpá-la. Ela parou bem na minha
frente, seus olhos azuis brilhando com raiva. — Como você
pôde fazer isso? O que você estava pensando? — ela
sussurrou. — Mas você provavelmente não estava pensando,
pelo menos não com a cabeça. — ela fez um gesto na direção
da minha virilha.
Minhas sobrancelhas se ergueram. Essa era tão diferente
de Aria. — Isso não é apenas sobre sexo.
— Lily disse a mesma coisa, mas o que é então? Você
conhece as regras, pelo amor de Deus. É irônico que eu tenho
que te lembrar.
— Eu sei as regras, — eu disse laconicamente, ficando
com raiva. Mas Aria era a última pessoa que eu deveria estar
com raiva. Ela estava certa.
— Lily disse que dormiu com ela. — Aria balançou a
cabeça. —Deus, Romero, se alguém descobrir, Lily estará
arruinada. Ou você pretende se casar com ela?
— Eu não posso. Você sabe disso. Seu pai nunca
permitiria isso, e se nós fomos contra a sua vontade, isso
significaria guerra.
— Eu sei. Então, por que você fez isso?
— Eu não forcei Lily se é isso o que você pensa, — eu
disse. Será que ela achava que eu tinha forçado a irmã dela de
alguma forma? — Lily queria isso também.
— Eu não duvido. Eu vejo como ela está olhando para
você. Ela ama você. É claro que ela quer dormir com você,
mas você deveria ter feito melhor!
— Eu sei. O que você quer que eu diga? Que eu sinto
muito?
— Você estaria mentindo, — Aria murmurou.
Indignação passou por mim, mas ela estava certa. Eu não
estava triste que eu tinha dormido com Lily, pelo menos não o
suficiente para que eu não fosse fazer isso novamente. — Você
vai me dizer para ficar longe dela agora?
— Você ficaria com ela pelas minhas costas. E Lily iria
me odiar se eu tentasse ficar entre você e ela. Você dormiu
com ela e não é como se importasse se vocês fizessem isso de
novo, desde que você tome cuidado para não ser pego e não
engravide a minha irmã.
— Você vai me dar um discurso? — eu disse, divertido.
— Estou falando sério. Se Lily fica grávida, então as
coisas vão ficar muito ruins.
— Nós somos cuidadosos.
— Mais cuidadosos do que quando eu peguei vocês no
sofá?
— Quero dizer. Lily não vai ficar grávida.
Aria cobriu o rosto com as mãos. — Deus, eu não posso
acreditar que estamos tendo essa discussão. Eu queria Lily em
Nova York para que ela se divertisse um pouco, mas não esse
tipo de diversão.
Eu não tinha certeza do que dizer. A culpa pesava sobre
meus ombros, mas, como Aria tinha dito, era tarde demais.
— Será que você ficaria longe dela se eu ameaçar contar
a Luca? — Aria perguntou quando ela baixou as mãos.
— Não, — eu disse sem hesitar.
— Bom, — disse ela, me jogando fora da pista. — Pelo
menos isso significa que você é sério sobre ela. Talvez
possamos encontrar uma solução para você e minha irmã. Me
deixe pensar sobre isso.
— Eu estive pensando sobre isso por um longo tempo,
mas talvez você tenha mais sorte do que eu. A menos que nós
queremos guerra, teríamos de convencer o seu pai a chegar a
um acordo sobre uma união entre Lily e eu.
— Gianna e eu nos casamos por razões políticas. Por
que Lily não deveria ser autorizada a se casar com alguém que
ela quer?
— Se eu fosse mais do que um soldado, então talvez o
seu pai fosse considerar isso.
Os olhos de Aria se iluminaram. — Você pode se tornar
um capitão com o seu próprio grupo de soldados. Você tem
trabalhado para Luca por tanto tempo e ele sempre diz que
você é o melhor soldado. A única razão pela qual ele não te
promoveu ainda é porque ele confia em você comigo e não
quer mais ninguém como meu guarda.
Olhei para ela. Normalmente a posição do capitão era
transmitida de pai para filho. Soldados raramente recebiam a
honra de se tornar capitão.
— Pai ainda não encontrou um marido para Lily. Isso é
um bom sinal. Gianna e eu estávamos muito envolvidas
quando estávamos na idade de Lily, talvez por isso ele esteja
aberto para sugestões e seria uma boa jogada para melhorar as
relações entre Nova York e Chicago novamente.
— Você daria um bom Capo também, — eu disse com
um sorriso.
— Eu sou casada com um bom Capo, isso é tudo.
— Você é, — eu disse. — Mas eu não quero me tornar o
capitão só porque você falou com Luca sobre isso. Eu não
tenho trabalhado tão duro para uma promoção por piedade.
— Eu não terei que convencê-lo e Luca nunca faz nada
por piedade. Você deveria saber disso.
Eu balancei a cabeça. Ela tinha um ponto. — Uma vez
que você disser a ele, não há como voltar atrás. Ele pode não
levar isso tão bem. Eu fui contra suas ordens diretas afinal de
contas. Isso ainda é um crime.
— Sim, você fez, — disse Aria. — Mas ele te ama como
um irmão. Ele vai te perdoar. Eu só vou ter que descobrir uma
maneira de contar a ele.
— Eu poderia falar com ele. Eu tenho que confessar as
minhas ações.
Aria balançou a cabeça. — Não, eu posso ser mais
convincente do que você e ele não pode ficar com raiva de
mim por muito tempo.
Eu ri. — Vocês mulheres Scuderi têm um jeito com os
homens.
Aria sorriu pela primeira vez desde que ela encontrou
Lily e eu no sofá. Encarei isso como um bom sinal, mesmo
que eu não fosse tão ingênuo de pensar que eu me tornaria
capitão e amanhã ou depois Scuderi me aceitaria de bom grado
como seu futuro genro. Isso seria uma batalha difícil.
Capítulo Doze
LILIANA
Eu estava nervosa na cozinha. Porque Aria levou tanto
tempo? Eu nem sequer queria saber o que ela estava dizendo
para Romero. E se ela o convenceu a terminar as coisas
comigo? Ela prometeu não fazer algo assim, mas eu não tinha
certeza. Se ela achava que tinha que me proteger do mal, ela
jogaria sujo se ela tivesse que fazer.
A porta se abriu e Romero entrou. Ele parecia quase
relaxado. Corri em direção a ele. — O que ela disse?
— Que devemos ter cuidado.
— Isso é tudo? Ela não vai dizer a Luca sobre isso?
— Não, não agora.
— O que isso significa?
Um lento sorriso curvou seus lábios. — Pode haver uma
maneira para nós estarmos juntos.
— Você quer dizer oficialmente? — perguntei
animadamente.
— Sim, mas primeiro Aria precisa descobrir uma
maneira de falar com Luca e depois vamos a partir daí.
Eu tentei segurar a minha alegria, mas era difícil. Eu não
queria nada mais do que um futuro real com Romero.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei, mas depois de apenas
alguns segundos Romero recuou com uma expressão de dor.
— Nós precisamos ser mais cuidadosos. Aria vai rasgar a
minha cabeça se ela pegar a gente se beijando assim de novo.
— Provavelmente não só a sua cabeça, — eu disse com
um sorriso perverso, o segurando através de suas calças.
Romero gemeu, agarrou o meu pulso e puxou minha
mão. — Lily, pare de me torturar.
— Eu pensei que você gostava quando eu te torturava.
Romero se inclinou, seus lábios escovando meu ouvido.
— Eu gosto, quando estamos sozinhos.
— Então, que tal irmos para o meu quarto?
— Não há nada que eu preferia fazer, mas não devemos
arriscar durante o dia, — disse Romero com pesar. — E eu
realmente preciso ligar para Luca e perguntar qual o problema
com o subchefe Russo.
Eu fiz beicinho de brincadeira. — Eu odeio quando você
está sendo razoável. A noite está muito longe. Eu quero você
agora.
— Porra, — Romero murmurou. Então ele me deu um
sorriso perigoso. — Continue. Eu vou vir atrás de você em
poucos minutos.
Corri em direção meu quarto, já sentindo o meu núcleo
apertar com antecipação.
*****
*****
*****
*****
LILIANA
Eu fui despertada pelo toque de um telefone. Lentamente
a minha conversa com meu pai e, em seguida com Romero, se
repetiram em minha mente. Meus olhos dispararam em direção
a minha mala de viagem no closet, pensando e esperando que
fosse Romero novamente antes de me lembrar de que estava
no mudo. Decepção caiu em cima de mim mais uma vez. Me
sentei, desorientada e exausta de tanto chorar. O relógio na
mesa de cabeceira me havia dito que era apenas 22h00. Eu
andei em direção à minha mesa, onde o telefone fixo estava e
peguei. Era Aria. Ela já deve ter ouvido falar. Pai tinha ligado
para ela para lhe dizer a boa notícia?
Eu atendi. — Oi Aria, — eu disse asperamente. Não
havia como esconder que eu tinha chorado. Aria conhecia
aquela voz.
— Oh, Lily. Acabei de saber. Eu sinto muito. Eu não
posso acreditar nisso.
— Nós não vamos deixar o Pai ir adiante com isso. Nós
vamos descobrir alguma coisa. — Gianna gritou no fundo.
Elas estavam juntas, elas tinham maridos que as amavam e eu
estaria presa aqui com um homem velho que eu nunca seria
capaz de amar. Como as coisas poderiam dar tão terrivelmente
erradas?
— O Pai ligou pra você? — eu perguntei, minha voz
recuperada parcialmente da emoção.
— Não, ele não ligou. Descobrimos através de Romero.
— Ele disse a você?
— Sim, ele fez, — disse Aria lentamente. — Ele atacou
um dos outros soldados que disse algo a ele, então Luca teve
uma palavra com ele e descobrimos.
— Por que ele atacou o homem?
— O que você acha? Porque ele não quer que você se
case com Basci, — Aria disse suavemente. — Ele está
tentando falar com você pela a última hora, mas você não
atendeu. Ele quase foi à loucura por aqui. Ele quer falar com
você.
— Ele está aí com você?
— Sim. Vou entregar o telefone agora, ok?
Com minha voz trêmula eu concordei. — Ok.
— Lily. — Romero murmurou ao telefone. Sua voz era
agora terna. Eu soltei uma respiração dura e senti as lágrimas
correrem pelo meu rosto.
— Lily?
Engoli em seco. — Eu pensei que você não queria ter
nada a ver comigo agora que eu estou prometida a outra
pessoa.
— Não, eu nunca te deixaria. Eu sei que não reagi da
maneira que eu deveria. Eu… Eu estava com tanta raiva
quando você me disse que o seu fodido Pai quer te vender para
o velho bastardo. Eu queria voar até aí e matá-lo. Eu não
queria descontar a minha raiva em você, então eu tentei me
recompor.
— Ok, — eu sussurrei.
— Você ainda quer fugir?
Sim, mais do que qualquer outra coisa. — Isso
significaria guerra. Você mesmo disse.
— Eu não me importo. Eu correria o risco de guerra por
você.
— Luca esta aí para ouvir você dizer isso?
— Não, ele não está.
— Ele iria te matar se ele pudesse ouvir.
— Suas irmãs correriam o risco de guerra por você
também.
Eu não duvidava. Gianna, em particular, mas até mesmo
Aria, que era a mais razoável faria qualquer coisa para me
proteger e era isso que me assustava tanto. Fabiano logo
estaria no meio dos negócios da máfia. A guerra com os russos
havia piorado nos últimos anos e eu provavelmente não sabia
nem metade. Se Nova York e Chicago começassem a lutar
outra vez, isso poderia custar a vida de muitas pessoas com
que eu me preocupava.
— Eu tenho que encontrá-lo amanhã.
— Eu não quero que você sozinha com ele, Lily.
— Mas e se ele pedir e o Pai disser que ‘sim’?
— Você é uma menina italiana honrosa, jogue com essa
carta. Se eu tiver que me preocupar que você estando sozinha
com ele eu vou reservar o próximo voo e estar aí amanhã.
Porra. Eu quero fazer isso e matá-lo.
Sorri um pouco, desejando que ele pudesse. Eu não
queria nada mais do que tê-lo comigo, sentir os seus braços em
volta de mim. — Eu não sou uma garota honrosa mais. Talvez
se eu disser ao Pai eu possa sair deste casamento.
— Ele poderia te matar. Seu pai tem sido muito volátil
desde a coisa com Gianna.
— Talvez isso fosse melhor do que me casar com esse
cara.
— Não diga algo assim. Nós vamos descobrir alguma
coisa.
Eu balancei a cabeça, mesmo que ele não pudesse ver.
Eu queria acreditar nele. — Eu sei, — eu disse calmamente.
— Aria vai ligar para o seu pai amanhã de manhã para
ter uma ideia sobre a decisão dele.
— Eu não acho que ela vai ser capaz de falar com ele
sobre isso. Luca sabe tudo sobre nós?
— Sim, pelo menos tudo o que ele precisa saber para
avaliar a situação.
Minhas bochechas inflamaram, mas Romero estava
certo. Precisávamos dizer a verdade a Luca se nós queríamos
que ele fosse capaz de fazer algo. — Ele ficou muito zangado?
Romero ficou em silêncio por um momento. — Ele não
estava feliz. Eu soquei Matteo, que realmente não ajudou em
nada.
— Você bateu em Matteo? Por quê? Pensei que Aria
tinha dito que você atacou outro soldado.
— Eu fiz ambos, — Romero admitiu. — Eu realmente
me enfureci.
— Por favor, não fique em apuros por minha causa. Eu
não quero que você se machuque, me prometa. — houve outro
momento de silêncio, antes que ele dissesse. — Eu prometo.
Mas eu tinha a sensação de que era uma promessa que
ele não teria a certeza que poderia manter. Se ele já havia
atacado Matteo, o Consigliere da Famiglia, isso não era um
bom sinal.
— Me ligue depois de sua reunião com Brasci amanhã.
Eu vou ficar louco se eu não ouvir de você. E não deixe que
ele tente nada. Ele não tem absolutamente nenhum direito. Eu
vou matá-lo se ele colocar um dedo do pé fora da linha, se ele
olhar para você da maneira errada.
— Você não me prometeu ficar fora de problemas? — eu
brinquei sem entusiasmo.
— Eu vou tentar, mas eu vou estar no limite amanhã,
isso é certo.
Nós conversamos sobre algumas coisas sem
importância, antes de nos despedimos e desligarmos. Agarrei o
telefone contra o meu peito. Lentamente me deitei na cama.
Fiquei aliviada que Romero ainda me queria, mas eu também
estava com medo que ele fizesse algo que pudesse o levar a
morte. Luca gostava muito de Romero, mas ele também era o
Capo e precisava manter os seus homens na linha. Se Romero
fizesse algo que machucasse publicamente a Família, Luca
pode não ter uma escolha, senão puni-lo severamente. Eu não
deixaria isso acontecer.
*****
*****
ROMERO
Eu nunca pensei que eu consideraria ir contra a Família,
mas eu não podia assistir Lily se casar com esse homem. Ela
era minha e eu não me importava o que eu tivesse que fazer
para mantê-la comigo. Luca tinha me vigiado quase todo o dia
de ontem. Ele nunca olhou para mim com verdadeira suspeita
em seus olhos antes. Eu tive que admitir que doeu saber que
ele não confiava mais em mim, e pior que ele tinha todo o
direito de desconfiar. Eu fui contra as suas ordens diretas,
quebrei o meu juramento e traí as pessoas próximas, talvez até
mesmo mais próximas do que a minha própria família.
Quando vim para a cobertura de Luca e Aria naquela manhã,
eu vi no olhar de Luca que ele sabia que tinha me perdido.
Outro Capo poderia ter me eliminado, para evitar o pior. Aria
me deu um sorriso encorajador, mas não passou despercebido
para mim que Luca saiu sem beijá-la. Isso nunca aconteceu e
isso era um mau sinal do caralho.
Assim que pude, liguei para Lily. O telefone tocou quase
duas dezenas de vezes antes que eu desistisse. Aria me lançou
um olhar preocupado. — Talvez ela ainda esteja tomando café
da manhã com Fabi e o Pai.
Eu esperei um par de minutos antes de tentar novamente.
Se ela não respondesse desta vez, eu reservaria uma fodida
passagem para Chicago hoje e iria buscá-la. Para meu alívio,
Lily atendeu após o terceiro toque.
— Onde você estava? Tentei ligar para você antes. Você
está bem?
— Eu estou bem. — o distanciamento em seu tom de
voz me fez parar. Parecia que havia uma barreira entre nós que
não tinha nada a ver com a nossa separação física.
— Eu estive pensando sobre a melhor maneira de ir
sobre isso e eu acho que eu deveria voar de volta para você o
mais rápido possível. Luca está ficando mais e mais
desconfiado, então temos de agir rapidamente.
— Eu não acho que devemos fazer isso.
— Fazer o quê? — eu perguntei cuidadosamente.
— Fugir.
— Eu sei que você não quer deixar as suas irmãs, mas
talvez Luca vá nos ver mais tarde. Aria pode mudar de ideia.
— Não, — ela disse com firmeza. — Quer dizer, eu não
quero que você venha aqui e me leve embora. Eu vou ficar.
Eu não podia acreditar no que tinha ouvido. — O que
você está dizendo? Que você quer se casar com Benito? Eu
não acredito nisso nem por um segundo. Ele poderia ser seu
pai.
— Mas ele é um homem importante. Ele tem muitos
soldados que o seguem.
— Desde quando você se preocupa com algo assim?
— Eu sempre me preocupei com isso. Eu desfrutei do
nosso tempo juntos, Romero, mas temos de ser razoáveis. Isso
nunca poderia dar certo entre nós. Você é um soldado e eu
tenho um dever a cumprir, como a filha de um Consigliere.
Nós todos temos que fazer coisas que não queremos fazer.
— Que porra é essa que o seu pai fez? Isso não parece
você, Lily.
— Romero, por favor. Não torne isso mais difícil do que
é. Você tem suas responsabilidades com Luca. Eu não quero
que você quebre o seu juramento.
— Eu não me importo sobre o meu juramento.
— Mas você deveria! — ela disse com raiva. — Eu não
quero que você venha aqui. Está tudo acabado entre nós,
Romero. Eu vou fazer a coisa certa e me casar com Benito. E
você deve fazer a coisa certa e seguir as ordens de Luca.
De repente, eu estava com raiva. — Então, o que
aconteceu entre nós? Uma aventura no verão? Curiosidade em
como seria transar com um soldado comum?
Lily respirou fundo e eu me arrependi das minhas
palavras duras, mas eu era orgulhoso demais para levá-las de
volta ou pedir desculpas. — Nós não podemos nos falar de
novo, — disse ela calmamente. Ela estava chorando? —
Devemos esquecer o que aconteceu.
— Não se preocupe, eu vou, — eu disse, então eu
desliguei. Joguei o meu telefone longe. — Porra!
Aria correu em minha direção, alarmada. — O que está
errado? É Lily?
— Ela quer ir em frente e se casar com Brasci.
Aria congelou. — Ela disse isso?
Eu balancei a cabeça. Fui para a cozinha. Eu precisava
de uma xícara de café. Aria correu atrás de mim. — O que
mais ela disse?
— Não muito. Só que Benito é um bom partido e que
devemos fazer o nosso dever. Porra.
— Ela não quer dizer isso, Romero. Ela ama você. Ela
provavelmente só quer nos proteger.
Eu não tinha mais certeza. E mesmo que Aria estivesse
certa, talvez Lily tivesse um ponto. Eu tinha dedicado a minha
vida à Família. Eu não deveria abandonar o meu juramento só
por causa de uma mulher. Eu era um Made Men e minha
prioridade deve ser sempre o meu trabalho.
Capítulo Quinze
LILIANA
Aria me ligou trinta minutos após a minha chamada com
Romero, tentando me convencer do meu plano para me casar
com Benito. Mas ela já estava brigando com Luca por causa
de mim. Eu não permitiria que ela realmente colocasse o seu
casamento em risco pelas minhas próprias razões egoístas. Eu
me casaria com Benito e tentaria fazer o melhor disso.
As próximas semanas passaram em um borrão com a
compra do vestido de noiva com Valentina, arrumando flores,
escolhendo o menu, chamando os convidados importantes
pessoalmente. Eu só vi Benito em duas ocasiões e não havia
tempo para mais do que algumas palavras trocadas e um beijo
na bochecha. Isso e o fato de que eu estava ocupada demais
para estar preocupada, eu quase consegui esquecer que eu
estava realmente preparando o meu casamento com um
homem que eu mal podia suportar. Mas a realidade me
atravessou no dia do casamento do meu pai e Maria. Ele não
tinha falado comigo desde que eu disse a ele que não era
virgem, exceto nas poucas ocasiões em que tivemos que fingir
por Benito ou outras pessoas.
Enquanto Gianna e Matteo iam chegar mais tarde para
assistir somente ao meu casamento, Aria e Luca também
foram convidados para a festa do Pai, e isso significava que
Romero estava com eles. Eu esperava que ele decidisse ficar
em Nova York, não porque eu não queria vê-lo, mas porque eu
estava com medo de enfrentá-lo, de ser confrontada com o que
eu estava perdendo.
Felizmente, todos vieram diretamente para a igreja
porque o avião desembarcou tarde; isso significava que havia
uma chance de eu ser capaz de evitar um encontro com
Romero.
Me sentei na primeira fila, Benito ao meu lado. Ele não
me tocou de nenhuma forma, graças a Deus, porque isso teria
sido impróprio antes de nosso casamento, mas toda vez que
Aria ou Gianna olhavam na minha direção, eu me sentia como
se estivesse fazendo algo indecente, sentada ao lado de um
homem que eu não quero me casar.
Eu não tinha certeza de onde Romero estava sentado.
Desde que ele não era da família, provavelmente em algum
lugar na parte de trás da igreja. Após o casamento fui em
direção ao hotel onde a festa de casamento aconteceria. Eu
consegui passar o jantar sem ver Romero, mais no final da
noite quando eu estava dançando com Benito, eu o avistei no
outro extremo do salão. Ele estava me observando. De repente,
os outros dançarinos em torno de mim desvaneceram no
fundo. Vergonha tomou conta de mim. Eu queria empurrar
Benito para longe. Eu queria atravessar o salão e me
arremessar em Romero, queria lhe dizer que eu precisava dele.
Eu tive que desviar o olhar. Quando a música terminou, eu me
desculpei e rapidamente deixei a pista de dança. Corri em
direção à saída. Eu precisava ficar longe por um momento
antes que eu me perdesse.
Uma vez que a porta se fechou atrás de mim e eu me
encontrei no corredor do hotel, eu conseguia respirar mais
fácil. Eu não parei. Eu não queria ver os hóspedes que
retornavam do banheiro. Eu queria ficar sozinha.
Virei em duas esquinas antes de parar e me encostar na
parede, meu peito arfando. Em dois dias nós estaríamos
comemorando o meu casamento. Pânico me inundou. Apertei
os meus olhos fechados.
Passos suaves me fizeram virar e meu olhar caiu sobre
Romero. Ele estava a poucos pés de mim, me olhando com
uma expressão que parecia uma facada no coração. Apesar de
tudo o que eu tinha feito e apesar da minha melhor intenção de
silenciar os meus sentimentos por ele, eles pareciam mais altos
do que nunca. Romero parecia irresistível em seu terno escuro.
— O que você está fazendo aqui? — eu sussurrei.
— Eu odiei ver você com ele. É errado e você sabe
disso.
Eu sabia. Cada fibra do meu ser travou com a
proximidade de Benito, mas eu não poderia dizer isso a
Romero.
Ele deu um passo mais perto de mim, seus olhos escuros
queimaram nos meus.
— Nós não deveríamos estar aqui sozinhos, — eu disse
debilmente, mas eu não estava tentando sair. Eu não queria.
Ele deu um passo mais perto, cada movimento de modo
ágil e gracioso e ainda perigoso. Eu queria voar em seus
braços. Eu queria fazer mais do que isso. Eu fiquei onde
estava. Romero atravessou a distância restante entre nós e
apoiou um braço acima da minha cabeça, seu olhar faminto e
possessivo.
— Você quer que eu saia?
Diga ‘sim’. Se o Pai nos encontrasse aqui, ele mataria
Romero no local e distraído como Romero estava no
momento, meu pai poderia realmente ter sucesso.
Eu soltei um suspiro trêmulo. Romero se inclinou e me
beijou, e então eu estava perdida. Movi as minhas mãos pelo
seu cabelo e para suas costas. Ele me beijou mais forte. Suas
mãos encontraram minha bunda e então ele me levantou. Eu
envolvi minhas pernas em volta da sua cintura, de modo que a
saia do meu vestido cocktail subiu, mas eu não me importei. A
ereção de Romero estava quente contra a minha abertura,
apesar do tecido da minha calcinha e de suas calças entre nós.
Eu me triturei contra ele desesperadamente. Eu já estava tão
excitada. Eu tinha sentido falta disso. Eu senti falta dele.
Eu sabia que alguém poderia vir por este corredor e nos
encontrar, mas eu não podia parar. Romero me pressionou
contra a parede e me segurou com apenas um braço. Sua outra
mão segurou o meu peito através do meu vestido, me fazendo
gemer em sua boca e os meus mamilos endurecer. Romero
gemeu. Ele empurrou contra mim, esfregando a sua ereção
contra o meu calor vestido com a calcinha.
— Eu preciso de você, — eu engasguei contra sua boca.
Romero acariciou a palma da mão para baixo em meu lado,
então a colocou entre as minhas pernas e empurrou um dedo
sob o tecido da minha calcinha. Ele me encontrou molhada e
dolorida. Estremeci ao sentir seu toque.
— Porra. Você está tão molhada, Lily. — ele empurrou
um dedo em mim e eu arqueei para fora da parede com um
suspiro. Só ele tinha esse efeito em mim.
Ele tirou o dedo de novo e abriu o zíper. Meu núcleo
apertou com antecipação e necessidade. Eu ouvi o rip de um
pacote de preservativos e, em seguida, sua ponta pressionada
contra a minha abertura e ele começou a deslizar para dentro
de mim. Minhas paredes cederam até que ele se colocou
completamente em mim. Nós olhamos nos olhos um do outro.
Isso parecia tão certo. Por que tinha que parecer tão certo?
— Você me faz me sentir bem pra caralho, Lily. E porra,
Deus, você é tão apertada.
Nossos lábios se encontraram novamente. Tinha sido
tanto tempo. Romero empurrou em mim, me prendendo mais
para cima contra a parede. Eu gemi quando ele atingiu um
ponto dentro de mim. — Temos que ficar quietos, — ele
murmurou em voz baixa, depois a sua boca engoliu meu
próximo som. Eu passei meus braços ainda mais apertados em
volta do seu pescoço. Parecia que éramos um, inseparáveis.
Enfiei os saltos em sua bunda, o fazendo ir mais fundo
em mim. Tremor passou por mim e eu gozei, ofegante.
Romero continuou batendo em mim até que seu próprio
orgasmo o atingiu. Nós agarramos um ao outro, ainda unidos.
Eu beijei o lado de seu pescoço. Seu aroma familiar inundando
o meu nariz e eu fechei os olhos. Eu queria ficar assim para
sempre.
O som distante de riso me arrastou de volta ao reino da
realidade. Romero saiu de mim. Eu afrouxei o meu poder
sobre ele e deixei as minhas pernas deslizarem para baixo até
que os meus pés tocaram o chão. Eu não podia sequer olhar
para ele enquanto eu endireitava minha saia. Romero jogou o
preservativo em um lixo nas proximidades antes de se voltar
para mim. Nenhum de nós disse nada. Do canto do meu olho,
eu o vi chegar a minha bochecha. Eu recuei. Me preparando,
eu levantei o meu olhar. — Isso foi um erro, — eu sussurrei.
Choque atravessou o rosto de Romero, em seguida, se
tornou sem emoção. — Um erro.
— Eu vou me casar com Benito em breve. Nós não
podemos fazer isso de novo.
Romero deu um aceno conciso, então ele virou as costas
e foi embora. Eu tive que resistir à tentação de correr atrás
dele. Esperei mais alguns minutos antes de eu fosse em
direção ao banheiro. Eu precisava me limpar antes de voltar
para a festa ou as pessoas iriam perceber que algo tinha
acontecido. Para o meu alívio, não havia ninguém no banheiro
quando eu entrei. Eu chequei o meu reflexo. Meu cabelo
estava em todo o lugar e minha maquiagem precisava retocar.
O suor escorria pelas minhas costas. Mas pior do que isso era
o formigamento revelador em meus olhos. Eu não podia
chorar agora. Isso iria estragar tudo. Tomei algumas
respirações profundas através do meu nariz antes de começar a
refazer minha maquiagem. Quando saí do banheiro vinte
minutos mais tarde, eu parecia como se nada tivesse
acontecido, mas minhas entranhas estavam se torcendo. Eu
pensei que eu tinha feito às pazes com o meu casamento com
Benito, esperava que os meus sentimentos por Romero
tivessem diminuído, mas agora eu percebi que isso estava
longe de ser verdade.
No momento em que eu pisei na pista de dança, Luca
estava lá e me pediu para dançar. Eu sabia que ele queria mais
do que isso. Ele nos guiou em direção a uma parte da pista de
dança, onde não havia muitos bailarinos, antes dele começar a
falar em voz baixa. — Você ainda está de acordo com esse
casamento? Você e Romero sumiram por um tempo.
— Sim. Eu vou casar com Benito, não se preocupe, —
eu disse, cansada. Eu não podia nem culpar Luca por ser tão
insensível. Ele me convidou para sua casa e cuidou de mim, e
eu o paguei de volta fazendo um de seus soldados quebrar o
seu juramento.
— Você não tem que ficar casada com ele para sempre,
— disse Luca casualmente.
— Meu pai nunca iria concordar com um divórcio. —
Pai me mataria antes que isso acontecesse.
— Há outras maneiras de sair de um casamento do que o
divórcio. Às vezes as pessoas morrem.
— Ele não é tão velho.
Luca levantou uma sobrancelha. — Às vezes as pessoas
morrem de qualquer jeito.
Ele estava realmente sugerindo que eu deveria matar
Benito? —Porque ele não pode morrer antes do meu
casamento?
— Isso ia ser estranho. Aguarde alguns meses. O tempo
vai passar rapidamente, confie em mim.
Eu queria acreditar nele, mas meses partilhando a cama
com Benito, tê-lo dentro de mim como Romero tinha acabado
de estar, parecia o inferno.
— Romero não vai me querer mais, então.
Luca permaneceu em silêncio. Ele sabia que era verdade.
Por que Romero ainda iria me querer depois de eu ter passado
meses dormindo com outro cara? Eu já estava revoltada com a
ideia, quão pior seria para ele? — Há bons homens na Outfit
também. Você vai encontrar uma nova felicidade. Você está
fazendo a coisa certa ao se casar com Benito. Você está
evitando a guerra e você está protegendo Romero de si
mesmo. Isso é uma coisa corajosa a se fazer.
Eu balancei a cabeça, mas eu queria chorar. Luca e eu
voltamos para a nossa mesa. Aria tentou falar comigo de novo,
mas ela desistiu quando eu mal disse uma palavra. Eu
precisava sobreviver a esse dia de alguma forma e, em
seguida, ao meu casamento e nos meses depois, então talvez
eu teria outra chance de felicidade. Eu procurei no salão até
que os meus olhos pousaram em Romero. Ele claramente não
estava olhando para mim. Eu o amava, amava tanto que doía.
Eu sabia que não haveria felicidade para mim sem ele.
*****
*****
ROMERO
Eu nunca deveria ter vindo para Chicago. Assistir Lily
caminhar pelo corredor em direção a Benito me fez sentir
como se alguém estivesse esmagando o meu coração sob uma
bota. Eu não queria nada mais do que enfiar minha faca no
olho de Benito muito lentamente, ver a luz deixá-lo, ouvir sua
última respiração ofegante. Eu queria esfolá-lo vivo, queria
dar a ele mais dor do que qualquer homem já tinha sofrido.
Forcei os meus olhos longe de Lily e foquei em Aria
como eu deveria fazer. Ela olhou para mim e me deu um
sorriso compreensivo. Eu não reagi. Eu desliguei as minhas
emoções como eu tinha aprendido a fazer nos primeiros anos
após a minha iniciação ao ver pessoas mortas ou torturadas
quando me incomodavam.
— Você pode beijar a noiva.
Meus olhos dispararam em direção à frente da igreja
onde Benito fodido Brasci tinha posto as mãos na cintura de
Lily e estava praticamente a arrastando para o seu corpo. Eu vi
vermelho. Eu queria matá-lo. Eu empurrei para longe da
parede, me virei e caminhei para fora da igreja. Eu não corri
como eu queria. Eu me movi lentamente, como se nada
estivesse errado. Porra, o que era uma fodida mentira. Tudo
estava errado. A mulher que era suposta ser minha tinha se
casado com um bastardo velho.
Fui direto para o nosso carro alugado. Eu ia esperar lá
até que fosse hora de dirigir para a mansão de Brasci para a
festa.
*****
*****
LILIANA
Depois de duas horas no apartamento de Luca,
estávamos finalmente na casa de Romero. Eu nunca tinha
estado lá e estava curiosa, apesar do meu cansaço. Eu poderia
dizer que Romero estava tenso, mas eu não tinha certeza do
por quê. Talvez ele lamentasse tudo o que tinha acontecido?
Ou talvez ele só estivesse preocupado com o que estava por
vir.
Romero destrancou a porta e abriu para mim. Passei por
ele e entrei em um longo corredor. Fotos de família em bonitas
molduras de prata decoravam as paredes. Prometi a mim
mesma dar uma olhada mais de perto quando os meus olhos
não estivessem pesados demais. Havia várias portas dos dois
lados do corredor. Romero me levou para a última à direita.
Um quarto de casal esperava atrás dela, mas nós não paramos
ali. Nós tínhamos estado na estrada por horas e eu estava
acordada há mais de um dia. Já passava do meio-dia, e eu
queria dormir.
Mas eu ainda podia sentir o cheiro de Benito em mim; o
seu sangue, seu suor, o seu odor corporal. Isso me deixava
enjoada. Romero abriu a porta para o banheiro adjacente. Eu
rapidamente deslizei para fora da minha roupa e entrei no
chuveiro. Romero me observava em silêncio, um olhar
indecifrável no rosto. Ele parecia exausto. Quando a água
quente escorreu pelo meu corpo, senti um pouco da tensão
deixar os meus membros.
— Você quer ficar sozinha? — Romero perguntou
depois de um momento. Ele parecia… incerto. Isso não era
algo que eu estava acostumada a ver nele. Talvez eu precisasse
levar em consideração que ele precisava de algum tempo para
trabalhar suas emoções.
Eu balancei minha cabeça. — Eu quero que você se
junte a mim.
Romero saiu de suas roupas. Eu não tentei esconder a
minha admiração enquanto eu o assisti. Eu amava o corpo de
Romero. Eu amava tudo sobre ele. Me mexi para o lado para
que ele pudesse entrar no chuveiro comigo. Escorreguei os
meus braços ao redor da sua cintura e apertei a minha
bochecha contra seu peito enquanto a água caía sobre nós. Eu
tinha sentido falta da sensação de sua pele contra a minha.
Apertei os meus olhos fechados. Tanta coisa havia acontecido
e muito ainda estava por vir.
— As coisas vão ficar realmente ruins para Luca e a
Família agora, não vão?
Romero acariciou minhas costas. — A união entre a
Família e a Outfit quebraria em algum momento. Eu prefiro
que isso tenha acontecido por causa de algo tão importante,
como você, do que por dinheiro ou política. Você vale uma
guerra.
— Eu não tenho certeza se Luca concorda. Ele
provavelmente já está arrependido de me trazer para Nova
York.
— Eu conheço Luca. Ele não se arrepende das suas
decisões. Uma vez que ele coloca algo em sua cabeça, mantém
até o fim. E isso não foi apenas por você. Foi também por Aria
e Gianna. Elas querem que você seja feliz.
Inclinei a cabeça para cima e sorri para ele. Seu corpo
estava me protegendo da água. Romero abaixou a cabeça e
beijou minha testa, então meus lábios. Nós não aprofundamos
o beijo, em vez disso, terminamos de tomar banho
rapidamente. Romero saiu primeiro e pegou uma toalha. Ele a
envolveu em torno de mim e gentilmente começou a secar o
meu corpo. Eu relaxei sob seus cuidados delicados. O pouco
de tensão que restava deslizou para fora de mim. Depois que
ele terminou comigo, eu tirei uma toalha da prateleira e sequei
Romero. Ele fechou os olhos quando eu massageava seus
ombros. — Como você se sente? — perguntei em voz baixa.
Eu sabia que os homens, os homens iniciados em particular,
não gostavam de falar sobre os seus sentimentos,
especialmente tristeza ou medo.
Ele olhou para mim. — Cansado.
— Não, quero dizer, você teve que matar Benito por
mim. Você está bem?
Romero soltou uma risada sem humor. Ele pegou minha
mão e me levou de volta para o quarto. Ele se afundou na
cama e me puxou entre as suas pernas, e então me fez sentar
em uma delas. — Ele não foi o primeiro e não será o último,
mas eu gostei da sua morte mais do que das outras, e eu não
me arrependo. Eu faria isso de novo e me divertiria muito.
*****
ROMERO
Era a verdade e agora que Lily e eu começaríamos a
viver juntos, ela precisava saber, precisava conhecer todas as
minhas partes escuras. Eu procurei em seus olhos por um sinal
de repulsa, mas não havia nenhuma. Ela beijou o meu rosto
antes de descansar a cabeça no meu ombro. Seus dedos
traçaram meu peito levemente. E a sensação de sua bunda
firme na minha coxa agitou o meu pau, mas agora não era o
momento de seguir esse impulso. Não muito tempo atrás Lily
teve que lutar contra seu novo marido, teve de esfaqueá-lo e
vê-lo morrer. Ela precisava de tempo para se recuperar. Me
levantei e levei Lily em meus braços, e então a coloquei sobre
a cama e deitei. Ela manteve as mãos em volta do meu
pescoço e não me deixou ir, mesmo quando eu tentei me
endireitar. — Lily, — eu disse calmamente. — Você precisa
descansar.
Ela balançou a cabeça e me puxou para baixo, em cima
dela. Eu me apoiei em meus cotovelos para eu não esmagar ela
sob o meu peso. Lily colocou as pernas em torno de meus
quadris e cavou seus pés na parte inferior das minhas costas,
me pressionando ainda mais para baixo.
Eu não resisti. Lentamente, me abaixei até que nossos
corpos estavam um contra o outro e meu pau pressionado
contra a sua buceta. Ela levantou a cabeça para reclamar
minha boca em um beijo. Olhei em seus olhos, eles estavam
suaves e cheios de desejo. Eu não tinha certeza de como eu
poderia ter acreditado que Lily não me queria. Seus olhos
mostravam seu amor por mim tão claro como o dia.
— Eu preciso de você, — ela murmurou, levantando
seus quadris algumas polegadas e fazendo meu pau deslizar
sobre os lábios inferiores. Deixei escapar um pequeno chiado
com a sensação. Ela estava molhada e quente. Ela sempre
estava convidativa e tentadora pra caralho. E ela não precisava
pedir duas vezes. Eu sempre a queria. Rapidamente coloquei
um preservativo, segurei a cabeça e entrei nela lentamente, e
quando o fiz, percebi o quanto eu precisava disso também. Ela
estava mais apertada do que o habitual, talvez por causa da
tensão e do cansaço, e me certifiquei de ser cuidadoso.
Eu fiz amor com ela lentamente. Isso não era sobre ter
pressa, sobre ser consumido pelo desejo e pela luxúria, era
algo para nos mostrar que estava tudo bem. Alguns dias atrás
eu pensava que iria perdê-la para sempre e agora ela era
minha.
Entre gemidos suaves ela me disse que me amava. Eu
beijei os seus lábios. Eu nunca tinha sido o tipo
excessivamente emocional, mas nunca me cansava de dizer
essas palavras. — Eu também te amo — era estranho para mim
admitir isso para alguém.
Enquanto estávamos nos braços um do outro, eu senti
uma profunda e abrangente paz que nunca tinha sentido antes.
*****
*****
LILIANA
Tomamos banho rapidamente antes de irmos para o
apartamento de Aria. Quando chegamos, Gianna e Matteo já
estavam lá, apesar de ser apenas sete da manhã. O cheiro de
café feito me cumprimentou e pasteis esperavam no balcão da
cozinha. Minhas irmãs estavam em pé, conversando, e eu
segui na direção delas enquanto Romero andou até Luca e
Matteo, que estavam sentados nos bancos na ilha de cozinha.
Aria colocou o braço em volta de mim. — Como você
está Lily?
— Bem. Eu não dormi muito, mas estou muito feliz de
estar aqui com vocês e Romero.
— É claro que você está, — disse Gianna. — Estou tão
feliz que Romero se livrou daquele bastardo doente do Benito.
Uma imagem do sangue cobrindo o corpo de Benito
surgiu na minha cabeça, mas eu a empurrei de lado. Eu não
queria pensar nele mais. Ele não fazia parte da minha vida.
Aria me entregou uma xícara de café. — Aqui, você
parece como se precisasse disso. E você deve comer alguma
coisa.
— Mamãe galinha modo ativado, — brincou Gianna,
mas, em seguida, ela também me encarou com um olhar
preocupado. — E? Como foi a sua primeira noite com
Romero?
— Gianna, — Aria advertiu. — Lily passou por muita
coisa.
— Está tudo bem. Eu amei passar a noite nos braços de
Romero, sem ter medo de ser pega. Pela primeira vez,
pudemos ver o pôr do sol juntos.
— Estou tão feliz que você esteja feliz, — disse Aria.
Eu balancei a cabeça. — Mas eu não posso deixar de me
preocupar com Fabi. Eu quero saber se ele está bem.
— Eu deixei duas mensagens de voz no telefone do Val.
Eu realmente espero que ela me ligue de volta.
— Mesmo que ela faça, — disse Matteo. — Nós não
sabemos seus motivos. Ela poderia estar fazendo isso a mando
de Dante e estar à procura de informações.
— Val não faria isso, — disse Aria, incerta.
— Ela é a esposa do chefe. A Outfit está onde suas
lealdades se encontram. Você faz parte da Família, o que faz
de você uma inimiga, — disse Luca.
Olhei para Romero. Tudo isso porque eu amava um
homem que eu não deveria amar, e porque eu queria estar com
ele. Eu era uma vadia egoísta? Romero encontrou meu olhar.
Eu gostaria de poder dizer que eu não faria isso novamente,
mas olhando para ele agora, eu sabia que eu ia esfaquear
Benito quantas vezes fosse preciso para me salvar de um
casamento horrível e ficar com o homem com o qual eu
deveria passar minha vida.
Eu era uma vadia egoísta.
— Ei, — Aria disse gentilmente. — Não fique tão triste.
Me voltei para ela. — Você e Val se davam tão bem. Eu
sei que vocês conversaram no telefone muitas vezes e agora
você não pode, por causa da bagunça que eu causei.
— Você é minha irmã Lily, e vê-la feliz e tê-la em Nova
York com a gente é mais importante do que a minha amizade
com Val. E talvez Luca possa negociar outra trégua com
Dante. Dante é um homem pragmático.
— Não enquanto o seu pai for o Consigliere. Seria como
um tapa na cara do seu pai se Dante não buscasse vingança, —
disse Romero.
— Eu odeio essa porcaria de vingança, — Gianna
murmurou. Matteo levantou de seu banco, se aproximou dela e
a puxou contra ele com um sorriso. — Eu sei que você odeia,
mas é como as coisas são.
Gianna revirou os olhos, mas deixou Matteo beijá-la. No
passado, isso teria enviado uma pontada de inveja através de
mim, mas agora eu caminhei até Romero e me inclinei contra
ele. Seu braço passou pelos meus ombros e ele beijou a minha
têmpora. — Nós já estivemos em guerra com a Outfit antes.
Nós vamos lidar com isso.
— Eu não quero que as pessoas morram por minha
causa.
— Romero está certo. Nós vamos passar por isso. E eu
não acho que Dante vai matar um dos nossos. A ameaça da
Rússia ainda é muito forte. Ele não pode arriscar vidas de seus
soldados em uma guerra com a gente.
— Nem nós podemos, — acrescentou Matteo.
Um telefone tocou, nos fazendo saltar. Aria pegou seu
telefone do balcão e olhou para a tela, então ela levantou a
cabeça com os olhos arregalados. — É Val.
Luca se levantou. — Não deixe que escape nada sobre
Fabi ter nos ajudado, e tenha cuidado.
Aria balançou a cabeça, e então ergueu o telefone até o
ouvido. — Olá? — ela fez uma pausa. — Estou tão feliz que
você ligou. Você pode falar? — Aria ouviu por alguns
segundos, sua expressão caindo. —Eu sei. Eu só queria
perguntar sobre Fabi. Ele levou um tiro quando tentou nos
parar e eu estou tão preocupada com ele. Ele é tão jovem. Ele
não deveria ter sido envolvido neste processo. Você pode me
dizer como ele está?
Aria soltou um suspiro. — Então ele está bem? Ele vai
ser capaz de usar o seu braço como antes?
Eu caí contra Romero, mas, as próximas palavras de
Aria ficaram tensas novamente. — Ele está com grandes
problemas porque não foi capaz de nos parar? — Aria
balançou a cabeça, e então nos deu um sinal de positivo. Ela
ficou em silêncio por um longo tempo depois, ouvindo Val.
— Ok, eu vou dizer a ele. Muito obrigada, Val. Eu não
vou esquecer de você. Espero que os nossos homens
descubram alguma forma de resolver isso em breve. Eu vou
sentir falta das nossas conversas. Adeus.
— Então? — perguntei no momento em que ela tinha
desligado.
— O pai e Dante parecem ter acreditado na história de
Fabi. Ninguém o culpa por nos deixar fugir. Ele não tinha
experiência suficiente para o trabalho. Foi só por causa da
insistência do pai que ele ganhou a tarefa, em primeiro lugar.
Luca parecia um cão farejando sangue em uma trilha. —
Ela disse alguma coisa? Sobre os planos de Dante e seu
humor?
— Ele está furioso, — Aria disse com um encolher de
ombros. —Mas ele pediu que Val te desse uma mensagem, —
ela disse para Luca, seus olhos voando para mim.
Romero chegou ainda mais perto do meu lado. Eu tive
um pressentimento de que sabia qual era a mensagem.
— Se nós enviarmos Lily de volta hoje, eles podem
considerar não retaliar.
Romero saltou para fora do banco. — Ela não vai voltar.
Luca estreitou os olhos, mas, em seguida, respirou
fundo. —Claro que não. Dante sabe que não vamos concordar
com essa oferta. É por isso que ele fez.
Romero esfregou meu braço levemente e trouxe sua
boca até a minha orelha. — Ninguém vai tirar você de mim.
Eu vou lutar um milhão de guerras se isso significa que posso
te manter comigo.
*****
*****
Fim
Notas
[←1]
ERRATA: Nos livros anteriores usamos a tradução para se referir aos Made
Men (homem feito, homem iniciado). Porém percebemos que para melhor o
entendimento seria mais correto deixar o termo em inglês. Na Máfia
americana, um ‘made men’ é um membro totalmente iniciado da Máfia.
[←2]
Scrablle é um jogo onde as pessoas ganham letras (cada letra tem uma
pontuação, as vogais valem menos e as consoantes, mais) e devem formar
palavras. Quanto maior a palavra e mais consoantes usar, mais pontua.
Ganha quem fizer mais pontos.
[←3]
Red velvet, ou veludo vermelho, é o nome daquela massa de bolos e
cupcakes com a coloração bem avermelhada. Não necessariamente tem gosto
de morango ou alguma fruta vermelha, ela é chamada assim apenas pela sua
cor.
[←4]
Eles usam essa expressão em inglês para falar daquelas pessoas,
especialmente mulheres, superprotetoras.