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A segurança absoluta de uma estrutura não pode ser garantida devido à incapacidade de prever as
condições de carga futuras e de conhecer com rigor as propriedades dos materiais, devido ao uso
de hipóteses simplificadoras para prever o comportamento da estrutura às acções actuantes e às
condições ambientais, às limitações dos métodos numéricos usados e aos factores humanos
(Ayyub, 1987). As inúmeras fontes de incerteza no dimensionamento podem resultar, em
situações extremas, em desvios significativos da realidade. A consideração de dados
experimentais na definição das dispersões das variáveis envolvidas no problema não são
suficientes para eliminar as incertezas. Na maioria das vezes os dados disponíveis são insuficientes
para representar integralmente essas variáveis ou ainda estão sujeitas a erros (König, 1985).
A filosofia de verificação da segurança aos estados limites introduziu novos métodos de cálculo
que permitem considerar simplificadamente o comportamento real dos materiais e um tratamento
mais adequado do carácter incerto da resposta estrutural e das acções, através da definição dos
valores característicos e de cálculo. O desenvolvimento ocorrido no campo dos modelos de
análise, acompanhado pela execução de obras cada vez mais arrojadas e de padrões pouco
correntes do ponto de vista estrutural, tem conduzido à implementação de metodologias de
verificação de segurança baseadas em conceitos probabilísticos que permitem um tratamento
racional e global deste tipo de problemas.
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Segurança Estrutural
Incerteza física: Este grupo está associado à inerente natureza incerta das propriedades
dos materiais, da geometria dos elementos, da variabilidade e da simultaneidade das
diferentes acções, etc.. A incerteza física pode ser controlada através de uma base de
dados suficientemente grande, ou através de um controlo de qualidade conveniente.
Geralmente, este tipo de incerteza não é conhecido à priori, mas pode ser estimado
através de observações das variáveis, ou recorrendo a experiências anteriores.
Incerteza estatística: Este grupo está associado com a inferência estatística, uma vez que a
estimativa dos parâmetros que caracterizam os modelos probabilísticos é realizada a partir
de um número limitado de dados disponíveis. A incerteza estatística pode ser considerada
através de uma função de distribuição de probabilidade. É possível usar uma aproximação
Bayesiana (Baecher, 1982; Ditlevsen, 1991) para redefinir essa função de distribuição de
forma a incorporar mais informação obtida a partir de novos dados.
A segurança estrutural e o adequado comportamento em serviço são dois aspectos básicos a ter
em conta no dimensionamento de estruturas. O primeiro requisito corresponde à necessidade de
minimizar o risco de colapso inerente a qualquer realização humana e o segundo está relacionado
com a necessidade de proporcionar aos utentes um funcionamento adequado e, ao mesmo tempo,
minimizar os custos de manutenção.
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Na realidade, os estados limites de uma estrutura são estados idealizados (apresentando por isso
um certo carácter convencional) de forma que se forem ultrapassados, a estrutura não satisfaz as
exigências estruturais ou funcionais definidas regulamentarmente.
Estados limites últimos: Estão associados a situações em que a estrutura, ou parte dela,
atinge o colapso colocando em causa a segurança de pessoas ou de equipamento. Neste
grupo distinguem-se as seguintes situações: perda de equilíbrio estático, rotura devido a
tensões elevadas nos materiais, instabilidade resultante de efeitos de segunda ordem e
fadiga provocada por acções elevadas repetidas.
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A classificação dos estados limites pode estar associada a diversos critérios, como por exemplo
(CEB, 1980a):
A distinção entre estados limites últimos e estados limites de utilização não permite considerar
todos os casos possíveis de ocorrer (Calgaro, 1996). Existem estados limites, que se podem
designar por intermédios, que não se incluem nos dois grupos definidos. Além disso, o
comportamento estrutural pode não ser independente para diferentes estados limites. Por
exemplo, a experiência mostra que a capacidade resistente de pontes de betão armado e
pré-esforçado aos estados limites últimos, é afectada significativamente pelas violações sucessivas
aos estados limites de utilização. O funcionamento da estrutura pode ser de tal modo afectado
que, em geral, a rotura resulta directamente destas repetições, sem que as acções atinjam as
intensidades extremas.
O objectivo básico que conduziu à definição dos estados limites regulamentares é essencialmente
prático: definir regras unificadas, exactas ou aproximadas, de modo que para cada categoria as
probabilidades de ocorrência desses estados limites, ou dos efeitos das acções correspondentes,
sejam comuns à grande maioria dos casos correntes. Pretende-se assim evitar fenómenos ou
situações indesejáveis para a segurança e funcionalidade das estruturas.
O dimensionamento, tendo em conta os vários estados limites, pode ser considerado como um
processo de decisão (CEB-FIP, 1978). As incertezas associadas às variáveis intervenientes e a
forma como elas condicionam o comportamento da estrutura, devem ser tidas em conta de modo
a obter uma probabilidade de rotura aceitável.
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Existem vários métodos para abordar o estudo da segurança estrutural. A tipologia habitualmente
utilizada é a seguinte:
A probabilidade de rotura (isto é, de ser atingido um estado limite) representa o custo que a
sociedade está "disposta" a assumir, em termos de perdas de vidas humanas, consequências
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económicas e perigos vários para a comunidade em geral. A resolução deste tipo de problemas
implica a definição e a optimização de uma função objectivo, que poderá traduzir uma utilidade
envolvendo teoricamente factores essencialmente sociais e económicos.
U = PS QS + PE QE , (1)
em que PS e PE representam os pesos com que essas qualidades intervêm no valor da utilidade,
sendo PS + PE = 1. Os pesos referidos traduzem à partida a política a seguir na escolha da solução
a adoptar.
Os valores máximos admissíveis das probabilidades de serem atingidos os estados limites últimos
para os diversos tipos estruturais são determinados na regulamentação inglesa (CIRIA, 1977)
com base na fórmula:
10 −4 ⋅ Tr
p ′fu = K S ⋅ , (2)
np
sendo Tr o período de referência considerado (em anos), n p o número médio de pessoas vitimadas
em caso de rotura estrutural e K S é um coeficiente cujo valor (ver Quadro 1) depende do tipo de
utilização e função social da estrutura, e pretende traduzir o grau de aversão da sociedade em
admitir a ocorrência de roturas estruturais.
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De acordo com o documento de aplicação nacional no Reino Unido (UK-NAD, 1996), com base
na parte 1 do Eurocódigo 1 (EC1-1, 1994), o tempo de vida útil da uma estrutura (período
durante o qual é utilizada para o fim em que foi dimensionada sem que seja necessário efectuar
qualquer reparação relevante exceptuando manutenções periódicas) é definido de acordo com a
classe da estrutura (Quadro 2).
O Comité Europeu do Betão (CEB-FIP, 1978) utiliza critérios sócio-económicos para definir os
valores de referência de p fu , agravando os valores de p ′fu obtidos pela expressão (2) conforme a
severidade das consequências económicas de serem atingidos os estados limites últimos, de
acordo com as relações definidas no Quadro 4.
Quadro 3 - Probabilidades, p ′fu , de serem atingidos os estados limites último para edifícios correntes
(K S = 0.05) , de acordo com a expressão (2).
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As probabilidades de serem atingidos os estados limites de utilização, pfu=10−4, são definidas de forma
a ter em conta a perda de funcionalidade e os custos de reparação. Essas probabilidades devem ter
em conta a duração dos respectivos estados limites. As probabilidades associadas aos estados
limites de utilização variam entre 10-1 e 10-2. No entanto, esses valores poderão ser menores se as
consequências devidas às perdas de funcionalidade forem elevadas ou se não houver
empenhamento em reduzir o risco de rotura.
Para finalizar esta secção saliente-se dois aspectos essenciais na caracterização das probabilidades
de rotura definidas anteriormente:
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2.5.1 - Generalidades
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