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DOENÇAS RESPIRATÓRIAS NOS ESCRAVOS DA IMPERIAL VILA DA VITÓRIA

NO SÉCULO XIX: O QUE NOS CONTA A HISTÓRIA?

Priscila d’Almeida Ferreira1


Isnara Pereira Ivo2

INTRODUÇÃO

O foco deste trabalho é a abordagem de males respiratórios que acometeram os cativos,


no século XIX, na Imperial Vila da Vitória, atual município de Vitória da Conquista, situada
no sudoeste da Bahia, Sertão da Ressaca, área entre o rio Pardo e rio das Contas, fronteira
entre o Norte da Capitania de Minas Gerais e o Alto Sertão da Bahia. Para isso, apresenta-se a
análise de 460 inventários post-mortem, datados entre os anos de 1801 a 1888, digitalizados
no arquivo do Fórum Desembargador João Mangabeira. No total, foram localizados 2.159
escravos, sendo que, dentro desse número, 242 encontravam-se doentes, incluindo 26 cativos
relatados com enfermidades respiratórias. Mas, para esse estudo, foi feito um recorte dos 11
escravos que sofriam de asmas, bronquites e “doenças do ar”.
Nos inventários, somente está citado o nome da enfermidade ou alguma manifestação
que o doente apresentava, sem qualquer informação adicional a respeito dos sinais e sintomas3
das doenças. A fim de entender o processo de adoecimento dos cativos, elencar-se-á, portanto,
o conceito das doenças, bem como os sinais, os sintomas e indícios inerentes a cada patologia.
Para tal consulta, serão utilizadas literaturas que versam sobre males respiratórios em uma
perspectiva atualizada e também de séculos anteriores. Além disso, será feita uma correlação
entre enfermidades e condições de vida, observando os fatores que eram determinantes e/ou
agravantes para o surgimento de doenças, a partir de uma análise da relação que essas
enfermidades tinham com o trabalho exercido pelos escravos.

OS DOENTES

Foram encontrados dois cativos relatados como doentes de asma4 nos inventários
analisados e um escravo descrito como “doente da puxeira”5; essa última enfermidade podia
ser asma ou bronquite (NASCIMENTO, 2003; COSTA NETO; PACHECO, 2005). É
importante destacar o levantamento de mais três escravos “doentes do ar”,6 no qual não se
sabe, ao certo, a especificidade desse mal, mas infere-se que ser “doente do ar” é estar
acometido por alguma patologia que afeta o sistema respiratório. Acrescentam-se cinco
escravos encontrados nos inventários como “doente do estalecido”,7 moléstia relatada por
Aulete (1964, p. 1590) como sendo “asmático; doente do peito”, que significa,
respectivamente, asma e tuberculose, ou seja, não se pode determinar qual das duas moléstias
esses cativos carregavam em seu corpo, se asma ou tuberculose. As enfermidades podem ser
visualizadas conforme demonstra a tabela:

Tabela 1 – Enfermidades
NOME IDADE QUALIDADE OCUPAÇÃO ENFERMIDADE
Clementina 22 anos parda ___ Doente de asthma
Venancia 24 anos crioula ___ Sofre de asma
Calista 40 anos africana ___ Doente da puxeira
Geronima 6 anos crioula ___ Doente do ar
Joaquim 8 anos Crioulo ___ Doente do ar
Braz 53 anos cabra Serviço de carpina Doente do ar
Francisca 12 anos cabra ___ Doente do estalecido
João 25 anos mulato ___ Doente do estalecido
Domingas 30 anos mina ___ Doente do estalecido
Andre 36 anos angola ___ Doente do estalecido
Antonio 106 anos Haussá Serviço da roça Doente do estalecido
Fonte: Arquivo do Fórum João Mangabeira. Vitória da Conquista – Bahia. 1ª Vara Cível.

Nos registros estudados, conforme a tabela, em relação à idade, havia uma variação
entre 06 e 106 anos de idade. Em relação ao sexo, cinco eram homens e seis eram mulheres.
Dentre as ocupações, foi encontrado serviço da roça e de carpina. Quanto à origem, tem-se
quatro escravos originários da África (africano, angolano, Haussá e Mina) e 11 de
“qualidades” distintas (crioulo, cabra, mulato e pardo). Para referir-se à “qualidade”, Paiva
(2012, p. 20) argumenta que “as ‘qualidades’, portanto, diferenciavam, hierarquizavam e
classificavam os indivíduos e os grupos sociais a partir da origem e/ou do fenótipo e/ou da
ascendência deles”, fazendo compreender que eram dadas diferentes denominações aos
negros africanos e seus descendentes nascidos no Brasil, cujos filhos eram frutos da
miscigenação. Assim, Ivo (2012, p. 20) conclui: “desta maneira, a ‘qualidade’ na descrição
coetânea é usada pelos termos brancos, pretos, negros, crioulos, pardos, mulatos, cabras,
mamelucos, curibocas, caboclos e cafusos”.
Em relação às enfermidades, na literatura contemporânea a asma é definida como uma
inflamação das vias aéreas – caracterizada pelo estreitamento dos brônquios, gerando
dificuldade do fluxo respiratório –, já a bronquite é a inflamação dos brônquios. Ambas as
patologias apresentam sintomas semelhantes, manifestam-se com episódios de falta de ar,
cansaço, chiado no peito, associados à tosse seca ou produtiva persistente (SILVA, 2001;
RUFINO, 2001). Alguns fatores coadjuvantes que potencializam os sintomas dessas duas
enfermidades são infecções respiratórias virais, baixo peso ao nascer, condições alimentares
precárias e parasitoses. Não muito diferente, no Oitocentos, Chernoviz (1904) traz o conceito
de asma.

ASTHMA. Molestia nervosa, caracterizada por accessos de dyspnea, que se


reproduzem em epocas irregulares, frequentes vezes mui afastadas, e no
intervallo dos quaes os individuos gozam de saude perfeita. Os accessos
duram desde alguns minutos até muitas horas (CHERNOVIZ, 1904, p.
1389).

No que concerne à bronquite, Chernoviz (1904, p. 1410) conceitua “bronchite ou


Catharro pulmonar. Inflamação da membrana que forra as vias aereas (bronchios)”, e pode
desencadear febre, tosse frequente com expectoração, pele seca ou suor intenso. Conforme
Miranda (2004), o corpo, quando fica exposto às variações de temperatura, com chuva, frio,
poeira e também a trabalhos fatigantes, torna-se suscetível a adquirir males respiratórios,
como gripes, bronquites e pneumonias.
Em se tratando de doenças respiratórias, algumas delas, como asma e bronquites, não
são transmissíveis, mas outras, como pneumonias e tuberculoses, ou mesmo gripes, são
transmissíveis. No caso das transmissíveis, elas encontraram, por meio da expansão Ibérica,
uma forma de migrarem de um continente para o outro, se alastrando de uma pessoa para a
outra. As condições de vida e higiene no Oitocentos facilitaram tal contágio e a falta de
remédios específicos para a cura desses males proporcionou uma proliferação de enfermidade
na América Portuguesa. Já para as doenças do trato respiratório, não transmissíveis, como
asma e bronquites, havia uma piora do quadro dessas enfermidades, devido às péssimas
condições de vida e trabalho a que os escravos eram submetidos, uma vez que a debilidade do
corpo favorecia o aparecimento de males, além de facilitar o contágio de vírus e bactérias.
Muitas dessas enfermidades tinham um agravamento – ou até mesmo o aparecimento de
outros males – em decorrência das péssimas condições de vida e trabalho da escravatura.
Para Barreto e Pimenta (2013), as doenças do sistema respiratório – especialmente as
bronquites e pneumonias –, estão em sexto lugar na Bahia no século XIX, como as que mais
afetavam e matavam a população escrava.

Muitas doenças do sistema respiratório, como asma, bronquite, pneumonia e


pulmonite, figuravam no rol das doenças longitudinais (endêmicas e
crônicas) e, por vezes, ganhavam a forma epidêmica, como a epidemia de
catarro brônquico, em 1842, e da coqueluche, em 1844 (BARRETO;
PIMENTA, 2013, p. 86 e 87).

Conforme Barreto e Pimenta (2013), nos períodos que compreenderam os anos de


1830 a 1845, a Bahia viveu uma época de grande crise econômica, com isso, veio o aumento
do preço e a escassez de alimento, de modo que a nutrição dos escravos se tornava ainda pior.
Crescia, então, a incidência de doenças motivadas pela falta de comida associada às condições
precárias de vida e à desgastante jornada de trabalho. Não se sabe até que ponto essa realidade
refletiu-se na saúde dos escravos da Imperial Vila da Vitória, mas pode-se dizer que a maioria
dos males respiratórios dos escravos é consequência das condições precárias de vida
associadas ao trabalho forçado. Essa realidade podia ser confirmada não somente na região
estudada, mas também em outras localidades, como Salvador e Vassouras, conforme relata
Falci (2004).
Toda forma de enfermidade respiratória pode se complicar devido às péssimas
condições de vida dos cativos. Os fatores agravantes, como a má alimentação e poucas
vestimentas, pioravam o estado de saúde dos escravos afetados por males respiratórios, de
modo que a doença evoluía rapidamente, levando, muitas vezes, o enfermo a óbito. A falta de
roupas quentes deixava seus corpos expostos às mudanças bruscas de temperatura – situação
favorável ao aparecimento da patologia e sua progressão (KARASCH, 2000). Os
trabalhadores com maior exposição ao frio tinham maior probabilidade de adquirir doenças do
trato respiratório, principalmente quando isso era associado à baixa ingesta calórica. Assim,
apareciam as doenças oportunistas, diretamente relacionadas ao ofício que o escravo exercia,
devido à falta de prevenção e proteção, além da insalubridade nas senzalas. Conforme Slenes
(1999), as senzalas eram como galpões, divididas em cubículos ou cabanas individuais.
Havia, inclusive, senzalas desprovidas de janelas, o que dificultava a ventilação e
proporcionava contágio de enfermidades transmissíveis.
Engemann (2008) defende que o estado de saúde dos cativos variava de acordo às suas
condições de vida. Ele faz considerações sobre a alimentação, seja pela qualidade ou
quantidade da comida ingerida, ou por um esforço além do que o corpo suportava na labuta.
Miranda (2004), por sua vez, aborda questões despertadas por médicos higienistas no século
XIX e denuncia as privações da população escravizada, em Recife-PE, que trabalhava nas
fazendas. Para ele:

As péssimas condições de vida e tratamento, dispensado pelos senhores dos


escravos, eram os responsáveis diretos pela doença [...]. Em relação aos
escravos do campo, denunciou a insalubridade das senzalas, a alimentação
deficitária, o vestuário e o excesso de trabalhos forçados, apelando para uma
melhoria da qualidade de vida desses trabalhadores, a fim de torná-los
saudáveis e, consequentemente, mais produtivos (MIRANDA, 2004, p. 350).

Sem dúvida, o excesso de trabalho, quando associado à doença, levava os escravos à


morte prematura. As enfermidades ocorriam por um misto de trabalho intenso, cansaço físico,
maus tratos, dieta inadequada, exposição a ambientes frios e úmidos, além de doenças mal
tratadas e/ou não curadas (SCARANO, 2002). Nesse sentido, “[...] as doenças que acometiam
os escravos relacionavam-se, em grande parte, com as condições de trabalho e com os hábitos
alimentares (ou com a disponibilidade de alimentos)” (FIGUEIREDO, 2008, p. 80).

O MAL RESPIRATÓRIO

Em se tratando de escravos, raramente eles eram cuidados durante a enfermidade por


médicos diplomados. Apenas homens brancos e com prestígio social conseguiam suas
consultas com médicos brancos e formados. A descendência negra e escrava, por ser
constituída, em sua maioria, por pessoas de baixa renda econômica, era tratada por curadores
sem formação acadêmica, negros e mestiços, o que evidencia que a arte de curar também
estava ligada à cor no Oitocentos (FIGUEIREDO, 2008). Nesse contexto, a grande maioria
dos escravos enfrentava as doenças sem nenhum acompanhamento médico, recorria-se a
barbeiros-sangradores, curandeiros, boticários, cirurgiões ou ainda a algum amigo habilidoso
na arte da cura (BARRETO; PIMENTA, 2013).
Para exercer a arte da cura, os curadores baseavam-se na teoria dos humores. Nos
séculos que antecederam o final do XIX, a saúde do corpo se sustentava no equilíbrio desses
humores:

Segundo Hipócrates, cada humor apresentava características que podiam ser


associadas aos quatro elementos: terra, água, ar e fogo. O sangue é quente e
úmido e estava associado ao ar, a fleuma é fria e úmida e estava associada à
água, a bile amarela é quente e seca e associada ao fogo e a bile negra é fria
e seca e associada à terra. A doença poderia surgir não apenas por um
desequilíbrio da quantidade, mas também por uma alteração dessas
qualidades dos humores, portanto, também há descrições de como corrigir a
característica de cada um dos humores. Por exemplo, se a fleuma está muito
fria, a terapia deve consistir em alterar essa qualidade. Aquilo que está frio
deve ser aquecido, o que está seco deve se tornar úmido, cada característica
deve ser tratada com o seu oposto. O aquecimento pode ser produzido, por
exemplo, por banhos quentes ou banhos de vapor, por alimentos “quentes”
(com muito tempero), pelo vinho, etc. (RODRIGUES, 2011, p. 3).

Quando havia o desequilíbrio dos humores, ocorria a doença – considerava-se saúde


quando todos os elementos estavam em harmonia, e “a doença seria algum excesso ou alguma
falta no andamento normal do organismo” (FIGUEIREDO, 2008, p. 78). Durante a crise de
desequilíbrio, era necessário eliminar as substâncias que desestabilizavam o corpo, a fim de
equilibrar novamente os humores. As substâncias eram o sangue, catarros, materiais fecais,
urina e suor e, para eliminá-las, era necessário utilizar medicações energéticas corretoras, que
eram os purgativos, os vomitórios, as sangrias, ou melhor, tudo que pudesse eliminar os
humores abundantes. As “febres, tremores, indisposição, vômitos, palidez, alteração nas fezes
e urina são algumas das possíveis alterações que desequilibram a ordem da saúde”
(FIGUEIREDO, 2008, p. 76).
Segundo Miranda (2004), existia uma relação da disfunção humoral com as estações
do ano. Para ele, as doenças que se sobressaíam no inverno deveriam esmorecer no verão e as
que surgiam na primavera deveriam esperar seu fim acontecer no outono. Furtado e Ferreira
(2002) argumentam que as doenças respiratórias, em geral, se manifestavam devido à
exposição ao clima frio, à umidade e à friagem, e que os remédios para sanar esses males
deveriam ser quentes, a fim de reestabelecer o equilíbrio do corpo. Tal afirmação corrobora a
teoria dos humores, a qual afirmava que a doença se manifestava devido ao desequilíbrio do
corpo e o remédio visava restabelecer esse equilíbrio. Da mesma forma, Rodrigues (2011)
afirma que se o indivíduo ficasse exposto ao frio, o remédio ministrado deveria ser quente,
como alimentos ou chás quentes, bem como banhos aquecidos.
Nessa perspectiva, Furtado e Ferreira (2002) afirmam que os males que acometem os
pulmões e afetam a respiração deveriam ser tratados com remédios quentes e expectorantes.
Para as doenças respiratórias acompanhadas de tosses, dores no peito e muita secreção, eram
ministrados remédios que ajudassem o doente na expectoração, uma vez que a melhora é mais
rápida e eficiente com a diminuição do catarro. Em seu livro, ele traz diversas receitas de
remédios para esses males, cujas propostas visam a acabar com os humores dos enfermos, de
modo a eliminar as secreções espessas e aliviar os sintomas; como exemplo de remédios tem-
se a aguardente do Reino, a água do chá e a água da raiz da capeba. É de especial atenção
quando um homem sente dores no peito, já que esse é o lugar onde residem órgãos
importantes, como o coração e o bofe8. Nesse caso, o doente necessita de atendimento
urgente, pois sua vida corre perigo. O autor argumenta que se há “[...] falta na respiração, me
parecia estarem os humores embebidos nos brônquios do bofe”, quer dizer, o peito está cheio
de catarro (FURTADO; FERREIRA, 2002, p. 275).
Quando o doente apresenta os sintomas evidentes de males respiratórios, com grandes
tosses, catarros, febre, prostração e dores nos peitos, a indicação de Furtado e Ferreira (2002)
é o uso de expectorantes de lambedores e tudo mais que possa ajudar o peitoral a lançar fora a
secreção através de escarros. O lambedor de aguardente do Reino é considerado por ele o
mais eficiente, pois sua composição auxilia na expectoração, o que reduz, no enfermo, as
dores nos peitos. As emulsões – cozimentos feitos de chicória e almeirão, adoçadas ou não
com açúcar – também eram de grande valia nesses casos, quando havia febre ardente,
acompanhada ou não de tosse, ou quando não havia febre, mas a tosse estava presente.
Lambedor é um “medicamento líquido composto da infusão de alguma planta
misturada com um xarope. Dá-se também o nome de lambedor a um simples xarope, uma
emulsão, um loock, ou a qualquer outra poção doce” (CHERNOVIZ, 1890, p. 273).

Dá-se o nome de expectorantes a certos medicamentos estimulantes que


exercem acção especial sobre a membrana mucosa do apparelho pulmonar, e
favorecem a expulsão das matérias contidas nos canaes bronchicos. São os
seguintes: polygala amarga, inula campana, poaya em pequena dose, scilla,
hysopo, hera terrestre, violas, balsamo de Tolu, balsamo peruviano,
terebinthina, alcatrão, kermes mineral, tartaro emético (CHERNOVIZ, 1890,
p. 1079).

De acordo com Furtado e Ferreira (2002), um dos agravantes das doenças respiratórias
é a pontada pleurítica, que vem acompanhada de dor no peito e sintomas como boca amarga,
falta de apetite, estômago duro, ânsia e vômitos. Segundo o autor, “costumam, pela maior
parte, as pontadas pleuríticas degenerarem em catarrões” (FURTADO; FERREIRA, 2002, p.
257), por isso a necessidade de medicamentos para a expectoração, pois, eliminada a
secreção, os demais sintomas, como a febre, a falta de ar, a dor no peito e a prostração, irão
melhorar.
Em relação às puxeiras, como asmas e bronquites, Furtado e Ferreira (2002, p. 369)
trazem receitas de alguns remédios, cujo principal objetivo é a expectoração. Entre elas cita:
“em uma tigela de caldo-de-galinha se deite espírito de tabaco de três até doze pingas, se tome
em jejum e de tarde [...]”. Os autores abordam também a asma seca – sem catarros, mas com
grande falta de ar –, cujo tratamento era colocar os pés em água quente.
Para o tratamento da asma, Chernoviz (1904, p. 1389) indica “aplicar sinapismos
Rigollot nas pernas” e oferecer ao doente água fria com vinagre ou com cinco gotas de
láudano de Sydenham. Essas e outras indicações variam de paciente para paciente, pois o que
faz efeito em um pode não fazer em outro. É importante também deixar o doente sentado e
tirar as roupas que possam constranger o peito; o ambiente de repouso precisa estar bem
arejado, as janelas abertas e higienizado. Entre os intervalos das crises, deve-se evitar andar
contra o vento, correntes de ar e mudanças bruscas de temperaturas. Chernoviz (1904)
descreve alguns tratamentos em comum, conforme o estágio das asmas e bronquites, a
exemplo de bebidas emolientes, como infusão de flores de malvas e xaropes expectorantes.
Dessa forma, segundo Figueiredo (2006), no período que abrange os séculos XVIII e
grande parte do XIX, no que tange ao tratamento medicamentoso, os remédios para a cura
eram ministrados conforme os sintomas do paciente, devido à precariedade sobre a definição
das doenças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os procedimentos e remédios utilizados na busca da cura, embora limitados, eram os
mecanismos que os curadores julgavam mais eficazes, a fim de diminuir os sintomas das
enfermidades que afetavam os pulmões. Com essa exposição acerca do tratamento de doenças
respiratórias no Oitocentos, pôde-se compreender como esses males eram tratados e de que
forma seus sintomas eram amenizados. Conclui-se, também, que doenças respiratórias
abordadas estavam intimamente ligadas às condições de vida dos escravos, devido à péssima
qualidade da alimentação, vestimenta, moradia e do trabalho.

REFERÊNCIAS

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do Hospital da Misericórdia. Revista Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v. 6, p. 75-90,
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CHERNOVIZ, P. L. N. Diccionario de medicina popular e das sciencias accessarios para


uso das famílias contendo a descripção das causas, symptomas e tratamento das
moléstias; As receitas para cada moléstia; As plantas medicinaes e as alimentícias; As
águas mineraes do Brazil, de Portugal e de outros paizes. E muitos conhecimentos úteis.
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<http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/00756310#page/2/mode/1up>. Acesso em: 20 jan.
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1
Doutoranda em Memória: Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. e-mail:
priuesb@yahoo.com.br
2
Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia. e-mail: naraivo@gmail.com
3
Sintomas são as queixas do paciente a respeito da doença, e sinais são as alterações percebidas por quem está
examinando.
4
Arquivo do Fórum João Mangabeira: Caixa Diversos (1870), Inventário de Maria Madalena Ferreira Campos
(1870). Caixa Inventário (1875 a 1876), Translado em razão da morte do Capitão Manoel Fernandes de Oliveira
Freitas (1876).
5
Arquivo do Fórum João Mangabeira: Caixa Diversos (1842), Inventário de Leonarda Maria Santa Anna (1842).
6
Arquivo do Fórum João Mangabeira: Caixa Diversos (1864), Inventário de Francisco Fortunato Pereira (1863).
Caixa Inventário (1860 a 1861), Inventário de Antonio Basbosa Coêlho (1862). Caixa Diversos (1844 a 1846),
Inventário de Manoel Fernandes de Souza (1845).
7
Arquivo do Fórum João Mangabeira: Caixa Avulsos (2), Inventário de Eufrazina Barbosa (1824). Caixa
Diversos (1842 a 1845), Inventário de Antonio Francisco de Almeida (1832). Caixa Inventário (1850 a 1859)
(2), Inventário de Jose Mendes de Sousa (1850). Caixa Diversos (1839 a 1841), Inventário de Robeiro de
Oliveira (1824). Caixa Inventário (1827 a 1833), Inventário de Antonia Maria de Jesus (1833).
8
Segundo Chernoviz (1890), bofe e pulmão são o mesmo órgão.

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