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A natureza não é uma coisa, pois essa coisa seria tudo; a Natureza não é um
ser, pois esse ser seria Deus. Pode-se considera-la como uma potência viva,
imensa, que tudo envolve, que tudo anima, e que, subordinada à do ser
primordial, continua a fazê-lo pelo concurso ou consentimento deste. 9
Podemos perceber, que boa parte dos estudos dos séculos XVII ao XVIII, buscavam
esse distanciamento entre os homens e os animais, a partir desse afastamento surgem as
características da humanidade, ou seja, cria-se a identidade humana a partir da diferença.
Chega um momento em que aparecem diversos estudos sobre humanidade e sobre o ser
humano, esses estudos nascem a partir de uma crise15 de identidade, supostamente gerada no
século XVIII e XIX. Nos quais estão surgindo diversas narrativas literárias, que desvelam
novas formas humanas, ou pseudo-humanas. A partir dessa crise, o foco dos estudos agora
muda, não são mais os animais que são hierarquizados, mas os próprios humanos. Dentre
10
Keith Thomas, historiador britânico.
11
Bíblia e Harpa pentecostal. Edição de promessas.
12
Keith Thomas, O homem e o mundo natural. Pp. 22.
13
Ibid., p. 21.
14
Ibid., p. 25.
15
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Compaixão Animal, pp. 40.
vários estudos, o que mais chama atenção foi o de Petrus Camper (1722-1789). Camper, foi
inteligente ao perceber que o meio social em que o humano estava inserido, influenciava na
formação do corpo, além de fatores externos como, o clima, a alimentação, entre outros 16.
Seus estudos foram revolucionários pois, ele criou uma “máquina” de projeção de crânios,
que segundo Francisco Bethencourt, facilitava notar as diferenças entre os crânios, mas o
problema surgiu quando Camper compara os crânios de dois macacos com um de africano,
um mongol e um europeu.
Petrus Camper, analisava os crânios a partir dos ângulos faciais, realizando seus testes
percebe que o crânio dos europeus chegava a oitenta graus, enquanto do orangotango ficava
em torno dos 58 graus, porém ele analisa o crânio de estátuas gregas e percebe que haviam
chegado no ângulo facial máximo, de cem graus.17 A partir da sua análise, percebeu que a
inclinação do crânio do africano era inferior ao do europeu, posteriormente essa sua análise
seria utilizada como argumento para inferiorizar humanos de origem africana.
que habitava a África ao sul das montanhas do atlas, era definida pela pele
negra, cabelo encaracolado, crânio comprimido e nariz achatado. Cuvier
considerava a raça negra, com a zona frontal do rosto proeminente e lábios
grossos, estava próxima dos símios.22
16
BETHENCOURT, Francisco. Classificação dos seres humanos, EPUB.
17
Ibid., EPUB.
18
Cuvier, foi um naturalista e zoologista francês da primeira metade do século XIX.
19
Ibid., EPUB.
20
Ibid., EPUB.
21
Ibid., EPUB.
22
Ibid., EPUB.
Enquanto Cuvier, ainda se utilizava de características físicas para inferiorizar os negros,
Lamarck23, chegou a defender a ideia que os seres humanos eram apenas um auge temporário
na escala animal, e seriam destinados a serem ultrapassados por outras formas mais
avançadas.24
A condição humana discutida no século XVIII é muito pertinente até os dias de hoje,
pois, o que caracteriza a humanidade? Neste momento buscavam-se formas de hierarquizar os
homens, e as características físicas eram então utilizadas como argumento, ou seja, ocorre
uma desumanização desses grupos que são tidos como inferior. Portanto, toda essa discussão
sobre a humanidade se desembocará no racismo científico, e terá reflexos na nossa sociedade
até os dias de hoje, mas percebamos o quão frágil é e sempre foi a nossa condição humana.
23
Lamarck, foi um naturalista francês e antecessor a Darwin, em ideias de evolução.
24
BETHENCOURT, Francisco. Classificação dos seres humanos, EPUB.
BIBLIOGRAFIA
BETHENCOURT, Francisco. Classificação dos seres humanos. In: Racismos: Das cruzadas
ao século XX, 2015, EPUB.