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MARCELO GOLLEN

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o q ue eu
faço
faço?
"Por que entrar na

Marinha se você pode ser

um pirata?"

STEVE JOBS
Por que as pessoas fazem o que elas fazem?

Quer dizer, como assim? Pessoas com 17/18 anos normalmente já


sentem a pressão social arbitrária de sua família ou da própria
sociedade. Podemos não ter idade suficiente pra comprar uma
cerveja sozinhos, mas devemos escolher o que faremos pro resto
de nossas vidas? Qualquer coisa contrária a isso soa como
contracultura ou até fracasso.
“Como assim, chegou aos 20 anos de idade e ainda não entrou na
faculdade?”
“Como assim chegou aos 24 e nem decidiu o que vai fazer pelos
próximos 50 anos da sua vida?”
“Decida logo, o tempo está passando!”.
Só quem passa por isso sabe a grande pressão que isso traz,
porém, nada gera uma pressão maior do que responder a essas
perguntas dizendo simplesmente que o que você ama não tem em
uma faculdade. Acredite, você dizer que não quer fazer uma
faculdade quase sempre machuca tanto quanto reunir teus pais e
dizer que quer fazer artes visuais, por exemplo.
“Como assim? Achei que meu filho seria médico ou advogado”
Você precisa de estabilidade!!!”
Há alguns anos, abri algumas vagas para aprendizes, pois
queria abrir um grande estúdio onde tivesse vários artistas de
vários estilos etc. Depois de entrevistar vários jovens e até
mesmo pessoas mais velhas que ainda não se encontraram nas
suas vidas, mas acreditavam que uma carreira na tatuagem daria
certo. Assim, escolhi 6 pessoas, dentre elas, uma menina, e vamos
chamá-la aqui de Rafa.
A Rafa acreditava veementemente que tatuagem era o que ela
queria fazer pro resto de sua vida, mesmo nunca tendo pego numa
máquina de tatuar antes, sem saber como funciona, porém, há um
pequeno problema nesse percurso: Rafa tem 22 anos, toda sua
família morava em outra cidade, e ela já havia cursado 2 anos de
psicologia em uma faculdade particular com dinheiro de seus
pais.
É claro que olhando de fora é muito fácil solucionar o
problema, apenas reúna seus pais e diga que achou que realmente
gostaria de fazer. Mas sempre que somos espectadores de algum
problema, tudo fica mais fácil porque não precisamos passar
pelo momento da conversa por exemplo, e não precisamos sentir
as sensações e emoções que isso irá provocar.
É apenas uma frase: “Pai e mãe, não quero mais psicologia,
quero ser tatuadora.” mas essa frase talvez desencadeará até
ameaças de não ser mais bancada, ou até mesmo se for de uma
família mais radical, perde qualquer apoio por agora não estar
indo a favor do sistema e sim, saindo do caminho tradicional, do
que o roteiro pede.
Ou os pais podem ser mais “compreensíveis”, podem dizer que
te apoiam, mas na mesma semana que você se torna um tatuador,
começam as cobranças “e ai, já ta ganhando bem?” “e ai, já ta
fazendo mais de 50 tatuagens por mês?” Enfim, a pressão é pesada
em qualquer profissão, principalmente as que são fora do comum
como as de tatuadores, atores, etc.
E a verdade é que, mesmo que você faça uma faculdade
tradicional, provavelmente demore no mínimo 6 anos pra você
começar a ganhar algum dinheiro de fato. Mas no ramo da
tatuagem, eu defendo que um retorno financeiro é até bem
rápido, porque você pode, por exemplo, cursar artes visuais
para se aprimorar e ao mesmo tempo executar a profissão, ou até
mesmo não fazer faculdade e obter experiências externas,
assistindo muitas workshops ou cursos bem específicos para se
melhorar.

Mas a grande questão e reflexão é


“Por que eu faço o que eu faço”?

Ou seja, porque eu acordo de manhã? Porque eu saio de casa? O


que me move e o que me motiva?
Certo dia,

precisei deixar o carro para minha esposa fazer algumas coisas,


ela se propôs de me deixar no trabalho, mas aí ela teria que me
levar e voltar pra depois ir de novo e por fim voltar. Então eu
disse que pegava um ônibus, sem problema algum, afinal, fazia
muito tempo que não pegava ônibus e não sabia mais nem  o preço
da passagem ou por qual portava entrava, então queria ter
novamente essa experiência que me acompanhou durante anos da
minha vida e ver como anda a situação do transporte coletivo.
Fui me aproximando devagar do ponto de ônibus, com meus
fones de ouvido e um livro embaixo do braço, havia em torno de
18 pessoas espalhadas, algumas sentadas, outras em pé, outras
bem lá atrás, encostadas em um pedaço de concreto enquanto
roíam as unhas e desejavam que aquele ônibus apontasse logo no
horizonte, com medo, talvez, de tomar um esporro do chefe pelo
atraso.
O ônibus enfim apareceu, e mesmo longe, o pessoal todo
rapidamente começou a formar uma fila meio desordenada e
desnorteada para subir o mais rapidamente e quem sabe ter um
pouco de alegria conseguindo um banco livre. Já pensou? Ir do
bairro até o centro em 35 minutos sentado?
E conforme o pessoal ia subindo, conclui que era pela frente
que devia entrar e assim o fiz. Pois é, não era o dia de sorte de
muitos nós, o ônibus estava entulhado de pessoas, não imaginava
que era permitido colocar tantos seres humanos juntos em um
espaço tão pequeno.
De pé me agarrei em um dos apoiadores do ônibus, coloquei meu
fone mais alto enquanto observava quem estava lá. Era por volta
de 8:30 da manhã, havia em torno de 789 pessoas naquele ônibus,
(tá, talvez não 789, mas realmente muitas pessoas). Enquanto
olhava ao redor, comecei a me questionar: por que aquele cara
com a camiseta de uma loja escrito atrás “posso lhe ajudar?” está
aqui? Provavelmente indo pro trabalho, e será que ele gosta do
que faz? Deduzo que sim, afinal por que ele estaria indo para lá
se não gostasse?
Talvez ele precise de dinheiro? Para ajudar em casa, ou talvez
pra pagar a faculdade e quem sabe num futuro fazer algo que
realmente goste.
E a moça sentada com a cabeça encostada no vidro olhando pra
fora, agarrada na própria bolsa? Ela não tinha roupa de empresa
alguma, pra onde ela estava indo? O que faz ela estar aqui?
Na sua frente um rapaz com um crachá de uma loja chamada
“Central dos parafusos”. Começo a me questionar, será que em
algum momento no mundo alguém teve o sonho de ser vendedor de
parafusos? Assim me peguei analisando as pessoas e desprezando
algumas coisas completamente sem querer. Por que  o sonho de ser
tatuador seria mais digno que o de ser um vendedor de
parafusos? A verdade é que nenhum de nós sabe o que está
fazendo...
Quero dizer, você sabe que trabalha em algo temporariamente,
para num futuro fazer algo que alguém te fez acreditar que
realmente é o que você gosta. Mas somos apenas pessoas fingindo
saber o sentido da vida, quando na verdade não sabemos nem o
que nos move. 
Mas, e eu? Porque eu estava ás 8:30 naquele ônibus? Porque
tinha clientes a serem atendidos as 9:30. E por que eu tinha
clientes? Porque preciso de dinheiro, preciso sustentar o
estúdio, pagar aluguel, condomínio e além do mais tem mais
minha família para sustentar. Então naquele momento parecia
que eu estava ali apenas pelo dinheiro, como parecia ser o
propósito de muitos ali.
Comecei a entrar em uma pequena crise, repensando meus
valores, o que eu estava fazendo da vida, quer dizer... Como
assim? Eu tenho uma vida, eu sou racional eu estou aqui apenas
de passagem, logo estarei morto, qual vai ser meu legado? Na
minha tumba estará escrito:

“Aqui jaz Marcelo, tatuou 189 símbolos do infinito e


se negou a fazer 2.883 tribais”.
...Ok, isso é assustador!

Mas, se o vendedor de parafusos não existisse, como eu


colocaria a prateleira nova no quartinho da minha filha. Se o
vendedor de loja não existisse, quem iria me atender quando
precisasse de um roupeiro novo?
E se alguém perdesse o filho, e a única forma que a pessoa
encontrou de homenagear e ter ele sempre consigo em todos os
momentos do seu lado é tatuando o seu nome, ou quem sabe seu
rosto, quem ajudaria ela?
Nós vivemos em um sistema onde cada um tem sua função, onde
alguns são arbitrariamente mais valorizadas que as outros, mas
nós temos o livre poder, na medida do possível, para escolher se
quisermos ser um vendedor de parafusos ou um tatuador. A
verdade é que o que diferencia cada um dos profissionais, seja
qual for o ramo, é a sede por crescimento, é a sede por melhorar,
é a forma altruísta de levar nossas vidas e nossas carreiras.
Assim, eu pesquisei, e sabe que existe um mundo por trás de
parafusos? Há especialistas que falam sobre isso, tem palestras
sobre parafusos. Tem pessoas que acordam todos os dias pensando
em parafusos, tem pontes criadas com base formada por
parafusos. Em algum momento, alguém desenvolveu um parafuso
tão forte capaz de contribuir para fortificação de uma ponte,
que vai sustentar um ligamento de dois pontos para assim
receber toneladas de veículos, todos os dias.
Ou talvez um parafuso pode deixar minha filha mais feliz,
sustentando uma prateleira onde ela poderá apoiar seus ursos e
se sentir mais protegida a noite, eu sou grato aos caras dos
parafusos por isso.
A vida é bela e linda, temos uma folha em branca onde podemos
escrever nela nossa história, e tanto no ramo dos parafusos ou
no ramo da tatuagem podemos deixar um legado profissional
completo e rico, mas você precisa aceitar e entender que você
não é especial, você é só mais um como eu que acha que está
fazendo a coisa certa.
Nós somos exatamente iguais a qualquer pessoa. Você e Adam
Sandler são iguais. Você e a Sandy são iguais. Você e o Wiliam
Bonner são iguais, você o Dmitry Samohin são iguais, somos só
seres humanos e estamos apenas vivendo.
Enquanto você seguir achando que o mundo te deve algo ou que
você faz parte de um seriado, que a qualquer momento o Pedro
Bial vai entrar e falar que na  verdade a sua vida foi
documentada, você é famoso e o mundo todo te ama, a la Show de
Truman, o vitimismo estará presente em sua vida e a coisa não
vai andar, seja você vendedor de parafusos ou um tatuador.
m o cobrar
Co
melhor
Este é um assunto bastante discutido no meio, não é mesmo?
Com muita frequência, vemos alguns tatuadores publicarem nas
redes sociais:
“Abri a agenda para os próximos 3 meses, interessados mandar
mensagem”
E, em torno de 1h ou 2h depois, um novo aviso:
“Era isso pessoal, agenda fechada. Obrigado a todos”.
A gente para por alguns instantes e pensa “WTF?????” Como esse
cara consegue fazer isso? Enquanto eu estou aqui ralando todos
os dias, oferecendo desconto pra tentar fazer umas tattoozinha
a 100 reais, e nem assim o povo fecha minha agenda. O que
acontece na verdade é bem mais simples do que parece.
No Brasil, hoje, quem consegue essas façanhas são dois grupos.
O primeiro grupo é dos caras que têm visibilidade e
reconhecimento nacional no universo da tatuagem, por exemplo:
Tuzinho, Chico Morbene, Ubiratan Amorim, Rodrigo Catuaba etc.
Esse grupo é conformado por pessoas que já possuem um estilo
próprio e muitos admiradores nas redes sociais.
Isso, aliado a uma mistura de uma grande sede por evoluir sua
técnica e muito esforço em marketing pessoal, os trabalhos
deles passam a ser algo desejável a quem vê. Pois de nada adianta
saber tatuar bem pra caramba e não se portar ou não estar
bastante presente nas redes sociais. 
O segundo grupo são tatuadores que não tem muitos seguidores
como os exemplos citados e não são muito conhecidos
nacionalmente no meio, mas sim, tatuadores “famosos” em suas
próprias cidades espalhadas pelo Brasil. 
Por exemplo: Morei um tempo em Tubarão – SC, uma cidade com
pouco mais de 100 mil habitantes, e lá só se falava de um tal de
Luccas Pessoa, que é uma celebridade na cidade. Se tem uma
tatuagem linda na pele de alguém em Tubarão, provavelmente foi
ele quem fez. E sim, o Luccas disponibiliza espaço na agenda e
poucos minutos depois tem clientes para os próximos 3 meses, e,
mesmo assim, tendo um trabalho muito bom, ele não tem uma
visibilidade nacional.
Mas o que os dois grupos
tem em comum?
?
Ambos conseguiram tornar o que fazem objeto de desejo pra

?
vender ao público final; ambos tem uma técnica impecável. Então
qual o segredo? Parece tão simples olhando os casos de fora. O
desafio é saber como se tornar algo desejável pelas pessoas ou
ainda como ter uma técnica avançada.
Para conseguir tudo isso, é necessário um investimento
altíssimo de TEMPO e DINHEIRO.
Vamos, mais uma vez, entender como isso funciona:
A Samsung, por exemplo, lançou um novo produto em 2019
que precisava se tornar um objeto de desejo a nível mundial. Foi
investido nada mais, nada menos que 11,2 bilhões de DÓLARES,
sim, Dólares não reais. E, mesmo investindo essa quantidade de
grana em publicidade e marketing, ainda demanda tempo. Não tem
como botar esse dinheiro e BOOOOOM! O produto ser desejado no
dia seguinte. As pessoas levam tempo para assimilar o produto, e
até ele se tornar desejável, leva tempo.
Alguém vai estar de boa no sofá da sala e de repente vai
aparecer uma propaganda show de bola no intervalo de jogo de
futebol. Depois ela vai estar lendo alguma notícia, e no
cantinho da tela vai aparecer uma foto linda do celular, depois
ela vai pegar a estrada e vai se deparar com algum outdoor no
caminho falando o quanto aquele celular é incrível. Pronto, se
estabeleceu o mindset de que ela precisava de um celular melhor
e a propaganda fez ela acreditar que precisa ser aquele, porque
na sua cabeça, o mundo sinaliza que o celular é bom sim!
É mais ou menos esse tipo de investimento que precisa ser
feito, mas claro, não precisamos investir mais de um bilhão de
dólares. É um processo que precisa de investimento
primeiramente, na minha opinião, em workshops de
aperfeiçoamento, onde você precisará viajar pra ir em bons
cursos, palestras e se profissionalizar para manter sua técnica
atualizada e muito boa, e depois talvez dar um upgrade nos seus
equipamentos com mais investimento.

#partiudesejavel
o r f i m
Por fim,
depois de um certo tempo evoluindo,

tendo um equipamento que te acompanhe bem no desenvolvimento


dos seus projetos e um trabalho realmente bom...
#PARTIUSERDESEJAVEL.
Para fazer isso, você precisará saber quem são os públicos
alvos que você tem interesse, se tem faculdade na tua cidade, são
universitários bancados pela família o público alvo? Ou quem
sabe pessoas com idade um pouco mais avançada com estabilidade
financeira? Talvez velhinhos com mais de 75 anos? Eu não sei,
cada um desenvolve a sua estratégia para seu público após
conhecer onde essas pessoas vão, o que eles gostam de fazer, onde
eles comem, onde eles moram. 
A partir disso começam as estratégias de impulsionamento
nas redes sociais, estratégias de parcerias com empresas que
esse público já consome e confia, imagens em outdoors, anúncios
em rádios mostrando o quanto seu trabalho é incrível, e de fato
será, pois você já investiu muito em estudo da parte técnica,
agora é a hora de botar em prática tudo isso, e, ao mesmo tempo,
continuar a buscar uma evolução, claro.
O grande segredo está em ser visto, assim, quando se falar em
tatuagem, você sempre será lembrado. E isso leva TEMPO e
DINHEIRO, então, um reconhecimento na cidade vem, e não demora
muito, se utilizadas as estratégias de marketing corretamente.
Aí depende da sua ambição querer se tornar uma referência no
que faz em um âmbito nacional ou ser um artista local bem
recomendado e quem sabe ter um estúdio grande com mais
profissionais além de você trabalhando no seu local, ou talvez
fazer os dois, como fez o Led Could.
Led é um exemplo de tudo que te escrevi aqui. Ele está em uma
cidade que nem de longe é grande (possui em torno de 75 mil
habitantes), e lá ele se tornou uma referência de tatuador, em
Araranguá ele é O CARA. Mas ele não se contentou apenas com
isso, assim que abriu estúdio, conseguiu mais tatuadores na
casa. Assim ele se tornou uma referência nacional e
internacional que muitas pessoas conhecem.

s t r a t e g i a s d
s i o n a m e n t o
Mesmo com estúdio e uma grande procura na sua cidade de
origem, sem se conformar, ele viaja tanto pelo Brasil como
internacionalmente. Além disso, ele trabalha localmente em seu
estúdio se ele quiser, o seu nível de trabalho está muito alto
graças às ambições no passado
"Mas Marcelo, eu não tenho dinheiro pra investir nisso tudo..."
Não estou dizendo pra você dar um jeito de arrumar dinheiro
de forma duvidosa caso não tenha, mas esse início complicado
faz parte do processo, todo grande tatuador já passou por
dificuldades, especialmente financeiras.
Continua lutando, e tente gerir melhor o dinheiro ganhado, e
quem sabe, se for possível, tenta tirar uma porcentagem para ser
i n u a l u t a n d o
reinvestido no seu negócio. Por exemplo: dedica à uma caixa 30%
de tudo que ganhar, e lá vai guardando pra investir em si mesmo,
em workshops, palestras, cursos, etc.
Desde que comecei, embora fosse difícil lidar com o
financeiro, sempre dava um jeito de reinvestir um pouco em
minha melhoria, seja comprando uma bobina nova pra deixar a
máquina mais forte, agulhas de mais qualidades e consegui
trazer e manter comigo conforme fui crescendo. Mesmo com
estúdio, 30% do que ganhava retornava pros cofres da empresa, e
todo mês esse valor era acumulado para compra de algum
equipamento melhor, ou utilizado para algum workshop de
aperfeiçoamento em uma área que julgava não ser bom ainda.
A única coisa que ninguém consegue tirar de ti é o seu
conhecimento. Pense em estratégias dentro de sua realidade
para gerir economias de reinvestimento em você ou em
equipamentos, estipula metas e faz acontecer, mesmo que ainda
não seja tudo da forma que queria, o início é assim mesmo. Agora
convém lembrar o bom e velho ditado clichê: “As torres mais
altas começam do chão”. E não esqueça: O marketing pessoal,
empresarial e o estudo não podem parar, é como botar lenha na
fogueira, se parar de botar, o fogo apaga e tudo esfria.

tudoesfriatudo esfria
tudoesfriatudo esfri
t u d o e s f r i a
t u d o e s f r i
T
a
t
u
a
g
e
?miur uocif
Lembro como se fosse ontem, recebi no início da minha
profissão o desafio de fazer uma espécie muito específica de
árvore com referências puxadas pro realismo. Como de praxe,
preparei vários modelos e desenhos prévios para uma tentativa
de aprovação de meu cliente, mas nada o agradou, nada o foi
suficiente. Ele queria mesmo um realismo, nada como um desenho,
mas sim algo que lembrasse uma fotografia, um estilo que eu não
dominava, mas sentia que poderia fazer, sempre acreditei muito
nos meus potenciais, e nesse caso não seria diferente. Assim, ao
invés de mais um desenho tentei algo diferente, peguei uma foto
da árvore e ele adorou! Era isso mesmo que ele imaginava.
Enquanto ele mandava mensagens feliz e contente com o
projeto, eu pedia ajuda divina para executar aquele trabalho na
semana seguinte, afinal, eu ainda estava no início da minha
carreira e não dominava o estilo, nem equipamento adequado eu
tinha. Nessa época, ainda jovem, me faltou o amadurecimento e
profissionalismo ideal para passar a um colega mais
capacitado. Assim que chegou o grande dia, a hora de eu dizer
adeus aos infinitos e me achar em um estilo que receberia enfim
um reconhecimento. 
Tudo preparado e começa o projeto, 30 minutos depois o
decalque já não estava mais tão bem, o calor subiu, o desespero
bateu, o cliente me questionava “e ai, ta ficando bom?” Meu
coração batia mais forte, tentava disfarçar, e, meio desnorteado
não sabia para que lado eu ia ou o que tatuava, eu realmente não
fazia ideia do que eu estava fazendo. O tempo foi passando e
comecei a improvisar olhando a imagem, algo que eu acreditava
que seria o correto, ao mesmo tempo conversando com o cliente
pra disfarçar meu nervosismo e calorão até que, depois de 3
horas que pareceram ser 10, eu tirei as luvas e disse:
“ P r o n t“Pronto,
o , TTerminamos!”
erminamos!”
Olhava para outro lado enquanto o cliente lentamente se
levantava da maca, comentando o quanto tinha sido
dolorido. Lentamente ele se aproxima do
espelho e força os olhos pra ver a
nova marca na lateral do braço
que agora seguiria em sua
vida pra sempre,
eu de longe
com a visão
periférica estava com vontade de sair correndo, me deitar e
nunca mais tocar em uma máquina de tatuagem.
Ele me olhou nos olhos e disse:
“Legal, depois ela modifica um pouco né?”
Com um sorriso amarelo, eu querendo que aquela grande tortura
acabasse logo, dei mil e uma desculpas esfarrapadas, como por
exemplo: falei que a pele tinha ficado inchada, que o branco
aplicado na hora não fica tão branco, o sombreado ia ficar mais
suave depois, até botei a culpa no fato de ter dado uma
sangradinha, tudo! menos em mim. 
Enquanto falava e falava pra conter meu nervosismo e acabar
logo com aquele sofrimento, Ele afirmou com a cabeça, como se
tivesse entendido perfeitamente, falei sobre os cuidados com a
tatuagem, ele pagou e foi embora.
Sentei na cadeira do estúdio, já tarde, por volta de 20h,
olhava pros lados, papéis, decalque, desenho, bancada suja, maca
suada, respingos de preto em minha calça e desabei a chorar. Eu
chorei como nunca tinha chorado antes, todo aquele esforço e
aquela luta. Até então, acreditava veementemente que poderia
ser um grande tatuador um dia, e aquilo foi um soco no meio da
minha cara! Eu sabia que não tinha ficado bom, sabia que ele não
tinha gostado e também sabia que a culpa disso tudo era minha.
Ele havia confiado sua pele a mim e eu o decepcionei.
Sabe o que eu aprendi com isso tudo? Na época, com certeza eu
não entendia nada de nada, estava apenas vivendo no modo
shuffle e sabia que a única coisa que queria era ser um bom
tatuador um dia, mas não tinha controle de parar e pensar em
minhas ações e em como eu levava a vida, eu não tinha o mindset
que tenho hoje de ser muito cuidadoso, em busca de tentar ser
cada vez um artista e uma pessoa melhor. Se isso acontecesse
hoje,ao invés de ter desabado em choro, pensaria em como
consertar o que fiz de errado e o que eu poderia ter aprender
com essa situação.
Hoje, consegui me perdoar, porque por mais que eu saiba que
não ficou bom, eu dei o meu melhor naquele momento da minha
vida. Óbvio que se fosse hoje, as coisas seriam diferentes, pois
tenho mais ferramentas, mais cabeça e mais capacidade para
solucionar qualquer coisa que na época em que tinha 17/18 anos.
É muito comum nunca estarmos satisfeitos com o que fazemos em
qualquer área que seja, principalmente em nossa atividade
profissional, somos muito duros com nós mesmos. Quem nunca
terminou um trabalho com o cliente adorando, e minutos depois
você sentou, olhou a foto e pensou
“Pqp! Que coisa horrível eu fiz na pele desse cara!”
Pois é, eu mesmo passo por isso até hoje e posso dizer para vocês
que muitas vezes isso acontece logo após ter terminado o
trabalho, mas, quando passa o fim de semana, vejo novamente a
mesma tatuagem e ela não está tão ruim não, pelo contrário, tem
muitos pontos positivos que me passou em branco naquele
momento em que me julgava ser um péssimo profissional.
É simplesmente importantíssimo termos uma autocrítica após
cada trabalho, analisarmos todos os pontos positivos e
negativos para que possamos evitar os negativos, mas temos que
parar urgentemente de sermos tão duros com nós mesmos, você não
merece isso, você é um ser humano, e seres humanos são compostos
por erros e acertos, ter uma cabeça que pensa em crescer e
evoluir a todo momento pode ajudar a evitar os erros e te tornar
mais forte.
Acredite em mim, quando você erra e é o tipo de pessoa que está
sempre querendo melhorar, o erro te torna muito mais forte do
que o próprio acerto, porque te ensina mais sobre si mesmo. É
claro que essa regra não se aplica a pessoas que não se importam
com nada, elas erram e não se importam que o erro se repita. O
que não é nosso caso, nós somos seres em constante evolução e
crescimento, e é por isso que eu estou aqui escrevendo estas
palavras e você está sentado aí lendo, nós somos seres sedentos
por crescimento. Se permita errar, se permita crescer.
não seja tão
duro com você
não seja tão
duro com você
não seja tão
duro com você
não seja tão
duro com você
não seja tão
duro com você

Quando você era criança, tentava caminhar e caia e aquilo


doía, mas você aprendeu que não pode ir tão rápido, então
lentamente você se levanta e tenta ir mais devagar apenas para
cair novamente. Então os seus joelhos começavam a doer, mas
você aprendeu que não consegue sair andando ainda. E mesmo
assim, você se levanta novamente e se espreita pelos cantos da
mobília, se segurando em coisas e fortalecendo as pernas até que
em algum momento consegue dar alguns passos. A cada erro você
aprendeu algo, a cada erro você não desistiu e evoluiu, mas em
nenhum momento você falou – Quer saber? Esse negócio de andar
não é pra mim, vou ficar por aqui mesmo no chão.
Ah, e o homem da árvore? Meses depois, ainda em uma busca por
melhorar entre erros e acertos, resolvi chamá-lo, então
expliquei que havia evoluído a minha parte técnica, que havia
adquirido novos equipamentos e perguntei se ele aceitaria
retornar para uma revisão sem custos. Ainda hesitante, resolveu
aparecer pra conversar. Uma vez lá, eu reparei que os traços
estavam horríveis e falhados, o preto mais parecia um nanquim
esverdeado ou acinzentado. Com isso, achei que fiz a coisa certa
dando uma boa melhorada naquele projeto, me senti melhor
comigo mesmo por ter acreditado, e ele agora estava feliz por
ter uma tatuagem com cara de nova e bem pigmentada.
O erro te fortalece, não seja tão duro com você.

não seja tão duro com


você
n ã o

t ã o d u r

c o m v o c
NNão
ão hh á
as
reggrra s
re
não seja tão
duro com você
não seja tão
duro com você
não seja tão
duro com você

Quando comecei a me inserir no mundo da tatuagem, tinha uma


cabeça jovem que questionava tudo que via e ouvia, por isso
passei por alguns desentendimentos com alguns tatuadores
antigos da cidade. Eu queria entregar um trabalho de qualidade,
independente se fugisse de alguma “regra” que algum tatuador
mais antigo criou. O meu ofício é arte, e a arte não tem regras.
Logo que realizei alguns trabalhos legais, comecei a ser
inserido no grupo social dos outros tatuadores da cidade, às
vezes almoçávamos juntos, e nesses encontros, com muita
frequência, alguém que tinha seus 50 anos vinha fazer gozação
com o novato de 16 anos, que no caso era eu. Por exemplo, nessa
época, 8 anos atrás, se estava começando a surgir a ideia de usar
máquinas rotativas, e até então as máquinas com bobinas
dominavam a cidade, e as  rotativas eram vistas como máquinas
fraquinhas e "nutella".
Eu usava rotativas porque me adaptei muito mais do que com
bobinas, e sempre um tatuador na mesa com ego frágil, na
tentativa de se sentir mais importante, me fala algo do tipo:
“E aí, já aprendeu a montar e desmontar a máquina de bobina?” 
Eu respondia que naquele momento não tinha máquina de
bobina, e isso era motivo de riso coletivo na mesa, assim não
demorou muito pra perceber que tava rodeado de babacas
egocêntricos, mas na época com 16 anos, a aceitação era algo
importante na minha vida, assim como na de qualquer
adolescente, assim que precisei de um tempo pra entender que
isso é completamente desnecessário.
Então, sem saber do que sei hoje, estava lá, mais um dia sendo

?
criticado e motivo de riso por ser um menino de 16 anos que só
tatuava com máquina rotativa e não sabia montar uma máquina de
bobina.
“Como você quer ser um bom tatuador se não sabe nem montar a
máquina de tatuagem????”
Quando escutei, e até hoje ouço os veteranos da tatuagem falarem
coisas do tipo só conseguia pensar em quanto isso era idiota.
Vocês já ouviram falar da história do piloto Sully?
S u l l y ?
Esse cara era piloto de avião, e em mais uma viagem rotineira,
o avião simplesmente deu uma série de problemas, que só o
pessoal que entende de avião saberia explicar pra vocês. Eu só
sei que a aeronave ia cair, e ele precisava, de alguma maneira,
aterrissar no meio de New York. Ok, isso parece algo impossível,
mas Sully simplesmente pensou fora da caixa e pousou em um RIO,
era o Rio Hudson, resultando que saíram todos vivos e ele não
matou ninguém, você tem que concordar comigo que esse cara é um
ótimo piloto, né?
Um mal piloto jamais faria, ou teria sanidade mental para
lidar com algo assim. Porém Sully apesar de um ótimo piloto ele
não sabe montar e desmontar um avião, e podemos dizer que
alguém como o Chef Flávio está na mesma situação, pois mesmo
estando a frente de um dos maiores restaurantes de Porto Alegre,
pode não saber montar ou desmontar um fogão industrial, assim
como o motorista com 5 estrelas do Uber pode não saber montar e
desmontar um carro, o fotógrafo pode não saber montar e
desmontar uma câmera.
Enfim, a minha resposta para os questionamentos deles era:
“Tá, mas porque eu preciso saber montar e desmontar uma
máquina de bobina?” A frase batia nos ouvidos deles quase como
aquilo fosse
um insulto.
“ORA, PRA QUANDO A MÁQUINA QUEBRAR!!!”
Meu amigo, você está em 2020, talvez em 1997 isso realmente era
importante, mas os tempos mudaram, e a maneira como as coisas
acontecem são outras, atualize-se, pelo amor de Deus.
Porém, eu não generalizo, respeito muito os tatuadores da
minha cidade, por no passado terem feito parte da cena local de
tatuagem, mesmo não se esforçando para modernizar seu ofício,
embora o respeito não fosse mútuo nesse caso. Porém existe
também uma parte desse grupo que tem 50 anos e sim se
atualizaram, não somente em equipamentos mas em maneiras de
pensar e buscaram uma evolução como um todo, tanto na parte
técnica, como na parte humana.
2 0 2 0
Você está em 2020, pense fora da caixa, não se prenda ao que
falam, não existem regras a serem cupridas, se trata de
desenvolvimento, de como entregar um melhor trabalho e fazer
brilhar os olhos dos teus clientes, não importa se for usar uma
máquina de bobina, de pen, de handpocket, etc. Apenas se
desenvolva como profissional e humano para não ficar pra trás.
Assim como no passado sofri por não ver as coisas como vejo
hoje, sou grato por terem muitas pessoas que acreditam que
existem regras na arte, pois no final quem está a frente será um
de nós, que acredita na arte como expressão e sentimento, que
uma bobina ou o que outra pessoa diz não define o que você
precisa fazer, muito menos define seu estilo e maneira de
trabalhar!
@marcelogollen

MAIO 2020

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