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O Fanzine e a socialização escolar no plural

Este projeto de pesquisa/extensão dedica-se ao estudo da escola como


“comunidade política” cujas qualidades estão sempre a se por à prova no sentido de suas
relações constitutivas, da sua hospitalidade, circunscrição e (des)ordenação. Neste
sentido, a oficina de Fanzine é tomada tanto em seus microprocessos sociais, isto é, suas
relações presenciais, a serem observadas em campo em seus dilemas e criatividades
coordenativas, na recepção que cada escola dará à realização das oficinas e na
tematização das socialidades escolares na composição dos registros etnográficos a
serem realizados nas visitações. A pesquisa sobre a socialização escolar mostra que os
envolvimentos são plurais e obedecem a uma dinâmica que implica exigências
incontornáveis à conformação do comum, as quais não vão sem tensão, provações e
conflitos, tal como também revelam os fanzines que tematizam a escola. Assim, o
desenho do projeto implica, de um lado, um eixo extensionista claro, que tem por foco
as escolas da microrregião aptas a receber as oficinas e a equipe de pesquisa e, de outra
parte, um eixo investigativo fundamental, voltado à construção de dados que permitam
compreender os desafios colocados à socialização política escolar no plural e os dilemas
que se apresentam nas diferentes “provas” dispostas na socialização escolar:
pertencimento, hospitalidade, qualificação, reconhecimento, responsabilidade e justiça.

Por um lado, a visitação e a frequentação, durante um ano, a algumas escolas da


microrregião, possibilitará perceber, com maior profundidade, o universo qualitativo de
relações que atravessam o cotidiano destas escolas, de modo a alimentar a investigação
sobre as formas (instáveis) pelas quais se faz a “comunidade política de cada escola”.
Neste contexto, o Fanzine, dispositivo que facilita a diferenciação da expressão,
oferecerá um duplo aporte. Será plataforma da comunalização das experiências juvenis
e escolares e produtor de registros sobre as várias questões sensíveis à experiência
cotidiana dos jovens. O objetivo do projeto é, neste sentido, tanto entender os dilemas
que se colocam à socialização escolar contemporaneamente quanto entender como se
adentra o espaço escolar de diferentes unidades, registrando-se as modalidades de
recepção (e os caminhos pragmáticos) dos “récem-chegados” ao espaço diferencial de
cada escola (Stavo-Debauge, 2017), suas acomodações e possíveis tensões.

Se a própria escola é pensada como uma “comunidade” sempre em estado de se


fazer, composta por envolvimentos plurais em temperaturas variáveis, o mesmo vale
para as oficinas de fanzine e seu enquadramento na arena pública escolar. Assim, fará
parte da pesquisa a aquisição de dados qualitativos sobre como o próprio projeto – que
implica na entrada de “outros” na escola – é avaliado diferencialmente pelos públicos
escolares em diferentes tempos. Além disso, será possível averiguar as formas pelas
quais contribuições educativas diferentes do modelo da instrução pela autoridade são
avaliadas e qualificadas quando adentram a arena pública escolar. De igual modo, o
projeto/pesquisa permitirá analisar os significados acionados pelos atores para designar
as “grandezas escolares”, isto é, os critérios de justiça devem reger a socialização
escolar no plural.

Pode-se dizer, por fim, que o projeto permite perseguir, com seu foco no cotidiano
das relações escolares, uma reflexão que ancore uma prática educacional sensível às
potencialidades, capacidades, vulnerabilidades, dilemas e imperfeições inerentes aos
processos de conformação do comum, isto é, da “comunidade política escolar” nas
sociedades desiguais e plurais contemporâneas.

Cronograma de realização do projeto

1) 01/05 a 30/05
2)

Resumo: Este projeto destina-se a realização de atividades de pesquisa/extensão em escolas


públicas de ensino médio Macaé. Os objetivos prendem-se com a materialização da autoria
dos estudantes, que podem se expressar nas oficinas de fanzine, com a obtenção de dados
sobre as relações escolares e a experiência juvenil e com a reconstituição dos modos pelos
quais cada escola recebe as oficinas (isto é, a alteridade) no decorrer das visitas que fazem
parte do projeto. Os métodos utilizados na pesquisa passam pela realização das oficinas e pela
observação e registro etnográficos. Espera-se encontrar diferentes modos situados de
recepção dos integrantes do projeto em distintos espaços escolares e, ato contínuo, descrever
os dilemas de hospitalidade (Stavo-Debauge, 2017), cohabitação (Breviglieri & Pattaroni, 2006)
que atravessam as diferentes circunscrições escolares, de modo a contribuir para o
entendimento das artes de fazer o comum nas escolas (J. M. Resende & Gouveia, 2013) a
partir da observação direta dos envolvimentos implicados na convivência em cada escola e da
avaliação dos sentidos expressos na realização dos fanzines.

Breviglieri, M., & Pattaroni, L. (2006). Le temps des cohabitations (Vol. 14, p. 45–55).

Apresentado em Habitat et vie urbaine. Changements dans les modes de vie. Actes du

colloque organisé les.

Foucault, M. (2015). A cultura de si. Texto & Grafia.


Resende, J. M., & Gouveia, L. (2013). As artes de fazer o comum nos estabelecimentos de

ensino: outras aberturas sociológicas sobre os mundos escolares (p. 97–106).

Apresentado em Forum Sociológico. Série II, CESNOVA.

Resende, J. M. V. S. (2010). A sociedade contra a escola?: a socializa-cão política escolar num

contexto de incerteza. Instituto Piaget.

Stavo-Debauge, J. (2017). Qu’est-ce que l’hospitalité? recevoir l’étranger à la communauté.

Montréal, Québec: Éditions Liber.

Este projeto de pesquisa/extensão fundamenta-se na perspectiva do programa de


pesquisa desenvolvido, com notável sucesso científico, pelo sociólogo José Resende (2010) em
escolas portuguesas. Ao invés de tomar a “comunidade política escolar” como um dado pronto
e acabado, estuda-se as formas de fazer, desfazer e refazer as relações e vínculos sociais na
escola no decorrer do tempo. A ênfase é posta nas situações efetivo-objetivas em que as
pessoas se encontram e se colocam à prova umas em relação às outras. A proposta se justifica
pelo fato de que as socialidades escolares contemporâneas são atravessadas por múltiplos
envolvimentos que não sucedem sem tensão e dilemas, os quais são vistos tanto na
expressividade dos fanzines, que fogem ao modelo da instrução pela autoridade (Foucault,
2015), quanto nas composições e avaliações plurais que decorrem no espaço escolar, marcado
por urgências e várias formas de sociabilidade. A principal contribuição do projeto passa por
seus dois eixos: a inserção do dispositivo fanzine nas possibilidades criativas da escola, de
modo a viabilizar formas de expressão do que nem sempre encontra lugar na escola, isto é, os
dilemas da experiência juvenil e, de outra parte, a explicitação dos processos de constituição
da recepção e da convivência escolar, o que permitirá aprofundar o entendimento de como se
fazem as socialidades escolares e avaliar as dinâmicas de hospitalidade e cohabitação à luz do
imperativo da inclusão escolar. Além disso, o projeto permitirá avaliar de que modo ele
mesmo, com sua realização, encontra limites de inclusividade e recepção, de modo a refletir
sobre os diferentes enquadramentos de suas atividades em cada escola. Neste sentido, sua
principal contribuição diz respeito ao entendimento de como se dá a conformação do comum
nas escolas ante a circulação de novas práticas educativas e as dificuldades colocadas à
inovação de formas educativas pelos públicos que frequentam as escolas.

Objetivos

Geral: Oferecer práticas educativas a partir da plataforma de produção


simbólica/imagética oferecida pelo fanzine e avaliar a própria realização e recepção das
oficinas nas escolas.
Específicos: Analisar a partir dos dados coletados nas escolas os dilemas que
atravessam a convivência escolar.

A execução do projeto exige materiais de baixo custo. Papel, revistas, lápis de cor,
tesoura, jornais e outros materiais que já integram as atividades da fanzinoteca do IFF/Macaé.
As oficinas demandam o deslocamento dos integrantes do projeto a escolas da zona urbana de
Macaé, onde os próprios integrantes propõe aos estudantes a confecção, com o material
citado, de quadrinhos, desenhos, colagens e textos de natureza variável. Este constitui um dos
passos de execução das oficinas de fanzine. Paralelamente, realizar-se-á registros fílmicos,
fotográficos e sonoros das atividades, além de entrevistas com estudantes/participantes,
contemplando desde a chegada nas escolas até a realização das oficinas, de modo a compor
um material que possibilite a análise dos sentidos avocados pelos participantes acerca das
oficinas e da convivência escolar.

Espera-se com o desenvolvimento do projeto avaliar de que modo são os


envolvimentos escolares contemporâneos e os enquadramentos que se faz desta prática
educativa que é o Fanzine, cada vez mais apreciado como ferramenta de ampliação da
expressão para além do objetivo instrucional da escola.

Este projeto visa melhorar o entendimento dos dilemas de “ação coletiva” que sempre
atravessam as escolas e, neste sentido, pretende fornecer ferramentas políticas e reflexivas
que permitam ampliar o entendimento dos desafios éticos, estéticos e políticos que
atravessam a atuação de uns e outros na cohabitação escolar. Dito de outro modo: pode
ajudar a superar dificuldades políticas implicadas na escolarização em tempos de incerteza (J.
M. V. S. Resende, 2010)

A propriedade intelectual do projeto será garantida pela publicação de textos e


relatórios relacionados aos dados da pesquisa em revistas acadêmicas. Igualmente, pela sua
exposição pública no IFF/Macaé.

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