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Josely Vianna Baptista

(sem título)
sue
o secor do poço
soe
o oco do cepo
brote
o bulbo do fruto
vente
o pólen poento
(ventre)

REFRACTA
 
para Vera e Milton,
meus pais
 

o
segredo
do
abraço
está
na
graça
de
quem
faz
o
agrado
__
água
recortando
o
nado
de
um
peixe
sem
deixar
rastro
Oficina Renovação

“Chorar com lágrimas é sinal de dor moderada; chorar sem


lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de dor
suma e excessiva.”
(Padre Antonio Vieira)

Aqui não se veem olhos


que abriguem lágrimas.
Só artifícios.
O fogo aceso nos latões de lixo.

Aqui não se veem olhos


que abriguem lágrimas.
No charco frio,
um ramalhete macera suas pétalas.

Aqui não se veem olhos


que abriguem lágrimas.
Cornijas riem
do arrulho rouco dos pombos
nos umbrais.

Aqui não se veem olhos


que abriguem lágrimas.
Só trilhos sujos.
E a pompa fúnebre dos caminhões
de entulho.

Ao rés do chão,
como um insulto,
uma moeda brilha no bueiro
sob o casulo adormecido
de um vulto.

Aqui não se veem ilhas


que abriguem náufragos
(mas sob as gazes frias
da geada
saxífragas florescem
entre as pedras
– como dádivas.)

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