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Excesso de Confiança e Testosterona (razão 2D:4D)

Eduardo Borges da Silva, IBMEC-DF

Benjamin Miranda Tabak, Escola de Políticas Públicas e Governo, FGV

Michel Constantino de Oliveira, UCDB, Campo Grande

RESUMO
Este artigo utiliza um experimento de campo para testar se os níveis de testosterona
estão relacionados ao excesso de confiança. Encontramos que essa relação é positiva
– quanto mais exposição pré-natal ao hormônio maior o excesso de confiança e que
esse efeito é maior em homens do que em mulheres.

Palavras-chave: 2D:4D. Excesso de confiança. Experimento.


1 INTRODUÇÃO

Neste estudo propomos estudar uma variável comportamental que pode


interferir no processo de decisão – o excesso de confiança. Este, é um viés
comportamental intensamente estudado para a identificação de comportamento de
risco. Importantes autores como Odean (1998), Barber e Terrance (2001), Hvide
(2002), Bengtsson et al. (2005), Berg e Lein (2005), Menkhoff et al. (2006), e Tabak et
al. (2010) tem pesquisado e encontrado resultados importantes no sentido que não só
a confiança, mas o excesso de confiança (overconfidence), pode levar as pessoas a
acreditarem que são melhores do que, na realidade o são, mas nem sempre isso traz
efeitos positivos1.

Em recente estudo, Kunkel, Vieira e Potrich (2015) apontam fatores


comportamentais tais como as compras compulsivas, o comportamento de uso no
cartão de crédito, o comportamento financeiro, a atitude financeira e as emoções
negativas como determinantes de endividamentos excessivos.

O excesso de confiança é definido de várias formas sendo que Gigerenzer et


al. (1991) fazem a seguinte definição: “O excesso de confiança ocorre quando os
julgamentos de confiança são maiores que as freqüências relativas de respostas
corretas”. Para Koehler et al. (1996), o excesso de confiança ocorre através da
diferença entre a confiança e a precisão obtida. Barber e Terrance (2001), Bengtsson
et al. (2005) e Tabak et al. (2010) indicam que um dos viesses cognitivos mais
importantes que influenciam o processo de tomada de decisão é o excesso de
confiança e que os homens em geral têm um maior grau de excesso de confiança2.

Assim este experimento pretende verificar se o excesso de confiança tem


relação apenas com variáveis como gênero, idade, etc. ou se fatores biológicos podem
interferir neste viés. Para tal testamos o efeito da testosterona nesse processo. Neste
sentido, para a aferição do nível de testosterona foi utilizado um método não invasivo
denominado 2D:4D. Neste método, é medido a razão entre os comprimentos do dedo
indicador (2D) e o dedo anelar (4D).

Manning et al.(1998) inferiram que a razão 2D:4D é sexualmente diferenciada,


de modo que os homens tendem a ter uma menor razão 2D:4D do que as mulheres.
Uma razão menor que 1, isto é, o comprimento do dedo indicador menor que o
comprimento do dedo anelar indica uma maior exposição e, quanto menor esta razão,

1
Veja ainda Bijleveld e Baalbergen (2017) e Ilieva et al (2018).
2
Veja ainda Grou e Tabak (2008), Rosa e Tabak (2009), Tabak e Fazio (2010) e Teixeira et al. (2015).
maior foi a exposição pré-natal à testosterona (Manning, 2002). Por outro lado uma
razão igual ou maior que 1, isto é, o comprimento do dedo indicador maior ou igual ao
do anelar, indica uma menor exposição à testosterona e, quanto maior a razão, menor
foi a exposição à testosterona. Assim, quanto maior for a razão, menor a exposição à
testosterona pré-natal (Manning, 2002). O presente estudo deseja mostrar que a
exposição à testosterona medida pela razão 2D:4D exerce grande influência no
comportamento das pessoas independente do gênero.

Segundo Wingfield et al. (1990) e Dixson (1998) a testosterona é um hormônio


que influência não só a masculidade, mas também desempenha um papel importante
para a explicação de certos comportamentos masculinos. Neste sentido, a
testosterona tem sido associada a traços de personalidade, tais como: aumento da
agressividade [Archer et al. (1995) e Bailey & Hurd (2005)], neuroticismo, extroversão,
conscienciosidade e afabilidade (Fink et al.,2004) e a outros comportamentos como:
maior fertilidade (Manning et al.,1998); boa saúde e maior habilidade esportiva (
Manning, 2002); competitividade (Crosson & Gneezy, 2009), infrações de trânsito
(Schwerdtfeger et al.,2010); depressão (Smedley et AL, 2014) Fitness (Longman et
AL., 2015) e outros.

Diversos autores já relacionaram o excesso de confiança com alguma situação


econômica cotidiana: Falências de empresas (Camerer & Lovallo,1999), Bolhas do
mercado de ações (Grinblatt & Keloharju, 2009), carteiras de investimentos [Odean
(1998), Barber e Odean (2001),Berg e Lein (2005),Tabak et al. (2010), Fellner et al.
(2004) e Malmendier & Tate, (2005)], disposição para guerras (Johnson et al. 2011),
encontrando correlações dessas situações com overconfidence.

A razão 2D:4D é um marcador pré-natal intensamente estudado. Manning et al.


(1998) e Manning (2002), confirmaram a existência de um padrão de dimorfismo
sexual entre os sexos, indicando que os homens têm uma menor razão 2D:4D que as
mulheres. Brown et al. (2002 a e b), Ökten et al. (2002) e Lutchmaya et al. (2004),
encontraram evidências para a hipótese de que a razão 2D:4D esteja relacionada com
andrógenos pré-natais. Estes estudos mostram que uma menor razão 2D:4D está
associada a maior exposição à testosterona pré-natal. Outros autores inferem que um
indivíduo que recebeu uma maior exposição à testosterona tem maior propensão ao
risco, mostrando ainda que os homens geralmente, têm maior propensão ao risco do
que as mulheres [Apicella et al. (2008), Sapienza et al. (2009) e Garbarino et al.
(2011), Borges e Tabak (2015)].
2 MÉTODOS.

Conduzimos nosso estudo, inspirados no experimento clássico da literatura


sobre o excesso de confiança de McCormick et al. (1986), no qual pede-se para que
os motoristas respondam se eles estão acima ou abaixo da média dos outros
profissionais do meio, em suas habilidades de condução. Neste experimento, assim
como Bengtsson et al (2005) que estudaram o excesso de confiança utilizando dados
dos resultados das avaliações em uma universidade, também buscamos identificar o
excesso de confiança através das notas obtidas por alunos de graduação. Este
trabalho teve como motivador entender se o excesso de confiança pode realmente
tornar os indivíduos mais eficientes. Assim, o presente trabalho busca entender se os
alunos com excesso de confiança vão realmente obter notas mais altas nas provas e
estabelecer se existe correlação positiva entre a testosterona e o overconfidence. Para
a realização desse experimento, alunos de graduação foram convidados a responder a
um questionário, entregue minutos antes da realização de uma prova, no qual
deveriam responder individualmente se estudaram para a prova e, em caso afirmativo,
por quanto tempo. O questionário ainda solicitou para que o aluno atribuísse qual a
nota que ele esperava obter na prova e se sua nota ficaria “abaixo”, “acima” ou “igual”
a média da turma. A amostra contém 130 voluntários, sendo 67 homens e 63
mulheres. A pesquisa contou com elevado grau de heterogeneidade. Os voluntários
eram de cursos de várias áreas do conhecimento, como engenharias civil e elétrica
(exatas), gestão em recursos humanos (humanas), gestão empresarial (negócios) e
gestão hospitalar (saúde). A participação foi voluntária e os alunos foram estimulados
a participar da pesquisa mediante uma recompensa, receber 10 pontos - em 100
possíveis no semestre - em uma disciplina que estavam cursando no momento (show
up fees). Este estímulo se justifica para um maior comprometimento dos voluntários,
conforme o artigo Pay - But do not pay too much: An experimental study on de Impact
off incentives (Pokorny, 2008).

O experimento aconteceu no horário normal de aula. Os alunos foram avisados


que, nos dias das provas semestrais, seriam convidados a participar de uma pesquisa
minutos antes da realização destas. Desta forma, aqueles que aceitarem participar
deveriam chegar 15 minutos antes do horário marcado para as provas e após a
realização deveriam ficar por mais alguns minutos para procedimentos formais. Ao
chegarem à sala, os alunos eram conduzidos aos seus assentos e orientados a
desligar todos os aparelhos eletrônicos tais como celulares, computadores, tablets,
etc. Assim, pudemos evitar algum tipo de ruído externo que pudesse comprometer as
respostas dadas, conforme Davis & Holt (1993). Os alunos presentes receberam as
informações relativas ao experimento impressas e verbalmente. Todos os alunos
assinaram o Termo de Consentimento Esclarecido. O experimento foi dividido em três
fases. Na primeira fase, os alunos responderam ao questionário proposto quanto as
suas expectativas em relação à prova. Na segunda fase, os alunos realizaram suas
provas normalmente. Já na última fase, os alunos responderam a um questionário com
perguntas sobre alguns traços biológicos e sociais e foram convidados a tirar a
fotocópia das mãos direita e esquerda. Para a aferição das medidas dos dedos foi
utilizado um software desenvolvido por DeBruine (2004).

3 RESULTADOS

Foi realizado o teste de Mann-Whitney (U) para as medidas das mãos direita e
esquerda de todos os voluntários, não sendo possível rejeitar a hipótese de que elas
são estatisticamente iguais (p=0.2097). Como não houve diferença significativa,
apesar de ter sido realizado testes para ambas às mãos, neste trabalho, apresentam-
se os resultados apenas da mão direita. A tabela 1 mostra o valor médio da previsão
de notas e o valor médio da nota que os alunos realmente obtiveram em suas provas.

Tabela 1 – Apuração da nota prevista com a nota real de todos os alunos.

Apuração das notas


Nota média Nota média
(SD) (SD) t p
Prevista Real
Homens/Mulheres 7.34 (1.568374) 6.57 (1.431037) -4.117755 0.0001***
Homens 7.46 (1.480053) 6.28 (1.574034) -4.460234 0.0000***
Mulheres 7.21 (1.659198) 6.88 (1.19904) 1.280127 0.2029
Razão 2D:4D menor que 1 7.45 (1.657122) 6.43 (1.494699) -4.600729 0.0000***
Razão 2D:4D maior que 1 6.96 (1.098108) 7.09 (1.020995) 0.580139 0.5643
Homens 2D:4D menor que 1 7.66 (1.433228) 6.26 (1.638853) -4.939302 0.0000***
Mulheres 2D:4D menor que 1 7.16 (1.897237) 6.67 (1.255523) -1.43132 0.156
Homens 2D:4D maior que 1 6.00 (0.92582) 6.46 (1.031545) 0.948874 0.3588
Mulheres 2D:4D maior que 1 7.31 (0.931106) 7.35 (0.917918) 0.14037 0.8892
Nota: SD = Desvio padrão
*** p < 0.05

Observa-se que, na média, todos os alunos fizeram uma previsão de nota


maior que a nota real que obtiveram (teste t, T = -4.11776, p = 0.0001). Entretanto,
para as mulheres a média não foi significativamente diferente (teste t, T = 1.28127, p =
0.2029). Já para os homens a média foi significantemente diferente (teste t, T = -
4.46023, p = 0.0000). Desta forma, pode-se observar que, apesar de todos os alunos
apresentarem um comportamento de excesso de confiança, este efeito é menor para
as mulheres. Para a confirmação da relevância entre a razão 2D:4D e o
overconfidence foi estimado um modelo econométrico (1). Realizou-se também
regressões para as outras variáveis apresentadas pelos voluntários, como sexo, idade,
peso, cor, altura e lateralidade (se o indivíduo é destro ou canhoto). Para a realização
da avaliação foi estimada a seguinte equação via Mínimos Quadrados Ordinários
(MQO):

Over = α0 + β1X1 + β2X2 + β3X3 + β4X4 + β5X5 + β6X6 + β7X7+ β8X8 + μi (1)

onde: Over representa que o indivíduo apresentou comportamento de


overconfidence; X1 = medida 2D:4D mão direita; X2 = variável dummy para sexo,
sendo 1 para os homens e 0 para as mulheres; X3 = variável dummy para o estudo
sendo 1 para quem estudou e 0 para quem não estudou; X4 = idade; X5 = peso; X6 =
cor da pele, sendo 1 para brancos e 0 demais (não brancos); X7 = variável dummy
para lateralidade, sendo 1 para destro e 0 para canhoto; X8 = altura e μi o termo de
erro.

Tabela 2 – Estimativas MQO. Variável dependente: overconfidence

(1) (2)
Constante 3.92567 *** 3.463274 ***
(0.978788) (1.632004)
2D:4D direita -3.410598 *** -3.169459 ***
(1.024271) (1.086878)
Dummy - SEXO 0.110679
(0.111121)
Dummy - ESTUDO 0.093282
(0.095589)
IDADE -0.005839
(0.006147)
PESO 0.001202
(0.002484)
Dummy - RACA 0.171556 **
(0.087304)
Dummy - Destro/Canhoto 0.197059
(0.20006)
ALTURA -0.039205
(0.62992)
N 130 130
L -81.04485 -74.12434
1
Desvio Padrão entre parênteses
2
*** Significância estatística a 1%
3
** Significância estatística a 5%

A partir da apresentação das variáveis estimadas, a tabela 2 acima resume os


resultados da regressão do tipo MQO com erros robustos.

Os dados da coluna 1 resumiram as inferências obtidas entre o marcador


2D:4D e o comportamento de overconfidence. Como era de se esperar, o sinal do
parâmetro “2D:4D mão direita” foi negativo (t statistic = -3.32978, p = 0.001) da mesma
forma que nos trabalhos de Garbarino E. et al (2011) Coates J. et al. (2009). Assim,
espera-se que, quanto menor a razão 2D:4D, maior o excesso de confiança. A coluna
2 mostra a correlação entre o comportamento de overconfidence e as outras variáveis
biológicas estimadas no modelo. Novamente o sinal do parâmetro “2D:4D mão direita”
foi negativo e significativo a 1% (t statistic = -2.916112, p = 0.0042). A variável cor da
pele (Dummy, 1 branco, 0 outros) também se mostrou significativa, porém a 5% (t
statistic = 1.965052, p = 0.0517. Para todas as outras variáveis o teste não foi
significante. Desta forma, este resultado confirma a robustez do marcador 2D:4D e
sugere uma relação inversa entre a exposição ao hormônio testosterona e o
comportamento de excesso de confiança dos participantes do experimento, isto é,
quanto menor a razão 2D:4D, indicando uma maior exposição ao hormônio
testosterona, maior o comportamento de excesso de confiança dos indivíduos.

No sentido de quantificar o excesso de confiança dos alunos foi inserida uma


nova variável no modelo. Chamou-se de “Prev_real”. Esta variável é resultante da
diminuição da nota prevista pelo aluno, pela nota que ele realmente obteve. Assim,
pode-se medir também a intensidade do excesso de confiança dos alunos, pois quanto
maior este valor, maior o excesso de confiança. Realizou-se, assim, uma nova
regressão MQO colocando esta variável como dependente (2). Para tal, foi estimada a
seguinte equação via Mínimos Quadrados Ordinários.

Prev_real = α0 + β1X1 + β2X2 + β3X3 + β4X4 + β5X5 + β6X6 + β7X7+ β8X8 + μi (2)

onde : Prev_real é a nota prevista menos a nota real e representa o grau de


overconfidence do indivíduo; X1 = medida 2D:4D mão direita; X2 = variável dummy
para sexo, sendo 1 para os homens e 0 para as mulheres; X3 = variável dummy para o
estudo sendo 1 para quem estudou e 0 para quem não estudou; X 4 = idade; X5 =
peso; X6 = raça, sendo 1 para brancos e 0 demais (não brancos); X7 = variável dummy
para lateralidade, sendo 1 para destro e 0 para canhoto; X8 = altura e μi o termo de
erro.

Porém agora, em consonância com a literatura, realizamos as regressões com


o logaritmo das variáveis quantitativas. Desta forma fizemos transformação logarítmica
nas seguintes variáveis: Prev_real, razão 2D:4D mão direita, idade, peso e altura.
Como na variável “Prev_real” apresentou valores negativos, acrescentamos uma
constante de 10 pontos em todos os valores.

A tabela 3 abaixo apresenta os resultados da nova regressão MQO com a


variável dependente “Prev_real”.
Tabela 3 – Estimativas MQO. Variável dependente: LN_Prev-real.

Constante 2.406683 ***


(0.385807)
LN_2D:4D direita -0.68407 **
(0.324122)
Dummy - SEXO 0.058825
(0.046289)
Dummy - ESTUDO -0.01295
(0.036803)
LN_IDADE -0.04452
(0.068096)
LN_PESO -0.00287
(0.063336)
Dummy - RACA 0.054858 *
(0.028655)
Dummy - Destro/Canhoto 0.118077
(0.065289)
LN_ALTURA -0.13013
(0.394435)
N 130
L 50.50849
1
Desvio Padrão entre parênteses
2
*** Significância estatística a 1%
3
** Significância estatística a 5%
4
* Significância estatística a 10%

Novamente como o esperado, o sinal do parâmetro “2D:4D direita” foi negativo


e significativo a 5% (t statistic = -2.110542, p = 0.0369). A variável cor da pele
(Dummy, 1 branco, 0 outros) também demonstrou significativa a 10% (t statistic =
1.914457, p = 0.0579). Para todas as outras variáveis, o teste não foi significante.
Encontraram-se assim, os mesmos parâmetros significativos da regressão anterior,
confirmando o resultado obtido anteriormente. Desta feita como as variáveis foram
transformadas em logaritmos, pode-se inferir que cada decréscimo de 1% na razão
2D:4D, a diferença da nota prevista e a nota real aumenta em 3,24%, isto é aumenta o
overconfidence neste percentual.

4 DISCUSSÃO

Os resultados obtidos estão de acordo com Manning et al. (1998) e McIntyre


(2006), uma vez que, as mulheres apresentaram uma razão 2D:4D maior que dos
homens. A média para a mão direita as mulheres foi de 0.963, enquanto para a dos
homens foi de 0.946. Não houve mudança significativa no resultado para a mão
esquerda visto que para as mulheres foi de 0,964 e para os homens foi de 0,960. Para
testar se a diferença entre as medidas dos homens e das mulheres foram
estatísicamente sigificantes, realizou-se o teste de Mann-Whitney (U) e o teste t. O
teste de Mann-Whitney (U) apresentou uma diferença significativa, (p=0,00056) o teste
t também apresentou uma diferença significativa (p= 0,0193). Assim, comprovou-se
estatisticamente que a razão 2D:4D dos homens é menor do que a das mulheres,
confirmando uma relação de dimorfismo sexual entre os gêneros conforme Manning
JM (2002) e Dixson, A. F. (1998).
De acordo com a literatura, Apicella C, et al. (2008) Sapienza P, et al. (2009)
Garbarino E, et al. (2011) e Coates, J. et al. (2009), infere-se que os voluntários com
razão 2D:4D maior que 1 foram menos expostos à testosterona e aqueles com essa
razão menor que 1 foram mais expostos à testosterona, permitindo observar o efeito
que a exposição ao hormônio testosterona pode ocasionar no excesso de confiança.

Na média, os alunos com razão 2D:4D menor que 1 previram, que sua nota
média seria 7,45 e obtiveram 6.43 (teste t, T = -4.600729, p = 0.0000). Observamos
aqui um aumento na previsão da nota que havia sido de 7.34 para todos os alunos, e
também uma diferença na nota obtida, que antes havia sido 6.57. Desta maneira,
pode-se inferir que a maior exposição à testosterona medida pela razão 2D:4D
acentua o excesso de confiança dos indivíduos.

Analisando em relação ao gênero, nota-se que os homens com razão 2D:4D


menor que 1 previram, em média, que sua nota seria 7,66 e obtiveram 6.26 (teste t, T
= -4.939302, p = 0.0000). Já as mulheres com razão 2D:4D menor que 1 previram, em
média, que sua nota seria 7,16 e obtiveram 6.67 (teste t, T = -1.43132, p = 0.0156).
Dessa forma, confirmamos os resultados dos estudos de Apicella C, et al. (2008)
Sapienza P, et al. (2009) Garbarino E, et al. (2011), isto é, o efeito de uma maior
exposição à testosterona é mais acentuado para os homens.

Quando analisados, entretanto, o comportamento dos alunos com razão 2D:4D


maior que 1, isto é menos expostos à testosterona, foi observado que homens com
razão 2D:4D maior que 1 previram, em média, que sua nota seria 6,00 e obtiveram
6,46 (teste t, T = 1.031545, p = 0.3588) e as mulheres com razão 2D:4D maior que 1
previram, em média, que sua nota seria 7,31 e obtiveram 7,35 (teste t, T = 0.917918, p
= 0.8892). Portanto, infere-se que uma menor exposição ao hormônio testosterona
diminui o excesso de confiança dos indivíduos independente do gênero.

Os resultados apontam em linha com a literatura que o excesso de confiança


realmente está presente nos indivíduos independente do gênero Odean, T. (1998)
Barber, B., Terrance, O (2001), Tabak, et al. (2010) Gigerenzer, et al. (1991). Esse
trabalho, assim como o de Bengtsson et al. (2005) também evidenciou que os
homens, em geral, têm um excesso de confiança em um nível mais elevado que o das
mulheres.

Uma contribuição deste trabalho para a litertura é demonstrar que a exposição


à testosterona medida pela razão 2D:4D exerce influência no comportamento das
pessoas. Os indivíduos com razão 2D:4D menor que 1, isto é, mais expostos à
testosterona exibem comportamento de excesso de confiança, principalmente entre os
homens. Porém, isso não determinou um melhor desempenho destas pessoas no
resultado da prova. Este resultado está em linha com o resultado de Barber & Odean
(2001) que sugerem que trader com excesso de confiança tem um retorno mais baixo,
por sua maior exposição ao risco.

Notadamente demonstramos que os indivíduos, independente do sexo, com


razão 2D:4D maior que 1, isto é, com menor exposição à testosterona, não exibem
comportamento de excesso de confiança. O resultado deste experimento sugere que o
excesso de confiança é diretamente proporcional à exposição à testosterona, isto é,
quanto maior a exposição à testosterona, maior o excesso de confiança dos
indivíduos, principalmente entre os homens. Conclui-se então que a exposição à
testosterona medida pela razão 2D:4D é um preditor importante no comportamento de
excesso de confiança dos indivíduos.

Em um recente trabalho (Borges e Tabak 2015) demonstraram que a imagem é


um fator importante para o direcionamento de investimentos financeiros. Quanto maior
a exposição à testosterona, maior o perfil do investidor em investimentos mais
arriscados. O inverso também foi demonstrado, isto é, quanto menor a exposição, os
investidores preferem opções menos arriscadas. Assim este trabalho, apresenta uma
nova ferramenta ao setor financeiro que é de obter esta variável de uma forma mais
viável do que medir as mãos dos clientes. Para a abertura de contas, é praxe do
mercado fazer um questionário ao cliente proponente, no qual são incluídas variáveis
tais como, sexo, endereço, profissão, renda etc. Se neste questionário for incluídas
perguntas chaves para determinar se o investidor exibe algum traço de
overconfidence, pode-se inferir como proxy que ele foi mais exposto à testosterona, e
neste caso é um cliente que tende a arriscar mais em seus investimentos. Existem
estudos que apresentam perguntas que demonstram claramente se o indivíduo
apresenta traços de overconfidence ou não [Odean, T. (1998) Barber, B., Terrance, O
(2001), Tabak, et al. (2010) Gigerenzer, et al. (1991)].

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