Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURSO DE PEDAGOGIA
RELATOS DO APRENDIZADO:
FLORIANÓPOLIS
2021
ELISA MARIA MACHADO LIMA
RELATOS DO APRENDIZADO
FLORIANÓPOLIS
2021
Desterro, 10 de fevereiro de 2021.
Quero registrar que percebi que fiz meu primeiro relato projetando a
possibilidade do como que teria sido a minha experiência artística que planejei
para executar com as crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental.
Embora eu possa afirmar que a projeção também foi retrógrada, visto que eu
de fato já planejei e executei a tarefa de contar História por meio da Literatura
Infantil com intenção de promover senso ético e estético.
Hoje a atividade foi assíncrona. O texto que eu tive que ler foi da Bell
Hooks. Eu não a conhecia e me senti honrada em lê-la. Sabia que ela grafa o
próprio nome com letras minúsculas? Foi uma das muitas formas que ela
encontrou para contestar esse mundo tão sistematizado, tão engessado em
seus conceitos e preconceitos.
Bell Hooks, peço lhe perdão, mas, para mim, é impossível escrever seu
nome com letras minúsculas. Sabe por quê? Faz muito tempo, li, nem sei
onde, que pessoas que grafam o próprio nome com letras minúsculas são
pessoas que têm baixas estima. Aqui no meu país, o povo já tem tanta baixa
estima, então, escolho manter seu nome com letra maiúscula. Enfim, você nem
vai se ressentir por esta minha atitude, no entanto, eu vou me beneficiar
acreditando que, de alguma forma, estou colaborando para que as pessoas
saibam se valorizar.
A leitura foi muito instigante, fiquei admirada de vir em uma pessoa com
tanta força interior, tanta garra e capacidade de superação. O interessante é
que ela não foi uma criança acolhida, muito pelo contrário. Percebi que Hooks
teve uma infância muito desafiante. Fiquei me perguntando seu eu tivesse tido
pelo menos um pouquinho do poder que ela tem, quem sabe, talvez, minha
vida teria sido melhor. Tudo bem, já passou mesmo. Eu também fui criada na
Ditadura, quem não a viveu, desconhece a opressão que todos vivemos. Cresci
acreditando que ter ideias próprias é muito perigoso. Cresci acreditando que
calar é mais seguro do que falar. Mas, apesar disso, eu até que transgredia as
normas ao meu redor. No entanto, transgredia até onde eu sentia que ainda
seria amada.
Após, tudo isso que acabo de contar, me dei conta do capítulo que
escolhi. Sim, não foi por acaso, não mesmo. Foi o desespero de encontrar um
caminho para liberdade que me fez escolher esse capítulo. Casei tão nova,
casei-me quando eu fiz dezoito anos e, por isso, perdi o direito de ser quem eu
era. Hoje já sinto que resgatei a força interior que eu tinha. Com Bell Hooks vou
aprender a valorizar quem sou.
Posso concluir que Bell Hooks foi muito além das minhas expectativas.
Sim, pois a voz de Bell Hooks tem força política, tem determinação, tem visão
e, acima de tudo, tem coragem de olhar, perceber e denunciar a crueldade do
nosso Sistema político e social. Toda pessoa que é capaz de levantar uma
bandeira em prol de um grupo ou comunidade, esta será apedrejada, isolada,
descartada. Levantar uma bandeira requer muita determinação e consciência
de seu próprio valor. Nesse quesito, Bell Hooks é um assombro: fiquei
encantada de como ela é forte, determinada e capaz de transformar
experiências tão ruins em força e poder. Quisera eu tivesse uma gota da força
de superação que ela tem. Ainda não li o livro todo, mas, confesso, quero Bell
Hooks como livro de cabeceira. Outro detalhe, Bell Hooks deveria ser leitura
obrigatória para todos adolescentes. Assim o mundo teria maior capacidade de
superação.
A frase “Eu não sinto que eu vim, eu sinto que eu voltei.” Tem grande
significado para mim. Acredito nisso, acredito que ele voltou e voltou para
reescrever a História. Voltou para passar a limpo e remover as marcas que
carregamos. Acredito que nós não morremos, apenas mudamos de corpo,
mudamos, mas nem tanto assim, de estilo de vida. Assim como acredito que
cada um de nós está no exato lugar que deveríamos estar para criar uma
democracia. Uma democracia de fato, não esta, onde quem manda é quem
tem mais, quem manda é quem tem maior milícia. Isso não é democracia.
Hoje nós discutimos sobre o texto da Ana Maria Eyng. O tema que
debatemos foi sobre críticas agressivas, sobre violência em geral, trabalho em
rede e violência nas escolas. Isso porque atualmente nossos direitos não estão
sendo respeitados: “Direitos humanos como letra morta da lei”. Ou seja,
estamos vivenciando um período muito rude em nossa sociedade.
Apreciei quando a professora Simone citou Saramago, que diz que: “se
pode ver, veja e se pode reparar, repare.” Também orientou para que a escuta
seja colocada da melhor forma que puder, pois somos guardiões da história
humana. “Guardiões da história humana”, essa expressão encontra
ressonância em meu coração. Sinto que devemos nos dedicar e cumprir essa
missão de resguardar a infância, principalmente daqueles que são
considerados como pessoas de segunda classe.
Outro fato que me marcou foi quando a professora Roselete fala sobre o
posicionamento da autora Conceição Evaristo (escrevivência), que fala do
combinado de não morrer, de não se deixar abater pelo sistema que quer e
produz subordinação. Escrevivência é a escrita de si, narrar a si mesmo, então,
todos podem fazer a escrevivência e revelar pontos importantes em nossas
vidas. Agora sim, eu estou narrando a mim mesmo na primeira pessoa: EU. E
tenho uma certeza, a cada novo dia, mais e mais vou permitir que eu seja
quem de fato sou.
“Através da manipulação da câmera não se aprende apenas destreza técnica, mas novas
formas de produzir sentido.” Roselete Fagundes de Aviz de Souza
Outro detalhe importante foi o roteiro que a professora fez para resgatar
os temas das aulas anteriores e, assim, sistematizar a fala. Esse retorno aos
conteúdos foi muito positivo, pois assim fixamos nosso aprendizado. Apreciei
muito quando ela trouxe a alegria para fundamentar os autores que estudamos.
Quero deixar aqui registrado, pois assim, quando eu sentir que estou sem força
ou coragem, posso reler e incorporar essa alegria. Desta forma a alegria do
Paulo Freire é “Assim como a esperança a alegria está na ação.”, de Espinosa:
“A Alegria é um afeto, é o aumento da potência de agir.” Do Oswaldo de
Andrade: “A alegria é a prova dos nove.” E para Lydia Hortélio: “Alegria é
resistência. É preciso alegria para ensinar as crianças”.
Hoje li meu diário, fiquei um pouco nervosa, mas, deu tudo certo. A
Andressa também leu a atividade de intervenção artística dela. A professora
ressaltou o valor de entregar atividades para divertir e apropriar-se da arte.
O final foi reservado para a devolutiva do Diário. Agora, depois que tudo
passou, fiquei com gosto amargo do remédio que a professora utilizou para
dizer que eu não escrevo em forma de diário. Vim até aqui ler o que eu já
escrevi. Entendo o porquê ela disse isso. Faz parte do meu espírito, aprecio
narrar fatos concretos das minhas leituras. Ou seja, sempre quero fazer o que
eu quero fazer. Ou seria distração e interpretar mal os enunciados? Acho que
não, sou bem perspicaz. É transgressão mesmo, melhor, excesso de invenção.
Hoje, assistir ao filme, foi legal, muito legal, fiquei inspirada. Eu fiquei
falante, queria contar sobre o protagonismo do “Robertô”. Desandei a falar
com meus filhos, falamos do espírito caridoso do “Robertô”, pois ele ajudou
meninos em situação semelhante à dele. Ele fez uma corrente do bem. Fez
cada menino, que foi ajudado por ele, a se comprometer em ajudar outros vinte
meninos. Quando eu soube disso, eu fiquei tão feliz, tão crente de que a vida
pode e deve ser melhor para todos nós.
O final da aula foi muito tenso para mim. Agora vou te contar o que
houve. Foi somente no final da aula. Antes eu estava bem participativa, estava
animada com a aula.
Hoje a aula é assíncrona. Tem um texto da Drª Roberta Souza para ler. O
tema é sobre Educação Infantil, muito interessante. Já estou lendo e
apreciando muito como a autora expôs suas ideias. Lidar com crianças requer
muita formação e o texto entregou conhecimentos importantes. Apreciei muito,
principalmente por ter entrado em contato com a metodologia de uma
pedagoga americana, Vivian Paley, que realizou um trabalho valioso com
crianças. Fiquei bem inspirada, vou usar o método dela para filmar o próximo
episódio da Dragonesa Ryna.
No entanto, eu li uma reportagem e a achei tão triste. Tanto quanto o caso
do Sandro, do sequestro do ônibus. Enfim, associei a reportagem ao texto que
li. Então, achei pertinente copiar o link da mensagem e a postei no grupo da
Pedagogia no whats App. Escrevi assim:
A aula foi tão legal. Novamente eu estava animada. E nem tinha como
não estar animada. Minhas colegas e meus colegas são tão inteligentes,
aprecio muito como todos se entregam e se dedicam. Adoro ouvir a leitura do
diário, sempre há tanta sensibilidade. Fico feliz, pois sei que serão ótimos
professores.
Esse é o meu último registro aqui, no entanto, vou fazer um vídeo sobre
a minha experiência com o diário de aprendizagem. Ainda não decidi como
farei, estou buscando ideias. Quero fazer algo bem criativo. O exemplo que foi
nos dado foi produzido por uma aluna do semestre passado. Gostei muito,
adorei as imagens e a narrativa.
FIM
Referência:
Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 1059-1083, out. 2007.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2028100.pdf hooks, bell.
Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução de
Marcello Brandão Cipolla. 2ª. ed. São Paulo: editora WMF Martins Fontes,
2017. (DESPONÍVEL MOODLE DA DISCIPLINA)