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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE PEDAGOGIA

ELISA MARIA MACHADO LIMA

RELATOS DO APRENDIZADO:

Educação e Infância III

FLORIANÓPOLIS

2021
ELISA MARIA MACHADO LIMA

RELATOS DO APRENDIZADO

Educação e Infância III

Trabalho apresentado no curso de graduação de Pedagogia

Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientadora: Drª Roselete Fagundes de Aviz Souza

FLORIANÓPOLIS

2021
Desterro, 10 de fevereiro de 2021.

Foi proposto a criação, de livre escolha, de uma interação artística para


realizar com as crianças. Eu escolhi interagir por meio de conto de História.
Valorizo o estímulo da imaginação como caminho para despertar o sentido
estético da vida. A faixa etária das crianças é de seis a sete anos da turma do
primeiro ano. O local é uma Escola pública e se chama Escola de Escritores
Mágicos e Criativos. E está localizada no meu bairro.

Então, como a pandemia surgiu e provocou mudanças na metodologia


de ensino, visto que, atualmente, o ensino acontece tanto pela modalidade
remota quanto a presencial. Devido a esse fato, fiz meu plano de aula para
atividade remota e também presencial. Assim sendo, a apresentação remota é
por meio de um vídeo gravado por mim, que contará a história e que exibirei
durante o encontro virtual. E a apresentação presencial é realizada por meio
do livro.

Estou registrando essa minha experiência para poder consultar os


desafios e quais foram as estratégias que eu adotei para solucionar cada
momento da aula. Valorizo registrar os acontecimentos e eventos que norteia
o cotidiano da escola. Então, aconteceu assim, enquanto eu caminhava em
direção à sala do primeiro ano, eu estava muito ansiosa, temia como seria
recebida pelas crianças. Respirei fundo e fiz conexão com a minha criança
interior buscando me acalmar.

Quando cheguei à sala do primeiro ano, percebi que as crianças


estavam tão ansiosas quanto eu. Disse um ‘olá turma’ de forma animada e
festiva. Fiz minha apresentação e pedi para que cada criança falassem seu
nome, como gostam de ser chamada e o que mais gostam de fazer. A maioria
disse que gostam de brincar, aproveitei essa deixa e disse que eu iria brincar
de contar histórias. Todos gritaram de alegria.

Peguei o livro e comecei a fazer as apresentações do autor, ilustradora,


editora, capa do livro, enfim, apresentei o livro. Fui lendo a história usando
entonações diferentes para cada personagem. A cada parte lida, eu mostrava a
imagem correspondente. Finalizei mostrando e falando partes aleatórias e
agradecendo por terem me escutado. Amei essa experiência, penso que as
crianças também.

Quero registrar que percebi que fiz meu primeiro relato projetando a
possibilidade do como que teria sido a minha experiência artística que planejei
para executar com as crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental.
Embora eu possa afirmar que a projeção também foi retrógrada, visto que eu
de fato já planejei e executei a tarefa de contar História por meio da Literatura
Infantil com intenção de promover senso ético e estético.

Por isso ouso afirmar que contar histórias favorece a imaginação e


permite exercitar a criatividade das crianças. Para isso, sempre pergunto quem
quer recontar a histórias com as próprias palavras. Geralmente todos querem,
assim, cada um narra suas lembranças da história recém-contada. Portanto,
essa atividade desenvolve a imaginação e amplia a capacidade de expressão e
comunicação.

Desterro, 11 de fevereiro de 2021.

O encontro síncrono com a disciplina de Educação e Infância III foi muito


desafiante para mim. O meu computador é obsoleto e, por ser assim, não
conseguiu funcionar corretamente. Quase pedi para fecharem as câmeras,
assim o meu computador funcionaria melhor. Mas nem foi preciso, porque, e
isso foi e é muito importante, há uma pessoa, a Viviane, que está na classe
para auxiliar nessas questões tecnológicas. E, adivinha! Ela sugeriu para que
as pessoas não abram as câmeras. Foi um alívio, pois agora terei mais
conforto para participar das aulas.

As ideias expostas e sugeridas pela professora foram bem


interessantes. Pena que não ouvi várias partes. O som cortava para mim. No
entanto, soube que devo fazer meus registros do que aprendi durante as aulas
e com as leituras propostas. Adorei essa forma de aprendizado, acredito que
assim eu vou ter maior domínio sobre tudo que for estudado. Sempre penso
que quando eu sou capaz de redizer o que aprendi, isso, para mim, significa
que de fato aprendi.

Também apreciei muito a proposta de aprendizado por meio da


Literatura. O livro é O carteiro de Pablo Neruda de Antonio Skármeta. Assisti ao
filme: O carteiro e o poeta. Faz anos, mas tenho boas recordações. Assim que
vi a sugestão do livro no cronograma, iniciei a leitura. Sim, o filme é de fato
inspirado nessa obra. Vou ler até o fim, quero descobrir a mensagem que há e
integrar em minha formação.

Ler poemas, livros, recados, notícias, tudo pode ser transformado em


uma atividade artística quando desejamos alimentar o senso estético. Assim
sendo, podemos colocar a licença poética e trabalhar as rimas, os sons, a
alteridade. Outra coisa que me trouxe inspiração e chamou a minha atenção foi
a sugestão do livro para o próximo encontro. Livro de Bell Hooks, Ensinando a
transgredir: a educação como prática da liberdade.

Já iniciei a leitura e gostei muito, muito mesmo. O que mais me inspirou


foi o fato da professora ter indicado um livro tão propício para controvérsias. A
Educação é realizada por pessoas e pessoas nem sempre conseguem cumprir
com as demandas do mundo escolar. Nossos dirigentes ainda não oferecem o
melhor para aqueles que os elegeram. Seria bom eu me calar agora, mas não
posso, quando a boca cala, o corpo sofre. Portanto, afirmo que ‘O Sistema de
Educação bancária’ impede o pensamento crítico. Pelo visto, eu já sou
transgressora!

Atualmente as questões políticas estão me afetando muito. Tenho lá


minhas desconfianças, pois estou estudando como as manobras são
realizadas para favorecer quem está no poder. Quanto mais o povo é
penalizado, apesar disso ou por esse motivo, mas ficam sem saber fazer valer
o poder do voto. Esse fato deixou cicatrizes em meu coração. Claro que
converso comigo mesmo, encontro desculpas e soluções para a situação atual.
No entanto, devo reconhecer: isso me proporcionou descrença e uma posição
defensiva. Vou superar esse desafio? Só o tempo sabe a resposta!
Pelo visto, eu sou mesmo transgressora!

Desterro, 18 de fevereiro de 2021.

Hoje a atividade foi assíncrona. O texto que eu tive que ler foi da Bell
Hooks. Eu não a conhecia e me senti honrada em lê-la. Sabia que ela grafa o
próprio nome com letras minúsculas? Foi uma das muitas formas que ela
encontrou para contestar esse mundo tão sistematizado, tão engessado em
seus conceitos e preconceitos.

Bell Hooks, peço lhe perdão, mas, para mim, é impossível escrever seu
nome com letras minúsculas. Sabe por quê? Faz muito tempo, li, nem sei
onde, que pessoas que grafam o próprio nome com letras minúsculas são
pessoas que têm baixas estima. Aqui no meu país, o povo já tem tanta baixa
estima, então, escolho manter seu nome com letra maiúscula. Enfim, você nem
vai se ressentir por esta minha atitude, no entanto, eu vou me beneficiar
acreditando que, de alguma forma, estou colaborando para que as pessoas
saibam se valorizar.

A proposta desta atividade é de ler apenas um capítulo e eu tive


liberdade de escolha. Escolhi a capítulo que fala sobre “A Teoria como Prática
Libertadora” porque fala de liberdade e de Educação. Bell é perspicaz e vai
fundo na ferida, mostra como todos NÓS somos catequizados para seguir uma
determinação que nem mesmo nasceu de nossos corações. Mostra a teoria
como instrumento de manipulação.

A leitura foi muito instigante, fiquei admirada de vir em uma pessoa com
tanta força interior, tanta garra e capacidade de superação. O interessante é
que ela não foi uma criança acolhida, muito pelo contrário. Percebi que Hooks
teve uma infância muito desafiante. Fiquei me perguntando seu eu tivesse tido
pelo menos um pouquinho do poder que ela tem, quem sabe, talvez, minha
vida teria sido melhor. Tudo bem, já passou mesmo. Eu também fui criada na
Ditadura, quem não a viveu, desconhece a opressão que todos vivemos. Cresci
acreditando que ter ideias próprias é muito perigoso. Cresci acreditando que
calar é mais seguro do que falar. Mas, apesar disso, eu até que transgredia as
normas ao meu redor. No entanto, transgredia até onde eu sentia que ainda
seria amada.

Após, tudo isso que acabo de contar, me dei conta do capítulo que
escolhi. Sim, não foi por acaso, não mesmo. Foi o desespero de encontrar um
caminho para liberdade que me fez escolher esse capítulo. Casei tão nova,
casei-me quando eu fiz dezoito anos e, por isso, perdi o direito de ser quem eu
era. Hoje já sinto que resgatei a força interior que eu tinha. Com Bell Hooks vou
aprender a valorizar quem sou.

Falar de política é essencial quando se debate sobre Bell Hooks. Por


isso cito aqui a minha descoberta sobre o mito Getúlio Vargas, que foi um
engodo. Essa quebra deste paradigma político não aconteceu nessa disciplina,
mas, de alguma forma estão interligadas. Faz parte da construção da
Pedagoga.

Posso concluir que Bell Hooks foi muito além das minhas expectativas.
Sim, pois a voz de Bell Hooks tem força política, tem determinação, tem visão
e, acima de tudo, tem coragem de olhar, perceber e denunciar a crueldade do
nosso Sistema político e social. Toda pessoa que é capaz de levantar uma
bandeira em prol de um grupo ou comunidade, esta será apedrejada, isolada,
descartada. Levantar uma bandeira requer muita determinação e consciência
de seu próprio valor. Nesse quesito, Bell Hooks é um assombro: fiquei
encantada de como ela é forte, determinada e capaz de transformar
experiências tão ruins em força e poder. Quisera eu tivesse uma gota da força
de superação que ela tem. Ainda não li o livro todo, mas, confesso, quero Bell
Hooks como livro de cabeceira. Outro detalhe, Bell Hooks deveria ser leitura
obrigatória para todos adolescentes. Assim o mundo teria maior capacidade de
superação.

Nunca precisamos tanto de força de superação como nesse momento


que estamos vivendo. Pandemia, desgoverno, descaso com o dom da vida,
enfim, estamos experimentando um verdadeiro apocalipse. Por isso que
acredito que Bell Hooks tem o caminho, mais do que isso, tem o poder de
superação.
Desterro, 25 de fevereiro de 2021

Não sei o que aconteceu, penso que eu tenha me perdido no tempo.


Desde que fiquei doente, abril de 2016, eu perdi um pouco a noção das horas,
dos dias, das semanas e dos meses. Até dos anos, enfim, quando não temos
saúde o desafio fica muito intenso. São dores que não passam. Nem com
medicamentos fortes, não passa, mas faz dormir. E nunca é um sono
reparador. É um sono artificial, que nos nocauteia por longas e longas horas.
De tal forma que há dias que o medicamento é muito necessário no decorrer do
dia e não da noite. Por isso, claro, não é nada circadiano, pois quem comanda
o ciclo vital é a dor.

Vivendo anestesiada por medicamentos, tudo parece diferente, tudo fica


meio vago mesmo. Assim sendo, eu faço pequenas e grandes confusões. Por
exemplo, houve uma quarta-feira, que eu tinha certeza que era quinta-feira, eu
quis porque quis entrar na sala de aula. Fiquei arrasada, pois a professora não
me aceitou, não permitiu eu entrar na aula. Fiquei muito triste mesmo. Então,
resolvi pedir ajuda aos colegas. Eles tentaram me ajudar, mas, eu não
consegui entrar. Quando anoiteceu, descobri que minha aula não era na
quarta-feira. Minha aula é na quinta-feira. Ri de mim mesma, ri muito.

Pensa que a confusão terminou aí? Terminou nada. A professora


estranhou eu querer entrar em outra aula e foi conversar na coordenação sobre
a minha tentativa de assistir aulas indevidas. Recebi um e-mail falando do
ocorrido. Naquele momento eu já sabia que foi uma questão logística, então,
respondi agradecendo e pedindo desculpas. Não falei o que de fato ocorreu,
enfim, tive receios de me rotularem ainda mais. Hoje eu teria revelado o motivo.
Primeiro porque deve ser inevitável me rotularem. Sou tão diferente que no fim
acabam precisando mesmo de novas definições para pendurar no meu
pescoço. Segundo, estou aprendendo aceitar esses fatos que vivencio.

Acredita que nessa semana eu tinha certeza que segunda-feira era


domingo? Para piorar, sábado eu também tinha certeza que era domingo. E
hoje é quinta-feira, mas, por causas desses transtornos medicamentosos, perdi
a aula; Eu simplesmente não sabia que hoje é quinta-feira. Assim, perdi a aula
e o debate. Fiquei bem triste, corri para os colegas e soube que foi bem legal,
que conversaram sobre os textos. Foram atenciosos comigo e deram uma
pincelada de como a aula transcorreu.

Que coisa, né?

Desterro, 05 de março de 2021.

Assistimos AmarELO – É tudo para ontem: documentário sobre o


rapper, cantor e compositor brasileiro: Emicida, Leandro Roque de Oliveira. Eu
não o conhecia, antes de assistir perguntei à minha filha sobre ele. Ela o
conhece e garantiu que eu ia amar o documentário. Além disso, me emprestou
a Netflix dela para eu assistir. Eu estava com dificuldades para acessar o
documentário.

O que eu mais gostei deste documentário foi o fato de contar a saga


daqueles que contribuíram para prosperidade do país, no entanto, não são
reconhecidos e valorizados. Assim, Amarelo – É tudo para ontem expõe a
grandeza do povo que escreveu a História do Brasil.

O filme revela a força das mãos que construíram o nosso país: os


escravos. E denuncia o quanto essas mãos que construíram o país são
limitadas em suas liberdades. O quanto essas mãos merecem reconhecimento.
Muito, além disso, merecem ocupar os espaços que edificaram, merecem fazer
parte de tudo que deixaram de legado para a nossa terra. Cada dia que passa,
mais eu fico triste com o sistema social do Brasil. Tudo é tão injusto, tão sem
sentido.

A frase “Eu não sinto que eu vim, eu sinto que eu voltei.” Tem grande
significado para mim. Acredito nisso, acredito que ele voltou e voltou para
reescrever a História. Voltou para passar a limpo e remover as marcas que
carregamos. Acredito que nós não morremos, apenas mudamos de corpo,
mudamos, mas nem tanto assim, de estilo de vida. Assim como acredito que
cada um de nós está no exato lugar que deveríamos estar para criar uma
democracia. Uma democracia de fato, não esta, onde quem manda é quem
tem mais, quem manda é quem tem maior milícia. Isso não é democracia.

Enfim, posso afirmar que AmarElo produz paixão, vigor e determinação


para seguir o que se deseja e não permitir que nada e ninguém diminuam
quem a gente é e como a gente se sente: liberdade de ser quem é. Isso implica
em valorização e respeito da cultura e das nossas origens, que promove a
autoestima e a certeza de que juntos podemos muito mais.

A autoestima é essencial para que um povo seja dono de si mesmo. E,


por meio desta produção, é possível favorecer a estruturação de um novo
tempo, um tempo onde a desigualdade não participa. Um tempo onde é
possível sonhar e realizar. E eu ouso sonhar, ouço enfrentar de peito aberto
tudo e todos que barram meu caminho. Quando eu escutei no documentário:
“Devolver a alma de cada um dos meus irmãos que um dia sentiu que não
tinha uma.” Eu senti que posso liberar quem sou e seguir o resto da minha vida
com determinação e coragem.

Termino meu relato sobre AmarElo gravando em meu coração a frase:


“Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro!” Não morro mesmo,
escolhi sobreviver, portanto, honro com a minha decisão.

Desterro, 11 de março de 2021.

Hoje nós discutimos sobre o texto da Ana Maria Eyng. O tema que
debatemos foi sobre críticas agressivas, sobre violência em geral, trabalho em
rede e violência nas escolas. Isso porque atualmente nossos direitos não estão
sendo respeitados: “Direitos humanos como letra morta da lei”. Ou seja,
estamos vivenciando um período muito rude em nossa sociedade.

O pior de tudo é que a violência não é só física; a violência abrange


todos os aspectos da condição humana. Por isso, mas do que nunca, o
professor tem que estar preparado para receber as crianças que são rejeitadas
pela sociedade e que estão na escola como pessoas de segunda classe.
Percebo que estamos passando por uma fase muito nebulosa. Infelizmente,
fico bem triste, mas, enfim, escolho pensar em soluções. A aula de hoje revela
o lado obscuro do nosso tempo, mas, por outro lado, sinto que podemos fazer
a diferença.

Então, nós discutimos muito sobre como as pessoas estão agindo de


forma egoísta. São essas atitudes que provoca tanta desigualdade e produz
cidadãos de segunda classe. A professora Simone Vieira, que foi a nossa
convidada da aula de hoje, exemplificou muito bem essa condição de pessoas
de segunda classe quando recordou o caso do menino Miguel que morreu após
queda do prédio da patroa de sua mãe. Fiquei emocionada, pois é muito triste
e desafiante enfrentar essas situações de rejeição social.

Apreciei quando a professora Simone citou Saramago, que diz que: “se
pode ver, veja e se pode reparar, repare.” Também orientou para que a escuta
seja colocada da melhor forma que puder, pois somos guardiões da história
humana. “Guardiões da história humana”, essa expressão encontra
ressonância em meu coração. Sinto que devemos nos dedicar e cumprir essa
missão de resguardar a infância, principalmente daqueles que são
considerados como pessoas de segunda classe.

Enquanto a professora Simone Vieira falava, ela tirava da sua história


pessoal o verbo reparar, que foi aprendido por ela pela voz de sua avó. E hoje
ela entende que reparar é colocar atenção e intenção para acolher a
criança e promover atitudes afirmativas. Fala da importância de produzir
estima e valorização das crianças que são tidas como crianças de segunda
classe. Achei tão sábio por parte da avó dela, que soube entregar valores.
Valores esses que provocam mudanças, que até hoje provocam
transformações. E hoje nós estamos entrando em contato com essa certeza de
que podemos sim contribuir para que a vida tenha mais paz.

A mensagem, para mim, fica clara: “Seja capaz de relacionar as


condições que a escola oferta para crianças, principalmente para as crianças
que são rotuladas e consideradas como ‘problemáticas’. Sei o quanto o
exercício da docência requer responsabilidade e capacidade de respeitar o
outro.” Respeito não é silenciar o aluno e sim, ser capaz de escutar o que ele
tem para dizer ou, melhor, temos que estar preparados para atender o aluno.
A infância precisa ser atendida nas suas necessidades físicas, emocionais e
culturais.

Outro fato que me marcou foi quando a professora Roselete fala sobre o
posicionamento da autora Conceição Evaristo (escrevivência), que fala do
combinado de não morrer, de não se deixar abater pelo sistema que quer e
produz subordinação. Escrevivência é a escrita de si, narrar a si mesmo, então,
todos podem fazer a escrevivência e revelar pontos importantes em nossas
vidas. Agora sim, eu estou narrando a mim mesmo na primeira pessoa: EU. E
tenho uma certeza, a cada novo dia, mais e mais vou permitir que eu seja
quem de fato sou.

Outro acontecimento importante deste encontro foi quando a professora


Simone Vieira recomenda perguntar o que a criança pretendia na prática de um
ato que é considerado vandalismo, pois, muitas vezes, há uma dor interna que
a consome e é essa dor que leva ao vandalismo. Vou carregar esse alerta em
meu coração: “Praticar a escuta ativa pode trazer resultados significativos na
questão comportamental.” Porque a criança quer e precisa expressar dores
que a consome. O vandalismo sempre é contra as pessoas e não contra os
objetos, que provoca danos ao patrimônio.

A professora Simone Vieira afirma que o conhecimento não deve ser


produzido de qualquer jeito e sim com paixão. Concordo plenamente e busco
agir sempre com brilho nos olhos, sempre presente em cada momento
experimentado como docente. Nesse exercício, acredito que planejar é
essencial, mas, ser capaz de atender a demanda do momento é fantástico.
Pois, quando há interesses de aprendizados diferentes daquilo que se foi
programado, é lucido seguir o que o coração pergunta e deseja saber. Logo,
sair do programado e integrar o interesse é fundamental. Aprender requer
flexibilidade, requer capacidade de se reinventar a cada momento.

Olhar mais devagar, pensar devagar e demorar-se nos detalhes, esse


será o tema do próximo encontro. Gosto dessa forma de aborda a Educação,
pois, nós perdemos muito por não estar de fato presente. Quando estamos
apressados, estamos vivenciando ansiedade. No entanto, quando a gente se
propõe deter atenção, olhar com calma, solvendo cada detalhe, nesses
momentos, tudo ganha mais sentido, mais significados.

Deste encontro estou levando muitas dicas de leitura e aprofundamento,


por exemplo, ler e conhecer Espinoza, Miguel Arroyo, entre tantos outros que
enriquecem nosso espírito e valoriza e provoca nossos conhecimentos. Visto
que conhecimento é diferente de informação, logo, nossos saberes necessitam
ser estruturados. Estou motivada em pesquisar e escrever sobre o filósofo
Baruch Espinoza.

Outro ponto importante é a questão da medicação das crianças como


forma de controle. Quero aprofundar mais esse tópico que foi levantado
durante o encontro. A professora Roselete falou algo sobre o Fórum sobre a
medicação das crianças. Tenho grande preocupação com os diagnósticos de
déficit de atenção que estão acontecendo com as crianças atualmente. Uma
questão que merece ser olhada mais de perto, pois, quem garante que há
mesmo tanto déficit de ATENÇÃO? O próximo texto traz o tema sobre a
capacidade de olhar devagar. Tenho certeza que este texto vai me inspirar. E
proporcionará maior clareza sobre o excesso de déficit de atenção. Sempre me
pergunto se esse déficit de atenção não seria na verdade excesso de
informação. (?)

Desterro, 18 de março de 2021.

“Através da manipulação da câmera não se aprende apenas destreza técnica, mas novas
formas de produzir sentido.” Roselete Fagundes de Aviz de Souza

O texto da professora Roselete traz a visão desenvolvida por meio da


câmera. As crianças têm a oportunidade de criar um filme com os olhares
delas. Por isso, elas ficam livres para escolher o que e como registrar por meio
da câmera. Todas trabalham com autonomia. São criativas, determinadas e
decididas.
Uma parte que gostei muito foi como a professora lidou com uma aluna
que tinha liderança e regalias diante das outras. No entanto, com cordialidade e
firmeza, a professora foi capaz de traçar limites adequados.

A pesquisa foi bem elaborada e trouxe resultados significativos para as


crianças e para a escola. As crianças construíram, juntas, um documentário
sobre a escola delas. Assim, elas puderam expressar seus sentimentos, suas
visões de mundo e despertaram o olhar crítico e estético. Fiquei muito
inspirada e aproveitei muitas dicas para aplicar nos vídeos que venho
realizando desde pandemia.

A referência teórica que mais me chamou atenção foi a da professora


Mônica Fantin. Eu já tive aulas com ela e sei que há dicas assertivas no livro
dela. Há outros autores importantes na referência, mas, quero ler o livro da
professora Fantin.

Enfim, os múltiplos olhares para as práticas de linguagem no espaço


tempo da sala de aula são práticas valiosas. Portanto, por meio dessa leitura,
ampliei as possibilidades para ofertar para as crianças formas diferentes de
narrar e observar o próprio mundo. Quando a oralidade é abraçada por outras
mídias, a história fica registrada.

Percebo muita força e poesia na expressão “Guardiões da história


humana”. Desejo que eu seja sempre capaz de guardar e zelar pela história de
cada pessoa que passar por mim.

Desterro, 25 de março de 2021.

Hoje o dia foi reservado para ASSEMBLEIA ESTUDANTIL.


Sinceramente, eu preferia que fosse aula. Não gosto dessas assembleias.
Sinto que são tão repetitivas. Também sinto que mais se fala e pouco se age.
Decidi ler mais os textos, pois assim eu aproveito melhor as ideias e as
informações que cada texto entrega.
No fim, fui lá conferir o que estava rolando na assembleia, cheguei
quase no final. Falavam sobre a necessidade de vacinar os professores. Foi
discutida a necessidade dos professores serem os primeiros a receberem
vacina, também havia a conversa sobre o valor do toque que as crianças
precisam. São falas importantes, claro que são. Inclusive concordo com a
premissa. No entanto, acho que ficam muito tempo falando a mesma coisa.
Sim, eu sei, há pessoas que precisam ouvir várias vezes para compreender o
valor de cada argumento. Isso exige tempo e paciência. E eu não tenho tempo
e nem paciência para assistir assembleias. Prefiro agir. Prefiro ser atuante no
meu meio.

Desterro, 01 de abril de 2021.

Cada aula um discente lê sobre a primeira atividade dessa disciplina.


Hoje foi o dia da Camila, que relatou a atividade artística que ela programou
para o seu primeiro dia de aula com as crianças. A forma como ela explicou
como e porque assim o faria, foi muito encorajador, pois, por meio da sua
apresentação, revelou sua dedicação. Fiquei tão emocionada com as palavras
da professora para a Camila. Foram palavras que enalteceram a arte de
lecionar para crianças. Além disso, a professora estava tão emocionada, de tal
forma, que, acredito, todos se emocionaram também.

Quando a aluna Ana Ruth leu o diário dela, eu fiquei impressionada


como as palavras dela coincidiram com as minhas. Houve partes que foram
muito íntimos da experiência dela, no entanto, ficou claro de como temos
muitos interesses em comum. Essa constatação que eu fiz foi muito importante
para mim, pois assim eu me senti muito integrada ao curso de Pedagogia e
com os meus colegas. Ana Ruth entregou muita preciosidade no seu relato, ela
se colocou no texto. Ela é uma estudante intensa e seu exemplo contagia todos
nós.

Outro detalhe importante foi o roteiro que a professora fez para resgatar
os temas das aulas anteriores e, assim, sistematizar a fala. Esse retorno aos
conteúdos foi muito positivo, pois assim fixamos nosso aprendizado. Apreciei
muito quando ela trouxe a alegria para fundamentar os autores que estudamos.
Quero deixar aqui registrado, pois assim, quando eu sentir que estou sem força
ou coragem, posso reler e incorporar essa alegria. Desta forma a alegria do
Paulo Freire é “Assim como a esperança a alegria está na ação.”, de Espinosa:
“A Alegria é um afeto, é o aumento da potência de agir.” Do Oswaldo de
Andrade: “A alegria é a prova dos nove.” E para Lydia Hortélio: “Alegria é
resistência. É preciso alegria para ensinar as crianças”.

Quando a professora falou sobre a soberania do docente na sala de aula


eu me senti tão encorajada, digo isso porque já lecionei e agia desta forma, ou
seja, dona e senhora da sala de aula. Também recordei que fui transferida por
agir assim. Tudo bem, pelo menos estou agindo.

Desterro, 08 de abril de 2021.

Hoje li meu diário, fiquei um pouco nervosa, mas, deu tudo certo. A
Andressa também leu a atividade de intervenção artística dela. A professora
ressaltou o valor de entregar atividades para divertir e apropriar-se da arte.

O exercício da intervenção artística foi programado com o intuito de


entregar divertimento e permitir que a criança se aproprie de atividades
artísticas. Muitos colegas quiseram compreender melhor como de fato é para
produzir essa atividade. Eu, por minha vez, escolhi levar arte por meio de
contação de história. Não penso em alterar nada, pois sei o quanto é valioso
despertar a imaginação das crianças. Lê para as crianças também desperta o
interesse pela escrita e leitura, portanto, são caminhos que proporcionam tanto
imaginação quanto ferramentas para criar.

Eu admiro muito a professora Gilka Girardello porque ela sabe como


contar uma história. Ela consegue embarcar todos na sua nave especial e
espacial. Por meio das práticas dela e de tantos outros mestres, percebo e
aplico, melhor, estou desenvolvendo a capacidade de contar histórias. Por isso
que vou manter minha atividade de intervenção artística como fiz, ou seja,
desenvolver o senso artístico e estético por meio da Literatura..

A aula de hoje foi muito produtiva. Debatemos o artigo da professora


Roselete. Sabia que ela o escreveu como estudante? Então, fiquei encantada,
pois é tão bem redigido. Teve colegas que confessaram que foi o texto que
mais gostaram. Foi tão interessante saber que muitos da turma fizeram o
primeiro semestre com ela. Contaram que ela agiu assertivamente com eles.
Fiquei contente por saber disso assim como também apreciei saber como ela
produziu o artigo: Mais devagar, você não está olhando: o audiovisual como
uma experiência de escuta.

O final foi reservado para a devolutiva do Diário. Agora, depois que tudo
passou, fiquei com gosto amargo do remédio que a professora utilizou para
dizer que eu não escrevo em forma de diário. Vim até aqui ler o que eu já
escrevi. Entendo o porquê ela disse isso. Faz parte do meu espírito, aprecio
narrar fatos concretos das minhas leituras. Ou seja, sempre quero fazer o que
eu quero fazer. Ou seria distração e interpretar mal os enunciados? Acho que
não, sou bem perspicaz. É transgressão mesmo, melhor, excesso de invenção.

Esse meu espírito transgressor passou tantos anos oprimido, agora,


depois que quase perdi minha vida, é natural que eu queira fazer o que
acredito que devo realizar. Por outro lado, achei libertador pode falar sobre a
minha vida e as minhas experiências. Afinal, já estou há tantos anos nessa
Terra, claro que tenho muito para contar. Já fiz tanta coisa, trabalhei tanto, mas
tanto, que quase me matei. Agora sou uma sobrevivente e uma sobrevivente
autorizada a fazer o meu melhor por mim mesmo. Apesar do gosto amargo do
remédio, sou muito grata, porque agora estou escrevendo como eu escrevia
nas aulas de Artes e Educação. Sabe o que mais? Estou muito realizada
escrevendo mais sobre os meus sentimentos. Isso é libertador. E eu amo a
liberdade.
Desterro, 15 de abril de 2021.

O filme “O contador de Histórias” é velho conhecido meu. Eu o assisti


junto com os meus filhos, no ano que foi lançado. Depois deste filme, eu fiquei
fã do “Robertô”. Passei a seguir a trajetória dele, eu queria saber simplesmente
tudo sobre ele. Por isso foi uma alegria saber que a professora escolheu esse
filme. Achei muito pertinente a escolha. Todos os pedagogos deveriam
conhecer a história do “Robertô”.

Hoje, assistir ao filme, foi legal, muito legal, fiquei inspirada. Eu fiquei
falante, queria contar sobre o protagonismo do “Robertô”. Desandei a falar
com meus filhos, falamos do espírito caridoso do “Robertô”, pois ele ajudou
meninos em situação semelhante à dele. Ele fez uma corrente do bem. Fez
cada menino, que foi ajudado por ele, a se comprometer em ajudar outros vinte
meninos. Quando eu soube disso, eu fiquei tão feliz, tão crente de que a vida
pode e deve ser melhor para todos nós.

No entanto, desta vez, após assistir ao filme, lembrei que no ano de


2000, o sequestrador Sandro Barbosa do Nascimento foi morto e a professora
Geiza Gonçalves, que ficou como refém, também foi morta. Relembrei de
outros casos semelhantes ocorridos no estado. Essas recordações me fez
perceber que o tempo passa e as injustiças permanecem.

Desterro, 22 de abril de 2021.

O final da aula foi muito tenso para mim. Agora vou te contar o que
houve. Foi somente no final da aula. Antes eu estava bem participativa, estava
animada com a aula.

Foi assim, na penúltima aula, a professora pegou trecho do meu dever e


postou junto com outros três, sem citar nomes, mas postou para explicar.
Como fazer e como não fazer aquela atividade. O meu trecho era para mostrar
como não fazer. Os outros três para explicar como fazer. Então ela malhou um
monte o meu texto. Compreendi o quê fiz que ela não queria; E também
compreendi como ela quer que seja aquela atividade. Mas, ela
continuou malhando o meu e elogiando os outros três.

Então, abri o microfone e falei: Professora, o que está errado é o meu,


mas, eu sei escrever diário, escrevo desde criança. Vou até olhar o que foi
mais que eu escrevi; Olhei e disse: Mas, professora, só o início do meu texto
que está como não um diário. O resto de tudo que eu escrevi está em forma
de  diário. Mas, eu entendi, vou refazer aquele início e vou cuidar para manter
como você explicou. 
Passou, acabou aquela aula. Estava tudo bem. Na aula de hoje, eu
participei ativamente, expus minhas ideias, acrescentei novas informações.
Estava tudo ótimo. Então, um aluno emitiu a opinião dele malhando o filme.
Disse que o filme era para fazer protagonismo da mulher branca.
Eu respondi no chat que não, pois a mulher que adotou foi
uma francesa. Logo, não havia protagonismo nenhum para mulher branca.
E eu só vi o protagonismo do menino negro. Mas eu não falei sobre o
protagonismo negro. Fiquei quieta.
Enfim, até o menino expor o tal protagonismo branco, estava tudo ótimo.
Percebi que a professora ficou ressentida com o tal protagonismo branco. Pois
se justificou por ter escolhido aquele filme. Pensei, vou conversar com esse
menino, que é branco. Pois foi a opinião dele que provocou racismo ao falar de
protagonismo branco. Não falei nada, terminou aquela parte e a professora
disse que iria retornar onde parou na aula passada.
Pensei, falo ou não falo para ela não falar a minha parte? Falo, decidi.
Abri o microfone e falei alegremente: "Não professora, nós já entendemos tudo,
não precisa." Ela disse que sim, que ia falar. Eu disse, não, não professora, é a
minha fala, eu não quero, por favor.
"Mas, Elisa, eu não falei que é sua fala, foi você quem falou;" Eu sei
professora, mas, não fala de novo. Aqui eu alterei a voz, falei alto, pois fiquei
nervosa; Ela me interrompeu e mandou-me a deixar continuar a aula. Calei!
Minhas colegas começaram a falar no chat para eu não ficar nervosa;
E eu respondia no chat que era fácil falar isso porque não foi com elas. A
professora continuou a aula. E eu e umas colegas ficamos debatendo o fato de
isso machucar. Até contei o episódio com a outra professora, claro, sem
nomear. Falei que eu machuquei uma pessoa porque expus um escrito que eu
não deveria. E que, da mesma forma, eu me senti machucada ao ver meu texto
exposto;
E que eu só pedi para não expor mais, só isso. A conversa com as
colegas era para compreender o assunto, nada mais. Nisso, o menino do tal
protagonismo branco, escreveu no chat. que nossa conversa estava
atrapalhando ele prestar atenção na aula. E eu respondi para que ele prestasse
atenção na aula. Pois a professora já não me deixou falar, agora você também
quer me calar?
As meninas me apoiaram, falaram que ele não precisava escrever
aquilo. E não precisava mesmo, sabe por quê? Porque no chat, a gente
escreve e só lê quem quer, tem como não ler. Foi isso.
Eu sei que fui eu mesma que disse que o texto é meu. Mas, qualquer
pessoa se sentiria mal em servir de exemplo de erro. De inadequação. Por
outro lado, se eu me calasse, estaria permitindo que erros fossem usados para
ensinar. E eu não concordo com isso. Não é eu escrevendo jirafa, giRafa,
girAfa e Girafa que se ensina como se escreve girafa. Há formas melhores de
ensinar.
Cada novo dia há algo novo para se aprender. E a vida ensina mesmo.
Ensina e testa. Percebi que depois desta aula, eu fiquei triste. Sem iniciativa,
sem vontade. Passei a dormir muito. Como uma fuga pelo sono. Fiquei triste
mesmo 
Enfim, percebo que o fato me atingiu. Estou analisando tudo para eu
ficar bem novamente. Sempre há algo bom para todos nós em situações
desafiantes. Eu creio.
Desterro, 28 de abril de 2021.

Hoje a aula é assíncrona. Tem um texto da Drª Roberta Souza para ler. O
tema é sobre Educação Infantil, muito interessante. Já estou lendo e
apreciando muito como a autora expôs suas ideias. Lidar com crianças requer
muita formação e o texto entregou conhecimentos importantes. Apreciei muito,
principalmente por ter entrado em contato com a metodologia de uma
pedagoga americana, Vivian Paley, que realizou um trabalho valioso com
crianças. Fiquei bem inspirada, vou usar o método dela para filmar o próximo
episódio da Dragonesa Ryna.
No entanto, eu li uma reportagem e a achei tão triste. Tanto quanto o caso
do Sandro, do sequestro do ônibus. Enfim, associei a reportagem ao texto que
li. Então, achei pertinente copiar o link da mensagem e a postei no grupo da
Pedagogia no whats App. Escrevi assim:

“Trago essa reportagem para que todos nós, futuros Pedagogos,


saibamos que não somos heróis e nem peço isso a ninguém. No entanto, é de
nossa responsabilidade agir onde estivermos atuando. Que nenhuma criança
ou jovem tenham nossos olhares desviados. Para salvar não é necessário
carregar para casa. Mas há sim, urgência de uma atitude proativa de cada vida
que chega até nós. Que cada criança desamparada e cada mãe abandonada
possam ser acolhidos pela nossa bondade. Bondade essa que nos faz
humanos, que nos tornam essenciais e que deixa a terra melhor do que
quando aqui chegamos. Que nosso olhar não esteja centrado na crítica que
não estrutura e focado no verdadeiro protagonismo de cada "Robertô" que
atravessa nossos caminhos. Aquela francesa agiu correto, foi capaz de lançar
um olhar de amor e de cura, soube acolher aquele menino há tanto tempo
abandonado. Abandonado pelo poder da Ditadura, abandonado pelo
desinteresse do sistema educacional e, sobretudo, pelo egoísmo que nos
fecunda. Quando, no final daquele filme, que só foi possível ser gravado
porque houve um menino que aceitou ser ajudado e uma mulher que foi capaz
de entregar essa ajuda. Então, no final daquele filme, quando as duas
professoras fumam para decidir se podia ou não levar o "Robertô" para a
França, não foi por conformismo, foi desespero, porque aquela francesa sabia,
se o deixasse, a morte seria o seu destino certo.”
Até quando vamos permitir que nossas crianças morram torturadas? Fico
muito triste por saber que nossa política é tão cega quanto a nossa justiça.

Desterro, 05 de maio de 2021.

A aula foi tão legal. Novamente eu estava animada. E nem tinha como
não estar animada. Minhas colegas e meus colegas são tão inteligentes,
aprecio muito como todos se entregam e se dedicam. Adoro ouvir a leitura do
diário, sempre há tanta sensibilidade. Fico feliz, pois sei que serão ótimos
professores.

Também teve a presença da professora Roberta, foi ela quem escreveu


o último artigo que lemos. Eu a agradeci, pois foi por causa do texto dela que
eu fiz aquele episódio especial da Ryna. Também agradeci à professora
Roselete, pois além dela indicar textos ótimos, levou a professora para
conversar com a gente.

Esse é o meu último registro aqui, no entanto, vou fazer um vídeo sobre
a minha experiência com o diário de aprendizagem. Ainda não decidi como
farei, estou buscando ideias. Quero fazer algo bem criativo. O exemplo que foi
nos dado foi produzido por uma aluna do semestre passado. Gostei muito,
adorei as imagens e a narrativa.

Estou agradecida pelo privilégio de estudar na UFSC e com a professora


Roselete. Eu a acho tão linda. Sabe, antes de conhecê-la, eu a imaginei bem
diferente. Que bom que ela é uma pessoa sensível e dedicada. Pessoas assim
inspiram e eu adoro ficar inspirada.

Creio que todos os meus colegas também compartilham das minhas


ideias. Digo isso por causa da leitura e participação de todos. Percebo a turma
bem dinâmica, há muita troca de informações. Foi muito produtivo esse
semestre, estou levando tantas experiências construtivas. Estou muito
agradecida.

O meu maior desafio agora é elaborar um ato significativo para


expressar toda a minha alegria pelo aprendizado e pela oportunidade de
ampliar minha criatividade.

“Ano passado eu morri, esse ano eu não morro mais.”

FIM
Referência:

BARBOSA, Maria C. Silveira. Culturas escolares, culturas de infância e culturas


familiares: as socializações e a escolarização no entretecer destas culturas.

Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 1059-1083, out. 2007.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2028100.pdf hooks, bell.
Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução de
Marcello Brandão Cipolla. 2ª. ed. São Paulo: editora WMF Martins Fontes,
2017. (DESPONÍVEL MOODLE DA DISCIPLINA)

EYNG, Ana Maria. Direitos humanos e violência nas escolas: desafios do


trabalho em rede. Revista Portuguesa de Educação, 2013. Disponível em:
http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpe/v26n2/v26n2a12.pdf

FISCHER, Rosa Maria Bueno. Docência, cinema e televisão: questões sobre a


formação ética e estética. In Revista Brasileira de Educação, v.14, n.40, 2009.
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a08.pdf.

GIRARDELLO, Gilka. Crianças inventando mundos e a si mesmas: ideias para


pensar a autoria narrativa infantil. Revista Childhood & Philosophy, Rio de
Janeiro, v. 14, n. 29, jan.-abr. 2018, pp. 71-92. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/childhood/article/view/30576/22941

JÓDAR, Francisco; GÓMES, Lucia. DEVIR-CRIANÇA: experimentar e explorar


outra educação. Revista Educação & Realidade, jul./dez.2002. Disponível em:
http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/25914/15183

LOPONTE, Luciana G. Arte para a Docência: estética e criação na formação


docente. Revista Arquivos Analíticos de Políticas Educativas Vol. 21, No. 25,
2013. Disponível em: https://epaa.asu.edu/ojs/article/view/1145/1083

SOUZA, Roberta Consiglio de; GIRARDELLO, Gilka. A brincadeira narrativa


como eixo do trabalho docente: inspirações a partir de Vivian Paley. Revista
Zero a Seis. V.22, n. 41, p. 31- 46, jan./jul., 2020.
Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/1980-
4512.2020v22n41p31
SOUZA, Roselete Fagundes de Aviz de. Mais devagar, você não está olhando:
o audiovisual como uma experiência se escuta. EntreVer: Revista das
Licenciaturas v.2, no 3, 2012. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/EntreVer/article/view/34245/27127

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