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TEORIA DOS NÚMEROS

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

Teoria dos Números – Prof. Érico Santana de Macedo e Prof. Ms. Yuri Santana de Macedo

Meu nome é Érico Santana de Macedo. Cursei Licenciatura em Matemática na Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e participei do Programa de Aperfeiçoamento para Professores de Matemática, oferecido
pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Atualmente, sou professor de Matemática na
rede particular de ensino.
E-mail: ericosantana.1@gmail.com

Meu nome é Yuri Santana de Macedo. Cursei Licenciatura em Física na Universidade do Estado de Santa
Catarina (Udesc), campus Joinville, e Mestrado em Engenharia Nuclear no Instituto Militar de Engenharia (IME).
Atualmente, no Claretiano – Faculdade de Rio Claro, leciono as disciplinas de Física, Laboratório de Física e
Estatística para Serviço Social, dos cursos de Engenharia Elétrica, Mecânica, Mecatrônica e Serviço Social. Além
disso, atuo como professor responsável e tutor web do curso de Engenharia de Produção do Claretiano –
Centro Universitário.
E-mail: yuri_macedo@yahoo.com.br
Érico Santana de Macedo
Yuri Santana de Macedo

TEORIA DOS NÚMEROS

Batatais

Claretiano

2020
© Ação Educacional Claretiana, 2020 – Batatais (SP)
Trabalho realizado pelo Claretiano – Centro Universitário

Cursos: Graduação
Disciplina: Teoria dos Números
Versão: ago./2020

Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva


Vice-Reitor: Prof. Dr. Pe. Cláudio Roberto Fontana Bastos
Pró-Reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir Botteon
Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Dr. Pe. Cláudio Roberto Fontana Bastos
Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Me. Luís Cláudio de Almeida

Coordenador Geral de EaD: Prof. Me. Evandro Luís Ribeiro


Gerente de Material Didático Mediacional: Rodrigo Ferreira Daverni
Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Eduardo Henrique Marinheiro
Camila Maria Nardi Matos Filipi Andrade de Deus Silveira
Carolina de Andrade Baviera Rafael Antonio Morotti
Cátia Aparecida Ribeiro Vanessa Vergani Machado
Lidiane Maria Magalini
Projeto gráfico, diagramação e capa
Luciana A. Mani Adami
Bruno do Carmo Bulgarelli
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Joice Cristina Micai
Patrícia Alves Veronez Montera
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira
Luis Antônio Guimarães Toloi
Vanessa Ito Nazar
Raphael Fantacini de Oliveira
Tamires Botta Murakami
Videoaula
André Luís Menari Pereira
Bruna Giovanaz Bulgarelli
Gustavo Fonseca
Luis Gustavo Millan
Marilene Baviera
Renan de Omote Cardoso

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gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Claretiano - Centro Universitário


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SUMÁRIO
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO ................................................................................................. 7
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................... 9
TEORIA DOS NÚMEROS: UM POUCO DE HISTÓRIA ........................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS ................................................................................................................................... 11
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE ...................................................................................................................... 12
4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA................................................................................................................................. 13
5. E-REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................... 13

UNIDADE 1

Divisibilidade, MMC e MDC ................................................................................................ 14


1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 15
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA................................................................................................................. 15
2. 1. DIVISIBILIDADE: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES ............................................................................................. 15
2. 2. O ALGORITMO DA DIVISÃO .......................................................................................................................... 20
2.3. MÍNIMO MÚLTIPLO COMUM E MÁXIMO DIVISOR COMUM ........................................................................ 24
2.4. UMA APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE DIVISIBILIDADE: O ALGORITMO DE EUCLIDES................................. 31
3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES ................................................................................................................ 35
3. 1. DIVISIBILIDADE: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES ............................................................................................. 36
3. 2. O ALGORITMO DA DIVISÃO .......................................................................................................................... 36
3.3. MDC, MMC E O ALGORITMO DE EUCLIDES. .................................................................................................. 37
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................................................................. 37
5. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................................................... 40
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA................................................................................................................................. 40

UNIDADE 2

Números Primos ................................................................................................................ 41


1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 42
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA................................................................................................................. 42
2. 1. O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA. ............................................................................................ 42
2.2. ENCONTRANDO OS DIVISORES DE UM INTEIRO ........................................................................................... 47
2.3. UMA APLICAÇÃO DOS NÚMEROS PRIMOS: O MDC E O MÍNIMO DIVISOR COMUM. .................................. 50
2.4. UMA APLICAÇÃO DO TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA: O CRIVO DE ERASTÓTENES .................. 52
3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES............................................................................................................. 53
3.1. NÚMEROS PRIMOS E O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA ........................................................... 53
3. 2. QUANTIDADE DE DIVISORES DE UM INTEIRO, MMC E MDC. ...................................................................... 54
3.3. O CRIVO DE ERATÓSTENES. .......................................................................................................................... 54
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS .......................................................................................................................... 55
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................................................................... 57
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................................. 57

UNIDADE 3

Congruências ..................................................................................................................... 58
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 59
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA................................................................................................................. 59
2. 1. CONGRUÊNCIA: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES ............................................................................................. 59
2. 2. CONGRUÊNCIAS LINEARES. .......................................................................................................................... 66
2.3. EQUAÇÕES DIOFANTINAS. ............................................................................................................................ 73
2.4. O TEOREMA CHINÊS DO RESTO. ................................................................................................................... 76
3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES ................................................................................................................ 81
3. 1. CONGRUÊNCIA: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES ............................................................................................. 81
3. 2. CONGRUÊNCIAS LINEARES E EQUAÇÕES DIOFANTINAS. ............................................................................. 82
3.3. O TEOREMA CHINÊS DO RESTO. ................................................................................................................... 82
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................................................................. 84
5. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................................................... 86
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................................. 87

UNIDADE 4

Congruências: Aplicações ................................................................................................... 58


1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 89
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA................................................................................................................. 89
2. 1. OS TEOREMAS DE EULER, FERMAT E WILSON ............................................................................................. 89
2. 2. EQUAÇÕES DIOFANTINAS. ........................................................................................................................... 92
2.3. CRITÉRIOS DE DIVISIBILIDADE. ...................................................................................................................... 95
2.4. PROBLEMAS ENVOLVENDO DATAS. .............................................................................................................. 98
3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES ................................................................................................................ 81
3. 1. CONGRUÊNCIA: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES ............................................................................................. 81
3. 2. CONGRUÊNCIAS LINEARES E EQUAÇÕES DIOFANTINAS. ............................................................................. 82
3.3. O TEOREMA CHINÊS DO RESTO. ................................................................................................................... 82
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ......................................................................................................................... 101
5. CONSIDERAÇÕES .............................................................................................................................................. 104
6. E-REFERÊNCIA ................................................................................................................................................. 104
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................................... 104
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Os inteiros: conceitos e resultados básicos da aritmética dos inteiros. MDC e MMC. Números Primos
e o Teorema Fundamental da Aritmética. Congruências. Equações Diofantinas. Aplicações.

Bibliografia Básica
LANDAU, E. Teoria elementar dos números. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2002.
SHOKRANIAN, S. Uma introdução à teoria dos números. 1. ed. Rio de Janeiro: Ciência Moderna,
2008.
______. Breve história da teoria dos números no século vinte. Rio de Janeiro: Ciência Moderna,
2010.

Bibliografia Complementar
IEZZI, G. Fundamentos de Matemática elementar: conjuntos, funções. São Paulo: Atual, 2004. v. 1.
MARTINS, J. F. C. Matemática sem fronteiras: aritmética. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2011.
SAMPAIO, J. C. V.; CAETANO, P. A. S. Introdução à teoria dos números: um curso breve. São Carlos:
Edufscar, 2007.
SILVEIRA, D. C.; SALDANHA, M. S. G.; MISITI, L. O. R. Aritmética: 1.463 problemas resolvidos e
explicados – Matemática fácil e sem mistérios. São Paulo: Ícone, 2012.
SINGH, S. O último teorema de Fermat: a história do enigma que confundiu as maiores mentes do
mundo durante 358 anos. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

É importante saber: ______________________________________________________________


Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das
competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os
principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que
é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais
Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos Digitais
Integradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não
apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitura de "navegação" (hipertexto), como
também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo
obrigatórios, para efeito de avaliação.
_______________________________________________________________________________

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
"A matemática é a rainha das ciências, e a teoria dos números é a
rainha da matemática” (Carl Friedrich Gauss).

A teoria aritmética dos números, ou teoria dos números, ou aritmética, possui essa fama,
pois é capaz de deduzir poderosos resultados partindo do mais simples conjunto numérico, depois
dos naturais: os inteiros. Estudaremos propriedades dos inteiros envolvendo divisibilidade,
fatoração em primos e congruência.

Iniciaremos o estudo de Teoria dos Números, por meio do qual você conhecerá resultados
clássicos dessa ciência. Tais resultados são conhecidos desde a época de Euclides, recebendo
aperfeiçoamentos de matemáticos, como Fermat, Euler e Gauss. Alguns desses conceitos são
amplamente utilizados por professores e alunos desde o Ensino Fundamental, mesmo que, nesse
nível de ensino, não seja demonstrada a validade deles.

Nosso objetivo, portanto, é demonstrar a validade de ferramentas largamente utilizadas em


sala de aula, e, em seguida, apresentar novos resultados, utilizados apenas no Ensino Superior, mas
que são deveras interessantes para qualquer estudante de Matemática.

Além disso, vamos apresentar situações-problema que empregam esses novos conceitos e
que podem ser aplicadas em sala de aula por necessitarem apenas de definições e propriedades
elementares dentre as que estudaremos.

Teoria dos números: um pouco de História

Por ser o conjunto de números mais simples de se lidar, após os naturais, os números
inteiros são estudados à exaustão desde a época dos gregos. Os matemáticos da escola de Pitágoras
(aproximadamente 500 a 300 a.C.) acreditavam que todas as medidas existentes na natureza
podiam ser representadas por inteiros ou por razões entre inteiros (ou seja, números racionais). Em
razão disso, as propriedades desses números foram largamente estudadas.

O Teorema de Pitágoras é o resultado mais conhecido (embora os antigos babilônios já


conhecessem esse resultado). Euclides (cerca de 300 a.C) sistematizou todo o conhecimento
matemático de sua época em sua fabulosa obra Os elementos, constituída de 13 livros. Apesar de
Euclides ser mais conhecido por suas contribuições à Geometria (dando origem ao nome

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

“geometria euclidiana”), Os Elementos apresentam resultados importantes para a à Teoria de


Números, como o algoritmo da divisão e o Teorema Fundamental da Aritmética.

Já Erastótenes (cerca de 200 a.C.) apresentou um método simples e belo para determinar se
um número é primo, e, séculos mais tarde, Diofanto de Alexandria (200 a 284 a.C.,
aproximadamente) dedicou-se a estudar equações em que todos os coeficientes e variáveis eram
números inteiros.

Avançando no tempo, no século 17, Pierre de Fermat, um matemático amador, demonstrou


vários resultados importantes para a Teoria de Números, como o Pequeno Teorema de Fermat, e
a conjectura conhecida como Último Teorema de Fermat, que viria a ser demonstrada, séculos
mais tarde, por Andrew Wiles (lembremos que, enquanto um resultado não é demonstrado, ele é
chamado de conjectura, e que costumamos nomear os teoremas de acordo com quem os
demonstrou, e não quem os conjecturou, portanto o nome mais adequado seria Teorema de
Wiles).

Euler (século 17) generalizou o Pequeno Teorma de Fermat, e, no século 19, surgiu Gauss,
que, em sua obra Disquistiones arithmeticae, apresentou uma notação que facilitou, e muito, o
estudo das relações entre números, divisores e seus restos, que é a notação utilizada até hoje para
congruência modular.

Com base nos resultados desses matemáticos, é possível resolver vários problemas e
teoremas, alguns dos quais veremos neste Caderno de Referência de Conteúdo.

Na Unidade 1, apresentaremos a definição de divisibilidade e provaremos teoremas relativos


a ela, como o algoritmo de Euclides. Na Unidade 2, estudaremos números primos e suas relações
com o mínimo múltiplo comum e o máximo divisor entre dois números. Na Unidade 3, saberemos
qual é o conceito de congruência modular, como ela resolve problemas sobre divisibilidade e como
resolver congruências que envolvam incógnitas. Na Unidade 4, conheceremos mais resultados
sobre congruências, equações diofantinas e algumas aplicações dessa teoria.

Vamos começar?

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS

O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais,
possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento
dos temas tratados.

1) Algoritmo da divisão: garante que, para cada divisão entre inteiros, exista um único
quociente e um único resto.

2) Algoritmo de Euclides: permite que se calcule o máximo divisor comum entre dois
números.

3) Congruência do tipo módulo m: é a relação entre um inteiro a e o resto da divisão de m


por a. Dizemos que a é congruente a b módulo m, se m dividir b – a , ou seja, se o resto da
divisão de a por m for b. Simbolicamente, representamos: a ≡ b (mod m).

4) Congruência linear: é a congruência do tipo ax ≡ b (mod

m), em que x é uma variável.

5) Divisor: a é um divisor de b, se existe um inteiro q, tal que b = qa .

6) Equação diofantina: é a equação do tipo ax +by = c , em que a, b e c são constantes, x e


y são variáveis, e todos os números são inteiros.

7) Inteiro: é o número pertencente ao conjunto Z ={…, 3, 2, 1,0,1,2,3,...− − − }, ou seja, ao

conjunto dos naturais mais o zero e mais o oposto de cada natural. Consideremos válido
que a soma, a subtração e o produto entre inteiros resultam em números inteiros, e
também que o módulo de um inteiro é um inteiro. Observação: neste Caderno de
Referência de Conteúdo, toda letra em itálico representará um inteiro.

8) Máximo divisor comum: é o maior inteiro b, tal que d|a.

9) Mínimo múltiplo comum (positivo): é o menor m > 0, tal que a|m e b|m.

10) Número primo: é um número p que possui, exatamente, dois divisores positivos: 1 e p.

11) Teorema Chinês dos Restos: mostra como resolver congruências lineares
simultaneamente.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

12) Teorema Fundamental da Aritmética: garante que todo número inteiro pode ser
expresso como um produto de primos, o qual é único, a não ser pela ordem em que os
primos aparecem. Cada elemento desse produto é chamado de fator, e assim, essa
representação também é conhecida por fatoração ou, ainda, decomposição canônica.

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


Como você pode observar, o Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e
descobrir o caminho para construir o seu conhecimento. Por exemplo, o Lema de Bézout precisa,
como pré-requisito para sua demonstração, do conceito de algoritmo da divisão de máximo
divisor comum. Já com esse lema em mãos e com o conceito de congruência, é possível provar
resultados referentes às equações diofantinas.

Figura 1 Esquema de Conceitos-Chave de Teoria dos Números.

© Teoria dos Números | 12


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LANDAU, E. Teoria elementar dos números. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2002.

5. E-REFERÊNCIAS
USP - E-CÁLCULO. Leonhard Euler. Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/historia/ euler.htm>. Acesso em: 10 fev. 2014.

______. Carl Fridrich Gauss. Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/historia/gauss. htm >. Acesso em: 10 fev. 2014.

______. Pierre de Fermat. Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/historia/fermat.htm >. Acesso em: 10 fev. 2014.
PAIS, A. J. S.; VENTURA, H. M. G. D F.; OLIVEIRA, S. A. V. História dos números primos.
<http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm98/icm12/Historia.htm >. Acesso em: 10 fev. 2014.

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UNIDADE 1
Divisibilidade, MMC e MDC

Objetivos
 Compreender a definição de divisibilidade e suas propriedades.
 Entender os raciocínios por trás das demonstrações em Teoria dos Números.
 Compreender as definições de mmc e MDC e suas propriedades.

Conteúdos
 Divisibilidade: definição e propriedades.
 O algoritmo da divisão.
 Mínimo múltiplo comum e máximo divisor comum: definição e propriedades
 O algoritmo de Euclides.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Sempre que se deparar com uma definição, tente compreendê-la através de exemplos. Tente
criar seus próprios exemplos, além daqueles fornecidos por esse Caderno de Referência de
Conteúdo. Só assim você realmente entenderá o significado de cada conceito.
2) Procure refazer as demonstrações no papel. Apenas lê-las não é o suficiente. Reescreva linha por
linha, mas não como uma simples cópia, mas sim, tentando entender cada passo. É assim que se
entende uma demonstração.
3) Tanto essa, como as demais unidades, são baseadas basicamente no livro de Landau.
4) Não, são, porém, um resumo. Sabe-se que a escrita matemática é muito concisa, portanto, se
resumíssemos o que há é conciso, não haveria sentido escrever esse Caderno de Referência de
Conteúdo. O objetivo aqui é escrever com uma linguagem mais acessível, procurar explicar passo
a passo as demonstrações, e fornecer muitos exemplos.
5) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos nos Conteúdos Digitais
Integradores

© Teoria dos Números | 14


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

1. INTRODUÇÃO

A partir de um conceito tão simples que é o de divisibilidade, são deduzidos teoremas com
aplicações em inúmeras áreas, tanto na Matemática “pura”, quanto na Matemática Aplicada, como,
por exemplo, Criptografia. Esta unidade apresenta os resultados preliminares dessa ciência,
portanto a sua compreensão integral é fundamental para o entendimento de todo o curso.

Algumas observações de ordem prática: como trabalharemos somente com o conjunto dos
inteiros, admitiremos, ao longo do texto, que toda letra minúscula, em itálico, representará um
inteiro. Essa é a mesma notação que Landau utiliza em seu livro. Portanto, quando dissermos, por
exemplo, “Considere a > 6 ...”, está implícito que dizemos “Considere um número inteiro, a > 6...”

Como o leitor já deve ter estudado, o conjunto dos inteiros é fechado para soma e
subtração, ou seja, a soma de inteiros resulta em um inteiro, assim como a subtração. Além disso, o
oposto de um inteiro também é inteiro, assim como seu módulo. Tais fatos serão usados ao longo
do texto.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA

O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta


unidade. Para sua compreensão integral é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos
Digitais Integradores.

2. 1. DIVISIBILIDADE: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES

Os resultados essenciais à Teoria dos Números são aqueles relacionados à questão de


divisibilidade. Portanto, a definição a seguir é a que norteará todo o nosso curso:

Definição 1. Seja e b um inteiro qualquer. Dizemos que b é divisível por a se existir


um único inteiro q, de modo que .

Assim, 10 é divisível por 2, afinal .

7 não é divisível por 3, afinal não existe um inteiro q de modo que 7 = q.3.

© Teoria dos Números | 15


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

As seguintes definições são equivalentes: b é divisível por a, a é divisor de b e a divide b.


Muitas vezes estaremos mais interessados nas propriedades dos “divisores” do que nas dos
“dividendos”, portanto é importante que o aluno se acostume com essa expressão “a divide b”

Podemos, portanto, dizer que “10 é divisível por 2”, “2 é divisor de 10”, ou, ainda, que “2
divide 10”.

O símbolo que representa essas sentenças é o seguinte: a | b. Ou seja, 2 |10. Não confunda
esse símbolo com o símbolo de divisão, pois é justamente o contrário!

Ou seja, 2|10 significa “2 divide 10” o que é completamente diferente de escrever a fração

Também poderemos escrever frações dessa maneira: a/b, ou seja, 10/2 = 5.

Se a não divide b, escrevemos a ł b. Assim, 3ł7

Perceba que essa relação não está definida para a = 0, ou seja, não faz sentido dizer, por
exemplo, que “0 divide 3”, nem que “0 não divide 3”. Simplesmente não se diz nada sobre isso.

Vamos, agora, às demonstrações essenciais sobre divisibilidade. Nem todos os teoremas do


livro serão demonstrados aqui, e apresentaremos alguns resultados importantes que o livro omite.
Porém, não alteraremos a numeração, ou seja, se pularmos do teorema 9 para o teorema 11, é
porque o teorema 10 não foi demonstrado; e qualquer resultado apresentado que não esteja no
livro não será numerado, de modo a não tornar confusa a relação entre esse caderno e o livro-texto.

Seguem as propriedades que estudaremos:


Teorema 1. Se , então: , , ,, .
Teorema 2. Se e , então .
Teorema 3. Se , então .
Teorema 4. Se , então para todo x.
Teorema 5. Se e , então e .
Teorema 6. Se e , então para todo x e y.

© Teoria dos Números | 16


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

A essa altura de seu curso de Matemática, você já deve estar habituado com demonstrações,
mas não custa nada relembrar algumas coisas.

Toda sentença a ser demonstrada possui uma hipótese, que contém aquilo que admitimos
ser verdade, e uma tese, que é o que queremos provar, utilizando os dados da hipótese.

Exemplo de demonstração: Se afirmamos que “A soma de dois números pares é um número


par”, a nossa tese é: existem dois números a e b, que são da forma , e (essa é a
definição de número par)

Demonstração: Somando esses dois números, teremos . A


soma de dois inteiros também é um inteiro, então podemos escrever . Essa é a tese à
qual queríamos chegar.

As demonstrações a seguir referentes a divisibilidade. Ou seja, em todas precisamos


encontrar um número q tal que b = q.a, de acordo com os dados fornecidos. Encontrado esse
número q, está encerrada a demonstração.

Vamos começar?

1-) Se , então: .

Demonstração: Nossa hipótese é que , ou seja, existe q tal que . Utilizaremos


esse fato em todas as demonstrações.

: se , basta multiplicarmos ambos os lados da igualdade por -1, e teremos


. Ou seja, é o quociente.

: Partindo de e multiplicando por -1, teremos . Se multiplicarmos


por -1 novamente, teremos , ou seja, . Logo, -q é o quociente.

: Na primeira demonstração vimos que . Como é a mesma coisa


que , temos é o quociente.

© Teoria dos Números | 17


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

: Basta aplicarmos o módulo de cada número na expressão . Teremos


.

O número procurado é .

É importante, que, para se acostumar com a definição de divisibilidade, você leia “em
português” os resultados obtidos. Ou seja, “a divide menos b”, “-a divide b”, “-a divide -b”, “o
módulo de a divide o módulo de b”.

Agora, tomemos dois inteiros como exemplo e vejamos como fica simples essa propriedade.

Sabendo que , então: (o quociente é -2) , (o quociente é -2),


(o quociente é 2), e (o quociente é 2).

Testar com exemplos torna essas propriedades um tanto quando óbvias, mas lembremos
que o importante de uma demonstração é mostrar que o resultado é válido para todos os números
inteiros.

Vamos às próximas demonstrações. Ao longo delas, economizaremos no português e utiliza-


remos mais a linguagem matemática.

 e , então .

Demonstração: Pela hipótese, existem e de forma que e .


Então . Logo, ( é o quociente)

Exemplos: e , então .

e , então .

 Se , então .

Demonstração: Pela hipótese, , então

e . Assim, podemos dividir a igualdade por c. Teremos .


Logo, .

Exemplos:

 a = 2, b = 10, c = 3; , então .

© Teoria dos Números | 18


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

 a = 13, b = 104, c = 4; , então .

A recíproca desse teorema é verdadeira. Ou seja, se , então , para .

Demonstração: Por hipótese, . Multiplicando ambos os lados por c, teremos


. Ou seja, divide e é o quociente.

Exemplos:

 a = 2, b = 8, c = 3; , então .

 a = 5, b = 60, c = 8; , então .

1) Se , então para todo x. Ou seja, “o divisor de um número divide todos os


múltiplos desse número”.

Demonstração: Se , então . é o quociente.

Exemplos:

 , então , , , e assim por diante.

 , então , , , e assim por diante.

2) Se e , então e . Ou seja, “Um divisor comum de dois


números divide a soma e a diferença entre esses números”

Demonstração: Por hipótese, e . Somando as duas igualdades,


teremos

. Portanto, , tendo como quociente. Para


, a demonstração é a mesma, efetuando, obviamente, uma subtração em vez
de somar as igualdades da hipótese.

Exemplos:

 e , então e .

 e , então e .

© Teoria dos Números | 19


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

3) Se e , então para todo x e y.

A expressão “ ” é usualmente chamada de “combinação linear entre b e c”.


Então esse teorema pode ser lido da seguinte maneira: “um divisor comum de dois
números divide todas as combinações lineares entre esses números”

Demonstração: Pela hipótese e , então, pelo teorema 4, e , para


quaisquer x e y. Pelo teorema 5, a divide a soma e a diferença entre seus dividendos,
logo

Exemplos:

 e , então 3 divide qualquer combinação linear entre 9 e 27, como


. Então .

 e , então ,ou seja, (teste!).

2. 2. O ALGORITMO DA DIVISÃO

O próximo teorema é tão importante que reservamos uma seção separada para ele. É o
teorema em que descobrimos que o algoritmo da divisão, que usamos desde nossos primeiros anos
na escola (com divisor, dividendo, quociente e resto) realmente vale para todos os inteiros. Porém,
antes de demonstrá-lo, precisamos ver/rever um conceito conhecido como “Princípio de
Arquimedes”, que costuma ser ensinado nas disciplinas de Cálculo I ou Análise. Esse enunciado
também é chamado de “Teorema de Eudoxius”. Landau utiliza-se desse resultado em sua
demonstração, mas não de forma muito clara, por isso, o enunciaremos aqui:

“Dados dois inteiros a e b, com , então b é um múltiplo de a ou se encontra entre dois


múltiplos consecutivos de a”.

Em linguagem simbólica, teremos que para a e b inteiros, com , existe um inteiro q tal
que,

Se

Se

© Teoria dos Números | 20


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Não demonstraremos esse teorema, apenas daremos exemplos:

Se , então 5 está entre dois múltiplos consecutivos de 18. Devemos tomar


.

Se , devemos tomar .

Se , devemos tomar .

Se , devemos tomar .

Se , devemos tomar .

Se , então b é um múltiplo de a, basta pegarmos o próprio quociente, 5.

Em relação ao último exemplo, lembre-se que ≤ significa “menor que ou igual a”, ou seja, 20
se enquadra no caso de “igual a”.

© Teoria dos Números | 21


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Efetue as multiplicações indicadas para entender os exemplos. Não avance na leitura


enquanto não entendê-las.

Também precisaremos do seguinte lema para provar o teorema:

Lema: Se , então .

Esse é um fato simples. Se , para , então .

Ou seja, só teremos , se , ou seja, .

Em palavras “Um inteiro só divide outro inteiro, diferente de zero, se for menor que, ou igual
a ele”.

Observação: fato semelhante é provado no Teorema 10 do livro de Landau.

Teorema 7 (Algoritmo da divisão): Se e é arbitrário, então existe exatamente um


par de inteiros e tais que

Antes de demonstrarmos o teorema, vamos entender o que ele significa.

Na equação, é o divisor, é o dividendo, é o quociente e é o resto. O teorema nos diz


que para cada divisor, só há um par possível de quociente e resto (unicidade), e esse resto é maior
que, ou igual a zero e menor do que o próprio divisor (se o resto for zero, caímos no caso em que a |
b).

Exemplo: Se dividirmos por , só há um par de quociente e resto possíveis: e .


Veja que, de fato, o resto é positivo e menor que . Queremos provar que essa propriedade vale
para todos os pares de inteiros.

A demonstração a seguir é baseada na de José Plínio de Oliveira, em seu livro “Introdução à


teoria dos números”, e pode ser conferida na e-referência apresentada ao final da unidade.

Demonstração: Pelo teorema de Eudoxius visto anteriormente, como , existe q tal que:

© Teoria dos Números | 22


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Analisemos separadamente as duas desigualdades:

. Subtraindo dos dois lados, teremos

Agora, a outra desigualdade:

, então

Ou seja, .

Se chamarmos de r, teremos . Além disso, se , então


. Portanto, existem q e r que satisfazem a hipótese do teorema.

Agora, nos resta mostrar que e são únicos. Para isso, suponhamos que existam e
que também satisfaçam a propriedade a ser demonstrada. Teremos

(1)

(2)

Fazendo (1) – (2), teremos , então

Portanto, .

Então, , sendo o quociente. Mas

, então , e se , devemos ter , pelo lema


demonstrado anteriormente.

Logo .

Assim, (2) fica , mas, por (1), . Só nos resta que . Está
provada, então, a unicidade de e .

© Teoria dos Números | 23


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

2.3. MÍNIMO MÚLTIPLO COMUM E MÁXIMO DIVISOR COMUM

Dados , chamaremos de múltiplo comum de a e b qualquer número c tal que


.

Ou seja, múltiplo comum é um número divisível tanto por quanto por ;

Exemplo: é um múltiplo comum de e de , pois e .

Chamaremos de o menor múltiplo positivo de e . Daqui em diante, quando dissermos


mmc, ou mínimo múltiplo comum, consideraremos apenas o caso positivo (já que, se considerásse-
mos os negativos, não encontraríamos um menor múltiplo).

Teorema 9: Se é o mmc de e ,e é qualquer múltiplo comum de e , então .

Demonstração: Pelo teorema 7 (algoritmo da divisão), existem e tais que

Isolando , temos , ou . Por que escrevemos dessa for-


ma? Para mostrar que ele pode ser escrito como uma combinação linear entre e .

Por hipótese,

Pelo teorema 6 (Se um inteiro divide dois inteiros, ele divide qualquer combinação linear en-
tre eles), temos que e .

Logo, r é um múltiplo comum entre a e b. Mas, pelo teorema 7, , mas m é o me-


nor múltiplo positivo! Só nos resta r = 0.

Então, , ou seja, , como queríamos demonstrar.

Exemplo: é o mmc entre e . é um múltiplo comum de e . É fácil verificar que


.

© Teoria dos Números | 24


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Na unidade sobre Números Primos, veremos mais propriedade do mmc.

Sejam e não nulos. O máximo divisor comum, ou MDC, como o próprio nome diz, é o
maior inteiro que divide e . A notação significa “d é o maior divisor comum entre a e
b”

Exemplo: Os divisores (positivos) de são: ; os divisores positivos de


são: . Portanto, .

Observação 1: É sempre possível encontrar o MDC entre dois números ambos não nulos, e
ele é sempre um número positivo (todo número é divisível por um, então o MDC entre dois núme-
ros, será, no mínimo, 1).

Observação 2: Não existe o MDC entre 0 e 0. Ficará como exercício para o leitor demonstrar
esse fato.

Observação 3: As notações “MMC” e “MDC” não são usuais em livros de Ensino Superior,
mas, uma vez que esta é uma disciplina voltada para estudantes de Licenciatura em Matemática,
convém utilizá-las, para nos aproximarmos mais do universo de trabalho do futuro professor.

A propriedade a seguir aparece como exercício no livro de Landau, mas é muito importante
para a Teoria dos Números, portanto, a demonstraremos:

Exercício 2, p 269: “Para e arbitrários, ambos não nulos, considere todos os números da
forma , onde e podem tomar quaisquer valores inteiros. Seja o menor número posi-
tivo desta forma. Mostre que .”

Essa propriedade é conhecida como Lema de Bézout.

A resolução desse exercício também está baseada no livro de José Plínio de Oliveira.

© Teoria dos Números | 25


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Resolução: Chamemos de o conjunto das combinações { }. Vamos escolher e


de forma que seja o menor inteiro positivo desse conjunto. Vamos provar que ,
por contradição, ou seja, suporemos que não divide e chegaremos a um absurdo.

Como não divide , o algoritmo da divisão nos diz que existem e tais que
, com .

Reescrevendo a equação, temos , ou seja,

. Distribuindo q, temos

. Colocando a em evidência, temos . Ou seja,


é uma combinação linear entre e , portanto pertence ao conjunto . Mas tínhamos que
, e havíamos escolhido como o menor elemento positivo de . Ou seja, teríamos um
outro elemento de , menor do que . Uma contradição. Portanto, .

Analogamente, prova-se que . Assim, é um divisor comum de e .

Agora, precisamos provar que .

Como d é um divisor comum de e , então, existem e tais que .

Então, podemos reescrever , como

Chamando , vemos claramente que


, ou seja, (q3 é o quociente).

Como , , mas não pode ser menor que , pois é o MÁXIMO divisor comum de
e .

Só nos resta a opção .

Resumindo o resultado do teorema: O MDC entre dois números é a menor combinação


linear positiva possível entre eles.

© Teoria dos Números | 26


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Exemplos: Considere os números e . Por tentativa, encontramos que a menor combina-


ção linear, positiva, possível é . Logo, .

Considere os números 15 e 90. A menor combinação linear possível entre eles é


. Portanto, .

Obviamente, com números muito grandes, é difícil encontrar a menor combinação linear
“por tentativa”. Por isso, logo veremos um método prático para encontrar o MDC entre dois núme-
ros.

Teorema 11. Sejam e não ambos nulos. Seja . Então valem as duas proprie-
dades:

1-) Se é um divisor comum qualquer de e , então

Em outras palavras, “O MDC entre e é divisível por qualquer divisor comum de e ”.

2-) Se ,e é o mmc positivo de e , então,

Demonstração:

 O teorema 6 nos mostra que um divisor de e divide qualquer combinação entre eles

Vimos na demonstração anterior que é uma combinação entre e , logo .

Exemplos: . é um divisor comum qualquer de 9 e 24. De fato, .

 Sem termos ainda estudados os números primos, a demonstração dessa propriedade é


um tanto quanto complicada. A retomaremos na unidade 2.

Portanto, por enquanto, nos limitaremos a entender seu significado: “O produto entre o
mmc e o MDC de dois números é igual ao produto entre esses números”.

Exemplo: MMC , MDC ; veja que .

© Teoria dos Números | 27


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

A propriedade 1 do teorema 11 é muito útil em demonstrações e exercícios. Como exemplo,


resolveremos o exercício 3 do livro de Landau.

Exercício 3, p. 269: Prove que , onde e e ambos não são nulos.

Observação: é um inteiro positivo qualquer, e não o mmc entre e !

Demonstração: Mostraremos que é um divisor comum de e . Em seguida,


suporemos que exista outro divisor comum de e , e concluiremos que tal número divide
.

Seja , então e ; Então , pela recíproca do teorema 3.

Agora, chamemos de outro divisor comum de e , ou seja, .

Pelo exercício 2 que resolvemos, existem e tais que

. Multiplicando ambos os lados por , temos . O lado direito


da equação é uma combinação linear de e , então, pelo teorema 6, , e,
consequentemente, .

Portanto, pelo teorema 11, .

Exemplo:

,e .

Definição 2. Dizemos que e são primos entre si se . Ou seja, o único divisor


positivo comum entre eles é . Obviamente, também é um divisor comum. Também dizemos que
é relativamente primo com .

Exemplos: , pois os divisores de são e , e os divisores de são e ;

, pois os divisores de são e os divisores de são ;

© Teoria dos Números | 28


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Atenção: Para qualquer outro inteiro diferente de ou , .

Exemplo: , e assim por diante.

Teorema 12: Se e não são ambos nulos, então . Esse fato é trivial! Os ele-

mentos em comum entre dois conjuntos A e B, certamente serão os mesmos entre os conjuntos B e
A, logo o maior elemento comum será o mesmo.

Teorema 13: Se , então

Demonstração: Seja tal que , então, pela recíproca Teorema 3,

(multiplicamos divisor e dividendo por ), . Ou seja, é um divisor comum de e ,

portanto , pelo Exercício 2 resolvido anteriormente.

Como , o teorema 3 (dividindo divisor e dividendo por ) nos mostra que . Portanto,

(Apenas os números e dividem ! Provar isso fica como exercício)

Exemplo: . Então,

Teorema 14: Se , , então . Ou seja, se é um divisor

comum entre dois números, e os quocientes entre números e forem primos entre si, então éo

MDC desses números.

Como o MDC entre existe, e não são nulos.

Se , então , pelo teorema 11. Portanto, é um inteiro.

Veja que e

© Teoria dos Números | 29


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Portanto, ( é o quociente)

e ( é o quociente).

Ou seja, é um divisor comum de e .

Mas, por hipótese, , portanto . O que só é possível se .

Exemplos:

Então, .

Então, .

Ou seja, um método para encontrar o MDC entre dois números é encontrar um divisor comum
entre eles, tal que os quocientes entre eles e esse divisor sejam primos entre si.

Assim como no resultado do exercício 2, esse obviamente não é o método mais prático para
encontrarmos o MDC entre dois números.

Teorema 15: Se e , então .

Ou seja, se um número divide o produto de dois números e é relativamente primo com um


deles, então ele divide o outro número

Demonstração: Por hipótese, (caso contrário, a não dividiria número algum)

Provaremos o teorema separadamente para e .

Se então ou , já que , e, portanto, .

Se , seja m o mmc positivo entre e , cujo MDC = 1. Pelo teorema 11, .

© Teoria dos Números | 30


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Por hipótese, é um múltiplo comum de e , o Teorema 9 (o mmc entre dois números


divide qualquer múltiplo comum entre esses números) nos mostra que , então, pelo
teorema 1, , e, pelo teorema 3, .

Exemplo: , que pode ser escrito como . , e, de fato, .

Teorema 16. Se , , para , então

Ou seja: “Se a divide o produto de v elementos, de modo que desses elementos


sejam relativamente primos com a, então, a, obrigatoriamente, divide um desses fatores.“

Demonstração: Se , temos que e , e caímos no Teorema 15.

Se , temos que e , . Basta chamarmos de , e teremos


que , . Então caímos novamente no Teorema 15. E assim sucessivamente; não
importa quantos fatores possuir o produto, podemos transformá-lo em um produto de apenas dois
fatores, e caímos no caso em que .

Observação: note que para demonstrar o teorema supomos válido que: se e


, então . A demonstração desse fato ficará como exercício.

Exemplo: . . De fato, é relativamente primo com ,e .

2.4. UMA APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE DIVISIBILIDADE: O ALGORITMO DE


EUCLIDES
Esse é um resultado nos ensina um método prático de encontrar o MDC entre dois números.
Ele está colocado como exercício no livro de Landau, mas o demonstraremos devido à sua impor-
tância.

O enunciado do exercício diz o seguinte:

Exercício 1, p 269: “Suponha, e . Faça e e determine


pelas relações:

© Teoria dos Números | 31


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

....

Mostre que , o último resto não nulo, é o máximo divisor comum de e ”.

ATENÇÃO: No livro, há um erro de digitação no enunciado do teorema. Na penúltima divisão,


lê-se , , quando o correto é
(falta o índice n no último resto).

Primeiro, vamos entender o que diz o enunciado do exercício. Ele afirma, que para encontrar
o MDC entre dois números a e b, devemos dividir a por b, e, em seguida, dividir o divisor dessa divi-
são pelo resto da mesma; depois, dividir o divisor da segunda divisão pelo segundo resto, e assim
sucessivamente, até encontrarmos resto 0. O resto da penúltima divisão será o MDC procurado.

Para facilitar o entendimento, façamos um exemplo.

Vamos descobrir o MDC entre e .

Portanto, segundo o algoritmo, o MDC entre e é igual a , o resto da penúltima


divisão.
Mais uma vez, resolução desse exercício também está baseada no livro de José Plínio de
Oliveira e pode ser encontrada na E-referência.

Para demonstrarmos a validade do Algoritmo de Euclides, utilizaremos o seguinte lema:

Lema: Se , então

© Teoria dos Números | 32


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Demonstração: Pelo teorema 6, se , concluímos que se um número divide e ,


então ele divide qualquer combinação linear entre e . Portanto, esse número divide .

Se reescrevermos a equação anterior, teremos que . Analogamente, um divisor


de e também será um divisor de . Em português claro: Um divisor de e também divide .
Mas um divisor de e também divide . Portanto, os divisores comuns de e são os mesmos
divisores comuns de e .

Portanto, .

Exemplo: . Pelo lema anterior, . É fácil verificar que o MDC em


questão é o número .

Agora, basta aplicaremos esse princípio no processo que utilizamos de exemplo:

Na última equação, temos, pelo lema, que .

Utilizando o fato na penúltima equação, .

Sucessivamente, teremos

E, finalmente,
, que é o que queríamos demonstrar.

Com esse exemplo em mente, podemos fazer a demonstração.

Demonstração do algoritmo de Euclides:

Considerando as relações:

© Teoria dos Números | 33


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

...

Na última divisão, como consequência do lema, temos que .

Analogamente, na penúltima divisão, teremos que .

Fazendo o processo linha a linha, das últimas para as primeiras, chegaremos em

E, finalmente,

Lembrando que, no enunciado do exercício, faz-se e , portanto


.

Ou seja, é o último resto não-nulo das sucessivas divisões, que é o que queríamos
demonstrar.

Façamos mais um exemplo: calculemos o MDC entre e :

Portanto, .

O leitor atento lembrará que o Algoritmo de Euclides lembra muito um método ensinado no
Ensino Fundamental: o “chiqueirinho”. E esse método não é nada mais do que o Algoritmo de
Euclides, com uma visualização mais interessante para os estudantes. A título de curiosidade, aos
futuros professores, vamos relembrá-lo. Precisaremos de três linhas e um número de colunas que
dependerá de cada caso. Na primeira coluna, linha do meio colocamos o primeiro dividendo. Na
coluna seguinte, o divisor. Acima do primeiro dividendo, colocamos o quociente, e, abaixo do
primeiro divisor, o resto. Após a primeira divisão, o primeiro dividendo passará a ser divisor, e o
primeiro resto ficará ao lado dele, na terceira coluna. E assim sucessivamente. Observe a Figura 1.

© Teoria dos Números | 34


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

q1 q2 ... qn-1 qn = (a,b)

a b r1 ... rn-2 rn-1 rn

r1 r2 ... rn-1 rn 0

Figura 1 Exemplo de “chiqueirinho”.

Façamos, então, o exemplo de , agora no “chiqueirinho”(Figura 2):

1 1 5 1 8 1 2 =
(1113,
600)

1113 600 513 87 78 9 6 3

513 87 78 9 6 3 0

Figura 2 “Chiqueirinho” para 1113 e 600.

Vídeo complementar _________________________________________________________________

Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.


 Para assistir ao vídeo, pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula, localizado na
barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso (Graduação), a categoria
(Disciplinar) e a Disciplina (Teoria dos Números – Complementar 1).
 Para assistir ao vídeo, pelo seu CD, clique no Botão – Vídeos Complementares, e sele-
cione: Teoria dos Números – Complementar 1.
________________________________________________________________________________________

3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES

Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você


compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

© Teoria dos Números | 35


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

3. 1. DIVISIBILIDADE: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES


Entender as definições introdutórias é fundamental para se entender o restante do conteúdo.
Uma vez compreendidas as definições e os teoremas apresentados nessa seção, o leitor pode se
aprofundar lendo abordagens diferentes para o mesmo tema. Tentar entendê-las é um modo de
verificar se realmente aprendeu

O primeiro link retoma o conceito de divisibilidade e algumas propriedades, e ainda apresenta


critérios de divisibilidade por vários inteiros, que podem ser úteis para professores do Ensino
Fundamental (páginas 1 e 2). Porém, o autor não demonstra a validade desses critérios. O segundo
link apresenta os critérios de divisibilidade por 2,3,4,5,6,7, 9, 11 e 13, com demonstrações. O
terceiro link apresenta, com riqueza didática, exemplos (sem demonstrações) de critérios de
divisibilidade, inclusive alguns poucos conhecidos, como os por 31 e por 49.

 BACELAR. R. Semana Olímpica 2007- Nível 1 - Divisibilidade e Resto. Disponível em:


<www.obm.org.br/export/sites/default/semana_olimpica/docs/2007/divisibilidade_e_rest
o.doc>. Acesso em: 11 dez. 2013.

 CRITÉRIOS MOSTRAM SE DIVISÃO É POSSÍVEL. Home page. Disponível em:


<educacao.uol.com.br/matematica/divisibilidade-1-criterios-mostram-se-divisao-e-
possivel.jhtm>. Acesso em: 11 dez. 2013.

 CRITÉRIOS DE DIVISIBILIDADE. Home page. Disponível em:


<http://matematica.no.sapo.pt/cdivisi.htm#m103b02>. Acesso em: 11 dez. 2013.

3. 2. O ALGORITMO DA DIVISÃO
O Algoritmo da Divisão nos diz que dados e qualquer, existe um único par de e
tais que:

, . Para demonstrarmos esse resultado, nos baseamos no Teorema de


Eudoxius, que não foi demonstrado. Uma demonstração desse teorema encontra-se na página 37
do primeiro link.

O segundo link traz a demonstração na qual foi baseada a demonstração dessa unidade
(encontra-se na página 4).

© Teoria dos Números | 36


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

 SISTEMAS DE NUMERAÇÃO. Home page. Disponível em:


<http://wwwp.fc.unesp.br/~mauri/TN/SistNum.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2013.

 SANTOS, O. de P. J. Introdução à Teoria dos Números. Disponível em:


<http://vigo.ime.unicamp.br/Projeto/20121/ms777/ms777_Viviane.pdf>. Acesso em:
11 dez. 2013.

3.3. MDC, MMC E O ALGORITMO DE EUCLIDES.


O primeiro link traz outra demonstração para o teorema de Bezout (página 3). O segundo link
traz uma breve biografia de Bezout, e o terceiro apresenta a demonstração do Algoritmo de Euclides
na qual nos baseamos (página 5).

 TEORIA DOS NUMEROS. Home page. Disponível em:


<http://www.mat.uc.pt/~mat0615/FolhasDelfos/NocoesBasicasTN.pdf>. Acesso em:
11 dez. 2013.

 BÉZOUT, E. Home page. Disponível em:


<http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/EtienBez.htm>. Acesso em: 11 dez. 2013.

 SANTOS, O. de P. J. Introdução à Teoria dos Números. Disponível em:


<http://vigo.ime.unicamp.br/Projeto/20121/ms777/ms777_Viviane.pdf>. Acesso em:
11 dez. 2013.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se
encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estu-
dados para sanar as suas dúvidas.

1) A partir da definição de divisibilidade, demonstre as propriedades a seguir, que vale para todos os
inteiros (utilize raciocínios semelhantes àqueles usados nos teoremas 1 a 6). Encontre exemplos para
cada propriedade demonstrada.

© Teoria dos Números | 37


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

a) .

b) .

c) Se , então ou (utilize o lema do Teorema 7).

d) .

e) Se e , então (utilize o lema do Teorema 7).

f) Se , , então

2) Mostre que não existe MDC entre 0 e 0.

3) Mostre que, se , o MDC entre e é 1 ou 2. Dica: Utilize o Teorema 5, o


resultado do exercício 3, p 269, do livro de Landau, que resolvemos nesse caderno, e o Teorema 11.

4) Procure dar um exemplo para essa propriedade.

5) Utilize o Lema de Bézout para mostrar que se e , então .


Encontre todos os números que, na divisão por 9, deixam resto igual ao quociente.

6) Utilizado o Algoritmo de Euclides, encontre o máximo divisor comum entre os seguintes números:

a) .

b) .

c)

d)

e)

Gabarito

Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:

1)

a) a = 1.a. 1 é o quociente, portanto a| a.

b) a = a.1. a é o quociente, portanto 1|a.

© Teoria dos Números | 38


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

c) Suponha que a seja diferente de 1 e de -1. Então |a| > 1 Então, pelo Lema do Teorema 7, a não
pode dividir 1.. Portanto, Se a | 1, então a = 1 ou a = -1.

d) 0 = 0.a, portanto a|0.

e) Se a|b, então, pelo Lema do Teorema 7, |a| ≤|b|; e, se b|a,

|b| ≤ |a|. Só nos resta que

|a| = |b|.

f) Se a| b, então b = qa. Então q = b/a, ou seja, b/a é um inteiro. Multiplicando b/a por a, teremos:

b b
xa  b -> | b
a a

Ou seja, e o quociente é a.

Os exemplos ficam a cargo do leitor.

2) Como visto na letra d do exercício 1, todo inteiro é um divisor de 0. Logo, existe infinitos divisores de
0, não havendo um maior divisor. Portanto, não existe (0,0)

3) Seja f o MDC entre (a+b) e (a-b). Pelo teorema 5, f|(a + b) + (a + b) e f|(a + b) - (a + b), ou seja,

f|2a e f|2b. Portanto, f é um divisor comum entre 2a e 2b, e, pelo Teorema 11, f divide o MDC de 2a e
2b. Por hipótese, (a,b) = 1, e, pelo exercício 3 que resolvemos, (2a,2b) = 2(a,b) = 2.1 = 2. Ou seja, f|2.
Logo, pelo Lema do Teorema 7, só nos resta f= 1 ou f = 2.

4) Mostre que, se (a, b) = 1, o MDC entre (a + b) e (a -b) é 1 ou 2. Dica: Utilize o teorema 6 e o resultado
do exercício 3, p 269, do livro de Landau, que resolvemos nesse caderno.

5) Se (a,b) = 1, então existem x e y tais que ax + by = 1. Multiplicando a igualdade por c, temos que
acx + bcy = c
Como (a,c) = 1, existe s e t tais que as + ct = 1. Substituindo c pelo resultado da equação anterior,
temos que as + (acx + bcy)t = 1 → as + acxt + bcyt = 1 → a(cxt + s) + bc(yt) = 1.

Como cxt + s e yt são inteiros, temos que existem z e w tais que ax + bcw = 1, o que, pelo Lema de
Bézout, só é possível se (a, bc) = 1.

© Teoria dos Números | 39


Unidade 1 – Divisibilidade, MMC e MDC

Como q = r, utilizando o algoritmo da divisão, teremos: x = 9r + r → x = 10r

Como 0 ≤ r < 9, basta substituir os inteiros de 0 a 8 na equação.

Encontraremos como respostas: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, e 80.

6) O leitor resolverá facilmente esses exercícios baseando-se nos exemplos da seção 2.4
As respostas são:

a) 5 b) 3 c)3 d)1 e)13.

5. CONSIDERAÇÕES

Chegamos ao final da primeira unidade, na qual você aprendeu a definição e as propriedades


da divisibilidade. Também entrou em contato com muitas demonstrações relativas à Teoria dos
Números e foi convidado a demonstrar alguns resultados, nos Exercícios. Além disso, acompanhou a
demonstração de dois resultados importantíssimos para a Matemática, e que com certeza utilizará
como futuro professor: O Algoritmo da Divisão e o Algoritmo de Euclides para a obtenção do MDC
entre dois números.

Na próxima unidade, você aprenderá as propriedades que envolvem os números primos.

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LANDAU, E. Teoria elementar dos números. Editora Ciência Moderna, 2002.

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UNIDADE 2 – Números primos

UNIDADE 2
Números Primos

Objetivos
 Compreender a definição de números primos e suas propriedades.
 Entender a demonstração do Teorema Fundamental da Aritmética.
 Entender como se descobre a quantidade de divisores de um inteiro, e quais são esses divisores.

Conteúdos
 Números primos: e propriedades.
 O Teorema Fundamental da Aritmética e suas consequências.
 O Crivo de Erastóstenes.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Sempre que se deparar com uma definição, tente compreendê-la por meio de exemplos. Tente
criar seus próprios exemplos, além daqueles fornecidos por esse Caderno de Referência de
Conteúdo. Só assim você realmente entendera o significado de cada conceito.
2) Procure refazer as demonstrações no papel. Apenas lê-las não é o suficiente. Reescreva linha por
linha, mas não como uma simples cópia, mas sim, tentando entender cada passo. É assim que se
entende uma demonstração.
3) Tanto essa, como as demais unidades, são baseadas basicamente no livro de Landau.
4) Não, são, porém, um resumo. Sabe-se que a escrita matemática é muito concisa, portanto, se
resumíssemos o que há é conciso, não haveria sentido escrever esse Caderno de Referência de
Conteúdo. O objetivo aqui é escrever com uma linguagem mais acessível, procurar explicar passo
a passo as demonstrações, e fornecer muitos exemplos.
5) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos nos Conteúdos Digitais
Integradores.

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UNIDADE 2 – Números primos

1. INTRODUÇÃO

Continuando nosso estudo em Teoria dos Números, veremos outro conceito, que, tal como
divisibilidade, é de suma importância para toda a Matemática: os números primos. Assim como na
Unidade 1, reveremos temas que são aprendidos no início de nossa alfabetização matemática, ou
seja, no Ensino Fundamental, mas que nunca haviam sido demonstradas.

Tais temas são: o Teorema Fundamental da Aritmética, que garante que todo inteiro pode
ser representado, de forma única, como um produto entre primos; a técnica que nos permite des-
cobrir quais e quantos são os divisores de um número; e também o Crivo de Erastóstenes, que nos
permite verificar se um número é primo ou composto.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA

O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta uni-
dade. Para sua compreensão integral é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos
Digitais Integradores

2. 1. O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA.

Os resultados essenciais à Teoria dos Números são aqueles relacionados à questão de divisi-
bilidade. Portanto, a definição abaixo é a que norteará todo o nosso curso:

Definição 3. O número a > 1 é dito número primo se só tiver dois divisores positivos (1 e a).

Exemplos: 2 é um número primo, pois é divisível por 1 e por 2; 3 é um número primo, pois só
é divisível por 1 e por 3; 5 é um número primo, pois só é divisível por 1 e por 5; 101 é um número
primo, pois só é divisível por 1 e por 101. É fácil verificar essa propriedade para pequenos números,
apenas efetuando o algoritmo da divisão entre a e todos os positivos menores do que a e verifican-
do se ocorre resto zero para divisores além de 1 e de a. E para números muito grandes? Existe um
método? Essa questão será respondida em breve.

Observação: 1 não é um número primo, pois possui somente um divisor positivo (o próprio 1).
Para evitar confusões, convém definir número primo como aquele que possui exatamente dois divi-
sores positivos.

A partir de agora, usaremos a letra p e os símbolos p1, p2, p3, ….., p', p'', …. para representar
somente primos.

Nosso propósito agora é demonstrar o resultado mais importante dessa Unidade, que, não
por acaso, chama-se Teorema Fundamental da Aritmética, que diz o seguinte:

Todo número a > 1 pode ser representado como um produto de números primos, a não ser
pela ordem dos fatores, essa representação é única.

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UNIDADE 2 – Números primos

Primeiro, vamos dar exemplos. Trata-se da famosa fatoração que aprendemos no Ensino
Fundamental. Ou seja, 3= 3, 12 = 2.2.3, 144 = 2.2.2.2.3.3, 168 = 2.2.2.3.7, e assim por diante.

Desde pequenos, portanto, sabemos fatorar. Mas o importante desse Teorema é que ele ga-
rante que todo número inteiro maior que 1 pode ser escrito dessa maneira, e que essa fatoração é
única, ou seja: podemos escrever 12 = 2.2.3 ou 12 = 2.3.2, ou 12 = 3.2.2; são 3 possibilidades dife-
rentes de escrita, mas só a ordem dos fatores é alterada; em todas elas, o número 2 aparece duas
vezes, e o número 3, uma vez. Esse teorema é tão relevante à Teoria dos Números, pois, a partir
dele, desenvolvemos desde métodos mais práticos para calcular mmc e mdc, a aplicações mais
complexas como métodos de criptografia de mensagens.

Landau demonstra esse teorema em duas etapas: primeiro ele garante que a fatoração em
primos existe para todos os inteiros, e em seguida demonstra outros teoremas preliminares que
garantem que essa fatoração é única, desconsiderando a ordem dos fatores.

Sigamos, então, esse caminho:

Teorema 17: Todo a > 1 pode ser representado como um produto de números primos

Em linguagem simbólica, temos que:

r
a   pn, r  1
n 1

Essa é conhecida como a decomposição canônica de a.

Note que se a for um número primo, não há o que demonstrar. A fatoração será o próprio
número.

Nessa demonstração, é utilizado o Segundo Princípio da Indução Finita. Caso o leitor não este-
ja lembrado, pode consultar o Tópico E-Referência listada ao final dessa unidade.

Lembremos rapidamente do funcionamento do Segundo Princípio da Indução:

Verificamos que a propriedade a ser demonstrada é válida para o menor elemento do conjun-
to com que estamos lidando.

Suporemos válida a propriedade para todos os inteiros, a partir desse menor elemento, até o
antecessor de a. Se provarmos que isso implica que a propriedade também vale para a, então está
provado nosso teorema.

Demonstração

Sabemos que essa propriedade vale para o número 2, que é primo.

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UNIDADE 2 – Números primos

Suponha que essa propriedade vale para 2,3,4, … ,a - 1. Analisemos o que ocorre com a.

Se a for primo, acaba nossa demonstração.

Se a não for primo, então, de acordo com a Definição 3, ele possui divisores diferentes de 1 e
de a, logo existem a1 e a2 tais que a = a1a2, com 1< a1 < a e 1 < a2 < a.

Mas, se a1 e a2 são menores que a, então, pela nossa hipótese de indução, a1 e a2 podem ser
escrito como produtos de primos, e obviamente a1a2 também é representável como um produto de
primos. Como a = a1a2, a pode ser escrito como um produto de primos, e assim acaba nossa de-
monstração.

Definição 4. Todo número maior que 1 que não for primo é chamado de número composto.

Ou seja, 6 é um número composto, pois possui quatro divisores (1,2,3, e 6); 13 é um número
primo, pois só possui 1 e 13 como divisores; 27 é um número composto, 29 é um número primo.

Observação: O número 1 não é classificado nem como primo, nem como composto.

É fácil verificar que existem infinitos números compostos. Basta tomar qualquer natural (o 2,
por exemplo) e verificar que ele possui infinitos múltiplos (2x1, 2x2, 2x3, 2n, no geral).

Teorema 18. Existem infinitos primos.

Demonstração: Vamos mostrar que a qualquer conjunto finito de primos, podemos acres-
centar um outro primo.

Chamemos de p1, p2, … , pv os primos pertencentes a esse conjunto finito. Consideremos o


v
produto p1.p2.p3. … , pv-1.pv, representado por p
n 1
n .

v
Agora, adicionemos 1 a esse produto, e teremos o número : a   pn  1.
n 1

Esse número, obviamente, é maior do que 1, então, pelo Teorema Fundamental da Aritmética,
pode ser escrito como um produto de primos. Então, ele deveria ser divisível por, pelo menos, um
número primo. Mas esse número primo não está entre p1 e pv, pois a divisão de a por qualquer um
desses números deixaria resto 1! Logo, existe um número primo que não está nesse conjunto.

Para a demonstração ficar mais clara, façamos um exemplo.

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UNIDADE 2 – Números primos

Exemplo: Consideremos como conjunto finito de primos, o formado pelos números 2,3 e 5.

Considere o produto 2x3x5 = 30. Se somarmos 1 a esse produto, teremos o número 31. O lei-
tor pode verificar que 31 é um número primo.

Teorema 19. Se então (p,a) = 1.

Ou seja: se um número primo não divide um certo inteiro, então ele e esse inteiro são primos
entre si.

Demonstração: os divisores de p são apenas 1 e p. Então, se p possuir um divisor em comum


com a, esse divisor só poderá ser 1 ou p. Mas, por hipótese, , logo eles só possuem o 1 como
divisor comum. Logo, (p,a) = 1.

Exemplo: . Então (13,20) = 1.

v
Teorema 20. Se p |  an , então para ao menos um valor de n, temos .
n 1

Ou seja: Se um número primo divide um produto de inteiros, então ele divide pelo menos um
desses inteiros.

Demonstração: Essa é uma consequência direta do Teorema 16 demonstrado na Unidade 1.

Suponhamos, por absurdo, que p não divida nenhum dos an. Então teríamos, pelo teorema 19,
que (p,an) = 1.

v
Pelo teorema 16, p não dividiria o produto a
n 1
n , o que contradiz nossa hipótese.

Exemplo: , que pode ser escrito como .

Agora, vamos ao último teorema necessário para provar a unicidade da decomposição de um


inteiro em fatores primos:

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UNIDADE 2 – Números primos

v
Teorema 21. Se p |  pn , então para ao menos um valor de n temos p = pn.
n 1

Ou seja, se um primo divide um produto de fatores primos, então ele é igual a pelo menos um
desses fatores.

Demonstração: O teorema 20 nos diz que se um número primo divide um produto de inteiros,
ele divide pelo menos um desses inteiros. Nesse caso, temos um produto de primos, então p divide
pelo menos um dos pn. Mas, por ser primo, pn só é divisível por 1 e por pn, e, por definição, p ≠ 1. Só
nos resta que p = pn.

Exemplo: . Pelo teorema 17, 42 pode ser representado como um produto de fatores
primos. Então, pelo teorema que acabamos de ver, 7 é um desses fatores.

De fato, .

Agora, finalmente, provaremos a unicidade da representação de um inteiro como fatores pri-


mos.

Teorema 22. A representação de qualquer número a > 1

r
da forma a   pn, r  1 é única, a não ser pela ordem dos fatores.
n 1

Demonstração: Suporemos que existem duas representações distintas para a como produto
de fatores primos. Em uma, os fatores serão p1, p2, … , pv, e na outra, serão p'1, p'2, … , p'v.

v v'
Sendo assim, teremos a   pn   p ' n.
n 1 n 1

Suporemos, por praticidade, que p1 ≤ p2 ≤ …≤ pv, e p'1 ≤ p'2 ≤ p'v.

Precisamos mostrar que a quantidade de termos nessas duas representações é a mesma, ou


seja, que v = v'; e que cada um dos termos da representação da esquerda, é igual a um dos termos
da representação da direita, ou seja, que pn = p'n, para 1 ≤ n ≤ v.

Mais uma vez, utilizaremos o Segundo Princípio da Indução.

Para a = 2, a afirmação é verdadeira, afinal a única representação possível é 2 = 2.

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UNIDADE 2 – Números primos

Agora, suponhamos que o teorema é válido para 2,3,4,..., a – 1, e mostraremos que ele vale
para a.

Se a for primo, não há o que demonstrar. Sua única representação possível é a = a.

Agora, suponhamos que a não seja primo. Como cada fator de sua decomposição o divide,
v v'
temos que p ' 1 |  pn, p1 |  p ' n.
n 1 n 1

Pelo teorema 21, p'1 é igual a pelo menos um dos primos do produto p1...pv, e p1 é igual a pelo
menos um dos primos do produto p'1...p'v. Ou seja, p1 faz parte da sequência p'1, p'2, … , p'v,, o que
implica que p'1 ≤ p1 ; e p'1 faz parte da sequência p1, p2, … , pv., o que implica que p1 ≤ p'1.

Mas se p'1 ≤ p1 e p1 ≤ p'1, só podemos ter p'1 = p1

Agora, precisamos provar que p'2 = p2, p'3 = p3, …., p'v= pv

a
Sabemos que 1 < p1 < a, e que , portanto será um inteiro menor do que a e maior do
p1
v v'
a
que 1, o que podemos escrever assim: 1    pn   p ' n  a .
p1 n  2 n2

Mas, pela hipótese de indução, a unicidade é válida para todos os números menores do que
a
a , logo ela também é válida para , ou seja, v = v', e pn =p'n, para todo n. Está demonstrado o
p1
nosso teorema, e o leitor poderá pedir a seus futuros alunos que efetuem a fatoração de um inteiro,
com a consciência de que essa fatoração é única.

O teorema seguinte é importante por dois motivos: nos permite encontrar todos os divisores
de um número, e também mostra que é capaz de saber quantos são os divisores de um número,
sem ter de encontrá-los um a um.

2.2. ENCONTRANDO OS DIVISORES DE UM INTEIRO


r
Teorema 23. Seja a > 1, seja T(a) o número de divisores positivos de a, e seja a   pnln a de-
n 1
r
composição canônica de a. Então a tem como divisores positivos os números p
n 1
n
mn
,0 ≤ mn ≤ ln

para 1 ≤ n ≤ r , e esses são todos.

r
Assim, T (a )   (ln  1) .
n 1

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UNIDADE 2 – Números primos

Observação: No livro, há um erro de digitação no enunciado do teorema. Está faltando o n


subscrito sob p.

Como a notação apresentada é um tanto quanto confusa, vamos primeiro entender o enunci-
ado do teorema com um exemplo

Se fizermos a decomposição de 36, teremos 36 = 2x2x3x3. Ou seja, 36 = 2².32. Essa é o produto


2
representado na decomposição canônica do Teorema. Nesse caso, temos que 36   pn , em que n
ln

n 1

vai até dois, pois na decomposição só aparecem os dois primeiros primos. Ou seja, p1 = 2 e p2 = 3.

Já ln é a potência que aparece para cada um na decomposição, ou seja, l1 = 2 e l2 = 2, pois, 2 e 3 es-


tão elevados a 2.

2
Então, 36 tem como divisores positivos os números da forma p
n 1
mn
n , com 0 ≤ m1 ≤ 2, 0 ≤ m2 ≤

2, e para 1 ≤ n ≤ 2.

Ou seja, os divisores de 36 são todos os produtos possíveis entre 2 e 3, com expoentes indo
de 0 e 2. Tais números são: 20.30, 20.31, 20.32, 21.30, 21.31, 21.32, 22.30, 22.31, 22.32, que por sua vez
são 1x1, 1x3, 1x9, 2x1,2x3, 2x9, 4x1, 4x3 e 4x9. Efetuando os produtos e colocando os resultados em
ordem, os divisores de 36 são 1,2,3,4,6,9,12,18 e 36.

2
E a quantidade de divisores será dada por T (36)   (ln  1) , sendo que l1 = 2 e l2 = 2. Ou seja,
n 1

a quantidade de divisores de 36 é o resultado do produto 3x3 = 9.

Esse é um dos não raros casos na Matemática em que entender o enunciado de um teorema
é mais difícil do que entender o teorema em si! Vamos à demonstração:

r
Demonstração: Todo número da forma p
n 1
n
mn
divide a, pois cada número é um produto en-

tre divisores de a. Um número que não seja dessa forma, não o será por dois motivos: Ou porque
um dos termos do produto não é uma das potências de pn, ou seja, não é um divisor de a; ou porque
um dos termos do produto é um dos pn elevado a uma potência maior do que a que aparece na de-
composição canônica. Mas esse número seria maior do que todos os divisores de a, logo também
não seria um divisor.

r
Logo os números da forma p
n 1
n
mn
são os únicos que dividem a.

© Teoria dos Números | 48


UNIDADE 2 – Números primos

Há uma maneira visualmente mais agradável de encontrar os divisores de um número, dife-


rente daquela exemplificada no enunciado do teorema. Vamos utilizá-la para encontrar, mais uma
vez, os divisores de 36.

Trata-se de realizar a fatoração do número, colocando em uma coluna seus fatores primos. Em
seguida, a partir da segunda linha, multiplica-se o fator primo por todos os fatores das linhas acima,
sem a necessidade de repetir multiplicações, obviamente. Assim, teremos todos os divisores do nú-
mero.

Lembrando que o 1 é divisor de qualquer inteiro, os divisores de 36 são 1,2,3,4,6,9,12,18 e 36.

Lembre-se de que não é necessário encontrar todos os divisores para saber a quantidade de-
les.

Por exemplo, a fatoração de 64 é :

Logo, 64 = 26. O expoente dos fatores primos é 6, portanto a quantidade de divisores de 64 é


(6+1)= 7.

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UNIDADE 2 – Números primos

2.3. UMA APLICAÇÃO DOS NÚMEROS PRIMOS: O MÁXIMO DIVISOR COMUM E O


MÍNIMO DIVISOR COMUM.
Esses resultados aparecem no Capítulo 3 do livro de Ladau. Para não afetarmos a continui-
dade da numeração dos teoremas que estamos seguindo, enunciaremos agora duas proposições:

r r
Proposição 1. Considere as fatorações de a e b mostradas a seguir: a   pn , b   pn .
kn ln

n 1 n 1

r
Então, o máximo divisor comum de a e b é (a, b)   pn , em que mn = min {kn , ln}.
mn

n 1

O enunciado dessa proposição significa que: fatorando dois inteiros, encontramos dois produ-
tos de primos, cada um elevado a um certo expoente. O máximo divisor comum entre esses inteiros
será o produto dos primos que a e b têm em comum em suas fatorações, elevados aos menores
expoentes entre as duas fatorações.

Exemplo: 36 = 2²x3², e 120 = 2³x3¹x5¹

Essas decomposições possuem dois fatores em comum: 2 e 3. O 2 aparece com o menor ex-
poente na primeira, como 2². O 3 aparece com o menor expoente na segunda, com 3¹. Portanto
(36,120) = 2²x3¹ = 4x3 = 12

A demonstração dessa proposição é muito simples.

Demonstração: Sabemos que cada primo que as decomposições de a e b tiverem em comum,


será um divisor comum de a e b, bem como um produto entre eles. Mas cada primo não pode apa-
recer com um expoente maior do que aparece em ambas as decomposições. Ou seja, se mn for
maior do que kl, por exemplo, não dividirá o número a. Por isso devemos pegar os menores expo-
entes para cada pn.
pnmn
Perceba que esse resultado nos dá outra maneira de calcular o MDC entre dois números , dife-
rente do Algoritmo de Euclides. Basta fazer a decomposição simultânea dos dois números, e efetuar
o produto dos fatores que coincidem.

Exemplo:

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UNIDADE 2 – Números primos

Portanto,

r r
Proposição 2. Considere as fatorações de a e b mostradas a seguir: a   p , b   pn .
kn ln
n
n 1 n 1

r
Então, o mínimo múltiplo comum de a e b é (a, b)   pnmn , em que mn = max {kn , ln}.
n 1

O enunciado dessa proposição nos diz que o mínimo múltiplo comum entre dois números
será o produto entre todos os primos que aparecem em ambas as fatorações, elevados ao maior
expoente entre as duas decomposições.

Exemplo: 36 = 2²x3², e 120 = 2³x3¹x5¹

Os fatores que aparecem são os números 2, 3, e 5, sendo que o 2 aparece com o maior expo-
ente em 2³, e o 3 aparece com o maior expoente em 3². Portanto, o mínimo múltiplo comum entre
36 e 120 é 2³x3²x5 = 72x5 = 360.

O leitor deve estar se perguntando: “por que, na proposição sobre o MDC, utilizamos os fato-
res que apareciam em comum, e para o MMC, utilizamos todos os fatores?” Veja, que, na verdade,
o 5 também aparece na fatoração de 36, afinal 50 = 1, e, portanto, 36 = 2²x3²x50. Então, podemos
dizer rigorosamente, que, sim, estamos tomando os fatores em comum entre os dois números, mas
os que tiverem o maior expoente, obviamente, não serão os elevados a zero.

Agora, a demonstração do teorema.

Demonstração: Pela definição da Unidade 1, sabemos que, se m é o mmc entre a e b, então e


. Se, por exemplo, na fatoração de a houver um primo pn com um expoente kn maior do que o
expoente mn do mesmo primo pn na fatoração de m, ou seja, se tivermos , então a não dividirá
m. Por isso, precisamos dos maiores expoentes.
pnkn  pnmn
Perceba que esse Teorema nos apresenta à clássica técnica de encontrar o mmc entre dois in-
teiros: decompô-los simultaneamente, e, em seguida, multiplicar todos os fatores obtidos.

Exemplo:

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UNIDADE 2 – Números primos

Portanto, o mmc entre 36 e 120 é igual a 2x2x2x3x3x5 = 360.

Agora, podemos demonstrar a segunda parte do Teorema 11 apresentado na Unidade 1.

Teorema 11. Sejam a e b não ambos nulos. Seja d = (a,b). Então valem a propriedade:

2-) Se a > 0, b > 0, e m é o mmc positivo de a e b, então md = ab.

Demonstração: Com as Proposições 1 e 2 demonstradas acima, a demonstração é trivial.

Sabemos que m é o produto de todos os fatores primos que aparecem nas decomposições de
a e b, elevados ao maior expoente que aparecer nas duas fatorações. Por sua vez, d é o produto de
todos os fatores primos que aparecem nas decomposições entre a e b. Na decomposição do produ-
to ab, obviamente aparecerão todos os fatores de a e b, tanto os de menor expoente quanto os de
maior expoente. O mesmo acontecerá se fizermos o produto md. Portanto, md = d.

Exemplo: 36 = 2²x3², 120 = 2³x3¹x5¹

MDC(36,120) = 2²x 3¹; mmc(36,120) = 2³x3²x5¹;

MDC(36,120).mmc(36,120) =2²x3¹x2³x3²x5¹;

E 36.120 = 2²x3²x2³x3¹x5¹

Como previmos teoricamente, todos os fatores de 36 e 120 apareceram em ambos os produ-


tos, que darão o mesmo resultado (a saber, 4320).

2.4. UMA APLICAÇÃO DO TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA: O CRIVO DE


ERASTÓTENES
Esse é um resultado muito importante, principalmente quando falamos de Matemática Básica,
mas é omitido no livro de Landau.

Esse resultado nos diz que:

Se n não é primo, então n possui, necessariamente, um fator primo menor do que ou igual a
a .

Em termos práticos, isso significa que, para descobrirmos se um número a é primo ou não,
basta tentarmos dividi-lo por todos os primos menores do que sua raiz quadrada. Se nenhum deles
dividir a, então a é primo.

Faremos a demonstração, e depois daremos um exemplo.

Demonstração: Se a é composto, então a = a1..a2, com 1 < a1 < a e 1 < a2 < a

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UNIDADE 2 – Números primos

Suponhamos que a1 ≤ a. Então a1  a pois, caso contrário, o produto a1..a2 seria maior do que
ax a  a . Ou seja, teríamos . Assim, concluímos que pelo menos um dos divisores de a
é menor do que ou igual a sua raiz quadrada.

Exemplo: Queremos saber se o número 439 é primo. Primeiro, precisamos estimar sua raiz
quadrada. Sabemos que 20.20 = 400, e 21.21 = 441. Portanto, 20  439  21 .

Por tentativa, vemos que 2ł439, 3ł439, 5ł439, 7ł439, 13ł 439, 17ł439. O próximo primo seria
23, que já é maior do que a raiz de 439. Portanto 439 é primo.

O crivo de Erastóstenes, também é útil para determinar quais são os primos em uma certa se-
quência de inteiros.

Se quisermos saber, por exemplo, quais são os primos de entre 1 e 50. Sabemos que a raiz de
50 está entre 7 (pois 7² = 49) e 8 (pois 8² = 64). Os primos menores do que a raiz de 50, portanto,
são 2,3,5 e 7. Se excluirmos os múltiplos desses números na sequência de 2 a 50, sobrarão apenas
números primos. Por quê? Porque a raiz deles, obviamente, é menor do que 10.

Na sequência a seguir, riscamos todos os múltiplos de 2,3,5, e 7 (exceto os próprios, obvia-


mente). Os que sobraram são os primos até 50.

3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES

Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você com-
preender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. NÚMEROS PRIMOS E O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA

Para demonstrarmos o Teorema Fundamental da Aritmética, utilizamos o Princípio da Indu-


ção.
Uma explicação do primeiro princípio da Indução pode ser conferido no primeiro link.

O segundo link apresenta a relação entre os números primos e o Teorema Fundamental da


Aritmética, para o 6º ano do ensino fundamental. Já o terceiro link apresenta outra demonstração
do Teorema Fundamental da Aritmética (páginas 2 e 3.)

 USP. O principio da Indução finita. Disponível em:


<http://ecalculo.if.usp.br/ferramentas/pif/pif.htm>. Acesso em: 28 set. 2020.

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UNIDADE 2 – Números primos

 CARVALHO, F. R. Números primos e o teorema fundamental da aritmética no sexto ano


do ensino fundamental. Disponível em: <https://sca.profmat-
sbm.org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=78679>. Acesso em: 28 set. 2020.
 UNESP. Introdução à Teoria dos Números. Disponível em:
<http://vigo.ime.unicamp.br/Projeto/2012-1/ms777/ms777_Viviane.pdf>. Acesso em:
28 set. 2020.

3. 2. QUANTIDADE DE DIVISORES DE UM INTEIRO, MMC E MDC.

O primeiro link apresenta uma explicação sobre quantidade de divisores voltada para ensino
básico. O segundo links mostram as relações entre números primos, mmc e MDC (ler o terceiro link
a partir da página 43)

 CLUBE DE MATEMÁTICA. Contagem de divisores. Disponível em:


<http://clubes.obmep.org.br/blog/teoria-dos-numeros-um-pouco-sobre-divisibilidade-
parte-2/um-pouco-sobre-divisibilidade-numero-de-divisores/>. Acesso em: 28 set.
2020.
 ALBUQUERQUE, I. B. Matemática elementar. Disponível
em:<http://www.mat.ufpb.br/sergio/provas/me_i/LIVRO_TEXTO_MATEMATICA_ELEM
ENTAR.pdf>. Acesso em: 28 set. 2020.

3.3. O CRIVO DE ERATÓSTENES.

Os dois primeiros links são voltados para o 6º ano do ensino fundamental, sendo que o se-
gundo se trata de uma dissertação de mestrado que traz atividades sobre o Crivo de Eratóstenes,
páginas 60 a 67, relacionadas a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O terceiro link apresenta
uma demonstração para o Crivo de Eratóstenes (p. 6, Teorema 11).

 MENDES, A. R. L.; COSTA, M. N. R. M.; SOUSA, V. F. P. O Crivo de Eratóstenes. Dis-


ponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm2001/icm31/crivo.htm>. Acesso em:
28 set. 2020.
 MACEDO, C. E. de C.; Números primos, nossos amigos únicos. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/55/55136/tde-10102019-
083934/publico/CarlosEduardodeCarvalhoMacedo_revisada.pdf>. Acesso em: 28 set.
2020.
 GROOT, V. E. Introdução à Teoria dos Números Disponível em:
<http://vigo.ime.unicamp.br/Projeto/2012-1/ms777/ms777_Viviane.pdf>. Acesso em:
28 set. 2020.

© Teoria dos Números | 54


UNIDADE 2 – Números primos

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se
encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estu-
dados para sanar as suas dúvidas.

1) Prove que T(a) é ímpar se e só se a é um quadrado perfeito. Observação: T(a) é o número de divisores de a.
Lembre-se de que quadrado perfeito é o número cuja raiz quadrada é um número inteiro. Pense no que deve
haver de especial com os expoentes dos fatores primos de a para que ele seja um quadrado perfeito.
2) Utilizando o Crivo de Erastóstenes, encontre todos os números primos de 1 a 200.
3) Determine a quantidade de divisores dos seguintes números:

a) 100

b) 64

c) 2431

d) 613

e) 850

f) 727

g) 312

Gabarito

Confira, a seguir, as respostas corretas para as Questões Auto Avaliativas propostas:

1) Primeiro é preciso relembrar algumas propriedades de Matemática Básica envolvendo raiz quadrada.

Admitiremos verdadeiro que:

a) c
a cd  a d .
b) ab  a b .

Se i é um número ímpar ai nunca será um quadrado perfeito, pois não será possível aplicar a propriedade (1) em
ai .

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UNIDADE 2 – Números primos

Por outro lado, se j for um número par, ou seja, um número da forma j = 2k aj sempre será um quadrado perfei-
to, pois sempre será possível aplicar a propriedade (1) em a j  a2k  ak .

Ou seja, um número é quadrado perfeito se, e somente se, for possível representá-lo como uma potência de
expoente par.

r
Seja a  p
n 1
ln
n a decomposição canônica de a.

r
Pela propriedade (2), a   pnln . .
n 1

Para que a seja um quadrado perfeito, então cada ln. Deve ser par.

r
Portanto T ( a )   (l
n 1
n  1) será um produto de números impares, o que

resulta em um número ímpar.

Provamos que se a é um quadrado perfeito, T(a) é um número ímpar.

Agora precisamos provar que se T(a) é um número ímpar, então a é um quadrado perfeito.

Um número só é ímpar se sua decomposição for um produto de fatores ímpares, obviamente. Se houvesse um
fator par, esse número seria divisível por 2.

r
Logo, se a  p
n 1
ln
n é ímpar, então (ln + 1) é ímpar, para todo n, então ln é par.

E, se cada ln é par, então a é um quadrado perfeito.

Exemplo: 100 é um quadrado perfeito, afinal sua raiz quadrada é 10. Sua decomposição canônica é 100 = 2².5².
De fato, T(100) = (2+1).(2+1) = 3.3 = 9, um número ímpar.

48 não é um quadrado perfeito (sua raiz está entre 6 e 7). A decomposição canônica de 48:

T(48) = (4+1).(1+1) = 10, um número par.

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UNIDADE 2 – Números primos

A raiz de 200 está entre 14 e 15, pois 14² = 196 e 15² = 225.

2) Os primos até 14 são 2,3,5,7, e 11. Então, basta escrever todos os números entre 1 e 200 e excluir os múltiplos
de 2,3,5,7 e 11.

Teremos os seguintes números:

r
3) Decompondo cada número e utilizando a relação T ( a )   (l
n 1
n  1) ,as respostas serão:

a) 9.

b) 7.

c) 8.

d) 2.

e) 12.

f) 2.

g)16

Note que para os quadrados perfeitos (letras a e b), foram encontradas quantidades ímpares de divisores, con-
firmando o que provamos no exercício 3.

5. CONSIDERAÇÕES

Chegamos ao final da Unidade 2, na qual você aprendeu a definição e as propriedades dos


números primos. Também acompanhou a demonstração do Teorema Fundamental da Aritmética.
Verificou que certos mecanismos ensinados no Ensino Fundamental, como encontrar os divisores de
um número, a quantidade de divisores, e também encontrar o mmc e o MDC entre dois números,
não são tão triviais, e foram demonstrados aqui.

Na próxima unidade, você aprenderá o que é Congruência Modular, um conceito que ajuda a
resolver muitos problemas envolvendo divisibilidade.

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LANDAU, E. Teoria elementar dos números. Editora Ciência Moderna, 2002.

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UNIDADE 3

Congruências

Objetivos

 Compreender a definição de congruência modular e suas propriedades.


 Entender o que são congruências lineares e como resolvê-las.
 Entender o que são equações diofantinas e como elas são úteis para resolver congruências.

Conteúdos

 Congruência: definição e propriedades.


 Congruência linear.
 Equações diofantinas.
 O Teorema Chinês do Resto.

Orientações para o estudo da unidade

Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1. Assim como nas unidades anteriores, sempre que se deparar com uma definição, tente
compreendê-la através de exemplos. Tente criar seus próprios exemplos, além daqueles
fornecidos por esse Caderno de Referência de Conteúdo. Só assim você realmente entenderá
o significado de cada conceito.
2. Procure refazer as demonstrações no papel. Apenas lê-las não é o suficiente. Reescreva linha
por linha, mas não como uma simples cópia, mas sim, tentando entender cada passo. É
assim que se entende uma demonstração.
3. Até o presente momento, essa é a unidade que mais se difere do respectivo capítulo no livro
de Landau. Isso se deve, pois o livro em questão não apresenta muitos exemplos e exercícios
práticos. Por isso, incluímos muito conteúdo que não está no livro, e excluímos outros. O
leitor pode consultar os Conteúdos Digitais Integradores como referências para além do
livro.

© Teoria dos Números | 58


UNIDADE 3 – Congruências

1. INTRODUÇÃO

O conceito de congruência é muito útil para estudar características que se repetem de acordo
com uma certa frequência. Por exemplo, se no dia 2 de um certo mês for Quarta-Feira, também
serão Quartas-Feiras os dias 9, 16, 23 e 30. Podemos escrever esse resultado da seguinte maneira: A
Quarta-Feira será no dia 7k + 2, em que k é um inteiro que vai de 0 a 4. Não podemos passar do nú-
mero 4, pois excederíamos o número de dias de um mês.

Considere agora um relógio de ponteiros, que marca, agora, 9h00. Que horário ele marcará
daqui a 7 horas? Não basta fazermos 9 + 7, pois não há o número 16 no relógio. Devemos fazer 9 +
7, e, em seguida, subtrair 12, encontrando a resposta correta, que é 4h.

Nos inteiros, uma propriedade que sempre se repete com uma mesma frequência é a de um
número ser múltiplo de outro. Os múltiplos de 5, por exemplo, se repetem de 5 em 5. Se dividirmos
um número por 5, só podemos obter 5 tipos de restos: 0,1,2,3, 4. Se obtivermos resto 7, é porque
fizemos algo errado na conta, já que 7 ultrapassa o maior resto possível, que é 4. O resto correto
seria 7 – 5 = 3.

Por exemplo, um aluno desavisado divide 22 por 5 e encontra, como quociente, 3, e , como
3x5 =15, o resto seria 7. Porém, o quociente correto é 4, e como 4x5 = 20, o resto correto é 2.

Portanto, todo número inteiro pode ser classificado em cinco classes, de acordo com o resto
de suas divisões por 5: 0, 1, 2, 3, ou 4. Mas podemos também dividir os números em sete classes, de
acordo com o resto de suas divisões por 7: 0, 1, 2, 3, 4, 5, e 6. De modo geral, dado um número m,
todos os inteiros podem ser divididos em m classes.

Todas as ideias expostas acima serão formalizadas daqui em diante.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA

O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta uni-
dade. Para sua compreensão integral é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos
Digitais Integradores.

2. 1. CONGRUÊNCIA: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES

Assim como Landau, nessa unidade, a letra m será sempre um inteiro maior que zero.

Definição 13. a é dito congruente a b módulo m, e é escrita da seguinte forma:

Notação: .

a é dito incongruente módulo m, se .

© Teoria dos Números | 59


UNIDADE 3 – Congruências

Notação: .

Vamos entender o que significa essa definição. Tomemos a = 17 e m= 5.

, pois . Lemos que “17 é congruente a 2 módulo 5”. Por outro lado,

, pois . Então, “17 não é congruente a 4 módulo 5”.

Na definição, não há restrição quanto ao valor de b. Ele pode ser negativo, portanto,

, pois .

, pois .

O valor de b também pode ser 0. Nesse caso, teremos

, pois .

Obviamente, a≡0(modm) somente quando m for um divisor de a.

O conceito de congruência deve satisfazer a três propriedades, a saber: reflexividade, simetria


e transitividade.

A título de exemplo, veja que o conceito de igualdade também satisfaz essas propriedades:

Reflexividade: Todo número é igual a si mesmo (a = a).

Simetria. Se a = b, então b = a.

Transitividade: Se a = b e b = c, então a = c.

Observação: relações que satisfazem a reflexividade, simetria e transitividade são chamadas


de relações de equivalência.

Agora, provemos essas propriedades para o conceito de congruência.

Teorema 45. (Reflexividade). Sempre temos .

Demonstração: a – a = 0, e .

Exemplo: .

© Teoria dos Números | 60


UNIDADE 3 – Congruências

Teorema 46. (Simetria). Se a ≡ b(mod m), então b ≡ a(mod m).

Demonstração: Pela hipótese, m|a – b. Pelo teorema 1 da Unidade 1, m também divide o


oposto de a – b, ou seja, m|b – a, portanto b ≡ a(mod m).

Exemplo: ,e .

Teorema 47. (Transitividade). Se a ≡ b(mod m) e b ≡ c(mod m),então a≡ c(mod m).

Demonstração: Por hipótese, temos que m|a – b e m|b – c. Pelo teorema 6 da Unidade 1, sa-
bemos que m divide qualquer combinação entre (a – b ) e (b – c). Então m| (a – b) + (b – c), ou seja,
m|a – c. Portanto, a≡ c(mod m).

Exemplo: e , então, . Verifique as três


congruências!

A transitividade é útil para simplificar congruências.

Por exemplo, dividindo 200 por 53, teremos resto 41. Então 200 ≡ 41(mod 53).

Porém, é fácil verificar que 41≡-12(mod 53), então podemos escrever 200≡-12(mod 53).

Encontrar essas congruências equivalentes pode ser útil em alguns cálculos. De modo geral, para
simplificar uma congruência a≡b (mod m), com b > 0, basta fazer a ≡ b – m (mod m).

Se b < 0, convém fazer a ≡ m + b (mod m). Por exemplo, 11 ≡ -4(mod 5), então 11 ≡ 1(mod 5).

No exercício 1 dessa Unidade, o leitor provará que essas simplificações sempre valem.

O leitor atento já deve ter percebido que o conceito de congruência está intimamente ligado
ao de resto de uma divisão. Se, por exemplo, subtrairmos 2 de 17, o resultado será divisível por 5.
Portanto, .

O próximo teorema formaliza essa questão.

Teorema 48. Segundo o Algoritmo da Divisão, dados c e m, existe um único par de q e r, tal
que c = qm + r, 0 ≤ r < m.

Chamaremos r de resíduo de c módulo m. Então a ≡ b (mod m) vale se e somente se, a e b


possuem o mesmo resíduo módulo m.

Em outras palavras, a ≡ b (mod m) se, e somente se, o resto da divisão de a por m for igual ao
resto da divisão de c por m.

© Teoria dos Números | 61


UNIDADE 3 – Congruências

Lembremos que, para teoremas que contém a expressão se, e somente se, precisamos provar
a ida e a volta, ou seja, precisamos provar:

1) Se a e b possuem o mesmo resíduo módulo m, então a ≡ b (mod m).


2) Se a ≡ b (mod m), então a e b possuem o mesmo resíduo módulo m.

Demonstração:

1) Por hipótese, a = q1m + r, e b = q2m + r.

Fazendo a – b, temos a – b = q1m + r - (q2m + r) = (q1 – q2)m. Então m|a – b ((q1 – q2) é o quo-
ciente). Então então a ≡ b (mod m). Para provar a segunda parte, chamemos q1 – q2 de q.

2) Temos que, para algum par de q1 e r, a = q1m + r, 0 ≤ r < m.

Por hipótese, m|a – b. Então a – b = qm. Isolando b, temos b = a + qm. Substituindo a, temos

b = q1m + r + qm . Então b = (q1 + q)m + r. Ou seja, o quociente da divisão de b por m é (q1 + q),
e o resto é r, o mesmo da divisão de a por m.

Exemplo: , pois o resto da divisão de 17 por 5 é 2, e o resto da divisão de 2


por 5 também é 2 (o quociente é 0).

A partir de agora, usaremos a palavra resíduo em vez de resto.

Dizemos que os números que possuem o mesmo resíduo módulo m pertencem à mesma clas-
se de equivalência (ou classe residual) módulo m.

Exemplo: O número 4 gera 4 classes de equivalência.

A primeira classe é dos números da forma a = 4k, ou seja, os múltiplos de 4.

A segunda é a dos números da forma b = 4k + 1, ou seja, os números deixam resto 1 quando


divididos por 4, ou ainda os números com resíduo 1 módulo 4.

A terceira classe é a dos números da forma c = 4k + 2, ou seja, aqueles com resíduo 2 módulo
4.

A quarta classe é a dos números da forma c = 4k + 3, ou seja, os números da forma c ≡ 3(mod


4)

Veja, que, portanto, as seguintes afirmações são equivalentes: “a deixa resto b quando dividi-
do por m”; “a possui resíduo b mod m”. “a ≡ b(mod m)”. É importante estar familiarizado com essa
linguagem e entender seu significado.

Para efeitos de abreviação, quando escrevermos somente , estará implícito que


, para algum m.

© Teoria dos Números | 62


UNIDADE 3 – Congruências

Teorema 49. Se , , então e .

Ou seja, assim como fazemos com a igualdade, é possível “somar congruências” e “subtrair
congruências”.

Demonstração: Por hipótese, m|a – b e b|c – d, então, pelo Teorema 6 da Unidade 1, m| (a –


b) + (c – d), o que pode ser reescrito como m|(a + c) - (b + d), ou seja, a + c ≡ b + d.

Exemplo: ,

Então:

v v
Teorema 50. Se an≡bn, para n = 1,..., v, então a  b
n 1
n
n 1
n

Ou seja, é possível somar “sequências de congruências”.

Perceba que essa é uma generalização do Teorema 49.

Demonstração. É simples provar esse fato por Indução. No teorema 49, já provamos para n =
2.

Agora, supomos que essa propriedade seja válida para todos os inteiros de 1 até n – 1.

v 1 v 1
Ou seja, supomos que  an   bn .
n 1 n 1

Podemos reescrever os somatórios da seguinte maneira:

v
 v 1  v
 v 1 
a
n 1
n    an   an
 n 1 
b
n 1
n    bn   bn
 n 1 
e .

v v
Combinando a hipótese de indução com o teorema 49, temos que  an   bn .
n 1 n 1

Exemplo:

© Teoria dos Números | 63


UNIDADE 3 – Congruências

, ,

Então:

Teorema 51. Se então .

Ou seja, assim como é possível multiplicar igualdades por um inteiro qualquer, também é pos-
sível “multiplicar congruências” por qualquer inteiro.

Demonstração: Por hipótese, . Então, pelo Teorema 4 da Unidade 1, .

Logo, o que significa que .

Exemplo: 11 ≡ 3 (mod 8), então 22 ≡ 6 (mod 8), -33 ≡ -9 (mod 8), 110 ≡ 30 (mod 8), e assim
por diante. Verifique que tais congruências são verdadeiras!

Teorema 52. Se e , então .

Ou seja, assim como é possível “multiplicar igualdades”, também é possível “multiplicar con-
gruências”.

Demonstração: Aplicando o teorema 51 na hipótese, temos que e .

Pelo teorema 47 (transitividade), concluímos que .

Exemplo: , . Então .

v v

 an   bn
n 1 n 1
Teorema 53. Se , para n = 1,..., v, então .

Ou seja, é possível multiplicar “sequências de congruências”.

Demonstração: Assim como foi possível demonstrar o Teorema 50, por indução, a partir do
teorema 49, é possível provar esse teorema a partir do teorema 52. Deixaremos como exercício pa-
ra o leitor (esse é o Exercício 2 ao final desta Unidade).

Teorema 54. Se a ≡ b, v > 0, então av ≡ bv.

© Teoria dos Números | 64


UNIDADE 3 – Congruências

Demonstração: Essa é uma consequência direta do Teorema 53, em que a1,a2,...,an = a, e


b1,b2,...,bn = b.

Exemplo: , então , ou seja, .

Com os Teorema 53 e 54, é possível provar resultados interessantes.

Exemplo: Mostre que é divisível por 47.

Podemos escrever 223 como 210.210.23. Sabemos que 210 = 1024. Se dividirmos 1024 por 47, te-
remos resto 37. Ou seja, 10 ≡ 37(mod 47), somando 10 unidades a 37, obtemos um múltiplo de 47,
então, pela transitividade, 10 ≡-10 (mod 47). (Escrever assim simplificará nossas contas).

Além disso, 2³ = 8. Precisamos somar 39 unidades ao 8 para obter um múltiplo de 47, então 8 ≡ -
39(mod 47)

Pelo Teorema 53, temos que 210.210.23 ≡ (-10)(-10)(-39) (mod 47) ≡ -3900 (mod 47).

Para mostrar que -3900 ≡ 1 (mod 47), basta dividirmos -3901 por 47. Teremos um resultado exato (-
83), portanto 223 – 1 é divisível por 47.

Exemplo: Mostre que é divisível por 7.

Precisamos encontrar uma potência de n de 2, tal que seja divisível por 7.

Sabemos que isso ocorre com 8 = 2³. Então, podemos escrever que (mod 7).

Utilizando o Teorema 54, podemos fazer (mod 7). Então (mod 7), que é
o que queríamos.

Exemplo: Calcule o resto da divisão de 2100 por 9.

Sabemos que (mod 9). Então (mod 9). Ou seja, (mod 9)

Aplicando o Teorema 51, temos que (mod 9) → (mod 9).

Vimos, nos teoremas anteriores, que é possível somar, subtrair, multiplicar e fazer potências
de congruências, de modo que elas continuem valendo.

Isso nos leva ao teorema 55:

n
Teorema 55. Seja f  x   c0  c1 x   cn x   cvx uma função polinomial com coeficien-
n v

v 0

tes inteiros. Se a≡ b, então f(a)≡ f(b)

© Teoria dos Números | 65


UNIDADE 3 – Congruências

Demonstração: Este teorema não é nada mais do que uma combinação dos resultados dos te-
oremas 50, 51 e 54.

Exemplo: Considere o polinômio f(x) = x² + 2x +1. Como 11 ≡ 3 (mod 8), então f(11)≡f(3) (mod 8)

De fato, , ,e .

2. 2. CONGRUÊNCIAS LINEARES.

Nosso objetivo, agora, é estudar congruências do tipo ax ≡b(mod m), ou ainda ax – b ≡


0(mod m), em que a, b e m são dados e x é uma variável. Apesar de Landau não usar essa nomencla-
tura (e nós a usaremos, pois os demais autores a utilizam), uma congruência desse tipo é chamada
de congruência linear (pois x está elevado a 1).

Por exemplo, 4x ≡ 3 (mod 5) é um exemplo de congruência linear. Testando os inteiros a partir


do 0, vemos que x = 2 é uma solução. Mas será que é a única solução? Será que toda congruência
linear possui solução? Essas respostas serão respondidas com bases nos teoremas que demonstra-
remos a seguir.

Definição 14. Chamaremos de números de soluções, ou número de raízes, de uma congruên-


cia f(x) ≡ 0 a quantidade de números no conjunto x = 0,..., m -1 que satisfazem a congruência, ou
seja, o número de classes residuais cujos membros satisfazem a congruência.

Exemplo: Considere a congruência 5x ≡ 3( mod 7)

Segundo a definição, queremos saber suas soluções para 0 ≤ x < 7. Por tentativa, vemos que a
relação vale apenas para x =2. Portanto, essa congruência possui apenas uma solução, que gera a
classe x = 5k + 2, para k inteiro.

Exemplo: Considere a congruência (não-linear) x²≡1 (mod 8).

Essa congruência pode ser escrita como x²-1≡0 (mod 8).

De acordo com a definição, queremos saber suas soluções para 0 ≤ x < 8. Por tentativa, vemos
que a relação vale para x = 1, 3,5 e 7, mas não vale para x = 0, 2, 4 ou 6. Portanto, a congruência x²
≡ 1 (mod 8) possui quatro soluções.

Exemplo: Considere agora a congruência linear 5x≡3( mod 7), que pode ser escrita como 5x - 3
≡ 0(mod 7)

Testando os números 0,1,2,3,4,5 e 6, vemos que a solução vale apenas para x = 2. Essa classe
residual pode ser escrita da forma x = 7k + 2, com k inteiro.

© Teoria dos Números | 66


UNIDADE 3 – Congruências

Vimos, até agora, que muitas das propriedades que utilizamos com a igualdade, vale também
para a congruência. A saber: Somar congruências, multiplicar congruências entre si, e multiplicar
congruências por um inteiro. Nos resta verificar se é possível dividir ambos os lados de uma con-
gruência por um mesmo número, propriedade muito utilizada nas igualdades, conhecida como “lei
do cancelamento”.

Por exemplo, se 2x = 4, podemos dividir ambos os lados por 2, então x = 2.

Queremos saber se podemos fazer isso como congruências também.

A resposta é: nem sempre. Basta tomarmos um contraexemplo.

Temos que 36 ≡ 3(mod33). Dividido ambos os lados por 3, teríamos 12 ≡ 1 (mod 33), o que é
falso, já que 33 não divide 11.

O próximo teorema nos diz em quais casos o cancelamento é possível.

Teorema 56. Se ac ≡ bc, (c,m) = 1, então a ≡ b.

Ou seja, é possível dividir ambos os lados de uma congruência módulo m por um número, se
esse número for relativamente primo com m.

Demonstração: Por hipótese, . Colocando c em evidência, temos


que .

Lembremo-nos do teorema 15 da Unidade 1: “se um número divide o produto de dois núme-


ros e é relativamente primo com um deles, então ele divide o outro número”. Como (m,c) = 1, segue
que m|(a – b).

Exemplo:

. Como (2,7) = 1, podemos dividir ambos os lados por 2, o que resulta


, que é verdade.

Perceba que o Teorema 56 não nos diz o que acontece se a e c não forem primos entre si. Ou
seja, será que há algum caso em que é possível efetuar o cancelamento nessas condições?

O Teorema 57 responde nossa dúvida.

 m 
a  b  mod 
Teorema 57. Se ac ≡ bc (mod m), então  (c, m ) 

© Teoria dos Números | 67


UNIDADE 3 – Congruências

Ou seja, se dividirmos ambos os lados de uma congruência módulo m por um certo número,
devemos dividir m pelo MDC entre m e esse número.

Demonstração: Essa não é nada mais do que uma generalização do Teorema 56.

Por hipótese, m|(ac – bc), ou seja, m|(a – b)c.

c m
Então (a – b)c = qm. Dividindo ambos os lados por (c,m), temos que ( a  b) q .
(c, m ) ( c, m )

c m
Pela definição de MDC, e são inteiros. Então, pela equação anterior, temos
(c, m ) (c, m )
m
que | ( a  b) .
(c, m )

Exemplo:

Voltemos ao contra exemplo que havíamos utilizado: 36 ≡ 3(mod 33). Já vimos que não po-
demos simplesmente dividir ambos os lados por 3. O Teorema 57 nos mostra que devemos dividir
33 por (3,33) = 3.

Então, temos que , o que é verdade.

O Teorema 15 nos mostrou que é possível multiplicar ambos os lados de uma congruência por
qualquer inteiro, e ela continuará verdadeira. Agora veremos que é possível mais do que isso.

Teorema 58. Seja c > 0. Se a ≡ b(mod m), então ac ≡ bc(mod m)

E, se ac ≡ bc(mod m), então a ≡ b(mod m).

Demonstração: Essa é uma consequência direta do Teorema 3.

Se m|(a - b), então cm|c(a – b) e a recíproca é verdadeira.

Exemplo: (mod 5). Multiplicando todos os termos por 5, temos que (mod 25),
o que é verdade.

Observação: Essa propriedade não é estudada para c < 0 pois contraria a definição de con-
gruência módulo m, em que m é sempre maior do que 0.

Teorema 59. Se a ≡ b(mod m), n > 0, n|m, então a ≡ b(mod n).

© Teoria dos Números | 68


UNIDADE 3 – Congruências

Demonstração: Essa é uma consequência do Teorema 2 da Unidade 1.

Se n|m e m|(a – b), então n|(a – b). Logo, a ≡ b(mod n).

Exemplo: 27 ≡ 7 (mod 10). Como 5|10, então 27 ≡ 7 (mod 5), o que é verdade.

Teorema 61. Se a ≡ b (mod m), então (a,m) = (b,m).

Demonstração: Por hipótese, m|(a – b) ou seja, a – b = qm, logo b = a + mq. Ou seja, b é uma
combinação linear entre a e m, e, pelo teorema 6, (a,m)|b. Ou seja, (a,m) é um divisor de b e de m,
então, pelo teorema …, (a,m)|(b,m).

Analogamente, podemos escrever que a = b + mq e deduzir que (b,m)|(a,m). Então, só resta


que (a,m) = (b,m).

Exemplo: 26 ≡ 2(mod 4). De fato, (26,4) = (2,4) = 2.

Em particular, se (a,m) = 1, então (b,m) = 1. Ou seja, os números em uma classe residual ou


são todos relativamente primos com m ou nenhum o é.

Exemplo: Os resíduos mod 4 possíveis são 0, 1, 2, e 3.


Nenhum número da forma 4k + 0, será relativamente primo com 4, pois 0 não o é. Todos os núme-
ros da forma 4k + 1 serão relativamente primos com 4, pois o número 1 o é. Nenhum número da
forma 4k + 2 será relativamente primo com 4, pois o número 2 não o é. E, por fim, todos os núme-
ros da forma 4k + 3 serão relativamente primos com 4, pois 3 o é.

Definição 15. Um conjunto completo de resíduos (mod m) é um conjunto de m números, cada


um deles congruente a 0,1,..., m -1 (mod m).

Exemplo: Alguns conjuntos completos de resíduos (mod 5) podem ser:

{0,1,2,3,4}, {0,11,22,33,44}, {-2,-1,0,1,2}, {-7,-6,0,6,7}. Note que o segundo e o terceiro conjun-


tos estão ordenados de modo que cada membro corresponde ao membro de mesma posição no
primeiro conjunto. Já com o terceiro isso não ocorre. Tente reorganizá-lo de acordo que o primeiro
elemento seja congruente a 0(mod 5), o segundo congruente a 1(mod 5), e assim por diante.

Observação: Note que em qualquer conjunto completo de resíduos (mod m), os elementos
são todos incongruentes (mod m) entre si.

Assim, a definição 14 pode ser reescrita da seguinte maneira:

O conjunto de soluções de f(x) ≡ (mod x) é o número de soluções tomadas em qualquer con-


junto completo de resíduos.

© Teoria dos Números | 69


UNIDADE 3 – Congruências

Definição 16. Um conjunto reduzido de resíduos mod m é um conjunto de números incongru-


entes mod m entre si, e todos relativamente primos com m.

Exemplo: O conjunto {0,1,2,3,4,5} é um conjunto completo de resíduos mod 6, mas não é um


conjunto reduzido, pois 0,2,3, e 4 não são relativamente primos com 6. Então um conjunto reduzido
de resíduos mod 6 seria o conjunto {1,3,5}.

Notação: Representamos a quantidade de elementos de um conjunto reduzido de resíduos


mod m por . Ou seja, . Essa é conhecida como a função ϕ de Euler.

Teorema 62. Se (k,m) = 1, e a1, … , am é um conjunto completo de resíduos mod m, então a1k
,a2k, … , amk também o é.

Ou seja, multiplicando todos os números de um conjunto completo de resíduos mod m por


um inteiro relativamente primo com m, estaremos gerando outro conjunto completo de resíduos.

Demostração: Precisamos tomar dois membros do conjunto {a1k,a2k … , amk} e mostrar que
eles são incongruentes entre si.

Suponhamos, então, que ark ≡ ask(mod m), com 1 ≤ r < m, 1 ≤ s < m

O teorema 56 nos mostra que podemos dividir ambos os lados por k,já que (k,m) = 1, então

ar≡ as(mod m). Como ar e as pertencem a um conjunto completo de resíduos mod m, só nos
resta que ar = as.

Concluímos que dois termos do conjunto {a1k,a2k … , amk} só são congruentes mod m se fo-
rem o mesmo termo, ou seja, dois termos distintos serão incongruentes. Portanto esse conjunto é
um conjunto completo de resíduos.

Exemplo: {0, 1, 2, 3} é um conjunto completo de resíduos mod 4. Multipliquemos todos os


elementos por 7. O conjunto {0,7,14,21} também é um conjunto completo de resíduos mod 4.

Teorema 63. Se (k,m) = 1 e a1, … , a ϕ(m) é um conjunto reduzido de resíduos mod m então
também o é a1k, a2k … , aϕ(m)k.

Ou seja, multiplicando todos os números de um conjunto reduzido de resíduos mod m por um


inteiro relativamente primo com m, estaremos gerando outro conjunto completo de resíduos.

Demonstração: Os elementos do conjunto {a1k, a2k … , aϕ(m)k} devem satisfazer a duas condi-
ções: serem relativamente primos com m e serem incongruentes entre si.

© Teoria dos Números | 70


UNIDADE 3 – Congruências

A primeira condição é satisfeita é satisfeita, pois se ar e k são relativamente primos com m, en-
tão ark também o será.

A segunda condição é satisfeita pois os elementos de um conjunto reduzido de restos, obvia-


mente, também são elementos de um conjunto completo de restos, portanto vlae o que foi provado
no teorema 62 quanto a incongruência entre si.

Teorema 64. Se , então a congruência tem exatamente uma


solução.

Demonstração: Pelo Teorema 62, o conjunto do números de 0 até m-1, multiplicados por
qualquer inteiro, formam um conjunto completo de resíduos mod m.

Note que a congruência do enunciado pode ser escrita como ax ≡ -a0(mod m). Ou seja, es-
tamos buscando uma das classes de equivalência mod m.

Pelo Teorema 62, o conjunto do números de 0 até n-1, multiplicados por qualquer inteiro,
formam um conjunto completo de resíduos mod m. Em particular, podemos multiplicar esses núme-
ros por a. Então o conjunto {0a, 1a,2a,..., (n -1)a} é um conjunto completo de resíduos mod m, e,
portanto, possui exatamente um elemento que seja congruente a -a0(mod m). x, é, portanto um
número entre 0 e (m– 1).

Exemplo: Esse teorema nos ajuda muito a resolver congruências lineares por tentativas. Por
exemplo: Para resolver a congruência 5x≡3(mod 24) teríamos, a princípio, que testar todos os valo-
res de 0 a 23. Porém, como (5,24) = 1, sabemos que essa congruência só tem uma solução; portan-
to, assim que encontrarmos um x que satisfaça a relação, podemos parar de procurar.

Peguemos então alguns múltiplos de 24: 24, 48, 72, 120. Somamos, 3 a cada um deles, pois
sabemos que 5x - 3≡0(mod 24). Teremos 27, 51, 75, 123. Qual desses números é divisível por 5? 75,
resultando em 15. Portanto x = 15. De fato, 5.15 ≡3(mod 24).

Como sabemos que a congruência só admite uma solução, não precisamos mais procurar.

Observação: Alguns autores, em vez de escrever, como solução, x =15, escrevem


. Assim, descreve-se todos os infinitos inteiros números que satisfazem essa
congruência, representados por uma classe de equivalência. Também poderíamos escrever x = 24k
+ 15, para descrever todas as soluções possíveis. Mas lembremos, que, dentro de um conjunto
completo de resíduos 0,1,...,23, a solução é uma só: x = 15.

A pergunta óbvia que se segue é: E se a e m não forem relativamente primos? A resposta vem
a seguir:

Teorema 65. A congruência ax + a0 ≡ 0(mod m) é solúvel se e só se (a,m)|a0.

© Teoria dos Números | 71


UNIDADE 3 – Congruências

Neste caso, o número de soluções será igual a (a,m), e a congruência é satisfeita por precisa-
m
mente todos os números x numa certa classe residual mod .
( a, m)

Demonstração: A demonstração do livro de Landau omite muitos passos, portanto tente entender
essa explicação menos sucinta:

1) Primeiro, devemos demonstrar a ida da afirmação, ou seja, “ se ax + a0 ≡ 0(mod m) é solúvel,


então (a,m)|a0.”

Se ax + a0 ≡ 0(mod m) é solúvel, então, pelo teorema 61, (ax,m) = (-a0,m).


Sabemos que, se (a,m)|a, então (a,m)|ax. E, por definição, (a,m)|m.
Logo, pelo Teorema xxxxx, (a,m)|(ax,m) , e, portanto, (a,m)| (-a0,m), o que implica que (a,m)|a0

Agora, precisamos provar a volta, ou seja, “se(a,m)|a0, então ax + a0 ≡ 0(mod m)”.

Suponha que (a,m)| ao.

Então ao ≡ 0(mod (a,m)), e -ao ≡ 0(mod (a,m)).

Aplicando a “lei do cancelamento” na equação ax ≡ -a0(mod m), temos que


a  a0  m 
x
 a,m   a,m   (a, m) 
 mod (*)

 a0
Por hipótese,  a,m  é um inteiro, então faz sentido resolver a congruência (*) acima. E, pelo

 a m 
teorema 13 da Unidade 1,  ,   1 , portanto a congruência (*) tem solução.
 ( a, m) ( a, m) 

Pelo Teorema 58, podemos multiplicar todos os termos por (a,m), e voltamos a=a0(mod m),
que agora sabemos ter solução.

2) Se (a,m)|a0, então, segundo o Teorema 64, a congruência (*) possui exatamente uma solu-
ção
m
mod .
( a, m)

Então, aplicando o Teorema 58 e transformando (*) em a=a0(mod m), teremos (a,m) soluções,
m
pois, se d>0 e d|m, então uma classe residual mod m, quando fazemos mod   , se divide em d
d
classes residuais diferentes.

© Teoria dos Números | 72


UNIDADE 3 – Congruências

Exemplo: Considere a congruência linear 25x ≡ 15 (mod 120).

Como (25, 15) = 5, temos que essa congruência possui 5 soluções. Aplicando a lei do cancela-
mento, temos que 5x ≡ 3(mod 24). Nós já resolvemos essa congruência anteriormente, encontrando
x ≡ 15(mod 24), ou x = 24k + 15. Se fizermos k = 0, temos a primeira solução, que é 15.

Fazendo k = 1,2,3, e 4, teremos as demais soluções, a saber: 39, 63, 87, 111.

Assim, as soluções são: x ≡ 15(mod 120), ou x ≡ 39(mod 120) x ≡ 63(mod 120), x ≡ 87(mod
120), x ≡ 111(mod 120).

Que tal conferir com sua calculadora se essas soluções são válidas?

Também é bom frisar que é sempre possível simplificar uma congruência linear, encontrando
outra equivalente.

Exemplo 2x≡73(mod 7)

Qual o número mais próximo de 73 que seja congruente a 0 mod 7? Trata-se do 70, obviamen-
te.

Temos que subtrair 3 de 73 para chegarmos a 70, então 73 ≡ 3(mod 7).

Utilizando a propriedade da transitividade, chegamos em 2x≡3(mod 7), ficando mais fácil re-
solver por tentativas. Nesse caso, x≡ 5(mod 7)

Porém, outros métodos são necessários quando as tentativas se tornam trabalhosas.

Por isso precisamos estudar as chamadas equações diofantinas.

2.3. EQUAÇÕES DIOFANTINAS.

Nomeadas em homenagem ao considerado “Pai da Álgebra”, Diofanto de Alexandria, equa-


ções diofantinas são aquelas em que as variáveis podem assumir apenas valores inteiros.

Estudaremos mais dessas equações na Unidade 4, mas, por enquanto, nosso interesse é lidar
com a seguinte equação: ax + by = 1 (a e b são constantes dadas, e x e y os valores que queremos
descobrir).

O leitor atento lembrará que vimos algo muito semelhante na Unidade 1. Tratava-se do Le-
ma de Bézout, que garantia que, sendo (a,b) = d, então existiam x e y tais que .

Então, se na equação ax + by = 1, se a e b forem primos entre si, sempre haverá uma solu-
ção, pois, nesse caso, d = 1. E, se a e b não forem primos entre si, não haverá solução, pois o Exercí-
cio 2 da página 269, que resolvemos, garantia que (a,b) = d é o menor inteiro tal que ax + by = d.

© Teoria dos Números | 73


UNIDADE 3 – Congruências

Façamos um exemplo para mostrar como encontrar x e y.

Exemplo: Encontre x e y tais que 5x + 17y = 1.

Primeiro, verificamos que , o que é verdade.

Agora aplicaremos o Algoritmo de Euclides até chegarmos no resto 1. Concomitantemente,


vamos isolando em cada linha, os números que ficam sem coeficientes.

Agora, substituímos, na última linha, os números que possuem coeficientes pelos valores iso-
lados na linha de cima.

5 – 2.2 = 1

5 – 2.(17- 3.5) = 1

7.5 – 2.17 = 1

O leitor pode verificar que essa sentença é verdadeira (sempre verifique após resolver uma equação
diofantina, pois é muito fácil errar!).

Logo, os coeficientes são x = 7 e y = -2.

Agora, um exemplo um pouco mais trabalhoso. Resolvamos a equação 37x + 8y = 1.

Aplicamos o Algoritmo de Euclides até chegarmos no resto 1 e, concomitantemente, isolamos


em cada linha, os números que ficam sem coeficientes.

Chegando ao resto 1, vamos substituindo agora, os valores com coeficientes do lado direito,
por aqueles que isolamos nas linhas acima.

Então temos:

1 = 3 – (5-3) → 1 = 3 – 5 + 3 → 1 = 2.3 - 5

1 = 2.(8-5) - 5 → 1 = 2.8 – 2.5 - 5 → 2.8 -3.5

1 = 2.8 - 3(37 – 4.8) → 1 = 2.8 – 3.37 + 12.8

1 = 14.8 -3.37

© Teoria dos Números | 74


UNIDADE 3 – Congruências

Tente refazer os dois exemplos por conta própria! Eles são realmente confusos. De qualquer
modo, tais exemplos serão refeitos na videoaula.

Após entendê-los, resolva os exemplos do exercício ao final desta Unidade.

Agora, qual a relação entre a resolução dessas equações com as congruências lineares?

Precisamos agora definir o que é o inverso de x mod m.

Definição. Chamaremos de inverso de x mod m, o número a tal que aa≡ 1(mod m).

Exemplo: O inverso de 7 mod 9 é 4, pois 4.7 = 28 ≡ 1(mod 9).

Note que essa definição é bem semelhante à usual que usamos para a multiplicação!

Note, saber o inverso de um número ajuda muito a resolver uma congruência linear.

Tome, por exemplo, a congruência (1)

Sabemos que 4.7≡ 1(mod 9), o que pode ser escrito como 1 ≡ 4.7(mod 9). Multiplicando por x
em ambos os lados, temos x ≡ 4.7x(mod 9).

Agora, multiplicando (1) em ambos os lados por 4, temos que .

Aplicamos agora o Teorema (transitividade) :

Oras, se x ≡ 4.7x (mod 9) e 4.7x ≡ 4.8(mod 9), então x ≡ 4.8(mod 9), ou seja, x ≡ 32(mod 9).

Pronto, a solução de nosso problema é do tipo x = 9k + 32.

Fica mais elegante encontrarmos uma solução menor do que 9. Basta fazermos k = -3, e tere-
mos x ≡ 5(mod 9).

Resumindo: Tomando a congruência 7x ≡ 8 (mod 9) e multiplicando ambos os lados por 4, te-


mos: .

Agora, você pode estar se perguntando: como achar o inverso de 7 mod 9, sem ser por tenta-
tiva?

Voltamos a equação diofantina 7x + 9y = 1.

Portanto,

1 = 7 – 3.2

© Teoria dos Números | 75


UNIDADE 3 – Congruências

1 = 7 – 3.(9 – 7)

1 = 7 – 9 + 3.7

1 = -9 + 4.7

Pela última linha, vemos que 4.7≡1(mod 9), portanto 4 é o inverso de 7 mod 9.

Ou seja, para encontrarmos o inverso a mod m, devemos conseguir encontrar x e y tais que ax
+ my = 1. O coeficiente x será o inverso procurado.

O leitor pode se perguntar se esse método não é muito complicado, e se no caso de 7x ≡ 8


(mod 9), não teria sido mais fácil resolver por tentativas. A resposta é: nesse caso sim, e por isso o
utilizamos como primeiro exemplo.

Agora tome o exemplo:

8x ≡ 5 (mod 37)

Fica complicado resolvê-lo por tentativas, pois são 36 números a se tentar!

Você já viu que 1 = 14.8 -3.37. Portanto, 14 é o inverso de 8 mod 37. Basta multiplicarmos a
congruência por 14.

Então, 8x ≡ 5 (mod 37) → x ≡ 70 (mod 37) → x ≡ 33 (mod 37). Está resolvido o problema!

Agora, fazendo as simplificações necessárias, por tentativas ou com o método das equações
diofantinas, o leitor pode resolver todas as equações do exercício 4 ao final desta unidade.

Observação: O livro de Landau menciona as equações diofantinas, de modo mais geral, nos
teoremas 66, 67 e 68 (pp 54 a 57), mas o que vimos aqui é o suficiente nesse ponto do estudo.

Além disso, o livro não comenta o conceito de inverso mod m. Até porque o autor está mais
preocupado em demonstrar resultados teóricos do que mostrar técnicas de como resolver con-
gruências lineares. Portanto, nos conteúdos digitais de referência, o leitor poderá encontrar textos e
artigos comentando o que foi passado acima, caso queira se aprofundar.

O resultado a seguir corresponde aos teoremas 69 e 70 do livro de Landau, mas ele não os
apresenta pelo nome como ficou conhecido. Além disso, vamos demonstrá-los os dois de uma vez
(o Teorema 70 é uma consequência do Teorema 69), com uma linguagem baseada na do livro de
José Plínio de Oliveira, cujos principais resultados estão disponíveis nos Conteúdos Digitais Integra-
dores.

2.4. O TEOREMA CHINÊS DO RESTO.

© Teoria dos Números | 76


UNIDADE 3 – Congruências

Considere o sistema de congruências

a1x≡ b1(mod m1)

a2x≡ b2 (mod m2)

…. ≡ ….

anx≡ bn (mod mn)

Se (ai, mi) = 1 e (mi,mj) =1 sempre que i≠j, o sistema possui uma única solução congruente mod
n
m, em que m   mn .
i 1

Primeiramente, vamos dar um exemplo:

Qual é o número que, dividido por 7, deixa resto 2; cujo dobro, dividido por 5, deixa resto 3; e,
cujo triplo, dividido por 8, deixa resto 1?

Essa pergunta se escreve como o seguinte sistema:

x≡ 2(mod 7)

2x≡ 3 (mod 5)

3x≡ 1 (mod 8 )

Segundo a notação do teorema, temos que, de fato, (1,7) = 1, (2,5) = 1, e (3,8) = 1; além disso,
7, 5 e 8 são todos relativamente primos.

Em primeiro lugar, resolvamos separadamente cada uma das congruências

x≡ 2(mod 7) já está resolvido.

2x≡ 3 (mod 5) → x≡ 4 (mod 5)

3x≡ 1 (mod 8 ) → x≡ 3 (mod 8)

Chamemos essas soluções de c1, c2 e c3.

Ou seja, c1 = 2, c2 = 4 e c3 = 3.

© Teoria dos Números | 77


UNIDADE 3 – Congruências

Chamemos agora de m o número 7.5.8 = 280.

Chamemos de y1 o número m/7, ou seja, y1 = 280/7 = 40.

Chamemos de y2 o número m/5, ou seja, y2 = 56.

Chamemos de y3 o número m/8, ou seja, y3 = 35.

Agora, resolva as seguintes congruências:

y1.y1≡ 1(mod 7)

y2y2≡ 1 (mod 5)

y3y3≡ 1 (mod 8 )

Ou seja, buscamos o inverso de y1 mod 7, o inverso de y2 mod 5 e o inverso de y3 mod 8.

Ou seja:

40.y1 ≡ 1(mod 7) → 5.y1≡ 1(mod 7) → .y1≡ 3(mod 7)

56y2≡ 1 (mod 5) → 6y2≡ 1 (mod 5) → y2≡ 1 (mod 5)

35y3≡ 1 (mod 8 ) → 3y3≡ 1 (mod 8 ) → y3≡ 3 (mod 8 )

Note que encontramos os inversos por tentativa, pois são números pequenos, mas podería-
mos ter utilizado equações diofantinas para encontrá-los.

A solução desse sistema será dada por:

x ≡ c1 y1.y1 + c2 y.2y2 + c3 y.3y3 (mod m)

x ≡ 2.40.3 +4.56.1 + 3.35.3 (mod 280)

x ≡ 240 + 224 + 315 (mod 280)

x≡ 779 (mod 280)

© Teoria dos Números | 78


UNIDADE 3 – Congruências

x ≡ 219 (mod 280).

Tome um número ≡ 219 (mod 280) (499, por exemplo) e o aplique nas três congruências
do sistema. Utilize a calculadora. Você verá que 499 satisfaz o problema.

Agora que já entendemos o processo, vamos à demonstração.

Demonstração do Teorema Chinês do Resto:

Considere o sistema

a1x≡ b1(mod m1)

a2x≡ b2 (mod m2)

…. ≡ ….

anx≡ bn (mod mn)

Por hipótese, (ai, mi) = 1, então, pelo Teorema xxxx, cada congruência desse sistema possui so-
lução única. Chamemos cada solução de bi. Seja m = m1m1...mn, e seja yi = m/mi. Como (mi, mj) = 1,
para

i ≠ j, temos que (yi,mi) = 1. De modo mais claro, um produto em que todos os fatores são rela-
tivamente primos com um número será também relativamente primo com esse número.

Como (yi,mi) = 1, também podemos dizer que a congruência y1y1≡ 1(mod mi) possui uma única
solução.

O número x ≡ c1 y1.y1 + c2 y.2y2 + … + cny.nyn (mod m), satisfaz cada equação de nosso sistema.
Mostremos por quê.

Substituindo x em cada linha, teremos

aix = aic1 y1.y1 + aic2 y.2y2 + … + aici yi.yi + ...+ ai cny.nyn

Como (yi,mi) = 1, a parcela aici yi.yi não será divisível por mi. As demais serão, pois cada uma
delas possui mi como um fator de yn

Assim, aix ≡ 0 + 0 + … + aici yi.yi +...+ 0 (mod mi)

Ou seja, aix ≡ aici yi.yi (mod mi)

© Teoria dos Números | 79


UNIDADE 3 – Congruências

Como yi é o inverso de yi (mod mi) , e já vimos o que ocorre quando uma congruência é multi-
plicado por um inverso, temos que aix ≡ aici(mod mi).

E, como ci é solução de aix ≡ aibi(mod mi), temos que aix ≡ aici(mod mi) → aix ≡ bi(mod m),
que é o que queríamos. Logo, o x proposto é solução de cada linha da equação.

Resumo

Dada um sistema do tipo

a1x≡ b1(mod m1)

a2x≡ b2 (mod m2)

…. ≡ ….

anx≡ bn (mod mn)

Em que (ai, mi) = 1 e (mi,mj) =1 sempre que i≠j, o leitor deve:

Resolver separadamente cada linha do sistema, obtendo, para cada uma, uma solução ci.

Calcular o produto m = m1m1...mn, e calcular os quocientes yi = m/mi

Encontrar os inversos de yi mod m1, chamados de yi.

A solução do sistema será x ≡ c1 y1.y1 + c2 y.2y2 + … + cny.nyn (mod m).

Agora, uma última técnica para simplificar a resolução de congruências lineares.

Já vimos que diante de uma congruência do tipo ax ≡ b(mod m), podemos simplificá-la das se-
guintes maneiras:

1. Encontrar uma congruência equivalente.


2. Dividir ambos os lados por um inteiro c, respeitando os critérios da “lei do cancelamento”.
3. Encontrar o inverso de a mod m, e, multiplicar a congruência por esse inverso.

E, após simplificarmos, podemos resolvê-la por tentativa.

Porém, quando m for um número muito grande, fica difícil encontrar uma congruência equiva-
lente ou encontrar o inverso de a mod m, e às vezes a “lei do cancelamento” também não ajuda.

Já sabemos que se um produto m1m2.....mn divide a, então cada mi divide a. Essa é uma con-
sequência direta do Teorema 2 (Obviamente, cada mi divide m, e m|a, então m|a).

© Teoria dos Números | 80


UNIDADE 3 – Congruências

Então, se tivermos uma congruência do tipo ax ≡ b( mod m1.m2...mn), teremos que:

ax ≡ b( mod m1)

ax ≡ b( mod m2)

….

ax ≡ b( mod mn)

Utilizando o Teorema Chinês do Resto, resolvemos o problema.

Exemplo:

17x = 7(mod 1000)

Nesse caso, escrevemos o número 1000 como um produto: 1000 = 8.125

Ou seja, 17x ≡ 7(mod 8.125)

Então basta resolvermos o sistema:

17x ≡ 7 (mod 8)

3x ≡ 7 (mod 25)

A resposta será x ≡ 471 (mod 1000)

3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES


Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você
compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

3. 1. CONGRUÊNCIA: DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES

Nessa seção vimos, de acordo com a notação de Gauss, que dados inteiros a, b, e m > 0, dize-
mos que a≡ b(mod m) se m|m – a. Vimos algumas propriedades relativas a esse conceito, e também
verificamos que a congruência é uma reflexão de equivalência: reflexiva, transitiva e simétrica.

No primeiro link, há uma biografia bem completa sobre Gauss; no segundo, há uma pequena
apresentação das propriedades das congruências e algumas aplicações práticas; no terceiro link,
aprofundamento do conceito de relações de equivalência.

© Teoria dos Números | 81


UNIDADE 3 – Congruências

 POMBO, O. Resumo da biografia de Gauss. Disponível em:


<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/gauss/gauss.htm>. Acesso em: 16 jan.
2014.
 CAVALCANTI, G. D. C. Introdução à aritmética modular. Disponível em:
<http://www.cin.ufpe.br/~gdcc/matdis/aulas/aritmeticaModular.pdf>. Acesso em: 16 jan.
2014.
 ______. Relações de equivalência. Disponível em:
<http://www.cin.ufpe.br/~gdcc/matdis/aulas/relacoesEquivalencia.pdf>. Acesso em: 16 jan.
2014.

3. 2. CONGRUÊNCIAS LINEARES E EQUAÇÕES DIOFANTINAS.


Nessa seção aprendemos o conceito de congruência linear, que é uma congruência do tipo
ax ≡ b(mod m). Vimos que ela é solúvel se, e somente se, (a, m)| b, de modo que o número de solu-
ções é igual a (a,m).

Nessa seção, vimos o que é uma equação diofantina, e aprendemos a resolver as equações
do tipo ax + by = 1, em que a e b são constantes e x e y são variáveis. Também vimos como elas aju-
dam a resolver congruências, atreves do conceito de inverso. No link a seguir você encontrará uma
breve biografia daquele que dá nome a esse assunto, Diofanto de Alexandria.

 USP. Diofanto de Alexandria. Disponível em:


<http://ecalculo.if.usp.br/historia/diofanto.htm>. Acesso em: 16 jan. 2014.

3.3. O TEOREMA CHINÊS DO RESTO.


Esse teorema nos permite resolver sistemas de congruências. O primeiro link apresenta a de-
monstração conforme fizemos nessa Unidade, afinal, como foi dito, ela é diferente da feita por Lan-
dau. O segundo link apresenta exemplos de aplicação do teorema. O terceiro link apresenta aspec-
tos históricos da matemática chinesa e a origem do teorema chinês do resto, e o quarto link é um
interessante documentário sobre a matemática na China.

 GROOT, V. E. Introdução à teoria dos números. Disponível em:


<http://vigo.ime.unicamp.br/Projeto/20121/ms777/ms777_Viviane.pdf>. Acesso em: 16 jan.
2014. (Teorema 21)
 CAVALCANTI, G. D. C. Introdução à aritmética modular. Disponível em:
<http://www.cin.ufpe.br/~gdcc/matdis/aulas/aritmeticaModular_parte2.pdf>. Acesso em: 16
jan. 2014. (A partir da página 16.)
 GASPAR, J. Matemática na China. Disponível em:

<http://www.mat.uc.pt/~mat0703/PEZ/China2.htm>. Acesso em: 16 jan. 2014.

© Teoria dos Números | 82


UNIDADE 3 – Congruências

 YOUTUBE. A história da matemática: os gênios do oriente. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=9tSIkHKbdRo>. Acesso em: 16 jan. 2014.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se
encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estu-
dados para sanar as suas dúvidas.

1) Sendo a a≡b (mod m), mostre que:

a) a ≡ b – m (mod m).
b) a ≡ m + b (mod m).

v v
2) Prove que se an ≡ bn, para n = 1,..., v, então  an   bn .
n 1 n 1

3) Resolva as questões a seguir:

a) Prove que o número 1110 – 1 é divisível por 100.


b) Encontre o resto da divisão de 350 por 4.
c) Encontre o resto da divisão de 21000 por 5.

4) Para cada congruência linear: indique se ela possui solução; dê o número de soluções;
encontre as soluções. Utilize o método que achar mais adequado.

a) 3x ≡ 1(mod 10)
b) 23x ≡ 7 (mod 19)
c) 4x ≡ 13 (mod 8)
d) 7x ≡ 5(mod 18)
e) 21x ≡ 15 (mod 18)
f) 13x ≡ 14 (mod 29)
g) 15x ≡ 9 (mod 25)
h) 37x ≡ 16 (mod 19)

© Teoria dos Números | 83


UNIDADE 3 – Congruências

i) 20x ≡ 12 (mod 28)

5) Qual é o número que, dividido por 2, deixa resto 1; dividido por 3, deixa resto 2; e, dividido
por 7, deixa resto 5?

6) Resolva o seguinte sistema:

a) 9x≡4(mod11)
b) 2x≡7(mod9)
c) 5x≡-3(mod8)

7) Resolva a congruência 3x ≡ 4 (mod 2020)

Gabarito

Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:

1) Utilize-se do fato de que m|m, e o combine com a hipótese, utilizando o Teorema 6 da Uni-
dade 1.
2) Basta aplicar o princípio da Indução, utilizando como hipótese o Teorema 52.

3) Solucão

a) Note que 11 ≡ 1 (mod 10), Logo 1110 ≡ 110 (mod 10), ou seja, 1110 – 1 é divisível por 10.
b) Temos que 3 ≡ -1 (mod 4), portanto 350 ≡ (-1)50 (mod 4), logo 350 ≡ 1 (mod4).
Então o resto de 350 dividido por 4 é 1.
c) Procuremos uma potência de 2 que seja congruente a 1 mod 5. Encontramos que 24 ≡
1(mod 5).

Então (24)250 ≡ 1250 (mod 5). Então 21000 ≡ 1 (mod 5), e o resto procurado é 1.

4) Solução:

a) x ≡ 7(mod 10);
b) x ≡ 16 (mod 19);

© Teoria dos Números | 84


UNIDADE 3 – Congruências

c) Não existem soluções;


d) x ≡ 5(mod 6)
e) x ≡ 5 (mod 18), x ≡ 11 (mod 18), x ≡ 17 (mod 18),
f) x ≡ 10 (mod 29)
g) Não existem soluções
h) x = 3.

5) Utilizando o Teorema Chinês dos Restos, o leitor encontrará x ≡ 257(mod 42), que pode ser
escrito como x ≡ 5(mod 42)
6) Utilizando o Teorema Chinês dos Restos, o leitor encontrará x ≡ 4409 (mod 792), que pode
ser escrito como x ≡ 449 (mod 792)
7) x ≡ 1348 (mod 2020)

5. CONSIDERAÇÕES

Chegamos ao final de mais uma unidade, na qual você aprendeu a definição e as propriedades
da congruência. Viu como ela pode resolver complexas questões acerca de divisibilidade, e também
foi introduzido às equações diofantinas. Aprendeu como resolver congruências lineares e sistemas
de congruências. Estudaremos aplicações, tanto teóricas quanto práticas, do conceito visto agora.

É importante que o leitor tenha em mente que, apesar de que as congruências já fossem estu-
dadas na antiguidade, foi Carl Friedrich Gauss, em seu livro Disquistiones arithmeticae, que introdu-
ziu a notação utilizada em todo esse capítulo (a saber, a ≡ b(mod m)), que nos permite comparar a
relação de congruência com a de igualdade, tornando muito fácil a manipulação desse conceito. Ou
seja, a escrita dessa unidade só foi possível graças a esse talentosíssimo matemático.

Veja agora os Conteúdos Digitais Integradores que ampliarão seu conhecimento sobre o as-
sunto.

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LANDAU, E. Teoria elementar dos números. Editora Ciência Moderna, 2002.

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UNIDADE 4
Congruências: Aplicações

Objetivos

 Compreender mais teoremas envolvendo congruências.


 Entender com congruências ajudam na teoria das equações diofantinas.
 Entender como congruências podem ser úteis para determinar critérios de divisibilidade.
 Estudar problemas práticos envolvendo congruência, que podem ser aplicados em turmas de
Ensino Fundamental ou Médio.

Objetivos
 Teorema de Euler, Pequeno Teorema de Fermat e Teorema de Wilson.
 Equações diofantinas (continuação).
 Critérios de divisibilidade.
 Problemas envolvendo datas.

Orientação para estudo da disciplina


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Procure entender os teoremas apresentados com seus próprios exemplo e refaça suas demonstrações no
papel.
2) Tome muito cuidado ao resolver equações diofantinas pelo Algoritmo de Euclides, pois é muito
fácil cometer erros nesse ponto.
3) Essa unidade se difere mais ainda da unidade anterior, em relação ao livro-texto, justamente por
apresentar aplicações mais práticas de congruência. Por isso, é importante verificar os Conteúdos
Digitais Integradores.

© Teoria dos Números | 86


1. INTRODUÇÃO
A Teoria dos Números pode atingir resultados tão complexos quanto se possa imaginar, assim
como a teoria sobre congruência. Porém, esse curso é apenas introdutório, e, como é voltado para
futuros professores de Ensino Fundamental e Médio, é preferível apresentar resultados mais sim-
ples, porém, com aplicações mais palpáveis, do que resultados mais complexos.

A terceira e a quarta seção desta Unidade, em especial, são as mais interessantes para aplica-
ção em sala de aula. Apenas com a definição e com as propriedades mais básicas de congruência, é
possível resolver problemas interessantes, como os critérios de divisibilidade e problemas envol-
vendo datas.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA

2. 1. OS TEOREMAS DE EULER, FERMAT E WILSON.


Primeiro, relembremos o que é a função ϕ de Euler definida na unidade anterior: ϕ (m) nos
dá a quantidade de elementos de um conjunto reduzido de resíduos mod m, ou seja, a quantidade
de números incongruentes, mod m entre si, e todos relativamente primos com m. Por exemplo, no
caso do número 10, um conjunto possível seria 1,3,5 e 7. Portanto, ϕ(10) = 4. Existem métodos para
calcular ϕ (m), mas esse não é nosso objetivo agora.

Nosso objetivo é demonstrar dois teoremas conhecidos como teorema de Euler e Pequeno
Teorema de Fermat. Landau chama ambos de Pequeno Teorema de Fermat (um seria o resultado
principal e o outro, uma consequência), mas vamos utilizar a nomenclatura adotada por vários auto-
res. Apesar de, historicamente, o Teorema de Euler vir depois do de Fermat, como uma generaliza-
ção, para fins didáticos o Teorema de Euler vem primeiro, e fica fácil demonstrar o de Fermat como
um caso particular.

Teorema 75 (Teorema de Euler). Se (a, m) = 1, então aϕ (m) ≡ 1(mod m).

Demonstração: Seja a1,a2, … , aϕ (m) um conjunto reduzido de resíduos mod m. Então Pelo Teo-
rema 63 que demonstramos na Unidade 3, aa1,aa2, … , aaϕ (m) também é um conjunto reduzido de
resíduos. Ou seja, cada elemento do primeiro conjunto é congruente mod m a algum elemento do
segundo conjunto. Simbolicamente, escrevemos que os números an são congruentes aos aan (com
n = 1,.., ϕ (m)) . O Teorema 53 nos garante que é possível multiplicar “sequências de congruências”,
portanto .

Note que, no lado direito da congruência, o termo a será multiplicado ϕ (m) vezes, ou seja, fa-

remos aϕ (m). Então podemos escrever

Sabemos que para cada n, (an,m) = 1, portanto .

© Teoria dos Números | 87


Então podemos aplicar a lei do cancelamento, dividindo ambos os lados da congruência por
esse termo, ficando com 1 ≡ aϕ (m)(mod m) → aϕ (m) ≡ 1(mod m), que é o que queríamos demonstrar.

Exemplo: Sabemos que (5, 3) = 1. Temos que {1,2,3,4} é um sistema reduzido de resíduos
mod 5, portanto ϕ (5) = 4 . Então, o Teorema de Euler nos diz que 34 ≡ 1(mod 5).

O teorema a seguir não é nada mais do que um caso particular do Teorema de Euler para
números primos:

Teorema 76 (Pequeno Teorema de Fermat). Se pła, então ap – 1 ≡ 1(mod p)

Demonstração: Se pła, então (p,a) = 1 (Teorema 19 da Unidade 2). Portanto, podemos apli-
car Teorema de Euler. Pela definição de número primo, p será relativamente primo com qualquer
número menor do que ele. Portanto, tomando o sistema completo de restos formado por 0,1,..., p –
1, basta retirarmos o 0 para obtermos um conjunto reduzido de restos. A quantidade de elementos
será p – 1,ou seja, ϕ (p) = p – 1.

Então, aplicando o teorema de Euler, temos que ap - 1≡ 1(mod p). Multiplicando essa con-
gruência por a, encontramos outro resultado útil, que é ap ≡ a(mod p). Quando citarmos o Teorema
Pequeno de Fermat daqui por diante, podemos estar nos referindo a qualquer uma das duas con-
gruências.

Exemplo: Como 17ł4, o Teorema nos diz que 416≡1(mod 17). É possível verificar que essa
congruência é verdadeira utilizando as técnicas vistas na Unidade anterior. Afinal, sabemos que
(mod 17), Então Como (mod 17), então (mod 17). Portanto, o Pequeno Teo-
rema de Fermat não é nada mais do que um “atalho”, para provar certos resultados que já conse-
guimos provar antes.

Exemplo: Mostre que 223 – 1 é divisível por 47.

Fizemos este exemplo na Unidade anterior de uma maneira muito complicada, mas agora se-
rá muito simples. Sabemos que 223 ≡ x (mod 47), para algum x tal que 0 ≤ x < 47. Então temos que
(223)2 ≡ x2 (mod 47), ou seja, 246 ≡ x2 (mod 47). Pelo Pequeno Teorema de Fermat, 246 ≡ 1(mod 47).

Então x² = 1 → x = 1 ou x = -1. Como supomos x>0, x = 1.

Exemplo: Mostre que 270 + 370 é divisível por 13.

Pelo Pequeno Teorema de Fermat, 212 ≡ 1(mod 13), então (212)5 ≡ 15(mod 13) → 260 ≡ 1(mod
13)
Além disso, 25= 32 ≡6(mod 13). Então (25)2 ≡ 62(mod 13) → 210 ≡ 36(mod 13) ≡ -3(mod13).
Então 270 =260.210 ≡ 1.-3 ≡ -3(mod 13).

Além disso, 33 = 27 ≡ 1(mod 13). Então (33)23 ≡ 123 (mod 13) → 369 ≡ 1 (mod 13). E, como

3 ≡ 3 (mod 13), temos que 370 = 369.3 ≡ 1.3 ≡ 3(mod 13).

© Teoria dos Números | 88


Pelo Teorema 270 + 370 ≡ -3 + 3 ≡ (mod 13) → 270 + 370 ≡ 0(mod 13), ou seja, 270 + 370 é di-
visível por 13.

Teorema 47 (Teorema de Wilson). Para p primo, (p – 1)! ≡-1(mod p)

Vamos primeiro dar um exemplo dessa demonstração para p = 11.

Lembre que, dados a e b, a é o inverso de b mod p se a.b ≡ 1(mod p). Além disso, a é o seu
próprio inverso mod p se a ≡1(mod p) ou a ≡ -1(mod p). Considere os números 1,2,3,...10. Como
cada um desses números é relativamente primo com 11, pelo teorema 65, a equação sr≡ 1(mod 11)
tem uma única solução; ou seja, cada um desses números possui um inverso mod 11. Por tentativa,
vemos que apenas 1 e 10 são seus próprios inversos, pois 1 ≡ 1(mod 11), e 10≡ -1(mod 11), e que
isso não ocorre com nenhum outro número.
Mas, como os demais números precisam ter um inverso, então é possível agrupar a sequên-
cia 2,3,...,9, em 4 pares (o conjunto tem 8 elementos) de números em que cada um é o inverso do
outro.

Os pares serão:

Multiplicando lado a lado, teremos que 2.3.4.5.6.7.8.9 ≡ 1(mod 11). Como 10 ≡ 1(mod 11), se
multiplicarmos ambos lados por 10, teremos 2.3.4.5.6.7.8.9.10 ≡ -1(mod 11) → 10! ≡ -1(mod 11).

Para entender a demonstração que vem a seguir, note que o conjunto 2,3,...,9 possui 11 - 3 = 8
elementos, e, por isso, é possível formar 8/2 = 4 pares. De modo geral, o conjunto 2,3..., p – 2 possui
p – 3 elementos, e é possível formar (p – 3)/2 pares.

Demonstração do Teorema de Wilson. Tome o conjunto 1,..., p – 1. Pelo Teorema 65, para
cada elemento r desse conjunto há um certo s tal que rs ≡ 1(mod p), pois (p, r) = 1. p – 1 ≡ -1(mod
p), e 1 ≡ 1 (mod p), então nos resta que as demais soluções possíveis estão no conjunto 2,3,..,p-2.
Esse conjunto possui p – 3 elementos, então é possível formar (p – 3)/2 pares de números r
e s tais que rs ≡ 1 (mod 11).

Multiplicando as congruências membro a membro, obtemos 2.3.4...(p-2) ≡ 1(mod p). Sabendo


que (p – 1) ≡ -1(mod p) e multiplicando ambos os lados por esse termo, ficamos com a relação
2.3....(p – 2)(p – 1) ≡ - 1(mod p), ou seja, (p – 1)! ≡ -1(mod p).

Exemplo: Temos que (5-1)! = 4.3.2.1 = 24. De fato, 24 = -1(mod p).

Exemplo: Encontre o resto da divisão de 12.13.14.15.16.17.18.19.20.21 por 11.

Primeiro, note que 12 ≡ 1(mod 11). 13 ≡ 2(mod 11), 14≡ 3(mod 11),...,21≡10(mod 11).

© Teoria dos Números | 89


Então,12.13.14.15.16.17.18.19.20.21≡1.2.3.4.5.6.7.8.9.10(mod 11) ≡ 10! (mod 11).
Pelo Teorema de Wilson, 10! ≡ -1(mod 11), portanto o resto procurado é 11 - 1 = 10.

2.2. EQUAÇÕES DIOFANTINAS.


Vamos agora estudar um pouco mais das equações em que os coeficientes, as variáveis e as
soluções são números inteiros.

Já vimos que a equação ax + by = 1 possui solução se, e somente se, (a,b) = 1.


Agora, estudaremos a equação mais geral, ax + by = c.

Teorema 66. Sendo (a,b) = d, então a equação diofantina ax + by = c tem solução se, e somen-
te se, d|c.
Demonstração: Pelo Teorema 65, a congruência ax ≡ c(mod b) tem solução, se, e somente
se, (a,b)|c. Por hipótese, (a,b)|c, portanto a congruência tem solução. Se ax ≡ c(mod b) possui solu-
ção, então existe um q tal que ax – c = qb → ax – qb = c, então a equação ax + by = c possui solução.

Por outro lado, se (a,b)łc, a congruência ax ≡ c(mod b) não terá solução, e, consequentemen-
te, ax + by = c não possuirá solução.

Exemplo: 12x + 30y = 24 possui solução, pois (12,30) = 6, e 6|24.

12x + 30y = 35 não possui solução, pois 6ł35.

Podemos encontrar soluções para esse tipo de equação do mesmo modo que fazíamos quan-
do tínhamos ax + by = 1. Ou seja, primeiro escrevemos o MDC de 12 e 30 como uma combinação
linear desses números.

30 = 2.12 + 6

Então 6 = 30 – 2. 12.

Como 24 = 4.6, basta multiplicarmos a igualdade por 6.

Então 24 = 4.30 – 8.12

Portanto uma solução possível é x0 = -8, y0 = 4. Porém, ela não é a única. Existem infinitas so-
luções possíveis. Veremos a seguir como encontrá-las.

Teorema 67. Se x 0, y0 são uma solução de ax + by = c, então todas as soluções são da forma
em que h é um inteiro qualquer.

© Teoria dos Números | 90


Demonstração: Para verificarmos que x e y, descritos como anteriormente, satisfazem a equa-
ção, basta substituirmos tais valores nela. Ficaremos com

(pois o par x0, y0 é uma solu-


ção).

Agora precisamos mostrar que toda solução é da forma descrita no enunciado do teorema.
Seja o par x,y outra solução da equação que estamos estudando.
Então ax + by = c (1), assim como ax0 + by0 = c (2).

De (1), temos que ax – c = by, ou seja, ax – c ≡0(mod b).


De (2), temos que ax0 – c = by0 , ou seja, ax0 – c ≡0(mod b).

Subtraindo as congruências, temos que a(x – x0) ≡ 0(mod b).


Para utilizarmos a lei do cancelamento, temos que ter em mente que (a,b) = d,então, para
podermos dividir a congruência por a, ficaremos com .

Chamando x – x0 de h, ou seja, fazendo x – x0=h, temos que (3).

Agora, tratemos do y.

Da equação (1), temos que by = c – ax. Substituindo o que encontramos em (3), ficamos com

(4).

Por (2), temos que by0 = c – ax0, e, substituindo em (4), temos que (5).

Supondo b ≠ 0 (caso contrário, a equação diofantina estudada se reduziria a uma equação


elementar), podemos dividir ambos os lados (5) por b, ficando com

Está demonstrado o teorema.

Exemplo: Vimos que uma solução para a equação 12x + 30y = 24 é x0 = -8 y0 = 4, e que (12,30)
= 6.

Portanto, todas as outras soluções serão da forma

© Teoria dos Números | 91


Fazendo, por exemplo, h =1, teremos que x = -3 e y = 2 satisfazem a equação. Verifique!

Observação: Na Unidade anterior, resolvemos a equação diofantina 37x + 8y = 1, obtendo x = -


3 e y = 14. No momento, estávamos preocupados apenas em encontrar o inverso de 8 mod 37, e
não todas as soluções possíveis, mas agora sabemos que existem infinitas soluções, descritas por x =
-3 + 8h e y = 14 – 37h.

Exemplo: Determinar todas as duplas de frações positivas que tenham 3 e 5 como denomina-
dores e cuja soma seja igual.

Nosso problema é encontrar x e y tais que

Precisamos, então, resolver a equação 5x + 3y = 57. O leitor poderá resolvê-la e encontrar x0


= -57, y0 = 114.
Portanto, todas as soluções serão descritas por x = -57 + 3h, y = 114 -5h.

Como as frações são positivas, queremos x > 0 e y > 0.

Então -57 + 3h > 0 → h > 19 .

114 -5h > 0 → h < → h ≤ 22.

Então, temos que h pode ser 20, 21 e 22.

Testando: h = 20 → x = 3, y = 14.

h = 21 → x = 6, y = 9

h = 22 → x = 9, y = 4.

Logo, as frações (já simplificadas) são

Você já pode resolver o exercício 3 das Questões Autoavaliativas.

Observação: Há muitos outros tipos de equações diofantinas. Descobrir que trios de números
satisfazem o Teorema de Pitágoras (a² + b² = c2), é um problema envolvendo equações diofantinas,

© Teoria dos Números | 92


assim como o é o Último Teorema de Fermat, que nos diz que não existe nenhum conjunto de intei-
ros positivos, x, e z, que, com n maior que 2, satisfaça

Essa conjectura levou mais de 300 anos para ser demonstrada, então poder ser
chamada, de fato, de teorema.

2. 3. CRITÉRIOS DE DIVISIBILIDADE.
Nos Conteúdos Digitais Integradores da Unidade 1, já havia sido disponibilizado um material
que apresentava os mais conhecidos critérios de divisibilidade. Agora, vamos demonstrar esses cri-
térios a partir do conceito de congruência. Para fazer essas demonstrações, suporemos válido o re-
sultado do Teorema 8 do Capítulo 1 do livro de Landau, que diz o seguinte:

Teorema 8. Seja g > 1. Então qualquer número a > 0 pode ser expresso de uma única maneira
na forma: a = c0 + c1g + … + cngn, n ≥ 0, cn > 0, 0 ≤ cm < g para 0 ≤ m ≤ n.

O leitor pode consultar a demonstração do Teorema no livro-texto. Nossa preocupação é com


seu significado. Note que, para g = 10, essa é a representação decimal de um número, ou seja, a = c0
+ c110 + … + cn10n, n ≥ 0, cn > 0, 0 ≤ cm < 10 para 0 ≤ m ≤ n.

Exemplos:

2 = 2.100

17 = 1.101 +7.100

345 = 3.102 + 4.101 + 5.100

5648 = 5.103 +6.102 + 4.101 + 8.100.


Vamos, então aos critérios de divisibilidade:

Divisibilidade por 2: Um número a é divisível por 2 se, e somente se, a termina em 0, 2, 4, 6, ou


8.

Demonstração: Temos que a = c0 + c110 + … + cn10n.

Então a – co = c110 + … + cn10n.

Sabemos que 10 ≡ 0(mod 2), portanto 10n ≡ 0(mod 2).

Então a – c0 ≡ 0(mod 2) (Porque é possível somar congruências, lembra-se?).

Então a ≡ c0(mod 2).

© Teoria dos Números | 93


Então, se a≡ 0(mod 2), pela transitividade devemos ter c0 ≡ 0(mod 2). Ou seja, c0, o algarismo
das unidades de a, deve ser um número par. Lembre que a transitividade é recíproca, e isso justifica
o “se, e somente se” do enunciado.

Divisibilidade por 9: Um número a é divisível por 9, se, e somente se, a soma dos algarismos
de a for divisível por 9.

Demonstração: Como 10 ≡ 1(mod 9), então, para n > 0, 10n ≡ 1(mod 9), e, cn10n ≡ cn(mod 9).

Temos que a = c0 + c110 + … + cn10n. Então a ≡ (c0 + c1 + … + cn) (mod 9).

Assim, a ≡ 0(mod 9), se, e somente se, (c0 + c1 + …+cn) ≡ 0 (mod 9).

Exemplo: 2313 é divisível por 9, pois 2+3+1+3 = 9.

1333 não é divisível por 9, pois 1+3+3+3 = 10, e 10 não é divisível por 9.

A divisibilidade por 3 pode ser deduzida a partir da divisibilidade por 9.

Divisibilidade por 3: Um número a é divisível por 3, se, e somente se, a soma de seus algaris-
mos for divisível por 3.

Demonstração

Como 3|9, cn10n ≡ cn(mod 9) → cn10n ≡ cn(mod 3), e o mesmo raciocínio da demonstração an-
terior se aplica aqui.

Divisibilidade por 4: Um número a é divisível por 4, se e somente se, o número formado por
seus dois últimos algarismos for divisível por 4.

Em primeiro lugar, note que 101 ≡ -2(mod 4) → 102 ≡ 4(mod 4) ≡ 0(mod 4).

Ou seja, para n > 0, 102n ≡ 0 (mod 4).

Note também que 102n.10 ≡ 0 (mod 4), ou seja, 102n + 1 ≡ 0 (mod 4).

Por entende-se “10 elevado a um expoente par”, e, por , entende-se “10 elevado a
um expoente ímpar”. Considerando as potências com expoente par e com expoente ímpar, estamos
abrangendo todas as potências (com expoentes inteiros) de 10. Assim, exceto para , todas as
potências de 10 são ≡ 0(mod 4).

© Teoria dos Números | 94


Temos que a = a = c0 + c110 + c2102 +… + cn10n ≡ c0 + c110 + 0 + … + 0 ≡ 0(mod 4).

Ou seja, para que a seja divisível por 4, é necessário que c0 + c110, ou seja, o número formado
pelos seus dois últimos algarismos, seja divisível por 4.

Exemplos:

324 é divisível por 4, pois 24 é divisível por 4.

123233232 é divisível por 4, pois 32 é divisível por 4.

1232131223900 é divisível por 4, pois 00 é divisível por 4.

978932413 não é divisível por 4, pois 13 não é divisível por 4.

Deixaremos os critérios de divisão por 5, 6 e 8 como exercícios ao final desta Unidade.

Para testar a divisibilidade por 5, 7 ou 13, podemos testar a divisibilidade por 1001. E por que
isso seria mais fácil?

Note que 10³ = 1000 ≡ -1(mod 1001). Então, para p > 0 par e q > 0 ímpar, 103p ≡ 1(mod 1001),
e 103q ≡ -1(mod 1001).

Agora, sendo a = c0 + c110 + c2102 + c310³ + c4104+ c5105 + c6106 + c7107 + c8108 +… + cn10n, no-
te que, a partir da quarta parcela, podemos agrupar cada trio de parcelas colocando 103 em evidên-
cia, ficando com:

a = (10²c2 + 10c1 + c0) + 103(102c5 + 10c4 + c3) + (103)²(102c8 + 10c7 + c6) + … + (103)n/3 (cn-2102 + cn-110
+ cn)

Perceba que, na expressão acima, a primeira parcela é uma do tipo 10 3p (p = 0), a segunda é do
tipo 103q, a terceira é do tipo 103p, e assim por diante.

Portanto, a ≡ (10² c2 + 10c1 + c0) - (102c5 + 10c4 + c3) + (102c8 + 10c7 + c6) - … + … (mod 1001).

Assim, para verificarmos a congruência de um número mod 1001, devemos tomar o número
formado pelos três últimos algarismos, subtrair do número formado pelo segundo bloco de três al-
garismos, somar com o número formado pelo terceiro bloco de três algarismos, e assim por diante.
Obviamente, nosso objetivo não é verificar a congruência mod 1001, mas sim a congruência mod 7,
11, ou 13.

Exemplos:

Para o número 4102, temos: 102 – 004 = 98. 98 divide 7, mas não divide 11 nem 13, portanto
4102 é divisível por 7, mas não por 11 e 13.

© Teoria dos Números | 95


Para 40887, temos: 887 – 0040 = 847. 847 é divisível por 7 e 11, mas não por13. Logo, 40887 é
divisível por 7 e 11, mas não por 13.

Para o número 123579456, temos: 456 – 579 + 123 = 0. 0 é divisível por 7, 11 e 13, portanto
123579456 também o é.

2. 4. PROBLEMAS ENVOLVENDO DATAS.

Antes de resolver os problemas a seguir, vamos estudar como encontrar os múltiplos de n


número que estão entre dois inteiros a e b.

Exemplo: Quantos múltiplos de 5 existem entre 28 e 66?


Sabemos que o primeiro múltiplo de 5 após 28 é 30, e o último múltiplo de 5 antes de 66 é 65.

Entre 65 e 30 (sem contar o 30) há 65 – 30 = 35 inteiros. Como os múltiplos de 5 se repetem


de 5 em 5, fazemos 35:5 = 7 múltiplos de 5. Como não havíamos contado o 30, são 8 os múltiplos de
5 nesse intervalo.

Ou seja, para calcular quantos múltiplos de n há entre a e b, encontramos o primeiro múltiplo


de n após a (chamemos de c) e o último múltiplo de n antes de b (chamemos de d). Então, fazemos
(d – c)/n +1 e encontramos a quantidade procurada.

Também precisamos lembrar que os anos bissextos são os anos representados por múltiplos
de 4 (há exceções, como o ano 1900, mas é a única que precisaremos considerar em nossos proble-
mas).

Exemplo:

Em 2013, o dia dos professores, 15 de outubro, comemorou-se em uma terça-feira. Em que


dia da semana se comemorará o dia dos professores, no ano de 2014?

Problemas envolvendo dias da semana são resolvidos da seguinte maneira: Convenciona-se


que o dia da semana em que estamos é congruente a 0 mod 7 (afinal, a semana possui 7 dias). O dia
seguinte, portanto é congruente a 1 (mod 7), e assim por diante.

Assim, o problema consiste em saber quantos dias se passaram a partir do dia dado, e saber a
congruência mod 7 dessa quantidade.

Resolução: Como 2013 não é um ano bissexto, passar-se-ão 365 dias até 15 de outubro de
2014.

Por tentativa, vemos que o número mais próximo de 365 que é divisível por 7 é 364, portanto
365 ≡ 1(mod 7).

Então o dia dos professores, em 2014, cairá em uma Quarta-Feira.

© Teoria dos Números | 96


Exemplo:

Andrew Wiles, matemático britânico que ficou mundialmente famoso por demonstrar o Últi-
mo Teorema de Fermat, nasceu no dia 11 de Abril de 1953, um sábado. Caso alcance tamanha lon-
gevidade, em que dia da semana esse cientista completará 100 anos de idade?

Andrew Wiles completará 100 anos em 11 de abril de 2053. Precisamos saber quantos dias te-
rão se passado desde 1953, tomando cuidado com os anos bissextos.

O primeiro múltiplo 1953 e 2053 é 1956, e o último é 2052. Temos que 2052 – 1956 = 96, e
(96:4) +1 = 25. Logo, são 25 anos bissextos entre 1953 e 2053. Isso significa que há 25 dias 29 de
fevereiro nesse intervalo de 100 anos. Isso significa que se passarão 365.100 + 25 dias.

(por tentativa).

Então:

Sendo nosso “0” o sábado, Andrew Wiles comemorará 100 anos numa sexta-feira.

3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES


Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você com-
preender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. TEOREMAS DE EULER, FERMAT E WILSON


Os textos indicados a seguir apresentam alguns aspectos relacionados a esses assuntos.

O primeiro texto traz o Teorema de Fermat (p. 78), o Teorema de Wilson (p. 82 a 84) e o Teo-
rema de Euler (p. 119 e 120) link apresenta demonstrações desses teoremas, e o segundo, notas
históricas sobre o Pequeno Teorema de Fermat. O segundo apresenta o Pequeno Teorema de Fer-
mat.

● MAIER, R. R. Teoria dos números. Disponível em:


<http://www.mat.unb.br/~maierr/tnotas.pdf>. Acesso em: 16 out. 2020.

● FONSECA, T. J. O Pequeno Teorema e o grande erro de Fermat. Disponível em:


<http://legauss.blogspot.com.br/2009/12/o-pequeno-teorema-e-o-grande-erro-
de.html>. Acesso em: 16 out. 2020.

3.2. CRITÉRIOS DE DIVISIBILIDADE


Os textos indicados a seguir mostram como o conceito de congruência pode ser utilizado para
determinar os critérios de divisibilidade.

© Teoria dos Números | 97


No primeiro texto, esse assunto é tratado nas páginas 9 e 10, e no terceiro, da página 23 até a
página 45.

● GIMENES, L. P. Teorema fundamental da aritmética. Disponível em:


<http://www.dma.uem.br/kit/calculo-e-pre-
calculo/teoremafundamentalaritmetica.pdf>. Acesso em: 16 out. 2020.

● OBMEP. Critérios de Divisibilidade. Disponível em:


<http://clubes.obmep.org.br/blog/um-pouco-sobre-divisibilidade-criterios-de-
divisibilidade-sem-justificativas>. Acesso em 16 out. 2020.

 UFG. SILVA, L. H. P. da. Uma Aplicação da Congruência na Determinação de Critérios de


Divisibilidade. Disponível em: <https://sca.profmat-
sbm.org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=84834>. Acesso em: 16 out. 2020.

3.3. APLICAÇÕES
Uma aplicação ainda não citada sobre congruência diz respeito a criptografia RSA, que é o mé-
todo para codificar qualquer tipo de informação enviada pela internet.

O texto a seguir é muito interessante, e é possível entendê-lo baseado nos conteúdos tratados
nesta unidade.

● UFMS. OLIVEIRA, M. C. de. Aritmética: Criptografia e outras aplicações aplicações de


congruências. Disponível em:
<https://repositorio.ufms.br:8443/jspui/bitstream/123456789/2160/1/MAYKON%20CO
STA%20DE%20OLIVEIRA.pdf>. Acesso em: 16 out. 2020.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se
encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estu-
dados para sanar as suas dúvidas.

1) Mostre que 267 + 334 é divisível por 17.

2) Utilize o teorema de Wilson para encontrar o resto da divisão de 3².5²7².9².11².13².15² por 17.

3) Encontre todas as soluções das equações diofantinas:

a) 3x + 5y = 3

b) 8x + 7y = 9

c) 10x + 5y = 18

d) 12x + 10y = 4

© Teoria dos Números | 98


e) 15x + 18y = 9

4) Determinar as duas menores frações positivas que tenham 5 e 7 para denominadores e cuja soma seja igual a
31/35.

5) Utilizando o conceito de congruência, prove que:

a) Um número é divisível por 5, se, e somente se, terminar em 0 ou 5.

b) Um número é divisível por 6, se, e somente se, for divisível por 2 e 3.

c) Um número é divisível por 8, se, e somente se, o número formado pelos seus três últimos algarismos for di-
visível por 8.

6) Verifique, sem utilizar a calculadora, se os seguintes números são divisíveis por 7, 11 e 13.

a) 17780

b) 195580

c) 2542540

d) 123456789

7) Resolva:

a) Suponha que hoje seja 14 de Outubro e seja uma Segunda-Feira. Que dia da semana será daqui a 1512 dias?

b) O matemático Bernhard Riemann nasceu no dia 17 de Setembro de 1826, em um Domingo. Caso estivesse
vivo em 2013, em que dia da semana Riemann comemoraria seu aniversário ? Lembrando que 1900 não foi
um ano bissexto.

c) O cantor Roberto Carlos nasceu no dia 19 de Abril de 1941. Sabendo que 19 de Abril de 2013 foi uma Sexta-
Feira, em que dia da semana Roberto Carlos nasceu?

Gabarito

Acompanhe os resultados.

1) Pelo Pequeno Teorema de Fermat, temos que 216 ≡ 1(mod 17), e 2³ = 8 ≡ 8(mod 17).

267 = 26423 = (216)4.23 ≡ 1.8(mod 17) ≡ 8(mod 17).

Além disso, 316 ≡ 1(mod 17) , e 32 = 9 ≡ 9(mod 17).

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Então 334 = 33232 ≡ (316)2.32 ≡1.9 ≡9(mod 17).

Portanto 267 + 334 ≡ 8 + 9 ≡ 17 ≡ 0(mod 17).

2) Note que 3,5,7,11,13 e 15, por serem menores que 17, são, cada um, congruentes a si mesmos mod 17.

Além disso, 3 ≡ -14(mod 17), 5 ≡ -12(mod 17), 7 ≡ -10(mod 17), 9≡ -8(mod 17), 11≡ -6 (mod 17), 13≡ -4(mod 17),
15 ≡ -2(mod 17).

Assim, podemos fazer, por exemplo, 3² ≡ 3.(-14)(mod 17).

Fazendo isso com todos os números, e efetuando o produto das congruências, teremos que
3.5.7.9.11.15 ≡ 3.(-14).5.(-12).7.(-10).9.(-8).11.(-6).13.9(-4).15.(-2) (mod 17), que, reorganizando, fica ≡ -
15.14.13.12.11.10.9.8.7.6.5.4.3.1(mod17). ≡ -15! (mod17)

Pelo teorema de Wilson, 15! ≡ -1(mod 17), logo -15! ≡ 1(mod 17).

Portanto, o resto procurado é 17 – 1 = 16.

3) Utilizando o Algoritmo de Euclides e o Teorema 67, as soluções serão:

a) x = 1 + 5h, y = -3h

b) x = 2 + 7h, y = -1 -8h

c) Não existem soluções inteiras, pois (10,5) = 5 não divide 18

d) x = 2 + 5h, y = -2 -6h

e) e) x = 3 + 6h, y = -2 – 5h

4) Basta resolver a equação 7x + 5y = 31. Teremos como soluções x0 = 3 + 5h e y0 = 2 – 7h.

X > 0 → h > -3/5, y> 0 → h < 2/7. Portanto h = 0 e as frações são 3/5 e 2/7

5)

a) Mostre que 10n ≡ 0(mod 5) para n > 0. Portanto, basta analisar o último digito do número.

b) Sabemos que, se a ≡0 mod(m1.m2), então a≡ 0 (mod m1) e a≡ 0 (mod m2). Como 6=2.3, para um número ser
divisível por 6, ele deve ser divisível por 2 e por 3.

c) Mostre que 10n ≡ 0(mod 8) para n > 2 (baseie-se no que foi feito com o 4). Portanto, basta analisarmos o
número formado pelos três algarismos do número estudado.

6) Utilizando o critério mostrado na Unidade, temos que:

© Teoria dos Números | 100


a) É divisível apenas por 7.

b) É divisível apenas por 7 e por 11.

c) É divisível por 7, 11 e 13.

d) Não é divisível por 7, 11 ou 13.

7)

a) Segunda-Feira.

b) Note que, como 1900 não é ano bissexto, ao encontrar os 47 divisores de 4, você deve subtrair 1. Serão
46 dias 29 de fevereiro ao longo desses 187 anos. Utilizado as congruências, obteremos que o dia será
Terça-Feira.

c) Utilizado o mesmo raciocínio que viemos fazendo, descobriremos que entre 19 de Abril de 1941 e 19 de
Abril de 2013, há uma congruência 6(mod 7). Porém, como estamos falando do passado, precisamos vol-
tar 6 dias na semana. Ou seja, Roberto Carlos nasceu em um Sábado.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final de nossa última unidade. Vamos relembrar tudo o que aprendemos?

Na Unidade 1, vimos a definição de divisibilidade, suas propriedades, a demonstração do Algo-


ritmo da Divisão e do Algoritmo de Euclides para o cálculo do MDC entre dois números.

Na Unidade 2, estudamos a definição de números primos, a demonstração do Teorema Fun-


damental da Aritmética (todo inteiro pode ser escrito, de forma única, como um produto de pri-
mos), e como ela é útil para calcularmos o MMC e o MDC de dois números.

Na Unidade 3, você aprendeu a definição de congruência e como resolver congruências linea-


res.

Na última unidade, foram apresentadas mais aplicações de congruências para resolver ques-
tões com divisibilidade.

Esse assunto é inesgotável, mas você já pôde ter uma base do que é a Teoria de Números e
como ela é essencial para provarmos resultados que julgamos “básicos” da Matemática.

6. E-REFERÊNCIA
UNICAMP. Prova 1: teoria de números. Disponível em:
<http://www.ime.unicamp.br/~smartin/cursos/teonum13/Prova1%20Resolvida.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2014.

© Teoria dos Números | 101


7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LANDAU, E. Teoria elementar dos números. Editora Ciência Moderna, 2002.

© Teoria dos Números | 102


© Teoria dos Números | 1

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