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GEOMETRIA EUCLIDIANA
0. Introdução
Há cerca de 2000 anos a.C. já havia no mundo humano conhecimentos de Geometria, não como
ciência, mas como teorias matemáticas em aplicação, tais como, por exemplo: por dois pontos
passa uma recta; teorema de Pitágoras; o valor do pi 3, 3 (Bíblia: 1o Reis 7,23); etc.
Os conhecimentos da Geometria foram adquiridos na prática através da reflexão objectiva, pela
indução e ainda na dedução, ao longo dos tempos.
Os primeiros passos em que se desenvolveram conhecimentos geométricos deram-se em regiões
como Egipto, Babilónia, Grécia. Mais tarde surgiram escolas onde se ensinavam conhecimentos
vários, de entre eles a Geometria, como são os casos, por exemplo, da Escola Pitagórica (Escola de
Pitágoras, este que ficou conhecido como o dono do teorema com o seu nome, mas que na
realidade era já conhecido muito antes do seu tempo) e da Escola Platónica (escola de Platão) onde
frequentou Euclides. Foi Euclides que por volta do ano 300 a.C. veio sistematizar todos os
conhecimentos de Geometria até então existentes, contidos na sua famosa obra “Os Elementos”
dividido em treze volumes contemplando a Aritmética, a Geometria e a Álgebra. É daí onde nasce a
Geometria como ciência.
Portanto, na Matemática, a Geometria Euclidiana é a geometria, em duas e três dimensões,
baseada nos postulados de Euclides de Alexandria. O texto de "Os elementos" foi a primeira
discussão sistemática sobre a geometria e o primeiro texto a falar sobre teoria dos números. Foi
também um dos livros mais influentes na história, tanto pelo seu método quanto pelo seu conteúdo
matemático. O método consiste em assumir um pequeno conjunto de axiomas intuitivos e, então,
provar várias outras proposições (teoremas) a partir desses axiomas.
Como já foi acima referenciado, muitos dos resultados de Euclides já haviam sido afirmados por
matemáticos gregos anteriores, porém ele foi o primeiro a demonstrar como essas proposições
poderiam ser reunidas juntas em um abrangente sistema dedutivo. Vale a pena mencionar alguns
sábios da antiguidade como Pitágoras, Thales, Platão e outros tantos, que desenvolveram
conhecimentos matemáticos que se encontram sistematizados na obra “Os Elementos” de Euclides.
Em seguida apresento um pequeno quadro da estrutura dos 13 volumes da obra de Euclides e a
relação dos “cientistas” que já tinham anteriormente desenvolvido conhecimentos contidos nesses
volumes:
VIII Archites
V, VI e XII Endoxw
X e XIII Theatchan
1. Noções elementares
Noção de ponto
A noção de ponto pode ser-nos dada intuitivamente pelo mais pequeno grão de areia desprovido de
espessura, ou então pela marca deixada no papel pelo toque de um lápis bem afiado. Um ponto não
tem dimensão e é usualmente representado por dois pequenos traços concorrentes, perpendiculares,
e identificado com uma letra latina maiúscula.
Exemplo: O ponto A
A
Noção de recta
Imagina que o teu lápis se prolonga infinitamente e é desprovido de espessura. Esta imagem
conduz-nos à noção de recta. Outras situações do dia-a-dia podem também levar-nos à noção de
recta, como por exemplo, um fio "infinitamente" grande e bem esticado ou os cabos da
electricidade. Uma recta é constituída por uma infinidade de pontos. Uma recta tem dimensão um,
isto é, apenas possui dimensão linear, o comprimento. É representada por uma "linha" e
identificada por uma letra latina minúscula.
r
Exemplo: A recta r:
Na Geometria Euclidiana, o Axioma (I1) no rol dos axiomas apresentadas no ponto 3 mais a
diante, diz-nos que "dois pontos definem uma recta". Este termo "definem" significa que
determinam unicamente. Neste caso dizer que "dois pontos definem uma recta" significa dizer que
dados dois pontos há uma e uma só recta que os contém.
Três pontos dizem-se colineares se e só se existir uma recta que passe pelos três pontos. Note-se
que neste contexto, dizer que "uma recta passa por um ponto" é o mesmo que dizer que esse ponto
pertence á recta. Um ponto diz-se exterior a uma recta se não pertencer à recta, isto é, se a recta
não passar por ele. Por qualquer ponto passam infinitas rectas.
Noção de plano
Imagina, o tampo de uma mesa sem espessura e prolongado até ao infinito. A sala onde a mesa se
encontra, ficou dividida em dois e se pensarmos que o dito "tampo" se prolonga infinitamente,
pode-se até dizer que todo o universo se dividiu em dois. Intuitivamente esta noção de "tampo
infinito", induz-nos à definição de plano. Mas existem outras situações do quotidiano que nos
tornam possível descrever um plano, tais como, o chão de uma sala, o tecto, ou a superfície de um
lago. Qualquer deles nos ajuda a visualizar um plano pois são superfícies planas que podemos
imaginar desprovidas de espessura e prolongadas infinitamente.
Um plano tem dimensão dois isto é, possui comprimento e largura. É representado por um
paralelogramo e usualmente identificado por uma letra minúscula do alfabeto grego.
Exemplo: O plano
α
Plano α.
Relembrando que três pontos dizem-se colineares se, e só se, uma recta contém os três pontos,
estamos em condições de falar na forma como Euclides definiu um plano.
Na Geometria Euclideana, o Axioma (I4) que apresento mais a diante diz-nos que" três pontos não
colineares definem um plano". Repara então, na figura a seguir, na representação de um plano β
definido pelos pontos A, B e C distintos e não colineares.
Exemplo: O plano ou plano ABC
Relações primitivas
Entre as noções primitivas (ponto, recta e plano), há três relações primitivas:
Estar entre, uma relação ternária entre pontos;
Estar contido, três relações binárias, uma ligando pontos e rectas, uma envolvendo pontos e
planos e outra entre rectas e planos;
Ser congruente, duas relações binárias, uma entre segmentos de recta e outra entre ângulos,
ambas denotadas pelo sinal ≅.
Conceitos como segmento de recta, ângulo, e triângulo, cada um pode ser definido em termos de
pontos e rectas, usando as relações de “estar entre” e “estar contido”.
Esta é a estrutura da Geometria, desde "Elementos" de Euclides, escrito no século III a.C., onde
ele tentou definir os conceitos fundamentais.
Actualmente, a Geometria aceita por normas:
Enunciar, sem definição, os conceitos fundamentais.
Admitir, sem demonstração, certas propriedades que relacionam estes conceitos,
enunciando os axiomas correspondentes.
Deduzir logicamente as propriedades restantes.
A Geometria Euclidiana faz um estudo das propriedades específicas, que são aquelas onde em
qualquer transformação euclidiana se mantêm invariantes. São elas o ângulo e a distância. São
transformações euclidianas a rotação, a translação, a simetria (transformações isométricas) e a
semelhança.
Existem dois métodos de aquisição de verdades sobre a Geometria, que são:
→ Indução: que parte do particular para o geral, e
→ Dedução: que parte do geral para o particular.
A Geometria Euclidiana baseia-se fundamentalmente no método dedutivo:
Axiomas de incidência
I1. Quaisquer que sejam os pontos A, B, existe uma recta r que passa par cada um dos pontos A, B.
I2. Quaisquer que sejam dois pontos distintos A, B, existe apenas uma recta que passa por cada um
dos pontos A, B.
I3. Em cada a recta há pelo menos dois pontos. Existem pelo menos três pontos que não pertencem
a uma mesma recta.
I4. Quaisquer que sejam três pontos A, B, C que não pertencem a uma mesma recta, existe um
plano que passa por cada um dos três pontos A, B, C. Em cada plano há pelo menos um ponto.
I5. Sejam quais forem três pontos A, B, C que não pertençam a uma mesma recta, existe
apenas um plano que passa a por cada um dos três pontos A, B, C.
I6. Se dois pontos diferentes A, B, da recta r pertencem ao plano α, cada ponto da recta r pertence
ao plano α.
I7. Se dois planos α e β têm um ponto comum A, têm ao menos outro ponto comum B.
I8. Existem pelo menos quatro pontos que não pertencem a um mesmo plano.
Axiomas de ordem
O1. Se o ponto B se encontra entre os pontos A e C, então A, B e C são pontos diferentes de
uma mesma recta, e B se encontra, assim mesmo entre C e A.
O2. Quaisquer que sejam os pontos A e C, existe pelo menos um ponto B sobre a recta AC tal
que C está entre A e B.
O3. Entre três pontos quaisquer de uma resta, apenas um deles pode encontrar-se entre outros
dois.
O4. (Axioma de Pasch). Sejam A, B, C três pontos que não pertencem a uma mesma recta, e
r, uma recta no plano ABC, que não contém nenhum dos pontos A,B,C. Então, se a recta r
passa por algum dos pontos do segmento AB, também passará ou por algum ponto do
segmento AC, ou por algum ponto do segmento BC.
Axiomas de congruência
C1. Se A, B são pontos sobre a recta r, e Ai é um ponto da mesma recta, ou de outra recta ri,
sempre se pode encontrar, a um lado pré-fechado de Ai sobre a recta ri, um ponto B, e somente
um, tal que o segmento AB é congruente a AiBi.
C2. Se os segmentos AiBi e AiiBii são congruentes ao mesmo segmento AB, então A iBi é
Axiomas de continuidade
C1. (Axioma de Arquimedes) Sejam AB e CD segmentos arbitrários. Então sobre a recta AB
existe um numero finito de pontos A1 , A2 , A3 , An situados de maneira que A1 está entre A e
A2 , A2 está entre A1 e A3 , etc., tais que os segmentos AA1 , A1 A2 , An1 An , são congruentes ao
Axioma de paralelismo
Seja r uma recta arbitrária e P, um ponto exterior à ela; então no plano determinado por P e r,
pode-se traçar uma recta que passa por P e não intersecta r.
Os postulados de Euclides
Em matemática, linhas rectas ou planos permanecem sempre a uma distância fixa uns dos outros
independentemente do seu comprimento. Este é um princípio da Geometria Euclidiana. Algumas
geometrias não euclidianas, como a Geometria Elíptica e a Geometria Hiperbólica, no entanto,
rejeitam o axioma do paralelismo euclidiano.
O postulado é uma sentença que não é demonstrada, tornando-se por isso evidente ou consenso
inicial para a aceitação de uma determinada teoria.
Como se pode depreender, postulado não é necessariamente uma verdade muito clara. Trata-se de
uma expressão formal usada para deduzir algo, a fim de se obter um resultado mais elaborado. Daí
que se diz que o postulado é uma proposição que, apesar de não ser evidente, é considerada
verdadeira sem discussão.
Geralmente, o postulado é visto como axioma, pelo facto de ambos serem verdades aceites sem
prova. O que acontece é que tanto postulados como axiomas são usados como hipóteses iniciais
para a construção de uma ideia formal.
O 5º postulado apresenta a noção de paralelismo de Euclides. "Há um ponto P e uma recta r não
incidentes tais que no plano que definem não há mais do que uma recta incidente com P e paralela
à recta r."
Foi na sequência deste último postulado que muitos matemáticos questionaram a axiomática de
Euclides, o que culminou com o surgimento de outras geometrias tidas como não euclidianas.
As proposições (ou teoremas) podem ser escritas na forma p q, onde p e q são chamados de
hipótese e tese respectivamente.
Entre as proposições deduzidas (ou teoremas) podem ocorrer as seguintes relações:
a) Afirmação recíproca:
Uma afirmação diz-se recíproca da outra quando os seus antecedente e o consequente são,
respectivamente, o consequente e antecedente da outra.
Igualmente, um teorema se diz recíproco de outro quando a sua hipótese e tese são,
respectivamente, a tese e a hipótese do outro.
Exemplos:
Afirmação: Se dois lados de um triângulo são desiguais, então ao maior lado opõe-se o maior
ângulo
Afirmação recíproca: Se dois ângulos de um triângulo são desiguais, então ao maior ângulo opõe-
se o maior lado.
Observação: Nem todas as afirmações recíprocas são teoremas, isto é, nem todos os teoremas
recíprocos são verdadeiros.
Assim, por exemplo:
Afirmação: Todos os ângulos rectos são iguais.
Afirmação recíproca: Todos os ângulos iguais são rectos.
b) Afirmação contrária:
É a proposição obtida pela negação da hipótese e tese de uma afirmação.
Exemplos:
Afirmação: Todo ponto da bissectriz de um ângulo é equidistante dos lados.
Afirmação contrária: Todo ponto que não pertence à bissectriz de um ângulo não é equidistante dos
lados.
Observação: Uma afirmação contrária nem sempre é verdadeira, ou seja, nem sempre é um teorema.
Afirmação: Dois ângulos opostos pelo vértice são congruentes.
Afirmação contrária: Dois ângulos que não são opostos pelo vértice não são congruentes.
4. Demonstração
Técnicas de demonstração
A demonstração de um teorema consiste em efectuar um conjunto de raciocínios dirigidos
exclusivamente para provar que é verdadeiro o facto afirmado pela proposição.
Para demonstrarmos proposições condicionais do tipo p q podemos usar:
a) Forma Direta:
Admitimos como verdade (ou válida) a proposição p, chamada de hipótese, e através de definições,
propriedades, relações, etc, pré-estabelecidos, concluímos a validade da proposição q, chamada de
tese.
b) Contra-positiva:
Neste caso, reescrevemos a proposição p q na forma equivalente ~q ~p e aplicamos a
forma direta na contra-positiva. Ou seja, partimos da negação da tese para concluirmos a
negação da hipótese.
Para se compreender o que está "escrito", é necessário pensar, raciocinar, deduzir. Será que existem
afirmações suficientemente claras, que sejam evidentes?
5. Noção de congruência
Definição: Duas figuras geométricas F1 e F2 são congruentes exactamente quando existe uma
isometria φ que transforma F1 em F2, isto é, F2 é imagem de F1. Denota-se: F1 F2.
Diz-se também que F2 é imagem de F1 → F2 = φF1
Numa linguagem mais simples, podemos dizer que duas figuras geométricas são congruentes
quando é possível fazê-las coincidir por sobreposição.
Das propriedades do grupo de isometrias segue-se que a congruência é uma relação de
equivalência.
Congruência de segmentos
Na Geometria, define-se o segmento de recta como parte dela, isto é, um conjunto limitado de
pontos da recta e o qual está delimitados por dois pontos designados extremos do segmento.
Exemplo: segmento AB
A
B
Segmentos colineares: aqueles cujos pontos pertencem todos à mesma recta, ou seja, aos
segmentos contidos na mesma recta.
Exemplo: AB e CD são segmentos colineares
A B C D
v
B D AB CD
CD = v (AB)
A C
AB CD
CD = ρ(AB)
α B CD = (A) (AB)
α D
A≡C
Um ponto fixo (O) fora do segmento
AB CD
α B D
C
CD = ( ,O ) (AB)
A
B D AB CD
CD = r (AB)
A C
B C
AB CD
P
CD = P (AB)
A D
Medição de um segmento
Sobre medição de um segmento entende-se a correspondência do conjunto de todos os
segmentos no conjunto dos números reais não negativos R 0 .
d d 2
ℓ
Isto é: AC 2 AB
AC
Ou seja: 2 número irracional
AB
A ℓ B
Portanto, AB e AC são incomensuráveis.
A D G a SA SD SA SG
AB DE AB GH
B E H b SA SD SA SG
SB SE SB SH
AB DE AB GH
C F I c BC EF AC GI
r s t
Teorema: Se um feixe de rectas (semi-rectas) é intersectado por rectas paralelas, então verifica-se:
Parte 1: Dois segmentos de recta numa semi-recta relacionam-se entre si como segmentos
correspondentes na outra semi-recta:
SA SD
AB DE
Parte 2: Dois segmentos de recta numa paralela relacionam-se entre si como segmentos
correspondentes na outra paralela:
AD BE
DG EH
Parte 3: Dois segmentos de recta correspondentes nas paralelas relacionam-se entre si como
segmentos respectivos em uma mesma semi-recta:
AD SA
BE SB
Observação: Os teoremas devem ser demonstrados
Aplicação da relação entre segmentos
(1) Multiplicação de um segmento
a) Seja dado um segmento AB e um escalar qualquer k. Se k = 2, por exemplo, podemos
encontrar um ponto C tal que AC k AB (ou AC 2 AB ):
B
A
A B C
b) De acordo com as condições descritas na alínea anterior, vamos encontrar um ponto S tal
que AS 13 AB :
A S B
r
ri
Oi
r//ri
N Ni
NOi AB = P
M M i
P A B
Verificamos que, dado um segmento AB e uma razão k 1 , é possível obter dois pontos que
dividem o segmento dado na mesma razão, sendo um na pela divisão interna e outro pela divisão
1
externa. Assim, o segmento AB está dividido pelos pontos M e N na mesma razão k e diz-se
2
que AB está dividido harmonicamente.
MA NA
Portanto, os pontos M e N dividem harmonicamente o segmento AB quando :
MB NB
N A M B
Como os pontos M e N dividem o segmento AB na mesma razão (um interiormente e outro
exteriormente), estes pontos chamam-se conjugados harmónicos de AB na razão k.
Propriedades:
P1: Na divisão harmónica de um segmento AB na razão k são válidas as seguintes propriedades:
2 1 1 2 1 1
para k 1 e para k 1 .
AB AM AN AB AM AN
A O M B N
(4) Homotetia
Fala-se de homotetia φ de centro H e razão (factor) k. E anota-se φ = (H, k), sendo k R+.
Tendo um segmento AB, podemos encontrar φ(AB), dado o centro H e a razão k. Após a
transformação, três casos podem ocorrer:
1o Caso: Se 0 <k <1 temos uma redução;
2o Caso: Se k = 1 temos a congruência; e
3o Caso: Se k> 1 temos uma ampliação do segmento dado.
H B
Bi
Ai
Seja φ = φ1oφ2 onde φ1 = (H1, k1) e φ2 = (H2, k2). Como encontrar φ = (H, k)? Isto é, como
determinar geometricamente os elementos H, k e φ desta homotetia? Investigue: Tome como
exemplo φ(AB) com φ1 = (H1, 1
2
) e φ2 = (H2, 3). Para obter φ (H, k) = φ1oφ2 verificará após as
7. Construções geométricas
Em Geometria, a resolução de um problema de construção levanta fundamentalmente as seguintes
duas questões:
Como se pode construir a figura que se pede?
Quantas figuras (diferentes entre si) do tipo pedido existem?
A partir do século V a.C., os matemáticos gregos desenvolveram uma parte da Matemática,
intimamente ligada à Geometria, conhecida como Construções Geométricas com Régua e
Compasso. Os problemas de construções geométricas são muito interessantes e alguns deles devem
ser enfrentados por quem está interessado em Geometria.
Os três Problemas Clássico da Geometria Euclidiana
É bom saber que os gregos antigos propuseram e resolveram muitos problemas de construção
difíceis, mas não conseguiram resolver, ou melhor, não conseguiram provar que não tinham
solução os três problemas conhecidos como os três problemas clássicos da Geometria Euclidiana,
que são:
(1) a trissecção de um ângulo: dividir um ângulo dado qualquer em três partes iguais (ou seja,
em três ângulos congruentes cuja soma é o ângulo dado)
(2) a duplicação de um cubo: construir o lado de um cubo, cujo volume é o dobro do volume
de um cubo cujo lado é dado
(3) a quadratura de um círculo: construir um quadrado cuja área é a mesma de um círculo
dado.
Todos eles consistindo em, usando apenas régua e compasso,
Esses problemas foram enfrentados com sucesso apenas no século XIX, com a ajuda da Álgebra.
Mas isto já é outra história.
O pensamento dos matemáticos gregos era dominado por três grandes problemas que, justamente
por se mostrarem insolúveis, estimulavam a inteligência e a ambição dos geómetras: a duplicação
do cubo, a trissecção do ângulo e a quadratura do círculo.
A duplicação do cubo consiste em encontrar o lado do cubo do qual o volume é o dobro do volume
de um cubo dado; trissecção do ângulo consiste em dividir um ângulo dado em três partes iguais e
a quadratura do círculo consiste em encontrar um quadrado de área igual à de um círculo dado.
A duplicação do cubo: consiste em construir um cubo com o dobro do volume de um dado cubo.
Ninguém sabe ao certo quando foi este desafio lançado pela primeira vez, mas a tradição histórica
situa-o na época dos pitagóricos, discípulos de Pitágoras (século VI a.C.).
Várias lendas são contadas sobre a origem deste problema. Uma bem conhecida refere-se a uma
epidemia entre os habitantes de Atenas, que teriam decidido enviar uma delegação para perguntar
ao oráculo da ilha de Delos o que tinham que fazer para apaziguar os deuses. Ao que aquele lhes
respondeu que deveriam construir um altar ao deus Apolo, em forma de cubo, e com o dobro do
volume de um outro existente na ilha. Tendo eles tentado resolver o problema construindo um
cubo cuja aresta fosse o dobro da do altar da ilha, verificaram com surpresa que o novo altar tinha
oito vezes o volume do primeiro! E a epidemia continuou...
Tudo leva a crer que rapidamente os geómetras se convenceram de que a construção geométrica
pedida não podia ser resolvida dentro das regras estritas da Geometria grega, que apenas
Apenas no século XIX esta questão ficou definitivamente resolvida e pela negativa: é impossível
encontrar um processo que, utilizando apenas um compasso e uma régua não graduada, permita
dividir qualquer ângulo em três partes iguais. Assim, o problema tem solução para 90o e para 45o,
por exemplo, mas é irresolúvel para os ângulos de 60o e 3o.
A quadratura do círculo: consiste em construir um quadrado com a mesma área de um dado
círculo.
Se designarmos por r o raio do círculo dado e por a nossa incógnita, queremos determinar tal
que 2 r 2 , ou seja, .
r
O problema resume-se então a fazer a determinação de uma constante que é .
Ora a impraticabilidade da quadratura do círculo, fazendo uso apenas de régua não graduada e
compasso, foi rigorosa e irrefutavelmente demonstrada.
Para resolver problemas de construções geométricas, além de lápis e papel, utilizam-se dois
instrumentos para desenhar figuras: um compasso e uma régua (sem escala). O compasso será
utilizado para desenhar circunferências e a régua, para traçar rectas. Serão utilizadas apenas as
seguintes operações (que se justificam pelos axiomas da Geometria Euclidiana):
Traçar uma recta por dois pontos conhecidos.
Na verdade, não podemos desenhar uma recta numa folha de papel. Nossas construções deverão
deixar claro se o que desenhamos é recta, semi-recta (tem uma origem) ou segmento de recta (um
segmento está limitado por dois pontos).
Desenhar uma circunferência, dado o seu centro e o seu raio.
Marcar os pontos, quando houver, de intersecção de duas linhas (duas rectas, duas
circunferências ou uma recta e uma circunferência).
Para simplificar as construções, é comum desenharmos arcos de circunferência em vez de
circunferências, além de segmentos de rectas e semi-rectas em vez de rectas. Entretanto, há
situações em que essa prática pode ocultar soluções válidas de um problema, sendo necessária a
devida atenção para evitar isso.
Uma construção geométrica consiste numa sequência finita de pelo menos uma dessas operações.
Iremos desenvolver um procedimento adequado para descrever os passos de uma construção
(como um programa de computação). Mas o mais importante são os conceitos, ideias e teoremas
geométricos envolvidos na resolução dos problemas. Por isso, iremos exercitar a actividade
fundamental característica da Matemática: a demonstração. O fato de exibirmos uma figura
desenhada não basta para afirmar que um problema foi resolvido: é preciso provar, com bases nas
leis da lógica e nos fatos já conhecidos (definições, axiomas ou teoremas), que tudo o que foi feito
é válido. Por isso, cada passo da construção deve ser justificado (isto é, demonstrado).
Dependendo do problema (maneira de apresentação dos elementos de determinação, as variáveis),
tendo em conta os meios de construção (instrumentos como régua, esquadro, compasso, etc.)
permitidos para a resolução, tem-se diferentes formas de resolver um problema de construção.
Para o nosso estudo vamos começar por apresentar a forma clássica de resolução completa de
problemas e construção, na qual se permite apenas o uso da régua não graduada e compasso para a
construção.
Os desenhos construídos, usando apenas estes instrumentos, servem para visualizar e ajudar o
raciocínio mas de nenhum modo servem como demonstrações e são, do ponto de vista matemático,
supérfluos.
Essa forma de resolução de um problema de construção compreende quatro partes seguintes:
1. Análise: É suposto que existe uma figura, que verifica todas as exigências do problema
colocado. Com uso de uma figura plana, a figura por construir pode ser decomposta em figuras
parciais que, consecutivamente, com ajuda de princípios conhecidos, dão construídos a partir
dos elementos dados. A análise termina com a reflexão da seguinte afirmação: “Se existe uma
figura que cumpre todas as condições do problema, então ela pode ser construída da seguinte
maneira…”.
2. Construção: Na descrição da construção é dada uma sequência finita de passos que
possibilitam a obtenção da figura procurada. A realização da construção serve como
visualização e como suporte ao raciocínio. Não é dito que tal figura só pode ser construída da
maneira dada. Poderá haver ainda outras possibilidades de construção que, no entanto,
envolverão outra análise.
Na descrição de uma construção, há construções simples que são consideradas conhecidas, de
modo que a sua realização em particular não precisa ser descrita:
Transporte de um segmento de um dado comprimento sobre uma recta, a partir de um
ponto, em uma dada direcção;
Transporte de um ângulo de uma dada amplitude para uma recta em um dos seus pontos;
Levantamento de uma perpendicular à uma recta a partir de um dado ponto;
Construção de paralelas a uma dada recta através de um ponto ou a uma determinada
distancia;
Construção da mediatriz de um segmento;
Construção de uma circunferência (ou arco de circunferência) através de um ponto como
centro, com um dado raio;
Construção de circunferenciais inscritas ou circunscritas a um dado triangulo;
Partição de um segmento de recta de uma relação;
Construção de uma tangente de um dado ponto a uma dada circunferência;
Construção de um rectângulo dadas as medidas dos seus lados
Lugar geométrico: Falar de lugar geométrico, de uma maneira geral, é falar dos pontos ou
conjunto dos pontos do plano que formam uma certa região na qual se acham os elementos
geométricos considerados.
Exemplos:
Encontrar o lugar geométrico de todos os
pontos do plano que se encontram à mesma
distância de um ponto dado.
d
(Circunferência);
P
→ Trata-se de uma circunferência de centro
P e raio d:
Q AP BP
AQ QB
AM MB
A M B
AR RB
s
r
sl
d
s // r // sl
8. Noção do ângulo
Considera-se ângulo à região de um plano determinada pela intersecção de duas semi-rectas que
têm a mesma origem. Trata-se de um dos conceitos fundamentais e objecto de estudo da
Geometria.
α q
Exemplo:
O ponto M pertence ao subconjunto do ângulo B
C1
que delimita C1, e para indicar este ângulo C2
M
inclui-se o ponto M: (p, q, M).
O A p
q
P
(p, q, P)
O
p
(1) Invariância: O ângulo que através de uma isometria se transformam num outro, tem o
mesmo valor numérico.
(2) Aditividade: O valor numérico de um ângulo subdividido é igual à soma dos valores
numéricos desses ângulos parciais.
(3) Norma: Existe um ângulo (a, b) com a ≠ b cuja imagem é α( (a, b)) = 1.
O valor numérico ( p, q) de um ângulo (p, q), depende da escolha de um ângulo unidade
(a, b). Pela escolha fixa de (a, b), a amplitude do ângulo (p, q) é escrito como produto
formal do valor numérico e unidade: ( p, q) (a, b) , λ R.
δ
α γ
O
β
Dois ângulos com o mesmo vértice e cujos lados correspondentes estão na mesma recta, são
chamados ângulos verticalmente opostos. Exemplos: (α e γ); (β e δ).
Dois ângulos quaisquer com o mesmo vértice e um lado comum entre eles, chamam-se
ângulos adjacentes. Exemplos: (α e β); (β e γ); (γ e δ); (α e δ).
Postulado (1): Ângulos verticalmente opostos são congruentes. Exemplos: (α γ); (β δ).
Quando um par de rectas r e s no plano é intersectado por uma outra recta t, formam-se nos pontos
de intersecção P e Q os seguintes pares de ângulos:
γ β
P α
δ
ρ θ s
Q ε
φ
t
γ β
P α
δ s
ρ θ
Q ε
φ
t