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Texto de revisão

Nome da disciplina: História da Matemática

Código: MHM001

No desenvolvimento da disciplina História da Matemática, tratamos das contribuições de


diferentes culturas e civilizações, em diferentes épocas, para o desenvolvimento da Matemática e
para abordar as potencialidades do uso da História da Matemática no ensino básico. Para isso,
buscamos promover uma reflexão sobre a inserção cultural da evolução dos conceitos da
Matemática Elementar na História da Humanidade, para que os alunos percebessem a estrutura
interna da Matemática mediante o estudo da evolução dos seus conceitos e o potencial
pedagógico da História da Matemática na Educação Básica.
Na Semana 1, abordamos as origens do conhecimento matemático, considerando os
registros históricos que chegaram até nossos dias. Para isso, tratamos das origens dos números e
dos primeiros sistemas de numeração. Conhecemos o sistema de numeração egípcio que era não
posicional, aditivo e de base dez. Já o sistema de numeração babilônico era posicional e possuía
dois símbolos em forma de cunha (cuneiformes). Esses símbolos básicos eram rápida e
facilmente marcados em tábuas de barro macio com um instrumento (cálamo) de escrita simples.
Os babilônios escreviam nessas tábuas, que eram, então, cozidas para ficar duras e formar um
registro permanente. Os símbolos usados eram para a unidade e para a dezena. O sistema
de numeração era sexagesimal (base 60) e os números de 60 até 3599 eram representados por
dois grupos de símbolos, o segundo colocado à esquerda do primeiro e separado dele por um
espaço. O valor todo era encontrado somando os valores dos símbolos em cada grupo, depois
multiplicando o valor do grupo da esquerda por 60 e somando isso ao valor do grupo da
direita. Por exemplo:

No primeiro grupo, temos 4 símbolos que dezena e 2 de unidade, ou seja, 10 + 10 + 10 +


10 + 1 + 1 = 42 e no segundo grupo temos 2 símbolos de dezena e 3 de unidade, isto é, 10 +
10 + 1 + 1 + 1 = 23. Dessa forma, o número representado é 42 × 601 + 23 × 600 ou 42 × 60 +
23 = 2543.
O sistema de numeração maia era posicional e usava agrupamentos dos símbolos básicos

para representar números grandes e adotava como símbolo para representar o zero. Os
maias tinham dois símbolos básicos: um ponto “.” para o número um e uma barra “__” para o
número cinco. Esses agrupamentos eram dispostos verticalmente e os valores calculados
somando-se o valor por posição de cada grupo. O grupo mais embaixo, o primeiro, representava

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unidades; o valor do segundo grupo era multiplicado por 20, o valor do terceiro por 18 × 20, o do
quarto por 18 × 202 , o do quinto por 18 × 203 e assim sucessivamente. Por exemplo:
(1+1)x(18x20) = 2 x 360 = 720
..
(1+ 1 + 1+ 5) x 20 = 8 x 20 =
...
160
___
___ 5
720 + 160 + 5 = 885

Da mesma forma que o antigo sistema egípcio, a numeração romana era do tipo aditivo,
não posicional e de base dez com o cinco como base auxiliar. Os valores dos símbolos básicos
eram somados para determinar o valor de todo o número cardinal, por exemplo, 𝐶𝐿𝑋𝑋𝐼𝐼 = 100 +
50 + 10 + 10 + 1 + 1 = 172. Números maiores eram escritos colocando-se uma barra sobre um
conjunto de símbolos para indicar multiplicação por 1.000. Além disso, o sistema romano também
emprega um recurso de subtração. Por exemplo, 𝐼𝑉 = 5 − 1 = 4. Dessa forma, o símbolo
posicionado à esquerda indica que o valor menor era subtraído do maior para resultar o valor do
par. Por fim, vimos que o sistema de numeração grego era de base decimal, alfabético e não
posicional e que o sistema de numeração chinês era de base decimal, posicional e do tipo híbrido.
Na Semana 2, estudamos a Teoria dos Números na Escola Pitagórica, os problemas
clássicos da Matemática Grega e a obra Os elementos de Euclides. A crença da escola pitagórica
levava a uma exaltação e ao estudo das propriedades dos números e da aritmética. É atribuída
aos pitagóricos a descoberta da propriedade dos denominados números perfeitos, números
amigos, números abundantes, números deficientes e dos números figurados (triangulares, obtidos
pela expressão ½ 𝑛(𝑛 + 1) para 𝑛 natural; pentagonais, dados pela expressão ½ 𝑛 (3𝑛 − 1); e os
quadrados, obtidos pela expressão 𝑛2 ).
Os pitagóricos encontraram uma possibilidade de representar os números naturais
mediante configurações geométricas de pontos (seixos) e provavelmente utilizaram os seixos para
verificar algumas proposições relacionadas com a adição de conjuntos de seixos pares e ímpares.
Exemplos: 1. A adição de quaisquer quantidades de seixos pares tem como soma uma
quantidade de seixos par, ou seja, a soma de dois números pares é um número par. 2. A adição
de quaisquer quantidades de seixos ímpares tem como soma uma quantidade de seixos par, isto
é, a soma de dois números ímpares resulta em um número par. 3. A adição de quaisquer
quantidades de seixos, porém uma com quantidade par de seixos e a outra com quantidade ímpar
de seixos, tem como soma uma quantidade de seixos ímpar, isto é, a soma de um número par
com um número ímpar resulta em um número ímpar.

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A obra Os elementos de Euclides contém parte do saber geométrico-aritmético acumulado
e absorvido até o começo do século III A.E.C. pelos matemáticos gregos. A obra não contém toda
a geometria grega, nem é um resumo de toda ela; sem dúvida, contém uma porção considerável
da Matemática que os geômetras anteriores a Euclides e o próprio Euclides elaboraram. Mas essa
parte não foi escolhida ao acaso, e sim selecionada conforme um critério prefixado que converteu
esse conjunto de conhecimentos num sistema axiomático. A obra Os elementos de Euclides é
caracterizada pela sua estrutura lógica ordenada. Ele dispôs os conteúdos presentes nesse livro
numa sequência lógica coerente que atualmente denominamos de método axiomático. Na prática,
Euclides estabelece inicialmente 23 definições, 5 postulados e 9 noções comuns, e a partir deles
todas as proposições subsequentes são demonstradas mediante a utilização dessas proposições
primárias por meio da dedução lógica. O método euclidiano, que os matemáticos e os filósofos
contemporâneos preferem designar como método axiomático, consiste em denunciar previamente
as hipóteses básicas sobre as quais se constituirá a ciência e logo construí-la numa forma
rigorosamente dedutiva.
A Quadratura do Círculo, a Trissecção do Ângulo e a Duplicação do Cubo são conhecidos
como os problemas clássicos da Matemática Grega. Esses problemas estão entre os que não
puderam ser resolvidos pelos gregos com régua não graduada e compasso. Isso ocorre, pois os
problemas envolvem números não construtíveis, ou seja, as construções necessárias para a
solução dos problemas são impossíveis. Entretanto, uma compreensão completa desses
problemas não vem da Geometria, mas da Álgebra Abstrata (um assunto que não nasceu até o
século XIX).
Na Semana 3, abordamos a teoria das proporções de Eudoxo e os incomensuráveis,
Arquimedes de Siracusa e a Geometria e Apolônio de Perga (262 – 190 a.E.C.) e as seções
cônicas. São atribuídas a Eudoxo de Cnido (408 – 355 a.E.C.) as proposições que Euclides de
Alexandria (325 – 265 a.E.C.) expõe no livro V de Os elementos sobre grandezas gerais e suas
relações, aplicadas tanto a segmentos de reta quanto a áreas, volumes etc. e que, juntamente
com o chamado método de exaustão, permitiram uma abordagem rigorosa para os cálculos de
áreas e volumes. A solução estabelecida pelo geômetra Eudoxo inclui uma definição, um
postulado e um método. O método idealizado e aplicado pela primeira vez em demonstrações
geométricas por Eudoxo é o conhecido como o método da exaustão. Já a definição evita a
dificuldade que havia apresentado a razão entre grandezas incomensuráveis. Eudoxo, com a sua
Teoria das Proporções, evitou a discussão sobre a identificação da razão entre duas grandezas
quaisquer com um número, pois com sua teoria é possível definir a igualdade entre razões,
mesmo quando não é possível identificar essa razão com um número, isto é, Eudoxo evitou a
discussão sobre a natureza dos irracionais e sobre a validade dos processos infinitos. Para
Eudoxo, os segmentos 𝑎, 𝑏, 𝑐 e 𝑑 são proporcionais se a razão entre 𝑎 e 𝑏 é igual à razão entre 𝑐
e 𝑑. Milhares de anos mais tarde, no século XIX, Richard Dedekind (1831 – 1916) se inspirou na
1
Teoria das Proporções de Eudoxo ao interpretar um número real como razão entre duas
grandezas e, dessa forma, estabelecer a construção dos números reais. Para Dedekind, duas
razões são iguais (segundo a definição de Eudoxo) se elas definem cortes iguais.
Arquimedes de Siracusa (287 – 212 a.E.C.), em sua obra Sobre as medidas do círculo,
aplica o Método de Exaustão de Eudoxo (com um aprimoramento) para calcular a área do círculo.
Com esse procedimento, Arquimedes calculou uma boa aproximação para o valor de 𝜋 (pi). O
procedimento aplicado por Arquimedes para obter a área do círculo consiste em usar polígonos
regulares inscritos e circunscritos no círculo e ir dobrando o número de lados desses polígonos.
Assim, conforme se aumenta o número de lados dos polígonos inscritos e circunscritos, suas
áreas se aproximam da área do círculo. As contribuições de Arquimedes abarcaram vários
domínios da Matemática Grega da sua época, como Geometria, Aritmética, Astronomia, Mecânica
e Óptica. A geometria arquimediana procurou considerar e demonstrar proposições sobre áreas e
volumes limitadas por novas linhas ou superfícies curvas (quadratura da parábola e espirais,
cubatura da esfera, cilindro, conoides e esferoides), equilíbrio de planos e seus centros de
gravidade sobre corpos flutuantes. Alguns dos trabalhos de Arquimedes são: O método; Sobre a
Esfera e o Cilindro; A quadratura da parábola.
Thales de Mileto (da Escola Jônica) foi um filósofo da natureza que, por meio de
observações empíricas sobre os seres e os fenômenos, especialmente os meteorológicos, chegou
à concepção de que todo o universo estava submetido a um processo e uma transformação
contínua. Para Pitágoras (Escola Pitagórica), o pensamento filosófico adquire outra característica:
uma preocupação em estudar a essência das coisas, os primeiros princípios e a causa do que
existe, ou seja, os problemas metafísicos. Já Parmênides (fundador da Escola Eleata) apresenta
uma nova forma do pensamento reflexivo, isto é, a ação necessária da razão como processo
dialético do pensar, surgindo como primeiro resultado dessa operação natural a distinção entre o
que é a essência e o que é a forma das coisas. A escola eleata negava a validade dos sentidos
como meio para alcançar a verdade. De acordo com esse preceito, os eleatas pretendiam
demonstrar que por intermédio da razão seriam capazes de provar que a mensagem dos sentidos
deveria ser ignorada. Seguindo essa linha filosófica, um discípulo de Parmênides de Eleia que
merece destaque é Zenão de Eleia (490 – 435 a.E.C.), que presenteou os pensadores com seus
quatro clássicos argumentos contra o movimento, chamados de Paradoxos de Zenão. Atualmente,
os argumentos de Zenão são interpretados como críticas dirigidas às concepções pitagóricas para
demonstrar os absurdos que implicava a concepção dos corpos como soma de pontos, do tempo
como soma de instantes e do movimento como soma de passagens de um lugar para outro. As
críticas de Zenão, independentemente de seus objetivos, tiveram importantes consequências para
o desenvolvimento ulterior da Matemática Grega. Além disso, podem-se citar como contribuições
diretas de Zenão à Matemática Grega, certos recursos de ordem lógica, metodológica e técnica.

1
O processo dicotômico, frequente nas críticas de Zenão, foi utilizado por outros matemáticos como
recurso de demonstração.
Na História da Matemática, não há consenso sobre o surgimento das cônicas, mas
acredita-se que podem estar ligadas ao problema de duplicação do cubo. Hipócrates de Quios, no
século V a.E.C, reduziu o problema da duplicação do cubo à resolução de duas, de três equações
dadas, que representam duas parábolas e uma hipérbole. Até meados do século III a.E.C., os
matemáticos consideravam os cones de revolução de uma folha e obtinham as seções cônicas
seccionando cones de três diferentes ângulos no vértice por planos perpendiculares a uma
geratriz. Apolônio de Perga, em sua obra Cônicas, definiu as seções cônicas de forma
diferente. Ele percebeu que os três tipos de cônicas podem ser obtidos por meio de secções de
uma única superfície cônica, desde que a inclinação do plano de intersecção varie de forma
conveniente.
Na Semana 4, tratamos de alguns episódios da História da Álgebra, começando com
Diofanto de Alexandria (200 – 284), considerado um precursor da Álgebra, passando pela
Matemática islâmica medieval que produziu diversos nomes de estudiosos de primeira grandeza,
entre eles, Al-Khwarizmi, até chegar ao Renascimento. Também vimos que, embora os símbolos
da aritmética e da álgebra sejam universais, isso nem sempre foi assim. Os símbolos usados
variavam conforme o país e somente no Renascimento, com a invenção da imprensa, foi que os
livros impressos começaram a exibir uma simbologia mais comum.
A obra Aritmética de Diofanto mostra seu avanço na resolução de equações e na
introdução de certo simbolismo. No Problema 1 do Capítulo 1, por exemplo, temos: Dividir um
dado número em dois tendo uma dada diferença. Diofanto apresenta a solução para o caso em
que o número dado é 100 e a diferença 40. Apesar do problema ser determinado, ou seja, os
números dados são especificados, o método de Diofanto se aplica a qualquer par de números. Se
𝑎 é o número dado e 𝑏 a diferença dada, com 𝑏 < 𝑎, então a equação será 2𝑥 + 𝑏 = 𝑎, os
números procurados são: ½ (𝑎 − 𝑏) e ½ (𝑎 + 𝑏). Por exemplo: se o número dado é 100 e a
diferença 40, temos que ½ (100 − 40) e ½ (100 + 40), ou seja, 30 e 70. No Problema 19 do
Capítulo 2, temos: Encontrar três quadrados tais que a diferença entre o maior e o médio
tem uma dada razão para a diferença entre o médio e o menor. Considerando, por exemplo,
que a razão entre as diferenças seja 3, uma equação que representa o problema proposto é:
Sejam 𝑥, 𝑦 e 𝑧 de modo que 𝑥 > 𝑦 > 𝑧, ou seja, 𝑥 é o maior, 𝑦 é o médio e 𝑧 é o menor. Nesse
caso, temos: (𝑥 2 − 𝑦 2 )/(𝑦 2 − 𝑧 2 ) = 3 ou 𝑥 2 − 𝑦 2 = 3(𝑦 2 − 𝑧 2 ).
Sobre o desenvolvimento da Matemática Islâmica Medieval, se destaca o nome de al-
Khwarizmi (790 – 850). Em sua obra Livro sobre adição e subtração segundo os métodos dos
indianos, al-Khwarizmi nove caracteres para designar os primeiros nove algarismos e, como nos
informam as versões latinas, um círculo para designar o zero. Al-Khwarizmi mostra como escrever
qualquer número usando esses caracteres na nossa conhecida notação posicional e descreve os
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algoritmos de adição, subtração, multiplicação, divisão, redução pela metade, duplicação e
determinação de raízes quadradas, fornecendo exemplos de seu uso. O conhecimento do sistema
hindu espalhou-se por toda a Índia e foi disseminado nas terras islâmicas. Al-Khwarizmi, em sua
obra Livro sobre adição e subtração segundo os métodos dos indianos, introduziu nove caracteres
para designar os primeiros nove algarismos e, como nos informam as versões latinas, um círculo
para designar o zero. O tratado de álgebra escrito por al-Khwarizmi data de cerca de 830 e tem o
título Kitab al-jabr wa-al-muqabala - Livro de Álgebra e Muqabala. Na primeira parte, al-Khwarizmi
classifica as equações de primeiro e segundo graus e apresenta exemplos de problemas para
cada um dos tipos especificados. Um dos problemas é: Um quadrado e dez raízes da mesma
quantidade perfazem trinta e nove dirhams; quer dizer, qual deve ser o quadrado que quando
acrescentado de dez raízes perfaz trinta e nove. O problema nos dá a equação 𝑥 2 + 10𝑥 = 39.
Para resolver o problema, al-Khwarizmi constrói dois retângulos sobre lados consecutivos do
quadrado e, em seguida, constrói um quadrado cujos lados são os lados dos retângulos
construídos. A área da figura obtida por meio da construção dos retângulos sobre os lados
consecutivos do quadrado é 39. Assim, a área da figura final obtida será 39 + 25, ou seja, 64.
Portanto, o lado desse quadrado é 8. Subtraindo o 5 (lado do retângulo), chegamos que 𝑥 = 3 e,
logo, 𝑥 2 = 9. A resolução proposta por al-Khwarizmi pode ser trabalhada em sala de aula como
uma estratégia para estabelecer uma relação entre conhecimentos algébricos e geométricos.
A álgebra retórica, que usa a linguagem, isto é, utiliza apenas palavras sem abreviações
ou símbolos específicos, era usada pelos babilônios e permaneceu em vigor até o século XV na
Europa Ocidental. Entretanto, a álgebra retórica nunca deixou de ser utilizada. Conforme
Berlingoff e Gouvêa (2004), num caderno escolar do século XIX, encontramos o seguinte método
para calcular a área de um triângulo: Da metade da soma dos três lados subtraia cada lado
separadamente, multiplique a metade da soma e os três restos continuamente juntos, e a raiz
quadrada do último produto será a área do triângulo. Suponha, por exemplo, que o triângulo tenha
lados medindo 10, 10 e 12. Assim, 10 + 10 + 12 = 32 e metade da soma dos três lados será 16.
Desse valor, vamos subtrair a medida de cada lado: 16 − 10, 16 − 10, 16 − 12, ou seja, 6, 6 e 4.
Em seguida, devemos multiplicar a metade da soma dos lados pelos três restos encontrados,
continuamente, isto é, 16 × 6 × 6 × 4 = 2304. Por fim, devemos calcular a raiz quadrada do
produto, ou seja, √2304 = 48. Portanto, a área do triângulo é 48. Veja que nesse caso, não foi
necessário determinarmos a altura do triângulo para encontrar a área.
O século XIV foi marcado pelo início de grandes transformações na economia da Europa e
isso se refletiu no desenvolvimento da Matemática. Os maiores nomes do Renascimento no que
diz respeito ao desenvolvimento da Álgebra são Nicolo Tartaglia (1500 – 1557) e Girolamo
Cardano (1501 – 1576). Em 1530, Giovanni Colla propôs a Tartaglia um desafio: encontrar a
resolução das equações 𝑥 3 + 6𝑥 2 + 8𝑥 = 100 e 𝑥 3 + 3𝑥 2 = 5. Cinco anos mais tarde, Antonio

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Fiore desafia Tartaglia a resolver trinta problemas do tipo 𝑥 3 + 𝑝𝑥 = 𝑞. Tartaglia resolve
rapidamente e propõe a Fiore outros problemas que envolviam equações cúbicas do tipo 𝑥 3 +
𝑝𝑥 2 = 𝑞. Fiore não conseguiu resolver tais problemas. Com isso, Tartaglia ganhou fama e logo foi
convidado por Cardano para ir a sua casa onde pediu que Tartaglia revelasse as suas regras de
resolução. Tartaglia recusou a oferta de Cardano. Mas, em 25 de março de 1539, Tartaglia
escreveu uma carta a Cardano, em que divulgava as regras que tinha descoberto para resolver
algumas equações cúbicas. Tartaglia pediu que Cardano mantivesse segredo sobre a sua chave
de resolução. Tartaglia, desse modo, foi o primeiro a determinar a solução geral de equações
cúbicas do tipo 𝑥 3 + 𝑝𝑥 = 𝑞, mas não o primeiro a publicar essa solução. O primeiro a publicar a
solução de equações cúbicas foi Cardano, em 1545, na sua obra conhecida como Artis Magnae,
Sive de Regulis Algebraicis, Liber Unus (A grande arte ou Sobre as regras da álgebra, Livro Um).
O Artis Magnae (obra conhecida por Ars Magna) é a primeira obra dedicada exclusivamente à
Álgebra. No livro, para cada caso tratado de equações, Cardano primeiro faz a demonstração para
um caso particular (em geral, por meio de relações de volumes de cubos e paralelepípedos). Em
seguida, enuncia a regra geral para todas as equações de um mesmo tipo e aplica essa regra em
exemplos numéricos.
Por fim, cabe lembrar que no ensino da Álgebra há três concepções que influenciaram o
ensino de forma significativa. A primeira, que prevaleceu por todo o século XIX e na primeira
metade do século XX, enfatizava um processo de obtenção de expressões algébricas
equivalentes por meio de regras e propriedades válidas. Na segunda, que se estendeu até a
década de 1970, a ênfase estava em justificar todas as passagens realizadas na resolução das
expressões algébricas por meio das propriedades estruturais das operações. A terceira
concepção enfatizava o uso de construções geométricas para justificar as resoluções
algébricas. Essa terceira concepção vai ao encontro de uma das características que envolvem a
História da Álgebra porque, por um longo período da História da Matemática, as justificativas para
a resolução de equações algébricas se fundamentavam em construções geométricas.
Na Semana 5, abordamos os trabalhos de Leonardo de Fibonacci (1170 – 1250), os
métodos matemáticos no Renascimento, enfatizando as aplicações da Trigonometria na
Astronomia e os Logaritmos, inspirando-se nas obras dos matemáticos mais importantes desse
período. Na obra Liber Abacci de Fibonacci encontramos o famoso Problema dos Coelhos - “Um
casal de coelhos torna-se produtivo após dois meses de vida e, a partir de então, produz um novo
casal a cada mês. Começando com um único casal de coelhos recém nascidos, quantos casais
existirão ao final de um ano?”. Por meio do problema obtemos a sequência de Fibonacci, em que
cada elemento da sequência é a soma dos dois precedentes: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, …
A sequência de Fibonacci tem muitas propriedades importantes. Uma delas é a sua relação com a

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razão áurea: que o limite da razão entre dois termos consecutivos da sequência, quando 𝑛 tende
𝑓𝑛 1+√5
a infinito, é igual à razão áurea, ou seja, lim = .
𝑛→∞ 𝑓𝑛−1 2

Muito antes da época de Napier os matemáticos tinham notado que existe uma relação
entre os termos de uma progressão geométrica e os expoentes da razão comum. Michael Stifel
(1486 – 1567), em seu livro Arithmetica integra (1544), formulou a seguinte relação: quando
multiplicarmos quaisquer dois termos da progressão 1, 𝑞, 𝑞2 , 𝑞3 , … o resultado será o mesmo que
se somarmos os expoentes correspondentes. Para utilizar essas ideias com o objetivo de reduzir
as operações a outras mais simples, era necessário confeccionar tabelas em que se comparavam
as sequências de potências dos números com a sequência de seus expoentes. As tabelas de
Simon Stevin (1548 – 1620), por exemplo, eram tabelas de porcentagem, ou seja, o valor dos
números (1 + 𝑟)𝑛 com diferentes taxas de porcentagens: 𝑟 = 0,05; 𝑟 = 0,04; etc. Assim, quanto
menor for 𝑟, menor será a proporção entre os valores obtidos. Uma tabela análoga foi o
fundamento de uma das primeiras tabelas de logaritmos confeccionada por Joost Bürgi (1552 –
1632). No desafio da semana, você aprendeu como construir uma tábua de logaritmos por meio
da relação entre uma progressão aritmética e uma progressão geométrica.
Na sua obra Almagesto, Ptolomeu desenvolveu extensos métodos trigonométricos e
introduziu a função cordas. A lei da função “cordas do ângulo” pode ser definida, utilizando a
𝛼
notação moderna, como 𝑐𝑟𝑑(𝛼) = 120 𝑠𝑒𝑛 ( 2 ). Essa relação contém vestígios do conceito de

função, pois ela fornece uma maneira de associar a cada valor do ângulo um valor para a corda.
Nessas condições, a corda do ângulo de 900 é 𝑐𝑟𝑑(900 ) = 120 × 𝑠𝑒𝑛 (900 /2) = 120 × 𝑠𝑒𝑛 450 =
√2
120 = 60√2.
2

Na Semana 6 estudamos algumas ideias sobre a elaboração dos métodos infinitesimais


no Cálculo, os precursores e os inventores do Cálculo Diferencial e Integral. Com isso, foi possível
percebermos que a evolução de conceitos que atualmente estudamos na disciplina de Cálculo
Diferencial e Integral se deu por meio de um longo processo, não linear e com diversos
obstáculos. A estruturação do Cálculo envolveu o trabalho de muitos matemáticos, desde a Grécia
Antiga até o século XIX.
No desenvolvimento do Cálculo Integral e Diferencial podemos notar que G. W. Leibniz
(1646 – 1716) enfatizava o aspecto lógico do conhecimento e menosprezava o aspecto intuitivo,
enquanto I. Newton (1643 – 1727) tinha uma posição oposta, ou seja, enfatizava o intuitivo, não
dando tanto valor para o aspecto lógico. Uma justificativa para isso é que Leibniz, ao usar as
diferenças finitas, teve suas concepções infinitesimais, meramente, mediante os sucessos
operacionais em seu método diferencial. Além disso, a História da Matemática nos mostra que
Leibniz buscou a formulação de algoritmos e métodos gerais. Leibniz tinha uma postura
racionalista e, portanto, não concebia o caráter empírico, presente no trabalho de Newton, como

1
importante ao desenvolvimento do Cálculo Diferencial e Integral, e, portanto, não mencionou o
trabalho de Newton em seus estudos.
Na Semana 7 tratamos da formação do conceito de função, do cálculo de Probabilidades e
do caminho até às Geometrias não euclidianas. O conceito de função, que é um tema central da
Matemática, no desenvolvimento da História da Matemática, surge como uma relação, uma
operação, uma lei ou uma regra ou, de forma implícita, é dado por uma tabela, uma descrição
verbal, um gráfico, uma regra cinemática ou uma fórmula analítica. Vimos que até o século XX, a
conceituação de uma função superou diversos obstáculos.
A representação de função por meio de tabelas surge historicamente muito antes da
definição formalizada do conceito. Além de tabelas, uma função pode ser dada por meio de uma
relação, de uma operação, de uma lei ou uma regra; ou ainda, de modo implícito, pode ser
representada por uma descrição verbal, um gráfico, uma regra cinemática, uma fórmula
analítica etc.
Os egípcios já adotavam tabelas. Eles sabiam que a mais simples de todas as séries
geométricas era aquela que proporcionava a duplicação, ou seja, 1, 2, 4, 8, 16, . . ., em que o
quociente comum de qualquer desses termos em relação ao termo predecessor era 2. Essa
progressão estava presente no sistema egípcio de multiplicação e divisão. Desse modo, conforme
Katz:

O algoritmo egípcio para a multiplicação foi estabelecido por um processo de duplicação


contínua. Para multiplicar dois números a e b, o escriba anotaria primeiro o par 1, b. Ele então
duplicaria repetidamente cada número do par, até que a duplicação seguinte levasse o primeiro
elemento a exceder o número a. Em seguida, tendo determinado as potências de 2 que
somadas são iguais a a, o escriba adicionaria os múltiplos correspondentes de b para obter a
resposta. Por exemplo, para multiplicar 12 por 13, o escriba anotaria as seguintes linhas:

1 12
2 24
4 48
8 96

Neste ponto, ele pararia porque na próxima duplicação da primeira coluna o resultado seria 16,
que é maior do que 13. Ele, em seguida, verificaria aqueles multiplicadores que somados são
13, ou seja, 1, 4 e 8, e adicionaria os números correspondentes na outra coluna (12 + 48 + 96
= 156). O resultado seria o seguinte: Totais 13 e 156. (KATZ, 2010, p. 13)

Leonhard Euler (1707 – 1783) publicou seu primeiro tratado sobre Análise Matemática em
dois volumes intitulados Introductio in analysis infinitorum – 1748 (Introdução à Análise do Infinito).
Euler estabeleceu a ideia de uma função como um conceito fundamental para a Análise
Matemática e a define da seguinte forma:

1. Uma quantidade constante é uma quantidade determinada mantendo o mesmo valor


permanentemente. [...] 2. Uma quantidade variável é uma quantidade indeterminada ou
quantidade universal que compreende em si todos os valores determinados. [...] 4. Uma função

1
de uma quantidade variável é uma expressão analítica composta de qualquer maneira a partir
dessa quantidade variável e números ou quantidades constantes. (SUI, 1995, p. 108-109)

Para Euler uma função significava uma fórmula e essa ideia o levou a várias suposições
implícitas. Dentre elas estava a suposição de que a função (fórmula) deveria ser dada por uma
única expressão. Dessa forma, uma função que é definida com duas ou mais leis não satisfaria a
3𝑥, 𝑠𝑒 𝑥 < 1
suposição de Euler descrita acima. Por exemplo: 𝑓: ℝ → ℝ, definida por 𝑓(𝑥) = { 2𝑥, 𝑠𝑒 𝑥 = 1 é
𝑥 + 3, 𝑠𝑒 𝑥 > 1
um exemplo de uma função que não satisfaz a definição de Euler.
Para Euler uma função significava uma fórmula e essa ideia levou a várias suposições
implícitas. Dentre elas estava a suposição de que a variável independente deveria ter como
conjunto todos os números reais (exceto, possivelmente, para pontos isolados, como 𝑓: ℝ − {0} →
1
ℝ, definida por 𝑓(𝑥) = 𝑥.) Dessa forma, uma função definida num intervalo não satisfaria a

definição. Por exemplo: 𝑓: [0, 1] → ℝ , definida por 𝑓(𝑥) = 𝑥 ou 𝑓: ℝ∗+ → ℝ definida por 𝑓(𝑥) = log 𝑥
não satisfazem a definição de Euler.
No decorrer das sete semanas da disciplina percorremos mais de 4000 mil anos de
história, visitando diferentes civilizações e conhecendo o trabalho de homens e mulheres que
contribuíram para o desenvolvimento da Matemática.
Por fim, recomendamos que você use a semana de revisão para rever as videoaulas e
reler os textos-base que foram propostos ao longo das últimas sete semanas e que possam te
auxiliar na compreensão deste texto de revisão.
Boa Prova!

Abraço,
Prof. Inocêncio.

Referências Bibliográficas

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SIU, M. K. Concept of function: its history and teaching. In: SWETZ, F. et al (Ed.) Learn from the
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Bibliografia

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GILLINGS, R. J. Mathematics in the time of the pharaohs. New York: Dover, 1982.
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