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Números Inteiros
Nosso objetivo não é fornecer uma aula pronta, mas sim apresentar aos
professores da Educação Básica um novo enfoque sobre algumas situações-
problemas e questões de Matemática recreativa que envolvem os conteúdos
aqui abordados. Assim, esperamos que os professores disponham de novas
maneiras de introduzir esses conteúdos aos seus alunos. Observações de natu-
reza metodológica também serão frequentemente apresentadas, sempre que as
considerarmos necessárias. Ressaltamos a importância de que os alunos com-
preendam os procedimentos, utilizados para realizar as operações aritméticas,
que serão apresentados neste material. Ao longo do texto, tais procedimentos
serão justificados. Aproveitamos para convidá-lo a utilizar esses argumentos
nas suas aulas.
1.2 Introdução
Um conceito básico que iremos explorar nesse material é o dos números
inteiros e suas operações aritméticas. Para isso, utilizaremos o sistema
de numeração decimal. Neste sistema, os agrupamentos são feitos de 10
em 10 (daí o nome decimal) e os algarismos (que são na verdade símbolos)
0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 representam a quantidade de grupos presentes
em cada posição. Por exemplo, o número 359 é utilizado para representar 3
grupos de 100 (denominados centenas), 5 grupos de 10 (denominados dezenas)
e 9 unidades. Os algarismos tiveram origem no sistema indo-arábico, que era
apenas um dentre diversos sistemas numéricos do mundo antigo. Esse sistema
se sobressaiu em relação aos demais por apresentar uma maneira mais prática
de resolver operações básicas, como adição e multiplicação, além de conter uma
quantidade relativamente pequena de símbolos.
Não se sabe ao certo qual foi o primeiro sistema de numeração utilizado,
mas provavelmente foi um sistema baseado em contagem. Nesse sistema, os
números de 1 a 6 eram representados como no quadro abaixo:
É fácil ver por que tal sistema não é utilizado até os dias de hoje: basta que
imeginemos o tamanho da etiqueta que seria utilizada para mostrar o preço de
um objeto que custe mais de 1.000 reais!
Outros sistemas, mais elaborados, foram desenvolvidos por sociedades
avançadas do mundo antigo e deram origem, por exemplo, ao sistema egípcio
e ao sistema romano.
O sistema egípcio, assim como o sistema decimal, também era baseado em
agrupamentos de potências de 10. Cada uma dessas potências era representada
por um hieróglifo . A maior parte do nosso conhecimento sobre esse sistema Hieróglifos são os símbo-
vem do Papiro de Moscou (1.850 a.C.) e do Papiro de Rhind (1.650 a.C.)1 . Na los que formavam o sistema
tabela a seguir, mostramos a equivalência dos hieróglifos com os números no de escrita do antigo Egito.
sistema decimal. Em grego, hieróglifo signi-
fica escrita sagrada. Ape-
nas alguns grupos, como os
sacerdotes e os membros
da realeza, dominavam a
arte de ler e escrever esses
símbolos.
O número 1 era representado por um segmento vertical | e cada número
era representado utilizando a menor quantidade de hieróglifos. Por exemplo, o
número 10.243 era representado como:
O sistema romano, que ainda hoje pode ser encontrado em relógios com
estilo clássico, livros e monumentos históricos, também é baseado em potências
de 10, mas com uma diferença: há símbolos intermediários entre duas potências
de 10 consecutivas. Os primeiros símbolos desse sistema são:
0 1
0 1 2
0 1 2 3
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
5 4 3 2 1 0 −1 −2 −3 −4 −5
(a) Ao cruzar o quilômetro 253, Joaquim estava mais perto de sua casa
ou da casa de seus tios?
(b) Ao cruzar o quilômetro 271, Joaquim estava mais perto de sua casa
ou da casa de seus tios?
a a+b
Figura 1.1: Representação geométrica da adição.
a−b a
Figura 1.2: Representação geométrica da subtração.
a − b = a + (−b).
+ + + + +
+ +
a + b = b + a.
(i) Dar sucessivamente a passos para a direita e depois b passos ainda para
a direita.
(ii) Dar sucessivamente b passos para a direita e depois a passos ainda para
a direita.
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 9
a b
0 a a+b
b a
0 b a+b
(a + b) + c = a + (b + c).
a+b (a + b) + c
(b + c)
a a + (b + c)
38 + 29 = 38 + (30 − 1)
= (38 + 30) − 1
= 68 − 1 = 67;
28 + 34 = 28 + (30 + 4)
= 28 + (4 + 30)
= (28 + 4) + 30
= 32 + 30 = 62.
Apresentamos, a seguir, um exemplo mais elaborado do uso das propriedades
da adição.
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 11
1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9.
1.3.4 Multiplicação
A multiplicação, que é representada pelo símbolo × ou por um ponto ·, é a
adição de um número finito de parcelas iguais. Mais precisamente, temos a
seguinte
Definição 1.3.1 Sejam a e b números inteiros.
(iii) Se a = 0, então a × b = 0.
3×4
a × b = b × a.
3×4 5×6
a × (b + c) = a × b + a × c.
+ =
3×4 3×5 3 × (4 + 5) = 3 × 9
partcular:
(3 + 4)2 = 32 + 2 × 3 × 4 + 42 .
3×4
32
42 4×3
(3 + 4)2
53 × 25 = (50 + 3) × 20 + (50 + 3) × 5
= (50 × 20 + 3 × 20) + (50 × 5 + 3 × 5)
= (1.000 + 60) + (250 + 15) = 1.060 + 265 = 1.325.
Observe que os números 1.060 e 265 são os mesmos que aparecem no método
ensinado na escola, como mostra a figura a seguir.
× 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 1 2 3 4 5 6 7 8 9
2 2 4 6 8 10 12 14 16 18
3 3 6 9 12 15 18 21 24 27
4 4 8 12 16 20 24 28 32 36
5 5 10 15 20 25 30 35 40 45
6 6 12 18 24 30 36 42 48 54
7 7 14 21 28 35 42 49 56 63
8 8 16 24 32 40 48 56 64 72
9 9 18 27 36 45 54 63 72 81
− =
3×9 3×4 3 × (9 − 4)
figura abaixo, vemos uma ilustração dessa propriedade para o caso particular
3 × (9 − 4) = 3 × 9 − 3 × 4.
Essa observação é especialmente útil no momento de realizar algumas
multiplicações, nas quais substituímos alguns números inteiros por subtrações,
a fim de simplificar os cálculos. Veja o exemplo a seguir:
Exemplo 1.3 Calcule o resultado da multiplicação 9.999 × 49.
a × (b × c) = (a × b) × c.
345.897 × 25 × 4
am = |a × a × a{z× . . . × a} .
m fatores
16 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações
Se a 6= 0, definimos ainda a0 = 1.
Por exemplo, a multiplicação 3 × 3 × 3 × 3 pode ser escrita de forma abreviada
como 34 . Agora, observe que podemos usar a propriedade associativa para
ober:
34 × 32 = (3 × 3 × 3 × 3) × (3 × 3)
=3×3×3×3×3×3
= 32+4 .
Aqui é desejável que os alunos compreendam que o argumento utilizado no
exemplo acima é geral, e evidencia uma importante propriedade das potências:
para transformar um produto de potências de mesma base em uma só potência,
basta repetir a base e somar os expoentes.
am × an = am+n .
Utilizando a propriedade acima, temos:
4
23 = 23 × 23 × 23 × 23
= 23+3+3+3
= 23×4 .
Mais uma vez temos evidenciada uma propriedade das potências: quando
temos uma potência de uma potência, repetimos a base e multiplicamos os
expoentes.
(am )n = am×n .
n n
É importante ressaltar que, em geral, (am ) 6= am . Mostre aos alunos,
Obs 2 2
por exemplo, que 23 = 26 = 64 e que 23 = 29 = 512, para que eles
se convençam.
(a × b)m = am × bm .
1.3.5 Divisão
Em geral, a divisão é a operação que mais demora para ser compreendida pelos
alunos, pois para realizar operações de divisão com sucesso, o estudante deve
ter, antes, uma certa familiaridade com as operações de adição, subtração e
multiplicação. Apresentaremos a seguir o conceito de divisão utilizado noções
de partição de conjuntos.2
Iniciamos o estudo da divisão com o seguinte exemplo:
Exemplo 1.4 Rafaela tem 15 bombons e deseja distribuí-los igualmente entre
suas três amigas: Ana, Beatriz e Carol. Quantos bombons cada uma deverá
receber?
Rafaela pode adotar o seguinte procedimento:
Veja que após a quinta repetição, Rafaela ficará com zero bombons e terá
colocado cinco bombons em cada círculo. Desse modo, podemos afirmar que 15
dividido por 3 é igual a 5. Em símbolos, temos 15 ÷ 3 = 5. Rafaela pôde dividir
os 15 bombons igualmente com as 3 amigas sem sobrar nenhum bombom
porque 15 é múltiplo de 3.
Observe, ainda, que se Rafaela tivesse 17 bombons, ao adotar o mesmo
procedimento, após a quinta repetição restariam 2 bombons. Daí Rafaela
teria que parar a distribuição, pois a quantidade de bombons seria menor do
que a quantidade de amigas. Neste caso, dizemos que 17 dividido por 3 é
igual a 5 e restam 2. A técnica de divisão utilizada nesse caso particular pode
ser sempre utilizada, isto é, sempre que quisermos dividir m bombons para
d pessoas, podemos distribuir esses bombons dando um por vez a cada uma
das d pessoas, até que restem menos de d bombons e não seja mais possível
continuar a distribuição. Sintetizamos essa discussão no
Algoritmo da Divisão
Sejam m ≥ 0 e d > 0 números inteiros. Então existem únicos inteiros q
2
Faremos a representação da operação de divisão na reta numérica no módulo sobre
números racionais.
18 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações
m = q × d + r.
A esta altura, um bom exercício de cálculo mental que pode ser praticado
pelos alunos é encontrar quocientes e restos de divisões pequenas. Por exemplo,
na divisão de 93 por 8, temos 11 × 8 = 88 e 12 × 8 = 96. Portanto,
• Colhendo Laranjas;
• Adicionando dígitos;
• Maximizando a soma.
27 = 1 × 16 + 8 + 2 + 1
= 24 + 23 + 21 + 20
= 1 × 24 + 1 × 23 + 0 × 22 + 1 × 21 + 1 × 20 .
⊗ ⊗
⊗
⊗
⊗ ⊗ ⊗
⊗ ⊗
⊗ ⊗
⊗
72 + 28 + 87 = 287
26 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações
81 + 19 + 98 = 198
que é verdadeira.
5. Veja que a soma máxima possível é 9 + 9 + 9 + 8 = 35. Portanto, só
pode ser 1, 2 ou 3. Além disso, como a adição é feita de acordo com o
sistema decimal, temos:
10 + = 3 +.
Portanto,
9 = 2
Da última igualdade segue que deve ser par, e portanto = 2.
Consequentemente,
= 9.
6. Observe que cada número escrito nas pontas do triângulo faz parte de
dois lados, portanto faz parte de duas somas. Para que essas somas
sejam máximas, os números escritos nessas pontas devem ser os maiores
possíveis, ou seja, 9, 8 e 7. Agora, veja que os números que já estão
no triângulo somam 9 + 8 = 17, 9 + 7 = 16 e 9 + 7 = 15, que são três
números inteiros consecutivos. Assim, os demais números que ainda não
ocuparam lugar no triãngulo e somam 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 = 21 devem ser
separados em três grupos tais que as somas dos números em cada grupo
também sejam números consecutivos. Essas somas devem ser iguais a 6,
7 e 8, e os três grupos podem ser {2,4}, {1,6} e {3,5} (veja se há outros
grupos possíveis). Assim, uma possível distribuição final é:
[FIG12] Dmitri Fomin, Ilia Itenberg, and Sergey Genkin. Círculos Matemáticos
A Experiência Russa. IMPA, 2012. ↑21