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Interagindo com Números

Se as pessoas não acreditam que a Matemática


1
é simples, é por que não perceberam o quão
complicada a vida é.

John von Neumann

Números Inteiros

Autor: Prof. Bruno Holanda


Revisores: Prof. Antonio Caminha M. Neto
e Prof. Ulisses L. Parente
1 | Números inteiros e suas operações

1.1 Sobre este material


Este material foi escrito com o objetivo de revisar conteúdos básicos do Ensino
Fundamental nas turmas do Ensino Médio. Os tópicos que abordaremos aqui
são os seguintes:

• Localização e ordenação de números inteiros na reta numérica;


• Resolução de problemas que envolvam os números inteiros e as suas
operações.

Nosso objetivo não é fornecer uma aula pronta, mas sim apresentar aos
professores da Educação Básica um novo enfoque sobre algumas situações-
problemas e questões de Matemática recreativa que envolvem os conteúdos
aqui abordados. Assim, esperamos que os professores disponham de novas
maneiras de introduzir esses conteúdos aos seus alunos. Observações de natu-
reza metodológica também serão frequentemente apresentadas, sempre que as
considerarmos necessárias. Ressaltamos a importância de que os alunos com-
preendam os procedimentos, utilizados para realizar as operações aritméticas,
que serão apresentados neste material. Ao longo do texto, tais procedimentos
serão justificados. Aproveitamos para convidá-lo a utilizar esses argumentos
nas suas aulas.

1.2 Introdução
Um conceito básico que iremos explorar nesse material é o dos números
inteiros e suas operações aritméticas. Para isso, utilizaremos o sistema
de numeração decimal. Neste sistema, os agrupamentos são feitos de 10
em 10 (daí o nome decimal) e os algarismos (que são na verdade símbolos)
0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 representam a quantidade de grupos presentes
em cada posição. Por exemplo, o número 359 é utilizado para representar 3
grupos de 100 (denominados centenas), 5 grupos de 10 (denominados dezenas)
e 9 unidades. Os algarismos tiveram origem no sistema indo-arábico, que era
apenas um dentre diversos sistemas numéricos do mundo antigo. Esse sistema
se sobressaiu em relação aos demais por apresentar uma maneira mais prática
de resolver operações básicas, como adição e multiplicação, além de conter uma
quantidade relativamente pequena de símbolos.
Não se sabe ao certo qual foi o primeiro sistema de numeração utilizado,
mas provavelmente foi um sistema baseado em contagem. Nesse sistema, os
números de 1 a 6 eram representados como no quadro abaixo:

| || ||| |||| ||||| ||||||


1.2 Introdução 3

É fácil ver por que tal sistema não é utilizado até os dias de hoje: basta que
imeginemos o tamanho da etiqueta que seria utilizada para mostrar o preço de
um objeto que custe mais de 1.000 reais!
Outros sistemas, mais elaborados, foram desenvolvidos por sociedades
avançadas do mundo antigo e deram origem, por exemplo, ao sistema egípcio
e ao sistema romano.
O sistema egípcio, assim como o sistema decimal, também era baseado em
agrupamentos de potências de 10. Cada uma dessas potências era representada
por um hieróglifo . A maior parte do nosso conhecimento sobre esse sistema Hieróglifos são os símbo-
vem do Papiro de Moscou (1.850 a.C.) e do Papiro de Rhind (1.650 a.C.)1 . Na los que formavam o sistema
tabela a seguir, mostramos a equivalência dos hieróglifos com os números no de escrita do antigo Egito.
sistema decimal. Em grego, hieróglifo signi-
fica escrita sagrada. Ape-
nas alguns grupos, como os
sacerdotes e os membros
da realeza, dominavam a
arte de ler e escrever esses
símbolos.
O número 1 era representado por um segmento vertical | e cada número
era representado utilizando a menor quantidade de hieróglifos. Por exemplo, o
número 10.243 era representado como:

O sistema romano, que ainda hoje pode ser encontrado em relógios com
estilo clássico, livros e monumentos históricos, também é baseado em potências
de 10, mas com uma diferença: há símbolos intermediários entre duas potências
de 10 consecutivas. Os primeiros símbolos desse sistema são:

1 5 10 50 100 500 1000


I V X L C D M

No sistema romano, os números também devem ser representados utilizando-


se sempre a menor quantidade de símbolos e escrevendo-se os símbolos que
representam quantidade maiores mais à esquerda. Por exemplo, o número
2.018 é representado como MMXVIII. Por outro lado, também podemos utili-
zar a “subtração” de símbolos escrevendo um símbolo de quantidade menor
imediatamente à esquerda do símbolo de quantidade maior. Por exemplo, 4
escreve-se como IV e 99 escreve-se como XCIX. Assim, a simples tarefa de
escrever os números no sistema romano é um bom exercício de cálculo mental.

O professor pode realizar a seguinte experiência na sua turma: pergunte


Obs aos alunos sobre as suas preferências entre os sistemas romano ou decimal.
Alguns deles talvez fiquem confusos e não saibam responder. Então peça
que eles somem metalmente XIII+LIV e meça o tempo necessário para
fazer essa operação. Agora, peça que eles somem metalmente 13 + 54 e
meça o tempo novamente. Mostre-os que trata-se exatamente da mesma
1
Os papiros de Rhind e de Moscou são documentos da antiga civilização Egípcia que
tratam sobre a Matemática praticada à época.
4 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

operação e pergunte-os novamente sobre a preferência deles. A ideia é


fazer com que os alunos percebam a praticidade do sistema decimal em
detrimento do sistema romano.

Finalizamos essa discussão sobre os sistemas de numeração com o exercício


abaixo, que pode ser proposto aos alunos para que eles notem que os algarismos
que compõem o sistema indo-arábico são somente símbolos, adotados para
representar quantidades.
Exemplo 1.1 Se a ordem dos algarismos fosse 1,3,0,2,4,9,5,7,6,8 em vez da
que conhecemos, qual seria o valor da soma 98 + 34?
Solução. Observe que com essa nova disposição dos algarismos, temos 8 + 4 =
32, 9 + 3 = 5 e 5 + 3 = 7. Daí, podemos efetuar a adição:

1.3 Revisão das operações aritméticas básicas


1.3.1 A reta numérica
No Ensino Fundamental I as crianças têm o primeiro contato com os números
inteiros positivos e suas operações aritméticas básicas: adição, subtração,
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 5

multiplicação e divisão. A adição, que é a mais elementar de todas, é ensinada


através de exemplos visuais, como o que segue:
 Exemplo 1.2 Enzo e Valentina são irmãos que gostam de maçãs. Enzo tem 2
maçãs e Valentina tem 3. Portanto, os dois juntos possuem 5 maçãs.

Observe que juntamos as quantidades de maçãs dos dois irmãos e ao final


foi feita uma recontagem, o que nos deu como resultado 2 + 3 = 5.
Por outro lado, quando os alunos estão mais maduros, é interessante que
eles aprendam como a adição pode ter uma interpretação mais geométrica.
Para isso, é necessário apresentar a reta numérica, que pode ser construída
do seguinte modo:
• Primeiro, escolhemos dois pontos distintos sobre uma reta. O ponto mais
à esquerda representará o número 0 e o outro representará o número
1. Com o auxílio de um compasso, marcamos a distância entre os dois
pontos.

0 1

• O número 2 será representado por um ponto à direita de 1 de modo que


a distância entre os pontos 1 e 2 seja igual à distância entre os pontos 0
e 1 (que foi marcada com o compasso).

O professor tem aqui uma boa oportunidade de ensinar os seus


Obs alunos a utilizar o compasso, propondo a tarefa de traçar uma
reta e marcar pontos sucessivos sobre ela. Além de ser um bom
exercício para entender melhor a reta numérica, essa atividade
ainda servirá para exercitar um outro conceito geométrico: o
transporte de segmentos.

0 1 2

• O número 3 será representado por um ponto à direita de 2 de modo que


a distância entre os pontos 2 e 3 também seja igual à distância entre os
pontos 0 e 1. Seguindo com esse procedimento, podemos representar os
números 4, 5, . . . na reta numérica.

0 1 2 3

• Os números negativos −1, −2, −3, . . . serão representados pelos pontos


simétricos aos pontos que representam os números 1, 2, 3, . . ., em relação
ao 0.
6 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5

Neste ponto, os alunos já devem ser capazes de perceber que, ao utilizarmos


a reta numérica, podemos comparar números utilizando as suas representações
geométricas: quanto mais à direita um número estiver, maior ele será. Por
exemplo, 6 é maior do que 3, pois 6 está à direita de 3; −4 é menor do que −2,
pois −2 está à direita de −4.

O professor deve alertar os seus alunos que, no momento em que foi


Obs dito que o 1 deveria ficar à direita do 0, foi feita uma escolha de sentido
positivo para a reta. Por causa dessa escolha, um número mais à direita
é maior do que um número mais à esquerda. Essa escolha de sentido é
arbitrária, entretanto, por convenção, os livros em geral a adotam. A
figura abaixo mostra como ficariam posicionados os números inteiros,
caso o sentido positivo escolhido fosse para a esquerda:

5 4 3 2 1 0 −1 −2 −3 −4 −5

De agora em diante, o conjunto dos números inteiros será representado pela


letra Z (que tem origem na palavra zahl - que significa número em alemão).

Nem todo ponto da reta numérica corresponde a um número inteiro.


Obs Por exemplo, nenhum ponto situado entre 0 e 1 pode representar um
número inteiro.

Vejamos uma aplicação prática do estudo que acabamos de fazer sobre a


reta numérica:
Exercício 1.1 Joaquim viajou de carro com seus pais para visitar seus tios,
que moram em outra cidade. Foi utilizada uma única rodovia durante todo
o trajeto. Na saída da cidade onde mora, Joaquim percebeu que havia uma
placa marcando o quilômetro 230 da rodovia, e ele sabia que a cidade onde
seus tios moram fica no quilômetro 290.

(a) Ao cruzar o quilômetro 253, Joaquim estava mais perto de sua casa
ou da casa de seus tios?
(b) Ao cruzar o quilômetro 271, Joaquim estava mais perto de sua casa
ou da casa de seus tios?

Solução. A metade do caminho fica no quilômetro 260 = 290+230 2 . Observe


que a distância entre as duas casas e o quilômetro 260 é a mesma: 260 − 230 =
290 − 260 = 30. Como 253 é menor do que 260, quando cruzaram o quilômetro
253 eles estavam mais próximos da casa de Joaquim. Por outro lado, como
271 é maior do que 260, quando cruzaram o quilômetro 271 eles estavam mais
próximos da casa dos tios de Joaquim. 

230 253 260 271 290


1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 7

1.3.2 Adição e subtração


Podemos utilizar a reta numérica para dar uma interpretação geométrica às
operações de adição e subtração:

Se a é um número inteiro sobre a reta numérica, então:

• somar um número inteiro positivo b ao número a significa “deslocar-se”


b unidades para a direita a partir do ponto a. Quando fazemos isso,
chegamos ao ponto que representa o número a + b;
• subtrair um número inteiro positivo b do número a significa “deslocar-
se” b unidades para a esquerda a partir do ponto a. Quando fazemos
isso, chegamos ao ponto que representa o número a − b

a a+b
Figura 1.1: Representação geométrica da adição.

a−b a
Figura 1.2: Representação geométrica da subtração.

Subtrair um número inteiro positivo b do número inteiro a é equivalente


Obs a adicionar o número negativo −b a a, ou seja,

a − b = a + (−b).

Nota: Recomendamos que o professor faça alguns exemplos das repre-


sentações gráficas dessas operações para alguns casos particulares como, por
exemplo, a = 2 e b = 3. Uma boa ideia de atividade é levar a turma à quadra
da escola, desenhar a reta númerica no chão utilizando giz e posicionar cada
aluno em um ponto que representa um número inteiro. Neste caso, a distância
entre os números inteiros será medida em passos. Daí o professor pode fazer
perguntas do tipo: se somarmos quatro unidades (o que equivale a andar quatro
passos para no sentido positivo escolhido) ao número representado por João,
que número iremos encontrar? Aproveite essa dinâmica para falar sobre as pro-
priedades de associatividade e comutatividade da adição, que apresentaremos
a seguir.
Outra forma de representar visualmente a operação de subtração é através
de “bolas positivas” e “bolas negativas” na qual cada bola negativa anula uma
bola positiva. Por exemplo, a operação 5 − 3 = 2 pode ser visualizada como:
8 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

+ + + + +

Enquanto que a operação 2 − 6 = −4 pode ser visualizada como:

+ +

O matemático germânico Johannes Widmann (1460-1498), no ano de


Obs 1489, publicou Aritmética Mercantil, o livro mais antigo em que os sinais
+ e − aparecem impressos.

1.3.3 Propriedades da Adição


Agora, apresentaremos duas propriedades que podem facilitar bastante os
cálculos que envolvem a adição e a subtração. É importante que o professor
esclareça aos alunos a utilidade dessas propriedades e, desse modo, motive-os a
usá-las com maior frequência.
Observando a figura abaixo, percebemos a igualdade entre as somas 4 + 7 e
7 + 4, pois ambas as expressões representam uma linha com 11 quadradinhos
Deve ser resaltado que a si- no total.
metria existente na figura é
uma boa justificativa para
a igualdade 4 + 7 = 7 + 4.

De fato, em qualquer adição, se invertermos a ordem das parcelas, o


resultado não será alterado. Essa propriedade é chamada Comutatividade:

Se a e b são números inteiros, então:

a + b = b + a.

A comutatividade da adição também pode ser interpretada geometricamente,


como faremos a seguir.
Sejam a e b números inteiros positivos. Se partirmos do zero da reta
numérica, as duas escolhas a seguir nos farão chegar ao mesmo ponto:

(i) Dar sucessivamente a passos para a direita e depois b passos ainda para
a direita.
(ii) Dar sucessivamente b passos para a direita e depois a passos ainda para
a direita.
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 9

a b

0 a a+b

b a

0 b a+b

Apresentamos uma interpretação geométrica apenas quando a e b são


Obs positivos, mas essa interpretação também vale o caso em que tivermos
a presença de algum número negativo. A diferença é que quando adi-
cionarmos um número negativo, os passos serão dados para a esquerda,
ao invés de para a direita. É fundamental que o professor também faça
alusão a este caso.

A comutatividade também pode ser evidenciada quando vamos ao mercado


fazer compras: não importa se comprarmos um quilo de arroz por 5 reais e
depois comprarmos um quilo de feijão por 6 reais ou fizermos o contrário. O
valor total da compra não muda com a ordem pela qual os itens passam na
caixa registradora.
Agora, observe a figura abaixo, na qual apresentamos os resultados para
as operações (4 + 3) + 5 e 4 + (3 + 5) utilizando quadradinhos enfileirados. O
professor deve explicar aos alunos que na linha de cima, primeiro fazemos a
adição 4 + 3 e em seguida adicionamos 5 ao resultado encontrado. Na de baixo,
adicionamos 4 ao resultado da adição 3 + 5. Como o total de quadradinhos é o
mesmo nas duas linhas, a igualdade (4 + 3) + 5 = 4 + (3 + 5) fica evidenciada.

Aqui o professor deve fazer mais alguns exemplos utilizando quadradinhos,


até que os alunos se convençam que o fato que foi observado acima para o caso
particular dos números 3, 4 e 5 acontece para todos os números inteiros. Essa
propriedade é chamada associatividade:

Se a, b e c são números inteiros, então:

(a + b) + c = a + (b + c).

Assim como a comutatividade, a associatividade da adição também pode


ser comprovada na reta numérica. Para tanto, sejam a, b e c números inteiros
com b e c positivos. Então, as duas escolhas a seguir nos farão chegar ao mesmo
ponto:
10 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

(i) Iniciando do ponto a + b dar c passos para a direita.


(ii) Iniciando do ponto a dar b + c passos para a direita.

a+b (a + b) + c

(b + c)

a a + (b + c)

Mais uma vez apresentamos apenas um dos casos: b e c positivos. Entre-


Obs tanto, assim como fizemos com a comutatividade, podemos interpretar
geometricamente os outros casos dando passos para a esquerda, ao invés
de para a direita.

Ao tratar a adição, é importante o professor ressaltar a importância das


propriedades comutativa e associativa para facilitar cálculos. Um exercício
que pode ser proposto, com o objetivo de fazer com que os alunos notem que
os cálculos podem ser facilitados, é o seguinte: peça que os alunos calculem
o resultado da expressão abaixo, inicialmente sem usar a comutatividade e a
associatividade (efetuando os cálculos na ordem em que as operações aparecem),
e depois usando as propriedades.
1.070 + 93 − 70 + 7.
Nota: Gostaríamos de ressaltar mais uma vez a importância de fazer com
que os alunos treinem o cálculo mental. Para isso, o professor pode realizar
competições em sala de aula utilizando números de até quatro algarismos,
como por exemplo: quem é capaz de efetuar as adicões abaixo no menor tempo
possível?
46 + 37 = (40 + 6) + (30 + 7)
= (40 + 30) + (6 + 7)
= 70 + 13 = 83;

38 + 29 = 38 + (30 − 1)
= (38 + 30) − 1
= 68 − 1 = 67;

28 + 34 = 28 + (30 + 4)
= 28 + (4 + 30)
= (28 + 4) + 30
= 32 + 30 = 62.
Apresentamos, a seguir, um exemplo mais elaborado do uso das propriedades
da adição.
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 11

Exercício 1.2 Determine o resultado da adição:

1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9.

Solução. As propriedades comutativa e associativa permitem que adicionemos


os números em uma ordem diferente da que eles aparecem. Sendo assim,
podemos reorganizar a ordem das parcelas para obter:
1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9 = (1 + 9) + (2 + 8) + (3 + 7) + (4 + 6) + 5
= 10 + 10 + 10 + 10 + 5 = 45


1.3.4 Multiplicação
A multiplicação, que é representada pelo símbolo × ou por um ponto ·, é a
adição de um número finito de parcelas iguais. Mais precisamente, temos a
seguinte
Definição 1.3.1 Sejam a e b números inteiros.

(i) Se a > 0, então


a × b = b| + b + b{z+ . . . + b} .
a parcelas

(ii) Se a < 0, então

a × b = (−b) + (−b) + (−b) + . . . + (−b) .


| {z }
−a parcelas

(iii) Se a = 0, então a × b = 0.

Na definição acima, os números a e b são denominados fatores da multi-


plicação.
Agora vamos dar três interpretações para a multiplicação:

I. A primeira delas é utilizando diretamente a definição, ou seja, a multipli-


cação é apresentada como uma soma de parcelas iguais. Por exemplo,
3 × 4 significa somar três parcelas de quatro unidades cada, resultando
em um total de 12 unidades.

II. Partindo-se do zero da reta numérica, 3 × 4 corresponde a caminhar 3


vezes para a direita, dando 4 passos em cada vez, enquanto 2 × (−5)
significa caminhar 2 vezes para a esquerda, dando cinco passos em cada
vez.
III. Por fim, pode-se utilizar uma configuração de pontos em formato retan-
gular, em que a multiplicação a × b representa a linhas de b bolinhas
cada uma. Por exemplo, a figura que representa 3 × 4 é:
12 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

3×4

Nota: O professor pode usar tampas plásticas de garrafas pet ou qualquer


Obs outro material reciclável para representar os pontos de modo concreto.
Para alunos que possuem deficiência visual esse procedimento é bastante
eficaz.

Através da representação da multiplicação pela disposição de bolinhas em


um reticulado (em formato retangular), podemos perceber algumas de suas
propriedades. Iniciamos com a Comutatividade:

Se a e b são números inteiros, então:

a × b = b × a.

A figura abaixo traz dois reticulados: o da esquerda tem 12 bolinhas, cuja


distribuição pode ser pensada como 3 linhas de 4 bolinhas em cada, ou como 4
colunas de 3 bolinhas em cada. Já o reticulado da direita possui 30 bolinhas
que podem ser pensadas como 5 linhas com 6 bolinhas em cada, ou como 6
colunas com 5 bolinhas em cada. Esse tipo de argumento pode ser verificado
para quaisquer outros inteiros positivos.

3×4 5×6

Agora, apresentamos a Distributividade, propriedade que envolve a mul-


tiplicação e a adição:

Se a,b,c são números inteiros, então:

a × (b + c) = a × b + a × c.

Podemos representar a distributividade em reticulados para o caso a = 3,


b = 4 e c = 5:

+ =

3×4 3×5 3 × (4 + 5) = 3 × 9

Uma consequência da disbutividade, além das outras propriedades da adição


e da multiplicação, é a fórmula (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 , para a e b inteiros.
Na figura abaixo, temos uma explicação, através de reticulados, para um caso
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 13

partcular:
(3 + 4)2 = 32 + 2 × 3 × 4 + 42 .

3×4

32

42 4×3

(3 + 4)2

Também podemos utilizar diretamente a distributividade, além da comuta-


tividade e associatividade, para calcular o valor de (3 + 4)2 :
(3 + 4)2 = (3 + 4) × (3 + 4)
=3×3+3×4+4×3+4×4
= 32 + 3 × 4 + 3 × 4 + 42
= 32 + 2 × 3 × 4 + 42 .
Se necessário, devem ser feitos outros casos particulares até que os alunos
aprendam a fórmula.
Agora, o professor pode sugerir que os alunos determinem, através de
cálculos mentais, os valores dos quadrados de 112 até 192 . Abaixo, seguem
dois exemplos de como esses cálculos podem ser feitos:
112 = (10 + 1)2
= 102 + 2 × 10 × 1 + 12
= 100 + 20 + 1
= 121
e
152 = (10 + 5)2
= 102 + 2 × 10 × 5 + 52
= 100 + 100 + 25
= 225.
A distributividade também está por trás do método de multiplicação que
aprendemos na escola. Para deixar esse ponto mais claro, vamos explicar esse
método através do exemplo 53 × 25. Usando a representação decimal, esse
produto pode ser pensado como 53 × (20 + 5), que pela distributividade é igual
a
53 × (20 + 5) = 53 × 20 + 53 × 5.
Por outro lado, 53 = 50 + 3 e assim o nosso produto original pode ser escrito
como
(50 + 3) × 20 + (50 + 3) × 5.
14 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

Usando mais uma vez a distributividade, obtemos:

53 × 25 = (50 + 3) × 20 + (50 + 3) × 5
= (50 × 20 + 3 × 20) + (50 × 5 + 3 × 5)
= (1.000 + 60) + (250 + 15) = 1.060 + 265 = 1.325.

Observe que os números 1.060 e 265 são os mesmos que aparecem no método
ensinado na escola, como mostra a figura a seguir.

Ao professor: Talvez seja necessário resolver alguns exemplos como o que


foi feito acima para que os alunos compreendam a relação entre o método de
multiplicação e a propriedade distributiva.
Uma consequência importante do método que apresentamos é a conclusão
de que só é necessário memorizar os resultados das multiplicações entre os
algarismos (de 0 a 9) - a famosa tabuada que mostramos a seguir de maneira
compacta.

× 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 1 2 3 4 5 6 7 8 9
2 2 4 6 8 10 12 14 16 18
3 3 6 9 12 15 18 21 24 27
4 4 8 12 16 20 24 28 32 36
5 5 10 15 20 25 30 35 40 45
6 6 12 18 24 30 36 42 48 54
7 7 14 21 28 35 42 49 56 63
8 8 16 24 32 40 48 56 64 72
9 9 18 27 36 45 54 63 72 81

Figura 1.3: Tabela de multiplicação entre dois dígitos. A distributividade


garante que estes são os únicos produtos que devemos memorizar

Depois de apresentar a tabela acima, o professor deve chamar a atenção dos


alunos para a simetria que ela apresenta, e explicar que isso é uma consequência
da propriedade comutativa da multiplicação.
Vale destacar o fato que a distributividade também funciona quando uti-
lizada com a operação de subtração, isto é, a × (b − c) = a × b − a × c. Na
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 15

− =

3×9 3×4 3 × (9 − 4)

figura abaixo, vemos uma ilustração dessa propriedade para o caso particular
3 × (9 − 4) = 3 × 9 − 3 × 4.
Essa observação é especialmente útil no momento de realizar algumas
multiplicações, nas quais substituímos alguns números inteiros por subtrações,
a fim de simplificar os cálculos. Veja o exemplo a seguir:
 Exemplo 1.3 Calcule o resultado da multiplicação 9.999 × 49.

Solução. Temos que


9.999 × 49 = (10.000 − 1) × 49 = 490.000 − 49 = 489.951.


A solução do exemplo acima ilustra um princípio básico da matemática:


trocar uma situação por outra que seja equivalente e mais fácil de resolver.
Finalizamos a discussão sobre a multiplicação comentando sobre a sua
última propriedade, a associatividade:

Se a,b,c são números inteiros, então:

a × (b × c) = (a × b) × c.

A associatividade da multiplicação nos diz que quando temos vários fatores


a serem multiplicados, a ordem na qual escolhemos multiplicar esses fatores
não muda o resultado final. Veremos como essa propriedade pode ser útil
resolvendo o seguinte exercício:

Exercício 1.3 Qual é o resultado da expressão abaixo?

345.897 × 25 × 4

Solução. Se efeturamos a conta na ordem natural em que as multiplicações


aparecem, isto é,
(345.897 × 25) × 4,
a dificuldade será bem maior do que se fizermos
345.897 × (25 × 4) = 345.897 × 100 = 34.589.700.


A multiplicação de um número finito de fatores iguais recebe uma denomi-


nação expecial:
Definição 1.3.2 Dados a e m números inteiros tais que m > 0, definimos a
potência de base a e expoente m por

am = |a × a × a{z× . . . × a} .
m fatores
16 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

Se a 6= 0, definimos ainda a0 = 1.
Por exemplo, a multiplicação 3 × 3 × 3 × 3 pode ser escrita de forma abreviada
como 34 . Agora, observe que podemos usar a propriedade associativa para
ober:
34 × 32 = (3 × 3 × 3 × 3) × (3 × 3)
=3×3×3×3×3×3
= 32+4 .
Aqui é desejável que os alunos compreendam que o argumento utilizado no
exemplo acima é geral, e evidencia uma importante propriedade das potências:
para transformar um produto de potências de mesma base em uma só potência,
basta repetir a base e somar os expoentes.

Sejam a, m e n inteiros, com m e n positivos. Então:

am × an = am+n .
Utilizando a propriedade acima, temos:
 4
23 = 23 × 23 × 23 × 23
= 23+3+3+3
= 23×4 .
Mais uma vez temos evidenciada uma propriedade das potências: quando
temos uma potência de uma potência, repetimos a base e multiplicamos os
expoentes.

Sejam a, m e n inteiros, com m e n positivos. Então:

(am )n = am×n .

n n
É importante ressaltar que, em geral, (am ) 6= am . Mostre aos alunos,
Obs 2 2
por exemplo, que 23 = 26 = 64 e que 23 = 29 = 512, para que eles
se convençam.

Agora veja que, com o auxílio da comutatividade e da assiciatividade da


multiplicação de números inteiros, temos:
(2 × 3)4 = (2 × 3) × (2 × 3) × (2 × 3) × (2 × 3)
= (2 × 2 × 2 × 2) × (3 × 3 × 3 × 3)
= 24 × 34 .
Outra vez o exemplo evidencia uma propriedade da potenciação:

Sejam a, b e m inteiros, com m positivo. Então:

(a × b)m = am × bm .

Nota: O professor deve exercitar as propriedades das potências com os


alunos para que eles se familiarizem com essas propriedades. Fazer mais alguns
exemplos é recomendável.
1.3 Revisão das operações aritméticas básicas 17

O Matemático inglês William Oughtred (1574–1660) publicou em 1631


Obs a obra Clavis Mathematicae, na qual introduziu mais de 150 símbolos
matemáticos, dentre eles o símbolo da multiplicação ×. Alguns matemá-
ticos do século XVII rejeitavam o seu uso, pois afirmavam que poderia
ser facilmente confudido com a letra x. Thomas Harriot (1560-1621),
outro matemático inglês, preferia pôr um ponto entre os fatores para
indicar a multiplicação a ser efetuada, costume utilizado até os dias de
hoje.

1.3.5 Divisão
Em geral, a divisão é a operação que mais demora para ser compreendida pelos
alunos, pois para realizar operações de divisão com sucesso, o estudante deve
ter, antes, uma certa familiaridade com as operações de adição, subtração e
multiplicação. Apresentaremos a seguir o conceito de divisão utilizado noções
de partição de conjuntos.2
Iniciamos o estudo da divisão com o seguinte exemplo:
 Exemplo 1.4 Rafaela tem 15 bombons e deseja distribuí-los igualmente entre
suas três amigas: Ana, Beatriz e Carol. Quantos bombons cada uma deverá
receber?
Rafaela pode adotar o seguinte procedimento:

1. Ela desenha três círculos grandes em seu caderno. No primeiro círculo


ficarão os bombons destinados a Ana, no segundo ficarão os destinados a
Beatriz e no terceiro os destinados a Carol.
2. Daí, ela coloca um bombom em cada círculo, restando ainda 15 − 3 = 12
bombons.
3. Rafaela repete o procedimento enquanto tiver pelo menos três bombons,
já que assim ela pode continuar a distribuir um bombom para cada uma
das amigas.

Veja que após a quinta repetição, Rafaela ficará com zero bombons e terá
colocado cinco bombons em cada círculo. Desse modo, podemos afirmar que 15
dividido por 3 é igual a 5. Em símbolos, temos 15 ÷ 3 = 5. Rafaela pôde dividir
os 15 bombons igualmente com as 3 amigas sem sobrar nenhum bombom
porque 15 é múltiplo de 3.
Observe, ainda, que se Rafaela tivesse 17 bombons, ao adotar o mesmo
procedimento, após a quinta repetição restariam 2 bombons. Daí Rafaela
teria que parar a distribuição, pois a quantidade de bombons seria menor do
que a quantidade de amigas. Neste caso, dizemos que 17 dividido por 3 é
igual a 5 e restam 2. A técnica de divisão utilizada nesse caso particular pode
ser sempre utilizada, isto é, sempre que quisermos dividir m bombons para
d pessoas, podemos distribuir esses bombons dando um por vez a cada uma
das d pessoas, até que restem menos de d bombons e não seja mais possível
continuar a distribuição. Sintetizamos essa discussão no

Algoritmo da Divisão
Sejam m ≥ 0 e d > 0 números inteiros. Então existem únicos inteiros q

2
Faremos a representação da operação de divisão na reta numérica no módulo sobre
números racionais.
18 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

e r, com 0 ≤ r < d, tais que

m = q × d + r.

Ao efetuar divisões na prática, usamos a notação abaixo.

Cada um dos números citados no algoritmo da divisão recebe uma deno-


minação: m é o dividendo (aquele que será dividido), d é o divisor, q é o
quociente e r é o resto.
Assim, no caso dos bombons de Rafaela, temos que o quociente é 5 e o
resto é 2:

A esta altura, um bom exercício de cálculo mental que pode ser praticado
pelos alunos é encontrar quocientes e restos de divisões pequenas. Por exemplo,
na divisão de 93 por 8, temos 11 × 8 = 88 e 12 × 8 = 96. Portanto,

Nota: Neste ponto é fundamental que os alunos efetuem muitas divisões


pequenas, como a que foi feita acima, pois o sucesso ao efetuar divisões maiores
vai depender do quanto eles treinarem nesta etapa.
Com bastante prática em divisões menores, os alunos estarão aptos a calcular
o quociente e o resto de divisões maiores. Para exemplificar o procedimento
adotado nessas divisões, mostraremos como calcular o quociente e o resto na
divisão de 7.000 por 8. Iniciamos notando que 7.000 correspondem a 7 milhares.
Mas como não podemos dividir 7 milhares por 8, dividimos cada um desses
milhares em 10 centenas, e assim obtemos 70 centenas no total.
Como 70 é maior que 8, podemos efetuar a divisão e encontramos como
quociente e resto 8 e 6 centenas, respectivamente. Essas 6 centenas que
sobraram correspondem a 60 dezenas, e então dividimos mais uma vez por 8,
encontrando 7 e 4 dezenas como quociente e resto, respectivamente. Finalmente,
as 4 dezenas que restaram no passo anterior podem ser transformadas em 40
unidades e divididas mais uma vez por 8. Encontramos, agora, 5 e 0 como
quociente e resto.
Portanto, na divisão de 7.000 por 8 encontramos 0 como resto e 800+70+5 =
875 como quociente. Esse processo parece ser complicado, mas é exatamente o
que realizamos quanto efetuamos uma conta de divisão, como mostrado abaixo.
Fazer tal detalhamento pelo menos uma vez com a turma é interessante para
mostrar a razão pela qual o método funciona.
1.4 Aprofundando o conhecimento 19

Questão para refletir: Quais são as propriedades da divisão? Ela é


comutativa? Associativa? É distributiva? Em cada caso, justifique.

O matemático suíço Johann Rahn introduziu o símbolo (÷) em 1659.


Obs Mas também é muito popular o símbolo de Leibniz (:).

1.4 Aprofundando o conhecimento


É possível que alguns alunos sintam dificuldades para resolver as multiplicações
que envolvem números com dois ou mais dígitos. Se for este o caso, o leitor
pode conhecer o “método de multiplicação japonês” muito divulgado nas rede
sociais. O endereço de web https://goo.gl/TERF7W leva a um interessante
vídeo produzido pela Sociedade Portuguesa de Matemática que trata sobre a
operação de multiplicação e sobre o referido método.
Um material de excelente qualidade é o que é oferecido no módulo sobre
“Números Inteiros e Números Racionais” para o sétimo ano, que encontra-se no
Portal do Saber (portaldosaber.obmep.org.br). Recomendamos também os
aplicativos disponibilizados nesse referido módulo, em especial os listados:

• Colhendo Laranjas;
• Adicionando dígitos;
• Maximizando a soma.

Critérios de divisibilidade: É possível saber se uma divisão é exata sem


que seja necessário efetuar a divisão.

• Divisibilidade por 2. Qual é o resto da divisão de 56.747 por 2? Note


que:

56.747 = 56.740 + 7 = 5.674 × 10 + 7


= 5.647 × 5 × 2 + 7

Então basta ver o resto da divisão de 7 por 2. De fato, 7 = 3 × 2 + 1,


o que implica 56.747 deixa resto 1 quando dividido por 2. O raciocínio
aplicado neste exemplo é geral, isto é, para saber o resto da divisão de
um número natural por 2, basta saber o resto da divisão do algarismo
das unidades desse número por 2. Assim, se o algoritmo das unidades for
par, esse resto é 0, e caso contrário o resto é 1.
20 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

• Divisibilidade por 4. Qual o resto da divisão de 85.976 por 4? Temos:

85.976 = 85.900 + 76 = 859 × 100 + 76


= 859 × 25 × 4 + 76.

Portanto, para encontrar o resto dessa divisão, basta encontrar o resto


da divisão de 76 por 4. De fato, 76 = 19 × 4, ou seja, o resto procurado é
0. De fato, o argumento utilizado acima para o número 85.976 é geral,
e vale para qualquer número inteiro: o resto da divisão de um número
inteiro por 4 é o mesmo resto da divisão do número formado pelos seus
dois últimos algarismos por 4.
• Divisibilidade por 3 e por 9. Qual é o resto da divisão de 3.427 por 3.

8.427 = 8000 + 400 + 20 + 7 = 8 × 1.000 + 4 × 100 + 2 × 10 + 7


= 8 × (999 + 1) + 4 × (99 + 1) + 2 × (9 + 1) + 7
= 8 × 999 + 4 × 99 + 2 × 9 + 8 + 4 + 2 + 7
= 8 × 9 × 111 + 4 × 9 × 11 + 2 × 9 + 8 + 4 + 2 + 7
= 9 × (8 × 111 + 4 × 11 + 2) + 8 + 4 + 2 + 7.

Como 9 × (8 × 111 + 4 × 11 + 2) é claramente divisível por 9, e portanto


divisível por 3, para saber o resto da divisão de 8.427 por 3 (por 9),
basta calcular o resto da divisão do número formado pela soma dos seus
algarismos, 8 + 4 + 2 + 7, por 3 (por 9). É importante que os alunos
percebam que o argumento utilizado no exemplo para o número 8.427
pode ser aplicado a qualquer número inteiro.
• Divisibilidade por 5. Qual é o resto da divisão de 4.328 por 5?

4.328 = 4.320 + 8 = 432 × 10 + 8


= 432 × 2 × 5 + 8.

Portanto, basta saber o resto da divisão de 8 por 5, que é igual a 3. Neste


caso, o argumento também é geral e vale para qualquer número inteiro.
Sistema binário: Agora, gostaríamos de falar um pouco mais sobre
sistemas de numeração. Como vimos neste material, no sistema de numeração
decimal os agrupamentos são feitos em potências de 10. Entretanto, qualquer
outra quantidade que desejemos usar para agrupar quantidades nos conduzem
a outros sistemas de numeração. Um sistema particularmente importante é
o binário, onde os agrupamentos são feitos em potências de 2. Nesse sistema,
os únicos algarismos utilizados são o 0 e o 1. Por exemplo, o número que tem
representação decimal 27 pode ser decomposto como:

27 = 1 × 16 + 8 + 2 + 1
= 24 + 23 + 21 + 20
= 1 × 24 + 1 × 23 + 0 × 22 + 1 × 21 + 1 × 20 .

Desse modo, a representação binária de 27 é 11011. Ao falar do sistema binário,


é provável que alguns alunos já o conheçam, pois os computadores utilizam esse
sistema para armazenar dados, uma vez que os circuitos digitais operam com
dois níveis de tensão bem definidos: ou há tensão (usa-se o 1 para representar
esse caso), ou não há (neste caso, usa-se o 0).
1.4 Aprofundando o conhecimento 21

O professor pode propor alguns exercícios de mudança da base decimal


para a binária, e vice-versa. Esses exercícios são importantes para um bom
entendimento do sistema binário.
Caso o leitor esteja interessado em conhecer mais sobre os aspectos his-
tóricos da representação decimal dos números inteiros, ele pode procurar
sobre a história do matemático persa Abu Abd Allah Muhammad ibn Musa
al-Khwarizmi, responsável pela introdução dos algarismos indo-arábicos e dos
conceitos algébricos básicos na Europa. Especula-se que al-Khwarizmi viveu
entre os anos 780 e 850 da era cristã, tendo nascido na região onde atualmente
encontra-se o Uzbequistão. A palavra algorismi é a versão latina do nome
al-Khwarizmi e deu origem à palavra algarismo. Para saber mais sobre o
matemático al-Khwarizmi, recomendamos o livro [Bre06].

Figura 1.4: Estátua de al-Khwarizmi na cidade de Itchan Kala, Uzbequistão

Uma excelente forma de praticar os conceitos e propriedades que foram


abordados é fornecer uma lista de problemas mais desafiadores e convidar os
alunos a resolvê-la em duplas ou trios. Reserve entre 20 e 30 minutos para que
eles possam pensar e discutir ideias sobre as soluções das questões dentro de
cada grupo. O professor pode orientar alguns alunos com mais dificuldades,
indo de grupo em grupo para escutar as ideias dos estudantes e direcioná-los à
resposta correta através de dicas. À medida que alguns resolvam os exercícios
propostos, esses alunos podem ser convidados a expor as suas soluções no
quadro. Na página a seguir, oferecemos uma lista de desafios. O professor pode
incluir ou excluir os problemas que achar necessários para adequar ao nível
da sua turma, ou simplesmente usar a lista exatamente como está proposta.
As soluções dos problemas propostos encontram-se nas páginas subsequentes.
Outra possibilidade é utilizar a lista para realizar uma batalha matemática
tal como é apresentado no apêndice do livro [FIG12]. Recomendamos o livro
[HC18] como fonte de outros problemas interessantes e o primeiro capítulo do
22 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

livro [Net13] para um estudo mais aprofundado sobre o tema.


1.5 Lista de Desafios 23

1.5 Lista de Desafios


Problema 1 (OBMEP) Na adição a seguir, o símbolo ♣ representa um mesmo
algarismo. Qual é o valor de ♣ × ♣ + ♣?

Problema 2 (OBM) A adição a seguir está incorreta. Entretanto, se substi-


tuirmos somente um certo algarismo a, toda vez que ele aparece, por um certo
algarismo b, a conta fica correta. Qual é o valor de a + b?

Problema 3 Quatro garotos disputaram um desafio de lançar dardos em um


alvo. Cada um deles lançou três dardos. No alvo abaixo, pode-se ver os lugares
atingidos. A pontuação é 6 para os lançamentos que atingem o centro e diminui
um ponto para cada nível mais distante, até chegar no nível mais afastado, que
vale 2 pontos. Sabendo que os quatro garotos empataram, determine:

⊗ ⊗


⊗ ⊗ ⊗
⊗ ⊗
⊗ ⊗

(a) A pontuação total de cada jogador.


(b) As pontuações dos três lançamentos de cada jogador.

Problema 4 (OBM 2006) Na adição abaixo, cada símbolo representa um único


algarismo e símbolos diferentes representam algarismos diferentes. Qual é o
número que representa cada símbolo?

Problema 5 Na adição abaixo, cada símbolo representa um único algarismo e


símbolos diferentes representam algarismos diferentes. Qual é o número que
representa cada símbolo?
24 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

Problema 6 Mostre como colocar os números de 1 a 9 (um em cada círculo)


nos nove círculos da figura abaixo, de modo que a soma dos números escritos
em cada lado do triângulo seja a mesma e seja a maior possível.

Problema 7 Complete os quadrinhos abaixo com números inteiros tais que a


soma de cada quatro números consecutivos seja igual a 20. Que número deve
aparecer no último espaço?
1.6 Soluções da Lista de Desafios 25

1.6 Soluções da Lista de Desafios


1. Na conta apresentada podemos observar o seguinte:
Na coluna das unidades, como 7 + 5 = 12, “vai 1"para a coluna das
dezenas.
Na coluna das dezenas, como 1 + ♣ + 9 = 10 + ♣, o algarismo das dezenas
da soma é ♣ e “vai 1"para a coluna das centenas.
Coluna das centenas: como 1 + 4 + 8 = 13, o algarismo das centenas da
soma é 3 e vai 1 para a coluna dos milhares.
Concluímos assim que ♣ = 3 (note que a conta é 437 + 895 = 1332).
Logo, ♣ × ♣ + ♣ = 3 × 3 + 3 = 12.
2. Numa primeira inspeção, podemos notar que os três algarismos na direita
de todos os números estão corretos, isto é, estão corretamente escritos os
algarismos 0, 1, 3, 4, 5, 6 e 8. Portanto, dentre os algarismos 2, 7 e 9, um
deles está escrito incorretamente. Olhando para a coluna dos milhares,
podemos ver que o 9 está escrito corretamente, pois se o substituirmos
por um outro algarismo, a soma com o 2 não estará correta. Logo, ou 2
ou 7 está incorreto. Se o 7 estiver incorreto, então 2 estará correto, mas
isso não é possível, pois a soma 2 + 4 + 1, que aparece na colunas das
dezenas de milhares, não estaria certa. Logo, 2 é o algarismo que deve
ser substituído. Olhando novamente a soma 2 + 4 + 1 = 11, vemos que
esta conta só ficará correta se substituirmos o 2 pelo 6. Fazendo essa
substituição, verificamos que o restante da conta também fica correto.
Teremos, então, a + b = 2 + 6 = 8.
3. A soma de todos os pontos obtidos foi 6 + 5 + 3 × 3 + 3 × 3 + 4 × 2 = 40.
Como todos empataram, cada um fez exatamente 10 pontos (resposta
para o item (a)). Podemos perceber que cada um dos garotos acertou os
três lançamentos, pois há exatamente 12 dardos no alvo. Note que um
dos garotos acertou um dos dardos no centro do alvo, fazendo 6 pontos.
Para completar os 10 pontos ele deve ter feito mais 4 pontos. Como é
impossível fazer apenas 1 ponto e ele acertou os outros dois lançamentos,
a única possibilidade que resta é ele ter feito dois lançamentos de 2 pontos.
Veja também que outro garoto fez 5 pontos. Para completar os outros
cinco pontos, ele necessiariamente acertou lançamentos de 2 e 3 pontos
nas outras duas jogadas. A essa altura, ainda restam três lançamentos de
4 pontos, dois de 3 pontos e um de 2 pontos, que devem ser distribuídos
aos outros dois garotos. Veja que o garoto que fez um lançamento de 2
pontos, necessariamente deve ter acertado a faixa de 4 pontos nos outros
dois lançamentos. Resta ao último a pontuação 4, 3 e 3. Dessa forma,
podemos resumir as pontuções nas triplas a seguir: (6,2,2) (5,3,2) (4,4,2)
(4,3,3)
4. Veja que a soma de três números de dois dígitos é no máximo 99+99+99 =
297. Portanto,  só pode ser 1 ou 2. Observando a coluna das unidades
simples, podemos notar que  + 4 = 10. Além disso, o “vai um” da
soma das unidades faz com que a comparação feita na coluna das dezenas
acarrete  + } + 1 = 10. Ou seja,  + } = 9
Agora vamos analisar os dois casos:
I. Se  = 2, então 4 = 8 e } = 7. Assim, temos a seguinte operação:

72 + 28 + 87 = 287
26 Capítulo 1. Números inteiros e suas operações

que não é verdadeira.


II. Se  = 1, então 4 = 9 e } = 8. Assim, temos a seguinte operação:

81 + 19 + 98 = 198

que é verdadeira.
5. Veja que a soma máxima possível é 9 + 9 + 9 + 8 = 35. Portanto,  só
pode ser 1, 2 ou 3. Além disso, como a adição é feita de acordo com o
sistema decimal, temos:

10 + = 3 +.

Portanto,
9 = 2
Da última igualdade segue que  deve ser par, e portanto  = 2.
Consequentemente, = 9.
6. Observe que cada número escrito nas pontas do triângulo faz parte de
dois lados, portanto faz parte de duas somas. Para que essas somas
sejam máximas, os números escritos nessas pontas devem ser os maiores
possíveis, ou seja, 9, 8 e 7. Agora, veja que os números que já estão
no triângulo somam 9 + 8 = 17, 9 + 7 = 16 e 9 + 7 = 15, que são três
números inteiros consecutivos. Assim, os demais números que ainda não
ocuparam lugar no triãngulo e somam 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 = 21 devem ser
separados em três grupos tais que as somas dos números em cada grupo
também sejam números consecutivos. Essas somas devem ser iguais a 6,
7 e 8, e os três grupos podem ser {2,4}, {1,6} e {3,5} (veja se há outros
grupos possíveis). Assim, uma possível distribuição final é:

7. Se denotarmos por a, b, c e d os quatro primeiros números, então o quinto


número deve ser igual a a, pois a + b + c + d = b + c + d + a. Pelo mesmo
raciocínio, o sexto número deve ser b, pois b + c + d + a = c + d + a + b.
Seguindo assim, notamos que a sequência a, b, c, d deve se repetir para
preencher todos os quadrinhos. No nosso caso, os quatro números são 5,
3, 8 e 20 − (5 + 3 + 8) = 4, pois a soma deles deve ser igual a 20. Logo, a
sequência correta é:
Referências Bibliográficas

[Bre06] C. Brezina. Al-Khwarizmi: The Inventor of Algebra. Great Muslim


philosophers and scientists of the Middle Ages. Rosen Publishing
Group, 2006. ↑21

[FIG12] Dmitri Fomin, Ilia Itenberg, and Sergey Genkin. Círculos Matemáticos
A Experiência Russa. IMPA, 2012. ↑21

[HC18] Bruno Holanda and Emiliano A. Chagas. Círculos de Matemática da


OBMEP, Volume 1: Primeiros passos em Combinatória, Aritmética e
Álgebra. IMPA, 2018. ↑21

[Net13] Antonio Caminha Muniz Neto. Tópicos de Matemática Elementar -


Volume 5 Teoria dos Números. SBM, 2013. ↑22

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