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Projeto Mecânica dos Fluídos

Setembro de 2018 Universidade do Vale do Itajaí

Dissipador Hidráulico de Energia: Salto de Esqui


Julio Cesar Leão1
Caroline de Sordi,2
Fábio Risso Zancarano,3
Luana Sara Pavan Bettoni ,4
Thalita Correia5

RESUMO – A água é um recurso natural essencial à diversas atividades econômicas, assim como para
a sobrevivência humana. Com o passar dos anos, o avanço científico promoveu a construção de depósitos
de água, cada vez maiores, conhecidos atualmente como barragens, estes com o propósito de abastecer
grandes áreas e gerar energia. Estas estruturas possuem caráter hidráulico e a função de deter, e controlar
o fluxo de água. O sistema de segurança das barragens é chamado de sistema extravasor e possibilita
descarregar a água excedente. Ele é composto de um vertedouro, que permite medir e controlar a vazão,
além de um dissipador de energia, que reduz a energia excessiva da água, assegurando que esta gere o
mínimo de erosão possível à jusante. Desta forma, esse trabalho visou realizar a construção de um
dissipador em escala reduzida do modelo salto em esqui, avaliando os critérios, características,
vantagens e desvantagens que este sistema apresenta.
Palavras-chave: dissipação de energia, modelo reduzido, barragens, energia hidráulica.
1. INTRODUÇÃO
Dentre as estruturas hidráulicas, têm-se as estrutura. Por esta razão,
barragens, cuja principal função é impedir e são incorporadas a
reter o fluxo de água. Segundo Novak (2007 barragens sistemas
extravasores: estruturas
apud FERREIRA, 2011, p. 17) “O propósito projetadas
fundamental de uma barragem é fornecer especificamente para
retenção e armazenamento de água. Seus receber estas descargas. ”
reservatórios são classificados de acordo com o (CHADWICK et al., 2004
fim dado a água armazenada, como irrigação, apud FERREIRA, p. 22).
fornecimento de água, geração de energia Os sistemas extravasores das barragens são
hidroelétrica, controle de cheias [...]. ” compostos pelos elementos: canal de
O fato de uma barragem, estar localizada em um aproximação, estrutura de controle, estrutura de
rio, faz com que em seu mecanismo ela possua condução, estrutura de dissipação e o canal de
um reservatório, onde a água do mesmo é restituição. Conforme a figura a seguir, tem-se
acumulada. O reservatório, portanto, possui um representado o sistema extravasor na usina
limite máximo de água. Devido isto, nessas hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu.
estruturas existem momentos em que há
excedente de água, ou seja, a quantidade de água
que entra é maior do que a quantidade que sai,
dessa maneira atinge a sua capacidade máxima.
Desta forma, a água excedente deverá ser
retirada com cautela, pois
“[...] em muitos casos a
passagem de água sobre a
barragem resultaria em
falha catastrófica de sua

1
Agrônomo pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal
de Santa Catarina. Atualmente, docente na Universidade do Vale do Itajaí.
2
Graduanda do Curso de Engenharia Civil da Universidade do Vale do Itajaí – SC, E-mail: carolinesordi@hotmail.com.
3
Graduando do Curso de Engenharia Civil da Universidade do Vale do Itajaí – SC, E-mail: fabio-zancanaro@hotmail.com
4
Graduanda do Curso de Engenharia Civil da Universidade do Vale do Itajaí – SC, E-mail: luanasarabettoni@hotmail.com.
5
Graduanda do Curso de Engenharia Civil da Universidade do Vale do Itajaí – SC, E-mail: thalitacorreiaeng@gmail.com.

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Sendo assim, o dissipador por salto em esqui
possui como objetivo dissipar a energia longe do
vertedouro. Para isso, sua estrutura se dá por
meio de uma concha no final do vertedouro, que
faz com que o jato seja lançado para longe,
podendo assim, como citado anteriormente,
impactar no maciço rochoso gerando erosão, ou
na própria água do rio, conforme figura abaixo.

Figura 1: Composição de um sistema extravasor. Fonte:


Adaptado de Google Imagens.
Com relação, ao canal de aproximação a sua
função é conduzir a água do reservatório para a
estrutura de controle. Seguindo o mecanismo, a
Figura 2: Vertedouro com dissipador salto em esqui. Fonte:
estrutura de controle é responsável por regular YUDITISKII, 1983 apud FERREIRA, 2011, p. 30.
as vazões liberadas do reservatório e com isso Por consequência, o seu princípio de
manter os níveis d’água corretos. Já na estrutura funcionamento ocorre pela seguinte maneira
de condução, como o próprio nome sugere, “[...], o jato de alta
ocorre o transporte da água até a estrutura de velocidade é conduzido
dissipação. Na qual, a energia cinética do através de um canal
escoamento é dissipada. Por fim, o canal de confinado, e lançado na
restituição conduz a água da saída até o leito do seção terminal de
rio, para que não ocorra grandes erosões. trajetória controlada. [...]”
Dentro da estrutura de controle, tem-se como (ORTIZ, 1982 apud
TURELLA, 2010, p.32).
componente os vertedouros que são,
“[...] essencialmente
Dentre todos os modelos de dissipadores, o tipo
estruturas que permitem a salto em esqui é o que se destaca em diversos
passagem segura de cheias fatores, tais como: preço de sua construção,
do reservatório ao curso baixa necessidade de manutenção, porém, caso
d’água a jusante da haja reparos, estes são facilmente executados,
barragem. ” (NOVAK et além de assegurar que a dispersão da água
al., 2007 apud ocorra longe da jusante evitando sua erosão,
FERREIRA, 2011, p. 23). como já dito. Este tipo de dissipador é
Juntamente com o vertedouro, a estrutura “[...] a solução mais
hidráulica que propicia a diminuição da energia econômica e de mais fácil
de fluidos a fim de amenizar a erosão do solo, é execução. [...]”
chamada de dissipador de energia. Segundo (BRIGHETTI, 2004 apud
Lencastre (1983 apud TOMAZ, 2010, p. 4) “A FERREIRA, 2011, p. 31)
dissipação de energia é uma transformação de Entretanto, é importante ressaltar que ocorre a
parte da energia mecânica em energia formação de uma fossa de erosão no ponto em
turbulência e, no final, em calor por efeito do que a água se choca com o leito do canal
atrito interno do escoamento e atrito deste com extravasor.
as fronteiras. ” “A operação do
Diante dessas informações, o processo de vertedouro com dissipador
dissipação pode ser classificado de duas em salto de esqui
maneiras, sendo elas: quando ocorre na própria transmite uma quantidade
estrutura do vertedouro, devido ao ressalto imensa de energia ao
hidráulico; ou quando ocorre por meio de um maciço rochoso, sendo
jato no ar lançado sobre o maciço rochoso a inevitável a geração de
jusante, podendo ser ainda lançado no leito do uma fossa de erosão a
rio ou canal de restituição. No caso, este trabalho jusante do mesmo [...]. ”
tem como foco o dissipador por salto em esqui, (FERREIRA, 2011, p. 31)
por tanto a sua classificação é por lançamento de É válido lembrar que, nos últimos anos tem sido
um jato no ar. intensa as pesquisas sobre as fossas de erosão a
jusante dos vertedouros, visto que estas ocorrem

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em virtude do impacto do jato lançado pelo
dissipador tipo salto em esqui no maciço
rochoso. Esta erosão é um fenômeno natural que
ocorre nas rochas.

2. ESTADO DA ARTE
2.1 Barragens com dissipador salto em esqui
Há barragens no mundo que utilizam de um
dissipador tipo salto em esqui, tais como:
I. Barragem de Tucuruí: com a potência Figura 4: Barragem de Itaipu. Fonte: Gigantes do Mundo.
instalada de 8.370 MW, esta usina é hoje
a 4ª maior do mundo e a maior III. Barragem de Guri: foi concluída em
totalmente brasileira (figura 3). Foi 1986 e produz atualmente 10.200 MW,
inaugurada em 1985 no rio Tocantins na obtendo assim a marca de terceira maior
cidade de Tucuruí e, atualmente conta do mundo (figura 5). Localizada na
com o segundo maior canal extravasor Venezuela no estado de Bolívar, a
do mundo, com vazão máxima de mesma não abastece somente a
110.000 m³/s. Venezuela, mas também o estado de
Roraima no Brasil.

Figura 3: Barragem de Tucuruí. Fonte: Gigantes do Mundo.


Figura 5: Barrafem de Guri. Fonte: Gigantes do Mundo.
II. Barragem de Itaipu: localizada no estado
do Paraná, na fronteira entre Brasil e IV. Krasnoyarsk: localizada no rio Yenisey
Paraguai, esta usina hidrelétrica é hoje a em Divnogorsk – Rússia (figura 6), sua
segunda maior do mundo com produção construção ocorreu entre os anos de 1956
de 14.000 MW, ficando atrás apenas da e 1972. É considerada a 8ª maior do
usina Três Gargantas localizada na mundo, com potência instalada de 6.000
China (18.200 MW). Com vinte MW. Sua energia é destinada ao
unidades geradoras a usina hidrelétrica abastecimento da fábrica de alumínio
de Itaipu fornece cerca de 90% da existente na região.
energia consumida pelo Paraguai e cerca
de 19% da energia total consumida pelo
Brasil. Com o total de 29 bilhões de
metros cúbicos de água, esta usina conta
com um canal extravasor com quatorze
comportas e vazão máxima de 62.200
m³/s (figura 4).

Figura 6: Krasnoyarsk. Fonte: Gigantes do Mundo.

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2.2 Descrição do projeto estudado


Utilizou-se o Software AutoCAD para projetar
o modelo reduzido do dissipador tipo salto em
esqui, inspirado nos dissipadores do canal
vertedouro da usina hidrelétrica em Tucuruí –
Pará, que se caracteriza como o segundo maior
vertedouro do mundo, tendo vazão de
110.000m³/s, como já mencionado. A projeção
foi realizada com dois raios, um superior e o
outro inferior, com as respectivas medidas:
2,5cm e 8,5cm, como pode ser observado na
figura abaixo.

Figura 7: Projeção do modelo reduzido de dissipador salto em


esqui com os seus respectivos raios. Fonte: Autores.
Este foi realizado para se adaptar ao
equipamento presente no Laboratório de
Ciências e Tecnologia – LATEC, com as
seguintes medidas: 7,5cm de espessura, 15cm de
altura e 25cm de largura, como mostrado na
figura abaixo.

Figura 8: Projeção do modelo reduzido de dissipador salto em


esqui com as suas respectivas medidas. Fonte: Autores.

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3. REFERÊNCIAS
FERREIRA, Felipe Martins. Profundidade de PRANDI, Jair. As 10 maiores usinas
erosão a jusante de dissipador salto de esqui. hidrelétricas do mundo. Disponível em:
2000. 61 f. TCC (Graduação) - Curso de <https://gigantesdomundo.blogspot.com/2011/0
Engenharia Civil, Departamento de Engenharia 4/as-10-maiores-usinas-hidreletricas-do.html>.
Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Acesso em: 03 set. 2018.
Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em:
<https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/ TOMAZ, Plínio. Dissipador de energia para
39154/000825276.pdf?sequence=1&isAllowed obras hidráulicas de pequeno porte. In:
=y>. Acesso em: 01 set. 2018. TOMAZ, Plínio. Dissipador de energia para
obras hidráulicas de pequeno porte.
MARZEC, Eduardo Pivatto. Previsão da Guarulhos: Ltc, 2010. p. 1-76.
profundidade de fossas de erosão a jusante de
dissipadores tipo salto esqui. 2011. Disponível TURELLA, Débora Saccaro. Critérios de
em: dimensionamento para bacia de dissipação
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/1 por ressalto hidráulico tipo I. 87 f. TCC
0183/47437/Poster_10972.pdf?sequence=2>. (Graduação) - Curso de Engenharia Civil,
Acesso em: 02 set. 2018. Departamento de Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
NACIONAL, Itaipu. Itaipu em números. Porto Alegre, 2010. Disponível em:
Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/1
<https://www.itaipu.gov.br/sala-de- 0183/26027/000754991.pdf?..>. Acesso em: 02
imprensa/itaipu-em-numeros>. Acesso em: 03 set. 2018.
set. 2018.

PEREIRA, Geraldo Magela. Projeto de usinas


hidrelétricas. São Paulo: Oficina de Textos,
2015. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=8HS3C
QAAQBAJ&pg=SA7-PA25&lpg=SA7-
PA25&dq=caracteriza%C3%A7%C3%A3o+do
+dissipador+de+salto+em+esqui&source=bl&o
ts=UzzhP6Dd_p&sig=JszyksXgmEUNeumDM
Zgr18HQSEs&hl=pt-
BR&sa=X&ved=2ahUKEwjbq93q35_dAhWL
FZAKHbtrBGUQ6AEwDHoECAAQAQ#v=o
nepage&q&f=false>. Acesso em: 01 set. 2018.

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