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A IMPORTÂNCIA DO COLETIVO NA
CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO
PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
The importance of the collective in the Political-Pedagogical Project
construction of the educational institution
FERRARI, G. V.
da escola como educadora, como instituição deve ser entendido no sentido estrito de
de ensino e aprendizagem. Partindo da ideia uma doutrina ou partido. (VASCON-
de que o ato pedagógico de ensinar não é CELLOS, 2009, p. 20).
tão somente o de transferir conhecimentos,
Vasconcellos (2009) referencia a omissão
mas criar possibilidades para a construção de do termo político como uma forma de negar
novos saberes, percebe-se que Freire (1996, a participação do coletivo, restringindo a
p. 25-6) é enfático ao destacar que: elaboração do documento a profissionais
Quem ensina ensina alguma coisa a da área pedagógica. Ao considerar o termo
alguém. Por isso é que, do ponto de político, o PPP perde o sentido de ser cons-
vista gramatical, o verbo ensinar é um truído apenas para fins burocráticos e ganha
verbo transitivo-relativo. Verbo que pede finalidades sociais. A comunidade passa a
um objeto direto - alguma coisa - e um ser realmente considerada como integrante
objeto indireto - a alguém. Do ponto da instituição escolar e a realidade em que a
de vista democrático em que me situo, escola encontra-se passa a ser considerada.
mas também do ponto de vista da racio-
Para tanto, o termo político desvincula-se da
nalidade metafísica em que me coloco
ideia de partidarismo e leva o sentido de par-
e de que decorre minha compreensão
ticipação cidadã no coletivo da pólis (cidade)
do homem e da mulher como seres
históricos e inacabados e sobre o que se
e da vida em sociedade.
funda a minha inteligência do processo Padilha (2005) também enfatiza que, ao
de conhecer, ensinar é algo mais que fazer política na escola, passa-se a conhecer
um verbo transitivo-relativo. Ensinar os educandos, suas realidades, carências,
inexiste sem aprender e vice-versa e foi necessidades, potencialidades e expectativas.
aprendendo socialmente que, historica- Fazendo política se estabelece o equilíbrio
mente, mulheres e homens descobriram de forças e representatividade dos diversos
que era possível ensinar [...]. sujeitos; o coletivo passa a trabalhar na gestão
e na definição das questões administrativas,
Para Paulo Freire, a educação escolar é
financeiras e pedagógicas. Considerando
um processo de ensino e aprendizagem entre
ainda que essa denotação política pode in-
sujeitos educativos. Isso porque quem ensina
fluenciar nas decisões a nível educacional dos
também aprende e o estudante além de apren-
municípios, estados ou federação.
dente, também pode ensinar. Assim sendo,
há de se considerar a necessidade do PPP Optou-se, primeiramente, em desvin-
ser político. Já o termo pedagógico implica cular os conceitos de Projeto, Político e
em reflexões e direcionamentos sobre o que Pedagógico para iniciarem-se as reflexões,
é ensinar e o que é aprender, pois: entretanto, conforme destaca Veiga (1995),
os termos assumem um caráter indissociável.
[...] Além disto, a omissão do termo po- Na construção de um PPP, faz-se necessária
lítico pode ser um fator de distorção, por a articulação de termos tanto na construção
induzir ao engano de restringir o projeto
teórica do documento, quanto na vida que
a tarefa técnica, da qual somente especia-
ganha através da prática do que foi delineado.
listas profissionais da área, poderiam par-
Propõe-se, então, a articulação:
ticipar na elaboração, deixando de fora
segmentos como alunos e a comunidade. O termo projeto, de origem latina e
Ser político significa tomar posição nos encontrável em língua portuguesa desde
conflitos presentes na Polis, significa, 1680, traduz essa aspiração, posto que
sobretudo a busca do bem comum. Não etimologicamente ‘ação de lançar para
mas ao mesmo tempo se coloca como de que é necessário pensar além do indivi-
algo de valor, algo desejável do ponto de dual, assumindo posturas.
vista da solução dos problemas da esco-
O diálogo é imprescindível no sonho que
la, a tarefa deve consistir, inicialmente,
se ousa sonhar: a construção coletiva do
em tomar consciência das condições
PPP institucional depende de momentos de
concretas, ou contradições concretas,
interação, reflexão e debate. Freire (1971)
que apontam para a viabilidade de um
projeto de democratização das relações
permite também a reflexão diante da neutra-
no interior da escola. (PARO, 2001, p. 9). lidade e nos permite afirmar que sem posturas
definidas, os sujeitos não contribuem para a
Através das colocações de Paro (2001) transformação da realidade.
algumas reflexões diante da utopia e do so- Através de Sacristán (apud IMBERNÓN
nho fazem-se necessárias. Ao pensar em uma 2000), reafirma-se a ideia de que sem sonho
construção coletiva, visando à transformação não há educação. O autor destaca a educa-
da realidade escolar, o sonho caracteriza-se ção como cultura conquistada, entretanto,
como o verdadeiro desejo do grupo. A utopia enfatiza que ela encontra seu sentido mais
pode representar a idealização do coletivo, o moderno como projeto, a partir da capacidade
lugar que ainda não existe, mas com o envol- de aflorar nos homens e mulheres a capaci-
vimento; através do sonho do todo, pode vir dade de construir sociedades melhores, vidas
a existir. Transcendendo uma visão român- melhores, justificando-se em transcender o
tica da educação, vislumbra-se uma escola presente. Ainda, segundo o autor, o porvir
possível, capaz de vivenciar a participação, só existe com os projetos, enraizados nos
através da democracia, possibilitando que os ideais do passado e presente. Faz-se neces-
sujeitos vivenciem a cidadania e contribuam sário o resgate do presente para as reflexões
na construção de uma escola democrática e e elaborações que trarão as diretrizes para a
instituição.
de qualidade.
Almeja-se um PPP alicerçado nas vozes
O sonho pode transformar-se em realidade
da comunidade escolar, objetivando que a
através das ações. Entretanto esse sonhar não
aprendizagem ultrapasse as fronteiras físicas
traz a ingenuidade imaginária da perfeição. A
da escola.
utopia que move a transformação parece ser
a que não nasce da realidade, da consciência, A escola deve abrir suas portas e derrubar
suas paredes não apenas para que possa
das dificuldades concretas. Projetando, ousa-
entrar o que passa além de seus muros,
se sonhar a partir das necessidades, lançam-se
mas também para misturar-se com a
as metas é e nesse momento que se fazem ne- comunidade da qual faz parte. Trata-se
cessários os sonhos coletivos, pois é a partir “simplesmente”, de romper o mono-
deles que a realidade pode ser transformada. pólio do saber, a posição hegemônica
Nessa linha de pensamento, Paulo Freire da função socializadora, por parte dos
(1971) enfatiza a importância do diálogo, professores, e construir uma comunidade
destacando que sua vivência é capaz de de aprendizagem no próprio contexto.
(IMBERNÓN, 2000, p. 95).
transformar a realidade. O diálogo é um con-
teúdo inato da existência humana e ocorre na Imbernóm (2000) propõe a construção de
relação. Através do diálogo, faz-se necessário uma comunidade de aprendizagem através
a transcendência das relações antagônicas, da socialização de saberes, e a escola como
apontando a importância da conscientização espaço de conhecimentos acessível a todos.
NOTA
1
Doravante, será utilizado neste trabalho PPP, para Projeto Político Pedagógico.
AUTOR
Greicimara Vogt Ferrari - Pedagoga na Pró-Reitoria de Ensino no Instituto Federal de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul- IFRS. Especialista em Supervisão Escolar
e Orientação Educacional pela Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões URI
– Campus de Erechim. E-mail: greicimara.ferrari@ifrs.edu.br.
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