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A IMPORTÂNCIA DO COLETIVO NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

A IMPORTÂNCIA DO COLETIVO NA
CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO
PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
The importance of the collective in the Political-Pedagogical Project
construction of the educational institution

FERRARI, G. V.

Recebimento: 04/11/2011 - Aceite: 15/12/2011

RESUMO: O presente trabalho intitulado “A importância do coletivo na


construção do Projeto Político Pedagógico da Instituição Escolar” questiona
a real importância do coletivo na construção do Projeto Político Pedagógico1
(PPP) Institucional. Nesse sentido, pesquisa-se a participação do coletivo na
construção do PPP da Instituição, buscando, através da teoria, levantar os
aspectos positivos e as dificuldades na construção coletiva deste documento.
Assim realizam-se leituras e reflexões acerca da construção do PPP, para
possibilitar o embasamento às produções escritas sobre o tema. Apontam-se
conceitos sobre os termos: Projeto, Político e Pedagógico, analisando a inter-
dependência entre os mesmos; salientam-se os fatores que levam gestores a
optar pela elaboração do PPP sem participação; contribui-se com os aspectos
que mobilizam gestores a realizar a construção coletiva do PPP da instituição,
e, finalmente, destaca-se a importância da utopia na construção do documento.
Desse modo, estruturou-se o estudo a partir de uma pesquisa bibliográfica em
fontes com posicionamento dialógico e que apontam caminhos à construção
do PPP Escolar. Parte-se do pensamento compartilhado por Veiga (2007),
Gadotti (1992), Vasconcellos (2009), Padilha (2005), Libâneo (2006), Lück
(2008), Foucault (1979), Bourdieu (2001), Paro (2001), Paulo Freire (1971),
Imbernón (2000), entre outros. A metodologia proposta visa a atender aos
objetivos traçados neste estudo, organizando-os em três (3) dimensões: con-
ceituando o projeto político pedagógico; as relações de poder e a construção
do PPP; construção coletiva do PPP: um fazer possível.
Palavras-chave: Projeto Político Pedagógico. Poder. Participação. Utopia.

ABSTRACT: This work entitled “the importance of the collective in the


Political-Pedagogical Project construction of the Educational Institution”,
questions the real importance of the collective in the Institutional Pedagogical

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Project construction. In this sense, it is searched the participation of the col-


lective in the construction of such Project, aiming, through the theory, to raise
the positive aspects and the difficulties found in the collective construction of
this document. So some readings and reflections are held in order to have the
background for written productions on the subject. Some concepts about the
three theme, that is, Project, Political and Pedagogical are pointed, analyzing
the interdependence between them. The factors that lead managers to opt as for
the elaboration of the Political-Pedagogical Project without participation are
highlighted. It brings some contributions regarding the aspects that mobilize
managers to carry out the collective construction of the Institutional Political-
Pedagogical Project and, finally, it emphasizes the importance of the utopia
in the construction of the Political-Pedagogical Project. Thus, the study was
structured from a literature research in dialogical positioning sources, which
indicates the path to the construction of the School Political-Pedagogical
Project. The thoughts shared by Veiga (2007), Gadotti (1992), Vasconcel-
los (2009), Padilla (2005), Lebanon (2006), Luck (2008), Foucault (1979),
Bourdieu (2001), Paro (2001 ), Paulo Freire (1971), Imbernón (2000), among
otherswere the starting point of the work. The proposed methodology aims to
meet the objectives outlined in this study, organized into three (3) dimensions:
conceptualizing the political-pedagogical project; the relations of power and
the construction of political-pedagogical project; the collective construction
of the political-pedagogical project: a possible making.
Keywords: Political-Pedagogical Project. Power. Participation. Utopia.

escolar. Contudo para que isso se efetive, faz-


se necessário transcender questões pessoais e
Introdução dispor-se a pensar no que poderá ser melhor
para o grupo.
Construir o PPP de uma instituição escolar Em momentos de diálogo no ambiente es-
é uma atividade complexa. Para se definir ru- colar, opiniões diversas podem surgir já que,
mos políticos e pedagógicos, exige-se clareza segundo Freire (1996), cada indivíduo traz
diante dos objetivos almejados. Como deter- singularidades específicas de sua história.
minar metas sem conhecer o real significado Contudo, através do debate, da participação
dos termos: PROJETO, POLÍTICO e PE- dos sujeitos envolvidos pode-se chegar a
DAGÓGICO? Eis uma indagação que pode alguns conceitos comuns. A participação
ser vista com atenção. O diálogo acerca dos possibilita que os sujeitos colaborem com os
significados pode ser uma forma de clarear pares o que, segundo Luck (2008), pode oca-
objetivos coletivos para guiar a construção sionar inclusive a satisfação pessoal, pelo fato
do documento. do indivíduo perceber-se como importante
A partir do diálogo, trocam-se experiên- para o grupo. No lado oposto à participação,
cias, ampliam-se horizontes, possibilitando, encontra-se o exercício do poder. Há quem
além da compreensão frente a termos, um acredite que o envolvimento do grupo na
momento de planejamento de metas cons- gestão implica na perda de autoridade. Em
truídas pelo coletivo em prol da instituição outras situações, o exercício do poder ocorre

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de forma implícita levando os demais a acre- As colocações de Veiga destacam a ques-


ditarem ser um processo cultural. Superando tão da significação dos rumos. Construir um
administrações verticais, surgem propostas projeto implica em definir os objetivos da
de gestão democrática, possibilitando a par- escola e ações necessárias para alcançá-los.
ticipação do coletivo na construção do PPP Vasconcellos (2009) aponta o PPP como o
da instituição escolar. plano global da instituição, a sistematização
Pensar uma construção coletiva remete dos ideais, salientando a questão do processo
a superar obstáculos. O “eu” precisa ser de planejamento participativo, defendendo
substituído pelo “nós”; este processo não que o documento precisa estar em constante
deve ser encarado como rápido e simples. construção, já que é na caminhada que a
Para a participação deixar de ser mera teoria, instituição constrói a sua identidade. O autor
ela precisa ganhar vida nas ações diárias, assegura que o desejo de mudança é o ponto
consolidando-se como gestão democrática. de partida do PPP.
O grupo precisa ter claro seus ideias de edu-
Ao projetar metas, indícios de caminhos a
cação e seguir unido, superando as dificul-
seguir podem ser delineados. Sendo a escola
dades que, certamente, surgirão no decorrer
uma instituição educacional, sua razão de ser
do processo e tendo o sonho coletivo como
possível de ser alcançado. não existiria sem o termo pedagógico, pois
são nas ações diárias que a escola efetiva seu
A crença na mudança é imprescindível
papel e consolida-se como educadora:
para a concretização do sonho coletivo. Atra-
vés da vivência da participação, o sonho de [...] Na dimensão pedagógica reside a
construção coletiva do PPP pode ocasionar possibilidade da efetivação da intencio-
a tão desejada transformação da realidade nalidade da escola, que é a formação
da instituição escolar e, consequentemente, do cidadão participativo, responsável,
da sociedade. compromissado, crítico e criativo.
Pedagógico, no sentido de definir as
ações educativas e as características
necessárias às escolas de cumprirem
Conceituando o Projeto Político
seus propósitos e sua intencionalidade.
Pedagógico (VEIGA, 1995, p. 13).

Uma das condições essenciais a toda O termo pedagógico é inerente ao trabalho


profissão é a formalização dos saberes da escola. Veiga (1995) possibilita a reflexão
necessários à execução das tarefas que diante do papel pedagógico da escola na
lhe são próprias (GAUTHEIR,1998 formação dos sujeitos. O planejamento e as
p.200). atividades diárias definem qual o sujeito que
Ao se iniciar uma discussão, faz-se neces- a instituição pretende colaborar na formação.
sária a reflexão e a clareza diante do que se O ato pedagógico pode, e muito, auxiliar
pretende problematizar. Os termos balizado- na formação de cidadãos participativos ou
res do presente trabalho são: Projeto, Político, submissos, críticos ou acríticos, criativos ou
Pedagógico. A partir de Veiga (1995, p. 13) meros reprodutores. Diante do papel social
,principiam-se as reflexões diante da concep- da escola, destaca-se a questão da definição
ção sobre Projeto: “O projeto busca um rumo, de propostas claras para o trabalho pedagó-
uma direção. É uma ação intencional, com gico diário.
um sentido explícito, com um compromisso O termo pedagógico traz, também, em
definido coletivamente [...]”. sua significação, o entendimento do papel

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da escola como educadora, como instituição deve ser entendido no sentido estrito de
de ensino e aprendizagem. Partindo da ideia uma doutrina ou partido. (VASCON-
de que o ato pedagógico de ensinar não é CELLOS, 2009, p. 20).
tão somente o de transferir conhecimentos,
Vasconcellos (2009) referencia a omissão
mas criar possibilidades para a construção de do termo político como uma forma de negar
novos saberes, percebe-se que Freire (1996, a participação do coletivo, restringindo a
p. 25-6) é enfático ao destacar que: elaboração do documento a profissionais
Quem ensina ensina alguma coisa a da área pedagógica. Ao considerar o termo
alguém. Por isso é que, do ponto de político, o PPP perde o sentido de ser cons-
vista gramatical, o verbo ensinar é um truído apenas para fins burocráticos e ganha
verbo transitivo-relativo. Verbo que pede finalidades sociais. A comunidade passa a
um objeto direto - alguma coisa - e um ser realmente considerada como integrante
objeto indireto - a alguém. Do ponto da instituição escolar e a realidade em que a
de vista democrático em que me situo, escola encontra-se passa a ser considerada.
mas também do ponto de vista da racio-
Para tanto, o termo político desvincula-se da
nalidade metafísica em que me coloco
ideia de partidarismo e leva o sentido de par-
e de que decorre minha compreensão
ticipação cidadã no coletivo da pólis (cidade)
do homem e da mulher como seres
históricos e inacabados e sobre o que se
e da vida em sociedade.
funda a minha inteligência do processo Padilha (2005) também enfatiza que, ao
de conhecer, ensinar é algo mais que fazer política na escola, passa-se a conhecer
um verbo transitivo-relativo. Ensinar os educandos, suas realidades, carências,
inexiste sem aprender e vice-versa e foi necessidades, potencialidades e expectativas.
aprendendo socialmente que, historica- Fazendo política se estabelece o equilíbrio
mente, mulheres e homens descobriram de forças e representatividade dos diversos
que era possível ensinar [...]. sujeitos; o coletivo passa a trabalhar na gestão
e na definição das questões administrativas,
Para Paulo Freire, a educação escolar é
financeiras e pedagógicas. Considerando
um processo de ensino e aprendizagem entre
ainda que essa denotação política pode in-
sujeitos educativos. Isso porque quem ensina
fluenciar nas decisões a nível educacional dos
também aprende e o estudante além de apren-
municípios, estados ou federação.
dente, também pode ensinar. Assim sendo,
há de se considerar a necessidade do PPP Optou-se, primeiramente, em desvin-
ser político. Já o termo pedagógico implica cular os conceitos de Projeto, Político e
em reflexões e direcionamentos sobre o que Pedagógico para iniciarem-se as reflexões,
é ensinar e o que é aprender, pois: entretanto, conforme destaca Veiga (1995),
os termos assumem um caráter indissociável.
[...] Além disto, a omissão do termo po- Na construção de um PPP, faz-se necessária
lítico pode ser um fator de distorção, por a articulação de termos tanto na construção
induzir ao engano de restringir o projeto
teórica do documento, quanto na vida que
a tarefa técnica, da qual somente especia-
ganha através da prática do que foi delineado.
listas profissionais da área, poderiam par-
Propõe-se, então, a articulação:
ticipar na elaboração, deixando de fora
segmentos como alunos e a comunidade. O termo projeto, de origem latina e
Ser político significa tomar posição nos encontrável em língua portuguesa desde
conflitos presentes na Polis, significa, 1680, traduz essa aspiração, posto que
sobretudo a busca do bem comum. Não etimologicamente ‘ação de lançar para

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frente’. Do ponto de vista sinonímico, dos estudantes e sua inserção na cidadania


o termo projeto implica aproximações crítica, contribuindo para o êxito da institui-
com ideia, plano, intenção, propósito, ção como um todo.
delineamento. E os adjetivos político e Seguindo a linha de pensamento de Li-
pedagógico, qualificadores do projeto,
bâneo, encontra-se Abreu (1999), ao com-
explicitam-se também pelas suas eti-
preender que a questão dos resultados da
mologias: O primeiro, porque político
aprendizagem dos estudantes está vinculada
é um ente positivo do termo polis, o
à possibilidade de a escola definir seu projeto
qual significa ‘cidade’, posto que en-
educacional. Somente com a autonomia, a
volve uma comunidade de indivíduos;
participação da comunidade ganha sentido
e pedagógico, dado que sua etimologia
se vincula ao sentido de ‘condução de
na escola e o poder de decisão desta pode
criança’, desde a cultura grega, mas
conduzir aos resultados positivos concretos.
veio se configurando, a partir da cultura A participação política e as descentralizações
romana, como área do conhecimento podem repercutir na melhoria da educação.
consagrada à estruturação, aos princípios Desse modo, Vasconcellos (2009) colo-
e às diretrizes que têm como fim a ação ca que é praticamente impossível mudar a
educativa. E seu caráter teórico prático se prática de sala de aula sem vinculá-la a uma
guarnece e se expressa pelas dimensões proposta conjunta da escola. Faz-se neces-
técnica, científica e filosófica. (VEIGA, sária a leitura da realidade, as concepções
2007, p. 13-4). de ser humano, de sociedade, de currículo,
de planejamento. Para o autor, essas ações
Veiga (2007) caracteriza a origem dos dependem de intervenções e interações dos
termos e permite a reflexão acerca da in- educadores.
terdependência entre eles, já que o projeto
Por conseguinte, para Veiga (2007), a
aproxima-se do ato de lançar ideias e propos-
construção do PPP vinculada à formação hu-
tas. Ligado ao termo político e pedagógico,
mana significa trilhar caminhos participativos
assume o caráter de envolver a comunidade
e solidários, visando à construção de uma
na ação educativa. Através da definição de escola melhor para todos. A autora lembra
termos, percebe-se que a tarefa de construir também que a escola é uma organização viva,
um PPP não deve ser encarada como simples. que compartilha de uma totalidade social, e
Construir um documento que realmente res- seu PPP, também precisa ser vivo e dinâmico,
ponda às necessidades da comunidade escolar norteando o movimento escolar.
depende do envolvimento e da participação
de seus membros. O propósito de uma escola
depende de diversos olhares, afinal, ela inse- As Relações de poder e a
re-se em um contexto, e as reflexões do todo construção do Projeto Político
são fundamentais nas práticas pedagógicas. Pedagógico
Nessa perspectiva, Libâneo (2006) desta-
ca a proposta de autonomia da escola trazida A escola é um ambiente onde se encon-
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tram diferentes indivíduos, com experiências
nº. 9394/1996, que evidencia o objetivo de e histórias diversas e isso, muitas vezes, pode
descentralizar e democratizar a tomada de acarretar conflitos, mas, através da diversida-
decisões pedagógicas e organizacionais da de, a instituição pode optar pelo crescimento,
escola. Através do PPP, a equipe escolar propondo momentos de discussão e reflexão,
pode tornar-se coresponsável pelo sucesso visando à construção de um PPP coletivo.

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Nesse sentido, encontra-se Luck (2008) As relações humanas e, em especial, as


com a assertiva de que a participação, em relações existenciais em uma instituição
seu sentido pleno, caracteriza-se pela mobi- escolar apresentam-se em constante busca
lização efetiva dos esforços individuais para de exercício do poder. Alguns podem sentir
a superação de atitudes de acomodação e prazer em detê-lo e outros podem até mesmo
alienação. Para a autora, existe a premissa de nem perceber que estão fazendo parte de
eliminação de comportamentos individualis- jogos de manipulação. Nessa linha de pensa-
tas e ela propõe a construção do espírito de mento, Bourdieu (2001, p. 9) problematiza as
equipe, visando a objetivos sociais e institu- relações humanas explicadas como o poder
cionais que podem ser assumidos por todos. simbólico:
A participação pode até mesmo contribuir
Os sistemas simbólicos, como instru-
para a identidade pessoal do sujeito:
mento de conhecimento e de comunica-
Entende-se que a natureza humana bá- ção, só podem exercer um poder estru-
sica - sua vocação primeira - consiste turante porque são estruturados. O poder
na necessidade de a pessoa ser ativa simbólico é um poder de construção da
em associação com seus semelhantes, realidade que tende a estabelecer uma
desenvolvendo seu potencial. Isto é, o ordem gnoseológica: o sentido imediato
ser humano se torna uma pessoa e de- do mundo (e, em particular do mundo
senvolve sua humanidade na medida em social) supõe aquilo a que Durkheim
que, pela atuação social, coletivamente chama o conformismo lógico, quer dizer,
compartilhada, canaliza e desenvolve seu uma concepção homogênea do tempo,
potencial ao mesmo tempo que contribui do espaço, do número, da causa, que
para o desenvolvimento da cultura do torna possível a concordância entre as
grupo em que vive, com o qual interage inteligências.
e do qual depende para construir sua
identidade pessoal. (LUCK, 2008, p. 61). Bourdieu (2001) caracteriza o poder
simbólico como estruturado, dotado de força
Luck (2008) destaca que o ser humano social e podendo conduzir ao conformismo.
em sua unicidade precisa desenvolver seu Este leva a posições acríticas, afinal o con-
próprio potencial e, ao mesmo tempo, tem a texto é visto como aquele sem perspectivas
necessidade de se sentir útil no grupo do qual de mudança. O poder simbólico, segundo
faz parte. Sendo assim, o caráter individual da Bourdieu, ganha sentido no mundo social,
participação, de acordo com a autora, ganha estabelecendo ordens. A escola caracteriza-
sentido ao repercutir como importante para o se como um ambiente social, permeado de
grupo, transcendendo, dessa forma, o caráter relações, nas quais o poder simbólico pode
individualista da participação. estar presente.
Até então tudo parece simples, entre- De acordo com Foucault (1979), o poder
tanto, a simplicidade pode levar ao engano, só existe na ação, não sendo possível de-
tratando-se das complexas relações entre os finir um titular. Todavia, o poder sempre é
seres humanos. Foucault (1979) possibilita a exercido numa determinada direção, alguns
reflexão diante do exercício do poder, desta- posicionam-se de um lado, e outros, de outro,
cando que, para ser aceito ele não é apenas não sabendo ao certo quem detém o poder,
repressivo, ele cria coisas e induz ao prazer, porém é visível quem não o possui, tornando-
forma saberes e produz discurso. O poder, se uma relação de forças:
segundo Foucault, é uma rede produtiva que Dispomos da afirmação que o poder não
atravessa todo o corpo social. se dá, não se troca, nem se retoma, mas se

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exerce, só existe em ação, como também a falta de oportunidade, ao construir o PPP em


da afirmação que o poder não é princi- gabinete; a participação pode ser possibilita-
palmente manutenção e reprodução das da, mas os sujeitos podem não acreditar na
relações econômicas, mas acima de tudo mudança e optam por não efetivar a partici-
uma relação de força [...]. (FOUCAULT, pação; o indivíduo pode resistir psicológica e
1979, p. 175). naturalmente às novas situações; dificuldades
Segundo Foucault (1979), o poder ganha no relacionamento interpessoal também po-
vida na ação e caracteriza-se principalmente dem desencadear na não participação.
como uma relação de força. Nas instituições As causas da não participação são inú-
escolares, as relações de força podem mate- meras. Bourdieu (2001) aponta o poder sim-
rializar-se de forma ideológica, objetivando a bólico, já Foucault (1979) traz a satisfação
manutenção de ideias e ou propostas políticas na ação do exercício do poder e as relações
e pedagógicas. de força por ele ocasionadas, enquanto Vas-
concellos (2009) elenca situações desde a
O exercício do poder, isto é, a expressão descrença na mudança até as relações inter-
de formas de influência entre pessoas
pessoais. Entretanto, o conformismo leva a
e instituições, de modo a determinar o
manutenção do poder e para combatê-lo faz-
rumo que tomam e as ações que promo-
se necessária uma nova postura: “É preciso
vem, constitui um fenômeno natural e
inerente às interações que ocorrem em
que haja um empenho permanente, esforçado,
qualquer organização social. Portanto, a continuado, perseguição de objetivos. É uma
escola não é uma exceção como contexto caminhada que encontra obstáculos, resistên-
desse exercício, e essa influência é ine- cias: o novo brota do velho, mas não espon-
rente ao processo educacional, em vista taneamente; brota vencendo a resistência do
do que é, em si, um processo político. O velho...”. (GADOTTI, 1992, p. 90).
exercício de poder se expressa continu- A mudança de concepções exige empe-
amente na construção da cultura escolar nho de todos. Sentir-se integrante da escola
como um poderoso mecanismo que visa é, certamente, um grande passo que precisa
conformar condutas e homogeneizar vir seguido da crença na mudança. A gestão
maneiras de pensar. (FREITAS apud participativa se faz no coletivo. A equipe
LUCK 2008 p. 100). diretiva da escola assume um importante
A compreensão é de que o exercício do papel, ao caracterizar seu trabalho a partir
poder, segundo Freitas (2008), é um fenôme- da centralização ou descentralização dos
no presente nas relações sociais. A escola sen- processos decisórios da escola. Ao centra-
do uma organização social, também vivencia lizar as decisões, a direção toma para si a
situações que contribuem para a manutenção responsabilidade que seria do todo, perpassa
do sistema e de maneiras de pensar. Ao com- a imagem de autoritarismo, pois não consulta
preender os mecanismos de poder, a inércia os demais, apenas dita normas.
pode ser interpretada como saída mais fácil. O ponto de vista que nos interessa
Entretanto, quando se opta pela crença na mu- reforçar é que a escola não tem mais
dança, outras posturas tornam-se necessárias, possibilidade de ser dirigida de cima para
baixo e na ótica do poder centralizador
dentre as quais a participação na construção
que dita as normas e exerce o controle
do PPP merece destaque.
técnico e burocrático. A luta da escola
Como destaca Vasconcellos (2009), a é para a descentralização em busca de
participação ou falta de participação dos indi- sua autonomia e qualidade. (VEIGA,
víduos pode ter várias razões, destacando-se: 1995, p. 18).

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A relação de administração vertical e indivíduos “da” e “na” escola. Participando


hierárquica é enfaticamente criticada por e sentindo-se parte da instituição escolar, os
Veiga (1995). A autonomia e a qualidade indivíduos transformam-se em sujeitos e ao
comprometem-se e, dessa forma, o poder se sentirem sujeitos, lutam para que a escola
centralizador precisa ser substituído pela realmente responda às necessidades da socie-
sua descentralização, onde os indivíduos dade e não simplesmente sirva como órgão
coletivamente fazem suas propostas podendo em prol da manutenção do sistema.
contribuir para o sucesso da escola e, conse- O PPP da instituição escolar, ao caracteri-
quentemente, para a transformação social. zar seus ideais, reflete na própria identidade
Luck (2008) destaca que participar impli- da escola. Isso porque, no processo de cons-
ca em compartilhar poder e responsabilidade trução a participação de toda a comunidade é
na tomada de decisões coletivas, enfrentando fundamental para a efetivação das propostas.
os desafios. Nessa perspectiva, a participação A construção da escola democrática
através do engajamento implica em envolver- constitui, assim, um projeto que não é
se nos processos sociais e agir com empenho sequer pensável sem a participação de-
e dedicação, visando a promover os resulta- mocrática de outros setores e o exercício
dos desejados: da cidadania crítica de outros atores, não
sendo, portanto, obra que possa ser edifi-
A participação é uma resposta a um dos
cada sem ser em co-construção. (LIMA,
anseios mais fundamentais do homem:
2002, p. 42).
ser levado em conta, tomar parte, ser
incluído, ser respeitado. Todavia a par- Segundo Lima (2002), uma escola de-
ticipação só tem sentido quando existe mocrática só se constrói com a participação.
por detrás uma ética, uma disposição em Construir um PPP que realmente responda
mudar realmente o que for necessário e
aos significados dos próprios termos não
não apenas as aparências [...] (VASCON-
se concebe sem a participação do coletivo.
CELLOS, 2009, p. 24-5).
É nas vozes de toda a comunidade que são
Participar efetivamente e além das aparên- expressas as reais necessidades da instituição,
cias é o que nos sinaliza Vasconcellos (2009). a qualidade na educação e transformação
A participação só ganha sentido quando real- social se tornam ideais a serem conquistados.
mente é vivida e concretizada na prática. Paro
(2001) salienta a participação como processo
democrático que se constrói no caminhar, Construção coletiva do Projeto
apontando que os obstáculos precisam ser Político Pedagógico: um fazer
refletidos previamente, e, também, existem possível
as potencialidades que a realidade apresenta
para a ação. Ao acreditar na educação e na construção
Gadotti (1992) e Vasconcellos (2009) coletiva de um PPP escolar, ousa-se sonhar.
referenciam a escola como transformadora Através do sonho, as metas lançadas em um
social e, partindo da mudança na própria projeto assumem o caráter de atingíveis. É
escola, propõe-se uma postura diferenciada na utopia que se encontra a força para con-
da equipe diretiva, Orientação Educacional cretizar o almejado:
e Supervisão Escolar. A partir da descentra- A palavra utopia significa o lugar que não
lização, pode-se promover a gestão coope- existe. Não quer dizer que não possa vir
rada, permitindo a participação de todos os a existir. Na medida em que não existe,

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mas ao mesmo tempo se coloca como de que é necessário pensar além do indivi-
algo de valor, algo desejável do ponto de dual, assumindo posturas.
vista da solução dos problemas da esco-
O diálogo é imprescindível no sonho que
la, a tarefa deve consistir, inicialmente,
se ousa sonhar: a construção coletiva do
em tomar consciência das condições
PPP institucional depende de momentos de
concretas, ou contradições concretas,
interação, reflexão e debate. Freire (1971)
que apontam para a viabilidade de um
projeto de democratização das relações
permite também a reflexão diante da neutra-
no interior da escola. (PARO, 2001, p. 9). lidade e nos permite afirmar que sem posturas
definidas, os sujeitos não contribuem para a
Através das colocações de Paro (2001) transformação da realidade.
algumas reflexões diante da utopia e do so- Através de Sacristán (apud IMBERNÓN
nho fazem-se necessárias. Ao pensar em uma 2000), reafirma-se a ideia de que sem sonho
construção coletiva, visando à transformação não há educação. O autor destaca a educa-
da realidade escolar, o sonho caracteriza-se ção como cultura conquistada, entretanto,
como o verdadeiro desejo do grupo. A utopia enfatiza que ela encontra seu sentido mais
pode representar a idealização do coletivo, o moderno como projeto, a partir da capacidade
lugar que ainda não existe, mas com o envol- de aflorar nos homens e mulheres a capaci-
vimento; através do sonho do todo, pode vir dade de construir sociedades melhores, vidas
a existir. Transcendendo uma visão român- melhores, justificando-se em transcender o
tica da educação, vislumbra-se uma escola presente. Ainda, segundo o autor, o porvir
possível, capaz de vivenciar a participação, só existe com os projetos, enraizados nos
através da democracia, possibilitando que os ideais do passado e presente. Faz-se neces-
sujeitos vivenciem a cidadania e contribuam sário o resgate do presente para as reflexões
na construção de uma escola democrática e e elaborações que trarão as diretrizes para a
instituição.
de qualidade.
Almeja-se um PPP alicerçado nas vozes
O sonho pode transformar-se em realidade
da comunidade escolar, objetivando que a
através das ações. Entretanto esse sonhar não
aprendizagem ultrapasse as fronteiras físicas
traz a ingenuidade imaginária da perfeição. A
da escola.
utopia que move a transformação parece ser
a que não nasce da realidade, da consciência, A escola deve abrir suas portas e derrubar
suas paredes não apenas para que possa
das dificuldades concretas. Projetando, ousa-
entrar o que passa além de seus muros,
se sonhar a partir das necessidades, lançam-se
mas também para misturar-se com a
as metas é e nesse momento que se fazem ne- comunidade da qual faz parte. Trata-se
cessários os sonhos coletivos, pois é a partir “simplesmente”, de romper o mono-
deles que a realidade pode ser transformada. pólio do saber, a posição hegemônica
Nessa linha de pensamento, Paulo Freire da função socializadora, por parte dos
(1971) enfatiza a importância do diálogo, professores, e construir uma comunidade
destacando que sua vivência é capaz de de aprendizagem no próprio contexto.
(IMBERNÓN, 2000, p. 95).
transformar a realidade. O diálogo é um con-
teúdo inato da existência humana e ocorre na Imbernóm (2000) propõe a construção de
relação. Através do diálogo, faz-se necessário uma comunidade de aprendizagem através
a transcendência das relações antagônicas, da socialização de saberes, e a escola como
apontando a importância da conscientização espaço de conhecimentos acessível a todos.

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Greicimara Vogt Ferrari

Muito além de transcender barreiras físicas, Objetiva-se um PPP vivo, democrático,


propõe-se a ruptura de preconceitos. Na o que só é possível ao ultrapassar a barrei-
utopia que se busca, torna-se possível ouvir ra da teoria para cumprir exigências. Este
as vozes da comunidade e com ela aprender, documento ganha vida através da prática:
para que o PPP não traga apenas os sonhos “A educação para a democracia, só realizá-
de diretores e/ou professores, mas que con- vel através de ações educativas e práticas
temple também o desejo do coletivo. pedagógicas democráticas, conhece na au-
Construir um PPP é uma tarefa que tonomia (individual e coletiva, de alunos e
exige seriedade, estudo, reflexão, diálogo, de professores) um elemento decisivo à sua
participação. Sabe-se que a escola enfrenta concretização [...]” (LIMA, 2002, p. 83).
inúmeras dificuldades, e, também, que uma Trazer a comunidade para escola e ouvir
construção coletiva envolve atritos/conflitos, suas colocações, nem sempre é consenso
afinal, cada ser é único e traz sua própria entre professores e direção. Certamente isso
história, mas acredita-se que é na divergência envolve trabalho, desacomodação, mas, de
acordo com Paro (2001), a descentralização
que acontecem as maiores conquistas.
da autoridade não tira o poder do diretor, mas
Por isso defendemos a construção do possibilita a divisão de responsabilidades e,
Projeto Político Pedagógico da escola nessa divisão, quem ganha poder é a escola.
alicerçado na relação pedagógica que Com a responsabilidade dividida, somam-se
se estabelece desde a sala de aula, fun- as forças para a transformação da instituição.
damentada na dialogicidade sensível, O coletivo na construção do documento se
crítica, conflitiva, reflexiva, criativa, per-
consolida a partir da gestão democrática, na
manentemente política e transdisciplinar.
qual a participação é fundamental:
Dessa forma, possibilitamos aos sujeitos
do processo pedagógico espaços de con- Participar significa “partilhar com”. É
vivência e de descoberta dos caminhos a preciso que haja aglutinação, a ação cole-
serem trilhados, para que aprendam não tiva, que envolve a análise dos problemas
só a conhecer, a fazer, a viver juntos e a escolares, para que a discussão/reflexão
ser [...] (PADILHA, 2005, p. 101). não se dilua em casuísmos, perdendo
a visão do todo. Nessa perspectiva é
Padilha (2005) reafirma o envolvimento preciso literalmente, abrir a escola para
do coletivo na construção do PPP como ma- a participação da comunidade escolar
neira de que os sujeitos descubram juntos como um todo: pais, alunos, profis-
os caminhos da convivência e das ações. sionais da educação e funcionários da
Acredita-se em um PPP que ganhe vida no instituição. Esse envolvimento com a
dia a dia da escola, construído e reconstruído comunidade, além de se enriquecer com
na teoria e na prática diária, que ultrapasse a a escuta da polifonia de vozes, pode con-
seguir diminuir a violência que nela vem
ideia de frases aparentemente bem formula-
adentrando, contribuindo, ainda, para a
das, mas redigidas a partir de único olhar e instauração de uma melhor convivência
que assuma seu verdadeiro caráter de coletivo e solidariedade sociais. (OLIVEIRA,
e inacabado, até mesmo pelo fato de ser es- 2005, p. 44).
crito com a contribuição do coletivo, em prol
da instituição. Compartilha-se o ideal de uma Segundo Oliveira (2005) é na partilha de
escola dinâmica, na qual a vida é propulsora ideias com a comunidade que se pode en-
das ações. Reafirma-se, então, o caráter do contrar a solução para alguns problemas da
documento como um guia, porém inacabado, escola, como a violência escolar. A proposta
vivo e dinâmico. de inclusão do coletivo na construção do PPP

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A IMPORTÂNCIA DO COLETIVO NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

da instituição escolar é um sonho que nasce Participar implica compartilhar poder,


na crença da almejada transformação da vale dizer, implica compartilhar res-
instituição e da sociedade, possíveis a partir ponsabilidades por decisões tomadas
de uma educação crítica, séria, que estimule em conjunto com uma coletividade e o
a criatividade e que perceba os indivíduos enfrentamento dos desafios de promo-
como sujeitos ativos, participativos e envol- ção de avanços, no sentido de melhoria
vidos neste processo dinâmico de construção. contínua e transformações necessárias.
(LUCK, 2008, p. 44).
Luck (2008) enfatiza a participação como
Considerações finais compartilhamento de responsabilidades,
tarefa que exige muito empenho. Diante das
Na construção de um PPP, torna-se in- dificuldades, a opção por cruzar os braços
dispensável a clareza diante do que esse pode ser uma alternativa, entretanto vale
documento representa. O primeiro passo para ressaltar que essa atitude implica em acredi-
esse esclarecimento pode ser a discussão re- tar que mudar o sistema é muito trabalhoso,
ferente aos significados dos termos: Projeto, desacreditando nos sonhos e nas possibi-
Político e Pedagógico. Através do diálogo, o lidades da concretização da escola como
grupo define as metas comuns para conduzir transformadora. A utopia faz-se propulsora de
a instituição e transcreve-as no documento. um projeto possível, mas, para isso tornar-se
Muito além de teorizar os ideais buscados realidade, é preciso ousar, unir-se aos demais
pela instituição, este documento precisa pelo bem do todo.
ganhar vida nas ações educativas cotidianas. Através da participação, ocorre a troca
de ideias, de ideais e fortalece-se o espírito
O PPP da instituição escolar representa
de equipe. O engajamento transforma-se em
suas formas de pensar e caracteriza sua pró-
consequência e as metas planejadas ganham
pria identidade. Construído em gabinete para
vida no cenário escolar. Quando se fala
fins de cumprir exigência, corre-se o risco de
em participação, em coletivo, almeja-se o
perder uma belíssima oportunidade de ouvir
real envolvimento da comunidade escolar:
as vozes da comunidade, e a escola desejada
educadores, educandos, gestores escolares e
pelo coletivo, acaba por não ter chance de ser famílias. Acredita-se que no ecoar de várias
expressa e, consequentemente, torna-se difí- vozes, o ideal de escola pode concretizar-se,
cil sua materialização. A escola “para todos”, por isso ousa-se sonhar.
transforma-se em “para alguns”. Frases escritas por um indivíduo podem
No contexto escolar, vários fatores podem ter elaboração mais fácil, entretanto acabam
levar à centralização de decisões. Alguns po- tirando o brilho de um documento dinâmico,
dem achar mais fácil elaborar o documento construído a partir do ecoar das vozes da
em gabinete. Em outros momentos, o grupo, comunidade escolar, para responder aos seus
por não acreditar na mudança, pode não se anseios e necessidades e ganhar vida no dia
envolver na ação. Entretanto, acreditar na a dia. Essa construção coletiva torna-se pos-
construção coletiva do documento é, pri- sível através da gestão democrática. As difi-
meiramente, assumir a transformação como culdades certamente farão parte do processo,
possível, superando modelos hierárquicos mas não devem ser maiores que o desejo de
pré-estabelecidos, dispondo-se ao novo. transformação. Acreditar nesse sonho torna-
Resistências podem fazer parte do processo, se imprescindível para que este projeto se
mas com o diálogo e a partilha da respon- concretize na realidade da instituição escolar.
sabilidade, as mudanças podem se efetivar:

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Greicimara Vogt Ferrari

NOTA
1
Doravante, será utilizado neste trabalho PPP, para Projeto Político Pedagógico.

AUTOR
Greicimara Vogt Ferrari - Pedagoga na Pró-Reitoria de Ensino no Instituto Federal de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul- IFRS. Especialista em Supervisão Escolar
e Orientação Educacional pela Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões URI
– Campus de Erechim. E-mail: greicimara.ferrari@ifrs.edu.br.

REFERÊNCIAS
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