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FACULDADE CATÓLICA DE FORTALEZA

CURSO TEOLOGIA
DISCIPLINA: LIVROS HISTÓRICOS
ALUNO: RUAN ALIF MENDES DE LIMA
PROFESSOR: DR. PE. FERNANDO REIS

SÍNTESE DO LIVRO DE RUTE

RUAN ALIF MENDES DE LIMA

FORTALEZA
2021
INTRODUÇÃO
A partir das aulas da disciplina de Livros Históricos ministrada pelo
professor Dr. Pe. Fernando Reis 1 e com base na bibliografia proposta dos
estudos de Erich Zenger 2 e de Thomas Romer 3, mais precisamente Corinne
Lanoir 4. Apresentaremos brevemente uma síntese do livro de Rute alguns temas
apontados por Zenger e Romer, sua estrutura, perspectiva teológica e
relevância.

Primeiro apresentaremos uma síntese do livro, contando, com nossas


palavras, os fatos narrados nos quatro capítulos do livro. Posteriormente,
descrevemos alguns temas presentes nos comentadores do livro de Rute.

1
Professor da Disciplina de Livros Históricos da Faculdade Católica de Fortaleza
2
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003.
3
ROMER, Thomas. Antigo Testamento: história, escritura e teologia. Tradução Gilmar Saint
Clair Ribeiro. São Paulo, Loyola, 2010.
4
Autora do artigo sobre o Livro de Rute.
1 SÍNTESE DO TEXTO

O primeiro capítulo do livro de Rute conta a história de um homem de


Belém de Judá que foi morar com sua mulher e seus dois filhos em Moab devido
a uma grande fome no seu país. Com o passar do tempo, já estabelecidos em
Moab, Elimelec morreu e deixou sua mulher, Noomi, com seus dois filhos,
Maalon e Quelion. Estes tomaram por esposa duas mulheres moabitas, Orfa e
Rute. Após a morte de seus filhos, Noomi decide voltar a Judá e despede suas
noras para que voltem ao seu povo, mas Rute decide ficar com sua sogra e voltar
com ela para a terra de Judá e promete que o povo de sua sogra será seu povo
e o Deus de Noomi será seu Deus.

Orfa retorna para seu povo de origem e Rute então acompanha Noomi no
regresso para Judá, chegando a Belém no início da colheita de cevada. O
segundo capítulo deste livro histórico narra que Rute saiu para colher depois que
os colhedores do campo passassem se assim fosse permitido pelo proprietário
do campo. Ela recebe permissão dos segadores para respigar atrás deles nos
campos de Booz. Ao chegar o proprietário do campo onde estava, pergunta aos
seus empregados quem é a mulher que ali estava e depois de saber de toda a
história de Rute, não só deixa que ela respigue depois dos segadores, como
permite que ela respigue entre os feixes; proíbe os seus empregados de a
molestarem e manda até que os segadores deixem cair espigas de seus feixes
para que Rute apanhe.

Tamanha foi a graça de Rute aos olhos de Booz, que ele ceia com ela no
fim da tarde. Rute conta a Noomi com quem tinha trabalhado aquele dia e Noomi,
ao saber de tudo, bendiz Booz e avisa a Rute que esse homem é seu parente e
tem direito de resgate sobre elas. Rute fica colhendo nos campos junto das
empregas de Booz até o fim da colheita.

Noomi, fato narrado no capítulo terceiro, ensina a Rute como ela deve
proceder para ganhar de Booz seu resgate, fazer com que Booz se una a Rute
e exerça o direito do go’el. Rute desce à eira, perfumada e com um manto.
Depois de Booz comer e beber, vai deitar-se perto de um monte de cereais, Rute
se aproximou, tirou seus sapatos e deitou-se com ele. Ao acordar e ver uma
mulher consigo, Booz pergunta quem é e descobre ser Rute a mulher ao seu
lado. O homem então decide-se a exercer sobre ela o direito de resgate. Booz
pede que Rute passe a noite ali e pela manhã ele irá conversar com o outro
parente que tem direito de Resgate sobre Rute primeiro que ele, caso este
homem não queira, Booz garante a Rute que irá exercer seu direito. Ao Despedir
Rute pela manhã, Booz entrega-lhe seis medidas de cevada para que não volte
de mãos vazias para casa.

No capítulo quarto, o desfecho da novela se dá com Booz convocando


dez homens dentre os anciãos e chamando também o homem que tinha direito
de resgate sobre Rute. Ao saber do direito sobre os campos de Elimelec, até
aceita, mas ao saber que também deve desposar Rute, dar-lhe uma geração e
este filho que nascer será o herdeiro dos campos, o homem desiste e passa o
direito de resgate para Booz que desposa Rute e da sua união nasce um menino
a quem dar-se o nome de Obed. Noomi toma o menino ao colo e servi-lhe de
ama. Este menino, Obed, será o pai de Jessé, pai de Davi. O capítulo quarto e
último termina com uma pequena genealogia de Davi.

2 ANÁLISE DO TEXTO SEGUNDO OS COMENTADORES

Em sua estrutura, “o livro de Rute é considerado obra prima da arte


narrativa hebraica.” 5 Em uma sociedade patriarcal, este livro disserta sobre a
realidade social das mulheres, é um livro feminino de uma militância feminina. 6
Todavia não entendemos aqui esse termo militância feminina segundo a
conotação contemporânea ideológica, contudo é “uma história da mulher, pela
qual se documenta não apenas o fracasso da sociedade masculina, mas que
visa acima de tudo trazer à memória a grande relevância das mulheres para a
história de Israel.” 7

5
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. p. 184.
6
Cf. ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo,
Loyola, 2003. P. 184.
7
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. p. 191.
Como já resumimos acima a história desse livro, vemos em Zenger que o
“o livro é construído em forma de simetria e quiasmo” 8, isto é, não há uma
contradição dos trechos e há uma relação sintática dos textos de forma invertida.
Isso é possível pela configuração paralela dos capítulos segundo e terceiro. No
primeiro e último capítulo, quarto, Noomi é o personagem principal e Rute, por
sua vez, assume a centralidade nos atos do segundo e terceiro capítulos. 9

Ainda sobre a estrutura do livro, percebemos que esta história pode ser
classificada como um romance dentro da estrutura de uma novela, ou seja, os
acontecimentos são narrados da seguinte forma: começa com um fato de clima
baixo, aparece o ponto de mudança e depois narra-se o ponto alto da história
com seus desfechos. Para Zenger, “[...] o livro de Rute constitui uma novela
sapiencial.” 10 Há uma suspeita que o início do capítulo 1 e o final do capítulo 4
foram acrescentados posteriormente. Segundo Zenger, “[...] a novela original de
Rute consiste em 1,1b – 4,17a.” 11

Na perspectiva teológica, podemos fazer uma leitura do livro de Rute


como uma mensagem de esperança para o povo de Israel. Assim explica
Zenger:

Se partirmos da perspectiva histórica de que Noomi, que perdeu


seus filhos e está ameaçada pela ‘”morte no meio da vida”, é
uma ilustração do Israel no exílio e/ou imediatamente posterior
ao exílio, que alcança a plenitude da vida pela solidariedade de
Rute, a novela tenciona ser uma história de esperança para
Israel. 12

Outra perspectiva teológica é a configuração final do livro que coloca Rute


e Noomi como ancestrais do rei Davi e assim, dentro das gerações da genealogia

8
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. p. 186.
9
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. P.186.
10
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. p. 187.
11
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. p. 189.
12
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003.p. 191.
de Jesus Cristo. “Por meio da genealogia que conduz a David, 4, 18-22,
primeiramente Rute é “recompensada”. Por causa de sua solidariedade com
Noomi ela toma assento na grande galeria das mães de Israel.” 13

O livro de Rute possui uma relevância para a liturgia judaica, seu livro “é
lido durante a Festa das Semanas.” 14 Para nossos dias, Zenger destaca que este
livro deve ser lido em três perpectivas: como história da mulher; história de
estrangeiros; e história de esperança. 15 Por fim, a grande relevância que o autor
deseja destacar é a importância da solidariedade, do amor ao próximo como
cumprimento perfeito da Torá.

Corinne Lanoir no livro organizado por Thomas Romer afirma, assim como
Zeger, que o gênero do Livro de Rute trata-se de uma novela. A autora começa
seu comentário dando uma visão geral da narrativa como fizemos no início do
nosso trabalho. Posteriormente, explica sobre origem e datação do livro que é
“difícil determinar de maneira evidente o autor do livro e sua data de
composição” 16. Lanoir apresenta duas perspectivas acerca da composição do
livro:

(a) Rute é composto durante o período da monarquia (assim,


por exemplo, Hertzberg); muitas vezes se considera, neste caso,
ser a genealogia de 4, 18-22 um acréscimo tardio.
(b) Rute é um texto da época pós-exílica ( Zenger chega a
pensar que a versão final data do século II a.C); sublinha-se
então a proximidade dos temas desse relato com os dos relatos
patriarcais (fome, esterilidade, vínculos com Tamar [cf. Gn 38],
alusões a Raquel e a Lia) e a importância da questão da relação
com as mulheres estrangeiras.17

A autora também separa em argumentos internos, características


linguísticas, formas verbais e argumentos externos, baseados no contexto
histórico presumido, dão igualmente lugar a posições divergentes entre os

13
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. p.191.
14
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo, Loyola,
2003. p. 192.
15
Cf. ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo,
Loyola, 2003.
16
ROMER, Thomas. Antigo Testamento: história, escritura e teologia. Tradução Gilmar Saint
Clair Ribeiro. São Paulo, Loyola, 2010. P. 631.
17
ROMER, Thomas. Antigo Testamento: história, escritura e teologia. Tradução Gilmar Saint
Clair Ribeiro. São Paulo, Loyola, 2010. P. 631-632.
autores. Mas, Lanoir, ver como plausível situar o livro de Rute em um contexto
pós-exílico no qual os problemas da relação com a terra, bem como a questão
de saber quem faz parte do povo e em que condições, se põem de maneira
particularmente aguda 18. O livro e Rute, dentro do cânon, é um pouco flutuante,
e não é o mesmo no cânon da Bíblia hebraica e no da Septuaginta; na bíblia
hebraica, Rute figura entre os ketubim, os Escritos (segundo o Talmude de
Babilônia, ele é colocado na frente, antes dos Salmos); esse livro é igualmente
classificado entre os cincos rolos, ou Megillot (Cânticos dos Cânticos, Rute,
Lamentações, Coélet e Ester), que são lidos durante as festas; no cânon da LXX,
ao contrário, Rute é colocada entre Juízes e Samuel. De uma forma mais breve
que Zenger, Lanoir ainda comenta sobre os temas e questões do livro que nós
não trataremos aqui em virtude da finalidade do trabalho que é apresentar uma
visão geral para os comentadores.

18
ROMER, Thomas. Antigo Testamento: história, escritura e teologia. Tradução Gilmar Saint
Clair Ribeiro. São Paulo, Loyola, 2010. P. 632-633.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nossas considerações finais, percebemos o grande valor deste


pequeno livro histórico para o povo de Israel. Recordamos o tema da mulher
como protagonista desse livro em uma sociedade patriarcal e como Rute foi
solidária a sua sogra Noomi.

A ênfase dada por nós nesse trabalho, tinha por meta apenas sintetizar a
história contada no livro de Rute e apresentar alguns temas do estudo de dois
comentadores sobre este livro, principalmente as mais pertinentes aos
personagens principais do livro, Noomi e Rute.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl., 2002. 12ª reimpressão. São
Paulo: Paulus, 2017.
ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São
Paulo, Loyola, 2003.
ROMER, Thomas. Antigo Testamento: história, escritura e teologia.
Tradução Gilmar Saint Clair Ribeiro. São Paulo, Loyola, 2010.

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