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1 Ondulatória 2
1.1 Ondas em uma dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.1 A Equação de Onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.2 Ondas Senoidais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.3 Fase e Velocidade de Fase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1.4 O Princípio da Sobreposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.1.5 Ondas Planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Ondas em três dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2.1 Ondas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2.2 Ondas Cilíndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3 Teoria Eletromagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3.1 Lei da Indução de Faraday . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4 Princípio de Huygens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.1 Leis da Reflexão e Refração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.4.2 Interferência Ondulatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.4.3 Efeito Doppler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1 Ondulatória
1.1 Ondas em uma dimensão
1.1.1 A Equação de Onda
O que é uma ’onda’ ? Não creio que eu possa lhe dar uma resposta totalmente satisfatória -
o conceito é intrinsecamente um tanto vago - mas eis um começo: uma onda é um distúrbio
de um meio contínuo que se propaga uma forma fixa e em velocidade constante. Tenho
imediatamente que acrescentar qualificadores: na presença de absorção, a onda diminui de
tamanho à medida que se move; se o meio for dispersivo, frequências diferentes viajarão
a velocidades diferentes; em duas ou três dimensões, à medida que a onda se espalha,
sua amplitude diminui; e é claro que ondas estacionárias não se propagam de forma
alguma. Mas tudo isso é um refinamento; vamos começar com um caso simples: forma
fixa, velocidade constante (Figura 1.1.1).
Como você representaria matematicamente um objeto assim? Na figura desenhei a
onda em dois momentos diferentes, uma vez em t = 0, e novamente em algum tempo
posterior t - cada ponto na forma da onda simplesmente move-se para a direita uma
quantidade vt, onde v é a velocidade. Talvez a onda seja gerada agitando-se uma das
pontas de uma corda esticada; ψ(x, t) representa o deslocamento da corda no ponto x,
no tempo t. Dada a forma inicial da corda, ϕ(x) ≡ ψ(x, 0), qual é a forma subsequente,
ψ(x, t)? Evidentemente, o deslocamento no ponto x, no tempo posterior t, é o mesmo que
o deslocamento vt à esquerda (isto é, em x − vt), de volta no tempo t = 0:
2 A
ψ1 (x, t) = Ae−b(x−vt) , ψ2 (x, t) = A sin[b(x − vt)], ψ3 (x, t) =
b(x − vt)2 + 1
2 +vt)
ψ4 (x, t) = Ae−b(bx e ψ5 (x, t) = A sin(bx) cos(bxt)3
não são.
Por que uma corda esticada sustenta um movimento de onda? Na realidade isso
decorre da segunda lei de Newton. Imagine uma corda muito longa, com tensão T . Se
ela for deslocada do estado de equilíbrio, a força transversal líquida no segmento entre x
e x + ∆x (Figura 1.1.2) será
∆F = T sin θ0 − T sin θ
onde θ0 é o ângulo que a corda forma com a direção x no ponto x + ∆x, e θ é o ângulo
correspondente no ponto x. Desde que a distorça da corda não seja muito grande, esses
ângulos são pequenos (a figura está exagerada, é óbvio), e poderemos substituir o seno
pela tangente:
∂ψ ∼ ∂ 2 ψ
∂ψ
∆F ∼
= T (tg θ0 − tg θ) = T − = T 2 ∆z
∂z z+∆z ∂z z ∂z
∂ 2ψ
∆F = µ(∆z)
∂t2
e, portanto,
∂ 2ψ µ ∂ 2ψ
=
∂z 2 T ∂t2
Evidentemente, pequenas perturbações na corda satisfazem
∂ 2ψ 1 ∂ 2ψ
= (1.1.2)
∂z 2 v 2 ∂t2
(ou seja, todas as funções que dependem das variáveis x e t na combinação especial
u ≡ x − vt), e acabamos de saber que tais funções representam ondas propagando-se na
direção x à velocidade v. Pois a Eq.(1.1.4) significa, fazendo u = x − vt,
∂f dg ∂u dg ∂f dg ∂u dg
= = , = = −v
∂x du ∂x du ∂t du ∂t du
e
∂ 2f d2 g ∂u d2 g
∂ dg
= =
∂x2 ∂x du du2 ∂x du2
∂ 2f d2 g ∂u 2
∂ dg 2d g
= −v = −v = v
∂t2 ∂t du du2 ∂t du2
então
d2 g ∂ 2f 1 ∂ 2f
= =
du2 ∂x2 v 2 ∂t2
Observe que g(u) pode ser qualquer função (diferenciável). Se o distúrbio se propaga
sem alterar sua forma, ela satisfaz a equação de onda.
Mas funções com a forma g(x − vt) não são as únicas soluções. A equação de onda
envolve o quadrado de v, de forma que podemos gerar uma outra classe de soluções
simplesmente alterando o sinal da velocidade:
é (por um bom motivo) a mais conhecida, chamamos tais tipos de ondas de harmônicas. A
Figura 1.1.3 mostra essa função no tempo t = 0. A é a amplitude da onda (ela é positiva
e representa o deslocamento máximo a partir do estado de equilíbrio). O argumento do
cosseno é chamado de fase, e δ é a constante de fase (obviamente você pode somar
qualquer múltiplo inteiro de 2π a δ sem alterar ψ(x, t); normalmente usa-se um valor no
intervalo 0 ≤ δ ≤ 2π). Observe que em x = vt − δ/k, a fase é nula; chamemos isso de
’máximo central’. Se δ = 0, o máximo central passa pela origem no tempo t = 0; mais
genericamente, δ/k é a distância pela qual o máximo central (e, portanto, a onda toda) é
’atrasada’.
ψ(x, t) = ψ(x ± λ, t)
pelo que
kλ = 2π
2π
λ= (1.1.8)
k
Definição 1.1.2. - O período temporal τ pode ser analisado de uma maneira idêntica.
τ é o intervalo de tempo necessário para que uma onda completa passe por um observador
fixo. Neste caso é relevante o comportamento repetitivo da onda no tempo , pelo que
ψ(x, t) = ψ(x, t ± τ )
e
cos[k(x − vt) ± 2π] = cos k(x − vt)
= cos k[x − v(t ± τ )]
como todas estas quantidades possuem valores positivos, segue que
kvτ = 2π (1.1.9)
ou
2π
τ= (1.1.10)
kv
como k = 2π/λ segue que
2π
vτ = 2π
λ
pelo que se tem
λ
τ= (1.1.11)
v
o período é uma medida de duração de um ciclo completo de uma onda;o seu inverso é a
frequência ν, isto é, o número de ondas que passam por unidade de tempo (isto é, por
segundo) num ponto fixo do espaço. Assim
1 v kv
ν= = = (1.1.12)
τ λ 2π
v = λν (1.1.13)
2π
ω = kv = (1.1.14)
τ
1
κ= (1.1.15)
λ
Tais conceitos aplicam-se também a ondas não harmônicas desde que estas possuam es-
trutura periódica. Além da equação do movimento harmônico utilizada, existem também
várias representações equivalentes das ondas harmônicas progressivas:
Definição 1.1.5. - Se uma onda tem extensão infinita, i.e., para um valor fixo qualquer
de t, x vária de −∞ até +∞ , com uma frequência constante e bem determinada, definimo
tal onda como monocromática.
As ondas reais nunca são monocromáticas. Mesmo um gerador sinusoidal perfeito não
pode ter estado em operação desde sempre. Além do que, a onda gerada não pode deixar
de conter uma gama de frequências, porventura muito reduzida, pois a onda não existe
desde t = −∞. Todas as ondas possuem sempre uma banda de frequências, quado a
banda é estreita as ondas dizem-se quase monocromáticas.
para t = x = 0
ϕ(x, t) = ϕ(0, 0) = 0 (1.1.19)
x=0,t=0
o que constitui, de facto, um caso particular. De um modo mais geral, pode-se escrever:
isto é, a taxa de variação da fase num ponto fixo do espaço é a frequência angular da
onda. Do mesmo modo, a derivada parcial de ϕ em relação a x, é dada por
∂ϕ
∂z = k
(1.1.22)
t
com
à medida que t aumenta, x pode ser positivo e diminuir, ou negativo e tornar-se ainda
mais negativo. Em qualquer dos casos, os pontos para os quais a fase assume o mesmo
valor deslocam-se no sentido negativo do eixo dos x.
Qualquer ponto de uma onda harmônica de amplitude constante se desloca de modo
a que ϕ(x, t) se mantenha constante ao longo do tempo, isto é, dϕ(x, t)/dt = 0. Isto é
válido para todas as ondas, periódicas ou não, temos então que
∂ϕ ∂ϕ
±v = − / (1.1.24)
∂t x ∂x t
esta equação pode ser utilizada para calcular v quando se conhece ϕ(x, t).
A forma da equação diferencial de ondas revela uma propriedade estranha das ondas,
que dificilmente se poderá pôr em evidência com feixes de partículas clássicas.
Demonstração - Como
∂ 2 ψ1 1 ∂ 2 ψ1 ∂ 2 ψ2 1 ∂ 2 ψ2
= 2 e = 2
∂x2 v ∂t2 ∂x2 v ∂t2
Somando ordenadamente
∂ 2 ψ1 ∂ 2 ψ2 1 ∂ 2 ψ1 1 ∂ 2 ψ2
+ = +
∂x2 ∂x2 v 2 ∂t2 v 2 ∂t2
ou,
∂2 1 ∂2
(ψ 1 + ψ2 ) = (ψ1 + ψ2 )
∂x2 v 2 ∂t2
O que demonstra que (ψ1 + ψ2 ) é uma solução. Deste modo, segundo o princípio da
sobreposição, quando duas ondas independentes se sobrepõem na mesma região do espaço,
o efeito resultante é a sua adição (ou subtração) sem qualquer delas seja destruída ou
interrompida. A pertubação resultante em cada ponto da região de sobreposição
é a soma algébrica das ondas individuais nesse ponto (Fig. 1.1.4) Ultrapassada
a região de sobreposição, cada onda continuará o seu caminho, em nada afetada pela
interação em que participou.
r = xî + y ĵ + z k̂
Se impusermos que
(r − r0 ) · k = 0 (1.1.25)
força-se o vetor (r − r0 ) a varrer todo o plano perpendicular a k à medida que o seu ponto
final (x, y, z) ocupa todas as posições permitidas. Com
k = kx î + ky j + kz k̂
kx (x − x0 ) + ky (y − y0 ) + kz (z − z0 ) = 0
ou ainda
kx x + ky y + kz z = a (1.1.26)
em que
a = kx x0 + ky y0 + kz z0 = constante (1.1.27)
k · r = constante = a (1.1.28)
ou
ψ(r) = Aeik·r (1.1.31)
Em cada um destes caso ψ(r) é constante em todos os pontos de um plano definido por
k · r = constante . Tratando-se de funções harmônicas, estas repetem-se no espaço com
um período λ na direção de k. A Figura 1.1.7 pretende representar este tipo de variação.
Desenharam-se apenas alguns planos (em números infinito), cada qual associado a um
valor diferente de ψ(r). Estes planos deveriam ter sido desenhados com extensão infinita,
uma vez que não se impõem limites sobre r. A perturbação atinge todo o espaço. A
natureza repetitiva das funções harmônicas no espaço pode ser expressa na forma:
λk
ψ(r) = ψ r +
k
em que k é o modulo de k e k
k
é um vetor unitário paralelo a k (Fig. 1.1.8). Na notação
exponencial complexa virá:
eiλk = 1 = ei2π
daí
λk = 2π
e
2π
k=
λ
O vetor k, cujo módulo se define como número de ondas, k, (já introduzido) denomina-se
vetor de ondas. Em qualquer ponto fixo do espaço (r constante) a fase é constante assim
como ψ(r), isto é, os planos de igual fase não se deslocam. Para que estes se propaguem
é necessário que ψ(r) varie no tempo, o que se consegue introduzindo a dependência
temporal de um modo semelhante ao utilizado para ondas unidimensional.Tem-se então:
tendo em vista que dr = r(x + dx, y + dy, z + dz) − r(x, y, z) e dt = (t + dt) − t, segue que
k dr = ω dt
⇒ dr = v dt
r = vt (1.1.34)
A velocidade de fase de uma onda plana descrita pela Eq.(1.1.32) é igual a velocidade
de propagação da frente de onda. Na Fig. 1.1.8 a projeção de r na direção de k é rk . A
perturbação sobre uma frente de onda é constante, pelo que, após um intervalo de tempo
dt, caso a frente se tenha deslocado de drk ao longo da direção de k, se deve ter:
drk ω
= ± = ±v (1.1.36)
dt k
Este resultado já poderia ter sido deduzido através da rotação do sistema de coordenadas
da Fig. 1.1.8, de modo que k fosse paralelo ao eixo dos z. Para esta orientação:
ψ(r, t) = Aei(kx∓ωt)
uma vez que k · r = krk = kx. Recupera-se assim o caso de uma perturbação unidimen-
sional, já discutida.
Figura 1.1.9: Duas ondas com o mesmo comprimento de onda, que se sobrepõem e que
se propagam segundo direções diferentes
Considera-se agora as duas ondas da Fig. 1.1.9; ambas possuem o mesmo comprimento
de onda λ; k1 = k2 = k = 2π/λ. A onda 1, que se propaga ao longo do eixo dos z, pode
ser escrita como:
ψ1 = A1 cos 2π
λ
z − ωt
e
2π
ψ2 = A2 cos λ
(z cos θ + y sin θ) − ωt
ou
ψ(x, y, z, t) = Aei[k(ax+βt+γz)∓ωt (1.1.37)
em que
a2 + β 2 + γ 2 = 1
Analisaram-se até agora ondas planas e foi dada uma relevância especial às funções
harmônicas. Existem dois motivos para termos feito isto: em primeiro lugar, as ondas
sinusoidais podem ser facilmente geradas por osciladores harmônicos; em segundo lugar,
qualquer ondas tridimensional pode ser considerada como uma combinação
linear de ondas planas, cada qual com amplitude e direção de propagações próprias.
É fácil conceber séries de ondas planas, como as da Fig. 1.1.8, em que a perturba-
ção varia de um modo não harmônico. Mostraremos mais adiante que as ondas planas
harmônicos constituem, de fato, um caso particular da solução geral.
∂ 2ψ
= −ω 2 ψ (1.2.1)
∂t2
Adicionando ordenadamente as três equações para as derivadas espaciais e tendo em conta
que a2 + β 2 + γ 2 = 1 obtém-se:
∂ 2ψ ∂ 2ψ ∂ 2ψ
+ 2 + 2 = −k 2 ψ
∂x2 ∂y ∂z
Combinando esta equação com a Eq.(1.2.1) e recordando que v = ω/k tem-se finalmente
∂ 2ψ ∂ 2ψ ∂ 2ψ 1 ∂ 2ψ
+ + = (1.2.2)
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 v 2 ∂t2
Atira-se uma pedra para dentro de um tanque com água. As ondulações que surgem à su-
perfície na zona de impacto propagam-se como ondas circulares bidimensionais. Generalizando-
se esta imagem para três dimensões, imagine agora uma pequena esfera pulsante no seio
de um fluido. À medida que a fonte se contrai e se expande, são geradas variações de
pressão que se propagam como ondas esféricas, do centro para a periferia.
Considere agora uma fonte luminosa pontual. A radiação emitida propaga-se radial e
uniformemente em todas as direções. A fonte diz-se isótropa; as frentes de onda resultantes
são esferas concêntricas cujo diâmetro aumenta à medida que se propagam no espaço. A
simetria óbvia das frentes de onda sugere que a sua descrição matemática seja feita em
coordenadas esféricas (Fig. 1.2.1). O operador Laplaciano é, nesta representação, dado
por
∂2
1 ∂ 2 ∂ 1 ∂ ∂ 1
2
∇ = 2 r + 2 sin θ + 2 2 (1.2.5)
r ∂r ∂r r sin θ ∂θ ∂θ r sin θ ∂φ2
Este resultado pode ser obtido independentemente da Eq.(1.2.5). Para aplicar o operador
Laplaciano, na sua representação cartesiana Eq.(1.2.3), sobre uma função ψ(r) com sime-
tria esférica, é necessário traduzir as derivadas em ordem a x, y, z em derivadas polares.
Por exemplo, para a dependência em x:
∂ψ ∂ψ ∂r
=
∂x ∂r ∂x
e 2
∂ 2ψ ∂ 2ψ ∂ψ ∂ 2 r
∂r
= + (1.2.8)
∂x2 ∂r2 ∂x ∂r2 ∂x2
Tendo em vista a identidade x2 + y 2 + z 2 = r2 , temos que
∂r x
= (1.2.9)
∂x r
∂ 2r 1 ∂ x2
∂ 1 1
= (x) + x = 1− 2 (1.2.10)
∂x2 r ∂x ∂x r r r
∂ 2ψ x2 ∂ 2 ψ 1 x2 ∂ψ
= + 1− 2 (1.2.11)
∂x2 r2 ∂r2 r r ċr
∂ 2ψ ∂ 2ψ ∂ 2ψ
De forma análoga a obtêm-se e ; adicionando tais termos ordenadamente,
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
acha-se
∂ 2 ψ 2 ∂ψ
∇2 ψ = + (1.2.12)
∂r2 r ∂r
que é equivalente à Eq.(1.2.7). Este resultado pode traduzir-se numa forma ligeiramente
diferente:
1 ∂2
2
∇ψ= (rψ) (1.2.13)
r ∂r2
A equação da onda pode assim escrever-se na forma:
1 ∂2 1 ∂ 2ψ
(rψ) = (1.2.14)
r ∂r2 v 2 ∂t2
∂2 1 ∂2
(rψ) = (rψ) (1.2.15)
∂r2 v 2 ∂t2
rψ(r, t) = f (r − vt)
isto é,
f (r − vt)
ψ(r, t) = (1.2.16)
r
Esta equação representa uma onda esférica que se propaga radialmente, da origem para o
exterior, com uma velocidade constante v e com uma forma funcional f arbitrária. Uma
outra solução é dada por
g(r + vt)
ψ(r, t) = (1.2.17)
r
neste caso a onda converge para o centro. O fato desta expressão tomar valores infinitos
na origem não tem grande importância na prática.
A
ψ(r, t) = cos k(r ∓ vt) (1.2.19)
r
ou
A ik(r∓vt)
ψ(r, t) = e (1.2.20)
r
em que a constante A representa a intensidade da fonte. Esta equação representa em
qualquer instante um grupo de esferas concêntricas que preenchem todo o espaço. Cada
frente de onda, ou superfície de igual fase, é dada por
kr = constante (1.2.21)
A amplitude de uma onda esférica é função de r, funcionando o termo r−1 como fator
de atenuação. Ao contrário do que acontece com ondas planas, a amplitude de uma onda
esférica diminui à medida que esta se expande e se afasta da fonte.
A onda esférica que emana de uma fonte pontual, bem como a onda que converge
para um ponto, são fenômenos puramente conceptuais. Na realidade, tanto as ondas
esféricas como as ondas planas são meras aproximações, muito úteis para a representação
dos fenômenos luminosos.
À medida que uma onda esférica se propaga, o raio das frentes de onda aumenta. A
uma distância suficientemente grande da fonte, a frente de onda assemelhar-se-á local-
mente a uma onda plana (Fig. 1.2.2).
Examinemos rapidamente uma outra forma de onda, a onda cilíndrica (de extensão infi-
nita e seção circular). O tratamento matemático preciso deste tipo de onda é demasiado
complexo para ser aqui incluído, mas o procedimento será, todavia, delineado. O laplaci-
ano de ψ em coordenadas cilíndricas (Fig. 1.2.3) é
1 ∂ 2ψ ∂ 2ψ
1 ∂ ∂ψ
2
∇ψ= r + + 2 (1.2.22)
r ∂r ∂r r2 ∂θ2 ∂z
em que
x = r cos θ
y = r sin θ
z =z
A simetria cilíndrica traduz-se pela seguinte exigência:
1 ∂ 2ψ
1 ∂ ∂ψ
r = 2 2 (1.2.24)
r ∂r ∂r v ∂t
Após algumas manipulações matemáticas através das quais se isola a dependência tempo-
ral, a Eq.(1.2.24) transforma-se numa equação de Bessel. A forma assintótica da solução
da equação de Bessel, para grandes valores de r, aproxima-se de funções trigonométricas
simples. Assim, para valores de r suficientemente elevados, obtêm-se:
A
ψ(r, t) = √ eik(r∓vt) (1.2.25)
r
ou
A
ψ(r, t) = √ cos k(r ∓ vt) (1.2.26)
r
Esta equação representa um conjunto de cilindros coaxiais que preenchem todo o espaço
e que se afastam ou aproximam de uma fonte linear de comprimento infinito situada no
eixo. Não é possível neste caso construir soluções em termos de funções arbitrárias, como
acontece com ondas esféricas ou planas.
Uma onda plana incidente numa superfície opaca e plana com uma fenda retilínea,
longa e fina, dá origem à emissão, a partir da fenda, de ondas muito próximas das ondas
cilíndricas (Fig. 1.2.4). Esta técnica tem sido, aliás, utilizada com frequência para gerar
ondas cilíndricas de luz.
atingindo uma barreira com uma pequena abertura (de dimensões muito menores que o
comprimento de onda λ), gera, do outro lado da barreira(Fig. 1.4.1), ondas circulares
com centro na abertura. Logo, a porção da frente de onda incidente não obstruída pela
abertura se comporta como uma fonte puntiforme: em três dimensões, as ondas geradas
são esféricas.
Esta experiência sugere a ideia básica do princípio de Huygens, a saber: cada ponto
de uma frente de onda comporta-se como fonte puntiforme de novas ondas, chamadas de
ondas secundárias. A outra parte do princípio diz como construir uma frente de onda
posterior a partir de ondas secundárias. A prescrição de Huygens consiste no seguinte:
dada uma frente de onda inicial, consideram-se todas as ondas secundárias emanadas dos
diferentes pontos dessa fonte, propagando-se no meio considerado. A frente de onda num
instante posterior é a envoltória das frentes das ondas secundárias delas emanadas. A
envoltória de uma família de superfícies é uma superfície que tangencia todas elas, ou
seja, todas as superfícies da família são tangentes à envoltória.
A Fig. 1.4.2 exemplifica a envoltória de uma família de superfícies. A ideia de Huygens
era que cada onda secundária isoladamente é muito fraca, mas seus efeitos se reforçam ao
longo da envoltória.
Assim, se DCF (Fig. 1.4.3) é uma onda emanada do ponto luminoso A, que é seu
centro; a partícula B, que é uma das compreendidas dentro da esfera DCF , terá formado
sua onda particular KCL, que tocará a onda DCF em C, no mesmo instante em que a
onda principal emanada do ponto A tenha chegado a DCF , e é claro que só existirá o
ponto C da onda KCL que tocará a onda DCF , ou seja aquele que se encontra sobre a
reta traçada por AB. Da mesma forma, as demais partículas compreendidas dentro da
esfera DCF , tais como bb,dd,etc, terão formado cada uma a sua onda. Mas cada uma
destas ondas é infinitamente fraca em confronto com a onda DCF , para cuja formação
contribuem todas as outras, pela parte da sua superfície que está mais afastada do centro
A.
Huygens mostrou assim que, a partir de uma frente de onda esférica inicial BG, a
envoltória das ondas esféricas secundárias emanadas dos diferentes pontos de BG produz,
num instante posterior, a frente de onda DCF .
A seguir, Huygens justifica, a partir de seu princípio, a propagação retilínea da luz.
nos seguintes termos (Fig. 1.4.3):
’Para chegar as propriedades da luz, notemos primeiro que cada parte da onda deve
propagar-se de tal forma que seus extremos permaneçam sempre compreendidos entre as
mesmas retas traçadas a partir do ponto luminoso. Assim a parte da onda BG, que tem
como centro o ponto luminoso A, propaga-se no arco CE limitado pelas retas ABC e AGE,
pois, mesmo que as ondas secundárias produzidas pelas partículas que compreendem a
região CAE se expandam fora dela, elas não concorrem no mesmo instante para compor a
onda que termina o movimento, que tem precisamente na circunferência CE sua tangente
comum.
Daí se compreende a razão pela qual a luz, salvo quando seus raios são refletidos ou
refratados, só se propaga em linha reta, de modo que não ilumina nenhum objeto a não
ser quando o caminho da fonte objeto está compreendido entre tais linhas. Pois se, por
exemplo, tivermos uma abertura BG limitada por corpos opacos BH, GI, a onda de
luz que sai do ponto A estará sempre limitada pelas retas AC, AE, como acaba de ser
demonstrado, visto que as partes das ondas secundárias que se estendem para fora do
espaço ACE são fracas demais para produzir luz.
− O raio incidente, a reta normal e o raio refletido são coplanares, ou seja estão no
mesmo plano.
− O ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão.
onde,
Existem dois tipos de demonstração para tal lei, uma é baseada nos princípios do
cálculo variacional formulado por Hamilton, e a outra é uma consequência do princípio
de Huygens, deixaremos a primeira para o capítulo de Cálculo Variacional, e iremos
demonstrar a segunda:
Demonstração - Seja QP1 uma frente de onda incidente sobre a interface segundo o
ângulo θ1 (que é também o ângulo entre o raio incidente P1 P e a normal n̂).
O ponto P1 da frente incidente atinge a interface após um tempo d/v1 , onde d = P1 P
e v1 é a velocidade da onda no meio 1. Neste instante, a onda secundária gerada por Q já
tera atingindo o ponto Q01 , com QQ01 = d; a frente de onda refletida (envoltória das ondas
secundárias geradas na interface) é P Q01 (a figura mostra outro ponto de contato C com a
envoltória, correspondente ao raio ABC).
0
Os triângulos retângulos QP1 P e P Q1 Q são iguais, pois têm a hipotenusa QP comum
0
e os catetos iguais QQ1 = d = P1 P . Logo, θ1 = θ1 .
0
− O raio incidente, o raio refratado e a reta normal sempre devem estar contidas no
mesmo plano
− A segunda lei diz respeito aos ângulos em relação à reta normal referentes aos
raios incidentes e raios refratados.
Existem dois tipos de demonstração para tal lei, uma é baseada nos princípios do
cálculo variacional formulado por Hamilton, e a outra é uma consequência do princípio
de Huygens, deixaremos a primeira para o capítulo de Cálculo Variacional, e iremos
demonstrar a segunda:
Demonstração - A explicação da lei da refração é análoga. A frente de onda incidente
QP1 dá origem à frente de onda refratada Q2 P , pela construção de Huygens (1.4.6). O
tempo necessário para que a luz percorra a distância d1 = P1 P no meio 1 é o mesmo levado
para percorrer d2 = QQ2 no meio 2.Logo, se v1 e v2 são as velocidades de propagação das
ondas nos meios 1 e 2 respectivamente, e t é esse tempo, temos
d1 d2
t= = (1.4.2)
v1 v2
c
v= (1.4.5)
n
e assim
n1 sin θ1 = n2 sin θ2 (1.4.6)
já para o caso mais geral, o índice de refração de um meio em relação a outro como
v1 c/n1 n2
n12 = = = (1.4.7)
v2 c/n2 n1
Pela Eq.(1.4.5) o tempo que uma frente de onda luminosa leva para percorrer uma dis-
tância d num meio de índice de refração n é
d nd
t= = (1.4.8)
v c
ϕ(P ) = ϕ1 (P ) + ϕ2 (P )
a a (1.4.9)
= cos(kr1 − ωt) + cos(kr2 − ωt)
r1 r2
OP ≈ OA + O1 P
e
O2 P = OP + O2 B
o que equivale a
d
r1 ≈ R − sin θ (1.4.10)
2
d
r2 ≈ R + sin θ (1.4.11)
2
ou seja,
1
R≈ (r1 + r2 ) d sin θ = r2 − r1 (1.4.12)
2
Podemos então aproximar r1 ≈ r2 ≈ R nos denominadores da Eq.(1.4.9), e usar
1
r1 = R − (r2 − r1 ) (1.4.13)
2
1
r2 = R − (r2 − r1 ) (1.4.14)
2
bem como a identidade cos(a − b) + cos(a + b) = 2 cos a cos b, obtendo
k cos(kR − ωt)
ϕ(P ) ≈ 2a cos (r2 − r1 ) (1.4.15)
2 R
δ = 2nπ (1.4.19)
com (r2 − r1 ) = nλ) em que n = 0, ±1, ±2, . . . o que vale, em particular, ao longo do eixo.
Temos interferência destrutiva, com I = 0 (intensidade resultante nula), para
as Eqs.(1.4.19) e (1.4.20) definem uma série de hipérboles com focos nas posições dos
orifícios O1 e O2 (Fig. (1.4.9); a hipérbole é o lugar geométrico dos pontos cuja diferença
das distância a dois pontos fixos (O1 e O2 ) é constante. As hipérboles Eq.(1.4.20) são
linhas nodais N (em linha interrompida na figura), intersecções de cristas (linha fina na
figura) e vales (linha interrompida fina na figura) de ondas esféricas emanadas de O1 e
O2 .
As hipérboles Eq.(1.4.19) são linhas antinodais A (em linha cheia na Fig. 1.4.9),
Efeito Doppler é um fenômeno físico observado nas ondas quando emitidas ou refletidas
por um objeto que está em movimento com relação ao observador. Foi-lhe atribuído
este nome em homenagem a Johann Christian Doppler, que o descreveu teoricamente
pela primeira vez em 1842. A primeira comprovação experimental foi obtida por Buys
Ballot, em 1845, numa experiência em que uma locomotiva puxava um vagão com vários
trompetistas.
Fonte em repouso
Seja uma fonte puntiforme em repouso no ponto F que emite ondas com velocidade
v em todas as direções (ver Fig. 1.4.11), com frequências fo = 1/T0 = v/λ0 , onde T0 é o
1 u u v
fobs = (u + v) = fo + = fo +
λo λo v λo (1.4.23)
u
= fo 1 +
v
Se o observador se afasta da onda com velocidade u, então ele será atingido por outra
frente de onda após percorrer uma distância uTobs , enquanto que a frente de onda terá
assim a frequência observada é mais grave. Logo, o efeito Doppler para uma fonte em
repouso é dado por u
f = fo 1 ± (1.4.26)
v
+ para um observador que se aproxima e − para um que se afasta.
Fonte em movimento
logo
vT0 − V T0 V
T = = T0 1 − (1.4.28)
v v
como a frequência é o inverso do período
V fo
f −1
= fo−1 1− ⇒f = (1.4.29)
v V
1−
v
fo
f= (1.4.30)
V
1+
v
assim
fo
f= (1.4.31)
V
1∓
v
onde − é para aproximação e + para afastamento , que é a fórmula do efeito Doppler
para uma fonte móvel e um observador em repouso.
Fonte e observador em movimento
Suponhamos que a fonte e o observador estejam ambos em movimento um em direção ao
outro, com velocidades V e u respectivamente, suponhamos que a fonte emita uma frente
de onda em F0 e que o observador em O1 se mova quando capta-la, isto é somente após
a frente de onda ter percorrido uma distância vT0 , observemos que durante este tempo
a fonte irá se deslocar até F1 percorrendo uma distância V T0 , ao chegar em F1 a mesma
emitira uma nova frente de onda (pois já irá ter se passado um tempo T0 ), esta nova frente
de onda irá encontrar o observador em um ponto O2 após se mover uma distância vT , em
que T é o período da onda para o observador, concomitantemente o observador terá se
movido até O1 percorrendo então uma distância U T , logo pela Fig. 1.4.15 obtemos:
V T0 + vT + uT = vT0
(1.4.32)
⇒ (v + u) T = (v − V ) T0
Assim, seja f a frequência medida pelo observador e fo a frequência da onda, temos que
u
v+u 1±
f = fo = fo
v (1.4.33)
v−V V
1∓
v
V por Vr = V cos θ.
fo
f= (1.4.35)
V cos θ
1+
v
que é a expressão geral do efeito Doppler para uma fonte em movimento numa direção
qualquer.
Um tratamento análogo se aplica ao movimento do observador numa direção qualquer
e para ambos se movendo.
exemplo, que, quando o hidrogênio se combina com o oxigênio era de 2 para 1 dentro de
1% de precisão. (É interessante observar que Dalton não acreditava na lei de Gay-Lussac,
porque esta discordava com o seu modelo atômico estático, um modelo que ele julgava
provado pelos cálculos de Newton a partir da lei de Boyle. Dalton também tinha dados
menos acurados que Gay-Lussac; isto apresentou desvios das razões de inteiros.) Em
1811, um físico italiano, Amedeo Avogrado, apresentou uma hipótese notável que, embora
não aceita por algum tempo, eventualmente preparou o caminho para a compreensão da
teoria atômica da química. Avogrado admitiu que:
1. As partículas de um gás são pequenas comparadas com as distâncias entre elas.
2. As partículas dos elementos consistem, às vezes, de dois ou mais átomos unidos. Ele
chamou estas partículas de “moléculas” para distingui-las dos átomos.
3. Volumes iguais de gases em temperaturas e pressão constantes, contém números iguais
de moléculas.
Usando estas hipóteses, juntamente com o trabalho de Gay-Lussac, Dalton, Proust
e outros, Avogrado conseguiu determinar a composição de moléculas e, em particular,
descobriu que é necessário admitir que as moléculas de um gás, como o hidrogênio e o
oxigênio, contém dois átomos. No início, poucos cientistas acreditaram nestas hipóteses,
principalmente devido à dificuldade de entender porque, se dois átomos de oxigênios se
atraem para formar a molécula O2 ., três ou quatro átomos não se atraem também para
formar O3 e O4 . (Isto não foi compreendido completamente até o advento da mecânica
quântica).
As hipóteses de Avogrado não foram realmente aceitas até a última metade do século
dezenove. É interessante observar que ele não tinha conhecimento da ordem de grande do
número de moléculas em um dado volume de gás, sabia apenas que o número era muito
grande. O primeiro cálculo deste número foi feito por J. Loschmidt, em 1865, partindo da
teoria cinética dos gases. Não dispomos do espaço nesta breve introdução para entrar em
mais detalhes relativos à história fascinante da descoberta da teoria atômica da química.
O leitor interessado deve recorrer a outra referência1 , na qual se baseou, essencialmente,
esta introdução.
Partindo das razões características entre os pesos com os quais os diferentes elementos se
combinam, foi estabelecida, por Avogadro e alguns contemporâneos, uma escala de pesos
atômicos relativos. O hidrogênio, o elemento mais leve, foi considerado como tendo peso
unitário, e as outros elementos foram atribuídos pesos relacionados com o hidrogênio.
O número de Avogrado foi definido como o número de átomos necessários para compor
1
G. Holton, Introduction to Concepts and Theories in Physical Science, Reading, Mass.: Addison-
Wesley Publishing Company, Inc., 1952.
uma porção de um elemento que fosse igual ao peso2 atômico desse elemento tomado em
gramas.
Por exemplo, usando esse esquema, o número de Avogrado para o hidrogênio, NA ,
equivalia a uma massa de 1 g. A hipótese básica de atribuição de pesos relativos foi pos-
teriormente mudada do hidrogênio para o oxigênio e mais recentemente para o carbono.
O número de Avogrado dos átomos de 12 C é agora definido como tendo uma massa de
exatamente 12, 000 g, e a massa de um átomo de 12 C vale exatamente 12, 000 unidades
unificadas de massa (u). (A unidade unificada de massa, substitui a antiga unidade de
massa atômica, uma.) Com isso, o peso relativo do átomo de Hidrogênio (isto é, o peso
atômico) fica valendo 1, 0079. O número de Avogrado para o hidrogênio apresenta, por-
tanto, uma massa de 1, 0079 g. NA átomos ou moléculas de uma substância são chamados
de um mol dessa substância. Um mol de átomos de H tem, portanto, uma massa de
1, 0079 g, enquanto um mol de moléculas de H2 apresenta uma massa de 2, 0158 g. Essa
massa é chamada de peso molecular em gramas de H2 . O valor atual do número de
Avogadro é
NA = 6, 0220 × 1023 (2.1.1)
1 1g
1u = = = 1, 661 × 10−24 g (2.1.2)
NA 6, 022 × 1023
Figura 2.1.1: Moléculas do gás numa caixa retangular. Uma molécula com componente
de velocidade vxi se chocará com a face direita no intervalo de tempo ∆t se ela estiver a
uma distância vxi ∆t e se vxi for positiva.
portanto,
Ni Número no volume Avxi ∆t
=
V Avxi ∆t
Se admitimos momentaneamente que vxi é positiva, o número que atinge a parede direita
no intervalo de tempo ∆t será
Ni
Avxi ∆t
V
O impulso exercido pela parede sobre essas moléculas será igual à variação total da quan-
tidade de movimento dessas moléculas, que vale 2mvxi , multiplicada pelo número que se
choca:
2Ni mvx2i A∆t
N vxi A∆t
Ii = 2mvxi =
V V
Esse número é também igual ao módulo do impulso exercido por essas moléculas sobre
a parede. Obtemos a força média exercida por essas moléculas se dividimos o impulso
pelo intervalo de tempo ∆t. A pressão é igual a essa força média dividida pela área A. A
pressão exercida por essas moléculas será então
Ii 2Ni mvx2i
Pi = =
∆tA V
A pressão total exercida por todas as moléculas é obtida somando-se sobre todas as com-
ponentes x da velocidade vxi que são positivas. Como, em média, metade das moléculas
estará movendo-se para a direita (vxi positiva) e metade para a esquerda (vxi negativa)
para qualquer tempo, podemos somar sobre todas as moléculas e dividir por 2:
1X 1 X 2Ni mvx2i mX
P = Pi = = Ni vx2i
2 2 V V
1 X
(vx2 )med = Ni vx2i
N
Nm 2
P = (vx )med (2.1.3)
V
Se não há direção preferencial para o movimento das moléculas, (vx2 )med será igual a (vy2 )med
e (vz2 )med . O quadrado do módulo da velocidade será
Então
(v 2 )med = (vx2 )med + (vy2 )med + (vz2 )med = 3(vx2 )med
onde n = N/V é chamada de densidade de número. Esse resultado mostra que a pressão
é proporcional ao número de moléculas por volume unitário e proporcional à
energia cinética média.
Se escrevermos Ēk = (1/2mv 2 )med para a energia cinética média, temos então que ao
multiplicar a Eq.(2.1.4) por V , encontra-se que
2
P V = N Ēk (2.1.5)
3
P V = νRT
onde ν é o número de moles, que é o número total de moléculas dividido pelo número de
Avogadro
N
ν=
NA
e R é a constante dos gases
Temos então
2 2
νRT = N Ēk = νNA Ēk
3 3
ou
3 R 3
Ēk = T = kT (2.1.7)
2 NA 2
onde k = R/NA é chamada de constante de Boltzmann:
1
kT = 2, 585 × 10−2 eV ≈ eV (2.1.10)
40
∆Q
CV = lim
∆T →0 ∆T
Assim
∂U
CV =
∂T v
Exemplo 2.1.1.
Calcule a raiz da média quadrática (rms) para a velocidade das moléculas de nitrogênio
a uma temperatura T = 300 K. Temos
Em equilíbrio, a energia cinética é repartida igualmente entre os três termos 1/2mvx2 , 1/2mvy2
e 1/2mvz2 . Essa repartição é a consequência natural das colisões entre as moléculas. Supo-
nhamos que tentemos aumentar a energia associada ao movimento na direção x, 1/2mvx2 ,
sem afetar a energia associada aos movimentos nas direções y e z. Poderíamos fazer isso
momentaneamente substituindo a parede perpendicular à direção x por um pistão móvel.
Se comprimimos o gás por meio de um movimento do pistão, uma molécula que estivesse
movendo-se em direção ao pistão com componente vx na direção x deveria rebater com
0
velocidade vx de módulo maior, de forma que a energia associada ao movimento na di-
reção x aumentasse com nenhuma variação nas energias associadas aos movimentos nas
direções y e z. Acontece que, logo após as moléculas colidirem com o pistão, elas colidem
com as moléculas mais próximas, e um novo equilíbrio é atingido com 1/2mvx2 , 1/2mvy2 e
1/2mvz2 , voltando a ter cada uma o mesmo valor médio 1/2kT . (Esse valor médio é maior
que o anterior - pois o trabalho efetuado pelo pistão sobre o gás aumentou a temperatura
do gás.) Essa repartição de energia é um caso especial do teorema da equipartição que
pode ser demonstrado dentro da mecânica estatística.
Chamamos cada coordenada, cada componente da velocidade, cada componente da
velocidade angular, etc, que aparece elevada ao quadrado na expressão da energia de uma
molécula, de grau de liberdade. O teorema da equipartição afirma que
Teorema 2.1.1. Em equilíbrio, a cada grau de liberdade está associada uma energia média
de 1/2kT por molécula.
Figura 2.1.2: Modelo de halteres de uma molécula diatômica de um gás que pode efetuar
translações segundo os eixos x, y e z e pode rodar ao redor dos eixos x0 ou y 0 . Se as esferas
são lisas ou pontuais, a rotação ao redor do eixo z 0 pode ser desprezada.
x, y e z e pode rodar ao redor de eixos x0 e y 0 que passam pelo centro de massa e perpen-
dicularmente ao eixo z 0 que une os dois átomos.3 A energia cinética para esse modelo de
halteres da molécula diatômica é então
1 1 1 1 1
Ek = mvx2 + mvy2 + mvz2 + Ix0 ωx20 + Iy0 ωy20
2 2 2 2 2
onde Ix0 e Iy0 são os momentos de inercia em relação aos eixos x0 e y 0 . Como essa molécula
apresenta cinco graus de liberdade, três translacionais e dois rotacionais, o teorema da
equipartição prevê uma energia média de 5/2kT por molécula. A energia por mol é então
5/2NA kT = 5/2RT , e a capacidade térmica molar a volume constante vale 5/2R. Partindo
da observação que CV vale 5/2R tanto para o nitrogênio como para o oxigênio, Clausius
fez a especulação (por volta de 1880) de que esses gases devem ser gases diatômicos
que rodariam em relação a dois eixos assim como também apresentariam movimento de
translação.
Figura 2.1.3: Modelo de halteres não rígido de moléculas diatômicas de um gás ainda na
forma de halteres. Pode efetuar translações, rotações e vibrações.
Se uma molécula diatômica não é rígida, os átomos podem vibrar segundo a linha
de separação (Fig. 2.1.3). Então, além da energia translacional do centro de massa e
da energia rotacional, pode haver energia vibracional. A vibração adiciona dois termos
quadráticos a mais à energia, um para a energia potencial, que é proporcional a (r − r0 )2 ,
e outro para a energia cinética, proporcional a (dr/dt)2 , onde r é a separação dos átomos
que apresenta um valor r0 na posição de equilíbrio. Para uma molécula diatômica que
3
Excluímos a rotação em torno do eixo z 0 dos halteres admitindo ou que os átomos são pontos e o
momento de inércia em torno desse eixo é portanto zero, ou que os átomos são esferas rígidas e lisas em
cujo caso a rotação em torno desse eixo não pode ser mudada por colisões e portanto não participam na
troca de energia. Quaisquer dessas hipóteses também exclui a possibilidade de rotação de uma molécula
monoatômica.
Figura 2.1.4: Modos de energia de uma molécula diatômica. A cada um dos sete movi-
mentos possíveis está associada uma energia média 1/2kT , resultando numa energia total
de 7/2kT por molécula.
Na tabela 2.1.1 temos os valores experimentais de CV para diversos gases. Para todas
as moléculas diatômicas, com exceção do Cl2 , esses dados são consistentes com as previsões
do teorema da equipartição, adotando um modelo de molécula rígida sem vibração. O
valor para Cl2 se situa na metade entre o valor predito para a molécula rígida e o valor
para a molécula em vibração. A situação para moléculas com três ou mais átomos é mais
complicada e não sera examinada aqui em seus pormenores.
É bastante difícil compreender por que o teorema da equipartição junto com o modelo
molecular dos halteres considerando o átomo pontual tem tanto sucesso na previsão da
capacidade térmica molar para a maioria das moléculas diatômicas mas não para todas
elas. Por que as moléculas de um gás diatômico não vibram? Se os átomos não são
pontuais, os momentos de inercia em relação à linha que une os átomos não se anulam, e
vão existir três termos para a energia rotacional ao invés de dois. Admitindo que não haja
vibração, CV deve ser igual a 6/2R. Isto está de acordo com o valor medido para Cl2 ,
mas não está de acordo com os valores para os outros gases diatômicos. Além do mais,
moléculas monoatômicas deveriam apresentar três termos para a energia rotacional se os
átomos não fossem pontuais, e CV deveria ser igual a 6/2R para esses átomos também.
Como a energia média é calculada pela contagem de termos, não deveria importar muito
o tamanho dos átomos e sim o fato de eles não serem pontuais.
Além dessas dificuldades, sabe-se que a capacidade térmica molar depende da tempe-
ratura, contrariando as previsões do teorema da equipartição. O caso mais espetacular
é do H2 , mostrado na Fig. 2.1.5. A aparência é de que, para temperaturas muito bai-
xas, o H2 se comporta como uma molécula monoatômica e não roda. Para temperaturas
bastante elevadas, o H2 começa a vibrar, mas a molécula se dissocia antes de CV atingir
3, 5R. Outros gases diatômicos exibem comportamentos semelhantes, com exceção do
fato de que para baixas temperaturas, eles se liquefazem antes de CV atingir 1, 5R.
1 1 1 1 1 1
E = mvx2 + mvy2 + mvz2 + K1 x2 + K2 y 2 + K3 z 2
2 2 2 2 2 2
Como são seis termos quadráticos, a energia média por molécula será 6(1/2kT ), e a energia
total de 1 mol será 3NA kT = 3RT , resultando CV = 3R.
Figura 2.1.6: Modelo simples de um sólido consistindo de átomos ligados uns aos outros
por molas. A energia interna do sólido consiste então de energia cinética vibracional e de
energia potencial vibracional.
O fato de CV para metais não ser apreciavelmente diferente daquela para isolantes
é algo complicado. Um modelo de um metal, que é moderadamente capaz de descrever
O cálculo da pressão de um gás nos fornece uma informação bastante interessante sobre
a média quadrática do módulo da velocidade, dando-nos, portanto, a energia média das
moléculas num gás, mas não fornece detalhes sobre a distribuição das velocidades mole-
culares. Antes de considerarmos este problema mais adiante, iremos discutir a idéia das
funções distribuição em geral, com alguns exemplos elementares extraídos da experiência
do dia a dia. Essa discussão será útil nos conteúdos posteriores, especialmente quando os
mesmos são aplicados às funções distribuição de probabilidade da mecânica quântica que
são bem abstratas.
Suponhamos que um professor dê um questionário com 25 pontos a um número grande,
N , de estudantes. Para descrever os resultados do exame, ele poderia dar a nota média
ou a mediana, mas isto não seria uma descrição completa. Por exemplo, se todos os
N estudante recebessem 12, 5, este seria um resultado bem diferente de N/2 estudantes
terem obtido a nota 25 e N/2, a nota zero, embora ambos os casos tivessem a mesma
média. Uma descrição completa seria dar o número ni dos que receberam a nota si , para
todas as si entre 0 e 25. Uma alternativa consistiria em dividir ni pelo número total de
estudantes, N , para dar a fração de estudantes fi = ni /N que obteve a nota si . Tanto ni ,
como fi (que dependem da variável s) são chamadas funções distribuição. A distribuição
fracional, fi , é ligeiramente mais conveniente para se usar. A probabilidade de que um dos
N estudantes selecionados ao acaso tenha obtido a nota si é igual ao número de estudantes
que receberam a nota, ni = N fi , dividida pelo número total N ; então essa probabilidade
é igual à função distribuição fi . Note que
X X ni 1 X
fi = = ni
i i
N N i
e como
X
ni = N
i
temos
X
fi = 1 (2.1.15)
i
Figura 2.1.8: Distribuição de notas dadas a 200 estudantes para um exame com 25 pontos;
ni é o número e fi = ni /N é a fração de estudantes que receberam a nota si . A nota
média s̄ e a raiz da média quadrática srms estão indicadas. A área sombreada indica as
notas que se desviam por 1 desvio padrão da média.
Para achar a nota média, todas as notas são somadas e o resultado é dividido por N .
Como cada nota si foi obtida por ni = N fi estudantes, este procedimento é equivalente a
1 X X
s̄ = s i ni = si f i (2.1.16)
N i i
Tomaremos a Eq. 2.1.16 como a definição da nota média s̄. De modo similar, a média de
qualquer função g(s) é definida por
X
ḡ(s) = g(si )fi (2.1.17)
i
Note que X X X X
(si − s̄)2 fi = s2i fi + s̄2 fi − 2s̄ si f i
i i i i
alturas possíveis, e a probabilidade de que qualquer pessoa tenha uma altura particular é
zero, já que
Faz muito mais sentido dividir as alturas em intervalos ∆h (por exemplo, ∆h poderia ser
0, 05 m) e anotar o número de pessoas cujas alturas estão em cada um desses intervalos.
Esse número depende da largura do intervalo. Definimos a função distribuição f (h) como
o número de pessoas cuja altura está em um dado intervalo dividido pelo número total
de pessoas e pela largura do intervalo. Assim, para N pessoas, N f (h)∆h é o número de
pessoas com alturas no intervalo entre h e h + ∆h. Uma possível função distribuição está
representada na Fig. 2.1.10. A fração de pessoas cuja altura está em um dado intervalo
particular, é exatamente igual à área do retângulo ∆h × f (h). A área total representa a
soma de todas as frações; portanto deve ser igual a 1. Se N for muito grande, podemos
escolher ∆h muito pequeno e ainda ter f (h) variando muito pouco entre os intervalo.
Figura 2.1.10: Uma possível distribuição de alturas. A fração do número de alturas entre
h e h + ∆h é proporcional à área sombreada. O histograma pode ser aproximado por uma
curva contínua, como vemos.
é dada por Z
f (h) dh = 1 (2.1.21)
Exemplo 2.1.2.
R∞
A integral 0 e−λt dt apresenta o valor λ−1 . Então C = λ. Como a constante C fica
determinada pela condição de normalização, ela é chamada de constante de normalização.
O tempo de vida médio é calculado por
Z ∞ Z t
hti = tf (t) dt = λ te−λt dt = λ−1
0 0
Para ilustrar essas ideias, consideremos um sistema que consiste de entes, do mesmo
tipo, que podem conter energia. Um exemplo seria um conjunto de molas idênticas, onde
cada uma delas contém energia se seu comprimento está variando. Suponhamos que o
sistema esteja isolado do meio que o circunda, de forma tal que a quantidade total de
energia seja constante, e suponhamos também que os entes podem trocar energia entre si
através de algum mecanismo, de forma tal que os constituintes do sistema podem ficar em
equilíbrio térmico entre si. Apenas com o objetivo de simplificar os cálculos subsequentes,
vamos, por agora, supor também que a energia de cada ente está restrita a um dos valores
E = 0, ∆E, 2∆E, 3∆E, 4∆E, . . .. Posteriormente, faremos com que o intervalo ∆E tenda
a zero de forma que todos os valores da energia sejam permitidos. Para simplificar ainda
mais, vamos inicialmente supor que haja apenas quatro (um número pequeno escolhido
arbitrariamente) entes no sistema e que a energia total do sistema tenha o valor 3∆E
(que também é escolhido arbitrariamente como sendo um dos pequenos múltiplos inteiros
de ∆E que a energia, pela hipótese acima, deve ter). Mais adiante vamos generalizar isto
a sistemas que tenham um grande número de entes e qualquer energia total.
Devido ao fato de que os quatro entes podem trocar energia entre si, podem ocorrer
todas as possíveis divisões da energia total 3∆E entre os quatro entes. Na Figura 2.1.11,
mostramos todas as possíveis divisões, indicadas pela letra i. Para i = 1, três entes têm
energia E = 0 e o quarto tem E = 3∆E, nos dando a energia total exigida 3∆E. Na
realidade, há quatro formas diferentes de obter tal divisão, porque qualquer um dos quatro
entes pode ser o que está no estado de energia E = 3∆E. Indicamos esse fato no algarismo
da coluna “número de divisões duplicadas distintas”. Um segundo tipo possível de divisão,
indicado por i = 2, é tal que dois entes têm E = 0, o terceiro tem E = ∆E, e o quarto
tem E = 2∆E. Há doze divisões duplicadas neste caso, como verificaremos no próximo
parágrafo. A terceira divisão possível, i = 3, também tem quatro formas duplicadas de
fazer com que um ente tenha E = 0 e os outros três tenham E = ∆E dando a energia
total exigida 3∆E.
No cálculo do número de divisões duplicadas contamos como distintos qualquer rear-
ranjo dos entes entre diferentes estados de energia. No entanto, qualquer rearranjo de
entes no mesmo estado de energia não é contato, porque entes do mesmo tipo com a
mesma energia não podem ser distinguidos experimentalmente uns dos outros. Isto é, os
entes idênticos são tratados como se fossem distinguíveis, exceto para rearranjos dentro
do mesmo estado de energia. O número total de rearranjos (permutações) dos quatro en-
tes é 4! ≡ 4 × 3 × 2 × 1. (O número de formas diferentes de ordenação de quatro objetos é
4!, já que há quatro possibilidades de qual o objeto escolhido primeiro, três possibilidades
de qual dos três restantes é tomado a seguir, duas escolhas de qual é o seguinte, e uma
única escolha para o último objeto. O número total de escolhas é 4 × 3 × 2 × 1 = 4!. Para
n objetos o número de ordenações diferentes é n! = n(n − 1)(n − 2) . . . 1. Mas rearranjos
dentro do mesmo estado de energia não contam. Assim, por exemplo, no caso i = 2, o
Figura 2.1.11: Ilustração de um cálculo simples que leva a uma aproximação da distribui-
ção de Boltzmann.
Os valores de n0 (E) também são mostrados como pontos de um gráfico, na Figura 2.1.12.
A curva sólida na Fig. 2.1.11 é a função exponencial decrescente
onde A e E0 são constantes que foram determinadas para dar a melhor curva que se
ajusta aos pontos que representam os resultados de nosso cálculo. A queda rápida em
n0 (E) quando E cresce reflete o fato que se um dos entes toma uma grande parte da
energia total do sistema, o restante deve necessariamente ter uma energia reduzida, e
assim um número consideravelmente reduzido de formas de dividir essa energia entre seus
constituintes. Isto é, há muito menos divisões da energia total do sistema quando uma
parte relativamente grande da energia está concentrada em um ente.
Imaginemos agora que fazemos ∆E cada vez menor, aumentando o número de estados
possíveis ao mesmo tempo que mantemos a energia total com o mesmo valor anterior.
O resultado desse processo é que a função calculada n0 (E) se torna definida para valores
de E cada vez mais próximos. (Isto é, obtemos mais pontos em nossa distribuição.) No
limite em que ∆E → 0, a energia E de um ente se torna uma variável contínua, como a
física clássica exige, e a distribuição n0 (E) se torna uma função contínua. Se, finalmente,
fizermos com que o número de entes no sistema se torne grande, obtém-se que essa função é
idêntica à exponencial decrescente n(E) da Eq.(2.1.23). (Isto é, à medida que os pontos se
aproximam mais e mais, eles não mais se espalham em torno da exponencial decrescente,
e sim caem diretamente sobre ela.) Para verificar isto, através de uma extensão direta
O fato essencial aqui é que a função distribuição de probabilidades P (E) tem a pro-
priedade de que o produto de duas funções, calculadas em dois valores diferentes das
variáveis, E1 e E2 , é uma função da soma E1 + E2 dessas variáveis. Mas uma função
exponencial, e apenas uma função exponencial, tem essa propriedade, já que o produto
de duas exponenciais com expoentes diferentes é uma exponencial cujo expoente é a soma
dos dois expoentes. Especificamente, se tomarmos a probabilidade P (E) de encontrar um
ente em um estado com energia E como sendo proporcional ao número provável n(E) de
entes nesse estado, como certamente deveria ser, e usarmos a Eq.(2.1.23) para calcular
n(E), temos a função
P (E) = Be−E/E0 (2.1.24)
P (E1 )P (E2 ) = Be−E1 /E0 Be−E2 /E0 = B 2 e−(E1 +E2 )/E0 = Q(E1 + E2 )
Nosso argumento não prova na realidade que n(E) é uma exponencial decrescente, em vez
de crescente; mas uma exponencial crescente pode ser eliminada por princípios físicos, já
que seu valor vai a infinito para valores grandes de E. Assim verificamos a validade geral
da Eq.(2.1.23).
Vamos agora calcular a constante E0 na Eq.(2.1.23)
n(E) = Ae−E/E0
Se tratamos um sistema que contém dois tipos diferentes de entes em equilíbrio térmico,
não é difícil provar que o valor de E0 não depende do tipo de ente que constitui o sistema.
Portanto vamos usar em nosso argumento entes com propriedades mais simples. Como
n(E) é o número provável de entes do sistema em um estado de energia E, o número de
entes cujas energias seriam encontradas no intervalo de E a E + dE é igual a n(E) vezes o
número de estados neste intervalo. Isto ocorre se os entes são osciladores harmônicos sim-
ples, como as molas mencionadas anteriormente. Assim, o número provável de osciladores
harmônicos simples com uma energia entre E e E + dE, em um sistema de equilíbrio
que contém muito deles, é proporcional a n(E) dE. Se atribuirmos o valor apropriado
à constante multiplicativa A, essa probabilidade pode ser igualada a n(E) dE. Então a
A integral no numerador tem um integrando que é a energia, com um peso que é o número
de osciladores que tem essa energia; a integral no denominador é exatamente o número
total de osciladores. Se substituirmos n(E) da Eq.(2.1.23), temos
R∞
AEe−E/E0 dE
hEi = R0 ∞ −E/E
0
Ae 0 dE
hEi = E0 (2.1.25)
Mas segundo a lei clássica da equipartição da energia para osciladores harmônicos simples
em equilíbrio a uma temperatura T
hEi = kT (2.1.26)
E0 = kT
Este resultado é correto para entes de qualquer tipo, embora o tenhamos obtido para o
caso particular de osciladores harmônicos simples. Assim podemos escrever a Eq.(2.1.23)
como
n(E) = Ae−E/kT (2.1.27)
P (E) = Be−E/E0
e−E/E0
P (E) = (2.1.29)
kT
onde f (vx ) é a função distribuição para vx somente, isto é, f (vx ) dx é a fração do número
total de moléculas as quais tem suas componentes x da velocidade entre vx e vx + dvx .5
A forma de f (vx ) é dada pela Eq.(2.1.27) com E = mvx2 /2:
2
f (vx ) = Ce−mvx /2kT (2.1.31)
com expressões semelhantes para f (vy ) e f (vz ), onde C é uma constante determinada pela
condição de normalização
Z +∞ Z +∞
2
f (vx ) dvx = Ce−mvx /2kT dvx = 1 (2.1.32)
−∞ −∞
muitas vezes nesta seção. A Tabela 2.1.2, na qual será deduzida a seguir, apresenta uma
lista de In para n, assumindo valores entre 0 e 5.
R∞
Tabela 2.1.2: Valores da integral In = xn e−λx dx para valores de n = 0 até n = 5.
2
0
n In
1 1/2 −1/2
0 2
π λ
1 −1
1 2
λ
1 1/2 −3/2
2 4
π λ
1 −2
3 2
λ
3 1/2 −5/2
4 8
π λ
−3
5 λ
R +∞ n −λx2
Se n for par: x e dx = 2In
R−∞
+∞ n −λx2
Se n for ímpar: −∞
x e dx = 0
Portanto, se I0 for conhecido, todos os In , para n par, podem ser obtidos, e se I1 for
5
Para evitar a repetição dessa longa frase, daqui por diante iremos simplesmente usar as expressões
“o número em dvx no ponto vx ” ou, simplesmente, ” o número em dvx .
conhecido, todos os In , para n ímpar, podem ser obtidos da equação acima. I1 pode ser
facilmente calculado, usando a substituição u = λx2 . Então du = 2λx dx e
Z ∞ Z ∞
−λx2 1 1
I1 = xe dx = λ−1 e−u du = λ−1
0 2 0 2
Então, I3 e I5 são:
d( 12 λ−1 ) 1
I3 = − = λ−2
dλ 2
e
dI3
= λ−3 I5 = −
dλ
O cálculo de I0 é mais difícil, mas pode ser feito usando-se de um truque. Calculemos I02 :
Z ∞ Z ∞ Z ∞ Z ∞
−λx2 −λy 2 2 +y 2 )
I02 = e dx e dy = e−λ(x dx dy
0 0 0 0
onde usamos y como uma variável muda de integração na segunda integral. Se con-
siderarmos agora essa integral no plano xy, podemos mudar para coordenadas polares
r2 = x2 + y 2 e tg φ = y/x. O elemento de área dx dy torna-se r dr dφ, e a integração sobre
valores positivos de x e y torna-se uma integração de r = 0 a r = ∞ e de φ = 0 a φ = π/2.
Então temos: Z ∞ Z π/2
2 π π
2
I0 = e−λr r dr dφ = I1 = λ−1
0 0 2 4
e
1 √ −1/2
I0 = πλ
2
Então, por diferenciação, obtemos I2 , I4 , . . .. Por exemplo,
dI0 1 √ −3/2
I2 = − = πλ
dλ 4
A Fig. 2.1.13 mostra uma representação da curva f (vx ) como função de vx . Obviamente,
f (vx ) é simétrica em relação à origem, f (vx ) = f (−vx ), de modo que a média de vx é
zero. Como podemos ver na figura, o vx mais provável também é zero. A distribuição de
velocidades completa é
Exemplo 2.1.3.
com C dado pela Eq.(2.1.34). Esta integral é da forma In dada na Tabela 2.1.2, com
n = 2. Então 1/2
2 λ 1 1/2 −3/2
(vx )med = 2CI2 = 2 π λ
π 4
1 kT
= λ−1 =
2 m
ou
Figura 2.1.14: Vetores velocidade no espaço das velocidades. A função distribuição das
velocidades fornece a fração de velocidades moleculares cujos vetores terminam numa cela
dvx dvy dvz
m 3/2 2
g(v) = 4π v 2 e−mv /2kT (2.1.37)
2πkT
Exemplo 2.1.4.
com λ = m/2kT , como anteriormente, e A = 4π(m/2πkT )3/2 . Note que a integração vai
de 0 até ∞ ao invés de −∞ até +∞, pois o módulo é sempre positivo. Usando a Tabela
2.1.2 para I3 , temos
2
1 1 m 3/2 2kT
v̄ = A λ−2 = 4π
2 2 2πkT m
1/2 (2.1.38)
8kT
=
πm
Figura 2.1.16: A função distribuição dos módulos g(v), de Maxwell. O módulo de veloci-
dade mais provável vm , o módulo médio v̄ e o módulo vrms estão indicados.
O módulo médio é ligeiramente menor que vrms = (3kT /m)1/2 , como vemos na Fig.
2.1.16. O rms do módulo pode ser calculado diretamente a partir da distribuição dos
módulos ou a partir do teorema da equipartição
1 2 1 2 1 2 1 2
mv = mv + mv + mv
2 med 2 x med 2 y med 2 z med
3
= kT
2
F (E) dE = g(v) dv
Figura 2.1.17: Esquema do aparelho de Miller e Kusch para medir a distribuição dos
módulos das velocidades das moléculas. Somente uma das 720 fendas helicoidais no
cilindro é mostrada. Para uma dada velocidade angular ω, somente moléculas do forno
com uma certa velocidade é que passam pela fenda helicoidal para o detector. [De R.C.
Miller e P.Kusch, Phys. Rev., 99, 1314 (1955).
Podemos aplicar este resultado para o caso de um gás ideal, escrevendo para a energia
p2x p2y p2
E= + + z
2m 2m 2m
Como a energia não depende de x, y ou z, podemos integrar sobre essas coordenadas para
6
Esta distribuição também prevalece se interpretamos p como sendo o momento angular, e as coor-
denadas como sendo os ângulos correspondentes. Por exemplo, pz pode ser a componente z do momento
angular em cujo caso z é o ângulo de rotação φ.
obter o volume total da caixa V . (Esse fator deve cancelar o fator 1/V da constante
de normalização C dada pela Eq.(2.1.41).) Ficamos com uma função de distribuição das
quantidades de movimento que, em essência, é a mesma que a distribuição das velocidades
da Eq.2.1.36, exceto para as constantes de normalização.
Veremos nos próximos capítulos que, em geral, a energia de um sistema não é uma
variável contínua, mas assume somente uma série discreta de valores. (Frequentemente,
a energia parece ser contínua, pois os valores discretos estão muito próximos.) É útil,
portanto, ter um enunciado da distribuição de Maxwell-Boltzmann para o caso de estados
discretos de energia.
Dado um sistema de partículas para as quais a energia apresenta uma série discreta
de valores, a probabilidade de uma partícula ter energia Ei é
Consideremos um gás ideal num campo gravitacional uniforme. Determine como a den-
sidade do gás varia com a altura em relação à terra. Consideremos a força da gravidade
estando no sentido dos z negativos e consideremos uma coluna de gás cuja seção reta
tenha área A. A energia de uma molécula do gás será então
p2x p2y p2 p2
E= + + z + mgz = + mgz
2m 2m 2m 2m
onde p2 = p2x + p2y + p2z , e mgz é a energia potencial de uma molécula que se encontra a
uma altura z da terra.
Pela Eq.(2.1.40) vemos que
2 /2mkT
f (px , py , pz , x, y, z) = Ce−p e−mgz/kT
F = NA e (2.2.1)
Como o faraday pode ser medido com bastante precisão, NA ou e podia ser determinado
se um ou outro fosse conhecido. Faraday sabia disso, mas não podia determinar qualquer
das duas quantidades. Em 1874, G. J. Stoney estimou e como sendo aproximadamente
1 × 10−20 C, usando valores de NA tirados da teoria cinética. Helmholtz assinalou, em
1880, que aparentemente era impossível obter uma subunidade dessa carga. A primeira
medida direta dessa menor unidade de carga foi feita por Townsend, em 1897, por meio
de um método engenhoso que foi o precursor da famosa experiência da gota de óleo de
Millikan.
A primeira prova da existência de partículas atômicas, com uma razão específica de
carga sobre massa, foi obtida por P. Zeeman, em 1896, examinando a luz emitida por
átomos colocados em um campo magnético intenso. Quando examinada através de um
espectroscópio, essa luz aparecia como um conjunto discreto de linhas chamadas linhas
espectrais. De acordo com a teoria eletromagnética clássica, uma carga que oscila em mo-
vimento harmônico simples emitirá radiação eletromagnética da frequência de oscilação.
Se a carga é colocada em um campo magnético, haverá uma força adicional na carga que,
em primeira aproximação, somente muda a frequência da oscilação. A frequência é um
pouco aumentada ou um poco diminuída, ou ainda permanece inalterada, dependendo
da orientação da linha de oscilação relativamente ao campo. Portanto, de acordo com a
teoria clássica, se uma linha espectral associada a um átomo é devida à oscilação de uma
partícula carregada no átomo, essa linha será separada em três linhas quando o átomo for
colocado em um campo magnético. A magnitude da separação depende da razão q/m da
partícula que oscila. Zeeman mediu essa separação e calculou q/m como sendo aproxima-
damente 1, 6 × 1011 C/kg, que se compara convenientemente com o valor 1, 76 × 1011 C/kg
hoje aceito para o elétron. A partir da polarização das linhas espectrais, Zeeman concluiu
que as partículas oscilantes eram carregadas negativamente.
As medidas diretas da razão carga sobre massa e/m dos elétrons, por J. J. Thomson em
1897, podem ser consideradas como o inicio de nosso entendimento da estrutura atômica.
Figura 2.2.1: Tubo de J. J. Thomson para medir e/m. Elétrons do catodo C passam
através das fendas A e B e atingem uma tela fosforescente. O feixe pode ser desviado
por um campo elétrico aplicado entre as placas D e E ou por um campo magnético (não
exibido na figura). Pelas medidas das deflexões, e/m pode ser determinado. (De J. J.
Thomson, Philosophical Magazine (5), 44, 293 (1897).
um fenômeno já observado; um outro ponto de vista a respeito desses raios é que, longe de
serem etéreos, eles, na realidade, são totalmente materiais e deixam traços de partículas
carregas negativamente. À primeira vista parece que não deveria ser difícil fazer uma
discriminação entre opiniões tão distintas, contudo a experiência mostra que este não é
o caso. Assim entre os físicos que estudaram mais profundamente o assunto, podem ser
encontrados defensores de ambas as teorias.
A teoria das partículas eletrizadas, para as finalidades de pesquisa, leva uma grande
vantagem sobre a teoria etérea, pois ela é definida, e suas consequências podem ser previs-
tas; com a teoria etérea, é impossível prever o que acontecerá em qualquer circunstância,
pois nessa teoria estamos lidando com fenômenos ainda não observados no éter, cujas leis
desconhecemos.
As seguintes experiências foram feitas para testar algumas das consequências da teoria
da partícula eletrizada . . ..
Os raios de um catodo C passam (veja a Fig. 2.2.1) através de uma fenda no anodo
A, que é um tampão de metal que se ajusta firmemente ao tubo e é conectado à terra;
depois de passar através de uma segunda fenda feita num segundo tampão metálico, ligado
também à terra, B, eles caminham entre duas placas paralelas de alumínio de cerca de
5 cm de comprimento por 2 cm de largura que estão fastadas aproximadamente 1, 5 cm uma
da outra; eles entãõ atingem o fim do tubo e produzem uma mancha fina bem definida
fosforescente. Uma escala colocada fora do tubo serve para medir a deflexão dessa mancha.
Para altos vácuos, os raios são desviados quando as duas placas de alumínio são ligadas
aos terminais de uma bateria de pequenas pilhas; os raios são desviados para baixo quando
a placa superior é ligada ao polo negativo da bateria e a placa inferior ao polo positivo e
são desviados para cima quando a placa superior é ligada ao polo positivo, com a placa
inferior ligada ao negativo. A deflexão é proporcional à diferença de potencial existente
entre as placas, e pude detectar a deflexão mesmo quando a diferença de potencial era
tão pequena como 2 volts. ”
Quando um campo magnético de intensidade B age perpendicularmente à trajetória
original, as partículas se movem segundo uma trajetória circular. O raio R desta pode ser
obtido a partir da segunda lei de Newton, igualando o módulo da força magnética qvB
ao produto da massa m pela aceleração v 2 /R.
mv 2
qvB =
R
ou
mv
R= (2.2.2)
qB
Na sua primeira medida, Thomson determinou a velocidade a partir das medidas da carga
total e das variações de temperatura ocorridas quando o feixe encontrava um coletor iso-
mv e
R= ⇒ v = RB
eB m
QH H R2 B 2 e2
m
W =
e 2 mA2
e 2W
= 2 2 (2.2.3)
m B R Q
No seu segundo método, que ficou conhecido como experiência de J. J. Thomson, ele
ajustou campos perpendiculares B e E de tal forma que as partículas não fossem desviadas.
Ele então determinou a velocidade, igualando os módulos das forças elétrica e magnética
qvB = qE
ou
E
v= (2.2.4)
B
Desligava-se então o campo B e media-se a deflexão das partículas na tela. Esta deflexão é
constituída de duas partes (Fig. 2.2.2). Enquanto as partículas estão entre as placas, elas
sofrem uma deflexão vertical y1 , provocada pelo campo elétrico aplicado entre as placas,
dada por
1
y1 = at21
2
como pela segunda lei de Newton, ma = eE ⇒ a = (e/m)E e tendo em vista que nenhuma
força atua na partícula na direção horizontal, ou seja t1 = x1 /vx , onde x1 é a distância
horizontal percorrida na região entre as placas, segue que
2
1 1 eE x1
y1 = at21 = (2.2.5)
2 2m vx
Depois que as partículas deixam a região entre as placas, elas sofrem uma deflexão adici-
Thomson repetiu a experiência com diferentes gases nos tubos e diferentes metais para
o catodo e sempre obteve valor de e/m dentro da sua precisão experimental, mostrando
assim que essas partículas eram comuns a todos os metais. A concordância desses resul-
tados com os de Zeeman o levou à conclusão irrefutável que essas partículas, chamadas de
corpúsculos por Thomson e mais tarde Lorentz denominou elétrons, tendo somente uma
unidade de carga negativa e e massa aproximadamente 2000 vezes menor que o átomo
mais leve conhecido, fazia parte da constituição de todos os átomos.
de que todos os elétrons possuíam a mesma carga elétrica negativa e. Thomson iniciou
uma série de experimentos para determinar o valor de e. O primeiro desses experimentos,
que se revelou muito difícil de se executar com alta precisão, foi realizado pelo seu aluno
J. S. E. Townsend. Townsend usou a eletrólise para produzir íons gasosos carregados,
que formavam uma nuvem após borbulharem através da água. Ele mediu a massa da
nuvem, fazendo-a atravessar tubos secadores e determinando o aumento em peso desses
tubos. Ele mediu a carga total com um eletrômetro e determinou o raio médio das
gotículas individuais de água na nuvem pela observação da caída da nuvem pelo efeito
da gravidade. A lei de Newton ΣF = ma, para uma gota caindo em um meio que exerce
uma força de retardamento proporcional à velocidade, é
dv
mg − bv = m (2.2.7)
dt
A gota atinge rapidamente sua velocidade terminal, que podemos determinar colocando
dv/dt = 0:
mg
vt =
b
A quantidade b está relacionada com o raio da gota (a), e o coeficiente de viscosidade de
um fluido (η) pela lei de Stokes da mecânica dos fluidos:
b = 6πηa (2.2.8)
4
m = πa3 ρ
3
e(C)
0, 77 × 10−19
0, 87 × 10−19
1, 5 × 10−19
0, 90 × 10−19
1, 1 × 10−19
1, 3 × 10−19
1, 3 × 10−19
1, 0 × 10−19
1, 2 × 10−19
0, 67 × 10−19
0, 77 × 10−19
Valor médio:
1, 03 × 10−19 C
Tabela 2.2.1: Resultados da determinação de e por Wilson, de Philosophical Magazine,
(6), 5, 439 (1903).
da gota e ainda a hipótese de que cada gotícula contivesse uma única carga não podia
ser verificada. R. M. Millikan tentou eliminar o problema da evaporação com a utilização
de um campo intenso o suficiente para manter a superfície da nuvem estacionária, de
modo a poder observar a taxa de evaporação e fazer uma correção. Os resultados estão
descritos no seu trabalho “A New Modification of the Cloud Method of Determining
the Elementary Charge and the Most Probable Value of that Charge”, que apareceu no
Philosophical Magazine (6), 19, 209 (1910). A seguinte citação é extraída desse trabalho:
O balanceamento de gotas carregadas individuais por meio de um campo eletrostático
“Meu plano original para eliminar o erro da evaporação era obter, se possível, um
campo elétrico suficientemente intenso para contrabalancear exatamente a força da gra-
vidade sobre a nuvem e, então por meio de um divisor de potencial, variar a intensidade
do campo, de forma a manter um balanceamento durante toda a sua vida. Pensava-se
anotar dessa maneira toda a história da evaporação da nuvem, e, então, algumas com-
pensações adequadas poderiam ser introduzidas nas observações do tempo de queda para
eliminar inteiramente o erro devido à evaporação. Verificou-se que não era possível um
balanceamento da nuvem de acordo com o plano original, mas, em contrapartida, podia-
se fazer algo muito melhor: ou seja, manter gotas carregadas individuais suspensas pelo
campo por períodos compreendidos entre 30 e 60 segundos. Eu realmente nunca medi
gotas que durassem mais que 45 segundos, ainda que diversas vezes tenha acompanhado
algumas gotas que, no meu julgamento, duraram muito mais que isso. As gotas que pu-
deram ser contrabalanceadas pelo campo elétrico sempre carregavam cargas múltiplas, e
a dificuldade experimentada no balanceamento das gotas foi menos que a prevista.
O que se tem a fazer é simplesmente formar uma nuvem e jogá-la imediatamente no
campo. As gotas que tem cargas de sinal igual ao da placa superior caem rapidamente,
enquanto que aquelas carregas de muitos múltiplos da carga e sinal oposto ao da placa
superior são atraídas rapidamente para esta em oposição a gravidade. O resultado é
que, após uns sete ou oito segundos, o campo de visão se torna bastante claro, exceto
para um número relativamente pequeno de gotas, que apresentam exatamente a relação
apropriada entre a carga e a massa para poderem permanecer suspensas pelo campo
elétrico. Essas gotas aparecem como pontos perfeitamente distintos e brilhantes. Eu, em
diversas ocasiões, obtive uma única das tais “estrelas”, caminhando pelo campo de visão
inteiro, e a mantive por um tempo próximo a um minuto. Entretanto, em sua maioria,
as observações relacionadas a seguir foram tomadas com um número considerável de tais
pontos no campo de visão. Nuvens floculentas, finas, cuja produção parece ser facilitada
pela manutenção dos recipientes para água. . . um grau ou dois acima da temperatura
ambiente, mostram-se particularmente favoráveis à observação dessa espécie de gota.
Além disso, viu-se que era possível variar a massa de uma gota observada por uma
mudança de ionização, assim gotas portadoras de dois, três, quatro, cinco ou mesmo seis
múltiplos de carga podiam ser suspensas aproximadamente pelo mesmo campo. A ideia
de variar gradualmente o campo, que inspirou o início da experiência, mostrava-se desne-
cessária agora. Se um campo não podia manter uma gota suspensa, ele era variado com
passos da ordem de 100 a 200 volts, até que as gotas pudessem permanecer estacionárias,
ou quase estacionárias. Desligado o campo, muitas vezes era possível observar-se dife-
rentes gotas movendo-se sob a ação da gravidade, com velocidades bastante diferentes,
o que mostra que essas gotas tinham massas diferentes e, correspondentemente, cargas
diferentes.”
Durante esta experiência, Millikan reparou que gotas contrabalanceadas se moviam
algumas vezes subitamente para cima ou para baixo, evidentemente devido à captura de
um íon positivo ou negativo. Esse fato possibilitou a observação da carga de um único íon.
Em 1909, Millikan começou uma série de experiências que não somente mostraram que as
cargas ocorriam em múltiplos de uma unidade elementar e, mas também possibilitaram a
medida do valor e com um erro de uma parte em 1.000. Para eliminar a evaporação, ele
usou gotas de óleo espalhadas no ar seco entre as placas de um capacitor. Essas gotas já
vinham carregadas por causa da fricção do processo de atomização, e, durante o tempo
de observação, elas ganhavam ou perdiam cargas adicionais. Ligando o campo entre as
placas, uma gota podia ser movida para cima e para baixo e observada durante muitas
horas. Quando a carga de uma gota variava, a velocidade da gota variava. Supondo
somente que a velocidade terminal da gota era proporcional à força que agia sobre ela
(essa “hipótese” foi verificada experimentalmente de forma cuidadosa), a experiência de
Millikan deu evidência conclusiva de que as cargas sempre ocorrem em múltiplos de uma
unidade fundamental e.
Examinemos essa experiência com certo detalhe. A Fig. 2.2.3 mostra um esquema do
aparelho de Millikan. Sem campo elétrico, a força para baixo é mg e a força para cima é
bv, onde b é dado pela lei de Stokes, Eq.(2.2.8). A equação de movimento é a Eq.(2.2.7),
e a velocidade terminal para a gota em queda é
mg
vf = (2.2.10)
b
qn E − mg
vr = (2.2.11)
b
Figura 2.2.3: Aparelho da gota de óleo de Millikan. As gotas são espalhadas pelo atomiza-
dor e adquirem uma carga estática. Sua queda sob a ação da gravidade e a sua ascensão
devida ao campo elétrico entre as placas do capacitor podem observadas por meio do
telescópio. Usando medidas do tempo de ascensão e de queda, a carga elétrica de uma
gota pode ser calculada.
qn E
vr + vf =
b
como pela Eq.(2.2.10) b = mg/vf , segue que ao se resolver a equação acima para qn
encontra-se o seguinte resultado:
mg mgTf 1 1
qn = (vf + vr ) = + (2.2.12)
E vf E Tf Tr
0
com a nova carga qn pela Eq.(2.2.11):
0
q E − mg
0
vr = n
b
Ee
1 1 1
+ = (2.2.14)
n Tf Tr mgTf
e
Ee
1 1 1
− = (2.2.15)
n0 Tf Tr mgTf
A Tabela 2.2.3, tirada do livro de Millikan, é típica de seus primeiros dados, com
uma única gota. Os tempos de queda, mostrados na primeira coluna são todos iguais
,dentro do desvio experimental. Na coluna três estão registrados valores associados a uma
mudança nos tempos de subida, que são mostrados na coluna dois. Os números na coluna
seis são proporcionais à carga total, Eq.(2.2.12). Quando esses números são divididos por
n (coluna sete), apropriadamente escolhido, os números resultantes, indicados na coluna
oito, são os mesmos para todos os ensaios. Os números na coluna três são proporcionais
às variações na carga, divididos por n0 (coluna quatro), apropriadamente escolhidos, os
número na coluna cinco, são os mesmos para todos os ensaios e iguais aos da coluna oito,
Eq.(2.2.14) e (2.2.15). A gota em questão começa com uma carga de 18e. Ela então
capturou 6e, ficando com uma carga de 24e (linha dois). Então, perdeu 7e, ganhou 1e,
etc.
Millikan realizou experiências como essas com milhares de gotas, algumas com óleos
não condutores, outras com óleos semicondutores como glicerina e algumas com conduto-
res como mercúrio. Em nenhum caso ele encontro uma carga fracionária.
Para obter um valor de e a partir desses dados, necessitamos da massa da gota (ou
seu raio, pois a densidade é conhecida). O raio é calculado pela lei de Stokes usando a
Eq.(2.2.9) (Para maior precisão, deve ser levada em conta a força de empuxo do ar sobre a
gota. No decorrer dessas experiências, Millikan verificou que a lei de Stokes não valia para
suas gotas menores, devido a flutuações na densidade do meio em uma escala comparável
com as dimensões da gota. Ele encontrou, por meio de aproximações sucessivas, uma
correção experimental para a lei de Stokes.)
O valor de e encontrado por Millikan, de 1, 591 × 10−19 C, foi aceito por 20 anos, até
a descoberta que medidas de difração de raios X para NA davam valores para e, que
diferiam do valor de Millikan em cerca de 0, 4%. A discrepância foi atribuída ao valor do
coeficiente de viscosidade η usado por Millikan que era muito baixo. Medidas melhoradas
de η deram um valor cerca de 0, 5% mais elevado, mudando então o valor de e obtido
pelo método da gota de óleo para 1, 601 × 10−19 C, em bom acordo com os dados obtidos
com os de difração de raios X. Para a determinação moderna do “melhor” valor de e e de
outras constantes atômicas.
Tabela 2.2.2: Tempos de ascensão e de queda de uma única gota de óleo com um número
calculado de cargas elementares na gota.
1 2 3 4 5 6 7 8
1 1 0 1 1 1 1 1 1 1 1
Tf Tr 0 − n 0 0 − + n +
Tr Tr n Tr Tr Tf Tr n Tr Tf
11, 848 80, 708 0, 09655 18 0, 005366
11, 890 22, 366 0, , 03234 6 0, 005390 0, 12887 24 0, 005371
11, 908 22, 390
11, 904 22, 368
11, 882 140, 566 0, 03751 7 0, 005358 0, 09138 17 0, 005375
11, 906 79, 600 0, 005348 1 0, 005348 0, 09673 18 0, 005374
11, 838 34, 748 0, 01616 3 0, 005387 0, 11289 21 0, 005376
11, 816 34, 762
11, 776 34, 486
11, 840 29, 286 0, 11833 22 0, 005379
11, 904 29, 236
11, 870 137, 308 0, 026872 5 0, 005375 0, 09146 17 0, 005380
11, 952 34, 638 0, 021572 4 0, 005393 0, 11303 21 0, 005382
11, 860
11, 846 22, 104 0, 01623 3 0, 005410 0, 12926 24 0, 005386
11, 912 22, 268
11, 910 500, 1 0, 04307 8 0, 005384 0, 08619 16 0, 005387
11, 918 19, 704 0, 04879 9 0, 005421 0, 13498 25 0, 005399
11, 870 19, 668
11, 888 77, 630 0, 03794 7 0, 005420 0, 09704 18 0, 005390
11, 894 77, 806
11, 878 42, 302 0, 01079 2 0, 005395 0, 10783 20 0, 005392
11, 880 Meios 0, 005389 Meios 0, 005384
e = 4, 991 × 10−10 esu = 1, 664 × 10−19 coulombs. De R. A. Millian, Electrons (+ and -),
Protons, Photons, Mesotrons, and Cosmic Rays, Chicago: University of Chicago Press,
p.75, 1947. Direitos reservados pela Universidade de Chicago em 1947.
Figura 2.3.1: O modelo atômico de Thomson - uma esfera de carga positiva entremeada
com elétrons.
Exemplo 2.3.1.
tomando uma superfície esférica de raio a como a nossa superfície Gaussiana segue que
devido a simetria radial do problema
1 Q+
E=
4π0 a2
1 Q+
F =− e
4π0 a2
de modo que
ρe e e e2
k= = =
30 4 0 3 30 4π0 r0 3
πr
3
(9, 0 × 109 N-m2 /C2 ) × (1, 6 × 10-19 C)2
= −10 3
= 2, 3 × 102 N/m
(1, 0 × 10 m)
Como (em analogia com a radiação emitida por elétrons oscilando em uma antena) a radi-
ação emitida pelo átomo terá esta mesma frequência, ela corresponderá a um comprimento
de onda
c 3, 0 × 108 m/s
λ= = 15
= 1, 2 × 10−7 m = 1200 Å
ν 2, 5 × 10 /s
que está na região do ultravioleta longínquo do espectro eletromagnético. É fácil mostrar
que um elétron que se move em uma órbita circular estável de qualquer raio dentro do
átomo de Thomson gira com essa mesma frequência, e portanto irradia com essa frequência
também.
Evidentemente, se supusermos um raio diferente para a esfera de carga positiva, tería-
mos uma frequência diferente. Mas o fato de um átomo de hidrogênio, segundo Thomson,
ter apenas uma frequência de emissão característica é conflitante com o grande número
de frequências diferentes observadas no espectro do hidrogênio.
A demonstração conclusiva da inadequação do modelo de Thomson foi obtida em 1911
por Ernest Rutherford, um ex-aluno de Thomson, a partir da análise de experiências sobre
o espalhamento de partículas α por átomos. A análise de Rutherford mostrou que, em vez
de estar espalhada por todo o átomo, a carga positiva está concentrada em região muito
pequena, ou núcleo, no centro do átomo. Este foi um dos mais importantes progressos da
física atômica e foi a base da física nuclear.
Rutherford já tinha recebido o Prêmio Nobel em 1908 por suas “investigações a respeito
do decaimento de elementos e. . . à química de substâncias radioativas”. Ele era um físico
talentoso e diligente, com enorme motivação e autoconfiança. Em uma carta escrita mais
tarde, o então Lord Rutherford dizia: “Eu estive lendo alguns dos meus primeiros artigos e
quando terminei disse a mim mesmo ´Rutherford, meu rapaz, você foi um sujeito esperto
como o diabo” ’. Embora satisfeito por ter recebido um Prêmio Nobel, ele não estava
contente com o fato de ter sido um prêmio em química, em vez de em física. (Qualquer
pesquisa sobre os elementos era na época considerada química.) Em seu discurso, ao
aceitar o prêmio, ele disse que tinha observado muitas transformações em seu trabalho
com radioatividade, mas nunca uma tão rápida quanto a sua, de físico para químico.
Rutherford já sabia que as partículas α eram átomos de hélio duplamente ionizados
(isto é, átomos de He com dois elétrons retirados), emitidos espontaneamente por vários
materiais radioativos com grande velocidade. Na Figura 2.3.2 mostramos um arranjo
típico que ele e seus colaboradores utilizaram para estudar o espalhamento de partículas
α ao atravessas folhas delgadas de várias substâncias. A fonte radioativa emite partículas
α que são colimadas por um par de diafragmas, normalmente um metal. A folha é tão
fina que as partículas a atravessam completamente com apenas uma pequena diminuição
em sua velocidade. Ao atravessar a folha, entretanto, cada partícula α sofre muitas
deflexões, devido à força coulombiana entre sua carga e as cargas positivas e negativas
dos átomos da folha. Como a deflexão das partícula α ao atravessar um único átomo
depende dos detalhes de sua trajetória através do átomo, a deflexão total ao atravessar
toda a folha será diferente para diferentes partículas α do feixe. Em consequência disso,
o feixe emerge da folha não como um feixe paralelo, mas como um feixe divergente.
Uma medida quantitativa dessa divergência é feita ao se medir o número de partículas α
espalhadas em cada região angular de Θ a Θ + dΘ. O detector de partículas α consiste
de uma camada do composto cristalino ZnS e de um microscópio. O cristal ZnS tem a
propriedade útil de produzir uma pequena cintilação quando atingido por uma partícula
α. Se observada com um microscópio, pode-se distinguir a cintilação devida a uma única
partícula α. Na experiência um observador conta o número de cintilações produzidas por
unidade de tempo em função da posição angular do detector.
Seja N o número de átomos que causam deflexão em uma partícula α quando ela
passa através da folha. Se θ representa o ângulo de deflexão ao passar por um átomo,
como é visto na Figura 2.3.3, e Θ é a deflexão total ao atravessar todos os átomos em sua
trajetória através da folha, a teoria estatística nos mostra que
√
(Θ̄2 )1/2 = N (θ¯2 )1/2 (2.3.1)
Neste caso, (Θ̄2 )1/2 é a média quadrática dos ângulos de deflexão, ou espalhamento, e
(θ¯2 )1/2 é a média quadrática dos ângulos de espalhamento em uma deflexão por um único
√
átomo. O fator N aparece do fato da deflexão ser aleatória; se todas as deflexões fossem
√
na mesma direção, obteríamos evidentemente N em vez de N . De forma mais geral, a
teoria estatística dá, para a distribuição angular das partículas α espalhadas,
Devido ao fato de terem os elétrons uma massa muito pequena se comparada com
a da partícula α, eles podem em qualquer caso produzir apenas pequenas deflexões nas
partículas α; e devido a que a carga positiva está distribuída sobre todo o volume do átomo
de Thomson de raio r0 ≈ 10−10 m, ela não pode causar uma repulsão coulombiana intensa o
suficiente para produzir grande deflexão na partícula α. E realmente, utilizando o modelo
de Thomson, obtemos que a deflexão causada por um átomo é de θ <≈ 10−4 rad. Este
resultado, junto com a Eq.(2.3.1) e (2.3.2), inclui todas as previsões para o espalhamento
de partículas α que são obtidas a partir do modelo atômico de Thomson. Rutherford e
seu grupo testaram essas previsões.
O número de átomos atravessados por uma partícula α é aproximadamente igual à
espessura da folha dividida pelo diâmetro do átomo. Então
encontrado, por exemplo, que a fração das partículas α espalhadas em ângulos maiores
que 90◦ , N (Θ > 90◦ )/I era aproximadamente 10−4 . O que é previsto pela Eq.(2.3.2)?
Temos R 180◦
N (Θ > 90◦ ) ◦ N (Θ) dΘ 2
= 90 = e−(90) = 10−3500
I I
um resultado espantosamente diferente do valor experimental 10−4 .
Em geral, observou-se que o número de partículas α espalhadas em ângulos maiores
que alguns graus era muito maior do que o número previsto.
A existência de uma probabilidade pequena, porém não nula, para o espalhamento em
grandes ângulos não poderia absolutamente ser explicada em termos do modelo atômico
de Thomson, que basicamente previa espalhamento em um ângulo pequeno por muitos
átomos. Para cientistas acostumados a pensar em termos desse modelo, foi uma grande
surpresa o fato de que algumas partículas α fossem espalhadas por ângulos muito gran-
des, até de 180◦ . Nas palavras de Rutherford, “Foi praticamente o acontecimento mais
inacreditável que acontecem em minha vida. Era tão inacreditável como se você atirasse
um obus de 15 polegadas sobre um pedaço de papel de seda e ele voltasse e o atingisse”.
Experiências utilizando folhas de várias espessuras mostraram que o número de grandes
ângulos de espalhamento era proporcional a N , o número de átomos atravessados pela
partícula α. Esta é exatamente a dependência em N que surgiria se houvesse uma pequena
probabilidade de que uma partícula α fosse espalhada por um ângulo grande ao atravessar
um único átomo. Isto não pode ocorrer para o modelo atômico de Thomson, e fez com
que Rutherford em 1911 propusesse um novo modelo.
rou apenas o espalhamento por átomos pesados, para que pudesse ser utilizada a hipótese
de que a massa do núcleo é tão grande comparada à da partícula α que o núcleo não recua
apreciavelmente (permanece fixo no espaço) durante o processo de espalhamento. Tam-
bém foi suposto que a partícula α não penetraria realmente na região nuclear, de forma
que a partícula e o núcleo (ambos supostos esféricos) interagissem como cargas pontuais,
pelo menos no que se refere à força coulombiana. Veremos mais tarde que essas hipóteses
são válidas, exceto para o espalhamento de partículas α por núcleos mais leves, em cujo
caso devemos fazer a correção para a massa finita do núcleo. O cálculo, finalmente, usa a
mecânica não relativística, já que v/c ≈ 1/20.
A Figura 2.3.4 ilustra o espalhamento de uma partícula α, de carga +ze e massa M ,
ao passar perto de um núcleo de carga +Ze. O núcleo está fixo na origem do sistema
de coordenadas. Quando a partícula está muito afastada do núcleo, a força coulombiana
sobre ela é desprezível, de forma que a partícula se aproxima do núcleo segundo uma
linha reta com velocidade constante v. Depois do espalhamento, a partícula vai se afastar
novamente segundo uma linha reta, com velocidade constante v 0 . A posição da partícula
em relação ao núcleo é especificada pela coordenada radial r e o ângulo polar ϕ, sendo o
último a partir de um eixo paralelo à linha da trajetória inicial. A distância perpendicular
desse eixo à linha do movimento inicial é chamada parâmetro de impacto b. O ângulo de
espalhamento θ é o ângulo entre o eixo e uma linha passando pela origem e paralela à
linha do movimento final; a distância perpendicular entre essas duas linhas é b0 .
Exemplo 2.3.2.
Mostre que v 0 = v e b0 = b.
Solução:
A força que atua sobre a partícula, uma força coulombiana, está sempre dirigida radial-
mente. Logo o momento angular da partícula em torno da origem tem um valor constante,
L, pois
dL d dr dp
= (r × p) = ×p+r× =0
dt dt dt dt
dp
pois dr/dt = p/m e k r visto que a força é radial. Assim sendo, o momento angular
dt
inicial é igual ao momento angular final,
M vb = M v 0 b0 = L
É claro que a energia cinética da partícula não permanece constante durante o espalha-
mento, mas a energia cinética inicial deve ser igual à energia cinética final, já que se supõe
que o núcleo permanece estacionário. Portanto,
1 1 2
M v2 = M v0
2 2
onde o termo à esquerda é a força de Coulomb e os termos à direita são como se segue:
d2 r/dt2 é a aceleração radial devida à variação no módulo de r e −r(dϕ/dt)2 = −ω 2 r é
a aceleração centrípeta (que também está sobre a direção radial) devida à variação na
direção de r. Para obtermos a trajetória, precisamos achar r em função de ϕ..
A solução da Eq.(2.3.3) fica simplificada se escrevermos a equação não em termos das
coordenadas r e ϕ, mas em termos das coordenadas u, ϕ, onde
1
r= (2.3.4)
u
Então
dr dr dϕ dr du dϕ
= = (2.3.5)
dt dϕ dt du dϕ dt
ou
dr 1 du Lu2 L du
=− 2 =−
dt u dϕ M M dϕ
dϕ
L = r × (M v) = M rv = M r2
dt
pois
dϕ
r⊥v e v=r
dt
e
d2 r L d2 u Lu2
d dr dϕ
2
= =−
dt dϕ dt dt M dϕ2 M
ou
d2 r L2 u2 d2 u
= −
dt2 M dϕ2
Substituindo esta expressão na Eq.(2.3.3), temos
2
L2 u2 d2 u 1 Lu2 zZe2 u2
− − =
M dϕ2 u M 4π0 M
ou
d2 u zZe2 M
+u=− (2.3.6)
dϕ2 4π0 M 2 v 2 b2
já que L = M vb, onde v é a velocidade inicial da partícula e b é seu parâmetro de impacto,
definidos na Figura 2.3.2. Se fizermos
zZe2
4π0
D=
M v2
d2 u D
2
+u=− 2 (2.3.7)
dϕ 2b
Esta é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem para u como uma função de
ϕ.
A Solução geral da Eq.(2.3.7) é
D
u = A cos ϕ + B sin ϕ − (2.3.8)
2b2
du
= −A sin ϕ + B cos ϕ
dϕ
e
d2 u
= −A cos ϕ − B sin ϕ
dϕ2
e substituindo estas expressões na Eq.(2.3.6). Isto nos dá
D2 D2
−A cos ϕ − B sin ϕ + A cos ϕ + B sin ϕ − ≡ −
2b2 2b
1 D
u= = 0 = A cos 0 + B sin 0 − 2
r 2b
ou
D
A=
2b2
e
dr L du L
=− = −v = − (−A sin 0 + B cos 0)
dt M dϕ M
ou
Mv Mv 1
B= = =
L M vb b
Portanto, a solução particular é
D 1 D
u= cos ϕ + sin ϕ −
2b2 b 2b2
ou
1 1 D
= sin ϕ + 2 (cos ϕ − 1) (2.3.9)
r b 2b
Esta é a equação de órbita, dando r como uma função de ϕ. Vemos que a trajetória é
hiperbólica, já que a Eq.(2.3.9) é a equação de uma hipérbole em coordenadas polares,
onde D é um parâmetro conveniente, igual a distância de maior aproximação ao núcleo
em uma colisão frontal (b = 0), já que D é a distância para o qual a energia potencial é
igual à energia cinética inicial:
zZe2 M v2
1
=
4π0 D 2
1 zZe2
D= (2.3.10)
4π0 M v 2 /2
Nesse ponto a partícula pararia e a partir daí mudaria a direção de seu movimento. O
ângulo de espalhamento θ é obtido a partir da Eq.(2.3.9), achando o valor de ϕ para
r → ∞, e usando θ = π − ϕ. Dessa forma, encontramos:
θ 2b
cotg = (2.3.11)
2 D
Exemplo 2.3.3.