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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

Departamento de Educação – Campus X – Teixeira de Freitas Colegiado do Curso


de História
Docente: Jonathan Molar
Discente: Ana Carolina Barreto Braz
Componente Curricular: Europa Moderna I

FALCON, Francisco. Mercantilismo e Transição. São Paulo: Editora Brasiliense.


1981.

Nota de leitura nº 3: Mercantilismo

Com o fim do sistema feudal e ascensão da monarquia absolutista, diversos


setores da sociedade europeia passam por mudança, entre eles está à economia.
Com o aumento do prestígio social e monetário da burguesia, surgimento das
manufaturas e conquistas ultramarinas nasce o mercantilismo, prática econômica
que visava à ampliação da economia, fortalecimento do Estado e da burguesia, além
do acumulo de bens, principalmente metais preciosos como ouro e prata. A prática
mercantilista possui um caráter transicional, entre o feudalismo e o capitalismo
liberal. Esteve em vigência entre os séculos XVI a XVIII.

Por se tratar de um sistema transitório, o mercantilismo não possuía


características próprias. No momento de sua fundação se assemelhava com os
princípios feudais, já no século XVIII tinha ideias e práticas parecidas ao sistema
capitalismo liberal emergente na Inglaterra.

O sistema mercantilista se consolida no século XVII, até esse momento há


uma junção entre o pensamento escolástico defendido por São Tomás de Aquino e
o mercantil. Para São Tomás de Aquino e outros pensadores, só há a necessidade
de se produzir o necessário para se viver com dignidade e não se deve cobrar juros
e outras tarifas em transações monetárias. Tal pensamento vai de encontro com o
princípio mercantilista de aumento da produção e acumulo. A forma como esses dois
pensamentos antagônicos se misturam no sistema econômico é a partir do valor
cobrado em cada produto, o preço era dado única e exclusivamente a partir do
tempo gasto para a produção do mesmo. Só há uma mudança nesse cenário no
século XVII, quando os produtores passam a levar em consideração “os fatores
invisíveis” como a extração da matéria prima ou o valor paga pela mesma, o custo
dos outros produtos presentes na confecção de uma peça, transportes, tarifas
aduaneiras.
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O mercantilismo surge na Europa no mesmo período em que há a unificação


territorial e ascensão da monarquia ao poder, com isso os chefes do Estado
moderno adotavam uma série de medidas intervencionistas na área fiscal. Ou seja,
os reis atuavam de maneira direta na economia, o que impossibilitava a
implementação de um sistema comercial liberal, pois todas as medidas tomadas
necessitavam da anuência do soberano, o que retirava a liberdade fiscal das mãos
dos burgueses.

O fator principal para o sucesso do mercantilismo são as grandes


navegações. A exploração de metais preciosos como ouro e prata nas colônias faz
com que o mercantilismo ganhe força no continente europeu, pois a maior parte dos
países era metalista, ou seja, focava no acumulo de metais preciosos. As colônias
americanas garantem a entrada de uma gigantesca quantidade desses metais na
Europa, o que torna Espanha e Portugal as grandes potências do período.

Para além do acumulo de metais preciosos característicos da península


ibérica, o sistema mercantil também funcionou em outras frentes. Como boa parte
das colônias dos demais países não possuíam quantidades expressivas de ouro e
prata, se fez necessária a adaptação a essa realidade para que não se ficasse para
trás. Os holandeses, por exemplo, se especializaram no transporte marítimo e
chegaram a funda a companhia das Índias Ocidentais, realizando o tráfego de
matérias das colônias para a metrópole. A França observando uma necessidade
social passou a criar perfumes e artigos de luxo, como vestidos e casacos de pele.

A teoria quantitativa da moeda surge no século XVI e defende que o nível dos
preços é determinado pela quantidade de moedas em circulação, com o aumento de
metais preciosos entrando no continente por conta do tesouro americano, houve um
aumento no valor das mercadorias e desvalorização da moeda em circulação. Essa
inflação não foi um problema até meados do século XVIII, quando há o
encerramento das atividades nas minas por conta da finitude dos metais preciosos.
Com os valores elevados e a falta de circulação de moedas, o sistema mercantil
entra em crise.

No século XVII entra em vigência a teoria da balança comercial, que enxerga


a economia do país como um elemento homogêneo, onde todas as transações
realizadas dentro de suas fronteiras tem um saldo final igual à zero. Mas, quando se
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trata do comércio internacional esse cálculo sofre uma mudança. É importante que
os países exportem mais mercadorias do que importem, para que obtenham um
resultado positivo, ou seja, para que se gerem mais riquezas para o país. A balança
possui três estágios: ativo (quando se vende mais do que se compra), passivo
(quando se compra mais do que se vende) e neutro (quando há igualdade entre as
transações).

Com o declínio do ciclo do ouro no século XVIII, o metalismo perde força e o


comércio e a produção para a riqueza do Estado ganha força no cenário
mercantilista. No cenário francês o movimento colbertista ganha força, a medida era
baseada na teoria da balança comercial e no protecionismo econômico. Países
como a Inglaterra e a Holanda também adotam ao colbertismo, mas os ideais
protecionistas elevou o nível da rivalidade entre os países e possibilitou a crise
agrária e a miséria camponesa.

Nesse cenário Político e econômico do século XVIII a Inglaterra se destaca


dos demais países, esse local de destaque se dá por uma série de fatores:

1. A colônia inglesa na América (EUA) não possuía fontes de extração de


metais preciosos, logo, a Inglaterra não pode entrar na corrida
metalista.
2. O país foca na produção agrícola de algodão, incremento na indústria
manufatureira, criação de equipamentos de ferro movido a carvão.
3. Diferentemente dos outros países, a Inglaterra já possuía um Estado
unificado e consolidado desde meados do século XVIII.
4. Visão diferenciada da balança econômica, ao invés de ser um
programa binário, os pensadores ingleses conseguiam ver que havia
três ou mais fatos que influenciavam o resultado final.

Como não pode participar do movimento metalista, a Inglaterra passou


a investir na sua industrialização produzindo roupas em grande escala a partir
da extração de algodão da sua colônia. Por possuir uma sociedade
estruturada antes dos demais, a relação entre o Estado e a burguesia era
diferente das demais localidades, na “terra da rainha” os burgueses possuíam
uma maior autonomia para decidirem a forma como dirigiriam seus negócios.
Com a instauração da crise no fim do século XVIII, a Inglaterra passa a ser a
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mais nova potência mundial ao vender seu modo de produção aos demais.
Todos esses fatores são início ao capitalismo liberal.

Com a busca incansável por acumulo de riquezas e produção de


artigos de luxo, a agricultura que anteriormente era o carro chefe dessa
sociedade passa a ser posta em segundo plano. O plantio agora possui dois
perfis: a para subsistência e a comercial. A primeira servia para garantir o
básico a população e a primeira era desejável, pois garantia as matérias-
primas para as manufaturas presentes no próprio pais e em alguns casos se
tornava produto de exportação.

O mercantilismo é um sistema populacionista, ou seja: incentivava o


crescimento da taxa de natalidade, pois uma grande população é uma riqueza
para o Estado. Estimulava-se que essa população possuísse ocupações e
trabalhassem nas indústrias manufatureiras e o ócio era visto e tratado, em
alguns casos, de maneira violenta a partir dos aparelhos repressivos do
Estado. Mas, também se fazia distinção entre aqueles que não queriam
trabalhar e os que não possuíam onde trabalhar. Buscava-se ter a maior parte
da população empregada a fim de elevar-se a riqueza produzida.

O pacto colonial garantia que todo e qualquer material extraído na


colônia seria de uso exclusivo da metrópole, sendo assim, a colônia existia
em função da metrópole. As atividades econômicas exercidas na colônia não
deveriam ultrapassar as da metrópole, para que não houvesse concorrência.
A produção na colônia só é válida na medida em que possibilita grandes
lucros aos comerciantes metropolitanos. A proibição de instalação de
atividades manufaturadas na colônia garantia o espírito do comércio
mercantilista: comprar mais barato e vender mais caro. Se as colônias
passassem a ser autossuficientes além do desvio de funcionários haveria
também a diminuição do lucro metropolitano. Até o século XVIII a vinda de
colonos saídos da metrópole não era incentivada, pois significaria perda de
mão de obra e produtividade. Somente neste século houve uma mudança,
pois se percebeu que: a) haveria um novo nicho de consumidores. B)
diminuição de homens ociosos na metrópole.
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Apesar de ter compreendido um período curto dentro da historiografia e


não possuir um conjunto de ideias próprias, o mercantilismo foi importante
para gerar a imagem características de alguns países como a França,
reconhecida até a contemporaneidade por seus artigos de luxo ou a Inglaterra
e a indústria. O sistema mercantil foi a ponte entre o encerramento do
pensamento escolástico medieval e a instauração do capitalismo moderno.

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