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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

Departamento de Educação – Campus X – Teixeira de Freitas Colegiado do


Curso de História
Docente: Jonathan Molar
Discente: Ana Carolina Barreto Braz

Componente Curricular: Europa Moderna I

BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos: O caráter sobrenatural do poder


régio França e Inglaterra. 1ª reimpressão. Companhia das Letras.

Nota de Leitura nº 4: Os reis taumaturgos.

A escolha do líder político associada à intervenção divina não é um fator novo


ou que cause estranheza na historiografia, civilizações como os Incas e Maias
na América ou a figura do Faraó no Egito Antigo são representações clássicas
desses personagens.

No continente europeu por volta dos séculos IX e X, ainda no período da Idade


Média, tornou-se comum à unção régia, onde o Papa, líder da Igreja Católica
no momento da coroação traçava uma cruz sobre a testa do monarca. Tal ato
legitimava o rei como escolhido de Deus para governar aquela nação. Essa
prática se fortaleceu durante o período da Idade Moderna.

Com a instituição da unção régia, a realeza passou a desempenhar muito além


do que o papel administrativo passou a ser vista como uma representação do
divino na terra. Portanto, as esferas políticas e religiosas não se separavam. A
figura do rei passou a ser dualística: homem por natureza, Deus pela graça
transmitida através da unção.

A sacralidade na figura do rei possibilitou também o surgimento dos reis


taumaturgos, aqueles cuja manifestação do divino era tão forte que poderiam
curar doenças apenas com um toque na cabeça do enfermo. Em um primeiro
momento os monarcas poderiam curar somente escrófulas, uma doença
linfática que causa a erupção de bolhas de sangue na pele. Em seguida
passaram a curar uma infinidade de doenças.

A fama medicinal desses monarcas atingiu proporções inimagináveis, diversos


súditos visitavam diariamente as residências reais em busca da cura. A
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ocupação medicinal passou a ocupar boa parte do tempo desses monarcas


que acabavam por deixar a administração de seu reino em segundo plano,
para contornar tal situação, eram distribuídos panfletos com a imagem do rei e
uma oração a aqueles que necessitavam da cura.

Para além da atuação como líder político e agente curativo, a imagem do rei
passou a ser associada também a produtividade no campo. Se fosse um ano
de boas colheitas, o responsável era o monarca. A crença em tais atos
sobrenaturais era tanta que até após a morte o monarca continuaria atuando
em prol da população. O soberano norueguês Halfdan teve seu corpo dividido
em quatro partes após a morte e cada fragmento foi enterrado em locais
distintos do reino, garantindo, de certa forma, a mesma produtividade que
garantiu em vida.

Mas, apesar de toda a glória obtida através da representatividade divina, os


reis também eram extremamente cobrados por todas as catástrofes naturais ou
sociais que pudessem acontecer naquela localidade. Se as aspirações sociais
não fossem atendidas, o monarca poderia ser deposto.

Antes de se tornarem uma entidade religiosa, os reis taumaturgos eram entes


políticos. Os monarcas absolutistas da Idade Média precisavam dialogar com
todos os membros da sociedade para conquistarem a legitimidade e
governabilidade. Assim como estabeleceram acordos com a nobreza e a
burguesia, os reis precisavam dialogar também com o clero. Em troca da
legitimação papal, o rei doa terras, proporciona proteção real e paga tributos ao
sucessor do apóstolo Pedro.

Vale ressaltar que em todos os líderes políticos desse período eram


taumaturgos, ou seja, nem todos detinham os poderes sobrenaturais de curar a
população. Alguns eram apenas ungidos, ou seja, era apenas a representação
do divino na terra.

Na França e na Inglaterra os poderes medicinais foram atribuídos ao monarca,


nenhum dos membros da linhagem possuía poder curativo, os poderes
milagrosos concentravam-se em uma única pessoa. Os poderes taumatúrgicos
não ficaram restritos apenas aos monarcas europeus, os líderes mulçumanos e
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toda sua linhagem no inicio do islamismo também foram considerados líderes


com poderes curativos.

Não se sabe ao certo em que momento as ideias taumatúrgicas começaram a


ser difundidas, fontes apontam que o primeiro líder com atribuições médicas foi
o líder francês Roberto II e que cerca de 69 anos após sua morte o líder
Henrique Beauclerc iniciou o rito na Inglaterra. O rito iniciado ainda na Idade
Média e que se estendeu até o estado moderno possibilitou o jogo político e
assegurou a governabilidade dos monarcas absolutistas da época.

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