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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE DIREITO

VIVIANNE MACEDO COSTA DE ARAÚJO

A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL


VERSUS
DIREITO DE PROPRIEDADE

São Luís – MA
2008
VIVIANNE MACEDO COSTA DE ARAÚJO

A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL


VERSUS
DIREITO DE PROPRIEDADE

Monografia destinada à Conclusão do Curso de


Direito da Universidade Federal do Maranhão,
apresentada como requisito para a obtenção do grau
de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Barbosa Ramos

São Luís – MA
2008
VIVIANNE MACEDO COSTA DE ARAÚJO

A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL


VERSUS
DIREITO DE PROPRIEDADE

Monografia destinada à Conclusão do Curso de


Direito da Universidade Federal do Maranhão,
apresentada como requisito para a obtenção do grau
de Bacharel em Direito.

Aprovada em ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Barbosa Ramos (Orientador)
Universidade Federal do Maranhão

_____________________________________
Prof. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Universidade Federal do Maranhão

_____________________________________
Prof. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Universidade Federal do Maranhão
A meus pais, irmãos, meu
filho Luís Leno e Leuda,
minha avó.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que me mostra no momento certo o caminho a seguir e as


pessoas certas ao meu alcance: Paulo Roberto Barbosa Ramos, o meu orientador; Edith Maria
Barbosa Ramos, minha tutora do PET (Programa de Educação Tutorial em Direito); aos
professores Alex Oliveira, de arquitetura da UEMA e Alex Correa, antropólogo da UFMA; à
FUMPH; ao DPHAP; ao IPHAN); aos meus pais, e irmãos; ao meu filho, meu estímulo; aos
meus tios Costa Júnior, Luísa Helena, Antônio Pereira Costa, Lilá, Geraldo, meus padrinhos
Paulinho, Teca e Dirce e minha prima Bianca; à Solange Antonioletti; a todos aqueles que
colaboraram e torceram por mim, como os amigos que conquistei na UFMA: Petianos (Paula
Regina, Dani, Tiago, Saulo, Letícia, Igor, Thiago Álisson, Victor, Maíra, Guina, Aline,
Amanda, André, João Gama, Eduardo, Márcia, Willana, João Paulo, Alex e Elaine); Danielle
Silva (Psicologia) e Maria Augusta (Ciências Sociais) e os colegas de turma, em especial,
Soraya; Siqueira Júnior; Raymmond; Sadoquen; Pedro; Cadu; Inaldo; Márcia Morane; Rafael
Rocha; e a todos os professores de Direito da UFMA (Campus I e II), por quem tive o
privilégio de adquirir preciosos conhecimentos.
“O que nos rege não é o passado literal, salvo possivelmente
num sentido biológico. O que nos rege são as imagens do
passado, as quais frequentemente estão em alto grau
estruturadas e são muito seletivas, como os mitos. Essas
imagens e construções simbólicas do passado estão impressas
em nossa sensibilidade, quase da mesma maneira que a
informação genética”.

George Steiner
RESUMO

Reconhecido como Patrimônio Mundial em 1997 pela UNESCO, o Centro-Histórico de São


Luís – MA passa a adquirir tutela internacional e a fazer parte da política estratégia de
desenvolvimento social. Necessária se faz, portanto, a análise jurídica do sistema protetivo
nacional do patrimônio cultural, principalmente, o instituto do tombamento e seus reflexos na
política preservacionista local, através de uma releitura do significado do termo patrimônio
sob o princípio da função social da propriedade. Enfatiza-se a participação ativa da
comunidade, tanto na salvaguarda dos bens portadores de memórias e marcos civilizatórios,
como nas escolhas dos bens a serem tutelados pelo Estado, principalmente através do Poder
Público Municipal. Evidencia a importância da atuação solidária dos poderes públicos, na
busca da legítima formação da identidade cultural, pautados em ações visando à reconstrução
criativa do patrimônio como bem coletivo.

Palavras-Chave: Patrimônio Cultural. Preservação. Propriedade


RESUMÈ

Reconnu comme patrimoine mondial par l'UNESCO en 1997, le Center-Histoire de Saint-


Louis - MA passe-t-il d'acquérir une protection internationale et de faire partie de la stratégie
politique de développement social. Est donc nécessaire de l'analyze juridique du système de
protection du patrimoine culturel national, en particulier le renversement de l'institut et de ses
effets sur la politique locale, à travers une relecture de la signification de la notion de
patrimoine en vertu du principe de fonction biens sociaux. Nous soulignons la participation
active de la communauté, tant dans la protection de la propriété des titulaires de souvenirs et
d'étapes civilization, comme dans la sélection des marchandises à être protégés par l'État,
principalement par le biais des municipalités de la puissance publique. Il souligne
l'importance d'une action conjointe par les autorités publiques, dans la poursuite légitime de la
formation de l'identité culturelle, doublée dans les actions visant à la reconstruction de la
créativité collective et du patrimoine.

Mots clés: Le patrimoine culturel. Préservation. Propriété


SUMÁRIO
LISTA DE SIGLA
LISTAS DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO
2 O ESTADO E O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DA
HUMANIDADE
2.1 Fundamentos do Processo de Preservação do Patrimônio Cultural Material
2.1.1 Documentos Internacionais
2.1.2 A Proteção Internacional dos Bens Culturais Imóveis
2.2 Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural
2.2.1 Procedimentos para Inscrição do Bem na Lista do Patrimônio Cultural e Natural
Mundial
2.2.2 Fundo para o Patrimônio Cultural e Natural Mundial
2.3 A Proteção do Patrimônio Cultural como Direito Fundamental no
Ordenamento Jurídico Brasileiro
2.3.1 Natureza Jurídica do Patrimônio Cultural
2.3.2 Competência sobre o Patrimônio Cultural
2.4 O Título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade
2.4.1 O Processo Histórico de Decadência da Área Central de São Luis
2.4.2 As Políticas Públicas de Proteção ao Centro-Histórico de São Luís
2.4.3 As Ações de Proteção Promovidas pelos Particulares

3 O TOMBAMENTO E O DIREITO DE PROPRIEDADE


3.1 O Processo de Tombamento e seus Efeitos
3.2 A Intervenção do Poder Público para Garantia da Função Socioambiental da
Propriedade

4 O DIREITO DIFUSO EM FUNÇÃO DA SALVAGUARDA DO BEM


COLETIVO
4.1 Distinção entre os Bens Públicos e os Bens Difusos
4.2 Instrumentos Legítimos para Defesa do Patrimônio Ambiental Cultural
4.2.1 Instrumentos Administrativos
4.2.2 Instrumentos Judiciais
4.2.2.1 Ação popular constitucional
4.2.2.2 Ação Civil Pública
4.2.2.3 Ação penal pública

5 CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

LISTA DE SIGLA
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
CF – Constituição Federal
CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
CNRC – Centro Nacional de Referência Cultural
CONSEC – Conselho Estadual de Cultura
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
DPHAN – Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
DPHAP/MA – Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico da Secretaria
de Estado da Cultura do Maranhão
FUNC – Fundação Municipal de Cultura
FUNC/MA – Fundação Cultural do Maranhão
FUMPH – Fundação Municipal de Patrimônio Histórico
ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos e Sítios.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
NCC – Novo Código Civil
OEA – Organização dos Estados Americanos
ONU – Organização das Nações Unidas
PCH – Programa de Cidades Históricas
PRODETUR – Programa de Desenvolvimento do Turismo
SEBRAE – Serviço de Apoio às Pequenas e Microempresas
SEMCAS – Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social
SEMURH – Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação
SHU – Sítio Histórico Urbano
SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente
UEMA – Universidade Estadual do Maranhão
UFMA – Universidade Federal do Maranhão
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciências e a Cultura
VH – Virtual Heritage

LISTA QUADROS
Quadro 1 – Quadro de Cartas Patrimoniais
Quadro 2 – Reflexos nos Documentos Relativos ao Compromisso de Proteção ao Patrimônio
Histórico - Cultural do Brasil
Quadro 3 – Leis Municipais Referentes à Salvaguarda do Patrimônio Cultural
Quadro 4 - Programas de Restauração da Secretaria de Estado da Cultura - 2004/2007
Quadro 5 - Programas de Difusão da Cultura da Secretaria de Estado da Cultura - 2004/2007

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho intitulado “A Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural
versus Direito de Propriedade” deve-se a uma conjugação de interesses e esforços no ensino e
aprendizagem da autora deste trabalho em conjunto com seu orientador do Curso de Direito
da Universidade Federal do Maranhão, realizado no período de maio a novembro de 2008.
O motivo da escolha do tema se deve ao fato da atual conjuntura de preservação do
Centro-Histórico em São Luís - MA, diante das inúmeras ocorrências de destruição dos
casarões, vislumbrando possível perda do título Patrimônio Mundial da Humanidade.
Pretende-se com o respectivo estudo respaldar argumentos para o fortalecimento
teórico da preservação do maior acervo arquitetônico da América Latina. Tomado como
objeto de estudo a construção e desconstrução de novas fronteiras do conceito de propriedade
no âmbito do Direito Ambiental, especificamente, do Direito Difuso. Para tal intento, foram
buscados critérios adotados na categoria jurídica, acionados precipuamente nas práticas de
preservação do Centro-Histórico.
A investigação desse problema só se faz possível na análise simultânea de
doutrinas, legislações e práticas acolhidas no âmbito administrativo (extrajurídico) e jurídico
em defesa do patrimônio arquitetônico dos séculos XVIII, XIX e XX que perfazem o bem
cultural da humanidade.
Foram utilizados como fontes, observações diretas, levantamentos e revisões
bibliográficas, legislativas, jurisprudências e questionários aplicados aos moradores e
empresários do Centro-Histórico de São Luís.
O termo preservação está empregado no seu sentido mais amplo, significando um
conjunto de atos destinados a garantir a permanência do valor simbólico do bem cultural. A
preservação busca a permanência dos bens de interesse da coletividade, ou seja, os bens aos
quais se atribui valor (significado cultural). Entende-se que o bem está preservado se
continuar evocando a história, a cultura e a memória de um determinado grupo social para
seus contemporâneos num determinado lugar ou região.
Vivemos um momento nos quais todos os dogmas jurídicos criados em torno do
patrimônio começa a ser questionado. As questões de direitos coletivos e difusos estão pondo
em xeque o direito reducionista, ou seja, através da limitação dos problemas ao indivíduo.
Destarte, toda relação jurídica e toda relação que é do indivíduo tem como
conseqüência um objeto que é a propriedade. Este objeto e este sujeito que são individuados,
para serem cobertos pela legislação e para que tenham relevância jurídica, tem que serem
definidos, individuados e se não consegue individuar não se chega ao conceito de bem
jurídico.
Foi possível para o sistema jurídico assimilar coisas como os bens culturais – e os
assimila aos bens ambientais naturais. O direito brasileiro conseguiu mais uma vez relacionar
isso com um sujeito de direito coletivo, criando a figura do direito difuso. Surge também o
conceito de patrimônio – também pouco concreto e individuado. Para o Direito, o Patrimônio
é a soma dos bens e dos direitos desse indivíduo (soma das propriedades). Este indivíduo
pode até ser uma coletividade de indivíduos que forma outro indivíduo, como a sociedade
anônima ou o Estado. São sempre indivíduos ficcionados, porém individuados.
A Constituição brasileira é a que mais avançou nesse aspecto, porque criou o
Direito Intangível. Desde 1937, quando foi criada a Lei do Tombamento (Dreto-Lei n.º 25),
passou-se a admitir que era possível, dentro do Direito, preservar os bens culturais. A
Constituição de 1988 diz que os bens intangíveis serão protegidos entre os quais estão: a
biodiversidade, a sócio – diversidade (cultura) e o meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
No primeiro capítulo é feita a análise do processo de formação da fundamentação
da preservação do patrimônio histórico-cultural e sua estrutura político-jurídica. No segundo,
é destacado o instituto do tombamento, como principal vetor de medida protetiva do Poder
Público ao mesmo tempo que limita o direito de propriedade, delimitando, assim, o problema
da concepção jurídica de propriedade e da função social.
Por fim são feitas as considerações a respeito da salvaguarda do patrimônio
histórico-cultural, como defesa dos interesses difusos, através de seus instrumentos legítimos.

2 O ESTADO E O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DA HUMANIDADE


2.1 Fundamentos do Processo de Preservação do Patrimônio Cultural Material

A cultura, no amplo conceito antropológico, é o elemento identificador das


sociedades e engloba tanto a língua na qual o povo se comunica como a forma que prepara
seus alimentos, o modo como se veste e as edificações que lhe servem de morada, como suas
crenças, sua religião, o saber e o saber fazer as coisas, seu direito etc.
A cultura – palavra e conceito – é de origem romana. A palavra se origina de
colere – cultivar, habitar, tomar conta, criar e preservar – e relaciona-se essencialmente com o
trato do homem com a natureza, no sentido do tamanho e da preservação da natureza até que
ela se torne adequada à habitação humana. Como tal, a palavra indica uma atitude de cuidado
e se coloca em aguda oposição a todo esforço de sujeitar a natureza à dominação do homem.
Em decorrência, não se aplica apenas ao tamanho do solo, mas pode designar,
outrossim, o “culto” aos deuses, o cuidado com aquilo que lhes pertence. Cícero quem
primeiro usou a palavra para questões do espírito e da alma. Ele fala de excolere animum,
cultivar o espírito, e de cultura animi no mesmo sentido em que falamos ainda hoje de um
espírito cultivado, só que não mais estamos cônscios do pleno conteúdo metafórico de tal
emprego1.
No que concerne ao emprego romano, o ponto essencial era sempre a conexão da
cultura com a natureza; cultura significava, originalmente, a agricultura, tida em alta conta em
Roma em oposição às artes poéticas e de fabrico2. Mesmo a cultura animi de Cícero,
resultado da educação em Filosofia e, portanto talvez, como se tem sugerido, cunhada para
traduzir o grego paidéia3, significava o oposto de ser um fabricante ou criador de obras de
arte.
Foi em meio a um povo basicamente agricultor que o conceito de cultura surgiu
pela primeira vez, e as conotações artísticas que poderiam ter tido conexão com essa cultura
diziam respeito ao relacionamento com a natureza, à criação da famosa paisagem italiana.
O significado da palavra “cultura”, porém, dificilmente é esgotado por esses
elementos estritamente romanos. Mesmo a cultura animi de Cícero sugere alguma coisa como
gosto e, de maneira geral, sensibilidade à beleza, mas não naqueles que fabricam coisas belas,
isto é, os artistas mesmos, e sim nos espectadores, os que se movem entre elas.

1
Cícero em suas Tusculanas, I, 13, diz explicitamente que a mente assemelha-se a um terreno que não pode ser
produtivo sem cultivo adequado – declarando a seguir: Cultura autem animi philosophia est, apud ARENDT,
Hannah. Entre o passado e o futuro. Coleção Debates. Trad. Mauro W. Barbosa. [S.l]: Perspectiva p. 265.
2
Segundo os romanos, a arte deveria surgir tão naturalmente como o campo; devia tender para a natureza. In:
ARENDT, op.cit. p. 266.
3
Por Werner Jaeger, em Antike, Berlim, 1928, vol. IV, apud ARENDT, op.cit., p. 265.
Nesse sentido, compreendemos por cultura o modo de relacionamento prescrito
pelas civilizações com respeito as menos úteis e mais mundanas das coisas, as obras de
artistas, poetas, músicos, filósofos e daí por diante.
O humanismo, assim como a cultura, é de origem romana; ainda uma vez, não há
em língua grega nenhuma palavra correspondente ao Latim humanitas 4.
A humanitas romana aplicava-se a homens livres sob todos os aspectos, e para
quem a questão da liberdade, de ser livre de coerção, era a decisiva – mesmo na Filosofia,
mesmo nas Ciências, mesmo nas Artes. Diz Cícero: No que concerne à minha associação com
homens e coisas, recuso-me a ser coagido, ainda que pela verdade e pela beleza 5.
Esse humanismo é o resultado da cultura animi, de uma atitude que sabe como
preservar, admirar e cuidar das coisas do mundo. Ele tem, como tal, a tarefa de servir de
árbitro e mediador entre as atividades puramente políticas e puramente fabris, que se opõem
uma às outras de um sem-número de modos. Enquanto humanistas, podemos nos elevar acima
desses conflitos entre o político e o artista, do mesmo modo como podemos elevar em
liberdade acima das especialidades que todos aprendemos e exercemos.
É impossível negar ter sido no Século das Luzes o período de florescimento e de
desenvolvimento da idéia de preservação dos bens culturais 6. Essa assertiva se prende a duas
justificativas de diferentes impactos na constituição de uma conclusão histórica, primeiro, de
que a preservação dos bens culturais está em muito associada à conservação do patrimônio de
seus proprietários; segundo, a par da revolução burguesa, a construção da idéia de patrimônio
cultural está associada à figura do Estado-nação.

4
Para a história da palavra e do conceito, ver Jodeph Niedermann, Kultur – Werden und Wandlungen des
Begriffes und seiner Ersatzbergriffe von Cícero bis Herder, em Biblioteca dell’ Archivum Romanum, Florença,
1941, vol. 28; Rudolf Pfeiffer, Humanitas Erasmiana, Studien der Bibliothek Warburg, n.º 22, 1931, e
“Nachtraegliches zu Humanitas” em Kleine Schriften, de Richard Harder, Munique, 1960. O vocábulo foi
empregado para traduzir o grego philantropía, termo utilizado originariamente para deuses e governantes e,
portanto, com conotações inteiramente diversas. Humanitas, como Cícero a compreendia, relacionava-se
intimamente com a antiga virtude romana de clementia e, como tal, mantinha certa oposição como o romano
gravitas. Era, decerto, a marca do homem educado, porém, o que é importante em nosso contexto, segundo se
admitia era o estudo da Arte e da Literatura, mais que o da Filosofia, que deveria resultar em “humanidade”
(ARENDT, op.cit., p. 279).
5
Cícero fala com inspiração similar em De Legibus, 3, 1: Louva Atiço, cuius et vita et oratio consecuta mihi
videtur difficillimam illam societatem gravitatis cum humanitate – “cuja vida e fala a mim parecem ter atingido
essa dificílima combinação de gravidade com humanidade” – pelo que, como Harder observa, a gravidade de
Ático consiste em aderir com dignidade à filososfia de Epicuro, ao passo que sua humanidade é revelada por sua
reverência por Platão, o que prova sua liberdade interna. (ibid).
6
Relata Teixeira, que na Idade das Luzes cresce a idéia de que tudo o que não era armado deveria ser poupado
dos ataques bélicos. Com o advento da Revolução Francesa desencadeou diversos movimentos em torno da
questão patrimonial. (apud FREITAS, 2007, p.52)
Na visão de Choay (2001, p. 97), a obra de proteção do patrimônio francês iniciada
pela Revolução7 merece destaque, quer pelo pioneirismo, já que antecipou documentos e
instrumentos que posteriormente viriam a ser utilizados para proteger o patrimônio, quer pelo
caráter diacrônico. Se, de um lado, houve a transferência dos bens do clero, da Coroa e dos
emigrados para a Nação, enriquecendo o patrimônio nacional e sujeitando-o a políticas
conservacionistas, de outro, houve a destruição ideológica de uma parte desses bens, a partir
de 1792, particularmente sob o Terror e governo do Comitê de Salvação Pública. Um dos
primeiros atos da Constituinte de 02.10.1789 foi o de colocar os bens do clero “à disposição
da Nação”. Logo em seguida, vieram os dos emigrados e, por fim, os da Coroa. Essa
megaoperação de transferência de dominialidades representou, de um lado, a ampliação na
fruição coletiva desses bens, mas, de outro, gerou, problemas até então não vivenciados pelo
novo governo francês. O momento sem precedentes acabou por forjar uma das primeiras
políticas conservacionistas8.
As preocupações sistemáticas com a questão da cultura começaram a surgir no
século XVIII na Alemanha, segundo Santos (1994, p. 23-26), pelo fato de ela estar dividida
em várias unidades políticas, assim, a discussão acerca da cultura objetivava inserir a idéia de
unidade cultural que servia para estabelecer um plano objetivo de unidade política.
Um momento histórico foi fundamental por ter catalisado um novo conceito de
solidariedade cultural em escala mundial que hoje chamamos de patrimônio da humanidade –

7
Esse movimento de destruição suscitou uma reação de defesa imediata que objetivou não apenas conservar as
igrejas medievais, “mas em sua riqueza e diversidade, a totalidade do patrimônio nacional” (CHOAY,
Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001, p.97, apud FREITAS, Vladimir Passos de.
(coord.). Direito ambiental em evolução. n.º 4. Curitiba: Juruá, 2007. p. 52.
8
Com a necessidade de decidir, em regime de urgência e de forma a preservar o interesse coletivo, o destino de
um patrimônio assaz heterogêneo significava um problema a mais para o Governo Revolucionário, que acabou
por optar, muitas das vezes, pela venda de alguns bens a particulares, a fim de equilibrar as finanças públicas. A
Assembléia Legislativa “não apenas decretou a fundição das pratarias e dos relicários, mas também mandou
transformar em peças de artilharia as armações de telhado de chumbo ou de bronze das catedrais (Amiens,
Beauvais, Chartres, Estraburgo), de basílicas (Saint-Denis) e de igrejas (Saint-Gervais, Saint-Suplice, Saint-
Louis-des-Invalides em Paris)”. Do decreto determinando a fundição, sobrevém um documento contendo
instruções abrindo exceções à política de destruição. Nele constam critérios para motivar a conservação de bens
condenados. Na trilha desbravada por Choay, a qual o mesmo aparelho que orientou no sentido de uma
preservação parcial, proferiu ordens de eliminação de monumentos associados ao feudalismo, numa franca
campanha de destruição ideológica. Esses monumentos que simbolizavam “poderes e valores execrados,
encarnados pelo clero, pela monarquia e pelos senhores feudais” deveriam ser destruídos, na visão dos
revolucionários, por remeterem a uma ordem finda fundada, dentre outros símbolos, na superstição. Por essa
razão, a “destruição ideológica feita pela Revolução é iconoclasta”. Superando o momento inicial de
vandalismo empregado como forma utópica de apagar o passado, os pensadores da revolução se renderam à
necessidade de preservação. Um grupo liderado por Félix Vicq d’ Azyr, Armand Guy Kersaint e Gilbert Romme
(membros do Comitê d’ Instruction Publique) empreenderam esforços para construir um tecido semântico
tramado com fragmentos do passado e do presente como forma de testemunho histórico sobre a conquista da
liberdade. (CHOAY, 2001, p.107-109, apud FREITAS, 2007. p.53).
a salvação dos templos de Abu Simbel 9 no Egito, entre 1964 a 1968 – a lista Unesco dos
Sítios do Patrimônio Mundial começou com Abu Simbel. Esses templos foram objeto da
maior operação de salvamento de monumentos de que se tem notícia, ameaçados de
submersão pelas águas da recém-construída represa de Assuan, eles foram inteiramente
desmontados e remontados num local 60 metros mais alto e cerca de 200 metros distantes da
falésia de arenito onde tinham sido originalmente construídos há mais de três mil anos 10.

2.1.1 Documentos Internacionais

Antes da Convenção de 1972, foi convocada pelos Países Baixos, a Conferência


Geral da UNESCO que se reuniu em Haia (21.04 a 14.05.1954) e adotou a Convenção
conhecida como Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado,
da qual o Brasil é signatário desde 12.09.1958.
Em seu artigo 8º, criou um registro internacional de bens culturais sob especial
proteção e proveu a identificação de refúgios destinados a abrigá-los em caso de conflito
armado, além de determinar a sinalização de centros monumentais e outros bens culturais
imóveis de alta significação.
A propósito do comércio de bens culturais, a UNESCO em 1964 aprovou uma
Recomendação sobre Medidas para Proibir a “Exportação, Importação e Transferência de
Propriedade Ilícitas” de bens culturais e a transformou em Convenção em 1970 (ratificada
pelo Brasil pelo Decreto 72.312, de 31.05.1973)11.
9
Construídos em torno de 1257 a.C durante apogeu do Egito, sob as ordens do faraó Ramsés II, às margens do
Nilo, numa região considerada sagrada – Assuan – distante cerca de 850 km do Cairo, fronteira com a Núbia. O
faraó dedicou o maior deles a si mesmo, aos deuses solares Amon-Rá e Rá-Horakte e a Ptah, deus do mundo
subterrâneo. O outro templo foi dedicado a Nefertari, a esposa de Ramsés e consagrado a Hathor, deusa lunar.
Ambos os templos – conhecidos como “complexo templário de Abu Simbel” – constituem uma das maravilhas
do mundo antigo. A fachada do templo de Ramsés, esculpida na rocha, tem cerca de 30 m de altura e 35 de
largura. As quatro estátuas colossais de Ramsés II têm cerca de 21 m de altura. Junto às pernas dos colossos
existem algumas estátuas menores, em posição ereta e que representam a rainha Nefertari e príncipes e princesas
da casa real. Acima do portal de ingresso do grande templo, em posição central, há uma imagem do deus Rá (o
Sol) com cabeça de falcão. O templo menor, de Nefertari, também esculpido na rocha de um promontório
situado ao norte do templo maior. As estátuas da fachada têm cerca de 10 metros de altura e representam Ramsés
II e Nefertari na sua forma divinizada ( a rainha aparece como uma emanação da deusa Hathor). Contrariamente
a todas as convenções da estatuária real egípcia, essas estátuas de Nefertari possuem as mesmas dimensões das
do faraó, e isso testemunha o grande prestígio e importância da soberana. In: PELLEGRINI, Luis. Abu Simbel:
os templos salvo das águas, apud REVISTA PLANETA. Ano 32. nº. 395. São Paulo: Três, p. 48
10
Cinco empresas – duas egípcias, uma alemã, uma italiana e uma francesa –colaboraram para realizar tal
empreendimento sob tutela da Unesco e do governo egípcio, além da colaboração de outros países e de
organizações internacionais. A campanha foi fundamental para a consolidação do conceito de “patrimônio
mundial”, difundindo em todo o mundo a idéia de que a responsabilidade pela preservação dos grandes
monumentos – os tesouros do patrimônio mundial – não toca apenas aos países onde eles se situam, mas sim a
todos os povos da Terra, sem exceção. (PELLEGRINI, Luis. Op. cit., p. 42-51.
11
No artigo 1º da convenção, conceitua e descreve Bem Cultural: significa quaisquer bens que, por motivos
religiosos ou profanos, tenham sido expressamente designados por cada Estado como de importância para a
Podemos observar que nada é bem cultural se não for expressamente designado
por cada Estado. Sendo assim, prevalece sempre a vontade do Estado expressa nos seus atos e
leis nacionais. Em 1964, quando da Recomendação sobre o tema serviu de base para a
Convenção de 1970, a definição era difusa e apenas designava como bens culturais os móveis
e imóveis – e dizia expressamente – de grande importância para o patrimônio cultual de cada
país. Aquela Recomendação abria ao Estado-Parte uma possibilidade maior de definir o seu
próprio patrimônio cultural: “cada Estado Miembro deberia adoptar los criterios que juzgase
más adecuados para definir los bienes culturales que, encontrándose em su território, hayan
de gozar de la gran importância que presentan” (SOUZA FILHO, 2006, p. 134).
O cotejo entre a Recomendação e a Convenção nos leva a crer que a Conferência
da UNESCO entendeu que deveria limitar a possibilidade de cada Estado criar tantos e
quaisquer bens culturais apesar da amplitude das categorias citadas. A intenção da Convenção
é coibir o tráfico de bens culturais havidos ou importados por meios ilegais, se fazia
necessária a definição do que é nacional, posto que ainda há discussão sobre a nacionalidade
de bens culturais que pertenciam a um país e que, por qualquer forma, hoje pertençam a outro.
Segundo Silva (2003, p.24-25), a doutrina classifica a proteção dos bens culturais
em: Tempos de Guerra e Tempos de Paz. Situam-se no primeiro grupo as convenções de
Haia, de 1899 e 1907, codificadoras dos costumes de guerra, cujos dispositivos prescrevem
ações voltadas à proteção dos bens culturais em um quadro de hostilidades da guerra, e a
Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de conflito Armado (Convenção de
Haia de 1954), primeiro tratado de âmbito universal que se dedica exclusivamente à proteção
dos bens culturais em caso de guerra.
Em Tempos de Paz, situa-se a Convenção sobre as Medidas a Serem Adotadas
para Proibir e Impedir a Importação, Exportação e Transferência de Propriedade Ilícitas dos
Bens Culturais (Paris, 1970), a Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural (Paris, 1972), que disciplina a proteção dos bens culturais imóveis em
razão das “causas tradicionais de degradação” e dada a “evolução da vida social e
econômica”.

arqueologia, a pré-história, a história, a literatura, a arte ou a ciência, e que pertençam às seguintes categorias:
[...] (b) os bens relacionados com a história, inclusive a história da ciência e tecnologia, com a história militar e
social, com a vida dos grandes estadistas e com acontecimentos de importância nacional; (c) o produto de
escavações arqueológicas (tanto as autorizadas como as clandestinas) ou de descobertas arqueológicas; (d)
elementos procedentes do desmembramento de monumentos artísticos ou históricos e de lugares de interesses
arqueológicos; (e) antigüidade de mais de cem anos, tais como inscrições, moedas e selos gravados; [...] (k)
peças de mobília de mais de 100 anos e instrumentos musicais antigos. (Tradução oficial)
Segundo La Rosa (1991, p. 16-31), as normas internacionais também podem ser
classificadas segundo sua funcionalidade:
a) normas de conservação – objetivam manter a integridade física dos bens culturais, a
exemplo das Convenções de Haia, de 1899 e 1907, que estabelecem a obrigação de os Estados
beligerantes respeitarem os monumentos históricos o quanto possível, ou em Tempos de Paz,
na hipótese da Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, que
disciplina a proteção dos monumentos, conjuntos e lugares notáveis;
b) normas de restituição – disciplinam a devolução de bens culturais aos seus legítimos
titulares quando tomados ilicitamente, como o Protocolo Facultativo da Convenção de Haia
de 1954, que contém dispositivos que proíbem a exportação de bens culturais do território
ocupado, durante o conflito, dos bens ilicitamente exportados às autoridades competentes do
território anteriormente ocupado (a exemplo, a Convenção sobre as Medidas a Serem
Adotadas para Proibir e Impedir a Importação, Exportação e Transferência de Propriedade
Ilícitas dos Bens Culturais – de natureza mobiliária);
c) normas de retorno – dispõem sobre a recuperação de determinados bens culturais pelo país
de origem, em hipóteses nas quais não tenha havido afronta à legislação nacional protetora à
época da saída de tais bens – enquadram-se as reclamações perpetradas por ex-colônias
(asiáticas, africanas e americanas) em relação às suas antigas metrópoles.
Souza Filho (2006, p. 142) destaca os seguintes documentos internacionais:
- Acordo de Firenze (1950) – UNESCO – que pretendia ordenar as importações de objetos de
caráter educativo, científico e cultural;
- Recomendação sobre os meios mais eficazes tornar os museus acessíveis a todos –
UNESCO (verdadeiro manual de administração de Museus);
- Recomendação sobre a conservação dos bens culturais que a execução de obras públicas ou
privadas possa pôr em perigo – UNESCO (as recomendações são detalhadas para as cidades e
obras de expansão e renovação urbana. Ao final, torna-se uma espécie de proposta de
legislação urbanística);
- Carta de Veneza, aprovada pelo II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos
Monumentos Históricos, em 1964, promovido pela União Internacional dos Arquitetos –
expõe quando e em que casos deve haver restauração e propõe a documentação precisa,
analítica, crítica e por desenhos e fotográficos dos trabalhos de descoberta e restauração;
- Tratado de Cooperação Amazônica, Multilateral, entre os países da Bacia Amazônica (de
forma periférica trata da questão de preservação cultural, em especial das populações
amazônicas de corte indígena).
No Quadro 1 (Anexo) estão destacados os principais documentos que
influenciaram na proteção mundial do Patrimônio Cultural e os reflexos surgidos nos
documentos nacionais (ver Quadro 2).

2.1.2 A Proteção Internacional dos Bens Culturais Imóveis

Ao longo do século XX, a proteção internacional dos bens culturais imóveis


ocorreu em três níveis, segundo estudo de Silva (2003 p. 49-69):
– Direito Internacional Inter-Estatal – caracterizado pelas grandes conferências diplomáticas
convocadas para o debate de problemas globais e para a adoção de convenções multilaterais
(Convenções de Haia12 – 1899 e 1907, Convenção de Genebra de 194913 e os Protocolos
Adicionais I e II de 197714);
– Organizações Não-Governamentais – realizações de congressos internacionais de arquitetos
e restauradores que adotam diretrizes relacionadas à proteção dos bens culturais (Carta de
Atenas – 1933 e Carta de Veneza – 1964);
– Direito das Organizações Internacionais – instituição de convenções internacionais,
elaboradas e adotadas segundo procedimentos estabelecidos pelas organizações
internacionais, dentre as quais se destacam: União Pan-Americana (1890) – aprovada pela I
Conferência Internacional Americana em Washington, foi preparado o projeto de convenção
do Tratado para Proteção das Instituições Científicas e Artísticas e Monumentos Históricos,
ou Pacto Roerich (1935)15 e a UNESCO (1945) – criada na Conferência de Londres,
vinculada a ONU, cujo Tratado de Constituição lhe confere o objetivo de zelar “pela
conservação e proteção universal de livros, obras de arte e monumentos de interesse histórico
ou científico” e recomendar às “nações interessadas as convenções internacionais que sejam
necessárias para tal fim” (art. 1º, §2º, c do Tratado de Constituição). Destarte, tem início a
adoção de instrumentos jurídicos instituídos para a tutela internacional dos bens culturais, pois
as medidas jurídicas adotadas anteriormente tinham como objeto a proteção dos bens culturais
12
As Convenções de Haia são as primeiras convenções multilaterais codificadoras dos costumes globais
adotados para regular a conduta dos beligerantes.
13
A Convenção de Genebra Relativa à Proteção dos Civis em Tempo de Guerra (1949), artigo 53, proibia o
“Estado ocupante de destruir bens móveis e imóveis pertencentes individual ou coletivamente a pessoas
privadas, ao Estado, ou às coletividades públicas, às organizações sociais ou cooperativas”.
14
O Protocolo Adicional I de 1977, artigo 53, faz menção ao termo “bens culturais”: monumentos históricos,
obras de arte ou templos religiosos que “constituem a herança espiritual ou cultural dos povos não poderão ser
objeto de qualquer ato de hostilidade, nem usados em apoio do esforço militar. Regra similar é encontrada no
Protocolo Adicional II (art. 16 da Convenção de Genebra de 1949) relativo à proteção das vítimas em conflitos
não – internacionais.
15
O Pacto Roerich recebeu essa denominação em homenagem ao professor russo, Nicholas Roerich, que
idealizou o projeto do Tratado – primeiro tratado multilateral adotado para tratar exclusivamente da proteção dos
bens culturais.
imóveis apenas em tempos de guerra. A proteção internacional em tempos de paz, prevista
pelo Pacto Roerich, resumia-se ao campo programático, sem previsão dos meios a serem
empreendidos para assegurar uma proteção daquela natureza16.
Assim, a UNESCO fornecerá aos Estados que necessitem assistência internacional
no plano técnico, científico e financeiro, sendo neste último caso por meio do Fundo para o
Patrimônio Cultural e Natural Mundial. Todavia, sua manutenção não retira a
responsabilidade do Estado de proteger, conservar e valorizar os bens que integram a lista,
através de seus próprios recursos.

2.2 Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (1972)

Primeiro documento normativo internacional que reconhece e proclama a


existência de um “direito da humanidade”, tendo por objeto, por conseguinte, bens que
pertencem a todo gênero humano e não podem ser apropriados por ninguém em particular. Os
Estados em que tais bens se encontram são considerados como meros administradores
fiduciários, devendo informar e prestar contas, internacionalmente, sobre o estado em que se
encontram esses bens e sobre as providências tomadas para protegê-los contra o risco de
degradação natural ou social a que estão submetidos17.
A preservação daqueles bens deixa de ser um problema de economia doméstica,
para ser um compromisso internacional.
Palavras oficiais da UNESCO: “la Convenction a pour objet de créer um système
permettant à la communauté internacionale de participer activement à la protecion de biens du
patrimoine culturel et naturel qui ont une valoeur universelle exceptionelle.” (Bulletin
d’Information n.18, p.5, apud SOUZA FILHO, 2006, p.137)
16
Destacam-se as convenções, recomendações e campanhas internacionais promovidas pela ONU: Convenção
para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado – Convenção de Haia de 1954 e seus
Protocolos I (1954) e II (1999); Convenção sobre as Medidas a Serem Adotadas para Proibir e Impedir a
Importação, Exportação e Transferência de Propriedade Ilícitas dos Bens Culturais – Convenção de Paris, 1972;
Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, em Paris, 1972; Convenção Relativa
à Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático, 2001; Recomendações que define os princípios internacionais
que deverão aplicar-se às escavações arqueológicas – Conferência Geral, Nova Délhi, 1956; Recomendação
relativa à proteção da beleza e do caráter dos lugares e paisagens – Conferência Geral, Paris, 1962;
Recomendação sobre medidas encaminhadas para proibir e impedir a exportação, importação e transferência da
propriedade ilícitas dos bens cultuais – Conferência Geral, Paris, 1968; Recomendação concernente à
conservação dos bens culturais que a execução de obras públicas ou privadas pode pôr em perigo – Conferência
Geral, Paris, 1968; Recomendação sobre a proteção, em âmbito nacional, do patrimônio cultural e natural –
Conferência Geral, Paris, 1972; Recomendação relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na
vida contemporânea – Conferência Geral, Nairóbi, 1976; Campanha Internacional para Salvaguarda dos
Templos de Núbia (1960-1980); Campanhas Internacionais para Salvaguarda das cidades de Veneza e Florença,
Itália (1966).
17
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação dos direitos humanos. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva,
2004, p.379.
A definição do que se deve entender por “patrimônio cultural” da humanidade está
no artigo 1.
Artigo 1. Para os fins da presente Convenção serão considerados como “patrimônio
cultural”:
- os monumentos: obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura monumentais,
elementos ou estruturas de natureza arqueológica, inscrições, cavernas e grupos de
elementos, que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista da
história, da arte ou da ciência;
- os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas que, em virtude de sua
arquitetura, unidade ou integração na paisagem, tenham um valor universal
excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
- os lugares notáveis: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da
natureza, bem como as zonas, inclusive lugares arqueológicos, que tenham valor
universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou
antropológico.

Pode-se conferir que os bens protegidos são aqueles de excepcional valor


universal, ou seja, que tenham uma importância para a cultura universal.
Cada Estado Nacional tem a obrigação, contraída na própria convenção, de
identificar, proteger, conservar e reabilitar às gerações futuras o patrimônio cultural e natural
situado em seu território. O Estado se compromete a adotar uma política de proteção ao
patrimônio cultural e natural, assim como criar órgãos oficiais de proteção.
Porque o Estado Nacional tem a obrigação de identificar os bens culturais
integrantes do patrimônio da humanidade situados em seu território, a Convenção cria um
Comitê passivo, que não pode identificar a priori monumentos excepcionais, mas aguarda a
manifestação dos Estados. O Comitê denominado Comitê Intergovernamental de Proteção do
Patrimônio Cultural, tem a obrigação de organizar a Lista do Patrimônio Mundial, que nada
mais é do que a aprovação das listas e inventários feitos por cada Estado Nacional. A Lista do
Patrimônio Mundial é um registro, o instituto que identifica e garante a proteção. Dentro da
lista há outra, a dos bens em perigo, que reúne os bens culturais e naturais ameaçados por
riscos graves e precisos e cuja salvaguarda exige cuidados especiais.
A aceitação jurídica de que há bens culturais que interessam “universalmente” e
que devem ser protegidos pelo consórcio das nações, só ocorreu em 16 de novembro de 1972,
em Paris, com a aprovação da Convenção sobre a proteção do patrimônio mundial, cultural e
natural, aprovada pela conferência Geral da UNESCO, em sua 17ª reunião.
No Brasil a Convenção foi promulgada pelo Decreto n.º 80.978, de 12 de
dezembro de 1977.

2.2.1 Procedimento para Inscrição do Bem na Lista do Patrimônio Cultural e Natural Mundial
Cada Estado Nacional tem a obrigação, contraída na própria Convenção, de
identificar, proteger, conservar, reabilitar às gerações futuras o patrimônio cultural e natural
situado em seu território. O Estado se compromete a adotar uma política de proteção ao
patrimônio cultural e natural, assim como criar órgãos oficiais de proteção.
Porque o Estado Nacional tem a obrigação de identificar os bens culturais
integrantes do patrimônio da humanidade situados em seu território, a Convenção cria um
Comitê passivo, que não pode identificar a priori monumentos excepcionais, mas aguarda a
manifestação dos Estados.
Comitê denominado Comitê Intergovernamental de Proteção do Patrimônio
Mundial, tem a obrigação de organizar a Lista do Patrimônio Mundial, que nada mais é do
que a aprovação das listas e inventários feitos por cada Estado Nacional. A Lista do
Patrimônio Mundial é um registro, o instituto que identifica e garante a proteção. Dentro da
lista há outra, a dos bens em perigo, que reúne os bens culturais e naturais ameaçados por
riscos graves e precisos e cuja salvaguarda exige cuidados especiais.
A Convenção outorga ao Comitê a competência para definir os critérios “com base
na qual um bem do patrimônio cultural ou natural poderá ser incluído” na Lista do Patrimônio
Mundial (art. 11, §5º). Os critérios adotados são aqueles que definem valor universal
excepcional do bem, sua autenticidade e a comprovação de que o Estado interessado adotou
medidas protetoras adequadas ao bem objeto de inscrição.
Conforme as Diretrizes, no parágrafo 24, alínea a, é considerado bem cultural de
valor excepcional aquele:
(i) representa uma realização artística única, uma obra-prima do gênio criativo
humano ou;
(ii) exerce grande influência, por um período de tempo ou dentro de uma área
cultural específica do mundo, a respeito do desenvolvimento da arquitetura, das
artes monumentais, do planejamento de cidades ou do modelo de paisagem, ou;
(iii) representa um testemunho especial ou no mínimo excepcional de uma
civilização ou tradição cultural desaparecida;
(iv) é um excepcional exemplo de um tipo de construção ou conjunto arquitetônico
ou paisagem que ilustre significativo(s) estágio(s) da história humana, ou;
(v) é um exemplo excepcional de ocupação humana tradicional ou de uso de terra
representativo de uma cultura (ou culturas), especialmente quando se torna
vulnerável sob o impacto de mutações irreversíveis;
(vi) é direta ou claramente associado com eventos ou tradições vivas, com idéias ou
com crenças, com obras artísticas e literárias de importância universal excepcional
(o Comitê considera que esse critério deve justificar a inclusão na lista somente em
excepcionais circunstâncias ou aliadas a outros critérios).

Os bens culturais considerados autênticos são aqueles que atendem à sua


concepção original, em “modelo, material, artesanato ou ambiente”, conforme o parágrafo 24,
alínea b, item i das Diretrizes.
O procedimento é composto por quatro fases: a) identificação do bem, através de
um inventário; b) proposta de inscrição: especificar o bem, descrever a situação, fornecer
informações indicando os critérios nos quais ele se enquadra para ser inscrito; c) avaliação:
documentação encaminhada para órgão técnico especializado, o qual opinará sobre o valor
universal excepcional do bem; d) decisão: conforme parecer das agências especializadas, o
bem é reconhecido para o comitê, a quem cabe a aceitação ou não do bem proposto.
Primeiro o Estado interessado inventaria o bem cultural e aplica as medidas
necessárias para sua proteção. Essa etapa atende ao dispositivo na seção II da Convenção. A
proteção nacional é executada mediante uma política legislativa, e, dependendo das
peculiaridades que envolvem o bem, o Estado requerente propõe um plano de gestão para uma
proteção mais eficaz (Diretrizes, §24, b, ii).
A solicitação da inscrição do bem cultural é submetida ao exame e à deliberação
do Comitê após prévia consulta ao ICOMOS. O Comitê poderá deferir ou rejeitar a proposta
de inscrição do bem (art.11, §2º) após prévia consulta ao Estado interessado (art. 11, § 6º).
O procedimento dura um ano e meio – até 1º de julho de cada ano é o prazo de
apresentação de propostas de inscrição e o comitê apresenta a decisão em dezembro do ano
seguinte.
A Convenção estipula também que deve ser atualizada e divulgada uma Lista do
Patrimônio Mundial em Perigo. Os bens constantes nesta são os que estão de qualquer forma
ameaçados e recebem atenção especial, de maneira que sua conservação exige trabalhos muito
específicos. Nesta lista, faz-se a distinção entre catástrofes causadas pelos homens ou pela
natureza.
Em todo o mundo existem cerca de 800 bens considerados Patrimônio Histórico da
Humanidade, destes, vinte estão em risco de perder o título. Têm-se notícia da perda do título,
o Santuário de Ônix, em Omã 18.
Os Estados-partes da Convenção utilizam-se para mobilizar a assistência
internacional para projetos de restauração ou chamar a atenção sobre as conseqüências de
conflitos civis que os afetam. O país onde está situado o bem não transfere suas
responsabilidades administrativas e financeiras para a UNESCO.
O conjunto arquitetônico e urbanístico do centro histórico de São Luís - MA foi
inscrito na lista em 1997. O ICOMOS recomendou a inscrição do bem com base nos critérios
(iii), (iv) e (v)19 das Diretrizes.

18
O Estado do Maranhão. São Luís, 28 de agosto, 2008. Geral, p.11
19
Cf. Parecer do ICOMOS, setembro de 1997 apud SILVA (2003, p. 106)
2.2.2 Fundo para o Patrimônio Cultural e Natural Mundial

A UNESCO para garantir a proteção criou o Fundo para o Patrimônio Cultural e


Natural Mundial, na própria Convenção, formado pelas contribuições obrigatórias e
voluntárias dos Estados integrantes ou de qualquer instituição que queira contribuir, que tem
por finalidade custear programas de restauração ou mesmo de proteção aos bens que se
encontram em perigo, usado em casos de emergência, já que os países-partes se obrigam a
enviar esforços, inclusive financeiro, para manter, proteger e conservar os bens culturais
situados em seu território.
Por último, a Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e
Natural prevê uma sanção ao Estado-parte que “estiver em atraso no pagamento de sua
contribuição obrigatória ou voluntária”, tornando-o inelegível para o Comitê do Patrimônio
Mundial, “não se aplicando essa disposição por ocasião da primeira eleição” (art. 16 § 5º da
Convenção).

2.3 A Proteção do Patrimônio Cultural como Direito Fundamental no Ordenamento


Jurídico Brasileiro

Os direitos fundamentais integram, ao lado da definição da forma de Estado, do


sistema de governo e da organização do poder, a essência do Estado constitucional,
constituindo, neste sentido, não apenas parte da Constituição formal, mas também elemento
nuclear da constituição material. (SARLET, p. 63)
A fundamentalidade material decorre da circunstância de serem direitos
fundamentais elementos constitutivos da Constituição material, contendo decisões
fundamentais sobre a estrutura básica do Estado e da sociedade.
Um elemento fundamental em relação com a cultura, é a constatação da variedade
de modos de vida entre povos e nações, dada a pluridiversidade cultural, intrínseca da
dinâmica das relações humanas.
Para medir a evolução humana, a “cultura” é usada como parâmetro, veja a
seguinte lição de Reale (2002, p. 213):
O homem, cujo ser é o seu dever ser, construiu o mundo da cultura à sua imagem e
semelhança, razão pela qual todo bem cultural só é enquanto deve ser, e a
“intencionalidade da consciência” se projeta e se revela como intencionalidade
transcendental na história das civilizações, isto é, como invariante axiológica
fundamental.
No conceito filosófico de cultura, Reale (2002, p.223-224) ressalta a insuficiência
do conceito sociológico e antropológico:
Infelizmente, nos domínios da Sociologia, ou da Antropologia, não faltam
ilações ou generalizações precipitadas, pela preocupação de se querer
explicar a maneira de ser, a alma de um povo, tão-somente à luz dos
utensílios empregados em sua vida cotidiana, utensílios estes vistos e
recebidos na materialidade natural de suporte, com esquecimento ou
deturpação de seu significado e valia em função de outros elementos
existenciais. É que se empobrece o conceito de cultura, reduzindo-o às notas
do “produzido” ou do “materialmente objetivado”, olvidando-se a fonte
primordial de que promanam. “Coisificam-se”, desse modo, as criações do
espírito, e o culturalismo se converte em uma descrição naturalística de bens,
aparentemente objetiva, porque na descrição se insinua e se insere o
coeficiente de preferências do observador”.

Diante deste paradigma, o certo é que, apesar da imprecisão de um conceito de


cultura, é reconhecido como pressuposto da civilização, o caráter valorativo do processo
histórico e seus distintos ciclos culturais, aos quais sempre será possível vislumbrar identidade
de fatores – o que demonstra a universalidade da fonte espiritual geradora das civilizações.
A cultura, para Eagleton (2005, p.16), serve como pedagogia ética que torna todos
aptos para a cidadania política ao liberar o eu ideal ou coletivo escondido dentro de cada um,
num eu que encontra sua representação suprema no âmbito universal do Estado, ou seja, o
Estado encarna a cultura, a qual, por sua vez, corporifica a humanidade comum.
O Decreto n.º 92.486, de 24 de março de 1986 define Patrimônio Cultural
Brasileiro: “Patrimônio cultural entendido como um todo orgânico, cuja unidade expressa a
identidade de um país e cuja significação é tanto maior quanto mais incorporado se encontra
ao viver corrente da cidadania”.
É preciso ter em mente que a conceituação satisfatória de direito fundamental só
poderia ser obtida com relação a uma ordem constitucional concreta. Importa considerar que
uma conceituação de cunho genérico e universal somente parece viável, à medida que
propositalmente aberta, de modo a permitir a sua permanente adaptação à luz do direito
constitucional positivo. Destarte, podemos perceber através do tempo a evolução do sistema
de proteção do Patrimônio Cultural dado pelo Estado. Sanchotene (2007, p. 13-22) faz um
levantamento histórico no Brasil, a qual se resume:
No século XVIII, o Vice-Rei do Estado do Brasil, Conde de Galveias, escreveu
uma carta ao Governador de Pernambuco, deixando clara sua sensibilidade quanto à proteção
de monumentos históricos, como parte da preservação da história de um povo 20. No século
XIX, o Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, Ministro do Império, determina aos

20
Contra a transformação do Palácio das Duas Torres em um quartel e outras decisões prejudiciais ao patrimônio
cultural de Pernambuco.
Presidentes das Províncias a tarefa de adquirirem coleções epigráficas para o acervo da
Biblioteca Nacional e ao Diretor das Obras Públicas da Corte a cautela devida com relação
aos serviços de reparos nos monumentos a fim de preservar as inscrições neles gravadas.
Em 1920 o Presidente da Sociedade Brasileira de Belas Artes propôs a Alberto
Childe, conservador e arqueólogo de Antiguidades Clássicas do Museu Nacional, a
elaboração de um anteprojeto de lei de defesa do Patrimônio Artístico Nacional, porém, não
teve êxito pelo fato do texto do anteprojeto ser somente direcionado para a proteção dos bens
arqueológicos. Em 03 de dezembro de 1923, o Deputado pernambucano Luiz Cedro
apresentou na Câmara o primeiro projeto de organização da defesa dos monumentos
históricos e artísticos do país, não incluindo, porém, os monumentos arqueológicos. No ano
seguinte, o poeta e Deputado mineiro Augusto de Lima apresentou na Câmara um projeto
mais completo que o do Luiz Cedro, que enfatizava a proibição da evasão para o exterior de
obras de arte tradicionalmente brasileiras, mas o conteúdo chocava-se com os textos da
Constituição Federal e do Código Civil vigentes. Foi a partir daí, que todas as iniciativas de
proteção do Patrimônio Cultural transferiram-se da esfera federal para a responsabilidade dos
Estados.
Essas iniciativas adotadas pelos estados não se apresentavam eficazes no sentido
de Proteção e Preservação dos Monumentos Históricos e Artísticos, porque os dispositivos
contidos na Constituição Federal e no Código Civil Brasileiro, referentes ao direito de
propriedade, não podiam ser alterados a partir da legislação estadual, pela qual se tornava
inconstitucional.
Em 1933 é promulgado o Decreto n º 22.928, primeira Lei Federal de Proteção do
Patrimônio. O conteúdo do Decreto elevava a cidade de Ouro Preto (MG) a Monumento
Nacional21. No ano seguinte, o Decreto n º 24.735 do Governo Federal estabelece a
organização de um Serviço de Proteção aos Monumentos Históricos e às Obras de Arte
tradicionais do território nacional, com aprovação de um novo Regimento para o Museu
Histórico Nacional. A Assembléia Constituinte, logo a seguir, promulga a Constituição de
1934, que no seu capítulo II dedica especial atenção à Educação e à Cultura, dispondo no
artigo 148: Cabe à União, aos Estados e aos Municípios favorecer e animar o
desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura em geral, proteger os objetos
de interesse histórico e o patrimônio artístico do país, bem como prestar assistência ao

21
Na exposição de motivos desse ato normativo, lê-se: “Considerando que é dever do Poder Público defender o
patrimônio artístico da Nação e que fazem parte das tradições de um povo os lugares em que se realizaram os
grandes feitos da sua história”.
trabalhador intelectual. Foi a partir de então que ficou implantada no Brasil a preocupação
com a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico como princípio constitucional.
Realizado no Rio de Janeiro em 1935, o Primeiro Congresso Brasileiro de
Proteção à Natureza, aprovou moção no sentido da criação de um serviço técnico
especializado de monumentos nacionais. Em 1936 foi criado o Serviço de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), com o objetivo de reafirmar uma identidade cultural
brasileira22.
A Constituição outorgada de 1937 não olvida o assunto de proteção do patrimônio
e apresentou no artigo 134 o seguinte termo: Os monumentos históricos, artísticos e naturais,
assim como as paisagens ou locais particularmente dotados pela natureza, gozam da proteção
e dos cuidados especiais da Nação, dos Estados e dos Municípios. Os atentados contra eles
cometidos serão equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional. No mesmo ano é
promulgado o Decreto-Lei n.º 25 que organizou a Proteção do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional.
Em 1979, Aluísio Magalhães assumiu a direção do IPHAN, suas propostas de
revisitação a conceitos enunciados 50 anos antes por Mário de Andrade, o levaram a
promover uma revolução em valores àquela época cristalizados no IPHAN. Com seu conceito
amplo sobre bem cultural e sua formulação de que o melhor guardião do patrimônio é a
própria comunidade, que com ele mais de perto se relacionava, estabeleceram novos tempos
para o trato com a memória nacional.
A preocupação com a preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro estava
consolidada. Através de vários estudos e aplicações dirigidas em determinadas regiões do
país, estabeleceu-se o Programa de Cidades Históricas (PCH), cujo objetivo, partindo de uma
primeira experiência no Nordeste, era a restauração e aproveitamento integrado dos valores
culturais. Para tanto, a partir de uma ação integrada dos estados, foi iniciada uma ação
conjunta cuja finalidade era obter a maior e melhor integração possível entre o ato de
preservar e o de utilizar o bem cultural, bem como, o de evitar a postergação de monumentos
de valor reconhecido em detrimento de outros de menor importância. Para tanto foi exigida de
cada estado a apresentação de um Programa de Restauração e Preservação com indicação dos

22
A criação do SPHAN surgiu então no contexto do Modernismo e do Estado Novo. O Modernismo
representava a busca de uma identidade cultural brasileira, com a valorização do patrimônio histórico. Foi assim,
que intelectuais modernistas uniram-se no esforço de construir essa identidade cultural brasileira. Em 1946 o
SPHAN é elevado à categoria de Diretoria e recebe a sigla DPHAN e em1970, a DPHAN é transformada em
Instituto, IPHAN, pelo Decreto n.º 66.967. (Sanchotene, Isolina Severo. Técnicas de Virtual Heritage (Vh) e as
Legislações Brasileiras Aplicadas ao Patrimônio Cultural: estudo de caso: Campo De Sant´Anna. Rio de
Janeiro, 2007, p.17)
monumentos que deveriam sofrer intervenções. Tal procedimento estendeu-se de 1976 a
1981.
Por fim, a Constituição de 1988, integra dentro do rol dos direitos e garantias
fundamentais (art.5º, LXXIII), o direito de qualquer cidadão propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio histórico e cultural e no artigo 216 estabelece que é função da
União, do Estado e dos Municípios, com o apoio das comunidades, preservar os bens culturais
e naturais brasileiros.

2.3.1 Natureza Jurídica do Patrimônio Cultural

Na Carta Política (art. 216), o Patrimônio Cultural brasileiro é constituído de bens


de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, desde que
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem [...] os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Segundo Fiorillo (2007, p.239-240), um bem reconhecido como patrimônio
cultural integra a categoria de bem de direito difuso - §1º do artigo 216 da CF/88 - ao
estabelecer como dever do Poder Público, com a colaboração da comunidade, preservar o
patrimônio cultural, a CF ratifica a natureza jurídica de bem difuso, por pertencer a todos.
“Um domínio preenchido pelos elementos de fruição (uso e gozo do bem objeto do direito)
sem comprometimento de sua integridade, para que outros titulares, inclusive, os de gerações
vindouras, possam também exercer com plenitude o mesmo direito”.
Do conceito constitucional, a amplitude da dimensão do patrimônio cultural e da
sua tutela garante o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura
nacional (arts. 215 e 216 da CF/88). É uma noção ampla, dinâmica, que caminha no tempo
unindo gerações.

2.3.2 Competência sobre o Patrimônio Cultural

Inserida no artigo 24, VII e VIII, a Constituição Federal é expressa ao estabelecer


a competência concorrente da União, Estados-membros e Distrito Federal legislarem sobre o
patrimônio cultural e sobre a responsabilidade por danos causados a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Conforme determina o artigo 30, I e II da Constituição Federal, aos Municípios
cabem legislar suplementarmente naquilo que for de interesse local. O alcance da expressão
interesse local será decisivo para a defesa do entendimento de que cabe ao município legislar
sobre matéria ambiental, particularmente, acerca da proteção do patrimônio cultural. O
interesse que a Constituição, em seu artigo 30, I, assegura como competência legislativa do
município é aquele que diz respeito aos aspectos peculiares, próprios daquela coletividade.
A expressão interesse local não significa interesse privativo do município, mas,
sim, interesse prevalentemente local, atendendo, assim, às necessidades locais, ainda que
tenham alguma repercussão sobre as necessidades gerais do Estado. Tudo quanto respeita
especialmente à sociedade local, tudo quanto não for de interesse provincial ou geral, deve ser
atribuído ao conselho da família municipal. É justo e conveniente que esta associação se
governe como melhor julgar, em tudo quanto esta liberdade não ofender os outros municípios
ou os interesses do Estado. (RODRIGUES, 2002)
Quanto à competência material, nos artigos 23, incs. III, IV e V e 30, inc. IX da
Constituição Federal, determina ser comum a todos os entes federados: proteger os
documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; impedir a evasão, destruição e a
descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
proporcionar meios de acesso à cultura, à educação e à ciência e promover a proteção do
patrimônio histórico-cultural, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
Rodrigues (2002) pondera que não é pacífico na doutrina o entendimento que
tenha o Município competência legislativa para editar normas de proteção ao patrimônio
cultural, sim, para executar medidas de proteção em atendimento a normas legais (federais e
estaduais) de proteção ao patrimônio cultural.
Marchesan, Steigleder e Capelli (2007, p. 96-98) apontam quanto ao zelo pelo
meio ambiente cultural, que parte da doutrina recomenda como divisor de águas o
denominado critério de avaliação estimativa, tendo por referencial a expressão cultural do
bem em relação a sua abrangência nacional, regional, estadual ou municipal. 
No entanto, o instituto preservacionista responde atualmente de forma bastante
desarticulada. O Poder Público Municipal, oscilante a cada mudança política, possui poucas
condições de assumir o papel fiscalizador e regulador do patrimônio cultural. Não obstante a
lei prever a coordenação das atividades protetoras do patrimônio cultural, exercidas pela
União, Estados e Municípios e pelas pessoas e instituições privadas (Decreto-Lei 25, de 1937,
arts. 23 e 25), fundada na premissa de que a proteção ao patrimônio cultural só pode ser eficaz
e organizada, tanto em bases nacionais quanto internacionais, entre Estados que trabalhem em
estreita cooperação.
Especificamente sobre a possibilidade do Município legislar sobre normas de
proteção do patrimônio cultural, entende Rodrigues (1993, p. 184-185) que a competência
concorrente do Município decorre da interpretação conjunta do artigo 216,parágrafo 1o., com
o artigo 30, IX, da Constituição Federal. Cabe ao Município promover a proteção cultural
dentro da área sob a sua administração, observando a legislação e a ação fiscalizadora federal
e estadual, ou que deva copiá-la, ferindo sua tradicional autonomia constitucional para
assuntos locais. O que o Município não pode é desrespeitar a legislação de proteção estadual e
federal que sobre ele recaia protegendo bens culturais em seu território.
No tocante a normas de proteção ambiental, especialmente, as de proteção ao
patrimônio cultural, é possível a sua edição baseada no princípio da autonomia municipal. No
entanto, tais normas somente poderão ser editas e, assim, não ferir a repartição constitucional
de competências, quando o objeto a ser protegido seja de interesse restritamente local. Caso
contrário, sendo o objeto a ser protegido de interesse, pelo menos regional, falece
competência do Município para editar normas de proteção.
Por fim, ressalte-se o entendimento de Afonso da Silva (2001, p.43) acerca da
competência legislativa dos municípios em matéria cultural, quando afirma que os municípios
como se vê no caput do artigo 24, não estão contemplados nas regras de competência
concorrente. Mas eles, a rigor, não estão fora inteiramente desse contexto, por que é prevista
competência para a proteção da cultura. Ora, tendo em vista isso e mais as normas de
distribuição de competência a eles no artigo 30, pode-se afirmar que lhes restam área de
competência concorrente. A eles cabem legislar suplementarmente à legislação federal e
estadual no que couber (art.30, I), vale dizer, naquilo em que se dá a eles possibilidade de
atuar; esse aspecto está consignado no mesmo artigo 30, IX, onde se lhes dá a competência
para promover a fiscalização do patrimônio histórico-cultural local, observadas a legislação e
a ação fiscalizadora federal e estadual. Aí está: se se reconhece a existência de um patrimônio
cultural local, que só pode ser patrimônio cultural municipal, então é que, por essa via, se lhes
pode outorgar competência legislativa para normatizar sobre tal patrimônio.
A Lei Orgânica do Município de São Luís constitui no art. 152:
Art. 152  O Poder Público Municipal e a comunidade são responsáveis pela
promoção e proteção do nosso patrimônio cultural23.
§1º - Será assegurado, através de conservação, manutenção sistemática e por
meios de inventários, registros, tombamento, desapropriação, vigilância e de

23
No inciso II, do artigo 150 são incluídos como patrimônio cultural do município, os conjuntos urbanos e
sítios de valor histórico, portadores de referência à entidade, à ação e à memória dos diferentes grupos que se
destacam na forma da sociedade brasileira, especialmente a maranhense e ludovicense.
outras formas de acautelamento e preservação, o seu uso social, com vistas a
assegurar a legacia às gerações posteriores.
§2º - A lei disporá sobre fixação de topônimos, marcos históricos e datas
comemorativas, analisando as efemeridades de alta significação histórico-cultural
e étnica nacional, maranhense e ludovicense.
§3º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
E a Lei Municipal n.º 3.392/95, dispõe sobre a proteção do Patrimônio Cultural –
sobre o Tombamento, o Entorno, a Declaração de Relevante Interesse Cultural como formas
de proteção de bens móveis e imóveis existentes no Município de São Luís, que integram seu
patrimônio cultural. (Vide no Anexo 1, no Quadro 3, referente às leis de promoção da
salvaguarda do patrimônio histórico-cultural).

2.4 O Título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade

A construção de imagens atrativas que possam produzir vantagens competitivas é


buscada por muitas cidades contemporâneas. Forma-se um consenso em torno de que a
economia local deve adaptar-se às forças externas do mercado e que as políticas públicas
devem facilitar estas mudanças. As ações devem ressaltar as vantagens comparativas
construindo imagens de bons locais para os negócios e valorizar a coalizão das forças públicas
e privadas para guiar e promover o desenvolvimento econômico local. Essa busca leva a
elaboração de planos estratégicos nos quais se mesclam formas de elevar alto estima da
população, construção de uma imagem vendável do local, promoção de territórios de
oportunidades, exploração das potencialidades locais como negócios, maximização das infra-
estruturas pela dinamização e revitalização urbanas, promoção de eventos efêmeros de grande
apelo comercial. Nesse contexto o desenvolvimento urbano aproxima cultura e economia,
patrimônio e turismo, em um processo de revalorização urbana.
O Centro Histórico de São Luís (MA), principal objeto da inscrição, foi inscrito na
Lista do Patrimônio Mundial pelo fato de representar uma construção arquitetônica única
portuguesa do período colonial, não encontrados em outras construções brasileiras daquele
período, como os azulejos refinados utilizados na decoração e na proteção térmica24.
O Centro Histórico25 equivale a uma área de 220 ha, constituído de área de zonas
tombadas tanto pelo governo federal, através do IPHAN (1.000 imóveis), quanto pelo governo

24
Cf. parecer do ICOMOS, setembro de 1999, p. 6 apud SILVA (2003, p. 105).
25
Sua área abrange os bairros: Desterro (encontra-se a primeira Igreja da capital, Igreja de José Lê), Praia
Grande, Portinho, Bairro dos Remédios, Bairro Santo Antônio, Bairro São Pantaleão (os bairros se formam pela
presença das igrejas), Madre Deus (presença de Fábricas de Tecido, Cânhamo e Santa Isabel), Apicum, Camboa,
Liberdade (presença do Matadouro do século XIX). Informação declarada pela bibliotecária do Departamento de
Projetos Especiais (DPE)/Superintendência do Patrimônio Cultural do Estado do Maranhão, Maria dos Remédios
Saraiva Leal, no dia 11/11/2008.
estadual, (4.697 imóveis)26. O Plano Diretor Urbanístico de 1992 incorpora essas áreas como
Zona de Preservação Histórica, acrescentando-lhes uma Zona de Proteção Histórica 2,
correspondente às áreas de entorno do aterro do Rio Bacanga e o Parque Bom Menino27.
O valor histórico dessa estrutura ambiental e social importa enquanto revelação de
uma época, de seus modos de vida, ao tempo decorrido desde sua edificação, representando
etapas particularmente marcantes da evolução das atividades humanas. No final do século
XIX, São Luís foi a primeira cidade do Norte e Nordeste a contar com um sistema de
transportes urbanos, como o bonde. Além disso, foi também a primeira a possuir companhias
de água e limpeza públicas, iluminação com lampiões a gás alimentados por via subterrânea e
companhia telefônica. Nesta mesma época, ocorreu um surto de industrialização têxtil
marcada pela instalação de mais de uma dezena de empresas fabris, gerando grandes riquezas
na região, que hoje se constituem em impressionantes exemplares da arquitetura industrial
brasileira.
A par dos benefícios econômicos trazidos com o advento do turismo cultural 28, o
Governo do Estado, em 1977, iniciou estudos para preservação do Centro-Histórico com o
‘Projeto Praia Grande’. Em 1987, o projeto é renomeado ‘Projeto Reviver’, concentrando suas
ações na recuperação de redes de água, esgoto e drenagem; construção de redes subterrâneas
de energia e telefonia etc. A PRODETUR expandiu tais obras em direção ao Desterro.
Concomitante aos tombamentos federais e estaduais realizados, muitos proprietários
abandonaram os imóveis, o que fez com que a maioria dos prédios se transformasse em
cortiços.
A homologação do título “Patrimônio da Humanidade” em 1997 pela UNESCO,
deveu-se a um Dossiê que apresenta a cronologia das tratativas para a inclusão do Centro
Histórico na Lista do Patrimônio Mundial, e conforme Aires (2007, p. 152), o discurso oficial
do Dossiê, além de ressaltar a singularidade do território maranhense, enfatiza que a eventual
homologação do título colaboraria para acelerar a conclusão das negociações do Governo do
Maranhão com o BID e a contratação de montantes do Governo Federal.

2.4.1 O Processo Histórico de Decadência da Área Central de São Luís - MA

26
Não há tombamento municipal. Dos 1.200 imóveis tombados, situados desde a inscrição do título Patrimônio
Mundial, 111 pertencem ao Governo e são utilizados como repartições administrativas. Disponível:
www.portalmaranhense.com.br/noticia.php./terca-feira, 4/11/2007. Acesso: 05/11/2008.
27
Patrimônio Mundial no Brasil: UNESCO, Caixa Econômica Federal, 2000, p. 190.
28
As cidades bem dotadas de bens culturais são, via de regra, pontos turísticos. Neste entendimento, a Lei federal
6.513/77, dispõe sobre a criação de áreas especiais e de locais de interesse turístico, dentre os quais, os que
possuem bens de valor histórico, arqueológico ou pré-histórico e as manifestações culturais ou etnológicas. Essa
lei foi regulamentada pelo Decreto 86.173/81.
O século XX trouxe para o Maranhão um período de estagnação econômica. Na
década de vinte São Luís sofreu processo de redução das atividades e funções urbanas, que
ficou restrita ao que hoje se reconhece como Centro – Histórico (uma área de 220 hectares,
com mais de 3.500 edificações). Inicia-se, portanto, uma transformação urbana, evidenciada
pela decadência arquitetônica, assumida pela nova postura de crescimento urbano, que, antes
era direcionado para o litoral e agora para o interior da ilha, abandonando o caráter de cidade
portuária e industrial em busca de novas atividades em detrimento das já praticamente
extintas. Com isso a arquitetura colonial urbana isola-se, chegando quase à destruição e
abandono total, com dezenas de prédios em ruínas29 .
Observa-se que, à revelia das políticas e atuações do Estado, via de regra
desarticuladas, o crescimento urbano desordenado resultou em uma descaracterização de
grande monta do objeto tombado. As conseqüências são desastrosas: criam-se tipologias
diversas ao parcelamento do solo aliadas à implantação de edificações nos terrenos, as quais
alteraram sobremaneira a configuração espacial dos núcleos tombados, mesmo nas hipóteses
em que houve a preocupação arquitetônica de reproduzir estilisticamente a tipologia originária
nas novas edificações.
Longo no século XX, segundo Burnett (2006), a área central da cidade de São Luís
passou por três momentos que determinaram sua atual situação sócio-ambiental. A primeira
destas etapas foi provocada pela excessiva mistura de usos da região da Praia Grande que, em
razão das atividades portuárias, passa a comprometer a qualidade ambiental das residências da
elite comercial que, até então, ali vivia. A segunda etapa acontece com a chegada dos
automóveis e dos novos padrões urbanos e residenciais, originados nos subúrbios do fordismo
americano dos anos 40 e 50, que se viabilizam pela melhoria do acesso rodoviário para a
cidade balneária do Olho D’Água realizado. No entanto, diferentemente do que ocorreu com a
Praia Grande, este novo pólo convive com o anterior núcleo residencial de alta renda da área
central. A terceira etapa – com as mais profundas conseqüências sobre a área central - tem
uma gestação mais longa e é esboçada no final da década de 50, através dos planos do
Engenheiro Ruy Mesquita30, que projeta um novo vetor de expansão norte-sul.
Somado a esses eventos, a crise econômica do Maranhão, como todo o Nordeste,
alijado do desenvolvimento que ocorre no Sudeste do país, impedirá a realização da expansão

29
PEREIRA, Laureno Mendes. Estudo da arquitetura das casas e sobrados urbanos coloniais de São Luís,
Maranhão: sua decadência e mudanças arquitetônicas ocorridas. Anais XII Seminário de iniciação científica e V
Encontro de iniciação científica da UEMA. São Luís, 6 e 7 de novembro de 2000. São Luís: PPGE/CP, 2000. pp.
56 e 57
30
Ver MESQUITA, Ruy Ribeiro. Plano de expansão da cidade de São Luís. São Luís: 1958.
e agravará as condições físicas e ambientais da cidade antiga, reforçando a idéia da
modernização urbana, ensaiada com edificações verticalizadas em plena área central31 .
Continua Burnett (2007) com os seguintes apontamentos a respeito da
interferência política de expansão da capital do Maranhão, em detrimento da preservação do
centro-histórico-cultual:
Algumas medidas – tombamento da Praia Grande, obras do Anel Viário e
construção da terceira ponte –, pareciam apontar para a convivência
harmoniosa entre antigo e moderno. Mas a chegada dos grandes
empreendimentos industriais provoca a expansão descontrolada do setor
comercial e seus quarteirões são disputados por grandes magazines do sul.
Apesar disso, nenhuma medida é tomada para adequar o sistema de
circulação ou a rede de utilidades públicas às novas demandas que implodem
o espaço urbano de padrão colonial.
A degradação física da área central atinge seu ponto de ruptura com a
aprovação do Plano Diretor de 1992 (São Luís, 1993) quando, nas regiões
próximas às praias, o gabarito das edificações aumenta para até 15
pavimentos. Os novos coeficientes de aproveitamento do solo, provocados
pela criação do pólo residencial em torno do recém criado Shopping Center,
terminam por possibilitar o ansiado paradigma urbano local. Graças a ele, a
fuga dos moradores de alta e média renda das áreas centrais se acelera,
levando junto comércio e serviços de luxo, um processo de abandono [...]
Apesar dos vultosos investimentos com recursos públicos e do titulo de
Patrimônio da Humanidade, concedido pela UNESCO – que repete o
tombamento da década de 70, agora em nível internacional -, a crise se
agrava. O abandono se consolida com a decisão das autoridades públicas de
seguirem as elites econômicas, levando os aparelhos do poder executivo,
legislativo e judiciário estadual para a região do Calhau. O novo espaço das
elites, agora consolidado como nova centralidade graças aos próprios
símbolos do Estado, é o cenário do século XXI.

Ferreira (2008, p.7) denomina de fronteiras, essas expansões urbanas, ou seja, “a


construção das fronteiras se dá numa relação que expressa os interesses e poderes de
diferentes agentes. Nesse sentido, elas se constroem e desconstroem em função das relações
que se estabelecem no jogo de interesses políticos, sociais e econômicos”.

2.4.2 As Políticas Públicas de Proteção ao Centro-Histórico de São Luís

Só o fato de existir legislação não é suficiente para garantir a salvaguarda do Bem


Cultural, é somente uma ferramenta. A efetividade depende da vontade política, da ética na
política e dos administradores, da educação ambiental e cidadã a serem implementadas, pelas
condutas dos cidadãos, pela criação de incentivos fiscais à preservação ambiental e ações
administrativas que necessitam de ser realizadas continuadamente.
Na esteira de Neves (1994, p. 32.), há de se mencionar a existência da legislação
simbólica dentro do sistema normativo constitucional, haja vista que o fracasso da função
instrumental da lei não pode ser creditado apenas à ineficácia das normas jurídicas. Segundo
31
Ver BARROS, Valdenira. Imagens do moderno em São Luís. São Luís: Studio 11, 2001.
referido autor, “É evidente que, quando o legislador se restringe a formular uma pretensão
de produzir normas, sem tomar qualquer providência no sentido de criar os pressupostos
para a eficácia, apesar de estar em condições de criá-los, há indício de legislação
simbólica”.
Destarte, aclara Bobbio (1992, p. 17): “O problema fundamental em relação aos
direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-lo, mas o de protegê-los. Trata-se de um
problema não filosófico, mas político”.
A racionalização das cidades e a construção dos conjuntos habitacionais funcionais
na sua periferia, separando oficialmente a cidade dos cidadãos, foram amplamente discutidas
no Congresso de Arquitetura (Atenas, 1933), o que resultou na “Carta de Atenas”. Le
Corbusier, líder dessa proposta, propunha a conservação dos Centros Históricos como
patrimonialização do Estado e receptáculo para turistas, bem como a construção de bairros
ex-nihilo nas áreas periféricas das cidades. Importante destacar que esse documento foi
seguido como dogma nos anos subseqüentes à Segunda Guerra Mundial, quando da urgente
reconstrução das cidades européias. Nos anos sessenta essa doutrina instigou inúmeras
discussões tanto entre os próprios arquitetos urbanistas, especialmente o “Team X”
(organizadores do Congresso de internacional de Arquitetura Moderna – CIAM), quanto os
“Situacionistas” (grupo de jovens que queriam a cidade como espaço de vida e discussão
política). Para eles, a cidade era para ser vivida e para ser experimentada por seus habitantes,
e são eles que deveriam construir a cidade, criar situações que propiciassem viver e participar
dela. Propagavam que o planejamento dos espaços da cidade não deveriam ser uma tarefa
para autoridades urbanistas, mas para o povo mesmo32 .
Foi no pós-guerra, a partir dos anos trinta, em conseqüência dos estragos da
guerra, que se estabelece uma política racional de urbanismo (passando a ser um lugar de
controle e previsão). Desde então, a cidade torna-se um lugar de observação e passa a ser
pensada como um lugar privilegiado da política e das atividades institucionais. O crescimento
e o desenvolvimento das cidades passam a obedecer ao princípio das lógicas sociais e das
lógicas políticas que lhe dão um significado, ou seja, através da racionalização dos espaços,
dos serviços e, especialmente, das informações que são discutidas administrativamente e
circulam nos meios oficiais, a cidade passa a ser um texto de dominação e controle do
Estado33.

32
Para mais detalhes, ver JACQUES, Paola Berenstein. Org. Apologia da deriva (escritos situacionistas sobre a
cidade). Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2003, p.20.
33
Estes são apontamentos da obra de Bernard Lamizet. Le Sens de la Ville. L’Harmattan, 2002, p. 18, apud
JACQUES, ibid.
No conjunto das políticas implementadas pelo Estado do Maranhão e,
especificamente no município de São Luís, as políticas culturais se distinguem pelo tema,
como pelo vulto econômico associado34.
As instituições públicas responsáveis pela promoção e execução das políticas de
preservação do Patrimônio Cultural são, no âmbito estadual, o Conselho Estadual de Cultura
(CONSEC)35, a Fundação Cultural do Maranhão (FUNC/MA)36 e o Departamento do
Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico (DPHAP), órgão fiscalizador dos bens
tombados pelo Estado; no âmbito municipal, a Fundação Municipal de Cultura (FUNC) e a
Fundação Municipal de Patrimônio Histórico (FUMPH) 37, cujas missões são respectivamente:
estabelecer a execução de uma política cultural no âmbito da preservação, revitalização,
difusão e circulação dos bens culturais no Município de São Luís; desenvolver ações relativas
à preservação, restauração, manutenção, divulgação e revitalização do conjunto de bens
tangíveis e intangíveis, englobando o patrimônio edificado, a história da cidade, o patrimônio
arqueológico, a paisagística tombada e as técnicas e artes de relevante interesse cultual; e o
Núcleo Gestor do Centro Histórico, órgão responsável pelo gerenciamento e articulação entre
os órgãos de preservação de todas as esferas e operacionalização de ações38.

34
Para o Orçamento Fiscal de 2007, o Estado destinou para a Cultura, R$ 31.088.258,00 e para o ano de 2008,
R$32.131.677,00. O Município de São Luís, cf. a Lei n.º 4.904/07 – LOA, fixou despesa de R$ 11.402.300,00
para a FNC e de R$ 20.915.837,00 para a FUMPH para o exercício de 2008.
35
Criado pela Lei n.º 8.319/2005 e regulamentado pelo Decreto n.º 24.195/2008, vinculado à Secretaria de
Estado da Cultura, é órgão colegiado de caráter normativo, consultivo e fiscalizador, com composição paritária e
representatividade dos municípios do MA, tem por finalidade propor a formulação de políticas públicas, com
vistas a promover a articulação e o debate dos diferentes níveis de governo e a sociedade civil organizada, para o
desenvolvimento e o fomento das atividades culturais.
36
Responsável por praticamente todas as casas de cultura, tais como os museus, arquivos e bibliotecas públicas,
teatros e demais centros de cultura erudita e popular, num total de 22 instituições inteiramente dedicadas à
produção e difusão da cultura maranhense.
37
A FUNC criada através da Lei n.º 3.224/92 e a FUMPH, pela Lei n.º 4.493/2005.
38
Centro Histórico de São Luís, Patrimônio Mundial. Org. e textos, Kátia Santos Bogéa, Stella regina Soares de
Brito, Raphael Gama Pestana. São Luís, 2007, p. 64 a 67.
No plano municipal, há o projeto “Desterro - uma proposta de reabilitação” 39, a
Oficina Escola de Restauro40; a Operação Segurança e Cidadania41; o Programa de
Revitalização do Centro Histórico42.
Algumas ações pontuais, como os processos de restauração e de difusão cultural,
são promovidas pela Secretaria de Estado da Cultura, como podemos observar nos quadros 3
e 4 (Vides no Anexo).
Oportuno ressaltar que ais instituições responsáveis pela preservação do
patrimônio mundial, atuam precariamente. O IPHAN/MA possui seis técnicos responsáveis
pela fiscalização43 do sítio tombado e o DPHAP/MA, dez funcionários 44 para fiscalizar cerca
de 5.500 imóveis inscritos na área de preservação cultural45.

2.4.3 As Ações de Proteção Promovidas pelos Particulares

Geralmente os trabalhos de pesquisas, levantamentos bibliográficos, iconográficos


e de campo, técnicas, laudos, fiscalização, projetos arquitetônicos e detalhamentos de
restauração e execução voltados para a preservação e conservação do Patrimônio são
realizados por instituições públicas (IPHAN, Secretarias Estatuais ou Municipais voltadas
para Patrimônio, Universidades, etc.) e por vezes, são realizados alguns trabalhos por
instituições particulares com restrito interesse comercial.
Na maioria dos casos da recuperação e conservação do patrimônio realizada por
iniciativa privada, há uma variedade de benefícios fiscais dos governos federal, estadual e
municipal, além da associação da sua imagem (empresa) em beneficio ao país, cidade,
39
Através da FUMPH, com os seguintes parceiros: IPHAN, CAIXA, Ministério das Cidades, Ministério da
Cultura, Programa Monumenta, Agência Espanhola de Cooperação Internacional, SEBRAE, UEMA, UFMA e
União de Moradores do Centro Histórico. Tal projeto se destaca as seguintes propostas: promover a
sensibilização da sociedade para a importância dos bens culturais e fortalecer a participação social, com a
representação dos diversos grupos sociais presentes na sociedade do sítio e na cidade. Implementando ações de
capacitação de mão-de-obra especializada em restauração; de educação e sensibilização na preservação do
patrimônio histórico-cultural. Numa gestão integrada das esferas públicas e privada para preservação sustentável.
40
O objetivo é formar mão-de-obra na área do restauro do patrimônio, garantindo emprego aos jovens
moradores do Centro Histórico, para que eles e suas famílias atuem como agentes de preservação do patrimônio
histórico. In: Secom. Oficina Escola de Restauro terá aula inaugural nesta segunda-feira, 2 abril 2006.
Disponível: http://www.badaueonline.com.br/2006/4/2/Pagina11331.htm. Acesso: 30 out. 2008.
41
Desenvolvida pela SEMURH, a Delegacia de Costumes da Polícia Civil, Polícia Militar, Juizado da Infância e
Juventude e a SEMCAS, através do Núcleo Gestor do Centro Histórico, propõe ampliar a atuação da operação
nos bairros que compõe o Centro – Histórico. In: Secom. Núcleo Gestor realizará nova operação no Centro
Histórico. 13 maio 2008. Disponível: http://www.badaueonline.com.br/2008/5/13/Pagina30874.htm. Acesso: 30
out. 2008
42
Integram à soma patrimonial, R$ 28 milhões, para restauração de imóveis, projetos de habitação, de
capacitação e de geração de renda dos moradores da área, através da gestão compartilhada. Prefeitura. 03 ago.
2008. Disponível: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=587811&page=89. Acesso: 30 out. 2008.
43
Dado fornecido pelo técnico arquiteto Paulo Rocha em entrevista no dia 13/06/08
44
Dado retirado do Jornal ESTADO DO MARANHÃO/Geral, p.11, 28 agosto 2008.
45
Dado retirado do Jornal ESTADO DO MARANHÃO/ Geral, p. 5, 02 julho 2008.
município ou de uma comunidade que seja de seu interesse. Por vezes estas empresas também
investem em propaganda em diferentes meios de mídia para divulgação do ato realizado na
área de preservação e conservação.
No exterior a restauração e conservação física dos monumentos são fatos mais
corriqueiros, seja por iniciativa do poder público que vê este tipo de realização como
investimento (turismo) bem como preservação de sua história. Com a participação da
iniciativa privada com uma relevante contribuição tecnológica, como das empresas em
desenvolver reconstituições digitais, baseados em conceitos de Virtual Heritage (VH)46 de
monumentos destruídos ou quase irreconhecíveis pela sua deterioração, seja pela ação do
tempo ou intempéries ou ações de vândalos ou guerras. Podem-se citar empresas do porte da
Intel (USA) que promoveu a reconstituição do Coliseu ou da IBM que incentiva e vem
proporcionando reconstituição de vários outros monumentos. (SANCHOTENE, 2007, p.3)
Lemos (1987, p.84-85) coloca como uma das situações que comprometem a
política de preservação do Patrimônio Cultural, especialmente àqueles ligados à arquitetura e
aos bens urbanos significativos de grande valor social, a que diz respeito ao direito de
propriedade – onde o instituto do tombamento esbarra com o direito de propriedade e com o
esquecimento do valor social do bem cultural protegido.
Corolário desse paradigma, o confronto da política protetiva de conservação do
Centro-Histórico versus o direito de propriedade do particular, limitado, por ser o objeto de
propriedade um bem em área tombada ou por ser tombado, ocorreu no mês de julho do
corrente ano, a prisão de uma empresária que transformava seus casarões em estacionamentos
rotativos 47.
A empresária vinha realizando tal empreendimento em cinco casarões na Rua
Cândido Mendes por quase três meses na intenção de construir um estacionamento. Ação
aplaudida por alguns dos habitantes: “Seria muito melhor que ela desse continuidade a obra,
pois só assim diminuiria o número de assalto que vem acontecendo no local”, sugere uma
vendedora do local. Acrescentou mais um: Eu trabalho aqui como ambulante há uns 18 anos

46
Uma das vertentes da Realidade Virtual (RV) – tecnologia que cria ambiente virtual em dimensões 3D –
técnica digital que permite a visualização de construções antigas ou contemporâneas, apresentando boa
performace, fidelidade do ambiente real e interatividade para o usuário, permitindo passeios através de Sala de
Visualização ou Caverna Digital ou Internet. (SANCHOTENE, op.cit., p.78)
47
O IPHAN, DPHAP/MA, o Ministério Público Federal, Ministério Público do Maranhão, SEMURH e Polícias
Civil e Federal, numa operação denominada Patrimônio, vistoriaram o cumprimento dos embargos extrajudiciais
de 49 (quarenta e nove) casarões que funcionam (ou funcionavam) irregularmente como estacionamento. Um
dos resultados da operação foi a prisão preventiva da empresária X no dia 1º de julho de 2008 pelo fato de ter
destruído as estruturas internas de cinco casarões da Rua Cândido Ribeiro, Centro, com o objetivo de
transformar o local em estacionamentos. Os cinco casarões construídos no século XIX eram da antiga Vila
Operária da Fábrica Santa Amélia. O Estado do Maranhão/Geral, p. 5, 2 julho 2008.
e já vi muito assalto por aqui, tudo por conta desses prédios abandonados que os órgãos
competentes não tomam de conta. É engraçado, pois quando alguém resolve fazer algo para
benefício de si próprio e da população os órgãos aparecem e punem as pessoas 48.
Em entrevistas feitas aos moradores e aos empresários do Centro-Histórico durante
os meses de agosto e setembro do corrente ano 49, constatou-se certa timidez nas ações de
preservação. Os moradores conservam seus imóveis com manutenções irregulares, ou seja,
somente quando se fizerem necessárias, enfatizando-se a falta da contrapartida do governo em
dar apoio financeiro, material e técnico aos proprietários, que têm arcado sozinhos na
conservação dos bens culturais. Do mesmo lado estão os empresários, na qual um deles
indigna-se pelo fato do incentivo fiscal (referente à isenção do IPTU aos imóveis residenciais
que preservam as características arquitetônicas originais e situam-se em áreas tombadas do
Centro-Histórico)50 não surtir os efeitos almejados, pois, constata ele (um dos fundadores do
AMA-CH), que a maior parte das residências do Centro-Histórico estão inadimplentes com o
fisco e um dos requisitos para o benefício é o adimplemento do IPTU pretérito, antes do
pedido da concessão da isenção.
O que demonstra ser bastante oneroso para o particular se inserir nas políticas
protetivas do Patrimônio Cultural.
Destacam-se duas instituições civis pró-preservação do Centro-Histórico: a
Associação Comercial do Maranhão, que busca reunir segmentos envolvidos no comércio
instalado no Centro-Histórico para ser feito projeto conjunto a fim de incentivar a
revitalização da área e a Associação dos Moradores do Centro-Histórico, na qual através das
realizações de Seminários de Desenvolvimento Sustentável vem apontar problemas e soluções
de reestruturação dos bairros do Centro-Histórico.

48
Jornal O IMPARCIAL / Polícia, p. 7, 3 julho 2008.
49
Em anexo os questionários aplicados aos seis moradores – 4 da Rua da Palma e 2 da Rua Grande; e aos oito
estabelecimentos comerciais – Pousada Solar Reviver; Confecções Oliveira; Restaurante da França; Silva e
Companhia Ltda.; Artesanato; Lojas Riachuelo; Marisa Lojas Varejistas e J.M.Lino da Silveira Hotéis e
Turismo.
50
Lei n.º 3.836/99.
ANEXO

Carta de Atena Conferência de exposição dos princípios gerais e das doutrinas concernentes à proteção dos
(1931) monumentos de interesse histórico, artístico ou científico pertencente a diferentes nações.
Carta de Atena CIAM – cujos objetivos foram formular o problema arquitetônico contemporâneo e zelar pela
(1933) solução do problema arquitetônico. Problema: 33 cidades51 foram analisadas, Todas testemunhando
51
Amsterdã, Atenas, Bruxelas, Baltmore, Bandoeng, Budapeste, Berlim, Barcelona, Chavieoi, Colônia, Como,
Dalat, Detroit, Dessau, Frankfurt, Genebra, Gênova, Haia, Los Angeles, Litoria, Londres, Madri, Oslo, Paris,
Praga, Roma, Roterdã, Estocolmo, Ultrecht, Verona, Varsóvia, Zagreb e Zurique.
o mesmo fenômeno: a desordem instituída pelo maquinismo em uma situação que comportava até
então uma relativa harmonia. Uma crise de humanidade assola as grandes cidades e repercute em
toda a extensão dos territórios. A cidade não corresponde mais a sua função, que é a de abrigar os
homens e abriga-los bem.
Carta de II ICOMOS52 – Carta Internacional sobre Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios,
Veneza contendo 16 artigos. No art. 5º - a conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua
(1964) destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode nem
deve alterar à disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se deve
conceber e se pode autorizar as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes.
Normas de Reunião sobre conservação e utilização de monumentos e lugares de interesse histórico e artístico –
Quito OEA. O termo “valorização”, que tende a tomar-se cada dia mais freqüente entre os especialistas,
(1967) adquire no momento americano uma especial aplicação. Se algo caracteriza este momento é,
precisamente, a urgente necessidade de utilizar ao máximo o cabedal de seus recursos e é evidente
que entre eles figura o patrimônio monumental das nações. Deve-se entender que a valorização se
realiza em função de um fim transcendente, que, no caso da América Ibérica, seria o de contribuir
para o desenvolvimento econômico da região. Do seio da comunidade pode e deve surgir a voz do
alarme e a ação vigilante e preventiva.
Carta do Circular n.º 117 do Ministério de Instrução Pública da Itália. Artigo 1º - Todas as obras de arte de
Restauro qualquer época, na acepção mais ampla, que compreende desde os monumentos arquitetônicos até
(1972) as de pintura e escultura, inclusive fragmentados, e desde o período paleolítico até as expressões
figurativas das culturas populares e da arte contemporânea, pertencentes a qualquer pessoa ou
instituição, para efeito de sua salvaguarda e restauração, são objetos das presentes instruções. No
anexo B, encontra-se instruções para os critérios das restaurações arquitetônicas e no Anexo D,
instruções para a tutela dos Centros Históricos.
Resolução de 1º Seminário Interamericano sobre Experiências na Conservação e Restauração do Patrimônio
São Domingos Monumental dos períodos Colonial e Republicano – OEA. Recomendações nos planos social,
(1974) econômico, da preservação monumental e propostas operativas. No plano econômico – a iniciativa
privada e o seu apoio financeiro constituem contribuição fundamental para a conservação e
valorização dos centros históricos. Recomenda-se a todos os governos estimular essa contribuição
mediante disposições legais, incentivos e facilidades de caráter econômico.
Carta Européia Manifesto de Amsterdã – A encarnação do passado no patrimônio arquitetônico constitui um
do Patrimônio ambiente indispensável ao equilíbrio e ao desenvolvimento do homem. A conservação integrada é
Arquitetônico o resultado da ação conjugada das técnicas da restauração e da pesquisa de funções apropriadas.
(1975) Deve ser um dos pressupostos do planejamento urbano e regional. A evolução histórica levou os
centros degradados das cidades e, eventualmente, as pequenas cidades abandonadas se tornaram
reservas de alojamento barato. Sua restauração deve ser conduzida por um espírito de justiça social
e não deve ser acompanhada pelo êxodo de todos os habitantes de condições modestas. A
conservação integrada requer a utilização de recursos jurídicos, administrativos, financeiros e
técnicos.
Carta de
Seminário Internacional de Turismo Contemporâneo e Humanismo – Turismo cultural é aquela
Turismo
forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios
Cultural
histórico-artísticos.
(1976)
Carta de Machu Encontro Internacional de Arquitetos. A identidade e o caráter de uma cidade são dados não só por
Picchu sua estrutura física, mas, também, por suas características sociológicas. Por isso, é necessário que
(1977) não só se preserve e conserve o patrimônio histórico monumental, como também que se assuma a
defesa do patrimônio cultural, conservando os valores que são de fundamental importância para
afirmar a personalidade comunal ou nacional e/ou aqueles que têm um autêntico significado para a
cultura em geral. Por isso mesmo é imprescindível que na tarefa de conservação, restauração e
reciclagem das zonas monumentais e dos monumentos históricos e arquitetônicos, considere-se a
sua integração ao processo vivo do desenvolvimento urbano como único meio que possibilite o
financiamento da operação.
Carta de Burra ICOMOS – Definições (art.1º): bem; significação cultural; substância; conservação; manutenção;
(1980) preservação; restauração; reconstrução; adaptação e uso compatível; Conservação (arts. 2º a 10º);
Preservação (arts. 11º e 12º); Restauração (arts. 13º a 16º); Reconstrução (arts. 17º a 22º) e
Procedimentos (arts. 23º a 29º).

52
Conselho Internacional de Monumentos e Sítios – ICOMOS – tem como objetivo promover os meios para
salvaguardar e garantir a conservação, realce e apreciação dos monumentos e sítios que constituem uma parte
privilegiada do patrimônio da humanidade.
Declaração do Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais. A conferência concorda que a cultura, em seu
México sentido mais amplo, pode ser considerada como o conjunto dos traços distintos espirituais,
(1985) materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade e um grupo social. Ela engloba,
além das artes e das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas
de valores, as tradições e as crenças. A cultura dá ao homem a capacidade de refletir sobre si
mesmo. Através dela discernimos os valores e efetuamos opções.
Carta de Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas – ICOMOS. A salvaguarda das
Washington cidades e bairros históricos deve, para ser eficaz, fazer parte integrante de uma política coerente de
(1987) desenvolvimento econômico e social, e ser considerada nos planos de ordenamento e de urbanismo
a todos os níveis. A participação e o envolvimento dos habitantes da cidade são imprescindíveis ao
sucesso da salvaguarda. Devem ser procuradas e favorecidas em todas as circunstâncias através da
necessária conscientização de todas as gerações. Para assegurar a participação e a
responsabilização dos habitantes, deve ser implementado um programa de informação geral
começando a sua divulgação desde a idade escolar.
Carta de Cabo Encontro de Civilizações nas Américas. A defesa da identidade cultural far-se-á através do resgate
Frio – das formas de convívio harmônico com seu ambiente. O processo de preservação, por sua
Vespuciana complexidade, demanda um concurso interdisciplinar e uma ação interinstitucional. Para o
(1989) conhecimento e a preservação do patrimônio cultural e natural, faz-se necessária a apropriação de
métodos específicos e de novas técnicas disponíveis. O êxito de uma política preservacionista tem
como fator fundamental o engajamento da comunidade, que deve ter por origem um processo
educativo em todos os níveis, com a utilização dos meios de comunicação. O respeito aos valores
naturais, étnicos e culturais, enfatizados através da educação pública, contribuirá para a valorização
das identidades culturais.
Conferência de Conferência sobre autenticidade em relação a Convenção do Patrimônio Mundial. Autenticidade,
Nara – Japão considerada desta forma e afirmada na Carta de Veneza, aparece como o principal fator de
(1994) atribuição de valores. O entendimento da autenticidade é papel fundamental dos estudos científicos
do patrimônio cultural, nos planos de conservação e restauração, tanto quanto nos procedimentos
de inscrição utilizados pela Convenção do Patrimônio Mundial e outros inventários de patrimônio
cultural (Parágrafo 2).
Declaração de XI Assembléia Geral do ICOMOS. Simpósio Internacional “Mudanças Sociais e Patrimônio
Sofia – Bulgária Cultual”. A prova de autenticidade expressa na Carta de Veneza, dentro do espírito do conceito de
(1996) preservação, deverá ser definida com exatidão. Para resguardar o caráter universal da Carta, cada
área cultural deverá ser objeto de esclarecimento e aprofundamento. Esta perspectiva tornará
indispensável a exigência de que todo monumento histórico considere o seu entorno físico e a sua
dimensão social. E, antes de as atividades turísticas serem supervalorizadas, arriscando-se a
transforma-las em ameaça à integridade da substância do patrimônio cultural, levar-se-á em conta,
e cada vez mais, a relação entre o patrimônio e a comunidade que o herdou.
Quadro 1 – Quadro de Cartas Patrimoniais
Fonte: www.iphan.gov.br. Acesso: 06 ago 2008.

Compromisso 1º Encontro dos Governadores de Estado, Secretários Estaduais da Área cultural, Prefeitos de
de Brasília Municípios Interessados, Presidentes e Representantes de Instituições Culturais – dentre os
(1970) parágrafos do Compromisso: Caberá às secretarias competentes dos Estados a promoção e
divulgação do acervo dos bens culturais da respectiva área, utilizando-se, para este fim, os
vários meios de comunicação de massas, tais como a imprensa escrita e falada, cinema, a
televisão.
Compromisso II Encontro de Governadores para Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico,
de Salvador Arqueológico e Natural do Brasil – ratificam o “Compromisso de Brasília (1970)”, para o
(1971) estudo da complementação das medidas necessárias à defesa do patrimônio histórico e artístico
nacional. Prevê a criação de órgãos estaduais e municipais adequadas, articulados devidamente
com os Conselhos Estaduais de Cultura e com a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (DPHAN), para fins de uniformidade da legislação em vista, atendido o que dispõe o
artigo 23 do Decreto-Lei 25, de 1937.
Carta de 1º Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de Centros Históricos. Entende-se
Petrópolis como (SHU) o espaço que concentra testemunhos do fazer cultural da cidade em suas diversas
(1987) manifestações. Deve ser entendido em seu sentido operacional de área crítica, e não por
oposição a espaços não-históricos da cidade, já que toda cidade é um organismo histórico. O
objetivo último da preservação é a manutenção e potencialização de quadros e referenciais
necessários para a expressão e consolidação da cidadania. É nessa perspectiva de reapropriação
política do espaço urbano pelo cidadão que a preservação incrementa a qualidade de vida.
Sendo a polifuncionalidade uma característica do SHU, a sua preservação não deve dar-se à
custa de exclusividade de usos, nem mesmo daqueles ditos culturais, devendo, necessariamente,
abrigar os universos de trabalho e do cotidiano, onde se manifestam as verdadeiras expressões
de uma sociedade heterogênea e plural. Guardando essa heterogeneidade, deve a moradia
construir-se na função primordial do espaço edificado, haja vista a flagrante carência
habitacional brasileira. Desta forma, especial atenção deve ser dada à permanência no SHU das
populações residentes e das atividades tradicionais, desde que compatíveis com a sua
ambiência. Na preservação do SHU é fundamental a ação integrada dos órgãos federais,
estaduais e municipais, bem como a participação da comunidade interessada nas decisões de
planejamento, como uma das formas de pleno exercício da cidadania. Nesse sentido, é
imprescindível a viabilização e estímulo aos mecanismos institucionais que asseguram uma
gestão democrática da cidade, pelo fortalecimento da participação das lideranças civis. A
proteção legal do SHU far-se-á por diferentes tipos de instrumentos, tais como: tombamento,
inventário, normas urbanísticas, isenções e incentivos, declaração de interesse cultural e
desapropriação. Na diversidade dos instrumentos de proteção, considera-se essencial a
predominância do valor social da propriedade urbana sobre a sua condição de mercadoria.
Declaração de Jornada Comemorativa do 25º Aniversário da Carta de Veneza, associados do CB/ICOMOS. §7
São Paulo – Que populações marginalizadas, ocupantes dos centros históricos urbanos de todas as nações,
(1989) devem poder alcançar melhoria real na qualidade de vida de seu cotidiano, através de projetos
de restauração e reciclagem que considerem, também, sistemas habitacionais de padrão
condizente com a dignidade e cidadania das populações.
Carta de Documento regional do Cone Sul sobre autenticidade. A necessidade de colocar a questão da
Brasília autenticidade a partir da peculiar realidade regional, que difere daquela dos países europeus, os
(1995) asiáticos de longa tradição como nações, pois nossa identidade foi submetida a mudanças,
imposições, transformações que geram dois processos complementares: a configuração de uma
cultura sincretista e a de uma cultura de resistência.
Declaração de Recomendações brasileiras à XI Assembléia Geral do ICOMOS. §7 – A divulgação dos
São Paulo II mecanismos jurídicos existentes no país, a partir dos preceitos constitucionais, que possibilitam
(1996) embargar e impedir a destruição dos testemunhos do Patrimônio natural e cultural, com ações
judiciais específicas e eficientes.
Quadro 2 - Reflexos nos Documentos Relativos ao Compromisso de Proteção ao Patrimônio Histórico - Cultural
do Brasil
Fonte: www.iphan.gov.br. Acesso: 06 ago 2008.

Lei n.º 3.328, Cria obrigatoriedade de palestras preventivas de conscientização e preservação do


20.06.1994 Patrimônio Público e Histórico de São Luís
Torna obrigatória a utilização de telhas cerâmicas planas, tipo francesa ou tipo colonial nas
Lei n.º 3.350,
construções, reformas, adaptações, ampliações de edificações perdidas realizadas dentro da
15.08.1994
zona de preservação histórica do município de São Luís.
Cria o museu da Cidade de São Luís – O museu (localizado na Rua Formosa, onde
funcionou o jornal O Imparcial) terá por finalidade a guarda e exposição de bens móveis e
Lei n.º 3.353,
imóveis, de valor histórico, artístico e etnográfico, bibliográfico, iconográfico arquitetônico
15.08.1994
e todos os demais valores, representativos da memória e de identidade do município de São
Luís (art.1º).
Lei n.º 3.392, Dispõe sobre a proteção do Patrimônio Cultural do Município de São Luís – dispõe sobre o
04.07.1995 tombamento, o entorno, sobre a Declaração de Relevante Interesse Cultural como formas de
proteção de bens móveis e imóveis existentes no Município de São Luís, que integram seu
patrimônio cultural (art. 2º).
Lei n.º 3.485, Dispõe sobre a obrigatoriedade de ensino da cadeira “folclore maranhense” na rede pública
27.03.1996 de ensino municipal.
Lei n.º 3.530, Dispõe sobre a criação do Programa de visita ao Centro-histórico para os alunos da rede
10.07.1996 municipal de ensino.
Regulamenta o Fundo de Preservação e Revitalização do Patrimônio Histórico e Cultural de
São Luís – FUPREPAHC – fundo de natureza contábil especial previsto no artigo 228 da Lei
Orgânica, por finalidade de criar condições financeiras e gerenciar recursos aplicados: I- em
Lei n.º 3.714, programas, projetos, pesquisas, promoção e divulgação de bens do patrimônio cultural; II –
01.09.1998 em ações de restauração, conservação e revitalização de bens do Patrimônio Histórico e
cultural, tombados considerados de relevante valor cultural ou de interesse de preservação
para as comunidades da cidade; na edição de obras e publicações de trabalho da área de
interesse do Patrimônio Histórico-Cultural e em programas de educação patrimonial.
Lei n.º 3.719, Regulamenta o Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico, criado pelo art. 9º
10.09.1998 dos Atos das Disposições Transitórias da Lei Orgânica.
Lei n.º 3.728, Estabelece obrigatoriedade de constituir nas correspondências oficiais a frase São Luís
06.10.1998 Patrimônio da Humanidade.
Lei n.º 3.836, Isenta de pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) os imóveis
01.06.1999 (residenciais) do Centro Histórico de São Luís, tombados pela União, Estado ou Município.
Quadro 3 - Leis Municipais Referentes à Salvaguarda do Patrimônio Cultural

Restauração - Área de Patrimônio Histórico, Artístico e Arqueológico


Macro objetivo: proteger, reformar, conservar e revitalizar o patrimônio arquitetônico existente no Maranhão,
mantendo sua integridade para o conhecimento das gerações presente e futura, assegurando ainda o título de
Patrimônio Cultural da Humanidade para São Luís. Ações vinculadas ao programa:
Manutenção e Conservação de Espaços Turísticos Culturais e Históricos - ação destinada a manter e
conservar os espaços turísticos do nosso Estado.
Restauração e Conservação de Bens Culturais Móveis e Imóveis - objetiva restaurar o acervo cultural,
visando a preservação para conhecimento de gerações futuras.
Capacitação em Educação Patrimonial - promover a capacitação da comunidade aqui existente, através de
seminários, simpósios, mesas-redondas, etc., visando sensibilizar a população para a preservação deste valioso
acervo cultural.
Pesquisas de Acervos Culturais - coleta de informações através de pesquisas, tanto na área arquitetônica
quanto na arqueológica, com o intuito de realizar novas descobertas que servirão para constituir um inventário,
o qual será utilizado como parâmetro para futuros projetos.
Estudos e Prospecção Arqueológica - Esta ação visa especificamente realizar estudos e pesquisas em sítios
arqueológicos, objetivando novas descobertas no campo da Arqueologia.
Dinamização do Patrimônio Cultural - Dinamizar as ações dos órgãos que compõem a Superintendência do
Patrimônio Cultural.
Órgãos Responsáveis:
Departamento de Projetos Especiais (DPE) - viabiliza ações e projetos dos diversos segmentos da administração
pública envolvidos nas obras de planejamento e acompanhamento do acervo tombado e a tombar no território
maranhense, com destaque para São Luís e Alcântara.
Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do Maranhão (DPHA/MA) - órgão responsável pela
preservação do acervo histórico, arquitetônico e paisagístico do Maranhão, realiza também outras atividades que
visam difundir o valor histórico do nosso patrimônio cultural.
Quadro 4 - Programas de Restauração da Secretaria de Estado da Cultura - 2004/2007. Disponível:
http://www.cultura.ma.gov.br/2008/3/28/Pagina107.htm) Acesso: 23/10/2008

Produção e Difusão
Macro objetivo: apoiar as atividades culturais propostas pela comunidade, de modo a incentivar a produção das
artes plásticas, da música, da literatura, da dramaturgia, da dança, da cinematografia, da fotografia, a
preservação dos bens simbólicos representativos da cultura popular maranhense, além de dinamizar ações nas
áreas de arquivismo, documentação e biblioteconomia. Ações vinculadas ao programa:
Tratamento do Acervo Bibliográfico - divulgar e preservar o acervo documental do Estado, através dos
órgãos: Arquivo Público do Estado, Biblioteca Pública Benedito Leite e Casa de Cultura Josué Montello.
Edições Especiais - publicações de obras literárias produzidas especificamente pelos órgãos ligados à
Secretaria de Cultura, bem como a divulgação de suas atividades através de folder’s, cartazes, panfletos, etc.
Fomento às atividades artístico-culturais - envolve a realização dos maiores eventos do Estado, como o
carnaval, Festa do Divino, Festejo Junino, Festival de Férias, Natal e Reveillon.
Plano Editorial - Visa revitalizar a produção literária maranhense, mediante a edição de livros e apoio aos
escritores que anseiam pela publicação de sua obra literária.
Plano Fonográfico - oferecer ao artista maranhense a oportunidade de registrar suas músicas em CD’s, bem
como o apoio para os serviços de gravação em estúdio e edição dos trabalhos de cantores, músicos e grupos da
comunidade.
Atividades culturais nas áreas de artes cênicas, visuais, plásticas, literárias e musicais - execução das
atividades direcionadas às artes cênicas, visuais, plásticas, literárias e musicais, desenvolvidas pelos órgãos
vinculados à Secretaria de Estado da Cultura, bem como por outras entidades públicas e/ou privadas de todo o
Estado.
Ações Museológicas - Dinamização das ações na área de museologia, visando a preservação de um acervo de
inestimável valor histórico já existente, ao mesmo tempo em que busca a sua ampliação. Executadas pelo
Museu Histórico e Artístico do Maranhão; Museu de Arte Sacra; Museu de Artes Visuais; Cafua das Mercês;
Galeria Nagy Lajos; Casa de Nhozinho e Casa do Maranhão.
Nossa Cultura
Macro objetivo: ligado à área de Difusão Cultural, destina-se a promover ações de descentralização cultural do
Estado, bem como a incentivar ações institucionais de integração e intercâmbio do Estado entre as diversas
regiões maranhenses, através de Encontros de Cultura, Cursos, Treinamentos e Perfil Sócio-Cultural dos
Municípios, etc.
Quadro 5 - Programas de Difusão da Cultura da Secretaria de Estado da Cultura - 2004/2007. Disponível:
http://www.cultura.ma.gov.br/2008/3/28/Pagina107.htm) Acesso: 23/10/2008

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