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Ministério da Economia

Conselho de Recursos da Previdência Social


1ª Composição Adjunta da 16ª Junta de Recursos/PR

Curitiba/PR, 18 de junho de 2021.

SOLICITAÇÃO DE PRONUNCIAMENTO À
DIVISÃO DE ASSUNTOS JURÍDICOS DO CRPS

Beneficiário: TERIVANIA MARTARELO


Processo Nº: 44233.458474/2020-31
Objeto: 42/188.798.297-0
Assunto: Indenização de competências anteriores ao evento gerador

1 - Analisado por mim em obediência à ordem da Presidência desta


Junta de Recursos, consoante inciso XIX do artigo 16 da Portaria Ministerial MDSA
116/2017, o Regimento Interno do Conselho de Recursos da Previdência Social –
CRPS, e por ter presidido o julgamento do feito.
2 – Trata-se de recurso ordinário em que o direito da parte recorrente
a prestação está condicionado a indenização prévia de segurado contribuinte
individual/segurado especial relativa a períodos anteriores ao evento gerador, mas
com pagamento posterior à Data de Entrada no Requerimento – DER.
3 – Com isso, tem-se uma dúvida jurídica relativa ao cômputo ao
tempo de contribuição de período indenizado pelo recorrente.
4 - O Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, através de seu
comunicado publicizado em 23 de abril de 2021, em anexo, mudou abruptamente
de entendimento sobre o cômputo de período indenizado pelo segurado
contribuinte individual e segurado especial ao tempo de contribuição. Para a
Autarquia Previdenciária, o cômputo de período indenizado somente poderá ser
computado ao tempo de contribuição se o for antes da data de entrada no
requerimento, para os pagamentos efetuados a partir da vigência do Decreto n.
10.410/2020.
5 - Segundo consta neste comunicado, os fundamentos jurídicos para
não computar recolhimentos em atraso após a DER/DIB estariam no Parecer Conjur/
MPS No 219/2011, na Nota nº 134/2011/CGMBEN/PFE-INSS/PGF/AGU, no Parecer
Conjur/MPS/N° 616/2010, no §4º do art. 28 do RPS e em virtude da revogação do
art. 59 do Decreto no 3.048/99.
6 - Entretanto, não é possível encontrar assento ao entendimento do
Órgão Previdenciário nas normas jurídicas, nem as por ele apontadas.

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7 - Ao contrário, há diversos dispositivos legais e normativos que
respaldam o direito do segurado em indenizar e ter o seu cômputo ao tempo de
contribuição, como se explica.
8 - É a literalidade da Lei n. 8.212/91 em sua redação atualizada:
"Art. 45-A. O contribuinte individual que pretenda contar como tempo de
contribuição, para fins de obtenção de benefício no Regime Geral de
Previdência Social ou de contagem recíproca do tempo de contribuição,
período de atividade remunerada alcançada pela decadência deverá
indenizar o INSS.
§ 1º O valor da indenização a que se refere o caput deste artigo e o § 1o do
art. 55 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, corresponderá a 20% (vinte
por cento):
I – da média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,
reajustados, correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período
contributivo decorrido desde a competência julho de 1994; ou
II – da remuneração sobre a qual incidem as contribuições para o regime
próprio de previdência social a que estiver filiado o interessado, no caso de
indenização para fins da contagem recíproca de que tratam os arts. 94 a 99
da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, observados o limite máximo
previsto no art. 28 e o disposto em regulamento.
§ 2º Sobre os valores apurados na forma do § 1o deste artigo incidirão
juros moratórios de 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, capitalizados
anualmente, limitados ao percentual máximo de 50% (cinqüenta por cento),
e multa de 10% (dez por cento)."

9 - Observando o texto normativo, é possível depreender a existência


do literal direito do contribuinte individual em indenizar o Regime Geral da
Previdência Social, a qualquer tempo, com o fim imediato de computar ao tempo de
contribuição, condicionado ao pagamento de juros e multa, cuja natureza desta tem
caráter punitivo e, daquela, indenizatório.
10 – Repita-se. Nos termos assegurados pela citada norma, o
segurado contribuinte indeniza a Seguridade Social e recebe a devida punição pelo
ato ilícito de não ter recolhido na época própria.
11 - Inexiste assento na lei específica, nem no Decreto
regulamentador n. 3.048/99, com as alterações do Decreto 10.410/20, que vise
ampliar a punição ao segurado contribuinte que não recolheu na época própria,
como impedir o cômputo ao tempo de contribuição de período indenizado e
referente a competências anteriores a Data de Entrada no Requerimento - DER, e,
ao nosso ver, não cabe à Administração Pública legislar ou restringir o direito do
segurado quando a Lei ou o Decreto não o fizeram, sobre pena de afastar-se do
inciso II do Art. 5º da Lei Maior.
12 - Inclusive, o Decreto Previdenciário atualizado, conforme Arts.
122, § 7º e nos § 9º ao § 14 do art. 216 e nos § 8º e § 8º-A do art. 239, autoriza o
cômputo do período indenizado ao tempo de contribuição, mas não à carência.,
como se constata:
“Art. 19-C. Considera-se tempo de contribuição o tempo correspondente
aos períodos para os quais tenha havido contribuição obrigatória ou
facultativa ao RGPS, dentre outros, o período: (Incluído pelo Decreto nº
10.410, de 2020)
(…)
Art. 28. O período de carência é contado:

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II - para o segurado contribuinte individual, observado o disposto no § 4º do
art. 26, e o segurado facultativo, inclusive o segurado especial que contribua
na forma prevista no § 2º do art. 200, a partir da data do efetivo
recolhimento da primeira contribuição sem atraso, e não serão
consideradas, para esse fim, as contribuições recolhidas com atraso
referentes a competências anteriores, observado, quanto ao segurado
facultativo, o disposto nos § 3º e § 4º do art. 11.
(...)
§ 4º Para os segurados a que se refere o inciso II do caput, na hipótese de
perda da qualidade de segurado, somente serão consideradas, para fins de
carência, as contribuições efetivadas após novo recolhimento sem atraso,
observado o disposto no art. 19-E. ” (destaquei)

13 – Observando o Decreto atualizado, verifica-se o dever de


computar ao tempo de contribuição todo o período trabalhado pelo segurado
contribuinte individual e devidamente recolhido, sem qualquer restrição sobre a
data do pagamento. Também, nota-se que o período recolhido em atraso após a
perda da qualidade de segurado não será computado, exclusivamente, para fins de
carência. E não se deve confundir carência com tempo de contribuição, haja vista a
distinção imposta pelo próprio Decreto.
14 – Ainda, há um maior grau de sensibilidade ao caso, pois o
reconhecimento do período indenizado pelo segurado contribuinte individual e o
dever de computá-lo ao tempo de contribuição encontra licitude e legalidade pela
Receita Federal do Brasil, a ponto de haver impedimento de eventual restituição,
como se verifica na vigente Instrução Normativa RFB Nº 1.717/20171:
“Art. 7º A restituição poderá ser efetuada:
I - a requerimento do sujeito passivo ou da pessoa autorizada a requerer a
quantia; ou
II - mediante processamento eletrônico da Declaração de Ajuste Anual do
Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF).
§ 1º A restituição de que trata o inciso I do caput será requerida pelo sujeito
passivo por meio do programa Pedido de Restituição, Ressarcimento ou
Reembolso e Declaração de Compensação (PER/DCOMP) ou, na
impossibilidade de sua utilização, por meio do formulário Pedido de
Restituição ou de Ressarcimento, constante do Anexo I desta Instrução
Normativa.
§ 2º O disposto no § 1º aplica-se, inclusive, à restituição de valores pagos
indevidamente a título de contribuição social pelo contribuinte individual,
empregado doméstico, segurado especial e pelo segurado facultativo."
(destaquei)

15 – Observa-se que, na interpretação da Receita Federal, o


contribuinte individual terá direito à restituição quando o valor pago por indevido, o
que não é o caso.
16 – Ora, após o reconhecimento da filiação, o segurado contribuinte
individual tem o direito de indenizar com o fim imediato do cômputo ao tempo de
contribuição, e não há nenhum elemento que torne o exercício desse direito
indevido, desde que por meio de GPS calculada em conformidade com a lei.

1
BRASIL. Instrução Normativa RFB 1.717/2017. Disponível em
<http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=84503&visao=anotado> Acesso em
16 jun 2021.

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17 - Além do mais, repita-se, o INSS deu interpretação errônea ao §4º
do Art. 28 do Decreto 3.048/99, uma vez que este dispositivo inova no
reconhecimento do recolhimento tão somente para fins de carência, e não do
tempo de contribuição.
18 - É imperioso ressaltar que cabe a Administração Pública fiscalizar
os recolhimentos do segurado contribuinte e puni-los mediante a multa prevista em
lei. Não cabe outra forma de punição senão aquela existente na lei, nem mesmo
por vias transversas.
19 - Tanto é ilegal a decisão do INSS de não computar o período
indenizado como tempo de contribuição que, para tanto, condiciona o seu cômputo
somente se o segurado hipossuficiente concordar com a renúncia de parcelas
atrasadas mediante a reafirmação da DER.
20 - O instituto de reafirmação da DER visa assegurar a melhor
prestação do serviço público mediante a concessão do melhor benefício, e não é
subterfúgio da Administração Pública para burlar aplicação literal da lei e penalizar,
de forma ilícita, o segurado contribuinte.
21 - Urge o direito do segurado interessado, nos termos da lei
9.784/99, Art. 3º, em ser "tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que
deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações".
22 – Por isso, não cabe aos servidores criarem mecanismos e
interpretações que dificultem o exercício dos direitos dos segurados contribuintes,
se não apenas facilitar o cumprimento da Lei.
23 - Na Lei n. 8.213/91 encontra-se o serviço social, com mesmo
status que as demais prestações previdenciárias, e cuja função é:
"esclarecer junto aos beneficiários seus direitos sociais e os meios de
exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos
problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no
âmbito interno da instituição como na dinâmica da sociedade".

24 - Ao se observar os dispositivos legais e inerentes ao processo


administrativo previdenciário, verifica-se que cabe ao INSS esclarecer o segurado
contribuinte individual do seu direito de acesso à prestação e oportunizá-lo a
indenizar.
25 - Não é justo nem razoável que o segurado contribuinte, após
protocolar o pedido de uma prestação previdenciária, esperar por anos por uma
orientação e esclarecimento sobre o seu direito a uma indenização e, ao ter esta
resposta e indenizar um período anterior a DER com a justa punição da multa
determinada pela lei, ser, agora, surpreendido com uma nova punição (sem
fundamento legal) que é abrir mão dos atrasados por meio da reafirmação da DER.
26 - Ora, esse esclarecimento deveria ter sido dado ao segurado
contribuinte muito antes, seja por notificação pelo não pagamento, seja no
momento do requerimento da prestação, e não é justo que ele seja punido pela
ineficiência e demora da análise da Autarquia.
27 - Ademais, a preocupação desta composição colegiada é com a
materialização do direito do segurado recorrente.
28 - O Regimento desta casa, conforme § 3º do Art. 52, impede que a
decisão colegiada fique condicionada a evento futuro ou incerto. Deste modo, não é
seguro autorizar ao segurado a prévia indenização de período, e confiar no seu
cômputo ao tempo de contribuição, ainda que seja um direito assegurado em lei,

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pois não é possível encontrar uma jurisprudência sólida no CRPS sobre este tema,
que resguarde a interpretação literal da norma jurídica.
29 - Para finalizar, no caso concreto, verifica-se que o segurado
contribuinte individual tem direito a indenizar um período pretérito a DER, mas este
colegiado teme por autorizar esse direito líquido do segurado e, seja por eventual
interpretação da câmara de julgamento ou do conselho pleno, a prestação ser
negada pelo não cômputo ao tempo de contribuição do período indenizado, e, para
piorar, o segurado não ter direito à restituição junto à Receita Federal do Brasil, em
razão da validade e licitude da indenização.
30 - Deste modo, requer-se posicionamento sólido da Divisão de
Assuntos Jurídicos desta Corte Administrativa sobre o cômputo de período
indenizado após a vigência do Decreto n. 10.410/20 como tempo de contribuição, o
reconhecimento das competências indenizadas, de forma autônoma, sem confundi-
las ou estendê-las com a data do pagamento (como faz o INSS), e a necessidade, o
que não se acredita, de eventual reafirmação da data de entrada do requerimento
para a data do pagamento.

PAULO VITOR NAZÁRIO SERMANN


Presidente Substituto da 1ª CA da 16 JRPR
Matrícula 1449889

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