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Direito Penal Militar

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

207.06

Sumário
1. Considerações Iniciais e Bibliografia ........................................................................... 2
2. Direito Penal Militar .................................................................................................... 2
2.1 Conceito ................................................................................................................ 2
2.2 Aplicação da Lei Penal Militar ............................................................................... 6
2.2.1 Tempo do Crime ............................................................................................. 6
2.2.2 Lei aplicável às medidas de segurança ........................................................... 7
2.2.3 Ultra-atividade gravosa das leis excepcionais ou temporárias ...................... 8
2.2.4 Lugar do crime ................................................................................................ 8
2.2.5 Lei Penal Militar no Espaço ............................................................................ 9
2.2.6 Aplicação quanto à pessoa (conceito de militar) ......................................... 11
2.2.6.1 Militares estrangeiros ........................................................................... 13
2.2.6.2 Referência a “brasileiro” ou “Nacional” ............................................... 14
2.2.6.3 Assemelhado......................................................................................... 14
2.2.6.4 Defeito de incorporação ....................................................................... 16
2.2.7 Crime militar ................................................................................................. 16

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1. Considerações Iniciais e Bibliografia


O foco do curso de direito penal militar será a parte geral do Código Penal Militar e
algumas questões da parte especial. O estudo acontecerá sempre de maneira comparativa
entre o sistema penal militar e o sistema penal comum.
Com relação à bibliografia, não são muitos autores que escrevem sobre este ramo do
direito e as obras existentes têm um preço acima da média. Os indicados pelo professor são:
 Cícero Coimbra – livro pela editora Saraiva
 Jorge Cesar de Assis – Código Penal Militar Comentado – Editora Juruá
 Célio Lobão – Editora GEN
 Marcelo Uzeda – Coleção Sinopses – Editora Juspodivm
 Ricardo Giuliani e Fabiano Prestes – Série Resumos para concursos – Editora
Juspodivm
 Cláudio Amim – Editora Lumen Iuris (como as publicações dessa editora foram
compradas por outras é preciso verificar qual está fabricando este livro)
As três primeiras obras são de doutrina mais pesada. Os três últimos são livros
menores mais indicados para concursos.

2. Direito Penal Militar


2.1 Conceito
Direito Penal Militar é o ramo especializado do Direito Penal que estabelece as regras
jurídicas vinculadas à proteção das instituições militares e ao cumprimento de sua
destinação constitucional.
A especialidade do Direito Penal Militar decorre da natureza dos bens jurídicos
tutelados: a autoridade, a disciplina, a hierarquia, o serviço, a função e o dever militar.
O artigo 142 da Constituição Federal é o ponto de partida do Direito Penal Militar.
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base
na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes, da lei e da ordem.

As forças armadas tem caráter permanente e tem como vigas basilares a hierarquia e
a disciplina. A missão das Forças Armadas envolve:
 A defesa da pátria;
 A garantia dos poderes constitucionais; e

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 Quando legalmente requisitados para esse fim, a garantia da lei e da ordem.


A garantia da lei e da ordem aparentemente não é atividade militar, mas o STF tem
afirmado que se caracteriza como atividade militar, quando requisitado.
A Lei Complementar n. 97, de 9-6-1999 é que disciplina organização, preparo e
emprego das Forças Armadas.
A legislação militar não tem alterações recentes que sejam relevantes. O ato
normativo mais recente nessa disciplina é a Súmula 15 do Superior Tribunal Militar.
A principal preocupação do Código Penal Militar é a defesa da Pátria. Tanto é que os
primeiros crimes da parte especial são aqueles contra a defesa da pátria e depois os crimes
que protegem a hierarquia e disciplina militar, diferentemente do Código Penal comum que
prioriza os crimes contra a pessoa.
Insubordinação é gênero?
O Código Penal Militar tem um tipo penal de abuso de autoridade, mas diferente do
abuso da lei 4.898. Exemplos: art. 175 – violência contra inferior e art. 176 – ofensa aviltante
(que é uma modalidade de injúria real).
Art. 175. Praticar violência contra inferior:
Pena – detenção, de três meses a um ano.
Resultado mais grave
Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte é também aplicada a
pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando for o caso, ao disposto no art.
159.

Art. 176. Ofender inferior, mediante ato de violência que, por natureza ou pelo meio
empregado, se considere aviltante:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no parágrafo único do artigo anterior

Os militares são uma categoria própria de servidores públicos, com regime jurídico
próprio. O seu estatuto é a lei 6.880/80, de onde se extrai o conceito moderno de militar.
Essa lei lista as diversas classes de militares.
Topograficamente, primeiro vem os crimes propriamente militares, depois os crimes
impropriamente militares no Código Penal Militar.
O Supremo Tribunal Federal atualmente vem discutindo a questão da pederastia no
ambiente militar, se ele é constitucional ou não em confronto com o combate ao
preconceito.

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A prática de atos libidinosos no ambiente militar também é um crime propriamente


militar, previsto no artigo 235. Porém civil que estiver no ato junto com este militar não
comete esse crime.
Pederastia ou outro ato de libidinagem
Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato libidinoso,
homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar:
Pena - detenção, de seis meses a um ano.

Outra questão que envolve o civil na prática de crimes propriamente militares é a do


artigo 183.
Insubmissão
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo que lhe
foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação:
Pena - impedimento, de três meses a um ano.

Este insubmisso ainda é um civil. Então, fica a questão: O crime de insubmissão pode
ser considerado propriamente militar, mesmo sendo praticado por um civil?
A posição majoritária e o Superior Tribunal Militar afirmam que a insubmissão é
crime propriamente militar, pois o bem jurídico é o serviço militar.
A inclusão desse civil no serviço militar é condição de procedibilidade para a ação
penal pelo crime de insubmissão. Se o civil não passa no exame de sangue ou por outro
motivo de saúde o Ministério Público requer o arquivamento das peças do crime de
insubmissão.
A Advocacia Geral da União não concorda com este posicionamento. Para o órgão,
independentemente dessa incorporação o desertor e o insubmisso devem responder, pois o
crime já ocorreu.
 Pode-se aplicar o princípio da insignificância na esfera militar? Em regra não,
porque os bens jurídicos militares são indisponíveis.
Nos crimes propriamente militares não há que se falar em insignificância. O Superior
Tribunal Militar já disse que não se aplica.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal pontualmente tem admitido a
insignificância. Exemplo: Peculato – Caso de um sargento que se apropriou de um fogão
como compensação pelas reformas que tinha feito em sua moradia funcional (HC 87478 da
1ª Turma do STF).
No caso acima o Tribunal entendeu que não havia razão para punir o sargento, até
porque ele já teria restituído o valor do fogão e se prejudicado com o andamento do

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processo-crime, já que o militar sub judice perde as chances de promoção que lhe seriam
dadas.
Contudo, é possível afirmar que o próprio Código Penal Militar aplica o princípio da
insignificância. O artigo 209, § 6º diz que no caso de lesão corporal levíssima o juiz pode
considerar o fato como infração disciplinar.
Lesão leve
Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão levíssima
§ 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar a infração como disciplinar.

Dessa forma é possível dizer que há a atipicidade material desse fato pela
insignificância.
Exemplo da aplicação desse princípio no Superior Tribunal Militar: Embargos de
Declaração nº 00000354120087010201. O Tribunal entendeu que o artigo 209, § 6º e o 240,
§1º são duas hipóteses de insignificância expressamente previstas no Código Penal Militar.
Quanto ao militar usuário de drogas, hoje até o Supremo Tribunal Federal diz que
não se aplica o artigo 290 do Código Penal Militar. Para esse dispositivo o usuário tem a
mesma pena do traficante.
Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito similar
Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso próprio, guardar, ministrar ou
entregar de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que determine
dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à administração militar, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, até cinco anos.

O Supremo Tribunal Federal até o momento (HC 103684) no inf. 605 entendeu que
não se aplica a insignificância para o militar usuário de drogas, pois o uso de drogas é
incompatível com a atividade militar, nos dizeres do Ministro Ayres Brito, invocando a
hierarquia e a disciplina.
Esse tema pode ser reaberto se o artigo 28 da lei 11.343/06 (Lei de drogas) for
declarado inconstitucional.
A Defensoria Pública da União tem levado esse debate ao Supremo, mas o Superior
Tribunal Militar não aceita a insignificância nesse caso.
Resumindo: Aplica-se a insignificância na esfera militar?
Por expressa disposição legal sim, mas pontualmente na lesão levíssima (art. 209,§6º)
e no furto atenuado (artigo 240, § 1º).
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Nos demais casos a jurisprudência majoritária é contra e o Supremo Tribunal Federal


tem admitido a insignificância em alguns casos pontuais.
Nos crimes propriamente militares nunca!

2.2 Aplicação da Lei Penal Militar


O Código Penal Militar no seu artigo 1º trata do princípio da legalidade. Valem as
mesmas lições aplicadas ao direito penal comum.

2.2.1 Tempo do Crime


O Código Penal Militar no artigo 5º segue a Teoria da Atividade, como o Código Penal
Comum.
Tempo do crime
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o do resultado.

Retroage a lei benéfica e não retroage a lei gravosa.


No artigo 2º está a abolitio criminis e em seu § 1º a novatio legis in mellius.
Lei supressiva de incriminação
Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória
irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil.
Retroatividade de lei mais benigna
§ 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se
retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível.

O parágrafo segundo trata da vedação à combinação de leis.


Apuração da maior benignidade
§ 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem
ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao
fato.

No direito penal esse debate resultou na elaboração da súmula 501 do Superior


Tribunal de Justiça.
501. É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo
da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.

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Observação: O direito penal militar além de não permitir a combinação de leis no


tempo, também veda a mistura com o sistema penal comum.
Exemplo: o estupro no Código Penal comum é hediondo. No Código Penal Militar não
é hediondo. Então a prática do estupro militar não é hediondo, não é permitida esta
combinação.
O Supremo Tribunal Federal no HC 86459 determinou que não haveria esse
hibridismo penal, para o bem ou para o mal. Prevalece a especialidade do Direito Penal
Militar.
O crime continuado tem um tratamento mais severo no Código Penal Militar. Ao
invés da exasperação, usa-se o sistema do somatório. Mas o Superior Tribunal Militar admite
aplicação do artigo 71 do Código Penal comum na esfera militar, apesar da disposição
expressa do Código Penal Militar.
Crime continuado
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro,
aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

O Supremo diz que não. Entende que para o bem ou para o mal se aplica a lei
específica de cada sistema. Como não há omissão, foi a escolha do legislador, e deve ser
dado o tratamento mais severo estipulado.

2.2.2 Lei aplicável às medidas de segurança


O artigo 3º do Código Penal Militar, segundo a maioria da doutrina, não teria sido
recepcionado pela Constituição Federal, pois a lei a ser aplicada deve estar vigendo antes do
fato.
Medidas de segurança
Art. 3º As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença,
prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução.

Se não há lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal, medida de
segurança mesmo que não seja pena deve respeitar o princípio da anterioridade, que é um
desdobramento do princípio da legalidade.
Para o professor Marcelo Uzeda o dispositivo foi recepcionado, mas deve ser
interpretado de acordo com a Constituição Federal.

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Para ele a interpretação correta seria: “as medidas de segurança regem-se pela lei
vigente ao tempo da sentença se for mais favorável, prevalecendo, entretanto, se diversa, a
lei vigente ao tempo da execução se esta for mais benéfica”.
Isso porque a lei penal posterior só se aplica aos fatos anteriores a sua vigência se
trouxer algum benefício ao réu.

2.2.3 Ultra-atividade gravosa das leis excepcionais ou temporárias


O Código Penal Militar deu o mesmo tratamento do Código Penal comum. Lei
temporária e lei excepcional tem ultra-atividade gravosa.
O artigo 4º do Código Penal Militar é idêntico ao artigo 3º do Código Penal comum.
Lei excepcional ou temporária
Art. 4º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado
durante sua vigência.

Questão para Analista do STM 2011: A lei penal militar excepcional ou temporária no
Código Penal Militar possui disciplinamento diverso do Código Penal comum uma vez
que preconiza de forma expressa a ultra-atividade da norma e impõe a incidência da
retroatividade da lei penal mais benigna.

A assertiva está falsa. O disciplinamento é o mesmo.

2.2.4 Lugar do crime


No artigo 6º do Código Penal comum lugar do crime é regido pela Teoria da
Ubiquidade. É o local onde ocorreu a ação ou omissão no todo ou em parte ou onde se
produziu ou deveria produzir-se o resultado.
O Código Penal Militar seguiu um critério diferente.
Para os crimes comissivos aplica-se a Teoria da Ubiquidade.
Quanto ao crime omissivo adota-se a Teoria da Atividade. É o lugar onde deveria ter
sido praticada a conduta. O legislador dispensou o resultado.
O sistema é misto porque ele adota ubiquidade para o comissivo e atividade para o
omissivo.
Exemplo: Um militar fazia um curso nos Estados Unidos. Terminando o período de
trânsito ele permanece naquele país e não se apresenta em sua unidade. Ele é um desertor.

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O lugar do crime é no Brasil, onde ele deveria ter se apresentado, porque é crime omissivo e
se aplica a Teoria da Atividade.
Esse tema caiu na prova da Defensoria Pública da União em 2010:
Diversamente do direito penal comum o direito penal militar consagrou a teoria da
ubiquidade ao considerar como tempo do crime tanto o momento da ação ou da
omissão quanto o momento em que se produziu o resultado.

Assertiva errada. O Código Penal Militar segue uma teoria mista distinguindo o crime
omissivo e o comissivo.

2.2.5 Lei Penal Militar no Espaço


A primeira parte do artigo 7º do Código Penal Militar representa a teoria da
territorialidade temperada.
Aplica-se a lei penal militar ao crime cometido no território nacional, respeitando-se
as convenções, tratados e regras de direito internacional. Exemplo: direito de passagem
inocente e a as imunidades diplomáticas.
Na segunda parte o dispositivo traz a extraterritorialidade incondicionada, irrestrita
do direito penal militar.
Territorialidade, Extraterritorialidade
Art. 7º Aplica-se a lei penal militar , sem prejuízo de convenções, tratados e regras
de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte no território
nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou
tenha sido julgado pela justiça estrangeira.

Esse tema caiu na prova da magistratura militar de 2013 realizada pelo CESPE:
O direito penal militar aplica o princípio da Universalidade, cosmopolita, real ou da
defesa de interesses.

Assertiva errada. O direito penal militar não tem os princípios do art. 7º do Código
Penal Comum. Aqui toda extraterritorialidade é irrestrita.
Extraterritorialidade
CPB Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;

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d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;


II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

A lógica é proteger o princípio da soberania (Defesa da Pátria), uma vez que o


deslocamento das Forças Armadas fora do território nacional e os interesses das instituições
militares representam a soberania do Brasil.
Exemplo: Um militar brasileiro em missão na Argentina pratica um ato de hostilidade
contra o Uruguai (que já estava em atrito com a Argentina), praticando o crime do artigo 136
do Código Penal Militar. Esse ato cria um risco de guerra.
Hostilidade contra país estrangeiro
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estrangeiro, expondo o Brasil a
perigo de guerra:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

Nesse caso não há interesse da Argentina de punir o brasileiro. Pelo contrário, ela
quer ver o circo pegar fogo. Por isso o artigo 7º do Código Penal Militar reserva o direito do
governo brasileiro de puni-lo.
Esse tema caiu na prova da Defensoria Pública da União em 2010 e 2004.
O artigo 7º, §1º aborda o território por extensão ou flutuante que está presente no
artigo 5º, § 1º do Código Penal comum.
Território nacional por extensão

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§ 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território


nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob
comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de
autoridade competente, ainda que de propriedade privada.

Mesmo que a embarcação seja privada pode-se aplicar a ela a lei penal militar se ela
estiver militarmente ocupada ou utilizada. Exemplo: Embarcação privada requisitada para
socorrer navio militar em pane.
Mesmo em águas estrangeiras são território brasileiro por extensão.
A disposição do artigo 7º, §2º é diferente. Diz que pode ser aplicado o Código Penal
Militar em aeronaves ou navios estrangeiros se:
a) Esteja em lugar sujeito à administração militar
b) E o crime atente contra as instituições militares.
Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros
§ 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado a bordo de
aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar ,
e o crime atente contra as instituições militares.

É uma situação excepcional que não tem correspondente no código penal comum.
Exemplo: O arsenal de Marinha do Rio de Janeiro está sujeito à administração militar.
Um navio francês está lá atracado e um oficial da Marinha brasileira é denominado para
entregar uma placa de homenagem ao oficial francês. Lá o francês pratica algum tipo de
ofensa contra o brasileiro, ofendendo a Marinha brasileira. Aplica-se então a lei penal militar
brasileira.

2.2.6 Aplicação quanto à pessoa (conceito de militar)


O conceito de militar está no artigo 22 do Código Penal Militar.
Pessoa considerada militar
Art. 22. É considerada militar , para efeito da aplicação deste Código, qualquer
pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para
nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar .

A definição é incompleta, deixando de fora, por exemplo, os alunos das escolas de


formação de oficiais da reserva que são matriculados e não incorporados.
O artigo 3º da Lei 6.880/80 caracteriza melhor os militares como categoria especial
de servidores da pátria.

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Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional,


formam uma categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares.

Os militares da ativa são os:


a) Incorporados (prestam serviço militar obrigatório);
b) De carreira (voluntários que fazem concurso e adquirem estabilidade com o
tempo);
c) Matriculados (praças especiais que estão no curso de formação);
d) Da reserva quando convocados.
Existe ainda a reserva em sentido amplo que são as polícias militares, bombeiros
militares e o pessoal da aviação civil.
Em tempo de guerra qualquer cidadão pode ser colocado na condição de militar da
ativa.
Os militares inativos são:
a) Militar da reserva - aquele que cumpriu o tempo de serviço. O militar que
passa num concurso fora da carreira é demitido ex officio e entra na reserva
não remunerada. O reservista pode ser convocado para atividade, já que
ainda tem a saúde íntegra.
b) Reformado – esse não volta mais para a atividade.
c) Reservista ou reformado prestando tarefa por tempo certo – para o professor
essa regra é uma burla ao sistema do concurso público.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:
a) na ativa:
I - os de carreira;
II - os incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar inicial, durante
os prazos previstos na legislação que trata do serviço militar, ou durante as prorrogações
daqueles prazos;
III - os componentes da reserva das Forças Armadas quando convocados, reincluídos,
designados ou mobilizados;
IV - os alunos de órgão de formação de militares da ativa e da reserva; e
V - em tempo de guerra, todo cidadão brasileiro mobilizado para o serviço ativo nas
Forças Armadas.
b) na inatividade:
I - os da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das Forças Armadas e
percebam remuneração da União, porém sujeitos, ainda, à prestação de serviço na ativa,
mediante convocação ou mobilização; e
II - os reformados, quando, tendo passado por uma das situações anteriores estejam
dispensados, definitivamente, da prestação de serviço na ativa, mas continuem a
perceber remuneração da União.

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lll - os da reserva remunerada, e, excepcionalmente, os reformados, executado tarefa


por tempo certo, segundo regulamentação para cada Força Armada.

Há uma polêmica com relação aos artigos 12 e 13 do Código Penal Militar.


Equiparação a militar da ativa
Art. 12. O militar da reserva ou reformado, empregado na administração militar,
equipara-se ao militar em situação de atividade, para o efeito da aplicação da lei penal
militar.

Militar da reserva ou reformado


Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e
prerrogativas do posto ou graduação, para o efeito da aplicação da lei penal militar,
quando pratica ou contra ele é praticado crime militar.

A regra do artigo 12 é mais processual do que penal, porque o militar ativo e o inativo
têm duas situações jurídicas diferentes, apesar do artigo 12 equiparar os dois.
O artigo 13 vem, explicando o artigo 12, dizer que são conservadas as
responsabilidades e as prerrogativas do posto ou graduação apenas, para aplicação da lei
penal militar.
Exemplo: Inquérito policial militar que investiga capitão só pode ser presidido por
capitão mais antigo ou patente superior. Isso é uma prerrogativa.
No julgamento do crime o conselho é composto por um juiz e quatro militares. Os
militares devem ser todos mais antigos, mesmo que o réu esteja inativo.

2.2.6.1 Militares estrangeiros


O Código Penal Militar disciplina no artigo 11 o militar estrangeiro.
Militares estrangeiros
Art. 11. Os militares estrangeiros, quando em comissão ou estágio nas forças armadas,
ficam sujeitos à lei penal militar brasileira, ressalvado o disposto em tratados ou
convenções internacionais.

Esse dispositivo também representa o princípio da territorialidade temperada.


Quando em comissão ou estágio nas forças armadas o estrangeiro fica sujeito à lei
penal militar brasileira.

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doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

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2.2.6.2 Referência a “brasileiro” ou “Nacional”


O artigo 26 do Código Penal Militar diz que os termos “brasileiro” ou “nacional são
sinônimos e compreende os enumerados como brasileiros na Constituição Federal.
Esse tema caiu na DPU em 2004:
O termo “nacional” quando utilizado em relação às pessoas no Código Penal Militar
relaciona-se apenas aos brasileiros natos. Já o termo “brasileiro” diz respeito tanto aos
brasileiros natos quanto aos naturalizados.

Assertiva falsa, porque o artigo 26 usa os dois termos como sinônimos.

2.2.6.3 Assemelhado
O conceito de assemelhado está no artigo 21 do Código Penal Militar.
Assemelhado
Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da
Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar, em
virtude de lei ou regulamento.

Ele seria um servidor civil, mas que está sujeito à disciplina militar, por lei ou
regulamento.
Não existe mais nas forças armadas a figura do assemelhado. Hoje todo servidor
federal civil está disciplinado pela Lei 8.112/90. A própria Constituição Federal separou os
sistemas dos servidores civis e militares.
O crime de motim, previsto no artigo 149 do Código Penal Militar é um crime
propriamente militar. Pela sua redação o assemelhado também poderia cometer este crime.
Porém, com a extinção do assemelhado, este termo deve ser considerado como não escrito.
O crime de motim não pode ser praticado pelo civil, ainda que ele contribua com os
amotinados. Ele pode responder por outro crime como dano na esfera militar, por exemplo.
Motim
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:
I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la;
II - recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou
praticando violência;
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência, em
comum, contra superior;
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou
dependência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura
militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação

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militar, ou prática de violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento da


ordem ou da disciplina militar:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para os cabeças.

O próprio Superior Tribunal Militar no RESE 198501005665-9 reconheceu que não


existe mais a figura do assemelhado.
Contudo, não está descartada a hipótese de um servidor civil estar lotado em uma
unidade das forças Armadas. É perfeitamente possível.
Observação: A lei 10.029/00 criou normas gerais para a prestação voluntária de
serviços administrativos e auxiliares de saúde e defesa civil nas polícias militares e corpos de
bombeiros militares dos estados e do Distrito Federal.
Muitos criticaram essa lei quanto a sua constitucionalidade, já que é uma lei federal
que está legislando sobre matéria estadual.
A lei estadual 11.064/02 de São Paulo, com base na lei federal, criou o soldado da PM
temporário. O problema é que o comandante da PM regulamentou esta lei dizendo que esse
soldado-cidadão ficaria subordinado à disciplina militar.
Para Cícero Coimbra funcionou como uma ressurreição da figura do assemelhado que
havia sido extinto. Outros doutrinadores disseram que não houve o retorno do
assemelhado.
A questão era complicada porque esses soldados-cidadãos foram alocados para
atividade de patrulhamento e havia muita discussão sobre a possibilidade ou não do uso de
armas da parte deles.
A discussão chegou ao Superior Tribunal de Justiça no HC 119683. O tribunal disse
que o soldado da PM temporário não é considerado policial militar, mas servidor civil.
Compete à justiça comum o seu processo e julgamento.
Esse precedente foi julgado no Superior Tribunal de Justiça. Os recursos da justiça
militar estadual são julgados no Tribunal de Justiça e depois sobem para aquele.
Se fosse na justiça militar federal o processo iria da auditoria direto para o Superior
Tribunal Militar, podendo subir novamente para o Supremo.
A ADI 4173 está impugnando a lei 10.029/00 sob argumento de tratar-se de um vício
flagrante de iniciativa.
Para o professor o assemelhado continua morto. Na legislação federal já está
pacificado de que não existe, tanto pela doutrina como pela jurisprudência.

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2.2.6.4 Defeito de incorporação


É tratado pelo artigo 14 do Código Penal Militar. Trata-se de uma tese defensiva.
Defeito de incorporação
Art. 14. O defeito do ato de incorporação não exclui a aplicação da lei penal militar,
salvo se alegado ou conhecido antes da prática do crime.

Exemplo¹: Um jovem ao se apresentar ao serviço militar indica que é arrimo de


família no questionário que lhe é dado. Porém a administração, ao analisar a documentação
para seleção, passa direto por este campo e o incorpora, não o dispensando como deveria.
Ele é incorporado e vem a servir. No meio do seu serviço sua mãe fica doente e o
incorporado deserta para cuidar da mãe. Ao se apresentar ou ser capturado ele é preso.
O defensor deve pedir toda documentação do processo de seleção. Como ele não
poderia ter sido incorporado por ser arrimo de família e tal fato foi conhecido ou alegado
antes da deserção, não há crime. É erro da administração.
Se ele é arrimo de família, mas nega, não pode se valer depois do defeito de
incorporação, pois foi ele mesmo que cometeu o erro.
Exemplo²: Um rapaz que tem esquizofrenia se apresenta e a administração no exame
de saúde diz que ele é apto.
Se depois ele tiver um surto e sair vagando a culpa é da administração. Nesse caso
incide a segunda parte do dispositivo e ele não deve responder por deserção porque
também foi erro da administração.
Este artigo nunca caiu em prova

2.2.7 Crime militar


O Código Penal militar só trata de crimes.
E não há contravenções militares. O sistema militar não é bipartido como o sistema
penal comum.
As infrações disciplinares serão tratadas nos regulamentos específicos (RDE, RDM e
RDA).
Infrações disciplinares
Art. 19. Este Código não compreende as infrações dos regulamentos disciplinares.

Crime propriamente militar é aquele cujo bem jurídico tutelado é inerente ao meio
militar e estranho à sociedade civil (autoridade, dever, serviço, hierarquia, disciplina, etc) e
somente pode ser praticado por militar da ativa.

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O artigo 64 do Código Penal comum cita os crimes propriamente militares que não
devem ser considerados para fins de reincidência.
Art. 64 - Para efeito de reincidência:
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.

O artigo 5º, inciso LXI da Constituição Federal também menciona os crimes


propriamente militares.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

As características dos crimes propriamente militares são:


a) Bem jurídico exclusivo
b) estranho à vida comum
c) que tenha previsão exclusiva no Código Penal Militar.
Exemplos de crimes propriamente militares:
 Motim e revolta (art. 149 a 153, CPM);
 Violência contra superior (art. 157 e a forma qualificada – art. 159, CPM);
 Recusa de obediência (art. 163, CPM);
 Reunião ilícita (art. 165, CPM);
 Publicação de crítica indevida (art. 166, CPM);
 Deserção (art. 187 a 192 e omissão de oficial – art. 194, CPM);
 Abandono de posto e outros crimes em serviço (art. 195 a 203, CPM);
No crime impropriamente militar os bens jurídicos tutelados são comuns às esferas
militar e civil (vida, integridade, corporal, patrimônio, etc.)
Podem ser praticados por militar da ativa ou por civil.
São previstos no Código Penal Militar, mas podem ser previstos também, de forma
igual ou semelhante, no Código Penal comum.
Essa diferença entre próprios e impróprios é questão certa de prova.
Há outras polêmicas a serem discutidas.
Por exemplo, um civil pode praticar um crime propriamente militar? A princípio não,
mas em alguns casos sim, como na insubmissão. Inclusive a condição de civil é pressuposto

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do crime, mas para haver o processo ele tem que ser incorporado (condição de
procedibilidade).
O crime do artigo 175 (violência contra subordinado) é propriamente militar,
modalidade de abuso de autoridade.
Violência contra inferior
Art. 175. Praticar violência contra inferior:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Houve um caso no Supremo no qual ficou assentado que embora não exista
hierarquia entre um servidor civil e o militar, comunica-se a condição do militar em concurso
com o civil. Embora seja um crime propriamente militar, o civil responde por esse crime.
Outro caso foi de um civil que serviu numa repartição militar em conjunto com um
militar que se recusaram a cumprir a ordem do superior. Nesse caso ocorreu o crime de
recusa de obediência, que é espécie de insubordinação.
Recusa de obediência
Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de
serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução:
Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Só quem comete este crime é o militar, respondendo pelo art. 163. Ele não se
comunica ao civil.
O civil irá responder pelo crime do artigo 301 do Código Penal Militar. É uma quebra
da teoria monista, porque o crime é propriamente militar.
Desobediência
Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar:
Pena - detenção, até seis meses.

A única exceção, na qual os dois respondem pelo mesmo crime é o do artigo 175 do
Código Penal Militar.
O normal é o civil responder por um crime impropriamente militar dentro do Código
Penal Militar ou por um crime fora do Código Penal Militar.
Para dever de casa ler o artigo 9º do Código Penal Militar.
Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição
na lei penal comum, quando praticados:

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a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma


situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra
militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de
8.8.1996)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva,
ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no
exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação
da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para
aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados
no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de
dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432,
de 2011)

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