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APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

O suicídio é um grande desafio para os gestores no tocante a operacionalização de


políticas públicas intersetoriais que venham reduzir e ou prevenir a ocorrência desse agravo,
visto, se tratar de um fenômeno de alta complexidade, multifacetado e de diversos fatores
determinantes. O suicídio é um grave problema de saúde pública que envolve questões
socioculturais, históricas, psicossociais e ambientais. Este por sua vez se configura com uma
violência autoprovocada quando o indivíduo agride a si próprio ou tenta contra sua própria
vida.

O Ministério da Saúde (Brasil, 2015) criou, em 22 de dezembro de 2005, a portaria de


número 2542, que versa sobre a Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, estimulando
algumas ações locais destinadas à prevenção; assinalou, no entanto, não haver iniciativas de
maior alcance nesse campo. Na tentativa de mobilizar a prevenção do suicídio, o MS estimulou
a realização de Projetos com o propósito de acolher as pessoas que pensam em suicídio. Daí
surgiram alguns projetos como ComViver, no Rio de Janeiro, e Programa de Prevenção de
suicídio implantado no Hospital Ouro Verde, em Campinas, ProVida em Teresina.

Na World Health Organization(WHO, 2016) encontramos três informações acerca do suicídio


que são muito pertinentes para justificar a necessidade de criação de núcleos de atendimento
a pessoas que pensam em suicídio. A primeira informação é de que 800.000 pessoas se
suicidam anualmente. A segunda diz que o suicídio é a segunda maior causa mortis de pessoas
entre 15 e 29 anos de idade. E a terceira é de que a cada quarenta segundos uma pessoa
comete suicídio. Minayo e Cavalcante (2010) trazem mais uma notícia, também de grande
pertinência para o nosso projeto. As autoras dizem que em escala global morrem mais pessoas
vítimas do suicídio do que a soma das que morrem vítimas de homicídios e de guerras.
Segundo a cartilha intitulada Suicídio: informando para prevenir, da Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP, 2014), o Brasil é o oitavo país em números absolutos de suicídio, registrando
em 2012 um total de 11.821 mortes, com aproximadamente 30 mortes por dia. Vasconcelos-
Raposo, Soares, Silva e Teixeira (2016) afirmam que o suicídio é um problema de saúde pública,
por se encontrar entre as dez primeiras causas de morte mundialmente, considerando todas as
faixas etárias, e ocupar o terceiro lugar entre 15 e 35 anos. Com as informações acima, não
resta dúvida de que o suicídio é um problema de saúde pública, como ressaltado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS)

Durkheim (2008), sociólogo francês, pioneiro no estudo sobre o suicídio, escreveu, em


1897, uma obra dedicada ao tema, republicada em 2008. Afirmava que o suicídio era produto
de forças sociais complexas, não entendido fora do contexto social, concebendo-o como um
fato social. Segundo o autor, trata-se de um aspecto patológico da sociedade moderna, o qual
revela a relação entre o indivíduo e a coletividade, ressaltando que os indivíduos podem ser
determinados com base na realidade coletiva.

Nessa direção, pode-se afirmar que o suicídio pode ser evitável; ao contrário de outros
problemas de saúde, as ferramentas para reduzir significativamente a perda mais trágica da
vida, por suicídio, estão disponíveis. Logo, assinala-se a importância da ação coletiva
competente para reconhecer e lidar com esse grave problema, além do compromisso de
delinear intervenções eficazes, apoiadas pela vontade política e pelos recursos humanos e
tecnológicos, cuja realidade redundará em ações de prevenção do suicídio, as quais poderão
alcançar todos os segmentos humanos.

Com relação a atendermos à solicitação da OMS para que se criem mais núcleos de
atendimento a pessoas com ideação suicida, vamos nos ater às informações dessa Instituição.
A OMS (2015) considera que 90% das pessoas que pensam em dar fim à vida não consumariam
o ato se tivessem a oportunidade de ser acolhidas. Isso pode ser constatado no documentário
A Ponte (Blaustein & Fleming, 2009), em que fica evidente a hesitação daquele que pretende
suicidar-se, parecendo que a aproximação de um dos transeuntes poderia reverter a decisão.

Nessa direção, pode-se afirmar que o suicídio pode ser evitável; ao contrário de outros
problemas de saúde, as ferramentas para reduzir significativamente a perda mais trágica da
vida, por suicídio, estão disponíveis. Logo, assinala-se a importância da ação coletiva
competente para reconhecer e lidar com esse grave problema, além do compromisso de
delinear intervenções eficazes, apoiadas pela vontade política e pelos recursos humanos e
tecnológicos, cuja realidade redundará em ações de prevenção do suicídio, as quais poderão
alcançar todos os segmentos humanos.

Os novos processos de trabalho passam a exigir uma equipe multiprofissional


(Psicólogos, Psiquiatras, Terapeutas, Assistente Social e outros) com intervenções
interdisciplinares, buscando um agir na perspectiva da intersetorialidade, ampliando a
compreensão sobre os determinantes da história de vida dos usuários e as suas possibilidades
de reinserção social.

A prevenção ao suicídio alcança uma amplitude maior, estendendo-se a família, a qual


deve ser contemplada pelo cuidado a sua saúde por meio do encaminhamento a rede de saúde
mental ou pelo desenvolvimento de grupos que se tornem espaços de conhecimento acerca do
contexto familiar, sobretudo nos espaços de escuta qualificada e potencialidades do processo
de atenção ao usuário com comportamento suicida.

Diante desse problema de saúde pública e no intuito de prestar um serviço de


assistência terapêutica e de prevenção ao suicídio no município de Campo Maior, este
trabalho objetiva a criação do Projeto ACOLHER( …………..)

INCIDÊNCIA DE SUICÍDOS – Brasil, Estado e no Município de Campo Maior

No Brasil, o suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos


(BRASIL, 2017a). Conforme dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
do Ministério da Saúde/DATASUS/MS (BRASIL, 2018), a taxa de óbitos por suicídio foi de 6,13
por 100 mil habitantes em 2016 (9,8 para homens e 2,5 para mulheres), o que representou
11.433 mortes.

INDICADORES DE VULNERABILIDADE

A ideia de vulnerabilidade e risco social esta relacionada ao público alvo da política de


Assistência Social, entendendo por vulneráveis sujeitos propensos a vivência de situações
negativas de relações de vida, advindas da inexistência de condições sociais e estruturais
cotidianas. Apesar de a lógica conceitual citada relacionar-se a uma origem biológica, a
vulnerabilidade existe a partir da presença do risco. As políticas públicas atuam para a redução
das vulnerabilidades quando suas ações apresentam características de garantia de direitos. De
acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio constitui-se, atualmente um problema
de saúde pública mundial, pois está, em muitos países, entre as três principais causas de morte
entre indivíduos de 15 a 44 anos e é a segunda principal causa de morte entre indivíduos de 10
a 24 anos. A cada ano, aproximadamente um milhão de pessoas morrem devido ao suicídio, o
que representa uma morte a cada 40 segundos. No entanto, a vulnerabilidade que permeia as
famílias e indivíduos não se estende apenas aqueles que se encontram nas classes mais
pauperizadas mas sim também nas que tem poder aquisitivo mais alto, estas por sua vez, ficam
mais mascaradas. Os estudos que investigam as características epidemiológicas das pessoas
que tentam ou cometem suicídio têm destacado a importância da associação desse ato com as
variáveis gênero e depressão. De acordo com Meneghel et al. (2004), alguns fatores protetores
têm sido relacionados à menor ocorrência do suicídio consumado entre as mulheres,
destacando-se a baixa prevalência de alcoolismo, religiosidade e/ou espiritualidade e atitudes
flexíveis em relação às aptidões sociais e ao desempenho de papéis durante a vida. Soma-se a
isso o fato de as mulheres, em geral, identificarem precocemente sinais de risco para
depressão ou outras doenças mentais, estarem mais propensas a buscar ajuda em momentos
de crise e terem uma rede de apoio social e afetivo mais ampla do que os homens. Por outro
lado, os papéis atribuídos à masculinidade 20 envolvem aspectos que podem predispor os
homens a comportamentos suicidas. Tais aspectos podem incluir a competitividade, a
impulsividade e o maior acesso a tecnologias letais e armas de fogo. Além disso, os homens
são mais sensíveis a aspectos relacionados ao trabalho, ao desemprego e ao empobrecimento
(Meneghel et al., 2004). Conforme as autoras Luiza de Lima Braga; Débora Dalbosco Dell'Aglio.
Os sintomas de depressão, como tristeza, desesperança, faltam de motivação e interesse pela
vida faz com que este transtorno seja um dos principais fatores de risco ao suicídio. Nesse
sentido, destaca-se a necessidade de que os profissionais da área da saúde sejam capacitados
para a identificação e o manejo de sintomas depressivos, além de conhecer a dinâmica do
suicídio e as características de gênero envolvidas nesse comportamento. Salienta-se também a
importância do aprimoramento e do avanço nos estudos sobre os medicamentos
antidepressivos específicos para essa faixa etária, já que a maior disponibilidade desses
medicamentos em serviços de saúde poderia auxiliar na redução dos casos de suicídio em
adolescentes.

OBJETIVOS

Geral

Específicos

- Criar um núcleo de apoio transdisciplinar permanente que ofereça tratamento às pessoas


com ideação suicida e outros fatores de risco;
- realizar acolhimentos e triagens de possíveis usuários e seus familiares, incluindo-os nas
politicas públicas de saúde, educação e assistência social;

- quantificar e publicar as informações colhidas para que a partir delas sejam elaboradas outras
políticas de combate ao suicídio e seus agravantes socioculturais;

- realizar plantões psicológicos;

- criar multiplicadores através da capacitação dos profissionais, para que possam disseminar
informações sobre o suicídio e alertar para os fatores de risco, de modo a combatê-los e
preveni-los;

- criar um plano de marketing com o qual seja realizada a divulgação da campanha municipal
ACOLHER PARA VIDA, levando informações qualificadas e precisas sobre o suicídio e das
possibilidades de tratamento a população geral de Campo Maior.

MÉTODO

Público Alvo

O projeto é destinado principalmente a população geral de Campo Maior que esteja


vivenciando a experiência dos fatores que envolvem o suicídio, tanto para o portador da
ideação, quanto para os familiares daqueles que efetivaram o suicídio. Porém convém
mencionar que o projeto engloba a capacitação dos profissionais do município (saúde,
educação e assistência social) para que possam abordar com pragmatismo esse tema.

Procedimentos

- Através do Núcleo serão realizados encontros semanais ou quinzenais com os integrantes


para que sejam elaboradas ações de cunho preventivo e de combate ao fenômeno em
questão, considerando a urgência.

-A equipes do núcleo atuarão nas comunidades levando informações, esclarecimentos,


rompendo tabus e preconceitos, mediante as ações planejadas.
-O núcleo formará uma comissão que organizará os eventos de capacitação com os
profissionais sobre os temas, em locais apropriados para a realização de vivências e
trocas de informações e conhecimentos.
-As ações inicialmente serão voltadas às escolas, eventos municipais e outras
instituições públicas (ESF, CAPS, HRCM, CRAS, CREAS, CEO, delegacias e
rodoviárias) e privadas (igrejas, empresas, fábricas, lojas e associações). Serão
utilizados como método de divulgação e intervenção: cartazes, salas de espera,
panfletagens, comunidades virtuais, visitas domiciliares, palestras educativas, rodas de
conversas, escuta qualificada e acolhimento, plantão psicológico e grupo de apoio.
-O núcleo contará com uma estrutura física de uma sala
EQUIPE

assim como os profissionais envolvidos nas ações de prevenção ao suicídio,


devem compreender e identificar as situações de vulnerabilidade: as doenças graves, a
ansiedade, crise conjugal e familiar, luto, uso de álcool e outras drogas, a tentativa
prévia de suicídio, a doença mental, , a impulsividade; a idade, pois constata-se o
aumento dos casos de suicídio entre os jovens e os idosos; as relações de gênero, sendo
os óbitos por suicídio três vezes maiores entre os homens do que entre as mulheres e as
tentativas mais presentes entre as mulheres; doenças clinicas não psiquiátricas, eventos
adversos na infância e na adolescência como abuso sexual e físico, maus tratos; história
familiar e genética de suicídio e fatores sociais (CFM, 2014).

Cabe ao Assistente Social um olhar ampliado dos aspectos supracitados,


considerando sua especificidade e sua intervenção nas refrações da questão social, com
destaque a fragilização ou rompimento dos vínculos familiares, a violência doméstica,
os maus tratos ou abuso de crianças e adolescentes; idosos que vivenciam negligência,
violência física, psicológica, financeira ou material, dentre outros.

As demandas podem ser identificadas, inicialmente, por meio da Supervisão


Clínica, ou seja, da socialização dos casos junto a equipe multiprofissional. Porém, é
por meio da realização do estudo socioeconômico/estudo social que o Assistente Social
reconhece as necessidades dos usuários, no intuito de elaborar estratégias de
intervenção.

EQUIPE

Assistente Social –

- Acolhimento Emergencial

- Desenvolver ações profissionais integradas com os diversos profissionais que prestam


atendimento aos usuários, garantindo uma abordagem multidisciplinar;

- Acolher a Família

-Realizar visitas Domiciliares

- Realizar acolhimento em grupo

- Realizar palestra

Psicologo -

- Acolhimento, Vinculo e Corresponsabilidade

-Intervenção em Crise
- Avaliação do Risco

- Projeto Terapêutico Singular

- Psicoterapia( continuidade do cuidado )

-Pósvenção : Cuidados e Intervenções com os sobreviventes e apoio ao Luto

ORÇAMENTO

RESULTADOS ESPERADOS

Espera-se que os índices de suicídio e de pressão maior no município sejam reduzidos


drasticamente, a partir da compreensão da possibilidade de tratamento pela população, em
especial pelas pessoas que são potenciais suicidas. Estima-se também que o núcleo possa
coexistir com os demais dispositivos da saúde, permanentemente, criando uma rede
fortalecida de combate a esse fenômeno, devendo o órgão ser mantido com os recursos
municipais. Ainda nesta direção, é esperado que os profissionais sejam capacitados
periodicamente, contribuindo com a população através de campanhas e ações sistemáticas.
RISCOS E DIFICULDADES

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