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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Goiânia
2001
2
COMISSÃO EXAMINADORA:
Goiânia
2001
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas que mais contribuíram para a realização deste de
maneira direta ou indireta, até mesmo sem saber: À minha avó Emília, à minha mãe Ginalva,
à minha esposa Valéria e os meus filhos Anna Clara e Victor Tadeu. Todos eles, estando
longe ou perto, através de seu amor, às vezes sem saber, deram força suficiente para concluir
este trabalho que tanto exigiu de mim e cederam momentos inestimáveis de sua existência em
AGRADECIMENTOS
compreensiva em momentos difíceis deste período e sem a qual, este trabalho não teria
conseguido atingir ao ponto que chegou.
7
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this text is to think about the practice of physical activity realized for
adults from 20 to 50 years old in the gymnastics fitness centers in the Goiânia City. So, it was
selected four gymnastics fitness centers with different characteristics. The problem of this
research is to know “Why adults from 20 to 50 years old practice physical activity?”
Objectives of this work are: a) identify how important are health, aesthetics and leisure to
adults when they practice physical activity; b) investigate the level of the influence of
autoconscience and media in this process. The theoretical referential adopted was Marx,
Adorno, Horkheimer and Leontiev. To reach objectives purposed, it was made a survey
trough meeting appointment with 77 practitioners of physical activity in gymnastics fitness
centers of Goiânia. Data were analyzed by Epi Info and had a statistics treatment by chi-
square. The conclusion was: 1st) the principal objective of physical activity practice between
adults from 20 to 50 years old is aesthetics, followed by health and by leisure; 2nd) It was
demonstrated that media influences the practice of physical activity more than
autoconscience. Finally, it’s presented the idea that the gymnastics fitness centers must be
seen for Physical Education Teacher like a site of a no-formal education, emphasizing
pedagogical practice like fundamental element.
14
INTRODUÇÃO
Desde a antigüidade o ser humano se utiliza do seu corpo para estabelecer a sua
relação com o mundo, sendo o corpo aqui entendido como a forma da espécie humana estar
presente no mundo, atuando sobre ele, transformando-o de acordo com as suas necessidades,
promovendo ao mesmo tempo a sua transformação pessoal, porquanto a sua ação retorna para
ele. Este processo de ação se dá pelo trabalho, que por sua vez, só é possível quando ocorre o
movimento.
A relação estabelecida através do movimento modificou-se com o passar dos
tempos. De necessidade básica do ser humano, como a fuga de grandes animais, da produção
de utensílios e das atividades como lavrar a terra, para a sua utilização em festividades, onde
as danças representavam a fé, a alegria e a celebração da vida e/ou da morte. Estas práticas
também oscilavam da realização das lutas e guerras, torneios de gladiadores, os quais tinham
a finalidade de divertir o povo, até a utilização de movimentos e exercícios ginásticos com o
objetivo de curar o corpo e a alma de enfermidades, torná-los mais belo e assim conquistar o
sexo oposto. Havia também a realização de jogos e brincadeiras pelas crianças como forma
própria de interpretar o mundo, ou ainda a realização de eventos como as olimpíadas
modernas, possuindo em seu discurso oficial a celebração da paz e da fraternidade entre os
povos, constituindo um meio de venda de mercadorias das mais diversas e possibilitando,
dessa maneira, o lazer passivo. Ainda na linha da diversão, poder-se-ia falar dos movimentos
acrobáticos das atividades circenses e da pura expressão dos sentimentos e até do auto-
conhecimento nas situações cotidianas, demonstradas através da mímica e da expressão
corporal.
Assim, dentre os diferentes objetivos expressos nos elementos constitutivos da
cultura corporal (os jogos, as lutas, a dança, os esportes, a ginástica, as atividades circenses e
a mímica), identificam-se diferentes possibilidades de utilização da atividade física no mundo
atual. As diferentes formas de realização do movimento continuam presentes na vida das
pessoas, porém com atualizações ocorridas com o passar dos tempos, remetendo cada uma
15
delas a conceitos influenciados por fatores nem sempre muito justos, os quais são difundidos
em massa, em benefício de algumas pessoas e grupos hegemônicos.
Mesmo assim, apesar de todos os benefícios e utilização das diferentes práticas
devido ao acelerado desenvolvimento tecnológico, sobretudo as pessoas adultas estão se
movimentando cada vez menos, elevando de forma significativa o índice de sedentarismo da
população mundial na faixa etária em estudo. Dados apresentados pela Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS, 1998) indicam um quadro dos diferentes níveis de atividade
física da população, apontando um nível de sedentarismo de 58%. Ainda nesta linha, Anjos
(1999) apresenta níveis elevados de sedentarismo em todo o Brasil: no município de São
Paulo o índice era de 69% em 1990, tendo em Porto Alegre, 1993, o mesmo índice. Os dados
apresentam também níveis diferenciados para homens e mulheres. Os níveis para estas
chegam em algumas situações a 82% (Porto Alegre). Esses dados são semelhantes aos
apresentados recentemente em Goiânia. Baptista (2000), referindo-se aos índices apresentados
pelas Secretarias de Saúde – Municipal e Estadual – junto com outras instituições e
envolvidas com o Projeto C.A.R.M.E.N.T. (Conjunto de Ações para a Redução Multifatorial
de Enfermidades Não-Transmissíveis), em um estudo multicêntrico em parceria com a OPAS,
mostra parâmetros de inatividade física de 66,2% em mais de 3000 pessoas pesquisadas em
domicílio na região leste desta cidade.
Apesar desse número alarmante de sedentários, a realização de exercícios está
crescendo desde o final da década de 60, quando o Dr. Keneth Cooper divulgou os resultados
de seus estudos feitos com oficiais da Força Aérea Americana, onde vários militares
considerados em situação de baixa haviam evoluído em sua capacidade física, devido à
prática de exercícios regulares. A partir da publicação dessas pesquisas e da justificativa para
a prática de exercícios onde a meta principal é a melhoria da saúde, ocorreu um aumento
significativo no número de pessoas que passam a praticar atividades físicas de forma
sistematizada.
Todos esses dados têm embutida a preocupação da prática corporal devido à
relação existente entre essa ação e a prevenção de doenças crônico-degenerativas, como é o
caso da obesidade, da hipertensão, da diabetes e da osteoporose, entre tantas outras, onde a
prática de exercícios físicos é entendida como um dos elementos não-medicamentosos do
tratamento. É importante ressaltar, ainda, que para a atividade física surtir os efeitos
necessários, é de fundamental importância uma prática regular, o que acontece quando se
realizam exercícios na maior parte dos dias da semana, de forma leve a moderada.
16
1
Pode-se entender por treinamento qualquer prática regular e sistemática de atividade física que tenha por
objetivo obter algum resultado do ponto de vista corporal.
2
Microciclo é o espaço de tempo relativo ao período de uma semana a 10 dias. Este termo é usado com
freqüência na teoria do Treinamento Desportivo.
17
para a comunidade, a partir de um programa de extensão que tem como objetivo aprimorar a
formação profissional de seus alunos, servindo como campo de estágio.
A seguir, esses locais foram visitados para que se pudesse detectar as principais
características de cada local. Após as visitas, detectou-se a discrepância entre as
características das academias, do clube e da faculdade. Optou-se por eliminar o clube e a
faculdade de Educação Física. Além disso, a coordenação de uma das academias ofereceu
resistência à coleta de dados, o que determinou a sua eliminação. Finalmente, foram definidas
as quatro academias de ginástica que acabaram participando da realização deste trabalho, as
quais possuíam características diversificadas, mas que, ao mesmo tempo, apresentavam
elementos semelhantes a várias outras academias existentes em Goiânia. As academias foram
visitadas no início no 2º semestre de 1998, com o intuito de se obter a colaboração dos
proprietários e o perfil dos alunos-alvo. Após a elaboração dos instrumentos, foi feito um
segundo contato, no final de 1999, ainda com os proprietários, para se confirmar o início das
entrevistas, além de conseguir uma relação de nome e idade dos alunos para que se
procedesse ao sorteio das pessoas a serem entrevistadas. Foi detectada uma diferença em
relação ao número de alunos informados anteriormente, fato explicado pela rotatividade dos
alunos, o que é bastante comum na realidade das academias. Essas etapas definiram os
seguintes locais para o levantamento de dados:
a. a Academia 1 está situada no Setor Bueno. Tem uma média de 500 alunos
durante o ano. Oferece vários tipos de atividades como ginástica, musculação,
ergometria (trabalho aeróbio em bicicletas, esteiras e outros equipamentos),
entre outras. Possui quadro aproximado de 12 professores e mensalidades de
R$ 70,003. Funciona de segunda à sexta, nos três períodos, e aos sábados, só
no matutino. O maior movimento ocorre das 7:00 às 8:30 e das 18:45 as 20:30
horas, principalmente nas segundas, terças e quartas. Atende um público de
classe média e alta. No final de 1999 possuía 304 alunos, dentro da faixa etária
em estudo que estavam praticando atividade física há mais de 3 meses.
Desses, 78,61% eram mulheres e 21,38% homens.
b. a Academia 2 está localizada no Setor Pedro Ludovico. Tem média de 150
alunos. As modalidades oferecidas limitam-se à ergometria e musculação.
Apresenta como característica importante o fato de já ter tido atletas
competindo em musculação. Possui quatro professores e mensalidade de R$
3
Esse valor no momento da pesquisa eqüivale aproximadamente a meio salário mínimo, fixado nesse momento
em R$ 151, 00.
19
30,00. Funciona de segunda à sexta das 6:00 ás 12:00 e das 15:00 às 22:00
horas, e aos sábados, no período matutino, até às 13:00 horas. Os dias de
maior movimento são a segunda, a quarta e a sexta, das 18:30 às 20:30 horas.
O público é de classe média. Os dados, no final de 1999, apresentavam 84
alunos de 20 a 50 anos, com mais de três meses de prática, dos quais 60,71%
eram homens e 39,28% mulheres.
c. a Academia 3 está localizada no Setor Sul, tendo média de 250 alunos. Está
ligada a uma clínica com consultório médico, por onde passa a grande maioria
dos alunos. As modalidades oferecidas são a hidroginástica, natação,
ergometria, ginástica localizada, musculação e personal training. Tem sete
professores e a mensalidade média é de R$ 50,00. Funciona de segunda à
sexta das 7:00 às 11:30 e das 14:00 às 20:00 horas. Os dias e horários de
maior movimento são de segunda à sexta das 8:00 às 10:00 e das 17:00 às
20:00 horas. O público é variado, objetiva a busca da saúde. Dados do final de
1999 apresentam 47 alunos, dos quais 82,9% mulheres e 17,0% homens,
dentro da faixa etária e período de prática definidos para a pesquisa. No
entanto, no início da pesquisa os homens que realizavam atividades na
academia, atendendo aos critérios estabelecidos, não foram encontrados. Por
isso, foram descartados, mantendo-se as mulheres no total de 39 pessoas.
Assim, as mulheres passaram a perfazer 100% do universo pesquisado,
extraindo-se daí, o percentual relativo à amostra nessa academia.
d. a Academia 4 está localizada no Setor Oeste, tendo aproximadamente 250
alunos na unidade, uma vez que a referida Academia possui três unidades em
locais diferentes. As modalidades oferecidas são a natação, a hidroginástica e
o programa fitness, composto por ergometria, musculação e diversos tipos de
ginástica. Possui em torno de sete professores e mensalidade de R$ 70,00.
Funciona de segunda à sexta nos três períodos e sábado só no matutino. Os
dias e horários de maior movimento são segunda, terça e quarta, das 7:00 às
8:30 e das 18:00 às 19:30 horas. Dados relativos ao final de 1999 apresentam
total de 299 alunos dentro da faixa etária e do período de tempo necessário
para ser enquadrado nos critérios de pesquisa. Destes, 72,24% eram mulheres
e 27,71%, homens.
20
A vida humana é marcada por diversas fases durante o seu curso, sendo essencial,
ao longo de toda história pessoal, a vivência dos diversos momentos em toda a intensidade
que cada um deles exige. A existência de cada instante pode ser dividida em períodos mais
longos ou mais curtos, deixando maiores ou menores lembranças, mas nem por isso cada uma
delas deixa de ser importante. Essas fases podem ser descritas de diferentes formas,
dependendo da abordagem utilizada, sendo, todavia, percebida a existência de pelo menos três
momentos: a infância (de 0 a 10 anos), a adolescência (dos 10 aos 20 anos) e a vida adulta
(dos 20 anos até a morte). Pode-se, ainda, considerar um outro período de vida: a velhice,
sendo essa compreendida a princípio, na elaboração deste trabalho, a partir dos 65 anos, idade
adotada para se definir o período de aposentadoria.
Dentro dessa divisão, tanto a Educação como a Educação Física sempre deram
bastante atenção para as duas primeiras etapas, deixando em segundo plano a fase adulta
como parte do desenvolvimento do ser humano. Da mesma forma, só nos últimos anos
começou-se a dar atenção para os idosos, fato ocorrido devido ao crescente aumento da
expectativa de vida, não apenas no Brasil como no mundo, aliado à uma redução na taxa de
mortalidade infantil e aos avanços da medicina, que permitem um combate cada vez mais
eficaz contra os diversos tipos de doença.
A intenção deste capítulo é estabelecer uma discussão a respeito do que venha a
ser essa fase da vida, entendida como o período adulto, onde se percebe, sem muito esforço,
um “momento de estabilidade” no que concerne ao desenvolvimento do ser humano.
Entretanto, essa constância pode ser real nos aspectos biológicos, porém está longe de sê-la
em relação às dimensões psicológicas e sociais da humanidade.
Porém, antes de se discutirem todas as características da vida humana em sua
adultez devem-se apresentar as formas que são adotadas para a sua divisão. Nesse sentido,
buscar-se-á uma divisão que atenda às necessidades deste trabalho, contudo atendendo as
demandas da Educação Física enquanto uma área do conhecimento que se preocupa com o
23
desenvolvimento total da pessoa, sem poder, para isso, selecionar uma dimensão como sendo
a mais importante. Dessa maneira, poder-se-iam considerar, ao menos, três vertentes quanto à
divisão desse período da vida, sendo elas: a) a psicologia social4; b) a psicologia do
desenvolvimento5 e c) o desenvolvimento motor6. Entretanto, considera-se que a discussão
dentro de cada tendência poderia constituir uma reflexão desnecessária, embora não se possa
deixar de mencionar essas diferentes abordagens.
Pensando assim, deve-se destacar que qualquer abordagem adotada terá efeito
meramente didático, uma vez que a apreensão da essência de um objeto que se movimenta,
que é dinâmico em suas relações, seria extremamente simplista e parcial. Mesmo adotando
esta posição de extrema parcialidade, procurar-se-á adotar uma divisão para o período de vida
adulto que, no conjunto dessa discussão, possa dar o maior nível de sustentação e coerência na
relação entre o referencial teórico e os dados obtidos em campo. Por isso, será como ponto de
corte nesta reflexão uma abordagem que atenda a necessidade de procurar entender o ser
humano na totalidade de suas relações. Mesmo não se conseguindo fazer uma discussão
detalhada das várias etapas da vida, serão apresentados os aspectos centrais do
desenvolvimento de um período onde o ser humano passa a assumir maior número de
responsabilidades sociais.
Todavia, ainda se entende que determinados aspectos devem ser compreendidos
de maneira suficiente para dar o devido suporte às relações da atividade física com a saúde e
mesmo com a estética, uma vez que essas alterações, esses objetivos precisam dessa base para
se justificar, e, também, por entender que os processos fisiológicos responsáveis pela vida do
ser humano não podem ser negligenciados.
Assim, adota-se a seguinte classificação para efeito didático desta pesquisa:
4
Sobre as divisões da Psicologia Social, sugerimos a leitura do trabalho de Miranda (1999).
5
Na Psicologia do Desenvolvimento vários são os estudos que poderiam ser mencionados. Contudo entendemos
que as leituras de Mosquera (1983), Bee & Mitchell (1984), Neri (1995), são interessantes e suficientes. Além
destes autores entendemos que Erikson (1998) é uma leitura obrigatória, por ele ser um autor de referência nessa
área.
6
A perspectiva do Desenvolvimento Motor pode ser analisada nas obras de Pikunas (1979), Meinel (1984),
Weineck (1991) e Eckert (1993).
24
♦ Adulto Jovem – Dos 20 aos 30 anos de idade. Nesse período da vida o ser
humano passa a assumir um grande número de papéis sociais, sendo inclusive o
momento no qual, teoricamente, está se inserindo no mundo do trabalho,
iniciando, assim, a sua “carreira” profissional. Nesse período, normalmente, o
adulto já tem parte de sua personalidade formada, tendo que passar pela definição
e escolha de um companheiro, com o qual passará a dividir uma parte importante
de sua vida. Além disso, nesse momento o jovem está no ápice da sua capacidade
corporal, estando em plenas condições de desenvolver qualquer atividade física
que tenha vontade.
♦ Adulto Médio – Dos 31 aos 40 anos. Nesse período o ser humano já tem (ou
deveria ter) normalmente uma profissão, na qual já possui experiência suficiente
para realizar as atividades com desenvoltura. Do ponto de vista psicológico, o
homem e a mulher já devem ter maturidade suficiente para enfrentar as
dificuldades da vida e as perdas que começam a acontecer. Passam por um
período de opção quanto à realização de atividades produtivas que podem ser
refletidas na capacidade de gerar e criar filhos ou enfrentar novos desafios no
trabalho, como modificar as relações dentro do seu local de trabalho. Do ponto de
vista físico, começam a perder velocidade e força, tendem a engordar e começam
a ocorrer perdas orgânicas gradativas, embora se possa considerar essa época
como de relativa estabilidade.
♦ Adulto Maduro – Dos 41 aos 50 anos. Nesse período já existe uma
consolidação da carreira e a estabilidade atinge o seu cume no início dessa década.
Do ponto de vista psicológico existe um momento de reflexão, de balanço sobre
os rumos que foram tomados na vida, que embora possa ser bastante diferente
entre as pessoas, naquelas que o vivem mais intensamente, é uma fase muito
importante para ajudar até mesmo na consolidação da personalidade e dos planos
futuros. Para as mulheres pode ser ainda mais crítico devido à menopausa, que
altera o funcionamento fisiológico, fazendo com que ela perca a capacidade de
engravidar por meios naturais, e, inclusive, gerando maior risco para algumas
doenças, devido à falta de circulação de hormônios sexuais. Do ponto de vista
motor, as perdas se acentuam um pouco mais e, a partir daqui, são contra-
indicadas atividades esportivas competitivas em categorias principais. A partir dos
45 anos torna-se obrigatória uma avaliação médica mais rigorosa para a realização
de atividade física.
25
Depois desses três períodos, pode-se pensar em pelo menos mais dois. Um que
poderia ser chamado de “adulto tardio”, entre os 51 e 65 anos. Outro, o “adulto idoso” acima
de 65 anos. Como o presente trabalho se preocupa com o período que vai dos 20 aos 50 anos,
esses dois períodos não serão tratados.
As características relatadas até agora servem apenas para justificar a opção pela
divisão dessa fase da vida. A seguir, serão abordados os elementos físicos, psicológicos e
sociais de uma forma mais detalhada e abrangente, discutindo o adulto em seu todo, pois as
alterações ocorridas dentro de todo o ciclo vital são decorrentes de um processo de
desenvolvimento contínuo, no qual cada ser humano está inserido.
... a maturidade sexual atinge seu máximo durante os anos adultos de modo que as
mudanças na estrutura física e no funcionamento fisiológico associadas com
diferenças em sexo são maximizadas. Embora o período da maioridade seja
marcado pelo fechamento da epífise óssea pela estabilidade em crescimento físico e
funcionamento fisiológico de cada indivíduo, a dotação genética e as influências
ambientais agindo sobre diferentes indivíduos faz o período da fase adulta um dos
que exibem a maior variação em parâmetros de desempenho dentro de cada sexo e
entre eles. (ECKERT, 1993: 331)
7
Resistência Aeróbia é a capacidade que as pessoas têm de realizar uma atividade física por um período de
tempo prolongado com a utilização de O2, que possibilita a realização da atividade sem atingir a fadiga.
27
Não se pode esquecer, todavia, que essa maior quantidade de gordura é essencial
no controle das funções hormonais nas mulheres, ao ponto de sua pouca quantidade ser
responsável por distúrbios como a amenorréia. Esse fato ocorrerá caso o percentual de
gordura da mulher fique abaixo de 12%, considerado o nível de gordura essencial para as
mulheres. Nos homens, a gordura essencial fica em 3%. Associada a essa questão fisiológica,
pode aparecer outra mais individual, pois a prática de atividade física pode interferir no nível
de capacidade aeróbia. Além disso, a mulher parece não receber muitos estímulos para se
manter ativa fisicamente. Essa redução acaba contribuindo para os altos níveis de
sedentarismo entre as mulheres, além de redução na sua capacidade orgânica. Estão ainda
relacionados a essa menor capacidade aeróbia, outros fatores como a menor quantidade de
hemoglobina no sangue, a menor volemia8, menor capacidade pulmonar, entre outros.
Outros parâmetros físicos importantes, são a velocidade9, a força10 e a resistência
anaeróbia11. A primeira, tanto nos homens quanto nas mulheres, atinge o seu pico em torno
dos 22 anos. Já a segunda alcança seu máximo, em ambos os sexos, até os 30 anos (Barbanti,
1979). O pico da força para as mulheres se inicia aos 16 e para os homens aos 20.
Como a força absoluta mostra (...) pouco declínio durante o mesmo alcance de
idade, (sic!)12 pareceria que este declínio em desempenho motor é devido ao peso
crescente (...) o qual parece ser principalmente de tecido adiposo e, por este motivo,
retarda o desempenho nos itens do teste. (ECKERT,1993: 348)
8
Volemia é a quantidade total de sangue no corpo.
9
Velocidade é a capacidade de realizar qualquer movimento no menor espaço de tempo possível.
10
Força é a capacidade de superar uma resistência, normalmente estabelecida como peso.
11
A resistência anaeróbia é entendida como a capacidade de realizar uma atividade física, sem que haja, para
isso, a quantidade de oxigênio suficiente para produzir energia através do ciclo de krebs. Assim, ocorre um
aumento da quantidade de ácido lático produzido, podendo acarretar alterações metabólicas significativas.
12
A faixa etária mencionada no texto original diz respeito ao período que vai dos 21 aos 48 anos.
28
competição não seja incomum em uma idade posterior naquelas atividades que
envolvem um alto grau de experiência. (idem: 354)
Embora este estudo não se preocupe com a competição, o item levantado acima
serve para demonstrar dois aspectos. O primeiro é que o adulto jovem tem todas as condições
fisiológicas necessárias para participar de eventos esportivos. O segundo, é a necessidade de
desmistificação do fato de que um adulto médio não possa participar de competições de alto
nível objetivando a vitória. Apenas os adultos maduros são desaconselhados dessa prática por
Weineck (1991), devido a fatores de manutenção da integridade física e da própria saúde que
podem ser comprometidas pelas altíssimas exigências orgânicas realizadas no treinamento de
alto nível.
Contudo, relacionada à prática de atividade física enquanto um elemento de saúde,
as principais formas de solicitação motora a serem desenvolvidas são a resistência aeróbia, a
força, a flexibilidade e a resistência muscular localizada. A flexibilidade está relacionada à
capacidade de realizar movimentos em grande amplitude, o que está relacionado, de certa
maneira, com a execução de atividades diárias, como amarrar um sapato, pegar um objeto que
caiu no chão, entre outros.
Já a resistência muscular localizada é a capacidade de realizar um determinado
trabalho, usando-se pequenos níveis de força por um tempo prolongado. Esse parâmetro é
importante para o desenvolvimento de atividades como carregar uma criança no colo, levar
um saco de arroz do supermercado para casa, entre outros.
É importante, visando esse objetivo, o estímulo dado à prática de atividade física,
pois somente através dela é que os adultos poderão manter um nível de capacidade física
mínimo para a realização de suas atividades diárias.
Todos esses aspectos da vida adulta podem ser complementados ainda por uma
série de parâmetros fisiológicos médios como o débito cardíaco de 5 litros de sangue por
minuto; a capacidade pulmonar total em torno de 6 litros de ar por minuto; a freqüência
cardíaca em um adulto fica em torno de 72 batimentos por minuto (bpm), podendo, contudo,
variar de 60 a 80 bpm. Já a freqüência respiratória se mantém em torno de 12 incursões por
minuto, havendo uma pequena diferença entre homens e mulheres, tendo aqueles uma
respiração mais torácica, enquanto as mulheres possuem uma respiração mais abdominal.
Ainda em relação a padrões de normalidade, pode-se dizer que eles servem apenas como uma
referência em estudos populacionais, uma vez que as diferenças no biotipo das pessoas, bem
como os seus hábitos de vida podem interferir em cada parâmetro estudado.
29
Todos esses conceitos e níveis físicos podem ser importantes para uma melhor
noção dos parâmetros de normalidade para uma pessoa adulta, pois as perdas relacionadas à
capacidade orgânica podem influenciar decisivamente a saúde fisiológica das pessoas. Assim,
forma contínua ou acumulada. Dados como esses foram demonstrados por McArdle, Katch &
Katch (1998) e Lee (2000a), com esta pesquisadora apontando inclusive para a diminuição de
risco de doenças cardiovasculares, além de outras como o câncer de cólon.
Todas essas características dão uma rápida dimensão do desenvolvimento
fisiológico e motor nos jovens anos adultos. Apresentar-se-ão agora, os aspectos
característicos do adulto médio. Esse período da vida se inicia geralmente aos 31 anos,
quando o adulto alcança o ápice das suas responsabilidades profissionais e familiares. Pode
ser considerado um período de gradativas perdas no desempenho motor, um vez que a maioria
dos processos biológicos começam a se degenerar, perdendo, gradativamente, a sua máxima
capacidade de desempenho, pois,
Até o final da terceira década, já são bem altas a rapidez e a extensão do retrocesso
de rendimento em solicitações de rendimento (...) motor (...).
Consequentemente, o processo de retrocesso é de início muito maior,
em termos absolutos, que nas décadas de vida seguintes. (MEINEL, 1984: 371)
13
A Taxa metabólica Basal diz respeito a quantidade de energia despendida na situação de repouso.
32
Gráfico 1: Distribuição de faixa etária dos praticantes de Atividade Física, por Academia
5 6 ,2 5
50
4 5 ,4 5
4 3 ,4 8 4 3 ,4 8
3 7 ,5
3 3 ,3 3
3 1 ,2 5 3 1 ,2 5 3 1 ,1 7
2 0 -3 0
3 1 -4 0
25 4 1 -5 0
2 3 ,3 8
1 8 ,7 5
1 6 ,6 7
1 3 ,0 4
A c a d e m ia 1 A c a d e m ia 2 A c a d e m ia 3 A c a d e m ia 4 TOTAL
Gráfico 2: Distribuição por sexo dos praticantes de Atividade Física, por Academia
87,5
72,73
65,22
Masculino
56,25 Feminino
Total
43,75
34,78
27,27
12,5
60
Academia 1
Academia 2
Academia 3
50 Academia 4
TOTAL
40
30
20
10
0
Fundamental
Graduação
Graduação
Incompleto
Completo
Incompleto
Completo
Incompleto
Superior
Completo
Incompleto
Superior
Médio
Médio
Pós-
Pós-
Nesse caso se torna bem claro que as pessoas que realizam atividades físicas
regularmente possuem um nível de instrução bastante elevado. A maior parte das pessoas
possui nível superior. Destas, 42,85% estão cursando Pós-Graduação. Vale a pena atentar para
o fato de que apenas a Academia 2 apresenta pessoas com ensino fundamental incompleto,
correspondendo a 12,5% de seus alunos, e mais 25% de alunos com o ensino médio
incompleto. Essa característica se dá provavelmente por sua localização. Esses dados sugerem
a elitização desse espaço que trata de alguns dos elementos da cultura corporal, entendendo-se
que pessoas de nível superior são, em sua maioria, de classe média e alta.
Dentro da pesquisa realizada, uma das perguntas que ajudava a traçar o perfil dos
entrevistados questionava sobre a profissão exercida. No que se refere à profissão, verifica-se
ampla dispersão. A fim de possibilitar melhor leitura dos dados, foram congregados os
seguintes grupos:
36
Tabela 1: Profissão exercida pelos Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Profissão exercida 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Saúde 2 5,7 5 20,8 0 0 7 9,0
Administrativas 10 28,6 10 41,7 4 22,2 24 31,2
Comércio 3 8,5 2 8,3 2 11,1 7 9,1
Ciências Humanas 6 17,1 0 0 5 27,8 11 14,3
Educação 9 25,7 5 20,8 4 22,2 18 23,4
Outros 4 11,4 2 8,3 3 16,7 9 11,7
Não Exerce 1 2,8 0 0 0 0 1 1,3
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
14
Apesar de entender que as profissões administrativas fazem parte das ciências humanas, a separação neste
trabalho foi feita em decorrência do número de casos presentes na amostra. Além disso, procurou-se aproximar
aquelas que apresentavam maior semelhança.
15
Entende-se também que a área da Educação está relacionada com as Ciências Humanas. Contudo, o seu
quantitativo foi considerado significativo, o que justificava a sua separação para melhor compreensão dos dados.
16
Esse estagiário informou ter como profissão ser estudante. Por esse motivo ele foi relacionado junto às
profissões ligadas à educação.
17
O informante que deixou a sua profissão exercida como indefinida, tem como profissão ser professor. Todavia,
não estava exercendo essa profissão no momento. Mesmo assim, fez-se a opção por deixá-lo junto com outras
profissões, uma vez que ele apresenta um momento de transição em sua vida.
18
A informante que disse não exercer nenhuma profissão, quando questionada sobre a sua profissão, mencionou
ser do lar.
37
do ser humano com o seu meio, a partir da sua materialidade, o que constitui uma abordagem
diferente do objeto deste estudo. Assim, pretende-se aqui levantar as questões fundamentais
dessa relação (Homem/Sociedade), para se compreender melhor a interação do adulto com a
atividade física. Por outro lado, entende-se aqui que cada ligação psicológica que o Homem19
trava com o seu semelhante e com a natureza é, antes de tudo, uma vinculação desenvolvida
no contexto social e histórico no qual se estabelece.
Deve-se também registrar que essa abordagem, ora realizada, não pode excluir a
discussão sobre os aspectos fisiológicos, pois as duas formas de desenvolvimento se dão de
maneiras diferentes, porém de modo dialeticamente conjunto:
19
A utilização do termo Homem, com letra maiúscula, estará, neste trabalho, relacionada ao sentido amplo da
palavra, relativa a ser humano, e não apenas em relação ao gênero masculino da espécie, não sendo objetivo,
assim, discriminar o gênero feminino.
39
A partir do momento que o Homem não é mais direcionado apenas por seus
determinantes biológicos e suas vivências imediatas e pessoais, abre-se a possibilidade de
aquisição de outros elementos que passam a fazer parte da sua vida não apenas como ser
individual, mas, também, como ser grupal, o que por sua vez lhe permite o desenvolvimento
de habilidades diferenciadas.
O processo de evolução, que depende dos três elementos citados por Lúria, dão ao
ser humano a condição de perceber e enfrentar o seu meio, forjando, necessariamente, um
aspecto próprio do ser humano: a consciência, desenvolvida no processo de suas condições
materiais. Essa, por sua vez, permite a evolução de um ser meramente natural a um ser
também com características sociais, pautadas pelo trabalho social, pela utilização de
instrumentos e pela aquisição da própria linguagem (Lúria 1979).
20
Ao apresentar aqui a formação da consciência, está se considerando que ela, a consciência, é formada pelas
relações sociais às quais o ser humano está submetido, ou seja, dentro de suas condições materiais, e não o
contrário, reafirmando assim o caráter materialista e histórico de sua determinação.
40
Estão abertas, assim, as veias para uma contradição social, uma luta de classes que
gera duas situações bastante distintas. Para uma, a possibilidade de arrancar do trabalho alheio
o seu conforto e a sua existência, uma vez que se encontra em suas mãos a detenção dos
meios de produção (terra, fábricas, entre outros), dando à outra classe, a dos trabalhadores, as
condições mínimas de existência pelo emprego e pelo salário. Esses recursos não são, todavia,
suficientes, pois
histórico. (...) Foi sob uma forma absolutamente particular, forma que só aparece
com a sociedade humana: a dos fenómenos externos da cultura material e
intelectual.
Esta forma particular de fixação e transmissão às gerações seguintes
das aquisições da evolução deve o seu aparecimento ao facto, diferentemente dos
animais, de os homens terem uma actividade criadora e produtiva. É antes de mais
o caso da actividade humana fundamental: o trabalho. (LEONTIEV, 1978b: 265)
... homem apropria-se de forma global, isto é, como homem total. Cada uma de suas
relações humanas com o mundo – ver, ouvir, cheirar, saborear, sentir, pensar,
observar, perceber, querer, atuar, amar –, em resumo, todos os órgãos de sua
individualidade, como os órgãos que são imediatamente coletivos em sua forma,
são, em seu comportamento objetivo, em seu comportamento para com o objeto, a
apropriação deste. (MARX, s.d.: 177)
21
Es precisamente como resultado del movimiento del pensamiento teórico en essa dirección que se descubre
que la actividad exterior y la interna tienen algo esencial en común como mediadores del hombre com el mundo
en las cuales se concreta su vida real. (LEONTIEV, 1978a: 79-80)
46
... a grande maioria dos conhecimentos e habilidades do homem se forma por meio
da assimilação da experiência de toda a humanidade, acumulada no processo da
história social e transmissível no processo de aprendizagem. (...) Por meio da fala
transmitem-lhe os conhecimentos mais elementares e posteriormente, por meio da
linguagem, ele assimila na escola as mais importantes aquisições da humanidade. A
grande maioria de conhecimentos, habilidades e procedimentos do comportamento
de que dispõe o homem não são o resultado de sua experiência própria mas
adquiridos pela assimilação da experiência histórico social das gerações. (LÚRIA,
1979: 73) (Grifos do autor)
22
“(...) la personalidad no nace, la persdonalidad se hace.” (LEONTIEV, 1978a: 137)
47
Essas mudanças, por sua vez, são potencializadas pela configuração de dois
aspectos essenciais: a consciência e a linguagem, conforme foi colocado anteriormente.
Enquanto aquela evolui pautada no próprio desenvolvimento das condições materiais, por sua
vez, atreladas às próprias relações envolvidas no processo de trabalho, sendo definidas pela
própria divisão social do trabalho, esta [a linguagem] exerce o papel de verdadeira fonte de
desenvolvimento social e individual, uma vez que, a partir da sua utilização na transmissão de
valores culturais próprios da sua época, abre possibilidade de intervenção dos Homens entre
si. Essa intervenção permite a cada um, mesmo que de uma maneira incompleta, realizar as
suas potencialidades e, assim, criar a possibilidade de desenvolver a consciência de si próprio,
ou seja, desenvolver os seus aspectos psíquicos.
A partir da relação estabelecida entre o desenvolvimento ontogenético e o trabalho
enquanto categoria central para tal, precisa-se retornar à discussão das profissões exercidas
pelos praticantes de atividade física nas academias de Goiânia, decorrente da necessidade de
se saber o nível de apreensão cultural que seria possível inferir a partir do nível de
escolaridade dos informantes, além de procurar identificar quais as profissões apresentam
maior nível de escolarização. Esse cruzamento de dados se justifica, porque, a partir dele
pode-se inferir, ainda, que a presença de profissões que exigem cursos superiores contribui
para garantir maior possibilidade de emprego. Isso fica demonstrado ao se cruzar a profissão
exercida com o grau de escolaridade. Entre as pessoas entrevistadas durante a realização da
pesquisa conseguiu-se identificar as profissões que mais procuram aumentar a qualificação
através dos cursos de pós-graduação. Dentre essas, verificam-se que as que já têm pós-
graduação completo, 31,3% atuam na área da saúde; 12,5% na de ciências humanas; 25% são
da área administrativa; 18,8%, da educação, e 12,5% de outros grupos profissionais. Nenhuma
das pessoas do comércio e daquelas que não trabalham tem curso de pós-graduação completo.
Com relação às pessoas que estão cursando pós-graduação (incompleto), 18,2%
são da área de ciências humanas; 11,1%, da educação; 8,3%, da de atividades administrativas.
Nenhum dos outros grupos apresentou pessoas que ainda estivessem cursando a pós-
graduação. Essas áreas de atuação profissional são, provavelmente, as que mais apresentam
grandes mudanças no conhecimento e, consequentemente, maior necessidade de atualização
por parte dos seus profissionais.
49
Por outro lado, pode-se procurar pensar que os cursos de pós-graduação, enquanto
uma maneira de se obter uma formação continuada, apresentam-se como “instrumento” de
aquisição de novos conhecimentos culturais relativos à área de atuação de cada um. Por isso,
concorda-se com Lúria (1979) quando ele menciona o fato de a escola ser um local
privilegiado de obtenção da cultura através da própria linguagem. Apesar desse autor estar se
referindo às crianças, essa análise também é apropriada para os adultos, uma vez que, do
ponto de vista profissional, a cultura e a instrumentalização se aperfeiçoam a cada momento.
Assim, o desenvolvimento da profissão dá suporte, do ponto de vista da classe
social, para o desenvolvimento da consciência. Com poucas exceções a grande maioria das
pessoas entrevistadas são trabalhadoras, ou seja, teoricamente elas deveriam desenvolver uma
consciência de classe própria. Entretanto, a própria história de vida não lhes permite esse
desenvolvimento. Além do mais, a própria formação continuada, tende a instrumentalizar as
pessoas no sentido de fazer delas profissionais mais eficazes. Essa situação não se sustenta a
não ser na lógica de cada profissão, direcionando sempre para a obtenção de lucros para os
profissionais e, principalmente, para as empresas.
50
Quando se tem o ser humano como objeto de estudo, fica uma certa preocupação
em relação a melhor forma de abordá-lo, pois ele possui diversas dimensões que não podem
ser compreendidas de maneira isolada. O ser humano é necessariamente fruto das relações
sociais às quais está vinculado e, nesse sentido, vive intensamente todas as contradições
materiais da sua existência. Destarte, para se compreender cada pessoa precisa-se entender um
pouco mais aquilo que ela tem – e é – de mais concreto, o corpo.
Construir uma concepção de corpo implica apreender diferentes dimensões.
Implica, em primeiro lugar, discutir a questão do corpo entendendo que esse é o local onde se
instalam os signos sociais e a partir de onde o Homem trava todas as relações sociais com o
seu semelhante e consigo mesmo; em segundo, relacionar a sua interação pessoal abordando
de forma mais específica a questão da autoconsciência que, para Leontiev, é um dos suportes
mais importantes para o desenvolvimento da personalidade, o que permitirá discutir a
consciência como constituição do co-conhecimento, locus que faz da convivência social o
ponto-chave para qualquer desenvolvimento; e, em terceiro, abordar as relações entre o corpo
e o mundo a partir da relação entre o indivíduo, a sociedade e a mídia, entendida como um
mediador privilegiado entre os interesses sociais, sobretudo das classes hegemônicas.
1. A Questão do Corpo
Dizer que o homem vive da natureza significa que a natureza é o corpo dele, com o
qual deve manter-se em contínuo intercâmbio a fim de não morrer. A afirmação de
que a vida física e mental do homem e a natureza são interdependentes
simplesmente significa ser a natureza interdependente consigo mesma, pois o
homem é parte dela. (MARX, 1983: 95)
Para Marx, a natureza é histórica, ao mesmo tempo que a história é, antes de tudo,
da própria natureza, e isso se explica através do trabalho. Nos primórdios da vida humana na
terra, o ambiente se apresentava extremamente hostil para a vida do Homem. Para que ele
conseguisse sobreviver e retirar da natureza o seu sustento, precisou transformar o meio onde
vivia, começando a produzir instrumentos que, ao mesmo tempo que permitiam a sua ação
sobre a natureza, permitiam também o desenvolvimento das suas capacidades motoras,
psicológicas, culturais e mentais.
Ao passar por esse processo de desenvolvimento, o Homem deixa as suas marcas
na natureza de uma maneira profunda, visto como, por sua ação, ocorrem transformações nos
leitos dos rios, nas plantações, na presença de animais, entre outras. Assim, ao escrever a
história do seu desenvolvimento, o Homem passa a escrever também a história da própria
natureza que é modificada pela sua ação, fato esse sem precedentes na evolução do planeta.
A partir das transformações da natureza, ocorre também uma transformação do
Homem. Nesse sentido, é a partir das ações, ou seja, do trabalho humano e consequentemente
52
da sua objetivação, que se torna possível o Homo sapiens, expressão plena do Homem. Cada
ser é, então, relacionado ao fruto de seu trabalho. E, o
Esse mesmo autor ainda complementa esses dois conceitos com um terceiro, qual
seja
meio para a sua existência individual. Ele aliena o homem de seu próprio corpo, a
natureza extrínseca, de sua vida mental e de sua vida humana. (...)
De maneira geral, a declaração de que o homem é alienado em sua
vida-espécie significa que cada homem é alienado por outros, e cada um dos outros
é igualmente alienado da vida humana.
A alienação humana, e acima de tudo a relação do homem consigo
próprio, é pela primeira vez concretizada e manifestada na relação entre cada
homem e os demais homens. Assim, na relação do trabalho alienado cada homem
encara os demais de acordo com os padrões e relações em que se encontra situado
como trabalhador. (ibid.: 97)
Uma vez que o objeto por ele produzido não lhe pertence, tornando-se antes um
elemento para a sua própria destruição, produzindo a si próprio enquanto uma mercadoria e
incapaz de se relacionar com outros homens de uma maneira que não seja o padrão produtivo,
ele acaba por criar-se enquanto uma mercadoria, e como tal, o Homem perde a si mesmo,
enquanto um ser histórico. Perder-se mais uma vez implica a perda da consciência, pensando-
se a própria história enquanto a mola propulsora dessa. Assim, volta-se ao começo, pois o
momento histórico é definido de acordo com o modo de produção e a tecnologia existente em
cada momento. Contudo, existe aqui um outro problema. A mercadoria produzida por cada
trabalhador não lhe pertence, e nisso também está presente o processo de alienação humana.
A única coisa que lhe pertence é a força de trabalho, explorada pelo patrão e geradora do
salário pago pelo dono do meio de produção, sendo que este, o salário, já foi visto como uma
condição para a não extinção do trabalhador. Assim, a sua capacidade de existência se torna
cada vez mais abstrata.
Essa observação pode ser complementada pelos dizeres de Gonçalves (l994: 63),
fazer “(...) com que esse corpo subsista como força de trabalho é o único objetivo do
capital.”
Para Marx (1983), o Homem existe enquanto um capital para si, sendo isso
possível quando há capital para o homem. Todavia, no modo de produção capitalista, não
existe capital para o trabalhador, apenas para o patrão, detentor dos centros de produção. Ao
fazer isso o trabalhador cria para si condições onde por
... certo, o trabalho humano produz maravilhas para os ricos, mas produz privação
para o trabalhador. Ele produz palácios, porém choupanas é o que toca ao
trabalhador. Ele produz beleza, porém para o trabalhador só fealdade. Ele substitui
o trabalho humano por máquinas, mas atira alguns trabalhadores a um gênero
54
... ‘O corpo é o primeiro lugar onde a mão do adulto marca a criança, ele é o
primeiro espaço onde se impõem os limites sociais e psicológicos que foram dados a
sua conduta, ele é o emblema onde a cultura vem inscrever seus signos como
também seus brasões’. (apud SOARES, 1998: 17)
55
23
Sobre este assunto ver Adorno (1999).
56
linguagem não se restringe apenas ao seu aspecto verbal, mas também ao corporal e aos
movimentos.
Assim, atua-se inicialmente pelos movimentos do trabalho, como forma de ação
sobre a natureza, havendo, contudo, uma outra ação que é a ação sobre outros homens e,
também, sobre si próprio. Estabelece-se, dessa forma, a comunicação entre os Homens
(Leontiev, 1978b). Entretanto,
Dessa forma, pretende-se explicar que, antes mesmo de a linguagem verbal ser
desenvolvida, a diversidade dos gestos já consegue cumprir o papel de estabelecer um nível
importante de comunicação entre os homens.
subsistência corporal, uma vez que, quando esses corpos não transmitirem as mensagens
adequadas eles podem ser isolados ou mesmo destruídos. Nesse processo, o “(...) amor-ódio
pelo corpo impregna toda a cultura moderna. O corpo se vê de novo escarnecido e repelido
como algo inferior e escravizado, e, ao mesmo tempo, desejado como o proibido, reificado,
alienado” (Adorno &Horkheimer, 1985: 217).
O segundo aspecto está relacionado à utilização do corpo enquanto sede dos
signos sociais, pois as mensagens veiculadas por esses corpos que se movimentam, podem ser
as mais fantásticas possíveis, pensando-se rapidamente nas capacidades físicas desenvolvidas
principalmente pelos atletas, sobretudo os de modalidades como ginástica olímpica, nado
sincronizado, entre outras, que exigem um domínio corporal altamente sofisticado. Essas
modalidades transmitem, por si só, aquilo que o ser humano é capaz de realizar quando
empenhado nas superações das deficiências pessoais.
Esses signos corporais representam toda a capacidade de expressão e de afirmação
de um modelo de sociedade que busca a perfeição, sendo essa perfeição expressa na
exposição de corpos belos, saudáveis, jovens e atraentes. É a própria tensão gerada pelo
desejo incontrolável, pelo prazer que não se realiza e pela própria dor, sofrimento e sacrifício
que promove a conquista de um lugar ao sol, pois
O cuidado com o corpo (leib) tinha, ingenuamente uma linguagem social. O kalos
kagathos24 só em parte era uma aparência, o ginásio servindo, por outra parte,
para preservar o poder pessoal, pelo menos como training para uma postura
dominadora. Quando a dominação assume completamente a forma burguesa
mediatizada pelo comércio e pelas comunicações e, sobretudo, quando surge a
indústria, começa a se delinear uma mutação formal. (ADORNO &
HORKHEIMER, 1985: 217) (Grifos do autor)
Ainda assim, por outro lado, esse mesmo modelo corporal que entra todos os dias
nas casas das pessoas através da mídia, por exemplo, e que é extremamente valorizado pelo
capitalismo, traz em si toda a perversidade e controle que o treinamento corporal voltado para
a alta performance pode trazer aos seus praticantes. Segundo Vaz (1999), essa é uma forma
não só de treinar o corpo, mas também, de dominar a natureza.
24
Belo e Bom.
58
Em síntese, o que Vaz (1999) aponta é que o corpo perde a sua humanidade, a sua
essência, e, enquanto tal, deteriora-se, perde a sua objetividade no meio social.
A última reflexão que se pretende elaborar aqui é a utilização de uma linguagem
corporal que transmita a idéia da necessidade de um corpo hígido, forte, resistente e
disciplinado(r). A partir do advento da revolução francesa e da revolução inglesa, chamada
por Hobsbawn (1977) de “dupla revolução”, instaura-se um momento histórico chamado
modernidade, pautado em um grau elevado de industrialização, apoiado por um bom
desenvolvimento de maquinário, sobretudo pela utilização das máquinas a vapor, pela
cientificidade de cunho positivista, pelo desenvolvimento das ciências de maneira geral, a
grande migração das pessoas para as cidades, e o desenvolvimento do modo de produção
capitalista.
Face a esse perfil, sobretudo pelo crescimento das cidades e também pelas más
condições de salubridade das fábricas, maior fonte de emprego, aumenta a quantidade de
doenças, principalmente na periferia das cidades. Para se evitar o aumento das doenças e
evitar as faltas ao serviço, que provocavam prejuízos, discute-se a possibilidade de se
desenvolver a força e a resistência das pessoas às infecções, através de práticas que
desenvolvessem a saúde e o vigor físico, utilizando-se, para isso, a ginástica, que traz,
intrinsecamente, os conhecimentos da medicina, sobretudo de saúde pública associada aos
conceitos de anatomia e fisiologia aplicadas. Destarte, o que se procurava desenvolver eram
os bons hábitos de vida que fossem capazes de desenvolver um homem novo, mais
precisamente o trabalhador. Por isso, havia a necessidade de transmissão de novos valores e
novos padrões culturais. Assim, há de se
Coube, por isso, à ginástica realizar o ideal de um corpo saudável, pois a ciência
lhe dava essa condição, evitando, assim, as deformidades físicas, inclusive como uso de
aparelhos, capazes de dar “retidão” aos corpos e até mesmo aos próprios propósitos das
59
pessoas, principalmente dos trabalhadores, ao se evitar entre outras coisas diversos excessos
para o corpo. Assim a
... atividade física fora do mundo do trabalho devia ser útil ao trabalho. A atividade
livre e lúdica, encantatória (...)devia ser redesenhada no imaginário popular. Em
seu lugar e a partir daquele universo gestual, nasceriam as ‘séries de exercícios
físicos’, pensados exclusivamente, a partir de grupos musculares e de funções
orgânicas, a serem aplicados com finalidades específicas, úteis, e não como mero
entretenimento. (SOARES, 1998: 24)
É o corpo que objetiva a ação educativa e moral por excelência... [assim diz Revel]
‘os gestos são signos e podem organizar-se em uma linguagem; expõem a
interpretação e permitem um reconhecimento moral, psicológico e social da
pessoa’. (SOARES, 1998: 37)
com o mundo, o sujeito deve desenvolver algo muito importante do ponto de vista
psicológico: a autoconsciência.
Devemos apenas sublinhar que não utilizamos o termo ‘motivo’ para designar o
sentimento de necessidade; ele designa aquilo em que a necessidade se concretiza
de objectivo nas condições consideradas e para as quais a actividade se orienta, o
que a estimula. (LEONTIEV, 1978b: 97)
O motivo tem, nesse autor, muito mais o caráter de encorajamento do que de uma
necessidade propriamente dita. Assim, as pessoas fazem não só aquilo que se faz necessário
em suas vidas, mas aquilo que, para elas, possui algum significado. Ao se dar um significado
para cada uma das atividades realizadas, pode-se pensar em um nível adequado de reflexão
para o qual a realização da atividade é necessária. Assim, descrevem-se dois níveis de atuação
na atividade: a ação e a operação.
Esses dois níveis possuem características diferenciadas, de acordo com a situação
de sua realização. Logo, “(...) as ações estão correlacionadas com os fins, as operações com
as condições”26 (Leontiev, 1978a: 85).
25
¿Pero que és la vida humana? Es el conjunto, más precisamente, el sistema de actividades que se sustituyen
unas a otras. Es en la actividad donde se produce la transición del objeto a su forma subjetiva, a la imagen; a la
vez, en la actividad se opera también la transición de la actividad a sus resultados objetivos, a sus productos.
Tomada desde este ángulo la actividad aparece como un processo en el cual se concretam las transiciones
recíprocas entre los polos ‘sujeto-objeto’. ‘En la producción se objetiviza la personalidad; en el consumo se
subjetiviza el objeto’, acota Marx. (LEONTIEV, 1978a: 66)
26
“(...) las acciones están correlacionadas com los fines, las operaciones com las condiciones.” (LEONTIEV,
1978a: 85)
62
A atividade pode perder o motivo que a tenha suscitado, e então se converte em uma
ação que talvez concretize uma relação totalmente diferente com o mundo, outra
atividade; a ação, pelo contrário, pode adquirir uma força impulsora própria e
chegar a ser uma atividade particular; por último, a ação pode transformar-se em
um meio para alcançar um fim, em uma operação capaz de efetuar diversas ações.28
(LEONTIEV, 1978a: 87)
... o indivíduo não possui linguagem própria nem significados elaborados por ele
mesmo; sua tomada de consciência dos fenômenos da realidade só podem operar-se
por meio de significados ‘acabados’ que assimila do exterior, ou seja,
conhecimentos, conceitos, opiniões, que recebe na comunicação, em uma ou outras
formas da comunicação individual ou de massas. É isto que leva a possibilidade de
introduzir em sua consciência, de impor-lhe, representações e idéias tergiversadas
ou fantásticas, inclusive aquelas que não tem base alguma na sua experiência
real, vital.29 (LEONTIEV, 1978a: 121) (Grifo Nosso)
27
La génesis de la acción reside en las relaciones del intercambio de actividades; en cambio toda operación es
el resultado de la metamorfosis de la acción que ocurre porque se incluye en outra acción y sobreviene su
‘tecnificación’. (LEONTIEV, 1978a: 86)
28
La actividad puede perder el motivo que la há suscitado, y entonces se convierte en una acción que tal vez
concreta una relación totalmente diferente com el mundo, outra actividad; la acción, por el contrario, puede
adquirir una fuerza impulsora propia y llegar a ser una actividad particular; por último, la acción puede
transformarse en un medio para alcanzar un fin, en un operación capaz de efectuar diversas acciones.
(LEONTIEV, 1978a: 87)
29
... el individuo no posee lenguaje próprio ni significados elaborados por el mismo; su toma de conciencia de
los fenómenos de la realidad sólo puede operarse por medio de significados ‘acabados’ que asimila del exterior,
o sea, conocimientos, conceptos, opiniones, que recibe en la comunicación individual o de masas. Es esto lo que
crea la posibilidad de introducir en su conciencia, de impornele, representaciones e ideas terginversadas o
fantasticas, incluso aquellas que no tienen base alguna en su experiencia real, vital.”(LEONTIEV, 1978a: 121)
63
mercadoria no mercado de trabalho, uma vez que ele não possui condições financeiras para ter
o seu próprio negócio. Assim, ele aceita as condições impostas pelo trabalho, transformando-
se na máquina que produz. Enfim, o
Esse processo de reificação acaba por estabelecer relações com a própria operação
proposta por Leontiev (1978a), uma vez que a cessão do trabalho para o qual não existe uma
identificação, ou mesmo uma reflexão sobre ele, fato esse que transforma o Homem em
objeto. Em síntese, a operação reifica o Homem.
Enfim, ao se repensar na questão, não só da operação, mas da atividade enquanto
base de formação para o desenvolvimento da personalidade, há de se refletir sobre o papel que
cada uma dessas atividades têm na vida das pessoas, isto é, não é necessário apenas que haja
um motivo para a prática da atividade. Deve haver, também, importância dessa prática na vida
de cada um, ou seja, ela deve possuir significado. Desse modo,
30
La primera base de la personalidad que no puede ser ignorada por ninguna concepción psicológica diferencial
es la riqueza de vínculos del individuo com el mundo. (...) En el plano psicológico expresamos estas relaciones
auténticas a través del concepto de actividad, de sus motivos generadores de sentido, y no en lenguaje de los
estímulos y de las operaciones que se cumplen. E eso debe agregar que las actividades que constituyen la base de
la personalidad incluuyen también las actividades teóricas y que durante el desarrollo su círculo no sólo puede
ampliarse, sino también ir empobreciendose; en la psicologia empírica esto se denomina ‘estrechamiento de los
interesses’. (LEONTIEV, 1978a: 170)
65
encontram-se relacionados com as influências sociais às quais essas pessoas estão submetidas.
Nesse caso específico a atividade física depende, também, do seu grau de hierarquização
perante as outras “atividades” realizadas diariamente. Dessa forma,
31
Outro parámetro de la personalidad, y por añadidura es mas importante, es el grado de jerrarquización de las
actividades, de sus motivos. (...) , un grado más elevado de jerarquización de los motivos se expresa en que el
hombre parece comparar sus acciones com el motivo-fin que es fundamental para él y entonces puede resultar
que unas están en contradicción com este motivo, otras respondan directamente a él, en tanto que algunas se
desvíen del mismo. (LEONTIEV, 1978a: 171)
66
Tabela 2: Atividades mais importantes na vida dos Praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
Atividades mais TOTAL
20-30 31-40 41-50
importantes
X CLAS. X CLAS. X CLAS. X CLAS.
Trabalho 31,57 1 38,95 1 36,94 1 35,82 1
Atividade Física* 31,57 1 23,54 3 18,61 4 24,57 2
Família 13,57 3 27,70 2 18,88 3 20,05 3
Lazer 13,28 4 21,04 4 21,66 2 18,66 4
Atividades Diversas** 13,14 5 8,95 5 12,22 5 11,43 5
Estudos* 14,42 2 2,29 8 8,88 7 8,53 6
Casa 4,85 6 3,95 6 10,00 6 6,26 7
Religião 3,71 7 2,08 9 6,94 8 4,24 8
Amigos/Namorados 3,42 8 3,54 7 4,16 9 3,70 9
* Apresentam diferença significativa (p < 0,05), segundo o índice de Krusk-Wallis.
** Atividades que não se encaixavam nos outros grupos, tais como: a Saúde, o Descanso, a Alimentação, a
Música, o Equilíbrio, o Kart, entre Outros.
32
A pontuação utilizada para a análise dessa questão foi estipulada pelo autor e obedecia o seguinte critério: 1º
lugar = 50; 2º = 40; 3º = 35; 4º = 30; 5º = 25; 6º = 20; 7º = 15; 8º = 10; 9º = 5; não mencionado = 0. Não houve
nenhum caso que a pessoa tenha mencionado mais de 9 atividades importantes.
67
importante da sua vida, sendo todas do sexo feminino. Desse grupo, uma pessoa trabalha na
área administrativa; uma, no comércio; três estão na área da educação, sendo uma Professora
de Educação Física e uma em outras atividades profissionais. Dessas, quatro são adultas
jovens (20-30 anos) e duas são adultas médias (31-40 anos). A explicação para isso não
parece fácil de ser dada. Existe, aqui, a possibilidade dessa experiência ter um significado
maior na vida dessas mulheres, podendo ser uma ação ou uma operação. Entretanto, os
objetivos mais direcionados para a estética não permitem se inferir sobre a possibilidade de
ação nessas práticas.
Há de se acrescentar, ainda, que esse levantamento foi realizado dentro de
academias de ginástica, o que pode induzir as pessoas a apresentarem as atividades físicas
prioritariamente sobre as outras. Entretanto, essa hipótese pode ser refutada devido ao número
de casos que Atividade Física é posta em primeiro lugar. Se o local da coleta tivesse
influenciado os dados, provavelmente o número de casos da primeira colocação para essa
variável seria maior.
No segundo caso, da não menção das práticas corporais, encontra-se uma outra
distribuição. No total de 22 pessoas, 6 estão na faixa de 20 a 30 anos; 8, entre os 31 e os 40
anos, e, por fim, 8, de 41 a 50 anos. Em percentuais, esses dados correspondem a 17,14%,
33,33% e 44,44%, respectivamente, estabelecendo, no total, 25,97% da amostragem.
Deve-se discutir, ainda, essa não menção, de acordo com as profissões. Entre
essas, observa-se a seguinte distribuição: na de Saúde, 14,28%; nas profissões
Administrativas, 33,33%; na de Comércio, 42,85%; na de Ciências Humanas, 18,18%; na de
Educação, 22,22%33; entre as Outras, 44,44%; com um total, 28,57% do total da amostra.
Esses dados demonstram que a prática de Atividades Físicas não possuem nenhum significado
na vida dessas pessoas, e que, nesse sentido, pode-se afirmar que, em não havendo nenhum
motivo para desenvolver uma ação, se ela não é hierarquicamente importante na vida das
pessoas, e, se mesmo assim aquela prática persiste, isso é provavelmente fruto de alienação e
da reificação do indivíduo, uma vez que essa operação serve apenas para coisificá-lo. Esse
dado pode ser ainda mais preocupante considerando que o grau de instrução dessas pessoas é
bastante alto.
33
Este valor corresponde a 4 pessoas, das quais um é Professor de Educação Física.
69
Por fim, pode-se procurar entender esse aspecto relacionando-se essa prática com
o gênero dos praticantes. Verificou-se diferença significativa (p < 0,05) entre os sexos, na
medida em que 32,14% das mulheres e 19,04% dos homens não indicaram os exercícios
como importantes na sua vida.
Registra-se que o aspecto central, aqui, não é colocar a Atividade Física em
primeiro plano, mas de considerá-la importante, sobretudo quando os informantes desse
estudo são praticantes de Atividade Física, o que, mais uma vez, leva a inferir sobre um
possível fetiche em relação a esse aspecto na vida das pessoas. Retornando a Leontiev
(1978a), que essa prática não passa de “Operação Física”, indicando não haver importância da
execução para as pessoas. Esses dados podem ser confirmados quando se verifica a definição
dos motivos apontados. Entre os entrevistados, 48,1% das pessoas não tinham clareza do
motivo que as levaram a estabelecer a hierarquia de atividades de sua vida. Muitas respostas
eram dadas apenas com frases como “é a prioridade”, “por ordem de importância” ou
mesmo respondendo que não sabiam dizer o porquê. Apesar de os adultos jovens terem dado
respostas que apresentam uma elaboração mais detalhada a essa pergunta, com 54,3%; nas
outras faixas etárias essa resposta mais detalhada não foi apresentada por metade dos
informantes (50%) dos adultos médios e maduros. Esses elementos tornam-se ainda mais
preocupantes quando se pensa que a imensa maioria possui nível universitário.
Ao se cruzarem os dados entre o sexo e os motivos pelos quais estabeleceram a
ordem de importância, a maioria das mulheres apresentam respostas sem definição clara,
51,78%; enquanto entre os homens (38,09%) teve-se esse mesmo resultado. Retomando a
discussão sobre a necessidade de hierarquização das atividades e o motivo para elas, as
mulheres demonstram um nível de realização de operações maior se comparadas aos homens,
uma vez que as suas respostas não definem claramente o porque da hierarquia apresentada.
A Tabela 3 apresenta o porquê da localização da Atividade Física entre as
atividades mais importantes na vida das pessoas. Várias respostas surgiram. Muitos diziam
apenas que é “porque é importante”, ou ainda “porque é sinônimo de saúde”. Outras
pessoas, sobretudo as que não tinham mencionado a Atividade Física como sendo importante
para elas, mas não só elas, diziam que a atividade física era saúde ou lazer, que estava no
mesmo âmbito desses objetivos, entre outras. Cinco pessoas (6,49%) responderam não saber
porque fazem; outras quatro (5,19%) fazem por “obrigação”, pois a prática corporal não é
uma coisa que dá “prazer”, e, ainda, 34 pessoas (44,16%) dizem que existem coisas mais
importantes em sua vida.
70
Tabela 3: Motivo referido pelos Praticantes de Atividade Física para a posição desta prática
em sua vida, por Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
O porque da localização entre as coisas mais TOTAL
20-30 31-40 41-50
importantes
f % f % f % f %
Outros aspectos são mais importantes 14 40 14 58,3 6 37,5 34 44,1
Por gostar e se sentir bem 9 25,7 5 20,8 7 43,7 21 27,2
Por saúde 9 25,7 1 4,1 2 12,5 12 15,5
Por estética 3 8,5 0 0 0 0 3 3,8
Porque é perto de casa 1 2,8 0 0 1 6,2 2 2,5
Atividade física é uma rotina de vida, sem prazer 1 2,8 2 8,3 1 6,2 4 5,1
Não Sabe 3 8,5 2 8,3 0 0 5 6,4
* Foi dada mais de uma resposta a esta pergunta
A partir dos dados da tabela 3 percebe-se que os adultos jovens e médios indicam
ter coisas mais importantes na vida. Porém, entre os adultos maduros, 43, 75% afirmam
prazer em realizar a atividade física o que pode ser um índex de boa relação deles com aquilo
que estão praticando. Também chama a atenção o fato de adultos jovens e médios não
saberem porque localizam a atividade física entre as coisas mais importantes. Ademais, em
todos os grupos destaca-se o fato de existirem pessoas que entendem a Atividade Física como
uma rotina, algo que fazem sem prazer.
Nesses casos, é redundante falar da prática de Operações Físicas, e não de Ações
e/ou Atividades. Todavia, esses aspectos representam, provavelmente, níveis de alienação em
relação a esses elementos, entendendo que as pessoas não conseguem a sua subjetivação
naquilo que realizam, ou seja, existe uma objetivação sem retorno na relação sujeito – objeto.
Além das perguntas utilizadas na entrevista, também foram levantadas questões
relativas à autoconsciência no questionário (Anexo III A e B). Nesse instrumento, buscou-se
identificar a partir de uma medida escalar (a qual variava de 0 a 5 pontos), o nível
complementar dessa variável. Deve-se apontar ainda que, para essa questão, a pontuação em
relação às demais perguntas utilizadas neste questionário eram invertidas. Em todas as outras
afirmações, quanto mais as pessoas se aproximavam do parâmetro “concordo totalmente”,
maior era a pontuação, ou seja, se para uma afirmação qualquer, a pessoa marcasse “concordo
totalmente”, na hora da análise a sua pontuação era de 5 pontos. Contudo, em relação às
perguntas presentes nas tabelas 4 e 5, menor era o valor a elas atribuído. Assim, se a pessoa
71
marcasse “concordo totalmente”, ela obteria 1 ponto apenas, pois se entendeu que, nesse caso,
quanto mais ela concordasse, menor seria a consciência de si própria.
Os dados foram analisados a partir das médias entre os praticantes de atividade
física encontradas de acordo com a idade. Os valores encontrados, nas respostas aos
questionários (A e B) são apresentados nas tabelas 4 e 5.
Igreja Católica, pela comprovação dos fenômenos observáveis nas ciências naturais. Sendo
assim, os homens só poderiam tornar-se iguais a partir do momento que se “iluminassem”,
fossem “esclarecidos”, garantindo a capacidade de explicar o mundo pelo estudo científico,
tornando os homens livres do seu infortúnio de serem servos eternos dos senhores feudais,
bem como da vontade divina. Foi colocado, na mão de cada um, o seu destino e os rumos da
sua vida.
Por sua vez, coube à ciência contribuir para a revolução industrial na Inglaterra,
pela substituição do trabalho manual pelo trabalho mecanizado. Com o surgimento da
necessidade de uma produção cada vez mais acelerada, foi-se configurando lentamente a
associação entre a indústria e a ciência, favorecendo cada vez mais o aparecimento do lucro.
Esse processo impossibilitava ao trabalhador adquirir o objeto que ele produz, quando era ele
que dava vida à mercadoria, perdendo-se dela. Por outro lado, esse bem produzido tornava-se
um objeto estranho ao operário, acontecendo o que Marx (1967) chama de trabalho alienado.
Esse autor nos explica esse termo dizendo:
... ser o trabalho externo ao trabalhador, não fazer parte de sua natureza, e, por
conseguinte, ele não se realizar em seu trabalho mas negar a si mesmo, ter um
sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolver livremente suas
energias mentais e físicas mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido.
O trabalhador, portanto, só se sente à vontade em seu tempo de Folga, enquanto no
trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é
trabalho forçado. Ele não é satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio
para satisfazer outras necessidades. Seu caráter alienado é claramente atestado
pelo fato de, logo que não haja compulsão física ou outra qualquer, ser evitado
como uma praga. O trabalho exteriorizado, trabalho em que o homem se aliena a si
mesmo, é um trabalho de sacrifício próprio, de mortificação. Por fim, o caráter
exteriorizado do trabalho para o trabalhador é demonstrado por não ser o
trabalho dele mesmo mas trabalho para outrem, por no trabalho ele não se
pertencer a si mesmo mas sim a outra pessoa. (MARX, 1983: 97) (Grifo nosso)
pelas disparidades individuais que são “detectadas cientificamente”, concorrendo para que
essa diversidade não só se mantenha, como aumente.
Dentro desse novo paradigma dominado pelo poder do capital, há uma certa
necessidade de adesão, sobretudo do proletariado, a essa nova forma de organização, tendo
que existirem mecanismos que convençam cada sujeito a: 1) produzir cada vez mais dentro da
sua atividade para que o processo de circulação de mercadoria e prestação de serviços,
propicie um maior acúmulo de capital e; 2) convencer que cada mercadoria produzida possui
um valor de uso inestimável, e que por isso precisa ser adquirido, gerando o “fetiche”, onde
cada bem de consumo seduz devido às suas características totalmente diferenciadas, fazendo
de seu usuário um indivíduo único.
Toda essa sedução do consumidor pelo produto depende de uma outra força que
seja capaz de levá-lo a adquirir as mercadorias mais inúteis e ineficientes. Passam-se a adotar
os elementos possíveis pela Indústria Cultural (IC), que consegue saber exatamente como as
pessoas pensam, e como convencê-las a realizar seu desejo, adquirindo os produtos da moda.
Contudo, esse elemento só se torna capaz de agir face ao aparecimento do indivíduo,
enquanto possuidor de autonomia e identidade próprias. Esse processo se faz na medida que
se estabelece a relação do ser individual com o seu meio de existência e relações. Dessa
maneira, pode-se afirmar que:
... indivíduo burguês não se via necessariamente como oposto à coletividade, mas
acreditava ou estava fortemente inclinado a acreditar ser ele o membro de uma
sociedade que só podia atingir o mais alto grau de harmonia através da competição
irrestrita dos interesses individuais. (HORKHEIMER, 1976: 150)
Nota-se que dentro dos princípios liberais, sobretudo da “burguesia em si”, não
havia necessariamente contraposição entre os interesses individuais e coletivos, pois o
“(...)indivíduo totalmente desenvolvido é a consumação de uma sociedade totalmente
desenvolvida” (Horkheimer, 1976: 146). Nesse sentido, toda a possibilidade de
desenvolvimento social está associada na relação da sociedade com o indivíduo. Esse é o
paradigma social fundamental do liberalismo, o “individualismo”, que se contrapõe ao
socialismo, onde a priori os interesses coletivos prevalecem sobre os individuais.
79
... o homem se espelha primeiro em outro homem. Só por meio da relação com o
homem Paulo, como seu semelhante, reconhece-se o homem Pedro a si mesmo como
homem. Com isso vale para ele também o Paulo, com pele e cabelos, em sua
corporalidade paulínica, como forma de manifestação do gênero humano. (MARX,
1996: 181).
Ocorre, contudo, uma pequena diferenciação entre o ser individual que surge no
capitalismo, enquanto um modo de produção que procura se fixar, e no capitalismo, enquanto
modo de produção que busca reproduzir-se nas relações sociais. No primeiro, pode-se apontar
o indivíduo enquanto um ser dotado de individuação (crítico e participante das decisões que
regem sua vida); já no segundo momento, o ser se torna individualização (apático, isolado e
sem condição de decidir o rumo de sua vida; um ser diferente e igual a todos os outros). Esse
ser se desenvolve
... quando a sociedade passou a exercer uma tremenda pressão sobre o indivíduo e
as reações individuais são contidas em limites muito reduzidos, sendo as
considerações sociológicas freqüentemente preteridas pelas de ordem psicológica.
Quanto menos são indivíduos, tanto maior é o individualismo. (ADORNO &
HORKHEIMER, 1973: 53).
É essa pressão que contribui para que cada pessoa passe a tomar conta daquilo que
é de seu interesse, e não daquilo que é interesse coletivo. Sendo assim, o sujeito desse tempo,
e também o sujeito do tempo que se segue, no século XX, é aquele que tem cada vez menos
controle sobre sua vida e o seu destino, pois nesse momento todas as certezas e incertezas são
reguladas pelo mercado, que tem a sua lógica própria e constituída de uma racionalidade
pragmática e perversa.
80
... subordinar da mesma maneira todos os setores da produção espiritual a este fim
único: ocupar os sentidos dos homens da saída da fábrica, à noitinha, até a chegada
ao relógio de ponto, na manhã seguinte, com o selo da tarefa de que devem se
ocupar durante o dia (...). (Adorno & Horkheimer, 1985: 123)
espectador em um sujeito passivo perante o enredo apresentado, o que não acontece apenas
em relação ao cinema, mas também à televisão, que poderíamos entender enquanto uma coisa
mais viva, se forem levados em conta os telejornais, que apresentam diariamente “as notícias
do dia no Brasil e no Mundo”. Essa passividade atua como uma “substância analgésica” sobre
as emoções, transformando cada reação individual em puro espanto e apatia, o que
corresponde a uma certa inércia no espectador face aos fatos apresentados. Todavia, Rudiger
(1997) menciona que, na realidade, essa assistência passiva não existe, pois as pessoas têm
plena consciência que os meios de comunicação de massa procuram enganá-las, fato este com
o qual se deve concordar. Dessa forma, cada um consegue distinguir o que é bom do que é
ruim. Esse autor destaca,
34
A obra de Adorno (1991) citada por RUDIGER (1997) é The Culture Industry. Londres: Routledge, 1991.
82
(massa) de uma forma diferenciada daquilo que elas acreditam, individualmente, será um
mecanismo essencial dentro desse processo35.
Assim sendo, uma das principais funções da indústria cultural será justamente
contribuir para a geração de bens de consumo que possam ser utilizados de forma
generalizada, como já foi exposto anteriormente. Não só nos momentos de trabalho, mas
também no lazer do trabalhador, isso vai afetar não apenas a produção de roupas e calçados,
entre outros, mas também a produção de programas de vários gêneros, além das músicas que
atendem não só a preferência popular, como são produzidas especificamente para esse fim,
pois nos programas dominicais da televisão e nos programas diários nas rádios, prevalece o
gênero musical mais divulgado no momento. Se nesse sentido é possível fazer um paralelo,
por exemplo, entre a música atual e alguns comentários sobre o jazz36, poder-se-ia dizer que a
35
Sobre este assunto ver “A Massa” em ADORNO E HORKHEIMER (1973).
36
Essas características apresentadas em relação à música ainda são atuais se for pensada a difusão de
determinados estilos de música, rotulados como “expressão da cultura nacional”, os quais na realidade não
geram questionamentos, são apenas dançantes, ao passo que os gêneros musicais questionadores, como o rap
feito nas favelas, não desce o morro para se tornar de gosto “popular”, a não ser em algumas versões “light”.
83
funcionários, sendo ainda essa forma de trabalho aumentada pelo desenvolvimento técnico,
que cria condições mais adequadas para a obtenção do capital.
O segundo fator, relacionado à reprodutibilidade técnica, refere-se à utilização de
valores específicos desse padrão social que se mantém de maneira ideológica, sendo que os
indivíduos se apropriam de idéias e valores sociais que na realidade não lhes pertencem.
Entendendo-se aqui o termo enquanto uma falsa consciência que não deixa de estar permeada
inclusive pela alienação, que se estabelece no processo produtivo e, que já foi discutido
anteriormente. Destarte, há de se perceber que o indivíduo individualiza-se cada vez mais, não
em benefício da coletividade, mas da manutenção do capitalismo, enquanto processo de
produção dominante.
Está em causa o declínio da individualidade, enquanto individuação, se for levado
em conta que atualmente a racionalidade instaurada na sociedade tenta formar um indivíduo
totalmente acrítico, sem capacidade de definir seus próprios rumos, tanto do ponto de vista
financeiro como do ponto de vista político, social e cultural.
Sobre isso, Adorno & Horkheimer (1985: 143) apontam a “(...) possibilidade de
tornar-se sujeito econômico, um empresário, um proprietário, está completamente
liquidada.”. Mostra-se, assim, que a promessa da revolução burguesa de igualdade entre os
indivíduos está vinculada ao conceito da igualdade clonada de uma sociedade onde os valores
produzidos, e sobretudo as mercadorias consumidas, fazem de todos “irmãos gêmeos” que, ao
invés do que disse Marx, cada um só se reconhece em si mesmo e só se identifica no outro
através das marcas que utiliza, ou seja, a identificação imediata que se estabelece não é na
relação entre homens, mas na relação entre mercadorias.
Como último ponto importante no entendimento da indústria cultural, está
provavelmente a questão dessa massificação onde a subjetividade se torna fragmentada, pois a
rede formada pelo capitalismo leva cada ser a duas formas diferenciadas de existência: como
trabalhador e como consumidor. Enquanto trabalhador, o sujeito está totalmente subsumido à
lógica do modo de produção, onde todos os seus passos precisam ser controlados para não
haver maiores interferências na produção. E é por isso, como já foi dito anteriormente, a
lógica do lazer está imbricada na lógica do trabalho, pois as mercadorias que são consumidas
no tempo de não-trabalho têm que obedecer os pressupostos do descanso de um dia árduo. Por
outro lado, esse processo assume uma face tenebrosa quando faz toda a individualidade se
transformar em duplicação não-perceptível aos olhos de quem está envolvido no processo.
Sobre isso, destaca-se:
84
Essa falta de identidade torna-se tão forte que, aos olhos de todos, existe a
impossibilidade aparente de romper com uma racionalidade onde mesmo as demonstrações
mais autênticas de cultura se perdem no mercado. Dentro de toda essa produção destacam-se
mercadorias que se tornam cada vez mais essenciais para as pessoas, pois o próprio processo
de massificação estabelece os produtos que devem ser consumidos pela comunidade em geral.
Esses aparelhos que surgem na indústria automobilística e que são gradativamente
transferidos para outras instâncias, são denominados “gadgets”, que têm a mera função de
aumentar o preço de alguns produtos, ao mesmo tempo que se apresentam como algo
essencial para o conforto dos consumidores. Sendo assim, cria-se o que se pode denominar
fetiche. Esses fetiches atuam como forma de aumentar o consumo criando necessidades que,
na realidade, não existem, mas, por outro lado, compelem as pessoas a se apropriar do
desnecessário para que mostrem o seu poder (de compra) além de sua atualidade com as
coisas da moda. Esse processo, em muito vinculado pela mídia, serão fundamentais na difusão
das idéias e dos valores do sistema.
Só que, nesse sentido, resta uma questão em relação aos meios de comunicação de
massa. Será que, nesse processo, cada um dos sujeitos expostos à mídia oferece alguma
resistência às mensagens veiculadas? Eis a grande controvérsia, pois,
momentos ele se deixe levar por todas as promessas feitas pela mídia. Sendo assim, cada um
deixa-se levar, de acordo com a sua própria opinião, e apenas naquilo que mais lhe convém.
Os valores sociais veiculados utilizam diversas formas e estratégias para a
divulgação de idéias necessárias à manutenção do sistema. Entre os vários elementos
utilizados pela mídia, um deles chama a atenção sobremaneira: o esporte. O esporte, além de
possuir intrinsecamente todos os elementos já apresentados como constitutivos da indústria
cultural, traz de forma inextricável outros elementos importantes dentro das concepções
capitalistas, como os aspectos relativos à competitividade, à possibilidade de vitória, e aos
inúmeros exemplos de “garra” e de vida de pessoas que, através do esporte, ou por sua causa,
superaram dificuldades e ascenderam socialmente. Nesse contexto, a utilização de atividades
físicas e esportivas em propagandas se torna cada vez mais freqüente, pois se percebe
televisão. Na primeira delas, Okuma (1990) discute justamente a relação entre a prática de
atividade física e sua relação com a publicidade de televisão. Uma das conclusões que ela
chega é a de que, entre os seus informantes, sobretudo entre os praticantes de atividade física,
existe um grau de consumo considerável, fato que só é dissonante em relação aos homens não
praticantes de atividade física. Esse dado é relevante porque aponta que essas pessoas são de
certa forma afetadas pelas mensagens veiculadas na televisão, induzindo-as, assim, a
consumirem um determinado padrão corporal, bem como a “necessidade” de se praticar
atividades físicas. Sobre esse ponto, a autora destaca,
Okuma (1990) destaca ainda que o “(...) tratamento dado ao corpo prima pela
ênfase a um padrão de saúde e beleza, mas deixa de lado a essência do próprio corpo, o que
se tem dele e o que ele é” (p. 118) (Grifo Nosso). Assim sendo, o corpo enquanto uma
demonstração histórica de relações do ser humano, é totalmente desconsiderado, passando a
interessar apenas aquilo que cada um deles (máquina/ideologia)37 é capaz de produzir, bem
como consumir novos produtos e, até mesmo, novos padrões corporais.
Um outro estudo que procura relacionar o discurso televisivo sobre corpo, saúde,
atividade física e beleza, e o discurso de praticantes de atividade física, é o de Gonçalves
(1995). Ao fazer a sua análise, ela destaca que:
Ao comparar os discursos de forma geral com as mensagens
televisivas estas apresentam algumas semelhanças.(...) É possível afirmar que neste
processo acontecem diferentes mediações, comprovadas aqui através dos estilos de
vida diferenciados, que permitem uma apropriação e reapropriação diferenciada
das mensagens produzidas pela televisão.(...) Desta forma pode-se entender que a
realidade discursiva destas pessoas está vinculada também a valores hegemônicos
que reproduzem os valores de uma classe dominante. (GONÇALVES, 1995: 124).
A análise apontada por essa autora mostra que existem algumas semelhanças
devido a mediações que são importantes no processo de “adesão” das pessoas a um
determinado discurso, havendo uma similaridade entre o utilizado na televisão de formas
37
O que se pretende mostrar é o fato de o corpo ser entendido, ideologicamente, como um corpo máquina, que
tem como função principal produzir, cabendo a ele, no entanto, ser consumido tal qual uma mercadoria
“qualquer”.
87
diferentes e o dos praticantes de variadas modalidades de atividade física, o que sugere, por
um lado, a recepção ativa dos informantes dessa pesquisa em relação aos “mass media”, onde
acabam sendo importantes outros mediadores como a família, a igreja, a associação de bairro,
ou outro grupo social, ao qual se está filiado. Por outro lado, o discurso dos praticantes
também se aproxima do discurso hegemônico, que é veiculado pela televisão, o que
demonstra, ao menos, uma contaminação parcial das pessoas consultadas, o que faz delas um
alvo potencial da indústria cultural e dos interesses que ela representa.
Mesmo entendendo que a adesão dos grupos é diferenciada quanto ao vínculo
com a mídia, pode-se, mesmo assim, refletir que a adesão a certos tipos de apelo estão
presentes. Além do mais, os discursos feitos pela mídia tendem a ser direcionados para um
determinado “público-alvo”, o que não diminui, ao que tudo indica, a influência da mídia,
como elemento da Indústria Cultural, sobre as pessoas.
Essa contaminação dá elementos para se voltar à discussão do padrão corporal que
está sendo veiculado pela mídia, entendido enquanto corpo ideologizado, que transmite a
idéia de produtividade, “beleza” e saúde, o qual se relaciona com um padrão corporal, cujo o
poder do dinheiro lhe permite um acesso quase irrestrito aos mais caros tratamentos, todas as
vezes que precisa de “manutenção e reparos”. Por outro lado, é também um corpo mercadoria
que pode ser adquirido como qualquer outro produto industrial, sendo importante para a
aquisição desse corpo a utilização de remédios, cosméticos, roupas, acessórios, aparelhos de
ginástica que estão à venda, “no supermercado mais próximo de sua casa, ou pelo telefone
0800-...”, e que desconsideram não só as diferenças individuais, como o corpo marginal
constituído historicamente.
Esse dado remete ao aspecto da tentativa de influência dos meios de comunicação
sobre os indivíduos. Sobre isso, precisa-se apontar que a indústria cultural tenta exercer toda a
sua influência, que é bastante forte e que não pode ser descartada, enquanto sistema que busca
legitimar as idéias hegemônicas. Entretanto, concorda-se com Rudiger (1997) quando destaca
que cada um, ao menos até certo ponto, tem consciência da tentativa dos meios de
comunicação, de convencê-los sempre dos rumos que eles têm que tomar em sua vida.
Os meios de comunicação de massa são, portanto, instrumentos importantes
dentro da sociedade de consumo e de sua indústria (indústria cultural), que contribuem de
forma decisiva no conceito de corpo, e sobre todos os elementos que são necessários para a
sua manutenção (medicamentos, cosméticos, entre outros), sendo ele próprio, o corpo, tratado
apenas como mais uma mercadoria à disposição de todos e desconsiderado enquanto realidade
histórica. Para cumprir essa missão, são utilizadas várias formas de difusão. Entre elas,
88
Pelos dados, verifica-se que a academia foi a escolhida por mais da metade dos
adultos jovens e médios. Esse fato direciona a prática dos exercícios para determinadas
modalidades, uma vez que algumas academias possuem apenas duas opções. Além disso,
89
mesmo que as atividades sejam sugeridas pelos professores, pode haver um certo
direcionamento face à preferência do professor por esta ou aquela modalidade que ele acha
melhor, mais fácil, ou com a qual ele trabalha.
Deve-se levar em consideração que algumas pessoas já procuram a academia de
acordo com a modalidade. Mesmo assim, tendem a adquirir outras informações na própria
academia, que muitas vezes contribuem para redirecionar os alunos novatos.
Há de se destacar também, o fato de que, entre os adultos maduros, o percentual
de informações adquiridas com profissionais de saúde é igual ao das adquiridas na academia,
o que pode sugerir uma maior preocupação com a saúde do que com outros elementos.
Essas respostas apresentam uma relação com os dados apresentados por
Gonçalves (1995), quando essa pesquisadora demonstra a influência das diferentes mediações
na vida das pessoas. Entretanto, devem-se olhar outras respostas para se confirmar ou refutar
tal hipótese.
Além do local, foi solicitado dos praticantes que relacionassem as fontes de
informação sobre atividades físicas que consideravam importantes. Por ordem decrescente a
partir de uma relação apresentada pelo pesquisador (Anexo II). Há de se registrar que várias
pessoas deixaram de relacionar algumas das fontes de informação, enquanto outros
acrescentaram novas fontes, a partir da referência “Outros”.
Para facilitar a análise dos dados e, levando em conta que eram nove as fontes
mencionadas na tabela, as respostas eram pontuadas de nove a um, de forma decrescente, ou
seja, a fonte mais importante recebia 9 pontos, a segunda, 8; a terceira, 7; e assim
sucessivamente. Caso a fonte não fosse mencionada, ela recebia como pontuação 0 (zero).
Depois da pontuação, os dados foram cruzados entre a faixa etária e a média de pontos,
obtendo-se os resultados apresentados na tabela 7.
90
38
São considerados para efeito de pesquisa, ao menos para a CAPES, como profissionais da área de saúde, os
médicos, os enfermeiros, os odontólogos, os veterinários, os professores de Educação Física, entre outros.
91
Também chama a atenção o fato que entre as outras fontes, no geral, as revistas
foram mencionadas ao todo por 25 informantes, sendo 10 adultos jovens, 8 adultos médios e 7
adultos maduros, o que representa 28,57%; 33,33% e 38,88%; respectivamente. Todas as
outras fontes citadas apresentaram, cada uma delas, apenas uma ocorrência.
Infelizmente não há como fazer uma análise mais detalhada desse dado, uma vez
que as revistas aparecem junto com outras fontes de informação, o que inviabiliza a análise
das médias obtidas por ela. Todavia, pode-se inferir que as revistas, inclusive pelas
reportagens e pelo direcionamento de algumas delas, podem estar sendo utilizadas como uma
maneira bastante eficaz de difundir o padrão corporal necessário, ou ao menos predominante
na sociedade atual. Além disso, as revistas comerciais devem ser questionadas enquanto
fontes de informação, uma vez que elas não podem ser consideradas fontes científicas de
consulta.
Um outro ponto digno de nota é o fato de o professor de Educação Física escolar
assumir o último lugar, enquanto fonte de informação, principalmente se for levado em conta
o alto grau de escolaridade apresentado pela população pesquisada, o que, se for colocado na
média de um ano para cada série, as pessoas estudaram ao menos durante onze anos, nos
quais, teoricamente, elas tiveram contato com a disciplina Educação Física. Esse fato deixa
uma pergunta no ar: O que o Professor de Educação Física tem feito na escola? A intenção
colocada aqui não é que ele faça apologia de um ou outro objetivo, mas que ele enquanto um
profissional da educação que tem as informações a respeito da prática de Atividades
Corporais, desempenhe o seu papel de fonte privilegiada de informação e esclarecimento dos
alunos aos quais tem acesso.
A fim de verificar a perspectiva dos praticantes quanto à influência da mídia na
prática de atividade física, foram apresentadas 4 questões no questionário B.
Os dados obtidos foram analisados pelo índice de Krusk-Wallis, para se
determinar a relação entre as variáveis. Os resultados são apresentados na tabela 8.
Tabela 8: Influência da mídia sobre os Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral as pessoas praticam atividade física...
20-30 31-40 41-50
1. Por influência dos meios de comunicação áudio visuais. 3,51 3,33 3,22
2. Por influência dos meios de comunicação impressos. 3,34 3,62 3,11
3. Porque está na moda. 2,97 2,79 3,05
4. Porque todas as pessoas famosas o fazem. 2,54 2,54 2,33
92
física que visa saúde e condicionamento físico. O segundo grande grupo está relacionado à
estética. O terceiro deles diz respeito à atividade física como forma de lazer, no qual se pode
agrupar a partir das categorias propostas por Kenyon; as dimensões que visam experiência
social; a busca de emoção e a liberação de tensões, uma vez que essas atividades são
realizadas, normalmente, em situações esporádicas, onde não se buscam, via de regra,
alterações fisiológicas mais importantes como as que se fazem necessárias quando o objetivo
está relacionado com a saúde e com a estética. Dessa maneira, a repetição periódica da
atividade não é prioritária para a sua realização, e sim o lazer.
Por fim, a atividade física como competição. Essa possui características próprias
sob todos os aspectos, e assim deve ser estudada de forma totalmente separada dos outros
objetivos, pois a sua especificidade em relação às demais propostas justifica tal abordagem,
desvinculada das outras três. Além disso, a atividade física centro do estudo deste trabalho
está voltada às outras três questões básicas, sendo elas a saúde a estética e o lazer. Portanto,
adotar-se-á a influência da prática corporal na aquisição, manutenção e utilização desses três
elementos.
Há de se observar, além dos objetivos dos praticantes de cada atividade, um outro
aspecto também importante, que passa pelo entendimento de que cada modalidade possui, ela
própria, na sua concepção, uma meta específica enquanto uma proposta de trabalho
diferenciada. Cada um desses métodos foi proposto em um determinado momento histórico,
conforme as exigências e condições da situação de sua origem.
Em estudo sobre as concepções estéticas na ginástica de academia, Novaes (1998)
traça os diferentes objetivos nos mais variados procedimentos utilizados em Academias de
Ginástica ao longo de todo o século XX.
Como a intenção do presente trabalho é identificar esses objetivos, do ponto de
vista dos praticantes do final do século XX, optou-se por apontar os principais modelos de
ginástica existentes na década de 1990. O que se procura aqui é apenas demostrar que cada
método possui seus objetivos próprios, o que permitirá, por sua vez, entender como eles
podem ser utilizados no dia-a-dia. o que justifica o recorte adotado.
Há de se ressaltar ainda, segundo Novaes (1998), que o período médio de
subsistência de cada atividade é de dez anos (uma década), sendo que as modalidades são, em
seguida, substituídas por outras. Apesar desse autor não fazer essa discussão, pode-se levantar
uma hipótese para tal fato: a necessidade de mudança das mercadorias postas à venda, pois
essa é a principal característica desses métodos. Todos eles são entendidos enquanto produtos
e, como tais, necessitam de reformulações e aperfeiçoamento para que possam continuar
95
vendendo, alimentando, assim, a indústria cultural. Cada uma dessas práticas corporais
apresentadas aos consumidores promete operar milagres semelhantes aos propostos pelas
religiões. Se não é possível salvar a alma, que se tenha ao menos um corpo jovem e eterno, ...
enquanto dure.
Buscando atender essas necessidades, as atividades são separadas por grupos,
dependendo das principais características apresentadas, seguidas pelas modalidades e
objetivos. Uma síntese desses aspectos relativos à década de 1990 pode ser vista no Quadro 1.
Ginástica Estético-Corporal
Musculação Estético-Corporal
Aero-Local Estético-Saúde
Localizadas
Step-Local Estético-Saúde
Flex-Local Estético-Performance
Bike-Class Estético-Saúde
Step Training Saúde-Estética
Aeróbicas Hidroginástica Estético-Saúde
Aerodança Descontração Física e Mental
Biodança/ Eutonia/ Equilíbrio Interior/
Bioenergética/ Autoconhecimento/ Saúde/
Consciência Corporal/ Estética/ Sociabilidade/
Corporais Yoga/ etc. Transformação de Vida Pessoal
Alternativas Watsu Relaxamento e Equilíbrio Psico-
Físico
Personal Training Estética-Saúde e Consciência
Corporal
* NOVAES, 1998: 57
Além dessas atividades descritas por Novaes (1998), podem-se, ainda, citar outras
bastante praticadas em Goiânia, estando entre elas as aulas de Body-Pump, ABS (aula
específica de exercícios localizados para o abdômen), GAP (Tipo de Ginástica Localizada,
onde se trabalha apenas Glúteos, Abdômen e Perna, normalmente praticada pelas mulheres),
96
Tabela 9: Modalidades realizadas pelos Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Modalidades Realizada 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Musculação 31 88,57 20 83,33 12 66,66 63 81,81
Ergometria 26 74,28 20 83,33 13 72,22 59 76,62
Ginástica Localizada 4 11,42 05 31,25 4 22,22 13 16,88
ABS 5 14,28 05 31,25 1 5,55 11 14,28
Natação 5 14,28 3 18,75 1 5,55 9 11,68
Body Pump 5 14,28 2 8,33 0 0 7 9,09
Step 4 11,42 0 0 3 16,66 7 9,09
Alongamento 5 14,28 1 6,25 1 5,55 7 9,09
Exercícios Localizados 2 5,71 2 8,33 1 5,55 5 6,49
Hidroginástica 0 0 0 0 3 16,66 3 3,89
Outros 5 14,28 0 0 4 22,22 9 11,68
* Houve mais de uma resposta a esta pergunta
** Os Exercícios Localizados são o GAP, a Superlocal, Trabalho para Braços e Trabalho para pernas
Como pode ser verificado, a oferta de atividades nos locais pesquisados é bastante
diversificada. Nesse sentido, deve-se lembrar que as pessoas também buscam práticas
bastante diferentes. Não foi rara a menção de realização de mais de uma prática, havendo
inclusive, o caso de uma moça que chegou a mencionar seis atividades diferentes no local da
entrevista e mais uma que ela fazia em outro local.
A alta incidência das modalidades sugere a utilização das Atividades Físicas como
mercadoria vendida (Novaes, 1998), o que coloca as práticas da cultura corporal entre os
diferentes elementos da indústria cultural. Pode-se justificar isso através da apropriação pelo
mercado, das diferentes atividades inerentes à vida humana. Com a prática corporal não seria
diferente, porquanto há a possibilidade de se utilizarem estas práticas para gerar novas
necessidades – fetiches – bem como desenvolver novos paradigmas do ponto de vista estético,
podendo-se dar como um exemplo o fato de as mulheres não parecerem sentir-se
masculinizadas quando possuem músculos mais definidos.
98
O que chama a atenção nessa tabela é o fato de a musculação ser a atividade física
mais realizada (81,81% do total) entre todas as faixas etárias. É também importante destacar
que a sua prática diminui de acordo com a idade – inicia com 88,57% entre os adultos jovens,
caindo para 83,33% nos adultos médios, empatando aqui com as atividades da ergometria, e
caindo entre os adultos maduros para 66,66%, ao passo que nesse momento a ergometria
atinge o seu percentual mais alto em relação à musculação (72,22%). Apesar de esses dados
refletirem um certo problema (a Academia 2 só oferece estas duas modalidades), entende-se
aqui que, mesmo assim, o quantitativo de alunos que pratica ergometria e musculação ainda é
bastante significativo (59 e 63 respectivamente). Por outro lado, não se pode esquecer que o
contingente pesquisado é, em grande maioria, do sexo feminino. Isso significa, ao que tudo
indica, que existe uma busca pelas melhorias mais rápidas provocadas pela musculação,
diferindo do que acontecia há algum tempo atrás, quando existia uma certa procura, por parte
das mulheres, pela ginástica.
Após se pensar sobre as modalidades mais praticadas, deve-se refletir sobre outros
aspectos importantes. Entre eles pode-se mencionar o papel que a Educação Física, em seu
significado mais amplo, exerce sobre estas práticas, ao mesmo tempo em que se deve procurar
entender as diferentes orientações que essa área sofreu nestes últimos cem anos.
A partir do século XIX, em meio à emergência e consolidação da indústria e do
capitalismo, do aumento das cidades decorrente do êxodo rural, é que o discurso da saúde
toma força. Isso acontece porque no processo de crescimento das cidades a chegada dos
trabalhadores em busca de emprego promove um desenvolvimento desordenado que, por sua
vez, não é acompanhado pelos serviços básicos essenciais. Esse crescimento , segundo Soares
(1994), facilita o aparecimento de epidemias, que não é sentido inicialmente pelas classes
mais altas. Dessa forma,
Emerge, pois, uma nova área do conhecimento científico denominada então como
Educação Física, a qual se apropria de todo o discurso inerente às ciências naturais da época
99
Não podemos nos livrar do corpo e nós o louvamos quando não podemos golpeá-lo.
(...) Os que na Alemanha louvavam o corpo, os ginastas e os excursionistas, sempre
tiveram com o homicídio a mais íntima afinidade, assim como os amantes da
natureza com a caça. Eles vêem o corpo como um mecanismo móvel, em suas
articulações as diferentes peças desse mecanismo, e na carne o simples
revestimento do esqueleto. Eles lidam com o corpo, manejam seus membros como se
estes já estivessem separados. (ADORNO & HORKHEIMER, 1985: 219)
... deveria ser pensada pelo aparato científico disponível e assim colocada em
igualdade com outras práticas sociais, explicada e sistematizada. Devia tornar-se
obrigatória para a sociedade em geral, bem como prática regular em todos os
currículos escolares. (SOARES, 1998: 22)
100
... esporte é que legitima a EF [Educação Física] porque faz coincidir seu discurso
com o daquela no que diz respeito ao seu papel nos planos educativo e da saúde – o
esporte se impôs também enquanto tema e orientador da teorização neste campo
acadêmico em construção. Em suma, o discurso pedagógico na EF foi quase que
sufocado pelo discurso da performance esportiva; literalmente afogado pela
importância sóciopolítica das medalhas olímpicas, ou pelo ‘desejo’, tornado
público por medalhas. (BRACHT, 1999: 23) (Grifo nosso)
Nesse sentido, fez-se a opção de apresentar as idéias de dois autores sobre as possíveis
posições quanto às tendências pedagógicas da Educação Física, sendo essas as propostas de
Oliveira e de Castelani Filho.
Para Oliveira (1994), essa área de conhecimento pode ser dividida em duas as
quais ele vai denominar de pedagogia do consenso e pedagogia do conflito. Esse autor faz
uma discussão a respeito dos principais artigos que marcaram a década de 1980 e início da de
1990, separando os autores conforme a sua “filiação” teórica. Para ele, a pedagogia do
consenso baseia-se na filosofia liberal, na economia liberal clássica, no positivismo, no
funcionalismo e na concepção sistêmica. Existem ao menos três abordagens da Educação
Física que se enquadram aqui: a da Aptidão Física, representada por Fox e Mathews, a
Educação Física Desenvolvimentista de Tani et ali e a Construtivista, de Freire (apud
Oliveira, 1994).
Por outro lado, a Pedagogia do conflito está pautada no marxismo, na pedagogia
socialista. Enquadram-se aqui autores como Castelani Filho, Bracht, Carmo e Oliveira. Entre
esses autores, Oliveira defende a Educação Física por ele denominada de Humanista,
enquanto Bracht, em um dos artigos analisados, defende a concepção denominada por ele de
funcional-integrativa. Enfim, todos eles se apoiam em referencial marxista para fazerem
críticas à atuação da Educação Física sem, contudo, apresentarem propostas mais efetivas
naquele momento (apud Oliveira, 1994).
Por outro lado, Castellani Filho faz uma “classificação” das diferentes tendências
da Educação Física em uma entrevista concedida a Ferreira Neto (1996). Nessa entrevista,
Castellani Filho apresenta diferentes concepções de Educação Física Escolar no Brasil, a
partir de duas possibilidades. O primeiro grupo de concepções, denominado como Não-
Propositivas, são assim denominadas por fazerem críticas ao estágio da Educação Física sem,
contudo, fazer um proposta que possa ser aplicada no âmbito escolar. Essas concepções são
chamadas de Abordagem Sociológica, Fenomenológica e Cultural.
O segundo grupo, o das Concepções Propositivas, é dividido entre dois
subgrupos: Sistematizadas e as Não-Sistematizadas. As Concepções Propositivas
Sistematizadas são assim denominadas por possuírem uma proposta efetiva para a Educação
Física Escolar, contando inclusive com a proposta dos conteúdos curriculares a serem
trabalhados em cada série. Entre elas estão a abordagem da Aptidão Física, que tem por
princípio o desenvolvimento da condição física quase que de maneira exclusiva, bem como a
Tendência Crítico-Superadora, a qual, apoiando-se em uma referência marxista, entende que o
papel da Educação Física Escolar é desenvolver os elementos da cultura corporal, cujos
104
conteúdos estão relacionados ao jogo, às lutas, aos esportes, à dança, à ginástica, as atividades
circenses e à mímica. Esses conteúdos devem ser trabalhados em uma perspectiva de
historicidade aliando à crítica social e à defesa de um novo modo de produção.
Já as Concepções Propositivas Não-Sistematizadas são assim denominadas por
fazerem crítica à atuação da Educação Física na Escola, enfatizando algumas propostas.
Porém, essas não se encontram ainda sistematizadas no nível das outras duas, ou seja, não
possuem uma proposta curricular clara a ser desenvolvida dentro das séries. Entre elas se
encontram as abordagens Desenvolvimentista, que se preocupa com as fases do
desenvolvimento motor do ser humano; a Construtivista, de inspiração piagetiana; a Crítico-
Emancipatória, apoiada na teoria da ação comunicativa proposta por Habermas e, por fim, a
Plural, com uma bagagem antropológica. Não é feito no referencial utilizado uma discussão
mais detalhada sobre essas concepções para que possam ser dados detalhes sobre cada uma
delas. A apresentação mais superficial dessa temática tem como objetivo aqui, apenas mostrar
a evolução das discussões existentes na área, as quais, nesse momento, encontram-se em
pleno curso.
Pelo menos desde a Grécia Antiga a atividade física é exaltada pelos seus aspectos
terapêuticos, sendo daquela época a célebre frase de Juvenal: “Mente sã em corpo são”. Essa
máxima, ainda usada nos dias atuais, procura expressar a necessidade dos cuidados com o
corpo, enquanto uma maneira de permitir à mente o melhor de sua utilização. Para que isso
aconteça, a atividade física tem que se tornar uma febre mundial e conseguir cada vez mais
adeptos. Ainda é necessário adequar a sua prática a todos os tipos de pessoas, sejam elas
jovens, idosas, deficientes, com ou sem saúde aparente, pois, apesar das diferentes correntes
já discutidas e de seus objetivos mais ou menos específicos, sempre foi o carro chefe dessa
área. Dados apresentados por Santos (1987) a respeito do objetivo da prática de corrida na
zona sul do Rio de Janeiro, por exemplo, destacam a saúde como o principal objetivo entre os
informantes entrevistados.
Mas afinal, quais são os argumentos para justificar a prática treino corporal como
elemento constitutivo da saúde? Devido a possibilidade de a lista de motivos ser enorme,
tentar-se-á apresentar algumas explicações utilizadas comumente para justificar esse discurso.
Embora não tenha sido o primeiro a defender esta idéia, Cooper (1972) descreve
que o pessoal da força aérea americana, que se encontrava em situação de baixa por
105
... estudos têm mostrado uma forte probabilidade de que o risco de doenças
cardiovasculares é aumentado por falta de atividade física satisfatória. A atividade
física principalmente o exercício, o esporte, aumenta o rendimento físico das
pessoas. Este aumento está associado com uma melhora na eficiência funcional de
todas as células do nosso corpo. Essa eficiência funcional, chamada de Aptidão
Física, é geralmente vista como um atributo desejável e positivo para a saúde.
(BARBANTI, 1990: 19)
Esses dizeres são reafirmados por outros autores que defendem também como
importantes quatro aspectos ligados à aptidão física enquanto saúde, como a “função
cardiovascular e respiratória, composição corporal, flexibilidade e resistência musculares”
(Gettman, 1994: 156). Percebe-se que muitos adultos são acometidos de doenças cardíacas,
obesidade, lombalgia, entre outros por falta de “exercícios”39, já que esses indivíduos não
possuem “sólida fundamentação sobre o conhecimento e práticas nas áreas relacionadas ao
estado da saúde” (ibid.). Entretanto, a sólida fundamentação sobre o conhecimento deve-se
confirmar na realização de tais atividades, pois o mero conhecimento dissociado da prática
não terá em si nenhuma utilidade. Em síntese, o conhecimento dessa teoria deve-se efetivar na
prática de uma vida fisicamente ativa.
39
O entendimento que se tem de exercício neste texto é o da atividade física realizada de forma repetitiva,
visando a melhoria ou o alcance de determinado objetivo.
106
Sharkey (1998) corrobora com essa opinião, pois para ele a atividade física
aprimora o condicionamento físico por promover a redução no índice de doença coronariana,
por desencadear o que chama de “mecanismos cardioprotetores”, reduzindo o processo
aterosclerótico, aumentando a eficiência do coração e elevando o suprimento sangüíneo. Além
disso, a atividade física reduz o índex de risco de hipertensão e acidente vascular cerebral
(AVC). Esses aspectos são considerados importantes porque, segundo a Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), no Brasil, do número de óbitos registrados entre 1990 e 1994,
... 33,9% do total foram devidas às doenças cardiovasculares, que são a primeira
causa de morte em todas as regiões do país, (...). As causas específicas mais
freqüentes de mortes do aparelho circulatório nas capitais brasileiras foram, em
1991, a doença cerebrovascular (11,6%), a doença isquêmica do coração (9,8%) e
a hipertensão arterial (2,3%). (OPAS, 1998: 45)
40
A homeostase é entendida como o equilíbrio das funções orgânicas responsáveis pela manutenção da vida.
41
Entende-se por atividades sub-máximas, aquelas que não são máximas. No caso específico da atividade física
diz respeito às atividades praticadas em uma intensidade que normalmente varia entre 60 e 85% da capacidade
máxima de cada pessoa.
107
... o exercício regular (...) pode levar à diminuição na dose total de insulina e à
menor resposta hipertensiva ao exercício. (...)Do mesmo modo, em pacientes
diabéticos, a prática de exercícios determina queda no colesterol total, no LDL-
colesterol e nos triglicérides e aumento na relação HDL-colesterol/colesterol total.
(p. 105)
108
Um terceiro fator diz respeito aos hábitos de vida. Existem algumas evidências de
que a utilização de tabaco, café e o sedentarismo são aspectos responsáveis pela aceleração da
perda de massa óssea. Desses, provavelmente o mais importante é o sedentarismo. Apesar de
não haver ainda muita clareza a respeito dos mecanismos de ação, acredita-se que a falta de
estímulos como a sobrecarga gravitacional e a falta de contração muscular, facilitam a perda
de minerais, uma vez que o tecido ósseo não é obrigado a sofrer grandes tensões; em outras
palavras, a falta de necessidade acaba provocando uma “adaptação” específica a essa situação.
Assim sendo, o exercício pode contribuir significativamente na prevenção dessa
doença, pois a sua ação é justamente o contrário do que fora descrito acima. Por isso, segundo
Mellerowicz & Meller (1987: 9), as Atividades Físicas conseguem promover o “(...)
crescimento ósseo e o aumento das saliências dos ossos”. Leite (1990) apresenta como uma
alteração importante o fortalecimento da estrutura esquelética, muscular e articular. McArdle;
Katch & Katch (1998), abordam a elevação do conteúdo mineral nos ossos; por fim, Dantas
(1998) descreve o aumento da elevação das enzimas ósseas e hipertrofia óssea.
No caso da osteoporose, a perda de minerais pode gerar não apenas as fraturas,
mas também dificuldade na recuperação. Com a realização de atividades físicas onde existe a
presença de pequenos impactos, como a caminhada, a corrida e a musculação, acarreta-se a
geração de estímulos suficientes para o desenvolvimento dos ossos e dos músculos,
permitindo o aumento sobretudo no seu diâmetro. Embora a musculação em si não exerça
impacto sobre os ossos, ela acaba fornecendo uma sobrecarga gravitacional, exercendo efeitos
benéficos sobre o esqueleto. Além disso, o próprio processo de contração muscular, quando
desencadeia os processos de hipertrofia, acaba também alterando o diâmetro ósseo devido ao
aumento da força que precisa ser suportada pelos ossos.
42
A osteoporose do tipo I acontece no quadro pós-menopausa e a do tipo II é chamada de senil, acontecendo
normalmente em pessoas com mais de 60 anos, apresentando-se geralmente através de fratura de colo de fêmur.
(SANTARÉM, 2000)
110
Apesar de todo esse mecanismo de desenvolvimento dos ossos ainda não estar
muito claro, infere-se que a Atividade Física praticada de maneira regular e adequada à
situação de cada pessoa pode promover resultados bastante importantes nas transformações
fisiológicas. Por outro lado, é necessário reforçar a idéia de que a prática excessiva de
qualquer exercício é capaz de causar lesões. Em relação à questão do próprio esqueleto, é
comum ouvir-se falar de atletas que sofreram fratura por estresse. Nesses casos,
provavelmente a ação dos osteoclastos, células de desgaste dos ossos, é maior que a ação dos
osteoblastos, células responsáveis pela regeneração desse tecido. Dessa forma, ao invés de se
prevenir a osteoporose, pode-se promover a sua aceleração.
Outra doença aqui descrita, que sofre uma influência positiva do exercício, é a
obesidade. Essa se caracteriza pelo acúmulo acentuado de tecido adiposo subcutâneo, sendo
muitas vezes associada a outras doenças, como a hipertensão, a diabetes, entre outras.
As causas da obesidade são bastante diversificadas, podendo ser provocadas por
alterações hormonais, hiperfagia e por sedentarismo, entre outras. Independentemente dessas,
um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento dessa doença é o chamado balanço
calórico positivo. Esse, por sua vez, é ocasionado pela relação entre ingestão de alimentos e
gasto energético diário, ou seja, todas as vezes que se come mais do que se gasta existe a
tendência de acúmulo dessa energia na forma de gordura, que, por sua vez, fica armazenada
logo abaixo da pele. A sua prevenção é, teoricamente, bastante simples, pois ela pode ser
evitada, simplesmente, gastando-se mais energia do que se consome diariamente. Para dar um
exemplo prático, pode-se dizer que um homem de 25 anos de 1,70 metros e com 70 quilos de
peso gasta diariamente algo em torno de 2200 quilocalorias (kcal) por dia. Se ele estiver
engordando, é suficiente que ele passe a gastar, por exemplo, 2500 kcal diariamente. Assim,
ele entra em um balanço calórico negativo, passando teoricamente a retirar, do tecido adiposo
a energia que está faltando para manter as funções necessárias à manutenção de sua vida. Esse
processo pode ser feito de três formas básicas, sendo: 1) fazer mais atividade física
diariamente, ou seja, gastar mais energia; 2) ingerir uma menor quantidade de alimentos e; 3)
aumentar a atividade física e reduzir a ingesta de alimentos, ou seja, reunir as duas
possibilidades anteriores. Segundo Powers & Howley (2000) e McArdle, Katch & Katch
(1998), cada vez que se gasta 3500 quilocalorias, perde-se 454 gramas de peso.
111
43
McArdle, Katch & Katch (1998) utilizam a denominação de Índice de Peso Corporal (IPC).
112
de energia do que o tecido adiposo. Esse processo é conseguido com o aumento da massa
muscular por hipertrofia (aumento no tamanho das células). Segundo De Francischi & Lancha
Júnior (1997), a atividade aeróbia consegue manter ou mesmo aumentar os níveis de TMB,
desde que as restrições calóricas não sejam muito acentuadas. Segundo ela, a única forma que
provoca redução de peso às custas de massa magra (músculos) são as dietas feitas sem a
realização de Atividades Física paralelas.
Para concluir, apresenta-se a ação do exercício no câncer de cólon. Os dados
referentes a essas pesquisas ainda são recentes. Segundo Lee (2000b), a prática de atividades
físicas pode reduzir a incidência desse tipo de câncer. Isto acontece porque a “(...) atividade
física pode diminuir o período de trânsito intestinal, reduzindo então o risco de câncer pela
redução do contato entre cancerígenos, co-cancerígenos ou promotores no bolo fecal e na
mucosa do cólon”44 (Lee, 2000b: 31). Apesar desse dado estar posto de forma isolada, é
bastante interessante, pois, mesmo não havendo dados definitivos quanto à eficácia das
práticas corporais em outros tipos de câncer, no momento, diversos estudos estão sendo feitos
para se ter maior clareza sobre os possíveis efeitos das diferentes atividades, principalmente
as moderadas.
Enfim, todas essas evidências científicas comprovam os efeitos do exercício na
vida e na saúde das pessoas, de forma geral. Vários outros estudos poderiam ser apresentados,
e mesmo assim seria necessário um compêndio e ainda não seria suficiente para relatar toda a
produção existente nessa área. Todavia, todas as alterações apresentadas se restringiam a
funções fisiológicas, as quais estão muito bem fundamentadas pelas várias pesquisas
realizadas. Inclusive, quanto à prescrição da atividade física, atualmente, se utiliza como
prática suficiente à manutenção da saúde a realização de atividades físicas por trinta minutos,
na maior parte dos dias da semana, com intensidade de leve a moderada (Lee, 2000a). Esses
dados se diferenciam das sugestões anteriores que mencionavam a necessidade de realizar
exercícios contínuos, por, pelo menos, 20 minutos, três vezes por semana, como foi por muito
tempo preconizado por Cooper (1972).
No entanto, será que a mera ausência de doenças é suficiente para justificar que a
Atividade Física seja necessariamente um sinônimo de saúde, mesmo que se pense como
Barbanti (1990), que essa relação é alcançada com a melhoria da aptidão física? Os
levantamentos mais recentes demonstram, inclusive, que não existe uma relação direta entre a
melhoria da aptidão física e da saúde, o que também é defendido por Lee (2000a).
44
“(...) physical activity can shorten intestinal transit time, thus reducing cancer risk by decreasing contact
between carcinogens, co-carcinogens or promoters in the fecal stream and colonic mucosa.” (LEE, 2000b: 31)
114
Mas, afinal de contas, o que é saúde? Como se estabeleceu essa relação entre a
saúde e a prática de Atividades Físicas?
Para se iniciar essa discussão, deter-se-á rapidamente no conceito de saúde. A
Organização Mundial de Saúde – OMS – define saúde como “(...) estado de completo bem-
estar físico mental e social e não meramente como ausência de doença.” O que pode ser
considerado, segundo os autores, como irrealista, pois esse estado de pleno bem-estar
dificilmente será alcançado. Essa afirmação é feita por eles, usando, como referência,
Gonçalves e Gonçalves, definindo: “(...) Saúde consiste na luta para superar as
adversidades, evidentemente nem sempre vencendo-as, mas procurando sempre fazer-lhes
face.” (apud Ramos et al, 1999: 796) Eles ainda complementam que apesar das divergências
sobre o conceito, tem-se clareza dos benefícios da atividade física para o desenvolvimento
desse parâmetro importante para a vida humana.
Deve-se refletir, no entanto, que a aquisição da saúde em seu estado e conceito
mais amplo irá depender de uma série de fatores cruciais. Para a obtenção de um nível
desejado de saúde, deve-se pensar no conceito da OMS como uma meta a ser atingida em um
curto espaço de tempo, uma vez que nele se encontram implícitos o acesso a um emprego
digno com um salário compatível, boas condições de moradia, saneamento básico, transporte,
alimentação, lazer entre outros indicadores sociais do mesmo porte. Dessa forma, a realização
de práticas corporais, por mais que tenham possibilidade de intervenção sobre uma série de
aspectos fisiológicos, como foi visto anteriormente, torna-se insuficiente para, sozinha,
promover saúde. Essa possibilidade não está dada nem a outras áreas de atuação profissional,
como a medicina, enfermagem, nutrição, apenas para citar algumas. É preciso, assim,
transformar a sociedade de maneira ampla para que esse conceito da OMS seja possível a
todas as pessoas. Nesse sentido a realização de Atividades Corporais, pelo menos como
elemento constitutivo dos momentos de lazer, ou seja, ela também deve estar incorporada ao
quotidiano das pessoas como instrumento de obtenção de um patamar de saúde elevado.
Mas, afinal, quando se estabelece o nexo da relação Atividade Física e Saúde, de
que saúde está-se falando? Onde aparece esse discurso que mantém a sua força e quais os seus
objetivos reais? Tentar-se-á responder a essas perguntas por partes, como forma de se
evitarem equívocos.
A resposta à primeira pergunta já foi dada de uma certa forma quando se discutiu
a corrente higienista da Educação Física no início deste capítulo. Porém, falta dizer do “tipo”
de saúde: a saúde pública, a qual, conforme disse Soares (1994), era responsável pelo controle
das epidemias dos trabalhadores. Os modelos de saúde pública, principalmente na Europa dos
115
séculos XVIII e XIX, tiveram pelo menos três formatos: o alemão-estatal, que primava pela
normalização principalmente dos médicos; o francês-urbano, pautado na vigilância e nas
quarentenas; e o inglês, entendido como o mais eficiente, sendo
... essencialmente um controle da saúde do corpo das classes mais pobres para
torná-las mais aptas ao trabalho e menos perigosas às classes mais ricas.
Essa fórmula da medicina social inglesa foi a que teve futuro,
diferentemente da medicina urbana e sobretudo da medicina de Estado. O sistema
inglês (...) possibilitou, por um lado, ligar três coisas: assistência médica ao pobre,
controle de saúde da força de trabalho e esquadrinhamento geral da saúde pública,
permitindo às classes mais ricas se protegerem dos perigos gerais. (FOUCAULT,
1999: 97)
Fica evidente o controle que é exercido pela medicina nesse momento da história
inglesa. No Brasil, o processo é bastante semelhante no sentido de que as informações e
saberes advêm dos países desenvolvidos. Esses, por sua vez, desencadeiam uma estrutura de
pesquisas isoladas e, posteriormente, realizadas em institutos. O conhecimento produzido
beneficia primeiro as populações urbanas e os militares, só se tornando acessível às outras
classes posteriormente. Nesse processo,
116
Outra autora que parte do mesmo ponto é Carvalho (1995), quando define a
relação anterior como um mito. Ela explicita que
117
Mas, afinal, se a Atividade Física não é sinônimo de saúde e sim um mito que se
perpetua, e que ainda é utilizado no processo de exclusão social e controle da população, qual
é então o seu objetivo? O que faz presente uma prática social que apresenta um discurso por
vezes contraditório?
A resposta a essas questões pode estar no consumo. As práticas corporais
constituem atualmente a chamada indústria cultural, elemento já discutido no capítulo 2, e
que, apesar de seus benefícios, também identificados, acaba atuando muito mais pelas
pedagogias do medo e da culpa (Quint & Matiello Júnior, 1999), do que pela própria
educação em si.
por elas, como remédio que todos, sem exceção, da mais tenra idade até a mais
‘frágil’ velhice devem consumir, no intuito de não causar prováveis prejuízos aos
cofres políticos. (idem, p. 871) (Grifo nosso)
Nessa mesma esteira de compreensão, a atividade física acaba por ser entendida
como um processo, muito mais preocupado com a circulação de mercadorias entre as quais se
encontram o próprio corpo, os tênis, as roupas e agasalhos, além da própria atividade física –
do que com o desenvolvimento da saúde em si. Pode-se finalizar essa pequena discussão de
apresentar a não existência dessa relação ao menos de forma direta utilizando as palavras de
Schineider (1999), quando diz:
Tabela 10: Relação Entre tempo de atividade dos Praticantes de Atividade Física, por Faixa
Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Tempo de atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
3 Meses 0 0 5 31,25 0 0 5 6,49
4-6 meses 5 14,28 3 18,75 1 5,55 9 11,68
6-11 meses 6 17,14 3 18,75 1 5,55 10 12,98
1 ano 05 14,28 4 16,66 7 38,88 16 20,77
2 anos 8 22,85 2 12,5 2 11,11 12 15,58
> 3 anos 11 31,42 7 43,75 7 38,88 25 32,46
Total 35 100 24 150 18 100 77 100
88,87% de prática, com tempo superior a 1 ano. Do ponto de vista percentual, o grupo de
adultos médios é o que apresenta maior tempo de prática absoluto, superior a 3 anos, com
43,75%. Esse dado contraditório é interessante, pois a sensação que se tem é que esse grupo,
quando começa a praticar uma atividade, se mantém fiel a ela. Entretanto, esse tipo de dado só
poderia ser confirmado através de um estudo longitudinal, o que não foi possível na realização
deste trabalho.
Procurou-se identificar se as pessoas que praticavam a atividade física há mais
tempo, tinham-na como mais importante do que os demais grupos. Realizando esse
cruzamento, observou-se que, do total, apenas seis pessoas colocavam a prática corporal como
a coisa mais importante de suas vidas. Dessas, nenhuma delas freqüentava academia há menos
de um ano. Por outro lado, se forem consideradas as três primeiras colocações para a
Atividade Física, com o tempo de prática, observa-se que 16 pessoas (20,77%) têm 3 anos ou
mais; 12 (15,38%) têm 2 anos; 6 (7,79%) têm 1 ano; 4 (5,19%) praticam de seis a onze meses;
6 (7,79%) têm de três a seis meses, e apenas 2 (2,59%) praticam há três meses. Esses dados
permitem inferir que as pessoas que consideram essa prática mais importante realizam-na há
mais tempo.
Na tabela 11, são destacados os dados relativos ao número de vezes na semana
que as pessoas freqüentam as academias. Do total, 33,76% realizam atividades 5 vezes na
semana e 29,87%, três vezes. Apesar das pessoas informarem que vão à Academia todos os
dias, pelo menos de segunda-feira à sexta-feira, esse dado se apresenta como contraditório,
pois uma das maiores dificuldades encontradas na coleta dos dados foi conseguir localizar as
pessoas sorteadas para realização da entrevista, apesar de ser feito um rodízio entre os dias e
horários. Os dias em que se encontravam maiores dificuldades em achar as pessoas eram as
quintas e sextas-feiras, dias em que as academias ficavam bastante vazias.
121
Tabela 11: Freqüência Semanal à academia dos Praticantes de Atividades Físicas, por
Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Freqüência semanal 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
02 vezes 2 5,71 0 0 0 0 2 2,59
03 vezes 9 25,71 11 45,83 3 16,66 23 29,87
04 vezes 6 17,14 3 12,5 2 11,11 11 14,28
05 vezes 13 37,14 6 25 7 38,88 26 33,76
06 vezes 3 8,57 4 16,66 5 27,77 12 15,58
07 vezes 2 5,71 0 0 1 5,555 3 3,89
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
* Não houve nenhuma resposta para 1 vez por semana.
Outro aspecto importante de ser apresentado é o fato das pessoas informarem uma
quantidade de práticas que se pode tornar inviável nas academias, pois mencionam realizar
atividades 7 vezes por semana, uma vez que as academias não abrem aos domingos. Todavia,
pode-se inferir que, ao indicar essa quantidade de vezes, as pessoas poderiam estar indicando
a realização de atividades fora da academia, como as caminhadas, que não dependem
daqueles locais. Apesar de ser uma possível falha na coleta de dados, a elaboração do
instrumento, a priori, tinha um direcionamento geral, não se restringindo, nesse caso
específico, ao que ocorre na academia. Do ponto de vista da saúde, entretanto, teoricamente,
quanto maior o número de dias da semana que as atividades físicas são realizadas, maior a
probabilidade delas surtirem os efeitos desejados na saúde. Além disso, as práticas realizadas
nos finais de semana podem ter outros objetivos como o lazer.
Na tabela 12, verifica-se o período de realização das atividades físicas.
122
Tabela 13: Tempo gasto no treinamento (por dia) pelos Praticantes de Atividade Física,
por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Tempo de atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
< 1 hora 2 5,71 4 16,66 4 22,22 10 12,98
< 2 horas 28 80 16 66,66 11 61,11 55 71,42
< 3 horas 4 11,42 4 16,66 3 16,66 11 14,28
> 4 horas 1 2,85 0 0 0 0 01 1,29
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Tabela 14: Realização de Exame Médico pelos Praticantes de Atividade Física por Faixa
Etária.
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Exame médico 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Sim 24 68,57 18 75 15 83,33 57 74,02
Não 11 31,42 6 25 3 16,66 20 25,97
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Tabela 15: Local do Exame Médico realizado pelos Praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
Local de realização TOTAL
20-30 31-40 41-50
do exame
f % f % f % f %
Academia 8 33,33 3 16,67 6 40 17 29,82
Centros de Saúde 11 45,83 12 66,66 8 53,33 31 54,39
Não lembra 4 16,67 3 16,67 1 6,67 8 14,04
Outros 1 4,17 0 0 0 0 1 1,75
Total 24 100 18 100 15 100 57 100
Tabela 16: Motivo para a realização do Exame Médico pelos praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Por que fez o exame 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Exigência da Academia 12 50 10 55,56 5 33,33 27 47,36
Para Saber como estava 4 16,66 0 0 3 20 7 12,29
Histórico Familiar/Pessoal 4 16,66 2 11,11 0 0 6 10,52
Rotina 1 4,16 2 11,11 4 26,67 7 12,29
Pela Idade 0 0 1 5,56 1 6,67 2 3,51
Outros Motivos 3 12,5 3 16,66 2 13,33 8 14,03
Total 24 100 18 100 15 100 57 100
126
Tabela 17: A Saúde como objetivo dos praticantes de atividade física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
Praticam atividades por TOTAL
20-30 31-40 41-50
saúde
f % f % f % f %
Sim 18 51,42 10 41,66 9 50 37 48,05
Não 17 48,58 14 58,34 9 50 40 51,95
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Entre os objetivos apontados por todas as faixas etárias, chama a atenção o fato de
os adultos jovens indicarem mais aspectos relacionados à prática das Atividades por saúde, do
127
que as outras faixas etárias, até mesmo da dos adultos médios, que se esperava apresentarem
essa preocupação. Embora essa diferença não seja considerada significativa do ponto de vista
estatístico, pode sugerir dois aspectos interessantes. O primeiro é o fato de os próprios adultos
maduros não terem a saúde como um ponto principal, visto que entre eles as alterações
orgânicas decorrentes da idade são mais acentuadas. Um segundo aspecto é o fato de os
adultos jovens terem apontado a saúde como objetivo, o que poderia sugerir uma maior
conscientização dessa geração com a necessidade da prática regular de Atividades Corporais,
o que poderia justificar a denominação “Geração Saúde”, embora se possa pensar em
aspectos ideológicos dessa nomenclatura devido a uma possível exacerbação de preocupação
com a saúde e não com outros aspectos sociais importantes. Esses fatos indicam uma
influência importante das relações sociais, colocadas pela Indústria Cultural, pois a saúde e o
corpo se apresentam como mercadorias de alto valor, aspecto no qual se deve concordar com
Schineider (1999).
Pode-se destacar, ainda, o nível de satisfação que foi indicado pelos praticantes
que freqüentam as academias pesquisadas procurando saúde. Entre as trinta e quatro pessoas
consultadas que mencionaram esse objetivo, a média de satisfação com a suas atividades é de
7,16 pontos, apresentando um desvio padrão de 1,25. Essa média dá a entender um nível
bastante razoável em relação ao alcance do objetivo mencionado.
A informação dos sujeitos sobre a relação entre as atividades físicas e a saúde
pode ser verificada na tabela 18.
128
Tabela 18: Relação entre os exercícios e a saúde, segundo os praticantes de Atividade Física,
por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral a atividade física contribui para:
20-30 31-40 41-50
1. Auxiliar no tratamento de diabetes* 4,20 4,54 3,27
2. Encontrar o equilíbrio pessoal 1,42 1,45 1,27
3. Melhorar a resistência* 4,97 4,91 4,55
4. Prevenir a obesidade 4,85 4,91 4,61
5. Prevenir doenças do coração 4,85 4,79 4,88
6. Reduzir a pressão arterial 4,51 4,70 4,38
7. Reduzir as conseqüências da Osteoporose 4,54 4,50 4,88
8. Ter mais saúde 4,94 5,00 4,77
9. Viver com melhor qualidade* 4,94 4,70 5,00
* Estas afirmações apresentam diferenças significativas entre os grupos (p< 0,05).
Tabela 19: Influência dos exercícios sobre a saúde, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física para...
20-30 31-40 41-50
1. Para aumentar a capacidade física 4,68 4,75 4,61
2. Para se sentirem bem 4,65 4,70 4,44
3. Para terem sua saúde melhor 4,82 4,87 4,94
4. Porque o médico mandou 3,65 3,70 4,22
A primeira análise que pode ser feita a respeito desses dados é de que em nenhum
item ocorreu diferença significativa entre os grupos, segundo o índice de Krusk-Wallis.
Destaca-se o fato dos Adultos Maduros acreditarem que a maior parte das pessoas realizam
práticas corporais por saúde. Apesar da pergunta ser feita pensando-se em outras pessoas, ela
pode representar aquilo que a pessoa faria no caso dela. Isso significa que essas pessoas
possivelmente fazem Atividades pensando em saúde, embora esse possa não ser o seu
objetivo principal. Também é digno de nota que esse “interesse” pela saúde aumenta com a
idade, segundo os dados, visto como a média dos itens de 4,38 entre os adultos jovens; 4,44
entre os adultos médios; e 4,59 para os adultos maduros.
Enfim, a saúde acaba por se apresentar como aspecto importante na prática
corporal nas academias pesquisadas. Resta saber se esse é o elemento principal, haja vista que
outros componentes devem ser discutidos.
Para se iniciar esta discussão deve-se, em primeiro lugar, definir o que seja
estética. A princípio, a estética tem a ver com tudo o que é belo e, nesse sentido, pode-se
encontrar a estética presente no corpo humano, em um texto literário, na música ou em
qualquer forma de arte. A estética pode estar na sublimação de um sentido ou na percepção
sutil de um pequeno gesto. A leveza, a perfeição são normalmente palavras usadas para
exprimir algo que, na realidade, em algumas situações, não pode ser expresso. A estética é,
130
assim, o ser ou algo emanante a ele, justamente no que possui de mais completo/complexo. É
o êxtase em estado puro.
Essa palavra, que pode representar a beleza em seu estado máximo, na realidade
... surgiu como um discurso sobre o corpo. Em sua formulação original, pelo
filósofo alemão Alexander Baumgarten, o termo não se refere primeiramente à arte,
mas, como o grego aisthesis, a toda a região da percepção e sensação humanas, em
contraste com o domínio rarefeito do pensamento conceitual. A distinção que o
termo ‘estética’ perfaz inicialmente, em meados do século XVIII, não é aquela entre
‘arte’ e ‘vida’, mas entre o material e o imaterial: entre coisas e pensamentos,
sensações e idéias; entre o que está ligado a nossa vida como seres criados opondo-
se ao que leva uma espécie de existência sombria nos recessos da mente. (...) Este
território é nada mais do que a totalidade de nossa vida sensível – o movimento de
nossos afetos e aversões , de como o mundo atinge o corpo em suas superfícies
sensoriais, tudo aquilo enfim que se enraiza no olhar e nas vísceras e tudo o que
emerge de nossa mais banal inserção biológica no mundo. (...) Ela representa assim
os primeiros tremores de um materialismo primitivo – de uma longa e inarticulada
rebelião do corpo contra a tirania do teórico. (EAGLETON, 1993: 17) (Grifo do
autor)
45
Entende-se aqui por beleza, tudo aquilo que satisfaz, ou seja, condiz com a sublimação de todos os sentidos
humanos. Por isso, pode-se dizer que belo é aquilo que, em outras palavras, coincide com o próprio paradigma
estético, mesmo admitindo que esse conceito – estética – possa ser, e é, ideológico.
131
Essa última descrição a respeito da estética faz necessária a discussão sobre dois
elementos que acabarão se tornando freqüentes nessa questão, e cujos pontos centrais estão
grifados acima: a busca pela liberdade e o universalismo das formas. O primeiro aspecto
coloca a estética justamente no ponto da realização máxima do Homem, no sentido dessa
poder ser, assim, a maior expressão da sua capacidade e da sua interação com o mundo. É o
livre arbítrio exercido em sua plenitude. É a utilização plena dos sentidos, expressa na
continuação dos sujeitos, estando essa seqüência no objeto.
O segundo elemento, a utilização das formas universais, expressa, por outro lado,
toda a opressão gerada pela estética. Nesse sentido, o caráter estético das formas é mais um
elemento de padronização do ser humano face aos desejos e mecanismos de controle impostos
pelo modo de produção capitalista. A sua utilização é usada então como forma de
padronização, de uniformidade e de individualização, sendo esta última a expressão de uma
subjetividade fragmentada, esfacelada e convertida numa busca consumista desenfreada em
direção ao padrão do impossível. A sua realização plena, se for procurada uma explicação em
Marx, provavelmente só será possível ao burguês que expropria a condição humana e guarda
para si o que o proletariado produz de mais belo, e que, pela sua alienação, não lhe pertence.
Pode-se afirmar que a expropriação do corpo jamais poderá ser correspondida pelo operário.
A busca pela estética é um dos principais objetivos da prática de atividades físicas
em todo o Brasil. Os estudos de Pereira (1996), Lovisolo (1997), Novaes (1998) e Anzai
(2000), demonstram que aproximadamente 70 a 80% dos sujeitos pesquisados apresentam
esse objetivo como o principal em suas atividades. Apesar de os dados apresentados
demonstrarem que outros objetivos têm a sua importância, a busca pelo corpo belo tem o
maior destaque. Pereira (1996) observa, na fala de seus informantes, que, muitas vezes, apesar
do caráter estético ou de saúde da atividade física, há também uma busca pelo equilíbrio
pessoal, na tentativa de obtenção de um estilo de vida mais harmônico.
Lovisolo (1997) discute a estética dentro do contexto sócio-antropológico
estabelecendo, inclusive, relações entre a questão estética e a “boa mesa”. Novaes (1998) ao
analisar a prática de atividades físicas em academias no Rio de Janeiro, apoiando-se nos
conceitos do esteticismo e da estetização do cotidiano propostos por Schiller, demonstra que
esse é o objetivo central dos alunos de academias de ginástica desde a década de 1930 no Rio
de Janeiro. Anzai (2000) chega à mesma conclusão comparando estudos realizados no Rio de
Janeiro (Dantas, 1988), em Cuiabá (Nigro, 1992) e em Várzea Grande (Sá, 1992). A estética
se torna um aspecto tão forte que poderia ser comparada a um mito, conforme discute
Carvalho (1995), em relação à saúde.
132
Em outras palavras, pode-se dizer que a felicidade de uma audição é uma ilusão
promovida pela incapacidade de se perceber, que o “lixo” que se escuta nada mais é do que
mais uma forma de exploração dos sentidos dos oprimidos. Estes – os sentidos – por sua vez
são adquiridos pelo próprio burguês, pois “(...) apareceu assim a simples alienação de todos
esses sentidos, o sentido do ter.” (Marx, s.d.: 177). Eis por que a necessidade de superação da
propriedade privada, pois
Ao falar assim Marx, segundo Eagleton (1993), exerce toda a sua discussão
estética entendendo dessa maneira a necessidade de utilização plena dos sentidos pelo ser
humano, o que só se torna possível na possibilidade de superação de um modo de produção
onde essa possibilidade não está dada. É na condição da realização concreta dos sentidos que
o Homem terá a condição de transgredir as regras sociais e com isso alcançar a objetividade
de uma subjetividade plena, ou seja, como “(...) produto de uma complexa história material, e
só através de uma transformação histórica objetiva que a subjetividade sensível poderá
florescer.” (Eagleton, 1993: 150).
Ao se buscar a superação da realização plena de todos os sentidos, deve-se refletir
sobre o papel das condições materiais nesse processo. Até esse momento, falou-se apenas que
134
o capitalismo não abre espaço para uma realização plena da utilização sensorial. Por que disso
especificamente?
Ao não se permitirem as condições materiais mínimas de existência do ser
humano, o capitalismo estabelece condições onde a satisfação das necessidades básicas se
fazem mais prementes do que a própria realização da subjetividade plena, pois todas as forças
encontram-se direcionadas para a aquisição daquilo que lhe é mais importante e a forma de
consegui-lo: o trabalho. Ao cair na ilusão de que esse trabalho ainda o valorizará, o
empregado não percebe a expropriação que lhe absorve as capacidades em sua plenitude; eis a
necessidade de superação. Apenas quando o ser humano não for mais expropriado, e assim
obtiver as condições adequadas de sua existência, é que será realmente possível utilizar as
suas capacidades para apreciar a estética do mundo a sua volta. Dessa forma,
Ao fazer essa última discussão, Marx (s.d.) apresenta, de certa maneira, uma
relação entre forma e conteúdo, o que não é, contudo, possível no capitalismo. Ele busca “(...)
distinguir a matéria (forças produtivas) e a forma (relações sociais) de uma determinada
sociedade, (...). Pois ao negar o valor da troca, o comunismo libera a economia de conteúdo
fetichizado que está aprisionado na forma.” (Eagleton, 1993: 160). Mas porque se encontra
aqui a determinação do fetiche. O fetiche, para Marx, é uma qualidade inerente à própria
mercadoria. Assim, a mercadoria passa a valer socialmente muito mais do que aquilo que lhe
poderia ser atribuído pelo seu valor de uso, relacionado com a importância dela para quem vai
usá-la, e do valor de troca, que estabelece o seu valor conforme o tempo necessário para a sua
produção, sobretudo se for estabelecida alguma relação com outra mercadoria.
135
Dessa forma, enquanto fetiche, ela assume um valor estabelecido socialmente, por
isso a
... forma mercadoria e a relação de valor dos produtos de trabalho, na qual ele se
representa, não tem que ver absolutamente nada com sua natureza física e com as
relações materiais que daí se originam. Não é mais nada que determinada relação
social entre os próprios homens que para eles aqui assume a forma fantasmagórica
de uma relação entre coisas.(...) Aqui, os produtos do cérebro humano parecem
dotados de vida própria, figuras autônomas, que mantêm relações entre si e com os
homens. (MARX, 1996: 198)
A forma do comunismo é inteiramente una com seu conteúdo, e nessa medida, pode-
se falar de uma simetria ou identidade clássica entre as duas. Certamente, o
comunismo, diferente do sublime convencional, não é sem figura e amorfo. Mas esta
identidade de forma e conteúdo é tão absoluta que a forma efetivamente desaparece
no conteúdo; e como o conteúdo não passa de uma multiplicidade em auto-
expansão contínua, e limitada apenas por si mesma, o efeito então é o de uma certa
sublimidade. (EAGLETON, 1993: 161)
corpo nessa situação? Aqui, ele é uma mercadoria, que possui tal qual as outras, o seu valor
de uso e o seu valor de troca no mercado, principalmente no mercado de trabalho, estando
sujeito ao fetiche, à exploração e à necessidade de transformação e aperfeiçoamento pelos
quais todas as mercadorias passam. Para o trabalhador, enquanto sua mercadoria principal,
está sujeito às regras impostas pelas regras hegemônicas, pois não possui os meios de
produção, restando o corpo como força de trabalho, tendo a necessidade de submetê-lo às
regras de mercado, e acreditar no seu valor de troca. Esse aspecto é confirmado quando se
pensa que,
... nas relações de poder, nos deparamos com fenômenos complexos que não
obedecem à forma hegeliana da dialética. O domínio da consciência do seu próprio
corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a
ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular, a nudez, a exaltação do belo
corpo... tudo isto conduz ao desejo de seu próprio corpo através de um trabalho
insistente, obstinado, meticuloso, que o poder exerceu sobre o corpo das crianças,
dos soldados, sobre o corpo sadio. Mas, a partir do momento em que o poder
produziu este efeito, como conseqüência direta de suas conquistas, emerge
inevitavelmente a reivindicação de seu próprio corpo contra o poder, a saúde
contra a economia, o prazer contra as normas morais da sexualidade, do
casamento, do pudor. E, assim, o que tornava forte o poder passa a ser aquilo por
que ele é atacado...O poder penetrou no corpo, encontra-se exposto no próprio
corpo... Lembrem-se do pânico das instituições do corpo social (médicos, políticos)
com a idéia de união livre ou do aborto... Na realidade, a impressão de que o poder
vacila é falsa, porque ele pode recuar, se deslocar, investir em outros lugares... e a
batalha continua. (FOUCAULT, 1999: 146)
sendo um possível equívoco, o que se admite parcialmente junto com Eagleton, é no mínimo
uma idéia fértil. Todavia, a sociedade atua de maneira dinâmica e inteligente contra as
insurreições, e quando parece que o corpo adquire asas para a sua liberdade, ele é mais uma
vez vítima de um processo de tolhimento. Assim,
Como resposta à revolta do corpo, encontramos um novo investimento que não tem
mais a forma de controle-repressão, mas de controle-estimulação: ‘Fique nu.... mas
seja magro, bonito, bronzeado!’ A cada movimento de um dos adversários
corresponde o movimento do outro. (...) É preciso aceitar o indefinido da luta... O
que não quer dizer que ela não acabará um dia. (idem, p. 147)
Nesse eterno processo de tensão entre as partes, com uma possível vantagem em
prol das classes hegemônicas, que se institui e se inspira esse padrão corporal onde o magro,
bonito, musculoso é exaltado em detrimento de seus opostos. Mas essa não é uma luta em
condições de igualdade. Não há uma uniformidade do pensamento, o que apresenta, ou até
mesmo se exige um padrão diferenciado, onde a própria obesidade pode possuir percepções
ambíguas.
O que é ser obeso na sociedade da magreza e do consumo? A resposta deve ser
dada abordando a saúde e a estética, centrando-se, nesse momento, a reflexão no segundo
item. A obesidade é vista atualmente como uma doença associada a outras doenças
consideradas graves (Seidell et al, 1986). Normalmente, os obesos apresentam altos índices de
colesterol sangüíneo, hipertensão e grande possibilidade de desenvolver doenças isquêmicas.
Assim, a obesidade é entendida, nesse momento, como um problema de saúde
pública, ao ponto de se acreditar que ao fim do século XXI, o Brasil será um país de obesos.
(Faria, 2000). Não se deve esquecer, contudo, que a saúde pública, conforme já foi visto,
acaba por funcionar como um mecanismo de controle utilizado pelo capitalismo, para evitar a
queda nos seus lucros. Isso tem a ver possivelmente com o obeso muito mais pelo seu lado
estético e pelas concepções que ele suscita.
Essa discussão é feita por Fischler (1995), ao apresentar duas concepções quanto
ao obeso. A primeira, que o vê como benigno, e a segunda, que o vê como maligno. Na
primeira versão, o gordo (bom), é visto como uma pessoa simpática, amável, comunicativa.
Por outro lado, na segunda visão, o gordo “mau” sofre discriminação e em algumas situações
perde o emprego pelo seu excesso de peso, associando-se normalmente a idéia da obesidade à
trapaça, à preguiça, à sujeira, à feiura, entre outros. O autor apresenta como uma possível
justificativa para esses fatos a relação que se estabelece entre o corpo e as regras sociais como
138
O corpo, qualquer que seja seu sexo, vai desde então, desempenhar um papel
essencial no imaginário americano de promoção individual. A beleza é um capital,
a força, um investimento; todos dois são mercadorias cujo valor de troca vai
crescer ao longo do século. (COURTINE, 1995: 98)
A mulher já apresenta uma condição diferente da do homem, pois ela, mais do que
ele, está submetida a um duplo papel que, muitas vezes, se apresenta como contraditório. Por
um lado, o papel da mulher sedutora, forte, decidida, sensual que ocupa o seu papel no
mercado de trabalho. Por outro, a mulher doce, amiga, afável e carinhosa, responsável quanto
às suas obrigações no lar enquanto esposa e mãe. Em nenhum do dois casos a mulher pode
prescindir de algo que lhe é inerente: a beleza. Para que ela possa estar em dia com esse
quesito, independente do papel que lhe for destinado, a mulher deve apresentar uma forma
física que seja compatível com o seu tempo que apresente “(...) a naturalidade e a expressão
ao mesmo tempo juvenil e sexy em voga.” (Sant’Anna, 1995: 134)
O desenvolvimento dessas idéias não são, contudo, de agora. Desde a década de
1930, as idéias de beleza e de saúde, os cuidados corporais com a utilização de exercícios
ginásticos que não ferissem a delicadeza feminina, nem fizessem dela um homem, já eram
amplamente divulgados pela Revista Educação Physica. Segundo Goellner (1999), essa
revista dedicava, sobretudo a partir de 1939 – ela circulou de 1932 a 1945, uma parte especial
dedicada à mulher, onde eram dadas orientações quanto aos cuidados com a pele e o corpo, a
“necessidade” de utilização de cosméticos e, sobretudo, a realização de atividades físicas que
prometiam corrigir o corpo, fatos esses apontados também por Sant’Anna (1995). E, “(...)
apesar de compreenderem a beleza a partir de um ideal de perfeição inatingível para a
grande maioria das leitoras, não deixam de exibi-la como uma conquista a ser alcançada por
cada uma, (...).” (Goellner, 1999: 1339)
O paradigma de mulher apresentado na revista “ (...) toma como referência a
mulher adulta jovem, branca, heterossexual e de classe média,(...).” (idem, p. 1336). Enfim, o
padrão de normalidade estabelecido para as mulheres, assim como para os homens
americanos adeptos do body-building, expressavam não só a necessidade de uma construção
corporal sólida, mas, também, ainda que de maneira implícita para a maioria da população, o
fetiche expresso em um corpo jovem, branco e de classe média. Essas são, provavelmente,
formas de poder expressas nessas relações sociais, e que atendem às necessidades de
construção de uma raça –eugenia – bem como de um processo social mais amplo fundado em
um modelo de sociedade excludente, ou ainda, onde a responsabilidade social de cada um está
posta em um conceito de “liberdade”, ou seja, cada um pode ter o corpo que quiser, desde que
141
esse corpo respeite o que é preconizado, o qual, na realidade, não é possível à grande maioria
das pessoas, sejam elas homens ou mulheres. E a explicação para isso é bastante fácil de ser
dada: em um padrão societário, onde a aquisição da beleza está vinculada ao consumo de
atividades físicas em academias, associado aos produtos de beleza (cosméticos, alimentos
próprios do tipo diet, light, entre outros), as condições salariais mínimas não possibilitam esse
tipo de consumo. Isto é, mais uma vez está na ordem do dia o embrutecimento das condições
do trabalhador e a dificuldade de ele desenvolver um padrão estético pautado na utilização
dos seus sentidos humanos e espirituais.
Enfim, de todas as confusões e satisfações que a estética pode causar algumas
conclusões são possíveis, entre as quais se pode perceber que o paradigma do corpo perfeito é
o fetiche propalado, a necessidade de cultuá-lo, de acordo com o que é estabelecido pelos
mandamentos (do consumismo), pelos deuses (do mercado) e pelos sacerdotes (da beleza),
gerando uma idolatria a corpos esculturais, criados por “bombas”46 e elementos artificiais
como o silicone, que se tornam mais importantes do que os corpos saudáveis.
Codo e Senne (l984), chamam a isso de corpolatria, pois, segundo eles, a atividade
física e o próprio corpo deveriam ser a salvação (céu), acabando por se constituir em uma
condenação (inferno), transformando-se ao final em mais um tipo de alienação. O resgate
deveria acontecer, dessa forma, em locais onde esta reaproximação consigo mesmo e a
realização de algo que causasse prazer fosse possível: as academias de ginástica, por exemplo.
Contudo, a sua transformação enquanto templos da corpolatria são as portas de saída para a
transformação de algo palpável, pela execução de movimentos amplos e variados, os quais
deveriam aproximar cada pessoa de si próprias e daquilo que as pessoas têm de mais concreto;
o próprio corpo. Deveria ser, nesse sentido, a realização da Atividade Corporal procurando o
sentido de ação proposto por Leontiev; é, contudo, pura operação, alienação e reificação físico
(corporal).
Porém, na grande maioria dos casos, a realização dos movimentos é extremamente
restrita e distante das potencialidades corporais. Eles se tornam mecânicos, repetitivos,
defrontando-se apenas com o espelho e sua casca sem conteúdo e sem consciência, realizando
um processo que não entende onde o “produto” acaba, por não lhe pertencer, causando uma
nova alienação, usando-se o corpo no máximo, como uma mercadoria sem valor elevado, ao
mesmo tempo não se realizando enquanto ente-espécie. Essa alienação acaba aumentando a
46
Entende-se por “bomba” produtos químicos e suplementação alimentar que contribuem para o aumento da
massa muscular e a perda de gordura. Entre os mais utilizados, encontram-se substâncias de suplementação de
proteínas, bem como derivados sintéticos de hormônios como a testosterona e o hormônio do crescimento (GH).
142
utilizado constantemente como forma de aumento do consumo das mercadorias mais diversas.
Conforme já foi colocado, esse processo não deixa de existir sem que o corpo em si se torne
um elemento de consumo, havendo como desdobramento a indução à corpolatria, que não
deixa de contribuir para a venda de produtos dietéticos, roupas, calçados, equipamentos de
ginástica, além de prestação de serviços (como as próprias aulas nas academias de ginástica)
que, de tempos em tempos, lançam uma nova moda, que promete atingir os objetivos de cada
pessoa na aquisição de um corpo saudável (esteticamente perfeito).
A discussão das questões apresentadas são fundamentais para mostrar, através da
imagem corporal transmitida, padrões sociais a serem seguidos. De uma maneira ou de outra
irá servir a interesses vinculados a esse modo de produção, seja pela sua produção
propriamente dita – traduzida na idéia de saúde, beleza, competência, trazendo
intrinsecamente a idéia de força, produtividade, eficiência – e por outro lado, a busca da
reprodução do sistema que parte do sentido de um “corpo perfeito” – tanto em seu sentido
biológico (humano, individual), como em seu sentido social ( a sociedade capitalista enquanto
um corpo social perfeito). Esse fato se torna possível, segundo Carvalho (1999), pelo uso de
“pessoas de projeção na sociedade de consumo – estrelas de cinema, televisão e cantores –
são pessoas que sustentam a filosofia do ‘divertimento’. Têm prestigio, são modelos de
corpo” (p. 244).
Esse dado apresenta a idéia do porquê da demonstração das atividades físicas
prediletas dos artistas, pois há a possibilidade desses influenciarem a vida de pessoas
“comuns”. Não se pode esquecer que por trás desse fator ainda podem se esconder fatores
higiênicos e eugênicos da atividade física. Nessa esteira fetichista, não se pode esquecer,
143
também, do aparecimento (ou seria produção) de personagens que demonstram “boa saúde”
por meio de corpos musculosos e bem torneados. Esses personagens tentam induzir as
pessoas, talvez até de uma forma mais específica as mulheres, ao consumo, que só se mantêm
pela utilização de medicamentos, cosméticos, entre outros.
A discussão da estética, por tudo o que foi visto, deve ser analisada em relação às
praticas corporais. Sobretudo, se forem levadas em conta os dados apresentados por Pereira
(1996), Novaes (1998) e Anzai (2000). Assim, apresentar-se-ão as respostas obtidas na
entrevista, nas quais os praticantes das quatro academias colocam a estética como motivo
principal para a realização de atividades física, o que pode ser observado na tabela 20.
Tabela 20: A Estética como objetivo dos praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Estética 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Sim 30 85,71 17 70,83 12 66,66 59 76,62
Não 5 14,29 7 29,17 6 33,34 18 23,38
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
* Havia possibilidade de mais de uma resposta.
Pelos dados da tabela 20, percebe-se que, dentro do total de informantes, 76,62%
realizam atividade física por Estética. Deve-se observar, todavia, o fato da estética diminuir a
sua incidência de acordo com a faixa etária mantendo, entretanto, um percentual bastante
elevado de respostas. Nem mesmo os adultos maduros fogem a essa regra, embora o seu
percentual em relação à estética seja o menor entre os grupos.
Entretanto, os dados relacionados à estética devem ser confrontados com outros.
O primeiro desses cruzamentos procurou identificar o nível de freqüência estabelecida entre
as três principais fontes de informação, pela seqüência, Professor da Academia, Médico e
Televisão, e o objetivo da estética. Para se fazer isso, considerou-se todos os informantes que
haviam indicado essas três fontes entre as quatro mais importantes. Como resultado,
percebeu-se que 40 dos 51 informantes que apontaram o Professor da Academia como fonte,
têm como objetivo a estética, o que corresponde a 78,43% desse grupo e 57,14% do total de
informantes.
Das 46 pessoas que colocaram o médico como fonte, 34 (73,91%) fazem
atividades por estética, e, entre as 44 pessoas que mencionaram a televisão entre as quatro
144
fontes principais, 34 (77,27%) também fazem por estética. Apesar de as pessoas poderem ter
mencionado mais de uma fonte, parece bastante evidente que a realização por estética é
fundamental.
Ao se analisar essa resposta, comparando com a fonte de informação sobre a
modalidade, percebe-se que, ao indicar uma modalidade, os professores da academia,
aparentemente, também estão induzindo as pessoas à estética, cedendo, dessa forma às
influências da mídia e da industria cultural. Isso significa dizer que as fontes que deveriam
estar indicando a prática corporal como saúde, na realidade se deixam seduzir pelo discurso
hegemônico do corpo perfeito, ainda que, a sua atuação, principalmente dos professores de
academia e dos médicos, deveria, a princípio, estar voltada para a questão da saúde como
fator principal, entendendo-os, a priori, como profissionais de saúde.
Outro aspecto a ser analisado é a relação entre sexo e estética. Entre as mulheres,
47 das 56 alunas entrevistadas fazem atividade física visando estética, o que corresponde a 83,
92% das mulheres entrevistadas. Entre os homens, 12 dos 21 praticantes fazem por estética, o
que eqüivale a 57,14% da amostragem. Esses números apresentam diferenças significativas (p
< 0,05), indicando uma maior preocupação por parte das mulheres quanto à “aquisição” de
um corpo perfeito.
Infere-se, por isso, que as mulheres estão aderindo mais aos discursos da indústria
cultural do que os homens, fato já demonstrado por Okuma (1990). Ademais, cabe ressaltar
que os dados em seu todo refletem aquilo que já era considerado um padrão normal de
mulher, conforme cita Goellner (1999), da mulher ao menos adulta jovem e de classe média
(para alta nesse caso), uma vez que, pela coleta de dados, não foram registrados aspectos
relativos à cor da pele e da preferência sexual. Pode-se, inclusive, mencionar Sant’Anna
(1995) e Goellner (1999) quando elas falam do padrão de corpo perfeito e inatingível pela
maioria das mulheres, embora exista a possibilidade dessa conquista no âmbito individual.
Enfim, não há possibilidade de relacionar esses dados aos de Melo (1997), quanto
à região do corpo mais trabalhada de acordo com o sexo, o que se relaciona com a própria
questão do gênero. Todavia, pode-se concordar com Courtine (1995), com relação ao fato do
corpo belo ser posto como um capital e a força como um investimento para ambos os sexos.
Eis a mercadoria destes “tempos modernos”.
Um outro aspecto que deve ser apontado é o nível de satisfação com os objetivos
já alcançados. Entre os 59 praticantes com objetivos estéticos, a média de satisfação é de 6,
95, com desvio padrão de 1,44. Esse desvio padrão (DP) relacionado com o X2 demonstra um
alto grau de homogeneidade da amostragem. Por outro lado, percebe-se uma certa insatisfação
145
com os níveis alcançados, o que reforça a posição de Goellner (1999), quanto à dificuldade de
se atingir o padrão de corpo posto socialmente como referência. Deve-se registrar, ainda, que
esse nível de satisfação é mais baixo que o da saúde. E embora este [da saúde] apresente uma
menor amostragem, ele se apresenta mais homogêneo quando comparado ao da estética.
É interessante observar que, entre todos os grupos, o dos adultos médios parece
estar mais satisfeito com a sua modalidade principal: a musculação; e o alcance dos seus
objetivos: a estética. Levando-se ainda em conta que esse grupo possui uma maior incidência
de realização de três vezes por semana, pode-se inferir que a musculação apresenta bons
resultados para esse objetivo e essa freqüência semanal.
A relação entre os exercícios e a estética está demonstrada na tabela 21.
Tabela 22: Influência dos exercícios para a Estática, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física para...
20-30 31-40 41-50
1. Emagrecer 4,68 4,58 4,55
A primeira análise que pode ser feita a respeito dessa tabela é de que em nenhum
caso apareceu diferença significativa entre os grupos. Destaca-se também o fato de os adultos
maduros não apresentarem preocupação em ficar com o corpo mais torneado. Além disso, os
dois critérios melhor pontuados estão relacionados a enrijecer a musculatura, o que dá uma
aparência mais forte ao corpo e melhora a aparência. O primeiro, enrijecer a musculatura, com
maior destaque entre os adultos jovens, que é seguido dentro desse grupo pelo corpo mais
torneado. Os adultos médios, por sua vez, estão preocupados com os dois aspectos (aparência
e enrijecimento), e os maduros, com a aparência propriamente dita.
Nesse último grupo, a segunda questão mais importante é o emagrecimento. Essa
categoria foi incluída entre os aspectos estéticos por se considerar que essa questão, hoje,
147
possui uma tendência mais estética do que de saúde, embora este último discurso possa ser
mais forte. Todavia, deve-se destacar, que nas Academias pesquisadas, apesar de não haver
uma quantificação nesse número, não se observou uma freqüência significativa de obesos que
procurassem saúde, o que aparentemente não é comum de se ver nas academias – os obesos.
Deve-se finalmente cruzar os dados mencionados por idade na tabela 22, com o
sexo. Em todos os parâmetros as mulheres apresentaram maior interesse pela estética do que
os homens. Elas obtiveram como médias na seqüência das respostas de 4,73; 4,58; 4,75 e
4,44; enquanto eles tiveram como médias 4,33; 4,52; 4,33 e 4,19 respectivamente. De acordo
com o índice de Krusk-Wallis, são consideradas diferenças significativas (p< 0,05) a questão
do emagrecimento e do enrijecimento da musculatura. Enfim, apesar desta parte do
instrumento não confirmar o que foi detectado no questionário A, ele confirma as hipóteses da
entrevista, onde as mulheres apresentam maior interesse pela estética de que os homens.
Entretanto, a possibilidade dessa inversão parece estar posta, e, apesar de haver um possível
direcionamento para as perguntas dentro dos instrumentos, não se acredita que este tenha sido
o fator principal. Esse aspecto, apesar de precisar de um complemento como o proposto por
Melo (1997), em relação às partes do corpo que são mais trabalhadas de acordo com o gênero,
deve ser olhado com bastante cuidado, pois, na atualidade, as mulheres passaram a assumir
papéis que eram considerados masculinos, e não há nada que justifique a não mudança de
postura por parte dos homens; nesse sentido, a necessidade de se sentir desejado, forte e
elegante pode não ter relação apenas com as questões estéticas corporais, mas com a própria
postura das pessoas dentro da sociedade, uma vez que o mercado de trabalho estabelece tantas
exigências dos trabalhadores, que mesmo sendo qualificados, como se indica no perfil dos
praticantes, ainda assim precisam-se submeter à idéia do corpo forte e produtivo, como
destaca Foucault (1999). Em síntese, a estética é a plena expressão do poder sobre o corpo
orgânico e social, e esse é um elemento ideológico bastante eficaz.
Um terceiro ponto a ser tratado aqui é a relação entre a prática de atividade física
e lazer. Para se estabelecer essa discussão de forma mais profícua, deve-se primeiro
caracterizar o tema em si, descrevendo-se inicialmente as próprias concepções de lazer que
estão respaldando o presente estudo, bem como as suas diferentes interfaces.
Deve-se inicialmente caracterizar o que seja o lazer. Apesar de esta ser uma
pergunta até certo ponto fácil de ser respondida, é essencial levar em consideração que são
148
várias as maneiras de se interpretar esse conceito. Dessa forma, optou-se por adotar o conceito
do sociólogo francês Jofre Dumazedier. Para ele o lazer “Corresponde a uma liberação
periódica do trabalho ao fim do dia, da semana, do ano ou da vida funcional” (Dumazedier,
1980: 108). Foi feita a opção por esta forma de entendimento do lazer por se pressupor a
realização de trabalho, sem o qual a própria definição não seria possível.
Nessa perspectiva, especificamente, o lazer está relacionado ao fator tempo, ou
seja, se estabelece a relação e o próprio conceito de lazer com tempo do dia, mês, ano que se
tem disponível para se fazer aquilo que se deseja e que se tem prazer. Por isso, Marcellino
(1996a) explica que não é apenas o tempo destinado às obrigações trabalhistas que devem ser
consideradas, mas, também, as obrigações religiosas, familiares e sociais, pois o tempo gasto
nesses aspectos, por mais que sejam voluntários ou até mesmo prazerosos, estão ligados às
atividades que devem ser cumpridas.
Assim, o lazer passa a assumir uma posição diferente do ócio. Este poderia ser
compreendido como a falta de afazeres e obrigações, ou seja, um tempo disponível do qual se
pode fazer o que quiser por não haver qualquer obrigação ou compromisso. No entanto,
aquele pressupõe obrigações, pois o “(...) lazer não é a ociosidade, não suprime, supõe o
trabalho (Dumazedier, 1980: 108). O lazer passa a estabelecer assim um par dialético com o
trabalho, ou mesmo às obrigações e deveres, uma vez que a constituição de um irá gerar o
outro, necessariamente.
Entendendo essa inter-relação, deve-se, então, questionar que elementos
funcionam como norteadores das atividades de lazer. Essa é uma discussão que pode ser
buscada em Adorno, quando ele fala na utilização do tempo livre. Para ele, o tempo livre se
... distingue do tempo não livre, aquele que é preenchido pelo trabalho e,
poderíamos acrescentar, na verdade determinado desde fora. O tempo livre é
acorrentado ao seu oposto. Esta oposição, a relação em que ela se apresenta,
imprime-lhe traços essenciais. (ADORNO, 1995: 70).
fantasiosas para esse autor. Para ele, os aspectos que estão presentes no tempo de sua
“profissão oficial”, necessariamente, estão presentes nas atividades de tempo livre, pois estes
“(...) são momentos integrais de minha existência” (Adorno, 1995: 72). Ou seja, se uma
pessoa procura realizar uma Atividade Corporal, o seu grau de concentração nessa atividade
deveria ser o mesmo encontrado na sua atividade laboral. Por outro lado, o seu trabalho
precisa se dar com o mesmo prazer que essa mesma pessoa pratica a Atividade Corporal de
sua preferência. A questão, nesse sentido, é remetida, necessariamente, ao próprio processo de
alienação presente no trabalho, e que ao mesmo tempo circunda as atividades destinadas ao
tempo livre.
Enfim, como essa possibilidade de satisfação no trabalho acaba sendo um
privilégio de poucos, bem como uma prática de tempo livre com a devida “entrega” e
realização plena, pode-se caracterizar, com isso, um lazer de caráter funcionalista, o qual
procura adaptar o trabalhador ao processo produtivo. Essa perspectiva reduz as atividades de
lazer a dois aspectos:
que a execução de atividades físicas nem sempre provoca prazer, e, por isso, não caberia
dentro da definição do lazer enquanto atividade livre e prazerosa. Além disso, confirma mais
uma vez as palavras de Adorno (1995: 77), quando ele diz que “(...) efetivamente as pessoas
só consigam fazer tão pouco de seu tempo livre se deve a que, de antemão já lhes foi
amputado o que poderia tornar prazeroso o tempo livre.”
Em síntese, poder-se-iam dizer que as atividades realizadas normalmente como
lazer estão irremediavelmente submetidas a um controle social invisível, sendo realizadas
devido à formação de uma necessidade social. A mecanização do lazer é posta de maneira tão
forte que atinge as pessoas em sua felicidade. Assim, “(...) ela determina tão profundamente a
fabricação de mercadorias destinadas a diversão que esta pessoa não pode perceber outra
coisa senão as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho.” (Adorno &
Horkheimer, 1985: 128)
Entretanto, não só a força da Indústria Cultural deve ser vista; deve-se analisar
também a atitude das pessoas perante às atividades de tempo livre. “O lazer considerado
como atitude será caracterizado pelo tipo de relação verificada entre o sujeito e a
experiência vivida, basicamente a satisfação provocada pela atividade” (Marcellino, 1996a:
8). Dessa maneira, podem-se considerar ao menos dois tipos de atitude perante o lazer: uma,
que pode ser chamada de ativa, e outra, passiva.
O ponto destacado por Cunha (1999) é bastante interessante. Por mais que se
realize uma determinada atividade, por exemplo uma aula de ginástica, isso não significa que
a pessoa esteja sendo ativa em seu momento de tempo livre. Ela pode estar ali apenas para dar
uma justificativa à sociedade e dizer que é uma pessoa fisicamente ativa. Essa pessoa, nesse
momento, está sendo tão ou mais passiva quanto uma pessoa que pára no corredor ao ouvir a
música e ficar olhando a aula que está sendo ministrada. Aquela atividade, na realidade, além
de estar sendo praticada de maneira passiva, assume um ar de atividade supérflua. “Também a
atividade supérflua e sem sentido do tempo livre é socialmente integrada. Novamente entra
em jogo uma necessidade social.” (Adorno, 1995: 77)
As necessidades sociais estão nas atividades que se realizam como lazer, e podem
variar de acordo com o tipo de atividade realizada. Destarte, é importante destacar quais são
as atividades que podem ser realizadas como lazer. Elas podem, a grosso modo, ser divididas
em seis grupos fundamentais, considerados os mais importantes, a saber aquelas com: “(...)os
interesses artísticos, os intelectuais, os físicos, os manuais, os turísticos e os sociais.”
(Marcellino, 1996a: 18)
Para Marcellino (1996a), as atividades de interesse artístico estão relacionadas à
estética no sentido amplo, abrangendo, de uma maneira geral, as manifestações artísticas. Nos
interesses intelectuais preocupa-se com o conhecimento, efetivando-se por participação em
cursos ou leituras. Nos aspectos físicos, prevalecem os exercícios físicos, os passeios e as
diferentes manifestações da cultura corporal. Nas atividades realizadas com objetivos
manuais, expressa-se a capacidade de manipulação e transformação de objetos, como
exemplo, tem-se o bricolage (atividade relacionada com o conserto e pintura de pequenos
objetos e utensílios domésticos). Os interesses turísticos relacionam-se com o
desenvolvimento de passeios, viagens e busca de paisagens diferenciadas. Por fim, as práticas
com objetivos sociais, onde a meta principal é a busca do relacionamento, contato social em
bailes, bares, associações.
Mesmo assim, ao se seguir a linha de raciocínio de Marcellino, precisa-se destacar
que, para ele, várias atividades são realizadas inicialmente com um objetivo, e que, com o
passar do tempo, esses interesses podem mudar. É comum verificar que alguns grupos que se
153
47
Sobre esse assunto, ver Antunes (1995), Katz (1995) e Frigotto (1996).
155
... as pessoas aceitam e consomem o que a indústria cultural lhes oferece para o
tempo livre, mas com um tipo de reserva, de forma semelhante à maneira como
mesmo os mais ingênuos não consideram reais os episódios oferecidos pelo teatro e
pelo cinema. Talvez mais ainda: não se acredita inteiramente neles. É evidente que
ainda não alcançou inteiramente a integração da consciência e do tempo livre. Os
interesses reais do indivíduo ainda são suficientemente fortes para, dentro de certos
limites, resistir à apreensão [Ersfassung] total. (ADORNO, 1995: 81)
Para superar essa situação de lazer em uma perspectiva funcionalista, esse autor
faz algumas propostas importantes, sendo a primeira desenvolvida no âmbito da participação
cultural, onde existe a
realização, seja enquanto descanso e prazer, seja enquanto saúde, seja enquanto acesso ao
desenvolvimento sensorial, capaz de descobrir, nas pequenas coisas, a estética de uma vida
com conteúdo e forma coincidentes.
Toda a discussão sobre o lazer deve retornar ao ponto que é crucial para esta
análise que são os dados coletados entre os informantes. O primeiro aspecto a ser levantado é
a quantidade de pessoas que apontam o lazer como objetivo central de sua prática dentro das
academias de ginástica, o que pode ser verificado na tabela 23.
Tabela 23: O lazer como objetivo dos praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Lazer 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Sim 1 2,85 1 4,16 1 5,55 3 3,89
Não 34 97,15 23 95,84 17 94,45 74 96,11
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Tabela 24: Realização de outras modalidades dos praticantes de Atividade Física, por Faixa
Etária
FAIXA ETÁRIA
Prática de outra TOTAL
20-30 31-40 41-50
atividade
f % f % f % F %
Sim 15 42,85 07 29,16 09 50 31 40,25
Não 20 57,14 17 70,83 09 50 46 59,74
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Dentro dos resultados, 40,25% dos praticantes têm o hábito de praticar outras
atividades físicas, não havendo diferença significativa entre os grupos. Mais uma vez o grupo
dos adultos médios, apresenta uma menor busca de atividades “extras”. O grau de satisfação
com a prática atual pode ser o principal motivo para esse quadro. Entre os três praticantes que
consideraram o lazer como elemento importante na prática corporal, dois deles deram nota
seis e um deu dez. Isso significa que, se a pessoa não se realiza plenamente naquilo que faz,
essa execução tende a ser complementada ou até mesmo abandonada posteriormente.
Por outro lado, o grupo de adultos maduros também chama a atenção, devido à
divisão exata entre os que praticam e os que não praticam outra atividade; isso faz com que
esse grupo, do ponto de vista percentual, apresente a maior incidência de outras práticas. Essa
resposta pode estar relacionada com os anseios e outros interesses das pessoas que foram
apontados em momentos anteriores, com relação à prática visando saúde e/ou estética. Pode-
se inferir, também, sobre a adesão dessas pessoas, a lógica posta por Adorno (1995) em
relação às cobranças feitas socialmente. Essa é uma forma da Indústria Cultural estar atuando
sobre as pessoas, a partir da grande oferta de mercadorias e produtos vendidos, não só nas
academias como em outros lugares. Mas quais são as outras atividades praticadas? Esses
dados são complementados na tabela 25, sobre o tipo de atividade realizada, e na tabela 26,
sobre os motivos que levam a essas práticas.
159
Tabela 25: Modalidades realizadas pelos praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Tipo de atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Aeróbias 9 60 3 42,85 6 66,66 18 58,06
Alternativas 0 0 1 14,28 1 11,11 2 6,45
Esportes 6 40 3 42,85 2 22,22 11 35,48
Total 15 100 7 100 9 100 31 100
Tabela 26: Motivo porque pratica outra modalidade, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Por que faz outra atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Gosta 5 33,33 5 71,42 4 44,44 14 45,16
Emagrece 2 13,33 1 14,28 1 11,11 4 12,90
Aliviar Stress 1 6,66 0 0,00 1 11,11 2 6,45
Equilíbrio e Harmonia 0 0,00 1 14,28 1 11,11 2 6,45
Sair da Rotina da Academia 1 6,66 0 0,00 1 11,11 2 6,45
Outros 6 40 0 0,00 1 11,11 7 22,58
Total 15 100 7 100 9 100 31 100
Já em relação aos dados da tabela 26, fica bastante nítida a prática por afinidade,
isto é, 44,44% realizam outras atividades porque gostam, o que sugere a prática de atividades
fora da academia por lazer. Essa contradição entre o fazer fora por gostar, e fazer por outros
motivos, dentro da academia, demonstra que existem necessidades que não estão sendo
alcançadas dentro das academias. Todos os grupos mostraram prevalência desse argumento
para realizar outras atividades que não aquelas realizadas dentro das academias de ginástica.
Também chama a atenção o percentual de pessoas que realiza as outras atividades para
emagrecer, com 12,90%, sugerindo, mais uma vez, a prática com objetivos estéticos. Embora
o emagrecimento também seja uma questão de saúde, a baixa incidência de obesos nos locais
pesquisados, sugere esse objetivo.
Ainda em relação à tabela 26, deve-se perceber que essa “segunda” atividade
parece complementar o objetivo principal, embora mais direcionada para o lazer, o gostar de
fazer. A “atividade principal”, entendida aqui como a atividade realizada na academia
pesquisada, parece ser realizada apenas por obrigação; isso é o que se pode inferir dos dados.
Demonstra-se, mais uma vez, a possível influência da Indústria Cultural, bem como a possível
cobrança social da qual fala Adorno (1995).
As tabela 27 e 28 analisam os dados referentes à possível escolha de outras
modalidades a serem praticadas pelos informantes, nesse caso, se fariam ou não (tabela 27) e
que modalidades realizariam (tabela 28).
161
Tabela 27: Opção por outra modalidade, segundo os praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Faria outra atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Sim 30 85,71 22 91,66 15 83,33 67 87,01
Não 5 14,28 2 8,33 3 16,66 10 12,98
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Na tabela 27, percebe-se um certo grau de insatisfação das pessoas, pois 87,01%
fariam outra atividade física. Os motivos são bastante diversificados, indo da troca por
considerar a outra atividade mais completa (3,9%), por aptidão, para a outra atividade (6,5%),
para relaxar (7,8%) e por gostar da outra atividade (31,2%), entre outros motivos. Ao se
refletir sobre esse dado, em comparação com o nível de satisfação com a atividade, parece
haver no âmbito geral uma contradição, pois o nível de satisfação com os resultados pode ser
considerado alto; por outro lado; 67 praticantes (87,01%) deixariam de fazer o que estão
fazendo para realizar outras atividades das quais gostam mais. Esse aspecto demonstra a
lógica das cobranças sociais, ou seja, não importa fazer o que dá prazer e sim aquilo que
oferece mais resultados, e estes de forma cada vez mais rápida. Essa é, mais uma vez, a
demonstração dos interesses sociais e econômicos acima da individuação.
Dos que responderam que não fariam outra atividade, existem os que consideram
as que fazem suficiente, ou porque gostam do que fazem. Provavelmente essas pessoas
tenham uma maior consciência do que fazem e/ou maior capacidade de individuação. É
interessante perceber que a média de satisfação é maior nos que mudariam de atividade
(7,06), do que nos que não mudariam a atividade que realizam (7,00). Esse aspecto demonstra
que não é o grau de insatisfação que gerou a necessidade de mudança e sim outros fatores,
como provavelmente a rapidez de obtenção de resultados. Mais uma vez fica evidente a não
preocupação com a prática de atividades enquanto lazer.
162
Tabela 28: Modalidade referida como opção pelos praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Outra atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Esportes 13 43,33 11 50 05 33,33 29 43,28
Natação 10 33,33 5 22,72 7 46,66 22 32,83
Dança 6 20 4 18,18 0 0,00 10 14,92
Outros 1 3,33 2 9,09 3 20 6 8,95
Total 30 100 22 100 15 100 67 100
Dos que escolheram realizar outras modalidades (tabela 28), os esportes parecem
exercer um maior fascínio sobre as pessoas, sobretudo os adultos jovens e médios. De
maneira geral, as atividades esportivas, por todo o estímulo que sofrem, podem ser
consideradas as mais escolhidas. Entretanto, a crítica feita por Adorno (1995) em relação ao
esporte é contumaz, postura com a qual se concorda, pois é no esporte que se expressam os
maiores valores da sociedade burguesa, sendo também nele que se desenvolve todo o
comportamento social desejado. Aí se justificam as posturas do corpo no time, muitas vezes
abrindo mão do próprio bem-estar, a necessidade de manutenção da capacidade física e o
rendimento necessário no esporte e no trabalho.
A segunda modalidade mais escolhida pelas pessoas foi a natação, com 33,83%
do total. Essa atividade, apesar de também poder ser considerada um esporte, se diferencia das
outras modalidades esportivas, devido a seu aspecto terapêutico, o qual é bastante procurado,
sobretudo pelos adultos, principalmente os maduros, faixa etária que mais a mencionou. A
natação parece exercer um certo fascínio sobre as pessoas, talvez pelo velho mito de que essa
é a “atividade mais completa que existe”, ao mesmo tempo que pode ser “praticada por
qualquer pessoa sem limite de idade ou problema médico.” Todavia, essas duas afirmações
são mitológicas, pois uma atividade completa depende de uma série de fatores nos quais
várias atividades se encaixariam, até mesmo mais que a natação. Além disso, a natação, como
qualquer outro exercício, possui as suas contra indicações, e não-indicações; um exemplo
disso é a osteoporose, distúrbio para o qual a natação não apresenta benefícios.
As questões levantadas pelo questionário, referentes ao lazer, bem como as
médias das respostas, são apresentadas nas tabelas 29 e 30.
163
Tabela 29: Relação entre os exercícios e o Lazer, segundo os praticantes de Atividade Física,
por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral a atividade física contribui para:
20-30 31-40 41-50
1. Desfrutar os momentos de folga 3,85 4,16 4,38
2. Obter mais prazer na vida 4,54 4,58 4,55
3. Relaxar as tensões do dia-a-dia* 4,48 4,91 4,83
4. Ver pessoas e fazer amigos 4,17 4,12 3,83
* Apenas este item apresentou diferença significativa entre os grupos (p < 0,05)
Tabela 30: Influência dos exercícios sobre o lazer, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física...
20-30 31-40 41-50
1. Como lazer 3,65 4,12 3,50
A primeira análise que pode ser feita a respeito desses dados é de que em nenhum
item apareceu diferença significativa entre os grupos. Se os resultados dessa tabela forem
comparados aos resultados anteriores, fica evidenciada uma redução nos valores encontrados
aqui. Esses dados parecem confirmar as respostas da entrevista em relação ao objetivo central
da práticas corporais, ou seja, as pessoas não apresentam uma preocupação central com o
lazer. Em síntese, infere-se que o tempo livre das pessoas está sendo ocupado com atividades
que não dizem respeito às práticas corporais, caracterizando-as pelas obrigações com a saúde
e a estética, que acompanham as necessidades orgânicas de manutenção das condições para o
trabalho. Eis a lógica da sociedade burguesa, do culto ao trabalho e discriminação com o
lazer. Os dados que revelam esse aspecto estão baseados nas médias alcançadas para as
respostas a essas perguntas, onde as médias alcançadas foram 4,04 para os adultos jovens;
4,07 para os médios; 3,75 dos adultos maduros, correspondendo à uma média geral de 3,95
pontos, valor que está abaixo da média encontrada na tabela 29. Deve-se ressaltar, ainda, que
as atividades consideradas como de aproveitamento do tempo livre (lazer) do grupo
pesquisado, provavelmente, são realizadas de outras maneiras que não o lazer Físico-
Esportivo.
Enfim, como consideração preliminar, pode-se dizer que, entre os dados
apresentados, percebe-se de maneira clara uma pequena preocupação da atividade física como
elemento de lazer. Esse fato está relacionado à lógica imposta pelo trabalho como fator mais
importante na vida das pessoas, e pela Indústria Cultural, que exerce o seu papel direcionando
o lazer para outros aspectos. Precisa-se registrar, ainda, que não é interesse desse estudo
colocar a prática corporal acima de tudo, mas de dar a ela significado, consciência de sua
165
importância, o que pode acontecer apenas quando o ser humano se emancipar, como diriam
Adorno e Marcellino, pois esse parece ser um ponto de coincidência entre os dois, a noção de
que apenas a emancipação da consciência permitirá a superação da alienação posta a partir do
trabalho.
Tabela 31: Objetivo almejado pelos Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Objetivo 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Saúde 18 51,42 10 41,66 9 50 37 48,05
Estética 30 85,71 17 70,83 12 66,66 59 76,62
Lazer 1 2,85 1 4,16 1 5,55 3 3,89
Outros 0 0 6 25 3 16,66 9 11,68
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Apesar de todos esses dados já terem sido apresentados ao longo desse capítulo,
far-se-á a sua retomada dentro do contexto geral, apresentando-os em conjunto. Nela, havia a
possibilidade de mais de uma resposta; por isso, tomou-se como referência o total de sujeitos
e não de respostas.
O objetivo de as pessoas realizarem Atividades Físicas nas academias segundo os
informantes aponta que 76,62% o fazem por Estética; 48,05% por saúde e apenas 3,89% o
realizam por lazer.
Ao se analisar essa resposta, comparando com a fonte de informação sobre a
modalidade, percebe-se que ao indicar uma modalidade, os professores da academia,
166
física foi medida através de uma escala de 0 a 10. O praticante deveria escolher um número
que indicasse seu grau de satisfação, sendo 0 o menor e 10 o maior. A tabela 32 apresenta os
dados obtidos.
Tabela 32: Índice de Satisfação com os resultados alcançados pelos praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
Índice de TOTAL
20-30 31-40 41-50
satisfação*
f % f % f % f %
04 2 5,71 0 0 0 0 2 2,59
05 3 8,57 3 12,5 2 11,11 8 10,38
06 6 17,14 6 25 2 11,11 14 18,18
07 14 40 7 29,16 7 38,88 28 36,36
08 6 17,14 6 25 2 11,11 14 18,18
09 3 8,57 1 4,17 3 16,66 7 9,09
10 1 2,85 1 4,17 2 11,11 4 5,19
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
* Não houve escolha para os 3 primeiros números.
Deve-se dizer, ainda, em relação ao desvio padrão encontrado, que a sua obtenção
foi feita pelo cruzamento de cada pergunta com a faixa etária, pois, para facilitar a análise dos
dados no programa Epi Info, essa é a forma possível. Assim, a princípio, as respostas não têm
relação entre si; entretanto, adotou-se como estratégia a construção de uma tabela, onde as
“categorias” saúde, estética, lazer, autoconsciência e mídia, foram agrupadas, ou seja, foi feita
uma média aritmética de pontos das respostas relacionadas a cada uma delas.
Tabela 33: A contribuição da Atividade Física, segundo os praticantes, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral a atividade física contribui para: DP
20-30 31-40 41-50
1. As pessoas gostarem mais de si mesmas 1,57 1,14 1,16 0,24
2. Auxiliar no tratamento de diabetes* 4,20 4,54 3,27 0,65
3. Desfrutar os momentos de folga 3,85 4,16 4,38 0,26
4. Encontrar o equilíbrio pessoal 1,42 1,45 1,27 0,09
5. Ficar com o corpo mais elegante 4,82 4,41 4,72 0,21
6. Ficar mais forte 4,20 4,08 4,22 0,07
7. Melhorar a aceitação social ou grupal 2,71 2,12 2,50 0,29
8. Melhorar aparência para conseguir bons empregos 3,42 3,66 3,66 0,13
9. Melhorar a resistência* 4,97 4,91 4,55 0,22
10. Obter mais prazer na vida 4,54 4,58 4,55 0,02
11. Preservar a juventude e retardar a velhice 4,65 4,50 4,44 0,10
12. Prevenir a obesidade 4,85 4,91 4,61 0,15
13. Prevenir doenças do coração 4,85 4,79 4,88 0,04
14. Reduzir a pressão arterial 4,51 4,70 4,38 0,16
15. Reduzir as conseqüências da Osteoporose 4,54 4,50 4,88 0,20
16. Relaxar as tensões do dia-a-dia* 4,48 4,91 4,83 0,22
17. Ser mais desejado 2,28 1,91 2,55 0,32
18. Ter consciência do próprio corpo 1,37 1,66 1,61 0,15
19. Ter mais saúde 4,94 5,00 4,77 0,11
20. Ver pessoas e fazer amigos 4,17 4,12 3,83 0,18
21. Viver com melhor qualidade* 4,94 4,70 5,00 0,15
* Apresentam diferença significativa pelo índice de Krusk-Wallis (p < 0,05)
169
Tabela 34: Comparação entre as médias obtidas entre as Categorias estudadas, segundo os
praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária.*
FAIXA ETÁRIA
Categoria MÉDIA GERAL
20-30 31-40 41-50
Saúde 4,72 4,75 4,54 4,67
Lazer 4,26 4,44 4,39 4,36
Estética 4,27 4,16 4,26 4,23
Autoconsciência 1,87 1,65 1,81 1,78
* Categorias presentes no questionário A.
A partir dessa tabela percebe-se que as pessoas têm mais informações a respeito
da saúde, seguida pelo lazer, pela estética e, por último, pela autoconsciência. Um aspecto
bastante interessante é que não ocorrem grandes diferenças entre os grupos etários. Entre as
categorias, a da autoconsciência apresenta, como já foi dito, a menor pontuação. Esse aspecto
pode confirmar a realização de Operações Físicas, ao invés de Atividades Corporais. Por
outro lado, pode sugerir desconhecimento das pessoas em relação a si, e em relação às
influências dessas Atividades, enquanto elementos sociais em sua vida, e, como tais,
responsáveis pelo desenvolvimento de sua consciência e de sua personalidade. A própria
alienação está posta a serviço do desenvolvimento social.
Outra diferença que chama atenção é o fato da estética estar ligeiramente à frente
do lazer, entre os adultos jovens, embora essa diferença não seja significativa. Infere-se, a
partir daí, que apesar da mídia não ter entrado explicitamente nessas questões, a sua inserção,
sobretudo pelos elementos da Indústria Cultural, se fazem presentes. Ademais, parece comum
entre as pessoas mais jovens uma maior preocupação com relação à sua forma, e, por isso, um
170
maior índice de informação em relação à estética. Essa é, provavelmente, uma das formas de
se manter sempre jovem, magro, forte, ágil, produtivo.
A seguir, serão apresentados os resultados do questionário B (tabela 35) que foi
analisado da mesma forma que o questionário A, utilizando o índice de Krusk-Wallis, para
determinar a relação entre as variáveis. Acrescentaram-se, aqui, perguntas relacionadas à
mídia, porquanto não ter sido possível adequar as perguntas relacionadas a essa categoria no
questionário anterior.
Tabela 35: Motivos para a realização de Atividade Física, segundo os praticantes, por Faixa
Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física... DP
20-30 31-40 41-50
1. Como lazer 3,65 4,12 3,50 0,32
2. Para conhecer o próprio corpo 1,65 2,08 1,88 0,21
3. Para emagrecer 4,68 4,58 4,55 0,06
4. Para melhorar a aparência 4,51 4,62 4,61 0,06
5. Para adquirir novos conhecimentos 3,77 3,50 3,38 0,19
6. Para aumentar a capacidade física 4,68 4,75 4,61 0,07
7. Para encontrar amigos 3,91 3,66 3,27 0,32
8. Para enrijecer a musculatura 4,77 4,62 4,38 0,19
9. Para se disciplinarem física e/ou mentalmente 1,51 1,79 0,77 0,52
10. Para se sentirem bem 4,65 4,70 4,44 0,13
11. Para se tornarem o centro das atenções durante a aula 3,80 4,08 4,05 0,15
12. Para terem sua saúde melhor 4,82 4,87 4,94 0,06
13. Por influência dos meios de comunicação áudio visuais 3,51 3,33 3,22 0,14
14. Por influência dos meios de comunicação impressos 3,34 3,62 3,11 0,25
15. Porque está na moda 2,97 2,79 3,05 0,13
16. Porque dá status socialmente dentro do grupo 3,31 3,50 3,44 0,09
17. Porque gostam 4,25 4,37 4,16 0,10
18. Porque o médico mandou 3,65 3,70 4,22 0,31
19. Porque todas as pessoas famosas o fazem 2,54 2,54 2,33 0,12
20. Para ter um corpo mais torneado 4,71 4,20 3,94 0,39
171
A primeira análise que pode ser feita a respeito dessa tabela é de que em nenhum
item apareceu diferença significativa entre os grupos. Além disso, a homogeneidade também
se manifesta no desvio padrão, onde os valores são sempre menores que 0,5. A única questão
que se diferencia das demais, e, assim mesmo, por muito pouco está relacionado com a
disciplina física e mental. Mesmo assim a discrepância, nas médias, pode ser considerada
pequena.
Aqui também a autoconsciência aparece como a categoria com menores médias,
sobretudo nos itens 2 e 9. Entretanto, no item 11, as pessoas apresentam um nível de
autoconsciência maior, uma vez que não têm que usar esse elemento para se convencerem da
sua importância no mundo. Deve-se registrar, ainda, que o item com maior grau de
heterogeneidade (DP), está relacionado à autoconsciência (9). Outro fator que não aparece
aqui como muito importante é a influência da mídia que, por sua vez, também obteve médias
relativamente baixas se comparadas aos outros itens.
Outro fato que se destaca entre os grupos, são os itens com menor desvio padrão
(DP = 0,06), que são “para emagrecer”, “para melhorar a aparência” e “para terem a sua saúde
melhor”, sendo os dois primeiros relacionados à estética e o último relacionado à saúde.
Destaca-se o fato de os adultos médios apresentarem as maiores médias nos itens da estética,
enquanto os adultos maduros apresentam maior média no item relacionado à saúde.
Por sua vez, os adultos jovens demonstram maiores médias em dois aspectos
relacionados à estética (8 e 20)e um relacionado ao lazer (7). A impressão que se tem é que,
no transcorrer da vida, existe inicialmente uma preocupação com o lazer (encontrar os
amigos) e com a estética, passando na fase seguinte a se preocupar apenas com a estética,
para, no momento posterior, se preocupar com a saúde. Essa dedução é retirada dessas últimas
análises, uma vez que uma conclusão a esse respeito necessitaria de um estudo longitudinal.
Deve-se observar, ainda, que dentro da psicologia do desenvolvimento, Bee &
Mitchell (1984), mencionam a redução do número de amizades, em decorrência do aumento
da idade. Quanto à questão da saúde e da estética, parece haver uma maior preocupação com a
manutenção da juventude. E, ao se perceber que existem outros aspectos importantes na vida,
passam-se a direcionar as atividades, físicas ao menos, para a questão da saúde. Entretanto,
esses dados também necessitariam de um estudo longitudinal, o que não é o caso desta
pesquisa.
Todavia, para se entender melhor o que significa essa tabela, foi feito, como no
questionário A, o agrupamento de respostas por categoria, apresentando-se os resultados da
tabela 36.
172
Tabela 36: Comparação entre as médias obtidas pelas categorias em estudo, segundo os
praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
Categoria MÉDIA
20-30 31-40 41-50
Estética 4,66 4,50 4,37 4,51
Saúde 4,38 4,44 4,59 4,47
Lazer 4,04 4,07 3,75 3,95
Mídia 3,09 3,07 2,92 3,02
Autoconsciência 2,56 2,86 2,53 2,65
Os resultados dessa tabela demonstram, mais uma vez, que o principal motivo da
prática de Atividade física é a Estética, havendo diferença apenas em relação ao grupo de
adultos maduros, sendo que, nesse caso, existe a relação mencionada por Meinel (1984)
anteriormente de prática visando saúde para os adultos maduros. Além disso, demonstra-se
uma certa influência da mídia, que se apresenta maior que a influência da autoconsciência.
Esses dados acabam por confirmar as respostas da entrevista quanto aos objetivos e as fontes
de informação, que, apesar de se caracterizarem como fontes relacionadas à promoção da
saúde, provavelmente, encontram-se contaminadas pelas propostas da Indústria Cultural.
À guisa de considerações finais, devem-se realizar, ainda, algumas reflexões que
os dados permitem. Para se tentar estabelecer as conexões necessárias, em primeiro lugar
precisam ser discutidos os objetivos da prática de atividades físicas. Conforme demostram os
dados, a principal causa da prática é a estética. Essa pode ser vista, apoiando-se em Marx na
sua relação com a propriedade privada e como forma de atender aos diferentes fetiches com a
qual a sociedade atual bombardeia a todos diariamente. Tenta-se não virar o gordo mal, ou
não ter que pagar o preço para ser visto como bonzinho. É a ideologia trabalhando a todo
vapor para que as pessoas não se ocupem do processo de transformação social. Além disso, ao
se pensar na relação dos dados apresentados na entrevista, e confrontando-os com os dois
questionários, percebe-se que as pessoas possuem um nível bastante razoável de
conhecimento a respeito da realização de exercícios como saúde (questionário A); porém, esse
dado não é o mais atrativo, uma vez que o fetiche produzido pela mercadoria corpo é mais
forte que o desenvolvimento da saúde ou do lazer.
Em segundo lugar, deve-se prestar atenção na relação, falsa como se viu, da
prática de exercícios enquanto saúde. Ao que parece, ao menos no imaginário dos praticantes,
a ginástica e o exercício, apesar de estarem direcionados para a questão da estética, parecem
173
manter o ideário de um corpo forte e disciplinado, produtivo e com saúde suficiente para
atender às necessidades de um padrão social. A garantia e a necessidade de desenvolvimento
de boas condições orgânicas, parecem estar ainda fixados, como o modelo de saúde ideal.
Contudo, é o próprio indivíduo que assume esse papel, pois o cuidado com o corpo, com a
saúde é uma responsabilidade individual. O Estado só tem para oferecer como esmola um
serviço público que se torna cada vez mais precário dentro da lógica do Estado mínimo.
Além disso, o cuidado com o corpo obedece à lógica do consumo, onde a
atividade física, como qualquer outra mercadoria oferecida, é influenciada pela necessidade
de circulação de bens produzidos, os quais estão relacionados à prestação de serviços, à venda
de produtos de beleza e de suplementos alimentares que apontam, de maneira mitológica, para
um tipo de saúde, que, na realidade, não está lá. Pelo contrário, vários desses produtos, a
longo prazo, podem trazer problemas renais e hepáticos, que, com certeza, contribuirão para
algumas doenças graves.
Enfim, todo esse discurso, que procura apenas aumentar a performance do
trabalhador, para evitar as suas faltas e evitar a queda da produtividade, precisa ser superado,
em prol de uma vida digna, de qualidade, onde as atividades corporais, em seu sentido amplo,
possam ser realizadas pelo lazer proposto por Marcellino (1990), no sentido da transformação
da cultura e da emancipação, aspecto que também é defendido por Adorno. Ademais, esse
discurso preserva as características adotadas em sua origem, o que significa, pelos dados
mostrados, que o higienismo não foi superado. Nesse sentido, é o passado que se mantém na
atualidade. Ainda sobre a saúde, é estranho que as principais fontes de informação sejam
profissionais de saúde – na CAPES o professor de Educação Física está vinculado às ciências
da Saúde – ao passo que o principal objetivo é a estética.
A mesma análise pode ser adotada para a realização dos exames médicos. Nesse
caso, a aparente preocupação com a saúde parece dar lugar a um outro fetiche, ou mesmo à
uma outra prestação de serviços, ainda mais quando se percebe que a maior parte dos exames
são realizados na própria academia, mais uma mercadoria que é oferecida com a “aparência”
de saúde que acaba revelando a “essência” da mercadorização dos produtos, mercadoria essa
trocada pela possível fidelidade dos praticantes. Todavia, essa fidelidade também pode ser
feita pela vista grossa com relação aos exames médicos, que não são cobrados, ou onde se
pede apenas um atestado médico. Pode-se justificar esse fato pelos custos do serviço que nem
sempre está acessível aos praticantes, embora se tenha constatado, mesmo nas academia mais
simples, que o seu público não é constituído, necessariamente, de pessoas de classe baixa.
174
anteriormente. Ela deve continuar sendo bela, feminina, jovem, com a pele bem tratada, para
que possa continuar atendendo aos anseios de uma sociedade que precisa definir os padrões
pelos quais se guiar. Apesar de isso não ter sido o foco deste estudo, poder-se-ia dizer que a
mídia e a Indústria Cultural reforçam essa imagem através dos modelos de corpos das pessoas
famosas como diz Carvalho (1995). É o padrão social que não desapareceu desde a década de
1930, como foi expressa por Goellner (1999). A busca pela juventude e pela perfeição
provavelmente ainda permearão a sociedade por muito tempo.
Não se pode finalizar essa análise sem antes serem discutidos os aspectos
relacionados ao tempo livre e sua relação com o trabalho. Como já foi dito, a realização de
atividades físicas está relacionada à lógica necessária ao desenvolvimento do capital, uma vez
que a sua realização passa, também, por influências da Indústria Cultural, enquanto um pólo
privilegiado de informação, que diz às pessoas como utilizar o tempo livre. Entretanto, o que
se observa é a adesão das pessoas a atividades que dão resultados rápidos, como a
musculação, uma vez que, dentro da lógica do sistema, não se tem tempo a perder. O trabalho
exteriorizado para outrem, como diz Marx (1983), é um trabalho que não garante ao
trabalhador a apreensão de seu produto, e muito menos o reconhecimento de si, naquilo que é
produzido. Esse processo impede a realização plena do Homem enquanto tal; é o animal que
se apresenta nesse momento.
Na atividade física, ao que tudo indica, é isso que está acontecendo, é o animal
que precisa ser solto, para que se perceba a realização na atividade. É o condicionamento
físico máximo, a força que têm primazia, em um cotidiano onde não se exige essa necessidade
para a maioria das pessoas pesquisadas. De onde vem, então, a necessidade da hipertrofia?
Provavelmente do padrão estético, que elege a possibilidade de rendimento máximo como
fundamental. Um padrão que definitivamente não foi definido por quem está “malhando” em
academias de Goiânia. Além disso, a profissão exercida em si não justifica esse aumento
corporal, pois, com raras exceções, as atividades profissionais são sedentárias. Deve-se
apontar, ainda, que, apesar de essas pessoas provavelmente possuírem salários elevados, e não
serem operários da indústria, a grande maioria ainda é de trabalhadores (aproximadamente
97,4%), o que demonstra, provavelmente, uma falsa consciência dessas pessoas em relação à
sua classe social, apesar do trabalho realizado ser privilegiado, se comparado com o da grande
maioria da população.
Defende-se, aqui, a idéia de um tempo livre que propicie, acima de tudo, a
emancipação do ser humano. Essa emancipação, no entender deste estudo, far-se-á com a
adequação das políticas públicas de saúde e de lazer, que devem primar, necessariamente,
176
pela dignidade da vida humana. Para ocorrer essa mudança fazem-se necessárias a realização
de Atividades Corporais e a sublimação da estética. Em relação ao primeiro ponto, deve-se
destacar a necessidade de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento de ações, que
contribuam para conscientizar as pessoas dos benefícios das práticas corporais, para que a sua
opção, por qualquer uma delas, seja feita da maneira mais clara possível, não apenas pela
venda de mercadorias. As pessoas têm que adquirir gosto e prazer nas atividades realizadas;
deve haver, assim como nas práticas desenvolvidas fora das academias, o gosto pela
realização. É a consciência de si e daquilo que se pratica que deve estar acima dos interesses
comerciais.
Esse ponto, o da consciência acima de tudo, também deve permear o próprio
conceito estético. Deve ser a busca da sublimação, como diria Marx, que deveria ser
privilegiada. Todavia, assim como ele, acredita-se que essa possibilidade se está dada na
emancipação do Homem – acompanhando também Adorno – bem como na superação de um
modo de produção perverso, como o atual vivido no Brasil. A Atividade Corporal, em sua
essência, deve atender a estética, na direção da plena satisfação de todos os sentidos humanos,
sentidos esses que devem estar aprimorados e não embrutecidos, como acontece atualmente.
Por fim, a atividade física na Academia nada mais é do que uma operação física,
procurando desenvolver os termos a partir do que é proposto por Leontiev, pois, se existem
coisas mais importantes a serem feitas, se não provoca prazer, ou mesmo se ela não é sequer
importante na vida de quem a pratica, ela não pode ser entendida enquanto Atividade, muito
menos corporal, procurando entender essa concepção em uma perspectiva marxista. É
importante também se ressaltar o fato aparencial da sua importância, o que não é identificado
no essencial da vida das pessoas. Nesse todo da vida, a atividade física é uma prática
supérflua, regida pelos interesses mercadológicos e por todos os fetiches que regem a
sociedade capitalista.
Enfim, há de se refletir sobre essas práticas, pois o que está acontecendo nada
mais é do que uma prática elitista, reificada e alienada, que precisa com urgência atingir as
classes populares como forma de sublimação.
177
aqui. Essas explicações dependem de uma sustentação que se faz necessária no âmbito deste
trabalho.
A priori, um aspecto que precisa ser ressaltado é o transcorrer da vida adulta. Não
é possível desenvolver nenhum trabalho em qualquer área sem que se conheça aquilo que o
constitui. O adulto, em cada um dos momentos da sua vida, apresenta características
diferenciadas em todos os âmbitos, e não apenas no biológico, como defendem muitos
Professores de Educação Física. Cada uma delas deve ser compreendida em sua totalidade,
sendo que as diferenças que lhe são inerentes devem ser, antes de tudo, respeitadas. Não se
trata aqui, de defender a vertente Desenvolvimentista dentro da Educação Física, e sim de
procurar apreender o ser humano dentro de sua totalidade. E, para que isso aconteça, a
percepção das diferenças decorrentes da idade devem ser levadas em conta.
A plenitude do adulto jovem, a estabilidade de adulto médio e o início da
retrogênese no adulto maduro, são aspectos a serem considerados no desenvolvimento de
atividades físicas que se queiram eficazes. Além disso, o aspecto psicossocial também deve
ser levado em consideração. Afinal, o desenvolvimento da personalidade é inerente ao meio
onde se vive. Na idade adulta a personalidade ainda está em construção, ela só será
interrompida com a morte.
Por outro lado, deve-se compreender que, ao se trabalhar com o corpo de uma
pessoa, não se está trabalhando uma massa qualquer, muito menos com uma máquina. Na
realidade, o corpo precisa ser entendido como a manifestação social, psicológica e histórica
do Homem em seu meio, enquanto um ser imerso em uma cultura, que faz ele ser o que ele é.
Assim, deve-se ter claro que, ao se trabalhar o corpo do Homem, também se está trabalhando
a sua consciência do mundo, consequentemente do seu corpo inorgânico, e a consciência de si
mesmo (autoconsciência), da qual faz parte o seu corpo orgânico.
No processo de totalização do ser humano, vários fatores podem influenciar o seu
desenvolvimento e o de sua consciência. O primeiro é a relação que se estabelece com o
trabalho, enquanto forma de aquisição da cultura. O segundo, é o contato com outros seres
humanos, naquilo que Elias (1994) vai chamar de relação nós – eu, onde o Homem aprende a
ver o outro e a si mesmo. O terceiro, é a mídia enquanto um posto avançado da Indústria
Cultural. Essa máquina de construir mentes atua quase que silenciosamente como um
instrumento a serviço dos interesses capitalistas. Esse processo é tão bem feito que nós
passamos a adotar a fala da burguesia, muitas vezes sem perceber o quanto aquele discurso e
aquela prática estão nos destruindo. Entretanto há de se registrar que desses três elementos o
179
trabalho possui o papel central, uma vez que as relações interpessoais e a utilização da própria
mídia, estão permeadas pelas influências do processo produtivo e de seus interesses.
Nesse procedimento de percepção e de desenvolvimento da consciência e da
autoconsciência, o aluno da academia tem que se perceber como um trabalhador. E, ao
refletirmos sobre o público entrevistado, poucos deles poderiam ser considerados burgueses –
detentores dos meios de produção – em sua grande maioria, as pessoas entrevistadas, apesar
do alto nível da escolarização, e talvez até do salário, não se percebem enquanto “classe
explorada”. Se isso não lhes é perceptível, poderíamos afirmar, no mínimo, que a sua
alienação já está efetivada, e que a reificação de sua consciência se instalou com sucesso,
fatos esses que não poderiam ser diferentes em uma sociedade capitalista. Enfim, esta
alienação, e não-percepção das pessoas entrevistadas como trabalhadores, se dá
provavelmente pela classe social, à qual estão vinculadas, pelos salários ou pelos cargos que
ocupam. Todavia, elas se esquecem que “não é a roupa que faz o rei”. Afinal, ser
administrador, gerente, assessor ou diretor, não faz do indivíduo o proprietário do local de
trabalho. Dessa forma, a necessidade de quem trabalha é diferente da de quem é dono.
Segundo Marx, a própria consciência, a priori, surge nas suas condições materiais de
existência, na sua classe social, o que é derrubado pelo processo de alienação no qual
vivemos.
Mas, onde é que ficam as práticas corporais dos adultos? Essas fazem parte da
mesma lógica que rege o mercado, ou seja, a maior parte delas são apenas mercadorias, cujo
objetivo central é promover lucros. Porém, esta é apenas a parte boa da história. Na realidade,
a prática destas atividades tem outros objetivos implícitos, que estão ligados aos interesses do
modo de produção, mais uma vez.
Se praticada enquanto saúde, a meta central é o aprimoramento do capital
humano, evitando-lhe distúrbios e aumentando-lhe a produtividade. A relação atividade física
e saúde é entendida como sinônimo, e até mesmo se defende essa idéia pelo fato de que ela
também gera lucros, não só para quem a promove, mas também para as indústrias que
produzem materiais esportivos.
Se praticada com objetivos estéticos, o processo de alienação e reificação da
consciência é ainda maior, pois a pessoa passa a ser tratada como uma massa que precisa de
uma forma que atenda aos interesses impostos pelas classes hegemônicas. Esse padrão,
contudo, não é aleatório; ele também procura atender às necessidades do modo de produção,
pois o corpo que interessa é o corpo forte, resistente, ágil e produtivo; nisso Foucault tinha
plena razão. Entretanto, é necessário o conteúdo para essa forma; precisa-se atingir a
180
sublimação proposta por Marx, mesmo que, para isso, seja necessária a transformação do
modo de produção, se possível, sem ter que dar a vida por isso.
Com o lazer, os interesses acabam sendo semelhantes. Aqui, a preocupação se
estabelece apenas com a recuperação da mão-de-obra, com o alívio do stress e com a
manutenção da lógica do trabalho entre a saída da noite e a entrada do dia seguinte, da forma
mais segura possível, como diriam Adorno e Horkheimer. Pode-se, porém, ir ainda mais
longe; as práticas do tempo livre agem de maneira conjunta, ou, talvez seja melhor dizer,
também fazem parte da indústria cultural, embora os responsáveis por ela saibam que a
população não seja assim tão fácil de se convencer, como diria o próprio Adorno. Todos esses
elementos conjuntos nos dão uma pequena noção de todas as influências da sociedade sobre
nós; e elas estão muito longe de ser ocasionais ou acidentais.
Após estas rápidas reflexões, ficam algumas questões a serem respondidas. Uma
delas é: Qual é o papel do professor da academia? Que tipo de profissional ele é? Poderíamos
iniciar esta resposta da maneira historicamente mais correta. O papel do Professor da
academia de ginástica é cuidar da saúde das pessoas, pois esta é a sua área de atuação. Esse
ponto é defendido no âmbito da Educação Física “com unhas e dentes” por vários autores.
Para citar apenas um, Menestrina (1993) considera que o Profissional de Educação Física
deve desenvolver vários conhecimentos técnicos, pedagógicos e sociais para “(...) contribuir
na formação de gerações saudáveis e conscientes e colaborar com o aumento do nível
qualitativo de vida.” (Menestrina, 1993: 28). Essa concepção está equivocada em sua raiz,
pelo fato de que as gerações saudáveis, como aborda o autor, necessitam de outras coisas para
alcançar este objetivo e não apenas o exercício físico. Apesar de ele destacar os
conhecimentos pedagógicos e sociais, a sua visão se apresenta bastante biologista e nós não
acreditamos que esse seja o melhor caminho a ser tomado.
Poderíamos apontar como uma segunda possibilidade a visão de Cunha (1999),
que de certa maneira defende que somos profissionais de lazer. A sua justificativa se
aproxima do âmbito do presente trabalho, por destacar que a academia de ginástica é um
espaço de práticas de lazer, e os profissionais que ali atuam, seriam, consequentemente,
profissionais de lazer. Concordamos parcialmente com ela, ao apontar que as academias são
aparelhos de lazer, contudo a nossa ação profissional não se restringe a este âmbito do não-
formal. A nossa ação tende a ser um pouco mais ampla do que isso, pois, além de possuirmos
uma ação dentro das práticas formais que deve ser considerada, a própria ação dentro desses
aparelhos se caracteriza como pedagógica.
181
uma sociedade que supere um modo de produção desumano, desleal e injusto. Que seja
formado um profissional que tenha capacidade de intervenção e conhecimento suficiente para
separar o joio do trigo.
Dentro da postura que estamos assumindo, não é nossa intenção desconsiderar os
conhecimentos que o Professor de Educação Física tem que possuir dos elementos
relacionados à saúde e ao lazer, mas, sim, pensar esse profissional em um sentido mais amplo,
por se entender que a licenciatura deve conseguir instrumentalizar o professor de maneira que
lhe seja possível o direcionamento em qualquer área que pretenda seguir.
Daí entendemos que a formação profissional é essencial nesse processo. Ela deve
propiciar ao aluno que se está formando uma base de conhecimento composta por, pelo
menos, quatro tipos de conhecimento: o didático-pedagógico, o técnico, o biológico e o
filosófico-social.
Dentro do conhecimento didático-pedagógico, que de certa maneira já foi
explicado, o professor deve adquirir os conhecimentos concernentes aos elementos
metodológicos necessários ao desenvolvimento de sua profissão, independente do campo de
atuação que ele pretenda atuar após se formar. Esses elementos são essenciais para que a ação
desejada consiga alcançar as metas propostas com o seu planejamento.
O conhecimento técnico deve estar relacionado à apreensão e contextualização de
todos os elementos possíveis da cultura corporal que são, em nosso entendimento, o objeto de
estudo da Educação Física. Embora essa defesa seja feita dentro da Educação Física pela
tendência Crítico-Superadora, tendência esta defendida pelo Coletivo de Autores (1992), que
entende que o local do professor é dentro da escola, acreditamos que esses elementos também
estão presentes em outros campos de atuação, e que, por isso, devem receber um
conhecimento melhor elaborado, independente do locus de aplicação desses conhecimentos.
Em nossa ótica, isso inclui as academias de ginástica.
O conhecimento biológico deve dar suporte do ponto de vista do conhecimento do
ser humano, incluindo aqui as áreas de anatomia, fisiologia, bioquímica, psicologia, entre
outras. Esses elementos são fundamentais para a compreensão de que todas as práticas
corporais realizadas pelo ser humano irão influenciar nas suas resposta orgânicas,
aperfeiçoando-as, ou prejudicando-as, caso não sejam realizadas de maneira adequada.
Enfim, colocamos o conhecimento filosófico-social que é responsável pelo
conhecimento que o futuro professor tem que ter das diferentes influências sociais, às quais
todos nós estamos submetidos, inclusive as atividades corporais. Essa área, a priori, deveria
dar ao aluno condições de identificar os aspectos filosóficos relacionados a cada tendência da
183
Educação e da Educação Física. Estes aspectos são fundamentais para que o futuro professor
perceba as implicações sociais de cada prática e de cada tendência.
Todos esses conhecimentos reunidos devem ser de domínio do professor dentro
da academia, para que a sua práxis possa estar repleta de significado, e, o que é mais
importante, que o seu significado possa ser transmitido ao seus alunos. Está posta aqui a
necessidade de fazer-saber. Não apenas do fazer-saber técnico e instrumental, mas do fazer-
saber pedagógico e, sobretudo filosófico e social. As pessoas precisam ter a noção das
influências sociais do que realizam.
Um outro aspecto que nos preocupou no momento da análise dos dados, e que
está relacionado com a formação do Professor, é o fato de o Professor de Educação Física
Escolar ser mencionado no âmbito geral como a última fonte de informação importante. Para
nós é bastante claro que a ação da memória pode determinar a sua menção ou não. Por outro
lado, podemos dizer que tendemos a nos lembrar daquilo que consideramos importante em
nossas vidas. Destarte, infere-se que os Professores de Educação Física Escolar não
cumpriram adequadamente o seu papel de ensinar às pessoas sobre qual é a real necessidade
da realização de atividades corporais em suas vidas. Esse quadro, em nosso entender, se
agrava ao se pensar em boa parte dos adultos jovens que foram entrevistados, sobretudo
aqueles que ainda estão cursando o ensino superior, que tiveram, ou ainda têm acesso a
professores que atuam na educação formal. Que conteúdos estão sendo transmitidos e
discutidos dentro das aulas? Será que ainda estamos no tempo do chamado “rola bola”?
Através dessa reflexão voltamos ao papel da formação profissional. Como os
conhecimentos gerados dentro das Faculdades de Educação Física estão interferindo nas
práticas dos professores dentro da escola de ensino fundamental e médio, continua para nós
sendo uma incógnita. A produção dentro dessa áreas nos últimos 20 anos tem sido
significativa demais para que as mudanças ainda não tenham chegado até à escola. Mesmo
que se pense na base curricular, desde 1987 o então Conselho Federal de Educação modificou
a estrutura curricular dos cursos de Educação Física, buscando, entre outras coisas, um maior
conhecimento das ciências humanas que não eram contempladas até então.
A partir desses fatos, podemos dizer que existem duas possibilidades. A primeira,
que essas modificações curriculares não conseguiram se efetivar na prática, provavelmente
por dificuldade dos professores das Instituições de Ensino Superior se adequarem aos “novos
tempos”. Ou, então, as transformações realizadas em nível curricular não conseguiram
convencer os alunos em formação da necessidade da transformação da postura profissional,
ou, ainda, a força dos professores e das instituições que se engajaram nas mudanças, ainda é
184
insuficiente perante a força da Indústria Cultural e dos interesses que regem o atual modo de
produção. Gostaríamos de dizer que consideramos insuficientes essas mudanças, porque
existe uma tensão em marcha no país que dificulta o alcance de um consenso, embora
possamos entender que o conflito é salutar e importante.
Apesar de entender que a discussão em curso é importante e necessária,
entendemos que não há possibilidade de, no âmbito deste trabalho, esgotá-la por dois motivos:
1) não é esta a nossa intenção e nem o nosso foco central neste trabalho e; 2) essa discussão é
muito ampla, dependendo os seus desdobramentos inclusive da conjuntura nacional da
Educação Física.
Precisamos, contudo, retomar a discussão a respeito da academia enquanto um
locus de educação não-formal. Entendemos que a mesma já foi abordada satisfatoriamente, no
entanto, gostaríamos de retomar a nossa linha de raciocínio dizendo que a academia de
ginástica, bem como os profissionais que nela atuam, poder-se-iam encaixar na área da saúde,
do lazer e até mesmo da estética. Justifica-se isso pela gama de atividades que a Educação
Física abrange, ao mesmo tempo que pretendemos demonstrar o nosso respeito às diferentes
linhas de pensamento dentro da área, embora não concordemos com várias delas.
Todavia, queremos defender aqui a idéia de que esse é um local privilegiado de
educação não-formal. Parte desta defesa já foi feita quando falamos de todos os elementos
educacionais que estão presentes aí, devendo-se assim ressaltar a necessidade de perceber os
seus freqüentadores não apenas como clientes atrás da prestação de serviços ou de uma
mercadoria que pode ser ele mesmo. Uma mercadoria que se põe na mão de um profissional
que irá modificá-la para aumentar o seu valor de mercado. Devemos perceber essas pessoas,
os adultos principalmente, enquanto seres humanos que, apesar de seu estágio biológico mais
completo no sentido de maturação funcional, ainda estão em processo de formação de sua
consciência em relação ao mundo e à si mesmos.
É exatamente nesse ponto que o Professor de Educação Física deve agir. É na
totalidade deste homem ou mulher que precisamos investir. É necessário desenvolver a sua
autoconsciência. A prática Corporal, como diria Leontiev, tem que ser a Atividade, ou seja, o
mediador privilegiado na relação sujeito/objeto. Esse objeto que o aluno tem que conhecer é,
principalmente, o seu corpo orgânico, lembrando-se entretanto, que ao conhecer essa
dimensão ele irá conhecer a sua dimensão inorgânica, que, por sua vez, interfere direta e
constantemente na sua esfera orgânica. É na materialidade de suas ações que se devem abrir
as possibilidades da emancipação do homem. Para que isso seja possível, as políticas
públicas, em seu sentido emancipatório, devem estar convergindo nas áreas da educação, da
185
saúde, do lazer e até do esporte. O lançamento deste novo olhar sobre a Atividade Corporal se
faz urgente. No entanto, não temos a ilusão de que isso irá acontecer de forma linear,
mecânica ou sem sofrimento.
Por isso, apresentamos uma outra defesa, a de que a academia de ginástica, tal
qual a escola em meados da década de oitenta, deva entrar em crise. Crise no sentido de que
os seus profissionais realmente questionem os seus valores, as suas propostas, a sua função
social. Precisa-se também questionar as metodologias adotadas no seu interior; se elas estão
sendo suficientes para pensar os alunos dentro de sua totalidade, ou se elas continuam
considerando apenas os aspectos higienistas, estéticos ou aqueles que são ditados pela
Indústria Cultural. Os Professores precisam definir claramente os seus papéis, e não pousarem
de profissionais de uma área que defende outros interesses, isto é no mínimo incoerente. Ao
passar por este vendaval, caso isso venha a acontecer, haveria a possibilidade de clarear quais
são as defesas que cada Professor faz individualmente ou dentro de um coletivo. Se a sua
opção está relacionada aos interesses do capitalismo ou da emancipação dos seres humanos?
Se o papel da academia de ginástica é ser um aparelho de lazer passivo ou ativo? As respostas
têm que ser dadas, embora, implicitamente, elas já estejam postas à mesa. O que se defende
aqui é simplesmente clareza e reflexão do papel do Professor da Academia. Afinal, ele é a
fonte de informação mais importante para os seus alunos.
Por último, gostaríamos de dizer que, apesar de todas as dificuldades encontradas
durante a realização deste trabalho, houve um crescimento pessoal e inovador. Por isso,
gostaríamos de tecer algumas ponderações finais, especificamente quanto às mediações e às
interpretações que o ser humano tem. Ou seja, a sua consciência, a sua visão de mundo e de
sociedade é, necessariamente, uma visão que o período histórico e as condições da sua
existência lhe permitem. Assim, é preciso refletir não apenas sobre o discurso hegemônico da
Educação Física. Precisa-se, antes, repensar a sua prática e os seus diferentes objetivos
implícitos e explícitos para que o professor, ao atuar junto ao aluno na academia de ginástica,
na escola ou em outro lugar, tenha plena convicção das suas possibilidades e limites de
atuação, para que ele não se mantenha apenas como mais uma peça na engrenagem da
máquina de alienação social.
Dessa forma, concluímos, afirmando junto com um dos autores que mais
influenciaram a elaboração deste trabalho que,
... com o prognóstico social, segundo o qual, uma sociedade, cujas contradições
fundamentais permanecem inalteradas, também não poderia ser totalmente
integrada pela consciência. A coisa não funciona assim tão sem dificuldades, e
186
menos no tempo livre [como acontece com as práticas da academia], que sem
dúvida, envolve as pessoas, mas, segundo seu próprio conceito, não pode envolvê-
las completamente sem que isso fosse demasiado para elas. Renuncio a esboçar as
conseqüências disso; penso, porém, que se vislumbra aí uma chance de
emancipação que poderia, enfim, contribuir algum dia com a sua parte para que o
tempo livre [Freizeit] se transforme em liberdade [Freiheit]. (ADORNO, 1995: 81-
2)
187
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ANEXOS
195
ANEXO I
ROTEIRO DE ENTREVISTA.
1. IDENTIFICAÇÃO
4.01. Há quanto tempo faz atividade física? (Sem interrupção superior a um mês)?
2 meses ( ) 3 meses ( ) 4-6 meses ( ) 6-11 meses ( )
1 ano ( ) 2 anos ( ) 3 anos ou mais ( )
2.02. Quais atividades físicas você pratica?
___________________________________________________________________________
2.03. Quantas vezes por semana? 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( ) 6( ) 7( )
2.04. Em que dias da semana?
___________________________________________________________________________
2.05. Qual é o horário da(s) sua(s) aula(s)? ________________________________________
2.06. Faz mais de uma vez por dia? SIM ( ) NÃO ( )
2.07. Qual o tempo total de atividade física diária (em horas)? _________________________
2.08. Você fez algum exame médico ao iniciar a prática de atividade física? Em caso
afirmativo onde e por que? SIM ( ) NÃO ( )
196
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.09. Como você escolheu esta atividade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.10. Onde ou com quem você obteve informações sobre esta modalidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.11. Exatamente por que você escolheu esta modalidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.12. O que você pretende atingir com ela?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.13. Em uma escala de 1 a 10, quanto você já atingiu do que você pretende com esta
atividade física? ______________________________________________________________
2.14. Você pratica outra atividade física? Em caso afirmativo, qual e por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.15. Se pudesse escolher, você faria uma outra atividade física? Qual e por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.16. Nesta relação indique em ordem decrescente de importância as fontes onde geralmente
obtém informações sobre o papel da prática de atividade física na vida de homens/mulheres?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
197
2.17. Quais são as principais atividades da sua vida, em ordem de importância decrescente?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.18. Por que você estabeleceu esta ordem?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.19. Por que esta localização da atividade física?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
198
ANEXO II
AMIGOS(AS)/PARENTES
JORNAIS
MÉDICO
PROFESSOR(A) DA ACADEMIA
PASSADA)
RÁDIO
TELEVISÃO
OUTROS(AS). QUAIS?
199
ANEXO III–A
QUESTIONÁRIO
Parcialmente
Parcialmente
Totalmente
Totalmente
Concordo
Concordo
Diferença
Discordo
Discordo
Não faz
01. As pessoas gostarem mais de si mesmas
02. Auxiliar no tratamento de diabetes
03. Desfrutar os momentos de folga
04. Encontrar o equilíbrio pessoal
05. Ficar com o corpo mais elegante
06. Ficar mais forte
07. Melhorar a aceitação social ou grupal
08. Melhorar a aparência para conseguir bons empregos
09. Melhorar a resistência
10. Obter mais prazer na vida
11. Preservar a juventude e retardar a velhice
12. Prevenir a obesidade
13. Prevenir doenças do coração
14. Reduzir a pressão arterial
15. Reduzir as conseqüências da Osteoporose
16. Relaxar as tensões do dia-a-dia
17. Ser mais desejado
18. Ter consciência do próprio corpo
19. Ter mais saúde
20. Ver pessoas e fazer amigos
21. Viver com melhor qualidade
200
ANEXO III-B.
Parcialmente
Parcialmente
Totalmente
Totalmente
Concordo
Concordo
Diferença
Discordo
Discordo
Não faz
01. Como lazer
CDU: 796.012:316