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A REPRESENTACÃO DA EX-PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF NA REVISTA


VEJA: UMA ANÁLISE À LUZ DA GRAMÁTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL E DA
GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL.

Aline Pereira da Costa1


Vilmar Ferreira de Souza2

Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar como a ex-presidente Dilma Rousseff
foi representada em seis capas da revista Veja dos anos de 2014, 2015 e 2016, observando o
contexto histórico-político do Brasil na época. Esse objetivo geral originou as seguintes
questões de pesquisa: (1) Como essa representação se materializou através das escolhas
verbais e visuais de elaboração dessas capas? (2) A Veja representou de forma diferente ou
semelhante, verbal e visualmente, a imagem da ex-presidente? (3) Como essas representações
foram impactadas pelos três períodos específicos? Essa análise se fundamenta na Gramática
Sistêmico-Funcional (GSF) e na Gramática do Design Visual (GDV). Adicionalmente,
utiliza-se também as contribuições de DeSouza (2015), com base em Fairclough (2001), sobre
o conceito de ideologia. A análise verbal foi desenvolvida de acordo com a metafunção
ideacional-experiencial, realizada pelo sistema de transitividade com base em Halliday e
Matthiessen (2014). No que se refere à análise visual, foi considerado o aparato teórico-
metodológico de análise de imagens proposto por Kress e van Leeuwen (2006). Ademais, os
resultados dessas análises são discutidos com base no conceito multiestratal de ideologia
proposto em DeSouza (2015). De forma geral, os resultados da análise dos significados
verbais e visuais apontam para uma representação negativa da imagem da ex-presidente
Dilma Rousseff, mas construídas de maneiras diferentes nos três períodos. Além disso, a
análise dos sentidos construídos na relação entre verbal e visual revelou que as escolhas não
são arbitrárias, e sim motivadas por interesses ideológicos próprios da revista.

Palavras-chave: GSF. GDV. Dilma Rousseff. Revista Veja. Ideologia.

1
Graduanda do curso de Licenciatura em Letras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE – Campus Crateús). Brasil. alineprr23@gmail.com
2
Possui doutorado em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente, atua como Professor no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE – Campus Crateús). Brasil.
vilmardesouza@unilab.edu.br
2

1 INTRODUÇÃO

O Brasil, nos últimos anos, tem vivido uma complexa situação em sua conjuntura
política e econômica. Além dos recorrentes casos de corrupção e da crise econômica, o país
encarou, recentemente, o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O processo de
impeachment de Dilma Rousseff procedeu devido à denúncia por crime de responsabilidade e
às inúmeras manifestações populares ocorridas em 2013 e em 2015 contra o governo vigente,
resultando na cassação do mandato de Dilma em 2016. Com isso, tivemos, no Brasil, o
segundo caso de um Presidente da República que sofreu impeachment.
Nesse contexto, a mídia, enquanto instância social, exerce o importante papel de
informar o povo sobre os problemas que circulam na sociedade. Além disso, como é sabido,
os meios de comunicação de massa se tornaram a principal forma de disseminação de
informações e dos acontecimentos, uma vez que através deles os grandes eventos se tornam
públicos.
Assim, considerando que os textos circulados pelos grandes veículos de notícias são
socialmente situados, Van Dijk (2008) destaca que esses textos são determinados pelo
contexto específico dos participantes (jornalistas, repórteres, editores, etc.), bem como pelos
seus objetivos, conhecimentos e ideologias. Isso significa dizer que as informações veiculadas
não são imparciais.
A partir dessas considerações, o objetivo deste trabalho é analisar como a ex-
presidente Dilma Rousseff foi representada em seis capas da revista Veja dos anos de 2014,
2015 e 2016, observando o contexto histórico-político do Brasil na época. Esse objetivo geral
originou as seguintes questões de pesquisa: (1) Como essa representação se materializou
através das escolhas verbais e visuais de elaboração dessas capas? (2) A Veja representou de
forma diferente ou semelhante, verbal e visualmente, a imagem da ex-presidente? (3) Como
essas representações foram impactadas pelos três períodos específicos? Essa análise se
fundamenta na Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) e na Gramática do Design Visual
(GDV). Adicionalmente, utiliza-se também as contribuições de DeSouza (2015), com base em
Fairclough (2001), sobre o conceito de ideologia.
A metodologia do trabalho baseia-se na análise dos significados verbais e visuais das
capas da revista Veja. A análise verbal foi desenvolvida de acordo com a metafunção
ideacional-experiencial, realizada pelo sistema de transitividade proposto por Halliday e
Matthiessen (2014). No que se refere à análise visual, foi considerado o aparato teórico-
metodológico de análise de imagens proposto por Kress e van Leeuwen (2006). Ademais, os
3

resultados dessas análises são discutidos com base no conceito multiestratal de ideologia
proposto em DeSouza (2015).
Para tanto, este artigo subdivide-se em cinco seções além da parte introdutória. Nas
seções 2 e 3, apresentamos os pressupostos teóricos que embasam esta pesquisa, a saber, a
Gramática Sistêmico-funcional e a Gramática do Design Visual, contextualizando ambas as
teorias e enfatizando os aspectos concernentes ao propósito da pesquisa. Adicionalmente,
exploramos o conceito multiestratal de ideologia proposto por DeSouza (2015). A seguir, na
seção 4, explicitamos a metodologia empreendida e o corpus a ser analisado. Na seção
seguinte, apresentamos a análise verbal, considerando o Sistema de transitividade. Em
seguida, esboçamos a análise das capas no âmbito visual, seguindo a proposta teórico-
metodológica de Kress e van Leeuwen (2006). Feito isso, discutimos os achados dessas
análises à luz do conceito multiestratal de ideologia, conforme DeSouza (2015). Por fim, na
última seção, fazemos breves considerações acerca desta pesquisa.

2 A GRAMÁTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL E A GRAMÁTICA DO DESIGN


VISUAL: PONTOS DE CONTATO

Para fazermos um paralelo entre as duas propostas teóricas, inicialmente, apresentamos os


principais pontos referentes à Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (2004, 2014). Em
seguida, traremos uma explanação acerca dos conceitos referentes à Gramática do Design
Visual de Kress e van Leeuwen (2006), com ênfase nos aspectos que serão utilizados nesta
pesquisa.

2.1 A Gramática Sistêmico-Funcional

Desenvolvida pelo linguista britânico M. A. K. Halliday na década de 60, a Gramática


Sistêmico-funcional é uma teoria linguística que concebe a linguagem verbal como um
sistema sociossemiótico. A GSF é intitulada sistêmico porque estabelece que o falante dispõe
de um leque de possibilidades – sob a forma de redes de sistemas - disponíveis na língua para
produzir enunciados e textos, e é funcional porque considera que o sistema linguístico está
intrinsecamente ligado ao contexto de uso. Em suma, diferentemente da perspectiva
estruturalista-formalista, considera-se o eixo paradigmático como ponto inicial da
comunicação, visto que a comunicação envolve um sistema de escolhas linguísticas que
geram diferentes efeitos de sentido.
4

A visão de língua, sob a perspectiva sistêmico-funcional, é organizada e entendida


através de estratos, que compreendem os diversos níveis de organização da língua. Halliday e
Matthiessen (2014) agrupam os estratos em dois planos: o plano de conteúdo e o plano de
expressão. No plano de conteúdo, temos o estrato semântico e o estrato léxico-gramatical, e
no plano de expressão, a fonética e a grafética, todos inseridos em contextos, como ilustrado
na figura abaixo:

Figura 1 – Estratos linguísticos

Fonte: Adaptada de Halliday e Matthiessen (2004, p. 25) por DeSouza (2011a, p. 50)

Halliday e Matthiessen (2004) utilizam essa organização estratal para ilustrar o


funcionamento da língua, explicando que “a relação entre os estratos – o processo de ligação
de um nível de organização com outro – é chamada de realização” (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004, p. 26), e a unidade que instancia o sistema linguístico é o texto:

O termo ‘texto’ refere-se a qualquer instância de língua, em qualquer meio, que faça
sentido para alguém que conheça a língua; podemos caracterizar o texto como o
funcionamento da língua em contexto (...). A língua é, em primeira instância, um
5

recurso para fazer sentido; então o texto é um processo de fazer sentido em contexto.
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014, p. 3, tradução nossa 3)

O texto como entidade que materializa a língua pode ser inserido em dois contextos, a
saber, o contexto de cultura – o contexto geral que permite adaptar os significados para atingir
os propósitos do falante e o contexto de situação - que determina as escolhas linguísticas
realizadas a partir das variáveis: campo, relações e modo, que por sua vez são realizadas pelas
metafunções ideacional, interpessoal e textual, todas inerentes ao estrato semântico. A esse
respeito, Praxedes Filho (2014, p. 17) afirma que:

É a semântica o estrato onde estão as metafunções das línguas ou as três grandes


áreas de significados universais. Para cima, o estrato da semântica constrói / realiza
as três variáveis do contexto de situação [social] (campo, relações, modo), que se
constitui num estrato extralinguístico, pois as línguas, como vimos, não são
autônomas/autossuficientes. Para baixo, o estrato da semântica ativa as / é realizado
pelas três áreas principais do estrato da lexicogramática (transitividade + relações
tácticas e lógico-semânticas, modo + modalidade + recursos avaliativos, tema +
informação), o qual ativa a / é realizado pela expressão fônica/sinalizada ou gráfica.

Desse modo, neste viés, a organização dos estratos linguísticos se configura pelas
relações de realização/ativação e realização/construção, em que os estratos que estão em cima
são ativos ou realizados pelos os que estão abaixo, e os estratos que estão abaixo constroem
ou realizam os que estão acima. O quadro abaixo elucida essa organização:

Quadro 1- organização hierárquica dos estratos linguísticos proposta pela GSF

3
The term ‘text’ refers to any instance of language, in any medium, that makes sense to someone who knows the
language; we can characterize text as language functioning in context (...). Language is, in the first instance, a
resource for making meaning; so text is a process of making meaning in context.
6

A variável campo se refere à natureza da atividade social, às ações executadas e aos


objetivos comunicativos dos falantes. As relações são determinadas pela natureza dos
participantes, ou seja, pela relação que é estabelecida entre eles, por exemplo: relação
professor/ aluno, pai/filho. A variável modo consiste no papel que a língua irá exercer naquele
determinado contexto e na forma que o texto está organizado. Em suma,

campo, relações e modo são, portanto, conjuntos de variáveis relacionadas, com


intervalos de valores contrastantes. Juntos, eles definem um espaço semiótico
multidimensional - o ambiente de significados em que a língua, outros sistemas
semióticos e sistemas sociais operam. As combinações de valores de campo,
relações e modo determinam diferentes usos da linguagem- os diferentes
significados que estão em risco em um determinado tipo de situação. (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2014, p. 34, tradução nossa)4

Como nos explicam Halliday e Matthiessen (ibid.), as três variáveis do contexto de


situação determinam os significados que são acionados nos diferentes contextos de uso da
língua. Em outras palavras, o uso da língua muda devido aos diferentes contextos e as funções
específicas que exerce. Essas variáveis são realizadas pelo que Halliday chamou de
metafunções.
Na perspectiva hallidayana, todas as línguas exercem, simultaneamente, três funções
básicas: uma responsável pela representação da experiência de mundo externo ou interno
(metafunção ideacional), outra ligada as nossas relações interpessoais de negociação e
avaliação (metafunção interpessoal) e uma que organiza as outras funções para criar um fluxo
coeso e coerente de mensagens em textos (metafunção textual). Os sistemas lexicogramaticais
que realizam as três metafunções são, respectivamente, o sistema de transitividade e as
relações tácticas e lógico-semânticas, o sistema de modo/modalidade e os recursos
avaliativos, e o sistema de tema/rema, todos inerentes ao estrato léxico-gramatical.
Considerando a análise proposta neste artigo, a metafunção Ideacional será detalhada
na seção seguinte.

2.1.1 A Metafunção Ideacional e o Sistema de transitividade

A metafunção ideacional é realizada pelos sistemas de transitividade, das relações


tácticas e das relações lógico-semânticas. É ela que nos habilita a representar as experiências
humanas (internas ou externas) e sequenciá-las em complexos experienciais. Portanto, a

4
No texto-fonte: Field, tenor and mode are thus sets of related variables, with ranges of contrasting values.
Together they define a multi-dimensional semiotic space – the environment of meanings in which language,
other semiotic systems and social systems operate. The combinations of field, tenor and mode values determine
different uses of language – the different meanings that are at risk in a given type of situation.
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função ideacional envolve dois componentes, o experiencial – realizado pelas escolhas dentro
do sistema léxico-gramatical de transitividade e o lógico – realizado pelos sistemas das
relações tácticas e lógico-semânticas, os quais determinam as relações entre orações em
complexo oracionais (HALLIDAY; MATHIESSEN, 2014). Daqui em diante enfatizamos o
componente experiencial, pois ele fornece o embasamento necessário para atingir o objetivo
da presente pesquisa.
Sob a perspectiva experiencial, a experiência humana consiste em um fluxo de eventos
realizados léxico-gramaticalmente através de processos. Os processos (realizados por grupos
verbais) implicam a existência de participantes (pessoas ou coisas envolvidas no processo) e
de circunstâncias de modo, tempo, causa ou lugar em que o processo se desenrola (ibid.).
Halliday identifica três tipos principais de processos: materiais, mentais e relacionais e
nos limites entre os três principais, três secundários: verbais, comportamentais e existenciais.
Cada processo representa um tipo de experiência humana e os participantes são classificados
de acordo com os diferentes processos como sintetizado no quadro a seguir:

Quadro 2 – Significado e participantes de cada tipo de processo


Processo Significado Participantes
Material Fazer ou acontecer Ator/Meta/Escopo/Beneficiário/Atri
buto/Iniciador
Mental Perceber/ Experienciador/Fenômeno
pensar/gostar/desear
Relacional Ser/estar/ter Portador/Atributo/Identificador/Ident
ificado
Verbal Falar/dizer Dizente/Verbiagem/Receptor/Alvo

Comportamental Comportar-se Comportante /Comportamento


Existencial Existir/haver Existente
Fonte: Adaptado de DeSouza (2011a, p. 52)

Como ilustrado no Quadro 2, os processos materiais são os processos do ‘fazer’ ou


‘acontecer’, relacionados às experiências do mundo externo. Nesse tipo de processo há
sempre um Ator (que realiza a ação), e pode ou não haver uma Meta (a quem e/ou o que o
processo é direcionado). O exemplo a seguir apresenta uma oração material:

Figura 2 – Exemplo de oração material


8

Ela Passou a faixa


Ator Proc. Material Meta
Fonte: Veja 07/10/2015

Além do Ator e da Meta, outros participantes podem estar envolvidos em processos de


orações materiais. Esses participantes adicionais são: o Beneficiário, o Atributo e o Escopo. O
Beneficiário é a entidade que recebe os benefícios do resultado do processo, podendo ser
classificado em Recebedor ou Cliente, sendo Recebedor o que recebe os bens e Cliente o que
recebe os serviços. O Atributo é uma qualificação atribuída ao Ator ou a Meta como resultado
da conclusão de um processo de ação. E por fim, o Escopo interpreta um domínio sobre o qual
ocorre um processo, mas não é afetado pela ação diretamente como a Meta potencialmente faz
(DESOUZA, 2011a; FUZER; CABRAL, 2014).
Os processos mentais, diferentemente dos processos materiais, são representados por
verbos relacionados às experiências do mundo interno - sentimentos, cognição, percepção e
desejo. Os participantes deste tipo de processo são o Experienciador (aquele que sente, pensa
e/ou percebe) e o Fenômeno (aquilo que é sentido, pensado e/ou percebido). Na oração a
seguir, por exemplo, há o Experienciador representado pelo pronome ‘Eles’, o processo
mental cognitivo ‘saber’ e o Fenômeno ‘de tudo’:

Figura 3 – exemplo de oração mental


Eles Sabiam de tudo
Experienciador Proc. Mental Fenômeno
Fonte: Veja 29/10/2014

O terceiro tipo de processo principal é o relacional. Os processos relacionais dizem


respeito aos processos do ser ou estar e do ter e são usados para representar as características
ou identidades de entidades na relação com outras. Nesse sentido, nas orações relacionais há
sempre dois participantes inerentes. Segundo Halliday e Matthiessen (2014), essas orações
podem ser atributivas ou identificativas, que, por sua vez, operam em três tipos principais de
relação: intensivas, possessivas e circunstanciais. No modo atributivo, o participante é o
Portador de alguma qualidade atribuída a ele (o Atributo). Ao passo que no modo
identificativo, o participante é o elemento que possui uma identidade realizada por um
Identificador.
9

Figura 4 – exemplos de orações relacionais


Uma ex-cara-pintada e um ex-petista São os autores do pedido.
Portador Proc. Relacional Atributo
Atributivo

Dilma Rousseff foi a primeira mulher presidente do


Brasil.
Identificado Proc. Relacional Identificador
identificativo
Fonte: Veja

O primeiro dos processos secundários é o verbal. Os processos verbais são os


processos do dizer e do comunicar, incluindo verbos como dizer, afirmar ou perguntar, por
exemplo. O participante que diz ou comunica algo é o Dizente, enquanto o que é dito é
definido como a Verbiagem. Além desses participantes, alguns processos verbais podem
apresentar também um Receptor e um Alvo. O Receptor é o participante a quem a Verbiagem
é destinada. E o Alvo, diferentemente do Receptor, é a entidade que é atingida pelo processo
verbal, não sendo necessariamente humana (GOUVEIA, 2009).

Figura 5 – exemplo de oração verbal


OAB Diz que Rodrigo Maia ‘atrasa a vida do país e agrava a
crise’
Dizente Proc. Verbal Verbiagem
Fonte: Veja 28/06/2017

Segundo, têm-se os processos comportamentais que representam os comportamentos


fisiológicos e psicológicos (tipicamente humanos), como respirar, tossir, sorrir, sonhar e olhar
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014, p. 301). No entanto, como observado por Fuzer e
Cabral (2014, p. 77), não há nitidez nas características desse tipo de processo, visto que
“podem ter um pouco de material, um pouco de mental e/ ou u pouco de verbal.” O
participante nesse tipo de processo é o Comportante, geralmente consciente, como vemos no
exemplo seguinte:
10

Figura 6 – exemplo de oração comportamental


A presidente se isola no palácio.
Comportante Proc. Comportamental Cir. (lugar)
Fonte: Veja 12/09/2014.

O último tipo de processo é o existencial. Os processos existenciais representam algo


que existe, realizados tipicamente em português, pelos verbos ‘haver’ e ‘existir’. O único
participante das orações existenciais é o Existente (DESOUZA, 2011a, p. 56). A figura 7
exprime um exemplo desse tipo de processo em uma oração:

Figura 7 – exemplo de oração existencial


[...] sem dinheiro não há corrupção.
Circunstância Proc. Existencial Existente
Fonte: Veja 11/07/2017

Adicionalmente aos processos e seus participantes, o sistema de transitividade inclui


também circunstâncias, que podem ocorrer frequentemente em todos os processos. As
circunstâncias expressas nas orações podem ser de tempo, espaço, modo ou causa etc. Elas
são responsáveis pela descrição das contingências de realização dos processos.

2.2 A Gramática do Design Visual

A Gramática do Design Visual consiste em uma proposta teórico-metodológica


elaborada e organizada na obra Reading Images: The gramar of Visual Design pelos
sistemicistas Kress e van Leeuwen publicada originalmente em 1996 e mais recentemente em
2006 (edição utilizada neste trabalho). Nesta obra, os teóricos apontam um conceito de
gramática que é descritiva. Eles procuram fornecer aparatos para a análise sintática e
semântica de imagens, visto que buscam descrever o modo como os elementos visuais
pessoas, lugares e coisas se combinam para formar conjuntos significativos (KRESS; VAN
LEEUWEN, 2006).
Nesse sentido, tomando como base a abordagem tri-funcional de Halliday e
Matthissen (2014), Kress e van Leeuwen defendem que assim como a linguagem verbal, a
linguagem visual aponta para interpretações particulares da experiência e das formas de
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interação social (2006, p.2), logo, as composições visuais também se articulam para produzir
significados ideacionais, interpessoais e textuais.
Nesse viés, os autores adaptam as metafunções de Halliday para falar de significados
representacionais, interativos e composicionais, categorias usadas para analisar imagens,
como explicitado no quadro comparativo abaixo:

Quadro 3 - As metafunções na GSF e na GDV


GDV (Kress e van Leeuwen,
LSF (Halliday, 1978)
1996)
METAFUNÇÕES
IDEACIONAL REPRESENTACIONAL
INTERPESSOAL INTERATIVA
TEXTUAL COMPOSICIONAL
Fonte: Adaptado de Almeida (2006)

A função representacional, equivalente à metafunção ideacional de Halliday, diz


respeito às ações, eventos, participantes e circunstâncias envolvidas na construção das
imagens. Enquanto a função interativa, em consonância com a interpessoal, determina os
elementos que circundam as relações entre o produtor da imagem e os participantes
representados, dentre elas, a relação de afastamento ou envolvimento e as relações de poder.
Por fim, o componente composicional ou textual para a LSF se refere à organização dos
elementos visuais na construção de um todo significativo. Do mesmo modo que nas orações,
esses significados são realizados simultaneamente, mas por questões de método se separa eles
para estudo.
Logo, com base nos propósitos desta pesquisa, os três significados propostos por Kress
e van Leeuwen (2006) serão explorados mais detalhadamente na subseção seguinte, com
destaque às categorias – estruturas narrativas e conceituais, contanto, distância social e
perspectiva e também valor informacional, saliência e enquadramento - mais pertinentes ao
objetivo desta pesquisa em analisar os aspectos ideológicos subjacentes às escolhas realizadas
pela revista ao representar a ex-presidente Dilma Rousseff.

2.2.1 Significados Representacionais

Equivalente à metafunção ideacional de Halliday, o significado representacional visual


refere-se aos aspectos do mundo experiencial, ou seja, às diferentes formas de representar o
mundo visualmente. Em outras palavras, ele transmite a relação entre os participantes
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representados em uma composição visual (ALMEIDA, 2006). Kress e van Leeuwen (2006,
p.42) definem como “a capacidade dos sistemas semióticos para representar objetos e suas
relações em um mundo fora do sistema representacional ou em sistemas semióticos de uma
cultura”, e esses ‘objetos’ podem ser identificados como Participantes”.
De acordo com os autores, em cada ato semiótico há dois tipos de participantes
envolvidos, são eles: os participantes representados, aqueles “sobre quem ou que falamos ou
escrevemos ou produzimos imagens” e os participantes interativos, os “que falam ou escutam
ou escrevem ou leem, fazem imagens ou as veem” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p. 48).
Os significados representacionais podem ser realizados por duas estruturas básicas: as
narrativas e as conceituais.
As estruturas narrativas descrevem os participantes fazendo algo ou realizando uma
ação. Elas são caracterizadas pela presença de um vetor que conecta os participantes. Os
vetores são as linhas de ação, que indicam os movimentos realizados pelos participantes,
representados por setas ou linhas (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006):

A B

Dependendo do tipo de vetor e dos participantes envolvidos na ação ou no evento, as


estruturas narrativas são realizadas por quatro processos principais: de ação, de reação, de fala
e mental.
No Processo de ação, o Ator é o participante que faz a ação, de quem o vetor emana e
o participante para o qual o vetor aponta tem o papel de Meta, aquele a quem a ação é
direcionada. Quando há a presença de um Ator e uma Meta, temos uma relação Transacional.
Em contrapartida, quando as imagens apresentam apenas um participante, geralmente o Ator,
a estrutura é denominada de não-transacional. Ademais, em algumas estruturas, cada
participante pode exercer tanto o papel de Ator como o de Meta. A esse fato, diz-se que a
estrutura é transacional bidirecional, podendo ser representada por uma seta com duas pontas
(indicando simultaneidade) ou por duas setas separadas (indicando sequencialidade):

(KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p.66)

Aos participantes deste tipo de estrutura, Kress e van Leeuwen chamam de


‘Interactores’, indicando seu duplo papel (ibid., p. 66).
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Quando o vetor é formado por uma linha de olhar, pela direção fixa do olhar de um ou
mais participantes, o processo é chamado reacional. Nesse tipo de processo, os participantes
são: o Reator5 “participante que faz a ação de ver, e deve ser necessariamente humano, ou um
animal considerado quase humano” (ibid., p. 67), e o Fenômeno, participante para quem o
Reator olha. Assim como as ações, as reações podem ser Transacionais quando apresentam
Reator e Fenômeno ou Não-transacionais quando há apenas um participante, o Reator:

Figura 86 – Reacional Transacional Figura 9 – Reacional não-transacional

Fonte: Veja (Ed. 2407, 02/01/2015) Fonte: Veja (Ed. 2455, 09/12/2015)

Na figura 8, por exemplo, Dilma Rousseff forma o Reator, enquanto o participante na


sua frente é o Fenômeno, constituindo assim um processo reacional transacional. Já na figura
9, o processo reacional é não-transacional, pois não é possível identificar o objeto ou a pessoa
do olhar da participante representada Dilma Rousseff.
Além dos processos de ação e reação, existem também os processos de fala e os
processos mentais, representados visualmente por balões de diálogo e de pensamento. Nesses
processos, os participantes são definidos como Dizente e Verbiagem, no caso dos processos
verbais, e Experienciador e Fenômeno, quanto aos processos mentais (ALMEIDA, 2006). O
Experienciador corresponde ao participante de quem o vetor do balão de pensamento emana e
o Fenômeno é o participante direcionado pelo balão de pensamento. Com relação aos
processos verbais, o Dizente é o participante de quem o balão de diálogo emana e a
Verbiagem corresponde ao participante (verbal) incluído no balão de diálogo (KRESS; VAN
LEEUWEN, 2006).

5
Tradução adotada por Araújo (2015).
6
Exemplos utilizados nesta seção foram retirados do acervo digital da revista Veja disponível em:
<http://acervo.veja.abril.com.br>
14

Ao contrário das estruturas narrativas, nas estruturas conceituais não há a presença de


um vetor. De acordo com Kress e van Leeuwen (2006, p. 59) elas descrevem a situação geral
dos participantes “em termos de sua classe, estrutura ou significado, em outras palavras, em
termos de sua essência7 [...]”. No visual, as representações conceituais são realizadas por
processos classificacionais, simbólicos ou analíticos.
Os processos classificacionais sugerem um tipo de relação taxonômica entre os
participantes, em que “pelos menos um grupo de participantes desempenhará o papel de
Subordinados em relação a outro participante, o Superordenado8”(KRESS; VAN
LEEUWEN, 2006:79, itálico dos autores, tradução nossa). Essa relação é denominada de
Covert Taxonomy quando os Subordinados são representados com características semelhantes
que o observador da imagem pode perceber que existem entre os Subordinados. Quando são
apenas indicadas no texto que acompanha é denominada de Overt Taxonomy. Em resumo, um
processo classificatório consiste na disposição dos elementos ou participantes na imagem em
forma de estruturas hierárquicas, onde as categorias à qual pertencem são percebidas através
das semelhanças entre eles ou pelos textos que acompanham.
Os processos simbólicos definem o significado ou a identidade de um participante.
Esse tipo de processo pode ser de dois tipos; atributivo, quando há dois participantes: o
Portador, participante cujo significado é estabelecido e o Atributo Simbólico, participante que
representa o significado; ou sugestivo, quando apresenta apenas um participante, o Portador
(SANTOS, 2013).
E finalmente, nos processos analíticos, os participantes se relacionam através de uma
relação parte-todo. Seus participantes são: o Portador (o todo) e os Atributos possuídos (as
partes).

2.2.2 Significados interativos

Além dos recursos para representar pessoas, lugares e coisas nas imagens, a
comunicação visual também dispõe de recursos para construir uma interação entre o produtor
e o visualizador da imagem ou entre quem vê e o que é visto. Em outros termos, como já
mencionado, um ato semiótico envolve dois tipos de participantes, os participantes
representados (as pessoas, lugares e coisas retratadas nas imagens) e os participantes

7
Na fonte: Where conceptual patterns represent participants in terms of their class, structure or meaning, in
other words, in terms of their generalized and more or less stable and timeless essence [...].
8
[...] at least one set of participants will play the role of Subordinates with respect to at least one other
participant, the Superordinate.
15

interativos (os produtores e espectadores das imagens). Assim sendo, esses participantes
estabelecem relações particulares entre si, observadas através de algumas dimensões
propostas por Kress e van Leeuwen (2006):
a) Contato (ou olhar): consiste no tamanho da interação entre participante
representado e participante interativo, podendo ser de demanda ou oferta. Almeida (2006, p.
104) explica que, por exemplo, quando o participante representado em uma proposição
imagética é apresentado olhando diretamente para os olhos do espectador, ele produz um tipo
de relação de demanda, como é possível observar na figura 10, capa da edição 2382, de 16 de
julho de 2014. De antemão, quando o participante representado é retratado sem olhar nos
olhos do espectador, tornando-se apenas um objeto para contemplação, temos uma imagem
dita de oferta, conforme retratado na figura 11, capa da edição 2399, de 12 de novembro de
2014.
Figura 10 – Contato de demanda Figura 11 – Contato de oferta

Fonte: Veja (Ed. 2382, 14/07/2014) Fonte: Veja (Ed. 2399, 12/09/2014)

b) Distância social: essa categoria se refere ao grau de proximidade entre participante


representado (PR) e observador que é determinada pela escolha do plano da imagem. Assim,
pessoas mostradas em plano fechado (somente cabeça e ombro) denotam simbolicamente uma
intimidade entre PR e leitor/visualizador. Ao passo que imagens em plano médio (corta a
imagem ao meio) ou em plano aberto (mostra a figura de forma completa) indicam uma
distância maior entre eles. Existem ainda outras formas de enquadramento, entretanto,
consideramos estes mais pertinentes à análise aqui proposta.
c) Perspectiva: refere-se ao ângulo ou ponto de vista escolhido pelo produtor da
imagem e implica na possibilidade de expressar atitudes subjetivas ou objetivas do espectador
em relação aos participantes representados. Atitudes subjetivas são expressas pelos ângulos
16

frontal, oblíquo ou vertical. A imagem em ângulo frontal implica uma atitude de


envolvimento entre participante representado e o público; em ângulo oblíquo, por sua vez,
consiste em um distanciamento e, em ângulo vertical compreende as relações de poder
estabelecidas pela posição do ângulo. O quadro seguinte apresenta uma síntese dos aspectos
interativos que determinam o tipo de relacionamento entre PR e espectador:

Quadro 4 – Sumário dos significados interativos


Significados interativos
Realização Significado
Contato/olhar Demanda: olhar para o Demanda: afinidade social
espectador com o espectador
Oferta: ausência do olhar Oferta: contemplação,
para o espectador exame minucioso pelo
espectador
Distância social/ tamanho Plano fechado: cabeça e Plano fechado: intimidade
da moldura ombros com o espectador
Plano médio: da cintura Plano médio: distância
para cima social
Plano aberto: corpo todo + Plano aberto:
espaço circundante distanciamento do
espectador
Perspectiva/Ponto de Ângulo frontal Ângulo frontal:
vista Ângulo oblíquo envolvimento
Ângulo vertical: alto, baixo Ângulo oblíquo:
e Ângulo no nível dos distanciamento
olhos Ângulo vertical: relação de
poder:
[1] ângulo alto: poder do
espectador
[2] ângulo no nível dos
olhos: igualdade de poder
[3] ângulo baixo: poder do
participante representado
Fonte: Adaptado de Kress e van Leeuwen (1996) por Almeida (2006, p. 110)

No que diz respeito às atitudes objetivas, Kress e van Leeuwen (2006, p.143 apud
Fernandes, 2011, p. 31) ressaltam que atitudes objetivas são utilizadas na representação de
diagramas, mapas e tabelas, podendo ser retratadas com um ângulo frontal ou com um ângulo
de cima para baixo, com o objetivo de neutralizar distorções relativas à perspectiva.
Vale ressaltar que o nível interacional possui outras categorias de análise, como a
modalidade, que se refere à confiabilidade das mensagens. No entanto, optamos por explorar
com mais veemência as três categorias acima descritas, pois, considerando a natureza do
17

corpus escolhido e os propósitos deste trabalho, elas fornecem uma melhor descrição da
relação entre os elementos das imagens e o observador/leitor, sobretudo, no que concerne aos
objetivos da revista ao fazer tais escolhas simbólicas.
Dito isto, depois de descrever os significados interativos mais relevantes para esta
pesquisa, buscamos na subseção 2.2.3 descrever os elementos concernentes aos significados
composicionais das imagens.

2.2.3 Significados composicionais

O significado composicional visual diz respeito à disposição dos elementos que


compõem a imagem, exprimindo relações particulares. Os três recursos principais são: valor
informacional, saliência e enquadramento.
O valor informacional trata do posicionamento dos participantes em uma composição
visual: esquerda e direita (dado e novo), superior e inferior (ideal e real), centro e margem.
Na divisão esquerda/direita, o lado esquerdo apresenta a informação dada e o lado direito a
informação nova. Por sua vez, na posição superior/inferior, os elementos constitutivos
posicionados na parte superior representam o Ideal e os colocados na parte inferior da imagem
são identificados como o Real. Além destas, a composição visual também pode ser
estruturada ao longo das dimensões do centro e da margem. De forma geral, se um
participante é colocado no centro, ele pode ser considerado o núcleo da informação e os
elementos dispostos nas margens constituem as informações complementares e/ou
contextualizadoras.
As capas abaixo exemplificam os diferentes valores informacionais:

Figura 12 - Valor informacional: Dado/Novo Figura 13 – Valor informacional: Ideal/Real

Fonte: Veja (Ed. 2397, 29/10/2014) Fonte: Veja (Ed. 2409, 21/01/2015)
18

Segundo Kress e van Leeuwen (2006, p. 201), a composição de uma imagem também
envolve os diferentes graus de relevância dos elementos. A saliência sugere a importância
entre os elementos, elegendo alguns como mais relevantes. Essa relevância resulta da relação
entre alguns fatores como: tamanho, contraste de cores, nitidez, perspectiva (elementos em
primeiro plano ou que se sobrepõem são mais salientes), entre outros. Em suma, os
componentes que chamam mais atenção na imagem criando uma hierarquia no grau de
importância são ditos mais salientes.
A terceira categoria da composição é o enquadramento. O enquadramento marca o
nível de conexão ou desconexão entre os participantes ou grupos de participantes. Em
imagens que apresentam retratos de grupos, por exemplo, quanto mais forte o enquadramento
de um participante em relação aos outros, maior é sua desconexão. Enquanto a ausência de
enquadramento enfatiza a identidade do grupo (ibid., 2006, p. 203).
Como mencionado anteriormente, este trabalho tem como objetivo analisar as
representações da ex-presidente Dilma Rousseff em seis capas da Revista Veja, considerando
os diferentes contextos sócio-políticos do Brasil. Sendo assim, explicitados os aparatos
teóricos que embasam a análise verbal e a análise visual das capas, partimos agora aos pontos
referentes ao conceito de ideologia (DESOUZA, 2015), que serve de base para o exame dos
aspectos contextuais.

3 O CONCEITO DE IDEOLOGIA

Kress e van Leeuwen (2006) destacam que as imagens não reproduzem simplesmente
as estruturas da realidade. Ao contrário, elas estão ligadas aos interesses das instituições
sociais onde são produzidas, circuladas e lidas, e eles são ideológicos. Dito isso, nesse
trabalho, partimos da tentativa de sistematização do conceito de ideologia proposto por
DeSouza (2015) para estabelecermos a relação entre os potenciais significados verbais e
visuais acionados na composição das capas da revista e a posição político-ideológica
empreendida.
O conceito de ideologia é bastante complexo. A complexidade se dá pelas diferentes
visões que o termo adquiriu ao longo da história. A primeira concepção foi introduzida pelo
filósofo francês Destutt de Tracy que atribuía uma conotação positiva ao termo. Todavia, mais
tarde, especialmente em abordagens marxistas, o conceito ganhou uma conotação negativa,
relacionando-se com a ideia de Marx e Engels sobre a luta de classes.
19

Diferente da concepção marxista, DeSouza (ibid.), em conformidade com teóricos


como Fairclough, entende que a ideologia pode ser negativa e/ou positiva, uma vez que pode
manter uma estrutura de poder dominante, mas também desafiá-la e contribuir para possíveis
mudanças nessas estruturas. Além disso, outro aspecto observado pelo autor é que “o
conteúdo ideológico pode ser acessado através do discurso” (DESOUZA, 2015, p. 426),
componente desconsiderado por outras noções de ideologia.
Nesse sentido, DeSouza (2015), com o objetivo de transformá-lo em uma ferramenta
de análise linguístico-discursiva, elabora um conceito multiestratal de ideologia, que abrange
diferentes dimensões, a saber, a antropológica, a política, a social, a religiosa, a histórica e a
semiótico-discursiva, como ilustrado na figura a seguir:

Figura – Conceito multiestratal de Ideologia

Fonte: Adaptado de DeSouza (2015, p.427)

Para explicar a proposta gráfica construída, DeSouza (2015) apresenta como as seis
dimensões que materializam o conceito de ideologia contribuíram para análise das relações de
poder no discurso político do Padre Cícero em DeSouza (2011a). Assim, de acordo com o
autor, a dimensão antropológica serviu para a melhor compreensão da história de Juazeiro do
Norte. Focalizando a dimensão política, por sua vez, permitiu-o entender o contexto político
da região e os atores sociais mais relevantes. As outras dimensões colaboraram,
20

respectivamente, para o entendimento dos aspectos sociais e religiosos. E por fim, a dimensão
semiótico-discursiva serviu para indagar sobre como o conteúdo ideológico foi instanciado
nos textos. Nesta pesquisa, esse conceito nos permite situar os dados analisados como
ideológicos em relação aos seus contextos sócio-históricos específicos.
Dadas todas as considerações teóricas realizadas, na próxima seção explicitamos os
procedimentos metodológicos empreendidos para o exame das capas.

4 METODOLOGIA

4.1 Seleção do corpus

Uma pesquisa envolve um conjunto de escolhas metodológicas realizadas para


alcançar determinados objetivos. Tendo dito isso, este trabalho utilizou um corpus formado
pelas capas de seis edições da Revista Veja, focalizando três anos específicos: o ano de 2014,
período de eleição presidencial que Dilma concorria ao segundo mandato; o ano de 2015,
período de crise na política e de manifestações populares; e o ano de 2016, período de
abertura do processo de impeachment que levou à cassação do mandato da presidente Dilma
Rousseff. Essas capas foram coletadas através do acervo digital da referida revista disponível
em: <acervo.veja.abril.com.br>.
A seleção da Veja como objeto de estudo se deu pela ampla cobertura dada à Dilma
Rousseff e o partido que ela representa, o PT. Além disso, a grande circulação e a visibilidade
da revista em âmbito nacional também foram fatores determinantes da nossa escolha.
Selecionado o periódico, as capas que trazem diretamente a imagem de Dilma Rousseff
construíram o critério para delimitação das edições que seriam analisadas. Dessas edições,
fizemos um recorte de duas capas de cada ano, conforme listadas no quadro a seguir:

Quadro 5 - capas selecionadas para corpus da pesquisa


Data Título da capa
26/03/2014 O QUE ERA SOLUÇÃO VIROU PROBLEMA
30/04/2014 SE PUXAR MAIS, RASGA!
07/10/2015 ELA PASSOU A FAIXA
16/12/2015 A MÁQUINA DO ATRASO DE DILMA
20/04/2016 FORA DO BARALHO
11/05/2016 TCHAU QUERIDA, TCHAU QUERIDO!
21

4.2 Categorias de análise

A metodologia do trabalho baseia-se na análise da relação verbo-visual na construção


das representações da ex-presidente Dilma Rousseff nas seis capas da revista Veja. A análise
léxicogramatical dos textos verbais foi realizada a partir do sistema de transitividade, com
base em Halliday e Mathiessen (2014). No que concerne à análise visual, foi considerado o
método semiótico de análise de imagens proposto por Kress e Van Leeuwen (2006),
considerando as seguintes categorias:
a) Estruturas narrativas e conceituais;
b) Contato, Distância social e perspectiva;
c) Valor informacional, saliência e enquadramento.
Cabe ressaltar que apesar de indicarmos as principais categorias visuais que foram
analisadas, em algumas capas ressaltamos os aspectos mais importantes na construção da
representação da ex-presidente Dilma Rousseff.
Por sua vez, os aspectos contextuais são examinados segundo DeSouza (2015), que
propõe um conceito de ideologia como uma ferramenta de análise linguístico-discursiva
realizada simultaneamente a partir de diferentes estratos, sendo eles, o antropológico, o
político, o social, o religioso, o histórico e o semiótico-discursivo.
Com base no corpus pretendido, tomamos a dimensão política como mais pertinente
aos propósitos desta pesquisa, visto que analisaremos questões ideológicas concernentes ao
cenário político brasileiro, como a histórica divisão política entre direita e esquerda, por
exemplo.

4.3 Procedimentos de análise

Conforme observado por Kress e van Leeuwen (2006), podemos expressar o mesmo
significado no texto ou na imagem, entretanto, ele será realizado de forma diferente. Deste
modo, neste trabalho, optamos por fazer análises separadas dos dois modos semióticos. Por
conseguinte, nas análises das capas, o primeiro passo foi a descrição e separação das
informações verbais em orações9, feito isso, aplicamos o instrumental de análise do Sistema
de Transitividade com base em Halliday e Matthiessen (2014), observando-se os padrões das
escolhas de transitividade na construção dos significados ideacionais.

9
Textos presentes nos anexos deste artigo.
22

Em seguida, deu-se início à análise visual das capas a partir de algumas categorias
elaboradas por Kress e van Leeuwen (2006) em Reading Images: the grammar of visual
design. Sendo assim, investigamos as estruturas representacionais utilizadas, o caráter
interacional entre os participantes representados e o espectador/leitor e, ao final, analisamos
aspectos relacionadas à disposição dos elementos na composição imagética. É importante
frisar que as duas análises seguem exatamente a ordem cronológica em que as capas foram
publicadas.
Por fim, para discutir os resultados da análise, utilizamos o conceito multiestratal de
DeSouza (2015), que possibilita a compreensão dos aspectos contextuais envolvidos na
elaboração das capas.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção, apresentamos e discutimos os resultados do presente trabalho, cujo


objetivo é investigar a representação da ex-presidente Dilma Rousseff em seis capas da revista
Veja. Esse objetivo geral originou algumas questões chaves desta pesquisa: (1) Como essa
representação se materializou através das escolhas verbais e visuais de elaboração dessas
capas; (2) A Veja representou de forma diferente ou semelhante, verbal e visualmente, a
imagem da ex-presidente; (3) Como essas representações foram impactadas pelos três
períodos específicos. Para responder essas questões, esta seção organiza-se em duas
subseções. Na primeira subseção, explicitamos os resultados da análise de transitividade dos
textos verbais. Na subseção seguinte, apresentamos os resultados da análise dos significados
visuais das capas de cada ano escolhido. Ao final, discutimos os resultados obtidos através do
conceito multiestratal de ideologia proposto em DeSouza (2015).

5.1 Análise verbal

O sistema de transitividade, que está no estrato léxico-gramatical, permite uma análise


dos significados ideacionais-experienciais das orações, realizados através das escolhas dos
tipos de processo e da relação estabelecida com os participantes e as circunstâncias.
Nesta seção, apresentamos os resultados obtidos a partir da análise de transitividade
dos textos verbais presentes nas capas da revista Veja. Com isso, podemos quantificar as
ocorrências dos processos10 na tabela seguinte:

10
A classificação completa dos processos está reproduzida em anexo.
23

Tabela 1 – Quantidade de ocorrências dos processos


PROCESSO QUANTIDADE DE %
OCORRÊNCIAS
Material 16 76,2
Relacional 3 14,3
Verbal 1 4,7
Mental 1 4,7
Comportamental 0 0
Existencial 0 0
Total 21 100

De acordo com a tabela acima, há uma prevalência da utilização de processos


materiais (76,2%). Sobretudo, quanto às orações que se referem diretamente à ex-presidente
Dilma Rousseff, a maioria dos processos são materiais (52,3%). Conforme já mencionado, os
processos materiais correspondem a ações do mundo externo, ou seja, ‘ações concretas’. Nos
processos materiais observados, Dilma exerce sempre o papel de Ator, como evidenciado nas
orações seguintes:

Dilma Fez (quase) tudo certo no caso de Pasadena


1 Ator Proc. Material Meta Circunstância

Ela Passou a faixa


11 Ator Proc. Material Meta

Dilma Entrega o núcleo do a Lula


12 Ator Proc. Material
governo
Meta Beneficiário

Além disso, pode-se observar também que as Metas são, em sua maioria, de teor
negativo. Supondo-se assim, a ineficiência do governo Dilma, uma vez que esse não ‘fez’
nada positivo para o Brasil. Na edição de 2015, por exemplo, a revista traz uma série de
‘ações negativas’ atribuídas à presidente:

ATOR PROC. MATERIAL METAS


A presidente Fez a indústria retroceder 65 anos
24

[A presidente] [fez] a política econômica voltar ao


tempo do estatismo militar
[A presidente] [fez] a recessão punir os brasileiros
[A presidente] [fez] a inflação de 10% rugir

Aqui todas as Metas relacionadas ao processo material ‘fez’ são atribuídas ‘A


presidente’, a participante que esteve diretamente ligada à execução de todas essas ações. Essa
escolha sugere também uma centralização de poder, em que a Presidente, como autoridade
máxima, é responsável pelos problemas nos diferentes setores do país, na indústria, na política
e na economia. Esses textos mostram que Dilma é assim interpretada como uma pessoa que
exerce um cargo importante e que suas ações têm impacto direto na política e na economia do
Brasil.
De acordo com Halliday e Matthiessen (2014), os processos relacionais servem para
caracterizar e identificar por meio de dois modos, o atributivo e o identificativo. Assim, nas
orações em que há processos relacionais (14,3%), a revista não se remete diretamente à Dilma
Rousseff, mas relaciona fatos às circunstâncias que envolvem a ex-presidente:

Com o o Brasil Tem chance histórica de


15 impeachment de
Dilma e a queda de
fazer uma limpeza
na vida pública
Cunha
Circunstância Portador Proc. Relacional Atributo

Por que a derrocada do É o primeiro revés de Temer


17 deputado
Atributo Circunstancial Proc. Relacional Portador

No recorte (15), o processo relacional ‘tem’ é um processo relacional possessivo, em


que a relação de posse estabelecida o entre Portador e Atributo está associada à circunstância
‘Com o impeachment de Dilma e a queda de Cunha’. Já no recorte (17) têm-se um processo
relacional circunstancial, onde é atribuído o ‘revés de Temer’ à derrocada do deputado
Eduardo Cunha. Em suma, nos dois recortes a revista atribui possíveis acontecimentos a
circunstâncias específicas. A respeito dessa atribuição específica, Souza (2016, p.17) destaca
que “a “fulanização” da corrupção, como se ela fosse privilégio de políticos e partidos
específicos, e não uma variável estrutural da nossa política, é a prova mais cabal de um debate
público sistematicamente distorcido pela grande mídia”. Em resumo, ao relacionar a chance
25

histórica do Brasil de fazer uma limpeza na vida pública ao impeachment de Dilma Rousseff e
a queda de Cunha, e o primeiro revés de Temer à derrocada de Cunha, a revista demonstra
uma visão particular do cenário político do Brasil. Isso acontece porque segundo Charaudeau
(2006), as mídias impõem suas escolhas dos acontecimentos, manipulando assim os fatos a
partir de seus próprios interesses e de suas posições ideológicas.
Percebemos com a análise destes processos relacionais a atribuição de uma mudança
na política brasileira ao afastamento de políticos específicos. Ao passo que a representação
feita pelo processo material ‘Fazer’ atraía Metas negativas realizadas também por um político
especifico, no caso, a então presidente Dilma Rousseff. De forma geral, a revista constrói
uma imagem negativa da ex-presidente Dilma Rousseff, seja pelo fato da sua saída trazer
benefícios para o Brasil, ou quando ainda estava no cargo e com suas ações trouxe problemas
para os diferentes setores do país.
É importante frisar que devido à pouca ocorrência dos demais processos, e como nosso
objetivo foi analisar os padrões de escolhas de processos, não consideramos pertinentes trazê-
los para análise realizada nesta seção.

5.2 Análise visual

Nesta seção, analisamos a composição visual das seis capas da Veja. Para a melhor
compreensão das representações da ex-presidente Dilma Rousseff, analisamos as capas em
ordem cronológica, sendo as duas primeiras capas do ano de 2014, a terceira e a quarta de
2015 e a quinta e a sexta do ano de 2016.
a) A campanha presidencial em 2014
Figura 14 – Capa 1 (2014)
26

A figura 14, capa da edição nº 2366, de 26 de Março de 2014, mostra a então


presidente Dilma Rousseff ao centro. Ainda no centro, o título “O QUE ERA SOLUÇÃO
VIROU PROBLEMA”, está escrito com letras maiúsculas e na cor branca em contraste ao
fundo preto. A capa em questão refere-se ao caso da compra da refinaria de Pasadena pela
Petrobras, realizada no ano de 2006, período em que Dilma Rousseff era a atual presidente da
República. Porém, a edição foi publicada no ano de 2014, ano de eleição, na qual Dilma
concorreria ao segundo mandato.
Em relação aos significados representacionais, observa-se que há uma estrutura
narrativa de ação, uma vez que a Participante representada (Dilma Rousseff) está executando
uma ação representada pelos vetores saindo de suas mãos. Além disso, um processo de reação
coexiste, pois ela está envolvida em um processo de olhar, em que também não temos acesso
ao objeto do seu olhar. Nesse sentido, Dilma é o Ator e o Reator. No primeiro caso, a PR está
com as mãos levantadas em posição de defesa, no entanto não temos acesso ao objeto no qual
é direcionada esse movimento de defesa (meta), caracterizando o processo como não-
transacional. Em segunda instância, na mesma imagem há um processo do olhar, em que o
Reator observa fixamente o mesmo objeto que não é apresentado.
Em relação às dimensões interativas, a participante apresenta olhar de oferta, em que
não direciona seu olhar para o espectador, mas para algo ou alguém não retratado imagem,
demarcando uma menor interação entre quem vê e o que é visto. Nesse caso, a PR é apenas
um objeto para contemplação. No que diz respeito à distância social, a PR é retratada em
plano médio. A esse respeito, Araújo (2015) argumenta que o fato da imagem aparecer em
plano médio sugere que devido aos indícios de corrupção, ela está gradativamente se
afastando do leitor (eleitor). Partilhamos desta concepção, visto que a apresentação em plano
médio nos permite fazer inferências sobre o contexto situacional. Na capa, Dilma está imersa
em um líquido preto, que, considerando as informações verbais e o macacão laranja usado por
ela, podemos inferir ser um poço de petróleo. Ainda, pode-se inferir que aparentemente ela
caiu ou está se afundando nesse poço de petróleo, uma vez que o líquido preto é mostrado
com pequenas ondulações. O ângulo utilizado na foto foi o vertical alto, que estabelece uma
relação de poder do espectador/leitor sobre o participante representado. A relação que se
estabelece, no caso, é entre a atual presidente, candidata à reeleição, e seus eleitores, que
detinham o poder de reelegê-la ou não.
Quanto aos aspectos composicionais, a imagem de Dilma, imersa no petróleo,
posicionada ao centro constitui a informação principal da edição. A capa não apresenta
elementos nas margens, uma vez que Dilma é a única participante representada.
27

Figura 15 – Capa 2 (2014)

Observando os significados representacionais na edição 2371 de Abril de 2014, estão


presentes nas capas os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff como participantes
representados (PR) dentro de estruturas narrativas, marcados por processos de ação cujo
objetivo é retratar a ação simultânea de puxar (representado pela seta de duas pontas).
Essa ação é Transacional, porque retrata "uma ação que ocorre entre duas partes11"
(JEWITT; OYAMA, 2001, p. 143, tradução nossa), e Bidirecional, já que ambos os
participantes assumem o papel de Ator, simultaneamente. A meta, geralmente, é o
participante que o vetor é dirigido, na imagem em questão, a faixa presidencial. Além disso, o
título “SE PUXAR MAIS, RASGA!” escrito em vermelho reforça a noção da disputa dentro
do partido (PT). Então, a revista tenta, ao mostrar que não há consenso entre os próprios
políticos petistas, provocar dúvidas nos eleitores sobre as eleições presidenciais.
Outro aspecto observável é a utilização de caricatura para representar os participantes.
Para Guimarães (2006, p.119), “a caricatura e a charge política nas capas de revista quase
sempre ridicularizam a personalidade retratada.” Na revista Veja, essa utilização pode ser
visualizada em outras edições da revista:

11
[...] an action taking place between two parties.
28

Em setembro de 2006, Veja trouxe a imagem do então presidente Lula em forma de


caricatura com os olhos cobertos pela faixa presidencial. Igualmente, em março de 2015, ela
exibe a imagem de Dilma Rousseff em caricatura e também com os olhos cobertos pela faixa
de presidente. As duas capas foram publicadas em períodos na política e na economia do
Brasil, logo, a revista materializa uma imagem de desconhecimento dos presidentes para os
problemas do Brasil. Outrossim, a faixa simboliza o cargo de presidente. Adorno este que
deve ser usado no corpo, o que não acontece nas imagens. Essa escolha insinua que os
presidentes já não exercem seus cargos com eficiência.
b) A crise política em 2015

Figura 16 – Capa 3 (2015)

Na figura 16, temos Dilma Rousseff e Lula como participantes representados. Em


termos representacionais, temos uma relação transacional, de natureza narrativa, entre os
29

participantes representados, os ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula (retratado através da


imagem de um boneco inflável) e o ato de passar a faixa.
Essa ação configura uma estrutura narrativa em que o movimento de tocar no ombro e
no peito do boneco inflável (representando o ex-presidente Lula) forma um “vetor” ou “linha
de ação” que demarca o processo realizado pelo participante em uma determinada
circunstância.
A escolha de retratar o ex-presidente Lula em forma de boneco inflável, nesse
contexto específico, faz referência às manifestações ocorridas no Brasil em 2015, na ocasião,
os manifestantes carregavam um boneco inflável do ex-presidente vestido de presidiário:

Fonte:https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/09/03/lula-inflado-percorre-2500-km-
em-protestos-e-criador-diz-ganhou-vida.htm.

Quanto aos significados composicionais, pode-se observar uma maior saliência


atribuída ao ex-presidente Lula em relação à Dilma Rousseff. O tamanho dele parece indicar a
relevância das acusações contra ele, mas que são desconsideradas por Dilma. Além disso, o
fato do olhar de Dilma está direcionado ao ex-presidente e não ao leitor constitui um contato
de oferta, que significa que os participantes são apresentados para um exame minucioso do
espectador/leitor.
30

Figura 17 - Capa 4 (2015)

Na figura 17, capa da edição nº 2456, consideramos a televisão e Dilma Rousseff


como participantes representados, eles são colocados em dois planos. No primeiro plano,
vemos a imagem de uma televisão antiga posicionada no centro. No plano de fundo ou sendo
transmitida na TV, centralizada, vemos a imagem de Dilma.
Dilma está envolvida em um processo verbal. Ela desempenha a ação de falar – como
é possível perceber, a boca dela está entreaberta e há uma frase “... aí nossa matriz
econômica...” logo abaixo da sua imagem. Portanto, nessa imagem tem-se um suposto
pronunciamento da presidente sendo transmitido pela televisão.
Quanto à perspectiva, a imagem foi realizada em um ângulo frontal, que implica uma
afinidade entre o elemento representado e o observador. Com relação ao olhar, a participante
representada apresenta um olhar de demanda, em que participante representado olha
diretamente para o leitor/observador. Segundo Fernandes (2011, p. 30), “quando uma pessoa
famosa é retratada em uma revista e olha diretamente para os/as leitores/as dessa revista é
como se ela exigisse alguma ação ou mesmo alguma emoção dos/as leitores/as da revista”. Na
imagem em questão, Dilma está supostamente realizando um discurso, ato que exige atenção
do espectador.

c) O processo de impeachment em 2016


31

Figura 18 – Capa 5 (2016)

A figura 18 apresenta um cartaz eleitoral com a imagem de Dilma Rousseff


parcialmente rasgado. Como a imagem não possui vetores, caracterizamos como uma
representação conceitual simbólica, pois o cartaz e a roupa simbolizam o cargo exercido pela
participante representada. Por outro lado, também temos uma representação narrativa. O fato
de o cartaz estar parcialmente rasgado figura uma ação gradativa. Devido a essa ação
progressiva, a imagem realiza um processo acional não-transacional, porque apresenta apenas
um participante, a Meta. O cartaz de Dilma é a Meta do processo de ‘rasgar’. Essa
representação de Dilma, nesse contexto especifico, configura uma analogia com o movimento
gradativo de diminuição ou perda de poder em decorrência do processo impeachment.
Em um plano inicial, temos uma mulher que ocupa a posição de poder, neste caso a
presidência da República. Seguido, analisando sob outro plano, temos o cartaz sendo rasgado
que revela o comprometimento na imagem pública de Dilma. Além do que já foi comentado,
percebemos que há um trocadilho na utilização da expressão “Fora do baralho”. Ao invés de
ser uma “carta fora do baralho”, expressão comumente usada para referir-se a algo ou alguém
sem mais utilidade, é “cartaz fora do baralho”. Nesse caso, a cor amarela representa o Brasil e
a expressão implica na não mais utilidade de Dilma para a política do país.
Em termos interativos, a imagem do suposto cartaz eleitoral de Dilma é uma demanda,
na qual ela olha diretamente para o leitor, porém, apenas um dos olhos é retratado. O que
acaba por reafirmar o comprometimento na imagem pública da presidente.
No que se refere aos significados composicionais, o cartaz é posicionamento no centro
da capa – o que ressalta que mesmo Dilma estando com sua imagem pública comprometida,
ela ainda é o foco das discussões e das notícias.
32

Figura 18 – Capa 6 (2016)

Na capa da edição de maio de 2016, temos os rostos da ex-presidente Dilma Rousseff


e do ex-presidente da câmara Eduardo Cunha: ao fundo, o perfil de Eduardo Cunha; na frente,
o perfil de Dilma Rousseff. Os rostos dos políticos foram fotografados um atrás do outro, mas
de perfil e com o rosto de Eduardo Cunha mais à frente. Do lado direito da capa, vemos a
chamada “Tchau querida, Tchau querido”, em letras maiúsculas e na cor vermelha.
Nessa edição, a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente da câmara Eduardo
Cunha são os participantes representados. Ambos os PRs estão olhando para algo ou alguém,
configurando um processo reacional não-transacional - não é possível identificar para o quê
ou para quem eles dirigem seus olhares. Os dois participantes são o Reator e o processo é não-
transacional porque apresenta apenas o Reator.
No que se refere à representação da interação, tanto Dilma quanto Cunha são
retratados como ofertas, pois eles não olham diretamente para o leitor. Entretanto, eles são
fotografados em um plano fechado, indicando uma relação de proximidade com os
participantes interativos. Relacionando com os elementos verbais, pode-se observar a
utilização do termo ‘Querido (a)’, tratamento comumente dirigido às pessoas com as quais se
têm carinho ou uma relação de intimidade.
A expressão em questão “Tchau, querida” se trata da forma usada pelo ex-presidente
Lula para se despedir da presidente Dilma em áudios grampeados pela política federal, e que
também foi usada por internautas ao pedirem o afastamento da presidente. A relação entre a
utilização desta expressão e os componentes interativos demonstra que dois políticos
deixaram de ser pessoas jurídicas e passaram a ser apenas pessoas físicas assim como os
leitores da revista.
33

5.3 Discussão dos resultados

Nas duas capas do ano de 2014 analisadas, a representação da imagem de Dilma é


construída negativamente, constituindo-se como ideológica, observando o contexto especifico
do período. Essa representação se inicia com a centralidade de responsabilidades, quando a
revista na capa 1 apresenta uma imagem de Dilma dentro de um poço de petróleo, retratando a
ideia de participação direta dela na compra da refinaria de Pasadena e, consequentemente, na
corrupção da Petrobrás. Em seguida, na capa 2 têm-se o desenho de uma suposta disputa entre
Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula pela faixa presidencial. Ao relacionarmos com as
informações verbais, a disputa em questão seria dentro do partido (PT), pois segundo a revista
haveria dois lados no partido; de um lado, os seguidores de Dilma; e de outro, os de Lula.
Entretanto, a imagem em si não retrata esses seguidores. O que vemos apenas são os dois
políticos petistas puxando a faixa presidencial. No geral, há uma tentativa de influenciar a
opinião do eleitor ao apresentar narrativas que poderiam desqualificar a candidatura de Dilma
à reeleição.
Confirmada a reeleição de Dilma em 2014, as edições constroem novamente uma
representação negativa da imagem de Dilma enquanto presidente da república, pois tenta
desqualificar sua gestão. Essa nova construção negativa se dá quando na edição de outubro de
2015 sai a imagem de Dilma Rousseff e de um boneco inflável do ex-presidente Lula com
roupa de presidiário na capa. Uma interpretação possível para essa escolha seria o fato de
Dilma ignorar os indícios de corrupção que pairavam sobre Lula e entregá-lo um cargo
importante em seu governo. Assim, Dilma estaria, simbolicamente, entregando o cargo de
presidente a um “criminoso”. Um detalhe relevante que reafirma essa interpretação está no
uso do processo material “entregar”. Novamente, a revista escolhe um verbo que representa
ações do mundo material, e que teria como Beneficiário alguém que estava sob investigação.
Na capa de dezembro de 2015, a Veja expõe alguns problemas causados pela política
econômica do governo Dilma. Entretanto, esses problemas não são atribuídos ao seu governo
como um conjunto, mas especificamente a ela. Essa ideia é reforçada pela predominância do
processo material “fez” que remete às ações do mundo externo. Ademais, as orações em que
Dilma aparece como Ator articulam uma sequência de ações negativas conferidas a ela. Ações
que são visualmente materializadas pela televisão antiga, que representaria o retrocesso
causado pela política econômica do governo Dilma. Em suma, através das suas escolhas
verbais e visuais, a revista procura materializar as ações feitas pela presidente, demonstrando
como elas atingiram diretamente o cotidiano do brasileiro.
34

No período do processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016, a Veja trouxe


representações favoráveis a esse processo. Em abril de 2016, momento em que o processo
ainda estava em andamento, é retratado a imagem pictórica de um cartaz eleitoral de Dilma
rasgado – representando o comprometimento na imagem pública da presidente. É importante
destacar que essa representação é construída também através dos componentes verbais, que
em conformidade com os elementos visuais, indicam que mesmo se ela vencesse o processo
de impeachment, sua imagem já estava comprometida.
Na edição de maio de 2016, por sua vez, com o encerramento do processo de
impeachment e a cassação do mandato de Dilma Rousseff, a revista apresenta uma imagem de
perfil da ex-presidente Dilma e do ex-presidente da câmara Eduardo Cunha, composição
comum às fotos tiradas de presidiários. Quanto aos processos relacionais empregados nos
textos da capa, foi notada a necessidade de atribuir fatos a determinadas circunstâncias, como
por exemplo, na chamada “Com o impeachment de Dilma e a queda, o Brasil tem chance
histórica de fazer limpeza inédita na vida pública (15)”. A esse respeito, podemos nos remeter
ao pensamento de Souza (2016, p. 112):

No Brasil, o suposto combate à corrupção sempre foi essa muleta usada de modo
manipulador e falso. Como no caso recente do golpe de abril de 2016, desde que se
elimine o inimigo político tudo voltará a ser como antes, sem qualquer debate real e
sem nenhuma mudança estrutural.

Para o autor, nesse falso combate à corrupção, a mídia, controlada pelos


“endinheirados”, produz e/ou conserva discursos a partir dos seus próprios interesses
ideológicos.
Conforme DeSouza (2015) acertadamente propõe, a dimensão política do conceito de
ideologia possibilita uma melhor compreensão dos diferentes contextos políticos que rodeiam
a construção dos discursos. No Brasil, o sistema é construído a partir da díade
Direita/Esquerda. Para Bobbio (1995), essa distinção tem uma longa história que vai além da
contraposição entre capitalismo e comunismo. Trata-se de uma polarização que abrange as
não só contrastes de ideias, mas também os interesses e os valores que determinam a direção a
ser seguida pela sociedade (p.33). Nessa perspectiva, no lado da esquerda estão os ideais da
luta coletiva por direitos de uma população mais pobre. Já no lado da direita consiste em uma
visão mais conservadora, que procura conservar o poder e os interesses individuais da elite.
Nesse sentido, ao se observar os contextos políticos que circundam a elaboração das
capas analisadas, pode-se concluir que a revista opta por uma posição político-ideológica mais
35

à direita, construída pelas suas escolhas verbais e visuais ao representar negativamente a


imagem da ex-presidente e, consequentemente, do partido que ela representa, o PT.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo analisar a representação da ex-presidente


Dilma Rousseff na Revista Veja. Para isso, utilizamos os aparatos teórico-metodológicos da
Gramática sistêmico-funcional e da Gramática do Design Visual. De forma geral, os
resultados da análise dos significados verbais e visuais apontam para uma representação
negativa da imagem da ex-presidente Dilma Rousseff, mas construídas de maneiras diferentes
nos três períodos: 1) em 2014, a revista tenta desqualificar a candidatura à reeleição de Dilma
Rousseff, principalmente, ao narrar problemas relacionados ao seu governo; 2) em 2015,
atribui à presidente a responsabilidade pela crise na política e na economia do Brasil; e 3) em
2016, se mostra favorável a concretização do processo de impeachment. Primeiro, ao
apresentar a representação de uma imagem pública comprometida da presidente. Segundo, ao
relacionar uma possível mudança no Brasil à saída de Dilma Rousseff. Ideologicamente,
esses dados apontam para uma manutenção da disputa política entre direita e esquerda,
quando a revista faz escolhas que reforçam os ideais de uma elite do dinheiro considerada de
direita.
Acreditamos que a nossa pesquisa contribui para a academia por ser atual
(considerando os últimos acontecimentos na política brasileira) e multimodal, englobando os
dois modos semióticos, demonstrando assim a importância do contexto na construção dos
potenciais significados.
As limitações para este estudo estão no plano analítico, visto que para uma ampla
investigação dos aspectos ideológicos instanciados pelo discurso (DESOUZA, 2015) seria
necessária uma análise considerando aspectos referentes à Análise Crítica do Discurso, e
também considerar a intersecção completa entre as metafunções da linguagem verbal
propostas por Halliday e os significados visuais de Kress e van Leeuwen. Um outro fator
interessante a ser explorado seria uma análise que considerasse outras revistas, afim de se
realizar uma análise comparativa, e também seria pertinente um estudo comparativo na
própria revista, todavia, observando a representação de políticos de outros partidos, para
assim confirmar efetivamente a posição político-ideológica adotada pela revista.
36

Por fim, convém ressaltar que nenhuma análise é imparcial, as análises aqui esboçadas
são fruto de interpretações particulares, baseadas em linhas teóricas e a partir da observação
dos diferentes contextos que rodeiam os potenciais significados inferidos na análise das capas.

THE REPRESENTATION OF THE EX-PRESIDENT DILMA ROUSSEFF IN THE


VEJA MAGAZINE: AN ANALYSIS OF THE LIGHT OF SYSTEMIC-FUNCTIONAL
GRAMMAR AND THE GRAMMAR OF VISUAL DESIGN.

Abstract: This article aims at analyzing how the ex-President Dilma Rousseff was
represented in six covers of Veja magazine along the years 2014, 2015 and 2016, taking into
consideration the historical-political context of Brazil at the time. This general objective gave
rise the following research questions: (1) How this representation materialized through the
verbal and visual choices made during the elaboration of these covers; (2) Did Veja represent,
in a different or similar way, verbally and visually, the image of the ex-president; (3) How
were these representations impacted by the three specific periods. This analysis is based on
Systemic-Functional Grammar (SFG) and Grammar of Visual Design Grammar (GVD). In
addition, the contributions of DeSouza (2015), based on Fairclough (2001), on the concept of
ideology are also used. The verbal analysis was developed according to the ideational-
experiential metafunction, realized by the system of transitivity based on Halliday and
Matthiessen (2014). Regarding the visual analysis, it was considered the theoretical-
methodological apparatus of image analysis proposed by Kress and van Leeuwen (2006). In
addition, the results of these analyzes are discussed based on the multi-stractal concept of
ideology proposed in DeSouza (2015). In general, the results of the analysis of verbal and
visual meanings point to a negative representation of the image of the ex-President Dilma
Rousseff, but construed differently in the three periods. Moreover, the analysis of the senses
construed in the relationship between the verbal and visual texts revealed that the choices are
not arbitrary, but motivated by the ideological interests of the magazine.

Keys-words: SFG. GVD. Dilma Rousseff. Veja Magazine. Ideology.


37

REFERÊNCIAS

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lexicogrammatical investigation of toy advertisements. 2006. 228 p. Tese (Doutorado em
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38

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Erlbaum, 2008.
39

ANEXOS
ANEXO A- ANÁLISE DE TRANSITIVIDADE NAS CAPAS DE 2014

Dilma Fez (quase) tudo certo no caso de Pasadena


1 Ator Proc. Material Meta Circunstância

O aparelhamento da Está levando a presidente a


2 Petrobras
Portador Proc. Relacional
sofrer até por suas virtudes.
Atributo

[a presidente] sofrer até por suas virtudes.


3 Experienciador Proc. Mental Fenômeno

O cabo de guerra no PT Ameaça a reeleição mais do que


4 entre os seguidores de
Dilma e os de Lula
candidatos da oposição.

Dizente Proc. Verbal Alvo


40

ANEXO B – ANÁLISE DE TRANSITIVIDADE NAS CAPAS DE 2015

Como a presidente Fez a indústria retroceder 65


5 Ator Proc. Material
anos
Meta

A indústria Retroceder 65 anos


6 Ator Proc. Material Meta

[a presidente] [fez] a política econômica voltar


7 ao tempo do estatismo
militar
Ator Proc. Material Meta

a política econômica Voltar ao tempo do estatismo


8 Ator Proc. Material Meta

[a presidente] [fez] a recessão punir os como não ocorria


9 Ator Proc. Material
brasileiros
Meta
desde 1983
Circunstância

[a presidente] [fez] a inflação de 10% depois de três


10 Ator Proc. Material
rugir
Meta
anos domada
Circunstância

Ela Passou a faixa


11 Ator Proc. Material Meta

Dilma Entrega o núcleo do a Lula


12 Ator Proc. Material
governo
Meta Beneficiário

[Dilma] [entrega] os grandes ao PMDB


13 Ator Proc. Material
ministérios
Meta Beneficiário

Empreiteira do petrolão Pagou reforma do apartamento de


14 Ator Proc. Material
Lula
Meta
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ANEXO C- ANÁLISE DE TRANSITIVIDADE NAS CAPAS DE 2016

Com ou sem vitória Dilma já perdeu a batalha do poder.


18 na batalha do
impeachment
Circunstância Ator Proc. Material Meta

Seu governo esfacelou-se


19 Ator Proc. Material

a presidente abandonada pelos não comanda mais o Brasil


20 Ator
aliados
Circunstância Proc. Material Meta

Com o o Brasil tem Chance histórica de


15 impeachment de
Dilma e a queda de
fazer uma limpeza
na vida pública
Cunha
Circunstância Portador Proc. Relacional Atributo

VEJA acompanhou os últimos dias da


16 Ator Proc. Material
presidente
Meta

Por que a derrocada do é o primeiro revés de Temer


17 deputado
Atributo circunstancial Proc. Relacional Portador

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