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Reportagem

nossos engenheiros teve de trabalhar vinte horas seguidas próximo exercício está marcado para as 14 horas, altura em
para resolver uma avaria”, conta um oficial. que acontecerá uma simulação de incêndio.
Na tripulação há militares que foram “voluntariamente
E QUANDO A ESCOTILHA FECHA... Meio-dia. Algures por bai- obrigados” a ir para os submarinos, mas a maioria chegou
xo do mar. O Barracuda já navega à cota periscópica, a cerca por opção. O que os levou a escolher esta vida? O coman-
de 12 metros de profundidade. É servido o almoço para o dante dá o exemplo e explica como se consegue passar tanto
outro turno. À mesa recordam-se operações militares que tempo seguido no mar: “É uma questão de hábito”. Mas não
envolvam submarinos. Mas também se conversa sobre os é tão simples quanto isso. “É um sentimento misto. Quando
inconvenientes da vida de submarinista. “Os mais novos estou a navegar sinto a falta da família e, depois, quando es-
têm dificuldade em manter uma relação afectiva estável. tou em terra sinto saudades de navegar. É um bocado como
Agora está toda a gente habituada ao telemóvel e não conse- aquela música do António Variações...”
guem estar quinze dias sem comunicar”, argumenta um dos
oficiais. Há os que não falam sobre este assunto, mantendo Quinze horas. A tripulação prepara o teste com os torpedos.
apenas uma expressão ausente no rosto. Ao jantar os temas Sempre que se faz ao mar, o Barracuda vai armado. Acordam-
são os mesmos. Fala-se ainda da possibilidade de incluir se os que tentam dormir nas camas improvisadas na estrutu-
mulheres na tripulação. Em princípio, ninguém tem nada ra dos tubos. Os que repousam nos outros beliches são acor-
contra, desde que existam condições para separar os dois dados pelo barulho, mas há os que têm sono de pedra. Antes
géneros a bordo. Numa coisa concordam, o Barracuda não de executarem os exercícios têm de desviar os víveres guar-
as tem. Quanto aos novos submarinos encomendados por dados por baixo dos tubos dos torpedos. Na sala de oficiais,
Portugal, o Tridente e o Arpão, que entrarão ao serviço em o tenente Amílcar explica as motivações que o levaram a
2010, talvez as tenham, dizem. Aliás, a expressão “quando voluntariar-se: “Como vinham as novas unidades achei ali-
vierem os novos...” é uma constante no discurso da tripu- ciante. Porque vão dar a oportunidade de começar do zero”.
lação. Diz que as dificuldades são ultrapassadas com a mentaliza-
A conversa é interrompida frequentemente por mari-nhei- ção. “O esforço maior é da nossa família”, confessa.
ros que fornecem dados ao comandante. Algumas das in-
formações obtêm resposta pronta sobre o que se deve fazer. Pouco falta para as 16 horas. À espera que comece o seu tur-
Outras parecem apenas ficar registadas mentalmente por no, o sargento Cerqueira está sentado na sala de controlo.
Mamede Alves. Finda a refeição, regressa-se ao trabalho. O Daqui a uns minutos vai ter que responder às ordens, zelar

6 | 29.08.2008 - CASUAL

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