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(DES)ORDEM NA FRONTEIRA:
Ocupação Militar e Conflitos Socias na bacia
do Madeira-Guaporé(30/40)
Assis
2002
2
DADOS CURRICULARES
À Sônia,
por muito mais ...
Ao Otávio e a Paula
por tudo o que virá ...
5
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
Lista de Figuras....................................................................................................07
Lista de Tabelas....................................................................................................08
Lista de Abreviaturas............................................................................................09
Resumo ................................................................................................................10
Introdução.............................................................................................................11
Capítulo 1
Sentinelas da terra: Colonos-Soldados e conflitos na colonização da fronteira
Madeira-
Guaporé.................................................................................................................23
Capítulo 2
A fronteira em construção: a criação do Território Federal do Guaporé.............66
Capítulo 3
“Em busca da ordem: a administração do Território Federal do Guaporé”......121
Considerações finais............................................................................................160
Fontes..................................................................................................................165
Bibliografia..........................................................................................................170
Abstract...............................................................................................................175
Glossário.............................................................................................................176
8
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
MG - Ministério da Guerra
MA - Ministério da Agricultura
8ª RM - 8ª Região Militar
11
RESUMO
INTRODUÇÃO
1 O ante-projeto do decreto-lei de criação dos territórios federais, no auge do Estado Novo, expressa o papel
central das forças armadas na estruturação e administração dos territórios federais. Neste, os governadores,
secretários-gerais e outros cargos deveriam ser ocupados exclusivamente por militares. Além disso,
obrigatoriamente deveria ser criada uma tropa especial, constituída por soldados do exército, à disposição dos
governadores, transformando a segurança pública em missão militar. Uma análise das Fés de Ofício dos
primeiros governadores do território, localizadas no Arquivo Histórico do Exército, e das Certidões de Tempo
de Serviço dos funcionários administrativos do Território do Guaporé, cuja Cópia do Original Datilografado
encontra-se no Centro de Documentação Histórica de Rondônia, permitem verificar a importância do exército
como lugar de formação profissional em variados ofícios e o intenso trânsito de profissionais do exército para
outras funções civis na administração do Território Federal do Guaporé. Secretaria Geral de Segurança Nacional.
Ante-Projeto de Decreto-Lei : Cria novos Territórios Federais e dá outras providência.. Rio de Janeiro, Gabinete
Presidencial.,14 de dezembro de 1938.
13
A região estudada é constituída pelos vales dos rios Guaporé e Mamoré, que
divisam o estado de Rondônia com a Bolívia, na parte noroeste, oeste e sudoeste. Ao norte
e nordeste, é limitada pelo rio Madeira, na divisa com o estado do Amazonas.
transporte nessa ferrovia. Nas extremidades dos 366 quilômetros da estrada, foram criados
dois entrepostos de cargas que deram origem às cidades de Porto Velho e Guajará Mirim.
4TEIXEIRA, Marcos e FONSECA, Dante . História Regional (Rondônia). P. Velho, Rondoniana, 1998.
5 HARDMAN, Francisco F. Trem Fantasma: A modernidade nas selvas. São Paulo, Cia. das Letras, 1988. O autor
compara o centro urbano restrito ao pátio da ferrovia com a cidade além da linha divisória, também estabelece
um diálogo entre as contradições do discurso elaborado a partir das imagens de Porto Velho (moderna) e Santo
Antônio (colonial).
15
Por ser região de fronteira, o aspecto que chama mais atenção, ainda hoje, é o
status conferido aos militares, principalmente ao Exército. Os desfiles de Independência,
em Guajará Mirim, são considerados eventos sociais, nos quais comparecem os hermanos de
la banda. Em contrapartida, no dia da Independência da Bolívia (06 de agosto), há enorme
participação dos civis e militares brasileiros. Os alunos da rede pública cantam em ordem
unida o hino nacional e o hino de Rondônia, antes de iniciar a primeira aula. Os colégios
têm nomes de militares: Mal. Cordeiro de Farias, Maj. Guapindaia, Maj. Amarante, Cel.
Aluízio Ferreira, Cel. Jorge Teixeira, Mal. Rondon, e a lista prossegue.
O povoado de Príncipe da Beira, é tão longe ... que até o real demorou a chegar por lá.
A moeda oficial do Brasil sequer circula entre boa parte de seus 367 moradores ... O peixe
que cai na rede é trocado por mercadorias nas “vendas” locais. Os comerciantes vendem o
peixe aos militares do Pelotão de Fuzileiros de Selva. Baseados na região desde 1932, são os
6 MACIEL, Laura Antunes. A Nação por um fio. São Paulo, Educ/Fapesp, 1999.
16
militares que garantem a existência desse pequeno povoado, onde não existe nenhum tipo de
trabalho além da pesca e da roça. O serviço social prestado pelo Exército não se limita ao
atendimento do povoado de Príncipe da Beira. Em toda a faixa da fronteira amazônica os exercícios de
patrulhamento acabam servindo como base para o atendimento às populações ribeirinhas. Nas missões
sempre se incluem médicos, dentistas, sanitaristas e outros órgãos envolvidos nos problemas da
região. 7
A presença dos militares, visível ainda hoje na região, aliada ao p apel preponderante
a eles atribuído pela historiografia regional na construção do estado, marcaram também as
primeiras intenções deste projeto de pesquisa.
Por essas razões decidi trabalhar com outros materiais disponíveis para a consulta,
como foi o caso da coleção do jornal Alto Madeira, existente no Centro de Documentação
Histórica de Rondônia- CDHR, em estado regular para a leitura. Nesse Centro, também se
encontram os relatórios encaminhados pelo Cel. Aluízio Ferreira aos seus superiores, nos
diversos cargos que ocupou (seja na administração do 3º Distrito Telegráfico, no comando
9 LEIRNER, Piero C. “O Exército e a Questão Amazônica”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 8, n.º 15,
1995, p. 119-132.
10 LEIRNER, Piero C. Op. Cit. p. 120-121.
11
FERREIRA, Manoel R. A ferrovia do Diabo: A história de uma estrada de ferro na Amazônia. São Paulo, Editora
Melhoramentos, 1987.
18
Após sua eleição como deputado estadual pelo estado do Amazonas, o Dr. Joaquim
Tanajura passou o jornal ao seu correligionário, o Ten. Cincinato Ferreira, que continuou
com a mesma linha de atuação impressa pelo seu fundador. Voltado para as elites
seringalistas da região dos vales do Madeira-Guaporé, o jornal defende em suas páginas as
iniciativas de colonização militar para a região, entre os anos 30 e 45. O Alto Madeira foi
central para o controle político da região, pois não havia uma imprensa alternativa, que
fosse dissonante da opinião das elites econômicas e políticas.
O jornal Alto Madeira, sediado em Porto Velho, capital regional dos vales e palco
das relações de poder, circulava nas regiões ribeirinhas dos seringais do baixo rio Madeira,
nos vales do rios: Candeias, Jamari, Machado, Jacy-Paraná e em todo o vale do Guaporé,
no trajeto da ferrovia e na cidade de Guajará Mirim. Os colaboradores de Guajará Mirim
elaboravam a coluna “Pelo Guaporé”, enfocando os principais problemas da região de
fronteira. Os colaboradores de Presidente Marques, na fronteira com a Bolívia e o
território do Acre, enviavam as “Notícias de Fortaleza do Abunã”.
Busquei também ouvir outras vozes paralelas aos discursos cristalizados das elites e
da historiografia. Nesta abordagem privilegiei as contradições aos discursos estabelecidos
dos seringalistas, dando voz aos povos nativos, aos seringueiros e aos antropólogos
engajados na defesa das populações tradicionais. Apesar da aparente clareza sobre os
conflitos sociais na região, a documentação esconde um “silêncio velado”. Até mesmo nos
12LIMA, Antônio C. S. Um Grande Cerco de Paz: Poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis,
Vozes, 1995. Sobre a distinção entre guerra aberta e guerra simbólica, ver pp. 51-52.
21
dias de hoje, as classes populares evitam tecer comentários sobre os conflitos soterrados
na memória.
13TEIXEIRA, Marcos .e FONSECA, Dante. História Regional (Rondônia). Porto Velho, Rondoniana, 1998. Pp. 107-108.
14Esse movimento de penetração resultou na crise conhecida como questão do Acre. Resolvida de forma diplomática
por meio do Tratado de Petrópolis, no qual a Bolívia cedia o território que lhe pertencia desde o tratado de Ayacucho
de 1867 firmado com o Brasil. O Tratado propunha além da indenização pela concessão da área mais rica do mundo
em goma elástica (Acre), a construção de uma ferrovia que contornasse o trecho encachoeirado do rio Madeira
facilitando o escoamento da produção do oriente boliviano (do Departamento de Beni e Pando) para o Atlântico.
15BIGIO, Elias dos S. Linhas Telegráficas e Integração de Povos Indígenas: As estratégias Políticas de Rondon (1889-1930). Brasília,
Dissertação em História Política e Social do Brasil/UnB, 1996. pp. 127.
16 MEIRELLES, Denise Maldi. Os Guardiães da Fronteira. Cuiabá, UFMT, 1983.
25
17 PINTO, Emanuel P. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território de Guaporé, fator de Integração Nacional. Rio de
Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. TEIXEIRA, Marco e FONSECA, Dante. 2ª ed. História Regional (Rondônia).
P.Velho, Rondoniana, 1998.
18 LOPES, Evandro R. Súditos e Cassacos: Os trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (1907-1931). Porto Velho,
Melhoramentos, 1987.
20 Patrões: O responsável pela produção que era financiado pelos aviadores, e que extraía a mais valia do seu freguês
(seringueiro) através da majoração das mercadorias aviadas em seu barracão em troca da produção de borracha pelo
seringueiro. Uma relação baseada na exploração hierárquica e em cadeia pela dívida contraída. O patrão não era dono
do seringal, eram terras devolutas que ia ocupando e terceirizando a exploração aos seus fregueses, uma espécie de
sócio que entrava com a produção em troca das mercadorias de primeira necessidade como alimento, vestuário,
ferramentas, armas e munição. Segundo informações colhidas na imprensa local do período.
26
exercia controle absoluto sobre seus técnicos e trabalhadores em função dos custos e dos
prazos. Exploravam ao máximo os operários para obter maiores lucros, proibindo-lhes a
mínima forma de expressão no trabalho e nas folgas.21
A diversidade de culturas e etnias marcava os espaços de trabalho, descanso e lazer:
Assim é que no auge da construção... havia 5.000 pessoas no povoado e nas frentes de
serviços. Essa diversidade de trabalhadores dava um ar de promiscuidade à sede da ferrovia,
acampamentos e frente de trabalho. Para que a lei fosse respeitada e a ordem cumprida, a
Companhia montou sua própria Polícia em 1910. ... parte da população era de aventureiros e
não havia: “a paz e a garantia prometidas pela Constituição a todo estrangeiro e nacional que
viva no território da República” ... Justificando dessa forma a organização da Polícia da
Companhia ferroviária em fevereiro de 1910. ... Havia também a proibição da comercialização
de bebidas , cervejas, e vinhos, e a entrada de prostitutas na área sob jurisdição da Companhia
ferroviária, ... A forma pela qual se apresentava esse instrumento [de controle], o paternalismo,
era a mais variada. ... destacam-se o Hospital da Candelária; a Comissária e a construção de
habitação para os trabalhadores.22
21LOPES, Evandro R. Súditos e Cassacos: Os trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (1907-1931). Porto Velho,
UFRO, Monografia de Bacharelado em História, 1995. p. 8.
22 LOPES, Evandro R. Op. Cit., pp. 11-13.
23
HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: a modernidade nas selvas. S. Paulo, Cia das Letras, 1986. pp. 125-8.
27
24 TEIXEIRA, Marcos .e FONSECA, Dante. História Regional (Rondônia). Porto Velho, Rondoniana, 1998. Pp. 142.
25 HARDMAN, Francisco Foot. Trem Fantasma: A modernidade nas selvas. São Paulo, Cia. das Letras, 1986.
26 HARDMAN, Francisco F. Op. Cit. Pp. 125-8.
27 TEIXEIRA, Marco D. "Mortos, dormentes e febris" in Porto Velho conta a sua história. Porto Velho, Secretaria
Favela e outros, enfim a cidade marginal.32 Com a criação do município de Porto Velho, o
governo do Amazonas visava somente aumentar sua arrecadação por meio da criação de
tributos municipais, que incidiam sobre a produção, circulação e consumo.
No extremo da ferrovia, foi instalado, em 1912, um posto fiscal em frente ao
povoado boliviano de Guayaramerin. Este se constituiu num entreposto comercial,
recebendo as mercadorias do oriente boliviano pelos rios Mamoré, Madre de Dios e Beni.
Nesse entreposto embarcavam as matérias primas e manufaturas: a produção de goma,
quina, poaia, gado, couro e peles dos departamentos de Beni e Pando. Além disso, era a
única ligação com a cidade de Vila Bela e com todo o vale do Guaporé, repleto de
seringais à margem direita, no lado brasileiro, e à esquerda, no lado boliviano.
O entreposto de Guajará Mirim possuía considerável infra-estrutura: delegacia,
posto fiscal, estação telegráfica, correio, escolas, cinema, com a população em torno de
1000 pessoas. Sírios, libaneses, barbadianos, italianos, portugueses, espanhóis, peruanos e
bolivianos compunham sua população. Além da infra-estrutura criada em função da
ferrovia em seu ponto inicial e final, havia as vilas-estações de Jacy-Paraná, Mutum, Vila
Murtinho e Abunã. Localidades de apoio, nas quais ficavam estacionados os operários da
ferrovia, cuidando da refrigeração das caldeiras e abastecimento de água, e tarefeiros,
fazendo a manutenção dos trilhos ao longo de seu trecho. Foram ao todo 28 estações
estabelecidas em sedes de seringais, aglomerando de 6 a 10 casas residenciais de um lado, e
às vezes de ambos os lados da ferrovia.
Os aglomerados em torno das estações da ferrovia eram, na maior parte,
residenciais; apenas as estações estratégicas tinham armazéns e casas comerciais, como as
de Jaci-Paraná, Mutum-Paraná e Vila Murtinho, próximos à vila de Abunã, que ficavam
em frente ao povoado de Manôa, do lado boliviano. Também havia “povoações” em
Costa Marques, no rio Guaporé e na Foz do rio Jamari.
A apropriação das terras no vale do Madeira-Guaporé foi conflituosa desde o
início da extração da borracha. A maior parte dos proprietários de terras não possuía
títulos de propriedade. A terra não era considerada mercadoria. O valor estava em seus
recursos naturais: seringueiras, essências, óleos medicinais e peles de animais silvestres que
eram as principais fontes de riqueza. A concepção essencialmente extrativista da terra
cunhou a forma de exploração de seus recursos como “colocação”, “estrada de seringa”,
“barracão” e outros. Não havia cercas, as divisas geralmente eram acordadas entre os
32 HARDMAN, Francisco Foot. O trem fantasma: a modernidade nas selvas. S. Paulo, Cia das Letras, 1986.
29
primeiros invasores, estas poderiam ser um rio, uma cachoeira ou uma paisagem destacada
do conjunto, ou quem tivesse o maior poder de “fogo”.
Os primeiros embates em relação à posse das terras se deu entre o gerente geral Mr.
A. L. Bell, da empresa concessionária Madeira Mamoré Railway and Company, e a Intendência
Municipal de Santo Antônio. O Intendente Municipal, Cel. Salustiano Alves Corrêa,
entrou em acordo sobre a demarcação dos lotes na faixa de 300 metros em torno dos 366
quilômetros da linha e 5 mil metros em Porto Velho, Presidente Marques e Guajará Mirim.
A União havia cedido à empresa estas terras por meio do decreto 8776, de 07 de junho de
1911, pelo prazo de sessenta anos. O governo de Mato Grosso, por meio do decreto 394,
de 10 de agosto de 1915, reservou uma “área de 1.800 hectares para patrimônio de cada uma das
povoações de Generoso Ponce, Presidente Marques, Villa Murtinho e Guajará Mirim.” As áreas da
Intendência de Santo Antônio se superpunham a da Companhia.
A MMRC tinha o controle sobre as terras da região. Porto Velho era sua
dependente, pois o abastecimento de água, a eletricidade, os esgotos, as casas e
arruamentos eram basicamente fornecidos pela Company. Pela antigüidade da lei federal em
relação à posterior estadual, o Intendente fez um acordo com a Companhia, mesclando
uma quadra da MMRC e outra do Município e, para identificar as áreas, criaram placas
com suas insígnias. O art. 5º do acordo n.º 37, de 24 de dezembro de 1917, justificou o
consenso “As partes accordantes como único meio de facilitar o desenvolvimento das povoações, que até
então se verifica constantes attritos, entre o Município, a Companhia e a população, ficou de ora
em deante reservado exclusivamente à Municipalidade o direito de aforar os lotes que lhe pertencer, cuidar
do policiamento da população... embelesamento das ruas, hygiene esthetica das
construcções.” 33
Outro caso de disputa de terras entre particulares exemplifica a regra na região. Em
1918, J. Elias Solsol, boliviano, comerciante de Jacy-Paraná, solicitou ação de manutenção
de posse ao Juiz de Direito de Santo Antônio. Segundo o requerente, teria comprado do
governo do Mato Grosso, em 24 de junho de 1918, nove mil hectares de terras devolutas
situadas entre o igarapé Preto e o igarapé Conto de um lado e de outro
limitadas pelo igarapé Cel Rondon. A manutenção de “posse” foi movida contra Miguel
33PROCESSO CÍVEL DE POSSE. Porto Velho, Comarca de Santo Antônio MT, 18 de fevereiro de 1918. Acervo
do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.
30
Melhoramentos, 1987. PINTO, Emanuel P. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território de Guaporé, fator de Integração
Nacional. Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. TEIXEIRA, Marcos e FONSECA, Dante. 2ª ed. História Regional
(Rondônia). P.Velho, Rondoniana, 1998. As descrições em relação à formação histórica foram extraídas basicamente das obras
anteriormente citadas.
37 BIGIO, Elias dos S. Linhas Telegráficas e Integração de Povos Indígenas: As estratégias Políticas de Rondon (1889-1930). Brasília,
Com o início do segundo “boom” da borracha, nos anos 40, a região de Guajará
Mirim (rios Pacaa Nova e Ouro Preto) foi intensamente ocupada pelas frentes de
exploração. E os ataques realizados pelos seringueiros se tornaram verdadeiros
massacres.
Os seringalistas organizavam expedições muitas das vezes com metralhadoras
compradas em contrabando na Bolívia. Aldeias inteiras foram assim dizimadas. ... da
41 Conselho Indigenista Missionário-Regional Rondônia. PANEWA ESPECIAL. Porto Velho, CIMI/RO, 2002.
42CAPES. Séries Estatísticas Regionais: Territórios Federais (Guaporé). Rio de Janeiro, INL, 1959.
43 Pretos: Termo utilizado pela imprensa do período para designar ex-escravos fugidos remanescentes de quilombos
que possuíam um sistema de produção e distribuição comunitário. Viviam em pequenos grupamentos de malocas nas
barrancas à margem direita do rio Guaporé. Mais precisamente entre Vila Bela da Santíssima Trindade e Pedras Negras.
44 TEIXEIRA, Marco Antônio Domingues. Dos campos d'ouro à cidade das ruínas: apogeu e decadência do colonialismo português
no Vale do Guaporé (séc. XVIII e XIX). UFPE, Dissertação de Mestrado, Recife, 1997.
45 TEIXEIRA, Carlos C. O sistema de aviamento e do barracão nos seringais da Amazônia. S. Paulo, USP/FFLCH, Dissertação
de Nível Superior).
34
47O Ten. Aluízio Pinheiro Ferreira havia participado em 1924 da Revolta do Forte de Óbidos no Pará, resolveu subir
os rios do vale do Amazonas e se encontrar com os revolucionários no Paraná. Porém seus recursos eram poucos e
conseguiu se refugiar no lado boliviano do rio Guaporé no seringal de Américo Casara como guarda-livros. Foi nesse
período que entrou em contato com a geografia dos vales e com os índios Macurapes. Em 1929 cumprindo pena em
Belém, enviou do cárcere memorial ao Gal. Rondon descrevendo o seu conhecimento e interesse pela geografia e a
etnologia dos vales. Esse memorial foi o passaporte para o Ten. Aluízio Ferreira integrar as forças militares sediadas na
região por meio das Linhas Telegráficas. Em 1930 foi indicado por Rondon para a Chefia do 3º Distrito Telegráfico
Seção Norte em Santo Antônio do Rio Madeira. Com a Revolução é nomeado delegado de Vargas na região dos vales e
do estado do Amazonas, em 1931 fora nomeado diretor da ferrovia administrada pela empresa Madeira Mamoré
Railway and Co. Em 1932 à frente da ferrovia, intercede junto ao Ministro da Guerra para a Criação de 03
Contingentes Especiais de Fronteira, acumulando o cargo de Inspetor dos Contingentes. Era o representante da União,
controlando os órgãos vitais na região. Em 1943 é nomeado o primeiro governador do Território Federal do Guaporé,
35
fossem “civilizados”, deviam ser transferidos ao Forte Príncipe, no Rio Guaporé, onde se
ajustariam “admiravelmente” para a linha divisória com a Bolívia:
Sua solução, para “evitar” os conflitos, era atrair os índios dos interiores, liberando
a região cheia de riquezas, “amansando” os “bravios” e suas terras. Conjunto à “limpeza”
do terreno, pretendia iniciar os indígenas na produção agrícola, transformando-os em
índios-soldados-agricultores. Seu projeto era localizar os "novos colonos" no Forte
Príncipe da Beira e guardar a fronteira brasileira praticamente “deserta”, prática
sedimentada no período de Pombal conforme Meirelles.50
O projeto era “proteger” os antigos povos do “inevitável” massacre do progresso.
Colocaram vários povos desconhecidos, por vezes inimigos históricos, sem nenhuma
similaridade lingüística e cultural, coabitando no mesmo posto indígena. Desejavam do
índio apenas o corpo como mão-de-obra, sua sociedade e cultura seriam dissolvidas em
nome da civilização. Prática generalizada entre os militares51, seringalistas e padres
espalhados pela Amazônia. Prezia divide a prática missionária em quatro fases, e em uma
delas, a:
em 1946 se afastou do cargo e se elegeu primeiro deputado federal pelo Território do Guaporé. Foi reeleito em 1950 e
em 1954, neste período indicou todos os governadores para a administração do Território.
49 FERREIRA, Ten. Aluízio P. Relatório à Rondon: Em prol do Guaporé. Belém, 1929. Datilografado. [grifos meus]
50
MEIRELLES, Denise M. Guardiães da Fronteira– Rio Guaporé, Século XVIII. Petrópolis, Vozes, 1989.
36
51 CASTRO, C. O espírito militar: um estudo de antropologia social na Academia Militar de Agulhas Negras. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar, 1990. Para uma discussão sobre rituais de despersonalização nas academias das forças armadas ver o trabalho do
autor.
52 PREZIA, Benedito A. A história da Missão junto aos Povos Indígenas: 1939-1995. CIMI/Regional Rondônia.
Mimeografado, 1995. pp. 1-5. Grifos do Autor.
53 PROCÓPIO, Argemiro. “Da cruz à espada” in Amazônia: Ecologia e Degradação Social. S. Paulo, Alfa-Omega, 1992.
Pp. 169-170.
54
LIMA, Antônio C.S. Um Grande Cerco de Paz: Poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis, Vozes,
1995.
55BIGIO, Elias dos S. Linhas Telegráficas e Integração de Povos Indígenas: As estratégias Políticas de Rondon (1889-1930). Brasília,
Dissertação de Mestrado em História Política e Social do Brasil/UnB, 1996.
37
56TEIXEIRA, Marcos e FONSECA, Dante. 2ª ed. História Regional (Rondônia). P.Velho, Rondoniana, 1998. Pp. 147.
57MENEZES, E. “Jornalismo em Rondônia” in Porto Velho conta sua história. Porto Velho, SEMCE, 1998. Segundo o
autor, o jornal Alto Madeira foi fundado em 1917 pelo médico e político, ex-membro da Comissão Rondon, o Dr.
Joaquim Tanajura. A criação do jornal se deu justamente quando fora superintendente do município de Porto Velho,
eleito pelo Partido Republicano Conservador e apoiado pelas oligarquias locais, os patrões seringalistas e comerciantes.
Logo após ser eleito deputado estadual pelo Amazonas, passou o jornal ao seu correligionário o Ten. Cincinato Elias
Ferreira, e assim por diante até chegar às mãos dos Diários Associados. [grifos meus]
38
Ministro da Viação José Américo diante da exposição do Cap. Aluízio Ferreira concedeu à
EFMM um auxílio para a colonização das margens da via férrea, [g.m.] ficando
determinado a creação de duas colônias agrícolas nos moldes do núcleo agrícola Antenor
Navarro com localização para 30 famílias cada uma, e uma média de 80 trabalhadores. Estas
colônias ficarão situadas uma perto de Guajará-Mirim e a outra perto da vila de Presidente
Marques (Abunã), devendo os serviços para o seu estabelecimento serem iniciados a 1° de
agosto vindouro.59
acesso aos lotes. Era dada preferência aos homens maiores, casados e com filhos, depois
em ordem decrescente, os de menor idade, os sem filhos, os solteiros e assim por diante.
No início, o colono ficava no núcleo urbano da colônia, aguardando a demarcação dos
lotes. Enquanto aguardava, era aproveitado para construir mais residências para novos
migrantes que chegavam, também para demarcar novos lotes num sistema rotativo
contínuo por mais de dez anos, entre a década de 30 e 40. Quando a família era instalada
no lote, numa casa de madeira coberta com palha, feita geralmente pelos contingentes ou
até mesmo pelos não-assentados, chegava outro para ocupar seu lugar no núcleo urbano e
assim sucessivamente.
A análise de Silva60, sobre o fracasso das colônias agrícolas, comprova esta minha
interpretação. Seu estudo de caso foi o Núcleo Agrícola do Iata (Guajará Mirim). Para a
autora, o declínio deveu-se ao reduzido tamanho dos lotes, impedindo a rotatividade de
culturas e a baixa qualidade das terras. Empecilhos agravados pela ausência de assistência
técnica, na correção do solo e na política de preços, pelo alto custo dos fretes “oficiais” e
outros encargos, onerando e subtraindo os ganhos depreciados dos colonos. Alguns
abandonaram suas terras e voltaram para o seringal, ou foram para o garimpo, ou partiram
em busca de novas “terras férteis”.
Na inauguração dos núcleos agrícolas, foi usado o paradoxal argumento da "falta de
braços" e do "vazio demográfico" em Guajará Mirim e em Presidente Marques: “É preciso
attrahir colonos de outros estados para evitar a deslocação dos que já se encontram situados, não só
para augmentar a população tão reduzida pela falta de occupação como também para incentivar
e encorajar os que aqui se acham desanimados, entibiados, descrentes de melhor futuro.”61 Os espaços
estavam ocupados, porém com populações tradicionais, alheias aos interesses “nacionais”,
não faltava gente. Faltavam “coragem” e “incentivo” aos incapazes que “precisavam” da
tutela dos militares.
O relatório do Ten. Aluízio Ferreira ao Gen. Rondon explicitou, em 1929, a
questão da “falta de braços, “não sucede o mesmo no médio e alto Guaporé, onde as margens são
pontilhadas de barracas dos pretos mato-grossenses, egressos dos mocambos de Vila Bela e aferrados à
vida improdutiva de caçar, pescar e procriar, mas em regra refratários à indústria
gomífera, a única explorada e organizada na região.” 62 Comprova-se pela historiografia63 e
60 SILVA, Francisca A. Iata: Uma tentativa de Colonização (1943-1972). Goiânia, Dissertação de Mestrado UFGO, 1987.
61 “Colonisação”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 17 de agosto de 1932. Primeira página.
62 FERREIRA, Ten. A. Em Prol do Guaporé. Memorial enviado ao Gal. Rondon Belém do Pará, 18/02/1929.
63 TEIXEIRA, M.. Dos campos d'ouro à cidade das ruínas: apogeu e decadência do colonialismo português no Vale do Guaporé (séc.
XVIII e XIX). UFPE, Dissertação de Mestrado, Recife, 1997 e MEIRELLES, Denise M. Os Guardiães da Fronteira.
Cuiabá, UFMT, 1983. Para esta “invenção” do vazio ver os trabalhos destes autores.
40
As realizações que estavam sendo efetuadas em Rondônia (sic), com a criação de contingentes
militares para instalar colônias agrícolas, escolas, campos de pouso e estradas, demonstravam que o
projeto político da Revolução de 1930, pelo menos nessa região, estava sendo executado. Núcleos de
agricultores haviam sido instalados ao longo da Estrada de ferro Madeira Mamoré, nos lugares
Iata, Poço Doce, Jaci-Paraná e Abunã, bem como ao longo da rodovia Amazonas-Mato Grosso,
entre os quilômetros 8 e 13, e mais adiante, no cruzamento do rio Candeias.
64 FERREIRA, Ten. A. Em Prol do Guaporé. Memorial enviado ao Gal. Rondon Belém do Pará, 18/02/1929.
65 “A Exposição apresentada pelo Cap. Aluízio Ferreira traz inestimáveis benefícios à região”. ALTO MADEIRA.
Porto Velho, 31 de julho de 1932. Primeira Página.
66 PINTO, Emanuel P. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território de Guaporé, fator de Integração Nacional. Rio de
Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. Pinto foi correligionário do Cap. Aluízio Ferreira, eleito em 1946 como o primeiro
deputado federal constituinte do Território Federal do Guaporé com largo apoio das classes dominantes. O autor foi
seringalista, jornalista, empresário e político apoiava- e apoia atualmente via historiografia- as ações militares e
governamentais de seu ex-padrinho político.
67 “Transcrição Jornal do Commércio de Manáos”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 10 de julho de 1932.
41
... O contingente de Porto Velho tem a seu cargo a construcção e a conservação da rodovia de
penetração "Amazonas-Matto Grosso", ... foi justamente para intensificar os trabalhos rodoviários,
que o Contingente de Porto Velho, por aviso n.º 207, de 21 de marco de 1934, teve o seu
effectivo augmentado, na fusão com o Contingente de Linhas Telegráficas. ... Objetiva essa
estrada de rodagem attrahir, pela rapidez de transporte, a colonização em extensa faixa
territorial quase deserta e em terras fertilíssimas ... Além da construcção da rodovia, o
Contingente de Porto Velho auxilia o desenvolvimento do Núcleo Agrícola local, installado no kilometro
9 da estrada de rodagem. Nelle estão estabelecidas 25 famílias de patrícios egressos dos seringaes, em
lotes de 25 hectares, tendo cada uma dellas recebido uma lavoura de 03 hectares em estado de
producção e uma barraca de feitio regional, para moradia.71
68 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto-Lei n° 2009 de 09 de fevereiro de 1940. S. Paulo, LEX Editora S.A., 1964.
69 LEGISLAÇÃO FEDERAL.. Decreto-lei n° 2681. Dispõe sobre os planos de colonização dos Estados e Municípios.
07/10/40. S. Paulo, LEX Editora, 1.964.
70 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto-lei n.º 6117. Regula a fundação dos Núcleos Coloniais e dá outra
72 PINTO, Emmanuel P. Rondônia Evolução Histórica. Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. grifos meus.
43
A grande faixa fronteiriça, delimitada pelos rios Abunã, Madeira e Guaporé, desbravada e
povoada de longe em longe exclusivamente pela iniciativa particular, jazia abandonada às endemias
regionais, sem assistência médica, sem cuidados hospitalares, exposta às incursões de aventureiros, aberta aos
assalto ao contrabando, sem policiamento. Do lado boliviano, caracterizando-o, estavam estabelecidas
guarnições militares em Cobija, no rio Acre; em Manôa, na confluência dos rios Abunã e
Madeira; em Riberalta, no rio Beni; em Villa Bella, na confluência dos rios Beni e Mamoré; em
Guayaramerin (Puerto Sucre), no rio Mamoré e defrontando a cidade mattogrossense de
Guajará Mirim, ponto terminal da Estrada de Ferro Madeira Mamoré; no Fortim da Orquilla,
no rio Machupo, affluente da margem esquerda do Guaporé. Do nosso lado, só as ruínas
cyclopicas do Forte Príncipe da Beira, para attestar pelos annos afora, o vigor dos nossos
antepassados e a sua extraordinária perspicácia no delimitar a terra conquistada. ... a localização
dos contingentes obedeceu ao critério de estabelecimento em localidades que lhes permitissem, pelas facilidades de
transporte e comunicações e pelos benefícios da civilização, o desempenho da dupla missão que lhes incumbe. Os
de Porto Velho e Guajará Mirim, estão situados nos pontos inicial e terminal da ferrovia
"Madeira-Mamoré"; o do Forte Príncipe da Beira, demora no terço inferior do curso do rio
Guaporé, deserto, até a data de installação do Contingente, pelas incursões e ataques dos ferozes
índios "Mores", mas pacificados desde setembro de 1933. ... Meu parecer é que ainda há duas
localidades que necessitam ser guarnecidas: a villa de Presidente Marques, que é a mesma
estação de Abunã, da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e a velha cidade colonial de Villa Bella
de Matto Grosso. Presidente Marques fica em terreno firme, trez milhas a montante da barra do rio Abunã,
que é boliviano na margem direita. O Abunã já foi famoso pelos crimes alli praticados contra a vida
e a propriedade. ... O contrabando, porém, é instituição radicada. O que desce pelas águas do
rio é consignado de procedência boliviana, acreana ou amazonense, conforme o valor das
pautas do fisco estadual, federal ou extrangeiro. ... O descaso dos governos de Matto Grosso e
do Amazonas pela região, é absoluto. A localisação de um Contingente de fronteira, em Presidente
Marques, seria útil. ... Villa Bella, no alto Guaporé, antiga capital da província de Matto Grosso
abandonada e ficando a localidade habitada quase que exclusivamente por negros. ... Não
existe [alli] hoje, senão ruínas e o remanescente de uma população negra, attestando o antigo
fastígio da decantada Villa Bella, população que se vinga dos horrores da escravidão, dormindo
e vivendo na madraçaria há quase dois séculos. Villa Bella a dois passos da linha de fronteira, está
em completo abandono. ... A organização de um Contingente militar em Villa Bella, com effectivo igual
ao do de Guajará Mirim e subordinado ao comando da 8ª Região Militar, viria remediar, com
immensas vantagens, os males apontados. ... Providência elementar, indispensável e urgente, é a
creação immediata de uma colônia militar no Forte Príncipe da Beira. Esse estabelecimento não só
marcaria, com a sua creação, um padrão de soberania para a nossa fronteiras, como seria também a
MENEZES, Esron P. Forças Militares do Exército em Rondônia. Apostilados do autor. Centro de Documentação em
74
FERREIRA, Cap. Aluízio. Relatório enviado ao comandante da 8ª Região Militar. 28 de setembro de 1935. pp. 01-5 e 9-11.
75
Arquivo do CDHR/SECET-RO.
46
76LEGISLAÇÃO FEDERAL.. Decreto-lei n.º 1351 de 16/01/1939. S. Paulo, LEX Editora SA, 1964. pg. 312
77Para uma leitura dos problemas dos núcleos agrícolas ver Francisca Silva a mesma credita a falência do modelo pelo
reduzido tamanho das terras e a falta de assistência técnica e esgotamento do solo. Alcir Lenharo responsabiliza o
fracasso pela imposição de regime disciplinar[militar] imposto aos colonos e à sua dificuldade de adaptação. In op. Cit.
47
Por outro lado, urgia providência que, se não evitasse, pelo menos attenuasse, o
despovoamento alarmante da zona, ... víamos, quotidianamente, os últimos rebutalhos dos
nossos patrícios, abandonarem, num verdadeiro êxodo, os aldeiamentos que em épocas mais
prósperas, construíram ao peso de mil sacrifícios. ... que o recrutamento fosse feito na região de
estacionamento, visando aproveitar a população aclimatada. ... os trez contingentes
auxiliam os serviços regionaes de communicações e transportes, de par com a disseminação da
instrução e trabalhos de saneamento, ... fixando definitivamente a posse da terra e
attenuando, senão evitando, a infiltração da língua, usos e costumes do pais visinho..79
78 PINHEIRO, Niminon S. VANUÍRE – Conquista, Colonização e Indigenismo: Oeste Paulista 1912-1967. Assis, UNESP,
Tese de Doutorado em História e Sociedade, 1999. Para uma leitura entre as similaridades com outras regiões ver
especificamente o capítulo “Bugreiros e militares na conquista dos territórios indígenas” op. cit. Pp. 79-114
79 FERREIRA, Cap. Aluízio. Relatório enviado ao comandante da 8ª Região Militar. 28 de setembro de 1935.
48
80 FREITAS, Liége de. O poder arregimentador do Estado. Assis, UNESP, Dissertação de Mestrado em História e
Sociedade, 2000. Para uma leitura mais aprofundada do imaginário nordestino a respeito da região.
81 LIMA, Antônio C.S. Um Grande Cerco de Paz: Poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis, Vozes,
Brasília, Dissertação de Mestrado em História Política e Social do Brasil/UnB, 1996. Pp. 127.
84SILVA, Francisca A. Informação baseada em comunicação pessoal mantida em 08 de agosto de 2002.
49
É muito viva na memória dos Ururam Tchen, uma das linhagens dos Pakaa-nova, os
ataques não só aos seringueiros mas também a Estrada de Ferro Madeira Mamoré e, a
população da região diz que para reprimir os ataques dos índios à estrada de ferro a
Companhia eletrocutava os trilhos.
Assim podemos concluir que a estrada Madeira-Mamoré, que não só matou muitos
Homens Brancos mas, também como todo empreendimento na Amazônia, contribui para o
aniquilamento dos índios.85
“O primeiro massacre relatado ocorreu nos anos 40 nas proximidades da Aldeia SãoLuiz.
Ele foi realizado pelos dois irmãos seringalistas João e Luiz Danta que alegavam que os índios
flechavam os seringueiros. Muitos índios morreram e os que sobreviveram se afastaram. .. O
segundo massacre ... foi no igarapé Teteripe no seringal do Alkindar que era dono do alto
Cautário... O terceiro ocorreu na cabeceira do rio Pacaa Novas, organizado pelo seringalista
Manoel Lucindo da Silva.”86
85 SANTOS, Omar Landi. Pakaás Nova. Campinas, Unicamp, Monografia , 1980. O autor foi chefe do Posto de Pakaás
Nova. Seu trabalho tem mais tom de denúncia, sem pretensões teóricas.
86 -Conselho Indigenista Missionario- Regional Rondônia. PANEWA ESPECIAL. Porto Velho, Abril de 2002. pp. 56-
58.
87 Conselho Indigenista Missionario- Regional Rondônia. PANEWA ESPECIAL. Porto Velho, Abril de 2002 pp. 57.
88 BENJAMIM, Walter. Magia e técnica, arte e política. S. Paulo, Brasiliense, 1985. Empresto o conceito de história
... parte dos povos nativos, cujos territórios são invadidos por organizações militares
conquistadoras, a elas devem se aliar/fundir, tornando-se integrantes dos seus efetivos,
maximizando as forças invasoras. ... Deve-se, contudo, ressaltar...a multiplicidade de formas de
escravidão.
... a história imortalizou os “Joãos Ramalhos” e “Caramurus”... a partir do SPI
encontram-se relatos da pacificação dos Kaingang, ..., unânimes em qualificar de heroína a índia
Vanuíre, vinda do Paraná para atuar junto aos “pacificadores”...
A conquista implica em fixação de parte do povo conquistador nos territórios adquiridos
pela guerra. Este processo se amplia após a vitória militar, configurando um maior afluxo de
população originária das unidades sociais invasoras. Tal envolve o desdobramento da
organização militar conquistadora em uma dada forma de administração, para gerir a
exploração sistemática do butim, e a transmissão de alguns elementos culturais e valores
principais do invasor. ... melhor seria , pedindo licença ao arsenal psicanalítico para o uso de
uma analogia, vê-la gerada por uma guerra sublimada, presente a retórica, ausente a violência da força
física.89
89 LIMA, Antônio C.S. Um Grande Cerco de Paz: Poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis, Vozes,
1995. Especificamente o capítulo 1- A Conquista como modalidade de Guerra. Pp. 44-63.
90 PINHEIRO, Niminon S. VANUÍRE – Conquista, Colonização e Indigenismo: Oeste Paulista 1912-1967. Assis, UNESP,
Tese de Doutorado em História e Sociedade, 1999. Em relação ao SPI e os militares na “pacificação” e “integração” do
índio à nação ver este trabalho, ainda sobre a expansão do capital sobre as áreas dos kaingang no centro-oeste paulista.
Pp. 79-114.
91 PROCESSO CRIME n.º 11/49. Indiciado João Freire de Rivoredo. Comarca de G. Mirim. 14 de abril de 1945.
Por outro, era uma forma de ordenamento do espaço promovendo uma “faxina
étnica e genocida”92 em áreas abastadas de matérias primas e riquezas minerais. O
procedimento de deslocar os povos dessas regiões e treiná-los como sentinelas, mostrou-
se um método eficaz para os militares com seu projeto de “ocupação”. Os índios
desarticulados enquanto etnias e culturas foram “integrando-se” como colonos e soldados
na fronteira. A prática do reordenamento das terras indígenas estava “naturalizada” nesse
período. Rondon, ao aceitar a Direção do SPI, descreveu ao Ministro da Agricultura a
mudança dos índios Paresí para outras terras, na tentativa de torná-los criadores de gado,
de modo que não precisariam mais caçar; era o prelúdio do ordenamento espacial na
região, liberando as terras originárias do povo Paresí.93 Assim, o Delegado de Vargas
ressuscitou, a reunião das etnias sobreviventes dos vales dos rios Branco, Colorado,
Corumbiara, Mequens, Sotero, Pakaa Nova e outros, no Posto do SPI “Ricardo Franco”,
próximo ao Forte Príncipe da Beira no rio Guaporé.
Segundo Meirelles94 a construção da fronteira do Guaporé por meio do aldeamento
de índios foi uma experiência implementada no século XVIII pelo Marquês de Pombal. As
diferentes temporalidades, contextos históricos e abordagens de cada período impedem a
comparação dos dois momentos, porém indicam a semelhança e reapropriação de práticas
em um outro contexto histórico. As coroas ibéricas, diferentemente dos militares
positivistas, viam o índio como vassalo, nações vassalas em seu hábitat natural. Mantinham
os índios nos espaços sem tê-los como escravos, e sim “ como guardiães naturais da fronteira”.95
Para a autora, a significativa mudança em relação aos índios do Vale do Guaporé se deu
com a exploração da borracha. Os índios, a partir daquele momento, passaram a ser
considerados empecilhos ao desenvolvimento da economia extrativista e as suas terras
passaram a ser disputadas pelo seu alto “valor de uso” adquirido pela demanda de
borracha gerada nas indústrias dos países centrais.
Entre indas e vindas, a política federal de colonização das fronteiras estava sendo
gestada. O Chefe do Posto Telegráfico equacionou os conflitos em terras indígenas com a
estratégia de “ocupação ordenada” e soberania militar. Por meio de uma ação resolveu
dois problemas interligados simbioticamente. “Protegendo” os índios, garantiu a
“povoação” do interior dos vales e defendeu as fronteiras. O Ten. Aluizio Ferreira
preocupava-se com a “ocupação” da fronteira com a Bolívia. O projeto era transformar os
fracasso dos projetos de núcleos agrícolas ao modelo de disciplinarização militar imposto aos colonos.
53
“defesa” das fronteiras, figurada em nacionalismo. A crise estava no auge, após a quebra
da bolsa de Nova York, acentuando o “nacionalismo” das elites comerciantes e
seringalistas.
A coluna “Pelo Guaporé” remeteu a construção da “identidade nacional” à colônia.
Reviveu os mitos militares de Ricardo Franco, engenheiro “construtor” do Forte Príncipe
da Beira, nas margens do Guaporé e do governador da província Ten. Cel. Mello e
Cáceres. Assim, “heróis” do passado remoto foram ressuscitados em defesa da “nação”. A
estes foram agregados o Gal. Rondon e o Maj. Amarante, mártir/herói que veio a falecer
vítima de uma endemia, “tragado” pelo meio hostil da fronteira em nome da “civilização”.
Nessa coluna, não são mencionados as centenas de escravos, presidiários e degredados
políticos consumidos na construção destes estandartes “nacionais”. Seus calabouços (Forte
Príncipe da Beira) ironicamente conservam, em mural, o registro escrito do desespero das
“maiorias silenciosas”.
O apelo “nacional” surtiu efeito e, em 1931, o governo provisório contratou o
coronel “de barranco” Paulo Saldanha (ex-gerente dos seringais da Guaporé Rubber e
Julio Müller, subsidiárias da falida Madeira Mamoré Railway and Co)99 para explorar a
navegação do rio Guaporé. O trajeto ia de Guajará Mirim, no Mamoré, à Vila Bela de
Mato Grosso, no Guaporé, ponto final da EFMM, interligando a fronteira com a estrada
de ferro Madeira-Mamoré, a conexão para Manaus e Belém. O autor do memorial
comparou o Cel. Paulo Saldanha ao Ten. Cel. Mello e Cáceres:
E assim, o Forte erigido por Cáceres, com intuitos militares, defensivos da Capitania, que
pretendera aproveitá-lo para fins comerciais, em benefício da “Companhia de Navegação”, a
que dava irrestricto amparo do seu poderio, tornará à sua importância antiga, não mais pelo
que possa valer, como obra de fortificação, já inteiramente antiquada, sinão pela excellência do
sitio, onde se alteou, graças ao esforço de centenas de artífices, que diligenciaram argamassar-
lhe o arcabouço, por maneira a fazê-lo resistir a acção corrosiva dos agentes naturaes. As
esplêndidas condições locaes estão a reclamar o estabelecimento de um núcleo colonial, de
preferência constituído por brasileiros, que ali possam contribuir, com seu trabalho e civismo,
para impedir a desnacionalização do valle guaporeano, onde já as brizas andinas beijam a bandeira
brasileira, outrora ausente daqueles ares, em que só trimulava a boliviana.100
98 HECK, Egon. Os índios e a caserna. Políticas Indigenistas dos Governos Militares. Campinas, Dissertação de Mestrado em C.
Políticas do IFCH, 1996. Especificamente o capítulo “Militares assim pensam”. Pp. 27-30.
99 TEIXEIRA, M. e FONSECA, D. História Regional (Rondônia). Porto Velho, Rondoniana, 1998. Pp. 146.
54
100“Coluna Pelo Guaporé”. ALTO MADEIRA. Estado do Amazonas, Porto Velho- 13/Abril/1932. Primeira página.
Acervo do Centro de Documentação Histórica de Rondônia da Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de
Rondônia daqui por diante utilizarei o termo CDHR/SECET.
101 “O Major Juarez Tavora: As suas impressões do Norte e particularmente da Amazônia”. ALTO MADEIRA.
de Goiás, Dissertação em Ciências Sociais, 1986. Conforme Francisca Araújo o Núcleo do Iata resistiu até 1972,
quando a maior parte de seus colonos resolveu abandonar as terras justamente pela falta de assistência técnica na
55
recuperação do solo. Levando a uma concentração fundiária por parte de pessoas alheias ao núcleo transformado em
pastagens.
103 “ A caminho de um "inferno verde" que offerece trabalho e conforto”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 12 de
estrangeiros (de preferência distante dos pais), válidas para as áreas de fronteira. O decreto
regulamentava a prática cívica de estrangeiros nas fábricas, comércio e núcleos coloniais.
Em 1942 Vargas foi mais incisivo em relação aos estrangeiros, autorizando o
Ministério da Agricultura a desapropriar lotes ou “áreas de terras” onde houvesse
concentração de estrangeiros contrária ao interesse e defesa nacionais para a formação de núcleos
coloniais. O Maj. Torres Homem, Secretário da Comissão Especial de Revisão das
Concessões de Terras na Faixa de Fronteiras – CERCTFF notificou a revisão das
concessões de terras na região nos prazos estabelecidos pelo C.S.N.106 A propriedade e a
produção foram centralizadas nas mãos do C.S.N. As medidas arbitrárias abalaram os
alicerces das classes dominantes locais. O Cel. Joaquim Cesário, representante das elites
proferiu palestra tecendo críticas à política de fronteiras decretada por Vargas, condenando
a fixação de apenas 500 hectares para cada seringalista.
Esse favor em vez de consolidar na terra o ocupante dela, vem despejar violentamente velhos
moradores, e deles privar o trabalho de anos, no desbravamento da região na abertura e
colocações indispensáveis ao serviço da indústria extrativa da borracha, castanha e óleos
vegetais, única fonte de renda compensável que lhes prende à terra e garantem a
independência. ...
Se a lei federal teve o objetivo de garantir a segurança das nossas fronteiras deixando
entregue ao governo o domínio exclusivo da grande faixa devoluta, isso facultará com
melhores vantagens uma possível invasão, em terras “desertas”, desabitadas, ... 107
106 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Autoriza a desapropriação de lotes ou áreas de terras nos Núcleos Coloniais. DL 5.153 de 31 de
dezembro de 1942.. S. Paulo, LEX Editora, 1.964.
107 “O Homem e a Terra. Cel. J. Cesário”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 26 de setembro de 1942.
108 PROCESSO DE ALIENAÇÃO DE BENS DE ERNESTO KELLER. Guajará Mirim, 1942 Acervo do Centro
São Miguel e “Ricardo Franco” entre a embocadura do rio Mamoré boliviano e o Forte
Príncipe da Beira.
No vale do Guaporé boa parte dos seringalistas era de procedência estrangeira,
gregos, alemães, sírios, judeus, peruanos e bolivianos, formando a camada dominante da
sociedade guaporense. O seqüestro dos seringais cultivados da Malásia pelos japoneses
durante a 2ª Guerra Mundial foi a tábua de salvação das elites. O governador do território
Maj. Aluízio Ferreira tinha o apoio dos grandes seringalistas. As questões legais ficaram em
“suspenso” em nome da economia de guerra. A situação melhorou bastante para as classes
dominantes decadentes, foram ressuscitados em “novos patrões” sob a tutela do Estado
Novo.
O governo federal tentou “humanizar” a exploração do seringueiro emitindo um
pacote de leis que, aparentemente, visava protegê-lo. Imperava nas relações de exploração
uma realidade diversa: “Este é um aspecto, dos muitos, que a vida dos seringais nos apresenta, com
seus problemas complexos. As leis sociais do Brasil não conseguiram ainda sobrepujar a lei da
‘jungle’”.109 O jornalista do Diário Carioca protestava contra as injustiças praticadas pelo
Tribunal de Segurança Nacional, que apesar das provas e conhecimento das mazelas
sofridas pelos seringueiros não tomavam as providências necessárias. Nos seringais,
mesmo com a intervenção governamental, se mantinha a tradicional espoliação de índios e
seringueiros.
Desenhava-se a política de Segurança Nacional de Vargas em relação às fronteiras,
iniciando-se com inspeções às fronteiras e aos contingentes militares. O segundo passo foi
a regulamentação da faixa de fronteira de 150 km adentro. Finalmente, a criação de
territórios federais de fronteira de norte a sul. A ação de Vargas em relação à região foi em
primeiro lugar a instalação de contingentes de fronteira. Em segundo lugar, a
regulamentação das áreas de fronteira e sua “ocupação” por meio de núcleos agrícolas. Por
último, a intervenção direta pelo governo federal com a criação dos territórios federais.110
Theogenes Lima, jornalista do “A noite” fez apologia, à iniciativa de criação das
companhias militares de Vargas. Segundo ele, foi uma medida extremamente inteligente
deslocar oficiais, sargentos e soldados com suas famílias para as áreas fronteiriças.111
Excluindo as razões militares de “ocupação”, as principais “vantagens” foram para as
classes dominantes civis e militares.
“109A tragédia dos seringais”. ALTO MADEIRA.. Porto Velho, 04 de Março de 1943. Extraído do Diário Carioca.
110 “A nova divisão territorial do Brasil”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 28 de Fevereiro de 1940. Extraído do "O
O mesmo estado de exceção imposto à sociedade nos centros do país pelo Estado
Novo, apoiado pelos militares, permitiu aos mesmos abusar de seu poder em localidades
marginais. Do início dos anos 30 até a criação do Território do Guaporé houve vários
casos de abuso e violência por parte dos militares. Foram casos de espancamento112, lesão
corporal, agressão, brigas e arruaças. Outro aspecto muito visível nos inquéritos
envolvendo militares foi a tradicional e histórica promiscuidade entre o público e o
privado. Os mesmos utilizavam-se de seu poder de violência para benefício pessoal,
reproduzindo as relações entre o Estado e os poderosos.113 Nos bastidores e na lembrança
de suas vítimas não possuíam a aura de heróis construída pela memória “oficial”.
Oblíqua e paralela, a posse dos recursos minerais não deve ser secundada. As
facções do Exército “observadores” da região Amazônica consideravam de extrema
importância a pesquisa dos recursos minerais. Conjugavam o binômio, exploração aurífera
com colônias agrícolas indígenas para garantir a “ocupação” do solo e a posse do subsolo. Em
sua concepção os minérios eram essencialmente estratégicos para a “nação”.
Rondon114 proferiu a conferência Rumo ao Oeste, na qual abordou a importância da
prospeção de ouro na região de Pimenta Bueno e conclamou à união de esforços entre os
Ministérios da Fazenda, Agricultura e da Guerra para sua exploração. O resultado foi a
formação de uma comissão de engenheiros de minas dentro da 4ª Companhia do 4º
Batalhão Rodoviário em 1940. Lima conclui que o SPI passou a ser um carreador de
verbas para além do “humanitarismo” com os índios. Dos hum mil e seiscentos contos de
réis enviados em 1942 ao SPI, trezentos e vinte e nove contos foram para a prospeção de
ouro no rio Urucumaquam (cabeceiras do Pimenta Bueno) e quatrocentos contos foram
para a rodovia Cuiabá-Vilhena.115 A fachada do SPI foi o “humanitarismo” na proteção aos
índios.
O jornal "O Estado do Pará"116 tornou público a descoberta da província aurífera
de Urucumacuan, situada entre as estações telegráficas de Pimenta Bueno e Vilhena. O
grupo interessado na exploração era representado pelos generais Manoel Rabello e
Cândido Rondon. Foi organizada em 1940 uma expedição sob o comando do major
Aluízio Ferreira, Diretor da EFMM e Inspetor dos Contingentes de Fronteira. A
112 DENÚNCIA DA PROMOTORIA DE G. MIRIM POR AGRESSÃO E ABUSO DE PODER POR MILITARES.
G. Mirim, 17 de fevereiro de 1941. Acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do
Estado de Rondônia. livro I, pp. 23-24.
113 FOUCAULT, M. Microfísica do poder. R. Janeiro, Paz e Terra, s/d.
114RONDON, Gen. Cândido. Rumo ao Oeste. Conferência no DIP. Rio de Janeiro, Agência Nacional, 1940.
115
LIMA, Antônio C.S. Um Grande Cerco de Paz: Poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis, Vozes,
1995. Especificamente o capítulo “Colonização, preservação e integração” pp. 286-289.
116 “Explorações auríferas no rio Urucumacuan, no noroeste de Matto Grosso”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 21
de agosto de 1940. pp. 03. CDHR/SECET. Extraído do "O ESTADO DO PARÁ" de 14 de agosto de 1940.
59
“ocupação” por meio das colônias agrícolas indígenas foi o meio de garantir a posse sobre os
minérios. Especulo se as razões para a ocupação ter sido feita por meio de colônias agrícolas
indígenas, não seria porque dessa forma aumentaria a esfera de influência do Gal.
Rondon?117 A área estava sob a jurisdição do Mato Grosso criando a necessidade de
garantir ao SPI o controle sobre a região.118 As riquezas “inexploradas” estavam sendo
disputadas nos bastidores entre as forças políticas regionais do estado do Mato Grosso e
forças armadas.
Noutro momento o progresso e ocupação foi creditado ao presidente por ocasião
de sua visita à região.119 A ideologia da "Marcha para o Oeste" veio à tona vinculando sua
genealogia à “nacionalização” da EFMM em 10 de julho de 1931. A região sem expressão
econômica e política, foi visitada pelo Chefe da “nação”. Enfatizou-se a atuação do Maj.
Aluízio Ferreira pelo seu método de “ocupação/invasão”.
117 PINTO, Emanuel P. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território de Guaporé, fator de Integração Nacional. Rio de
Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. O autor anexou em sua obra o manifesto do descobrimento das Minas de
Urucumacuan registrada em cartório no Rio de Janeiro em 25 de Maio de 1934. pp. 181-184 (Anexo 2).
118 PINHEIRO, E. À sombra de Rondon e Juarez. S. Paulo, Edicon, 1985. O Cel. Enio Pinheiro relatou que ao traçar a
estrada entre o povoado de Vilhena e Pimenta Bueno fez uma grande volta desviando das jazidas minerais alí
localizadas por Rondon.
119 “Presidente GETULIO VARGAS”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 11 de Outubro de 1940. 1ª pg. CDHR-
RO/SECET.
60
proveito das cidades em que vivem e onde enriquecem e nem cogitam de abandonar aquela
região.120
Duas décadas após, em 1953 o governador Cel. Ênio Pinheiro- afilhado político e
sangüíneo empossado pelo deputado federal Cel. Aluízio Ferreira- criou a Colônia
Agrícola do Bate-Estaca, no município de Porto Velho 121. A criação de colônias agrícolas
tornou-se efetiva desde a "nacionalização", estendendo-se pelas décadas seguintes, todas sob
influência direta ou indireta dos elementos militares. A produção agrícola como veremos no
capítulo 3 foi crescendo gradativamente em relação ao extrativismo. A Colônia do Iata
resistiu com os “parcos” recursos até 1972, quando foi decretado o seu golpe final com a
desativação da EFMM.122 A Colônia do Candeias se tornou “albergue” da Grande Porto
Velho e a Colônia dos Japoneses, por contar com apoio do Consulado Japonês em
Manaus, foi uma das sobreviventes.
O Regimento Interno das Colônias – RIC, foi criado em 1947 pelo Departamento
de Produção Terras e Colonização para evitar os conflitos entre os colonos e o
administrador. Redigido de cima para baixo, seu escopo era o decreto de 1939 da criação
das colônias militares.123 Este à exemplo do decreto que regulamentava as colônias
militares conferia poderes absolutos ao administrador- comandante- da Colônia indicado
diretamente pelo governador. Segundo depoimento de ex-colonos do Iata, em pesquisa de
campo junto aos remanescentes da comunidade, o administrador era cargo de confiança
do governador e detinha poderes arbitrários extrapolando à vida privada das pessoas.124
Segundo Silva, o RIC só fora criado em 1947 pelo Departamento de Produção
devido aos conflitos entre os colonos e o administrador do núcleo. Entre as proibições estabelecidas
pelo regulamento, destacava-se o impedimento para “estabelecimento de casa de comércio ou
indústria, sem prévio consentimento da Div. de Prod. Terras e Colonização. É proibido o colono ser
comerciante ou exercer outra profissão, que possa prejudicar suas atividades agrícolas”.125
Os dados do Serviço de Geografia e Estatística do Território do Guaporé,
produzidos na década de 50 permitem acompanhar as dificuldades de sobrevivência dos
núcleos agrícolas, seu enraizamento e volume de produção. Nestes dados é visível o
120. ALEXANDRINO, Cel. Manoel. Relatório Reservado da Inspetoria de Fronteiras do Estado Maior do Exército ao Conselho de
Segurança Nacional. 1938- pg.04. Arquivo do CEPEDOC-FGV- Caixa Gustavo Capanema.
121 COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Decretos dos Governos Territoriais 1944 à 1981. Porto Velho, Governadoria
Assunção, diretor do colégio Presidente Dutra à época da pesquisa, citou o caso de triângulo amoroso entre colonos. O
administrador expulsou os colonos e suas respectivas famílias, alegando medida disciplinar para outros colonos.
61
125
SILVA, Francisca. Uma tentativa de colonização: A Colônia Agrícola do Iata (1943-1972). Goiânia, Dissertação de
Mestrado UFGO, 1987.
126 SILVA, Francisca. Op. Cit. pp. 30-33.
127 SILVA, Francisca. Uma tentativa de colonização: A Colônia Agrícola do Iata (1943-1972). Goiânia, Dissertação de
colonos. Nesta fase ocorreu outra prática que evidencia a forma de “planejamento”.
Passou-se a produzir de forma “diferenciada” nas “terras do governo” situadas no núcleo
urbano da colônia. A forma mecanizada utilizando tratores e arados na preparação do solo
era exclusiva para a atender o consumo das elites burocráticas civis e militares: “Esta
produção se destinava a atender um pequeno número de consumidores tido como especial destacando-se,
sobretudo, os funcionários públicos que desempenhavam funções de primeiro escalão no governo do
Território”128. Os colonos continuavam a produzir na base da enxada. Silva, em sua análise,
considerou os problemas enfrentados para a efetivação de um núcleo de pequenos
produtores:
Para manter o controle ... e para evitar que os colonos se sentissem no direito de
usufruir de parte desta produção, o administrador adotou o sistema de pagamento diário
[assalariamento] ao lavrador. ... É necessário ressaltar que a pretensão do D. P. ao tentar
modernizar as técnicas de cultivo na área do núcleo não significou desprezo para com os
colonos. ...
Independente da idéia de modernizar a agricultura da região, o governo continuou empenhado em
apoiar o crescimento da colônia. ...
Fora da época de colheita, a administração do núcleo coordenava uma outra atividade
econômica com fins lucrativos para o Território. Trata-se da extração de lenha e de madeira
de “lei”. Aqui, a forma de pagamento ao colono era também a de diária. ... Vale frisar que a
atividade de extração de lenha e de madeira ficava restrita somente à administração do
núcleo. ... Entende-se também, que a medida restritiva da administração sobre a extração de
madeira se fazia apenas em relação aos lucros, haja vista que as madeiras de lei, encontradas nas
áreas dos lotes de colonos eram extraídas e vendidas à administração por um preço de diária do colono.129
cultivadas, atraindo novos colonos pelo artifício dos “benefícios sociais”. O golpe de
misericórdia ao sistema foi a entrada dos “marreteiros” 131, que compravam os produtos
por preços bem acima dos fixados pelo governo. Os colonos, enfim, tinham a
possibilidade de revender sua produção ao preço de mercado, aos atravessadores.
É interessante fazer uma analogia à economia do seringal. Duramente criticado
durante o segundo “boom” da borracha, o “sistema de barracão” implantado com as
colônias agrícolas foi revigorado em nova roupagem. Do extrativismo do látex à
agricultura, os padrões de exploração se mantiveram semelhantes. Aumentava-se a área do
seringal e fixava-se o preço do produto espoliando o produtor pelo monopólio da compra.
O trabalho de Silva traz anexos muito importantes para compreendermos o
esvaziamento das colônias e sua conseqüente concentração fundiária. São vários ofícios
dos colonos entregando as terras para o Administrador e, de outro lado, várias solicitações
de autorização para ocupação dos lotes devolvidos com a criação de gado. O governo
implantou um modelo perverso redundando no esgotamento do trabalhador, das terras e o
seu desencanto pela “pequena propriedade”.
Os dados oficiais existentes sobre a colônia agrícola de Iata referem-se somente à
1954 e indicam uma capacidade de produção muito elevada. A resumida relação de itens
básicos à sobrevivência subiu para a diversidade de 32 itens, pressupondo a fixação,
diversificação, bem como a estruturação de um mercado local.132
A partir dos anos de 1946 e 1947, as matérias publicadas no Alto Madeira são
otimistas com a implantação de colônias agrícolas e os resultados alcançados. Divulgaram
os dados da produção de dez toneladas de açúcar, vinte de arroz, cinqüenta de mandioca,
de milho, feijão e demais gêneros colocados no mercado de Guajará Mirim e Porto Velho.
Os números são “sedutores” se forem tomados em sua forma pura, mas se
olharmos a partir de um ponto de vista um pouco mais atencioso, veremos que o aumento
na oferta de produtos significou concomitante uma maior exploração da mão-de-obra dos
colonos e consequentemente uma acumulação acentuada nas mãos dos comerciantes-
seringalistas. A ocupação do espaço pelos núcleos coloniais ironicamente favoreceu as
elites civis e militares.
O Serviço do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) divulgou nota pelo
Alto Madeira revelando os objetivos das colônias agrícolas nacionais: "Dada a sua
proximidade de Manaus, o futuro núcleo está destinado a solucionar, em grande parte, o problema do
Espécie de atravessador, trocava manufaturados ou comprava a produção para revender nas cidades de G. Mirim e
131
Porto Velho.
65
fornecimento dos latifúndios..." 133 O Estado Novo tinha por objetivo um consórcio entre os
latifúndios e a pequena produção contradizendo o discurso da “Marcha para o Oeste” de
criar o novo brasileiro por meio da pequena propriedade. A partir da política de "mercado
artificial" implementada, o preço da borracha foi "garantido" pelo estado, sendo
compensador para os seringalistas "abrirem mão" do tempo do seringueiro. Com o preço
garantido, o "menor" custo de produção, aumentou proporcionalmente suas margens de
lucro. A partir da política de preços "estáveis" o seringueiro pode praticar a caça, pesca,
roçado de um hectare pelas regras do contrato-padrão, práticas proibidas a “ferro e fogo”
durante o primeiro ciclo da borracha.
DIP.
66
A fronteira em construção:
Este capítulo aborda os projetos políticos e administrativos para a região Noroeste do estado
do Mato Grosso e seu desdobramento com a constituição do Território Federal do Guaporé, em 1943.
Estas discussões tiveram início na década de 30 e caminharam paralelas às discussões do
executivo federal por meio do Conselho de Segurança Nacional e dos ministérios mais
próximos às questões sobre a redivisão territorial do Brasil. A Conferência do Capitão Aluísio
Ferreira na Sociedade de Amigos de Alberto Torres, no Rio de Janeiro, em 1936, parece assinalar
o início das discussões a respeito dos territórios de fronteira e a problemática da segurança
nacional. A partir do golpe de 37, em pleno Estado Novo, a campanha pela criação de
territórios de fronteira foi bem mais ostensiva. O Ministro da Viação e Obras Públicas,
Cel. Mendonça Lima, visitou a região no início de 1938, inaugurando a linha aérea entre
Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco. Até então, nenhuma autoridade de alta patente havia
verificado as condições da fronteira in loco. Outro fator que reforçou a idéia da criação do
território foi a “oficialização” da campanha “Marcha para o Oeste”, em 1938. Dois anos
depois, o próprio presidente Vargas, durante visita à Amazônia, anunciaria as principais
metas da Marcha: a ocupação do território por meio da pequena propriedade e do
saneamento da região.
Pretendo abordar a discussão sobre o desmembramento das áreas do sudoeste do
estado do Amazonas e do noroeste do estado do Mato Grosso, região compreendida no
raio de ação política e administrativa da ferrovia Madeira-Mamoré, subordinada ao
Ministério da Viação e Obras Públicas e da Inspetoria de Fronteiras e da Seção Norte do
Telégrafo Nacional, ambos subordinados ao Ministério da Guerra. Durante a década de
30, esses órgãos foram as bases reais da administração federal na região. Pretendi
identificar quais os grupos interessados, quais as motivações às discussões, quais os
diálogos e embates travados entre os grupos locais e regionais por meio da imprensa em
torno dos projetos. Para isso, explorei os artigos publicados por jornais cariocas de
circulação “nacional” como Correio da Manhã e A Noite, confrontando os diálogos e
contraposições dos grupos, cruzando as representações elaboradas por estes periódicos e
os projetos de lei editados pelo governo Vargas.
O diretor e jornalista, Geraldo Rocha 134, proprietário do jornal A Noite, editou entre
1936 e 1942 as colunas “Marcha Para o Oeste” e “Territórios de Fronteira”. Nessas, temos
134
SODRÉ, Nelson W. História da Imprensa no Brasil.R. Janeiro, Paz e Terra, 1978. As transcrições
contidas no jornal Alto Madeira creditam o nome do jornal como “A Nota”, porém não encontramos
referência a esse periódico no Rio de Janeiro. Conforme o autor, Irineu Marinho em 1911 fundou o jornal A
68
Noite, que logo passou o controle para Geraldo Rocha. O jornal é considerado getulista por Sodré devido ao
AIZEN, N. Era Uma Vez Duas Avós.... 9.ª ed. Rio de Janeiro, EBAL, 1995. Segundo o autor (Diretor da
Editora Brasil-América S.A., desde 1966) em 1944, pressionado por problemas de importação de papel de
imprensa (naquele tempo, ainda não havia o nacional), José Aizen vendeu o Grande Consórcio de seu grupo
CASTRO, Ruy. O Anjo Pornográfico. A Vida de Nelson Rodrigues. São Paulo, Companhia das Letras, 1992. P.106.
Segundo o biógrafo de Nelson Rodrigues, Vargas após o golpe em 1930, fechou diversos jornais pelo país,
justamente aqueles que eram contrários ao golpe e seu regime de governo. “Foram invadidos ‘Crítica’, ‘A
Noite’, o ‘Jornal do Brasil’, ‘O País’, ‘A Notícia’, ‘Vanguarda ’e ‘Gazeta de Notícias’” . “Durante o tempo
em que esteve preso [Mário Rodrigues- pai de Nelson], foi ajudado financeiramente, nessa época, por
CAPELATO, Mª Helena R. “Propaganda política e controle dos meios de comunicação” in Dulce Pandolfi (org).
Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro, FGV, 1999. pp 171. Para maior esclarecimento quanto à imprensa no
período Vargas consultar o artigo acima.
135 VARGAS, G. A Nova Política Econômica. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1938.
69
foi o movimento cívico que, depois de 1930, desfraldou a bandeira do Amazonas para os
amazonenses. Os homens públicos que exerceram o governo daí em diante –exceção de dois
interventores federais do período ditatorial- foram, em conseqüência, todos amazonenses. (...)
Até então, os homens que comandavam a política, a vida intelectual e econômica eram, na sua
quase totalidade, de fora. A criação dos territórios federais de Rondônia e Roraima, provocou
mal-estar, desfalcou o estado em área e população. Os municípios de Porto Velho e Boa Vista
passaram àqueles territórios.136
uma leitura mais aprofundada sobre a formação do alto comando das forças armadas.
139 Estes setores seguiam o pensamento de Friedrich Ratzel, compreendiam o espaço como a própria Nação e
objeto primordial da geopolítica. O espaço ocupado por um povo era sua principal referência para a constituição
da nação, em detrimento da língua, cultura e passado comum. Concebiam o território como espaço orgânico, o
"espaço vital" na expressão e tradução dos teóricos brasileiros. O território era negado enquanto espaço político,
fruto das relações sociais conflitantes e historicamente constituídas para ser visto como espaço ambiente natural.
A teoria de Darwin exerceu grande influência sobre as concepções de Ratzel, este fez uma leitura do espaço a
partir da biologia darwiniana. Para Ratzel, a seleção natural se extrapolou para a seleção social, seleção planetária
70
na qual as nações mais aptas tinham a “necessidade de preservação”. Para poder cumprir seu “desígnio natural”
deviam ocupar o território das outras "espécies-nações" mais frágeis.
71
denominada a Amazônia. Entre os anos 30 e 40, houve uma inversão dos conceitos sobre
a Amazônia e o extremo oeste. O sertão "desconhecido", projeção de todos os aspectos
negativos do país, terra de índios bravios, de trabalhadores indolentes, inversamente,
passou a ser o espaço ideal para a “renovação” da identidade nacional. Essa versão era
construída, contrapondo a decadência do litoral, “contaminado” pelas ideologias européias
do fascismo, do comunismo e do liberalismo, acusadas de principais responsáveis, pelas
crises econômica, social e política das populações litorâneas.141 O sertão, por sua vez,
surgia como o espaço dos ideais de nação, da brasilidade em estado de puro potencial, um
movimento de se auto encontrar e se recriar, o renascimento interno do ser nacional. O
espaço tornou-se uma das principais metáforas da identidade e da nação, em alguns
momentos sinônimos.
Havia a disputa entre o pensamento positivista das Forças Armadas de construir
uma "nação", através da integração do território, e a contradição reinante de uma
hegemonia liberal, visando “desarticular” essas regiões para controlar o Estado (o caso das
oligarquias exportadoras). Panorama alterado, a partir de 1930, com a ascensão das
oligarquias “dissidentes”, personificadas por Vargas. A estratégia de Vargas foi a de
"conciliação" com as oligarquias do Norte: Mato Grosso, Amazonas e Pará. A década de
30 oscilou entre o discurso oficial da integração, sem uma prática efetiva, e a letargia pura e
simples.142
A construção das balizas da "nação", na região do Madeira-Guaporé, se deu através
da atuação marginal de alguns ministérios como da Agricultura, da Guerra e da Viação. Às
pequenas elites locais- sem capital, portanto, dependentes dos grandes aviadores que
financiavam a exploração da borracha, só restou a esperança na política de favores do
governo federal, maximizando as mínimas iniciativas.
Porém, a ocupação das fronteiras era uma preocupação anterior a 1930. As
Sociedades de Geografia surgiram anteriormente a esse período e já haviam proposto o
balizamento da "nação", por meio do controle das fronteiras nacionais, a partir do seu
conhecimento, ou seja, da razão a serviço do controle.
140 MACIEL, Laura Antunes. A Nação por um Fio: Caminhos, práticas e imagens da "Comissão Rondon". São Paulo,
EDUC/FAPESP, 1998. pp. 170.
141 STERCI, Neide. O mito da democracia no país das bandeiras. Rio de Janeiro, PPGAS/MN, Dissertação de
Mestrado em Antropologia, 1972. As considerações sobre a inversão do conceito de sertão foram tomadas de
empréstimo desta autora.
142 VELHO, Otávio. Capitalismo Autoritário e Campesinato. S. Paulo, Difel, 1978. LENHARO, Alcir. Colonização e
Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-0este. 2ª ed. Campinas, Edunicamp, 1986. Série Pesquisas. As conclusões
trabalhadas por mim se baseiam nas críticas feitas por Velho e Lenharo.
72
Reichardt143 apontou o perigo da exaustão das fontes de matéria prima pela qual,
em breve, passariam as grandes potências, já que a escassez determinaria uma corrida em
direção aos vales dos rios amazônicos, os do Congo e os das Índias. Tais vales, vistos
como reserva futura de energia, deveriam ser incorporados ao patrimônio nacional, fator
que colocaria o país na corrida energética. Afirmava que as fronteiras deveriam possuir
territórios "tampões", a exemplo dos estados tampões na Europa central. Defendeu a
formação dos Contingentes Especiais de Fronteira e, principalmente, a ocupação através
de núcleos coloniais e núcleos indígenas, tornando o colono e o índio verdadeiros
colonos-soldados na defesa das fronteiras, espécie de sentinelas avançadas e porteiros da
"nação". A exposição de Fairbanks, em seu concurso à cadeira de Economia Política na
Escola Politécnica144, revela as mesmas preocupações com relação ao despovoamento do
Brasil e ao interesse das grandes potências em nossas riquezas. Pregou a ocupação das
fronteiras através de minifúndios, visto que para ele a segurança nacional seria alcançada
com a ocupação agrícola.
Esses ideólogos dialogavam entre si e criticavam agressivamente os conceitos
marxistas de estado e luta de classes. O pensamento “acadêmico” estava pautado no
temor das ideologias vindas do leste europeu. Havia uma desconfiança em relação ao
expansionismo soviético, o qual atormentava as social democracias da Europa ocidental,
EUA e boa parte do pensamento autoritário brasileiro.
Os ideólogos foram autores e atores de estado, extrapolando o âmbito das idéias.
Foi o caso de Everardo Backheuser, general do Exército Brasileiro, e de Artur Hehl Neiva,
intelectual orgânico e membro do Conselho de Imigração e Colonização. Nessas instâncias
burocráticas, as discussões sobre os conflitos sociais eram bem visíveis, apesar de
aparecerem de modo cifrado no cenário de ocupação e povoamento dos enormes "vazios"
demográficos. Hehl Neiva fez uma conferência, no Instituto Nacional de Ciência Política,
no final de 1941, em que realiza um balanço da questão do povoamento e
desenvolvimento regional durante os 11 anos do governo Vargas. O discurso deixou
evidente dois elementos importantes para esta discussão: os problemas do desemprego e
da atração da cidade sobre o campo, principalmente para a cidade do Rio de Janeiro, que
sempre atraiu imigrantes, trabalhadores e ex-escravos do interior e de outros estados. Hehl
Neiva, remissivamente, citou o Manifesto de Vargas, comemorativo do primeiro
aniversário da "Revolução":
143REICHARDT, H. Canabarro. A Geopolítica e a consciência geográfica da nação. Rio de Janeiro, Jornal do Comércio,
19 de janeiro de 1947.
73
144 FAIRBANKS, João Carlos. Geopolítica Povoadora. Tese de Concurso à Cadeira de Economia Política. São Paulo,
Gráfica Revista dos Tribunais, 1939.
145 NEIVA, Arthur H. “Getulio Vargas e o problema da imigração e da colonização” in Revista de Imigração e
... Retomando a trilha dos pioneiros que plantaram no coração do Continente, em vigorosa e épica
arremetida, os marcos das fronteiras territoriais, precisamos de novo suprimir os obstáculos, encurtar
distâncias, abrir e estender as fronteiras econômicas, consolidando definitivamente os alicerces da
Nação.
O verdadeiro sentido de brasilidade é a marcha para o Oeste. No século XVIII, de lá jorrou o caudal
de ouro que transbordou na Europa e fez da América o Continente das cobiças e tentativas
aventurosas. E lá teremos de ir buscar: dos vales férteis e vastos, o produto das culturas variadas e
fartas; das entranhas da terra, o metal com que forjar os instrumentos da nossa defesa e no nosso
progresso industrial ...149
148 LENHARO, Alcir. Colonização e Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-0este. 2ª ed. Campinas, Edunicamp,
1986. Série Pesquisas. Aqui retomo a análise de Lenharo tomando de empréstimo o seu conceito de
"desterritorialização" que outros autores como Esterci denominou de "reterritorialização". Ambos conceitos
visavam explicar esse deslocamento ideológico implementado pelo governo Vargas.
149 NEIVA, Arthur Hehl. Getulio Vargas e o problema da imigração e da colonização in Revista de Imigração e
150MATIAS, Francisco. Pioneiros: ocupação humana e trajetória política de Rondônia. P. Velho, Ed. Maia, 1997. Segundo
o autor haviam duas categorias de seringueiros: os arigós, tidos como aventureiros, eram voluntários no corte da
seringa e os “soldados da borracha” eram recrutados, eram alistados no Exército, o engajamento para servir no
front da Itália era compuklsório para os reservistas, como segunda “opção” podiam se alistar como soldados da
borracha para o esforço de guerra. Pp. 119.
76
151 PINTO, Emanuel P. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território de Guaporé, fator de Integração Nacional. Rio
de Janeiro, Ed. Expressão e Cultura, 1994.
152SILVA, Amizael Gomes da. Amazônia Porto Velho: Pequena História de Porto Velho. 2.ª edição. Porto Velho,
Palmares, 1994.
153 SILVA, Amizael Gomes da. Op. Cit.
77
inanição política: “... Por estarem situados distantes dos centros de decisão de Manaus e Cuiabá, os estados do
Amazonas e Mato Grosso não dispunham das condições financeiras necessárias para prestar assistência aos
municípios de Porto Velho, Santo Antônio e Guajará Mirim”.154
O jornal Alto Madeira retratou o descontentamento das elites locais, que se sentiam
exploradas e sem assistência das oligarquias regionais do Mato Grosso e Amazonas.
Ficavam distantes das capitais e não tinham peso político, eram somente fonte de
arrecadação. O Alto Madeira descreveu a visita do major Juarez Távora à Manaus, o qual
constatou a inadimplência do Amazonas para com o funcionalismo, em onze meses de
salários atrasados. Távora propôs ao governo federal o perdão da dívida do Amazonas
para o saneamento de suas contas. Em plena crise fiscal, as elites amazônicas não tinham
meios para dar assistência à região do Madeira-Guaporé155. Outro exemplo, que permite
visualizar a constituição de uma identidade local, deu-se com a inauguração do Núcleo
Agrícola "Antenor Navarro", em maio de 1932.
Está ao alcance de todos verificar que uma das portas de sahida para o Amazonas da
tormenta economica em que se debate é o fomento intensivo da agricultura. Também é obvio
que o capital particular nas condições actuaes não se abalança, mesmo sob vantajosas
condições de crédito ou garantias, a servir de alicerce para iniciativas que no Amazonas sempre
fracassaram. Assim dessas premissas resta-nos a contingência de aguardar a acção do Estado [União], para a
consecução da experiência que nos deve salvar.
Em nosso estado, esta fez-se sentir sob a formula velha de fundação de núcleos agrícolas.
Entretanto, por mais falha que nos possa parecer esse emprego de capital, sem a ajuda de técnicos, sem a
preparação do colono, não deixa de traduzir a única forma que pareceu viável ao Governo Federal para fornecer
muletas ao mulambo combalido que é o nosso Amazonas.156
154 PINTO, Emmanuel Pontes. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território Federal do Guaporé como Fator de
Integração Nacional. R. de Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. pp. 233.
155 ALTO MADEIRA. Porto Velho, 08 de maio de 1932. Pp 02.
156 ALTO MADEIRA. Porto Velho, 08 de maio de 1932. pp. 03.
157PINTO, Emmanuel Pontes. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território Federal do Guaporé como Fator de
“No Amazonas, Pará e Maranhão, a bancada pessedista comportava prepostos do Poder Central que
haviam assumido uma gama variada de encargos, inclusive aqueles Interventores que haviam se
saído relativamente bem no trabalho de conciliar as facções dirigentes locais, seus ajudantes-de-
ordens militares ou civis que haviam se incumbido de missões militares espinhosas, e mais
alguns elementos da magistratura federal que, tanto por essa razão como pelo fato de serem
por vezes originários dos Estados por onde haviam sido eleitos, estavam em situação vantajosa para
enfrentarem a campanha eleitoral” (MICELI, 1985 : 570). 159
160 ALTO MADEIRA.” Concessão de Terras à imigração japonesa”. Porto Velho, 29 de julho de 1936. Matéria
extraída do A NOITE do Rio de Janeiro.
161
ALTO MADEIRA. “Um milhão de hectares de terras para uma empreza nipponica. Espera-se que o Sr.
Cunha Mello combata a concessão”. Transcrito do jornal "O Estado do Pará" e “Gazeta de Notícias” do Rio de
Janeiro, 05 de junho de 1936.
162 ALTO MADEIRA. Porto Velho, 14de outubro de 1936. Pp. 02.
80
163
CASTRO, Ruy. O Anjo Pornográfico. A Vida de Nelson Rodrigues. São Paulo, Companhia das Letras, 1992. P.106.
“Durante o tempo em que esteve preso [Mário Rodrigues- pai de Nelson], foi ajudado financeiramente, nessa
época, por Geraldo Rocha (proprietário do jornal A Noite, concorrente do Correio da Manhã).”
164 Sobre as imagens como documentos “incontestáveis” da veracidade, do acontecido e do real representado,
A “divulgação” feita pelo cap. Aluísio Ferreira foi um dos passos decisivos para a
criação do território de fronteira. Primeiro, foi uma prestação de contas ao grupo de apoio
dentro do Exército Nacional. Segundo, por conseqüência, sua exposição conferiu
visibilidade à região; até então suas ações haviam sido locais e isoladas. Concomitante à
propaganda na imprensa “nacional”, agregou-se a estratégia de sensibilizar os meios
oficiais para a “existência” daquelas fronteiras. Estes elementos podem ser constatados
nos relatórios do diretor da EFMM, enviados ao Gen. Rondon, nos quais ressaltava as
possibilidades de “aquecimento” da ferrovia que se daria por meio da exploração da bacia
petrolífera do vale do Beni e seu escoamento para o Atlântico. Estes dois produtos
tornaram-se de grande interesse para os grupos militares “nacionalistas”: o petróleo
boliviano e as prováveis riquezas minerais- ouro, diamante e metais nobres- existentes nos
vales do Madeira-Guaporé. O diretor da EFMM suspeitava da existência de petróleo na
região, deduzindo que fosse a continuidade “natural” dos lençóis das planícies bolivianas.
Segundo o Cap. Aluízio Ferreira, a exploração e o transporte do petróleo boliviano iriam
“reaquecer” a ferrovia, revertendo o déficit da EFMM, em conseqüência da crise da
borracha:
165“A sentinella do Oéste”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 06 de Maio de 1936. 1ª pág.
166FERREIRA, Maj. Aluízio. Trecho de um Relatório. Pp. A-62 e A-63. Documentos Pessoais-Caixa do Cel. Aluísio
Ferreira. Arquivo do CDHR.
82
aliança com os kaingang, para que eles não constituíssem obstáculo à penetração da
estrada. Mais rica é a descrição romântica "indianista" do Gen. Rondon. Para o autor, a
"conquista" sobre os índios e a natureza seria alcançada por homens que, em sua
genealogia, traziam nas veias o sangue dos "bravos"167:
Rondon é um mestiço de índio, nascido nos campos de Matto Grosso, que depois de um curso
brilhante na Escola Militar, conquistará pelo seu talento as insígnias de official e uma cathedra
de professor.
A nostalgia do matto, proveniente do seu subconsciente racial, foi mais forte que os aconchegos da
civilização. Rondon abandonou a cathedra, abandonou o conforto das cidades, offerecendo-se
ao governo para construir linhas telegráficas nos sertões agrestes de Matto Grosso. Era o
pretexto para viver entre os bugres e defender a sua raça. ... O tenente Rabello, ... respondia às
agressões com palavras de paz. Devolvia as flechas carregadas com presentes. E Rabello conseguiu pacificar os
kaingangs.
O padre, o espiritualista, quando se sacrifica pela propagação de sua fé, visa uma recompensa de além
túmulo. Manoel Rabello e Rondon ... tinham como recompensa única a consciência do
cumprimento de um dever para com a pátria e a humanidade.
A obra de Rondon foi muito mais espinhosa que a de Nóbrega e Anchieta os primeiros catequizadores...
Os nossos sertanistas militares tiveram de enfrentar o índio com um passado de quatrocentos
anos de injustiças e atrocidades.168
Esse artigo parece destoar um pouco do propósito inicial desse capítulo, mas é
apenas uma primeira impressão e, através dele, temos pistas sobre a linha do jornal em
relação à região. O autor/proprietário declarou-se um discípulo do positivismo militar de
Rondon e de seus companheiros. Rocha retratou Rondon como cidadão comum, índio
que, através da inteligência, adquiriu conhecimento e tornou-se um grande "estadista". O
autor sonhava com o prêmio Nobel da Paz para Rondon, ressaltando a possibilidade de
avançarmos na evolução social. Se Rondon indígena sem origem aristocrática chegara à
General por meio dos estudos, logicamente, outros “indivíduos” como índios e
trabalhadores comuns, dispersos pelo sertão, também seriam capazes de evoluir
"culturalmente". Na imagem construída pelo jornal, temos vários elementos de análise. O
Rondon republicano personificava o novo homem desatrelado do passado colonial e
oligarca. Os generais Rondon e Manoel Rabello eram abnegados "missionários
catequistas", divulgando a fé positivista entre os índios e os contendores, sacrificando suas
vidas em nome da evolução social e política dos "caboclos", integrando-os como
civilizados à pátria e à cultura moderna.
167 Faço esta menção, pois o Cap. Aluízio Ferreira fora retratado da mesma forma na imprensa local, valores
como a ascendência indígena, a aclimatação à região e a carreira militar eram apresentados como sinônimos de
conhecimento, técnica e inteligência e sobrevalorizadas.
168 “A Catechese Leiga”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 17 de maio de 1936. Transcrito do A NOITE. Grifos
meus.
83
Outro aspecto importante era sua visão [Rocha] sobre o avanço da civilização. A
conquista violenta do espaço, baseada no conflito entre as partes não existia. Enquanto os
índios atacavam com flechas, "os mediadores" respondiam com "palavras de paz". A
conquista, na visão de Rocha, foi "pacífica", "civilizada", mascarando a superioridade
técnica e bélica entre os contendores. No jogo de forças, o "bem" estava do lado dos
"pacificadores", lutando com inimigos sem "instrução", verdadeiros bárbaros, “feras
inocentes” domesticadas com presentes. O sentimento pejorativo de "menoridade", de
"inferioridade", projetado pelo autor sobre estas populações, foi por demais evidente.
Tratavam os conflitos como um desígnio, um "destino manifesto" dos civilizados para
com os ignorantes, uma filantropia a serviço da humanidade, negando o caráter de guerra,
termo mais apropriado para descrever o conflito.169
Conforme localizei na imprensa, essas discussões tiveram início com a Conferência do
Capitão Ferreira na Sociedade de Amigos de Alberto Torres, em 1936. Essa conferência parece
constituir um marco separador entre o período de 1931/1936 – a “nacionalização” da
EFMM, porém marcado por ações “isoladas” do seu diretor da EFMM - e 1938, quando a
presença do governo federal passou a ser mais constante, por meio de intervenções
diretas, até a criação do território em 1943.
A realização da conferência reorientou a “exploração” da região, até então
“desconhecida” pelas autoridades civis e militares. O Cap. Aluízio Ferreira, após a
exposição, conseguiu agendar a visita de altas patentes militares: no início de 1938, o Cel.
Mendonça Lima, Ministro da Viação e Obras Públicas visitou a região e, no final do
mesmo ano, foi a vez do Inspetor de Fronteira do Estado Maior do Exército, Cel.
Alexandrino Cunha que, com suas comitivas, foram presenças fundamentais para dar
visibilidade à região do Guaporé. A partir do relatório “sugestivo” do Cel. Alexandrino
Cunha ao Estado Maior do Exército, o Conselho de Segurança Nacional elaborou o
anteprojeto de criação do território federal de fronteira e, paralelamente, inúmeros artigos
refletindo a temática foram divulgados na imprensa carioca.
Inicialmente, as matérias sobre os territórios de fronteiras foram espaçadas. Com o
golpe de 37 (auge do Estado Novo), a campanha pela criação de territórios de fronteira
tornou-se mais ostensiva na imprensa carioca. No início de 1938, o Ministro da Viação e
Obras Públicas, Cel. Mendonça Lima, fez a primeira viagem de inauguração da linha aérea
169LIMA, Antônio C. S. Um grande cerco de paz. Petrópolis, Vozes, 1995. Ver a discussão sobre o conceito de
conquista especificamente o capítulo "A conquista como modalidade de guerra", já analisado no primeiro
capítulo desta dissertação.
84
Cuiabá- Porto Velho- Rio Branco, até então, nenhuma autoridade de alta patente havia
“reconhecido” oficialmente a região in loco.
Foram publicadas várias matérias pelo Alto Madeira, logo após a viagem de
“reconhecimento” do Ministro da Viação Cel. Mendonça Lima. A criação de um território
federal de fronteira já era insinuada no início de fevereiro de 1938: "... o governo lhe entregou,
ao mesmo tempo, a direcção da Madeira-Mamoré e o comando da Companhia de Fronteiras, e vae agora
confiar-lhe um território autônomo naquellas paragens em que elle se tornou o chefe que todos servem,
porque amam"170. Porém, o anteprojeto do Conselho de Segurança Nacional só seria
elaborado algum tempo depois, em dezembro de 1938. Os jornais, no entanto, já
noticiavam os rumores sobre o desmembramento dos estados do Amazonas e Mato
Grosso, articulado nos bastidores dos gabinetes.
No artigo "Tudo por um Brasil forte, coheso, indivisível: 'O Glebarismo' -modalidade feroz do
regionalismo inconseqüente"171, que ataca o movimento bairrista, alguns pontos merecem ser
destacados: primeiro, uma parte das oligarquias amazonenses de oposição, representadas
na sua bancada estadual, se opunha à intervenção do governo federal no estado. Segundo,
em decorrência disso, os jornais eram os únicos espaços de contestação possíveis no
estado de exceção e a imprensa passou a ser o campo privilegiado do embate político.
Porém, o estado detinha o monopólio das informações, por meio da censura,
determinando o jogo de forças. As oligarquias regionais manifestavam-se, via imprensa
local, mas, os formadores de opinião “nacional” ou apoiavam, incontestavelmente, o
regime autoritário imposto por Vargas, a exemplo do jornal A Noite, de Geraldo Rocha,
ou não conseguiam furar o controle imposto pelo DIP- Departamento de Imprensa e
Propaganda.
Seu ataque às "dissidências" regionais, as quais se formaram no bloco do
"Glebarismo”, resultou na repercussão negativa do movimento amazonense na capital
federal. O eco das manifestações amazonenses contrárias à criação dos territórios de
fronteira havia criado "confusão" entre a opinião pública carioca. O jornalista defendeu o
centralismo autoritário imposto pelo Estado Novo. Para esse, a criação dos territórios não
era uma questão pertinente às elites regionais, mas devia ser considerada "sob o prisma dos
altos interesses da nação inteira"; o problema para mim é questionar a qual conjunto de
"nação" o autor se referiu. O autor imputava o conflito à "sobrevivência" das oligarquias
170 “Capitão Aloysio”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 23 de fevereiro de 1938. Transcrito do A NOITE do
Rio de Janeiro de 10 de fevereiro de 1938.
171 “Tudo por um Brasil forte, coheso, indivisível: ‘O Glebarismo’ – modalidade feroz do regionalismo
Além do mais, o art. 13 do Decreto Lei 5839 dispunha que as rendas e os tributos
devidos aos estados desmembrados em territórios seriam, obrigatoriamente, transferidas à
172 PANDOLFI, Dulce (org). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro, FGV, 1999. Segundo Angela de Castro
Gomes em seu artigo "Ideologia e trabalho no Estado Novo", o nordestino e o Nordeste tinham a atribuição
ideológica no período de "guardiães da unidade brasileira", de "reservatório da nacionalidade", de região que
podia verdadeiramente reavivar o espírito de brasilidade do Sul desnacionalizado.
173COSTA,Wanderley M. O Estado e as Políticas Territoriais no Brasil: a "montagem" do território brasileiro. São Paulo,
Ed. Contexto/USP, 1988 (Coleção Repensando a História). Sobre a geopolítica como "ciência" mistificadora das
relações sociais ver a crítica de Messias. p. 45.
86
174
LEGISLAÇÃO FEDERAL.. “Dispõe sobre a administração dos Territórios Federais do Amapá, do Rio
Branco, do Guaporé, de Ponta Porã e do Iguassú”. Decreto n.º 5839 de 21 de setembro de 1943. S. Paulo, LEX,
1.964. pp. 359-364.
175 Eram comerciantes e seringalistas que pagavam imposto às oligarquias regionais de Cuiabá e Manaus,
EDUC/FAPESP, 1998. Para esta discussão em torno do material publicitário veiculado no formato de
documentário científico, portanto neutro e imparcial ver a crítica feita por Laura Maciel no capítulo "Uma
Câmara em Busca da Nação".
87
177 “Construindo um Brasil”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 10 de abril de 1938.Artigo de Geraldo Rocha
transcrito do jornal "A Nota ", Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1938.
88
Além disto, a sua Companhia Regional é um modelo de tropas de occupação de ínvias regiões ...
Os soldados são encarregados de abrir estradas de penetração; fazem lotes; desbravam o terreno;
realizam a primeira plantação, e nella o capitão Aloysio Ferreira localiza cada família, assegurando assim a
producção de gêneros necessários à subsistência dos occupantes da região.
Outr'ora, aquella fronteira, quer do lado do Brasil, quer do da Bolívia, importava tudo quanto
necessitava para viver...
Hoje, o beri-beri desappareceu com a alimentação fresca, abundante e vitaminada à disposição dos
habitantes.
O homem se estabilizou, e os confins pátrios estão sendo habitados por brasileiros, que asseguram o "ut possidetis" de
regiões que nos legaram os que nos precederam.
Aloysio Ferreira, é o dictador absoluto daquellas terras. É o único representante da autoridade, em
contacto com as populações.
178
“Construindo um Brasil”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 10 de abril de 1938.Artigo de Geraldo Rocha
transcrito do jornal "A Nota ", Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1938.
89
Mato Grosso longínquo, separado por mezes de viagem daquella região, não dispõe de recursos
materiaes para desenvolvê-la, nem de elementos para tornar efficientes as suas autoridades, em zonas
virgens, pobres de comunicações.
Urge pois, a creação de Territórios fronteiriços, que occupados por militares da envergadura de
Aloysio Ferreira, elevem a missão do nosso Exército, assegurando a integridade de nosso solo e
desbravando, para a Civilização, os férteis rincões das nossas fronteiras, abrindo os caminhos
futuros da nossa expansão.
Mato Grosso, Amazonas, Pará são regiões demasiado vastas para as populações reduzidas
que as occupam.
Estas imensas unidades administrativas, occupando territórios fronteiriços constituem um
perigo para a segurança nacional.
Devemos proteger as nossas fronteiras desertas, dividindo-as em Territórios, com a sua jurisdição entregue ao
Exército Brasileiro.179
179
“Territórios de fronteira”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 30 de março de 1938. Artigo de Geraldo Rocha
transcrito do A NOITE do Rio de Janeiro de 14 de fevereiro de 1938. AIZEN, N. Era Uma Vez Duas Avós....
9.ª ed. Rio de Janeiro, EBAL, 1995. Segundo o autor (Diretor da Editora Brasil-América S.A., desde 1966)
em 1944, pressionado por problemas de importação de papel de imprensa (naquele tempo, ainda não havia o
nacional), José Aizen vendeu o Grande Consórcio de seu grupo ao jornal A Noite, então pertencente às
180CAPELATO, Maria Helena. “Propaganda política e controle dos meios de comunicação” in Dulce Pandolfi
(org). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro, FGV, 1999. Para maior esclarecimento quanto à imprensa no
período Vargas ver o artigo da autora. pp 171
181 Essa discussão sobre a estrutura militar contida no anteprojeto já foi abordada no primeiro capítulo.
90
Habitantes de Guajará Mirim informados que vossencia baseado artigo sexto nova
Constituição Brasileira pretende desmembrar região Madeira Mamoré para transformá-la
território federal visando assim sagrados interesses defeza nacional correm pressurosamente à
sua presença para lhe hypothecar absoluta solidariedade na execução dessa patriótica medida...
Confiados a vossencia de facto creará território federal zona Madeira Mamoré a grande
aspiração de todos seus habitantes...182
182 “A transformação da região Madeira Mamoré em Território Federal: Moção de Apoio dos habitantes de Guajará Mirim ao
presidente da República” ALTO MADEIRA. Porto Velho, 20/abr/1938. Transcrito de A NOITE de 02/abril/1938.
183 PINTO, Emmanuel Pontes. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território Federal do Guaporé como Fator de Integração
Nacional. R. de Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. Sobre os vários projetos de redivisão territorial ver a abordagem do autor
pp. 135.
91
É imprescindível a creação de territórios fronteiriços, dirigidos por militares, em toda a orla de limites
com os paizes extrangeiros, actualmente inexplorada.
Do Amapá até o Acre, pela linha fronteiriça, estamos cercados de “terras de ninguém”.
Aloysio Ferreira, director da Estrada de Ferro e comandante do contingente militar, tem
sua efficiência entorpecida pela falta de mandato estadoal sobre autoridaddes judiciarias ou
policiaes da região.184
A transformação do trecho limitrophe, banhado pelo Guaporé, pelo Madeira e pelo Mamoré, em
um território federal, multiplicaria o esforço dos moços militares,...
As colônias militares, dirigidas por officiaes, dispondo de amplos poderes, e da livre escolha do
Governo Central, representarão o aproveitamento dos territórios desertos, a posse efetiva de
terras, e a utilização de riquezas latentes consideráveis com que a natureza pródiga dotou o
solo inexahaurível do Brasil!185
184“Territórios de fronteiras”. ALTO MADEIRA. P. Velho, 19 de Outubro de 1938. Artigo de Geraldo Rocha
transcrito do A NOITE, Rio de Janeiro, sem data.
92
Mais uma vez defendeu a austeridade militar com disciplina, ordem e hierarquia,
combinadas a uma administração centralizadora nas mãos do comandante militar, para os
vales do Madeira-Guaporé. Aliás, estendeu esse modelo de administração das áreas de
fronteiras para outras regiões criticando o domínio da companhia Matte Laranjeira, no sul
do Mato Grosso, região que também deveria ser transformada em território federal, para
que não se tornasse um "enclave" dentro da "nação brasileira". A solução indicada era o
governo federal se apoderar da região e entregá-la à administração do Exército.
A proposta do autor, nesse artigo, se dividiu em três ações diferenciadas e
imbricadas. Primeiro, propunha o desmembramento dos estados na região de fronteira.
Segundo, propunha que a administração dessas áreas de fronteira deveria ficar nas mãos
do Exército. Por último, a ocupação por meio de colônias agrícolas e extrativistas, de
caráter militar, aproveitando soldados-cidadãos sob comando do Exército. A posse efetiva
seria garantida pela tropa de defesa e a ocupação do solo, consequentemente,
implementada por ela. A defesa seria garantida pelas armas, ocupação e produção, prática
usual para a fixação desses Contingentes Especiais de Fronteira à região. Através da
fixação a terra pela pequena propriedade, a defesa pela ocupação estaria garantida. Assim,
a integração econômica estava embutida nos ideais de ocupação das fronteiras, sob a tutela
do governo federal, representado pelo Exército, que fixaria os colonos e criaria um
mercado interno.
Em "Política Continental", último artigo dessa série, o jornalista deixou
transparecer o seu "conhecimento" estratégico sobre as fronteiras com a Bolívia. Criticou a
construção da ligação entre Corumbá e Santa Cruz pela ferrovia Noroeste do Brasil, com
objetivo deligar a região ao porto de Santos, pois o custo do frete ferroviário era muito
superior ao hidroviário. Enfatizou que o petróleo boliviano - situado no vale do Beni a 500
quilômetros de Porto Velho - seria escoado com mais facilidade e custo de apenas 10%, se
fosse construido o óleoduto até Porto Velho, terminal onde se instalariam destilarias,
servindo ao mercado interno e à exportação pela facilidade de escoamento, através de
navios com capacidade de 6.000 toneladas.
As ações de intervenção direta se deram a partir de 1937, em virtude de Vargas ter
dado o golpe de estado, fechado o congresso e instalado o Estado Novo. O golpe resultou
num hipertrofiamento do Executivo, o qual passou a deter plenos poderes sobre a política
nacional. Aliás, a política autoritária, em nome da "segurança nacional", fora veículada pela
imprensa local desde 1936, reforçando o "nacionalismo" voltado à ocupação. Desde
185 “Territórios de fronteiras”. ALTO MADEIRA. P. Velho, 19 de Outubro de 1938. Artigo de Geraldo Rocha
93
setores da imprensa getulista, como o jornal A Noite, até jornais de Belém, que concediam
espaço ao Gen. Rondon, figura de imagem sólida junto à opinião pública, não deixavam
duvidas sobre sua posição. Esse quadro "favorável" ao autoritarismo foi construído
deliberadamente, pois a imprensa oposicionista a Vargas havia sido empastelada em nome
da "segurança nacional". O panorama "favorável" foi veiculado por meio de imagens
positivas pela imprensa de Manaus, "A caminho de um "inferno verde que offerece trabalho e
conforto num estado onde o funcionalismo está em dia". 186 Propagandas de atração de mão-de-obra
divulgavam as vagas existentes na EFMM e ofereciam passagens de navio gratuitas até
Porto Velho. Elencavam as melhores condições de trabalho da época: jornada de oito
horas, sábado remunerado e horas extras pagas na forma de gratificações especiais. A
partir de 1938, a EFMM passou a ter dotação orçamentária da União, possibilitando uma
série de "melhorias": a atração pelos salários, a construção de casas para operários,
ferroviários e militares e a construção da usina termoelétrica. A propaganda foi
acompanhada de ações concretas implementadas pelo Estado Novo por meio da EFMM.
Os intelectuais regionais seguiram o rastro da imprensa "nacionalista", como foi o
caso do doutor Ramayana de Chevalier, autor da obra Fronteira, abrangendo a região do
Noroeste Matto-grossense: MAMORÉ-GUAPORÉ.
Em entrevista concedida ao jornal A Tarde, de Manaus, Chevalier posicionou-se
defendendo o desmebramento e menosprezando as perdas dos estados do Amazonas e
Mato Grosso. Segundo ele, o Amazonas nada perderia, pois o desmembramento afetaria
as maiores partes do Mato Grosso. O autor mensurou as perdas do Mato Grosso na
importância de cento e cincoenta contos anuais. As perdas deviam ser relevadas em nome
do "imperativo patriótico", pois, a desanexação da região do Madeira-Guaporé era do
interesse de milhares de brasileiros. Ele referia-se aos poucos habitantes que viviam em
Porto Velho, Guajará Mirim e espalhados em suas vilas no traçado das linhas telegráficas
pelo sertão matogrossense. A estrutura militar já implantada na região era apresentada
como o lastro que conferia consistência e legitimação à criação do território federal. A
criação do território, segundo o autor, era uma “necessidade” para o bem da própria
"nação", ação objetiva de integrar, de fato, aquela área ao restante do país. Exaltou o
modelo de ocupação, implementado pelo exército por meio dos núcleos agrícolas,
louvando a atuação das tropas que povoavam e criavam a infraestrura necessária à fixação
do homem:
Não conheço elemento mais adiantado de civilização, no nosso paiz, que esses
estabelecimentos militares extendidos ao longo de nossas immensas e despovoadas lindes.
Comandados pelo cap. Aluísio Ferreira, que é, lá por aquelas bandas, controlador do serviço de
Linhas Telegráficas, diretor da estrada de ferro e chefe dos contingentes fronteiriços, realizam
aqueles soldados uma imensa obra de patriotismo...
Os exércitos coloniaes, num território deshabitado como o nosso e nesta hora trágica de
apprehenções para os povos fracos, representam a legítima posse do nosso patrimônio legado
pelos ancestraes e do qual não poderemos desfazer sem incorrermos no mais repellente crime
contra a unidade nacional.187
O jornal carioca Gazeta de Notícias creditou a "“Marcha para o Oeste”, não a Vargas,
mas invocou a figura do Gen. Rondon, já mitificada naquele momento e os feitos da
"Comissão Rondon": a descoberta dos rios, suas nomeações e "rebatismos",
configurando-os como descobertas científicas. A criação da "identidade nacional" era o
legado da Comissão personificada no seu líder, o Gen. Rondon. Se Rondon foi o
descobridor, o devassador de regiões "desconhecidas", o próprio jornal se contradiz ao
apontar que o sertanista "trilhava caminhos que "só haviam [sido] penetrado [pelos] os pioneiros
sertanejos, creadores de gado, garimpeiros e seringueiros". Contradições à parte, o mais importante
desta matéria foi o enfoque ideológico, representando o "reconhecimento oficial" do
Brasil pela Comissão Rondon. Os "descobrimentos" de Rondon foram se incorporando à
"nação", por meio dos conteúdos pedagógicos da rede pública de ensino primário e
secundário. A partir das imagens veiculadas pela Comissão e de suas "descobertas", se
elaborava o conceito subjetivo de "nação" pela "conquista" do território:
Este território hoje integrado nas cartas com o chrisma justo de Rondônia, foi totalmente
reconhecido pelas expedições chefiadas pelo ilustre militar brasileiro.
Os estudantes das nossas escolas primárias e secundárias percorrem hoje, em suas
pesquizas, as quadras em que estão representados os cursos dos rios, as direcções das serras e
os novos povoados desco bertos pelo General Rondon.
Há nessa obra gigantesca a substanciação do princípio de civilização há pouco formulado
pelo Presidente Getúlio Vargas; A Marcha para o Oeste.188
186 “A caminho de um "inferno verde" que offerece trabalho e conforto num estado onde o funcionalismo está
em dia”. ALTO MADEIRA. P. Velho, 20 de junho de 1938.Transcrito do jornal A TARDE. Manaus, 02 de
junho de 1938.
187 “Um grande livro sobre a fronteira NOROESTE DO BRASIL”. ALTO MADEIRA. P. Velho, 02 de março
de 1938. Extraído do “A Tarde”, Manaus, 19 de fevereiro de 1938. Chevalier era médico e escritor e publicara o
livro Fronteira em Manaus, ao que tudo indica estava ligado aos interventores federais e não ao Glebarismo.
188“Um pioneiro da marcha para o Oeste”. ALTO MADEIRA.. P. Velho, 17 de agosto de 1938.Transcrito do jornal "A
Gazeta de Notícias" do Rio de Janeiro, de 31 de julho de 1938.
95
189 OLIVEIRA, Francisco. Elegia pra uma Re(li)gião. 3ª ed. R. de Janeiro, Paz e Terra/CEBRAP, 1981. Pp. 73-89.Para esta
discussão ver especificamente o capítulo "Expansão capitalista no Brasil e desenvolvimento regional desigual".
190 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto-lei n.º 1164 de 18/03/39. S. Paulo, LEX, 1.964. pg. 104
96
191 As transcrições contidas no jornal Alto Madeira creditam o nome do jornal como “A Nota”, porém não encontramos
referência a esse periódico no Rio de Janeiro. Conforme Werneck Sodré o jornalista Geraldo Rocha era proprietário do jornal
getulista A NOITE.
192 LEGISLAÇÃO FEDERAL Decreto-lei n.º 1351 de 16/01/1939. S. Paulo, LEX Editora, 1.964. pg. 312
97
193
“A nova divisão territorial do Brasil”. ALTO MADEIRA. P. Velho, 28/ev/1940. Extraído do “O Estado do Matto
Grosso”. Cuiabá, sem data. Extraído do “RADICAL”. Rio de Janeiro, 14/fevereiro/1940.
194 “Telegramas”. ALTO MADEIRA. P. Velho, 17/mar/1940. Extraído do “O Globo”. Rio, 13/mar/1940.
195 “Elogios á obra de penetração na hinterlândia do Major do exército”. ALTO MADEIRA. Transcrito do jornal Correio da
Vargas teria sido muito "positiva" e, ao assistir ao desfile dos alunos do Grupo Escolar
Barão do Solimões, dos ferroviários da EFMM e dos militares da 3ª Companhia de
Fronteira teria exclamado: "Isto aqui já é um Território Federal".196 Vargas, em entrevista à
Agência Nacional em Porto Velho expôs sua satisfação, dando origem ao famoso dístico
identitário "Sinto que neste recanto longínquo da Pátria cada operário é um soldado e cada
soldado um operário que trabalha e vive pela grandeza do Brazil. Concito-vos a não
esmorecerdes porque dais à todos, nesta florescente região da Amazônia, um exemplo de capacidade e
devotamento ao trabalho." 197 Vargas teceu comparações entre a EFMM de antes e a de após a
“nacionalização”. Segundo suas palavras, esta havia sido a demonstração do imperialismo
dentro de nossas fronteiras, sendo uma parte da "nação" praticamente fora de "controle",
e da "ordem" nacional. Em contraste, a administração “nacional” do Estado Novo vinha
cumprindo seu papel político e social para o Brasil, “integrando” os "trabalhadores
nacionais" (estes, na maior parte, eram barbadianos, gregos, italianos, espanhóis e
bolivianos) ao regime trabalhista vigente para o restante do país. Ironicamente, os
ferroviários desmascararam as contradições do discurso presidencial ao desfilarem
trazendo ao peito faixas reivindicando a jornada de oito horas. Na realidade, trabalhava-se
de 12 à 16 horas diárias na ferrovia, o que também colocava em cheque a propaganda de
“atração” feita pelo Maj. Aluízio Ferreira em 1938. No dia 12 de outubro, Vargas recebeu
Dom Umberto Valdez, cônsul boliviano, e o mesmo congratulou o presidente pela
encampação da EFMM. Informou que o oriente boliviano havia aumentado o volume das
suas exportações após a "nacionalização".198 A nacionalização citada pelo cônsul foi
estendida a uma das maiores companhias de navegação fluvial do mundo. A "Amazon
Steam Navigation Co Ltd" e a "Amazon River" foram transformadas no Serviço de
Navegação do Amazonas e Portos do Pará (SNAPP), revitalizando a navegação e
modernizando os serviços portuários. Segundo Matias, o presidente foi insistentemente
assediado pelas elites locais, “a visita estendeu-se por três dias, príodo em que o presidente ouviu de
comerciantes e líderes políticos uma só reivindicação: a criação do Território Federal do Guaporé. 199
A viagem do presidente reafirmou o projeto de setorização regional da economia
brasileira e utilizou a figura do "nordestino", como conquistador da floresta, dos rios e da
terra, ratificando a ocupação do solo amazônico por "trabalhadores nacionais".
Entretanto, houve uma mudança de diretrizes. Desde o primeiro "boom" da borracha, no
196 GOVERNO DE RONDÔNIA. Secretaria de Educação e Cultura.Calendário Cultural 1981/1985. S.Paulo, Imprensa
Oficial do Estado S/A, 1985.
197 “O Discurso do Presidente da República”. ALTO MADEIRA.. Porto Velho, 16 de outubro de 1940.
198 “Tratando dos problemas brasileiro-bolivianos” ALTO MADEIRA. P. Velho, 30/out/1940. Transcrito do jornal "O
Globo" de 12/out/1940.
199
MATIAS, Francisco. Pioneiros: ocupação humana e trajetória política de Rondônia. P. Velho, Ed. Maia, 1997. Pp. 88.
99
200 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto n. 7.884 de 22 de setembro de 1941. S. Paulo, LEX Editora, 1.964. pp. 465.
100
respectivos governos. Esta situação política era favorável para o fortalecimento das ações
do governo federal.
Todavia, o principal fator catalisador das intervenções federais foi a necessidade de
guerra que imprimiu um "desenvolvimento" oportunista, acelerado e fugaz. Com os
Acordos de Washington, em 1942, a EFMM retomou suas funções a partir do crescimento da
exploração da borracha, principalmente a oriunda das regiões bolivianas dos vales do Rio
Beni e Abunã. Para "sustentar" e "transportar" esse crescimento relâmpago da exploração
da borracha, a Ruber Development (subsidiária do governo americano) financiou o
"reaparelhamento" da EFMM, recuperando seu material rodante em razão do maior
volume de cargas, ampliando seus depósitos em virtude do aumento dos estoques de
borracha e do aprovisionamento de gêneros básicos repassados aos "soldados da
borracha".201 Para Lenharo, esse crescimento fugaz na Amazônia como um todo foi
consequência do oportunismo propiciado pela “Batalha da Borracha”, pois em sua análise
o governo Vargas tinha apenas um discurso ideológico sobre o vale amazônico:
201 LENHARO, Alcir. Colonização e Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste. 2ª ed. Campinas,
Edunicamp, 1986. O presidente Vargas decretou adiada a incorporação militar dos “soldados da borracha” que
comprovassem estar “servindo” nos seringais. O engajamento para servir no front na Itália era compulsório para
os reservistas, como segunda “opção” podiam se alistar como “soldados da borracha” para o esforço de guerra.
Para oficializar a condição militar, o DL 5225 de 1º/set/1943 criou o “Batalhão da Borracha”. pp. 94-5.
202 LENHARO, Alcir. Colonização e Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste. 2ª ed. Campinas,
... Na cláusula 4ª. Ao parceiro era negado o direito de negociar livremente a parte que lhe cabia
do produto. Essa condição que [anteriormente] era imposta pelos patrões agora assumia foro
de legalidade. A cláusula 5ª reforçava a submissão do "parceiro" ao ameaçar com ação policial e
judicial, inclusive com a perda do produto. A cláusula 10ª amarrava o trabalhador ao possível
débito, cerceando-lhe o direito de ir e vir.204
204 COSTA SOBRINHO, Pedro V. Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental. S. Paulo, Cortez/Rio Branco, UFAC,
1992. Pp. 87.
205 COSTA SOBRINHO. Op. Cit. P. 89.
206COSTA SOBRINHO, Pedro V. Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental. S. Paulo, Cortez/Rio Branco, UFAC,
1992. Para uma leitura mais aprofundada sobre as intervenções do estado no seringal consultar especificamente
pp. 56~90.
102
“Inteiramente diverso dos outros, é porém, o caso de que trata o presente processo; na
multiplicidade de seus aspectos difere a Madeira-Mamoré das outras estradas de ferro da
União: pode-se afirmar até, sem receio de contestação, que bem poucas ferrovias do mundo se
apresentam com características tão especiais quanto esta. (...)
Vale insistir na singularidade dessa estrada de ferro, cujos trilhos sulcam uma longínqua região de
nossa pátria, enormemente afastada dos grandes centros litorâneos e que estava a exigir uma
maior atenção do Estado, porquanto, desde a sua inauguração, ... até hoje, vêem as suas funções
se desdobrando e ultrapassando os objetivos visados por uma simples ferrovia.
Conforme tenho a honra de expor à V. Ex., Senhor Presidente, constatei, ... a) seu valor
estratégico como posto avançado da defesa das fronteiras; b) centro irradiador de atividades
civilizadoras, disseminador de cultura; na sua característica de eixo vital de um sistema coordenado
de transportes conjugados, com visível preponderância das vias fluviais; e, sobretudo, fator de
coesão da unidade nacional, (...)
Compete-lhe a tarefa de, devidamente socorrida pelo Governo Federal, revitalizar um imenso
espaço do território pela eclosão de células de atividades nas quais se torne produtivo o esforço humano;
melhorar as condições de vida de populações dispersas no afastamento da selva tropical; fixar
o homem ao solo ubérrimo e assisti-lo contra as asperezas regionais, o rigor climatérico, a
carência alimentar, a malária, o tifo, o impaludismo, o beribéri, etc”.208
208COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Porto Velho, Governadoria do Estado de Rondônia, 1990. Anexo
2 –Exposição de Motivos n.º 1.174 de 17 de junho de 1942.. pp. 257-260.
104
209 COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Porto Velho, Governadoria do Estado de Rondônia, 1990. Anexo
2 –Exposição de Motivos n.º 1.174 de 17 de junho de 1942. pp 261-262.
210 COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Porto Velho, Governadoria do Estado de Rondônia, 1990. Anexo
211 DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. 20 de julho de 1942. Seção I, n.º 1.174. Cópia Arquivo Nacional-Lata 101
Min. Da Justiça e Negócios Interiores. Série Territórios Federais.
212 JORNAL OBSERVADOR ECONÔMICO DO PARÁ. 1941.
106
as tropas de fronteiras existentes no território, as quais [tropas] além dos encargos normais, teriam os
relativos à agricultura."213 Ampliou os poderes do Maj. Aluízio Ferreira, confirmando as
ações desenvolvidas desde a "nacionalização" da EFMM, "institucionalizando" a política
"colonizadora", e realçando o caráter político da ocupação, feita através da implantação de
núcleos agrícolas pelas tropas federais. A ação dos militares na criação de infra-estrutura:
abertura de aeroportos, estradas de comunicação, construção de hospitais, escolas e
fundação de núcleos agrícolas corroborou o "renascimento do exército colonial",
propagado pelo Maj. Aluízio Ferreira.
O “mosaico” de informações era recortado pelas elites locais, visando apoiar as
ações federais. Ações que lhes interessavam mais de perto: como a manutenção das tropas
de fronteiras, a ocupação através dos núcleos agrícolas e, principalmente, o
desmembramento das áreas pertencentes às oligarquias regionais, enfim, a constituição de
um Território Federal de Fronteira.
As correspondências oficiais entre o Diretor da EFMM e o Presidente do DASP no
período, permitem inferir que, progressivamente, a criação do território passou a ocupar o
centro das atenções. O Maj. Aluízio Ferreira enviou, em agosto de 1942, agradecimentos
ao Presidente do DASP por sua exposição ao presidente da República e informou os
107
213 “Vai ser creado o nosso Território”. ALTO MADEIRA.. Porto Velho, 23 de julho de 1942. Para uma leitura
mais aprofundada sobre as "prerrogativas sociais" das tropas do Exército na região consultar o primeiro capítulo
às pág. 64~80.
214
FERREIRA, Maj. A. Ofício enviado à Luiz Simões Lopes, Presidente do DASP. Porto Velho, 04/ago/1942.
EFMM-MVO.P
215 FERREIRA, Maj. A. Ofício enviado à Luiz Simões Lopes, Presidente do DASP. Porto Velho, 04/ago/1942.
EFMM-MVO.P
216 FERREIRA, Maj. A. Ofício ao Presidente Vargas. Ministério da Viação e Obras Públicas/EFMM. Porto Velho,
21/jan/1943.
108
liberdade de ação na sua administração. Em defesa dos interesses das forças armadas, o
diretor da EFMM “lembrava” ao presidente que os cargos de “dirigentes territoriais” eram
de interesse estratégico para a Nação. O major apoiou-se no Estatuto dos Militares que
previa o “desvio” dos mesmos para a administração pública, segundo as necessidades das
forças armadas.
Havia, no período da Segunda Guerra Mundial, um quadro interno e local favorável
à nova divisão geopolítica do Brasil, porém, grande parte da discussão já estava posta
desde o início da década de 30. Segundo Pontes Pinto, a divisão do território era uma
necessidade de crescimento das elites nacionais ligadas à industrialização, representadas
por geógrafos, militares, civis, cientistas, sociólogos, humanistas e entidades privadas e
públicas:
217
PINTO, Emmanuel Pontes. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território Federal do Guaporé como Fator de
Integração Nacional. R. de Janeiro, Expressão e Cultura, 1993. pp. 135.
109
Bela) todos do estado do Mato Grosso. O Território de Ponta Porã foi dividido em sete
municípios, Porto Murtinho, Bela Vista, Ponta Porã (capital) e Dourados com as áreas de seus
respectivos municípios; Maracajú foi formado por áreas de Maracaju e Nioaque; Bonito
formado por parte de Miranda; e Porto Esperança, com parte de Corumbá, todos do
sudoeste do estado do Mato Grosso. O Território do Iguaçu foi dividido em Foz do Iguaçu
que anexou parte de Guarapuava; Clevelândia, com terras do mesmo município; e
Manguerinha, formado por parte de Palmas, todas pertencentes ao Paraná; e por último,
Xapecó, pertencente ao estado de Santa Catarina.
Dias depois, o Correio da Manhã publicou extenso artigo do professor Feijó
Bittencourt sobre a “constitucionalidade” da criação dos territórios, defesa que indica
haver críticas e resistências a tal ato. Como estratégia para emprestar legitimidade à fala e
avaliação do jurista, o artigo destacou seu extenso currículo:
218 “O aspecto constitucional da criação dos cinco territórios”. CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, 16 de
setembro de 1943. Artigo de Feijó BITTENCOURT, pp. 3. Cópia microfilme CEDAP-UNESP/Assis.
110
219 “O aspecto constitucional da criação dos cinco territórios”. CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, 16 de
setembro de 1943. Artigo de Feijó BITTENCOURT, pp. 3. Cópia microfilme CEDAP-UNESP/Assis.
111
223
“O problema dos Territórios Federais na Constituinte”. ALTO MADEIRA. P. Velho, 25/abr/1946. p. 2-4
114
224 “Recomendado aos Ministérios primazia para as Aspirações das Populações dos Territórios Federais”. ALTO
MADEIRA. P. Velho, 27/jun/1946.. Transcrito da Agência Nacional- Central, Rio de Janeiro.
225
“Repulsa coletiva a um projeto impatriótico” ALTO MADEIRA. P. Velho, 23/jun/1946.
115
exigiam a “integração” prometida pelo governo federal com a “Marcha para Oeste” e com
a criação do território, em 1943.
As emendas de extinção dos territórios foram apresentadas basicamente pela
bancada do Paraná e Santa Catarina. O constituinte Lauro Lopes do PSD do Paraná, no
dia 14 de junho de 1946, justificou seu voto pela extinção criticando e afirmando que o
Território Federal do Iguaçu havia se constituído em “ninho de afilhados” do executivo
federal, filhos da “ditadura”. Sua exposição convenceu definitivamente outros
constituintes, como o deputado Armando Fontes, seu companheiro de bancada. O Alto
Madeira em sua matéria: “Toma vulto a idéia impatriótica”, acusou a bancada sulista de
“traição”, demonstrando, de forma dramática aos “guaporenses”, o clima de revisionismo
da Assembléia Constituinte.
Como mencionei, os interesses em relação à existência dos territórios federais
foram conflitantes. De um lado, a onda democratizante restaurou o poder das oligarquias
regionais alijadas durante o Estado Novo, tentando recuperar a arrecadação de suas áreas
desmembradas e seus redutos eleitorais, principalmente, em virtude da aproximação das
eleições diretas para o executivo estadual. De outro, as populações dos territórios queriam
manter os “subsídios” do governo federal. Alguns setores das forças armadas relutavam
em perder seu poder em redutos nos quais tinham adquirido grande visibilidade. Esse foi o
caso do Cel. Aluízio Ferreira, único candidato eleito deputado federal pelo Território do
Guaporé. Segundo Matias, no “período compreendido entre 1947 e 1964 os deputados federais eram
detentores da maior parcela do poder político no Território, influenciavam decisivamente na nomeação de
governadores e, principalmente, na exoneração”.226 Engrossando o movimento pela permanência
dos territórios, o senador Gen. Magalhães Barata, eleito pelo PSD do Pará, endossou a
criação dos territórios pelo Conselho de Segurança Nacional e Estado Maior do
Exército.227 O Gen. Rondon, em julho de 1946, enviou alguns telegramas ao Ten-Cel.
Joaquim Rondon, governador do território, informando sobre os contatos mantidos por
ele com o Ministro da Viação e com o Diretor de Engenharia, e que nesses contatos havia
solicitado a liberação de recursos para a construção da rodovia Porto Velho-Vilhena.
Segundo o Gen. Rondon, a rodovia era do máximo interesse para o Território do Guaporé
e para o Mato Grosso. Uma das primeiras ações do governador, Ten-Cel. Joaquim
Rondon, foi percorrer a linha telegráfica, sobre a qual foi construída a rodovia de Porto
Velho até o posto telegráfico de Vilhena. Era visível a influência de certos setores do
MATIAS, Francisco. Pioneiros: ocupação humana e trajetória política de Rondônia. P. Velho, Ed. Maia, 1997. p.100.
226
227“Um crime contra o Brasil: A Extinção dos Territórios”. ALTO MADEIRA Extraído do RADICAL.
23/jun/1946.
116
territorial do Estado Novo, e acusou Vargas “de tentar transformar-se no Imperador do Brasil,
cognominado Getúlio I, o Pai dos Pobres”, e de ser o principal responsável pelo
desmembramento das áreas dos Estados para a criação dos territórios. Ele apresentou a
emenda n.º 1.197, extinguindo os territórios criados durante a ditadura e elevando o
Território do Acre a estado, no que foi seguido pelos correlegionários senador Vespasiano
Martins e os deputados João Villas Boas e Dolor de Andrade. Também endossaram a
emenda de extinção de Ponta Porã e Iguaçu; os constituintes: Martiniano de Araújo e
Ponce de Arruda, do PSD. Sendo que, o udenista João Villas Boas apresentou a emenda nº
3.630, a qual obrigava a União a indenizar os estados do Amazonas e Mato Grosso pela
incorporação do Acre ao território nacional. Já Dolor de Andrade, também da UDN, foi
favorável à extinção dos Territórios do Guaporé e Ponta Porã e apresentou a emenda
3.593, obrigando a União a pagar, por trinta anos, um terço da receita anual aos estados
desapropriados. Ele foi seguido pelo pessedista Ponce de Arruda que apresentou a emenda
nº 768, extinguindo todos os territórios federais criados, a qual foi rejeitada em bloco pelo
plenário, e quando derrotado apresentou a emenda de nº 832, determinando a extinção
dos Territórios do Guaporé e Ponta Porã, que também não foi aceita na íntegra. A
extinção dos territórios de Iguaçu e Ponta Porã fazia parte do acordo interpartidário de
apoio ao Gen. Dutra, formado pelo PSD/UDN/PR. A negociata foi denunciada por
Argemiro Fialho, do PSD do Mato Grosso, que se posicionou contrário ao acordo
interpartidário, não apresentando nenhuma emenda exigindo a extinção dos territórios
fronteiriços de Ponta Porã e Guaporé e também não votou com seus colegas de bancada.
Na sua atuação constituinte, foi oposição ao grande acordo interpartidário dentro da
legenda pessedista.
Como vimos, as bancadas constituintes, da UDN, PSD e PR dos estados do Mato
Grosso, Santa Catarina e Paraná incluíram a extinção dos territórios desmembrados de
seus limites políticos dentro do acordo interpartidário e conseguiram reaver suas áreas
confiscadas. Os udenistas baianos, cearenses, paraíbanos, pernambucanos e maranhenses
votaram pela extinção dos territórios de Iguaçu e Ponta Porã, como contrapartida do
acordo. O bloco udenista era encabeçado pelo deputado baiano Clemente Mariani,
nomeado Ministro da Educação e Saúde Pública pelo Gen. Dutra, como resultado do
acordo interpartidário. Praticamente toda a bancada udenista do nordeste votou pela
extinção dos territórios do Iguaçu e Ponta Porã, mas rejeitou as emendas que extinguiam o
Guaporé, Rio Branco e Amapá.
118
228 BRAGA, Sérgio. Quem foi quem na Assembléia Nacional Constituinte de 1946:um perfil socio econômico e regional da
Constituinte de 1946. Campinas, Dissertação em Ciência Política - IFCH/Unicamp, 1998. pp. 182-94
229
MICELI, Sérgio. in BRAGA, Sérgio S. Quem foi quem na Assembléia Nacional Constituinte de 1946 :um perfil socio
econômico e regional da Constituinte de 1946. Campinas, Dissertação (Mestrado) — Depto de Ciência Política -
IFCH/Unicamp, 1998. pp. 427.
119
região norte. Para as elites vitoriosas era necessária a manutenção dos territórios de Rio
Branco, Amapá e Guaporé. E, por outro lado, não foi objeto de interesse das bancadas
udenistas do nordeste e pessedistas do sul.
A criação do Território Federal do Guaporé, com sua estrutura administrativa, foi
uma das metas do Estado Novo, coincidindo com a reivindicação das elites locais. As
elites locais viam na existência do território a única forma de sobrevivência da falida
economia extrativista, baseada no barracão, no latifúndio e na exportação. Sonhavam com
a injeção de recursos por parte do governo federal, promovendo o desenvolvimento e
resgastando a economia da letargia. Mas, as coincidências de interesses entre seringalistas e
governo federal podem ser maiores, se considerarmos que também o governo central não
“objetivava”, de fato, implantar a colonização baseada na pequena propriedade, mas sim,
“desviar” os conflitos agrários do sertão nordestino e conflitos urbanos das grandes
capitais para o “Extremo Oeste”.
Foram muitas as convergências entre os projetos de ocupação, através da pequena
propriedade de culturas diversificadas, e o latifúndio extrativista. Os patrões viam a
pequena propriedade como a base para a sobrevivência do latifúndio, numa relação
simbiótica, na qual os sistemas de produção dependeriam recíproca e mutuamente um do
outro, e sem conflitos (corporativismo). Quando os preços do látex reagiram por causa da
Batalha da Borracha, os seringalistas e comerciantes tiveram bons lucros com a grande
oferta de mão-de-obra barata estocada nos núcleos agrícolas. Além disso, os núcleos
agrícolas barateavam os custos de produção das mercadorias adquiridas pelos patrões,
majorando seus lucros e acelerando a acumulação local. Recordemos que, a maior parte
das queixas das elites seringalistas ao Cap. Aluízio Ferreira era solucionar o problema da
“falta de braços” e da ocupação dos “espaços vazios”.
A criação do Território Federal do Guaporé insere-se no projeto de integração
política e econômica arquitetado por Vargas, enquanto um passo necessário na integração
ao mercado mundial. A “vocação” do país orientava para a inserção na economia mundial
pela produção de matérias primas abundantes, pela grande disponibilidade de terras e das
imensas reservas naturais inexploradas na fronteira. A Criação do Território Federal do
Guaporé não foi movimento de ruptura, e de mudança, como analisada pela historiografia
regional230. Primeiro, não foi um ato de Vargas como o grande político, mas uma
230 PINTO, Emmanuel P. Rondônia Evolução Histórica: A Criação do Território Federal do Guaporé como Fator de
Integração Nacional. R. de Janeiro, Expressão e Cultura, 1993.
SILVA, Amizael G. Para elucidar essa colocação ver as obras de e. Ambos autores vêem na Criação do Território
o fator de integração nacional por excelência, a partir do qual a região passaria por uma série de mudanças no
sentido da "evolução" como o próprio título da obra reforça.
120
Guaporé”
1939 - Construção do Grupo Escolar Barão do Solimões em Porto Velho; Construção da garagem
para caminhões; Primeiro grupo de casas geminadas; Construção do Prédio da Usina Termo Elétrica.
1940 - Visitando Porto Velho em outubro de 1940 o Sr. Presidente da República (Vargas)
inaugurou a 12, quarenta e uma casa residenciais, sendo quinze isoladas para funcionários e nove grupos de
casas geminadas para operários e trabalhadores, além de oito casa em quatro grupos geminados para
funcionários; Foi construído também um logradouro público (Praça General Rondon); Construiu-se
uma fossa céptica no prédio do Grupo Escolar.
1942 - Prosseguiu o serviço de obras novas, sendo iniciada outras: 9 residências para funcionários na
quadra 7 do bairro Caiari (concluídas neste ano); 20 residências para operários em dez grupos geminados,
ocupando toda a quadra 1; Foram concluídas 5 residências para funcionários em G. Mirim.
1943 - A 29 de novembro foram inauguradas 20 casas construídas em alvenaria de tijolos, com todos os
requisitos exigidos pela técnica moderna de construção..
1944 - Neste ano ficou pronto o forno intermitente para olaria, com capacidade para 100 mil tijolos
simples por dia.232
231 Manso: Termo regional usado como referência aos nordestinos “amansados” , adaptados às endemias e
perigos da região, bem como às relações de trabalho. O termo era usado também para designar índios
incorporados ao extrativismo e suas relações de dependência e submissão.
232 “Edição dedicada ao Território do Guaporé”. REVISTA PARÁ AGRÍCOLA INDUSTRIAL E
COMERCIAL. Belém, Janeiro de 1946, ANO XIV, n.º 168 - O artigo é fruto de relatório ao Ministério da
Viação publicado pela revista.
123
É óbvio que esse relatório e também o discurso do Maj. Aluízio Ferreira eram
expostos no superlativo, afinal, estavam prestando contas ao governo federal. Devemos
ter o discernimento de que estas matérias eram encomendadas, justamente, para enaltecer
a administração da EFMM e divulgar uma imagem “ideal” para o resto do país. Porém,
apesar do certo distanciamento que devemos conservar, podemos usá-las como fontes
primárias para a nossa análise. Até 1937, a EFMM havia se sustentado, investindo suas
“sobras” na infra-estrutura: como por exemplo, a abertura dos núcleos agrícolas Antenor
Navarro, Candeias e Iata, além de postos médicos e escolas, da rodovia Amazonas-Mato
Grosso, saneamento básico e urbanização nas vilas ao redor da ferrovia, em Porto Velho
e Guajará Mirim. A partir de 1938, a EFMM passou a receber dotação da União, através
do Ministério da Viação e Obras Públicas, o que ocorreria regularmente até 1944. Abaixo,
as despesas com as obras realizadas na região "governada" pela EFMM.
FONTE:PARÁ AGRÍCOLA INDUSTRIAL E COMERCIAL.. ANO XIV, n.º 168 - Belém, janeiro de
1946.
Pelo volume aplicado pela ferrovia em obras de infra-estrutura nos anos anteriores
à criação do território, pode-se deduzir que as agências do governo federal existentes na
região foram sua base de fomento. A Secção Norte do Telégrafo e a EFMM vinham
atuando no atendimento de várias das necessidades da população e assumiram a
responsabilidade da administração em caráter informal. A criação do Território pode ser
entendida como resultante da presença do estado nacional, por meio das estações
telegráficas- coordenadas pelo Distrito Telegráfico- células de povoamento espalhadas em
124
235 COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Decreto n.º 2 de 25 de fevereiro de 1944 In Decretos dos Governos
Territoriais de 1944 à 1981(excertos). Porto Velho, Governadoria do Estado de Rondônia, 1990. Vol. II, pp. 22
236 LEGISLAÇÃO FEDERAL.. “Dispõe sobre a administração dos Territórios Federais do Amapá, do Rio
Branco, do Guaporé, de Ponta Porã e do Iguassú. Decreto n.º 5839 de 21 de setembro de 1943. S. Paulo, LEX
Editora, 1.964. pp. 359.
237
LEGISLAÇÃO FEDERAL. “Dá nova redação aos arts. 10, 11 e 14 do Decreto-Lei n. 5839, de 21 de
setembro de 1943”. Decreto-Lei n. 6.626 – de 24 de junho de 1944. S. Paulo, LEX Editora, 1.964. pp. 218.
126
Palácio do Catete, viria a ser estruturado, em seguida, a partir dos decretos-lei emitidos
pelo Gabinete da Presidência238.
A agricultura era a ponta de lança do governo territorial para a região. Por meio
dela, pensavam alavancar o crescimento econômico, as cidades, as povoações, o comércio
e o desenvolvimento da sociedade como um todo. A agricultura progredia lentamente e,
para dinamizá-la, o governador estruturou o Departamento de Produção, com a “ finalidade
de promover o fomento da produção animal e vegetal do Território e a colonização de terras”; com a
seguinte organização burocrática: Art. 13. Para Cumprimento das atribuições definidas no
artigo anterior, o D. P. compõe-se de:
I - Serviço de Fomento da Produção (S. F. P.);
-Campos de Criação (C. C.);
-Estações e Postos Experimentais (Et. e P. E.);
II- Serviço de Terras e Colonização (S. T. C.)
-Núcleos Coloniais (N. C.).239
238 COSTA, Wanderley. O Estado e as Políticas Territoriais no Brasil. São Paulo, Ed. Contexto/Edusp,1988. (Coleção
Repensando a Geografia) pp. 46.
239
COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Decretos dos Governos Territoriais de 1944 à 1981. (excertos). Decreto
Territorial n.º 17 - Aprova o Regime do Departamento da Produção.Porto Velho, Governadoria do Estado de
Rondônia, 1990. Vol. II. pp. 57.
127
arquivo das terras públicas do território, negociando com os grandes proprietários para
regularizarem a sua situação em relação às terras devolutas. Além dessas funções, deveria
estudar o potencial agrícola de terras para a instalação de núcleos coloniais, levando em
consideração a situação topográfica, as vias de escoamento existentes, o clima, a
periodicidade de chuvas, a localização, se próxima a nascentes e demais outros fatores. O
Serviço de Terras era a ligação entre o território, colonos e proprietários.
Ao Departamento de Produção, foi atribuída a instalação de campos de produção e
seleção de seringueiras, arroz, milho, feijão, cana de açúcar, mandioca, fumo, fibra,
mamona e outros vegetais de ciclo vegetativo reduzido. Caberia ao Departamento de
Produção a instalação de campos de pesquisas para o estudo de forragens nativas,
adaptadas ao clima e ao solo para as fazendas de criação e usinas de beneficiamento dos
produtos, como forma de os colonos e agricultores pagarem as sementes, inseminação e
outros subsídios oferecidos, além de baratear os custos.
A meta era ampliar a produção agrícola inexistente no território, voltada para o
mercado. A maior parte do espaço era “ocupada” por populações nativas: índios,
seringueiros, castanheiros, e ex-escravos descendentes dos quilombos no Guaporé,
embrenhados nas densas florestas equatoriais. O objetivo do DP era disseminar os núcleos
coloniais e incentivar o fluxo de populações como alternativa para a crise das elites
seringalistas.
Agricultura familiar, em lotes de 25 hectares, dispostos próximos, estimulava a vida
social pelo convívio "facilitado" entre os colonos. Os núcleos urbanos deveriam ter escola,
posto de saúde, açougue e igreja. Os núcleos deviam, se possível, ser situados próximos a
um porto do Rio Madeira, do Guaporé ou do Mamoré ou de armazém de mercadorias e
das estações ferroviárias.
Objetivamente, o governo do território visou o aumento da oferta de gêneros de
primeira necessidade para atenuar a carestia nas cidades de Porto Velho e Guajará Mirim.
Sua economia estava assentada em entrepostos comerciais da borracha boliviana e dos
vales do Guaporé do Mato Grosso. O quadro resultava no demasiado encarecimento do
custo de vida dos trabalhadores, envolvidos nos serviços de transporte, estocagem e
comércio dos produtos dos vales interiores. A falta de produção de gêneros básicos
constituía-se em elemento inibidor da acumulação dos comerciantes, forçando uma alta
nos salários. Os núcleos agrícolas foram alternativas para a acumulação, sob o comando
das elites militares, além de cumprir desígnios mais gerais em nível nacional, como atrair a
241 LEGISLAÇÃO FEDERAL.. Decreto-lei n.º 9.225 de 02 de maio de 1946. S. Paulo, LEX Editora, 1.964. pp.
358
242 LEGISLAÇÃO FEDERAL.. Decreto-lei n.º 844 de 09 de novembro de 1938. S. Paulo, LEX Editora, 1.964.
pp. 514-515.
129
bem de uso, as “benfeitorias” vêm em primeiro lugar na descrição dos bens a serem
divididos, fator que remete ao conceito da terra enquanto recurso natural ilimitado.
Os relatos de ex-seringueiros (soldados da borracha)244 confirmam os documentos
oficiais. Mas, a grande diferença é que as mesmas terras sem valor comercial e sim com
valor agregado pelas benfeitorias, paulatinamente, passam a se constituir no mercado de
bens imóveis na região. O depoimento de Manoel Patrício, 68 anos, ex-soldado da
borracha, narra com detalhes as formas de apropriação do mercado de terras:
Aí foi o tempo que, isso aí era do Zé Maria Branco, e , tomava de conta né? Aquela do
doutro Claúdio, doutor advogado do Rio Grande do Norte. Então da Lagoa dos Patos até
General Carneiro, era do doutor Cláudio, e do lado de cá, era do doutor Castro o diretor geral
da MIBRASA. Então desse lado aí, ninguém podia entrar, só mesmo pra caçar, mas não podia
tirar nem cabo de vassoura que não consentia, e , do outro lado ninguém podia fazer
derrubada porque era do doutor Claúdio. Era um lugar preso né? Então eu fiquei morando. Aí
um dia Zé Maria Branco chegou e disse: Ah!! O senhor veio pra cá? Como é que p senhor veio
pra cá? Aí eu disse: Ah! Eu vim pra cá porque eu não tinha onde morar, e vim ficar aqui. Ele
disse: Eu estou vendo que o senhor tá aqui no meio, do terreno, eu quero que o senhor guarde
esse terreno aqui. Não deixe ninguém invadir, que eu vou cercar o terreno, e , lhe dou um
terreno aqui no meio. Mas o senhor guarda. Não deixe ninguém invadir o terreno.245
243 MANDADO DE AVALIAÇÃO PROCESSO Nº 137. Juizo de Direito da Comarca de Porto Velho, 06 de
Julho de 1954. Arquivo do Centro de Documentação do Tribunal de Justiça de Rondônia, Porto Velho.
244
MATIAS, Francisco. Pioneiros: ocupação humana e trajetória política de Rondônia. Porto Velho, Ed. Maia, 1997.
Segundo o autor haviam duas categorias de seringueiros: os arigós, tidos como aventureiros, eram voluntários no
corte da seringa e os “soldados da borracha” eram recrutados, eram alistados no Exército, o engajamento para
servir no front da Itália era compulsório para os reservistas, como segunda “opção” podiam se alistar como
soldados da borracha para o esforço de guerra. Pp. 119.
245 MANOEL PATRÍCIO. Entrevista condedida à Anderson de Jesus dos Santos. Projeto Nordestino na Amazônia –
História Oral de Vida com Soldados da Borracha. Porto Velho, CNPq/CENHP, 2001.
Projeto de Constituição do Acervo do Centro de Documentação Histórica doTribunal de Justiça de Rondônia.
246 “Colônia Agrícola no Amazonas”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 30 de maio de 1943.Nota oficial extraída do
Serviço do DIP.
130
LENHARO, Alcir. Colonização e Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-0este. 2ª ed. Campinas, Edunicamp,
247
248 “Notícias de Guajará Mirim”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 01 de Abril de 1936.
249 CASTRO, Celso de. Os Militares e a República: Cultura e Ação política. Rio de Janeiro, Zahar, 1999. pp. 63-70.
250 DUTRA, Gen. Gaspar Relatório da Guerra: 1938. R.de Janeiro, Ed. Bibliex, 1938. Acervo do Arquivo Histórico
Espera-nos, ainda uma cerimônia commovedora: a inauguração de uma escola construída pelos
soldados, sem ônus para o Governo e da qual é professor um soldado, - diz o Capitão Aluízio, ao convidar
o Coronel Alexandrino a proceder à inauguração.
A commoção já lhe embarga a voz. Conhece e ama aquela boa gente. Palavras simples e
sinceras da autoridade que tantas amizades soube conquistar aqui, exaltam a significação do
ato. Declara inaugurada a escola.252
251 “15 de Novembro em Jacy Paraná” ALTO MADEIRA. Porto Velho, 06 de Novembro de 1935. Arquivo do
Centro de Documentação Histórica de Rondônia-SECET/RO.
252 “Uma Excursão ao Forte do Príncipe”. ALTO MADEIRA, Porto Velho, 20 de julho de 1938. Transcrita do
dentro do país. Uso corrente em relatórios, imprensa e correspondência oficial até o Estado Novo.
133
255 BENEVIDES, Marijeso A. Os novos Territórios Federais. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946.pp. 146-8.
134
256 Família patrioticamente numerosa, termo veiculado pelo Alto Madeira referindo-se à missão povoadora da
família na região. Ter muitos filhos era um comportamento valorizado pela sociedade local, por aumentar as
chances do crescimento vegetativo e estabelecer grupos humanos no “vazio” demográfico em virtude do êxodo.
257 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil. Ano VIII-
258 MENEZES, Esron P. Retalhos para a História de Rondônia. Porto Velho, Alto Madeira, 1983.
259 COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Legislação Federal referente aos Territórios e à Amazônia. “Decreto n.º
47. 19 de fevereiro de 1947 (excertos)”. Porto Velho, Governadoria do Estado de Rondônia, 1990. Vol. I
260 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto Lei n.º 7.772 de 23 de julho de 1945. S. Paulo, LEX Editora, 1.964. pp.
291.
261
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil. Ano VIII-
1947. Conselho Nacional de Estatística.
136
"A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré para atingir verdadeiramente a sua finalidade, que é,
em última análise, o povoamento da zona lindeira, a fixação do homem ao sólo, a posse objetiva da terra,
necessita de completa autonomia. ... Somos de parecer que em serviços desta natureza o chefe
deve ter autoridade para mobilizar com rapidez todos os meios necessários ao perfeito
desempenho da sua missão". 262
262FERREIRA, Cel. Aluízio. Minuta ao Dr. Victor Tamm - Ministério da Viação e Obras Públicas. Porto Velho-AM, 05
de julho de 1941. Grifos meus.
137
263 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto-lei n° 7.772 de 23 de julho de 1945. O número IV se refere ao artigo 6º
deste decreto. S. Paulo, LEX Editora, 1.964. pp. 291.
264 “Edição Especial sobre o Território de Rondônia.” REVISTA VÉRTICE. São Paulo, 1972 - Ano 4 n.º 10.
138
265 Edição Especial do Guaporé”. REVISTA PLANÍCIE- n.º 27. s/local, 1946. Centro de Documentação
Histórica de Rondônia - CDHR/SECET caixa 48.
266 Edição dedicada ao Território do Guaporé”. REVISTA PARÁ AGRÍCOLA INDUSTRIAL E
Do mesmo modo que o Maj. Aluízio Ferreira, o novo governador criticava a rigidez
burocrática da União, em relação aos gastos e às prestações de contas dos territórios. A
verba era repassada entre julho e agosto e a prestação de contas teria de ser feita até
novembro. A administração teria três meses para construir edifícios, residências para o
setor civil e estradas em tempo escasso. Apesar disto, a Div. de Obras construiu entre
1946 e1947, um total de 15 casas para trabalhadores da EFMM e casas de luxo, com 12
aposentos, para as elites administrativas. Construiu o pavilhão para o Serviço de Rádio-
Comunicação do território, dois pavilhões para a Guarda Territorial, abriu nove estradas
de comunicação com os campos agrícolas. Durante o ano de 1946, foram concluídas dez
casas populares, duas do tipo médio e em construção três grandes e a Residência do
Governador. As obras públicas estavam paradas, em função do "programa de fomento à
construção particular" que havia comprometido toda produção de tijolos da Olaria do
Território. A Div. de Obras instalara outra “Olaria Pública” em Guajará Mirim, para
atender à demanda da construção civil ,principalmente, às demandas das elites.
Em 1944, foi constituída, em Porto Velho, a 2ª Cia. Rodoviária Independente do
Exército,268 com a missão de prosseguir a abertura da estrada Porto Velho- Presidente
Pena- Vilhena, com 90 km já construídos, pelos Contingentes Especiais de Fronteiras de
Porto Velho em parceria com os ferroviários da EFMM, estrada que a partir de então,
passou diretamente ao Exército e ao Ministério da Guerra, [comandada pelo Maj. Ênio
Pinheiro].
A primeira estrada, nos limites interiores do território, construída pela 2ª Cia.
Rodoviária, foi a de Santo Antônio, num percurso de 07 km para escoar a produção
agrícola para Porto Velho. A segunda, foi de penetração no promontório divisor das
bacias do Candeias e Ji-Paraná , na localidade de S. Carlos até Porto Velho. A outra partia
de Guajará Mirim na fronteira e até Pres. Pena, cruzando o picadão aberto pela Comissão
Rondon, na altura de Vila de Rondônia e daí até Vilhena. A única ligação terrestre com o
sul seria por meio de uma estrada, ligando Porto Velho à Cuiabá. A cidade de Porto
“Edição Especial do Guaporé”. REVISTA A PLANÍCIE n.º 27. s/local, 1946 - Centro de Documentação
267
268 LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto-lei 6498 de 13 de maio de 1944. Cria a 2.ª Companhia Rodoviária
Independente. S. Paulo, LEX Editora, 1.964. Pg. 168.
269 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil. Conselho
a Sua História. Porto Velho, MEC/Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo, 1998. pp. 51.
141
271HARDMAN, Francisco F. Trem Fantasma: A Modernidade Nas Selvas. S. Paulo, Cia das Letras, 1988.
272“As realizações do Governo do Território do Guaporé”. REVISTA PARÁ AGRÍCOLA.. Belém, janeiro de
1946- ano XIV n.º 168. Edicção dedicada ao Território do Guaporé.
142
a Bolívia. Foi construído o Hospital das Clínicas Infantil, em Porto Velho, um posto em
Pedras Negras, no Alto Guaporé, no Núcleo do Iata., em Candeias (margens do rio
Candeias do Jamari), em Costa Marques, no Guaporé, e em Tabajara, no rio Ji-Paraná. O
objetivo implícito era tentar fixar os trabalhadores na região, na tentativa de conter o
êxodo.
Apesar da construção de postos e escolas, não era oferecido os serviços
prometidos. Os médicos geralmente visitavam os postos dos núcleos uma vez por ano. Os
depoimentos de ex-seringueiros, alcunhados por Santos273 de “sobreviventes da fartura”,
conflitam com o discurso oficial. Em muitos, é elementar o casuísmo e o oportunismo nas
ações do governo territorial, como no caso do sobrevivente José Maria dos Santos que narra
o relato de um gerente de seringal, sobre o descaso com os “soldados da borracha” e o
ínfimo valor que as autoridades territoriais davam às suas vidas:
... mais positivo nas acusações que faz ao denunciado, quanto à falta de assistência e
alimentação aos seringueiros que trabalham em “Água Branca”, citando um seringueiro, de
nome Lauro, que morreu completamente abandonado digo, à mingua de tudo, e que “só” foi
enterrado cinco (5) dias depois de falecido, ... Cita ainda o caso de outros seringueiros falecidos
à mingua de tudo, e que deixaram saldo como o tal Lauro, ... Essa testemunha não só faz
referências ao dito abaixo assinado, dirigido ao Governador [denúncia].275
273
SANTOS, Nilson. Seringueiros da Amazônia: os sobreviventes da fartura.. S. Paulo, Tese Doutorado em Geografia
Humana FFLCH/USP, 2002.
274 SANTOS, Nilson. Op. Cit. Depoimento de José Maria dos Santos. Pp. 227.
144
Infelizmente cumpre confessar que o seringueiro vive entre nós abandonado geralmente, e
que desse abandono a principal culpa cabe, exclusivamente aos poderes públicos. É sabido que muitas são as
promessas feitas aos seringueiros pelos agentes do poder público, empenhados em obter a necessária
corrente imigratória para os seringais. Entretanto essas promessas nem sempre foram geralmente
cumpridas, e razão assiste aos seringueiros para afirmar que vivem inteiramente abandonados,
entregues a si próprios ou aos mais vivos ou menos fortes sentimentos de humanidade de seus patrões. ...
Como provado ficou, jamais médico algum da União ou do Território percorreu ainda os seringais
desta região...
Realçou o Dr. Promotor Público que as testemunhas deixaram transparecer a quasi
inimizade existente entre elas e o denunciado, que lutou muito nesta cidade para poder pagar
os saldos devedores aos depoentes. Realçou a contradição entre elas, referente a alguns pontos
da denúncia. ... deixou também claro o Dr. Promotor Público não ser grande a culpa do
denunciado ...277
Como se isso não bastasse, juiz e acusador público aceitavam testemunhas que
nunca estiveram próximos ao local, mas que por serem pessoas influentes na sociedade do
Guaporé, sempre eram chamadas para a defesa dos seringalistas. As testemunhas
275 LIVRO DE SENTENÇAS DO ANO DE 1946 DA COMARCA DE GUAJARÁ MIRIM. Sentença nº 39.
Guajará Mirim, 08 de fevereiro de 1946. Acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do
Estado de Rondônia, Porto Velho.
276
SILVA, Francisca A. Iata: Uma tentativa de Colonização (1943-1972). Goiânia, Dissertação de Mestrado em Ciências
Sociais, UFGO, 1987.
145
277 LIVRO DE SENTENÇAS DO ANO DE 1946 DA COMARCA DE GUAJARÁ MIRIM. Sentença nº 39.
Guajará Mirim, 08 de fevereiro de 1946. pp. 50 frente e verso. Acervo do Centro de Documentação Histórica do
Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Porto Velho.
278
COSTA SOBRINHO, Pedro V. Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental. S. Paulo, Cortez/Rio Branco, UFAC,
1992. pp. 44.
279 LIVRO DE SENTENÇAS Nº 23 DO ANO DE 1946 DA COMARCA DE GUAJARÁ MIRIM. Sentença
nº 42. Guajará Mirim, 15 de fevereiro de 1946. pp. 56-68 frente e verso. Acervo do Centro de Documentação
Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Porto Velho.
146
O fato a que se refere esse julgado merece ser descrito, pois vem mostrar um dos mais
tristes aspectos da vida dos trabalhadores nos seringais, para onde o coordenador [Vargas] está
levando massas de brasileiros.
Este é um aspecto, dos muitos, que a vida dos seringais nos apresenta, com seus problemas
complexos, as leis sociais do Brasil não conseguiram ainda sobrepujar a lei da “jungle”.281
280
LIVRO DE SENTENÇAS Nº 23 DO ANO DE 1946 DA COMARCA DE GUAJARÁ MIRIM. Sentença
nº 42. Guajará Mirim, 15 de fevereiro de 1946. pp. 56-68 frente e verso. Acervo do Centro de Documentação
Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Porto Velho.
281 “Tragédia dos Seringais”. ALTO MADEIRA. Porto Velho, 04/mar/1943. Extraído do DIÁRIO CARIOCA.
282
BRAGA, Sérgio Soares.Quem foi quem na Assembléia Nacional Constituinte de 1946 :um perfil socio econômico e regional
da Constituinte de 1946. Campinas, Mestrado em Ciência Política do IFICH/UNICAMP, 1998. Pp. 240; 433.
147
Aqui conheci o Dr. Melo e Silva, era um juiz daqui. Ele liberou os presos da cadeia para
trabalhar, ... mas os presos não queriam trabalhar, nem para fugir prestavam. Devido a
necessidade de gente, eu disse: Dr. Arranje mais dez homens destes. Ele disse: quanto for preciso, a
cadeia estava muito lotada, eu levei os presos para o seringal e eles fizeram muita borracha, chegou o ponto do
banco me financiar um bilhão. ... Algumas vezes eu trazia os presos, mas aqueles cabras não
prestavam nem para fugir (risos).
Para conseguir que os presos fossem trabalhar no meu seringal, eu dizia: Dr. Melo, eu estou
precisando de gente, o senhor me arranja desses homens. Desses bandidos? Ele dizia: esses
bandidos não prestam nem pra fugir. Eu dizia: quero homem que seja criminoso, porque o
criminoso tem coragem para matar os outros, quem tem coragem para matar, tem coragem
para trabalhar. O juiz [Melo e Silva] ficava recebendo o salário deles. Ele combinava com o Dr. Cruz que
era Promotor de Justiça. Esses gostava de dinheiro. Eu fiz muita borracha, eram muitas gândoa cheia de
borracha. 283
MANOEL LUCINDO. Entrevista concedida à Nilza Menezes. Guajará Mirim, 2000. Projeto de Constituição do
283
Acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Tondônia, Porto Velho,
2001.
148
284 COLEÇÃO DAS LEIS DE RONDÔNIA. Decreto n.º 1 de 11 de fevereiro de 1944. Decretos dos Governos
Territoriais de 1944 à 1981. (excertos) Porto Velho, Governadoria do Estado de Rondônia, 1990. Vol. II. Pp. 21-
2.
285 “Coluna História Antiga”. ALTO MADEIRA.. Porto Velho, 1982. Esron P. de Menezes é historiador e foi
contemporâneo do Cel. Aluízio Ferreira, foi seu Ajudante de Ordens, Correlegionário Político, Chefe dos
Bombeiros e amigo pessoal.
286“Edição Especial do Guaporé”. OBSERVADOR ECONÔMICO DO PARÁ . Belém, 1945.
149
Em todas as construções públicas os elementos da G.T. tomam parte; construção de estradas, limpeza
e conservação de ruas, roçagem, abertura de valas, carga e descarga de navios, extração de
lenha, madeira e palha, transporte de material, policiamento e enfim, trabalhos de toda natureza
que lhes são confiados. ... Pequenos destacamentos se encontram em diversas localidades do
interior, aí exercendo as suas atividades, quer na manutenção da ordem, quer trabalhando nos mais
diversos serviços. ... Seus especialistas - pedreiros, carpinteiros e motoristas - estão constantemente em
serviço externo. Grande número de seus elementos se acha destacado em várias localidades. ...
De 19 de julho [1948] a esta data [1949], podemos apresentar os seguintes trabalhos
executados pela Guarda Territorial: Construção do pavilhão do Armazém Reembolsável e da
Banda de música ... as telhas, caibros e ripas estão sendo custeados pelo Armazém
Reembolsável.
Construiu-se um barracão ... destinado ao abrigo das máquinas rodoviárias. Construiu-se a cadeia pública
provisória e um barracão de palha destinado à cozinha dos presos e outro maior, destinado a
uma oficina para trabalho dos presos. ... Forneceu-se lenha para a Escola Normal "Carmela Dutra" e
os Grupos Escolares "Duque de Caxias" e "Barão do Solimões". Colocou-se com a Prefeitura, fornecendo
Geografia do Território. Administração Governador Cel. Miranda, 06 de agosto de 1955. Arquivo Nacional –Rio
de Janeiro.
150
VERDADEIROS BANDEIRANTES
Nos idos de 1944, os bravos homens da Guarda Territorial atuaram como verdadeiros
Bandeirantes, adentravam na selva Amazônica a fim de prestarem seus serviços aos
seringueiros, aos garimpeiros, e a todos que deles necessitassem. Inúmeros soldados
tombaram, não em lutas ferozes como nos Campos de Batalha da Itália. Não. Os inimigos
dos soldados eram muito mais perigosos do que os treinados soldados de Hitler. Por que eles aqui
lutavam contra um inimigo muito mais poderoso, muito mais difícil de ser localizado, os
inimigos que os atacavam sem tréguas numa batalha sem quartel, eram Malária, Tifo,
Beribéri, Tuberculose entre outros ... nem médicos existia nos locais onde os bravos
bandeirantes de Guarda de Fronteira prestavam seus serviços oferecendo suas vidas para
salvar as das populações civis.
SERVIÇOS PRESTADOS
... no setor rodoviário foram feitas as seguintes estradas: 2 de novembro - Tabajara com
22 km (cerca de 18 pontes); Porto Velho-Humaitá; Abunã-Fortaleza, feita para dar
escoamentos aos seringais; Colônia do Iata-G. Mirim; Estrada dos Tanques- Areia Branca
entre outras. ... desobstrução dos afluentes do rio Guaporé, para que neles fossem feito o
serviço normal de navegação; Campo de Aviação de Forte Príncipe e do Aero Clube de
Porto Velho. Gastavam 60 dias à pé de Porto Velho à Pimenta Bueno e mais 30 para
chegar à Vilhena, onde se realizava as frentes de serviço. ...
290
LIMA, Governador Araújo. Relatório do Território Federal do Guaporé ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. 04
de janeiro de 1949. Acervo do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.
291 Afonso Scerati egresso da 3ª Companhia Independente de Fronteiras se engajou na Guarda Territorial como
Guarda-Aspersor. Livro de Registro de Tempo de Serviço. Nº 03. Arquivo Geral do Estado de Rondônia.
292 Bernardo Crispim da Silva egresso da 3.ª Cia de Fronteiras se engajou na Divisão de Saúde como Guarda-
Sanitário. .Livro de Registro de Tempo de Serviço. Nº 03. Arquivo Geral do Estado de Rondônia.
293 Waldemar Saldanha da Gama egresso do 27.º Batalhão de Caçadores se efetivou como Prático de Farmácia no
Governo do Território no Departamento de Saúde. . Livro de Registro de Tempo de Serviço. Nº 03. Arquivo Geral do
Estado de Rondônia.
151
EM P. VELHO
Neste momento, tecemos um paralelo com a história oficial. Era real a estruturação
do estado “nacional” na fronteira. Mas, vamos aos bastidores do cotidiano, aos cenários
que ficaram de fora da historiografia autorizada. A “manutenção da ordem” ia além dos
conflitos explícitos, se fazia até mesmo antes da irrupção daqueles.
O Relatório do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça de
Rondônia permite apreender o funcionamento da Justiça na Comarca de Guajará Mirim,
nas décadas de 40-50: “Essa década permaneceu sem Juiz, ficando a Comarca de Guajará Mirim sob
o comando do Capitão Alípio [Comandante da Guarda Territorial] que exercia a função de
delegado, juiz, promotor e dono da cidade e das almas que ali viviam”.295
Os militares do Exército e da Guarda Territorial com a criação do Território
Federal do Guaporé, ocupavam o papel da “justiça local”. Justiça feita para manter a
“ordem” da produção de riquezas, como podemos observar pelos depoimentos e
acusações de ex-seringueiros. Havia conflitos, porém “resolvidos” pela coação violenta,
extra-econômica e extra-jurídica. Como relatam ex- soldados da borracha sobre a atuação
do Delegado e Comandante da Guarda Territorial, Capitão Manoel Alípio da Silva:
Mas ali com o Capitão Alípio o cara sofria ... ele pegava uma marreta de borracha pro cara
quebrar pedra ... o cabra passava dia e noite batendo naquela pedra ... chegava e perguntava:
_Quebrou a pedra meu camarada? Não? Então guarda ele.
Era muita formiga de fogo ... aí botava pra capinar ... quando a formiga batia ele dizia:
_Não mata as bichas ... isso aí é minhas crias. Não Mata!
Era muito malvado ... o cara capinando ali na formiga de fogo e o outro quebrando pedra
com a marreta de borracha e nunca que quebrava. Quando saía do xadrez tava todo doído e
com a mão inchada. Não tinha advogado ... o advogado era ele ... se o patrão chegasse e dissesse
assim:
Prende o Davi e só solta ele no dia que o motor [barco de grande porte] for sair.
Se faltasse 20 dias ia ficar lá dentro do xadrez. No dia da saída é que ia solto. 296
No tempo do velho Alípio ... o seringueiro malandro que baixava e não queria pagar a
conta do patrão ... ia com o delegado. O velho Alípio dizia:
- Você deve ao Manussakis?
- Devo sim senhor ... mas não vou mais pra lá ... porque tem muito índio.
Começava a remendar ... aí o velho Alípio dizia:
- É meu camarada ... tem que ver um caminho pra conseguir: tu vai procurar um
seringalista pra garantir tua conta ... ou vai pagar pro Manussakis lá no seringal ... ou vai lá prá
serra tirar lenha pra estrada de ferro até pagar a conta.
294 Edição Especial sobre o Território de Rondônia. REVISTA VÉRTICE. São Paulo, 1972 - Ano 4 n.º 10.
295 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE RONDÔNIA.
Relatório da catalogação dos processos no período de 1912 a 1969. Porto Velho, 2001.
296 SANTOS, Nilson. Seringueiros da Amazônia: sobreviventes da fartura.. S. Paulo, Tese de Doutorado em Geografia
Eu conheci o Capitão Alípio, era homem justiceiro, mas não era uma pessoa má, era um
justiceiro.298
O papel da Guarda Territorial ia muito além das funções policiais. Eles exerciam o
cargo de “supervisores” da produção para os seringalistas. Mantinham os seringueiros e
trabalhadores urbanos sob controle violento, tortura, prisão e outros artifícios “legais”. A
Justiça controlava os “distúrbios” e “reivindicações” ,indiciando seringueiros por liderar
greves no seringal. Para todos os efeitos, não havia greves, era apenas uma reclamação
contra o “aumento abusivo” dos preços das mercadorias. Eram outras as formas de
resistência no cotidiano, como os duelos e combates corporais, mas a constante
“vigilância” por parte da Justiça os colocava de sobreaviso.299
Era comum também o abuso de poder por parte dos soldados e oficiais do
Exército e da Guarda Territorial, bem como das Forças Estaduais do Mato Grosso. Casos
de espancamento, agressão gratuita e de vinganças pessoais mascaradas de ação policial
fazem parte dos processos judiciários contra os militares. Era comum também a disputa
pelo poder de repressão entre membros da Guarda Territorial e soldados do Exército.
Eram vistos como autoridades policiais locais e demarcavam espaços de convivência a
exemplo de gangs modernas.300
Paralelamente, os índios continuaram a ser escorraçados de suas terras. O Maj.
Aluízio Ferreira, defensor das populações autóctones, em 1929 não tocou mais no assunto.
Os problemas de invasão aumentaram, com a alta “forçada” da borracha, em função da
guerra. A inconseqüente migração em massa para os seringais agravou os conflitos entre
os povos nativos e os “soldados da borracha” vindos atrás do Eldorado prometido pelo
governo do território e governo federal.
A exploração se intensificou ao extremo que até funcionários do Serviço de
Proteção aos Índios, como o encarregado do posto “Ricardo Franco”, João Freire de
Rivorêdo e seus auxiliares. Rivorêdo usando de seu cargo e poder junto aos indígenas,
297SANTOS, Nilson. Op. Cit. Depoimento de Francisco Nilo Pessoa. pp. 231.
298MANOEL LUCINDO. Entrevista concedida à Nilza Menezes. Guajará Mirim, 2000. Projeto de Constituição do
Acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça de Rondônia, Porto Velho, 2001. pp. 04.
299LIVRO DE SENTENÇAS Nº 24 DO ANO DE 1947 DA COMARCA DE GUAJARÁ MIRIM. Autos de
Inquérito indiciando Francisco Jacinto da Silva.. Guajará Mirim, 06 de novembro de 1947. Acervo do Centro de
Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Porto Velho.
153
passou, com a ajuda de seus subordinados, a dizimar populações inteiras sob sua
“proteção”, para poder açambarcar suas terras e se apossar de sua mão-de-obra. Merece
destaque a forma como o Promotor Público desqualificou as testemunhas de acusação,
justamente as partes interessadas no desfecho do caso:
300 INQUÉRITO POLICIAL Nº 28/51. PROC. 28/51. Guajará Mirim, 30 de abril de 1945. Acervo do Centro de
Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Porto Velho.
301 PROCESSO CRIME N.º 11/49. Comarca de Guajará Mirim. 14 de abril de 1945. Acervo do Centro de
Os seringais que eu tinha, ficava ali no Pacaas Nova. Na época, tinha muitos índios na
região, nem os peruanos conseguiram amansá-los. Hoje muita gente me calunia, dizem que
eu matei caboclos. ...
Os indígenas não trabalhavam, eles só matavam para roubar, matavam para roubar
machados. Eu nunca trouxe um homem flechado. Nós íamos armados para a mata, cada um
com espingarda ou com metralhadora, essas armas eram usadas para matar caça.
Hoje eu não frequento muito a igreja, porque ele [Bispo] me botou na reportagem,
disseram que eu era bandido dos inocente, dos caboclos da mata. Ele ganhou para fazer
isso, deram não sei quanto para ele. 302
O Damasceno andou muito atrás de índio aqui ... ele diz que nunca matou índio não...
mas eu falo que ele matou ... que ele era mateiro305 ... DAMASCENO JÁ ANDOU MUITO!
Mas agora chega no Pacaás Nova ... num lugar de caboclo306 ... eles recebe na casa dele
melhor que o civilizado.307
Quando nós entremos aqui ... encontremos muita dificulidade ... muita fera ... muito índio
... entonse nós tivemos essas travessias com os companheiro. ...
302 MANOEL LUCINDO. Entrevista concedida à Nilza Menezes. Guajará Mirim, 2000. Projeto de Constituição do
Acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça de Rondônia, Porto Velho, 2001.
303 303 “Explorações auriferas no rio Urucumacuan, noroeste do Matto Grosso”. ALTO MADEIRA. Porto
Acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Porto Velho.
305 Espécie de bugreiro, misto de pacificador de índio com agenciador de mão de obra escrava.
306 Índio civilizado na etimologia regional. Também conhecido como “manso”.
307 SANTOS, N. Seringueiros daAmazônia: Sobreviventes da Fartura. S. Paulo, Tese de Doutorado em Geografia Humana,
Já vi foi gente flechada ... morto por modo de flecha ... ninguém trabalhava tranqüilo ... 308
Mas antigamente a relação com os índios era terrível ... o índio era o maior inimigo do
seringueiro ... e o seringueiro o maior inimigo do índio ... como eu falei antes a gente tinha
um mundo na nossa cabeça ... na cabeça do seringueiro o índio que era o invasor ... o índio é que
tinha que se mandar e ir pró centro da mata ... ir pra longe e deixar ali pra gente. O
seringalista dizia que só acreditava que tinha índio no seringal dele se o
seringueiro chegasse com a orelha de um. Então gerava conflito ... e os índios
vinham pra defender seu território e matavam ... como houve muitos crimes bárbaros ... do
índio matar uma família inteira de seringueiro.
Quando acontecia um caso desse gerava revolta ... o seringalista mobilizava a expedição ...
pegava 15 – 20 homens armados até os dentes ... e um mateiro bom pra procurar a aldeia pra matar
tudo.
Tinha a estratégia de atacar os índios às seis horas da manhã ou seis da tarde que tava
todo mundo em casa. Quando os índios começava a sair ... em cada boca de caminho ficava dois
vigia que atiravam.
Alguns índios que reagiam ... jogavam flecha contra aquele que tava atirando. Depois de
matar muitos ... roçavam a roça dos índios ... eles sempre tiveram milho e mandioca ... e
tocavam fogo nas casas que era pros índios irem embora.
Tinha grupo de índio que quando tava vendo que iam morrer todos: se entregavam. Ao
invés de fugir pra mais longe eles se entregavam no barracão pedindo paz ... isso aconteceu aqui no
São Luiz ... no Ribeirão ... no Jaci.309
bravura e co ragem etc. Ver também PANDOLFI, Dulce. Repensando o Estado Novo. Sobre a ideologia da miscigenação.
156
limites humanos na “fronteira”, e por outro lado, são estigmatizados como um grande
“entrave” para a civilização.
Os índios personificavam o mal, o estorvo, a sua presença significa empecilho à
incorporação de suas terras ao mercado capitalista e à produção. A visão positivista da
“integração” ou extermínio não era exclusiva à região do Madeira-Guaporé no período.
Pinheiro analisou o processo de açambarcamento das terras Kaingang, no Oeste Paulista,
durante a abertura da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, quando suas terras foram
divididas entre os latifundiários e bugreiros. As práticas “legítimas” de extermínio possuem
bastante verossimilhança apesar das distâncias continentais.
311 PINHEIRO, Niminon S. VANUÍRE – Conquista, Colonização e Indigenismo: Oeste Paulista 1912-1967.Assis, UNESP,
Tese de Doutorado em História e Sociedade, 1999.
312 HECK. Egon D. Os índios e a caserna – Políticas Indigenistas dos governos militares – 1964-1985. Campinas, Unicamp,
Dissertação de Mestrado em Ciências Políticas, 1996.Sobre a ausência da questão indígena tanto na história do brasil
como na história militar ver a crítica do autor. pp.11.
313 Os nordestinos eram tratados pejorativamente por brabos. O termo regional significava incapaz de sobreviver na
região, se embrenhar nas florestas, cortar seringa e outros afazeres braçais. Baixa resistência às endemias e ao clima
quente e úmido.
314 LIMA, Antônio C. S. Aos Fetichistas, Ordem e Progresso. R. de Janeiro, Dissertação de Mestrado em Antropologia do
315LEGISLAÇÃO FEDERAL. Decreto-lei n.º 5839 de 21 de setembro de 1943..P. Velho, LEX Editora, 1.964.
P 404.
158
Esta é a primeira audiência que se realisa no advento do novo regime político deste
Território do Guaporé, liberto agora das peias e nefasta administração do governo do
Mato Grosso, sente-se satisfeito em congratular-se com os seus jurisdicionados e
serventuários da Justiça pelo auspicioso acontecimento tanto quanto para o seu primeiro
governador foi nomeado, pelo chefe da Nação, o Senhor Major Aluísio Ferreira, criterioso
cidadão, honrado Militar, competente administrador e infatigável obreiro do bem, homem
assim talhado para fazer a grandesa de prosperidade de toda essa região sempre
abandonada pelas administrações dos governos a quem pertencia. 316
Considerações finais
Saga da Amazônia
Autoria: Vital Farias
160
Confrontando os interesses das elites regionais e seus projetos para a região com os
princípios sobre segurança e defesa de fronteiras que norteavam a ação do exército na
região, busquei recuperar os debates e seus desdobramentos na criação do Território
Federal do Guaporé, nos bastidores do Estado Novo. Pretendi acompanhar os vários
projetos e interesses políticos e econômicos para a região, os debates – locais e nacionais - sobre a segurança
e defesa das fronteiras nacionais e as justificativas para a criação do território federal do Guaporé.
317 CAPES. Séries Estatísticas Regionais: Territórios Federais (Guaporé). Rio de Janeiro, INL, 1959.
318 Cel Manoel Alexandrino, idem, pg. 39-42. grifos meus.
162
caráter centralista e autoritário com o Estado Novo, e ancorada como substrato ideológico
na geopolítica da Segunda Guerra Mundial.
Colônia dos Japoneses, graças a subsídios do consulado japonês, com sede em Belém. A
colonização, se analisada de um ponto de vista liberal, consolidou-se, a terra finalmente se
converteu em “mercadoria”, enquanto servissem de garantia nos financiamentos
bancários.
A natureza sempre foi tratada como recurso ad infinitum das oligarquias locais,
utilizadas ao sabor de seus interesses privados. Neste contexto, as terras passaram ao
controle federal, ato justificado em nome do desenvolvimento “nacional”. A noção de
território enquanto patrimônio da Nação, foi o conceito básico na política de ocupação
das fronteiras. A estrutura fundiária permaneceu intacta, do latifúndio exportador da
borracha ao da pecuária para o mercado interno. Os povos indígenas sofreram uma
depopulação intensa, foram escravizadas ou reduzidas nos postos do SPI, alguns criados
ainda por Rondon como o Posto Rodolfo Miranda, no trecho da linha telegráfica em
Ariquemes, e outros como o posto de Ricardo Franco, nas margens do rio Guaporé, e o
de Pacaás-Nova próximo à Guajará Mirim, o de Riozinho, no trecho da BR-029 e muitos
outros espalhados pelo novo Território Federal do Guaporé.
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Nacional –Rio de Janeiro. Datilografado.
PERIÓDICOS
LEGISLAÇÃO
Fés de Ofício do Cel. Ferreira e Ten. Cel. Joaquim Vicente Rondon. Arquivo Histórico
do Exército. Rio de Janeiro-RJ.
ABSTRACT
GLOSSÁRIO
Caucho: Árvore de grandde porte, nome científico Castiloa ulei, Extraí-se látex a
partir da derrubada e não do corte como a seringueira.
Patrões: O responsável pela produção que era financiado pelos aviadores, e que
extraía a mais valia do seu freguês (seringueiro) através da majoração das mercadorias
aviadas em seu barracão em troca da produção de borracha pelo seringueiro. Uma
relação baseada na exploração hierárquica e em cadeia pela dívida contraída. O patrão
não era dono do seringal, esse era formado de terras devolutas que ia ocupando e
terceirizando a exploração aos seus fregueses. O freguês (seringueiro), era uma espécie
de sócio que entrava com a produção em troca das mercadorias de primeira
necessidade: alimentos, vestuário, ferramentas, armas e munição.