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Nicole Chaffe Grehs

ANIMAÇÃO EXPERIMENTAL: A ARTE EM MOVIMENTO

RIBEIRO, Regilene Aparecida Sarzi; BONANI, João Víctor Kurohiji. Experimentações


Artísticas na Animação Ocidental: Begone Dull Care. Revista Arteriais, PPGARTES -
UFPA. Jun 2019, n.08, p.72 – 84.

No artigo intitulado “Experimentações Artísticas na Animação Ocidental: Begone


Dull Care”, a pós-doutora em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP/SP, doutoranda em
Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, professora e Artista Visual, Regilene Aparecida
Sarzi-Ribeiro e o bacharel em Artes Visuais pela UNESP (FAAC), João Victor Kurohiji
Bonani, abordam a animação experimental e suas características.

Os autores iniciam sua discussão apontando que um dos motivos pelo qual
selecionaram o tema a ser investigado é o fato de que a animação experimental, mesmo sendo
um campo de grandes inovações tanto artísticas quanto tecnológicas, ainda é mantida à
margem dos estudos sobre o cinema de animação.

O ponto central do artigo é o curta-metragem animado “Begone Dull Care” (1949), de


Norman McLaren (1914-1987) e Evelyn Lambart (1914-1999), discutido a partir de uma
pesquisa teórica, bibliográfica e descritiva, da coleta de dados e da análise de documentos
bibliográficos e obras audiovisuais realizadas por Ribeiro e Bonani com o objetivo de
investigar e caracterizar os elementos de uma animação experimental.

O ponto de partida para o desencadeamento da abordagem é a contextualização do


surgimento das animações experimentais. Sabe-se que no século XX, por falta de subsídios
dos governos europeus e emigrações, decorrentes da Primeira Guerra Mundial, surgiram
artistas e animadores independentes interessados em subverter as animações tradicionais e
comerciais que vinham fazendo muito sucesso comercial, principalmente nos Estados Unidos.
A produção feita a partir desse desenvolvimento artístico fez com que a linguagem do cinema
de animação estivesse em constante renovação, como apontam os autores, na página 73 do
texto.
Desta maneira, a animação experimental surge a partir de criações e experimentações
manuais, trazendo para o campo do cinema as questões e práticas recorrentes das artes visuais
e se afastando da animação tradicional e comercial.

É interessante destacar que participantes de diversos movimentos artísticos de


vanguarda se dedicaram a trabalhos e pesquisas no campo da animação, como os surrealistas e
o cubista citado na página 74 do texto, Fernand Léger, que realizou o curta “Méchanique”
(1924) em parceria com o diretor Dudley Murphy, entre muitos outros. Nesse cenário, foram
os artistas os principais fomentadores dos avanços e enriquecimentos da área.

Dentro disso, Ribeiro e Bonani apontam o método de elaboração do curta animado do


importante pintor e animador britânico Norman McLaren, “Begone Dull Care” (1949) - em
português, “Vá Embora Preocupação Tediosa” - feito em parceria com a animadora e diretora
canadense Evelyn Lambart, como essencial para a definição das características de uma
animação experimental.

A técnica utilizada na obra em questão, anteriormente explorada pelos animadores


Oskar Fischinger e Len Lye, e expandida por McLaren ao longo de sua carreira, consiste na
pintura/desenho sobre filme de película 35 mm sem a necessidade de uma câmera, causando
uma ilusão de movimento através das pinturas realizadas frame a frame e posteriormente
projetadas em uma superfície plana. “Begone Dull Care” é composta por cores e formas
gráficas e abstratas que se movem ao som do jazz canadense do Oscar Peterson Trio, criando
uma sincronia entre som e imagem, uma experiência sinestésica para o espectador.

A gestualidade, a expressividade e o ritmo das pinturas de McLaren, movimentando-se


aleatoriamente com a música, se aproximaram do movimento artístico do Expressionismo
Abstrato - mesmo que não fosse esse seu objetivo inicial – enquanto se distanciavam do que
era considerado rentável, adquirindo um novo status dentro do cinema de animação. O
abstracionismo dessas animações as afastam da animação comercial que explora o figurativo
como recurso de empatia para com o público, uma vez que o compromisso de agradar o
público em geral se perde com as imagens sem relação direta com a realidade (RIBEIRO e
BONANI, p.81).

Em vista disso, fica claro que a liberdade das experimentações técnicas entusiasmadas
e os materiais da animação experimental de McLaren incorporam o imprevisível, considerado
problema nas animações tradicionais, como soluções poéticas nas experimentações,
explorando os conceitos e a plasticidade visual do filme através da materialidade do mesmo.

Finalizando o artigo, na página 82, os autores revelam que, apesar de terem


conseguido definir algumas características da animação experimental, o processo de tentar
delimitar o campo acaba se tornando limitante para o mesmo. Seguindo a lógica da
experimentação, as possibilidades criativas são infinitas e desafiam as convenções, portanto
não existe um limite para o experimental. O cinema de animação - origem de todas as
linguagens audiovisuais - , assim como as artes visuais, é um campo interdisciplinar que
segue em constante expansão, se combinando e recombinando com outras linguagens a fim de
levantar novas discussões.

Com a revolução tecnológica iniciada nos anos 1990, o advento das mídias digitais e
os novos processos de produção surgem como facilitadores para o desenvolvimento de novas
experimentações digitais, mas o “manual” nunca perderá seu valor e interesse como expressão
artística única - embora uma técnica não anule a outra, podendo até mesmo se complementar.

Dentre as poucas opções de artigos que abordam a temática da animação relacionada


às artes visuais, o conteúdo abordado e os resultados objetivos alcançados com o texto em
questão se revelam importantes para a fomentação de novos estudos e investigações na área,
visto que poucas pessoas se dedicam ao tema e que os artistas/animadores citados limitam-se
ao eixo Estados Unidos - Europa.

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